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“Um novo paradigma?” e “Da repre- sentação à construção” Peter Burke Introdução ao Estudo da História 1/2015 | Universidade de Brasília | Carlos Henrique R de Siqueira

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“Um novo paradigma?” e “Da repre-sentação à construção”

Peter Burke

Introdução ao Estudo da História 1/2015 | Universidade de Brasília | Carlos Henrique R de Siqueira

Contexto:

• Crítica ao positivismo do século 19

- Leopold von Ranke: contar a história “tal como acontceu”; - Privilégio da história política/Estado/guerras; - As fontes são quase que exclusivamente documentos escritos.

• Emergência da história cultural

- Jules Michelet: “A feiticeira”, “O mar”. - Jacob Buckhardt: “A civilização do Renascimento na Itália”. - Fustel de Coulanges: “A cidade antiga”.

• Novas disciplinas começam a influenciar os paradigmas tradicionais da história: - Sociologia; - Economia; - Psicologia; - Antropologia.

A Escola dos Annales

•Em 1929, uma revista fundada por Lucien Frebvre, “Annales d’histoire économique et sociale”, buscava escapar dos esquemas positivistas e introduzir novos métodos uma nova agenda de pesquisa; - 1a. Geração: Lucien Frebvre e Marc Bloch: 1929-1956 • História social - 2a. Geração: Fernand Braudel: 1956-1985 • Economia e sociedade • Demografia • História serial

- 3a. Geração: Jacques Le Goff: 1985 • História cultural • História das mentalidades

História Cultural

O que é cultura? • Debate positivista: Cultura e ausência de cultura; • Debate erudito: Alta cultura e baixa cultura; • E. Tylor: cultura é “todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.” • Clifford Geertz : “O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acredi-tando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de sig-nificados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à procura do significado”.

• Nova História Cultural x História Social/Intelectual - História Cultura se dedica mais ao significado das práticas sociais que dos aconteci-mentos, ou processos sociais. Se contrapõe também a história intelectual, a história das ideias.

• Tem um viés teórico;

Nova História Cultural

Quatro Teóricos

• Mikhail Bakthin;• Norbert Elias;• Michel Foucault;• Pierre Bourdieu;

Mikahil Bakhtin

Mikahil Bakhtin

Principais obras: • “Problemas da poética da Dostoievski” - Conceitos: polifonia, infinizabilidade, dialogismo.

• “Cultura popular na Idade Média e no Renascimento” - Conceitos: carnavalização.

“Nada de conclusivo ocorreu no mundo, a palavra final do mundo e sobre o mundo ainda não foi pronunciada, o mundo é aberto e livre, tudo ainda está no futuro e sempre estará no futuro.”

Norbert Elias

Principais obras: • “Processo Civilizador” - O livro trata do processo de transformação dos hábitos e da moder-ni-zação dos costumes.

•”A sociedade dos indivíduos” - O livro trata das consequências da emergência da idéia de indi-víduo. -

Michel Foucault

Michel Foucault

Principais obras: • “História da Loucura” - O livro trata da criação da loucura pelo saber médico.

• “Vigiar e punir” - O livro trata da modernização das práticas punitivas.

• “História da Sexualidade” - O livro trata da história do saber sobre o corpo e o prazer desde a antiguidade.

Pierre Bourdieu

Principais obras: • “A distinção” - O livro trata das formas de distinção cultural que separam as class-es sociais.

• “Homo academicus” - O livro tenta dissecar a lógica do sucesso acadêmico. Ele tenta cap-tar a lógica de reprodução das classes.

Práticas e representações

• Práticas - Práticas da colonização “Colonizing Egypt”, Titmothy Mitchell - Investiga práticas educacionais e de controle que constróem o outro. - Práticas de Leitura - Roger Chatier - história do livro e da leitura. - Robert Darnton - práticas de leitura durante a revolução francesa.

Práticas e representações

• Representações - Representações da ordem social “As três ordens”, Georges Duby - representações da estrutura social

“Comunidades imaginadas”, Bennedict Anderson - construção das representações sobre a nação.

“Orientalismo”, Edward Said - construção da idéia de ‘oriente’ pelo saber ocidental.

“Swetness and Power: the place of Sugar in modern history”, Sidney Mintz - investiga o papel da cultura do açucar na formação do mundo moderno.

Práticas e representações

•História do Corpo Michel Foucault: “A história da sexualidade” - investiga o saber sobre as práticas de prazer desde a antiguidade.

Representação x Construção

• Questionamento do objetivismo;

• HIstória das classes subalternas/história a partir de baixo - O mesmo fenômeno pode ser visto de diferentes pontos de vista.

• Influência da filosofia da linguagem, da teoria literária e da linguística (linguistic turn):

Nietzsche:“O que é, pois, a verdade? Um exército móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações humanas que foram realçadas poética e retoricamente, transpostas e adornadas, e que, após uma longa utilização, parecem a um povo consolidadas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que elas assim o são, metáforas que se tornaram desgastadas e sem força sensível, moedas que perderam seu cunho e agora são levadas em conta apenas como metal, e não mais como moedas.” (Sobre verdade e mentira no sentido extramoral)

Representação x Construção

•Os discursos constróem objetos.

• História das classes subalternas/história a partir de baixo - O mesmo fenômeno pode ser visto de diferentes pontos de vista.

• Influência da filosofia e linguística (linguistic turn):

Michel Foucault:

“..gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma língua, o intrincamento entre um léxico e uma experiência; gostaria de mostrar, por meio de exemplos precisos, que, analisando os próprios discursos, vemos se desfazerem os laços aparentemente tão fortes entre as palavras e as coisas, e destacar-se um conjunto de regras, próprias da prática discursiva. (...) não mais tratar os discursos como conjunto de signos (elementos significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse “mais” que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever.” (Arqueologia do saber, p.56)

Representação x Construção

•Michel de Certeau: Assim como os homens constróem objetos com o discurso, cria-se objetos também com as práticas. - Reutilização, apropriação, bricolage.

Novas construções

•Hayden White: modos de escrita da história - modelação dos acontecimentos; - Michelet: romance. - Ranke: comédia. - Tocqueville: tragédia. - Burckhardt: sátira.

Novas construções

•Construção de Identidades: - E.P Thompson: “A formação da classe operária inglesa”: a autoformação da classe operária

• Construção das comunidades nacionais: - Bennedict Anderson: “Comunidades imaginadas”: o papel da imprensa na formação da consciência nacional.