trabalho de toxicologia - intoxicação por hidrocarbonetos em aves -
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UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – UNIPAC –
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
TRABALHO DE TOXICOLOGIA
– INTOXICAÇÃO POR HIDROCARBONETOS EM AVES –
Grupo: Nº de Matrícula:
Marylin Janypher de Souza Arleu 121-023521
Vanessa Esperandiu Machado 111-004252
Williane Oliveira Pinto 112-013111
Professor:
Bruno Zambelli Loiacono
JUIZ DE FORA
2013
TRABALHO DE TOXICOLOGIA
– INTOXICAÇÃO POR HIDROCARBONETOS EM AVES –
1. INTRODUÇÃO
As aves mantidas em cativeiro são susceptíveis a intoxicações que podem ocorrer por
inalação, ingestão ou absorção percutânea de substâncias tóxicas, como também pela sobredose de
medicamentos. Elas são mais sensíveis às intoxicações quando comparadas com outros animais,
porque apresentam características morfofisiológicas que favorecem as intoxicações. Principalmente
quando são pequenas, pois mesmo a inalação ou ingestão de baixas concentrações de agentes
tóxicos, são altamente prejudiciais ao pequeno organismo, em especial os psitacídeos, que são
bastante propensos a intoxicações por serem ativos e curiosos.
As intoxicações mais comuns são por inseticidas, herbicidas, metais pesados, plantas
tóxicas, fármacos, vitaminas e micotoxinas. A intoxicação por Hidrocarbonetos são comuns em
aves marinhas, devido aos derramamentos de petróleo e seus derivados na água do mar.
Toda a arte da terapia homeopática consiste na aplicação da lei dos semelhantes na clínica
veterinária. É necessário o conhecimento de uma semiologia clássica, além de buscar os sintomas
característicos do doente. O medicamento homeopático será escolhido após recolher os sintomas do
paciente, valorizando os sintomas peculiares e avaliar o que se deve curar, para, então, estabelecer
um plano terapêutico. A lei de similitude também poderá ser utilizada no quadro de intoxicações
por quaisquer substâncias.
Este trabalho tem como objetivo relatar a intoxicação por Hidrocarbonetos em aves, através
do relato de caso de uma ave da espécie Aratinga aurea (Periquito-rei) que caiu em um balde
contendo Óleo Diesel (Figura 1).
2. EPIDEMIOLOGIA
A intoxicação de aves marinhas por derivados do petróleo é muito comum nos dias de hoje,
visto que acidentes de derramamento dessas substâncias no mar acontecem com certa frequência.
Sendo assim, aves de qualquer idade podem ser susceptíveis a sofrerem tais intoxicações.
Entre as águas mais gravemente poluídas com tais substâncias, destacam-se as do Mar
Mediterrâneo (também, por isso, designado a "fossa da Europa"), atravessado por milhares de
petroleiros, as do Mar do Norte, o Canal da Mancha e os mares próximos do Japão. Calcula-se que
na Grã-Bretanha o número de aves vítimas de intoxicação por Hidrocarbonetos seja de 250.000 por
ano. Mas a intoxicação também pode ocorrer por contato e/ou ingestão acidental, independente do
animal acometido, visto que derivados do petróleo são substâncias encontradas facilmente em
determinados locais, devido ao seu uso doméstico e comercial (combustíveis, solventes, plástico,
cera, óleos, etc.).
Neste trabalho, temos como objetivo relatar a intoxicação de uma ave que foi encaminhada
ao Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), uma ave da espécie Aratinga aurea, conhecida como
Periquito-rei. Essa ave é uma ave psitaciforme, adulta, sem sexo definido, que habita em ambiente
doméstico, sendo que a maior parte do tempo vive solta, alimenta-se de sementes, com histórico de
contato percutâneo e ingestão de Óleo Diesel, um derivado de petróleo, formado principalmente por
cadeias de Hidrocarbonetos.
3. PATOGENIA
Os Hidrocarbonetos são compostos orgânicos presentes na estrutura química do petróleo e
seus derivados, como o Óleo Diesel. São altamente lipossolúveis, e por isso, são rapidamente
absorvidos pelos pulmões, intestinos e pele, alcançando elevadas concentrações plasmáticas e
chegando rapidamente ao cérebro e tecidos adiposos. Sendo assim, os sistemas atingidos pela
toxicidade dos Hidrocarbonetos são o sistema respiratório, o sistema nervoso central (SNC), o
sistema gastrointestinal (TGI), e também a pele e os pêlos. Os Hidrocarbonetos possuem então,
duas ações no organismo, a ação mecânica e a ação tóxica:
Ação Mecânica: Obstrução das vias respiratórias, impedindo as trocas gasosas e
dificultando a respiração; Diminuição da capacidade locomotora; Diminuição das capacidades
sensitivas; Hipotermia pela ação viscoso-aderente dos óleos nos termorreguladores (penas, derme,
pêlos, etc.); Desidratação por comprometimento do trato digestivo.
Ação Tóxica: Hipotermia devido à modificação metabólica; Espasmos e diarreia pela
ingestão de óleos; Pneumonias pelo comprometimento do aparelho respiratório pela inalação dos
gases, somados a hipotermia; Edemas pulmonares devido à inalação de gases; Anemias
consequentes de hemorragias que ocorrem tanto pela perda de sangue pela pele, bem como pelos
tratos gastrointestinais e respiratórios decorrentes das intoxicações, espasmos e ruptura de vasos
internos.
4. SINAIS CLÍNICOS
Devido a sua ação mecânica e tóxica, os Hidrocarbonetos podem causar: tosse, dificuldade
respiratória, pneumonia, edema pulmonar; confusão mental, excitabilidade, depressão, estresse pela
dificuldade locomotora (voar, nadar, andar), calafrios, tremores de cabeça, disfunção visual
aparente e incoordenação; hipotermia, fraqueza, desidratação, taquicardia, náuseas, vômitos,
anemia, fezes enegrecidas, lesões renais e hepáticas. O maior risco é a pneumonia química por
aspiração. Se não tratados, os sintomas podem levar a morte (ou por asfixia ou por intoxicação).
No caso da ave relatada, durante a inspeção, ela aparentava-se sonolenta, com as pálpebras
caídas, apática, mas apresentava repentinamente movimentos verticais bruscos e violentos com a
cabeça e pescoço e posterior vômito de aspecto pastoso, coloração branca e sem odor (Figura 2). As
asas estavam caídas bilateralmente, as penas parcialmente arrepiadas e com odor forte de Óleo
Diesel. As fezes estavam com coloração enegrecida (Figura 3) e apresentava poliúria.
5. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico pode ser feito com a coleta de amostras de conteúdo dos órgãos afetados
(TGI, pulmão, fígado, rim) e da fonte suspeita para análise química e identificação de
Hidrocarbonetos presentes nos tecidos (particularmente nos pulmões) e no conteúdo do TGI.
Posteriormente deve-se relacionar estes achados nos tecidos e na ingesta com a fonte suspeita.
Também pode ser feito um hemograma e a posterior avaliação e identificação dos achados
laboratoriais comuns de intoxicação por Hidrocarbonetos: anemia, leucopenia por neutropenia, e
plaquetopenia com medula normal, hipo ou hiperplástica.
Os achados químicos positivos associados aos achados clínicos e patológicos apropriados
são confirmatórios
No caso da ave, o diagnóstico foi feito com base na anamnese, visto que a ave encontrava-se
suja e recoberta com o Óleo Diesel (Rever Figura 1), e por similitude etiológica, avaliando os sinais
clínicos apresentados pelo animal.
6. TRATAMENTO
O tratamento é de suporte com fluidoterapia e limpeza das penas e da pele com banhos
aquecidos (Figura 4) e detergente neutro na água do banho. Deve-se procurar manter os animais
aquecidos, devido à hipotermina, e oferecer assistência respiratória em casos de aspiração dos
Hidrocarbonetos. O tratamento homeopático também pode ser feito, sendo este baseado na cura
pela semelhança. É um meio de tratamento através do qual utiliza-se uma substância capaz de
produzir efeitos semelhantes aos sintomas apresentados pelo paciente. A homeopatia induz uma
reação do sistema de defesa do organismo buscando curar a doença. É basicamente dizer: o que
causa mal a alguém “saudável” pode ser a cura de alguém doente.
A medicação utilizada na ave foi o Petroleum que é um medicamento homeopático derivado
de petróleo branco, cuja administração se deu por via oral, da seguinte forma: inicialmente 1 gota a
cada 15 minutos por 6 horas; Após 6 horas, 1 gota a cada 30 minutos por mais 6 horas; Após a
segunda etapa do tratamento, administra-se 1 gota a cada 60 minutos por mais 6 horas; Cessado os
sintomas, administra-se 1 gota a cada 4 horas durante 5 dias.
Logo nas primeiras 18 horas após o início do tratamento, o movimento brusco da cabeça e
do quadro de vômito haviam desaparecido. As fezes voltaram a coloração normal para a espécie no
quinto dia do tratamento. Após retorno em 20 dias a ave não apresentava sinais de intoxicação
(Figura 5).
7. CONCLUSÃO
As intoxicações por Hidrocarbonetos são consideradas como situação de emergência em
aves, já que podem levar à morte, e devem ser tratadas como casos agudos.
A consideração do agente causador do quadro toxicológico da ave relatada, no caso uma
intoxicação por Óleo Diesel, foi fundamental para a sua cura. A administração de diluições
infinitesimais de uma substância é capaz de induzir a eliminação da mesma substância que estiver
armazenada no organismo. O tratamento homeopático por Petroleum se mostrou eficiente na cura
rápida e duradoura da intoxicação da ave.
A intoxicação por Hidrocarbonetos derivados do petróleo pode ser evitada, mas apenas
prevenindo o acesso a estes materiais.
8. ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Ave recoberta com Óleo Diesel, com as
penas arrepiadas e asas pendentes.
Figura 2: Vômito de aspecto pastoso presente no
bico.
Figura 3: Fezes da ave. Observar a excreção
digestiva de coloração preta.
Figura 4: A ave durante o banho para retirar o
Óleo Diesel das penas e da pele.
Figura 5: A ave após 20 dias do tratamento homeopático. Aparentemente saudável e recuperada.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KANAYAMA, C. Y.; EULÁLIO, F. H. F. Tratamento de intoxicação por hidrocarboneto em
Aratinga áurea por similitude etiológica: relato de caso. Revista Nosso Clínico, São Paulo:
Editora Troféu Ltda, n. 88, p. 48-50, Jul./Ago. 2012.
PEREIRA, L. A. A. Causas, efeitos e tratamento das agressões por hidrocarbonetos em
animais marinhos e de estuários. 2004. 112 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura e
Bacharelado em Ciências Biológicas) – Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade
Iguaçu, Nova Iguaçu, 2004.
VIEIRA, F. C. S. Toxicidade de Hidrocarbonetos Monoaromáticos do Petróleo sobre
Metamysidopsis elongata atlantica (Crustacea: Mysidacea). 2004. 72 f. Tese (Mestrado em
Engenharia Ambiental) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.