trabalho sobre a miséria do mundo de pierre bourdieu - uma análise metodológica do texto a...

8
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS DISCIPLINA DE SEMINÁRIO TEMÁTICO I DOCENTE: PROFª. LORE FORTES DISCENTE: RUAN FERNANDES DA SILVA TRABALHO SOBRE O LIVRO A MISÉRIA DO MUNDO: uma análise metodológica do texto A violência na instituição 1. A ENTREVISTA Quanto à formulação das questões o pesquisador deve ter cuidado para não elaborar perguntas absurdas, arbitrárias, ambíguas, deslocadas ou tendenciosas. As perguntas devem ser feitas levando em conta a sequência do pensamento do pesquisado, ou seja, procurando dar continuidade na conversação, conduzindo a entrevista com um certo sentido lógico para o entrevistado. Para se obter uma narrativa natural muitas vezes não é interessante fazer uma pergunta direta, mas sim fazer com que o pesquisado relembre parte de sua vida. Para tanto o pesquisador pode muito bem ir suscitando a memória do pesquisado (BOURDIEU, 1999). Ao seguir as orientações de Bourdieu os pesquisadores desenvolveram: o A aplicação das questões acompanha um roteiro narrativo desenvolvido pelo próprio entrevistado em seu relato; o As questões procuram pontuar temáticas abordadas no decorrer do relato;

Upload: ruan-fernandes-da-silva

Post on 17-Sep-2015

5 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Trabalho de análise metodológica sobre o texto "A instituição da Violência" no livro "A miséria do mundo" de Pirre Bourdie.

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECURSO DE DOUTORADO EM CINCIAS SOCIAISDISCIPLINA DE SEMINRIO TEMTICO IDOCENTE: PROF. LORE FORTESDISCENTE: RUAN FERNANDES DA SILVA

TRABALHO SOBRE O LIVRO A MISRIA DO MUNDO: uma anlise metodolgica do texto A violncia na instituio

1. A ENTREVISTA

Quanto formulao das questes o pesquisador deve ter cuidado para no elaborar perguntas absurdas, arbitrrias, ambguas, deslocadas ou tendenciosas. As perguntas devem ser feitas levando em conta a sequncia do pensamento do pesquisado, ou seja, procurando dar continuidade na conversao, conduzindo a entrevista com um certo sentido lgico para o entrevistado. Para se obter uma narrativa natural muitas vezes no interessante fazer uma pergunta direta, mas sim fazer com que o pesquisado relembre parte de sua vida. Para tanto o pesquisador pode muito bem ir suscitando a memria do pesquisado (BOURDIEU, 1999). Ao seguir as orientaes de Bourdieu os pesquisadores desenvolveram: A aplicao das questes acompanha um roteiro narrativo desenvolvido pelo prprio entrevistado em seu relato; As questes procuram pontuar temticas abordadas no decorrer do relato; O entrevistador tenta guiar o entrevistado para a identificao dos esteritipos da violncia caracterizada nos jovens e alunos do colgio O entrevistado repetiu vrias vezes a expresso no final de algumas declaraes: ... mas eu no estou me queixando, mas sim apenas contando para vocs. Uma preocupao no mnimo estranha diante de suas confidncias. Questionrio apresentado como um instrumento metodolgico de HISTRIA DA VIDA; O entrevistador chega a questionar o entrevistado com uma afirmao contundente: Duvido que se encontre uma soluo precisamente de ordem social....

2. A ESCOLHA DO MTODO

Em primeiro lugar Bourdieu (1999) indica que a escolha do mtodo no deve ser rgida mas sim rigorosa, ou seja, o pesquisador no necessita seguir um mtodo s com rigidez, mas qualquer mtodo ou conjunto de mtodos que forem utilizados devem ser aplicados com rigor.

3. A ESCOLHA DAS PESSOAS PARA A PESQUISA

Para se obter uma boa pesquisa necessrio escolher as pessoas que sero investigadas, sendo que, na medida do possvel estas pessoas sejam j conhecidas pelo pesquisador ou apresentadas a ele por outras pessoas da relao da investigada. Dessa forma, quando existe uma certa familiaridade ou proximidade social entre pesquisador e pesquisado as pessoas ficam mais vontade e se sentem mais seguras para colaborar.

4. FALAR A MESMA LNGUA DO ENTREVISTADO

O autor aconselha, na medida do possvel, falar a mesma lngua do pesquisado, ou seja, o pesquisador deve descer do pedestal cultural e deixar de lado momentaneamente seu capital cultural para que ambos, pesquisador e pesquisado possam se entender. Se isso no acontecer provavelmente o pesquisado se sentir constrangido e a relao entre ambos se tornar difcil. O pesquisador deve fazer tudo para diminuir a violncia simblica que exercida atravs dele mesmo.

5. A LINGUAGEM DOS SINAIS

Durante a entrevista o pesquisador precisa estar sempre pronto a enviar sinais de entendimento e de estmulo, com gestos, acenos de cabea, olhares e tambm sinais verbais como de agradecimento, de incentivo. Isto ir facilitar muito essa troca, essa relao. O pesquisado deve notar que o pesquisador est atento escutando a sua narrativa e ele deve procurar intervir o mnimo possvel para no quebrar a seqncia de pensamento do entrevistado.A entrevista deve proporcionar ao pesquisado bem-estar para que ele possa falar sem constrangimento de sua vida e de seus problemas e quando isso ocorre surgem discursos extraordinrios. Bourdieu (1999) cita que os pesquisados mais carentes geralmente aproveitam essa situao para se fazer ouvir, levar para os outros sua experincia e muitas vezes at uma ocasio para eles se explicarem, isto , construrem seu prprio ponto de vista sobre eles mesmos e sobre o mundo. Por vezes esses discursos so densos, intensos e dolorosos e do um certo alvio ao pesquisado. Alvio por falar e ao mesmo tempo refletir sobre um assunto que talvez os reprimam. Neste caso pode-se at dizer que seja uma auto-anlise provocada e acompanhada.O pesquisador deve levar em conta que no momento da entrevista ele estar convivendo com sentimentos, afetos pessoais, fragilidades, por isso todo respeito pessoa pesquisada. O pesquisador no pode esquecer que cada um dos pesquisados faz parte de uma singularidade, cada um deles tm uma histria de vida diferente, tm uma existncia singular. Portanto nada de distrao durante a entrevista, precisa-se estar atento e atencioso com o informante. Alm disso, ao realizar o relatrio da pesquisa dever do pesquisador se esforar ao mximo para situar o leitor de que lugar o entrevistado fala, qual o seu espao social, sua condio social e quais os condicionamentos dos quais o pesquisado o produto. Tem que ficar claro para o leitor a tomada de posio do pesquisado.

6. O RECONHECIMENTO DAS ESTRUTURAS INVISVEIS

Durante todo o processo da pesquisa o pesquisador ter que ler nas entrelinhas, ou seja, ele tem que ser capaz de reconhecer as estruturas invisveis que organizam o discurso do entrevistado. Dessa forma, durante a entrevista o pesquisador precisa estar alerta pois, o pesquisado pode tentar impor sua definio de situao de forma consciente ou inconsciente. Ele tambm poder tentar passar uma imagem diferente dele mesmo.

7. ADAPTABILIDADE AO PERSONAGEM IDEAL DE ENTREVISTADOR PERANTE O ENTREVISTADO

A presena do gravador, como instrumento de pesquisa, em alguns casos pode causar inibio, constrangimento, aos entrevistados. Em outros casos o pesquisado poder assumir um papel que no o seu, assumir um personagem que nada tem a ver com ele, ou seja, ele pode incorporar o personagem que ele acha que o pesquisador quer ouvir. Sendo assim, consciente ou inconscientemente o pesquisado estar tentando enganar o pesquisador.Em relao atuao ou postura do entrevistador no momento da entrevista este no deve ser nem muito austero nem muito efusivo, nem falante demais, nem demasiadamente tmido. O ideal deixar o informante vontade, a fim de que no se sinta constrangido e possa falar livremente.Uma entrevista bem sucedida depende muito do domnio do entrevistador sobre as questes previstas no roteiro. O conhecimento ou familiaridade com o tema evitar confuses e atrapalhos por parte do entrevistador, alm disso, perguntas claras favorecem respostas tambm claras e que respondem aos objetivos da investigao.

8. A TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS

Bourdieu (1999) tambm aponta algumas sugestes para com a transcrio da entrevista que parte integrante da metodologia do trabalho de pesquisa. Uma transcrio de entrevista no s aquele ato mecnico de passar para o papel o discurso gravado do informante pois, de alguma forma o pesquisador tem que apresentar os silncios, os gestos, os risos, a entonao de voz do informante durante a entrevista. Esses sentimentos que no passam pela fita do gravador so muito importantes na hora da anlise, eles mostram muita coisa do informante. O pesquisador tem o dever de ser fiel, ter fidelidade quando transcrever tudo o que o pesquisado falou e sentiu durante a entrevista.

8.1. A LEGIBILIDADE DAS FRASES TRANSCRITAS PARA O TEXTO FINAL

O autor tambm considera como dever do pesquisador a legibilidade, ou seja, aliviar o texto de certas frases confusas de redundncias verbais ou tiques de linguagem (n, bom, pois , etc). Este autor tambm considera como um dever do pesquisador tomar o cuidado de nunca trocar uma palavra por outra, nem mesmo mudar a ordem das perguntas. Portanto considera-se ideal que o prprio pesquisador faa a transcrio da entrevista.Na viso de Bourdieu (1999), o socilogo deve fazer s vezes do parteiro, na maneira como ele ajuda o pesquisado a dar o seu depoimento, deixar o pesquisado se livrar da sua verdade. Este autor considera que a entrevista um exerccio espiritual, uma forma do pesquisador acolher os problemas do pesquisado como se fossem seus. olhar o outro e se colocar no lugar do outro. Portanto o socilogo deve ser rigoroso quanto ao seu ponto de vista, que no deixa de ser um ponto de vista de um outro ponto de vista, o do entrevistado.Goldenberg (1997) assinala que para se realizar uma entrevista bem sucedida necessrio criar uma atmosfera amistosa e de confiana, no discordar das opinies do entrevistado, tentar ser o mais neutro possvel. Acima de tudo, a confiana passada ao entrevistado fundamental para o xito no trabalho de campo. Alm disso, existe um cdigo de tica do socilogo que deve ser respeitado.

9. PESQUISADORES OCASIONAIS

Em algumas pesquisas so utilizados os pesquisadores ocasionais. So pessoas instrudas com tcnicas de pesquisa e que tm acesso a certo grupo que se deseja pesquisar, essas pessoas devem ter uma certa familiaridade com o grupo. Esta estratgia pode ser utilizada, mas com cuidado pois, os pesquisadores ocasionais podem deixar de fornecer instrumentos mais precisos para posterior anlise. Portanto, na medida do possvel, o prprio pesquisador deve fazer a entrevista, afinal, ele que melhor sabe o que est procurando.

10. Referncias Bibliogrficas

BOURDIEU, Pierre. A misria do mundo. Traduo de Mateus S. Soares. 3a edio. Petrpolis: Vozes, 1999.

MONTAGNER, Miguel. (2007), Trajetrias e biografias: notas para uma anlise bourdieusiana. Sociologias, ano 9, n. 17, pp. 240-264, jan./jun