um sonho compartilhado
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UM SONHO COMPARTILHADO
Um desejo impossível pode se tornar realidade?
Alberto Studart
Nem posso acreditar, achava impossível acontecer, mas foi
possível. Entrar e participar do sonho de outras pessoas
sempre foi tudo o que quis. Imagine uma bela mulher,
aquela pela qual você tem o maior desejo, mas que é
inatingível. É linda demais para você e nem te olha. De
repente, numa noite insone, me concentrei nesta mulher e
entrei no estado lusco-fusco, sabe como é não é? Um
estado que você nem está totalmente acordado, mas
também não está totalmente adormecido Quase como num
delírio fantástico entrei num sonho que não era o meu,
estava consciente que a ação do sonho era desenvolvida
por outro cérebro, era outra maneira de conduzir o
pensamento, o sonho.
Definitivamente não era uma cabeça masculina que
sonhava daquela maneira. Eu tentava desesperadamente
impor a minha maneira de pensar, mas não podia, era
como se um pensamento parasita interferisse no meu
cérebro. Eu queria sonhar à minha maneira, e como estava
em parte consciente, decidi que esta seria uma
oportunidade de sonhar o que quisesse e como desejasse.
Aquilo era a realização do que eu também queria, que era
conduzir meu sonho do jeito que desejasse, mas
estranhamente aquele sonho não era exclusivo meu, era
COMPARTILHADO!
Até o ambiente era diferente daquele que eu costumava
sonhar, menos carnal, mais romantizado, colorações
róseas com matizes suaves de azul bebê, cores anormais de
uma concepção exógena, alienígena. Definitivamente eu
não pensava assim, não via as cores nem sentia os odores
daquela maneira. AQUILO ERA LOUCURA, UM NOVO
QUE CONFUNDIA. Era um sonho de menina moça na
cabeça de uma mulher adulta e realista. E EU ESTAVA
NAQUELE SONHO.Num choque brusco, atemorizante,
senti que ela percebia minha presença naquele sonho que
era dela, relaxei, eu tinha PLENA consciência do que
ocorria.
Não sei como não acordava de vez com tanta excitação, consciente e testemunhando os mais secretos impulsos de um ser humano, sua suprema intimidade. Temi rejeição, esperei alguma reação contrária, mas me dei conta que para ela eu era apenas uma aparição absurda daquelas que só acontecem nos sonhos. Ela sonhava de verdade, como sempre fazia, e nos sonhos tudo é possível, até a presença daquele cara com quem convivia no trabalho, mas que não despertava maiores atenções, era apenas mais um homem atraído pela sua beleza, e que desejava possuir aquele corpo perfeito.
E ai ela relaxou e deixou que tudo acontecesse. De qualquer maneira era um sonho, e nos sonhos pode-se até voar como um pássaro ou participar de um jantar com a rainha da Inglaterra. Tomei chegada e ousei. Covardia, eu consciente, para mim não era um sonho no sentido literal, era sim um sonho que se realizava na plenitude da minha consciência, no quarto, na cama daquela deusa, que por vezes sem conta me levava ao amor solitário.Mesmo assim tremi um pouco, será que ela não desconfiava que eu estivesse completamente desperto, vivendo aquela situação, conduzindo e influenciando aquele sonho que não era só meu? Fiquei tranqüilo, ela dormia pesado e sonhava de verdade.
SÓ QUE EU ESTAVA LÁ SENSORIALMENTE, MAS A
SENSAÇÃO ERA FÍSICA. Quando beijei aquela boca
sensual e apalpei aqueles seios fartos, porém rijos, o corpo
físico inerme na cama reagiu de imediato, percebi que a
excitação a dominava, e todo o seu corpo deixavam
escapar umidade e odor de desejo. Temi que a excitação a
acordasse, mas sabia que ela estava na fase mais profunda
do sono. Os olhos faziam movimentos por baixo das
pálpebras fechadas, a boca entreaberta exalava um hálito
doce e a língua buscava um caminho onde pudesse
satisfazer uma necessidade primordial, ajudar a boca
naquilo que era o mais primitivo desejo, chupar, sugar,
como aquela chupeta macia que a mãe sempre lhe oferecia
ao dormir quando ainda era uma menininha.
Decidi ousar mais ainda, tirei toda a roupa e com surpresa percebi que apesar do corpo físico dela estar de calcinha, sem sutiã, no estado de sonho estávamos completamente nus. Esquisito mesmo, por um lado um corpo escultural que dormia, e nos meandros neuronais uma mulher liberta que sonhava. E EU VIA AS DUAS FORMAS!Lá fora, na rua fria, a noite já a findar, alguns carros vindos do Fortal (1) trafegavam ao final da esbórnia (2), recheados de adolescentes bêbados, fazendo todo o barulho que julgavam ter direito, e eu preocupado. E SE ELA ACORDAR?
Nota do Autor:
(1) Fortal fonte: Wikipédia,
O Fortal é uma micareta realizada todos os anos na
cidade de Fortaleza sempre no final das férias de
julho há 17 anos. É considerada a maior das
micaretas do Brasil. Constante e versátil, virou
tradição sempre cheia de novidades e grandes
atrações, seduzindo não apenas o público local, mas
turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo.
(2) Esbórnia: farra, bagunça, entretenimento ruidoso