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CAPITULO IV -A Formação de uma nova visão de mundo O direito como antecipação do novo -Parte 1- O modelo do novo homem a ser construído. -Parte 2- As estratégias para a produção desse novo homem -A

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Page 1: TRABALHO - Apresentação Fábrica convento e disciplina - pag.261 a 283

CAPITULO IV-A Formação de uma nova visão de mundo

O direito como antecipação do novo -Parte 1- O modelo do novo homem a ser construído. -Parte 2- As estratégias para a produção desse novo homem

-A

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Nada melhor que as fábricas e as suas novidades tecnológicas para simbolizar o novo, novos ideais, novas mudanças e uma nova transformação na vida. A industrialização significou o caminho para aproximar o Brasil do modelo capitalista moderno vindo dos Estados Unidos e da Europa.

Em Minas Gerais como vimos anteriormente esse processo de expansão não foi diferente. A partir de 1872 várias fábricas foram instaladas no Estado e com elas modelos de uma nova vida embasada na FORMAÇÃO DE UMA NOVA VISÃO DE MUNDO.

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Li tua carta e do Chico, e me é impossível fazer sanar o mal de que te queixas, desde que me não tem sido possível arranjar operários iguais na perfeição; e isto creio que só na Inglaterra se obterá...

Trecho da carta de 23/04/1889, entre gerente das fábricas São Sebastião e Cedro.

A criação de uma nova concepção do mundo constitui o terceiro elemento num programa de formação de mão de obra industrial. Uma nova forma de pensar e de agir. Para discutir essa questão, a literatura que trata da “reprodução dos valores sociais” parece não dar conta de sua explicitação. No caso em estudo, trata-se de explicar, precisamente, seu surgimento (produção) e como foram disseminados entre os funcionários tendo como epicentro as fábricas e a partir daí para a sociedade como um todo..

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A formação de valores gerados a partir das novas relações sociais criadas nas fábricas deveriam ganhar os operários adequando seu modo de pensar e agir à lógica do capital para num segundo momento “subsumir” gradativamente toda a sociedade.

A estratégia de formação de mão de obra contemplava três elementos de formação:TÉCNICA- DISCIPLINAR- IDEOLÓGICAGramsci aponta “ os novos modos de trabalho são indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver, pensar e de sentir a vida, não sendo possível obter êxito em um campo sem obter resultados tangíveis em outro”.

Tais modelos, modos não só são indissociáveis mas ocorrem quase que simultaneamente, lembra Bourdieu, sendo assim poderá ocorrer um descompasso entre as novos hábitos e as antigas práticas e costumes dos operários.

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As fábricas e às vilas operárias constituem então os elementos chave na preparação rápida da mão de obra fabril – o adestramento técnico, a criação da disciplina e finalmente a constituição de uma nova visão de mundo, ainda que coercivos “inculcavam” os novos valores a serem assimilados pelos operários de forma rápida garantindo os interesses das fábricas.

O Direito como antecipação do novo

-O REGULAMENTO como fórmula adotada para traduzir o novo – as novas relações de trabalho e sociais inauguradas pela fábrica e o esboço de uma nova concepção do mundo.-Formalmente antes da Abolição algumas fábricas já haviam adotado diretrizes liberais ao proclamá-las em seus regulamentos.

-“Aos mestres é proibido faltar com respeito aos seus subordinados, saindo fora do direito, para terem direito de serem respeitados”...

-Uma nova visão seria introduzida, o operário na fábrica teria direito sob si e sua força de trabalho em contraposição à falta de autonomia do escravo, mão de obra utilizada nas fazendas.

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Todo o movimento de ruptura dos sistemas antigos de trabalho foram apoiados e iam de encontro aos interesses das fábricas em formar uma ordem de base legal para permitir o desenvolvimento do capitalismo de tipo urbano e industrial. (MERCADO).

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A nova sociedade “urbana” que se desenvolvia buscava referências nos valores “ditados” pela fábrica, que pregava uma infra-estrutura adequada, uma nova concepção de morar, novos hábitos de higiene, saúde e sociabilidade.

A preocupação com a maneira de viver vai se materializando, surgem as vilas em função da instalação das fábricas e fica evidente a diferença entre vida no passado rural e a citadina presente e futura.

Vários instrumentos indicaram as intenções das fábricas em controlar um material impresso e distribuído, resumia-se em um “Código de Posturas Urbanas”: O Regulamento Interno e Externo, O Serviço de Banhos e os Conselhos para uma Vida Feliz.

Os regulamentos ditavam sobre o comportamento do operário dentro da fábrica, orientando-o quanto aos procedimentos técnicos, operacionais e comportamento. E fora da fábrica quanto aos procedimentos de um novo modelo vida e sociedade.

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O operário então se comprometia com as regras do trabalho nas fábricas e com as novas normas para a vida na nova sociedade.

A diferença do operário deveria se fazer sentir pela sua relação com a própria casa.

-Hábitos antigos antes cultivados em uma sociedade rural agora não cabiam mais nas “vilas”, haviam recomendações para orientar o operário na constituição desse “novo homem” tão almejado pelas fábricas.

-Regras para a construção das casas, a cozinha em cômodo separado para que não haja contato da fumaça “encardindo” o restante da casa, assim como o banheiro;

-Regras para a dispensa do lixo e excrementos, para o tratamento dos quintais e da casa, o cuidado com as ruas e praças e com a criação de animais entre outros.

-Regras para o cuidado com os porões, mal ventilados, com os forros sujos, com as casas que devem ser lavadas todos os sábados e com uma boa chaminé para a retirada dos gases venenosos restantes dos preparos dos alimentos.

-A última e décima terceira recomendação resumiria todas as outras, manter as casas arejadas, ensolaradas, limpas e quintais bem cuidados.

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Fica claro o cuidado das fábricas na constituição do modelo ideal de sociedade e do seu legítimo representante e principalmente com a saúde dos mesmos que vez por outra eram acometidos por doenças e faltavam ao serviço.

Foram criados regulamentos, verdadeiros manuais, “Conselhos para uma vida Feliz”, que versavam sobre a higiene, regras “severas” para os padrões da época. - Banhos semanais que poderiam ser tomados em casa ou na fábrica e o uso de roupa limpa. “discutia-se a obrigatoriedade de se enxugar ou não após o banho”.

-Os de casa com todas as regras e prioridades de lavagem; cabeça, braços ...-Os da fábrica, mantidos por um serviço de “Banhos”, estruturado com dia, hora e cupons de controle de banho, um por semana e só.

- Higiene com as mãos (como lavá-las), unhas, pés, barba;- Higiene bucal como escovar os dentes, palitá-los, usar linha dental e enxaguatório e suas fórmulas, tudo com o objetivo de evitar o “apodrecimento dos dentes causados por restos estragados de alimentos entre eles.

- É evidente que o agente motivador da criação e implantação de tais procedimentos e regulamentos era a produção e a produtividade nas fabricas.