título: modernismo: a arte como ferramenta social …
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Título: MODERNISMO: A ARTE COMO FERRAMENTA SOCIAL –
QUESTOES SOCIAIS POLITICAS E CULTURAL DO BRASIL
Karla Cristina Gomes Carvalho
Alyne Fernanda Cardoso Reis
Resumo: O presente trabalho aborda sobre as transformações políticas, artísticas e
culturais após as grandes Revoluções: Francesa e Industrial, na passagem do século XIX
para o XX até o período do surgimento das vanguardas modernistas na Europa e no Brasil.
A importância da Semana de 22, com o foco no trabalho dos artistas Lasar Segall,
naturalizado brasileiro, e Candido Portinari relacionados a questão social do período.
Ambos utilizam a arte como ferramenta de denuncia a favor das classes menos
favorecidas e marginalizadas, expondo assim as questões sociais, política e cultural do
Brasil. Desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio, Cultura
e Sociedade - PPGPACS/IM/UFRRJ. Tem como objetivo analisar as influências culturais
sofridas e sua contribuição para o processo formador de consciência social até os dias
atuais. Identificando os aspectos no processo de construção e representações artística na
sua difusão pelo mundo. Fatos importantes de registros histórico e cultural, de modo a
identificar o registro e a documentação da sociedade do século XIX e XX. A metodologia
utilizadas são ações de pesquisas documental e bibliográfica.
Palavras chave: Politica, Arte Social, Lasar Segall, Candido Portinari.
Desde a Idade Média, os movimentos artísticos surgiram como uma proposta de
contraposição aos movimentos anteriores, seja no âmbito das artes ou da filosofia. Dessa
forma, o Românico, tendo considerado sua arquitetura fortaleza de Deus, foi superado
pelo Gótico – quanto mais alto mais próximo do criador. Entretanto a arte era em função
de propagar a fé cristã. Com a legitimação do Renascimento – o homem ideal de beleza
e centro do universo, as grandes descobertas na área cientifica e artística, oposta as ideias
medievais, revolucionaram alguns dogmas. Enquanto o Barroco – o sublime e a
dramaticidade será sobreposto pelo Rococó – o frívolo. Não menos diferente ocorre com
o Classicismo. No entanto, o Classicismo apresenta peculiaridades; não só nega o
movimento anterior como resgata o movimento renascentista com influencias clássicas
greco-romanas.
O século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais, políticas e culturais
causadas por acontecimentos do final do século anterior, onde podemos destacar as
grandes Revoluções: a Francesa e a Industrial. Essas mudança repercutiram em grande
parte do mundo. O Romantismo, movimento que vem junto com a Revolução Francesa,
traz o nacionalismo; a valorização dos sentimentos e da imaginação. Obra como “A
liberdade guiando o povo” - 1830, do artista Eugène Delacroix, que se encontra no Museu
do Louvre, expressa o sentimento desse momento. Surge em uma época marcada pela
artificialidade e exageros, em uma sociedade construída pela sentimentalidade mórbida,
religiosidade e a busca um herói.
Entre 1850 e 1900 surge nas artes europeias uma nova tendência estética chamada
Realismo. Seu desenvolvimento aconteceu paralelo a industrialização das sociedades. As
novas tecnologias favoreceram ao homem a utilização do conhecimento científico e a
técnica para interpretar e dominar a natureza. Esse novo homem construído dentro dessas
peculiaridades se convence que precisava ser realista, inclusive em suas criações
artísticas, deixando de lado as visões subjetivas e emotivas. A arte passou a ser um meio
para denúncias de ordem social nas quais os artistas consideravam injustas; protestos em
favor dos oprimidos, desigualdades entre as classes, a misérias dos trabalhadores,
elevando-os heróis que não dialogavam com os personagens idealizados nas pinturas
românticas e na opulência da burguesia. A politização da arte passa a ser um meio de
expressar um protesto em favor dos oprimidos.
Contudo, os artistas ainda seguiam os cânones das academias; as pinturas eram
em atelier, utilizavam modelos vivos, objetivavam a linearidade, sustentavam as poses
escultóricas e buscavam o equilíbrio entre cores e verniz. O modernismo teve início
aproximadamente no começo do século XX quando a transformação da sociedade dentro
de questões políticas, sociais e econômicas começam a ser direcionada a outros
pensamentos. O movimento modernismo proporcional a liberdade criadora dos artistas e
o rompimento com o passado, tanto no Brasil quanto na Europa. Várias tendências
artísticas surgiram. O Modernismo transitou por várias linguagem, na literatura suas
características são: busca pela linguagem brasileira, nacionalismo, ironia, humor,
parodia, relato do cotidiano, crítica ao passado histórico e cultural, subjetivismo e versos
livres.
Édouard Manet (1832 -1883), foi um pintor e artista gráfico francês considerado
o primeiro artista moderno, inspirando fortemente alguns artistas no final do século XIX.
Ele observou que a pintura não tinha a obrigatoriedade de transmitir uma perspectiva
perfeita, nem uma volumetria bem-acabada como ensinado na academia. Quebrando
assim as regras estabelecidas, ele desafia o observador, fazendo-o refletir sobre a obra.
Os temas modernos passaram a ser os que chocassem a moral social. A arte é usada como
um objeto de transmissão de ideias e não somente de observação. Junto com os
pensamentos de Manet temos Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867), o poeta.
Sob o termo genérico Modernismo resume-se as correntes que, na última
década do século XIX e na primeira do século XX, propõem-se a interpretar,
apoiar e acompanhar o esforço progressista, econômico-tecnológico, da
civilização industrial. São comuns às tendências modernistas:1) a
deliberação de fazer uma arte em conformidade com sua época e a renuncia
à invocação de modelos clássicos, tanto na temática como no estilo; 2) o
desejo de diminuir a distância entre as arte “maiores” (arquitetura e escultura)
e as “aplicações” aos diversos campos da produção econômica (construção
civil corrente, decoração, vestuário, etc.); 3) a busca de uma funcionalidade
decorativa; 4) a aspiração a um estilo ou linguagem internacional ou
europeia; 5) o esforço em interpretar a espiritualidade que se dizia (com um
pouco de ingenuidade e um pouco de hipocrisia) inspirar ou redimir o
industrialismo. (Argan, Giulio Carlo, 1909-199 p.185)
Surge então a fotografia, que tem como marco uma imagem produzida em 1826
pelo francês Joseph Nicéphore Niépce. Numa placa de estanho coberta com um derivado
de petróleo fotossensível chamado Betume da Judeia.1 Esse acontecimento mudará,
significativamente, o pensamento de alguns artistas, principalmente na relação da
máquina fotográfica com a luz artificial, a luz solar e a perspectiva.
Claude Monet (1840-1926), um pintor francês, fez experiências de captar a luz em
seus quadros. Surgindo assim, o Impressionismo, a luz e o movimento, utilizando
pinceladas soltas tornaram-se o principal elemento de suas pinturas. As telas geralmente
eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as variações das cores
da natureza. O Impressionismo foi um movimento artístico que revolucionou
profundamente a pintura e deu início às grandes tendências da arte do século XX. A
efervescência da arte era Paris que se tornava símbolo da vida moderna (Belle Époque),
a iluminação à noite, o capitalismo e a industrialização em ascensão e avanço das ciências.
Os artistas começam a experimentar novas técnicas surgindo assim novas
tendências apelidadas de “Ismos”, expressionismo, cubismo, futurismo, surrealismo,
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1 A imagem foi produzida com uma câmera, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar https://fotografiamais.com.br/historia-completa-da-fotografia/
abstracionismo, dadaísmo entre outros, não eram necessariamente para contrapor o
movimento anterior como no período da idade Media ou Moderna, eles conviveram
paralelamente, influenciando uns aos outros, muitas vezes os artistas transitavam entre
alguns estilos e algumas vezes os misturavam. Todos esses acontecimentos históricos,
políticos e sociais contribuíram para o desenvolvimento do Modernismo, inclusive no
campo cultural, a literatura, a pintura, a arquitetura, design, pintura, escultura, teatro e
a música.
A vanguarda europeia vai representar o apogeu do conceito do que é moderno e
os artistas vão beber da fonte de: Manet, Monet, Van Gogh, Cezanne e Gauguin, artistas
que contribuíram para essas mudanças. O mundo começou a ter uma série de avanços
científicos com Albert Einstein e psicológicos com Sigmund Freud. Inovações
tecnológicos como avião, automóveis, a invenção do cinema e a consolidação da
fotografia como obra de arte, o rádio e o telefone, como transmissão de informação mais
rápida, favoreceram a propagação das manifestações culturais pelo mundo, bem como
estimulou os questionamentos com relação a arte.
Os grupos de Vanguardas que surgiram dentro do movimento Modernista, como:
o expressionismo, consolidado na perspectiva de expressar o que o artista estava sentindo.
O artista expressionista não se preocupava com as formas e sim com a expressão dos
sentimentos e emoções, diferente do Impressionismo que o artista captava do mundo
exterior e sua luminosidade. O olhar do artista Expressionista vai além da preocupação
com as formas, seu objetivo maior era expressar seus sentimentos e estado de espirito.
Outra vanguarda é Cubista, que teve em Pablo Picasso(1881-1973), Georges Braque
(1882-1963) entre outros contemporâneos, o intuito de visualizar a realidade
fragmentada, montada de forma geometrizada, assim como as formas da natureza, com o
objetivo de mostrar o mundo a partir de múltiplos pontos de vistas, como é o exemplo da
obra: Les demoiselles de Avignon- 1907.
A vanguarda futurista, movimento artístico e literário, possivelmente a mais
audaciosa, surgiu no início do século XX com o Manifesto do Italiano Filippo Marinetti,
no jornal Le Fígaro, rejeitam tudo o que é passado, com o finalidade de destruir o físico,
o psicológico e o que é clássico e construir algo novo. Sua preocupação não está na
memória ou a preservação de algo importante para a história de um povo ou uma
identidade, gerando assim muitas polêmicas e conflitos. Os futuristas declaravam uma
aceitação pela guerra, que destrói para “reconstruir”. Na pintura trabalham como o
movimento e o dinamismo.
Logo depois da Primeira Guerra Mundial, surge a vanguarda dadaísta, um
manifestação de critica a esse momento. Provocativo e com o objetivo máximo de fazer
o espectador refletir sobre a obra e o porquê de sua existência, traz a reflexão sobre: causas
da guerra, racionalidade, sua evolução e existência. O que importa é o questionamento e
não a estética. Outras vanguardas não menos importantes surgiram, como o Surrealismo
que trabalhava com o inconsciente. No surrealismo, alguns artistas se destacaram: André
Breton na Literatura e Salvador Dalí na pintura. O Abstracionismo teve dois momentos;
um deles representado por Wassily Kandinsky, que insere o espiritual na arte.
Surgiram vários movimentos, a grande maioria ligados a questões reflexivas e
políticas, entretanto a partir das vanguardas, o espectador passou a fazer parte da obra.
Diante do quadro artístico no mundo europeu, no Brasil estávamos caminhando para
modernismo com passos lentos e resistência, de modo que os cânones da Academia era
seguidos ate então a chegada desse movimento que rompeu com determinadas barreiras.
No Brasil
Todos esses movimentos ocorridos na Europa eram notórios no Brasil, que tinha
como base o ensino dos artistas Franceses que chegaram no Brasil em 1816, os alunos da
academia ganhavam prêmios de viagens na Escola Nacional de Belas Artes. Os artistas
que foram estudar na Europa, mesmo com os recursos das oligarquias cafeeiras ou de
alguma forma beneficiados com o sistema agrícola da época, fonte da economia do Brasil,
observaram que as academias eram excludentes e exclusivas para formas de pensamento
burguês. E mesmo tendo dentro da academia alguns artistas como Pedro Américo que
eram patrocinados pelo Império2, ainda assim prevalecia o modelo que ditava as normas
do que era Arte, modelo esse construído pelas conquistas burguesas posteriores à
Revolução Industrial e Revolução Francesa.
O artista lituano Lasar Segall, após iniciar seus estudos de arte em sua cidade natal
Vilna, transfere-se para Berlin onde frequenta a escola Imperial de Belas Artes. Ao
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2. D. Pedro II governou de 1840 à 1889. Oferecia bolsa de estudo para brasileiros estudarem em Universidades e escolas de Arte e
conservatório de Música na Europa.
discordar de seus mestres Max Liebermann e Lovis Corinth, uniu-se ao movimento Freie
Sezession, no qual recebeu prêmios. Entrou em contato com expressionistas, do
movimento “Die Brucke”. Chegou ao Brasil em 1913 e fez duas exposições com
tendências expressionistas, uma em São Paulo e outra em Campinas, retorna para
Alemanha e definitivamente para o Brasil em 1923. A exposição de um artistas
estrangeiro, com pinturas de vanguardas abriu novas possibilidades de um olhar não
acadêmico para arte brasileira.
A pintora Anita Malfatti voltou da Alemanha com sua bagagem cheia criatividade
e novas ideias para compartilhar em seu país. Em sua exposição em 1917, uma mostra
com 53 dos seus mais ousados trabalhos, chocaram os visitantes de São Paulo. Monteiro
Lobato crítico de arte escreve um artigo: “Paranoia ou mistificação?”, comparava o
trabalho da artista Anita Malfatti aos desenhos dos internos dos manicômios. Um
movimento começa a se organizar e cinco anos depois é realizado no Teatro Municipal
da cidade de São Paulo a Semana de Arte Moderna ou Semana de 22, entre os dias 11 e
18 de fevereiro de 1922.
Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro,
Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Víctor
Brecheret. Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novais. Desenhistas, Ribeiro
Couto, Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Oswaldo de Andrade, Mário de
Andrade, Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida,
Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, (Explicando a Arte Brasileira p.107).
Os artistas modernistas dissolvem com os paradigmas estabelecidos desde a
Missão Artísticas Francesa e legitimada pela Imperial Academia de Belas Artes, que
depois passou a ser conhecida como Escola Nacional de Belas Artes. Para o método
exclusivista da academia, que predominava na formação artística no Brasil, esse
rompimento foi um ato revolucionário por excelência, uma abertura nunca antes
idealizada dentro do metier artístico, que considerava até então que o que não era
acadêmico não era considerado arte.
Os artistas tinham como principal objetivo produzir a arte genuinamente
brasileira. Embora influenciados pelas vanguardas europeias, buscavam a libertação das
amarras da academia. Queriam expressar suas ideias artísticas sem rótulos, apenas uma
arte nacional. A política estava no auge de sua efervescência. A Revolução
Constitucionalista de 1932 com o objetivo de derrubar o governo provisório de Getúlio
Vargas, e a convocação de uma Assembleia constituinte contra a revolução de 30, que
destitui o Presidente Washington Luís e impediu a posse do sucessor Júlio Prestes, é
reprimido pelas forças governistas e os rebeldes são enviados para o exilio em Portugal.
Anos depois arriscam uma intentona Comunista, ocorrida em 1935, e entre os
integrantes estava Luís Carlos Prestes. Surge o levante antifascista contra o governo de
Getúlio Vargas, organizado pela Aliança Nacional Libertadora, contando com a
participação de comunistas e liberais. Artistas e intelectuais lança luz a situação precário
do povo. Entretanto, somente após os anos 1930 que as transformações políticas,
econômicas, culturais e sociais ganham maior força. E esse grupo de intelectuais com
maior visibilidade e afinidades no atual governo do Estado Novo do Presidente Getúlio
Vargas, com o ideal de pátria em um Brasil Moderno, sem deixar as tradições de lado,
constrói a imagem do brasileiro.
Enquanto o mundo está vivendo o momento pós Primeira Guerra mundial, o
Brasil decreta o Golpe do Estado Novo em 1937, pelo atual presidente, sob o pretexto de
proteger a nação contra a guerra civil. O governo foi marcado pela exaltação ao
nacionalismo e mudanças radicais, partidos políticos extintos e o Congresso Nacional é
fechado. Compreendemos que o movimento modernista no Brasil, foi além dessa
“Semana”, com relação as questões sociais, artísticas e literárias. O Brasil começava a
olhar para novos horizontes, um futuro considerado promissor. As ações implementadas
pelos modernistas teve grande repercussão até o presente, como o caso do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
A arte como meio ferramenta social
No período entre a Era Vargas e o Regime Militar, mudanças importantes
surgiram no Brasil. Alguns intelectuais brasileiros defendiam ideias parecidas
relacionado com o fascismo como o movimento Verde-amarelismo e a movimento escola
Anta3, onde os artistas exaltavam os ideais dos partidos políticos de direta com um
vertente ideológica nazifascista, enquanto outros eram influenciados por ideologias
socialistas. O Modernismo corroborou para novas tendências nas questões artística e
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3. O movimento Verde-Amarelo e a Escola da Anta. Constituído pelos artistas Menotti del Picchia (1892-1988, Plínio Salgado (1895-
1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974). Optava por um nacionalismo puro, sem interferência
das características europeia
Sociais . Em um artigo publicado no Diário Carioca em 1933 sobre a exposição de Tarsila
do Amaral: “A nova época e Arte”, com quadros como Operários e 2ª Classe, ambos de
1933, Di Cavalcanti defende o fim da separação entre arte e público.
A pintora, Tarsila do Amaral (1886-1973), não estava no Brasil no período da
Semana de 22 contudo, expandiu as propostas das vanguardas europeia a partir das suas
obras com temas nas tradições e cores da sua terra e problemas sociais eram motivos das
suas preocupações. Em sua obra “Abapuru” - 1928, motivou o manifesto Antropofágico
que tinha como base assimilar a cultura estrangeira de modo a torna-la uma forma de arte
tipicamente brasileira. Di Cavalcante (1897-1976), retratava pescadores, sambistas,
trabalhadores e sobretudo mulatas, fez da reflexão da cultura brasileira o tema principal
de suas obras dentro de um universo colorido e poético, com sensualidade e elegância.
Por suas temáticas nacionalistas tornou-se um dos expoentes do modernismo brasileiro.
Contribuiu para os debates nos jornais com suas prosas e versos.
Em 1935 a Revista Commune, faz uma enquete no qual questiona: “Para onde vai
a pintura?”. Embora não houvera participação de brasileiros, chegou ao conhecimento
deles, sendo usada como tema para a Conferencia organizada por Aníbal Machado.
Realizada no Centro de Artes Moderna do Rio de Janeiro, em outubro de 1935, no
encerramento da Coletiva de Artistas Social, mudando a perspectiva da arte no Brasil.
Participam da exposição: Portinari, Di Cavalcanti, Hugo Adami, Waldemar da Costa,
Ismael Nery, Oswaldo Goeldi, Tomás Santa Rosa, Paulo Werneck, Noêmia Mourão,
Alberto Guignard, Carlos Leão.
Aníbal Machado (1894-1964), escritor, professor e futebolista, acreditava que não
existia mais a distância entre o povo e o artista, trazendo assim a reflexão sobre a
consciência política das bases popular. Vários artistas trabalharam questões sociais neste
período, em seus quadros, textos entre outros veículos, de forma que pudessem manifestar
sua expressão artística e o protesto quanto a situação do Brasil. Os mais expressivos foram
o naturalizado brasileiro Lasar Segall e Candido Portinari.
Lasar Segall
Com a crise econômica e política pós Primeira Guerra Mundial, o artista Lasar
Segall após seu retorno definitivo ao Brasil com um novo olhar. Seus quadros tornam-se
mais coloridos, se distancia das dramaticidades inseridas no expressionismo e trazia
motivos brasileiras para suas obras. São temáticas urbanas nacionais; Segall pinta as
populações carentes, os negros, prostitutas entre outros marginalizados, que permearam
em seus trabalhos como influência do que ele havia vivido nesse momento crítico pós-
guerra em seu país de origem, relacionados aos imigrantes e as condições de viagens, os
trabalhos com condições precários e sacrificantes sem nenhum respeito ao ser humano, o
artista com o objetivo de retratar essa realidade, uma categoria que a Elite não conhecida
que o artista trouxe à tona numa perspectiva brasileira.
Em 19 de julho de 1937, foi inaugurada a exposição “Arte Degenerada” (Entartet),
na cidade de Munique, na Alemanha, criada para desmoralizar os artistas modernistas,
reuniu aproximadamente 650 obras entre pinturas, desenhos, gravuras e livros, oriundos
dos acervos de 32 museus da Alemanha, no governo do então ditador Adolpho Hitler, a
obra do artista Lasar Segall, Eternos Caminhantes - 1919, foi confiscado, sendo
encontrada muitos anos depois. Outra obra de importância significativa, com sua esposa,
O encontro - 1924, o artista se autorretrata como um mulato, com traços negros e roupas
europeias, fazendo uma crítica a afirmação de sua identidade agora brasileira.
Candido Portinari
Portinari nasceu em 1903, no interior de São Paulo, em uma cidade chamada
Brodowski, começou a pintar desde criança, era autodidata, seu primeiro trabalho foi o
retrato de Carlos Gomes, em uma carteira de cigarros em 1914. Em 1918 um grupo de
pintores e escultores italianos decoradores de igreja passaram pela cidade de Brodowski
e Portinari foi chamado para trabalhar como ajudante, pintando o teto das igrejas, dois
anos depois decide ir para o Rio de Janeiro, matriculou-se como aluno livre, na Escola
Nacional de Belas Artes, o único centro brasileiro que ministrava o ensino formal de Artes
Plástica e de Arquitetura. Nas artes plásticas, Candido Portinari alcança destaque por suas
obras que relatam os problemas sociais do país.
Sua carreira começa se destacar ganhando prêmios e artigos em jornais. Portinari
então ganha uma medalha de ouro e o prêmio de viagem à Europa, mas não com uma
obra modernista, e sim seguindo as regras do Academismo, com o quadro de Olegário
Mariano, de 1928. Ao retornar ao Brasil Portinari inaugura uma exposição individual com
cerca de 50 obras com temas brasileiros tão valorizados por Mario de Andrade. Na obra
Morro, de 1930; o quadro mostra ao fundo a divisão de classes sociais, as novas
tecnologias - aviões, os grandes arranha-céus e a urbanização sem o saneamento básico,
o povo carrega a lata d’agua na cabeça, retratando as necessidades e a situação do povo
brasileiro. O quadro foi comprado pelo MOMA em 1939.
O quadro Os Despejados, em 1934, foi sua primeira obra com temática social mais
acentuada. Anos depois Portinari pinta o quadro, A Favela, 1957, mesma composição do
quadro “Morro”, entretanto, a cena é a noite com a representação da luz elétrica e o
malandro, a mulher ainda com a lata d’agua na cabeça. A representação do povo
brasileiro das favelas cujo a origem do nome se dá pelo fato histórico da Guerra dos
Canudos onde na cidadela havia morros com a planta de nome favela, os soldados que
foram para essa guerra ficaram sem receber o soldo, tendo que então morar nas
construções provisórias instaladas em alguns morros da cidade.
Em 1934 e 1938, Portinari pinta os tipos étnicos, representação de índios e negros,
heranças de ancestrais de nossa terra, com o objetivo de resgatar e conscientizar os povos
brasileiros. Um artista que não gostava de rótulos, como a grande maioria desse período,
bebia em várias fontes da arte das vanguardas. Na obra O Espantalho, 1940, com
influencias surrealistas, representou três cruzes vazias, uma cena bíblica de Cristo na Cruz
ao lado dos ladrões, aqui como espantalhos de uma lavoura castigada pela seca, do povo
nordestino.
Quando Portinari pinta O último Baluarte, 1942, com influência Cubista, após
conhecer a obra que o fulminou – Guernica, do Artista Pablo Picasso. Portinari diz: “O
Último Baluarte. Era preciso faze-lo e esperar o que acontecesse. Ou me afundaria ou
conseguiria dar o salto”. E o salto foi dado. A obra também uma representação bíblica
das mães protegendo seus filhos, um lugar seguro. Por encomenda do prefeito Juscelino
Kubitschek, Oscar Niemeyer projeta a primeira igreja brasileira no estilo moderno em
1943, São Francisco de Assis, com os azulejos na parte externa e pintura mural no interior
com autoria de Portinari.
Na obra Café, de 1943, Portinari demonstra suas inquietações e o que via desde
criança nas fazendas de café, como descreve no livro O menino de Brodowski: “Pés
desforme, pés que podem contar história”. Com forte influência expressionista, o artista
expressa a labuta do trabalhador. Segue lutando por sua causa, o povo, e em 1944 pinta o
quadro “Os Retirantes”. Quando criança Portinari via os retirantes chegando com as
expressões cansadas, caminhando com tudo o que restava de bens. Na obra Portinari
representa a família de oito pessoas com seus bens em uma trouxa na cabeça da matriarca,
no fundo a seca do lugar. O objetivo da obra de Portinari passa então a mostrar a arte
brasileira, não mais indígena como no início do modernismo e sim a social. Como quando
denuncia na série do mesmo nome, onde representa a forme, miséria e morte do povo
nordestino.
Após a constituição de 1946, os problemas do país começaram a ser discutidos
com maior liberdade, e Portinari filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Com isso, o
artista candidata-se a deputado federal com o slogan: “Candido Portinari, um artista do
povo”, em 1947. Sua preocupação política e social tem em sua plataforma como base no
apoio popular à cultura, à sindicalização dos camponeses, manifestando-se também
contra a inflação, o integralismo, entre outros. Portinari começou a representar a situação
do povo brasileiro e expor para o exterior. O artista traz para dentro dos museus, salões e
a casa da elite brasileira, a realidade de um povo que migrava na esperança de uma vida
melhor. Entre os anos de 1947 e 1948, o partido é perseguido pelo governo Eurico Gaspar
Dutra, levando Portinari a se auto exila no Uruguai. As artes plásticas ganharam novos
incentivos; Em 1948 funda-se o Museu de Arte de São Paulo - MASP com o apoio da
elite paulista.
A Organização das Nações Unidas (ONU) é inaugurada em 1945 e cada país doou
uma obra de arte, o governo brasileiro convidou Portinari para pintar os painéis “Guerra
e Paz, 1952-1956”. Ao projetar os painéis de 14m de altura com 10m de largura cada, o
suporte era madeira naval, o artista expressa os sentimentos de cada tema. No painel
Guerra Portinari não queria armas nem tanques e sim os sentimentos, a dor e sofrimento
causados pelas guerras. No painel, Sete mães com seus filhos mortos (Pietá) fazem parte
da composição, animais ferozes, e como a representação do Apocalipse, pinta os
cavaleiros, a cores predominantes são as frias, em diversos tons de azuis.
No painel Paz, o objetivo é alegria, amor, crianças brincando e sentimentos
latentes de um povo feliz. Os painéis foram pintados depois das duas grandes Guerras
Mundiais. Ambas mudaram a perspectiva e visão do mundo, a forma do ser humano ver
o outro. O artista não teve autorização para ir a inauguração dos paineis, por ser filiado
ao partido Comunista.
“O pintor social crê ser o intérprete do povo, mensageiro de seus sentimentos.
É aquele que deseja a paz, a justiça, a liberdade.
É aquele que crê que os homens possam participar dos prazeres do universo.
Ouvir o canto dos pássaros.
Ver as águas dos rios que correm fecundando a terra.
Ver o céu estrelado e respirar o ar das manhãs sem nuvens.
Sem nenhum outro pensamento senão o de fraternidade e paz.
Homens vivendo em clima de justiça.
Onde não haja meninos famintos.
Onde não haja homens sem direitos.
Onde não haja mães chorando e velhos morrendo ao desabrigo.(Candido Portinari)
Considerações Finais
Na trajetória do contexto histórico, social e artístico podemos analisar as
mudanças de cada período sobretudo do século XIX para o XX, com foco no período
modernista na Europa e no Brasil. Vários artistas trabalharam com a temática social, no
entanto o presente artigo abordou as questões sociais nas pinturas dos artistas Lasar Segall
e Candido Portinari, pertencente ao final do século XX, contudo, temas tão presentes ao
qual estamos vivendo. Momentos de individualidades, preconceitos e racismo de um
grupo considerado classe social superior ou Elite. Podemos questionar, se um dia teremos
a igualdade social, tão sonhada pelos artistas? Artistas que perpetuaram sua obra em
favor da humanidade e das minorias, dedicaram sua vida em prol da arte.
Bibliografia
Garcez, Lucília e Jô Oliveira - Explicando a arte Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004.
Candido, Portinari – Portinari o Menino de Brodósqui, 2001, Editora: Projeto
Portinari
Versiani, Maria Helena, Cronologia da Republica: 1889-2000. Rio de Janeiro: Museu
da República, 2002
Exposição de Arte Social (1935: Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural
de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento226453/exposicao-de-arte-social-1935-
rio-de-janeiro-rj>. Acesso em: 29 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7