teologia sistemÁtica ii

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Teologia

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  • CETAD EB Teologia S istemtica II

    TEOLOGIA SISTEMTICA II

    Pr Ciro Sanches Zibordi (Compilado)

    Copyright 2010 by Ciro Sanches Zibordi

    Capa, Diagramao e Designer: Mrcio Rochinski

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados a Denobi e Acioli

    Empreendimentos Educacionais.

    O contedo dessa obra de inteira responsabilidadedo autor.

    IMPRESSO E ACABAMENTO: Grfica Lex Ltda

    2^ Edio-Jun/2010

  • CETADEB Teologia S i stemtica II

    DIRETORIAS E CONSELHOS

    DiretorPr H rcu le s C a rv a lh o D enobi

    Vice-DiretoraE lia n e Pagan i A c io li D enobi

    Conselho ConsultivoPr D an ie l Sa le s A c io li - A p u c a ra n a -P R Pr Perci Fo n to u ra - U m u aram a -P R Pr Jo s P o lin i - Ponta G ro ssa -P R Pr V a lte r Ig n cio - G u a ra -P R

    Coordenao PedaggicaD agm a M a tild e s de So u sa dos Sa n to s - Apucarana-PR

    Coordenao TeolgicaPr G e n ild o S im p lc io - So P a u lo -SP Dc M rcio de So u za Ja rd im - G u a ra -P R

    Assessoria JurdicaDr M auro Jo s A ra jo dos Sa n to s - A p u c a ra n a -P R Dr C a rlo s E d u ard o N eres Lo u re n o - C u r it ib a -P R Dr A lte n a r A p a re c id o A lv e s - U m u aram a -P R Dr W ilso n R o b e rto P e n h a rb e l - A p u c a ra n a -P R

  • CETA D EB Teologia S istemtica II

    Autores dos Materiais DidticosPr Jo s Po lin i PR Jo o A. de So u za F ilho Pr C iro Sa n ch e s Z ib o rd i Pr G e n ild o S im p lc io Pr Ja m ie l de O liv e ira Lo pes Pr M arco s A n to n io F o rn a s ie ri Pr S rg io A p a re c id o G u im a r e s Pr Jo s Lim a de Je su s Pr Jo s M ath ia s A c c io Pr R e in a ld o P in h e iro Pr Edson A lv e s A g o st in h o R u b e n e id e O. Lim a Fe rn an d e s Z ilm a J. Lim a Lopes

  • CETADEB Teologia S i stemtica II

    NOSSO CREDO

    0 3 Em um s Deus, eternam ente subsistente em trs pessoas: O Pai, Filho e o Esprito Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).

    CQ Na inspirao verbal da Bblia Sagrada, nica regra in falvel de f norm ativa para a vida e o carter cristo (2Tm 3.14-17).

    Ql Na concepo virginal de Jesus, em sua morte vicria e expiatria, em sua ressurreio corporal dentre os m ortos e sua ascenso vitoriosa aos cus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9).

    EQj Na pecam inosidade do homem que o destituiu da glria de Deus, e que som ente o arrependim ento e a f na obra expiatria e redentora de Jesus Cristo que pode restaur-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19).

    CQ Na necessidade absoluta do novo nascim ento pela f em Cristo e pelo poder atuante do Esprito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Cus (Jo 3.3-8).

    EDI No perdo dos pecados, na salvao presente e perfeita e na eterna ju stificao da alma recebidos gratuitam ente de Deus pela f no sacrifc io efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9).

    A No batismo bblico efetuado por im erso do corpo inteiro uma s vez em guas, em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, conform e determ inou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12).

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  • CET AD EB Teologia S istemtica II

    Q Na necessidade e na possibilidade que tem os de viver vida santa m ediante a obra expiatria e redentora de Jesus no Calvrio, atravs do poder regenerador, inspirador e santificador do Esprito Santo, que nos capacita a viver como fi is testem unhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e IP e 1.15).

    Q No bati smo bblico no Esprito Santo que nos dado por Deus m ediante a intercesso de Cristo, com a evidncia inicial de fa lar em outras lnguas, conform e a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).

    0 Na atualidade dos dons espirituais d istribudos pelo Esprito Santo Igreja para sua ed ificao, conform e a sua soberana vontade (IC o 12.1-12).

    CQ Na Segunda Vinda prem ilenial de Cristo, em duas fases d istintas. Prim eira - invisvel ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulao; segunda - visvel e corporal, com sua Igreja g lorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos ( lT s 4.16. 17; IC o 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).

    C J Que todos os cristos com parecero ante o Tribunal de Cristo, para receber recom pensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10).

    O No ju zo vindouro que recom pensar os fi is e condenar os infiis (Ap 20.11-15).

    tfll E na vida eterna de gozo e fe licidade para os fi is e de tristeza e torm ento para os infiis (Mt 25.46).

    Conveno Geral das Assemblias de Deus do Brasil - CGADB

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  • CETAD EB Teologia S istemtica II

    ABREVIAESa.C. - antes de Cr isto.ARA - A lmeida Revista e Atua l i zada ARC - A lmeida Revista e Corr ig ida AT - Ant igo Te st am e nt o BV - Bbl ia VivaBLH - Bbl ia na L i nguagem de Hojec. - Cerca de, ap r ox im ad a m e nt e , cap. - cap tulo; caps. - cap tulos , cf. - confere, compare .d.C. - depo is de Cristo.e.g. - por exemplo .Fig. - F igurado.fig. - f igurado; f i g ura dam ent e , gr. - g rego hb. - hebra ico i.e. - isto .IBB - Imprensa Bbl ica Brasi lei ra Km - S m bol o de qu i lometro lit. - l i teral , l i tera lmente .LXX - Septu ag in ta (verso grega do AT) m - S mbolo de metro.MSS - manus cr i t os NT - Novo Te s ta m e nt o NVI - Nova Verso Internac iona l p. - pgina.ref. - re fernc ia; refs. - re fernc iasss. - e os seg u intes ( isto , os ver s cu los co n se c u t iv o s de um cap tu lo at o seu f inal . Por exemplo : I P e 2.1ss, s ign if i ca I P e2.1-25) .sc. - scu lo (s). v. - vers cu lo; vv. - vers cu los , ver - veja

  • CETAD EB Teologia S istemt ica II

    SUMRIO

    Lio I - A Do u t r in a d a T r in d a d e ............................................................. 11

    A t iv id a d e s - Lio 1........................................................................................ 34

    Lio I I - A D o u t r in a de D eu s Pai - T e o l o g ia .........................................35

    A t iv id a d e s - L io II .................................................................................... 73

    Lio III - A D o u tr in a de J esu s C r is t o ....................................................75

    A t iv id a d e s - L io III .................................................................................121

    Lio IV - A D o u tr in a de Esp r it o Sa n to - P n eu m a to lo g ia1- Pa r t e .....................................................................................123

    A t iv id a d e s - L io IV ..................................................................................145

    Lio V - A D o u t r in a de Espr ito Sa n to - P n eu m a to lo g ia2 Pa r t e ...................................................................................147

    A t iv id a d e s - L io V ........................................................................ 177

    Re fer n c ia s B ib lio g r fic a s 178

  • CETADEB Teologia Sistem tica II

  • CETA D EB Teolo gia S istem tica II

    Lio I

    ^3(s v 35

    C U &

    CsS1 ^ < ^ 3

    (s v 3 I l

    & =

    ^ 3

  • 12

  • CETADEB Teologia S istemtica II

    A DOUTRINA DA TRINDADE

    No departamento da Teologia Sistemtica, mais precisamente na matria Teologia (ou Teontologia), estudamos a respeito dos atributos de Deus, como a sua unidade e a sua triunidade. Como veremos, neste livro, a doutrina da

    Trindade no compromete a unidade de Deus.

    Trataremos, pois, da histria, do conceito e dos fundamentos bblicos da doutrina da Trindade. No h contradio entre o monotesmo do Antigo Testamento e a Trindade crist, haja vista o mesmo e nico Deus subsistir eternamente em trs Pessoas. Ele um s Senhor em trs Pessoas, e no trs Deuses.

    I - C a d a P es so a Da T r in d a d e D eu s

    A Palavra do Senhor descarta a ideia de tritesmo (trs Deuses) e de unicismo. A Trindade pode ser definida como a unio de trs Pessoas o Pai, o Filho e o Esprito Santo em uma s divindade. Tais Pessoas, embora distintas, so iguais, eternas e da mesma substncia. Ou seja, Deus cada uma dessas Pessoas.

    As Escrituras Sagradas ensinam que h um s Deus, e que Ele um s. Elas ensinam que o Pai Deus pleno, com todos os atributos da divindade (ICo 8.6); e que o Filho Deus, e no apenas parte da divindade: "porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9). E elas tambm asseveram que o Esprito Santo Deus (At 5.3-4).

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  • CETAD EB Teologia S istemtica II

    II - A Trindade n o te tra g ra m a YHWHA Palavra de Deus afirma que a Trindade Deus. Vemo-

    la no tetragrama YHWH. Nesse caso, quando lemos o nome "Deus" ou "Senhor", nas Escrituras, precisamos entender que esses termos podem ser aplicados Trindade, isoladamente ou da mesma maneira, ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo.

    2 .1 - T e x to s Q ue R e v e la m U n id a d e Na T r in d a d e

    Analisemos algumas passagens bblicas que revelam a unidade na Trindade:

    1) "E h de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo; porque no monte Sio e em Jerusalm haver livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar" (Jl 2.32). Neste texto, o tetragrama, segundo o Novo Testamento, uma referncia ao Senhor Jesus (Rm 10.13).

    2) "E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalm derramarei o Esprito de graa e de splicas; e olharo para mim, a quem traspassaram; e o prantearo como quem pranteia por um unignito; e choraro amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primognito" (Zc 12.10). Temos, nesta passagem, uma profecia escatolgica; o Deus Jeov de Israel promete proteger Jerusalm e seus moradores.

    Observe a expresso: "e olharo para mim, a quem traspassaram". Quem foi ao Cu traspassar a Jeov? Trata-se, naturalmente, de uma referncia a Jesus, quando foi traspassado no Glgota: "E outra vez diz a Escritura: Vero aquele que traspassaram" (Jo 19.37).

    3) "E disse ela: Os filisteus vm sobre ti, Sanso. E despertou do seu sono e disse: Sairei ainda esta vez como dantes e me livrarei. Porque ele no sabia que j o Senhor se tinha retirado dele" (Jz16.20). O contexto desta referncia mostra que YHWH se refere ao Esprito Santo (Jz 15.14).

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  • CET ADEB Teologia S istemtica II

    Esses ciados da revelao nos parecem complexos, mas essa aparente complexidade no sinnima de contradio. No h, na verdade, contradio nas Escrituras; estamos lidando com um Ser que infinito. Como escreveu Chafer: "A doutrina como apresentada nas Escrituras , portanto, aceitvel ainda que no explicvel".

    2.2 - D e u t e r o n m io 6 .4 \ /

    "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, o nico Senhor". evidente que esta passagem bblica refere-se ao Deus Trino, Trindade como veremos abaixo. Nela, temos tanto o termo "Deus" como o tetragrama YHWH. A sua nfase o monotesmo, que se tornou ao longo dos sculos a confisso de f dos judeus.

    Ainda hoje, os judeus religiosos recitam esse versculo trs vezes ao dia. O termo hebraico usado para "nico" ('ehad) indica unidade composta. No famoso Shem de Deuteronmio 6.4... a questo da diversidade dentro da unidade tem implicaes teolgicas. Alguns eruditos tm pensado que, embora "um" esteja no singular, o uso da palavra abre espao para a doutrina da Trindade.

    A expresso hebraica YHWH 'ehad traduz-se tambm por "Jeov um"; esta construo hebraica aparece em Zacarias 14.9: "naquele dia um s ser Jeov, e um s o seu nome" (Traduo Brasileira). A palavra apropriada hebraica para "unidade absoluta" yhTd, que traz a idia de "solitrio, isolado", mas no esse o termo usado em Deuteronmio 6.4.

    Em Gnesis 2.24, a palavra 'ehad usada para dizer que o marido e a mulher so ambos "uma s carne". O Novo Testamento no contradiz o Antigo, porm torna explcito o que dantes estava implcito: a unidade de Deus no absoluta; e sim composta. O Antigo Testamento revela a unidade na Trindade, ao passo que o Novo revela a Trindade na unidade.

    A doutrina da Trindade no neutraliza nem contradiz a doutrina da unidade; nem esta anula a da Trindade, que, conforme

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  • CETADEB Teolo gia S istemtica li

    pregada pelos cristos que seguem a Palavra do Senhor consiste em um s Deus em trs Pessoas, e no trs Deuses; isso seria apenas uma trade, e no a Trindade.

    Ifl - D e s e n v o lv im e n t o H is t r ic o Da D o u t r in a D a T r in d a d e

    0 termo "trindade" no aparece nas Escrituras Sagradas; uma formulao posterior. 0 fato de a nomenclatura vir depois do fechamento do cnon sagrado no significa que a doutrina da Trindade no exista ou que no seja bblica. De carter teolgico, a palavra em apreo foi atribuda divindade, no final do segundo sculo, por Tertuliano de Cartago, ao escrever contra o unicismo.

    Depois da metade do segundo sculo, surgiu um movimento em torno do monotesmo cristo, o Monarquianismo. Seus defensores dividiam-se em dois grupos: os dinmicos (diziam que Cristo era Filho de Deus por adoo); e os modalistas (ensinavam que Cristo apenas era uma forma temporria da manifestao do nico Deus). Tertuliano chamou-os de monarquianistas gr. monarchia, "governo exercido por um nico soberano".

    3.1 - M o n a r q u ia n is m o D in m ic o

    Os principais representantes da Cristologia dinmica ou adocionista foram Teodoro de Bizncio e Paulo de Samosata. Teodoro, "o curtidor", discpulo dos alogoi, grupo que rejeitava a doutrina do Logos e aceitava o Evangelho de Joo com certa ressalva, foi o primeiro monarquianista dinmico de importncia. Chegou a Roma, em 190, e foi ex-comungado em 198.

    Para os monarquianistas dinmicos, Jesus era apenas um homem de vida santa que nasceu de uma virgem, sobre o qual desceu o Esprito Santo, por ocasio do seu batismo, no rio Jordo. Alguns de seus discpulos rejeitavam qualquer direito divino em

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  • CET ADEB Teologia S istemtica II

    Jesus, enquanto outros afirmavam que Ele teria se tornado divino, em certo sentido, por ocasio da sua ressurreio. Hiplito (170- 236) rebateu todas essas falaciosas crenas (Refutao de Todas as Heresias, VII, 23).

    O mais famoso monarquianista dinmico foi Paulo de Samosata, bispo de Antioquia entre 260 e 272. Descrevia o Logos como atributo impessoal do Pai. Eusbio de Cesaria disse que ele "nutria noes inferiores e degradadas de Cristo, contrrias doutrina da igreja, e ensinava que quanto natureza Ele [Jesus] no passava de homem comum" (Histria Eclesistica, 7, XXVII). Suas idias foram examinadas por trs snodos, entre 264 e 269, e o ltimo excomungou-o.

    3 .2 - M o n a r q u ia n is m o M o d a l is t a

    No negava a divindade do Filho nem a do Esprito Santo, mas, sim, a distino dessas Pessoas, o que diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, que assevera que h uma unidade composta de Deus em trs Pessoas distintas. Os modalistas pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo Testamento ensina. Para apoiar tal ensino, "mutilaram" textos neotestamentrios.

    Seus principais representantes foram: Noeto, Prxeas e Sablio. Segundo Hiplito, Noeto era natural de Esmirna e ensinava que Cristo era o prprio Pai, e que o prprio Pai nasceu, sofreu e morreu (Contra Todas as Heresias, 10.23). Cipriano, bispo de Cartago, chamou tal heresia de patripassionismo (Epstolas, 72.4), do latim Pater, "Pai", e passus de patrior, "sofrer".

    Prxeas foi discpulo de Noeto, e o seu principal opositor foi Tertuliano. Em Contra Prxeas I, Tertuliano disse: "Prxeas fez duas obras do demnio em Roma: expulsou a profecia e introduziu a heresia; afugentou o Parcleto e crucificou o Pai".

    Dessa ltima escola destacou-se o bispo Sablio, que se tornou um grande lder desse movimento (por isso, os seus

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    seguidores foram chamados de sabelianistas ou sabelianos). Por volta de 215, Sablio j ensinava suas doutrinas em Roma, de que Pai, Filho e Esprito Santo seriam nomes, seriam "prosopa" (semblantes, faces), e no seres independentes; seriam reais em energias consecutivas; um viria depois do outro, aparecendo o mesmo Deus em faces diferentes. Tratar-se-ia, pois, do mesmo Deus agindo na Histria por meio de trs semblantes.

    Hiplito, em Contra Todas as Heresias, refutou essas ideias, que hoje so defendidas pelos unicistas.

    3.3 - A r ia n is m o

    o nome da doutrina formulada por rio e do movimento que ele fundou em Alexandria, no Egito, na primeira metade do quarto sculo. rio era presbtero em Alexandria, no ano 318, quando a controvrsia comeou. Sua doutrina contrariava a crena ortodoxa seguida pela da igreja.

    A controvrsia girava em torno da eternidade de Cristo. Atansio (296-373), o inimigo implacvel da doutrina de rio, dizia que o Filho eterno e da mesma substncia do Pai; ou seja, homoiousios, "da mesma substncia; consubstanciai; o termo central para o argumento de Atansio contra rio e a soluo do problema trinitariano oferecido no Conclio de Nicia (325 d.C.)".

    rio, por outro lado, dizia que o Senhor Jesus no era da mesma natureza do Pai; era criatura, criado do nada, uma classe de natureza inferior do Pai, nem divina e nem humana uma terceira classe entre a deidade e a humanidade.

    Segundo rio, "Somente Deus Pai seria eterno e no gerado. O Logos, o Cristo pr-existente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existira". Os seus seguidores usavam a palavra anomoios "dessemelhante; um termo usado pelos arianistas extremistas da metade do quarto sculo, os assim chamados anomoianos, para arguir que a essncia do Pai totalmente dessemelhante da do Filho".

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  • CETADEB Teologia S i stemtica II

    Depois do Conclio de Nicia, a controvrsia continuou, mas havia um grupo intermedirio, semi-niceno, meio-atanasiano e meio-ariano, que afirmava ser o Filho de natureza similar ou igual, e no da mesma natureza ou substncia do Pai. Apoiavam-se no termo homoiousios "de substncia similar, aparncia"; "de substncia semelhante; um termo usado para descrever a relao do Pai para o Filho pelo partido no atanasiano, no ariano na igreja, seguindo o Conclio de Nicia".

    Essa discusso chamou a ateno do povo e tambm ganhou conotao poltica, considerada, hoje, como a maior controvrsia da histria da igreja crist. O imperador romano Constantino enviou mensageiros, com o propsito de uma conciliao, porm foi tudo em vo.

    Constantino, ento, convocou um conclio na cidade de Nicia, na Bitnia, sia Menor hoje Isnik, na Turquia , aberto em 19 de junho de 325, com a participao de 318 bispos provenientes do Oriente e do Ocidente, mas apenas vinte apoiaram a causa arianista, no obstante a sua grande popularidade.

    Em Nicia, o credo aprovado era decisivamente anti- arianista; apenas dois bispos no o assinaram. At Eusbio da Nicomdia, arianista, assinou o credo elaborado nesse conclio. Depois, os pais capadcios Baslio de Cesaria, Gregrio de Nazianzo e Gregrio de Nissa se encarregaram de "elucidar, definir e defender a doutrina trinitariana".

    A formulao da doutrina da Trindade o resultado dessas controvrsias cristolgicas, na tentativa de harmonizar o monotesmo com a deidade absoluta do Filho.

    3 .4 - O s C r ed o s

    3.4.1 - O Cr e d o N ic en o

    Este, como vimos, veio do Conclio de Nicia, que tratou da controvrsia arianista. Seu contedo enfatiza a divindade de Jesus Cristo e , ao mesmo tempo, uma resposta Cristologia de rio:

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    "Cremos em um s Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visveis e invisveis. Em um s Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz, Vida de Vida, Filho Unignito, Primognito de toda a criao, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvao e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente vir em glria para julgar os vivos e os mortos. Cremos tambm em um s Esprito Santo."

    3.4.2 - O C red o D e A ta n sio O u A tanasiano

    Depois do Conclio de Nicia, em 325, muitos documentos circulavam nas igrejas sobre o assunto. 0 credo que hoje chamamos de Atanasiano expressa o pensamento de Atansio e tudo o que defendeu durante toda a sua vida, conquanto no haja indcios confiveis de que o texto seja de sua autoria.

    Esse credo no foi mencionado no Conclio de feso, em 431, nem no da Calcednia, em 451, tampouco no de Constantinopla, em 381. "0 credo popularmente atribudo a Atansio , de modo geral, considerado um cntico eclesistico de autoria desconhecida, do sculo IV ou V".

    Assim declara o Credo Atanasiano:A f universal esta: que adoremos um Deus em

    trindade, e trindade em unidade; No confundimos as Pessoas, nem separamos a substncia. Pois existe uma nica Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Esprito Santo. Mas a deidade do Pai, do Filho e do Esprito Santo toda uma s: glria igual e a majestade coeterna. Tal como o Pai, tal o Filho e tal o Esprito Santo. (8) O Pai incriado, o Filho incriado, e o Esprito Santo incriado. 0 Pai imensurvel, o Filho imensurvel, o Esprito Santo imensurvel. O Pai eterno, o Filho eterno, o Esprito Santo eterno. E, no entanto, no so trs eternos, mas h apenas um eterno. Da mesma forma no h trs incriados, nem trs imensurveis, mas um s incriado e um imensurvel. Assim tambm o Pai

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    onipotente, o Filho onipotente e o Esprito Sonto onipotente. No entanto, no h trs onipotentes, mas sim, um onipotente. Assim, o Pai Deus, o Filho Deus, e o Esprito Santo Deus. No entanto, no h trs Deuses, mas um Deus. Assim o Pai Senhor, o Filho Senhor, e o Esprito Santo Senhor. Todavia no h trs Senhores, mas um Senhor. Assim como a veracidade crist nos obriga a confessar cada Pessoa individualmente como sendo Deus e Senhor; Assim tambm ficamos privados de dizer que haja trs Deuses ou Senhores. O Pai no foi feito de coisa alguma, nem criado, nem gerado; o Filho procede do Pai somente, no fo i feito, nem criado, mas gerado. O Esprito Santo procede do Pai e do Filho, no foi feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. H, portanto, um Pai, e no trs Pais; um Filho, e no trs Filhos; um Esprito Santo, no trs Espritos Santos. E nessa trindade no existe primeiro nem ltimo; maior nem menor. Mas as trs Pessoas so coeternas, so iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.

    Mais longo que o Niceno, trata-se de um credo que enfatiza, de modo mais pormenorizado, a Trindade. Durante a Idade Mdia, dizia-se que Atansio o escrevera no seu exlio, em Roma, e ofereceu-o ao bispo de Roma, Jlio I, para servir como confisso de f. Desde o sculo IX se atribui o credo a Atansio.

    Na verdade, o Credo Atanasiano traz esse nome porque Atansio defendeu tenazmente a ortodoxia crist; no entanto, o autor do tal credo desconhecido. Mencionado pela primeira vez em um snodo, realizado entre 659-670, o credo em apreo serve como teste da ortodoxia desde o sculo VII, para os catolicismos romano e ortodoxo, bem como para o protestantismo.

    I V - B a s e s B b l ic a s D a T r in d a d e

    O Credo Atanasiano afirma: "Adoramos um Deus em trindade e trindade em unidade. No confundimos as Pessoas, nem

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    separamos a substncia". No trinitarianismo que honra as Escrituras Jesus Deus Todo-poderoso. No unicismo, Deus Jesus. Os modalistas e unicistas de hoje confundem as Pessoas da Trindade. Mas a Palavra de Deus no nos deixa em dvida, como j vimos: as trs Pessoas so distintas.

    4 .1 - O A n tig o T e sta m e n t o

    "No princpio, criou Deus os cus e a terra" (Gn 1.1). A Trindade est implcita no nome divino Elohim. O nome hebraico usado para Deus Elohim, onde vemos os primeiros vislumbres da Trindade. O verbo est no singular br', "criou", e o sujeito, no plural, Elohim, "Deus", o que revela a unidade de Deus na Trindade.

    Na criao do homem, a Trindade est presente, como lemos em Gnesis 1.26:

    "E disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos cus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo rptil que se move sobre a terra."

    As trs Pessoas da Trindade atuaram em conjunto. O Filho criou todas as coisas e tambm o homem (Jo 1.1-3; Cl 1.16); da mesma forma, o Esprito Santo (J 33.4; SI 104.30) e o Pai (Pv 8.22- 30). Ou seja, quando falamos do Criador, devemos ter em mente a Trindade, pois as trs Pessoas agiram juntas na gloriosa obra da criao de todas as coisas, (ver Gn 3.22; Gn 11.7).

    Ora, por que "um de ns", se Deus nico? Porque essa unidade , na verdade, uma triunidade. Da mesma forma, encontramos isso em Gnesis 11.7. Por que "desamos e confundamos", e no "vou descer e confundir"? Se a Trindade no fosse uma verdade bblica, que fazer com essas passagens? Dizer que Deus estava falando com os anjos admitir que os anjos so divinos. Fica, pois, clara e patente a realidade da Trindade nessas passagens mencionadas.

  • CETAD EB Teologia S istemtica II

    "E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo o Senhor dos Exrcitos; toda a terra est cheia da sua glria" (Is 6.3). Outro ponto igualmente importante essa viso do profeta Isaas, atravs da qual ele viu o "Senhor", hb. Adonai (v.l).

    Esse mesmo Deus disse: "A quem enviarei e quem h de ir por ns?" (v.8). Notemos, novamente, a pluralidade presente na unidade divina. Mas outro detalhe que no devemos perder de vista, ainda na passagem em apreo, o fato de o profeta, inspirado pelo Esprito, dizer que a Terra est cheia da glria de Jeov dos Exrcitos. Ora, isso est associado ao que retrata o Novo Testamento acerca de Jesus, em Joo 12.39-41:

    Por isso, no podiam crer, pelo que Isaas disse outra vez: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o corao, a fim de que no vejam com os olhos, e compreendam no corao, e se convertam, e eu os cure. Isaas disse isso quando viu a sua glria e falou dele. (Leia Is 6.8-10).

    O texto sagrado mostra que o Deus de Israel quem fala por meio do profeta. No entanto, o apstolo Paulo, sob a inspirao divina, afirma que o Esprito Santo quem fala. (Cf. At 28.25-27).

    Isso significa que o Esprito Santo o mesmo Deus de Israel. E isso uma evidncia de que a viso de Isaas revela a Trindade. Essa doutrina, portanto, embora no tenha sido bem esclarecida nos tempos dos patriarcas, reis e profetas hebreus, para no confundir o povo com os deuses das religies politestas das naes vizinhas de Israel, est implcita no Antigo Testamento.

    4.2 - No Novo T e sta m e n t o

    4.2.1 - O Ba t is m o D e J esu s

    No batismo de Jesus, o Esprito Santo veio sobre Ele, e o Pai falou desde o Cu. (Ver Mt 3.16,17).

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    4.2.2 - V r ia s Pa s sa g e n s N e o t e s t a m e n t r ia s

    H inmeras referncias nos Evangelhos em que Jesus deixou claro que uma Pessoa, e o Pai outra: "E na vossa lei est tambm escrito que o testemunho de dois homens verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica tambm o Pai, que me enviou" (Jo 8.17,18). A Bblia apresenta as trs Pessoas em condies de igualdade (Mt 28.19). Jesus disse: "Eu e o Pai somos um" (Jo 10.30).

    A Trindade s pde ser ensinada explicitamente com o advento do Filho, o Senhor Jesus, e com a manifestao do Esprito Santo, como veremos a partir de agora.

    "Portanto, ide, ensinai todas as naes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo" (Mt 28.19). Apesar de a Bblia ensinar que h a unidade de Deus, convm-nos nunca perder de vista que "a Bblia tambm ensina que Deus no uma mnada estril, mas existe eternamente em trs pessoas". Esse relacionamento das trs Pessoas visto em Gnesis 1.26; 3.22; 11.7; Isaas 6.8; e Joo 17.5.

    4.2.3 - A Ex p r e s s o "Em N o m e " N a F r m u la D o Ba t ism o

    A expresso "em nome" est no singular. O unicismo afirma que esse "nome" Jesus; portanto, o nome dEle, segundo esse falacioso movimento moderno, "Pai, Filho e Esprito Santo". Esta interpretao no honra a Palavra de Deus.

    No singular, a palavra "nome" distributiva, como no texto hebraico de Rute 1.2. Embora aparea no plural, na ARC "e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom" , no hebraico, est no singular, shm, "nome" (veshm sheney bnaiv, "e o nome dos dois filhos"). O mesmo ocorre na Septuaginta: onoma, "nome" (kai onoma tois dysin huiois, "e o nome dos dois filhos").

    Observe que o nome, na passagem acima, refere-se tanto a Malom quanto a Quiliom; essa a mesma construo de Mateus 28.19, "e no faz confuso entre eles. Se tivesse sido

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    empregado o plural, 'nomes', a Bblia precisaria dar mais de um nome a cada". O texto sagrado menciona, por conseguinte, trs Pessoas distintas em uma s divindade. "Em nome" quer dizer em nome de Deus, do nico Deus que subsiste eternamente em trs Pessoas.

    Essa declarao de Jesus, na frmula batismal, tem como base o conceito da triunidade de Deus. Jesus no disse: "Em nome do Pai, em nome do Filho e em nome do Esprito Santo". Isso porque Ele mencionou um s nome: o nome do Deus Todo- poderoso, subsistente em trs Pessoas. O Filho e o Esprito Santo esto igualados nessa passagem. A. T. Robertson afirmou: "O batismo no (eis) nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo, no nome da Trindade".

    4.2.4 - O s D o n s Es p ir it u a is

    "Ora, h diversidade de dons, mas o Esprito o mesmo. E h diversidade de ministrios, mas o Senhor o mesmo. E h diversidade de operaes, mas o mesmo Deus que opera tudo em todos" (ICo 12.4-6). Aqui o apstolo Paulo mostra o aspecto trinitrio. Como, na Trindade, no existe primeiro e ltimo (as trs Pessoas so iguais), so mencionadas, nessa passagem, na ordem inversa em relao constante de Mateus 28.19.

    A passagem de 1 Corntios 12 a 14 trata dos dons do Esprito Santo. O termo "Senhor" (12.5) se refere ao Filho, e "Deus" (12.6), ao Pai. O nome "Deus", theos, no Novo Testamento grego, quando vem acompanhado do artigo e sem outra qualificao, refere-se sempre ao Pai. O culto cristo adorao a Deus, e Deus, portanto, quem opera no culto.

    H um s corpo e um s Esprito, como tambm fostes chamados em uma s esperana da vossa vocao; um s Senhor, uma s f, um s batismo; um s Deus e Pai de todos, o qual sobre todos, e por todos, e em todos (Ef 4.4-6).

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    Novamente, encontramos, no texto acima, a frmula trinitria: o Deus-Pai, o Deus-Filho e o Deus-Esprito. Cada uma das trs Pessoas desempenha um papel na igreja. Essa verdade, ensinada primeiramente aos crentes de feso, consta tambm do Credo de Atansio no se deve confundir as Pessoas; Pai Pai, Filho Filho, e Esprito Santo Esprito Santo. Um s Pai, um s Filho e um s Esprito Santo.

    H, portanto, um Pai, no trs Pais; um Filho, no trs Filhos; um Esprito Santo, no trs Espritos Santos. E nesta trindade no existe primeiro nem ltimo; maior nem menor. Mas as trs Pessoas so co-eternas, so iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.

    As trs Pessoas esto presentes, atuando cada uma na sua esfera de atuao, em perfeita harmonia e perfeita unidade: "A graa do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo seja com vs todos" (2Co 13.13). Esta a mais bela bno das epstolas paulinas, conhecida como a "bno apostlica", que poderia tambm ser chamada de "bno trinitariana".

    4.3 - H a r m o n ia En tr e O A n tig o E O Novo T e sta m e n t o s

    No Antigo Testamento, tambm h uma bno trplice, a sacerdotal; nela Deus aparece trs vezes. Ele determinou que o sacerdote assim abenoasse os filhos de Israel: "O Senhor te abenoe e te guarde; o Senhor faa resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericrdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te d a paz" (Nm 6.24-26).

    Como se v, existe harmonia entre os dois Testamentos quanto doutrina da Trindade. H outras inmeras passagens bblicas que mostram textualmente que cada uma dessas Pessoas Deus absoluto, alm de enfatizarem os seus atributos divinos e as suas operaes e obras, as quais sero mencionadas no fim deste livro.

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    V - As Trs Pessoas Da Trindade

    As Escrituras Sagradas afirmam que existe um s Deus; e Deus um s. O Pai o Deus-Jeov, da mesma forma que o Filho e o Esprito Santo so, igualmente, o mesmo Deus-Jeov. Trata-se, no de trs Deuses, e sim de um s Deus que subsiste em trs Pessoas.

    Por mais que tentemos explicar a Trindade, ela um mistrio. "Verdadeiramente tu s o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador" (Is 45.15), ou: "tu s Deus misterioso" (ARA). Se o Todo-Poderoso pudesse ser sondado e esquadrinhado pela mente humana, seria limitado e deixaria de ser Deus.

    O termo "Pessoa", empregado para definir as trs identidades distintas da Trindade, em certo sentido inadequado. Por este motivo os pais da igreja evitaram o seu uso para identificar o Pai, o Filho e o Esprito Santo na Trindade. O vocbulo, do grego prosopon, significa "rosto, face, expresso" literalmente, "aquilo que aparece diante dos olhos", "aparncia", "aspecto", "manifestao".

    "Pessoa" "um termo menos tcnico que hipostasis ou subsistentia, usados para se referir s Pessoas da Trindade ou Pessoa de Cristo". Seu equivalente latino persona, termo empregado por Tertuliano com o sentido de "mscara", a fim de refutar as heresias dos sabelianistas. A conotao, no caso, era com as mscaras que os atores usavam para representar personagens no teatro grego.

    Aplicando o termo em anlise ao que chamamos de Pessoas da Trindade, algum poderia ser induzido a crer no sabelianismo ou no modalismo. Por essa razo, os pais da igreja preferiam chamar as Pessoas divinas de homoousios, "um ser" ou hipostasis.

    Hipstase significa "forma de ser ou de existir", que vem de duas palavras gregas hypo, "sob"; e istathai, "ficar". Nas

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    discusses teolgicas sobre a doutrina da Trindade, na era patrstica, tal palavra foi aplicada como sinnimo de ousia, "essncia, ser". O reformador protestante Calvino preferia cham-la de Subsistentia.

    A palavra "pessoa" diz respeito parte consciente do homem que pensa, decide e sente; constitui o carter, a identidade e a individualidade. Por isso, no devemos confundir pessoa com homem. No caso deste, a sua pessoa o seu "eu". at possvel o uso alternativo de pessoa e homem como ser, indivduo, sujeito, personalidade, identidade, carter, mas isso nunca deve acontecer quando o assunto diz respeito s trs Pessoas da Trindade.

    No caso do Deus trino, necessrio haver restrio. No so trs seres, indivduos ou sujeitos, e sim trs identidades conscientes. A natureza de Deus uma, enquanto as Pessoas divinas, trs. A Trindade a unio de trs identidades pessoais em um s Ser ou Indivduo trata-se, pois, de uma s existncia ou essncia.

    5.1 - A D iv in d a d e e o s A t r ib u t o s D iv in o s do F ilh o

    As Escrituras enfatizam textualmente, de maneira inconfundvel, a divindade do Senhor Jesus Cristo e os seus atributos divinos. (Leia Isaas 9.6).

    Na profecia messinica acima mencionam-se o nascimento e o ministrio de Jesus. Dos nomes apresentados, um mostra expressamente que Ele Deus Forte, e o outro revela um atributo incomunicvel exclusivo da deidade, a eternidade Pai da Eternidade.

    Analisemos outras passagens: (leia Jr 23.5,6).O nome "O Senhor Justia Nossa" , em hebraico,

    YHWH Tsidkenu. Temos, pois, outra profecia messinica pela qual so mencionados atributos e ttulos de Jesus: Renovo de Davi, Renovo justo, Rei de toda a Terra, Salvador de Israel. Tais descries esto reveladas no Novo Testamento na Pessoa de Jesus (Rm 1.3; At 3.14; 4.12; Ap 19.16). Por fim, o Renovo de Davi, o Messias, chamado de Jeov Justia Nossa. (Ver Zc 14.5)

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    A profecia acima escatolgica e fala do grande livramento de Jerusalm, por ocasio da Segunda Vinda de Jesus. O Messias chamado de "Jeov, meu Deus", com todos os santos com Ele. Comparemos a profecia de Zacarias com a citada em Judas v.14: "E destes profetizou tambm Enoque, o stimo depois de Ado, dizendo: Eis que vindo o Senhor com milhares de seus santos".

    No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princpio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.1-3).

    Na segunda parte do primeiro versculo, em grego, aparece o artigo definido antes do nome de Deus, ton theon, "o Deus". E j vimos, anteriormente, que theos, no Novo Testamento grego, quando acompanhado de artigo e sem outra qualificao, refere-se sempre ao Deus-Pai.

    O nome theos, na terceira clusula da passagem, predicativo do sujeito, anteposto ao verbo e sem o artigo definido: kai theos n ho logos, "e o Verbo era Deus. Segundo Martinho Lutero, "a falta de um artigo contra o sabelianismo e a ordem da palavra contra o arianismo". Portanto, o Senhor Jesus Cristo Deus e tem todos os atributos do Pai, conquanto no seja a primeira Pessoa da Trindade.

    Em Romanos 9.5, est escrito: "Dos quais so os pais, e dos quais Cristo, segundo a carne, o qual sobre todos, Deus bendito eternamente. Amm". H, neste texto, em portugus, um problema de pontuao. Como na antiguidade no havia sinal grfico para pontuar, a construo apresentada na verso Almeida Revista Atualizada (ARA) e na Traduo Brasileira natural.

    O termo sarka, de sarx, a palavra grega para "carne". A pontuao pode, por conseguinte, mudar o sentido da mensagem.

    Que, sendo em forma de Deus, no teve por usurpao ser igual a Deus (Fp 2.6).

    O texto sagrado acima afirma que o Senhor Jesus no considerou usurpao o ser exatamente igual a Deus, e isso ensina a

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  • CETADEB Te olo gia S istemtica II

    deidade absoluta de Jesus Cristo. O verbo grego traduzido por "sendo" hyparch, "ser, estar em existncia". Portanto, "tem o sentido de um estado permanente: Cristo existia e existe eternamente na forma de Deus".

    Outra palavra que devemos considerar, nessa passagem, diz respeito ao substantivo morph, que significa "forma", na sua essncia, e no simplesmente aparncia. Morph "denota 'a forma ou trao especial ou caracterstico' de uma pessoa ou coisa. usado com significado particular no Novo Testamento, somente acerca de Cristo, em Fp 2.6, nas frases: 'sendo em forma de Deus' e 'tomando a forma de servo"'.

    O substantivo morph aparece apenas trs vezes no Novo Testamento grego (Fp 2.6,7; Mc 16.12). Contrasta-se com schema, que significa "forma", no sentido de aparncia externa, e no como essncia e natureza, como acontece com o primeiro.

    "Que, sendo em forma de Deus" mostra que Jesus era Deus antes da sua encarnao, assim como 2 Corntios 8.9, onde o apstolo usa a mesma construo: "que, sendo rico, por amor de vs se fez pobre". correto afirmar que Jesus no era rico antes de sua encarnao? No, absolutamente! No texto de Filipenses encontramos a mesma coisa: "sendo em forma de Deus (...) tomou a forma de servo". O verdadeiro Deus tornou-se verdadeiro Homem.

    A passagem enfatiza a humildade. Evidentemente, os cristos devem imitar a Cristo, no disputando com os irmos os seus privilgios, pois Ele, sendo Deus, no fez uso de suas prerrogativas, mas assumiu a forma de Servo, mantendo-se fiel at a morte. Da mesma maneira, os cristos devem seguir tal exemplo de humildade e fidelidade. A nfase do texto, pois, no indica que eles sejam "em forma de Deus".

    O termo grego harpagmon, traduzido por "usurpao", significa "apoderar-se, arrancar violentamente".

    "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9). As palavras "divindade" e "deidade" no texto

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  • CETADEB Teologia S istemtica II

    grego theots, que s aparece uma vez no Novo Testamento grego. Essa essncia divina ou deidade absoluta, disse o apstolo Paulo, habita corporalmente em Cristo Deus-Homem e Homem- Deus. (Ler Tt 2.13; 2Pe 1.1)

    O apstolo Paulo empregou um s artigo tou, que significa "do", para o "grande Deus e nosso Salvador Cristo Jesus". O doutor Robertson afirma que a presena de um s artigo, nessas passagens e a mesma coisa acontece em 2 Pedro 1.1 , revela a meno de uma s Pessoa. O texto sagrado apresenta, pois, de maneira direta e inconfundvel que Jesus o "grande Deus", o "nosso Deus e Salvador".

    Alm de todos os textos que ensinam explicitamente que o Senhor Jesus Deus, encontramos os atributos incomunicveis (exclusivos) da divindade do Pai no Filho.

    Jesus Cristo : Eterno (Is 9.6; Mq 5.2; Jo 1.1-3; 8.58; Hb13.8); Onipotente (Mt 28.18; Ef 1.21); Onipresente (Mt 18.20;28.20); Onisciente (Jo 2.24, 25; 16.30; 21.17; Cl 2.2,3); e Criador (Jo1.1-3; Cl 1.16-18; Hb 1.2,10).

    5.2 - D iv in d a d e E A t r ib u t o s D iv in o s D o E s p r it o S a n t o

    As Escrituras revelam textualmente, de maneira inconfundvel, a divindade do Esprito Santo, alm de seus atributos divinos, iguais aos do Pai e do Filho. O divino Consolador igual em poder s outras Pessoas da Trindade, tendo tambm um nome: "em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo" (Mt 28.19). Diante desta passagem, seria um absurdo se o Esprito Santo no fosse Deus!

    O Esprito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca. Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haver um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus (2Sm 23.2,3).

    Na passagem acima, o rei Davi afirma que o Esprito do Senhor falou com ele e, em seguida, declara que esse Esprito o Deus de Israel "Esprito do Senhor" e "Deus de Israel" so

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  • CETADEB Teo log ia S istemtica II

    expresses usadas alternadamente. Essa forma de revelar a divindade do Esprito aparece em outros lugares nas Escrituras Sagradas: (Leia Ez 8.1-3).

    O profeta Ezequiel afirmou que "a mo do Senhor JEOV" caiu sobre ele; em seguida, declarou que "o Esprito me levantou entre a terra e o cu". Isso revela que o Deus de Israel o mesmo Esprito Santo.

    Disse, ento, Pedro: Ananias, por que encheu Satans o teu corao, para que mentisses ao Esprito Santo e retivesses parte do preo da herdade? Guardando-a, no ficava para ti? E, vendida, no estava em teu poder? Por que formaste este desgnio em teu corao? No mentiste aos homens, mas a Deus (At 5.3,4).

    De acordo com a passagem supramencionada, a quem Ananias mentiu, ao Esprito Santo ou a Deus? Observe que Deus e o Esprito Santo so uma mesma divindade.

    Ora, o Senhor o Esprito; e, onde est o Esprito do Senhor, a h liberdade. E todos ns, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glria do Senhor, somos transformados, de glria em glria, na sua prpria imagem, como pelo Senhor, o Esprito (2Co 3.17,18).

    Alm de todos os textos que ensinam explicitamente que o Esprito Santo Deus, encontramos tambm na Palavra de Deus todos os atributos da divindade.

    O Consolador : Eterno (Gn 1.2; Hb 9.14); Onipotente (Zc 4.6; Lc 1.35; Rm 15.13,19); Onipresente (SI 139.7-10; ICo 3.16; Jo 14.17); Onisciente (Ez 11.5; Rm 8.26,27; ICo 2.10,11; Lc 2.26; lTm 4.1; IPe 1.11); e Criador (J 26.13; 33.4; SI 104.30).

    VI - As O bras De Cada Pessoa Da Trindade

    Para concluir esta lio, citaremos algumas referncias que corroboram o estudo sobre a Trindade. muito importante que o estudioso do assunto leia todas as passagens abaixo.

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  • CET AD EB Teologia S istem tica II

    Cada uma das trs Pessoas da Trindade autora do novo nascimento: o Pai (Jo 1.13), o Filho (lJo 2.29) e o Esprito Santo (Jo 3.5, 6); e cada uma delas ressuscitou Jesus: o Pai (At 2.24; ICo 6.14), o prprio Filho (Jo 2.19; 10.18) e o Esprito Santo (IPe3.18).

    De acordo com as Escrituras, cada Pessoa da Trindade habita nos fiis: o Pai (Jo 14.23; 1Co14.25; 2Co6.16; Ef 4.6; 1 Jo 2.5; 4.12-16), o Filho (Jo 17.23; 2Col3.5; Gl 2.20; Ef 3.17; 1 Jo 3.24; Ap3.20) e o Esprito Santo (Jo 14.17; Rm 8.11; 1Co3. 16; 6.19; 2Tm 1.14; Tg 4.5). Alm disso, cada uma d a vida eterna: o Pai (1 Jo 5.11), o Filho (Jo 10.28) e o Esprito Santo (Gl 6.8).

    O Pai, o Filho e o Esprito deram aos apstolos poder para operar milagres: o Pai (At 15.12; 19.11; Hb 2.4), o Filho (At 4.10, 30; 16.18) e o Esprito Santo (At 2.2-4; 10.44-46; 19.6; Rm 15.19); e falaram pelos profetas e apstolos: o Pai (Jr 1.9; Lc 1.70; At3.21), o Filho (Lc 21.15; 2Co 13.3; IPe 1.11) e o Esprito Santo (2Sm 23.2; Mt 10.20; Mc 13.11).

    Cada uma delas inspirou as Escrituras: o Pai (x 4.12; 2Tm 3.16; Hb 1.1), o Filho (2Col3.3; 1 Pe 1.11) e o Esprito Santo (2Sm 23.2; Mc 12.36; At 11.28; 2 Pe 1.21); e guiou o povo de Deus: o Pai (Dt 32.12; SI 23.2; 73.24; Is 48.17), o Filho (Mt 16.24; Jo 10.4; 1 Pe 2.21) e o Esprito Santo (SI 143.10; Is 63.14; Rm 8.14; Gl 5.18).

    No h dvidas, luz da Palavra do Senhor, quanto Trindade, pois cada uma das Pessoas, ainda, distribui os dons espirituais: o Pai (lCol2.6; Hb 2.4), o Filho (1Co12.5) e o Esprito Santo (Jo 14.26; lC o l2 .8 -ll) ; e santifica os fiis: o Pai (Jo 14.23; 1C014.25; Ef 4.6; 1 Jo 4.12-16), o Filho (Jo 17.23; 2Col3.5; Gl 2.20; lJo 3.24) e o Esprito Santo (Jo 14.17; Rm 8.11; 1Co3.16; Tg 4.5).

    Finalmente, cada uma delas d misso aos profetas; envia os apstolos e ministros: o Pai (Is 48.16; Jr 25.4; 1Co12.28; Gl1.1), o Filho (Mc 16.15; 2Co5.20; Gl 1.1; Ef 4.11) e o Esprito Santo (Is 48.16; At 13.2,4; 16.6-7; 20.28); e ensina os fiis: o Pai (Is 48.17; 54.13; Jo 6.45), o Filho (Lc 21.15; Jo 15.15; Ef 4.21; Gl 1.12) e o Esprito Santo (Lc 12.12; Jo 14.26; lCo2.13). Aleluia!

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  • CETAD EB Teologia S istemtica 11

    A t iv id a d e s - L i o I

    Marque "C" para Certo e "E" para Errado:

    1 ) 0 A Trindade pode ser definida como a unio de trs Pessoas o Pai, o Filho e o Esprito Santo em uma s divindade. Tais Pessoas, embora distintas, so iguais, eternas e da mesma substncia. Ou seja, Deus cada uma dessas Pessoas.

    2 ) 0 A expresso hebraica YHWH yohid traduz-se tambm por "Jeov um"; esta construo hebraica aparece em Zacarias 14.9.

    3 ) 0 Para os monarquianistas dinmicos, Jesus era apenas um homem de vida santa que nasceu de uma virgem, sobre o qual desceu o Esprito Santo, por ocasio do seu batismo, no rio Jordo.

    4)0 No batismo de Jesus, o Esprito Santo veio sobre Ele, e o Pai falou desde o Cu.

    5)0 O Esprito Santo Consolador : Eterno; Onipotente; Onipresente; Onisciente e Criador.

    6 ) 0 No h dvidas, luz da Palavra do Senhor, quanto Trindade, pois cada uma das Pessoas, ainda, distribui os dons espirituais.

  • CETAD EB Teologia S istemtica II

    Lio II

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  • CETADEB Teologia Sistem tica

  • CETADEB Teologia S istemtica II

    A DOUTRINA DE DEUS PAI TEOLOGIA

    A maioria dos tratados de Teologia Sistemtica chama a doutrina de Deus de Teologia, a cincia das coisas divinas. Esse vocbulo vem de duas palavras gregas: theos, "Deus"; e logos, "palavra", "discurso". um termo que no aparece

    na Bblia; surgiu na filosofia grega e foi usado por Plato, com o sentido mtico-religioso, ao falar sobre a origem dos deuses e a sua relao com o mundo (A Repblica, 379a).

    Aristteles empregou o termo e seus derivados como parte da filosofia (Metafsica,1026al9). J os esticos distinguiram trs tipos de teologia: a mtica, a poltica e a natural. Por meio deles,0 termo chegou aos primeiros pais da igreja: Tertuliano, Eusbio de Cesaria e Agostinho de Hipona.

    1 - In t r o d u o T eo lo g ia

    Os escritores cristos, at o sculo III, referiam-se ao termo "teologia" de forma negativa, como mitologia pag. Orgenes foi o primeiro a empreg-lo no contexto cristo como "a sublimidade e a majestade da teologia" (Contra Celso, 6.18). A partir de Eusbio de Cesaria, a palavra popularizou-se no cristianismo.

    Desde ento, o significado desse vocbulo tornou-se amplo, mas difcil entender o seu sentido sem considerar o contexto. Hoje, quando falamos em teologia crist, referimo-nos teologia sistemtica. Nessa acepo, Karl Rahner definiu teologia como "a cincia da f (...) a explanao e a explicao consciente e metdica da revelao divina, recebida e compreendida pela f".

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  • CETAD EB Te olo gia S istemtica II

    Qual a fonte da teologia crist? A prpria Palavra de Deus. A f no irracional; Jesus ensinou que devemos amar a Deus com o nosso "entendimento" (Mc 12.30). A f crist, haja vista esta no anular a inteligncia nem matar o pensamento. de Agostinho de Hipona a expresso: "creio para compreender" foi extrada de Isaas 7.9: "se o no crerdes, certamente, no ficareis firmes", que a Septuaginta traduziu por "no compreendereis".

    Anselmo de Canturia retomou essa idia na Idade Mdia. A teologia crist so os dados da revelao postos em ordem sistemtica e organizada ao longo dos sculos; isso implica o uso da razo. Da os papis da filosofia, da hermenutica e da tradio como ferramentas adicionais.

    II - T e o n t o lo g ia , A D o u t r in a D e D eu s

    O termo "teologia" tem vrias acepes, podendo ser usado tanto para a doutrina de Deus quanto para a cincia da f, alm de incluir outros significados. O doutor Lewis Sperry Chafer criou o neologismo "Teontologia" a fim de definir melhor a doutrina de Deus e evitar interpretaes ambguas.

    De acordo com Chafer, como o termo grego on/ontos significa "ser", a nfase de tal estudo recai sobre o Ser de Deus. Ou, ainda, segundo Charles Hodge, trata-se da "teologia propriamente dita". A doutrina de Deus , pois, o principal assunto da teologia sistemtica ou de qualquer sistema teolgico. o ponto de partida que norteia todo o ensino teolgico.

    Deus aparece logo no primeiro versculo da Bblia como o Criador: "No princpio, criou Deus os cus e a terra" (Gn 1.1). Essa importncia faz do tema uma questo de vida ou morte: "E a vida eterna esta: que conheam a ti s por nico Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).

    Outro fator importante que o Senhor Jesus ensinou que amar a Deus acima de todas as coisas o primeiro e grande

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  • CETADEB Teolo gia S istemtica II

    mandamento (Mc 12.29-32). Ao longo dos sculos, os homens tm levado essa questo a srio, nas suas mltiplas formas de adorao, de conceitos e de crenas, tanto no cristianismo como fora dele.

    III - T eo r ia s In a d e q u a d a s

    H vrios sistemas de crenas em Deus que divergem dos ensinos bblicos e inmeras tentativas de explicar o relacionamento dEle com Universo e o homem. Essas teorias inapropriadas levam o homem a se distanciar do Criador, como veremos.

    3 .1 - A te sm o

    O termo vem de duas palavras gregas: da partcula negativa "a", "negao" ou "privao"; e de theos", "Deus". A idia da negao do Senhor, isto , "Deus no existe". Essa palavra aparece apenas uma vez no Novo Testamento, com o sentido de "sem Deus" (Ef 2.12), e no de negao da existncia divina.

    O atesmo uma teoria contraditria em si mesma, pois, para negar a existncia do Deus verdadeiro, apia-se na pressuposio de que Ele existe! A Palavra do Senhor chama os ateus de nscios, haja vista afirmarem: "No h Deus" (SI 14.1;53.1).

    Na prtica, o atesmo um modo de vida sem relao alguma com a crena em Deus. Seus adeptos vivem como se Ele no existisse: "Por causa do seu orgulho, o mpio no investiga; todas as suas cogitaes so: No h Deus" (SI 10.4). Contudo, mesmo se autodenominando ateus, no conseguem explicar o vazio de suas almas.

    Os ateus no conseguem entender sequer o que se passa com eles mesmos. No entanto, ainda que haja algum que admita no sentir a necessidade de Deus em sua vida, isso jamais invalidar a inquestionvel realidade da existncia dEle.

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  • ( I I ADL13 Teolo gia S istemtica II

    3 .2 - A g n o s t ic is m o

    a negao do conhecimento (gr. gnsis) ou do conhecer (gr. ginsk). O termo "agnosticismo" foi empregado pela primeira vez pelo bilogo e filsofo ingls Thomas Henry Huxley. Desapontado com as declaraes dogmticas da igreja, que lhe pareciam sem fundamento, recusou-se a opinar sobre temas teolgicos.

    Huxley usou a palavra em questo a fim de expressar a idia de crena suspensa de quem no cr nem deixa de crer. Por conseguinte, os agnsticos no tm opinio formada sobre Deus; no negam nem afirmam a sua existncia; no so contra nem a favor do Todo-Poderoso.

    3.3 - Ev o l u c io n is m o

    Essa teoria ensina que organismos biolgicos evoluram num longo processo atravs das eras. A seleo natural, evolucionismo, ou darwinismo, a teoria da sobrevivncia dos mais fortes.

    H duas formas de evolucionismo: o atesta e o testa. O primeiro exclui Deus da criao; o segundo parte do princpio de que o Senhor criou os materiais originais e que o processo evolutivo se encarregou do desenvolvimento deles at a perfeio.

    3 .4 - P o l it e s m o

    a prtica da adorao a mais de uma divindade. Esse vocbulo vem da lngua grega polys, "muito"; e theos, "deus". Isso significa que o politesta serve e adora a vrios deuses. No se trata do simples fato de ele reconhecer a existncia daqueles, e sim de obedecer a um sistema oposto ao monotesmo (gr. monos, "nico"), crena no nico Deus verdadeiro, revelado nas Escrituras (Dt 6.4).

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  • CETAD EB Teologia S istemt ica II

    3.5 - H e n o t e s m o

    Este termo (do adjetivo numeral grego hen, "um", e de theos) foi empregado por Max Muller, historiador das religies alemo, a fim de indicar o sistema de adorao a um s Deus, admitindo, todavia, a existncia de outros deuses. , pois, um sistema que se situa, paradoxalmente, entre o monotesmo e o politesmo.

    3 .6 - M a t e r ia l is m o

    No o mesmo que materialidade; trata-se da doutrina pela qual se afirma que a matria a realidade ltima, a nica coisa existente. Nessa teoria no h lugar para Deus, tampouco para qualquer classe de realidade espiritual, transcendental ou imaterial.

    3 .7 - P a n t e s m o

    Os defensores dessa teoria postulam a identidade do Todo-Poderoso com o Universo. Trata-se da crena filosfica ou religiosa do hindusmo, a qual esteve presente nos pensamentos grego e romano. a doutrina de que Deus tudo, e tudo Deus; ela no separa a criatura do Criador, associando-o ao prprio Satans, que segundo a teoria em apreo tambm um deus. Em suma, nada h que no seja Deus; nada existe alm dEle.

    3 .8 - D e s m o

    Doutrina pela qual se afirma a existncia de Deus, mas, ao mesmo tempo, assevera que Ele est muito longe de ns, a ponto de no se envolver com os assuntos humanos, como um relojoeiro que d corda a um relgio e se esquece dele. a doutrina dos epicureus, contrria ao tesmo, ensinado pela ortodoxia crist; ou seja, Deus "no est longe de cada um de ns" (At 17.27), e sim interessado no ser humano (Hb 11.6).

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  • CETAD EB Teolo gia S istemtica II

    3 .9 - M o n ism o

    Trata-se de uma forma de pantesmo. Deus e a natureza, segundo essa teoria, muito comum no hindusmo, dissolvem-se em uma nica realidade impessoal. O termo vem do grego monos, "s, nico", empregado pela primeira vez por Christian von Wolff, filsofo alemo.

    IV - A Ex is t n c ia D e D eu s

    No h, na revelao bblica, a preocupao em provar que Deus existe. Isso pode ser notado no primeiro versculo da Bblia: "No princpio criou Deus os cus e a terra" (Gn 1.1). Tal declarao denota que no h nas Santas Escrituras a inteno de persuadir o aluno a crer na existncia do Todo-Poderoso.

    A existncia dEle um fato consumado, uma verdade primria, que no necessita de comprovao. Deus transcende existncia. Segundo Paul Tillich, pastor luterano, telogo e pensador cristo, "Deus est alm de todas as causas finitas". O conhecimento da sua existncia pode vir da intuio, da razo, porm as Escrituras Sagradas so a sua nica fonte confivel.

    4 .1 - In tu i o

    Todo ser humano religioso por natureza. O homem tem anseio pelas coisas de Deus e sente o desejo de busc-lo. H tribos que no usam roupas nem sabem edificar uma casa; outras, sequer tm conhecimento suficiente para acender um fogo. Entretanto, nenhuma h que no possua crenas num ser superior. Por mais primitivo que seja o seu culto, e estranho o seu conceito de divindade, h um denominador comum: o anseio e a busca de Deus.

    A religiosidade humana um fato universal e incontestvel. Agostinho de Hipona declarou: " Deus! tu nos fizeste para ti mesmo, e a nossa alma no achar repouso, at que volte a ti" (Confisses 1.1). E disse o salmista, inspirado pelo

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  • CETADEB Te olo gia S istemt ica II

    Esprito: "Como o cervo brama pelas correntes das guas, assim suspira a minha alma por ti, Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?" (SI 42.1,2).

    Como se v, a crena universal na existncia de Deus explica-se pela intuio. O conhecimento acerca dEle intuitivo este termo significa "relao direta (sem intermedirio) com um objeto qualquer". um conhecimento direto ou uma relao direta com o objeto; percepo natural, algo inato, inerente ao ser da pessoa. E a Palavra de Deus atesta essa crena intuitiva, em Romanos 1.19,21; 2.14,15:

    Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou... porquanto, tendo conhecido a Deus, no o glorificaram como Deus, nem lhe deram graas; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu corao insensato se obscureceu.

    Porque, quando os gentios, que no tm lei, fazem naturalmente as coisas que so da lei, no tendo eles lei, para si mesmos so lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu corao, testificando juntamente a sua conscincia e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os.

    4.2 - R a z o

    Os telogos esto divididos quanto possibilidade de a razo poder provar a existncia de Deus. Os argumentos fundamentados na razo so mais conceitos filosficos do que teolgicos. Segundo Strong, cada argumento isolado apresenta os seus senes; ou seja, no conclusivo juntos se completam. Por outro lado, outros, como Wayne Grudem, acreditam que tais argumentos provam ser irracional negar a existncia de Deus:

    So de fato tentativas de analisar as evidncias, especialmente as evidncias da natureza, de modos extremamente cuidadosos e logicamente precisos, a fim de convencer as pessoas de que no racional rejeitar a idia de que Deus existe.

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    Razo a faculdade humana de observar a ordem do Universo e aplic-la a seus pensamentos e atitudes, Aristteles desconhecia o conceito judaico-cristo de criao. No entanto, nas suas observaes chegou concluso de que Deus existe. Seu argumento para provar a existncia de Deus est no movimento dos seres, na ordem existente no mundo, nos graus de perfeio e na experincia psicolgica.

    Pela lgica, qualquer movimento supe uma fora externa atuando sobre o ser, o que Aristteles chamou de motor", Cada motor recebe o movimento de outro; e assim por diante. O motor que imvel que no pode ser movido por outro seria o primeiro, isto , a Perfeio Absoluta, Deus. Ele o princpio da primeira causa.

    A idia aristotlica foi retomada, na Idade Mdia, por Toms de Aquino, que a empregou na explanao das Cinco Vias (em sua obra Summa Contra Gentiles), com o objetivo de "provar", de forma racional, a existncia de Deus. Essa parte da citada obra tornou-se conhecida como o argumento cosmolgico e o argumento teleolgico. No entanto, alguns, como Alister E. McGrath, afirmam que no h nela indcios de que a inteno fosse provar a existncia de Deus, haja vista a f de Toms de Aquino firmar-se na revelao, e no nessas cinco vias.

    Nesse argumento tomista, "Deus conhecido a partir do exterior. Olhamos para o mundo e descobrimos a necessidade lgica da existncia de um ser superior", afirmou Paul Tillich. Eis as cinco vias:1) Experincia do movimento. Todas as coisas nesse mundo se

    encontram em constante movimento, e nenhum movimento feito pela sua prpria fora. Tudo o que se move, movimenta-se pela ao de outra fora. Logo, para todo movimento existe uma causa anterior. Assim, natural aceitar a existncia de uma primeira e nica causa que deu origem gigantesca cadeia de causalidade do Universo. Tal causa primria e nica o prprio Deus. Vemos aqui o argumento cosmolgico, reformulado sculos depois.

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    2) Subordinao das causas. a relao de causa e efeito, conhecida como argumento etiolgico. Etiologia "pesquisa ou determinao das causas de um fenmeno". E a causa primeira e original, comum a todos os efeitos, Deus.

    3) Contingncia dos seres. Os seres humanos so contingentes; no esto no mundo por necessidade. Assim, por que estamos aqui, e qual a causa de nossa existncia? Sem a existncia de um primeiro Ser os seres contingentes tambm deixariam de existir. E o tal Ser Deus.

    4) Graduao das perfeies transcendentais. o argumento axiolgico. A axiologia a teoria dos valores. Haja vista o termo grego axioma, originalmente, "dignidade" ou "valor". Os valores morais, como a bondade, a verdade e a nobreza, tm uma origem e uma causa. Por isso, deve haver uma bondade, uma verdade e uma nobreza em si mesmas Bondade Absoluta, Verdade Absoluta e Nobreza Absoluta, bem como um Ser supremo (Deus), no qual estejam todos esses valores.

    5) Ordenao a um fim. o argumento teleolgico. Teleologia " a parte da filosofia natural que explica os fins das coisas", conhecido, tambm, por argumento do desgnio, uma vez que a inegvel ordem, a harmonia e o planejamento do Universo constituem-se provas irrefutveis de um propsito inteligente.

    Toms de Aquino acreditava ser possvel o homem conhecer a Deus pela razo, tendo por base exclusiva a natureza.

    4.3 - A rg u m e n to s que C o n firm a m a Ex ist n cia de D eusO termo "argumento", em si, significa "qualquer razo,

    prova, demonstrao, indcio, motivo capaz de captar o assentimento e de induzir persuaso ou convico". Os argumentos abaixo so explicaes racionais e filosficas que confirmam a existncia de Deus fora da esfera teolgica e tm por objetivo convencer as pessoas de que no racional negar a existncia de Deus.

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  • CETADEB Te olo gia S istemtica II

    4.3.1 - COSMOLGICO

    Este argumento apresenta a evidncia de que Deus existe e a primeira causa. Como o mundo no se explica por si mesmo, esse argumento "assume, basicamente, que a existncia do Universo algo que precisa ser explicado", considerando que cada efeito deve ter uma causa (e depende dela) para a sua existncia. Haja vista a natureza no poder produzir a si mesma. A validade dessas verdades pode convergir para a deduo conclusiva de que "o Universo causado por uma criao direta de uma causa eterna e autoexistente". (Ver Hb 1.10; Hb 3.4)

    "Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu s Deus." (SI 90.2).

    4.3.2 - T e l e o l g ic o

    Este pode ser includo na categoria do argumento cosmolgico; a quinta via de Toms de Aquino. A palavra grega telos, "fim", "propsito", pois trata dos fins, do desgnio, do propsito racional. A ordem e o planejamento do Universo deixam evidente o seu propsito. Com isso, faz-se necessria a existncia de uma mente inteligente e infinita, responsvel por esse desgnio.

    "Aquele que fez o ouvido, no ouvir? E o que formou o olho, no ver? Aquele que argi as naes, no castigar? E o que d ao homem o conhecimento, no saber?" (SI 94.9,10).

    4.3.3 - O n t o l g ic o

    Ontologia o ramo da filosofia que trata da investigao terica dos caracteres fundamentais do ser. Christian F. von Wolff dividiu a metafsica em quatro partes: ontologia, psicologia, cosmologia racional e teologia. O termo grego on/ontos significa "ser"; "refere-se quilo que possui uma existncia real e substancial. Equivale a substncia ou essncia".

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    Paul Tillich chama Deus de "Ser em e de si mesmo" na parte dois de sua Teologia Sistemtica. Isso tem implicao com o verbo "ser", em hebraico, de onde vem o tetragrama YHWH Yahveh ou Yahweh. O significado desse verbo, em xodo 3.14, "EU SOU O QUE SOU" (ou, na Septuaginta, eg eimi ho n, "Eu Sou o Ser" ou "Eu Sou Aquele Que ") revela Deus como um Ser que tem existncia prpria; existe por si mesmo.

    Deus , pois, o imutvel, o que causa todas as coisas; autoexistente, aquEle que , e que era, e que h de vir, o Eterno: "Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu tambm ao Filho ter a vida em si mesmo" (Jo 5.26).

    Esse argumento "infere a existncia de Deus a partir da natureza do pensamento". Anselmo de Canturia, em sua obra Proslogion, publicada em 1078, considera o Senhor como "aquEle a respeito de quem no se concebe nada maior". a idia do Ser mais perfeito, pois h na mente humana esse pensamento. Como poderia tal idia chegar ali se no existisse o tal Ser? Se apenas uma idia sem existncia real, no seria o Ser mais perfeito.

    Segundo Paul Tillich, ainda, Anselmo "queria encontrar Deus no prprio pensamento. Achava que antes do pensamento sair para o mundo deveria estar perto de Deus".

    4.3.4 - M o r a l o u A n tr o p o l g ic o

    Esta formulao veio de Immanuel Kant; baseia-se no fato de existir no homem uma conscincia que estabelece a distino entre o bem e o mal, dando a ele senso de responsabilidade e de razo existencial (Rm 2.14,15). O fato de existir essa lei moral, per si, torna evidente a existncia de um Legislador ou Promulgador Supremo, a quem todos os humanos ho de prestar contas. O homem um ser moral, responsvel pelos seus atos diante de Deus (Ec 12.14).

    Outro fator importante desse argumento que nem sempre os bons so recompensados, e os maus, punidos. Assim, o mundo se tornaria um caos sem a existncia de um justo e supremo

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  • CETA D EB Te ol ogi a S istemt ica II

    Juiz. Nesse caso, o argumento em apreo vlido para mostrar que a nossa prpria natureza moral nos obriga a crer num Deus pessoal.

    4.3.5 - O Te s t e m u n h o da Na t u r e z a

    O testemunho da natureza no apresenta a divindade com os mesmos detalhes das Escrituras. Contudo, suficiente para mostrar com clareza a existncia do Criador, o seu poder e a sua sabedoria.

    Os cus manifestam a glria de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mos. Um dia faz declarao a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extenso da terra, e as suas palavras, at ao fim do mundo. Neles ps uma tenda para o sol (SI19.1-4).

    A natureza uma prova irrefutvel da existncia do Criador, assim como um relgio e um automvel pressupem um idealizador. claro que os tais no vieram existncia do nada ou por acaso. Algum planejou e pensou em todos os detalhes, para obter um bom funcionamento tanto do relgio como do automvel.

    Isso se aplica tambm ao Universo: Algum sbio e perfeito planejou-o e o trouxe existncia. A ordem natural das coisas testifica contra a insensatez dos ateus; e o Novo Testamento mostra que a prpria criao exige do raciocnio humano a existncia do Criador.

    Porque as suas coisas invisveis, desde a criao do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vem pelas coisas que esto criadas, para que eles fiquem inescusveis (Rm 1.20).

    Deus se revelou a si mesmo ao seu povo. Essa revelao a sua Palavra, manifestada no Senhor Jesus Cristo (Jo1.18). Tudo o que sabemos dEle o que Ele mesmo revelou na sua santa Palavra. Da ter dito: "EU SOU O QUE SOU" (x 3.14). Mesmo assim, as Escrituras mostram, at nos seus detalhes, que a criao, em si, torna o ateu indesculpvel ou inescusvel diante de Deus.

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  • CETA D EB Teologia S istemt ica II

    V - O Co n h e c im e n t o D e D eu s

    Como podemos saber se Deus um Ser cognoscvel ou incognoscvel? O termo "cognoscvel" vem do latim cognitio e significa "conhecimento". Nas Escrituras empregam-se diversos termos, com vrios significados, para o conhecimento e seus derivados. A Palavra de Deus exorta o ser humano a conhecer ao Senhor. Mas, qual o significado desse conhecimento?

    5 .1 - O D eu s In c o g n o s c v e l

    A incognoscibilidade divina oriunda dos seus atributos incomunicveis como a infinitude e a imensido: "a sua grandeza, inescrutvel" (SI 145.3); "o seu entendimento infinito" (SI 147.5) e da limitao do entendimento humano. Deus revelou-se a si mesmo na Bblia, mas pode ser considerado incognoscvel quando se trata do conhecimento pleno do seu Ser e de sua essncia. Como Ele infinitamente incomparvel, o homem jamais poder esquadrinh-lo e compreend-lo como , em essncia e glria. (Ver J 26.14; J 36.26; J 37.5; SI 139,6; Is 40.28; Is 46.5; Rm 11.33)

    A grandeza de Deus ultrapassa os limites do raciocnio humano. Se Ele pudesse ser plenamente conhecido e esquadrinhado pela razo humana, deixaria de ser Deus. Ele transcende a tudo que matria e finito, a tudo que h no Universo. Analisando o assunto dessa maneira, correto e verdadeiro afirmar que o Senhor um Ser incognoscvel.

    5.2 - O D eu s C o g n o s c v e l

    O Deus verdadeiro e incognoscvel revelou-se a si mesmo em sua Palavra. Assim, o homem pode conhec-lo haja vista ser Ele tambm imanente o suficiente para que exista um relacionamento entre ambos.

    Em virtude da infinita grandeza do Criador, esse conhecimento acerca d Ele comparvel ao reflexo de um espelho,

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  • CET ADEB Teolo gia S istemtica II

    como um enigma (ICo 13.12), pois "em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos" (ICo 13.9). IMesse sentido, Deus cognoscvel, conquanto esse conhecimento no signifique simplesmente o fato de algum possuir informaes sobre Ele. Trata-se de uma expresso que denota a autorrevelao de Deus, em Jesus Cristo, para a vida eterna.

    Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graas te dou, Pai, Senhor do cu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sbios e instrudos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim te aprouve. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ningum conhece o Filho, seno o Pai; e ningum conhece o Pai, seno o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.25- 27).

    Saber algo sobre uma pessoa no a mesma coisa que conhec-la. Na primeira acepo, o mero conhecimento intelectual; na segunda, diz respeito ao relacionamento pessoal. O Senhor Jesus o nico que possui o conhecimento perfeito e absoluto do Pai e, por isso, o nico com autoridade para revel-lo aos homens.

    O conhecimento intelectual , em si mesmo, o resultado de um processo de aprendizagem ou informao por meio dos cinco sentidos, auxiliados por intuio e razo. O conhecimento mencionado em Joo 17.3 mstico envolve comunho, f, obedincia e adorao, alm de um viver em humildade na dependncia de Deus , e no simplesmente intelectual.

    Qualquer pessoa, mesmo que no seja crist, tem a capacidade intelectual para aprender a doutrina de Deus, bem como acerca de sua natureza e de seus atributos. Basta ler ou estudar qualquer tratado de teologia sistemtica. Isso, entretanto, no um relacionamento pessoal nem comunho.

    VII - Qs A t r ib u t o s D e D eu s

    Os atributos so propriedades ou qualidades, virtudes ou perfeies prprias de um ser. O termo "atributo", no mbito

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  • CETADEB Teologia S istemt ica II

    teolgico, aplicado a Deus, uma referncia s suas caractersticas ou qualidades essenciais, que descrevem quem Ele , o que faz e o que possui. Atributos divinos so as perfeies do Todo-Poderoso reveladas nas Escrituras e conhecidas em funo da relao dEle com o homem, nas suas diversas obras. So perfeies prprias da essncia de Deus.

    Atribuir caractersticas a Deus, por mais elevadas que sejam essas qualidades, parece uma tentativa de definir o Ser divino. E definir implica "estabelecer limites precisos", como o significado do prprio verbo latino definir. Quando usamos o termo "atributo", no queremos com isso afirmar que o Todo-Poderoso seja limitado soma total de todas essas qualidades.

    Deus vai alm dos limites que o homem pode imaginar. E, em face dessas suas infinitude e transcendncia, no possvel defini-lo; mas podemos descrev-lo, parcialmente, com base naquilo que Ele mesmo revelou na sua Palavra.

    Esses atributos so geralmente classificados em dois grupos principais, nos tratados de teologia sistemtica. O primeiro rene todos aqueles atributos exclusivos da divindade ou deidade, como infinitude, imensido, eternidade, transcendncia, etc. So os atributos incomunicveis, chamados de atributos naturais,absolutos ou, ainda, de imanentes (ou intransitivos).

    O segundo grupo congrega os atributos "que encontram alguma ressonncia nos seres humanos", transmitidos, ainda que em grau infinitamente inferior, humanidade, como justia, bondade, amor, etc. So conhecidos como atributos comunicveis, porm h outros nomes para eles, como atributos morais, relativos, ou, ainda, emanentes (ou transitivos).

    Charles Hodge afirma que "o objetivo da classificao a ordem, e o objetivo da ordem a clareza". Contudo, elereconhece que so poucos os temas que "se tem pensado etrabalhado mais extensamente do que neste. Entretanto, provvelque o benefcio no tenha sido proporcional ao trabalho".

    Com fins didticos, tal separao dos atributos visa clareza das definies das qualidades divinas exclusivas, as quais

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  • I I I All u Teologia S istemtica II

    no encontram analogia no homem aquelas que, apesar de, no Todo-Poderoso, serem perfeitas e infinitas, encontram certa correspondncia no ser humano. Deus, pois, em certa medida, comunica alguns atributos; partilha-os com as suas criaturas livres e inteligentes: os seres espirituais, no Cu, e humanos, na Terra.

    7.1 - Os A tr ib u to s In co m u n ic ve is de D eus

    7 . 1 . 1 - P e r f e i o

    A perfeio como atributo significa que Deus perfeito de modo absoluto, infinito e nico. No se trata de uma mera combinao de perfeies individuais; Ele a origem de todos os atributos. Isso diz respeito a tudo que faz, pensa, determina: "O caminho de Deus perfeito" (SI 18.30).

    Deus age em perfeita harmonia com as suas natureza e santidade, e ningum jamais poder se assemelhar a Ele: "Porventura, alcanars os caminhos de Deus ou chegars perfeio do Todo-poderoso?" (J 11.7).

    7 . 1 .2 - Es p ir it u a l id a d e

    Este termo no a mesma coisa que a qualificao "espiritual"; est relacionado com o substantivo "esprito"; no caso do salvo, relaciona-se ao Esprito Santo. A Palavra de Deus afirma: "Deus Esprito" (Jo 4.24). Seu Ser, portanto, no se compe de matria. Jesus disse que "esprito no tem carne nem ossos" (Lc 24.39). Um esprito uma substncia imaterial, invisvel e indestrutvel. (Ver Rm 1.23; Cl 1.15; lTm 1.17).

    O termo grego traduzido por "imortal" (lTm 1.17), em nossas verses portuguesas da Bblia, aphthartos, que literalmente significa "incorruptvel". O adjetivo em questo foi traduzido dessa mesma forma na verso inglesa Young's Literal Translation of the Holy Bible e tambm aparece em Romanos 1.23.

    Ser esprito, por conseguinte, no implica impessoalidade, e sim qualidade de perene, imperecvel. O Senhor

  • CETAD EB Te olo gia S istemt ica II

    Jesus disse que Deus tem voz e forma, mas isso incomparavelmente infinito: "Vs nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer" (Jo 5.37).

    7 . 1 .3 - INFINITUDE

    Consiste no fato de que para Deus no h limites no tempo e no espao. Ele maior do que qualquer coisa que exista, como escreveu Anselmo de Canturia (argumento ontolgico), e transcende o Universo, existindo desde antes da fundao do mundo: "antes que o mundo existisse... porque me hs amado antes da criao do mundo" (Jo 17.5, 24).

    No h barreira nem limite na natureza do Todo- Poderoso. A sua infinitude a base dos atributos da eternidade e da imensidade. Ele infinito e, ao mesmo tempo, pessoal. Essa caracterstica peculiar ao Deus revelado na Bblia. Sua imensidade diz respeito ao espao; Ele transcende a todo o espao do Universo. Neste no h um nico lugar onde algum possa se esconder do Senhor, (ver SI 147.5; Jr 23.24)

    Grande o Senhor e muito digno de louvor; e a sua grandeza, inescrutvel [insondvel, ARA] (SI 145.3).

    7 . 1 . 4 - E t e r n id a d e

    A idia filosfica de eternidade no est clara no Antigo Testamento. Contudo, quando se refere a Deus, o conceito de durao infinita de tempo, sem incio nem fim: "O teu trono est firme desde ento; tu s desde a eternidade" (SI 93.2); "Mas tu s o mesmo, e os teus anos nunca tero fim" (SI 102.27).

    Deus o autor do tempo; no est sujeito a ele; existe desde "antes dos tempos dos sculos" (Tt 1.2), ou "antes dos tempos eternos", conforme a Traduo Brasileira. Isso est muito claro na expresso: "EU SOU O QUE SOU" (x 3.14). Esta passagem fala tanto da autosuficincia como da autoexistncia divinas.

    A eternidade denota que Deus livre de toda a distino temporal de passado ou de futuro. No teve Ele um

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  • C ET AD EB Teolo gia S istemtica II

    comeo nem ter fim em seu ilimitado Ser. A Bblia o apresenta com o qualificativo "eterno" que existe desde a eternidade. (Ver Gn 21.33; Dt 33.27; SI 90.2; Is 40.28)

    "E: Tu, Senhor, no princpio, fundaste a terra, e os cus so obra de tuas mos; eles perecero, mas tu permanecers; e todos eles, como roupa, envelhecero, e, como um manto, os enrolars, e, como uma veste, se mudaro; mas tu s o mesmo, e os teus anos no acabaro." (Hb 1.10-12) citao de Salmos 102.25-27.

    7.1.5 - I m u t a b il id a d e

    Tudo na vida muda; transforma-se; o princpio de Lavoisier. At mesmo o Cu e a Terra mudam e envelhecem, mas Deus permanece o mesmo (Hb 1.10-12). Ele imutvel; nEle no h mudana nem sombra de variao; o Senhor no muda a sua natureza, tampouco o seu carter e os seus atributos; nem em conscincia nem em propsito. (Ver Ml 3.6)

    "Toda boa ddiva e todo dom perfeito vm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem no h mudana, nem sombra de variao." (Tg 1.17).

    Essa a garantia de que Deus jamais mudar de opinio no que diz respeito s suas promessas. Mas ser imutvel no significa imobilidade. Da a Bblia registrar o "arrependimento" de Deus: "Ento, arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra" (Gn 6.6); "Arrependo-me de haver posto a Saul como rei... E o Senhor se arrependeu de que pusera a Saul rei sobre Israel" (ISm 15.11,35); "e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e no o fez" (Jn 3.10).

    Deus est presente na eternidade; para Ele, passado, presente e futuro so a mesma coisa; jamais ser apanhado de surpresa. Entretanto, como Ser pessoal, tem emoes e reage ao pecado. IMa verdade, a mudana ocorre primeiro no ser humano, como vemos em todos os episdios mencionados acima (cf. Gn 6.6;

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    ISm 15.11,35; Jn 3.5-10). Em funo disso, o Senhor "arrepende- se", mudando o tratamento em relao ao ser humano, conquanto a sua natureza permanea imutvel.

    O emprego de mais esse antropomorfismo, nas pginas sagradas, tem deixado alguns desavisados um tanto confusos, porm reafirmamos que Deus perfeito e imutvel. O arrependimento humano mudana de mente e de corao; j o Senhor no pode mudar nem alterar a sua mente.

    Deus no homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e no o faria? Ou falaria e no o confirmaria? (Nm 23.19).

    E tambm aquele que a Fora de Israel no mente nem se arrepende; porquanto no um homem, para que se arrependa (ISm 15.29).

    Portanto, ns, os seres humanos, mudamos em nossa conduta; e, por essa razo, perdemos, muitas vezes, as bnos de Deus. Mas, quando isso acontece, a mudana no teve origem no Senhor, e sim em ns, que de alguma forma fracassamos (cf. 2Cr15.2).

    7.1.6 - O n ip r e se n a E Im e n s id a d e (O u Im e n sid o )

    H diferena entre onipresena e imensidade? O termo "onipresena" no aparece na Bblia; vem do latim omni, "tudo", e praesentia, "presena". Como atributo divino, na Teologia, a idia "indica precisamente a presena cheia de Deus em todas as criaturas".

    O vocbulo "imensidade" vem, tambm, do latim immensitas, de immensus, "imenso, desmedido, no mensurado". Como termo tcnico teolgico indica que "a essncia divina sine mensura, sem medida e satura todas as coisas".

    Assim "immensitas" um atributo essencial de Deus em sua diferena para o mundo, visto que a "omnipraesentia" um

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    atributo relativo que expressa a indeterminada presena de Deus: Deus "illocalis", ou sem-local, e sua presena intensiva, "indivisibilis", e "incomprehensibilis".

    Segundo Strong, a onipresena "significa que Deus, na totalidade da sua essncia, sem difuso ou expanso, multiplicao ou diviso, penetra e ocupa o Universo em todas as suas partes", enquanto que imensidade " infinitude em relao ao espao. A natureza de Deus no est sujeita lei de espao. Deus no est no espao". Assim, a natureza divina no tem extenso nem est sujeita a nenhuma limitao espacial.

    Chafer considera essa diferena da seguinte maneira:" provvel que os termos onipresena e

    imensido representem idias ligeiramente diferentes. A onipresena naturalmente relaciona Deus ao Universo, onde outros seres esto como presente com Ele, enquanto que a imensido sobrepassa toda a criao e estende-se infinitamente."

    O espao veio a existir com a criao; logo, o Criador transcende s dimenses espaciais (Jr 23.23,24).

    A diferena, de fato, entre os atributos em anlise pode ser resumida da seguinte forma: a imensidade de Deus fala de sua essncia imensa, que no tem limite, enchendo todo o Universo, em relao ao espao; j a onipresena diz respeito presena do Todo-Poderoso em relao s criaturas. (Ver Is 57.15; SI 33.13,14; Pv 15.3).

    7.1.7 - O n is c iNCIA

    A palavra "oniscincia" vem do latim omniscientia omni, "tudo"; e scientia, "conhecimento", "cincia". o atributo divino para descrever o conhecimento perfeito e absoluto que Deus possui de todas as coisas, de todos os eventos e de todas as circunstncias por toda a eternidade, passada e futura.

    Trata-se do conhecimento, da inteligncia e da sabedoria em graus perfeito e infinito: "No h esquadrinhao do

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    seu entendimento" (Is 40.28). Esse conhecimento simultneo, e no sucessivo. A oniscincia de Deus excede todo o entendimento humano; um desafio nossa compreenso, mas tambm uma realidade revelada. (Ver J 37.16; Hb 4.13; lJo 3.20)

    7.1.8 - P r e s c i n c ia

    Deus conhece o fim desde o princpio; Ele est presente na eternidade. Isso envolve a prescincia, conhecimento antecipado, na tica humana, pois o Senhor no est limitado ao tempo.

    Como vimos, presente, passado e futuro so a mesma coisa para o Senhor, posto que Ele sabe tudo, desde as coisas grandiosas como o nmero das estrelas, incluindo-se os nomes delas: "conta o nmero das estrelas, chamando-as a todas pelos seus nomes" (SI 147.4) , at ao pequenino pardal: "nenhum deles cair em terra sem a vontade de vosso Pai" (Mt 10.29). (Ver tambm Is 46.9,10).

    Deus, na sua prescincia, no interfere na liberdade humana, ou seja, no livre-arbtrio. Ele sabe de antemo todos os acontecimentos futuros sem interferir diretamente na deciso de cada pessoa. Alm de saber tudo sobre os seres humanos, somente Ele conhece o corao deles. (Ver lR s 8.39; lC r 28.9; SI 139.1-4; Jr 1.5).

    7.1.9 - O n ip o t n c ia

    O termo significa "ter todo poder, ser todo-poderoso". A Bblia ensina que Deus onipotente; um de seus nomes revela esse atributo, 'El Shaddai (hb.), como veremos mais adiante no estudo sobre os nomes de Deus. Os cristos reconhecem que Deus pode todas as coisas: "Porque para Deus nada impossvel" (Lc 1.37). Ele chamado nas Escrituras de "Onipotente", o Ser que tudo pode. (Ver SI 91.1; Jr 32.17).

    "... nada h que seja demasiado difcil para ti."(Jr 32.17, Traduo Brasileira).

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    As especulaes sobre a significao de onipotncia foram discutidas por telogos e pensadores cristos da Idade Mdia, como Anselmo de Canturia, Toms de Aquino, Guilherme de Occam e Duns Scotus.

    Isso significa que Deus realiza contradies lgicas como crculo quadrado, tringulo redondo ou pode criar gua seca? Ou, ainda, criar uma pedra to pesada que ele mesmo no a possa levantar?

    Isso nos parece mais especulaes falaciosas do que lgicas, pois o termo "onipotncia", no mbito teolgico, como atributo divino, indica poder ilimitado de Deus ad extra, "externo"; ou seja: "a omnipotentia Dei est limitada somente pela essncia ou natureza do prprio Deus e por nada externo a Deus".

    Esse conceito responde a essas especulaes ou objees. O atributo em foco diz respeito ao poder irresistvel de Deus, que age conforme a sua vontade, pelo qual Ele trouxe o Universo existncia; por sua vontade e pelo poder de sua Palavra: "Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu" (SI33.9); "O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada" (J 26.7).

    O poder de Deus est relacionado com o seu propsito, com a sua natureza e com a sua essncia. Por meio desse ilimitado poder, pela sua Palavra, o Senhor criou o Universo e sustenta todas as coisas. As Escrituras ensinam "que Deus no pode mentir" (Tt1.2). Deve isso ser interpretado como limite de seu poder? No, pois essa passagem enfatiza o imutvel carter de Deus, haja vista ser Ele "a verdade".

    Afirmar que Deus no pode impedir o fenmeno tsunami que abateu o sul da sia, em 26 de dezembro de 2004, heresia. Ora, Ele no impediu porque no quis. O sofrimento humano consequncia do pecado, e o Senhor tem um propsito em tudo isso, o qual ns no conseguimos entender.

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    7 .2 - O s A t r ib u t o s C o m u n ic v e is D e D e u s

    7.2.1 - S a n t id a d e

    Deus absolutamente santo; sua santidade infinita e inigualvel; Ele santo em si mesmo, em sua essncia e em sua natureza. No entanto, est escrito: "Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo" (Lv 19.2). Esta passagem, citada no Novo Testamento (IPe 1.16), enfatiza que o Senhor exige santidade de seu povo porque Ele santo.

    Vemos, pois, que a santidade est em Deus e deve estar em seus seguidores. Isso explica uma dbia classificao, apesar de haver uma enorme e incomparvel diferena entre a santidade de Deus e a do ser humano.

    O termo "santo" hb. qdsh e gr. hagios significa "separao" ou "brilho", "brilhante"; especificamente divino. A etimologia de qdsh ainda incerta; parece ser uma combinao que indica "queimar no fogo", numa referncia oferta queimada, porm a idia bsica de "separar, retirar do uso comum". Esse o pensamento do Antigo Testamento: "para fazer diferena entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo" (Lv 10.10).

    Santidade significa afastar-se de tudo o que pecaminoso. Os antigos hebreus levavam-na com seriedade. A Palavra de Deus chama de santas as duas partes do Tabernculo. O Senhor ordenou essa construo com o objetivo habitar no meio dos filhos de Israel: (Ver x 25.8; x 26.33).

    A santidade de Deus singular por causa de sua majestade infinita e tambm em virtude de Ele ser totalmente distinto e separado, em pureza, de suas criaturas. Essa santidade a plenitude gloriosa da excelncia moral do Todo-Poderoso, que nEle existe e que nEle originou-se; no deriva de ningum: "No h santo como o Senhor" (ISm 2.2). Toda a adorao deve ser nesse esprito de santidade. Nenhum atributo divino to solenizado nas Escrituras como esse. (Veja x 15.11; Is 6.3; Ap 4.8; Ap 15.4).

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    A santidade de Deus o princpio da sua prpria atividade: "Tu s to puro de olhos, que no podes ver o mal" (Hc 1.13), bem como a norma para as suas criaturas: "Segui a paz com todos e a santificao, sem a qual ningum ver o Senhor" (Hb 12.14).

    7.2.2 - Ve r d a d e E F id e l id a d e

    Verdade um atributo relacionado com a fidelidade de Deus. Ela diz respeito sua veracidade e algo prprio da natureza divina. J a fidelidade, do latim fidelitas, a garantia do cumprimento das promessas dEle: "Deus consistente e constante em suas promessas e em sua graa". , pois, um atributo relacionado com a imutabilidade de Deus.

    O termo "verdade" (hb. 'meth) "tem o sentido enftico de certeza, confiana". Da derivam as palavras 'mn, "f", "fidelidade", "firmeza" (Hc 2.4) e 'mn, "amm", "verdadeiramente", "de fato"