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MARCIO BOTTER
TRATAMENTO OPERATÓRIO DAS BOLHAS ENFISEMATOSAS GIGANTES NA SANTA CASA DE SÃO PAULO
Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo para obtenção do título de
Doutor em Medicina.
São Paulo
2006
MARCIO BOTTER
TRATAMENTO OPERATÓRIO DAS BOLHAS ENFISEMATOSAS GIGANTES NA SANTA CASA DE SÃO PAULO
Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo para obtenção do título de
Doutor em Medicina.
Área de Concentração: Cirurgia Geral
Orientador: Prof. Dr. Roberto Saad Júnior
São Paulo
2006
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca Central da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Botter, Marcio
Tratamento operatório das bolhas enfisematosas gigantes na Santa Casa de São Paulo./ Marcio Botter. São Paulo, 2006.
Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de pós-graduação em Medicina.
Área de Concentração: Cirurgia Geral Orientador: Roberto Saad Júnior 1. Enfisema pulmonar 2. Enfisema pulmonar/terapia
3. Pulmão/cirurgia 4. Drenagem
BC-FCMSCSP/35-2006
À Júlia, minha filha querida. Uma bênção divina. Fonte de
alegria e felicidade. Motivo da minha contínua busca por
aprimoramento pessoal.
Aos meus pais Antônio (in memorian) e Ilionete e aos
meus irmãos, Marcelo e Marcos pelo amor ilimitado, pelo
apoio inabalável e pela paciência. Em especial porque
absolutamente tudo se facilita quando se vive em
harmonia.
À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo e sua Faculdade de Ciências Médicas, por
tornarem possível a contínua renovação de
conhecimentos. Por fazerem-se palco da realização
de tantos sonhos.
Ao Prof. Dr. Emílio Athiê (in memorian), fundador da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo.
À Carreira Acadêmica
“Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.”
Mar Portuguez Fernando Pessoa
Ao Professor Dr. Roberto Saad Jr.
Em um agradável dia de verão, num belíssimo final de tarde daqueles sem
nuvens, mornos, em que as coisas tomam uma tonalidade meio bronzeada, ponho-
me a pensar no que diferencia o bom professor do grande mestre. Tento
compreender por que alguns docentes vão além, sobressaem-se, transformam-se
em lendas, ícones, como se a categoria de bom professor, apenas, não lhes
bastasse? Por que, afinal, alguns educadores têm a capacidade de gerar, de modo
despropositado, uma verdadeira escola em que uma legião de discípulos,
seguidores e asseclas prazerosamente os acompanham?
Um analista técnico poderia argumentar que o diferencial do grande mestre
são os seus símbolos morais e éticos, a retidão do seu caráter, a magnitude de suas
ações, a seriedade da sua figura.
É possível que sejam...
Outros poderiam sugerir que tudo se deve a uma grande carga de cultura e
conhecimento, ligada à habilidade comunicativa e a uma primorosa didática. Ou a
um grande autoconhecimento, capacidade de liderança e aptidão para motivar
equipes, marcas do que se convencionou chamar “gestor de pessoas”.
Também é possível...
Mas quantos são os bons docentes, quantos são os ilustres catedráticos
que, mesmo possuindo todas ou quase todas essas características, jamais se
elevam à categoria de grande mestre?
Porque o grande mestre é verdadeiramente admirado e querido e não
alguém temido ou apenas respeitado pela quantificação do seu saber. O grande
mestre se eterniza na mente do pupilo e, mesmo anos após sua partida, conserva-se
mote de reuniões e comemorações de alunos, muitos dos quais só o terão visto em
fotografias.
Talvez porque a disciplina que ministra represente não mais que uma parte
infinitesimal do todo que ensina. Porque do verdadeiro mestre também se aprende
no modo como trata o garçom, no seu estado de humor, nas minúcias.
A bela tarde de verão vai se despedindo e ainda não respondi a minha
questão.
Talvez a chave seja carisma, generosidade, simplicidade, proximidade. Ou,
quiçá, a conclusão esteja na soma de todos os aspectos citados. Quem me dera
saber...
Se eu fosse um poeta,
se tivesse nascido na Índia
se eu fosse Rudyard Kipling,
talvez já tivesse respostas
A tarde de verão agora é uma mancha vermelha e alaranjada no horizonte.
No céu já se vêem estrelas, que mais parecem perseguir o final de tarde em busca
de um pouco de brilho.
Talvez seja isso. Sêneca, há milênios, disse que a luz se distingue do reflexo
por ter origem em si mesma, enquanto o reflexo brilha com luz alheia.
Para a maioria das pessoas esta bela tarde que se vai é apenas uma como
outra qualquer. Poucos privilegiados, porém, conseguem perceber que trata-se de
um momento imortal, que a tarde de verão que parece acabar, na verdade, continua
sempre expondo sua exuberância, viajando por outras terras, por outras dimensões,
com as estrelas permanentemente ao seu encalço, ávidas por luz a refletir.
É bem provável que as estrelas não tenham ciência dos fatos, mas sabem,
por instinto, que seu brilho se extingue no momento em que deixarem de seguir a
tarde de verão.
Assim são os discípulos do Professor Saad. Autênticas estrelas.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
pelo apoio financeiro a este trabalho.
Ao Prof. Dr. José Mandia Neto, Diretor Clínico da Santa Casa de São Paulo,
pelo constante apoio, confiança e estímulo em mim depositados.
Ao Prof. Dr. Adhemar Monteiro Pacheco Júnior, Chefe do Depto. de Cirurgia
da FCMSCSP, pela postura profissional e pelo contínuo incentivo acadêmico.
Ao Prof. Dr. João Fava, pelo exemplo de seriedade e pelo constante
estímulo profissional e científico.
Ao Prof. Dr. Fares Rahal, sem dúvida, um dos professores responsáveis
pelo desenvolvimento da minha carreira profissional. Minha gratidão pelo incentivo,
sempre presente.
Ao Prof. Dr. Peretz Capelhuchnik, professor brilhante e carismático, meus
agradecimentos por sua influência em minha formação acadêmica.
Ao Prof. Dr. Antônio José Gonçalves, Coordenador do Curso de Pós-
Graduação em Cirurgia da FCMSCSP, pelo apoio e incentivo à produção científica.
Ao Prof. Dr. Luiz Arnaldo Szutan, pelo entusiasmo contagiante, pelos
exemplos de determinação e dedicação e pelo apoio à minha carreira acadêmica.
Aos Profs. Drs. Armando de Cápua Júnior, Arildo de Toledo Vianna, Carlos
Alberto Malheiros, Carlos Estevão Frimm, Danilo Gagliardi, Douglas Jorge, Jorge
Ethel, José Cesar Assef, José Donato de Próspero, Luiz Antônio Rivetti, Marjo
Deninson Cardenuto Perez, Roberto Augusto Caffaro, Roberto Stirbulov, Samir
Rasslam, Seiji Nakakubo, Víctor Pereira, Walter Edgar Maffei (in memorian),
Wangles de Vasconcelos Soler e Wilmar Artur Klug que tanto contribuíram na minha
formação profissional e científica.
Ao Dr. Roberto Gonçalves, pós-graduando da Disciplina de Cirurgia Torácica
da Santa Casa, pelo coleguismo e amizade sincera tanto no hospital como fora
dele; pelo companheirismo na apreciação de várias das boas coisas da vida e
pela sempre bem-vinda colaboração neste trabalho.
À Profª. Dra. Fabíola Del Carlo Bernardi e ao Dr. Mauro Tadeu A. Saieg, do
Departamento de Ciências Patológicas da FCMSCSP, pela cessão das fotos de
microscopia e pela ajuda na elaboração de suas legendas
Aos Drs. Otto Michael Pius Höhne, Pedro Luiz Squilacci Leme e Darcy
Lisbão de Carvalho, do Hospital São Luís Gonzaga, pela contribuição na minha
formação profissional e por tantos anos de agradável convívio.
Aos Drs. Fabiano Alves Squeff, José Alexande Bizon, aos residentes e ex-
residentes da Disciplina de Cirurgia Torácica da Santa Casa, pela colaboração em
todas as fases de desenvolvimento deste trabalho.
Ao Dr. Augusto Carlos Ferreira Velloso, Mordomo do Museu e Vice-escrivão
e à Sra. Maria Nazarete de Barros Andrade, secretária executiva do Museu da Santa
Casa de São Paulo, pela gentileza na cessão das fotografias históricas do hospital
central.
Às sras. Marta Belazzi Padrão, gestora das unidades de Cirurgia e Medicina,
Solange Marsura, gestora da unidade de Centro Cirúrgico e Maritza Fabian Ramos
de Carvalho, chefe do Centro de Abastecimento de Materiais da Santa Casa de São
Paulo, pelo inestimável auxílio na elaboração e realização deste trabalho.
À Sra. Fernanda Matos D. Candelária, pela dedicação na organização e
apresentação gráfica desta tese.
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
°C - grau Celsius
CID10 - Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde:
Décima Revisão
cm - centímetro(s)
CO2 - dióxido de carbono
CPT - capacidade pulmonar total
CTVA - cirurgia torácica videoassistida
CVF - capacidade vital forçada
DPOC - doença pulmonar obstrutiva crônica
FEF 25% - 75% - fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da CVF
mL - mililitro(s)
mm - milímetro(s)
nº - número
Nd: YAG - neodymium-doped: yttrium aluminium garnet
PaO2 - pressão parcial de oxigênio no sangue arterial
PO - pós-operatório
PO2 - tensão parcial de oxigênio
RPA - Recuperação pós-anestésica
VATS - Videoassisted Thoracic Surgery
VEF1 - volume expiratório forçado no primeiro segundo da capacidade vital
VEF1/CVF - razão entre volume expiratório forçado no primeiro segundo e
capacidade vital forçada
VR - volume residual
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................1
2. OBJETIVOS.....................................................................................................20
3. CASUÍSTICA E MÉTODO ...............................................................................22
3.1. Características populacionais...................................................................24
3.2. Método .....................................................................................................26
3.2.1. Análise geral ...................................................................................26
3.2.2. Análise comparativa entre Bulectomia por toracotomia e Drenagem de bolha por toracostomia .............................................28
3.2.3. Método estatístico...........................................................................28
3.2.4. Procedimentos cirúrgicos................................................................30
4. RESULTADOS.................................................................................................44
4.1. Resultados gerais.....................................................................................45
4.1.1. Complicações .................................................................................46
4.1.2. Mortalidade pós-operatória precoce................................................51
4.1.3. Evolução tardia ...............................................................................51
4.1.4. Progressão histórica do tratamento das bolhas pulmonares gigantes ..........................................................................................52
4.2. Análise comparativa entre os grupos A e B..............................................54 4.2.1. Características populacionais .........................................................54 4.2.2. Resultados operatórios ...................................................................55 4.2.3. Evolução tardia ...............................................................................59
5. DISCUSSÃO....................................................................................................62
6. CONCLUSÕES................................................................................................87
7. ANEXOS..........................................................................................................89
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................92
FONTES CONSULTADAS......................................................................................104
RESUMO.................................................................................................................106
ABSTRACT .............................................................................................................108
APÊNDICE..............................................................................................................110
Introdução
2
Doença pulmonar bolhosa é definida como a ocorrência de uma ou mais
bolhas em meio ao parênquima pulmonar. A presença de bolhas pode determinar
grave intensificação dos sintomas, especialmente da dispnéia, se o tecido pulmonar
for difusamente comprometido por moléstia enfisematosa. Por outro lado, na
ausência de enfisema pulmonar difuso o doente pode ser assintomático, mesmo na
vigência de lesões bolhosas de grande volume (Mehran e Deslauriers, 1995).
A conceituação de bolha pulmonar foi proposta em 1959, no simpósio CIBA*.
No entanto, a revisão bibliográfica sobre o assunto muitas vezes é dificultada em
razão da imprecisão verificada na literatura quanto às diversas terminologias
empregadas pelos autores, especialmente no passado. Expressões como "bolhas de
enfisema gigante", "bolhas no curso do enfisema degenerativo", "enfisema bolhoso",
"blebs gigantes", “cavidades aéreas”, “cistos aéreos gigantes” e outras foram
inadequadamente utilizadas como sinônimos de bolha pulmonar quando poderiam,
na realidade, estar descrevendo doenças distintas (Knudson e Gaensler, 1965;
Greenberg et al, 2003).
Klingman et al (1991) estabeleceram uma classificação para as desordens do
espaço aéreo do pulmão que tem apresentado boa aceitação entre os cirurgiões
(Deslauriers e Leblanc, 1994; Greenberg et al, 2003). De acordo com aqueles
autores, Blebs são representadas por ar coletado sob a pleura visceral, decorrente
de pequenas rupturas alveolares, sendo mais freqüentemente observadas nos
ápices pulmonares e cuja ruptura é causa comum de pneumotórax espontâneo.
Cistos pulmonares broncogênicos são malformações congênitas
resultantes do brotamento anormal de ramos da árvore brônquica durante o
desenvolvimento embrionário e caracterizados, no aspecto anatomopatológico, pelo
revestimento interno por epitélio respiratório cilíndrico ciliado.
Cavidades pulmonares são espaços aéreos cujas paredes têm, pelo menos,
três milímetros de espessura ocorrendo, predominantemente, na vigência ou como
conseqüência a infecções, sendo que o espessamento parietal representaria a
reação inflamatória do tecido pulmonar, com posterior fibrose.
* CIBA guest symposium report: terminology, definitions and classification of chronic pulmonary emphysema and related conditions. Thorax 1959;14:286-99.
Introdução
3
Bolhas pulmonares constituem espaços aéreos com diâmetro maior que um
centímetro, de localização subpleural ou intraparenquimatosa, delimitados por fina
parede externa fibrosa cujo exame anatomopatológico revela ser constituída
substancialmente por pleura visceral, restos de septos alveolares, vasos sangüíneos
trombosados e pigmento antracótico. A base de implantação no pulmão pode ser
pediculada ou séssil e, em algumas situações, septos de tecido conjuntivo dividem o
espaço interior em múltiplos compartimentos.
Alguns doentes apresentam uma única lesão bolhosa no pulmão enquanto
outros têm bolhas múltiplas, ocupando apenas um ou ambos os hemitórax. Quando
ocupam pelo menos um terço do volume de um hemitórax recebem a denominação
de bolhas pulmonares gigantes ou bolhas enfisematosas gigantes (FitzGerald et al,
1974).
Trench e Saad Jr (1983) admitem que, em alguns casos, as bolhas
pulmonares poderiam ter natureza congênita, correspondendo a formas menos
graves de enfisema lobar congênito em que o doente, oligossintomático, teria o
diagnóstico firmado apenas na juventude ou na vida adulta. A maior parte das
bolhas enfisematosas, porém, é adquirida, podendo ser conseqüente à doença
pulmonar obstrutiva crônica, a processos inflamatórios brônquicos, especialmente
tuberculose e a diversas condições como linfangioleiomiomatose, sarcoidose,
traumatismos e outros (Potgieter et al, 1981; Deslauriers e Leblanc, 1994).
Bolhas pulmonares pós-tuberculose foram observadas no século XIX por
Lænnec, citado por Carrol (1977), tendo sido descritas como grandes espaços
aéreos de paredes finas, originadas a partir de evolução atípica e rara após a cura
da doença. A patogênese ainda é incerta, mas tem sido atribuída ao estiramento,
cicatrização e conseqüente obstrução das pequenas vias aéreas, associada à
destruição de septos interalveolares causada pela tuberculose. Tais alterações
determinariam o aparecimento de enfisema paracicatricial que, em algumas
situações originariam o desenvolvimento de bolhas gigantes (Carrol, 1977; Gaensler
et al, 1983; Fournier, 2004).
A linfangioleiomiomatose é caracterizada pela proliferação de células
musculares lisas imaturas, predominantemente, ao redor de pequenos brônquios e
vasos pulmonares. Clinicamente pode cursar com hemoptise, quilotórax ou
obstrução das pequenas vias aéreas levando ao represamento de ar, distensão e
Introdução
4
ruptura alveolar, com conseqüente formação de bolhas cujos diâmetros, em geral,
variam de poucos milímetros a cinco centímetros. Entretanto, há relatos de bolhas
pulmonares gigantes associadas à doença (Fugiwara et al, 2005).
Bolhas pulmonares gigantes podem também decorrer de sarcoidose. A
origem das bolhas em tal condição é ainda desconhecida, porém, atribuída ao
possível acometimento endobrônquico pela doença no nível dos bronquíolos,
levando à obstrução das vias aéreas (Packe et al, 1986; Teramoto et al, 1999).
A síndrome de Ehlers-Danlos, caracterizada pelo déficit de enzimas
relacionadas ao processamento de colágeno, leva a desordens do tecido conectivo
que, no pulmão, podem determinar deformações estruturais na matriz cartilaginosa
brônquica, levando a obstrução das pequenas vias aéreas e cursando com formação
de bolhas, entre outras alterações (Safdar et al, 2004).
Mais raramente, bolhas pulmonares gigantes foram relacionadas a outras
causas. Seqüelas de traumatismos das vias aéreas capazes de provocar estenoses
parciais foram relacionadas à formação de bolhas pulmonares, em decorrência de
processo obstrutivo localizado, com conseqüente represamento aéreo no interior dos
sacos alveolares (Chester, 1963). O tetrahidrocanabinol, presente na maconha,
pode induzir o aparecimento de enfisema paraseptal, predominantemente nos lobos
pulmonares superiores. O consumo desta droga está relacionado à formação de
bolhas pulmonares, porém, a causa específica ainda não foi devidamente
esclarecida (Johnson et al, 2000). Inalação de cocaína, igualmente, pode determinar
o aparecimento de bolhas gigantes, por mecanismos ainda não esclarecidos (Van
der Klooster e Grootendorst, 2001; Thompson e White, 2002).
Horsley et al (1997) citaram a formação de bolhas gigantes conseqüentes a
uma doença de etiologia desconhecida denominada Transmogrificação Placentária
do Pulmão, cujas alterações anatomopatológicas caracterizam-se por estruturas
semelhantes à placenta em meio ao parênquima pulmonar, determinando obstrução
das pequenas vias aéreas. Iqbal et al (1999) descreveram o aparecimento de bolha
gigante após cirurgia redutora de volume pulmonar em doente portador de enfisema
não bolhoso, atribuída à heterogeneidade da complacência e das propriedades
elásticas pulmonares, conseqüentes à operação.
Introdução
5
Entretanto, a principal origem das bolhas pulmonares é a doença pulmonar
obstrutiva crônica (Deslauriers e Leblanc, 1994). Essa doença é caracterizada pela
limitação crônica e irreversível ao fluxo aéreo decorrente da resposta inflamatória
anormal dos pulmões a substâncias nocivas, acarretando disfunção dos
mecanismos ciliares, secreção exagerada de muco, obstrução das vias aéreas e
hiperinsuflação alveolar (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2004).
O processo inflamatório crônico da DPOC pode resultar em bronquite crônica,
quando as alterações ocorrem predominantemente nas vias aéreas proximais, em
bronquiolite obstrutiva, quando o predomínio se dá nos bronquíolos ou em enfisema,
quando o parênquima pulmonar é o compartimento particularmente comprometido.
Tais alterações estão sempre presentes nos doentes portadores de DPOC, sendo
variável a predominância de uma ou outra forma (Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia, 2004).
Enfisema pulmonar é uma alteração anatômica dos pulmões caracterizada
por dilatação anormal e permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo
terminal não respiratório, acompanhado de progressivo desarranjo estrutural das
paredes alveolares (Celli e MacNee, 2004). O enfisema acinar distal ou paraseptal
compromete os dutos alveolares e os alvéolos sendo geralmente subpleural,
constituindo o tipo anatômico mais intensamente relacionado à formação de bolhas
pulmonares gigantes (FitzGerald et al, 1974; Müller et al, 2005).
O enfisema pulmonar foi classificado por Dijkman (1986), baseado em suas
manifestações clínicas, em três tipos. O primeiro tipo é o enfisema difuso obstrutivo
clássico, correspondente à forma enfisematosa da DPOC. O segundo tipo é
denominado enfisema compensatório e se traduz em simples aumento volumétrico
dos alvéolos remanescentes, conseqüente ao colapso ou a ressecções cirúrgicas de
porções do pulmão. O terceiro tipo é designado enfisema bolhoso. Klingman et al
(1991) sugeriram que os doentes portadores desta modalidade de enfisema
poderiam ser divididos em dois subgrupos: aqueles em que o parênquima adjacente
às bolhas é sadio e aqueles cujo tecido pulmonar não bolhoso é globalmente
destruído por enfisema.
Bolhas pulmonares também predominam em fumantes, em relação a
indivíduos não fumantes ou que abandonaram o tabagismo (Hughes et al, 1984;
Teramoto e Fukuchi, 1996). Agentes agressivos, especialmente aqueles presentes
Introdução
6
no tabaco, acarretam fixação e ativação de células inflamatórias no parênquima
pulmonar. Enzimas proteolíticas derivadas de neutrófilos e macrófagos ativados
(proteinases e elastases), em desequilíbrio com antiproteinases causam a destruição
de componentes da matriz extracelular do pulmão. Tal fenômeno, relacionado à
gênese do enfisema pulmonar, pode também explicar a origem das bolhas
pulmonares, em razão do dano provocado à integridade estrutural dos septos
interalveolares (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2004). Deficiência
congênita de alfa-1 antitripsina, poluição ambiental, fibrose pulmonar e outros fatores
relacionados à DPOC também são apontados como causas de bolhas pulmonares
(Celli e MacNee, 2004).
Bolhas pulmonares são originadas a partir da ruptura de septos
interalveolares e desarranjo estrutural de porções do tecido pulmonar, motivo pelo
qual são habitualmente denominadas bolhas enfisematosas, independente da
coexistência de enfisema pulmonar difuso comprometendo o restante do parênquima
(Klingman et al, 1991).
Quanto à patogenia dessas lesões diversas correntes teóricas existem, no
entanto, duas são as mais aceitas atualmente, a do “enfisema de pulsão” e a da
alteração focal de complacência pulmonar (Trench e Silva Telles, 1956; FitzPatrick et
al, 1957; Connolly, 1995).
O “enfisema de pulsão” seria determinado por redução da luz das vias aéreas
conseqüente à inflamação crônica e a mecanismos valvulares distais aos
bronquíolos terminais. Estes dois fatores, em associação, permitiriam a entrada de
ar nos sacos alveolares no momento da inspiração, porém, dificultariam sua saída
durante a expiração, determinando progressivo represamento aéreo no interior dos
alvéolos que, distendidos, tenderiam a se confluir originando a bolha. O contínuo
acúmulo de ar elevaria a pressão no interior da bolha que gradativamente
aumentaria de volume (Baldwiin et al, 1950; Cooke e Schaff, 1953; Gelb et al, 1973;
Fitzgerald et al, 1974; Travaline et al, 1995). A existência do mecanismo valvular foi
confirmada por Head e Avery (1949) ao examinarem o interior de uma bolha com um
pleuroscópio e verificarem, na sua base, a presença de diminutos estomas
bronquiolares, que se abriam na inspiração e se fechavam na expiração.
Introdução
7
Outro mecanismo determinante seria a diferença de complacência entre
segmentos de tecido pulmonar. A formação e expansão da bolha dar-se-iam em
função da maior complacência de determinadas porções do parênquima, que mais
facilmente receberiam o fluxo aéreo. Desse modo, quando uma porção de
parênquima doente representar um ponto de fraqueza, com maior complacência que
o restante do pulmão, haverá como resultado a formação de um espaço aéreo
proveniente da confluência de alvéolos, originando a bolha. De acordo com a lei de
Laplace, quanto mais volumosa, mais facilmente a bolha será insuflada.
Conseqüentemente, se a bolha e o parênquima pulmonar não bolhoso forem
submetidos à mesma pressão intrapleural negativa a bolha, mais complacente, será
preferencialmente preenchida por ar, chegando a ocorrer colapso das áreas
adjacentes. (Trench e Silva Telles, 1956; Baeza et al (1975); Morgan et al,1989;
Klingman et al, 1991).
Outros mecanismos foram descritos com determinantes de formação de
bolhas pulmonares. Nissen (1954) e Herzog (1954), citados por Gaensler et al
(1983), sugeriram que em alguns indivíduos, por razões desconhecidas, os
brônquios principais e traquéia apresentariam porções membranosas redundantes e
flácidas, cujo colapso expiratório seria responsável pela geração do mecanismo
valvular que originaria a elevação da tensão em toda extensão das vias aéreas,
levando à hiperinsuflação dos sacos alveolares. Crenshaw (1954) postulou que, no
enfisema, ocorreriam alterações vasculares determinadas pelo espessamento da
túnica média das arteríolas e artérias brônquicas, acarretando déficit circulatório
local e isquemia das paredes alveolares, o que favoreceria sua ruptura e formação
das bolhas. Fain et al (1967) relataram desenvolvimento de enfisema conseqüente à
ligadura experimental de artérias brônquicas, corroborando com tal hipótese.
Qualquer que seja a etiologia, uma bolha de enfisema pode atingir amplo
volume por qualquer dos mecanismos anteriormente citados, ocupando grande
espaço na cavidade torácica. A bolha, entretanto, apesar de receber parte
substancial do volume corrente é funcionalmente inerte, tanto por ser mal perfundida
como devido à sua superfície pequena e desprovida de alvéolos funcionantes. Uma
bolha pulmonar constitui, assim, um verdadeiro espaço morto, contribuindo para a
deterioração da função pulmonar e aparecimento dos sintomas (Foreman et al,
1968; Greenberg et al, 2003, Saad Jr e Botter, 2005).
Introdução
8
Outras alterações são também geradas pelas bolhas pulmonares gigantes.
Porções pulmonares adjacentes à lesão, comprometidas ou não por doença
enfisematosa, mas ainda funcionantes podem ser comprimidas ou simplesmente
colapsar em razão do desvio do fluxo aéreo para a região mais complacente
(Weitzenblun, 1980; Trench e Saad Jr, 1983; Deslauriers e Leblanc, 1994).
A bolha distendida pode comprimir e reduzir o diâmetro das vias aéreas e da
rede vascular pulmonar adjacentes, com prejuízo aos fluxos aéreo e sangüíneo,
respectivamente (Rogers et al, 1968). Pode haver, ainda, desvio contralateral do
mediastino, inclusive, com prejuízo da função cardíaca direita. Uma bolha volumosa
pode deprimir e aplainar o diafragma, prejudicando seu curso, contratilidade e
tensão, reduzindo o volume corrente. A hiperinsuflação crônica pode, principalmente
em função do aumento do volume pulmonar expiratório final, alterar as propriedades
elásticas da parede torácica, exigindo maior participação da musculatura respiratória
acessória, com conseqüente aumento do consumo de oxigênio muscular (Even et al,
1980; Renault, 1980; Weitzenblun, 1980).
Por todas as razões expostas, a remoção operatória das bolhas pulmonares
gigantes pode melhorar significativamente a função respiratória, a troca de gases e
reduzir a dispnéia, sendo justificável em diversas instâncias (Greenberg et al, 2003).
Mesmo doentes portadores de DPOC grave, com dispnéia intensa, podem se
beneficiar da remoção da bolha gigante, com melhora da qualidade de vida e maior
sobrevida (Connolly e Wilson, 1989). Weisel e Slotnik (1950) relataram que
indivíduos diagnosticados como portadores de bolhas gigantes associadas a
enfisema pulmonar difuso, porém não operados, morreram de insuficiência
respiratória em seis a 12 meses. Por outro lado observaram melhoras clínicas
significativas após operações de outro grupo de doentes, em igual situação. A
melhora dos sintomas após a operação, mesmo quando temporária, é proporcional à
qualidade do pulmão remanescente (Meyers e Patterson, 2003).
Atualmente admite-se que os doentes sintomáticos devam ser operados
sempre que as condições clínicas o permitirem (Deslauriers e Leblanc, 1994;
Greenberg 2003). Os doentes assintomáticos, cujas bolhas ocupam, pelo menos,
50% do volume de um hemitórax ou que mostram aumento volumétrico progressivo
ao longo do tempo também têm indicação operatória, dado o potencial risco de
complicações (Bowler et al, 1998; Patch, 1995; Greenberg 2003). Os demais
Introdução
9
pacientes poderiam ser submetidos a acompanhamento ambulatorial periódico
(Ribet e Ghoch, 1995; Ogawa et al, 1999; Dharam, 2001).
DeVries e Wolfe, em 1980, classificaram a doença pulmonar bolhosa em
quatro categorias, baseado na presença de lesão única ou múltipla e na qualidade
do parênquima adjacente. Assim, os grupos I e II caracterizam-se pelo parênquima
pulmonar circundante sadio ou pouco comprometido por enfisema, em meio ao qual
ocorre a presença de uma única grande bolha enfisematosa, (grupo I) ou por
múltiplas bolhas de volume e extensão variados, unilaterais ou bilaterais (grupo II).
Os doentes classificados no grupo III apresentam múltiplas bolhas pequenas ou
volumosas, dispostas em meio a um tecido pulmonar comprometido por doença
enfisematosa difusa. No grupo IV múltiplas bolhas dispõem-se em meio a um tecido
pulmonar comprometido, porém, por doenças não enfisematosas.
Esta classificação tem sido empregada para selecionar doentes candidatos ao
tratamento operatório do enfisema bolhoso uma vez que aqueles pertencentes aos
grupos I ou II tenderiam a obter resultados clínicos e funcionais satisfatórios
enquanto nos grupos III e IV tais efeitos seriam controversos e as indicações
operatórias, discutíveis (Boysen et al, 1981; Deslauriers e Leblanc, 1994, Safdar et
al, 2004).
Muitos autores consideram que a função pulmonar comprometida, a
concomitância de enfisema pulmonar difuso, a presença de múltiplas bolhas e outros
fatores constituiriam contra-indicações relativas à operação (Viola e Zuffardi, 1966;
Gunstensen e McCormack, 1973; Bariffi et al, 1980; Adeyemo et al, 1987; Moser et
al, 1993; Harris, 1996; Simek et al, 1999; Meyers e Patterson, 2003).
Por outro lado Halkier et al (1978) julgam que a função pulmonar deteriorada
deve ser encarada não como contra-indicação e sim, como indicação cirúrgica
mandatória. Connolly e Wilson (1989) publicaram excelentes resultados obtidos em
bulectomias, porém, enfatizam que tais operações deveriam ser realizadas apenas
em doentes com dispnéia incapacitante e inequívoca compressão do tecido
pulmonar circundante. Saad Jr e Botter (2005) consideram que a remoção das
bolhas pulmonares gigantes permite que regiões antes colapsadas e inertes do
parênquima voltem a ser funcionantes, de tal modo que provas de função pulmonar
pré-operatórias com resultados ruins não contra-indicariam a operação.
Introdução
10
A principal meta nas operações da doença pulmonar bolhosa é a restauração
da função respiratória. Para que tal finalidade seja atingida os procedimentos
fundamentam-se em dois princípios: a remoção dos espaços aéreos não
funcionantes, permitindo a expansão das áreas colapsadas do parênquima e a
máxima preservação de tecido pulmonar não bolhoso (Billig, 1976; Trench e Saad Jr,
1983; Greenberg et al, 2003). Snider (1996) denominou os métodos operatórios que,
baseadas nesses princípios, têm sido utilizados para aliviar os efeitos
patofisiológicos das bolhas enfisematosas na função pulmonar como “pneumoplastia
redutora no enfisema bolhoso”.
Diversas técnicas operatórias foram propostas nos últimos 50 anos para o
tratamento das bolhas pulmonares gigantes, entre elas, plicatura, ressecção local,
ressecções segmentares, lobectomia, pneumonectomia, drenagem, ligadura
pedicular, transplante pulmonar e outras. O entendimento dos aspectos históricos da
cirurgia das bolhas pulmonares, entretanto, remete-se às primeiras operações para
enfisema pulmonar, inauguradas no princípio do século XX, período em que a
própria abertura da cavidade pleural era considerada perigosa por ferir os preceitos
fisiológicos conhecidos até então (Dugan e Samson, 1950).
As primeiras abordagens cirúrgicas do enfisema visavam a correção de
alterações anatômicas ou radiográficas interpretadas, na época, como as prováveis
causas do enfisema. Frente à hipótese corrente de que a dispnéia associada ao
enfisema seria originada por efeitos restritivos da caixa torácica na função
respiratória, Freund (1906), citado por Gaensler et al (1983), preconizou a realização
de costocondrectomias dos primeiros arcos costais associadas à esternotomia
transversa, com o propósito de aumentar o volume do tórax e permitir a insuflação
do pulmão.
Estudos posteriores de anatomia e fisiologia mostraram que a expansão
volumétrica do tórax e a hiperinsuflação pulmonar constituíam o resultado e não a
causa da doença enfisematosa e as técnicas operatórias, então, voltaram-se para a
redução de tamanho da caixa torácica e dos volumes pulmonares. Voelcker (1914),
citado por Deslauriers e Leblanc (1994), propôs com tal finalidade, a realização de
toracoplastias paravertebrais que, entretanto, resultavam na redução da capacidade
vital e conseqüente piora da sintomatologia. Outros autores, verificando a
configuração radiológica rebaixada e aplainada do diafragma nesse grupo de
Introdução
11
doentes, propuseram medidas que apontavam para a correção de tais alterações,
entre elas, o uso de cintas abdominais (Gordon, 1934), paralisia do nervo frênico
(Allison, 1947) e pneumoperitônio (Carter et al, 1950), todas, porém, com resultados
clínicos e funcionais aquém do esperado.
A crença de que o enfisema seria causado por hipovascularização periférica
do pulmão, conseqüente a obliterações distais nas artérias brônquicas, estimulou a
realização de pleurectomia, com o objetivo de promover o desenvolvimento de
circulação colateral entre a parede torácica e a periferia pulmonar por meio do
processo inflamatório induzido (Crenshaw e Rowles, 1952; FitzPatrick et al, 1957).
Procedimentos cirúrgicos sobre o sistema nervoso autônomo também foram
recomendadas no tratamento do enfisema por se acreditar, na época, que tais
operações poderiam aliviar o broncoespasmo e reduzir a produção de secreção por
glândulas brônquicas. Desde ressecções dos primeiros gânglios simpáticos
torácicos, incluindo o gânglio estrelado (Kümmel, 1923, citado por Gaensler et al,
1983), até procedimentos radicais que incluíam a secção do nervo vago, a
denervação parasimpática e a secção de todas as estruturas peribrônquicas e
perivasculares do hilo pulmonar (Abbott et al, 1953) foram advogadas com tal intuito.
Nissen (1954) e Herzog (1954), citados por Gaensler et al (1983), suturaram
uma fina camada de tecido ósseo autólogo na parte membranosa das grandes vias
aéreas visando a correção da suposta flacidez de tais estruturas, que seria
exagerada em doentes enfisematosos e apontada como a provável causa da
elevação da tensão no interior das vias aéreas e conseqüente hiperinsuflação dos
sacos alveolares. Rainer et al (1963) realizaram procedimento semelhante, fixando
uma prótese de polietileno na parte membranosa da traquéia, com a mesma
finalidade. Esses conceitos, porém, não tiveram aceitação, nem seguidores.
O conceito de que o enfisema bolhoso era uma doença relacionada ao
pulmão, particularmente, às vias aéreas terminais passou a vigorar no meado do
século XX quando Price e Teplick (1946) sugeriram a possível relação entre e DPOC
e o aparecimento de bolhas pulmonares.
Baseado nos conceitos de que o aumento da pressão intratorácica durante a
expiração forçada poder-se-ia transmitir às vias aéreas em doentes enfisematosos,
causando a redução do seu diâmetro, Brantigan et al (1959) propuseram a
Introdução
12
realização de múltiplas ressecções em cunha na periferia dos pulmões com o
objetivo de reduzir a tensão expiratória sobre o parênquima pulmonar, restaurando a
tenção circunferencial sobre as pequenas vias aéreas e vasos sangüíneos. Apesar
do descrédito recebido na ocasião, tal método constituiu o primórdio das modernas
técnicas de cirurgia de redução volumétrica pulmonar, presentemente reservadas às
operações do enfisema não bolhoso (Cooper et al, 1995).
As primeiras propostas terapêuticas para os doentes nos quais se detectavam
grandes bolhas no pulmão foram delineadas na primeira metade do século XX sem
que, todavia, houvesse resultados satisfatórios. Segundo Meyers e Patterson (2003)
o intuito de tais procedimentos visava a redução do colapso do pulmão
remanescente por meio da obliteração do espaço aéreo ocupado pela bolha. Entre
tais medidas incluíram-se a aspiração do conteúdo aéreo por meio de toracocentese
e a injeção de substâncias cáusticas, como lipiodol, óleo iodizado ou nitrato de prata
no interior da lesão (Field e Rosemberg, 1937, citados por Knudson e Gaensler,
1965; Lister, 1941; Dugan e Samson, 1950). Tais procedimentos foram
abandonados, no entanto, em razão da elevada incidência de complicações
subseqüentes, em especial o pneumotórax. Brown e Brock (1941) relataram um
caso de sucesso no tratamento de doente portador de bolha pulmonar gigante, por
meio de retalho endocutâneo à Eloesser. Outros autores, entretanto, não obtiveram
os mesmos resultados e o método foi descontinuado (Clagett, 1949; Head et al,
1960).
A partir do final da década de 40 duas correntes foram estabelecidas como
alternativas disponíveis para o tratamento operatório das bolhas gigantes do pulmão,
a drenagem aspirativa e as ressecções pulmonares, naquela época, ainda
incipientes.
Head e Avery (1949) modificaram o procedimento descrito por Monaldi, em
1938 para tratamento de cavernas tuberculosas e realizaram, pela primeira vez, a
drenagem aspirativa de bolhas enfisematosas, em dois tempos cirúrgicos. O primeiro
consistia em, sob anestesia geral, ressecar um segmento de arco costal e provocar
aderências pleuropulmonares deixando-se um corpo estranho (gaze embebida em
iodo) no espaço pleural. Após algumas semanas, realizavam a drenagem da bolha e
submetiam-na à aspiração. Tal procedimento foi realizado em oito doentes, com
resultados considerados satisfatórios. A técnica foi reproduzida por Gunstensen e
Introdução
13
McCormack (1973), porém, abandonada em razão da elevada morbidade verificada,
além de mortalidade de 25%. FitzGerald et al (1974) realizaram o método em quatro
doentes que não apresentavam condições clínicas para submeter-se à bulectomia.
MacArthur e Fountain (1977) modificaram a técnica, passando a realizá-la em
apenas um tempo cirúrgico, porém, ressecando um segmento de arco costal e
suturando a parede da bolha à pleura parietal. As bolhas eram mantidas em sistema
de aspiração contínua até que fístulas aéreas cessassem, após algumas semanas.
Venn et al (1988) publicaram a experiência com a técnica em Brompton,
Inglaterra. Sob anestesia geral, realizavam toracotomia de dez cm de extensão,
ressecção de um segmento de arco costal e abertura da parede da bolha, para
seccionar septos em seu interior. Pulverizavam talco iodizado no interior da bolha e
na cavidade pleural. Um cateter de Foley era inserido na bolha através de uma
segunda toracostomia e mantido sob aspiração contínua no pós-operatório. A
parede da bolha era suturada à pleura e a cavidade pleural, drenada. Os autores
relataram bons resultados, com melhora dos sintomas em 16 de 17 doentes, porém,
obtendo mortalidade de 13,2%, atribuída ao baixo FEV1 e à elevada PaCO2 pré-
operatórios.
Shah e Goldstraw (1994), na mesma instituição, repetiram a técnica, agora
determinando previamente o local da toracotomia por meio de exame tomográfico do
tórax e obtendo resultados semelhantes aos anteriores com o método, mas com
mortalidade zero. Procedimentos semelhantes envolvendo drenagem de bolhas
foram também realizados por outros autores (Oizumi et al, 1990; Vigneswaran et al,
1992; Kirschner et al, 1997; Takizawa et al, 2004), porém, o método encontra-se
atualmente restrito a poucos serviços que, em geral reservam-no aos casos de
doentes graves, sem condições clínicas de submeter-se a ressecções pulmonares
(Meyers e Patterson, 2003).
As ressecções de bolhas gigantes inicialmente incluíram apenas lobectomias
e pneumonectomias (Price e Teplick, 1946; Allison, 1947; Dugan e Samson, 1950),
entretanto, procedimentos menos invasivos foram propostos. Nissen (1945) realizou
toracotomia com incisão da parede de bolhas gigantes, inversão das suas bordas e
sutura do parênquima subjacente ancorado nas bordas da parede da lesão,
lançando as bases técnicas da bulectomia até hoje realizada. Tal procedimento foi
realizado em dois doentes com bons resultados, apesar da dificuldade observada na
Introdução
14
reexpansão pulmonar em razão de fístulas pleurocutâneas, que perduraram por
várias semanas em ambos os casos.
Naclério e Langer (1947) propuseram a técnica que consistia na abertura da
bolha e sutura das principais regiões fistulosas de sua base, incluindo pequenos
bronquíolos que se abriam para o interior do espaço aéreo, seguido pela ressecção
das paredes e sutura da área cruenta. Taiana et al (1950) adotaram a exerese local
como procedimento de escolha no tratamento das bolhas pulmonares gigantes,
reservando a lobectomia para casos de bolhas infectadas e a drenagem, para
doentes com função pulmonar deteriorada. Babini (1952) citou, pela primeira vez na
literatura, o termo bulectomia Este autor relatou nove doentes operados por bolhas
gigantes, sendo cinco bulectomias, três lobectomias e uma drenagem.
Crenshaw, em 1954 realizou bulectomia semelhante à técnica atual, porém,
associada à secção dos nervos vagos, remoção do terceiro ao nono gânglios
simpáticos torácicos, pleurectomia, talcagem e drenagem fechada. Brantigan et al
(1959) e Sato et al (1960) também preconizavam a realização de neurectomias e
denervações hilares como complemento das bulectomias. Associadas às
bulectomias e às denervações torácicas, outros autores indicaram as técnicas de
tenda pleural (Stone et al, 1960), escarificação pleural (Salzberg e Blades, 1955) e
pleurectomia (Eschapasse et al, 1980). FitzPatrick et al (1957) e Monod (1965)
recomendaram toracoplastias como complementação da bulectomia para reduzir o
volume do pulmão enfisematoso remanescente, baseando-se em conceitos
patofisiológicos do início do século XX, ainda vigentes.
Nos anos subseqüentes novos estudos da função pulmonar e da
patofisiologia das bolhas pulmonares gigantes, associados ao desenvolvimento
técnico e material nas áreas de cirurgia e anestesiologia permitiram que
toracotomias pudessem ser realizadas com maior segurança. Casuísticas incluindo
ressecções pulmonares, em especial, bulectomias por toracotomia foram publicadas
por vários autores, principalmente na Europa e Estados Unidos, entre os quais se
destacaram Foreman et al (1968), Pride et al (1970), Gunstensen e McCormack
(1973), FitzGerald et al (1974), Weissberg (1980), Pearson e Ogilvie (1983), Laros et
al (1986), Brichon et al (1987), Connolly e Wilson (1989), Nickoladze (1992), Ribet e
Ghoch (1995) e Palla et al (2005). Na América do Sul ressaltam-se, no Brasil, os
Introdução
15
trabalhos de Lima et al (1981) e Trench e Saad Jr (1983) e, na Argentina, aqueles de
Taiana et al (1950), Viola e Zuffardi (1966) e Seineldín et al (1989).
Na década de 90 a videocirurgia foi introduzida no tratamento das doenças
torácicas e as bulectomias, desde então, puderam ser realizadas por meio de uma
via de acesso alternativa, a cirurgia torácica videoassistida (CTVA) (Nathanson et al,
1991; Lewis et al, 1993; Jacques, 1995; Menconi et al, 1998; Shinonaga et al, 1999;
Giacomo et al, 1999; Divisi et al, 2002; Shigemura et al, 2002). Tal metodologia teve
maior aceitação a partir do desenvolvimento de técnicas auxiliares como utilização
de colas de fibrina (Hillerdal et al, 1995), ablação e endolooping (Liu et al, 1997),
este último, posteriormente descontinuado, além de novos materiais cirúrgicos como
aparelhos de sutura mecânica endocirúrgicos (Ishida et al, 1995).
Equipamentos emissores de argônio, raios laser de CO2 ou de neodymium-
doped: yttrium aluminium garnet (Nd: YAG laser), e outros também têm sido
utilizados no tratamento videoassistido das bolhas pulmonares. O objetivo dessas
tecnologias é provocar o espessamento e enrugamento da superfície externa da
bolha, por meio da contração de fibras elásticas e colágenas presentes na pleura
visceral, induzida por calor. A bolha, assim, tem seu volume reduzido, facilitando a
sua remoção com uso de grampeadores videoendoscópicos (Lewis et al, 1993;
Wakabayashi, 1993; Jacques, 1995; Hillerdal et al, 1995; Ishida et al, 1995; Liu et al,
1997).
Atualmente as bulectomias por toracotomia e as ressecções de bolhas por
CTVA constituem as duas abordagens principalmente utilizadas nas operações das
bolhas pulmonares gigantes (Deslauriers e Leblanc, 1994). Por outro lado,
ressecções maiores como lobectomias ou pneumonectomias têm sido raramente
indicadas para tratar tais lesões. No entanto, em algumas situações em que a bolha
enfisematosa substitui ou ocupa completamente todo o tecido de um lobo ou pulmão
esses procedimentos acabam sendo inevitáveis (Potgieter et al, 1981; Pearson e
Ogilvie, 1983; Deslauriers e Leblanc, 1994).
A bulectomia por toracotomia costuma ser indicada para doentes portadores
de bolhas de grandes dimensões, com parênquima adjacente sadio ou pouco
comprometido. A técnica operatória requer anestesia geral e toracotomia póstero-
lateral ou esternotomia mediana, utilizada por alguns autores para ressecções
simultâneas de bolhas bilaterais. (Lima et al,1981; Vishnevsky e Nickoladze, 1990).
Introdução
17
extubação, insuficiência respiratória com necessidade de uso de ventilação
mecânica, complicações infecciosas, especialmente, empiema pleural e pneumonia,
além de fístula broncopleural com conseqüentes má expansão do pulmão
remanescente e enfisema de tecido celular subcutâneo constituem exemplos
comuns de complicações desse tipo de operação (Deslauriers e Leblanc, 1994;
Greenberg et al, 2003; Saad Jr et al, 2005)
Do mesmo modo, nos primeiros dias de pós-operatório os doentes
encontram-se sujeitos a maior risco de congestão pulmonar, edema e áreas de
hematoma, agravando ainda mais o intenso comprometimento das funções
respiratórias, que acaba sendo fatal em muitos casos (Greenberg et al, 2003).
A morbimortalidade da bulectomia relaciona-se a características intrínsecas
ao doente como função pulmonar deteriorada, doenças associadas, múltiplas bolhas
e outros (Gunstensen e McCormack, 1973; Moser et al, 1993; Meyers e Patterson,
2003) mas também, em parte, a fatores inerentes ao próprio método operatório.
A utilização de anestesia geral, nessa classe de doentes em particular, pode
acarretar conseqüências graves, até mesmo antes do início da operação em si
(Hasenbos e Gielen, 1985; Benumof, 1987; Myles e Moloney, 1994; Chihara et al,
1996). As grandes incisões torácicas, bem como a videotoracoscopia, comprometem
a função respiratória nos primeiros dias após a operação (Moser et al, 1993; Losso,
1998; Dunton, 2001; Nomori et al,2002). A ressecção de porções ainda funcionantes
de parênquima adjacente não bolhoso, além da sutura de tecido pulmonar destruído
por doenças respiratórias também contribuem para o aparecimento de insuficiência
respiratória e fístula broncopleural, entre outras complicações pós-operatórias
(Deslauriers e Leblanc, 1994; Santambrogio et al, 1998; Suzuki et al 2000;
Greenberg et al, 2003; Saad Jr et al, 2005).
Esses eventos são ainda mais relevantes quando se considera que o grupo
de doentes portadores dessas lesões é constituído, em sua maioria, por indivíduos
comprometidos por enfisema pulmonar difuso, com deterioração funcional extrema
que os impede, em alguns casos, até mesmo de se submeter satisfatoriamente a
uma simples espirometria, dada a dificuldade respiratória que apresentam. Tais
fatores justificam a contínua procura por métodos operatórios menos invasivos para
tratar bolhas pulmonares gigantes (Saad Jr e Botter, 2005).
Introdução
18
No Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo o tratamento operatório de bolhas pulmonares gigantes têm sido
realizado desde 1956. Doze bulectomias por toracotomia foram realizadas entre
1956 e 1978 obtendo-se melhora clínica em 83% dos doentes, apesar da morbidade
e mortalidade perioperatórias observadas (Trench e Silva Telles, 1956; Trench e
Saad Jr, 1983). Desde 1979, até os dias atuais, as operações vêm sendo realizadas
pela mesma equipe na Disciplina de Cirurgia Torácica.
Em uma primeira fase, a partir de 1979, os doentes portadores de grandes
bolhas pulmonares foram selecionados e submetidos exclusivamente a bulectomias
por toracotomia ou, em alguns casos, a lobectomias. Simultaneamente à era das
operações tradicionais exclusivas uma segunda fase se iniciou, em 1993, quando as
operações videotoracoscópicas tornaram-se disponíveis e as bulectomias por CTVA
passaram a ser realizadas.
Há quase dez anos, contudo, temos realizado drenagem das bolhas gigantes
em um número crescente dos nossos doentes. Modificando o método de idealizado
por Monaldi (1938) e adaptado por Head e Avery (1949), passamos a tratar lesões
bolhosas gigantes sem necessidade de ressecção nem de sutura do parênquima
pulmonar, tampouco, de grandes incisões operatórias (Saad Jr et al, 2000; Saad Jr e
Botter, 2005).
Em uma etapa inicial, que constituiu a terceira fase das operações de bolhas,
esse procedimento foi efetuado sob anestesia geral, por cirurgia torácica
videoassistida, em apenas um tempo cirúrgico. Posteriormente, porém, evidenciou-
se que a videotoracoscopia era desnecessária e o método passou a ser realizado
sob anestesia local e por meio de uma pequena toracostomia associada à drenagem
da cavidade pleural constituindo, assim, a quarta fase da evolução do tratamento
operatório de bolhas pulmonares gigantes na Santa Casa de São Paulo.
Nossa experiência inicial com a técnica de drenagem de bolhas pulmonares
gigantes já foi anteriormente relatada, tendo sido descritos os casos dos primeiros
oito doentes assim operados (Saad Jr et al, 2000). A conclusão dos autores, na série
estudada, foi que a drenagem das bolhas sob anestesia local havia-se mostrado um
método terapêutico viável, eficaz e pouco invasivo.
Introdução
19
Todavia, inclusive pelo fato da casuística da Santa Casa de São Paulo
resumir-se, até então, a número reduzido de doentes submetidos a drenagens de
bolha, uma análise comparativa entre esse método e as técnicas que primam pela
ressecção dessas lesões não foi ainda efetuada. Nos últimos dez anos temos ainda
realizado bulectomias por toracotomia e, em algumas situações, ressecções por
CTVA, porém, as drenagens de bolhas gigantes têm sido preferencialmente
contempladas pelo fato de considerarmo-las tão eficazes quanto as ressecções,
porém, menos invasivas. No entanto, a confirmação desses fatos por meio de
análise comparativa rigorosa faz-se categoricamente necessária.
Ao iniciarmos o estudo das bolhas enfisematosas gigantes pudemos verificar
que a bibliografia sobre o assunto é extensa, porém, no que diz respeito às
publicações nacionais, pouco expressiva. Registros analisando as peculiaridades
desta doença no Brasil, quanto às características clínico-funcionais dos doentes,
operações realizadas, respectivos índices de complicações e resultados pós-
operatórios são raramente encontrados em periódicos indexados nas bases de
dados Medline®, LILACS, PubMed e SciELO.
Na disciplina de Cirurgia Torácica da Santa Casa de São Paulo,
especificamente, a análise da casuística funde-se à própria evolução histórica do
tratamento das bolhas pulmonares gigantes na Instituição. Impossível é destacar as
particularidades terapêuticas dessa enfermidade dos eventos históricos que as
determinaram.
Assim, a lacuna existente na literatura nacional a respeito desta doença no
nosso meio, aliada à necessidade de análise comparativa entre as técnicas e
bulectomia por toracotomia e o método de drenagem de bolha com anestesia local
motivaram-nos a realizar o presente trabalho.
Objetivos
21
1. Descrever a história do tratamento operatório das bolhas enfisematosas
gigantes na Santa Casa de São Paulo.
2. Comparar os métodos de bulectomia por toracotomia e drenagem de bolha
por toracostomia, com anestesia local e talcagem.
Casuística e Método
23
Este estudo constituiu-se da revisão retrospectiva dos prontuários de doentes
acometidos por enfisema pulmonar bolhoso, operados no Departamento de Cirurgia
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo no período de
janeiro de 1979 a junho de 2005. O Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos da Irmandade da Santa Casa de São Paulo analisou e aprovou a
realização deste trabalho.
Foi solicitado ao Serviço de Arquivos Médicos e Estatísticos (SAME) da Santa
Casa de São Paulo o levantamento dos prontuários dos doentes internados na
enfermaria de Cirurgia Torácica do hospital central no período determinado, em
decorrência dos diagnósticos “Bolha Enfisematosa” ou “Enfisema sem outras
especificações, bolhoso ou vesicular” (CID10: J43.9).
Incluíram-se nesta análise os doentes operados por bolhas pulmonares
enfisematosas gigantes, isto é, que ocupavam pelo menos um terço do volume do
hemitórax comprometido. Doentes portadores de bolhas múltiplas foram incluídos,
desde que ao menos uma bolha apresentasse as características volumétricas descritas.
Foram excluídos os doentes portadores de blebs e bolhas de pequeno volume
bem como aqueles que, na vigência de complicações da doença pulmonar bolhosa,
necessitaram ser operados em regime de urgência. Também foram excluídos os
doentes cujo tratamento se deu por meio de ressecções pulmonares amplas, como
lobectomias ou pneumonectomias.
De todos os prontuários retornados pelo SAME, 83 atendiam os critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos, sendo selecionados para este estudo.
Casuística e Método
24
3.1. Características populacionais
Foram avaliados 83 doentes, cuja idade variou entre 17 e 76 anos, com média
e desvio padrão de 48,8 ± 13,7 anos e mediana de 49 anos. Sessenta e dois
pacientes (74,7%) foram do sexo masculino e 21 (25,3%), do sexo feminino.
Dezenove doentes (22,9%) eram assintomáticos no momento da indicação
operatória. Dispnéia, presente em 56 doentes (67,5%), foi o principal sintoma
associado às bolhas, ocorrendo de forma leve em 11 pacientes (13,2%), moderada
em 26 enfermos (31,3%) e grave em outros 19 (22,9%). Oito doentes (9,6%)
relataram dor torácica como principal queixa.
Quarenta e cinco doentes (54,2%) apresentavam antecedentes de DPOC,
nove (10,8%) tinham histórico de tuberculose pulmonar e DPOC e oito (9,6%)
relatavam tuberculose pulmonar como único antecedente. Três pacientes (3,6%)
contavam, ao menos, um episódio de pneumotórax espontâneo prévio à indicação
cirúrgica e um paciente (1,2%) era asmáti
Casuística e Método
25
As bolhas de enfisema foram de ocorrência única em 35 doentes (44,2%) e
múltipla nos restantes 48 (57,8%). Trinta e oito indivíduos portadores de lesões
múltiplas (45,8%) apresentaram uma bolha enfisematosa gigante precípua
acompanhada por outras, menores, enquanto dez doentes (12%) portavam bolhas
gigantes em ambos os hemitórax.
Um total de 92 operações foi realizado, sendo 76 Intervenções unilaterais. A
localização preferencial foi o hemitórax direito em 48 doentes (63,2%). O hemitórax
esquerdo foi sede das lesões em 27 doentes (35,5%). Um doente com múltiplas
bolhas à esquerda foi submetido a uma segunda operação no mesmo hemitórax,
cinco anos após a primeira intervenção. Dezesseis operações foram realizadas em
oito doentes portadores de bolhas gigantes bilaterais.
O total de doentes e operações realizadas conforme apresentação única ou
múltipla das lesões está sumariado na TABELA 1.
TABELA 1. Doentes operados e Intervenções realizadas conforme número de bolhas
Bolha Única Bolhas Múltiplas Total
Bolha gigante unilateral
Bolhas gigantes bilaterais
Doentes 35 38 10 83
Operações 35 39 18 92
Casuística e Método
26
3.2. Método
3.2.1. Análise geral
Para que se pudesse descrever a história do tratamento operatório das bolhas
enfisematosas gigantes na Santa Casa de São Paulo foram considerados
globalmente os dados dos 83 doentes submetidos a uma em meio a quatro
modalidades operatórias: bulectomia por toracotomia, bulectomia por cirurgia
torácica videoassistida (CTVA), drenagem de bolha por CTVA e drenagem de bolha
por toracostomia e anestesia local.
Os seguintes aspectos foram analisados: tipo de procedimento operatório
realizado, tempo de permanência hospitalar, complicações pós-operatórias,
mortalidade pós-operatória precoce e tardia e evolução tardia. Foi também avaliada
a progessão do tratamento das bolhas pulmonares gigantes ao longo do tempo
no que se refere às alterações técnicas, correlacionadas à variação da
morbimortalidade.
Foram consideradas complicações pós-operatórias aquelas manifestadas do
intra-operatório até o PO 30 dias, quando diretamente relacionadas ao procedimento
cirúrgico, tais como insuficiência respiratória, fístula broncopleurocutânea, infecções
pleuropulmonares, complicações cardíacas e outras. O enfisema de tecido celular
subcutâneo foi considerado apenas quando comprometendo superfície corporal
excedente ao hemitórax operado. aparecer
A mortalidade pós-operatória precoce foi considerada quando ocorrida do
intra-operatório até 30 dias após a operação ou até a alta hospitalar, nas internações
acima de um mês de permanência, desde que relacionada ao procedimento
cirúrgico.
Quanto ao seguimento ambulatorial pós-operatório, foi possível a obtenção
das informações dos prontuários de 60 dos 83 doentes. Na análise da evolução
tardia foram avaliadas a mortalidade pós-operatória tardia (ocorrida após o período
previamente definido para a mortalidade precoce), os sintomas clínicos e os
resultados de exames funcionais, comparando-se dados de pré e pós-operatório.
Casuística e Método
27
A dispnéia, quando presente, foi avaliada qualitativamente por meio da Escala
Modificada de Dispnéia*, do Medical Research Council of Great Britain (ANEXO 1),
tanto no pré como no pós-operatório, aplicada mediante análise dos sintomas
relatados nas anamneses constantes nos prontuários dos doentes.
Os seguintes parâmetros espirométricos e gasimétricos foram estudados:
Capacidade Vital Forçada (CVF), Volume Expiratório Forçado no 1º Segundo da
Capacidade Vital (VEF1), razão entre VEF1 e CVF, Volume Residual (VR),
Capacidade Residual Funcional (CRF) e Pressão Parcial Arterial de Oxigênio
(PaO2).
A avaliação funcional respiratória foi realizada nos períodos pré e pós-
operatórios, com exceção dos casos em que as condições clínicas do doente não
permitiram a sua realização. No Laboratório de Função Pulmonar da Santa Casa de
São Paulo utilizou-se o equipamento MGC Medgraphics Pulmonary Function System
1070 Series II. A partir de outubro de 2002 a técnica utilizada para a realização dos
exames funcionais foi a preconizada pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia**.
Para os exames gasométricos realizados no Laboratório de Função Pulmonar
da Santa Casa de São Paulo utilizou-se o equipamento Ultra-micro ph-blood gas
analyser 113-51, Instrumentation Laboratory Inc. A técnica empregada foi a de
eletrodo seletivo.
* Mahler DA, Wells CK. Evaluation of clinical methods for rating dyspnea. Chest 1988;93(3):580-6. **Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes para testes de função pulmonar. J Bras Pneumol 2002;28(supl 3):2-237.
Casuística e Método
28
3.2.2. Análise comparativa entre Bulectomia por toracotomia e Drenagem de bolha por toracostomia
Para que se pudesse realizar a análise comparativa, os doentes submetidos a
um ou outro método operatório em questão foram destacados do conjunto de 83
pacientes e, por sua vez, divididos em dois grupos.
No grupo A foram reunidos 46 doentes submetidos a 49 bulectomias por
toracotomia. No grupo B houve 27 pacientes submetidos a 31 drenagens de bolha
por toracostomia e anestesia local
Os aspectos avaliados na análise comparativa dos grupos foram suas
características populacionais, as complicações pós-operatórias, os tempos de
permanência hospitalar de todos os doentes e daqueles que apresentaram
complicações pós-operatórias, a mortalidade pós-operatória precoce e a evolução
tardia.
3.2.3. Método estatístico***
A análise estatística foi empregada na apreciação dos resultados gerais
obtidos e também na comparação dos grupos A e B. Foram consideradas as
seguintes variáveis:
Variáveis Explicativas:
1. Momento - Pré-operatório, Pós-operatório 1 mês, Pós-operatório 1 ano
2. Grupo – Grupo A e Grupo B
*** Bussab, WO, Morettin, PA. Estatística Básica. São Paulo: Saraiva, 5ª ed.; 2005. 526p.
Casuística e Método
29
Variáveis Respostas:
1. Idade: categorizada em: < 40 anos, 41 a 60 anos e > 61 anos completos
2. Sexo: Masculino; Feminino
3. Número de Bolhas: Única; Múltiplas
4. Enfisema Pulmonar Difuso: Com enfisema; Sem enfisema
5. Antecedentes Mórbidos: Sem antecedentes; Tuberculose; Cardiopatia; Diabetes; Outros
6. Grau de Dispnéia: 0, I, II, III e IV
7. Parâmetros espirométricos e gasimétricos: CVF; VEF1; VEF1/CVF; CRF; RV; PO2
8. Tempo de Internação (em dias)
9. Complicações: Com complicações; Sem complicações
10. Avaliação Clínica: Melhora clínica, Sem melhora clínica
11. Tipo de Complicação: Sem complicação, Empiema, Pneumonia, Fístula
broncopleurocutânea, Insuficiência respiratória, Enfisema subcutâneo,
Complicação cardíaca, Outra
12. Mortalidade pós-operatório precoce: Sim; Não
13. Mortalidade pós-operatório tardia: Sim, Não
Análises Descritiva e Inferencial
O teste qui-quadrado foi utilizado para verificar a associação entre pares de
variáveis respostas de interesse na análise geral e para verificar a igualdade das
distribuições de probabilidades de variáveis resposta de interesse na análise
comparativa entre os grupos A e B. O nível de significância adotado foi 0,10.
O teste t de Student foi utilizado na comparação das médias populacionais
das variáveis idade, tempo de internação (todos os doentes e doentes com
complicações) e parâmetros espirométricos e gasimétricos entre os grupos A e B,
supondo variâncias populacionais iguais. O teste F de Snedecor foi aplicado para
comparar as variâncias de cada variável ente os grupos A e B, concluindo-se pela
sua igualdade. O nível de significância adotado foi 0,10.
Os resultados que apresentaram significância estatística ao nível 0,10 foram
assinalados com um asterisco (*).
Casuística e Método
30
Foram utilizados os seguintes programas computacionais nesta análise:
Minitab 14.0 for Windows®,convertido dos dados informados ao programa MS-Office
Excel 2003® para Microsoft Windows XP Home® e MS-Office Word 2003® para
Microsoft Windows XP Home®.
3.2.4. Procedimentos cirúrgicos
Profilaxia de infecção foi realizada em todos os doentes operados, pela
administração de um grama de cefalotina ou cefazolina uma hora antes do início do
procedimento e mantida por 24 horas na mesma dose inicial, fornecida a cada seis
horas.
Os pacientes foram mantidos em jejum pelo período de doze horas
previamente à operação. Realizou-se tricotomia torácica e dorsal no centro cirúrgico
momentos antes do início da operação.
Previamente ao início do procedimento, independente da modalidade
operatória utilizada, foi instalada monitorização cardíaca e medida não invasiva de
pressão arterial em todos os doentes. Foram também utilizados, desde quando
disponíveis no centro cirúrgico do hospital, capnógrafo e oxímetro de pulso, para
monitorização respiratória.
Ao término do procedimento os doentes foram conduzidos à unidade de
terapia intensiva, onde foram mantidos sob regime de ventilação pulmonar mecânica
até a melhora de suas condições respiratórias.
Nas situações em que, em seguida ao ato operatório foi possível a extubação,
os doentes encaminharam-se ao setor de recuperação pós-anestésica.
Exclusivamente nas operações realizadas sob anestesia local, ao final do
procedimento os pacientes retornaram diretamente aos seus leitos na enfermaria.
Drenos e sondas foram removidos quando constatada ausência de
borbulhamento nos frascos de drenagem mediante manobra de expiração forçada,
desde que o débito líquido fosse inferior a 200 mL em 24 horas e não houvesse
Casuística e Método
31
indícios de infecção. Os doentes receberam alta hospitalar após a retirada dos
drenos torácicos, desde que não houvesse vestígios de complicações clínicas ou
cirúrgicas.
Bulectomia por toracotomia
O doente foi submetido a anestesia geral e a intubação orotraqueal com
sonda de duplo lúmen sendo, a seguir, posicionado em decúbito lateral na mesa
operatória, com coxim axilar de cinco a sete centímetros. A ventilação pulmonar
ipsilateral foi bloqueada, permitindo o colapso do pulmão operado e ventilação
monopulmonar contralateral.
Após antissepsia torácica com solução de polivinilpirrolidona - iodo a 10% foi
realizada toracotomia póstero-lateral de dez a 15 cm de extensão, no nível do quinto
espaço intercostal, com ressecções segmentares posteriores do 5º e 6º arcos
costais.
O afastador costal foi aberto, expondo amplamente a cavidade pleural. Nesse
momento a bolha enfisematosa gigante foi facilmente identificada, destacando-se do
parênquima não bolhoso adjacente (Fig. 2).
FIGURA 2. Aspecto de bolha enfisematosa vista em toracotomia.
Casuística e Método
32
Bolhas nitidamente pediculadas foram removidas realizando-se a transfixação
do pedículo e sua ligadura com fio inabsorvível de algodão nº 2.0.
Bolhas com implantação pulmonar séssil foram ressecadas por meio do
abraçamento de todo tecido parenquimatoso sadio adjacente à base da bolha com
pinças hemostáticas. Realizou-se sutura contínua tipo “barra grega”, com fio
absorvível de categute cromado nº 2.0 ou poliglactina nº 2.0, proximal às pinças
hemostáticas, envolvendo toda a extensão correspondente à base da bolha.
O tecido pulmonar distal ao nível das pinças hemostáticas foi incisado e
ressecado. As pinças hemostáticas foram removidas e um segundo plano de sutura
contínua ancorada foi confeccionado, englobando o plano anterior. O mesmo fio
empregado na sutura anterior foi utilizado.
A partir de 1998 passamos a utilizar grampeadores mecânicos para
ressecção de bolhas enfisematosas gigantes. Todo o procedimento operatório foi
realizado de modo semelhante ao processo anteriormente descrito.
Ao ser identificada a bolha enfisematosa, entretanto, esta teve sua base
firmemente apreendida entre os garfos do grampeador linear cortante (Proximate
Linear Cutter TLC 75® - Ethicon Endo-Surgery), previamente revestidos com retalhos
de pericárdio bovino (Membrana de Pericárdio Bovino® - Biocárdio).
A lâmina do aparelho foi disparada, separando-se a bolha do parênquima
pulmonar vizinho e o pericárdio bovino redundante, removido. Quando necessário,
disparos subseqüentes com novas cargas de grampos e retalhos de pericárdio
bovino foram realizados, de maneira a permitir a ressecção completa da bolha.
Foi realizada, pelo anestesiologista, a insuflação manual do pulmão submerso
em solução salina fisiológica ou em água destilada e, quando identificados pontos de
escape aéreo, estes foram suturados.
Nas situações em que se verificou completa expansão pulmonar, mediante
ventilação manual, talco estéril foi pulverizado entre as pleuras parietal e visceral, na
quantidade de três a sete gramas, dependendo das dimensões da caixa torácica do
doente.
Casuística e Método
33
Por meio de toracostomia realizada no nível do sétimo ou oitavo espaço
intercostal, na linha axilar média, foi inserido um dreno torácico multi-fenestrado, de
calibre 38 French na cavidade pleural. O dreno torácico foi fixado à pele com ponto
em “U” com fio monofilamentado de poliamida nº 2.0 e conectado a um sistema
coletor valvulado, sob selo d’água. Procedeu-se, a seguir, a síntese da toracotomia.
Ao término da operação o doente foi conduzido à unidade de terapia intensiva
ou ao setor de recuperação pós-anestésica, quando possível a extubação.
Bulectomia por cirurgia torácica videoassistida
O doente foi submetido a procedimento anestésico semelhante ao descrito
anteriormente, no que se refere ao uso de anestesia geral, intubação orotraqueal
com sonda de duplo lúmen, bloqueio ventilatório, posição na mesa operatória e
antissepsia.
Foi realizada toracostomia de dois centímetros de extensão no nível do quinto
espaço intercostal, na linha axilar média, através da qual foi introduzido na cavidade
pleural um trocarte de dez mm de diâmetro e óptica telescópica. A bolha
enfisematosa gigante foi vista, destacando-se
Casuística e Método
34
FIGURA 3. Aspecto videoendoscópico da bolha (seta).
A segunda toracostomia, com cerca de um centímetro de extensão foi
realizada posteriormente, na região entre as linhas escapular e vertebral, no nível do
terceiro espaço intercostal, através da qual foi inserido trocarte de cinco mm e pinça
de preensão endoscópica.
A terceira incisão foi praticada na linha axilar anterior, no nível do segundo ou
terceiro espaços intercostais, com um ou dois centímetros de extensão, por onde
foram inseridos outros instrumentais videoendoscópicos ou mesmo, convencionais.
Quando necessário, uma quarta incisão foi efetuada, no nível do quinto ou sexto
espaços intercostais, próxima ao mamilo.
O ápice da bolha foi cuidadosamente seguro com a pinça de preensão
endoscópica. Bolhas com pedículos estreitos e bem definidos foram ressecadas
realizando-se a transfixação do pedículo e sua ligadura com fio agulhado
inabsorvível de algodão nº 2.0 ou poliamida nº 3.0.
Bolhas com implantação pulmonar séssil foram ressecadas por meio do
abraçamento do tecido parenquimatoso adjacente à base da bolha com pinça
Casuística e Método
35
hemostática do tipo Rochester. Realizou-se sutura contínua tipo “barra grega”, com
fio absorvível de categute cromado nº 2.0 ou poliglactina nº 2.0 proximal às pinças
hemostáticas por toda a extensão da base da bolha.
O tecido pulmonar distal à pinça hemostática foi incisado e ressecado. A
pinça foi aberta e removida e um segundo plano de sutura contínua ancorada foi
confeccionado, englobando o plano anterior. O mesmo fio empregado na sutura
anterior foi utilizado.
Quando disponíveis, foram utilizados grampeadores mecânicos endoscópicos
para ressecção de bolhas enfisematosas gigantes por CTVA. Todo o procedimento
operatório foi realizado de modo semelhante ao anteriormente descrito mas, ao ser
identificada a bolha enfisematosa, esta teve sua base firmemente apreendida entre
os garfos do grampeador mecânico endoscópico (Endoscopic Linear Cutter, modelo
ENDOPATH EZ45® - Ethicon Endo-Surgery), previamente revestidos com retalhos
de pericárdio bovino (Membrana de Pericárdio Bovino® - Biocárdio).
A lâmina do aparelho foi disparada, separando-se a bolha do parênquima
pulmonar vizinho sadio e o pericárdio bovino redundante, removido. Quando
necessário, disparos subseqüentes com novas cargas de grampos e retalhos de
pericárdio bovino foram realizados, de maneira a permitir a ressecção completa da
bolha.
Foi realizada, pelo anestesiologista, a insuflação manual do pulmão submerso
em solução salina fisiológica ou em água destilada e, quando identificados pontos de
escape aéreo, estes foram suturados.
Nas situações em que se verificou completa expansão pulmonar, mediante
ventilação manual, talco estéril foi pulverizado entre as pleuras parietal e visceral, na
quantidade de três a sete gramas, dependendo das dimensões da caixa torácica do
doente.
Por meio da incisão previamente realizada no nível do quinto espaço
intercostal, na linha axilar média, foi inserido na cavidade pleural um dreno torácico
multi-fenestrado, de calibre 38 French. O dreno torácico foi fixado à pele com ponto
em “U” com fio monofilamentado de poliamida nº 2.0 e conectado a um sistema
Casuística e Método
36
coletor valvulado, sob selo d’água. Foi realizada, a seguir, a síntese das
toracotomias.
Ao término da operação o doente foi conduzido à unidade de terapia intensiva
ou ao setor de recuperação pós-anestésica, quando possível a extubação.
Drenagem de bolha por CTVA
O procedimento anestésico a que foi submetido o doente, com anestesia
geral e intubação orotraqueal com sonda de duplo lúmen, bloqueio ventilatório, além
do posicionamento na mesa operatória, antissepsia e primeira toracostomia foram
semelhantes aos realizados nos pacientes submetidos a bulectomia por CTVA.
A segunda incisão foi efetuada no nível do quinto ou sexto espaços
intercostais, anteriormente à primeira incisão, próximo à região mamilar com um ou
dois centímetros de extensão, por onde foi inserida pinça de preensão
videoendoscópica ou instrumental convencional.
A bolha foi cuidadosamente segura com a pinça de preensão endoscópica e,
com uma tesoura endoscópica ou convencional, foi realizada pequena abertura de
cerca de cinco milímetros de extensão na parede da bolha, que imediatamente se
esvaziou.
Uma terceira toracostomia, com cerca de dois centímetros de extensão foi
realizada na parede torácica anterior ou lateral, no espaço intercostal
correspondente à projeção do orifício anteriormente produzido na bolha.
Através desta toracostomia, com auxílio de uma pinça hemostática atuando
como guia, um cateter urinário balonado de látex, do tipo Foley, de calibre 24 French
foi inserida na cavidade pleural e guiada para o interior da bolha através do orifício
em sua parede (Fig. 4).
O balão foi repleto com 40 mL de solução fisiológica e a sonda, tracionada até
que o balão insuflado se pressionasse contra a pleura parietal, trazendo consigo a
bolha colabada. Nesse momento a sonda foi firme e hermeticamente fixada à pele
Casuística e Método
37
com ponto de fio inabsorvível e, em seguida, conectada a um sistema coletor
valvulado, sob selo d’água.
FIGURA 4. Cateter urinário tipo Foley ( F ) inserida no interior da bolha ( B ) por pequena abertura em sua parede.
O pulmão foi ventilado manualmente pelo anestesiologista e, quando
verificada a completa expansão pulmonar, talco estéril foi pulverizado entre as
pleuras parietal e visceral, na quantidade de três a sete gramas, dependendo das
dimensões da caixa torácica do doente. Cerca de três gramas de talco diluído em 50
mL de solução fisiológica foi instilada no interior da bolha por meio do cateter de Foley.
Por meio da incisão previamente realizada no nível do quinto espaço
intercostal, na linha axilar média, foi inserido na cavidade pleural um dreno torácico
multi-fenestrado, de calibre 38 French. O dreno torácico foi fixado à pele com ponto
em “U” com fio monofilamentado de poliamida nº 2.0 e conectado a um sistema
coletor valvulado, sob selo d’água. Foi realizada, a seguir, a síntese das
toracotomias.
Ao término da operação o doente foi conduzido ao setor de recuperação pós-
anestésica ou, frente à impossibilidade de extubação, à unidade de terapia intensiva.
Casuística e Método
38
Drenagem de bolha por toracostomia e bloqueio anestésico local
O doente foi posicionado em decúbito dorsal horizontal na mesa operatória,
sendo-lhe administrado oxigênio via cateter nasal, com fluxo de dois litros por
minuto. A seguir, foi efetuada a antissepsia do hemitórax com solução de
polivinilpirrolidona - iodo a 10%.
No local da parede torácica correspondente à projeção da bolha, previamente
determinado por exames radiográficos, foi realizado bloqueio anestésico com dez a
15 mL de cloridrato de lidocaína a 2%, interessando pele, tecido celular subcutâneo,
planos musculares, pleura parietal e nervos intercostais um espaço costal acima e
um abaixo do local da operação.
Em seguida, foi realizada toracostomia de três a quatro centímetros de
extensão no local previamente determinado e anestesiado (Fig. 5).
FIGURA 5. Toracostomia em local previamente determinado
Aberta a pleura, a parede da bolha enfisematosa, insuflada, foi facilmente
identificada (Fig. 6).
Casuística e Método
40
A seguir a bolha foi apreendida com pinças anatômicas e exteriorizada
através do espaço intercostal (Fig. 7).
Apreensão da parede da bolha ...
... que é quase integralmente exteriorizada
FIGURA 7. Exteriorização da bolha através da toracostomia.
Casuística e Método
41
Foi então efetuada pequena abertura na parede da bolha, de cerca de cinco
mm de extensão, seguindo-se imediato colapso da mesma. Um cateter urinário
balonado de látex, do tipo Foley, de calibre 24 French foi inserido no interior da
bolha através do orifício em sua parede (Fig. 8).
FIGURA 8. Introdução de cateter balonado no interior da bolha.
Casuística e Método
42
Em seguida foi realizada sutura em bolsa da parede em torno do cateter, com
fio absorvível de poliglactina nº 3.0 e a bolha foi reintroduzida na cavidade pleural.
Cerca de dois gramas de talco esterilizado foram injetados no interior da
bolha. O balonete foi repleto com 40 mL de solução fisiológica e o cateter, então,
tracionado até que o balão insuflado se pressionasse contra a pleura parietal,
trazendo consigo a bolha colabada. Nesse momento o cateter foi firme e
hermeticamente fixado à pele com ponto de fio inabsorvível e, em seguida,
conectada a um sistema coletor valvulado, sob selo d’água (Fig.9).
FIGURA 9. Fixação do cateter à parede e aspecto do balão insuflado no interior da bolha.
Após bloqueio anestésico local, realizado de modo semelhante ao
anteriormente descrito, uma segunda incisão foi efetuada no nível do quinto espaço
intercostal, na linha axilar média, através da qual foi inserido na cavidade pleural um
dreno torácico multi-fenestrado de calibre 38 French, conectado a um sistema
coletor valvulado, sob selo d’água (Fig. 10).
Casuística e Método
43
FIGURA 10. Aspecto final da operação após drenagem da bolha e da cavidade pleural. (neste caso, excepcionalmente, utilizados dois cateteres balonados em doente portador de duas bolhas gigantes).
Foi realizada a síntese das toracotomias e, ao término da operação o doente
foi encaminhado à enfermaria. O cateter balonado foi retirado quando constatada
ausência de borbulhamento no frasco de drenagem mediante manobras de
expiração forçada.
O doente recebeu alta hospitalar após a retirada da sonda e do dreno
torácico, desde que não houvesse vestígios de complicações clínicas ou cirúrgicas.
Resultados
45
4.1. Resultados gerais
Os doentes incluídos no estudo foram submetidos a um em meio a quatro
tipos de operação ao longo do período avaliado. Oito pacientes foram submetidos a
operações bilaterais. Foram realizadas 49 bulectomias por toracotomia em 46
pacientes, quatro bulectomias por CTVA em quatro indivíduos, oito drenagens
videotoracoscópicas de bolha em seis doentes e 31 drenagens de bolha por
toracostomia e anestesia local em 27 pacientes (Tab. 2).
TABELA 2. Tipo de procedimento e total de doentes operados
Tipo de Operação Doentes Operações
Bulectomia por toracotomia 46 49
Bulectomia por CTVA 4 4
Drenagem por CTVA 6 8
Drenagem por toracostomia e anestesia local 27 31
TOTAL 83 92
Tempo de internação pós-operatória
Os resultados observados no tempo de internação estão apresentados na
Tabela 3.
TABELA 3. Período médio de internação de 92 operações
Medidas de tendência central Dias
Média ± DP 13,2 ± 7,4
Mediana 11
Amplitude 3 a 32
DP: Desvio - padrão
Resultados
46
4.1.1. Complicações
A morbidade geral verificada foi de 40,2%. Houve pelo menos um tipo de
complicação em 37 das 92 operações realizadas.
Tipo de complicação
Houve 18 complicações infecciosas, sendo seis pneumonias e 12 empiemas
pleurais. Em nove ocasiões ocorreram fístulas broncopleurocutâneas, sendo que em
três destes houve enfisema de tecido celular subcutâneo de extensão superior à
área do hemitórax operado. Quatro doentes apresentaram insuficiência respiratória.
Houve descompensação de insuficiência cardíaca congestiva em duas
oportunidades, além de um caso de fibrilação atrial aguda, um de pneumotórax
contralateral e um de hemorragia digestiva alta (Fig. 11).
FIGURA 11. Distribuição das complicações conforme tipo.
13,0%
6,5%
9,8%
3,3%4,3%
2,2%1,1% 1,1% 1,1%
Tipo de Complicação
Empiema PneumoniaFístula broncopleurocutânea Enfisema de subcutâneoInsuficiência respiratória Insuficiência cardíaca congestivaPneumotórax contralateral Fibrilação atrialHemorragia digestiva alta
Resultados
47
Complicações e idade
A maior parte das complicações (70,2%) ocorreu nos indivíduos acima de 41
anos. Quando a morbidade foi analisada por faixa etária, observaram-se
complicações em 11 de 22 operações realizadas em doentes abaixo de 40 anos, em
19 de 53 procedimentos em indivíduos de 41 a 60 anos e em sete de 17 operações
em pacientes acima de 61 anos (Fig. 12).
FIGURA 12. Distribuição das complicações por faixa etária.
A Tabela 4 mostra os resultados do teste qui-quadrado utilizado para verificar a
associação entre pares das variáveis resposta Complicações e Idade.
TABELA 4. Tabela de contingência para as variáveis Complicações e Idade (nível descritivo p
do teste qui-quadrado).
Evolução pós - operatória Idade (anos)
Com complicações % Sem complicações % Total< 40 11 50,0 11 50,0 22
41 a 60 19 35,8 34 64,2 53 > 61 7 41,2 10 58,8 17 Total 37 40,2 55 59,8 92
p
Resultados
48
Complicações e número de bolhas
Houve complicações pós-operatórias em 14 de 35 procedimentos realizados
em doentes portadores de uma única bolha e em 23 de 57 intervenções realizadas
em doentes portadores de múltiplas bolhas (Fig. 13).
FIGURA 13. Incidência de complicações conforme número de bolhas.
A Tabela 5 mostra os resultados do teste qui-quadrado utilizado para verificar a
associação entre pares das variáveis resposta Complicações e Número de bolhas.
TABELA 5. Tabela de contingência para as variáveis Complicações e Número de bolhas (nível descritivo p do teste qui-quadrado).
Evolução pós- operatória Número de bolhas
Com complicações % Sem complicações % Total
Única 14 40,0 21 60,0 35
Múltiplas 23 40,4 34 59,6 57
Total 37 40,2 55 59,8 92
p = 0,973
40,440,0
0
60
Bolhas Únicas Bolhas Múltiplas
n
25
45
%
Total de operações Complicações % de complicações
Resultados
49
Complicações e enfisema pulmonar difuso
Houve complicações em 26 de 61 operações realizadas em doentes
portadores de enfisema pulmonar difuso. Ocorreram complicações em 11 de 31
procedimentos realizados em indivíduos cujo tecido pulmonar adjacente à bolha era
sadio (Fig. 14).
FIGURA 14. Complicações conforme coexistência de enfisema pulmonar difuso.
A Tabela 6 mostra os resultados do teste qui-quadrado utilizado para verificar a
associação entre pares das variáveis resposta Complicações e Enfisema pulmonar difuso.
TABELA 6. Tabela de contingência para as variáveis Complicações e Enfisema pulmonar
difuso (nível descritivo p do teste qui-quadrado).
Evolução pós- operatória Enfisema difuso Com
complicações % Sem complicações % Total
Com enfisema 26 42,6 35 57,4 61
Sem enfisema 11 35,5 20 64,5 31
Total 37 40,2 55 59,8 92
p = 0,436
42,6
35,5
0
80
Com Enfisema Sem Enfisema
n
20
45
%
Total de operações Complicações % de complicações
Resultados
50
Complicações e antecedentes mórbidos
Todos os doentes cardiopatas e diabéticos, além de 15 de 17 indivíduos com
história de tuberculose pulmonar apresentaram complicações pós-operatórias. Pacientes
com outros tipos de antecedentes pessoais não apresentaram complicações (Fig.15).
TB - Tuberculose pulmonar; DM – Diabetes melito
FIGURA 15. Incidência de complicações conforme antecedentes mórbidos.
A Tabela 7 mostra os resultados do teste qui-quadrado utilizado para verificar a
associação entre pares das variáveis resposta Complicações e Antecedentes Mórbidos.
TABELA 7. Tabela de contingência para as variáveis Complicações e Antecedentes Mórbidos – exceto
enfisema pulmonar difuso (nível descritivo p do teste qui-quadrado).
Evolução pós- operatória Antecedentes Mórbidos Com
complicações % Sem complicações % Total
Sem antecedentes 4 21,1 15 78,9 19
Tuberculose 15 88,2 2 11,8 17
Cardiopatia 5 100,0 0 0,0 5
Diabetes 3 100,0 0 0,0 3
Outros 0 0,0 4 100,0 4
Total 27 56,3 21 43,7 48
p = 0,000 *
0
10010088,2
0
20
TB Cardiopatia DM Outros0
140
%
Total de operações Complicações % de complicações
Resultados
52
Aspectos funcionais
Os valores médios dos parâmetros espirométricos analisados nos períodos
pré e pós-operatórios estão exibidos na Tabela 8.
TABELA 8. Resultados espirométricos pré e pós-operatórios
Período CVF % do predito
VEF1 % do predito
VEF1/CVF (%)
CRF % do predito
VR % do predito
PO2 (mmHg)
Pré-operatório (n = 66) 67,18 42,88 56,95 112,96 163,49 81,72
PO 1 mês (n = 68) 72,77 61,30 61,02 98,70 134,27 87,00
PO 1 ano (n = 44) 69,88 58,12 59,20 102,56 133,02 85,55
4.1.4. Progressão histórica do tratamento das bolhas pulmonares gigantes
A Figura 17 mostra o percentual de realização de cada modalidade operatória
em relação ao total de procedimentos efetuados, por época.
FIGURA 17. Modalidades operatórias efetuadas conforme época (em %).
0%
50%
100%
1979-1990 1991-1994 1995-1996 1997-1999 2000 - 2005
Bulhectomia Convencional Bulhectomia por CTVA
Drenagem da Bolha por CTVA Drenagem da Bolha com anestesia local
Resultados
53
A Figura 18 mostra o percentual de complicações e mortalidade pós-
operatórias verificados, conforme a época de realização das operações.
FIGURA 18. Complicações e mortalidade pós-operatórias, conforme época.
45,9%
8,1%
37,7%
2,3%
33,3% 23,5% 23,1%
0%
50%
100%
Resultados
54
4.2. Análise comparativa entre os grupos A e B
4.2.1. Características populacionais
Na Tabela 9 estão comparados os doentes dos grupos A (bulectomia por
toracotomia) e B (drenagem de bolha com anestesia local), no que se refere à idade,
gênero, número de lesões bolhosas e concomitância de doenças associadas.
TABELA 9. Características populacionais dos doentes – Grupos A e B
Características Grupo A Grupo B p
Nº de doentes 46 27
Nº de Operações 49 31
Média Etária ± DP (anos) 47,1 ± 13,7 53,6 ± 12,0 0,034 *
Masculino 63,8% 88,9% Gênero
Feminino 36,2% 11,1% 0,020 *
Única 40,4% 37,0% Nº de bolhas
Múltiplas 59,6% 63,0% 0,851
Sem enfisema 31,9% 33,3% Enfisema Pulmonar Difuso Com enfisema 68,1% 66,7%
0,971
Tuberculose 21,3% 22,2%
Cardiopatia 6,4% 7,4%
Diabetes melito 4,3% 3,7% Antecedentes
Outros 4,3% 3,7%
0,998
Resultados
55
4.2.2. Resultados operatórios
Tempo de internação
Na Tabela 10 estão demonstrados os resultados das operações a que foram
submetidos os doentes dos grupos A e B, no que se refere ao tempo de internação de
todos os doentes e dos pacientes que apresentaram complicações pós – operatórias.
TABELA 10. Tempo de internação – grupos A e B
Tempo de internação Média ± DP (dias)
Grupo A (49 operações)
Grupo B (31 operações)
p
Todos os doentes 13,2 ± 7,2 10,5 ± 6,1 0,088 *
Doentes com complicações pós-operatórias 20 ± 6,1 15,5 ± 6,0 0,086 *
DP: Desvio - padrão
A Figura 19 mostra as variações de período médio de internação, por época
nos grupo A (49 operações) e B (31 operações).
FIGURA 19. Variação do tempo médio de internação conforme época – grupos A e B.
12,713,413,3
12,512,3
14,114,9
9,810,2
12,8
8
12
16
1979-1981 1982-1985 1986-1989 1990-1993 1994-1997 1998-2001 2002-2005
(dias)
Grupo A Grupo B
Resultados
56
Morbidade pós-operatória
Na Tabela 11 estão demonstrados os resultados das operações a que
foram submetidos os doentes dos grupos A e B, no que se refere à incidência
de complicações pós – operatórias.
TABELA 11. Tabela de contingência para as variáveis Complicações e Grupo (nível descritivo p do teste qui-quadrado)
Complicações Grupo Sem
complicações % Com complicações % Total
A (49 operações) 25 51,0 24 49,0 49
B (31 operações) 23 74,2 8 25,8 31
Total 48 60,0 32 40,0 80
p = 0,039 *
Resultados
57
Tipo de complicação
Os diversos tipos de complicações observadas no pós-operatório nos grupos
A e B estão representa graficamente na Figura 20 e listados na Tabela 12.
Emp – Empiema; Pnia – Pneumonia; Fbpc – fístula broncopleurocutrânea; Esc – Enfisema de
subcutâneo; Ir – Insuficiência respiratória; Ccard – Complic. cardíacas; Out – Outros
FIGURA 20. Tipo de complicação e mortalidade – por grupo (A e B).
TABELA 12. Tabela de contingência para as variáveis Tipo de Complicação e Grupo
Grupo Tipo de Complicação
A % B % Total %
Empiema 5 10,2 4 12,9 9 11,3
Pneumonia 3 6,1 2 6,5 5 6,2
Fístula broncopleurocutânea 6 12,2 0 0,0 6 7,5
Insuficiência respiratória 4 8,2 0 0,0 4 5,0
Enfisema subcutâneo 3 6,1 0 0,0 3 3,8
Complicação cardíaca 2 4,1 1 3,2 3 3,8
Outra 1 2,0 1 3,2 2 2,5
Sem complicação 25 51,0 23 74,1 48 60,0
Total 49 100,0 31 100,0 80 100,0
p = 0,055 *
10,2
12,9
6,1
6,5
12,2
0
6,1
0
8,2
0 4,1
3,2
2,0
3,2
%
Emp Pnia Fbpc Esc Ir Ccard Out
Grupo A (n = 49) Grupo B (n = 31)
Resultados
58
Mortalidade pós-operatória precoce
No período pós-operatório precoce ocorreram quatro mortes no grupo A,
sendo uma morte intra-operatória. Não houve mortes no grupo B (Tab.13). As
características dos doentes mortos estão demonstradas na Tabela 14.
TABELA 13. Tabela de contingência para as variáveis Mortalidade pós-operatória precoce e
Grupo (nível descritivo P do teste qui-quadrado).
Morte Grupo
Não % Sim % Total
A 45 91,8 4 8,2 49
B 31 100,0 0 0,0 31
Total 76 95,0 4 5,0 80
p = 0,154
TABELA 14. Características dos doentes mortos no período pós-operatório precoce
Idade Gênero Nº de bolhas Antecedentes Operação
realizada Tempo de internação
(dias) Complicações
55 masculino única DPOC Cardiopatia
Bulectomia por toracotomia 32 Insuficiência
respiratória
56 Masculino múltiplas DPOC Bulectomia por toracotomia 25 Pneumonia
59 Masculino múltiplas DPOC Bulectomia por toracotomia 17 Pneumonia
64 feminino Única DPOC TB
Bulectomia por toracotomia - Morte intra-
operatória
Resultados
59
Eficiência do tratamento – Grupo B
No grupo B ocorreu colapso total da bolha em 27 das 31 operações (87,1%).
Em dois procedimentos (6,4%) houve colapso parcial e em outros dois (6,4%) não
foram verificadas alterações no volume da bolha. As características destes doentes
estão relacionadas na Tabela 15.
TABELA 15. Situações em que não ocorreu colapso total da bolha
Idade (anos) Nº de Bolhas Enfisema
difuso Antecedentes Observações Resultado tardio
61 Múltiplas presente TB Colapso parcial
55 Múltiplas presente Empiema pós-operatório Colapso parcial
49 Múltiplas ausente TB Sem alteração
47 Múltiplas presente Adenocarcinoma na bolha Sem alteração
4.2.3. Evolução tardia
Resultados tardios clínico-funcionais
Não foi detectada recidiva das bolhas operadas em nenhum caso. No primeiro
ano pós-operatório a melhora da dispnéia foi relatada por 29 de 31 doentes
previamente sintomáticos (93,5%) do grupo A e por 23 de 24 doentes (95,8%) do
grupo B. Na Tabela 16 estão demonstrados os resultados referentes à evolução
clínica dos doentes em ambos os grupos.
Resultados
60
TABELA 16. Tabela de contingência para as variáveis Intensidade da dispnéia no PO 1 ano e Grupo (nível descritivo p do teste qui-quadrado).
Intensidade da dispnéia no PO 1 ano Grupo
Melhora clínica % Sem melhora clínica % Total
A 29 93,5 2 6,5 31 B 23 95,8 1 4,2 24
Total 52 94,5 3 5,5 55
p = 1,00
Os resultados funcionais pré e pós-operatórios dos dois grupos estão
demonstrados na Tabela 17 (tabela contendo médias e respectivos desvios-padrão:
ver ANEXO 2)
TABELA 17. Resultados funcionais pré e pós-operatórios - grupos A e B
Período Grupo CVF
% predito VEF1
% predito VEF1/CVF
(%) CRF
% predito VR
% predito PO2
(mmHg)
Pré-operatório A 65,78 41,00 54,50 115,25 162,00 82,30
Pré-operatório B 66,85 42,35 58,67 110,50 168,72 78,65
PO 1 ano A 70,21 58,74 59,54 103,58 135,65 85,26
PO 1 ano B 69,88 58,45 61,12 102,78 134,26 86,55
p ≥ 0,11
Resultados
61
Mortalidade pós-operatória tardia
Os resultados referentes à mortalidade em cinco anos nos grupos A e B estão
demonstrados na Tabela 18.
TABELA 18. Tabela de contingência para as variáveis Mortalidade em 5 anos e Grupo (nível descritivo p do teste qui-quadrado).
Mortalidade em 5 anos Grupo
Não % Sim % Total
A 25 80,6 6 19,4 31
D 20 83,3 4 16,7 24
Total 45 81,8 10 18,2 55
p = 0,798
Discussão
63
O trecho a seguir reproduz, resumidamente, uma análise do professor Nairo
França Trench, chefe da disciplina de Cirurgia Torácica da Santa Casa de São Paulo
até 1978, a respeito da sua casuística no tratamento das bolhas enfisematosas
desde 1956 (Trench e Saad Jr., 1983) e alude ao drama vivido pela equipe, na
época, principalmente em relação ao controle pós-operatório dos doentes.
“... O grupo em pauta compõe-se de 12 casos, todos em fase muito avançada da moléstia. Em 5, a operação foi bilateral. A maior parte destes pacientes era constituída por quase inválidos, alguns com dispnéia aos mínimos esforços e incapazes de se vestirem ou tomar banho sem ajuda.... Todos eram discretamente cianóticos. Só 4 fizeram provas funcionais respiratórias completas no pré e no pós-operatório e nos quatro houve melhora nítida de todos os parâmetros. A evolução pós-operatória foi relativamente tumultuosa em quase todos. Quatro precisaram da Unidade de Tratamento Intensivo. A insuficiência respiratória agravou-se em 3 casos, melhorando lentamente após 5 ou 6 dias, mas tiveram alta entre 15 e 30 dias em condições muito melhores que as pré-operatórias, tanto objetiva como subjetivamente... Houve um óbito hospitalar atribuível à intervenção (por) insuficiência respiratória grave, com êxito letal no 5.° dia de pós-operatório... Houve uma morte hospitalar, decorrente de trombose da artéria mesentérica. Como complicação grave, e que para nós encerrou um grande ensinamento, foi a que ocorreu com a única paciente jovem (22 anos), portadora de enfisema grave... em que ficou uma fístula brônquica com grande débito de ar. Após 10 ou 15 dias, nova toracotomia foi necessária ... “
Na mesma época, o Dr. Trench era um crítico da drenagem de bolhas e
argumentava que, muitas vezes, uma bolha perfurada pelo dreno poderia determinar
um pneumotórax rapidamente progressivo, potencialmente fatal. Em outras
situações a bolha colapsaria em torno do dreno provocando sua obliteração e, em
conseqüência, bolhas pouco insufladas poderiam até se distender (Trench e Saad
Jr., 1983).
Paradoxalmente, passadas quase três décadas de importantes mudanças
conceituais e evolução tecnológica, este é exatamente o procedimento que
preferencialmente tem sido realizado para tratar bolhas enfisematosas na Santa
Casa de São Paulo. Decididamente pode-se afirmar que, nos dias atuais, o pós-
operatório dos doentes é menos tumultuado.
Após dez anos de experiência com o método não tivemos nenhuma morte
pós-operatória relacionada à intervenção. Nenhum doente necessitou de terapia
intensiva ou ventilação mecânica e, mesmo nos casos de empiema, a complicação
Discussão
64
mais freqüente, a evolução foi satisfatória, sendo os doentes tratados por meio de
drenagem pleural aberta, em seus domicílios.
Os demais métodos de tratamento, principalmente as bulectomias
convencionais, não foram abandonados, continuam sendo realizados, porém,
proporcionalmente, em menor número que no passado. A transição entre a primeira
fase, em que só realizávamos ressecções convencionais para a fase atual, contudo,
não foi abrupta. Pelo contrário, tratou-se de um processo gradativo que acompanhou
a evolução histórica do tratamento de bolhas enfisematosas em todo o mundo, no
qual cada passo foi de crucial importância para que se pudesse chegar ao seguinte.
Até a década de 80, o procedimento mais realizado e aceito pelos cirurgiões
torácicos para o tratamento da bolha de enfisema consistia na sua ressecção e
pleurodese, tendo como via de acesso a toracotomia ou ainda a esternotomia, na
eventualidade de tratamento simultâneo de bolhas bilaterais (Lima et al, 1981;
Vishnevsky e Nickoladze, 1990), procedimentos sempre realizados sob anestesia
geral. Esta forma de tratamento, contudo, cursa com morbidade elevada, variando
de 12% a 79% (Pride et al, 1970; Gunstensen e McCormack, 1973; Saada e
Bakdach, 1997; Baldi et al, 2001; Schipper et al, 2004).
No nosso estudo a morbidade verificada foi de 49,0% nas 49 bulectomias
realizadas por toracotomia. As principais complicações pós-operatórias constatadas
foram infecções (16,3%), fístula broncopleurocutânea (12,2%), insuficiência
respiratória (8,2%) e enfisema de subcutâneo (6,1%).
Outros autores constataram 5% a 26% de infecção pós-operatória
(Gunstensen e McCormack, 1973; Schipper et al, 2004). A incidência de fístula
broncopleurocutânea varia de 2,4% a 53% (Fitzgerald et al, 1974; Schipper et al,
2004). A insuficiência respiratória ocorreu após 2,4% a 25,9% das operações
realizadas (Fitzgerald et al, 1974; Laros et al, 1986; Schipper et al, 2004) e o
enfisema de subcutâneo extenso, em 4,3% a 44,4% dos casos (Gunstensen e
McCormack, 1973; Laros et al, 1986).
A mortalidade da bulectomia por toracotomia varia de 2,3% a 25,9%
(FitzGerald et al, 1974; Sung et al, 1973; Delarue et al, 1977; Witz et al, 1980; Laros
et al, 1986). Na nossa casuística a mortalidade pós-operatória precoce foi de 8,2%
Discussão
65
nas 49 bulectomias por toracotomia, tendo havido quatro mortes no período. Um
doente morreu no final do ato operatório, em decorrência de arritmia cardíaca
irreversível. Dois doentes evoluíram, nos primeiros dias após a operação, com
pneumonia e conseqüente insuficiência respiratória, necessitando de ventilação
mecânica e internação em unidade de terapia intensiva. As mortes deram-se,
respectivamente, no 17º e 25º dias pós-operatório. Um paciente não pôde ser
extubado ao término da operação, sendo mantido em unidade de terapia intensiva,
sob ventilação mecânica até o 32º dia, quando morreu em conseqüência a
insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas.
A morbimortalidade da bulectomia pode estar relacionada a fatores inerentes
tanto ao doente quanto ao próprio método operatório. Doentes portadores de
grandes bolhas em meio a enfisema pulmonar difuso ou com hipercapnia toleram
muito mal o procedimento anestésico, uma das fases mais perigosas do ato cirúrgico
nesses enfermos (Benumof, 1987; Myles e Moloney, 1994).
O ato anestésico deve ser realizado, preferencialmente, por meio de indução
com ventilação espontânea, com utilização de sonda traqueal de duplo lúmen.
Preconiza-se a manutenção dos parâmetros de ventilação artificial do doente com
baixo volume de ar corrente e baixa pressão inspiratória, desde a indução
anestésica até o final do procedimento, na medida do possível. O tempo expiratório
alongado é, igualmente, bastante desejado, pelo fato de poder proporcionar a
liberação de parte do ar represado no interior da bolha (Hasenbos e Gielen, 1985).
A pressão positiva pode aumentar a tensão no interior da bolha levando ao
colapso maior das áreas pulmonares funcionantes ou mesmo, determinando sua
ruptura antes da realização da toracotomia, com conseqüente pneumotórax que,
hipertensivo, representa situação de ameaça de morte (Chihara et al, 1996).
Existindo bolhas no hemitórax contralateral, o uso de pressões elevadas poderá,
igualmente, provocar colapso de áreas funcionantes e pneumotórax em caso de
ruptura das bolhas (Brichon et al, 1987).
Em relação à via de acesso, como demonstrado por Hallfeldt et al (1995) e,
posteriormente, confirmado por Nomori et al (2002), o trauma operatório
determinado pela toracotomia posterolateral per se é suficiente para comprometer a
função pulmonar pelo período mínimo de duas semanas após o procedimento,
Discussão
66
causando redução de até 600 mL por segundo no VEF1. O dano à ventilação pode
ser conseqüente à dor, à redução da depuração mucociliar e ao acúmulo de
secreções ocorridas após a toracotomia, chegando a existir, em algumas situações,
risco de falência respiratória, especialmente nos doentes com função pulmonar
previamente deteriorada (Moser et al, 1993).
No final dos anos 80 a videocirurgia iniciou uma nova fase nas técnicas
operatórias e as grandes incisões cirúrgicas puderam ser, eventualmente, evitadas
(Lewis et al, 1993). Para doentes portadores de bolhas pulmonares gigantes o fato
de se poder prescindir da toracotomia representava real possibilidade de melhora
dos resultados, em especial, nos doentes enfisematosos graves. De fato, a
qualidade do pós-operatório foi aprimorada e a mortalidade, reduzida com essa via
de acesso (Wakabayashi, 1993; Saada e Bakdach, 1997; Giacomo et al, 1999; Divisi
et al, 2002). No entanto, semelhante ao que ocorre na toracotomia, alterações
espirométricas podem ser atribuídas à videotoracoscopia por pelo menos dois dias
após a operação, em especial, da CVF, VEF1, FEF25%-75% e PaO2 (Losso, 1998).
A bulectomia por CTVA tem a vantagem de evitar grandes incisões no tórax
por um lado, porém, ainda se fazem presentes os malefícios da aplicação da
anestesia geral nesse grupo de doentes e das ressecções e suturas do pulmão
enfisematoso adjacente, de tal maneira que os índices de complicações mantêm-se
elevados (Jacques, 1995; Saada e Bakdach, 1997; Menconi et al, 1998; Giacomo et
al, 1999). Giacomo et al (1999) relatam a necessidade de ventilação por jato de alta
freqüência em 24% das operações realizadas, em função da intolerância dos
doentes à ventilação monopulmonar intraoperatória. Wakabayashi (1993) refere
mortalidade zero em sua casuística de 17 bulectomias por CTVA, no entanto,
verificou insuficiência respiratória em 29,4% e fístula broncopleural com mais de 10
dias de duração em 65% dos doentes.
As técnicas de bulectomia, independente da via de acesso utilizada,
determinam a ressecção de fatias de tecido pulmonar adjacente à sua base,
juntamente com a remoção da bolha. Essas porções de parênquima não bolhoso,
mesmo quando pequenas e acometidas por enfisema podem ser ainda funcionantes
e valiosas para o doente, de modo que sua ressecção indevida pode contribuir para
o aparecimento de insuficiência respiratória no pós-operatório (Greenberg et al,
Discussão
67
2003; Saad Jr et al, 2005). De acordo com Suzuki et al (2000), na bulectomia por
CTVA a visibilização dos limites entre a base da bolha e o parênquima não bolhoso
muitas vezes é imprecisa, podendo resultar em remoção substanciosa de
parênquima pulmonar ainda funcionante.
A sutura do tecido pulmonar adjacente à bolha após sua remoção constitui
também um fator relacionado à gênese de complicações pós-operatórias, em
particular, de fístula broncopleural, principalmente quando esse tecido encontra-se
previamente lesado por enfisema, tuberculose, fibrose ou outras doenças
(Deslauriers e Leblanc, 1994). A utilização de grampeadores para realização de
suturas mecânicas do pulmão é relatada como eficaz fator preventivo de
complicações, principalmente, quando a linha de sutura é reforçada com pericárdio
bovino (Yamagushi et al, 1993; Cooper, 1994) ou com tecidos autólogos como
pleura parietal ou fáscia lata (Molnar et al, 2003). Outros autores, reeditando as
técnicas iniciais da bulectomia recomendam o uso da própria parede da bolha no
reforço da sutura (Adluri e Palmer, 2004).
Bilaqui (1998), porém, relata resultados similares, com semelhante incidência
de fístula independente da técnica de sutura empregada. Saada e Bakdach (1997),
utilizando-se de grampeadores mecânicos, verificaram 8% de insuficiência
respiratória e 20% de fístula broncopleurocutânea após 24 bulectomias
videotoracoscópicas, sendo que 12% dos doentes necessitaram ser reoperados
para correção das fístulas. Santambrogio et al (1998) verificaram fistula
broncopleural com maior duração nas bulectomias sem reforço na linha de sutura
quando comparadas às operações em que se utilizou pericárdio bovino, porém, tal
diferença não teve significância estatística. Giacomo et al (1999) registraram 48% de
fístula broncopleural com duração superior a sete dias em bulectomias por CTVA
com uso de grampeadores mecânicos e pericárdio bovino.
Eletrocoagulação e ablação com argônio ou laser têm sido empregados com
o intuito de se auxiliar a ressecção da bolha por meio da redução de suas
dimensões previamente à ressecção e não mais de forma isolada, como chegou a
ocorrer no passado, em razão da alta incidência de fístula aérea pós-operatória
(Wakabayashi, 1995; Sawabata et al, 1999; Grenberg, 2003). McKenna et al (1996)
relataram maior incidência de pneumotórax pós-operatório, além de piores
resultados clínico-funcionais no grupo do laser em estudo prospectivo que comparou
Discussão
68
o uso de Nd: YAG laser a grampeadores mecânicos e reforço da sutura com
pericárdio na cirurgia de redução pulmonar no enfisema difuso não bolhoso.
Na nossa experiência apenas quatro bulectomias por CTVA foram realizadas,
sendo que o grupo de pacientes consistiu de indivíduos portadores de bolhas
gigantes únicas e sem coexistência de doenças como enfisema pulmonar ou
tuberculose além de apresentar média etária de 40,8 anos, menor que a média geral
observada, de 48,8 anos. Dois dos nossos doentes submetidos a esse procedimento
(50%), entretanto, evoluíram com fístula broncopleurocutânea, necessitando de
reoperações, sendo que um destes apresentou também empiema.
Nos outros dois pacientes foram utilizados grampeadores mecânicos
revestidos por pericárdio bovino e a evolução foi satisfatória e sem complicações. De
qualquer modo, nossa experiência com o método é pequena para que se possa
chegar a alguma conclusão a respeito da utilização destes equipamentos. Nenhum
dos nossos quatro doentes morreu no período perioperatório
No meado dos anos 90 procurávamos minimizar, na Santa Casa de São
Paulo, os problemas intrínsecos às ressecções de bolhas, fossem por métodos
convencionais ou videotoracoscópicos. Em 1995 decidimos modificar a técnica
idealizada por Monaldi (1938) e adaptada por Head e Avery (1949) ao tratamento de
bolhas por drenagem, método até então quase esquecido no nosso meio (Saad Jr.
et al, 2000; Saad Jr. e Botter, 2005) ou, conforme relatado por Meyers e Patterson
(2003) “procedimento cujos vestígios continuavam sendo realizados apenas em
doentes de risco elevado”.
Assim, em maio daquele ano realizamos a primeira drenagem de bolha,
efetuada por meio de cirurgia torácica videoassistida. Nosso intuito era localizar a
bolha dentro da cavidade pleural e inserir o dreno em seu interior sob visão direta,
sem risco de pneumotórax e sem necessidade de se realizar previamente a sínfise
pleural, como preconizado por outros autores adeptos do método de drenagem.
Obtivemos sucesso com este método, que proporcionou ótimos resultados iniciais,
sendo que 62,5% das intervenções cursaram sem qualquer complicação pós–
operatória.
Discussão
69
Observamos incidência de 12,5% de pneumonia e 25% de empiema pós-
operatório, cujos doentes foram submetidos a drenagem pleural aberta e tratados
em seus respectivos domicílios. Não houve mortes. Um dos pacientes que
apresentou empiema pós-operatório, apesar de referir melhora da sintomatologia,
apresentou colapso apenas parcial da bolha.
Oito operações realizadas, porém, foram suficientes para evidenciar que, para
drenar bolhas, a videotoracoscopia era desnecessária. Nos casos antes operados
constatamos que as bolhas ou estavam aderidas à pleura parietal já existindo,
portanto, uma pleurodese natural, ou eram livres de aderências e perfeitamente
móveis na cavidade pleural, podendo ser facialmente exteriorizadas e manipuladas
fora do tórax. Em ambas as situações, portanto, uma pequena toracostomia
realizada no local previamente determinado por exames radiográficos como sendo a
projeção da lesão seria suficiente para que se pudesse drená-la com segurança. Tal
procedimento poderia ser realizado sem necessidade de intubação orotraqueal e
com bloqueio anestésico local.
Assim demos início, em março de 1997, à quarta fase do tratamento
operatório das bolhas pulmonares na Santa Casa de São Paulo, na qual
prescindimos da intubação traqueal e da anestesia geral. Um homem de 72 anos,
enfisematoso e portador de bolha gigante no terço superior do hemitórax esquerdo
submeteu-se à técnica descrita sem qualquer intercorrência intra-operatória.
Terminada a operação, foi levado diretamente à enfermaria, sem necessidade
de permanecer na recuperação pós-anestésica. Minutos depois de sua chegada ao
leito já era capaz de deambular, de se alimentar normalmente por via oral e de se
submeter aos procedimentos fisioterápicos. Os drenos torácicos foram retirados no
sexto dia e no sétimo, recebeu alta hospitalar. O exame radiográfico do tórax
mostrava o pulmão totalmente expandido e a bolha, colapsada.
Este caso e os subseqüentes nos estimularam a adotar a técnica de
drenagem da bolha como a de primeira escolha no tratamento desta enfermidade,
dado a sua baixa morbidade e ausência de mortalidade.
A morbidade verificada na nossa casuística, com este método de tratamento,
foi de 25,8% nas 31 operações realizadas. As principais complicações pós-
Discussão
70
operatórias foram as infecções, que incidiram em 19,4% das intervenções.
Insuficiência respiratória não ocorreu em nenhum doente, tampouco, fístula
broncopleurocutânea. Não houve necessidade de internação em unidade de terapia
intensiva. Nenhum paciente morreu após esta modalidade de operação.
Em quatro operações (12,9%) a bolha não colabou apropriadamente. Em
duas dessas situações (6,4%) houve colapso apenas parcial sendo que um dos
doentes contava antecedentes de tuberculose pulmonar e o outro apresentou
empiema pleural no pós-operatório. Em outras duas oportunidades (6,4%) as bolhas
não apresentaram qualquer alteração de volume no pós-operatório. Um dos doentes
operados apresentava antecedentes de tuberculose pulmonar. No outro paciente foi
constatada, no pós-operatório, infiltração de adenocarcinoma na parede bolha.
Este último doente morreu um ano após a operação, em razão da neoplasia.
Outro retornou ao seu Estado de origem, não mais retornando ao ambulatório para
seguimento. Os outros dois doentes permanecem em seguimento ambulatorial
sendo que a bolha mantém-se insuflada em um e parcialmente colabada no outro,
inalteradas em relação às radiografias pós-operatórias iniciais.
Bolhas pulmonares constituem um sério desafio à medicina e diversos
aspectos desta doença necessitam, ainda, ser devidamente esclarecidos. Por essas
razões os métodos operatórios atualmente disponíveis para o seu tratamento,
incluindo a drenagem, não são capazes de resolver todos os casos sem nenhuma
falha ou sem conseqüências adversas.
A própria incidência das bolhas pulmonares gigantes, apesar de consideradas
pouco freqüentes por muitos autores (Deslauriers e Leblanc, 1994; Greenberg,
2003), é obscura, existindo poucos dados esclarecedores na literatura. FitzGerald et
al (1974) operaram 84 doentes em 24 anos, Brichon et al (1987) descreveram 31
casos em dez anos e Palla et al (2005) relataram 41 casos em 14 anos. Na nossa
casuística foram 83 doentes operados em 26 anos sendo que, nos últimos cinco
anos, os tratamentos cirúrgicos de bolhas pulmonares gigantes corresponderam a
0,03% do total de operações realizadas na Santa Casa de São Paulo.
Neste estudo as bolhas pulmonares prevaleceram nos homens (74,7%) e em
doentes cuja mediana de idade foi de 49 anos. Gunstensen e McCormack (1973)
relataram média etária de 49 anos, além de bolhas presentes no sexo masculino em
Discussão
71
95,7% dos casos. Wex et al (1983) relataram 92,6% de acometimento em homens,
além de média etária de 49,5 anos. Zambudio et al (2005) verificaram incidência de
78% em homens e média etária 50 anos.
A dispnéia foi o principal sintoma em 67,5% dos nossos doentes. Este foi,
também o sintoma primariamente relatado em 17,0% a 74,2% dos doentes na
literatura (FitzGeralg et al, 1974; Meyers e Patterson, 2003; Palla et al ,2005).
A concomitância de enfisema pulmonar generalizado está associada a
resultados funcionais pobres e fugazes quando comparados a doentes cujo
parênquima não bolhoso é considerado sadio. A avaliação completa da função
pulmonar, incluindo-se a gasometria arterial deve ser obtida de todos os potenciais
candidatos à operação, na medida do possível (Boushy et al, 1968. Brouchet et al,
2004). Esta avaliação, entretanto, nem sempre é plausível em razão das condições
clínicas dos doentes.
Provas funcionais respiratórias precárias não contra-indicam a operação,
mesmo nos doentes clinicamente graves. Admite-se, no entanto que o VEF1 abaixo
de 35% do valor previsto, após administração de drogas broncodilatadoras, seria o
limite da operabilidade desses doentes, uma vez que tais resultados geralmente
refletem condição muito deteriorada da porção não bolhosa do parênquima (Stringer
e Burnett, 1956).
Pride et al (1973) relatam que os testes funcionais abrangentes podem refletir
a condição do parênquima não bolhoso, sendo que o VEF1 poderia ser utilizado
como fator preditivo clínico e funcional dos resultados de bulectomias. FitzGerald et
al (1974) e Nakahara et al (1983) apontaram que doentes com redução do VEF1
abaixo de 35% do valor predito têm menor probabilidade de melhora após a
operação. Zambudio et al (2005) adotaram o limite inferior de 40% para o VEF1 para
indicar ressecções de bolhas pulmonares gigantes
No que diz respeito às indicações de tratamento operatório do enfisema
bolhoso, os doentes pertencentes aos grupos I e II na classificação de DeVries e
Wolfe (1980) tenderiam a obter resultados clínicos e funcionais bastante satisfatórios
quando submetidos a estas modalidades terapêuticas, enquanto que para os grupos
Discussão
72
III e IV estes resultados seriam bastante controversos e as indicações cirúrgicas,
discutíveis.
Na nossa casuística, porém, diversos foram os doentes com
comprometimento difuso do parênquima não bolhoso por enfisema ou outras
doenças, além de VEF1 abaixo de 35% sem que, no entanto, tivessem prejuízo
adicional no pós-operatório. Um doente, inclusive, apresentava valores de VEF1
abaixo de 25%. Nesse caso, após a drenagem da bolha houve considerável melhora
clínica e por alguns meses o doente apresentou melhor tolerância ao exercício.
Independente da técnica operatória utilizada, a maior parte dos doentes
apresentou melhora clínica pós-operatória na nossa casuística, conforme se verifica
na Fig. 16 (pág. 51). A melhora dos sintomas foi relatada em 94,5% dos doentes um
mês após a operação. Um ano após a operação, entretanto, notava-se algum grau
de piora da dispnéia, o que era esperado em razão da associação com DPOC.
Mesmo com a remoção e ausência de recidiva da bolha enfisematosa o enfisema
pulmonar difuso continua a progredir de forma inexorável.
Do ponto de vista funcional houve melhora dos parâmetros espirométricos um
mês após a operação, quando comparados aos valores obtidos no pré-operatório.
Um ano após o procedimento, entretanto, parte dos doentes avaliados apresentava
alguma piora nos resultados funcionais, o que era da mesma forma esperado, pelos
motivos relatados anteriormente.
FitzPatrick et al (1957), Pride et al (1970) e Bilig (1976) descreveram
alterações pouco expressivas na função pulmonar após bulectomias. Weissberg
(1980) destaca que a significativa melhora clínica é, muitas vezes, incompatível com
os resultados funcionais observados após a ressecção de grandes bolhas. A
possível explicação para melhoras discretas após operações de bolhas seria o fato
dos testes funcionais refletirem com maior precisão a condição do parênquima não
bolhoso (Pride et al, 1973; Nakahara et al, 1983). Para outros autores os resultados
funcionais seriam diretamente proporcionais ao volume ocupado pela bolha e os
valores da CPT e VR, os parâmetros mais freqüentemente alterados pela presença
de lesões gigantes, persistiriam significativamente melhorados após a operação, por
pelo menos cinco anos (Nickoladze, 1992).
Discussão
73
A associação entre bolhas enfisematosas e enfisema pulmonar generalizado
é relacionada por muitos autores como fator de pior prognóstico pós-operatório
(Gunstensen e McCormack, 1973; FitzGerald et al,1974; Adeyemo et al, 1987;
Moser et al, 1993; Harris, 1996; Greenberg, 2003; Meyers e Patterson, 2003). Na
nossa experiência, porém, houve 35,5% de complicações em intervenções
realizadas em doentes sem enfisema concomitante e 42,6% de complicações nos
pacientes enfisematosos, diferença sem significância estatística. Esta análise sugere
que o enfisema pulmonar difuso não teve relação com as complicações pós-
operatórias. Por outro lado, todos os doentes mortos no período pós-operatório
precoce eram enfisematosos.
Quanto à maior incidência de complicações em doentes portadores de
múltiplas bolhas, como relatado por diversos autores (Monod, 1965; Gunstensen e
McCormack, 1973; Bariffi et al, 1980; Morgan et al, 1986) observamos, no nosso
estudo, incidências de morbidade quase idênticas, sendo 40,0% de complicações
nas bolhas únicas e 40,4% nas lesões múltiplas, sem significância estatística. Tais
resultados sugerem que o número de lesões bolhosas não teve relação com as
complicações pós-operatórias.
Observamos estreita relação entre complicações pós-operatórias e
antecedentes mórbidos, em especial, nos doentes que apresentavam história de
tuberculose pulmonar tratada, fator intimamente ligados à ocorrência de infecção e
fístula broncopleurocutânea, além de ausência de colapso em alguns casos de
drenagem de bolha. Evoluíram com complicações 88,2% dos doentes com histórico
de tuberculose. Doentes portadores de diabetes melito e cardiopatias apresentaram
complicações em 100% dos casos. Concluiu-se que houve associação
estatisticamente significante entre as complicações e os antecedentes mórbidos.
Babini (1952) relatou que a única morte em sua casuística de nove operações
ocorrera em doente com história de tuberculose. Gunstensen e McCormack (1973)
operaram dois doentes com antecedentes de tuberculose sendo que um desses
(50%) apresentou complicações infecciosas seguidas de morte dois meses após a
intervenção. Potgieter et al (1981) relataram que 9,5% dos seus doentes, operados
por bolhas gigantes na Cidade do Cabo, África do Sul, apresentavam histórico de
tuberculose pulmonar tratada, tendo havido empiema pós-operatório em 100%.
Discussão
74
Não houve significância estatística quanto à associação entre as variáveis
idade e complicações pós-operatórias. Entretanto, a tuberculose pode estar também
relacionada à elevada morbidade proporcionalmente observada nos doentes com
menos de 40 anos de idade. De fato, dos doentes com menos de 40 anos que
apresentaram complicações, 65% apresentavam histórico de tuberculose, enquanto
nas outras faixas etárias esta proporção foi de cerca de 40%.
Na nossa casuística 19 doentes (22,7%) apresentaram-se assintomáticos no
momento da indicação cirúrgica. Decidiu-se pela operação nesses pacientes em
razão do volume da bolha, que ocupou mais da metade de um hemitórax ou que
apresentou aumento volumétrico progressivo.
As indicações operatórias em indivíduos assintomáticos variam, na literatura,
de 7,1% a 36,1% (FitzGerald et al, 1974; Kuwabara et al, 1980; Yamaguchi et al,
1993; Giacomo et al, 1999; Baldi et al, 2001; Palla et al, 2005). Classicamente,
doentes assintomáticos têm indicação operatória quando as bolhas ocupam mais da
metade de um hemitórax ou aumentam progressivamente de volume, sendo que os
demais poderiam ser acompanhados periodicamente (Greenberg, 2003).
Tal postulado, porém, é controverso, uma vez que poucos estudos versam a
história natural das bolhas não tratadas. Boushy et al (1969) acompanharam dez
doentes durante dez anos e verificaram aumento do volume das bolhas em 100%
dos casos, constatando que lesões não operadas sempre tendem a aumentar de
volume. Ribet et al (1974) acompanharam um grupo de doentes casualmente
diagnosticados como portadores de bolhas pulmonares por um período médio de 39
meses, sendo que mais de 80% daqueles tornaram-se sintomáticos, necessitando
de tratamento cirúrgico.
Em muitos doentes assintomáticas bolhas enfisematosas poder-se-iam tornar
subitamente complicadas, potencialmente fatais, requerendo operações urgentes,
principalmente em virtude de pneumotórax, infecção da bolha ou pneumonia,
falência respiratória e cor pulmonale.
Ribet e Ghoch (1995) relataram 19,5% de bulectomias realizadas em regime
de urgência em razão de complicações agudas das bolhas, especialmente,
pneumotórax, sendo a mortalidade pós-operatória de 50% nesse grupo. Assim,
Discussão
75
presumindo-se que doentes em tais situações podem apresentar complicações,
necessitando de formas mais complexas e agressivas de tratamento, operações
preventivas poderiam ser indicadas. Outras indicações de operações profiláticas
relatadas foram a presença de bolhas gigantes em doentes que necessitam ser
submetidos a ventilação mecânica, devido ao risco de hiperinsuflação aguda em
conseqüência à pressão inspiratória positiva (Kuno el al, 1996; Safdar et al, 2004).
A incidência de carcinoma associado a bolhas pulmonares em algumas séries varia
de 2% a 6%, motivando indicações de operação profilática (Stoloff et al, 1971;
Tsuitsui et al, 1988; Ogawa et al, 1999; Hanaoka et al, 2002).
Tanaka et al (1993) referem 3% de pneumotórax espontâneo relacionado a
bolhas enfisematosas. Apesar de não ser tão freqüente quanto aquele secundário à
ruptura de blebs esta complicação é, usualmente, de extrema gravidade, uma vez
que o grupo de doentes enfisematosos tolera mal a ocorrência de pneumotórax,
mesmo de pequeno volume. Conforme relatado por Videm et al (1987) o
pneumotórax secundário a bolhas gigantes costuma ser acompanhado por fístula
broncopleural prolongada e elevada incidência de infecção pleuropulmonar.
Na nossa casuística três doentes (3,6%) apresentaram histórico de, pelo
menos, um episódio de pneumotórax espontâneo antes da indicação cirúrgica.
Outras complicações associadas à presença de bolhas enfisematosas gigantes,
como hemoptise e infecção não foram verificadas nesta casuística. Doentes
operados na vigência de complicações não foram incluídos no nosso estudo
precisamente pelos motivos acima relatados.
Infecções primárias verdadeiras acometendo bolhas enfisematosas são
raramente observadas e usualmente necessitam de tratamento operatório com
conseqüências freqüentemente graves. Em geral, porém, bolhas com presença de
nível hidroaéreo no seu interior, evidenciando conteúdo líquido constituem, na
realidade, reações inflamatórias à infecção pulmonar adjacente à bolha (FitzGerald
et al, 1974; Greenberg, 2003).
Rubin e Buchberg (1968) observaram que, após a resolução do quadro
infeccioso, a reabsorção espontânea do líquido pode ser associada a significativa
redução volumétrica da bolha ou mesmo à sua resolução, o que os autores
Discussão
76
denominaram autobulectomia. Fenômeno semelhante foi observado por Kischner et
al (1997). Com base nestas observações, pulverizamos talco esterilizado no interior
da bolha após a drenagem, com o objetivo de induzir um processo inflamatório
intenso em suas paredes e promover a conseqüente adesão. Caso este
procedimento não seja realizado existe a possibilidade de reinsuflação da bolha
após a retirada do dreno.
Venn et al (1988) já preconizavam a pulverização de talco no interior das
bolhas gigantes, com o objetivo de induzir o seu colapso definitivo. Outros autores
preconiram a utilização de substâncias como OK-432 (Uyama et al, 1988) ou cola de
fibrina, aplicada no interior da bolha com broncofibroscópio (Oizumi et al, 1990;
Verma et al, 1991; Takizawa et al, 2004) todas com a mesma finalidade.
A aderência provocada pelo talco é extremamente eficiente, como pudemos
comprovar em um caso de doente reoperado cinco anos após a drenagem de bolha,
em virtude do aparecimento de outra bolha, no mesmo hemitórax, inicialmente
interpretado como provável reinsuflação da lesão anteriormente drenada.
Entretanto, durante a segunda intervenção, agora, uma toracotomia, foi
detectado no interior da cavidade torácica um tumor de cinco centímetros de
diâmetro no ápice pulmonar, de consistência bastante endurecida, além de firmes
aderências pleurais. O exame anatomopatológico revelou tratar-se, na realidade, de
processo inflamatório crônico granulomatoso com reação do tipo corpo estranho na
pleura, com áreas de fibrose e material birrefringente no interior, correspondente à bolha
anteriormente drenada e talcada (Fig.21).
Discussão
77
1- Folhetos pleurais delimitando espaço contendo grânulos birrefringentes 2- Pleura espessada, com fibrose e reatividade mesotelial
3- Detalhe de granuloma com células gigantes multinucleadas 4- Corpo estranho birrefringente (talco) em meio à reação granulomatosa
Fonte: Departamento de Ciências Patológicas – Santa Casa de São Paulo
FIGURA 21. Exame anatomopatológico de bolha drenada e talcada havia cinco anos.
Discussão
78
Este doente evoluiu de forma bastante satisfatória após a segunda
intervenção, porém, um exame tomográfico realizado um ano após mostrou a
presença de pequenas bolhas bilaterais, inexistentes nos exames anteriores, motivo
pelo qual estamos realizando investigação das prováveis etiologias da doença neste
caso.
Em relação ao seguimento pós-operatório tardio dos pacientes, foi possível
analisar os prontuários de 60 doentes submetidos aos quatro tipos de procedimentos
operatórios. Não ocorreu recidiva da doença bolhosa em nenhum doente. Dois dos
60 doentes (3,3%) morreram dentro do período de um ano após as operações,
ambas as mortes atribuídas à insuficiência respiratória. Cinco doentes (8,3%)
morreram no período de um a três anos após a respectiva intervenção, sendo duas
mortes atribuídas à insuficiência respiratória, uma a complicações cardíacas, uma a
câncer de esôfago e uma, a adenocarcinoma pulmonar cujo diagnóstico havia sido
firmado simultaneamente à doença bolhosa.
Quatro pacientes (6,7%) morreram no período de três a cinco anos pós-
operatório, sendo três mortes atribuídas à insuficiência respiratória e uma, a
complicações cardíacas. De modo geral, cinco anos após a operação 11 dos 60
doentes haviam morrido sendo a mortalidade nesse período, de 18,3%. Na literatura
a mortalidade em 5 anos varia de 11% a 43% (Wesley et al,1972; Gunstensen e
McCormack, 1973; Fitzgerald et al, 1974; Schipper et al, 2004; Palla et al, 2005).
No nosso levantamento identificamos, ainda, quatro doentes mortos
tardiamente. Uma morte foi conseqüente a neoplasia maligna de laringe, uma
resultante de insuficiência respiratória, uma devida a neoplasia de pulmão e outra,
em decorrência de infarto agudo do miocárdio, respectivamente, cinco anos e meio,
oito anos, 11 anos e 12 anos após a operação.
Neste estudo foi também elaborada uma estimativa do custo médio de cada
modalidade de operação realizada, tendo sido analisadas apenas intervenções sem
complicações pós-operatórias.
Foram considerados os valores de taxa de sala cirúrgica, taxa de
equipamento de videocirurgia, taxa de sala de recuperação pós-anestésica,
materiais e medicamentos, incluindo-se pericárdio bovino, sondas traqueais de duplo
Discussão
79
lúmen, grampeadores mecânicos e respectivas cargas extras de grampos. Nos
procedimentos videocirúrgicos, com exceção dos grampeadores nenhum outro
instrumental relacionado foi do tipo descartável.
Para efeito de cálculo foram obtidos os preços médios dos grampeadores
Proximate Linear Cutter TLC 75® e Endoscopic Linear Cutter ENDOPATH EZ45®,
marca Ethicon Endo-Surgery e da Membrana de Pericárdio Bovino®, marca
Biocárdio, produtos mais freqüentemente disponíveis no hospital central da Santa
Casa de São Paulo. Não foram considerados os valores de diárias hospitalares.
Assim, os custos estimados seriam os demonstrados na TABELA 19.
TABELA 19. Estimativa de custos, por tipo de operação.
Custo Médio por Tipo de Operação, em R$ ITEM Bulectomia
por toracotomia
Bulectomia por CTVA
Drenagem de bolha por
CTVA
Drenagem de bolha com
anestesia local
Operação básica * 907,60 608,91 636,42 361,70
Sonda Traqueal de duplo lúmen 193,43 193,43 193,43 0,00
Grampeador convencional 910,00 0,00 0,00 0,00
Carga extra - Grampeador convencional 286,84 0,00 0,00 0,00
Grampeador endocirúrgico 0,00 2247,15 0,00 0,00
Carga extra - Grampeador endocirúrgico 0,00 946,25 0,00 0,00
Pericárdio bovino 113,00 113,00 0,00 0,00
TOTAL ** 2124,03 3162,49 829,85 361,70
Fonte: Depto. de Cirurgia – Santa Casa de São Paulo
* taxas de sala e RPA, equipamento de videocirurgia, materiais e medicamentos
** não somados valores de cargas extras de grampos
Discussão
80
O grupo de doentes submetidos à drenagem de bolha com anestesia local
seria o de menor custo básico, seguido pela bulectomia por CTVA, drenagem de
bolha por CTVA e bulectomia por toracotomia. Quando se utilizam grampeadores
mecânicos e pericárdio bovino os menores custos permanecem no grupo de doentes
submetidos à drenagem de bolha com anestesia local, entretanto, os valores da
bulectomia por toracotomia e, principalmente, da bulectomia por CTVA aumentam
consideravelmente.
Tais valores seriam, obviamente, aumentados na medida em que se
necessitasse da utilização de cargas extras de grampos. O maior tempo de
internação hospitalar, bem como as complicações, especialmente se houvesse
necessidade de internação em unidade de terapia intensiva, também guardariam
relação diretamente proporcional ao aumento dos custos operatórios. A necessidade
de utilização de ventiladores mecânicos, equipe multidisciplinar, antibióticos, drogas
vasoativas, bem como equipamentos de monitorização podem elevar os custos a
valores absolutamente imprevisíveis.
Em relação à análise comparativa entre os grupos A e B, verificou-se grande
semelhança entre as características dos doentes, que diferiram apenas quanto à
média etária, sendo mais idosos os do grupo B. Quanto ao gênero houve
predominância masculina mais acentuada no grupo B. Em ambas as situações
houve significância estatística.
Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos em relação
ao número de bolhas, à coexistência de enfisema pulmonar difuso e aos
antecedentes mórbidos,
O período médio de internação dos doentes foi menor no grupo B, diferença
com significância estatística. Os mesmos resultados foram obtidos quando analisado
apenas o tempo de internação dos doentes que apresentaram complicações pós-
operatórias. Quando se analisam as internações por época, verifica-se que a
duração média de internação nos dois grupos vem caindo ao longo do tempo. Nos
dias atuais, encontra-se em 9,8 dias grupo B, porém, estabilizada ao redor de 12,5
dias no grupo A desde o início da década de 90.
Discussão
81
Quanto à morbidade, houve evidência de diferença entre as distribuições de
probabilidades nos dois grupos em relação às variáveis Incidência de Complicações
e Tipo de Complicação. A incidência de complicações foi de 42,9% no grupo A e de
25,8% no grupo B, diferença estatisticamente significante.
Houve, igualmente, evidência de diferença, no nível de significância
estabelecido, entre as distribuições de probabilidade dos grupos A e B em relação à
variável Tipo de Complicação. Tal diferença deveu-se às complicações Fístula
broncopleurocutânea, Insuficiência respiratória e Enfisema de subcutâneo, de
incidência zero no grupo B, porém, ocorridas no grupo A, respectivamente, em
12,2%, 8,2% e 6,1% das operações.
As complicações Empiema pleural, Pneumonia, Complicações cardíacas e
Outras, não obstante, apresentaram ocorrências muito semelhantes nos grupos A e
B (Tab. 12, pág. 56).
Tais resultados permitem inferir, pela análise estatística realizada, que a
modalidade operatória empregada no tratamento das bolhas enfisematosas guardou
relação direta com a ocorrência de complicações pós-operatórias, que foram mais
freqüentes e de maior gravidade no grupo A.
No grupo B nenhum doente necessitou de internação em unidade de terapia
intensiva ou de ventilação pulmonar mecânica. Os doentes que apresentaram
empiema puderam ser tratados em casa, por meio de drenagem pleural aberta.
Por outro lado, quatro pacientes do grupo A apresentaram insuficiência
respiratória após o término da operação e não puderam ser extubados,
permanecendo internados na terapia intensiva sob ventilação pulmonar mecânica
em média, por 21,3 dias. Dois doentes que cursaram com pneumonia pós-operatória
neste grupo também necessitaram de ventilação pulmonar mecânica.
Poder-se-ia presumir, eventualmente, que a diferença verificada entre os
grupos em relação às complicações pós-operatórias seria atribuída a uma hipotética
heterogeneidade entre os doentes, na qual aqueles do grupo A seriam de maior
gravidade clínica que os do grupo B, estes, supostamente selecionados com maior
cuidado, daí a menor taxa de complicações.
Discussão
82
Entretanto, não é o que demonstra a análise das características populacionais
dos dois grupos. Ao contrário, esta análise demonstrou serem os dois grupos muito
semelhantes no que diz respeito ao número de bolhas, coexistência de enfisema
pulmonar difuso e antecedentes mórbidos, sendo que não houve diferença
estatisticamente significante em nenhuma destas variáveis.
Apesar da mortalidade pós-operatória precoce ter sido de 8,2% no grupo A
(quatro mortes em 49 operações) e zero no grupo B, não houve diferença entre as
distribuições de probabilidades entre os grupos para esta variável, não tendo havido,
assim, significância estatística.
Nos grupos A e B os resultados tardios foram bastante semelhantes. A
melhora clínica foi relatada no primeiro ano pós-operatório por 93,5% dos doentes
previamente sintomáticos do grupo A e por 95,8% dos pacientes sintomáticos do
grupo B, diferença sem significância estatística.
Os exames funcionais revelam resultados bastante semelhantes e sem
diferença estatisticamente significante, quando comparados os parâmetros
espirométricos pré e pós-operatórios dos dois grupos. A mortalidade em cinco anos
foi de 19,4% no grupo A e 16,7% no grupo B, diferença igualmente sem significância
estatística.
Não houve recidiva das bolhas em nenhum dos dois grupos e os aspectos
radiográficos, passados poucos meses da operação, são também muito
semelhantes nas duas modalidades de tratamento, conforme exemplificados nas
Figs. 22 e 23.
Discussão
83
Pré-operatório (grupo A)
PO 14 meses (grupo A)
Fonte: Depto. de Radiologia – Santa Casa de São Paulo
FIGURA 22. Exames radiográficos pré e pós-operatórios de doente do grupo A.
Discussão
84
Pré-operatório (grupo B)
PO 10 meses (grupo B)
Fonte: Depto. de Radiologia – Santa Casa de São Paulo
FIGURA 23. Exames radiográficos pré e pós-operatórios de doente do grupo B.
Discussão
85
O tratamento das bolhas enfisematosas gigantes na Santa Casa de São
Paulo, iniciado com o Prof. Dr. Nairo França Trench, tem 50 anos de história.
Conforme ilustrado nas Figs. 17 e 18 (pág 52-53) a técnica operatória clássica, a
bulectomia por toracotomia consistia da totalidade das operações realizadas até o
final dos anos 80, época em que a morbidade chegava a quase 50% e a mortalidade
Discussão
86
nesses estabelecimentos. Esperamos que o trabalho hora apresentado cumpra
adequadamente este papel.
Futuramente novos estudos serão realizados na disciplina de cirurgia torácica
da Santa Casa de São Paulo. Há que se investigar detalhadamente os fatores
relacionados ao não colabamento de bolhas após a drenagem. É provável que a
tuberculose prévia não seja o único elemento relacionado, uma vez que outras
doenças foram também apontadas como prováveis causas.
Continuaremos nesta linha de pesquisa e estudamos a possibilidade de
realizar a marsupialização da bolha sob anestesia local, dispensando a necessidade
de introdução de drenos no interior da bolha, constituindo assim uma quinta fase do
tratamento operatório das bolhas enfisematosas gigantes.
Conclusões
88
1. Na fase inicial a totalidade dos doentes foi submetida a bulectomia por
toracotomia. Paulatinamente, porém, outras modalidades operatórias foram
realizadas. Passamos pela bulectomia videotoracoscópica, pela drenagem de
bolha por CTVA e, finalmente, pela drenagem de bolha com anestesia local e
talcagem, o método que preferencialmente realizamos nos dias atuais para tratar
bolhas enfisematosas gigantes.
2. A drenagem de bolha com anestesia local e talcagem revelou-se melhor que a
bulectomia por toracotomia por apresentar menor tempo de internação, menor
incidência de complicações e nenhuma mortalidade péri-operatória, podendo ser
considerada o método de escolha inicial no tratamento.
Anexos
90
ANEXO 1.
Escala Modificada de Dispnéia - Medical Research Council of Great Britain
Grau
de dipnéia
Características Clínicas
0 Sem falta de ar, exceto durante atividade física intensa
1 Dispnéia ao caminhar em leve aclive ou correr no plano
2 Dispnéia ao caminhar no plano, no mesmo passo de pessoas da mesma idade
3 Dispnéia ao caminhar 100 jardas (91,4 metros) ininterruptamente, no plano
4 Dispnéia ao trocar de roupa ou ao banhar-se
Anexos
91
ANEXO 2 Resultados funcionais pré e pós-operatórios - grupos A e B
Variável Grupo n Média Desvio padrão
A 37 65,78 12,32 CVF - Pré-operatório (% predito)
B 24 66,85 11,02
A 23 70,21 10,87 CVF - PO 1 ano (% predito)
B 18 69,88 11,45
A 37 41,00 13,66 VEF1 - Pré-operatório (% predito)
B 24 42,35 14,25
A 23 58,74 13,76 VEF1 - PO 1 ano (% predito)
B 18 58,45 12,23
A 37 54,50 15,87 VEF1/CVF - Pré-operatório (%)
B 24 58,67 13,33
A 23 59,54 14,59 VEF1/CVF - PO1 ano (%)
B 18 61,12 15,05
A 37 115,25 22,86 CRF - Pré-operatório (% predito)
B 24 110,50 20,57
A 23 103,58 19,93 CRF - PO 1 ano (% predito)
B 18 102,78 20,11
A 37 162,00 20,02 RV - Pré-operatório (% predito)
B 24 168,72 21,55
A 23 135,65 19,87 RV - PO 1 ano (% predito)
B 18 134,26 19,54
A 37 82,30 10,12 PO2 - Pré-operatório (mmHg)
B 24 78,65 9,94
A 23 85,26 11,08 PO2 - PO1 ano (mmHg)
B 18 86,55 10,54
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Resumo
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Botter, Marcio. Tratamento operatório das bolhas enfisematosas gigantes na Santa Casa de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo 2006.
Bolhas pulmonares enfisematosas geralmente cursam com dispnéia de grau variado de intensidade. Mesmo em pacientes assintomáticos a indicação cirúrgica se impõe nas lesões que ocupam volume superior à metade de um hemitórax, em virtude do risco associado de potenciais complicações. Diversos são os métodos classicamente relatados para tratamento operatório destas lesões destacando-se a bulectomia por toracotomia e a ressecção videotoracoscópica. Estas técnicas, entretanto requerem anestesia geral e sutura em um pulmão doente e, apesar da evolução técnica e material ocorrida na área médica nos últimos anos, ainda cursam com morbidade e mortalidade elevadas. Estes fatos nos motivaram a procurar uma maneira tão eficaz, porém mais simples e segura de tratar as bolhas enfisematosas gigantes. A partir de 1996 reeditamos com modificações, no Departamento de Cirurgia da FCM Santa Casa de São Paulo, a técnica de drenagem cavitária descrita por Monaldi, em 1938. Tal procedimento, realizado inicialmente por videotoracoscopia, transformou-se com o tempo em uma simples drenagem, passando a ser efetuada com anestesia local e pequena incisão torácica, sem ressecção nem sutura pulmonar. Os objetivos deste trabalho foram: 1- descrever a história do tratamento das bolhas pulmonares na Santa casa de São Paulo e 2- comparar os resultados da bulectomia por toracotomia (grupo A) à técnica de drenagem de bolha com anestesia local (grupo B) quanto ao tempo de internação, morbidade, mortalidade peri-operatória e evolução tardia. Para tanto avaliamos, retrospectivamente, 83 doentes submetidos a quatro modalidades operatórias: bulectomia por toracotomia, bulectomia por CTVA, drenagem de bolha por CTVA e drenagem de bolha com anestesia local, totalizando 92 operações. A análise estatística dos dados coletados mostrou morbidade global de 40,2% e mortalidade pós-operatória precoce de 4,3%. A evolução tardia foi bastante satisfatória com melhora da sintomatologia e dos resultados funcionais em 94,5% dos doentes. A comparação entre grupos demonstrou menor tempo de internação e menor incidência de complicações no grupo B, diferenças estatisticamente significantes. A mortalidade pós-operatória precoce foi de 8,2% no grupo A e zero no grupo B. Em quatro doentes do grupo B (12%) não ocorreu colapso total da bolha após a drenagem. Não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos em relação aos parâmetros de evolução tardia. Concluímos que diversas modalidades operatórias foram realizadas para tratar bolhas pulmonares enfisematosas na Santa Casa de São Paulo, desde a bulectomia por toracotomia, na fase inicial até a drenagem de bolha com anestesia local e talcagem, o método que preferencialmente realizamos nos dias atuais. A drenagem de bolha com anestesia local, devido à menor incidência de complicações e por ser isenta de mortalidade pode ser o procedimento de escolha para tratamento desta doença. Em caso de falha terapêutica os demais métodos podem ser realizados, alternativamente.
Abstract
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Botter, Marcio. Surgical Treatment of Giant Emphysematous Bullae at Santa Casa de São Paulo. Thesis. São Paulo, 2006.
Emphysematous lung bullae usually take place with a varying intensity degree. Even on asymptomatic patients, the surgical indication imposes on the lesions which occupy a volume larger than half a hemi-thorax, due to the associated potential complications risk. Several methods are classically reported for the surgical treatment of such lesions, specially, the thoracoscopic bullectomy and the videothoracoscopic resection. These techniques, however, require general anesthesia and suture on a sick lung and, despite the technical and material development, which took place in the medical field over the past years, they still happen with high morbidity and mortality. These facts motivated us to look for an effective however more simple and safe way to treat giant emphysematous bullae. Starting on 1996, we revisited, with a few changes, on the FCM Santa Casa de São Paulo Surgery Department, the cavitary drainage technique described by Monaldi, in 1938. Such procedure, initially performed through videothoracoscopy, has turned, over time, into a simple drainage, which started to be performed with local anesthesia and a small thoracic incision, with no resection or lung suture. The purposes of this work were: 1- describing the history of the lung bullae treatment at Santa Casa de São Paulo and 2- comparing the thoracoscopic bullectomy results (group A) to the bullae drainage with local anesthesia technique (group B) as to hospitalization time, morbidity, perioperatory mortality and late evolution. To accomplish that, we evaluated 83 sick patients submitted to four surgical modalities: thoracoscopic bullectomy, VATS bullectomy, VATS bullae drainage and bullae drainage with local anesthesia, totaling 92 procedures. The statistical analysis of the data collected showed a 40,2% global mortality and 4.3% early postoperative mortality. The late evolution was greatly satisfactory with the symptoms improvement and functional results in 94,5% of the patients. The comparison among the groups has showed a reduced hospitalization period and smaller incidence of complications on group B, with statically significant difference between the two groups . In four patients of group B (12%) there was no complete collapse of the bullae after the drainage. There was no statically significant difference between the two groups regarding the late evolution parameters. We have concluded that several surgical modalities were performed to treat the emphysematous lung bullae at Santa Casa de São Paulo, from bullectomy to thoracotomy, on the initial phase until the drainage of the bullae with local anesthesia and talc powdering, the currently preferred method. The bullae drainage with local anesthesia, due to smaller incidence of complications and because it presents no mortality, could be the procedure of choice for the treatment of this disease. In the event of therapeutic failure, the other methods may be performed, alternatively.
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