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  • 8/17/2019 Txtstedesco.foucaulthoje.vf

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    Subjetividade e seu plano de produção∗

    Silvia Tedesco

    Texto publicado em: Queiroz, A., Velascoe Cruz, N., (2007) oucault, !o"e# $io de %a&eiro, 7

    'etras. 

    Proponho trazer para discussão desta mesa algumas reflexões sobre clínica,

    onde o pensamento de oucault comparece! "dvirto #ue não se trata de uma clínica

    específicamente foucaultiana, mas de uma clínica transdisciplinar, construída a partir 

    de m$ltiplas alianças t%orico&pr'ticas, entre elas algumas teses extraídas da obra

    foucaultiana!

    (averia a meu ver muitos pontos a serem abordados, mas seleciono um

    deles para esta exposição! )inha escolha recai sobre um conjunto de id%ias

    essencial para pensarmos na atualidade o tema da subjetividade, objeto desta

    clínica! " partir de oucault, somos incitados a pensar a emerg*ncia política dos

    objetos do saber e de nossas pr'ticas! +ito&o em "r#ueologia do saber

    -. objeto não espera nos limbos a ordem #ue vai liber'&lo e

    permitir&lhe #ue se encarne em uma visível e lo#uaz objetividade/ ele não

    pr%&existe a si mesmo, retido por algum obst'culo aos primeiros

    contornos da luz, mas existe sob as condições positivas de um feixe

    complexo de relações!0 1oucault,2345, p! 627

     "vançando nesta direção, tamb%m somos lembrados da perigosa armadilha

    de orientarmos a investigação de nosso objeto na busca da 8rsprung , no

    estabelecimento de uma origem nobre, de relações de continuidade, de identidades!

    9o lugar, oucault, inspirado em 9ietzsche, propõe a pes#uisa da Herkunft , da

    proveni*ncia #ue -agita o #ue se percebia im:vel, fragmenta o #ue se pensava

    unido, mostra a heterogeneidade do #ue se imaginava em conformidade consigo

    mesmo0!1oucault, 2353,p!;27

    São as relações de poder, ou seja, relações de produção política #ue passam

    a nos interessar! 9este sentido evitamos pensar a subjetividade como subst

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    desvia&se de uma forma acabada, #ue podemos denominar sujeito, para um

    processo mais amplo o #ual denominamos de subjetividade! " subjetividade %

    compreendida como um plano de produções hist:rico&políticas a partir do #ual a

    forma sujeito emerge como efeito! 9a clínica lidamos com processos, processos de

    subjetivação!

    Portanto, falar de subjetividade % falar de uma ma#uínica, de um processo de

    produção dirigido a geração de modos de exist*ncias, ou seja, modos de agir, de

    sentir, de dizer o mundo! > analisar um processo de produção #ue tem a si mesmo,

    o sujeito, como produto! Precisamos entender a subjetividade ao mesmo tempo

    como processo e produto! +omo produto reencontramos a noção de sujeito, objeto

    de estudo das ci*ncias humanas, figura cujos limites são delineados por 

    regularidades garantidas por princípios gerais de funcionamento! " este componente

    da subjetividade denominaremos forma&sujeito!

    9o entanto, lembrados por ?! Sch%rer no texto @Subjetivit%s hors sujet@,

    concordamos #ue

     -seria um erro não reconhecer #ue esta forma regular corresponde

    apenas a  um instante $nico da subjetividade, um momento de um

    processo maior, uma fase de uma atividade contínua de produção de si0

    1Sch%rer,233A7!

    B, então, mais do #ue o efeito&sujeito ou produto&sujeito, a subjetividade inclui

    tamb%m uma dimensão de processo! alar da subjetividade como processo de

    produção implica em falar do plano onde este processo de produção, processo de

    construção do si mesmo, ocorre! 9este caso precisamos considerar o car'ter 

    político, as relações de poder #ue compõem este plano, as relações de forças

    implicadas no processo de produção! "firmamos ser o plano das forças, produtoras

    da forma subjetiva, uma dimensão pr:pria C subjetividade! " clínica, portanto, não remete os impasses do sujeito a uma realidade

    essencialmente psí#uica, circunscrita a conflitos intimistas, ou mesmo a estruturas

    subjetivas universais! Bla traz a cena o plano de forças! .s impasses exprimem

    certa modalidade de funcionamento do plano de produção! Para al%m do sujeito

    constituído, produzido, existe a subjetividade, modo como denominamos seu plano

    de produção! Bste plano % o real objeto da clínica!

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    ?eferir&se C subjetividade %, portanto, referir&se Cs relações, C rede de

    conexões #ue a constituem! Dale como esclarecimento #ue nesta rede, o sujeito não

    vigora como termo preexistente #ue, então, de acordo com características pr:prias,

    estabelece vínculos com o meio circundante! 9ão fazemos refer*ncia a um sujeito

    destacado dos objetos do mundo, nem a uma realidade psí#uica #ue estabeleça

    relações de representação com uma pretensa realidade externa dada desde sempre

    e dela separada! 9ão h' dicotomia sujeito&objeto ou sujeito&mundo! . #ue temos % a

    subjetividade como um plano de forças, onde tanto o sujeito #uanto o mundo são j'

    efeitos! " subjetividade não participa da rede, ela constitui a pr:pria rede!

     "o transportar nossa an'lise para o plano das forças lembramos com

    oucault, em sua aliança com 9ietzsche, #ue as forças s: podem ser apreendidas

    em seu exercício! Toda força est' numa relação essencial com outra força! 9este

    sentido, ao falarmos das forças de produção da subjetividade estaremos tratando

    essencialmente de relações de produzir e ser produzido!

    =ito isto, para melhor conduzir esta exposição escolho um outro termo, um

    segundo termo, um outro conjunto de vetores para sublinhar o car'ter relacional da

    subjetividade! Bscolha recai sobre o processo da linguagem! Bscolha em nada

    casual na medida em #ue a sociedade contempor

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    por exemplo, nos fala a psicologia! . @eu falo@, sujeito da enunciação e origem da

    linguagem, perde, para n:s, seu lugar central! +omo diz oucault 123457, a verdade

    ou a causa das enunciações não deve ser procurada na unidade de um sujeito! .

    sujeito não % agente nem ponto de partida do dizer!

    B, se não optamos por considerar o discursivo como expressão de uma

    consci*ncia anterior C palavra, muito menos ainda falaremos da linguagem como

    fundamento do sujeito, isto %, de um sujeito do inconsciente, estruturado como uma

    linguagem, um sistema simb:lico no #ual o sujeito estaria imerso! Se negamos C

    subjetividade a função de fonte ou origem da linguagem, do mesmo jeito rejeitamos

    a tese psicanalítica do sujeito constituído exclusivamente pela e na linguagem! 9ão

    apostamos na simples inversão da direção imposta ao vetor de determinação!

    Propomos, bem mais #ue isto, propomos a transversalização destas coordenadas

    tradicionais de determinação! 9o lugar da dicotomia entre

    determinanteEdeterminado, marcada por relações de hierar#uia ou predomin

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    realizações empíricas! +onstitui objetos, cria situações novas! Bnfim, a produção do

    mundo tem agora afinidade especial com a linguagem!

     "o incluir a linguagem no plano das pr'ticas % preciso estar atento para dois

    movimentos! Por um lado, vale preservar os limites do universo discursivo! Fsto

    por#ue a primeira vista, afirmar a incursão direta entre o dito e os fatos em geral,

    poderia implicar no risco de defini&lo numa relação de continuidade com toda ação

    ou gesto, diluindo&o entre os fatos em geral! . dizer torna&se pr'tica, mas não uma

    pr'tica #ual#uer, mant%m&se distinta de outras pr'ticas, guarda especificidade!

    Por%m tem eliminado seu poder hegemHnico, sua preval*ncia como força de

    determinação, de ordenação, . plano de produção a #ue fazemos refer*ncia % um

    plano heterog*neo, onde pr'ticas discursivas e não discursivas agem umas sobre as

    outras, num movimento de m$tua produção! Sem o não discursivo, o discursivo não

    se realiza! Dejamos!

     "lgumas teses desenvolvidas principalmente na -"r#ueologia do saber0

    123457 e relidas por =eleuze 123447 nos autorizam a pensar o dizer a partir da noção

    de formação hist:rica e, deste modo, envolvem a linguagem no processo de

    produção de mundo! Segundo oucault, a empiricidade sofre a repartição em duas

    dimensões, cada uma com a mesma força produtiva! "s pr'ticas discursivas e as

    não discursivas recobrem a realidade e constituem&se em duas modalidades de

    produção! 9a primeira se localizam as pr'ticas centradas no uso de signos, toda e

    #ual#uer atividade envolvida com a expressão! Tal % a realidade constante nas leis,

    nos c:digos, nos enunciados estabelecidos pelas convenções institucionalizadas ou

    informais, presentes em #ual#uer esfera do cotidiano! > tamb%m o mundo posto

    pelas teorias, pelas hip:teses explicativas, #ue percorrem todos os limiares de

    cientificidade de #ue fala )! oucault, desde a formalização Cs puras positividades,

    incluindo&se aí, tamb%m, #ual#uer opinião, a mais corri#ueira, ou um simples traçadode letras sobre uma folha de papel! Iual#uer conjunto de signos ou sinais % um

    dizer #ue, ao pretender referir&se ao mundo, na verdade, o est' produzindo

    1oucault, 23457! 9a segunda encontramos as pr'ticas empíricas afetando

    diretamente corpos e coisas! > o plano das ações mudas, das visibilidades! Bstas

    agem realizando as repartições, distribuições dos espaços #ue resultam em

    diferentes modalidades de confinamentos, atrav%s das #uais doam realidade a

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    distintas #ualificações para os corpos! =e um lado, os atos, realizações vinculadas

    Cs enunciações, de outro as ações mudas!

    9o lugar do privil%gio oferecido a um dos planos no poder de organização

    formal surgem duas formas autHnomas! .s dois planos existem como dois aspectos

    de um mesmo plano mais amplo, o das empiricidades, e possuem, cada um, seu

    modo pr:prio de organização! " autonomia dos dois planos os mant%m&se distintos,

    por%m, não mais isolados! 9ão escapam a relações de reciprocidade! " realidade

    empírica definida como efeito de pr'ticas %, na verdade, uma função e explica&se

    pela relação de pressuposição m$tua, estabelecida como resultante de dois funtivos

    o discursivo e o não discursivo ou dizibilidade e visibilidade 1oucault, 234J/

    =eleuze, 23447!

     " repartição realizada acima ganha maior clareza #uando os dois funtivos,

    revelam&se como formações, como processos hist:rico&políticos! Trata&se da grande

    rede discursiva de #ue fal'vamos no início do trabalho, agora, esclarecida tamb%m

    atrav%s de seus componentes não discursivos! =a g*nese empírica das visibilidades

    criam&se modos de ver e fazer ver, j' da produção das dizibilidades surgem

    maneiras específicas de falar e fazer falar! > no conjunto de falas e olhares #ue o

    objeto se constitui! Por%m, #ual seria a modalidade de elos produzidos por esta

    grande rede empírica produtora de realidadeK

    Seguir a tradição pragm'tica nos conduz a conceber o duplo funcionamento do

    elo em #uestão! B com isso o sentido de produção abala&se! "o falar de produção

    consideramos simultaneamente dois sentidos #ue o termo carrega! Bntendida como

    pura repetição, o processo de produção tende a imprimir no produto sempre uma

    mesma natureza, ou melhor, o efeito não diverge da direção imposta pela

    configuração geral do processo! Tal como numa f'brica, esta modalidade de

    produção prima pela realização de c:pias bem feitas, ou seja, orienta&se pela#ualidade da produção, ou melhor, pela #ualidade da reprodução! Digora aí o

    cuidado com produto, cuidado com sua fidelidade ao modelo geral, fidelidade a uma

    matriz #ue deve ser reproduzida! São as produções serializantes, homogeneizantes!

    Por%m, existem momentos em #ue o processo de produção, no lugar de

    reproduzir reiteradamente um mesmo efeito, segue direções inusitadas, instala&se

    como uma estranha modalidade de produção, na #ual o processo volta&se sobre si

    mesmo, e numa estrat%gia de diferenciação, impõe direções inesperadas Cs suas

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    pr:prias linhas de produção! 9este caso, % o pr:prio processo #ue % fabricado! .

    processo ocupa o lugar de produto! .u melhor processo e produto são, agora,

    indiscerníveis! Trata&se de um produto&processo, em #ue a engrenagem, ela mesma,

    passa por transformações, garantindo o surgimento de novas regras de

    funcionamento para a m'#uina de produção!

    .u seja, em seu duplo funcionamento, o elo entre linguagem e subjetividade

    ora reproduz, ora inventa os dois termos do par!

     " compreensão do primeiro movimento de produção, produção de produtos nos

    conduz Cs teses foucaultianas sobre a g*nese hist:rico&política da realidade! Bsta

    g*nese, resultado de formações políticas, atravessa toda o plano das empiricidades

    são as pr'ticas de discursivas e não&discursivas! . olhar e o dizer a realidade são

    pr'ticas ao mesmo tempo produzidas e produtoras da#uilo #ue tomamos como

    realidade! 1oucault, 2345/ =eleuze,2344/ =eleuze L Muattari, 234N7!

    9o caso da linguagem, % da pot*ncia dos ditos apontarem numa direção

    comum, a do objeto a ser produzido! +erta converg*ncia entre os discursos %

    observada mas nada #ue se aproxime da identidade! 9ão % exatamente o mesmo

    objeto descrito em cada um dos discursos! 9ão h' homogeneidade na maneira de

    descrev*&lo! " realidade do objeto abriga a dispersão entre as falas, compõe

    tamb%m com suas diverg*ncias! Oonge de se organizarem numa categoria clara,

    num conceito com contornos precisos, tal como o pensamento da representação

    cl'ssica2 almejava, os conjuntos de falas estabelecem entre si jogos, jogos de poder 

    cuja resultante faz emergir o objeto produzido! Bnfim, o encadeamento de discursos

    produz as condições discursivas, ou seja, impõe o en#uadre da conversação,

    determinando o #ue pode ser dito! " linguagem institui novas realidades a serem

    tratadas, novos objetos empíricos!

    Tamb%m no plano das visibilidades, a resson

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    #uando, onde constroem os objetos do plano das visibilidades 1oucault, 23457!

    Bstas formações hist:ricas são formas de luminosidade, tal como descritas pelos

    impressionistas, -para #uem a luz era uma forma, criava suas pr:prias formas e seu

    pr:prio movimento0 1=eleuze, 2344, p!JN7!

    Bmbora autHnomos, os dois planos apenas existem na reciprocidade de

    relações! +ada um ostenta sua forma pr:pria, com um modo particular de produção

    de realidade! Por%m, atravessam&se mutuamente! (' sempre algo visto compondo

    os pressupostos implícitos do dito, assim como os ditos tamb%m incluem&se #uase

    silenciosamente na produção do ver! .u seja, nos interstícios do visível inserem&se

    palavras, ao mesmo tempo em #ue as condições do ver interferem na produção dos

    ditos, infiltram&se nas pr'ticas lingGísticas! "s diverg*ncias entre as produções dos

    dois planos não comprometem o entrecruzamento entre eles, ao contr'rio servem C

    montagem conjunta! =e modo #ue o valor pragm'tico dos signos % decidido no jogo

    realizado entre os dois funtivos do empírico!

    Se os objetos visíveis e enunci'veis são gerados no entrecruzamento dos

    discursos e dos dispositivos de visibilidade, disponíveis numa dada %poca &,

    devemos entender forma a partir de seu processo de produção hist:rica, ou seja

    processo! " forma %, portanto, nesta abordagem, entendida como uma formação,

    como construção empírica! B % exatamente neste sentido #ue fal'vamos antes de

    sujeito ou forma sujeito! Sem preexist*ncia, ela %, ao mesmo tempo, produzida e

    tempor'ria!

    Bntre as realidades produzidas no plano de produção registramos a forma

    subjetiva, a subjetividade&produto! 8m fato subjetivo % um efeito do encadeamento

    de pr'ticas diversas, um entrecruzamento de determinações enunciativas e não

    enunciativas! " produção de realidades processa&se na pluralidade de discursos,

    advindos dos diversos saberes e pr'ticas! 9o conjunto de falas a forma&sujeitoconstitui&se como objeto discursivo! " força de intervenção sobre o mundo adere&se

    C palavra e, uma vez pronunciada, não h' como desfaz*&lo! Bla deixa sua marca, o

    selo indiscutível e irredimível de um comando! " linguagem, na sua atividade de

    descrição, engendra, ela mesma, o pr:prio objeto descrito! Bla atua destacando,

    constantemente, temas subjetivos #ue, tomados nas cadeias de discursos, ganham

    peso de realidade atemporal!

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    8m conjunto de discursos fazem os corpos comportarem&se como se eles se

    acreditassem, se vissem como sujeito, dotado de uma natureza geral regida por 

    princípios constantes! " forma&sujeito surge então em sua homogeneidade forjada,

    decidida nos pressupostos implícitos do dito! . processo em seu todo tem seu início

    num conjunto de dizeres heterog*neos por%m alinhados e redundando no

    isolamento do enunciado e na produção de um si mesmo como pretenso agente da

    enunciação! Por exemplo, num determinado momento passou&se a falar nos

    @meninos de rua@, en#uanto anteriormente dominava a denominação -menor 

    abandonado0! .s meios de comunicação, aliados aos discursos da polícia, dos

    centros de tratamento do menor e da população em geral, estão constantemente

    produzindo enunciados sobre o tema! .s diferentes discursos nem sempre

    concordam sobre o modo como tratar essas crianças, o modo como resolver o

    problema e mesmo sobre algumas das características atribuídas a elas, mas não

    deixam d$vida, sobre o aparecimento de um novo modo de delin#G*ncia não

    existente h' algum tempo antes! .u seja, no encadeamento de discursos produziu&

    se um novo tipo de criminalidade #ue provavelmente justificar' mudanças no

    discurso da psicologia, do direito civil e penal, da sociologia e da pedagogia! Por 

    exemplo, participantes deste movimento, a psicologia, a psi#uiatria e a psican'lise

    são autorizadas a discorrer sobre estruturas subjetivas, mais afeitas C criminalidade

    precoce! Para isto criam&se categorias conceituais novas #ue imperiosamente

    naturalizam as relações entre juventude e criminalidade!

    )as, como afirmamos antes, existe no elo com a linguagem uma segunda

    modalidade de produção! " produção de si mesmo, produção do pr:prio processo!

    São momentos em #ue a produção bifurca, seus efeitos desviam&se da rota

    esperada e, na estranheza desta ruptura, geram realidades ainda desconhecidas!

    Bste movimento alimenta&se da experi*ncia #ue em 23JJ oucault escolheunomear como experiência do fora, -experi*ncia flutuante, estrangeira, como exterior 

    a nossa interioridade0 1oucault, 233A, p!6;;7! Bsta dimensão, ao mesmo tempo

    distante da formalização da linguagem e do sujeito, liga&se C ruptura dos estados,

    responde pela variação do ser #ue o libera da identidade! Pensemos no fora como

    poros da realidade pretensamente contínua e efeito do plano de produção, poros,

    com alto grau de indeterminação, sempre prestes a romper a ordenação dos

    sistemas sem, no entanto, abandonar a superfície a #ue pertencem! 8ma vez

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    afetado pelo fora, o processo de produção da subjetividade escapa C serialização

    para gerar, como vimos, novas normas de funcionamento ma#uínico e, com ele,

    produtos existenciais at% então, desconhecidos!

    9o domínio da linguagem & na arte liter'ria ou em modalidades linguajeiras do

    cotidiano #ue escapam a regularidade do idioma padrão & vemos certas construções

    lingGísticas definirem&se por sua condição paradoxal;! ?evelam&se como fenHmenos

    mistos de linguagem, carregados de variação irredutível C #ual#uer forma unificada!

    São construções marcadas por diversidade interna, onde componentes lingGísticos

    se agridem, construindo sentidos sempre divergentes, resistentes a unificação!

    9o contato com a heterogeneidade da linguagem a unidade fictícia do eu

    fragmenta&se, abandona as modalidades subjetivas repetidoras, serializantes, para

    ativar seu car'ter de deriva, engajada na criação de novos sentidos, na construção

    de novos modos de dizer e tamb%m de experimentar a vida! .u seja, como efeito do

    conjunto paradoxal de dizeres % dado C subjetividade viver variadas modalidades de

    pensar, de sentir, de viver no mundo! . sentido bifurcante dos signos faz proliferar 

    modos de subjetivação singularizantes 1 ?olniQ, 233J7

    > tamb%m na relação com a linguagem #ue a subjetividade ganha

    velocidade de variação, #ue os contornos da figura sujeito são desfeitos e geram&se

    focos mutantes de subjetivação! .s dois processos, signific

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    pr:prios, regidos por princípios sempre inventados e transit:rios!

    Surgidas dos limites da forma&sujeito, da sua sensibilidade ao diverso, o

    processo de subjetivação bifurcante distancia&se das determinações subjetivas

    estabilizadas para criar novas experi*ncias de mundo, dispositivos heterog*neos,

    fugidios, atitudes não repertori'veis e sempre desconcertantes para a figura

    subjetiva! Demos claramente #ue a#ui a subjetivação tem pouco a ver com sujeito,

    produto dos jogos de poder emergentes na rede formada pelo discursivo e pelo não

    discursivo! Trata&se da invenção de novas possibilidades de vida, da produção do si

    autHnomo! . sujeito, figura definível por coordenadas pessoais, % levado a

    abandonar os complexos intrapsí#uicos, as tentativas de unificação, em nome da

    invenção de outras normas de regulação do si! Bnfim, a subjetividade % pensada

    como ma#uínica de subjetivação híbrida, funcionando no entrelaçamento das duas

    faces distintas do movimento! =e um lado, o sujeito, individuação pessoal e regular,

    de outro o a&subjetivo, plural e impessoal! 9o limite entre as duas tend*ncias

    definimos a subjetividade como processo incans'vel de produção, cuja resultante

    principal % a forma sujeito com seus contornos facultativos e tempor'rios!

     " tarefa clínica, neste contexto, se cumpriria no zelo pelo duplo movimento,

    pelo #ual reconhecemos o car'ter cambiante da subjetividade! Iuando determinada

    configuração da rede discursivaEnão discursiva, no seu movimento convergente de

    produção de realidade, obstaculiza o nomadismo da subjetividade, caberia a

    intervenção clínica reenviar o sujeito ao seu plano de produção e deste modo incitar 

    a ma#uínica a retomar seu movimento!

    Se -a escolha %tico&política #ue temos #ue fazer a cada dia % determinar 

    #ual % o perigo principal0 1oucault, 234A, p!AA7, e se, neste caso, a naturalização da

    realidade psí#uica, cHmodo referencial homogeneizante para as iniciativas de

    normalização, % dita ocupar este lugar, a clínica comparece na interrogação daparalisia do processo, na descrença nos referenciais absolutos de julgamento da

    subjetividade para recoloc'&la a caminho de outras formas ainda impens'veis, para

    faz*&la afirmar&se como real inventora de si!

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