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1 VIOLÊNCIA NO FUTEBOL PARAENSE UM DIÁLOGO BIBLIOGRÁFICO ACERCA DA VIOLÊNCIA QUE ENVOLVE AS TORCIDAS DE FUTEBOL DE CAMPO EM BELÉM DO PARÁ Theophilo Anthunes Santos de Oliveira Milton Matheus de Souza RESUMO O presente estudo explana a violência envolvendo as torcidas de futebol de campo em Belém do Pará. Baseando-se em uma pesquisa bibliográfica, com materiais destinados a discutir esta violência no futebol do Brasil, faz-se uma análise de conteúdo de noticias jornalística da seção “Bola”, do jornal digital “Diário do Pará” em um recorte de 4 anos (2009 2012) em Belém do Pará. Tenta reconhecer a situação do torcedor perante a sociedade, tentando demonstrar as causas e efeitos da ferocidade das Torcidas. O estudo toma como base uma pesquisa exploratória reunindo fontes para o embasamento de que a violência coletiva do futebol se deve a fatores sociais. Conclui que a violência é um reflexo social de uma coletividade e um fato presente no futebol de campo em Belém do Pará, principalmente nos clássicos da capital. Palavras-Chave: Futebol; Torcida; Belém; Violência. INTRODUÇÃO O futebol se tornou uma paixão para os brasileiros, que, gradualmente, referem-se ao país como "a pátria de chuteiras" ou o "país do futebol". Segundo pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas, o futebol movimenta, em torno, de R$ 16 bilhões por ano, contendo, em média, trinta milhões de praticantes (profissionais ou não) (LEOCINI; Da SILVA, 2005). Por que o futebol é uma paixão nacional? Uma resposta que parece fácil, mas acaba por não ser objetiva. Para Lima (2002) o futebol está na sociedade brasileira como para cada brasileiro. Mesmo os que não gostam tem um time de preferência, e sempre torcem pela seleção nacional na Copa do Mundo, daí, desde seu nascimento o brasileiro é vestido pelo futebol. Com essa cultura futebolística inserida na sociedade que Daólio (2005 apud NETTO, 2005, p.2) afirma que “o ato de torcer, como o de jogar futebol e de jogar com certo estilo não é genético, mas social. Segundo ele, o futebol permite uma Discente do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da Universidade do Estado do Pará. e-mail: [email protected] Professor orientador, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professor do Curso de Educação Física da UEPA e-mail: [email protected]

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VIOLÊNCIA NO FUTEBOL PARAENSE UM DIÁLOGO BIBLIOGRÁFICO ACERCA DA VIOLÊNCIA QUE ENVOLVE AS

TORCIDAS DE FUTEBOL DE CAMPO EM BELÉM DO PARÁ

Theophilo Anthunes Santos de Oliveira

Milton Matheus de Souza

RESUMO

O presente estudo explana a violência envolvendo as torcidas de futebol de campo em Belém do Pará. Baseando-se em uma pesquisa bibliográfica, com materiais destinados a discutir esta violência no futebol do Brasil, faz-se uma análise de conteúdo de noticias jornalística da seção “Bola”, do jornal digital “Diário do Pará” em um recorte de 4 anos (2009 – 2012) em Belém do Pará. Tenta reconhecer a situação do torcedor perante a sociedade, tentando demonstrar as causas e efeitos da ferocidade das Torcidas. O estudo toma como base uma pesquisa exploratória reunindo fontes para o embasamento de que a violência coletiva do futebol se deve a fatores sociais. Conclui que a violência é um reflexo social de uma coletividade e um fato presente no futebol de campo em Belém do Pará, principalmente nos clássicos da capital.

Palavras-Chave: Futebol; Torcida; Belém; Violência.

INTRODUÇÃO

O futebol se tornou uma paixão para os brasileiros, que, gradualmente,

referem-se ao país como "a pátria de chuteiras" ou o "país do futebol". Segundo

pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas, o futebol movimenta, em torno, de R$

16 bilhões por ano, contendo, em média, trinta milhões de praticantes (profissionais

ou não) (LEOCINI; Da SILVA, 2005). Por que o futebol é uma paixão nacional? Uma

resposta que parece fácil, mas acaba por não ser objetiva. Para Lima (2002) o

futebol está na sociedade brasileira como para cada brasileiro. Mesmo os que não

gostam tem um time de preferência, e sempre torcem pela seleção nacional na Copa

do Mundo, daí, desde seu nascimento o brasileiro é vestido pelo futebol.

Com essa cultura futebolística inserida na sociedade que Daólio (2005 apud

NETTO, 2005, p.2) afirma que “o ato de torcer, como o de jogar futebol e de jogar

com certo estilo não é genético, mas social. Segundo ele, o futebol permite uma

Discente do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da Universidade do Estado do Pará. e-mail: [email protected] Professor orientador, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).

Professor do Curso de Educação Física da UEPA – e-mail: [email protected]

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violência simbólica, absolutamente saudável”. Configuram-se como violência

simbólica os tipos de cantos, xingos e gestos dos torcedores, que acabam sendo

consentidos pelos brasileiros e estão amplamente representados no futebol. Acaba

por ser acolhida diante das regras, normas e valores socialmente aceitos, porque

xingamentos e gestos são banais e visto de forma agradável nos estádios. Nesse

espaço são permitidas condutas que não são aceitos em outros locais, sendo

analisados como uma manifestação de violência “afetiva”, já que são

emocionalmente satisfatórios e agradáveis (REIS; ESCHER, 2006).

No Brasil a torcida se apresenta como elemento festivo, emotivo e impulsivo,

tanto para os atletas, para os clubes e para a mídia. E o fato da torcida estar

presente nas vitórias e derrotas do seu clube são evidenciados nos momentos

históricos exaltando seus feitos. Mas nas últimas décadas têm se prevalecido os

atos violentos das torcidas e neste artigo se dá importância a estes últimos atos.

A aproximação do tema surgiu de experiências pessoais e acadêmicas, tal

como o ingresso no Curso de Educação Física da Universidade do Estado do Pará

(CEDF/UEPA), em 2008, momento que se compreende o futebol como um

fenômeno sócio cultural, percebendo-o de forma critica e reflexiva, assim como

percebeu este associado à violência, atitude tão evidenciada pelos meios de

comunicação.

O quadro problemático já mencionado é o fato das torcidas, em meados da

década de 1980 até atualmente, conforme tem crescido, tem mais noticias de atos

violentos praticados pelas mesmas, e o presente estudo tenta entender o que

colabora para tais eventos que só fazem diminuir o espetáculo em si, que deve ser o

futebol.

A pesquisa busca compreender a relação “violência x futebol” existente em

Belém do Pará com os estudos e pesquisas feitas no Brasil a respeito da violência

no futebol. O presente estudo tenta, de maneira qualitativa, buscar reflexões e

relações da violência presente no futebol, em especial no que tange torcida

organizada em Belém do Pará, pois, segundo Melim (2009), a imprensa esportiva

consolida na opinião publica a imagem de que torcedor organizado é “um sujeito

violento e vagabundo”.

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Considerando a delimitação supracitada temos como problema de pesquisa o

seguinte: Quais são os principais fatores apresentados no jornal eletrônico Diário do

Pará sobre a recorrência de atos de violência no futebol belenense, especificamente

aqueles referentes aos jogos entre Clube do Remo e Paysandu Sport Club? A

importância para que os dois clubes citados sejam referência é de ordem histórica

como dizia Costa (2009) em seu livro “Remo x Paysandu - O Clássico mais

disputado do futebol mundial” onde se conta a história deste clássico que é chamado

pelo autor de “Clássico-Rei da Amazônia”.

O objetivo geral pretende: Analisar os fatores apresentados no jornal Diário do

Pará sobre a recorrência de atos de violência no futebol paraense, especificamente

aqueles referentes aos jogos realizados em Belém do Pará. E para alcançar o

objetivo geral, traçamos como objetivos específicos: Identificar a violência existente

no futebol de campo em Belém do Pará; relacionar os atos violentos das torcidas

encontrados nas pesquisas com o material especializado neste tipo de estudo.

O estudo se apresenta como publicidade da atualidade no futebol, haja em

vista que um dos principais temores urbano-social são as torcidas organizadas e os

atos de violência que envolve os mesmos (MURAD, 2007). A partir desse

pressuposto o tema é de suma importância para a sociedade, até como referencial

teórico, para saber como, em Belém do Pará, estão os atos violentos envolvendo

torcedores de clubes rivais de times de futebol de campo.

Para melhor compreensão do assunto, dividimos a discussão do artigo da

seguinte forma: O presente estudo está organizado, basicamente, em quatro seções.

Na primeira fazemos um levantamento histórico das torcidas no mundo e no Brasil,

para entrarmos no mérito da questão: a violência das torcidas de futebol de campo.

Na seção seguinte imprimimos a questão metodológica que perpassou o trabalho,

onde o cunho científico fica presente, para o artigo científico não se perder em

visões populares. Na terceira estabelecemos a analise dos dados expondo-os em

quadro e temáticas. Na ultima seção temos a conclusão que imperando os

resultados finais da pesquisa, os anseios, as respostas que poderemos fomentar a

partir dos questionamentos feitos aqui no inicio.

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GÊNESE E HISTÓRICO DA TORCIDAS DE FUTEBOL DE CAMPO E SUAS

PRATICAS VIOLENTAS

Ao tratar de violência no futebol iremos recobrar do episódio mundialmente

conhecido, que se sucedeu no Brasil no dia 20 de agosto de 1995 intitulado pela

mídia como “Batalha Campal do Pacaembu” (PIMENTA, 2001). Um jogo teve os

portões abertos ao público, não cobrando ingresso. Silva, V. (2011) em seu artigo

explicita:

Mais uma vez no mesmo estádio, agora no de 1995, em 20 de agosto, ao final da partida válida pela Copa São Paulo de Futebol Júnior entre as equipes do São Paulo F.C. (SP) e S.E. Palmeiras (SP) houve invasão por parte dos torcedores são-paulinos a um setor onde existia grande quantidade de entulho. As torcidas confrontaram-se, resultando em 22 policiais militares lesionados, 87 civis feridos e um torcedor morto por espancamento. Nessa época, não existia óbice à entrada de hastes de bandeiras em estádios e esse tipo de material foi violentamente utilizado pelos torcedores contra os policiais, fato que dificultou a ação de restabelecimento da ordem e contribuiu para a piora dos resultados (SILVA, V., 2011)

Este foi um fato noticiado em âmbito mundial e que fez as autoridades

brasileiras pensarem em políticas direcionadas para as torcidas organizadas. As

torcidas organizadas brasileiras chamavam a atenção da mídia, anteriormente a

esse fato, pela festa que produziam durante os jogos, podendo citar a “Invasão

Corinthiana” no Maracanã, em 1976. Para Melim (2009, p. 5):

Com o surgimento das torcidas organizadas no final dos anos 60, a imprensa passa a dar notoriedade a esse processo de organização através de coberturas que ressaltavam e incentivavam as festas nas arquibancadas. Essa mesma cobertura abriu espaço para a consequente referência e caracterização do torcedor apaixonado, guerreiro, capaz de acompanhar o time em qualquer circunstância. [...] A imprensa passa, então, a dar grande destaque aos recursos estéticos e às festividades que a juventude organizada proporciona nos estádios, apoiando o time com uma fidelidade nunca vista antes. Em paralelo, utilizam dos sentimentos e das relações inerentes ao futebol, como paixões e excessos, para estabelecer o tipo de torcedor conveniente à cobertura esportiva. Os torcedores, deste modo, são considerados meros consumidores do produto futebol.

Porém com a violência gerada pelos Hooligangs nos anos de 1980 na Europa,

a visão em relação às torcidas organizadas foi sendo deturpada. E nos anos de

1990, depois da “Batalha Campal do Pacaembu” (PIMENTA, 2001) culminou em

uma transformação da imagem para a sociedade. Neste sentido, Lima (2002) afirma

que:

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[...] Tal esporte é parte essencial na construção da identidade das pessoas e dos diversos grupos. A exemplo disso hoje vemos as enormes torcidas dos clubes espalhadas pelo mundo que se juntam, e de certa forma se identificam, formando um grupo social. Infelizmente, como é comum entre diferentes grupos identificados com objetos diferentes, a situação descamba para a violência (LIMA, 2002, p.7).

E com esses fatos no país acontecendo a partir de 1996, os torcedores

paraenses também se enquadrem na lógica nacional. Para Murad (2007, pag.11) “o

tema violência começou a ganhar espaço no noticiário e a preocupar a sociedade

brasileira nos idos dos anos 1960, período do regime militar. Vinte anos depois, o

fenômeno também atingiu o futebol de forma mais pronunciada”. E na Europa esse

fenômeno corre muito tempo antes.

Tudo começou com a invenção do futebol na Inglaterra (no século XIX), se

separando do rúgbi. Já nesse período havia certa rivalidade entre burgueses –

dominantes do esporte na época - e os operários. Lima (2004) fala desse começo

de rivalidade na Europa:

Os jogadores destes times eram os próprios funcionários destas fábricas, que disputavam jogos, geralmente nos sábados a tarde (tradição existente até hoje no Campeonato Inglês de Futebol) no dia em que tinham folgas. Muitas pessoas iam assistir esses jogos. Geralmente eram também operários das fábricas as quais os times representavam, e também a família e a comunidade desses jogadores. É nesse período que começam a surgir as grandes rivalidades entre os diferentes times das cidades da Grã Bretanha. É nesse momento que surgem as disputas entre o Manchester City e o Manchester United, o Glasgow Celtic e o Glasgow Rangers, e o Arsenal, o Chelsea e o Cristal Palace em Londres. Como podemos perceber, inicia-se neste momento a identificação por parte da população pelos clubes de futebol, seja por razões comunitárias, culturais e até mesmo religiosas. Tal massificação do futebol fez com que o historiador inglês Eric Hobsbawn chamasse o jogo de futebol como "a religião leiga da classe operária" (LIMA, 2004; p.6).

Essas rivalidades supracitadas foram efervescentes para a criação das torcidas

e confrontos entre elas. Um momento histórico em 1985, auge do Holliganismo que,

segundo Silva (2008, p.3) “trata-se de um fenômeno Europeu, com origem na

Inglaterra, que modifica drasticamente o comportamento do espectador de futebol

em relação a um conjunto de atitudes, valores pessoais e sociais e visões de

mundo”. Os Hooligans foram a massa da torcida na Europa mais inflamada, mais

violenta e, por algum tempo, a mais temida. Para Cunha (2009, p.2) o Holliganismo

é o “conceito que designa a violência organizada e premeditada nos espetáculos

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desportivos, em especial os de futebol surgiram nos finais dos anos 1950 na Grã-

Bretanha”.

Com a violência constante nas arquibancadas, a Europa visou elitizar os

espectadores de futebol. Nesse processo, os ingressos ficaram mais caros, as

arquibancadas em alguns países europeus foram extintos, e o policiamento foi

reforçado e especializado contra práticas violentas nos estádios de futebol (CUNHA,

2009). Este é um método que está chegando ao Brasil.

Para atingirmos patamares maiores na nossa discussão devemos elencar o

histórico das torcidas brasileiras. Lima (2004), afirma que Charles Miller trouxe para

os brasileiros o futebol, em 1894. Ele Apresentou o esporte à elite paulistana e a sua

aceitação foi rápida pelas associações atléticas, clubes etc. Diferentemente, nas

comunidades foi aceito somente quando os proletários começaram a praticar, dez

anos mais tarde. “Aos poucos, o futebol vai se popularizando e sendo jogado nos

campos de várzea, nas periferias dos grandes centros urbanos, como São Paulo e

Rio de Janeiro, por exemplo” (SOBRINHO; CESAR, 2008). A partir disso sempre

houve torcedores para apoiar o time:

A primeira forma dessa manifestação, por exemplo, é denominada, por alguns pesquisadores, de torcidas voluntárias. Torcidas que, no início da nossa história do futebol, se reuniam única e exclusivamente em consequência dos jogos e tinham como elemento unificado a paixão, ou a simpatia, que nutriam por um ou por outro clube (SOBRINHO; CESAR, 1997, p. 02).

Ainda com ideias de Sobrinho e César (2008), estes nos falam que “nesse

momento, os laços de identidade e de solidariedade ficariam restritos ao espaço de

duração dos jogos, podendo ser revividos em momentos do cotidiano desses

torcedores, como em bares e rodas de amigos”. Em meados dos anos 1940 surgem

as primeiras manifestações de organização de torcedores: as Charangas. Estas

consistiam, segundo Toledo (1996) em uma estrutura simples – um dono – e

pessoas ligadas aos clubes através de políticos, dirigentes, funcionários, etc. Davam

um tom carnavalesco nas arquibancadas com suas bandas musicais.

Depois desse período chegando aos anos 1960 começa a proliferação das

torcidas jovens que, para Hollanda (2007), eram dissidentes das torcidas

organizadas pré-estabelecidas, mas que queria fazer “revolução”. Hollanda (2007),

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ainda afirma que o sucesso foi tanto que várias torcidas se dividiam e multiplicavam-

se conforme os ideais dos participantes, como evidenciado no excerto:

Gaviões da Fiel foram os primeiros que realmente se organizaram, com o propósito de ajudar a ser clube (Sport Club Corinthians). Sua história começa no dia 01 de julho de 1969, data em que o clube estava, mais uma vez, fora da disputa do título (DIAFÉRIA, 1992, p.214)

Para Diaféria (1992) o Gavião da Fiel, torcida organizada do Sport Club

Corinthians Paulista, foi a primeira torcida a se organizar de forma estrutural.

Segundo Pimenta (2001):

[...] Os Gaviões representam a primeira torcida a ter uma estrutura organizativa regida por regras estatutárias e com característica burocrática/militar, compondo-se de presidente e vice, conselheiros e diretores, eleitos periodicamente, formando instituição privada sem fins lucrativos e seus sócios são tratados de forma impessoal. A torcida foi fundada em 01/07/1969, com o objetivo de fiscalizar e apontar todos os erros praticados pelos dirigentes do S. C. Corinthians Paulista, auto-intitulando-se os representantes da nação corintiana junto à Instituição-Clube. A identificação desses grupos é percebida pela vestimenta, pela virilidade e masculinidade, pelos cânticos de guerra, pelas transgressões das regras legais, pelas coreografias, pelo sentimento de pertencimento ao grupo e pela necessidade de auto-afirmação (PIMENTA, 2001, p.127)

Nos anos 1980, para Pimenta (2001) no Brasil:

[...] o comportamento do torcedor nas arquibancadas dos estádios de futebol modificou-se consideravelmente. Isso se deu pelo surgimento de configurações organizativas com característica burocrática/militar fenômeno essencialmente urbano que cria uma nova categoria de torcedor, ou seja, o chamado “torcedor organizado” (PIMENTA, 2001, p.123)

A torcida do Corinthians Paulista é a segunda mais popular do Brasil, de

acordo com o divulgado pelo IBGE em Dezembro de 2007. O clube ganhou seu

primeiro titulo nacional em 1990. O Clube de Regatas Flamengo tem a maior torcida

do Brasil, porém suas conquistas de expressão nacional e mundial estão no

passado (entre os anos de 1970 e 1980). O fato de a torcida organizada ter um

nome forte e uma estrutura intensa parece significar um modelo para os jovens de

hoje em dia, corroborando com essa afirmação Pimenta (2000) afirma:

O torcedor, no modelo organizado, não é mais um mero espectador do jogo. No grupo ele é parte do espetáculo, ele é o espetáculo. No grupo ele expressa sua masculinidade, seus sentimentos de solidariedade, de companheirismo e de pertencimento em um grupo que o acolhe (PIMENTA, 2001, p.4).

Elucidando o conceito do jovem torcedor evidenciado por Murad (2007), em

que o jovem torcedor se sente inserido em uma comunidade. E essa imagem que o

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jovem tem perante a torcida é reforçada também pelos jogadores dos clubes, que

saldam a torcida com alguma simbologia que identifique a torcida homenageada. Ou

provocam a outra torcida com atos premeditados.

Depois dessas discussões vamos observar como é o trato da violência entre as

torcidas organizadas de Belém do Pará.

RELAÇÃO DA VIOLÊNCIA COM AS TORCIDAS ORGANIZADAS PARAENSES

A paixão, emoção que o futebol traz para seus adeptos ou, simplesmente,

torcedores é contagiante, aflora a pele, e, por vezes, um estado de graça que não é

compreendido por alguns, que transforma sua tristeza ou angústia, em violência e

transtorno para os que são contra suas ideias futebolísticas.

Os torcedores do Paysandu e Remo se orgulham da sua história também. O

Paysandu foi criado por atritos entre agremiações que queriam chegar a final para

disputar o campeonato paraense contra o Remo. Uniram-se e formaram o clube,

como descreve Costa (2003):

A rivalidade entre Paysandu e Remo já nasceu na fundação do alvi-celeste. Os fundadores do Paysandu se revoltaram contra a Diretoria da Liga Paraense de Foot-Ball, que se recusou a anular a partida Norte Club 1 x 1 Guarany, realizada a 15 de novembro de 1913, cujo resultado deu ao Grupo do Remo (atual Clube do Remo), o título de campeão paraense de futebol daquele ano. O Norte Club realizava uma boa campanha e tinha sérias aspirações ao título. Para tanto, teria que derrotar o Guarany naquela partida. A vitória daria chance ao Norte Club de disputar o título de campeão com o Remo, em partida extra. Os integrantes do Norte Club, inconformados com o resultado da partida contra o Guarany, solicitaram à Liga "a anulação da mesma, por diversas irregularidades havidas. A Diretoria da Liga Paraense de Foot-Ball, porém, julgou improcedente o recurso, validando para todos os efeitos o resultado de 1 x 1. A decisão não agradou nem um pouco aos integrantes do Norte Club, que decidiram tomar posição para que sua associação se tornasse mais forte, capaz de enfrentar em igualdade de condições os seus adversários. Hugo Manoel de Abreu Leão, que jogava no Norte Club, era o líder do movimento destinado a fundar a nova agremiação. Os integrantes do Grupo do Remo chegaram até a convidá-lo para ingressar no clube, idéia que foi repelida, de imediato, com a seguinte frase: - Vou fundar um clube para superar o Grupo do Remo! Reuniões se sucederam e os componentes do Norte Club acabaram por se decidir pela extinção da agremiação, e pela fundação de outra, mais forte e com nova denominação: Paysandu Sport Club (COSTA, 2003, p.28).

Temos aqui o primeiro atrito histórico entre as agremiações. Sendo o maior

rival criado pelos exaltados e mortificado dissidentes dos clubes que não

concordavam com tal soberania. Mesmo com valor histórico, há autores que afirmam

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que as torcidas só zelam pela rivalidade sem contexto histórico. Segundo estudo de

Hidaka, Santos Araújo e Souza Araújo (2007):

[...] a rivalidade é alimentada com uma satisfação de ver o clube rival em má situação, derrotado, endividado, eliminado e rebaixado é uma alegria comparada à vitória do time do coração. Os azulinos relembram o fato do maior rival não ter conseguido passar para a próxima fase do Campeonato Brasileiro da série C. (HIDAKA; SANTOS ARAÚJO; SOUZA ARAÚJO, 2007, p.11)

Essa afirmação nos leva a remeter se o valor histórico-cultural é valorizado

pelas torcidas do Brasil, principalmente as de Belém do Pará. Nesse contexto, os

clubes do Pará, que no presente momento se encontram nas divisões que não são a

elite do futebol, estão batalhando para manter equipe que, por vezes, deixam de

entrar em campo para uma partida oficial por mais de 7 meses. Nesse sentido a

torcida, que na década de 1990 e começo dos anos 2000 viviam os “louros da

vitória” dos seus times, torcendo e se vangloriando das suas conquistas, em campo

e fora dele. Porém a outro lado do amor, da paixão, a linha tênue que separa a

razão da emoção: os atos de violência em dias de clássicos no futebol do Pará.

O que é supracitado por Hidaka, Santos Araújo e Souza Araújo (2007, p.11) diz

respeito da opinião do torcedor de Belém. Também podemos ressaltar que a

violência é gerada pelos próprios esportistas e envolvidos com o mundo do futebol, a

exemplo disso temos sempre uma confusão ou outra em clássicos de futebol de

campo. Outra perspectiva que pode gerar confusão nas arquibancadas e fora dele é

salientada por Pimenta (2001):

O argumento mais recorrente utilizado por representantes de “torcidas” é que atos de violência podem ser gerados em face de inúmeros fatores intimamente ligados às teias de relações desenvolvidas no evento esportivo, abrangendo desde a estrutura dos estádios até a ação da polícia. Paulo Serdan sintetizou a justificativa: “[...] um detalhe do juiz, um detalhe do bandeirinha, um detalhe do policiamento. É uma série de detalhezinhos que vai insuflar a ‘torcida’ e vai criar um clima de guerra. Você chega num estádio e não tem água para beber, não tem banheiro para ir (...), um guarda que é um pouco violento [...], um bandeirinha que vira para trás e tira um barato com a cara da ‘torcida’ ou o próprio diretor de clube que o seu time faz gol, ele vira para a ‘torcida’ e tira um barato, então é uma série de detalhes que faz você sair do sério [...] (PIMENTA, 2001, p.125).

Este argumento feito pelo antigo presidente da Mancha verde (torcida

organizada da Sociedade Esportiva Palmeiras) Paulo Serdan é recorrente. No Pará

já houve e acontecem esses problemas mencionados acima. Veremos mais com a

organização e a análise dos fatos em que ocorre violência no âmbito do futebol de

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campo em Belém do Pará no caderno esportivo “Bola” do periódico digital “Diário do

Pará”.

MÉTODO E MATERIAL

Para se atentar e direcionar este estudo como uma pesquisa cientifica,

devemos estruturá-la por sua metodologia. Define-se método como "o caminho para

se chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos

intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento" (GIL, 1994, p. 27).

Nesse sentido, nossa pesquisa vincula-se ao critico-dialético, que, segundo

Martins (1994, p. 27):

Privilegiam experiências práticas, processos/históricos, discussões filosóficas ou análises contextualizadas. Suas propostas são marcadamente críticas e pretendem desvendar mais que o "conflito das interpretações", o conflito dos interesses. Manifestam interesses transformadores. Buscam inter-relação do todo com as partes e vice-versa, da tese com a antítese, dos elementos da estrutura econômica com os da superestrutura social, política, jurídica e intelectual. A validade da prova científica é fundamentada na lógica interna do processo e nos métodos que explicitam a dinâmica e as contradições internas dos fenômenos, e explicam as relações entre homem-natureza, entre reflexão-ação e entre teoria-prática.

A pesquisa é definida em um estudo bibliográfico relevante por elencar a

produção do conhecimento a respeito do tema. Por ser um estudo bibliográfico

Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 60) explicitam seu conceito e importância:

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir das referencias teóricas publicadas em artigos livros, dissertações e teses. [...] busca-se conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado sobre determinado assunto, tema ou problema.

Para reforçar a pesquisa e inserir o trato com fontes jornalísticas como jornais e

meios eletrônicos, Gil (2002, p. 46) diz:

Nem sempre fica clara a distinção entre a pesquisa bibliográfica e a documental, já que, a rigor, as fontes bibliográficas nada mais são do que documentos impressos para determinado público. Além do mais, boa parte das fontes usualmente consultadas nas pesquisas documentais, tais como jornais, boletins e folhetos, pode ser tratada como fontes bibliográficas. Nesse sentido, é possível até mesmo tratar a pesquisa bibliográfica como um tipo de pesquisa documental, que se vale especialmente de material impresso fundamentalmente para fins de leitura.

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Daí se apresentar uma pesquisa bibliográfica pelo trato de documentos

impressos em jornais. No caso desta pesquisa vai se valer dos artigos jornalísticos

da seção esportiva (especificamente Bola) do jornal eletrônico “Diário do Pará”, pois,

segundo a ANJ - Associação Nacional de Jornais – o presente jornal é um dos

maiores jornais do Brasil de circulação paga, por ano (segundo pesquisa feita em

2011) ficando em 42º lugar de todos os jornais do Brasil – que reuni mais de 154

jornais no Brasil. Por tal proeza, ela assume importância por fazer com que suas

notícias sejam mais difundidas no estado do Pará.

A coleta de dados foi feita na rede mundial de computadores (internet), no site:

http://diariodopara.diarioonline.com.br/, fazendo um recorte material e histórico.

Iremos coletar e analisar todos os artigos que tem como tema o futebol de campo e

violência em Belém no diário esportivo eletrônico “Bola” do Diário do Pará. Tratamos

dos dados de 04 anos (2009 - 2012), pois em 2009 é o ano em que a Confederação

Brasileira de Futebol (CBF) criou e realizou o primeiro campeonato brasileiro serie D

(4º divisão), com participações efetivas de algumas equipes do Pará. Ano

importante, também, por constatar que nenhuma equipe paraense estava na elite do

futebol de campo nacional, transformando seus “tempos de glórias” (década de 1990

e começo do novo milênio) em dias de “trevas” (NOGUEIRA, 2011).

Por consequência da evolução das pesquisas, a Análise de Conteúdo perde

um pouco do seu caráter descritivo, e passa a tomar-se consciência de que sua

função e objetivo é também descrever o texto jornalístico (DA SILVA, 2011).

Limitando-se a analisar somente dados envolvendo futebol de campo em Belém do

Pará e violência, pois como é do trato de conteúdo exploratório, não iremos nos

aprofundar na questão.

A abordagem apresentada se estrutura na forma qualitativa, pois, segundo

Chizzotti (1995, p. 52) a pesquisa qualitativa “fundamentam-se em dados coligidos

nas interações interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes,

analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos. O pesquisador

participa, compreende e interpreta”. Com a reunião de estudos de autores

especialistas no assunto que aborda a violência no futebol, iremos dialogar com os

eventos que acontecem em Belém do Pará, qual será os problemas para que haja

violência nos estádios em dias de clássico de futebol em Belém do Pará.

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Elencamos, para a investigação do tema a ser pesquisado fatos jornalísticos

para comprovar que pesquisas dos autores tem o respaldo necessário para ajudar,

ou não, a analisar as noticias veiculadas. Neste sentido usamos, também, as bases

da pesquisa exploratória que, para Soares (1994, p.1): “o objetivo de uma pesquisa

exploratória é familiarizar-se com um assunto ainda pouco conhecido, pouco

explorado. Ao final da pesquisa, você conhecerá mais sobre aquele assunto, e

estará apto a construir hipóteses. Neste sentido a pesquisa é de cunho exploratório.

Como técnica de análise de dados, utilizamos a analise de conteúdo, que

segundo Bardin (1977, p. 31) consiste em um “conjunto de técnicas de análise das

comunicações” (quantitativos ou não) que aposta na rigidez do método como forma

de não se perder na diferença de seu objeto, visa obter, por procedimentos,

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores e

conhecimentos relativos às condições de variáveis inferidas na mensagem. Uma

analise de conteúdo baseada no contexto e no que foi apreendido conforme a

estruturação do trabalho com pré-análise dos documentos reunidos, exploração do

material e a inferência e/ou interpretações dos dados (BARDIN, 1977).

Salientando que o estudo tem como conjectura “familiarizar-se com o

fenômeno ou obter uma nova percepção dele e descobri novas ideias” (CERVO,

BERVIAN; DA SILVA, 2006, p. 69), ou seja, transformar o trabalho de conclusão de

curso em uma pesquisa que poderá ser analisada pela comunidade acadêmica.

RESULTADO E DISCUSSÃO

No total da pesquisa foram consultados 13 artigos jornalísticos (APÊNDICE)

diferentes na seção “Bola” do jornal eletrônico “Diário do Pará” envolvendo violência

e futebol de campo em Belém do Pará em seu titulo e/ou subtítulo.

Na pesquisa fica latente a violência presente em jogos de futebol de campo em

Belém do Pará, envolvendo torcidas, torcidas organizadas, policiais e jogadores

profissionais. Nos artigos encontramos na fala dos jornalistas, “jovens arruaceiros”,

“torcida jovem”. Termos esses que nos fazem remeter nos autores das seções

anteriores que dizem a respeito da relação do jovem com a sociedade, evidenciada

no excerto abaixo:

13

Urge mudar essa realidade! É evidente de que as instituições do Estado e principalmente a família estão falhando sistematicamente na educação e proteção do desenvolvimento dos jovens. É inadmissível que um jovem para se identificar com um determinado grupo tenha que se impor fisicamente e o que é pior, todos seus atos configurem ilícitos penais e que venha causar danos gravíssimos a outro jovem, quando não raras vezes acabe com a morte do próximo (SILVA, G., 2008, p. 14).

Na pesquisa a maioria dos artigos falavam que o consumo de bebidas

alcoólicas antes de adentrar nos estádios é um fator catalizador para o aumento da

violência entre torcedores (MURAD, 2008). Nos artigos 02, 03, 10 e 11 está latente

esse problema. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – órgão

máximo do futebol brasileiro – perante aos riscos que estavam envolto decretou,

juntamente com o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público

dos Estados e da União, a proibição de bebidas alcoólicas durante eventos

esportivos oficializados pela CBF na Resolução 01/2008.

Também que a policia faz um trabalho especial visando a diminuição dos atos

de violência em jogos de futebol de campo. Para Reis (2006), a polícia se

especializou para combater um “mal urbano” que aflora em dias de clássico. Como é

visto nos artigos “PM radicaliza contra vandalismo nos estádios”, “Walmir Rodrigues

fala sobre briga de torcidas”, “PM que efetuou disparo será investigado”, “Briga de

torcedores rivais termina com tiros”, “Torcedores são baleados em briga na Curuzu”,

“Violência entre Águia e Remo teve repercussão”, “PM tentou conter a violência no

estádio Mangueirão”, “Polícia fala sobre violência no Mangueirão” e “Torcidas

organizadas extrapolam limites”. Porém devemos ressaltar que a preparação do

policiamento, principalmente no norte do país, não tão eficaz, por apresentar artigos

mostrando abuso de autoridade e violência excessiva por parte dos policiais que

estavam para manter a ordem, como é analisado nos artigos “PM radicaliza contra

vandalismo nos estádios”, “PM que efetuou disparo será investigado”, “Torcedores

são baleados em briga na Curuzu”, “PM tentou conter a violência no estádio

Mangueirão” e “Polícia fala sobre violência no Mangueirão”.

Outro ponto importante a se ressaltar é o artigo “Enquete aponta torcidas as

causadoras da violência” que fez uma enquete entre os leitores do diário eletônico

Diário do Pará, os internautas colocaram as torcidas organizadas (com 58.73%)

como principal culpado pela violência no Campeonato Paraense de 2012,

totalizando 2.858 votos, entre outras entidades votadas. A torcida organizada está

14

presente também de forma negativa nos artigos em quase que a totalidade dos

artigos presentes no estudo. Ficando o registro do artigo jornalístico número 13

É comum os casos de violência entre torcedores rivais no Brasil. Nos últimos clássicos, foram registradas mortes e muito vandalismo por parte das organizadas. Em Belém, nos últimos dois jogos envolvendo Remo e Paysandu, houve vários registros policiais em Belém de brigas entre esses torcedores, antes mesmo de chegarem ao estádio do Mangueirão. Os recentes casos de violência entre algumas torcidas organizadas são combinadas pelas redes sociais (RELVAS/DOL, 2012)

Para Murad (2007), porém, é duvidoso considerar a violência arrolada ao

futebol brasileiro como um caso separado da coletividade, assim como é um erro

culpar as torcidas organizadas pelos atos violentos praticados no estádio ou no seu

entorno. De maneira geral, fica latente a visão midiática demonstrada pela

população que votou na enquete (PIMENTA, 2000; REIS, 2006).

Também é notório, nos aspectos gerais dos artigos encontrados, a violência

recorrente fora dos estádios, no seu entorno, onde, quase na totalidade dos artigos

jornalísticos (exceção do “Enquete aponta torcidas as causadoras da violência”), há

a presença de brigas, xingos, e violência urbana fora dos estádios, antes ou depois

dos jogos de futebol, principalmente aqueles com maior clamor popular.

CONCLUSÃO

Depois de todas as argumentações e a colaboração dos subsídios teóricos dos

pesquisadores usados no trabalho, concluímos que a violência gerada pelas torcidas

em dias de clássico em Belém do Pará sai do campo da violência simbólica para a

violência física (DAMATTA, 1982; DAOLIO, 1997; REIS, 2006; MURAD, 2007),

mesmo quando as duas equipes não jogam. Essa violência é provocada pelos

anseios coletivos inseridos nos atores sociais, como situa Reis (2006), pois a torcida

organizada é uma manifestação social e deve ser entendida e compreendida como

tal. Nos dias de clássico em Belém do Pará, se inflama o sentimento descrito por

Hidaka, Santos Araújo e Souza Araújo (2007) que exalta que a melhor vitória para

alguns torcedores é a derrota da equipe rival, não a vitória da equipe que torce.

O real motivo encontrado nos estudos para a violência causada pelas torcidas

organizadas em dias de jogos em Belém do Pará é o sentimento da vitória plena, a

vitória dentro de campo e, conseguintemente, a vitória extra-campo, demonstrando o

15

poder que alimenta a torcida organizada, impondo respeito perante as torcidas

rivais. Como é percebido nas falas dos autores Hidaka, Santos Araújo e Souza

Araújo (2007) e Pimenta (2001), além de ser encontrado manifestos dessa vitória em

3 artigos jornalísticos.

A mídia também tem relação direta com as atitudes violentas quando: divulga

aquele jogo como a ”batalha do ano” para sagrar-se campeão; quando estampa

fotos de maus torcedores agredindo o rival; promove “bate-boca” entre atletas das

equipes adversárias, como forma de propagandear o jogo; alimentam a rivalidade,

como é sempre visto no caso de seleções nacionais (Brasil e Argentina).

No passado exaltavam as torcidas organizadas pelo brio que praticavam nos

jogos, ora por vez descriminavam suas ações violentas, sem entender seu contexto,

apenas queria analisar o fim. As torcidas organizadas são retratadas como

“vândalos”, “vagabundos” e “arruaceiros”, e é essa a imagem que o senso comum

carrega, desde meados dos anos 1990.

E por serem atores sociais, se manifestam de forma grupal as relações sociais

impostas pelo meio, como elenca Reis (2006), “a baixa qualidade do ensino publico,

a alta taxa de desemprego, a impunidade e no desrespeito aos direitos do torcedor”

(de acordo com o estatuto do torcedor, vigente desde 2010). Todos esses e outros

fatores são e podem ser a resposta para os atos de violência gerados pelos

torcedores (de organizadas ou não).

Compreendendo que os atores sociais (torcedores) reproduzem a sua situação

social, devemos também exigir deveres e direitos. As torcidas têm direitos a serem

conquistados, mas também tem deveres a serem zelados. A violência só gera

violência, com o policiamento despreparado para eventos de grande porte ou para

um grande público, estas propostas servem também para as principais medidas a

serem adotadas em 2014, antes, durante e depois da copa do mundo Federação

Internacional de Futebol Associados (FIFA) no Brasil.

Reis (2006) nos seus estudos elenca seis propostas para que os conflitos

sociais acabem ou diminuam. Possuindo conhecimento adequado quanto a

pesquisa, nos apossamos de algumas dessas propostas e concluímos que para os

conflitos diminuam (pois só acaba quando houver igualdade entre as coletividades, o

16

que o sistema capitalista não proporciona) é necessária uma política educacional

eficiente e eficaz; políticas públicas de emprego e distribuição de renda e de

moradia que façam, ao menos, diminuir a fronteira entre a pobreza e uma vida

digna; um sistema de saúde de qualidade na rede publica, com medicamentos e

pessoal qualificados, tendo como principal característica o atendimento preventivo;

uma politica nacional direcionada ao lazer para que os brasileiros mantenham o

padrão de qualidade de vida e uma artifício para a vigilância da violência em

momentos de grande aglomeração, sejam esportivos ou não (REIS, 2006). Todas

essas características são fundamentais para a mudança de postura politico, social e

coletiva.

Concluindo o trabalho, nos deparamos com algumas incógnitas a serem

respondidas, lacunas a serem preenchidas em outros estudos, se fatores

socioeconômicos estão inseridos nos atos violentos entre torcedores, a questão para

uma pesquisa mais aprofundada em várias seções de varias fontes jornalísticas, ou

relações que as políticas públicas poderiam desenvolver para a diminuição dos atos

violentos nas praticas desportivas, principalmente o futebol de campo, entre outros

fatores. Porém, vale ressaltar que esta pesquisa é um estudo introdutório para

outras pesquisas.

Contemplamos este estudo para a comunidade acadêmica para futuros

estudos e para somar com futuras contribuições no que tange futebol, torcida,

violência.

Violence in Soccer Paraense

Bibliographic a dialogue about violence involving the twisted football field in Belém of

Pará

ABSTRACT

This study explains the violence involving supporters of football field in Belém do Pará Based on a literature search, with materials to discuss this football violence in Brazil, it is a content analysis of newspaper news section "Ball", the digital newspaper "Diário do Pará" in a cut of 4 years (2009-2012) in Belém do Pará tries to recognize the situation of the fans towards the company, trying to show the causes and effects of the ferocity of the Twisted. The study builds on an exploratory gathering sources for the foundation of the collective violence of football is due to

17

social factors. We conclude that violence is a reflection of a social collectivity and a present football field in Belem, the capital especially in games

Keywords: Football, Fans, Bethlehem, Violence.

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TOLEDO, Luiz Henrique de; Torcidas organizadas de futebol; Autores Associados, 1996 - 176 pág.

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APÊNDICE

NÚMERO DATA DA

PUBLICAÇÃO TÍTULO

01 Quinta-feira, 15/10/2009

PM radicaliza contra vandalismo nos estádios

02 Sexta-feira, 16/10/2009 Walmir Rodrigues fala sobre briga de torcidas

03 Quarta-feira, 6/1/2010 Consumo de bebidas em estádios volta ser

discutido

04 Quinta-feira, 27/01/2011

PM que efetuou disparo será investigado

05 Domingo, 25/09/2011 Briga de torcedores rivais termina com tiros

06 Domingo, 25/09/2011 Torcedores são baleados em briga na Curuzu

07 Terça-feira, 14/02/2012 Violência entre Águia e Remo teve

repercussão

08 Sexta-Feira, 06/04/2012

PM tentou conter a violência no estádio Mangueirão

09 Quinta, 05/04/2012 Reunião discutirá extinção de torcidas

organizadas

10 Sexta-feira, 06/04/2012 Polícia fala sobre violência no Mangueirão

11 Terça-feira, 10/04/2012 Torcidas organizadas extrapolam limites

12 Sexta-feira, 13/04/2012 Bebida alcoólica ainda é realidade em estádios

13 Terça-Feira, 17/04/2012

Enquete aponta torcidas as causadoras da violência