tcc carolina mendoza instituto de artes 2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL UFRGS
INSTITUTO DE ARTES VISUAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
CAROLINA DA SILVA MENDOZA
EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM EM EDUCAO NO-
FORMAL EM ARTES: um percurso do Programa Educativo da
Fundao Iber Camargo ao Coletivo E
Porto Alegre RS
2012
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Carolina da Silva Mendoza
EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM EM EDUCAO NO-FORMAL EM
ARTES: um percurso do Programa Educativo da Fundao Iber Camargo ao
Coletivo E
Trabalho de Concluso de Curso aprovado
pela Banca Examinadora para obteno do
Grau de Licenciado, no Curso de
Licenciatura em Artes Visuais do Instituto de
Artes da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Banca examinadora:
Prof. Me. Cludia Vicari Zanatta
Prof. Dr. Celso Vitelli
Prof. Dr. Mnica Zielinsky
Porto Alegre, 2013.
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Para Eny Moraes da Silva, minha av, que
no pode estar comigo nesse momento to
esperado por ns duas.
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Agradecimentos
Agradeo a minha famlia, especialmente minha me Maria Anglica e minha tia e madrinha Rosemary pelo apoio e pelo carinho em todas as decises tomadas por mim ao
longo desse percurso.
Ao Coletivo E: Diana Kolker, Juliana Peppl, Rafael Silveira e Vivian Andretta. Vocs
so as minhas inspiraes para ter escrito este trabalho. Admiro cada um de vocs e espero
estar a altura das mentes brilhantes que vocs so. Me considero uma pessoa de sorte por
ter colegas de trabalho e parceiros para a vida como vocs.
A Iliriana Rodrigues, pois mesmo no estando no mais no Coletivo E, contribuiu com
suas ideias e olhar sensvel ao registrar as nossas aes, alm de oferecer a Casa I para
nossas reunies.
A minha orientadora Prof. Me. Cludia Zanatta, por ter me aceito como orientanda, ter
compreendido meus percalos e ter feito este trabalho crescer.
Aos membros da minha banca Prof. Dr. Celso Vitelli e a Prof. Dr Mnica Zielinsky por
terem aceitado o meu convite, j que ambos tem grande significncia nesse meu percurso
acadmico e como educadora.
A Fundao Iber Camargo pelo espao dado e pelo apoio solicitado e atendido.
A Laura Dalla Zen e Camila Schenkel que como coordenadoras do Programa
Educativo da Fundao Iber Camargo foram sempre solcitas aos meus pedidos.
A Luciano Laner (Montanha), por ter me dado a oportunidade de ter essas
experincias que aqui compartilho.
A todos os mediadores da Fundao Iber Camargo com quem trabalhei. No fosse
esse contato e essa troca, jamais teria a experincia que hoje tenho e posso compartilhar
neste trabalho.
A Prof Dr. Paola Zordan e meus colegas de Estgio, por serem o meu apoio moral e
psicolgico durante o ano de 2012. Obrigada pelas orientaes, pela ateno e,
especialmente, pelo carinho.
A Ana Mitchell pelas conversas que me auxiliaram a dar um norte para o meu trabalho.
A todas as instituies e pessoas que acreditaram no Coletivo E e oportunizaram que
pudssemos realizar as aes educativas aqui descritas.
A todos que aguentaram minha ausncia em finais de semana, feriados e encontros
devido ao meu trabalho nessas aes educativas, e que compreenderam a importncia
dessa entrega para a minha formao.
E especialmente a minha av, Eny, que vive em meu corao.
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RESUMO
Esta pesquisa trata sobre a educao no-formal e seus aspectos
dialgicos, especialmente na rea das artes, atravs de um percurso que se inicia
no Programa Educativo da Fundao Iber Camargo no perodo de 2008 a 2010, e
se desdobra na formao de um coletivo de arte educadores o Coletivo E. Tendo
como suporte pedaggico o conceito de experincia trazido por Jorge Larrosa, o
Coletivo E surge como uma iniciativa diferenciada na rea da educao no-formal
em artes. O perodo acima citado foi levado em considerao como algo merecedor
de ser registrado, pelo fato de ser um momento de transformao e expanso do
Programa Educativo, e de consolidao de sistemas at hoje utilizados, alm de
promover o encontro de ideias dos ento futuros membros fundadores do Coletivo E.
Percebe-se a necessidade de pesquisar como se configuram e atuam iniciativas
como esta. Para que prticas, pensamentos e histrias no se restrinjam apenas
memria daqueles que fizeram parte destas, se faz necessrio alguma forma de
registro como uma possvel contribuio para o campo da educao de uma forma
geral.
Palavras-chave: educao no-formal, arte educao, experincia, instituio
cultural, iniciativas coletivas.
MENDOZA, Carolina. Experincias de aprendizagem em educao no-formal em artes: Um percurso do Programa Educativo da Fundao Iber Camargo ao Coletivo E. Porto Alegre, 2012, 138 f. Trabalho de Concluso de Curso em Licenciatura em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.
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ABSTRACT
This research proposes a view over non-formal education and its dialogical
aspects, especially in the arts, through a course which begins at Iber Camargo
Foundations Educational Program from 2008 to 2010, and develops in a formation of
an art educators collective the Coletivo E. The period above cited was considered
as something worth of register, because it was a moment of transformation and
expansion of Educational Program, and a moment of setting of systems that lasts
until nowadays, besides the promotion of the encounter of ideas from the future
founders members of Coletivo E. Supported by the pedagogical concept of
experience brought by Jorge Larrosa, the Coletivo E rises as a different initiative on
the non-formal educational field in arts. It is noticed the needs of research how to
configure and operate initiatives like this. For certain practices, thoughts and stories
are not restricted only to the memory of those who were part of this, it is necessary
some form of registration as a possible contribution to the field of education in
general.
Keywords: Non-formal education, art education, experience, cultural institution,
collective initiatives.
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Sumrio
Acolhimento (Introduo) ......................................................................................... 10
1. O que educao em espaos no-formais? .................................................... 14
2. O Programa Educativo da Fundao Iber Camargo ....................................... 22
2.1. Mediao: uma experincia dialgica ............................................................ 28
2.2.Oficinas: uma experincia atravs de outras linguagens ................................ 35
2.3. A relao com os educadores ........................................................................ 39
3. Uma etapa chega ao fim e uma nova inicia Coletivo E .................................. 47
3.1. O que o Coletivo E? Contexto e intenes.................................................. 47
3.2. O pensamento coletivo a experincia que nos passa: fundamentao do
Coletivo E .............................................................................................................. 49
3.3. Conhecendo algumas realizaes: Coletivo E na prtica .............................. 56
3.3.1. Festival de Teatro Brasileiro Cena Mineira ........................................... 56
3.3.2. Curso de Formao de Mediadores da 8 Bienal do Mercosul ................ 59
3.3.3. Curso de Formao de Mediadores da Fundao Iber Camargo .......... 63
3.3.4. Projeto Educativo Labirintos da Memria integrado a exposio
Labirintos da Iconografia Museu de Arte do Rio Grande do Sul ..................... 65
Fechamento (Consideraes Finais) ....................................................................... 69
Referncias ................................................................................................................. 77
Anexos ......................................................................................................................... 81
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Lista de figuras
Fig.1.1 Fundao Iber Camargo. Porto Alegre, 2012 .............................................. 23
Fig.2.1 Mediao realizada por Carolina Mendoza com uma turma da Escola Projeto
na exposio Jorge Guinle Belo Caos, 2008.......................................................... 28
Fig.2.2: Mediao com Iliriana Rodrigues e Barbara Nicolaiewsky na exposio
Lugares Desdobrados, 2009 ..................................................................................... 31
Fig.2.3: Curso de Formao de Mediadores da Fundao Iber Camargo, Porto
Alegre 2010. ........................................................................................................... 33
Fig.2.4: Mediao com Diana Kolker e Rafael Silveira na exposio Jorge Guinle
Belo Caos, 2008 ........................................................................................................ 34
Fig.2.5: Mediao com Valria Payeras na exposio Iber Camargo Moderno no
Limite, 2008. .............................................................................................................. 34
Fig.2.6: Oficina de vero da exposio Lugares Desdobrados 2009. .................... 36
Fig.2.7: Oficina da exposio Jorge Guinle Belo Caos ......................................... 37
Fig.2.8: Oficina de retrato a partir da obra de Iber Camargo ................................... 38
Fig.2.9: Oficina realizada na rea externa do museu, referente a exposio Lugares
Desdobrados, 2009. .................................................................................................. 38
Fig. 2.10: Capacitao de Professores da exposio Iber Camargo Moderno no
Limite. ........................................................................................................................ 39
Fig.2.11: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo
palestra do curador Teixeira Coelho, 2009 ............................................................... 41
Fig.2.12: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo
Visita mediada, 2009. ................................................................................................ 41
Fig.2.13: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo
Oficina, 2009 ............................................................................................................. 42
Fig.2.14: Capacitao de Professores da exposio Iber Camargo Moderno no
Limite Oficina, 2008. ............................................................................................... 42
Fig.2.15: Material Escola destinado s bibliotecas das escolas ............................. 43
Fig.2.16: Educadores conhecendo o material didtico sobre Iber Camargo na
Capacitao de Professores da exposio Moderno no Limite. ................................ 44
Fig.2.17: Material didtico sobre Iber Camargo, v. 1, 2008. .................................... 45
Fig.2.18: Material didtico da exposio Lugares Desdobrados, 2009. .................... 45
Fig.2.19: Dirio de Bordo Material didtico entregue para os alunos. .................... 46
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Fig.3.1: O Coletivo E apresentando algumas de suas realizaes no
Seminrio Processos Pedaggicos em Arte: Um dilogo entre diferentes espaos de
educao Santander Cultural, 2011. ...................................................................... 56
Fig.3.2: Oficina com alunos da Escola Jernimo Dornelles Porto Alegre ............... 57
Fig.3.3: Diana Kolker recebendo os estudantes na apresentao da pea O Negro, A
Flor e o Rosrio. ........................................................................................................ 58
Fig.3.4: Os estudantes participantes da ao educativa, no Salo de Atos da PUC,
aguardando o espetculo. ......................................................................................... 58
Fig.3.5: Aula Estratgias de mediao com o Coletivo E no Museu de Artes do Rio
Grande do Sul, para o Curso de Formao de Mediadores da 8 Bienal do Mercosul
- 2011 ........................................................................................................................ 59
Fig.3.6: Dramatizao de uma das situaes tratadas pela Caixa de Pandora na
Aula Estratgias de mediao com o Coletivo E no Museu de Artes do Rio Grande
do Sul, para o Curso de Formao de Mediadores da 8 Bienal do Mercosul .......... 61
Fig.3.7: Pensando em acessrios de mediao na aula Estratgias de mediao
com o Coletivo E na Fundao Iber Camargo, para o Curso de Formao de
Mediadores da 8 Bienal do Mercosul 2011. .......................................................... 61
Fig.3.8: Debatendo as situaes trazidas pela Caixa de Pandora na aula Estratgias
de mediao com o Coletivo E na Fundao Iber Camargo, para o Curso de
Formao de Mediadores da 8 Bienal do Mercosul 2011. .................................... 62
Fig.3.9: Os futuro mediadores na exposio Labirintos da Iconografia na aula
Estratgias de mediao com o Coletivo E no Museu de Artes do Rio Grande do Sul,
para o Curso de Formao de Mediadores da 8 Bienal do Mercosul 2011. ......... 63
Fig.3.10: Oficina da Ao Educativa Labirintos da Memria, realizada durante a
exposio Labirintos da Iconografia, realizada em parceria com o Museu de Arte do
Rio Grande do Sul, com alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Lions
Club Farrapos, Porto Alegre, 2011. ........................................................................... 66
Fig.3.11: Encontro de Aproximao com Educadores da Ao Educativa Labirintos
da Memria, realizada na exposio Labirintos da Iconografia no MARGS Oficina,
2011. ......................................................................................................................... 67
Fig.3.12: Apropriao de signos da cultura urbana atividade realizada com uma
turma da Escola Estadual Rio Grande do Sul na Ao Educativa Labirintos da
Memria, 2011. ......................................................................................................... 67
Fig.3.13: Apropriao de signos da cultura urbana atividade realizada com uma
turma da Escola Estadual Rio Grande do Sul na Ao Educativa Labirintos da
Memria, 2011. ......................................................................................................... 68
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Eu gosto da arte que pode ser apreciada de maneiras
distintas. como passear sozinho por uma floresta
trilhando um caminho emocionante e objetivo, mas
tambm abstrato, e depois passear pela mesma floresta
com um amigo botnico que lhe conta tudo sobre as
plantas, seus nomes, suas origens, etc. Eu gosto muito
das duas experincias. Nenhuma melhor que a outra,
so apenas diferentes. isso que torna a arte to
especial.
Harell Fletcher
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Acolhimento1 (Introduo)
Este Trabalho de Concluso de Curso (TCC) toca em alguns aspectos que
consideramos relevantes serem discutidos no campo da arte educao,
especialmente na educao no-formal em artes. Muito se discute acerca da
educao em artes nas salas de aula, porm sabemos que existem outros meios de
trabalhar com educao fora da escola. O campo da educao no-formal amplo e
transdisciplinar. Duas questes nos inquietam quando pensamos no tema: seria a
educao no-formal uma alternativa educao formal, ou um complemento a
esta? Ou seria um tipo de educao com seus prprios mtodos e propsitos e que
caminha junto com a educao considerada formal? Tal assunto ser investigado a
partir de duas experincias que vivenciamos diretamente no campo da educao
no-formal: o incio do Programa Educativo da Fundao Iber Camargo (FIC) como
uma equipe e a formao do Coletivo E, um coletivo de arte educadores que se
encontrou dentro do Programa Educativo da FIC, e posteriormente se reuniu de
forma autnoma para pensar, discutir e vivenciar a arte educao em espaos no-
formais.
Atualmente temos uma diversidade de estudos que debatem a educao no-
formal, a questionam, problematizam ou at mesmo a enaltecem. Acreditamos que
alm das teorias e dos debates, necessrio criar registros dessas iniciativas que,
por sua natureza experiencial, acabam por se perder na sua efemeridade. Por no
possurem um currculo formal, por atenderem uma diversidade ampla de pblico
sem compartimentaes (como no ensino formal, onde o ensino dividido por sries
e faixas etrias) ou pelo tempo reduzido de contato com o pblico durante a ao
em si, essas experincias de aprendizagem no possuem uma forma linear de
ensino. Poderamos considera-la uma forma rizomtica2, sendo difcil registrar certos
1 O acolhimento o momento da mediao onde o mediador se apresenta para o pblico, passa as orientaes
de postura na exposio, e introduz alguns aspectos que sero abordados durante a visita. 2 Na botnica, o rizoma um caule que tem por caracterstica produzir outros ramos. Apropriando-se dessa
caracterstica, Deleuze e Guattari trazem o conceito de rizoma para a filosofia. Em entrevista para o jornal Liberacin, em 1980, Deleuze define: "O que Guattari e eu chamamos rizoma precisamente um caso de
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aspectos destas, pois elas se do no contato com o outro e no que surge nessa
troca nica.
O Programa Educativo da Fundao Iber Camargo tem uma trajetria
significativa no meio da arte educao em museus em Porto Alegre, desde seu
surgimento, at a sua expanso quando inaugurada a nova sede da instituio. Por
ter um fluxo de equipe muito grande, percebi a necessidade de criar algum tipo de
registro do perodo no qual ainda trabalhava l (2008 a 2010) pelo motivo de que:
participamos da primeira equipe de mediadores da Fundao Iber Camargo.
Aplicamos ideias, discutimos estratgias, experimentamos toda a novidade
daquele espao que surgia em Porto Alegre. Foram estabelecidos padres
que poderiam ser reproduzidos posteriormente por outras equipes vindouras.
Como mediadores, logo iramos deixar a Fundao Iber Camargo, e uma
nova equipe iria assumir. Como os novos mediadores teriam contato ou iriam
se apropriar das experincias dos mediadores anteriores? Ou ainda: como as
prximas equipes teriam conhecimento da histria e realizaes do
educativo?
Assim sendo, ainda quando ramos mediadores passamos a organizar e
registrar o que realizamos no educativo no perodo de 2008 a 2010. Neste TCC
tentaremos contextualizar o que constitua o Programa Educativo naquela poca,
como ele surgiu, e como se tornou uma clula embrionria do Coletivo E.
A princpio o Coletivo E surge de um desejo do grupo de trabalho3 em
continuar atuando em arte educao. J que institucionalmente no era mais
possvel, nada nos impedia de reunimos nossas ideias e discusses de maneira
autnoma. J tnhamos conhecimentos de coletivos de artistas, porm, at ento,
no conhecamos coletivos de arte educadores, ou pelo menos no da maneira
sistema aberto. Volto questo: o que filosofia? Porque a resposta a essa questo deveria ser muito simples. Todo mundo sabe que a filosofia se ocupa de conceitos. Um sistema um conjunto de conceitos. Um sistema aberto quando os conceitos so relacionados a circunstncias e no mais a essncias. Mas por um lado os conceitos no so dados prontos, eles no preexistem: preciso inventar, criar os conceitos, e h a tanta inveno e criao quanto na arte ou na cincia." - http://rizomas.net/filosofia/rizoma/107-rizoma-e-um-sistema-aberto-deleuze-e-guattari.html - acesso em 26.dez.2012. (grifos da autora) 3 Carolina Mendoza, Diana Kolker, Juliana Peppl, Rafael Silvera (Rafa is) e Vivian Andretta.
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como ns estvamos nos propondo a ser.4 Assim sendo, queramos juntar a
experincia como educadores em espaos no-formais de arte, com a flexibilidade
de poder atuar em qualquer espao ou instituio ou at mesmo de forma
autnoma.
Sendo uma iniciativa pouco comum dentro do campo artstico, poder trazer o
Coletivo E ao centro do debate e das problematizaes sobre arte educao, indica
uma necessidade de discutir se iniciativas como esta tem espao para atuar, bem
como a importncia de mostrar as possibilidades de trabalho com educao no-
formal em artes fora de museus e outras instituies.
O captulo 1, O que educao no-formal?, apresenta um breve histrico e
contextualizao do que seria a educao no-formal, como surgiu, no que ela
diferencia da educao formal e informal e no que ela consiste. Tambm traz o
conceito de educao bancria proposta por Paulo Freire, pois esta noo pode
ser relacionada diretamente a alguns aspectos problematizados pela educao no-
formal.
O captulo 2, O Programa Educativo da Fundao Iber Camargo, traz um
breve histrico da FIC e de seu Programa Educativo, especialmente no perodo de
2008 a 2010, no qual se formou a primeira equipe de mediadores. Tambm so
descritas algumas das aes realizadas nesse perodo de 2008 a 2010
mediaes, oficinas e atividades para educadores.
O captulo 3, Uma etapa chega ao fim e uma nova inicia Coletivo E,
aborda a transio do trabalho de alguns mediadores da FIC para o Coletivo E,
quais os conceitos que permeiam essa iniciativa, como compreendemos a questo
da experincia e uma descrio de algumas das aes realizadas pelo Coletivo E.
Como fonte primria de pesquisa foram realizadas entrevistas, e a escolha
ocorreu por dois motivos: a falta de registros para consulta e a oportunidade de
poder ouvir a fonte viva dessas experincias. Sendo a experincia e o dilogo, como
4 At ento somente tive conhecimento de coletivos de artistas que atuavam como arte educadores, porm
com recortes especficos, como, por exemplo, atuando somente como oficineiros, ou com determinadas prticas artsticas. Porm um coletivo somente de arte educadores, com uma proposta de conceber e executar projetos, era novidade at para ns mesmos.
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veremos adiante, alguns dos alicerces que sustentam a concepo deste trabalho,
nada mais coerente do que utilizar a fala de pessoas que vivenciam (ou vivenciaram)
as situaes que enfocaremos.
No caso da FIC, conversamos com a coordenadora do Programa Educativo
no perodo de 2010 a 2012, Laura Dalla Zen, para que pudesse contextualizar as
aes do educativo at ento, e como se configurava esse programa posterior
atuao da primeira equipe de mediadores. As questes se detm a enfocar a
estrutura do programa educativo, as diferenas conceituais de atuao dos
coordenadores, dificuldades enfrentadas, pontos a ser aprimorados e como se
configura a relao com o pblico.
No Coletivo E, entrevistamos seus componentes para que pudssemos
perceber as convergncias e distanciamentos de ideias e conceitos que existem
dentro do grupo. As questes permitem indicar como se organiza e como funciona o
Coletivo E, seus referenciais tericos, quais as contribuies individuais de cada
membro conforme a sua rea de formao e qual a influncia do trabalho realizado
na FIC na atuao do Coletivo E. Tais entrevistas (tanto a realizada com Laura Dalla
Zen, como as realizadas com o Coletivo E) estaro disponibilizadas na ntegra nos
anexos deste trabalho.
A partir destas consideraes, pensarmos nas possveis contribuies de
aes educativas no-formais, especialmente em artes. Ento convidamos vocs,
leitores, a acompanhar esse percurso e o relacionar a suas prprias experincias...
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1. O que educao em espaos no-formais?
Qual o conceito ou conceitos de educao no-formal? Historicamente, o
termo educao no-formal surgiu nas dcadas de 60/70, dentro de um amplo
movimento evidenciado pelas crises econmicas da poca que trouxeram a tona
uma srie de carncias do sistema educacional escolar. tambm neste perodo
que se comea a questionar fortemente o modelo de educao formal.
O que seria a educao formal? Onde se concretiza? Quais seus mtodos?
Possivelmente, o primeiro lugar que nos vem mente seria a escola. Conforme
Meura 5:
[...] entende-se por ensino formal, aquele que acontece dentro da escola, dentro de um espao institucionalizado. Nesse espao, as turmas so divididas por etapas de desenvolvimento em que se articulam os alunos aproximando-os por faixa etria o que, supostamente, facilita o trabalho do professor. (2011. p. 30)
No Brasil, no final da dcada de 60 encontramos amplos questionamentos
feitos pelo pedagogo Paulo Freire ao modelo vigente na educao formal. Freire
prope o conceito de educao bancria.6 Segundo Freire, a tnica desta
educao seria a narrativa:
A narrao, de que o educador o sujeito, conduz os educandos memorizao mecnica do contedo narrado. Mais ainda, a narrao os transforma em vasilhas, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais v enchendo os recipientes com seus depsitos, tanto
melhores educandos sero. FREIRE (1997, p.62)
A educao bancria faria do aluno um receptor do conhecimento, e
posteriormente de reprodutor das informaes aprendidas. O educador seria
5 MEURA. Ana Paula. Relao entre o ensino formal e no formal: reflexes sobre o Projeto Educativo da
Fundao Vera Chaves Barcelos. 2011, 172 f. Trabalho de concluso de curso em Licenciatura em Artes Visuais. Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. 6 Em 1967, o autor publica Educao como prtica da liberdade. Em 1970, Pedagogia do Oprimido.
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aquele que, detendo a posse do contedo, teria a funo de ser o emissor do
mesmo, sem preocupao com o contexto social dos alunos.7 Freire, como
contraponto a tal modelo, prope a via dialgica. Segundo Freire8, o dilogo uma
relao horizontal de A com B9 onde quem dialoga, dialoga com algum sobre
alguma coisa.10, sendo os seus elementos constitutivos a ao e a reflexo.11
Barbosa da Silva12 complementa que o dilogo a comunicao entre duas ou
mais pessoas, de forma que todos tenham igual direito fala.. Freire13 diz:
Exatamente porque, sendo o dilogo uma relao eu-tu, necessariamente uma relao de dois sujeitos. Toda vez que se converta o tu desta relao em mero objeto, se ter pervertido o dilogo e j no se estar educando, mas deformando.
Sendo assim, a via dialgica proposta por Freire, traz os sujeitos do dilogo
como equivalentes, tirando do educando o papel passivo e receptivo, e criando
oportunidades para a autonomia e para formao de pensamento crtico sobre a
realidade. Conforme Gasparin14:
A leitura crtica dessa realidade torna possvel apontar um novo pensar e agir pedaggicos. Deste enfoque, defende-se o caminhar da realidade social, como um todo, para a especificidade terica da sala de aula e desta totalidade social novamente, tornando possvel um rico processo dialtico de trabalho pedaggico. (2011, p.3)
7 No seria possvel perceber indcios desse tipo de educao depositria sendo reproduzida ao longo dos
tempos, dentro das escolas? Quantas vezes ns, como alunos, no nos sentimos assim, como algum que est ali para receber somente, sem nada a oferecer em troca? 8 FREIRE, Paulo. Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. P. 107
9 ZATTI, Vicente. Autonomia e Educao em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2007.
http://www.pucrs.br/edipucrs/online/autonomia/autonomia/4.5.html p.107. 10
Idem, 8. P. 108. 11
Idem, 9. P. 108. 12
SILVA, Walberto Barbosa da. A pedagogia dialgica de Paulo Freire e as contribuies da programao neurolingustica: uma reflexo sobre o papel da comunicao na Educao Popular. Dissertao de Mestrado em Educao da Universidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, 2006, 85 f. p. 17. 13
Idem, 8. P. 114. 14
GASPARIN, Jos Luiz. Uma didtica para a pedagogia histrico-crtica. 5 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. P. 3.
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Em um sistema educacional onde existe uma via de mo dupla entre
educador e educando, percebendo o aluno com ser potencialmente crtico, Sena e
Finatti15 reforam este pensamento:
[...] o homem formado socialmente como um agente situado em sua prpria histria, reproduzindo e produzindo as necessidades do seu mundo. A educao dialtica com o intuito de transformao social, a escola assume o papel de desenvolver no indivduo a capacidade de ao-reflexo-ao sobre a sua realidade. [...] Assim sendo, o trabalho educativo produzir a humanidade em cada indivduo.
Nem toda educao formal pode ser considerada bancria isso depende de
como cada instituio de ensino, como cada professor conduz a relao de ensino-
aprendizagem com seus alunos. Porm, ao vivenciar experincias em sala de aula
(e mesmo fora dela, em situaes de mediao em exposies de arte), nas mais
diversas escolas e contextos, percebo que ocorrem muitas situaes de educao
bancria, onde a esfera educadora trata o educando com algum que necessita
receber informao, sem preocupao com a contextualizao ou como
determinado contedo pode ser relacionado com as reais necessidades dos alunos.
Compartilhando as palavras de Silveira16:
Somos constantemente tentados a fixar binarismos e relaes de poder que possam garantir a produo de um sujeito padro, formado para a obedincia, separado de suas potncias, destitudo de diferena, destitudo de vida. No quero afirmar que todos os educadores seguem essa cartilha, mas quero chamar a ateno para este embate permanente em que nos situamos. H muitas proposies em educao com timas intenes, mas de suma importncia um questionamento sobre os seus pressupostos e implicaes.
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SENA, Marina Tizzot Borges da Cruz e FINATTI, Jussara Riva. O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM A PARTIR DE PROJETOS DE TRABALHO EM UMA ABORDAGEM CRTICA. X Congresso de Educao EDUCERE. PUC PR. Curitiba, 2011. P. 2460. 16
SILVEIRA, Rafael. Entre a arte e a educao: Restituindo potncias de criao. Porto Alegre, 2012. 99f. Trabalho de Concluso de Curso (Artes Visuais). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). P. 45.
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junto aos questionamentos direcionados s prticas formais que a prtica
da educao no-formal surge. Garcia17 traz uma colocao de Trilla:
[...] a expresso educao no-formal comea a aparecer relacionada ao campo pedaggico concomitantemente a uma srie de crticas ao sistema formalizado de ensino, em um momento histrico em que diferentes setores da sociedade (no s o pedaggico, como tambm o servio social, a rea da sade, cultura e outros) viam a escola e a famlia como impossibilitados de responder a todas as demandas sociais que lhes so impostas, delegadas e desejadas.
Muitas vezes, a educao no-formal se apresenta como complementar ao
ensino regular, formal. Segundo Meura18 [...] o ensino que acontece de forma
estruturada, sendo planejado e organizado fora do ambiente escolar
institucionalizado, tal como tem ocorrido tradicionalmente no processo de educao.
Na educao no-formal, conforme Gohn19, o educador da educao no-formal o
outro com quem interagimos, e essa educao ocorre:
[...] em territrios que acompanham as trajetrias e vida dos grupos e indivduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde h processos interativos intencionais (a questo da intencionalidade um elemento importante de diferenciao). (2006, p.29)
A educao no-formal possui seus sistemas, porm estes so mais abertos
e fludos do que os sistemas da educao formal. Isso tambm diferencia a
educao no-formal da educao informal, que seria a educao que ocorre,
17
GARCIA, V. A. O papel do social e da educao no-formal nas discusses e aes educacionais. In: II Congresso Internacional de Pedagogia Social. Anais. So Paulo: USP, 2008. P. 1. 18
MEURA. Ana Paula. Relao entre o ensino formal e no formal: reflexes sobre o Projeto Educativo da Fundao Vera Chaves Barcelos. 2011, 172 f. Trabalho de concluso de curso em Licenciatura em Artes Visuais. Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. P. 40. 19
GOHN, Maria da Glria. Educao no-formal, participao da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval, pol. Pbl. Educ, Rio de Janeiro, v.14, n 50, p. 27-38, jan/mar 2006.
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18
muitas vezes, sem a intencionalidade educativa. Segundo Coombs20, os tipos de
educao seriam caracterizados assim:
Educao Formal: Sistema educativo altamente institucionalizado,
cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado, que se estende da
escola primria at universidade.
Educao No-Formal: Toda atividade organizada e sistemtica, realizada fora do
quadro do sistema formal de educao, para promover determinados tipos de
aprendizagem a grupos especficos de uma populao, sejam adultos ou crianas.
Educao Informal: Processo pelo qual, durante toda a vida, as pessoas adquirem
e acumulam conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos atravs de
suas experincias dirias e a sua relao com o meio ambiente.
Sendo assim, percebe-se uma nova forma de educar, onde outros ambientes
sociais so utilizados como instrumento. Esse debate sobre a crise mundial da
educao21 tema de uma conferncia internacional International Conference on
World Crisis in Education - realizada em Williansburg, Virginia, Estados Unidos, no
ano de 1967. Nesta conferncia, foi elaborado um documento que explicitava a
necessidade de que a educao se concretizasse no somente no mbito escolar
institucional, mas tambm fora dele. Este documento, organizado e concebido por
Philip Coombs e pela Unesco, tornou-se o marco inicial da educao no-formal
como sistema educacional (assim como as definies de educao formal, no-
formal e informal). Segundo Jaume Trilla, no texto de Garcia22:
As caractersiticas apresentadas pelo autor (Trilla) se referem divulgao, por importantes autores e rgos (o prprio P. H. Coombs e a Unesco) sobre a impossibilidade da escola responder pela educao de uma
20
. SMITH, David. New Paths To Learning For Rural Children And Youth Philip H. Coombs with Roy C. Prosser and Manzoor Ahmed New York: International Council for Educational Development/1973. Interchange, vol. 5 nmero 3. Springer Netherlands, 1973. (texto feito a partir de uma palestra de Coombs). 21
Esse termo foi estabelecido por Philip Coombs. (GARCIA, V. A. O papel do social e da educao no-formal nas discusses e aes educacionais. In: II Congresso Internacional de Pedagogia Social. Anais. So Paulo: USP, 2008. ) 22
GARCIA, V. A. O papel do social e da educao no-formal nas discusses e aes educacionais. In: II Congresso Internacional de Pedagogia Social. Anais. So Paulo: USP, 2008. P. 2.
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19
maneira ampla e genrica; a publicao de uma srie de estudos de programas e propostas educacionais alternativas, que por sua vez criticavam os modelos e fazeres tradicionais da escola; a divulgao do conceito de educao permanente, que passou a legitimar e valorizar outras maneiras de educar e educar-se e, por fim, a compreenso e aceitao de que o meio tambm educa.
Tendo em vista a crise no s pedaggica, que clamava por novos caminhos,
mas tambm a crise econmica presente na poca, a educao no-formal, a partir
da dcada de 70 se estabeleceu como meio educacional vlido, sendo corroborado
em diversos artigos e documentos (como o relatrio da International Conference on
World Crisis in Education, apresentado por Philip H. Coombs, ou com a colaborao
de Manzoor Ahmed e Roy Prosser em New Paths to Learning for Rural Children and
Youth.)23 nas dcadas de 60 e 70 que surgem o termo educao no-formal e
sua concepo como sistema educativo, porm aes com essa carter j existiam
antes disso (GARCIA, 2008, p.3). Pastor Homs (2001)24 traz um apontamento sobre
essa legitimao do campo educacional no-formal:
[...] evidentemente, a prpria existncia destes grupos e programas institucionalizados que, a sua vez, do origem a publicao da abundante bibliografia sobre a educao no-formal so, como bem disse Trilla, um indicador claro da consolidao do conceito a partir dos anos setenta em diante. Temos que destacar tambm nesses anos o processo de oficializao a nvel internacional do termo educao no-formal, que aparece pela primeira vez em o Tesouro da Educao da UNESCO (1977, P.84) definida como aquela que inclui as atividades ou programas organizados fora do sistema escolar, porm dirigidos para a realizao de objetivos educacionais definidos. (p. 536)
Uma abordagem recorrente acerca da educao no-formal traz como
aspecto importante o carter social da mesma. Preocupao muito presente em
23
Referncias que iniciam a afirmao do campo da educao no-formal: COOMBS, Philip H. La Crise Mondiale de l'ducation. Une Analyse de Systmes. Paris: PUF, 1968. COOMBS, Philip H. Faut-il dvelopper l'ducation priscolaire? Perspectives, Vol. III, n3, 1973. pp. 315-338. COOMBS, PHilip H. La Crisis Mundial en la Educacin. Perspectivas Actuales. Madrid: Santillana, 1985. COOMBS, Philip H., PROSSER, Roy C. & AHMED, Manzoor (1973). New Paths to Learning for Rural Children and Youth. New York: International Council for Educational Develepment, 1973. COOMBS, Philip H. & AHMED, Manzoor. La Lucha Contra la Pobreza Rural. El Aporte de la Educacin no Formal. Madrid: Editorial Tecnos, 1975. 24
Apud Garcia, 2008, p.3
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20
pensadores da educao no-formal, como por exemplo Simson, Gohn, Fernandes
25 salientar que:
O principal objetivo desta corrente educativa a formao de cidados aptos a solucionar problemas do cotidiano, desenvolver habilidades, capacitar-se para o trabalho, organizar-se coletivamente, apurar a compreenso do mundo sua volta e ler criticamente a informao que receber. (2007, p.14)
Essa preocupao da educao no-formal com o social, que surge na
dcada de 60, permanece atualmente, mas com um conceito mais amplo de
contribuio social, e no somente como um recurso de compensao uma
educao formal defasada e capacitao para o trabalho.
Aspecto relevante da educao no-formal a relao entre educador e
educando. Em oposio educao bancria criticada por Paulo Freire, o mesmo
aponta como contraponto a educao dialgica, onde atravs do dilogo, da troca a
construo do conhecimento de d. Conforme Freire26:
atravs deste que se opera a superao de que resulta um termo novo: no mais educador do educando do educador, mas educador-educando com educando-educador. Desta maneira, o educador j no o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, educado, em dilogo com o educando que, ao ser educado tambm educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade j no valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, necessita-se de estar com as liberdades e no contra elas. J agora ningum educa ningum, como tampouco ningum se educa a si mesmo: os homens se educam em comunho, mediatizados pelo mundo.
possvel dizer que a educao no-formal busca a caracterstica dialgica
indicada por Freire, o que a diferencia do sistema formal de ensino e a torna um
25
SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von; GOHN, Maria da Glria; FERNANDES, Renata Sieiro. No-fronteiras: Universos da Educao No-formal. So Paulo: Rumos Ita Cultural, 2007. P.14. 26
FREIRE, Paulo. Educao bancria e Educao libertadora. In: PATTO, Maria Helena Souza (Org.) Introduo psicologia escolar. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1997. p. 72.
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21
espao onde o agente da reflexo tanto o educador quanto o educando. Segundo
Simson, Gohn, Fernandes27:
A educao no-formal funciona em mo dupla: o educador tanto aprende quanto ensina o mesmo vale para os participantes das atividades. fundamental, assim, que o educador tenha sensibilidade para entender e captar a cultura local, a cultura do outro, as caractersticas exclusivas do grupo e de cada um de seus participantes.
Dentro deste panorama, que iremos analisar neste TCC uma prtica de
ensino no-formal em artes. At aqui, discorremos sobre a educao no-formal de
modo amplo, porm a mesma ocorre em diversas reas, sendo a rea das artes o
foco deste trabalho. Sabemos que existem diversos meios educativos no-formais
na rea das artes, principalmente em trabalhos de oficinas e atelis. E ganhando
fora, os trabalhos realizados em aes ou projetos educativos em espaos
culturais. A partir das vivncias neste campo, percebe-se que muitas das aes
educativas em espaos no-formais de arte, tem como propsito no s formar um
pblico para a arte, como a partir da arte pensar as coisas do mundo e da vida.
27
SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von; GOHN, Maria da Glria; FERNANDES, Renata Sieiro. No-fronteiras: Universos da Educao No-formal. So Paulo: Rumos Ita Cultural, 2007. P. 16.
-
22
2. O Programa Educativo da Fundao Iber
Camargo
A Fundao Iber Camargo existe desde 1995 como uma instituio sem fins
lucrativos, com o objetivo de preservar e disseminar no mbito nacional e
internacional o legado do artista, firmando-se como um centro difusor que propicie o
debate e a reflexo acerca da arte moderna e contempornea, por meio de
programas culturais multidisciplinares. 28, a partir de um desejo expresso por Iber
Camargo antes de seu falecimento. Localizada inicialmente no bairro Nonoai em
Porto Alegre, a FIC como chamada informalmente, ocupou o espao onde Iber
residiu e trabalhou, juntamente de sua esposa, Maria Coussirat Camargo. Mesmo
com o funcionamento da FIC, a casa tambm continuou sendo a residncia de Dona
Maria, mas ainda assim no era o espao adequado para a coleo de mais de
5000 obras e para as diversas atividades que a fundao promovia. A partir disto,
segundo KIEFER29, nasceu a inteno de erigir uma sede altura das
necessidades de proteo e exposio do acervo deixado pelo pintor.
Em maio de 2008 inaugurada a nova sede da Fundao, agora com os
requisitos de museu.30
28
FUNDAO Iber Camargo. So Paulo: Banco Safra, 2009. 29
KIEFER, Flvio. (Org.) KIEFER, Flvio. Fundao Iber Camargo: lvaro Siza. So Paulo: Cosac & Naify, 2008. P. 28. 30
O prdio um projeto do arquiteto portugus lvaro Siza, que tambm projetou espaos como o Museu de Serralves e a Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, ambos em Portugal, e, no caso da FIC, foi selecionado atravs de um concurso realizado para a escolha do projeto desse novo espao. O projeto da sede da Fundao Iber Camargo foi premiado em 2002 com o Leo de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza. O prdio da Fundao Iber Camargo o nico da cidade de Porto Alegre construdo para abrigar um museu
30, e sendo
assim toda a sua estrutura fsica foi planejada para tal. Detalhes minimamente pensados pelo arquiteto Siza, das janelas de onde possvel observar o Rio Guaba e o centro da cidade de Porto Alegre ao fundo, funcionando como enquadramentos da paisagem, at o mobilirio projetado pelo prprio arquiteto, tudo foi rigorosamente pensado.
-
23
Fig. 1.1: Fundao Iber Camargo. Porto Alegre, 2012. Imagem: www.iberecamargo.org.br
A partir do estabelecimento da sede da FIC, uma nova configurao estrutural
se consolida. Questes operacionais e estruturais surgem como aspectos relevantes
e necessrios ao novo local, como a manuteno do espao expositivo no que diz
respeito temperatura ambiente adequada s obras expostas, ou a qualificao da
equipe de segurana.
A FIC passa a propor eventos no campo das artes, como seminrios, oficinas
e lanamentos de livros como os catlogos das exposies e bibliografia sobre
Iber. Ponto importante o trabalho do acervo e da catalogao da obra do artista,
que j resultou em um catlogo raisonn das gravuras produzidas por ele. E tambm
o trabalho do Programa Educativo, que tem como inteno ser a ligao da
instituio com o seu pblico, promovendo no somente uma aproximao com o
legado de Iber Camargo, mas com a arte de forma ampla.31 O Programa Educativo
da FIC tem como objetivo principal constituir e formar o pblico no apenas para a
prpria instituio, mas fundamentalmente para a arte.32
31
A Fundao Iber Camargo tambm conhecida por fomentar a produo artstica atual, com programas como a Bolsa Iber Camargo, onde jovens artistas so selecionados a realizar residncias em outros pases, e a programa Artista Convidado, onde os convidados produzem uma srie de trabalhos em gravura em metal no atelier de gravura da FIC, utilizando os instrumentos que o prprio Iber Camargo utilizava quando gravava. Tanto a Bolsa Iber Camargo, quanto o programa Artista Convidado j deram origem a duas exposies com a produo realizada em ambos: Convivncias (2010) com a produo dos bolsistas, e Dentro do Trao, Mesmo (2009), com a produo do atelier de gravura. 32
Disponvel em http://www.iberecamargo.org.br/site/programa-educativo/default.aspx acesso em 14.ago.2012
-
24
Tendo incio em 1999, ainda sob a nomenclatura de Programa Escola, e com
uma estrutura bem menor, o hoje Programa Educativo j tinha a preocupao com o
pblico escolar, tendo nos professores e educadores os parceiros e motivadores
desse projeto. Com dimenses menores, o ento Programa Escola era desenvolvido
basicamente pela sua coordenadora, Mauren DeLeon33.
Em 2008 inicia-se uma nova fase e o Programa Educativo se constitui de uma
equipe de mediadores, coordenao, agendamento e de uma curadoria pedaggica.
A curadoria pedaggica estava ao cargo de Luis Camnitzer, que anteriormente fora
curador pedaggico da 6 Bienal do Mercosul, realizada em 2007. Em tal edio o
Projeto Pedaggico da Bienal remodelado, com a ao educativa passando a ter
espao maior e quase tanta importncia quando o projeto curatorial. Esta foi a
primeira edio com curadoria pedaggica, algo j estabelecido dentro do sistema
da Bienal do Mercosul.
Seguindo um modelo semelhante ao da Bienal do Mercosul, a FIC lana seu
Programa Educativo ao mesmo tempo que inaugura sua nova sede. Segundo a
coordenadora do Programa Educativo no perodo de 2010 a 2012, Laura Dalla Zen,
pensar isso (FIC) como espao cultural que por si s educa, pelos vrios discursos
que circulam aqui.34
Acompanhando uma fase de crescimento no campo da educao no-formal
em artes, o Programa Educativo surge ao mesmo tempo experimental e preocupado
com a qualidade desse futuro percurso, sendo que desde a seleo do mediadores
at o incio do atendimento ao pblico a qualificao da equipe era um dos pontos
chaves do desenvolvimento deste trabalho. Ainda conforme Dalla Zen35, [...]
sempre pensar nesse espao no como um apoio da escola, ou como uma escola,
mas um espao de cultura, de ampliao de repertrio tanto para o aluno, quanto
para o professor.
33
Mauren DeLeon foi a primeira coordenadora do Programa Educativo da Fundao Iber Camargo, de 1999 a 2008. 34
Entrevista cedida autora em 14 de abril de 2012. 35
Entrevista cedida autora em 14 de abril de 2012.
-
25
Sabemos que seria impossvel realizar um registro preciso de tudo que foi
produzido pelo Programa Educativo at ento. Os dois primeiros anos desta ao, j
reconfigurada com uma equipe formada para tal, indicava qual rumo o Programa
Educativo tomaria e quais os alicerces o sustentariam. Muitas mudanas ocorreram,
tanto na equipe, quanto nas concepes e atividades propostas. Apesar disto,
essencialmente a estrutura se mantm a mesma: uma equipe de mediadores
(variando em nmero, dependendo das demandas de cada temporada); um(a)
coordenador(a); equipe de agendamento, realizao de visitas mediadas, oficinas,
formao de educadores e mediadores; produo e distribuio de material
didtico.36
Em abril de 2008, iniciou-se um processo seletivo para a formao da equipe
de mediadores da nova configurao do Programa Educativo. At ento, o
Educativo era constitudo somente por sua coordenadora, Mauren DeLeon, que era
quem realizava as funes, na antiga sede da Fundao, no bairro Nonoai. Com a
chegada de mais um coordenador, o artista visual e arte educador Luciano Lanner, e
s vsperas da inaugurao da nova sede no bairro Cristal, havia a necessidade de
ter uma equipe que desse conta das demandas de trabalho que surgiriam com o
36
Abaixo as exposies realizadas no perodo de 2008 a 2010, tendo a atuao da equipe educativa: Iber Camargo Moderno no Limite. Artista: Iber Camargo . Durao: 31/mai a 30/Nov/2008. Curadoria: Mnica Zielinsky, Paulo Srgio Duarte e Snia Salzstein. Jorge Guinle Belo Caos. Artista: Jorge Guinle. Durao: 10/set a 30/Nov/2008. Curadoria: Ronaldo Brito e Vanda Mengia Klabin. Iole de Freitas Programa trio. Artista: Iole de Freitas. Durao: 06/ago/2008 a 08/fev/2009. Curadoria: Mnica Zielinsky, Paulo Srgio Duarte e Snia Salzstein. Iber Camargo Persistncia do Corpo. Artista: Iber Camargo. Durao: 02/set/2008 a 08/mar/2009. Curadoria: Ana Albani de Carvalho e Blanca Brites. Lugares Desdobrados. Artistas: Elaine Tedesco, Karin Lambrecht e Lucia Koch. Durao: 09/dez /2008 a 08/mar/2009. Curadoria: Mnica Zielinsky. Guignard Um Mundo a Perder de Vista. Artista: Alberto da Veiga Guignard. Durao: 09/dez /2008 a 08/mar/2009. Curadoria: Jos Augusto Ribeiro. Iber Camargo Um Ensaio Visual. Artista: Iber Camargo. Durao: 21/mar a 30/ago/2009. Curadoria: Maria Jos Herrera. Ddale. Artista: Pierre Coulibeuf. Durao: 04/jun a 06/set/2009. Curadoria: Gaudncio Fidelis. Iber Camargo Uma Experincia da Pintura. Artista: Iber Camargo. Durao: 10/set a 29/Nov/2009. Curadoria: Virgnia Aita. Dentro do Trao, Mesmo. Artistas: Vrios. Durao: 10/set a 29/Nov/2009. Curadoria: Teixeira Coelho. Clculo da Expresso. Artistas: Iber Camargo, Lasar Segall e Oswaldo Goeldi. Durao: 11/dez/2009 a 14/mar/2010. Curadoria: Vera Beatriz Siqueira. Paisagens de Dentro: As ltimas pinturas de Iber Camargo. Artista: Iber Camargo. Durao: 11/dez/2009 a 23/set/2010. Curadoria: Icleia Borsa Cattani. O Alfabeto Enfurecido. Artistas: Len Ferrari e Mira Schendel. Durao: 09/abr a 11/jul/2010. Curadoria: Luis Prez-Oramas. Desenhar no Espao Artistas abstratos do Brasil e Venezuela na coleo Patricia Phelps de Cisneiros. Artistas: Vrios. Durao: 30/jul a 31/out/2010. Curadoria: Ariel Jimenz.
-
26
crescimento da instituio. A preferncia era por pessoas com alguma experincia
em mediao e com referncias de trabalhos anteriores (especialmente Bienais do
Mercosul).
A primeira equipe era formada por oito mediadores37 provenientes de
formaes diversas como Artes Visuais, Letras, Teatro e Histria. A preparao da
equipe para a atuao na nova sede iniciou-se semanas antes da sua inaugurao,
com visitas sede antiga, oficinas de gravura em metal e leituras sobre Iber
Camargo e sua obra, alm de estudos sobre a arquitetura do novo prdio projetado
por lvaro Siza. Sobre essa pr-preparao, Brninghaus-Knubel38 diz que Os
melhores exemplos de museus direcionados aos visitantes tinham pedagogos de
museu designados e j a trabalhar na equipe de desenvolvimento do museu muito
antes da abertura oficial.39 Temos exemplos como a Bienal do Mercosul que inicia a
preparao de seus mediadores meses antes de sua abertura ao pblico. No caso
da FIC, as preparaes costumam ocorrer em poucas semanas, fazendo-se
necessria a experincia prvia com mediao por parte dos educadores.
A preparao prvia era realizada em todas as trocas de exposio, com
leituras dos catlogos, conversas com os curadores e especialmente reunies de
equipe, onde eram debatidos aspectos das exposies que poderiam ser melhor
trabalhadas nas mediaes e oficinas. Um espao no s de atuao com o pblico,
mas de discusso, pesquisa e at mesmo provocao. Conforme Laura Dalla Zen:
Entender que esse um espao, e que ele educativo, justamente por ser um
espao cultural, e que ele no deve ser transformado em escola [...]40.
Percebendo a crescente demanda de trabalho, surge a necessidade de
aumentar a equipe, e para tanto so contratados mais quatro mediadores.41 Com
37
Diana Kolker Histria/PUC, Rafael Silveira Artes Visuais/UFRGS, Luisa Berger Artes Visuais/UFRGS, Elisa Moraes Artes Visuais/Feevale, Cibele Donato Teatro/UFRGS, Sandro Piazza Artes Visuais/UFRGS, Gerusa Marques Letras/UFRGS, Mirele Pacheco Artes Visuais/ULBRA 38
BRNINGHAUS-KNUBEL, Cornelia. Educao do Museu no Contexto das Funes Museolgicas. In: BOYLAN, Patrick J. (ed). Como Gerir um Museu: Manual Prtico. Paris: ICOM, 2004. P. 130 39
O texto foi traduzido para o portugus de Portugal, por isso a referncia de Pedagogo de Museu. 40
Entrevista cedida autora em 14 de abril de 2012 41
Barbara Nicolaiewski Letras/UFRGS, Valria Payeras Artes Visuais/UFRGS, Karina Finger Cincias Sociais/UFRGS e Carolina Mendoza Artes Visuais/UFRGS) fechando uma equipe de doze educadores. Devido a sada de alguns dos mediadores (por motivos diversos), ainda no ano de 2008, vieram completar a equipe do
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27
isso foi possvel fortalecer o trabalho realizado, j que todos tinham familiaridade
com as demandas do educativo. Sem troca frequente de mediadores, era possvel
dedicar o tempo para planejar oficinas, estratgias de mediao, seminrios, entre
outras atividades que exigiam certa experincia j dentro da Fundao. Em
determinado momento at mesmo tarefas administrativas foram delegadas a alguns
mediadores, oportunizando outro tipo de experincia, mais objetiva, mas
extremamente necessria para o funcionamento da equipe.
A regularidade e permanncia dos mediadores um assunto delicado quando
falamos sobre a equipe de educadores. A contratao na FIC, at o momento42,
feita por meio de estgios no-obrigatrios, que tem um tempo limitado de atuao
(dois anos no mximo) e s podem ser contratados estudantes universitrios que
estejam vinculados ativamente faculdade. Isso faz com que a flutuao de
membros na equipe seja bastante grande, pois muitos concluem os seus estgios e
outros muitos se formam ou migram para trabalhos de carter mais fixo. Podemos
dizer que tal fato ocorre para que diversos estudantes tenham uma experincia
profissional antes de sua formao acadmica completar, mas sabemos tambm ser
por questes ligadas as leis trabalhistas, j que fica mais vantajoso financeiramente
ter um estagirio do que um profissional contratado pela CLT (Consolidao das
Leis do Trabalho), e assim ter as despesas de todos os direitos que algum
contratado possui.
O interessante perceber que, a experincia pela qual os mediadores
passam no Programa Educativo, tornou-se, involuntariamente, uma formao a
parte da formao acadmica. Isso porque ali se vivencia situaes e problemticas
que no so trabalhadas nos cursos acadmicos. A falta de disciplinas ligadas a
educao no-formal nos cursos de licenciatura e educao faz com que
experincias como estas acabem por dar conta do estudo desse campo. E tambm
educativo: Mrcio Domingues Arquitetura/UFRGS, Camila Mozzini Jornalismo/UFRGS, Juliana Peppl Publicidade e Propaganda/PUC, Ana Carolina Steil Filosofia/UFRGS, Vivian Andretta Artes Visuais/UFRGS, Nfer Kroll Artes Visuais/UFRGS e Iliriana Rodrigues Histria/PUC. Entre o ano de 2009 e 2010 a equipe de mediadores permaneceu fixa, sem alterao no seu quadro funcional, ficando assim formada por: Barbara Nicolaiewsky, Carolina Mendoza, Diana Kolker, Iliriana Rodrigues, Juliana Peppl, Nfer Kroll, Rafael Silveira, Swami Silva Artes Visuais/UFRGS (que integrou a equipe em 2009), Valria Payeras e Vivian Andretta. 42
At o fechamento deste trabalho de concluso de curso.
-
28
pelo carter temporrio da permanncia dos educadores na FIC, que se aproxima
de um curso de formao. Estgios por si s j tem esse carter formativo, mas
voltado para a prtica.
Foi ao trmino de um perodo de estgio no Programa Educativo da
Fundao Iber Camargo, que alguns dos mediadores desta poca (de 2008 a
2010) formaram o Coletivo E, coletivo de arte de educadores independentes que
passou a atuar em diversos espaos, trabalhando com a educao no-formal em
artes, na cidade de Porto Alegre.
2.1 Mediao uma experincia dialgica
Fig.2.1: Mediao realizada por Carolina Mendoza com uma turma da Escola Projeto na exposio Jorge Guinle Belo Caos, 2008. Foto: Elvira Fortuna.
-
29
O trabalho de mediao realizado na FIC tinha43 como proposta um dilogo
entre alunos/professores/instituio/artista/obra, sendo o mediador aquele que
agrega essas diferentes partes, fomentando o questionamento e a troca entre os
partcipes. Importante destacar que, no campo da mediao cultural, existe uma
grande diferena entre mediar e guiar. Conforme o significado destas palavras:
mediar me.di.ar (lat mediare) vtd 1 O mesmo que mear. vti 2 Ficar no meio de dois pontos, no espao, ou de duas pocas, no tempo: O rio medeia entre esta cidade e aquela. "Entre ns e a queda simblica da Bastilha j medeia um sculo" (Ea de Queirs).vtd 3 Tratar como mediador: Mediar a reconciliao de duas pessoas. vti 4 Pertencer mdia (classe, posto, graduao)...
44
guiar gui.ar (guia+ar
2) vtd 1 Servir de guia a: O co guia o cego. vtd 2Conduzir, dirigir,
encaminhar: A estrela guiou os magos. vtd 3Governar (cavalos). vtd e vint 4 Dirigir (veculo). vti 5 Ser caminho para alguma parte: Veredas que guiam eternidade. Esse carreiro guia para o cafezal. vti 6 Encaminhar-se: Virei a esquina e guiei para o escritrio. vpr 7 Dirigir-se: Guiei-me pelas informaes. Ele nem a si se guia. vtd 8 Aconselhar. vtd9 Dirigir, proteger: Deus te guie! vtd 10 Ensinar. vpr 11Navegar.
45
Pois podemos notar que existem diferentes significados para cada termo.
Mesmo que mediar ainda seja um termo na qual podemos discutir sua
aplicabilidade na referida atividade realizada nos museus e centros culturais, guiar
remete-nos a conduo. Guia-se aquele que no tem orientao, que sente-se
perdido perante algo. O guia aquele que domina o campo onde guiar, e ser o
ponto de referncia daqueles que so estranhos a este. O termo mediar
utilizado para denominar a ao deste trabalho educativo realizado, no s na FIC,
43
Aqui uso o verbo no passado, j que me refiro um determinado perodo, e mesmo falando de uma forma geral, possvel que tenham ocorrido mudanas na maneira de conduzir os trabalhos do Educativo da FIC. Para saber mais sobre a atual situao, procurar a instituio. 44
Disponvel em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=mediar acesso em 15.ago.2012. 45
Disponvel em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=guiar acesso em 15.ago.2012.
-
30
mas como em diversos museus, centros e eventos culturais e artsticos. Muito se
discute em relao ao uso de tais termos. Grinspum46 sugere que:
O termo visita guiada, j de uso to corrente entre ns, pode ser ressignificado em relao ao seu sentido semntico original, pois o monitor
47 ao propor recortes, roteiros e percursos na exposio, guiado
por objetivos educacionais claros, estabelecidos em parceria com o professor. O monitor passa a ser identificado como mediador entre as exposies e o pblico. Ele no est ali como um tira dvidas, e sim, como um educador, sujeito de sua ao reflexiva, que conhece o acervo, as exposies e os processos de comunicao com o pblico. (Grifos prrprios)
Apesar de remeter ao estar entre, mediar tem mais um carter de estar
junto, de provocar o pensamento e relacionar a contribuio do pblico em relao
s obras e arte. E isso se d atravs do dilogo, onde os elementos da conversa
tramam conhecimentos diversos. pelo dilogo, e no pela palestra, que ocorre a
ao educativa, sendo assim Fronza-Martins48 aponta que:
Atravs do dilogo possvel instigar as pessoas a participar do exerccio de reflexo e criao de sentidos pertinentes a uma leitura de obras de arte. A obra de arte o ponto de partida e referncia, o mediador, o espectador parte integrante do processo, todos so elementos coadjuvantes na experincia.
Aqui tambm podemos resgatar a questo levantada por Paulo Freire49, sobre
a diferena entre uma educao bancria e uma educao problematizadora:
46
GRINSPUM, Denise. Educao para o patrimnio: conceitos, mtodos e reflexes para formulao de poltica. In: Anais do Simpsio Internacional Museu e Educao, Conceitos e Mtodos. s/e, So Paulo, 2001. P. 112. 47
Termo trazido pela autora. 48
FRONZA-MARTINS, Anglay Sanches. DA MAGIA A SEDUO: a importncia das atividades educativas no-formais realizadas em Museus de Arte. Revista de Educao, Brasil, v. 9, n. 9, p. 71-76, 2006. Disponvel em: http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/reduc/article/view/198/195 p.74. Acessado em: 09 jun. 2012. 49
FREIRE, Paulo. Educao bancria e Educao libertadora. In: PATTO, Maria Helena Souza (Org.) Introduo psicologia escolar. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1997. P. 73.
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Assim que, enquanto a prtica bancria, como enfatizamos, implica uma espcie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educao problematizadora, de carter autenticamente reflexivo, implica um constante ato de desvelamento da realidade. A primeira pretende manter a imerso, a segunda, ao contrrio, busca a emerso das conscincias, de que resulte
sua insero critca na realidade.
Na FIC, o trabalho do educativo no fugia das correntes educativas que
privilegiam o dilogo como um meio de construo de conhecimento. no educativo
que surgem as primeiras concepes sobre experincia educativa amadurecidas
mais tarde com o surgimento do Coletivo E. Segundo Hoff50:
Nesse sentido, poderamos dizer que, no caso da arte, e tambm no geral, o papel da mediao no apenas promover uma interao do pblico com o objeto, mas sobretudo, possibilitar o dilogo direto entre indivduos, entre saberes diferentes, entre ruas diferentes, entre escolas diferentes, entre cresceres, entre pares diferentes.
Fig.2.2: Mediao com Iliriana Rodrigues e Barbara Nicolaiewsky na exposio Lugares Desdobrados, 2009. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
50
HOFF, Mnica In: SANTOS, Anderson Pinheiro (Org.) Por um mediador-etc ou a experincia da Bienal do Mercosul. In: Dilogos entre arte e pblico Educadores entre museus e salas de aula: que dilogos so esses? Caderno de textos II Recife: Fundao de Cultura da Cidade do Recife, v.2, 2009. P. 110.
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O primeiro curso de formao de mediadores (maro de 2010), teve uma
semana de aulas tericas sobre a FIC, onde as diversas equipes que atuam no
museu contavam como funcionavam seus setores, alm de palestrantes convidados
a falar sobre educao em museus, educao no-formal e sobre a vida e obra de
Iber Camargo. A semana seguinte consistia em uma srie de atividades prticas
chamada de Laboratrio de Mediao, onde eram propostas situaes comuns ao
trabalho do mediador. Uma das atividades, chamada Caixa de Pandora, consistia
em uma caixa onde os futuros mediadores sorteavam situaes diversas que
pudessem ocorrer durante as mediaes, e assim que sorteada a situao, os
mediadores trariam uma soluo que seria representada como se estivesse
ocorrendo naquele momento. Salientar que a atividade era uma simulao para
provocar o futuro mediador a pensar solues para situaes que costumam ocorrer
nas mediaes. A concepo de experimentar a possibilidade de uma situao, ao
invs de somente discuti-la ou debat-la verbalmente, ilustrada por Duarte em
entrevista para Pinheiro51:
como quem diz a uma criana que quer colocar o dedo na tomada no coloque o dedo, porque voc vai levar um choque, isso apenas uma informao; ela no entende isso, ento ela pode saber a informao de que passa choque; mas, o que o choque? Ento, num determinado momento, ela pode colocar o dedo e tomar o choque; ento ela corporificou a informao. Agora, todo o corpo dela entende o que choque, todo o corpo dela entende o que significa aquilo e pode, inclusive, transformar aquela corrente eltrica numa ideia para outra construo que estava para alm da informao que foi dada.
Ao propor uma srie de atividades onde poderamos simular em uma
mediao de fato, os futuros mediadores no s assimilavam teorias, mas tinham
uma experincia viva e ativa. E sentiam que tambm era possvel pensar e refletir
atravs da experincia que traziam consigo.
51
DUARTE, Eduardo. A corporificao da experincia: para que serve isso que voc est me dizendo?. In: PINHEIRO, Anderson (Org.) Dilogos entre arte e pblico: caderno de textos. Recife: Fundao de Cultura do Recife, v.1, 2008. Entrevista concedida a Anderson Pinheiro.
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Alm da Caixa de Pandora, tambm houve exerccios como a elaborao e
aplicao de uma oficina, pensando em faixas estarias e temas de abordagem, e o
exerccio de percurso de mediao, onde os futuros mediadores criavam um roteiro
de visita, escolhendo algumas obras expostas no museu e fazendo relaes entre
elas.
Fig.2.3: Curso de Formao de Mediadores da Fundao Iber Camargo, Porto Alegre 2010. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
No que se refere metodologia, as mediaes na Fundao Iber Camargo,
no perodo de 2008 a 2010, eram realizadas em 1h30min de visita, que poderiam
ser:
- 1h30min de visita s exposies;
- 45min de visita s exposies + 45min de oficina (ou iniciando com a oficina, e
depois visitando a exposio);
- 1h de visita s exposies + 30min de oficina (ou iniciando com a oficina, e depois
visitando a exposio);
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- 1h30min de visita s exposies + mediao sobre a arquitetura do prdio;
- Programa de trs visitas (essa modalidade de agendamento foi extinta a partir de
2009):
1- Visita ao prdio arquitetura: 1h30min;
2- Visita s exposies: 1h30min;
3- Oficina: 1h30min
Fig.2.4: Mediao com Diana Kolker e Rafael Silveira na exposio Jorge Guinle Belo Caos, 2008. Foto: Luciano Laner.
Fig.2.5: Mediao com Valria Payeras na exposio Iber Camargo Moderno no Limite, 2008. Foto: Luciano Laner.
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O tempo da visita mediada no chegava a ser pouco (geralmente visitas
mediadas costumam durar 1h, 1h30min), porm existe um fator que
institucionalmente dificulta que aes com tempo mais prolongado de se realizarem:
os nmeros que indicam o fluxo de pblico, o que chama a ateno de
patrocinadores. A Fundao Iber Camargo se mantm financeiramente atravs da
Lei Federal de Incentivo a Cultura - Rouanet52 que possibilita que empresas invistam
parte do imposto de renda devido em aes culturais, o chamado incentivo fiscal.
Quanto mais pblico atendido, mais empresas se interessam em associar a sua
marca (visibilidade). Para que mais pblico pudesse ser atendido53, mais
agendamentos, e consequentemente tempo limitado para cada grupo agendado,
alm de muitas vezes o espao expositivo ficar muito lotado, dificultando a
mediao.
Isso algo a ser discutido, no s na FIC, mas em outras instituies e
eventos que promovem visitas mediadas/educativas. Os nmeros muitas vezes
falam mais alto do que a promoo de uma experincia de qualidade que implica um
espao adequado (sem superlotaes, por exemplo), um tempo diferenciado (a
possibilidade de oferecer visitas mais longas ou continuadas54) alm, claro, de
educadores bem preparados.
2.2. Oficinas uma experincia atravs de outras linguagens
As oficinas funcionam como parte da mediao, uma maneira de abordar
temas e/ou assuntos que esto na exposio, mas atravs de outras linguagens
alm da oral. Atravs de atividades plsticas ou conceituais, as oficinas
52
Lei n 8.313 de 23 de dezembro de 1991. 53
Especialmente o pblico escolar, pois para as empresas bastante interessante associar as suas marcas a aes que envolvem educao. 54
A FIC durante um tempo ofereceu uma modalidade de visitas continuadas, que foi extinta a partir de 2009. Era possvel perceber que as turmas que realizavam essa modalidade de visita se relacionavam com as propostas educativas e com os educadores de maneira distinta das turmas que visitavam somente por 1h30min. Elas se apropriavam melhor do espao, sentindo-se mais prxima das obras, alm de retomarem aspectos que eram conversados nas visitas anteriores que faziam.
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proporcionam uma experincia onde cada indivduo acrescenta significados e cria
aproximaes com as obras, o artista, a curadoria e o museu.
Fig.2.6: Oficina de vero da exposio Lugares Desdobrados 2009. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
Aspecto importante nas oficinas realizadas era a relao do pblico com os
materiais: tintas, lpis, carvo, pincis, giz pastel seco e oleoso, papis dos mais
diversos tipos e gramaturas... A maneira com que era possvel utiliz-los e o
encantamento que muitas vezes estes provocavam eram maneiras indiretas de
mediar. Muitos dos alunos (e at mesmo professores) atendidos nunca haviam
trabalhado com materiais deste tipo. Recebamos professores que muitas vezes
nem uma sala apropriada para a prtica das aulas de artes tinham, quanto mais
materiais to diferenciados para a realidade de seus alunos. Portanto, como
mediadores, tentvamos valorizar e potencializar essa experincia tanto quanto o
contato com a obra de arte em si. Segundo Dewey no texto de Martins55:
55
DEWEY, John. In: MARTINS, ngela Maria Gusmo Santos. O sentido da educao que vem da experincia: as ideias de John Dewey. Prxis Educacional, n. 3. Vitria da Conquista: 2007. P. 149.
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A experincia educativa tem que ser uma experincia inteligente que surge da ao do pensamento reflexivo. Assim, a reflexo parte integrante da experincia que, por sua vez, subentende uma associao de fazer e experimentar.
As oficinas tinham como proposta no somente promover uma experincia
manual ou ldica, mas alm de poder experimentar o como fazer, tecer
associaes com as obras expostas. Devido ao limite do espao fsico, nem todas
as oficinas eram no final da mediao e no atelier. Tambm ocorriam oficinas pr-
visita, feitas antes de observarmos e conhecermos as obras e a exposio, onde ao
invs de partirmos da obra para a experincia do fazer, partamos do fazer para a
experincia de estar com as obras. A partir do trabalho feito na oficina, realizava-se
a relao com a exposio. Tambm aconteciam oficinas fora do atelier, tanto na
rea externa do museu, como nas salas de exposio, alm de atividades com os
materiais pedaggicos ou instrumentos de mediao como o mata-vontade56.
Fig. 2.7: Oficina da exposio Jorge Guinle Belo Caos. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
56
O termo mata-vontade surgiu em uma mediao, quando ao apresentar o objeto, um aluno disse que o mesmo servia para matar a vontade de tocar nas obras.
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Fig. 2.8: Oficina de retrato a partir da obra de Iber Camargo. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
Fig. 2.9: Oficina realizada na rea externa do museu, referente a exposio Lugares Desdobrados, 2009. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
O mata-vontade consiste em um objeto ttil que simula a textura das obras
que esto expostas. Esse objeto surgiu com a necessidade de proporcionar ao
pblico a experincia de tocar uma superfcie com uma espessa camada de tinta,
assim como os quadros de Iber Camargo se apresentam. Era recorrente a
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necessidade de abordar o pblico quando este tocava nas obras. Porm sabamos
que a obra de Iber instiga esse aspecto ttil. Pensando nisso, produzimos
pequenos quadros cobertos de uma grossa camada de tinta acrlica, misturando
cores e deixando texturas, assim como nos quadros de Iber. Assim quando
avisamos que no era permitido tocar nas obras, apresentvamos o mata-vontade
para que pudessem ter a sensao similar a de tocar nas obras, e assim matar a
vontade de toc-las. Dependendo da exposio, trabalhvamos com outros mata-
vontade, como matrizes de gravuras por exemplo.57
2.3. A relao com os educadores
Fig. 2.10: Capacitao de Professores da exposio Iber Camargo Moderno no Limite. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
A cada nova exposio realizada no museu da FIC, tambm ocorria um
encontro para professores, educadores e interessados em geral. Nesses encontros
os educadores tem a oportunidade de conhecer a exposio e as obras atravs da
fala dos curadores e, sempre que possvel, dos prprios artistas.
57
Na exposio Dentro do Trao, Mesmo, utilizvamos uma matriz de gravura em metal, por se tratar de uma exposio de gravuras em metal, e na exposio Calculo da Expresso, utilizvamos uma matriz de xilogravura.
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O professor o agente de ligao entre o museu e a escola: aquele que vai
despertar nos alunos o gatilho para o desenvolvimento das atividades que sero
realizadas no museu. O trabalho do mediador fica muito mais completo e potente
quando o professor encara a visita ao museu como uma parte da sua prpria aula, e
no como um passeio. Segundo Fronza-Martins58:
A existncia de cursos de capacitao para professores e/ou educadores, por propiciar o contato prvio com os recursos oferecidos pelos museus (exposies, materiais didticos, vdeos, catlogos e estratgias didticas) resultam em um melhor aproveitamento por parte do grupo.
Podemos dizer que essa primeira aproximao do educador da exposio
possibilita um trabalho de maior parceria entre mediador e professor, no momento da
mediao com as turmas. Manter essa relao com os educadores permite uma
ligao a longo prazo com os ambientes educacionais considerados formais,
tentando afastar a ideia de que os espaos de educao no-formal so mantidos
por momentos pontuais e efmeros,( assim que encerra se a mediao, encerra se o
trabalho). So nesses encontros que os professores tm a oportunidade de vivenciar
as exposies antes de trazer seus alunos, alm de receberem o material didtico
correspondente quela exposio.59
O material didtico produzido especificamente para cada exposio. Esse
material desenvolvido no prprio Programa Educativo, observando aspectos das
obras, do artista e da exposio em si que possam ser trabalhados pelos
educadores que o recebem gratuitamente. Com o objetivo de ser uma publicao em
srie, os materiais seguem um padro de formato desde sua primeira edio: uma
pasta de tamanho A4 (30cm X 21cm), composta de pranchas que trazem, alm das
imagens das obras, provocaes como os Para Pensar; informaes sobre a obra
reproduzida e colocaes histricas, crticas e/ou educativas sobre o artista e sua
produo.
58
FRONZA-MARTINS, Anglay Sanches. DA MAGIA A SEDUO: a importncia das atividades educativas no-formais realizadas em Museus de Arte. Revista de Educao, Brasil, v. 9, n. 9, p. 71-76, 2006. Disponvel em: http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/reduc/article/view/198/195 p. 74. Acessado em: 09 jun. 2012. 59
A partir do final de 2011, os professores alm de receberem o material didtico, recebem tambm o catlogo da exposio em questo.
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Fig.2.11: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo palestra do curador Teixeira Coelho, 2009. Foto: Acervo Fundao Iber Camargo.
Fig.2.12: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo Visita mediada, 2009. Foto: Luciano Laner.
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Fig.2.13: Capacitao de Professores da exposio Dentro do Trao, Mesmo Oficina, 2009. Foto: Luciano Laner.
Fig.2.14: Capcitao de Professores da exposio Iber Camargo Moderno no Limite Oficina, 2008. Foto: Luciano Laner.
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Fig.2.15: Material Escola destinado s bibliotecas das escolas. Foto: Valria Payeras.
Alm das imagens, tambm compem o conjunto um caderno de textos com
breve biografia do artista, propostas de atividades e bibliografia utilizada nas
pesquisas para a construo dos materiais. Tambm foi produzida um tiragem
especial do material didtico sobre Iber Camargo, com pranchas em tamanho A3
(40cm X 29,7cm) entregues exclusivamente para as bibliotecas das instituies
escolares. Conforme Laura Dalla Zen:
O Programa Educativo no pode ser um penduricalho s para atrair pblico, e aqui, por exemplo, se tu tens contato com o material pedaggico, ele feito com a mesma identidade visual, um produto caro, ele feito com a mesma preocupao que feito o catlogo da exposio. [...] Ele um material que pensado para o educador, para quem quer trabalh-lo em sala de aula ou com outros grupos. Ento se faz uma transposio didtica de um contedo que nem sempre to familiar a todos, sem simplificar, buscando no simplificar, mas se cria.
60
60
Laura Dalla Zen em entrevista cedida autora em 14 de abril de 2012.
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Outra caracterstica do material didtico so acessrios complementares. Em
algumas pastas, esse material consiste em cartes de 15cm X 10,5cm, com imagem
e ficha tcnica da obra reproduzida. Porm em algumas publicaes, esse material
faz referncia a elementos que abordam a obra do artista de uma forma
diferenciada. Exemplo foi o material da exposio Lugares Desdobrados (2008): o
acessrio complementar consistia em objetos relacionados s poticas das artistas
Karin Lambrecht, Elaine Tedesco e Lucia Koch. No material de Lambrecht, que
trabalha com questes da pintura, acompanhavam os cartes com imagens de
obras. No material de Tedesco, lminas projetveis com imagens de suas obras
remetiam as projees que se encontravam na exposio. J no material referente
Koch, laminas de celofane colorido na mesma forma da obra instalada na exposio
integravam o conjunto. A proposta desses acessrios complementares no era que
fossem utilizados diretamente com os alunos em sala de aula, mas que
despertassem proposies acerca dos materiais, tcnicas e poticas das obras e
dos artistas.
Fig. 2.16: Educadores conhecendo o material didtico sobre Iber Camargo na Capacitao de Professores da exposio Moderno no Limite. Foto: Luciano Laner.
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Fig.2.17: Material didtico sobre Iber Camargo, v. 1, 2008. Foto: Valria Payeras.
Fig.2.18: Material didtico da exposio Lugares Desdobrados, 2009. Fotos: Valria Payeras.
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Tambm havia os Dirios de Bordo, material entregue para os alunos que
realizassem as trs visitas (prdio, mediao e oficina) e que fossem provenientes
de escolas pblicas. Posteriormente entregava-se o dirio para alunos de escolas
pblicas ou para turmas em que o professor solicitasse devido algum projeto
realizado pelo mesmo. Esse material era em formato de bloco de anotaes. Ele
agregava um breve histrico da Fundao Iber Camargo, alm de diversos tipos de
folhas e gramaturas. Alm disso, o bloco trazia uma moldura que possibilitava
enquadrar nossa viso tanto nas exposies, quanto no prdio.61
Fig.2.19: Dirio de Bordo Material didtico entregue para os alunos. Fotos: Valria Payeras e Luciano Laner.
61
Para contextualizao, durante o perodo de 2008 a 2010, o Programa Educativo da Fundao Iber Camargo
61:
Capacitou cerca de 1500 professores em 170h de formao.
Atendeu mais de 100.000 pessoas.
Realizou em torno de 1800 visitas mediadas.
Entregou 36.350 materiais didticos para professores, alunos e escolas.
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3. Uma etapa chega ao fim e uma nova inicia
Coletivo E
E pensar no somente raciocinar ou calcular ou argumentar, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. (Larrosa, 2002, p.21)
3.1. O que o Coletivo E? Contexto e Intenes
O Coletivo E um grupo composto por cinco arte educadores Carolina
Mendoza, Diana Kolker, Juliana Peppl, Rafael Silveira e Vivian Andretta que
trabalha realizando projetos educativos em espaos no-formais. O E provm das
palavras experincia e educao. Posteriormente surgiu outra relao: o E
como conjuno de um com outro, como aquilo que liga alguma coisa a algo. O
Coletivo E surgiu por volta de outubro de 2010, a partir de encontros informais entre
seus participantes.
Com o encerramento dos estgios na FIC, surgiu em parte do grupo de ex-
mediadores o desejo de permanecer discutindo e trabalhando com arte educao
em espaos no-formais, mesmo que desvinculados de instituies.
As aes educativas de instituies culturais respondem, por motivos bvios,
a critrios e condutas estabelecidos pelas prprias instituies. No que no seja
possvel realizar um trabalho com posicionamento mais crtico, menos
propagandista, mas mesmo assim continuam a represent-la. O que, de certa
maneira, limita algumas possibilidades de trabalho, devido at mesmo ao foco de
ao do museu, exposio ou evento. Ao estar vinculado com uma instituio
especfica, o educador atende as demandas da mesma. No caso do Coletivo E, essa
no vinculao permite um transito entre as instituies, pela possibilidade de atuar
em qualquer uma delas.
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medida que amos encerrando o nosso percurso como mediadores na FIC,
paralelamente nos reunamos para pensar quais seriam nossos prximos passos
como arte educadores. Os laos de amizade que surgiram durante a nossa
permanncia na FIC foram o que nos impulsionaram a continuar nos encontrando.
Foram nesses encontros informais que surgiram as primeiras ideias de projetos e os
questionamentos sobre como concretizar os mesmos. A ideia de coletivo surgiu a
partir desses encontros, onde percebeu-se que a palavra equipe no caberia como
definio ao grupo. Equipe sugere espaos e atuaes definidas e delimitadas, o
que no era o caso ali. No havia papis definidos, no havia coordenadores ou
subordinados. Todos participavam do processo de criao, das discusses, do
planejamento.
A ligao entre pessoas que se propem a formar um coletivo abordada por
Paim62 no que se refere a coletivos de artistas, porm podemos dizer que ela serve
para qualquer tipo de formao coletiva de trabalho. Paim se refere a tica da
amizade:
A tica da amizade a da liberdade e da incitao (e tambm excitao) comum. Esta tica pressupe que cada um conceba, individualmente (mas no embate com o coletivo), a sua forma de relao, tornando a amizade um quadro multiforme de formas de vida onde no h primazia de uma sobre a outra ou a prescrio de uma nica forma como verdadeira ou correta. neste contexto da multiplicidade e das diferenas que se d a amizade como uma prtica poltica no ambiente pblico, uma alternativa de sociabilidade que permitiu a realizao das estratgias coletivas de artistas que no necessitaram, ou no desejaram, o acontecimento de suas propostas em espaos institucionalizados ou mais convencionais.
Nesse sentido compreende-se que a amizade seria o que faz o trabalho
coletivo fluir dentro das multiplicidades de indivduos. Na amizade no h
hierarquias. Foi a partir da manuteno de laos de amizade que surgiu o desejo de
62
PAIM, Cludia. Espaos de arte, espaos da arte: perguntas e respostas de iniciativas coletivas de artistas em Porto Alegre, anos 90. 2004, 294 f. Dissertao de Mestrado. Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2004. P. 32.
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manter de alguma forma as relaes de trabalho entre os ex-mediadores da FIC.
Conforme Lage e Bilate63:
preciso que os indivduos estruturem, no nvel grupal, condies para que a motivao se torne um desejo de fato, produtivo e ativo. E isso s ser possvel se cada integrante se reconhecer como tal, ou seja, no como mero indivduo, mas como parte constituinte do grupo. Assim, preciso que ele reconhea que o seu motivar-se a produzir e criar um modo de fazer com que o grupo tenha a mesma motivao e, por sua vez, com que o grupo mesmo passe a motivar os indivduos.
Nossa primeira ao como Coletivo E implicou em trazer a nossa experincia
como mediadores e arte educadores, e contribuir para a formao de novos
educadores. Escrevemos um pr-projeto para o futuro curso de formao de
mediadores a ser realizado pela Fundao Bienal do Mercosul para a 8 edio do
evento, onde a experincia seria o foco de reflexo. Propusemos, ao invs de
discutirmos mediao, educao e arte em um auditrio64, ir at os espaos
expositivos de Porto Alegre e ter uma experincia mais prxima daque