texto ii publica seus ciclos e subsistemas cap03

Upload: adriano

Post on 07-Aug-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    1/22

    ELSEVIER

    - --

    ~?

    -- · ,-~~·--~--

    .

    ~TUR S. DIG~QN tS

    FISCHER

    Frank

    . Deliberative Policy Analysis as Prac_tical Reason: lntegratingEmpiridcbal k

    ' . A

    1

    ments.

    ln

    FISCHER,

    Gerald

    Miller; SIDNEY, Mara (orgs.) .

    Han

    oo

    and Normahve

    r . . .

    bl

    . p · A lysis· Theory Polihcs

    and Methods.

    Boca

    Raton, Flonda

    :

    CRC Press,

    ofPu 1c o icy

    na

    · '

    2

    oo

    7

    . P·

    223

    -

    3

    0

    6

    S-TROM

    Elinor. Toe Three

    Worlds of

    Action. ln OSTROM,

    E.

    (org.).

    KISER,

    Larry;

    ' . 1 Hill C l i f S 1982 179 2?2

    StrategiesofPoliticalinquiry.Bevery s, a orrua. lnagBe . . hJ·P· l_if_P  

    ·

    lS

    LE

    GRAND,

    Julian. Toe Theory of Govemment Failure. ntis ourna e o itica

    cience

    V

    21

    n

    4

    p

    423-42,

    199l

    .

    · · N G Marxism Pluralism and beyond: Classic Debates and New Departures.

    McLENNA , regor. '

    Cambrid e· Polity Press,

    1989

    · · .

    g · . OLSEN, Johan

    P.

    Toe New Institutionalism:-Organizational Factors m

    MARCH,

    James, · · zs

    · ·

    78 -734 49 1984

    . .

    1

    L f ln American Politica cience evzew v. , p. - , .

    Polihca

    ePhilli e

    e

    Modes of Interest lntermediation

    and

    Models of Societal Change

    S~HMITIE E

    r

    n Comparative Political

    Studies v. 10, n . l, p . 7-38, 1977.

    m Westem urop · k . S · f Anal · · c t eh

    Th d Bringing the State

    bac

    m : trategies o ys1s m

    urren

    resear .

    SKOCPOL, e ª·B . RUESCHEMEYER, Dietrich;

    SKOCPO

    L, T. (orgs.) . Bringing

    the

    State

    ln

    EVANS,

    Peter

    ., . . .

    · N y

    k Cambndge

    Uruvers1ty Press, 1985. p. 3-43.

    back m ova

    or

    · Th f p li · al D · · Makin ln VAN

    VAN

    WJNDEN,

    Frans A.A.M. The ~cono~c

    eory

    o o

    hc

    eas10n g.

    DEN BROECK, Julien (org.).

    Publzc

    Chozce. Dordrecht:

    Kluwer,

    1988. p . 9-57.

    o

    t

    o

    da p lítica

    1

    INTRODUÇÃO:

    INSTITUIÇÕES IDEIAS ATORES

    Constatações

    de

    pesquisas recentes sobre o que mais

    influencia

    as

    políticas pú

    blicas alimentam

    um

    debate que nada perdeu de sua vitalidade desde

    os

    tempos

    em que Harold Lasswell

    advertia

    os pesquisadores a 1azierem conexões entre

    as

    análises

    técnicas das políticas e o seu contexto social e político. Diversos

    estudos políticos,

    desde

    comparações amplas de Política Social e Econômica até

    estudos de caso estritamente focados em uma política industrial particular

    ou de

    gestão de recursos, oferecem um

    quadro

    ric·o e complexo

    da

    miríade de fatores

    que

    dão forma à política pública.

    Aqueles

    que procuram uma

    teoria universal de policy-making

    poderiam

    se

    perguntar

    se a

    policy science

    realizou

    grande

    progresso

    desde suas

    origens

    no pó s

    guerra, dada a contínua divergência sobre o que merece

    atenção,

    na explicação

    da

    política

    pública. Mas aqueles

    que

    aceitam a proposição

    de Lasswell

    de que

    o pesquisador da política tem que extrair algum sentido do contexto particular

    para obter

    efetivo

    insight descobrirão que houve avanços

    no

    esclarecimento

    das

    intrincadas relações entre alguns fatores críticos geralmente aceitos,

    que

    afetam

    o desenvolvimento da política, a saber, atores, instituições e ideias.

    Com relação aos atores, diversos

    estudos

    de

    liderança

    política ou

    adminis

    trativa, crônicas

    dos

    esforços de

    empreendedores

    políticos e exames da forma

    como

    trabalham

    os

    burocratas da linha

    de frente

    ou

    os contratantes

    privados

    e

    os consultores,

    nos muitos detalhes envolvidos

    na

    implementação da

    política,

    sublinham o

    papel

    que tanto os atores individuais quanto

    os

    organizados

    de

    sempenham

    no desenvolvimento da

    política

    .

    Esses

    estudos indicam um lugar

    para o qual se deve olhar em busca de respostas esclarecedoras

    sobre

    as razões

    pelas quais a política é feita de uma forma e não de outra. Esta orientação

    com

    portamental, porém, é

    temperada

    pelo fato de que o que os atores procuram e

    fazem depende

    das

    estruturas políticas, econômicas e sociais

    que

    os envolvem.

    E,

    finalmente,

    números crescentes de estudos também procuram explicar o

    conteúdo da política

    com

    base nas

    ideias

    que os atores sustentam e em suas

    expectativas sobre governo adequado e ação política.

    Como revelou o levantamento

    do

    Capítulo 2, muitas

    das

    abordagens

    ao

    estudo

    das políticas pública

    s,

    itemizados

    na

    Figura

    2.2,

    não consideram

    devidamente todos os diferentes atores, instituições e ideias

    que

    afetam as

    políticas públicas . A economia do

    be m

    -estar e a

    teoria da

    public choice

    por

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    2/22

    ELSEVIER

    exemplo,

    tratam

    os

    atores individuai_s e

    grupais

    como variáve~s- expli_ati:7-as

    fundamentais,

    dando

    a entender, assim,

    que

    o contexto

    da pohtica

    seJa visto

    fundamentalmente a partir

    da

    perspectiva desses

    indivíduos

    . As teorias cons

    truídas

    a partir

    da

    perspectiva

    de

    grupo e

    de

    classe, como o pluralismo e o

    marxismo, atribuem influência aos grupos organizados de atores afetados pelas

    estruturas sociais, econômicas e políticas, mas ainda consideram que os atores

    são os fatores primários e·que os outros fatores, como as estruturas e as ideais,

    são

    secundários

    ou periféricos.

    Como também

    foi

    visto no

    Capítulo

    2,

    as sínteses mais

    bem

    -s

    ucedidas

    dos

    diferentes modelos e teel: ias

    de

    po1ítica e

    policy-making têm

    sido

    uma variedade

    de abordagens neoinstitucionais à vida

    política

    (Goldmann, 2005;

    Kato,

    1996;

    · Scharpf, 1991, 1997).

    Em

    decorrência das críticas a essas teorias

    estabelecidas há

    -k ngo tempo,

    os

    esquemas ou modelos analíticos elaborados mais recentemente

    para

    o estudo

    da

    política pública, tais como o estatismo e as diversas variantes

    de neoinstitucionalismo, tentam levar em conta tanto as variáveis orientadas a

    atores como as estruturais. Embora seus pressupostos difiram um pouco, essas

    abordagens tratam o Estado e as instituições sociais como entidades importantes

    que afetam as preferências e as atividades dos atores políticos. As duas

    procuram

    explicar a política

    pública como

    produto de interação interdependente entre a

    capacidade do

    Estado e a

    ação

    social.

    Embora descrevam

    cada

    vez com mais precisão os processos

    político

    -admi

    nistra ivos,

    ainda

    assim,

    nenhum

    desses referenciais analíticos oferece

    mu i

    -

    . tbs

    insights

    sobre a substância ou

    conteúdo da

    política

    pública

    .

    Em muitas das

    primeiras teorias de

    policy-making,

    a título de exemplo, muitas vezes presume-se,

    simplesmente, que o conteúdo real dos produtos político-administrativos são

    determinados, por exemplo, pela manifestação do 'autointeresse dos atores

    políticos envolvidos no contexto de uma dada escolha política (Flathman, 1966;

    Heclo, 1994; Braun, 1999), moderada

    pela

    natureza dos conflitos e concessões

    que eles

    fazem

    na etapa da formação da política (Sabatier, 1988, 1993).

    No

    en

    tanto,

    algumas

    teorias neoinstitucionais têm uma concepção

    mais

    sofisticada do

    papel das

    ideias no processo

    da

    política pública.

    Elas observam

    que

    a presença

    de atores

    particulares

    no

    processo

    político

    -a

    dministrativo e

    os

    interesses que eles

    perseguem

    são, com frequência, em grande

    parte determinados

    pela natureza

    da

    organização dentro

    da qual eles

    operam. Além disso, elas também notam

    que

    muitas das

    ideias

    que os atores políticos participantes articulam foram

    modeladas pelas escolhas políticas anteriores

    e

    pelas ideias expressas naquelas

    escolhas (Schmidt, 2008).

    Como

    observou John Campbell, são vários os conjuntos distintos de ideias

    que

    entram na policy-making: ideias de programas, estruturas simbólicas, paradig

    mas políticos e sentimentos públicos (ver Figura 3.1).

    As

    estruturas simbólicas e

    os sentimentos públicos

    tendem a afetar a

    percepção

    de

    legitimidade ou de

    justeza de certos cursos de

    ação,

    ao

    passo que

    os paradigmas políticos re

    presentam um conjunto de pressupostos cognitivos básicos

    que

    re~tringem a

    ação pela limitação

    da gama

    de alternativas

    que

    as elites

    da policy-making

    com

    probabilidade consideram úteis e.valiosas (Campbell, 1998, p. 385; ver Surel,

    2000). Em seguida, as ideias programáticas representam,

    em grande

    parte, a

    ELSEVTER

    Plano

    do debate

    politico

    afetado

    Frontal/Visível

    Nível de ideias Cognitivo causal)

    Ideias programáticas

    afetado Normativo

    valor) Estruturas simbólicas

    frames)

    De

    fundo/Oculto

    Paradigmas de po líticas

    Sentimentos públicos

    FIGUR 3.1 Componentes de ideias presentes nas políticas. Fonte: Adaptado de John L Campbe/1.

    lnstitutional analysis and the role

    of

    deas in politica/ economy. Theory and Society, v. 27,

    n

    5 , p. 85 1998).

    seleção

    das soluções

    específicas procedentes

    de um co~unto

    designado como

    aceitável dentro

    de um paradigma particular.

    Essa

    noção de filtragem

    da

    realidade através

    de um paradigma

    político ajuda

    a tornar possívela análise do conteúdo da política. Desenvolvido originalmente

    com o intuito de descrever conjuntos estáveis de ideias que estão presentes nas

    Ciências Sociais, o termo paradigma foi aplicado mais tarde aos pontos de

    vista de longa

    duração

    sobre o jeito como o mundo funciona , que são encon

    trados

    nas

    Ciências Sociais (Kuhn, 1962, 1974; Hall, 1990, 1992, 1993). O conceito

    se relaciona

    estreitamente

    com

    noções

    filosóficas tradicionais de

    'ideologias

    enquanto

    arcabouços

    cruciais

    de ideias que influenciam

    a ação e com as

    noções

    sociológicas

    mais

    recentes

    de

    discursos ou estruturas (Goffman, 1974; Surel,

    2000). A noção

    de

    paradigma é compatível

    com os

    elementos

    básicos

    de uma

    abordagem

    neoinstitucional aos

    estudos

    políticos,

    porquanto

    capta

    a

    ideia de

    que

    as crenças, valores e atitudes dão sustentação

    aos

    entendimentos dos

    pro

    blemas públicos e enfatiza o modo como as noções de inspiração paradigmática

    da

    exequibilidade das soluções propostas, tanto quanto as do autointeresse

    do autor, são determinantes significativas do conteúdo da política (Hall, 1990,

    p. 59;

    também

    Edelman, 1988; Hilgartner e Bosk, 1981; Schneider, 1985). O poder

    explícito

    das

    ideias entranhadas se

    torna

    claramente evidente no modo como os

    policy-makers compreendem os

    problemas

    e

    divisam suas

    soluções.

    Muita

    teorização recente

    reflete

    esse

    entendimento de que

    tanto os atores

    quanto

    as

    instituições e

    as ideias

    que eles sustentam

    exercem um

    papel significa

    tivo

    no sentido

    de

    influenciar a evolução e os resultados dos

    processos

    político

    -administrativos. Os indivíduos, grupos e classes

    engajados

    no processo político

    certamente têm

    seus

    próprios interesses, mas o modo como os interpretam e

    perseguem seus interesses

    e

    os resultados

    de

    seus

    esforços

    são modelados pelos

    fatores institucionais e pelas ideias (Lundquist, 1987; Schmidt, 2008; Menahem,

    2008)

    1

     

    Como

    foi

    observado

    no

    Capítulo

    2, nesse livro adota-se a tendência estatista

    de definir as instituições de

    uma forma muito

    restrita segundo

    a qual elas com

    preendem

    apenas

    as

    estruturas ou organizações reais

    do Estado,

    da sociedade e

    do

    sistema

    internacional. De

    acordo

    com

    essa abordagem, estamos

    menos preocu

    pados do que

    muitos estudiosos com as origens dessas instituições, que

    são

    tidas

    1

    De forma ainda mais significativa, acredita-se que alguns arranjos institucionais conduzem melhor

    à

    efetiva policy-making

    e

    implementação do que outros (Stoker,

    1989; May, 1993; Siedschlag, 2000).

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    3/22

    ELSEVIER

    como dadas e indiscutíveis. Embora não sejam monolíticas, onipresentes

    ou

    im u

    táveis

    , as

    instituições

    raramente podem ser evitadas, modificadas ou

    subs

    tituídas

    sem um considerável grau de esforço. Tomando-as

    como

    tais, estamo_ 

    interes

    sados

    na

    maneira como

    as instituições

    são organizadas internamente

    e

    em relação umas às

    outras

    e como isso afeta o

    comportamento dos

    atores (March

    e Olsen, 1998b) .

    Além

    de

    suas

    características organizacionais formais, filiação,

    regras e

    procedimentos

    operacionais,

    enfatizam

    -se os princípios,

    normas e i~ias

    que

    elas personificam. Esses princípios, na

    forma de

    convenções e regras formais

    ou

    informais,

    como

    também

    de preocupações éticas,

    ideológicas

    e

    epistêmicas,

    ajudam

    a

    modelar ainda mais

    o

    comportamento dos atores ao condicionarem

    a

    percepção de seus interessese a probabilidade de que estes sejam atingidos nos

    outcomes da política (March et .  2000; Timmermans e Bleiklie, 1999).

    2. O ONTEXTO POLÍTI O 

    E ONÔMI O

    Duas metainstituções,

    capitalismo

    e

    democracia informam

    as

    estruturas nas quais

    se desenvolvem os processos da política pública na maioria das sociedades

    moderna

    s. Essas instituições fundamentais merecem atenção particular, não

    apenas porque influencia TJ 1 os policy-makers mas também porque não são in

    trinsecamente compatíveis e, por isso, precisam

    ser

    de alguma maneira cons

    tantemente

    reconciliadas,

    levando

    a concessões instáveis

    que

    colocam desafios

    cruciais aos países liberais democráticos. Neste capítulo, discute-se

    com alguma

    profundidade esses dois aspectos contextuais

    importantes

    do processo de poli

     

    -making.

    2.1 CAPITALISMO

    O capitalismo se refere

    tanto

    a

    uma economia

    política ou

    sistema de produção

    e

    troca orientado pelo mercado quanto

    a

    uma sociedade

    em

    que

    o controle sobre a

    propriedade requerida para

    a

    produção

    (capital) esteja

    concentrado nas mãos de

    uma pequena parcela da população, enquanto a maior parte do restante vende

    seu

    tempo de

    trabalho num sistema de salários.

    No

    capitalismo

    a produção é realizada não para o consumo direto

    do

    produtor,

    mas para fins

    de

    venda

    ou

    troca, de forma

    que

    o produtor

    possa

    usar o dinheiro

    assim

    obtido para a

    compra

    de outros

    bens

    para

    consumo

    . Esse sistema difere

    de sociedades

    pré-capitalistas

    em que

    os produtores consumiam

    diretamente

    muito

    do

    que produziam,

    exceto

    uma

    pequena porção que era trocada através

    do escambo ou tributada

    para fins

    de

    proteção militar.

    No

    capitalismo a troca se

    realiza

    em mercados entre indivíduos que em geral

    não

    se conhecem

    .

    O capitalismo é um sistema

    socioeconômico

    que foi criado inicialmente pelo

    colapso das sociedades

    agrícolas,

    que

    operavam sob princípios muito diferen

    tes, não tendo, em sua maior parte, mercados, capital e trabalho assalariado.

    Na

    Europa,

    essas sociedades passaram

    por

    um processo de

    industrialização

    no final do século XVIII. Esse sistema de

    organização das

    relações sociais e

    econômicas

    estendeu-se

    rapidamente para a

    América do

    Norte e a

    maior

    parte

    do

    mundo

    durante o

    século

    XIX,

    muitas

    vezes por

    meio

    de sua i1;1posição

    direta

    a colônias na África,

    América

    do

    Norte

    e

    do

    Sul,

    Australásia

    e Asia pelos

    ELSEVTER

    Estados europeus e

    outros

    Estados imperiais, mas também

    por

    intermédio

    de

    sua emulação

    por muitos países em desenvolvimento na Europa,

    Ásia

    e em

    outros lugares.

    No século

    XX muitas

    nações rejeitaram o capitalismo e

    adotaram

    o socialismo,

    uma economia

    política

    de orientação estatal em que

    o

    capita

    l  propriedade

    pública

    e é

    publicamente

    alocado, com a

    intenção expressa

    de

    trabalhar

    no

    sen

    tido do

    estabelecimento

    de

    um

    economia

    política

    comunista,

    em

    que

    o

    capital

    seria propriedade comum e o trabalho assálariado seria abolido.

    Mas

    no

    final

    do

    século

    XX, à

    medida que houve

    estagnação econômica nos países

    socialistas,

    a maioria abraçou o capitalismo com

    renovado

    entusiasmo_

    Hoje

    quase

    todos

    os países do mundo são capitalistas,

    embora

    variem

    muito

    em refação aos

    seus

    arranjos políticos específicos (Coatesr 2005; Lehne, 2001; Howell,. 2003; all e

    Soskice,2001b)_ ·

    A

    marca

    distintiva

    do

    capitalismo é

    que

    os

    insumos de

    produção,. po r exem

    plo,

    matérias-primas, maquinário,

    instalações fabris, em grande parte

    estão em

    mãos privadas. Isso indica que os donos dos meios de produção têm

    o

    direito

    exclusivo

    de decidir sobre

    o

    uso

    desses

    meios de produção, que garantido pelo

    Estado,

    com

    certas restrições

    requeridas

    para

    assegurar a reprodução

    efetiva da

    - ordem capitalista, tais como evitar fraudes ou

    maus-tratos

    aos

    trabalhadores.

    Dessa forma o capitalismo dá aos proprietários o direito de decidir o

    que

    será

    produzido,

    de que

    maneira

    e em que

    quantidade,

    um poder que

    também

    trans

    forma

    os capitalistas

    em

    classe social

    dominante, já que

    as

    outras

    classes e estratos

    da

    sociedade, trabalhadores, camponeses,

    donos

    de

    pequenos

    negócios, autori

    dades

    religiosas, intelectuais e assim

    por

    diante, dependem todos dos capitalistas

    para

    a

    manutenção de suas rendas

    e de

    seu bem-estar

    .

    Como

    uma

    maneira para

    se

    sustentar,

    aque

    les

    que não

    possuem os

    meios de produção têm que trabalhar

    para aqueles que os possuem.

    Em

    muitas sociedades

    capitalistas,

    sua

    própria

    mão

    de obra

    e

    habilidades são muitas vezes

    os

    únicos insumos produtivos de

    que cs não

    capitalistas

    dispõem. Para

    sobreviver, estes

    insumos

    necessariamente

    são vendidos

    aos capitalistas em

    troca de

    salários

    e outras remunerações.

    Isso dá

    base

    a

    um

    traço crítico do

    capitalismo:

    a necessidade

    de

    as empresas

    produzirem lucro ou

    acumularem

    capital,

    para que tanto os produtores

    quanto

    a economia como um

    todo

    sobrevivam.

    Os

    lucros

    são

    para o capitalismo o

    que

    o movimento é para as bicicletas: o capitalismo, à

    semelhança

    das bicicletas,

    não pode

    funcionar

    adequadamente

    se

    ficar

    parado

    . Se

    não

    houver

    um

    retorno

    adequado

    sobre o investimento, os capitalistas irão retê-lo

    ou

    aplicá-lo em

    outro

    lugar. O

    resultado pode ser

    declínio na

    atividade econômica

    de

    uma sociedade

    e

    diminuição

    geral

    nos

    seus

    padrões de vida

    . O

    que impõe

    uma

    enorme pressão

    sobre

    o

    Estado para que garanta

    condições favoráveis ao

    investimento contínuo

    e

    crescente

    de capital.

    Os negócios e as empresas tentam influenciar os governos de forma direta,

    além de o fazerem também de forma indireta por

    meio

    da

    afiliação

    a

    várias

    associações empresariais (Coleman, 1988; Jacek, 1986). Entre os muitos grupos

    de interesse encontrados

    nas

    sociedades capitalistas, as associações empresariais

    gozam de uma

    capacidade imbatível para influenciar as políticas públicas, dada a

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    4/22

      r

    ELSEVIER

    dependência que os Estados nas sociedades capitalistas têm dos negócios para

    suas receitas e níveis gerais de

    bem

    -estar social (Lindblom,

    1977).

    A crescente

    globalização da produção e

    das

    atividades financeiras reforçou ainda mais este

    poder

    do

    capital.

    Agora

    é muito

    mais

    possível aos investidores e gestores

    apre

    sentarem

    respostas, se assim o decidirem, a uma ação

    governamental

    indesejada

    pelo deslocamento

    do

    capital

    para

    outro

    lugar.

    Embora esta mobilidade

    teórica

    seja

    limitada por várias

    considerações práticas,

    tais como

    a

    disponibilidade de

    recursos ou

    de

    mão de

    obra qualificada, a perda potencial

    de

    empregos e receita

    é uma ameaça

    com

    que o

    Estado

    deve

    contar na

    hora de tomar decisões .

    Em

    virtude de seu

    potencial para

    afetar negativamente as receitas do Estado,

    os

    capitalistas, tanto nacionais quanto estrangeiros, têm a capacidade de puni-lo

    por quaisquer ações que eles

    desaprovem

    (Hayes,

    1978.).

    Mesmo nos Estados

    democráticos,

    em

    que o poder e a influência estão

    nos

    sistemas eleitorais e legislativos que empoderam os não capitalistas, as contribui

    ções financeiras das

    empresas

    de negócios aos

    partidos

    políticos,

    por

    exemplo,

    continuam a dar-

    lhes

    importante

    recurso

    para

    influenciar

    os

    policy-makers.

    As

    eleições

    modernas podem

    criar

    problemas

    e

    personalidades

    em

    tempo

    relativa

    mente

    curto, o

    que

    implica

    em

    grandes orçamentos para influenciar os eleitores

    por meio

    de campanhas

    extensivas de propaganda

    na

    mídia. Nessas situações,

    os partidos políticos apoiados por

    contribuições

    das empresas

    de

    negócios

    estão

    em

    posição mais vantajosa para trocar essas campanhas e assim influenciar

    o comportamento eleitoral. Isso pode levar os partidos políticos e os candidatos a

    cargos públicos a dar aos interesses empresariais um tratamento mais favorável

    do

    que aos interesses de outros

    grupos

    ~

    De maneira

    semelhante, as contribuições

    financeiras que as empresas de

    negócios

    muitas vezes fazem às

    instituições

    de pesquisa e

    aos

    pesquisadores que estudam

    política

    pública servem para

    fortalecer ainda

    mais

    seu poder.

    As organizações

    e os indivíduos que recebem

    fundos tendem a ser

    simpáticos

    aos interesses das empresas de negócios e

    podem

    prover-lhes

    os

    meios ou recursos

    que

    muitas vezes são requeridos nos debates

    políticos (Mcgann e Weaver, 1999; Abelson, 1999; Rich, 2004).

    2 1 Uberalismo

    Outra característica distintiva do capitalismo, enquanto

    surgia

    historicamente,

    é seu vínculo indissociável com a teoria e a ideologia do liberalismo, o qual se

    refere a um conjunto de crenças e práticas mais ou

    menos

    bem organizadas e s

    -

    titucionalizadas

    que servem

    para

    manter

    e

    promover

    o capitalismo (Macpherson,

    1978).

    O liberalismo

    surgiu simultaneamente com

    o capitalismo, no século XVIII,

    como

    u,:r:na ideologia

    política

    para

    justificar

    e

    reforçar

    o modo

    capitalista de

    produção

    que

    se

    tm:nava cada

    vez mais importante.

    Essa

    teoria

    social

    altamente

    adaptável

    se

    transformou

    substancialmente desde sua

    origem para se

    ajustar

    às circunstâncias econômicas e políticas

    em

    constante

    mudança,

    sem se

    afastar

    muito

    de

    sua

    crença

    fundamental

    de que a propriedade privada dos meios de

    produção é correta e justa como chave para o alcance do progresso humano e

    da

    liberdade (Howlett et al.

    1999).

    O liberalismo centra-se no pressuposto da primazia do

    indivíduo

    na sociedade.

    Em sua

    visão, os indivíduos têm

    direitos naturais inalienáveis, incluindo o

    ELSEVIER

    direito

    de possuir

    propriedade

    e de

    celebrar

    contratos com

    os

    outros indivíduos

    que

    versem sobre a disposição dessa propriedade. Esses direitos devem ser

    protegidos contra a intromissão

    de organizações

    sociais como o Estado, as

    igrejas ou os Sindicatos.

    Segundo

    a teoria liberal, a

    boa

    sociedade é aquela que

    garante aos indivíduos a liberdade de perseguir seus interesses e de realizar

    seu

    potencial . Essa liberdade deve ser restringida somente quando a liberdade

    de uma

    pessoa destrói

    a de

    outra,

    por exemplo, pelo

    roubo

    ou pela violência

    (Macpherson,

    1962).

    A

    liberdade

    de

    buscar

    s

    meios

    de

    vida

    de sua escolha

    e

    de

    acumular riqueza

    é inviolável e sacrossanta para o

    liberalismo.

    O mecanismo preferido

    do

    libe

    ralismo através do

    qual

    os

    indivíduos

    podem buscar seus interesses

    de

    forma

    desimpedida é, naturalmente, o mercado . Aqui todos os indivíduos

    perseguem

    de

    forma

    egoísta seus p r ~ n t r s s s de acordo com suas habilidades e

    suas preferências. Segundo os liberais, a troca no mercado beneficia a todos os

    que

    se

    envolvem nela e o

    resultado

    líquido dessa atividade é o avanço

    do

    be m

    -es

    tar

    da sociedade em geral. Esse -princípio associa estreitamente o liberalismo

    ao capitalismo

    como

    um

    sistema

    de troca comercial que se baseia

    nos

    direitos

    individuais

    da

    propriedade.

    O

    liberalismo

    é essenéialmente uma teoria do mercado que

    teve que incluir

    o

    Estado em bases contingenciais para desempenhar funções que de outra forma não

    seriam exercidas. A economia política liberal contém duas formulações levemente

    diferentes sobre o Estado. A

    primeira

    é a ideia do

    Estado suplementar

    ou

    residual

    a noção contida na economia política liberal neoclássica e neoconservadora de

    que o Estado

    somente

    deveria empreender aquelas atividades, como a provisão

    de bens

    públicos puros, que os mercados

    não

    conseguem realizar. A

    segunda é

    a

    noção

    do

    Estado corretivo:

    a ideia encontrada nas análises

    keynesianas

    e

    pós

    -keynesianas,

    que afirmava

    que o Es

    tado

    pode atuar

    numa variedade

    de

    outras

    áreas

    da atividade

    de

    mercado

    para corrigir a

    grande

    profusão de falhas

    de

    nível

    micro

    ou macro

    descritas no

    Capítulo 2 (Dunleavy e O Leary, 1987).

    De forma significativa, as duas variantes do pensamento

    liberal

    subteorizam

    o Estado e, com isso, fazem o

    mesmo

    com a policy-makingpública. Isso acontece

    porque elas tratam o Estado como uma entidade inerentemente antiliberal cuja

    própria existência tende a ameaçar os mercados e as liberdades individuais,

    por

    um

    lado, mas também

    como

    uma entidade que deve

    seguir

    os princípios

    liberais de fazer

    somente aquilo

    que os

    mercados

    não podem fazer.

    Em

    geral

    se

    considera

    que o

    Estado

    não é

    restringido

    de alguma

    maneira

    pela socieda

    de em que ele existe

    ou

    por

    sua

    capacidade

    organizacional

    em

    sua busca por

    cada

    um

    desses dois

    objetivos

    contraditórios

    (Schott,

    1984,

    p. 60 a

    De

    fato, a

    sua

    capacidade para agir e as forças

    que

    atuam sobre ele

    em

    geral

    não

    são

    absolu

    tamente

    consideradas na teoria liberal,

    que tende

    a pôr o foco sobre questões

    de direitos e liberdades

    individuai

    s e insiste na adocão de

    um

    Estado limitado

    sobre bases puramente éticas (Sandel,

    1984).

    Ou, em,análises ligeiramente mais

    sofisticadas, em geral se presume apenas que o Estado pode e irá agir

    quer

    para

    prover bens e serviços quer para

    corrigir

    falhas de mercado

    com

    base numa

    preocupação

    com

    o crescimento econômico e

    com

    a eficiência. Nenhuma

    de

    ssas

    análises, porém, faz justiça à complexidade da ação estatal e da

    policy-making

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    5/22

    ELSEVIER

    pública no mundo contemporâneo,

    corno

    irá atestar a discussão subsequente

    des ses processos neste

    livro

    .

    2.2 DEMOCRACIA

    A segunda metainstituição fundamental a afetar os

    Estados

    e a policy making

    é a democracia. A

    democracia

    é um dos conceitos

    mais polêmicos

    no campo

    da

    Política.

    Um levantamento

    feito no final da década

    de

    1980,

    por exemplo,

    encontrou

    311 definições de

    democracia (Cunningham,

    1987,

    p.

    25).

    Não

    temos

    o

    objetivo

    de

    resolver esse debate

    em tomo da

    definição

    .

    Para nossos

    fins,

    basta

    considerar

    a

    democracia como

    um

    plano

    de organização política, um

    sistema

    de

    tomada

    de de

    c

    isão política, que

    envolve a estruturação do controle do Estado

    no dia a

    dia

    por meio

    de

    instituições representativas,cujos titulares são

    eleitos

    · periodicamente (Bealey, 1988, p. 1). Assim, Gõran Therbom define a demo

    cracia de forma sucinta como (1) um governo representativo

    eleito

    por (2) um

    eleitorado composto por

    toda

    a população adulta, (3) cujos votos têm peso igual

    e (4) que pode

    votar

    a favor de

    qualquer

    opinião sem intimidação por parte do

    aparato

    do Estado (Therbom, 1983, p. 262).

    A

    democracia

    confere

    aos cidadãos

    o

    direito de escolher quem

    eles querem

    que os

    represente no governo . O

    método de eleição varia entre as nações,

    mas o

    propósito principal

    é sempre

    declarar

    corno vencedor o candidato

    com

    o maior número de votos

    nas

    disputas periódicas

    destinadas

    a preencher os

    cargos

    nos poderes

    executivo

    e

    legislativo,

    bem

    corno

    no

    judiciário,

    em

    certas

    jurisdições. Essa condição estabelece que o governo deve ser formado pelos

    representantes do maior número de

    cidadãos

    e que, dependendo do

    tipo

    de

    sistema usado, por meio

    desses representantes,

    ela deve prestar

    contas

    aos

    cidadãos. Eleições corno

    meio

    de

    remover

    um

    governo

    e

    substituí

    -lo por

    outro

    eram um feito virtualmente inaudito

    até

    o século XIX, e

    até

    hoje há

    governos

    que encontram desculpas matreiras para evitar submeter-se

    ao

    julgamento

    do

    eleitorado

    .

    Foi

    somente

    próximo ao final do século

    XIX

    que as nações ocidentais

    co

    meçaram a estabelecer instituições democráticas no

    sentido

    em

    que

    as com

    preendemos

    hoje

    (Doorenspleet, 2000) um processo

    ainda

    incompleto até bem

    depois da II Guerra Mundial, quando a franquia, ou o direito de voto, tomou-se

    universal para a maioria dos adultos

    na

    maior parte das nações ocidentais

    (Therbom,

    1983, p . 264). A

    intenção

    das

    restrições mais antigas ao voto,

    de

    tal

    forma que, por exemplo,

    somente

    os proprietários brancos, do sexo masculino

    e

    adultos

    pudessem votar, corno foi o caso nos Estados Unidos, no Reino Unido,

    no

    Canadá,

    na Austrália e em

    muitos outros

    países,

    era

    limitar o privilégio do

    voto

    às elites econômicas e sociais.

    A

    remoção dessa

    s barreiras

    representou

    um

    marco fundamental

    na

    promoção

    da

    igualdade social e na redução ou

    compensação

    do

    poder direto

    dos capitalistas·

    sobre as ações do Estado nos países capitalistas. De

    uma

    perspectiv:a políti

    co-econômica,

    na medida em que a democracia se fundamenta no princípio do

    voto secreto e da regra da maioria, os que não possuem os meios de produção

    podem, em princípio, exercer sua superioridade

    numérica nas

    eleições

    votando

    em governos

    que

    usarão a

    autoridade

    do Estado para alterc1 r os efeitos adversos

    da

    propriedade

    capitalista

    dos

    meios de

    produção, muitas

    vezes frente à ferrenha

    oposição dos negócios (Przeworski, 1985).

    Ao exigir que os governos sejam eleitos, a democracia permite que

    os

    segmen

    tos mais fracos da sociedade tenham algum controle sobre o Estado e, assim,

    ajuda a modelar não só o funcionamento interno do Estado, mas também,

    pelo uso da

    autoridade

    estatal, o modo de funcionamento dos mercados para

    determinados bens e serviços no futuro. Como assinala Adam Przeworski (1985,

    p . 11):

    A

    democracia política constitui

    a

    oportunidade para

    os trabalhadores

    perseguirem alguns de seus interesses. A política eleitoral constitui o mecanismo

    pelo qual

    qualquer um

    pode

    na

    condição

    de

    cidadão expressar

    demandas de

    bens

    e

    serviços(

    )

    Além disso(

    . eles

    podem intervir

    na

    própria

    or·ganização

    da

    produção e

    da

    alocação

    de lucro

    .

    Influenciado pela política democrática,

    por exemplo, na maior

    parte

    dos

    países,

    o Estado introduziu medidas de

    redis

    tribuição

    de renda, em

    frontal desafio

    a

    um

    dos principios_capi~listasq~sicos de

    que caberia somente

    ao

    mercado determinar a

    distribuição

    de renda (Przewôrski,

    1991). De maneira semelhante, em muitos países, os Estados substituíram a

    propriedade privada de alguns meios de produção

    pela

    propriedade pú,blica

    ou estatal: todos os países têm

    algumas empresas

    controladas pelo Estado ou

    de propriedade

    pública

    que

    produzem

    urna variedade

    de bens e serviços;

    desde

    aquelas

    que

    se referem a atividades de

    segurança

    nacional e defesa até finanças,

    indústria

    naval, de transportes, como

    também

    as de

    produção

    de vários tipos

    de

    itens

    de

    consumo

    de pequena

    escala.

    A democracia oferece, assim, um mecanismo

    político

    que

    pode

    moderar os

    efeitos econômicos

    do

    capitalismo. O grau de harmonia alcançado entre estas

    duas metainstituições é um fator de contribuição fundamental para a coesão

    social que pode

    reduzir

    a necessidade de autoridade coercitiva (por exemplo,

    polícia e prisões)

    para

    manter a

    ordem

    doméstica . O potencial de simbiose entre

    capitalismo e democracia se realiza através de opções políticas específicas e seus

    outcomes.

    Como será

    mostrado na seção seguinte, o alcance de um equilíbrio

    efetivo entre capitalismo e democracia,

    porém,

    é tarefa difícil,

    que não

    é, de

    modo

    algum, automática ou inevitável.

    3 POLICY MAKING NO ESTADO CAPITALISTA

    DEMOCRÁTICO LIBERAL

    Na medida em

    que

    o liberalismo e seu corolário, o capitalismo, se referem a

    direitos individuais e a democracia se refere a direitos coletivos, os dois estão

    em

    posições

    fundamentalmente contraditórias, não obstante a expressão comum

    democracia

    liberal ,

    muitas

    vezes usada

    para

    descrever países

    com

    os dois

    sistemas em funcionamento.

    Como

    compreenderam

    muito

    bem os primeiros

    pensadores liberais, a

    democracia

    coloca uma

    ameaça

    fundamental à ordem

    liberal, porque dá à

    maioria

    a

    capacidade

    de destruir os direitos

    individuais,

    incluindo em

    especial

    os direitos

    dos

    capitalistas

    de poderem dispor de sua

    propriedade

    como

    lhes

    convêm. Os piores temores dos

    liberais se

    realizaram

    no

    século XX,

    quando partidos de

    viés

    esquerdista em muitas partes do

    globo

    formaram governos que com

    frequência

    usaram seus poderes

    para nacionalizar

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    6/22

     

    ELSEVIER

    indústrias,

    aumentar impostos e

    redistribuir

    renda .As oportunidades de

    controle

    político

    que a democracia oferece a grupos economicamente fracos convivem

    de

    forma incômoda com os princípios básicos

    do

    liberalismo. Embora o advento da_

    democracia não

    tenha

    levado à extinção

    do

    capitalismo, como alguns

    haviam

    esperado

    e

    outros

    haviam

    temido, ele significou

    que

    os governos democráticos

    não

    podiam mais

    ignorar os

    interesses da

    maioria das não

    elites na

    mesma

    medida

    em

    que o haviam

    feito

    no passado (Korpi, 1983).

    A

    democracia

    torna

    complexas

    as

    tarefas

    de policy-making e de implementação

    numa

    sociedade capitalista, porque sua presença

    significa

    que

    os

    policy-makers

    não

    podem.

    mais se concentrar em servir somente os interesses

    do

    Estado

    e os interesses de seus aliados

    empresariais

    -com base

    nos

    princípios de um

    paradigma

    de política liberal pura (Swank, 2000; DeLeon, 1997; Gourevitch,

    1993).

    Nas

    democracias, os policy-makers pelo menos

    têm que

    parecer

    que dão

    atenção aos anseios

    de

    fazendeiros e trabalhadores, criança~-~ idosos

    homens

    e

    mulheres e outros segmentos da população com

    interesses diferentes

    e muitas

    vezes contraditórios

    que

    precisam ser constantemente

    harmonizados

    e

    que

    são inerentemente

    instáveis.

    A

    violência política

    é particularmente

    prejudicial

    ao crescimento econômico

    (Butkiewicz

    e

    Yanikkaya,

    2005) e muitas vezes

    se

    precisa da democracia para

    diluir as

    tensões

    geradas pelo

    capitalismo,

    de forma

    a se evitar

    revolução

    e

    rebeliões

    . E

    sses

    conflitos tornam desafiadora a atividade

    da policy-making e muitas vezes estão no âmago das

    escolhas políticas

    por

    vezes

    muito pontuais e contraditórias que os governos costumam fazer.

    Ao

    lado do

    liberalismo, o capitalismo e a democracia

    formam

    uma parte

    importante

    do

    contexto metain

    s

    titucional

    e

    macroideal ou político

    -

    econômico

    da policy-making

    em

    muitos países modernos. Tomados

    em conjllilto, eles

    exercem

    grande influência

    sobre os atores e

    ideias

    na

    maioria dos

    processos de policy-makirtg.

    Entretanto,

    a capacidade de

    um governo

    de

    agir

    autonomamente

    ou

    de

    forma

    relativamente

    independente dentro

    desse contexto

    é moldada não apenas pela

    existência do

    capitalismo

    e da

    democracia,

    das

    ideias

    e dos interesses que

    geram,

    mas também pela maneira como o governo e os vários atores mais ou menos

    empoderados

    estão

    organizados

    sob

    o

    capitalismo liberal existente

    em cada país

    ou área

    temática

    .

    3 1 ESTRUTUR S POLÍTICO ECONÔMIC S E POLÍTIC PÚBLIC

    Para gerar

    e

    implementar

    as

    políti

    c

    as

    de forma

    eficaz

    numa

    democracia capita

    lista,

    o

    Estado precisa ser bem organizado

    e

    contar com apoios

    de

    atores sociais

    proeminentes . O

    grau em

    que

    esses atores

    serão capazes

    de oferecer

    o apoio

    necessário

    .depende, entre outras coisas,

    de

    sua própria

    organização

    interna e

    de

    suas

    relações

    com o Estado e com outros atores

    sociais

    comparavelmente

    poderosos .

    Estas

    são

    relações complexas . A fragmentação

    entre

    os grupos sociais ao

    mesmo tempo

    fortalece

    o nível de autonomia política do Estado como

    também

    mina a sua capacidade política pela limitação de sua

    habilidade de

    m obilizar

    os atores sociais

    para

    a resolução

    dos problemas

    societários. Se os conflitos

    societários forem particularmente severos,

    o

    Estado

    pode ver seu fllilcionamento

    LS VT R

    paralisado. Por outro

    lado,

    a unidade dentro e entre os grupos sociais propor

    ciona um ambiente político estável que facilita a policy-making e promove uma

    implementação efetiva (Painter e Pierre, 2005). Ma s uma coesão social forte

    também

    pode

    restringira habilidade

    do

    Estado de mudar a política de maneira

    significativa

    e

    em

    grande

    escala.

    As organizações fortes

    podem barganhar com mais eficácia e não precisam

    fazer

    demandas

    irrazoáveis

    para manter o

    apoio

    de seus membros. E quando

    concordam

    com uma medida, elas a impõem a

    seus pares,

    por

    meio

    de sanções, se

    necessário. Mancur Olson argumentou que

    em

    sociedades caracterizadas

    por

    grupos agregadores

    (isto

    é, grupos guarda-chuvas que conGistem

    em

    uma

    variedade de

    interesses se

    melhantes), em vez de grupos de interesse

    estreitos ,

    os grupos

    internalizar;n.gran~e

    .

    parte do

    custo das políti

    cas ineficientes

    e

    por

    consequência, têm incentivos

    para redistribuir

    renda a si

    mesmos, com um

    mínirn.o

    de custo

    social, e

    para

    dM algum

    peso ao crescimento econômico

    e

    aos

    interesses

    da sociedade como

    um todo (Olson,

    1982, p. 92). A

    existência de

    -m.unerosos

    grupGS ~interesse

    estreitos,

    por outro lado, promove a

    competição

    entre

    eles, o que

    pressiona

    o Estado a

    servir

    apenas

    aos interesses

    de seus

    me m

    bros,

    independentemente dos

    efeitos

    sobre

    os

    outros. O

    efeito

    cumulativo da

    policy-making conduzida por grupos de interesse muitas ve

    zes

    pode significar

    políticas

    contraditórias e

    ineficazes

    que deixam todos em situação pior.

    Quando

    se trata de eficácia da policy-m king e da implementação, a situação

    mais desejável

    para

    o

    Estado

    é

    que tanto ele quanto

    a

    sociedade seja

    m

    fortes,

    com estreita parceira entre ambos, dessa f orma maximizando

    e dando

    equilíbrio

    tanto

    à

    capacidade

    como

    autonomia

    política do

    Estado . Peter Evans (1992)

    chama a

    esse arranjo institucional de

    autonomia entranhada .

    Por contraste,

    a

    eficácia

    político-administrativa

    é núnima, quando o

    Estado

    é fraco e a

    sociedade

    ,

    fragmentada. No primeiro cenário, é possível que o Estado em parceria com

    grupos sociais

    divise políticas coesas

    e de longo alcance. No segundo,

    pode

    -se

    esperar que o Estado desenvolva apenas

    políticas

    de curto

    alcance

    e, em geral,

    ineficazes

    ou

    difíceis de implementar.

    3.2 SISTEM S

    POLÍTICOS

    E POLÍTIC PÚBLIC

    Os sistemas políticos

    também

    têm

    impacto

    crucial

    na capacidade

    política

    do

    Estado

    e no modo

    como os Estados

    produzem e implementam

    políticas

    e

    seus

    outcomes

    (Fabbrini

    e Sicurelli, 2008).

    Um

    dos aspectos ma i

    s s

    ignificativos do

    sis

    tema político a

    afetar

    a

    política

    pública é ser ele

    federal ou

    unitário . Em s

    istema

    s

    unitários a

    existência

    de uma

    clara

    cadeia de comando, ou hierarquia, ligando

    os diferente

    s níveis de governo entre si, numa

    relação

    de superior/subordinado,

    reduz a complexidade da governança e policy-m king multiníveis . Assim, em

    países como Grã-

    Bretanha,

    França, Japão e Tailândia, o governo avoca a

    si

    todos

    os poderes

    de

    tomada de

    decisão

    . Ele

    pode

    decidir delegar

    esses

    poderes a níveis

    inferiores de governo ou

    impô

    -los a eles,

    mas ninguém,

    legalmente, desafia o

    papel

    do governo central da nação

    .

    No que tange à

    política pública,

    o

    traço

    que distingue

    os

    sistemas

    políticos

    federais é a existência de

    pelo

    menos do is

    níveis

    autônomos ou

    ordens

    de

    governo

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    7/22

    ELSEVIER

    dentro

    de

    país. Esses dois níveis de governo, encontrados em países como

    Austrália, India,

    Brasil, Nigéria e

    Estados

    Unidos Burgess e

    Gagnon,

    1993;

    Duchacek, 1970), não

    estão ligados

    numa relação de superior/subordinado,

    mas, ao

    contrário, gozam de uma discrição

    mais ou

    menos total em

    matérias

    de sua jurisdição,

    que

    é

    garantida

    pela constituição. Isso é distinto

    dos

    sis

    tema

    s

    multiníveis de

    governo encontrados em sistemas unitários, em

    que órgãos

    locais (como, por exemplo, municípios, condados e distritos locais) devem sua

    existência

    ao governo nacional e não à

    constituição.

    O

    federalismo

    tem

    sido citado como

    uma

    razão fundamental

    para

    exp

    li

    car

    a

    baixa capacidade política de

    muitos

    setores político-administrativos em países

    como

    os Estados Unidos e o Canadá

    Howlett,

    1999; McRoberts, 1993). Em

    países federais, os governos

    acham

    difícil desenvolver políticas consistentes e

    coerentes,

    porquanto

    as políticas nacionais, na

    maidiia das

    áreas, exigem.acordo ·

    intergovernamental,

    envolvendo

    negociações complexas, extensas e consumi

    doras de tempo que

    nem

    sempre são bem-sucedidas Banting, 1982;

    Schultz

    e Alexandroff, 1985;

    Atkinson

    e

    Coleman,

    1989b).

    Além

    disso,

    ambos

    os níveis

    de governo estão

    sujeitos

    a

    revisão judicial

    imprevisívelde suas medidas, o que

    restringe ainda mais a habilidade

    do

    governo de realizar seus objetivos.

    Assim, o federalismo torna a policy-making um affair prolongado e

    muitas

    vezes rancoroso, na medida em que os governos disputam questões judiciais

    ou estão envolv~dos em extensas negociações intergovernamentais ou de litígio

    constitucional.

    E

    possível que diferentes governos

    em

    um

    mesmo país tomem

    decisões

    contraditórias

    que podem

    enfraquecer

    ou anular os efeitos de uma

    política ver

    Grande,

    1996; McRoberts, 1993).

    Outra variável institucional

    doméstica

    a afetar a política

    pública se

    refere aos

    vínculos entre o

    executivo,

    o

    legislativo

    e o judiciário previstos na

    constituição

    do país.

    Nos

    sistemasparlamentaristas o executivo é escolhido pelo legislativoa partir

    de seus

    membros

    e

    permanece

    no

    posto

    somenteenquanto

    gozar

    do apoio da maioria

    dos legisladores. Nos sistemaspresidencialistas o executivo é separado do legislativo,

    em geral é escolhido

    diretamente

    pelos eleitores e não precisa do apoio da maioria

    dos parlamentares (Stewart, 1974). Os Estados Unidos são o arquétipo do sistema

    presidencialista, ao passo que a maioria dos demais países do

    mundo

    tem alguma

    versão

    de

    sistema parlamentarista; outros, como a França, apresentam

    um

    lubrido

    dos dois sistemas.

    A

    separação entre

    os

    poderes

    executivo e legis

    lativo

    dos

    governos, nos

    sis

    temas

    presidencialistas, e a sua fusão,

    nos sistemas parlamentaristas, têm

    con

    sequências importantes para os processos político-administrativos (Weaver e

    Rockman, 1993a). A divisão dos poderes traz dificuldades para

    os

    policy-makers

    nos sistemas presidencialistas. Os membros individuais e as comissões do con

    gresso

    desempenham

    papel ativo no design de

    políticas,

    inclusive nas propostas

    pelo presidente. Faz diferença se o

    partido

    do presidente tem maioria nas

    duas

    casas do legislativo, mas anseios locais muitas vezes

    motivam

    os legislad

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    8/22

    ELSEVIER

    enfrentar legisladores oposicionistas que prefereme priorizam políticas distintas.

    Mas mesmo nesses casos, o executivo de modo geral tem

    uma

    ampla área de

    discrição, além do controle do legislativo, sobre matéria financeira e regulatória,

    como também

    em

    áreas como defesa, segurança nacional e questões relacionadas

    a obrigações decorrentes

    de tratados

    internacionais de diferentes tipos.

    Além de

    sua prerrogativa em

    matérias

    de política pública,

    o

    executivo

    possui

    urna gama de outros recursos que fortalecem sua posição. O controle sobre

    uiformações é um desses recursos críticos. O executivo dispõe

    de

    informações

    iJlcomparáveis

    que ele retém, libera

    e

    manipula de maneira

    a

    favorecer

    suas

    posiçõ:s e a enfraquecer a posição dos a~vers~os. O contr_?le sobre os recursos

    fiscais e outro trunfo que favorece o executivo, p01s a aprova çao do orçamento pelo

    legislativo, em geral, permite-llie amplas áreas

    de

    discrição. O executivo conta ainda

    co:rn

    acesso ímpar aos meios de comunicação

    de

    massa para tomar públicas suas

    posições, o po?~

    da

    presidênci~ - ( bull-y_pulp~t ), como

    se~

    nos

    Estadm~

    e minar as pos1çoes dos

    adversanos

    . Alem dISso, o executivo

    tem

    a burocracia a

    sua disposição para

    assessorá-lo e conseguir realizar

    suas

    preferências. Ele pode e,

    :muitas vezes, faz uso desses recursos para controlar e influenciar atores societários,

    corno os grupos

    de

    interesse, a mídia

    de

    massa e

    os

    institutos

    de pesquisa, ou

    think

    tanks. Em muitos países, o governo também tem importantes poderes que llie

    per

    mitem determinar o momento propício para encaminhar e submeter

    à aprovação

    projetos de lei no legislativo. Is so confere ao executivo um grande poder de controle

    sobre a agenda política (Bakvis e MacD onald , 1993).

    Contrapor os efeitos dos imensos recursos constitucionais, financeiros, de in

    formação e de pessoal, colo cados à disposição do executivo, é condição

    que

    toma

    sua tarefa difícil para quem ousa

    empreendê-la.

    O tremendo crescimento em

    tamanho, escopo e

    complexidade

    das funções

    governamentais

    ao

    longo dos

    anos,

    por exemplo, impede que

    os

    políticos

    generalistas

    controlem ou, muitas vezes,

    consigam estar a par das muitas

    atividades

    específicas

    do governo,

    nominalmen

    te sob

    seu

    controle (Adie e Thomas, 1987;

    Kemaghan,

    1979, 1985a). Além

    disso,

    nos governos democráticos ,

    os ministros

    são constantemente bombardeados com

    demandas societárias,

    muitas

    das quais mutuamente contraditórias, mas que

    eles com frequência, não podem ignorar, devido à necessidade de manter o apoio

    dos eleitores (Canes-Wrone et al., 2001). Finalmente, e quiçá o mais importante

    de

    tudo, o governo tal vez não tenha a capacidade organizacional de desenvolver

    políticas coerentes e

    de implementá

    -las

    com

    eficácia.

    Os

    membros

    do legislativo

    exercem um papel muito diferente. Nos sistemas

    parlamentaristas, a tare fa do legislativo é

    antes

    garantir que

    os governos

    prestem

    contas

    ao público

    do

    que

    desenvolver ou

    implementar políticas. Mas o desempe

    nho

    dessa função-enseja oportunidades

    para influenciar

    políticas. Os legislativos

    são fóruns cruciais onde se expõem problemas sociais e

    se

    descortinam políticas

    para enfrentá-los . Os legisladores também

    conseguem

    ter voz no processo de

    aprovação dos projeto s de lei e dos orçamentos do governo destinados a financiar

    sua implementação. Em troca de seu consentimento, eles conseguem, às vezes,

    exigir

    mudanças nas políticas em questão. Os legisladores também podem le

    vantar e discutir problemas de implementaçãoe requerer mudanças. Entretanto,

    0

    potencial político-administrativode um legislativo pode,

    muitas

    vezes,

    não

    se

    ELSEVIER

    realizar

    na

    prática. Isso

    se

    deve ao domínio exercido

    pelo

    executivo e

    seus

    efeitos

    sobre a organização interna

    do legislativo

    e sobre o

    papel desempenhado

    pelas

    comissões

    legislativas Olson e Mezey, 1991).

    A maioria das leis são prop_ostas pelo executivo e em seguida são, regularmen

    te, adotadas pelo legislativo. E dessa forma que acontece em especialnos sistemas

    parlamentaristas,

    onde o partido majoritário forma o

    governo

    e, portanto, se

    espera

    que

    apoie a tramitação

    dos

    projetos de lei propostos pelo ex~tivo. Nos

    sistemas presidencialistas,por outro lado, o legislativo é independente

    do

    governo

    em

    termos constitucionais

    e _práticos.,. o

    que

    ex.plica

    po.r

    que

    os presidentes,

    in

    dependentemente

    de

    seu partido

    ter

    maioria legislativa,

    precisam

    fazer barganhas

    com o legislativo

    ou

    correr o

    risco

    de ter

    suas

    propostas políticas rejeitadas.

    A organização interna do legislativo é

    também

    uma determinante significativa

    de eU papel no processo pôlltico. s legislativos -em

    que

    a{iliação é estritamente

    organizada

    em

    torno das diretrizes partidárias e marcada

    por

    elevado

    grau

    de coesão e disciplina, dão pouca oportunidade para os legisladores tomarem

    posições independentes. Isto é

    particularmente

    verdadeiro nos sistemas parla

    mentaristas,

    em que se espera que os legisladores

    pertencentes

    ao partido do

    governo sempre

    o

    apoiem,

    exceto, em

    raras

    ocasiões, quando são

    submetidas

    à

    votação

    questões

    sociais incertas

    de natureza moral.

    De maneira semelhante, o

    papel

    dos

    legisladores

    individuais é

    menor

    nos parlamentos

    em que

    um par

    tido com clara

    maioria;

    a

    existência

    de diversos partidos menores nos governos

    de

    coalizão

    permite maior chance

    para

    os legisladores expressarem

    sua

    opinião

    e forçarem o governo a negociar com eles .

    Em muitos legislativos contemporâneos, as funções políticas mais importantes

    são

    realizadas, não no plenário do legislativo, mas nas comissões estabeleci

    das

    por linhas funcionais ou setoriais

    para examinar

    a legislação

    proposta

    . As

    comissões

    desenvolvem,

    muitas vezes,

    uma expertise considerável na

    área em

    que atuam, e a

    extensão

    de

    tempo dedicada

    a essa

    tarefa

    permite ao legislativo

    exercer influência sobre o desenvolvimento e a implementação

    de

    políticas. Mas

    para desenvolver expertise os

    membros

    precisam servir nas

    comissões

    por

    um

    período de tempo relativamente longo. Os membros das comissões taçri.bém não

    devem votar, necessariamente,em linha com as diretrizes partidárias, se desejam

    manter sua influência. · - -- ··

    A

    natureza do problema considerado também

    influencia

    o

    envolvimento

    do legislativo no processo da política. É

    improvável

    que os legisladores deem

    opiniões sobre as questões técnicas, pois eles

    não compreendem

    inteiramente os

    problemas

    ou

    soluções,

    ou podem ver pouco

    benefício

    em

    seu tratamento da matéria.

    s

    questões

    de

    segurança nacional e política externa também são,

    em

    geral,

    condu

    zidas

    sob

    um

    manto de sigilo e fora

    da

    esfera

    do

    legislativo. De maneira análoga,

    é improvável que as políticas

    que

    lidam com um problema considerado crítico

    envolvam muito o legislativo, em virtude do tempo

    que

    seria necessário para

    apresentar, debater, tramitar e aprovar um projeto de lei . As políticas que tratam

    da alocação ou

    redistribuição

    de

    recursos

    ou de renda entre os membros do

    público é que

    geram

    o grau

    mais elevado

    de paixão e debate no legislativo,

    mas

    em geral não têm muito efeito sobre a orientação política global de um governo.

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    9/22

    ELSEVIER

    Entretanto,

    outras

    políticas

    relacionadas com a propagação e manutenção

    de

    cert o

    s

    valore

    s s

    imbólicos, tais

    como a

    escolha

    da bandeira

    nacional,

    irrúgração,

    multiculturalismo, oração

    nas

    escolas ou

    elirrúnação do

    racismo

    e

    sexismo,

    mui

    tas

    ve

    zes

    provocam tanta

    cisão

    que o

    executivo se

    dispõe

    um

    pouco mais a levar

    em consideração as perspectivas dos

    legisladores

    na

    criação

    da

    legislação

    .

    Em consequência de stas

    limitações,

    nos sistemas parlamentaristas os legislati

    vos em geral exercem apenas um

    papel pequeno no

    processo

    de

    política pública.

    Enquanto

    os legisladores

    individuais, com base

    em sua expertise ou interesse

    especial

    por uma

    questão

    em

    particular,

    podem

    se engajar como atores políticos

    individuais,

    os legislativos

    como

    um

    todo

    não

    são atores muito importantes

    no

    desenvolvimento

    e

    implementação

    de políticas públicas.

    Nos

    sistemas

    congressionais

    ou republicanos, por outro lado, em que a agenda

    legislativa

    é menos estritamente controlada pelo executivo, os legisladores individuais

    podem e

    de

    fato

    exercem um

    papel muito mais

    influente

    nos

    processos políticos

    e as

    comissõ~s

    e coa1izões

    legislativas

    são participantes

    significativos

    de muitos

    subsistemas da política

    pública

    (Warwick,

    2000; Laver e

    Hunt,

    1992; Laver e

    Budge, 1992).

    3 3 2 público

    Por mais surpreendente que possa

    parecer,

    o

    público

    tem um papel

    direto rela

    tivamente pequeno

    no processo da política pública. Isto

    não quer dizer que seu

    papel não tenha consequências, já que ele propicia

    o

    pano

    de

    fundo das normas,

    atitudes e

    valores

    contra os quais o

    processo político se desenrola

    . No

    entanto,

    na maior parte dos Estados

    democráticos, as decisões políticas são

    tomadas por

    instituições

    representativas que atribuem poderes a

    atores especializados

    para

    determinar o escopo e o conteúdo das

    políticas

    públicas, mas

    essas instituições

    não proveem mecanismos pelos quais o público possa determiná-las diretamente

    de uma forma

    natural

    ou lógica.

    Papel importante

    desempenhado

    pelos membros

    do

    público,

    no

    Estado poli

    teia) democrático,

    é o

    de eleitores.

    Por

    um lado,

    a

    eleição of ~ os meios mais

    básicos

    e

    fundamentais de participaçãona

    política

    democrática

    e, por implicação,

    nos

    proces

    s

    os

    da

    política pública

    . Ela não

    aos

    cidadãos a oportunidade de

    expressar

    sua

    escolha

    do

    governo,

    mas também

    lhes

    dá o poder de

    insistir

    que

    os candidatos e partidos

    políticos,

    que buscam seus

    votos,

    providenciem (ou

    pelo menos proponham)

    pacotes

    políticos

    atrativos

    . Por outro

    lado,

    a

    capacidade

    dos

    eleitores

    de

    dirigir

    o curso da

    política

    em geral não pode ser realizada, pelo

    menos não diretamente, por

    no

    mínimo três razões (Hibbing e

    Theiss-Morse,

    2002).

    Em

    primeiro lugar, em

    sua

    maior parte, as democracias delegam a policy-ma

    kin

    a representa.. . es políticos que, uma

    vez ungidos

    pelos eleitores,

    não

    são

    obrigados

    a

    dar atenção às preferências de seus constituintes em

    cada

    questão

    issue)

    (Birch, 1972).

    Em segundo

    lugar, como se

    discutiu

    anteriormente,

    os

    legisladores

    em

    sua

    maioria participam muito pouco no

    processo

    político, que

    tende a

    se

    r dominado antes por experts em

    áreas setoriais

    específicas do que por

    generalistas

    legislativos

    (Edwards

    e Sharkansky, 1978, p . 23). Em terceiro lugar, os

    LS VT R

    candidatos

    e partidos

    políticos

    muitas

    vezes

    não

    concorrem

    .a

    eleições com base

    em

    suas plataformas

    políticas; e, mesmo quando o

    fazem, os

    eleitores em

    geral

    não

    votam somente com base

    nas políticas

    propostas .

    Dito isso,

    a

    verdade

    é

    que

    os

    políticos dão atenção à opinião pública, em sentido geral, enquanto

    divisam

    políticas,

    mesmo que nem sempre lhe deem a-resposta esperada ou

    acomodem-na Soroka, 2002).

    O impacto da opinião

    pública

    nos processos políticos é mais frequente e

    difuso, embora ainda menos direto

    do

    que a eleição. Apesar de muitos estudos,

    nas últimas décadas, terem constatado, de modo consistente, que

    a

    relação entre

    opinião pública

    e

    policy-making pública

    nas

    sociedades democráticas

    é

    tênue

    e

    complexa, ainda persiste

    a

    tendência

    de

    se

    vê-

    la como

    uma

    relação

    simples,

    direta

    e

    linear

    (ver

    Luttbeg,

    1981;

    Shapiro

    e Jacobs, 1989).

    Pelo menos desde

    a

    época das

    primeiras análises sobre

    o assunto

    por estudiosos como

    V O.

    Key

    1967),

    E

    E.

    Schattschneider

    1960) e Bernard

    Berelson

    1952),

    cientistas

    políticos de renome

    e

    outros estudiosos

    encontraram, reiteradamente, pouca ou nenhuma

    conexão

    direta entre opinião pública e outcomes políticos. Não

    obstante,

    em estudo após

    estudo,

    se faz

    e

    se

    repete esta

    constatação,

    na

    medida

    em que

    os

    pesquisadores

    parecem insatisfeitos com ela (Monroe, 1979; Page e Shapiro, 1992). Como sugeriu

    Schattschneider, isso se deve, sem

    dúvida,

    à noção sincera, mas às vezes sim

    plista, que dá mais valor ao

    governo pelo povo do que

    ao

    governo

    para o

    povo .

    Mas

    a

    realidade

    é

    mais complexa (Soroka,

    2002): a

    democracia

    é

    mais

    do

    que

    oclocracia, o

    governo exercido pela

    multidão Birch, 1972).

    Embora

    seja

    louvável

    o

    interesse

    pela

    soberania popular, as especulações teóricas

    devem

    ser

    temperadas com a

    realidade empírica, para

    que

    se

    possa

    analisar

    e entender de

    modo efetivo a

    relação

    entre a opinião

    pública

    e a

    política pública

    2

     

    O modelo

    mais simples

    da relação

    entre opinião pública

    e policy-making

    pública

    vê o governo como

    uma

    máquina de policy-making, processando, diretamente,

    sentimentos

    populares

    em decisões de política pública e estratégias de im

    plementação.

    Esta

    é uma percepção altamente problemática,

    na

    medida em que

    admite que a opinião pública possui caráter concreto, como que permanente, que

    pode

    ser facilmente agregado em posições políticas coerentes (Erikson et al., 1980;

    Erikson et al.,

    1989).

    Inúmeros

    estudos

    sublinharam

    a natureza

    vaga, abstrata

    e

    transitória da opinião

    pública e enfatizaram

    as dificuldades encontradas

    para

    agregar

    o murmúrio da vontade coletiva ,

    como diria Rousseau,

    em prescrições

    políticas

    endossadas universalmente

    (Rousseau, 1973; ver também Lowell, 1926).

    Além

    disso,

    muitos pesquisadores

    de

    opinião e estudiosos de

    política

    pública

    observaram como estas dificuldades

    se

    multiplicaram à medida que questões

    científicas e legais

    complexas

    passaram a dominar a policy-making nas

    sociedades

    contemporâneas, distanciando ainda mais

    os

    discursos

    políticos

    dos públicos

    (ver Pollock

    et al., 1989;

    Torgerson,

    1996; Hibbing e

    Theiss

    -

    Morse,

    2002).

    2

    A natureza normativa e ideológica de grande parte da

    discussão sobre

    esse

    assunto

    é visível

    nos

    títulos

    e termos

    usados para

    descrever

    muitas

    constatações. Recentemente,

    pode

    -se

    ver

    isso, aliás, nos excelentes

    estudos comparativos e históricos de Joel Brooks, que, ao constatar

    uma

    relação muito

    fraca

    entre

    opinião pública e

    policy-making, deu

    a este fenômeno o

    nome

    de frustração democrática ,

    sugerindo que

    ela provém de um problema

    com

    o sistema político-administrativo que não consegue reagir de forma

    adequada ao

    sistema democrático.

    Ver

    Brooks

    1985, 1987, 1990).

    Mais recentemente,

    ver

    Petry

    1990).

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    10/22

    ELSEVIER

    Assim, não se deve tomar gratuitamente o

    papel do

    público na policy-making

    como algo direto ou

    decisivo

    . Mas

    ele

    também não deve ser ignorado,

    especial

    mente

    em relação aos outros elementos

    do

    contexto político-administrativo .

    Mesmo que as eleições raramente·proporcionem um insumo público para

    opções

    específicas de

    política

    pública, elas podem muitas vezes introduzir

    mudanças

    reais na sua agenda, mesmo qu€ essas mudanças sejam algo totalmente im

    previsível.

    3 l 3 urocracia

    Os funcionários

    nomeados que

    lidam

    com

    a política e a

    administração pública

    são muitas vezes chamados, coletivamente,

    de

    burocracia .

    Sua

    função é

    ajudar

    o executivo na realização

    de

    suas

    tarefas,

    como sugerem os termos servidores

    civis e servidores públicos . No entanto, a realidade do governo moderno é

    tal que seu papel vai muito além do que se poderia esperar de

    um

    servidor .

    De fato, os burocratas são, muitas vezes, a chave

    no

    processo político e as

    figuras

    centrais em muitos subsistemas político-administrativos (Kaufman., 2001).

    A maior parte das funções de policy-m king e implementação, anteriormente

    conduzidas diretamente pelos legislativos e

    pelo

    executivo político,

    são agora

    realizadas pela burocracia, porque as

    responsabilidades

    do

    governo moderno

    são complexas e

    numerosas demais

    para

    serem executadas apenas pelo

    gabinete

    (ver Bourgault e Dion, 1989;

    Cairns,

    1990b; Priest e Wohl, 1980).

    Certas

    políticas

    têm sido

    de

    fato

    automatizadas ,

    de

    forma

    que

    as ações

    de

    rotina

    podem

    ser

    empreendidas

    sem a intervenção humana . A indexação das pensões públicas

    pela taxa da inflação é

    um

    exemplo de governo automático (Weaver, 1988).

    As decisões políticas mais excepcionais também podem ser afastadas da deli

    beração de homens e mulheres, corno ocorreu

    no

    caso da política de segurança

    dos Estados Unidos conhecido como Destruição Mútua

    Assegurada

    (MAD),

    durante o auge

    da

    Guerra Fria,

    nesse

    caso, devido à presunção de que não

    haveria tempo para reagir a um

    ataque

    nuclear

    da União

    Soviética.

    O poder e a influência

    da

    burocracia se

    baseiam em

    seu

    comando

    sobre uma

    ampla gama

    de

    recursos políticos

    importantes

    (ver Hill, 1922, p. 1-11). Em pri

    meiro lugar, a própria lei provê que certas funções cruciais sejam desempenhadas

    pela burocracia e pode

    conferir ampla discrição

    a burocratas individuais para

    que tomem

    decisões

    em nome do Estado . Em segundo lugar, as burocracias

    têm

    acesso

    incomparável

    a

    recursos materiais

    para

    perseguir seus próprios

    objetivos organizacionais, e até pessoais, se

    assim

    lhes aprouver. O governo é

    o m~ior g~stador individual na maioria dos países, uma situação que dá a seus

    funaonanos voz poderosa em

    muitas

    áreas políticas .

    Em

    terceiro luo-ar, a buro

    cracia é o repositório de uma ampla

    gama de

    habilidades e expertises r;cursos que

    a tornam uma organização de

    máxima importância

    na sociedade. Ela

    emprega

    um gr~de ~~ro

    de

    profissionais de quase

    todos

    os tipos, contratados

    por sua

    xp rtzs

    especializada. O fato de

    lidarem com problemas semelhantes

    em

    base

    contínua favorecem esses

    experts com insights únicos sobre muitos problemas

    .

    Em quarto lugar, as burocracia~ modernas

    têm acesso

    a vastas quantid.ades

    de

    informação sobre a sociedade. As vezes, a informação é coletada, de forma deli

    berada, mas em outras ocasiões ela lhes chega simplesmente em consequência de

    . .

    ELSEVIER

    sua posição central no governo. Em

    quinto

    lugar, a

    permanência

    da

    burocracia

    e a

    longa carreira estável de seus membros, muit as vezes,

    lhes

    conferem uma

    vantagem sobre seus superiores nominais, o executivo

    eleito

    . Finalmente, o fato

    das

    deliberações

    políticas,

    em sua maior parte, ocorrerem em segredo dentro

    da burocracia nega aos outros atores políticos a oportunidade de montar opo

    sição a seus planos . Os burocratas podem, portanto, exercer uma

    ~u~d

    notável

    na

    configuração do contexto da política .

    A

    estrutura da

    burocracia tem talvez o seu efeito mais forte nos processos

    da

    política pública,

    especialmente

    em

    seu nível

    setorial

    (Atkinson

    e Colernan, 1989a).

    A concentração do poder

    em apenas alguns órgãos reduz

    as

    oportttnidad~

    de

    conflito e permite

    planejamento político de longo

    prazo . A

    difusão do poder,

    em contraste,

    fomenta conflitos entre as repartições e a falta de

    coordenação;

    as

    decisões podem ser tomadas com base em

    sua aceitabilidade

    pelos órgãos envol

    vidos e não fundamentada em seu mérito

    intrínseco.

    A autonomia da burocracia

    em

    relação

    às

    políticas

    e aos

    grupos

    societários

    também contribui para sua força

    e eficácia na policy-making.

    Para ser

    forte, a burocracia

    deve

    ter mandato claro,

    caráter profissional e gozar de forte apoio,

    mas não de

    interferência,

    dos

    políticos

    em

    suas

    atividades do

    dia

    a

    di a

    . Laços estreitos

    com grupos

    de clientes

    também

    não devem ser permitidos,

    para que a

    burocracia

    seja eficaz. A

    capacidade

    de

    produzir

    e

    processar suas próprias

    informações é

    igualmente importante,

    para

    se

    evitar

    a

    dependência

    de grupos de

    intere

    sse.

    Países como França,

    Coreia,

    Cingapura

    e

    Japão tiveram, hi

    s

    toricamente,buro

    cracias com elevado status de apreço e respeito peran te o governo e a ociedade

    (Katzenstei n, 1977). Diz -se que constituem um agrupamento de elite homogêneo,

    que

    desempenha

    o

    papel

    mais

    importante

    no processo da política pública. Eles

    se submetem a

    uma

    longa preparação profissional e depois se envolvem no

    serviço ao governo por

    toda

    a

    vida. Em outras

    sociedades, como na Rússia e na

    Nigéria, as burocracias

    gozam

    de status relativamente baixo e carecem da

    capa

    cidade de

    resistir às pressões

    dos

    legisladores

    ou grupos

    sociais, o

    que, muitas

    vezes,

    promove

    incoerência e visão estreita

    nas

    políticas . No limite extremo, os

    burocratas podem ficar tão marginalizados

    que

    a corrupção se torna a norma,

    seja como forma

    de

    suplementar os magros salários ou porque não se

    valor

    à ética e ao império da lei .

    A mobilização efetiva da expertise burocrática é mais

    rara

    do

    que

    cornumente

    se acredita

    (Evans, 1992).

    Apesar

    da

    expansão maciça

    da

    burocracia pelo

    mundo

    afora

    nas

    últimas décadas, são as burocracias fracas, no

    sentido

    em

    que aqui

    se

    entende

    o termo, as

    que constituem

    a

    norma,

    e não a exceção (Evans, 1995).

    Em

    muitos

    países

    com

    corrupção, salários baixos e condições de

    trabalho

    precárias,

    as

    burocracias muitas vezes

    não

    são capazes

    de

    lidar

    com

    os problemas com

    plexos

    que

    lhes cabe enfrentar. No país

    em que

    prevalecem essas condições,

    é muito provável que o

    Estado

    tenha dificuldades

    para

    arquitetar políticas

    efetivas e de implementá-las nos termos pretendidos (Halligan, 2003; Burns e

    Bowornwathana, 2001; Bekke e Van Der Meer, 2000;

    Verheijen

    , 1999; Bekke et

    al. 1996). Em muitos países,

    mesmo que

    exista expertise burocrática numa área

    em particular, os

    problemas

    de organização e

    liderança

    impedem sua efetiva

    implementação (Desveaux et al. 1994).

  • 8/20/2019 TEXTO II Publica Seus Ciclos e Subsistemas Cap03

    11/22

    ELSEVIER

    Embora seja

    tentador

    ver

    os burocratas como

    os atores políticos

    mais

    impor

    tantes, seja por meio de seu

    dornúúo

    das alavancas

    do

    poder ou porque sua

    ineficácia restringe muitas iniciativas

    políticas,

    deve-se procurar não exagerar

    o papel da burocracia. O executivo político, em última :instância, é o responsá

    vel por todas as políticas, uma autoridade que ele, às vezes, faz de fato valer.

    Questões políticas de alta visibilidade

    têm grandes

    chances de envolver rúveis

    mais elevados

    de

    controle executivo. É também provável que

    esse controle

    seja maior, se a burocracia

    se

    opuser de modo consistente a

    uma

    opção política

    preferida pelos políticos.

    Além

    disso, a

    própria

    burocracia

    não

    é uma organização

    homogênea,

    mas antes

    um

    agregado

    de

    organizações,

    cada qual

    com os seus

    próprios interesses,

    suas perspectivas

    e

    seus procedimentos operacionais

    -pa

    drão, o que pode tornar difícil a chegada a uma posição uniforme. Até em

    um

    mesmo departamento, muitas vezes, há aivisões nas l:inhas funcionais,

    pessoais,

    polítiÇ/3.S e técnicas. Portanto, não é

    :incomum

    que o executivo tenha que :intervir

    para resolver conflitos :intra e :interburocráticos, e que os burocratas em países

    democráticos demandem o apoio dos funcionários eleitos para que possam

    exercer sua influência

    de alguma

    maneira relevante (Sutherland, 1993).

    3 3 4 Partidos políticos

    Os partidos políticos

    podem conectar

    as

    pessoas

    e

    seus governos

    de

    forma

    a

    afetar a política. Eles

    operam na

    fronteira

    entre

    os atores estatais e societários, às

    vezes atuando como

    mediadores, por

    cujo :intermédioos atores

    ganharão

    acesso

    ao

    poder

    político .

    Tendem

    a

    influenciar

    a

    política pública

    de

    forma indireta,

    principalmente por seu

    papel

    enquanto provedores de pessoal para o

    executivo

    e, em menor escala, para o legislativo. De fato, uma vez ocupando cargos no

    governo, não é incomum

    que

    os membros do

    partido

    ignorem sua plataforma

    partidária oficial no

    design

    de políticas (Thomson, 2001).

    O impacto dos

    partidos

    políticos

    sobre

    os outcomes

    da

    política

    pública

    tem

    sido alvo de comentários e

    pesquisas

    em.píricas Blais et al. 1996; Castles, 1982;

    Imbeau e Lachapelle, 1993; McAllister, 1989). As constatações., no

    que

    tange ao

    papel dos partidos

    na

    policy-making

    por

    exemplo, :incluíram evidências

    de

    que,

    historicamente, os governos

    europeus liderados por partidos democrata

    -cristãos

    e social-democráticos estiveram positivamente

    relacionados

    com o desenvolvi

    mento de

    programas

    de bem-estar social Wilensky, 1975;

    Korpi,

    1983) e de que

    os governos de esquerda e de direita tiveram orientações diferentes de

    política fiscal para reduzir, respectivamente, o desemprego e a

    inflação

    Hibbs,

    1977). Verificou-se, igualmente, que diferenças partidárias estiveram associadas

    a preferências típicas distintas por determ:inados :instrumentos políticos, como

    empresas públicas

    ou instrumentos com

    base no

    mercado

    (Chandler e Chan

    dler, 1979; Chandler, 1982, 1983). Entretanto, o significado

    contemporâneo

    dos

    partidos também foi desafiado

    por

    aqueles

    que argumentam que

    o governo se

    tomou complexo demais para

    ser

    influenciado pelos generalistas

    partidários,