tcc 2014 susy kanezakyi

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL ARTES VISUAIS BACHARELADO SUZY LIE KANEZAKI VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA CAMPO GRANDE MS 2014

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Art & Photos


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

ARTES VISUAIS – BACHARELADO

SUZY LIE KANEZAKI

VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA

FOTOGRAFIA

CAMPO GRANDE – MS

2014

SUZY LIE KANEZAKI

VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA

FOTOGRAFIA

Trabalho de Conclusão de Curso

desenvolvido para obtenção do grau de

bacharel em Artes Visuais. Sob a

orientação da Prof. Me. Aline Sesti

Cerutti.

SUZY LIE KANEZAKI

VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA

FOTOGRAFIA

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________

Profª. Me. Aline S. Cerutti

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

______________________________________

Profª. Dra. Eluiza Bortolotto Ghizzi

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

_______________________________________

Prof. Me. Joaquim Sérgio Borgato

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Campo Grande, MS, _____ de ___________________________ de 2014

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos

Aos meus avós por sempre me ajudar e apoiar em qualquer situação.

Aos meus pais por serem tão dedicados e companheiros sempre buscando o

melhor para mim.

Aos meus tios Jânio e Lina que me proporcionaram condições melhores para os

meus estudos resultando nesta conquista.

À minha confidente e amiga irmã.

Aos meus amigos e aos colegas que conheci durante o curso.

À minha professora e orientadora Aline Cerutti pela paciência e atenção com

meu trabalho.

E à todos os professores do curso, pelos ensinamentos e dedicação.

RESUMO

A fotografia documental é trabalhada neste projeto, por se tratar da fotografia

que retrata o ser humano, no caso, os colonos japoneses de Jamic em sua vida

cotidiana, dessa forma imagens destes são obtidas em sua vida rotineira além

de outras atividades, que na maioria das vezes são hábitos trazidos de seu país

de origem. A pesquisa aborda o estilo de fotografia selecionado e a sua ligação

com a arte contemporânea, juntamente com o tema do projeto. As imagens

foram capturadas ao decorrer do ano de 2014 aproveitando o calendário de

eventos da região. A produção resultou numa série de fotografias procurando

usar o mínimo possível em tratamento digital e um trabalho teórico, onde todo o

processo de pesquisa foi registrado.

Palavras - chave: Arte Contemporânea; Fotografia Documental; Colonos

Japoneses.

LISTA DE IMAGENS

Fig. 01: Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................12

Fig. 02: Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do

navio..................................................................................................................14

Fig. 03: Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de

madeira..............................................................................................................15

Fig. 04: Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações................................16

Fig. 05: Primeiras granjas de galinhas construídas.............................................17

Fig. 06: Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado................................18

Fig. 07: Inauguração do Kaikan..........................................................................19

Fig. 08: Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos

eventos..............................................................................................................22

Fig. 09: Brincadeira da pescaria no Undokai de

Jamic..................................................................................................................26

Fig. 10: Ensaio de dança para o Bon Odori.........................................................27

Fig. 11: - Placa exposta em frente à casa de estudante em Campo Grande –

MS......................................................................................................................28

Fig. 12: - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre.........................................29

Fig. 13: Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul

Graham..............................................................................................................35

Fig. 14: - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr……………………………..36

Fig. 15: Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo............................37

Fig. 16: - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo...............................38

Fig. 17: Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban...................40

Fig. 18: Gráficos com valores padrão das configurações básicas da

câmera...............................................................................................................42

Fig. 19: Foto teste 1, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44

Fig. 20: Foto teste 2, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44

Fig. 21: SemTítulo I, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44

Fig. 22: Foto teste 3, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45

Fig. 23: Foto teste 4, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45

Fig. 24: Fujinkai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................45

Fig. 25: Foto teste 5, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47

Fig. 26: Foto teste 6, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47

Fig. 27: Fujinkai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................47

Fig. 28: Foto teste 7, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................49

Fig. 29: Foto teste 8, 2014, Suzy Kanezaki......................................................49

Fig. 30: Sem Título II, 2014, Suzy Kanezaki........................................................49

Fig. 31: Foto teste 9, 2014, Suzy Kanezaki......................................................51

Fig. 32: Foto teste 10, 2014, Suzy Kanezaki....................................................51

Fig. 33: Sem Título III, 2014, Suzy Kanezaki.......................................................51

Fig. 34: Foto teste 11, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52

Fig. 35: Foto teste 12, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52

Fig. 36: Undokai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................52

Fig. 37: Foto teste 13, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54

Fig. 38: Foto teste 14, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54

Fig. 39: Undokai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................54

Fig. 40: Foto teste 15, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56

Fig. 41: Foto teste 16, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56

Fig. 42: Bon Odori I, 2014, Suzy Kanezaki..........................................................56

Fig. 43: Bon Odori II , 2014, Suzy Kanezaki........................................................57

Fig. 44: Foto teste 17, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58

Fig. 45: Foto teste 18, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58

Fig. 46: Bon Odori III, 2014, Suzy Kanezaki........................................................58

Fig. 47: Foto teste 19, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60

Fig. 48: Foto teste 20, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60

Fig. 49: Softbol I, 2014, Suzy Kanezaki...............................................................60

Fig. 50: Softbol II, 2014, Suzy Kanezaki..............................................................61

SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................09

1 Vida e Tradição na colônia Jamic.................................................... ............11

1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre....20

1.2 Principais Atividades da AECNBVA...................................................23

1.2.1 Shinnenkai...........................................................................23

1.2.2 Nyuushokusai......................................................................23

1.2.3 Undokai................................................................................24

1.2.4 Bon Odori.............................................................................26

1.2.5 Bonenkai..............................................................................27

1.3 A Casa de Estudante Jamic...............................................................27

1.4 Associação Esportiva.........................................................................28

2 Fotografia Entre Documento e Arte .............................................................31

2.1 Arte e Documentário..........................................................................32

2.1.2 Paul Graham........................................................................34

2.1.3 Martin Parr...........................................................................35

2.1.4 Walter Firmo.........................................................................36

2.1.5 João Urban...........................................................................38

3 Descrição do Processo de Produção e Análise das Obras........................41

3.1 Metodologia.......................................................................................41

3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas...............................................41

3.3 Processo de Produção.......................................................................43

3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos ............................................43

Conclusão........................................................................................................62

Referencias Bibliográficas..............................................................................63

9

INTRODUÇAO

A pesquisa deste trabalho, envolvendo a colônia japonesa Jamic no

município de Terenos em Mato Grosso do Sul, teve o intuito de levantar o

passado vivido e registrar a vida dos habitantes nos dias de hoje, após 55 anos

de existência, enfatizando os imigrantes da primeira geração, analisando a

maneira com que se relacionam e vivem, além de registrar mudanças na tradição

cultural, repassadas para outras gerações.

Para tanto, foi utilizada neste projeto a fotografia documental, em que

foram captadas imagens dos colonos em sua vida rotineira além de outras

atividades que, na maioria das vezes, decorrem de hábitos trazidos de seu país

de origem, como por exemplo: a prática do softbol, a realização de danças, festas

e pratos típicos. As imagens foram capturadas no decorrer do ano de 2014,

aproveitando o calendário de eventos local e o dia-a-dia de algumas famílias. A

produção final resultou numa série de fotografias e, paralelamente, em um

trabalho teórico, abordando o tema e as técnicas escolhidos para o trabalho.

Esta pesquisa tem o objetivo de contribuir com o acervo da cultura

japonesa do Estado de MS, retratando uma colônia cheia de histórias e vidas.

Curiosidades de como se relacionam e vivem nos dias de hoje nos despertam

interesse, ao mesmo tempo em que percebemos mudanças em suas tradições

culturais, sendo assim, a fotografia documental foi escolhida, já que busca uma

empatia com a cena fotografada. A intenção é não só fazer fotos do cotidiano

das pessoas, mas captar a expressão e a sensibilidade que cada um passará

em cada imagem. Focando os aspectos culturais da colônia japonesa JAMIC

associada à valorização dos indivíduos fotografados.

O trabalho está dividido em três capítulos; o primeiro, intitulado “Vida e

tradição da Colônia JAMIC”, que aborda aspectos históricos culturais dessa

colônia, por meio da sistematização de fontes fotográficas e registros escritos

sobre a colônia.

O segundo, intitulado “A fotografia entre documento, arte e expressão”,

aborda aspectos da fotografia documental e sua ligação com a arte

contemporânea, com a finalidade de promover o conhecimento sobre o assunto

e poder aplicar esses conhecimentos na produção das fotografias que foram

realizadas ao longo desta pesquisa. O terceiro capítulo, “Descrição do processo

10

de produção e análise das obras”, resulta do registro fotográfico dos

procedimentos realizados pela autora deste projeto com o intuito de refletir

criticamente sobre aspectos culturais da colônia Jamic, no contexto dos dias

atuais.

11

1 VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAMIC

Na primeira metade do século XX houve a presença intensa de empresas

estrangeiras no Brasil, favorecendo a vinda de muitos migrantes para trabalhar,

como os japoneses, que saíram do Japão em consequência das medidas

reformistas e reabilitação da economia japonesa após a Segunda Guerra

Mundial.

Segundo Vasconcelos (2003), o processo de emigração japonesa para o

Brasil estava centrado no Japão, sob controle da JICA (Japan International

Cooperation Agency), com sede em Tóquio. Essa agência estatal autorizava

empresas que se interessassem pelo ramo da emigração a desenvolver tal

atividade, inclusive concedendo-lhes subsídios. No Brasil, duas empresas

estavam ligadas ao serviço de emigração do Japão: JAMIC (Japan Management

Imigration Company) Imigração e Colonização Ltda. E a JEMIS (Japan

Emigration Service) Assistência Financeira S.A. Eram empresas juridicamente

brasileiras, mas dirigidas por japoneses e com o apoio financeiro do governo

japonês.

Responsáveis pela aquisição de terras e pela introdução de imigrantes

japoneses em Mato Grosso, nas décadas de 1950 e 1960, acrescentaram novos

ingredientes na composição do Estado. O imigrante japonês, desde a segunda

década do século XX, já vinha se estabelecendo em Mato Grosso do Sul. Mas

foi no final da década de 1940 e nas décadas de 1950 e 1960, que a presença

japonesa se tornou marcante no Estado.

A empresa JAMIC não visava lucros; sua característica fundamental era

sua função social, pois aliviava tensões provocadas pelo desemprego,

promovendo a emigração e introduzindo em outros países parte da população

“sem atividade” no Japão. A empresa adquiria, em determinado país, uma área

de terra, ou diversas áreas; fazia a divisão em lotes, conforme as leis locais, e

depois vendia aos imigrantes. A JAMIC desenvolveu em território brasileiro

diversos projetos de colonização, dentre os quais o de Várzea Alegre.

Os imigrantes japoneses que ocuparam a Várzea Alegre compreendem-

se na chamada terceira fase (1953-75) de imigração japonesa para o Brasil. A

20 quilômetros do centro de Terenos (MS), a Colônia foi batizada oficialmente

de comunidade imigrante Várzea Alegre. Está a 50 quilômetros à sudoeste de

12

Campo Grande, no Km 372 da BR – 262 (fig. 01). Suas fronteiras são o rio

Salobra ao norte e o rio Cachoeirinha ao sul; em 1974, em substituição à rodovia

estadual que corria alinhada à Noroeste, que até então era utilizada, foi aberta a

rodovia BR-262, que cortava a comunidade no sentido Leste-Oeste, facilitando

o fluxo de produtos da comunidade e trazendo benefícios para o

desenvolvimento agrícola, os esportes e a cultura (VASCONCELOS, 2003) .

Fig.01 - Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do Sul.

Fonte: (AYUMI, 2008)

Essa Colônia passou a ser conhecida simplesmente como JAMIC pelos

moradores das proximidades e por um grande número de pessoas. Os recém

imigrados, com um péssimo português, não conseguiam pronunciar de maneira

inteligível o nome “Várzea Alegre”, daí acabavam sempre dizendo que estavam

em " JAMIC ", assim, essa acabou tornando-se a denominação habitual, tanto

interna quanto externamente. Era a primeira imigração planejada do pós guerras,

cujos requisitos eram o pagamento à vista do terreno, ou então capacidade

13

financeira para pagar de 10 a 30 % desse valor de sinal, mais a disponibilidade

de 500 mil ienes para garantir a subsistência e despesas. Em agosto de 1961,

porém, se dava o último ingresso de colonos; até então um pouco mais de 40

famílias tinham entrado em Várzea Alegre, quando se esperava 500 a 600

famílias. (AYUMI – A saga da colônia japonesa de Campo Grande, 2008 p.92).

Uma peculiaridade desta Colônia era a grande proporção de colonos

oriundos da província de Yamaguchi1, a colônia chegou a ganhar a alcunha de

"Vila Yamaguchi". As notícias sobre dificuldades, porém, chegaram aos ouvidos

do governo provincial de Yamaguchi provocando enorme repercussão. Quando

aqui chegavam, os imigrantes já encontravam um projeto montado e aprovado

pelos órgãos oficiais brasileiros encarregados da imigração e colonização: o INIC

(Instituto Nacional para Imigração e Colonização) até 1962; o IBRA (Instituto

Brasileiro de Reforma Agraria) até 1970, quando foi criado o INCRA (Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agraria). (VASCONCELOS, 2003).

Várias razões justificaram o interesse da JAMIC pela área em questão:

em primeiro lugar, sua localização, próxima a cidade de Campo Grande, que já

naquela época passava a ser o centro das decisões na região Sul de Mato

Grosso, sediando, inclusive, o órgão responsável pela colonização local; em

segundo, o preço pago pela área, que foi irrisório, tendo - se em vista o que a

empresa arrecadou com a venda após o loteamento; em terceiro, o fato de tratar-

se de uma aquisição feita de particulares, o que tornava o procedimento

burocrático menos complexo do que se tratasse de uma relação com o Estado;

por último, a circunstância de a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passar

exatamente dentro dos limites da fazenda. Dentro de uma área loteada ficou

reservado um espaço de 948 ha. para a futura vila Pedro Celestino e para

pequenas chácaras.

Na área reservada para urbanização foram construídos um escritório para

a empresa, um alojamento para os colonos, um prédio para o funcionamento da

escola, uma sala para ambulatório, um grupo gerador de força elétrica e um

1 Yamaguchi: província do Japão localizada na região de Chugoku, na ilha de Honshu. Com área de 6 110,45 km², possui 11 distritos e 56 municípios.

14

prédio para um centro social; as partes de terras consideradas fracas foram

remembradas para formar lotes maiores, com mais ou menos 300 ha.

Segundo a entrevista com a colona Makiko Kanezaki, que chegou aos 11

anos no Brasil, essa relata que seu pai era comerciante no Japão e como estava

em crise, decidiu vir para o Brasil, apostando tudo o que tinha. Assim como

outros pais de família que vieram, entre eles engenheiros, marceneiros

profissionais diversos e de várias classes. Durante o mês de viagem de navio,

lembra que vieram na área das bagagens, já que não estavam em condição de

pagar por mais, mesmo assim, isso não foi motivo de desanimo; relata que os

japoneses do navio se divertiam criando peças de teatro, fazendo gincanas,

cantando e dançando (fig. 02).

Fig.02 - Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do navio.

Fonte: Álbum da família Okishima, 1959.

Mal partiram do Japão e já estavam sentindo falta de sua terra, mesmo

assim, a viagem ao Brasil já era motivo de comemoração; desde então, tinham

espírito de manter suas raízes aonde quer que estivessem.

Makiko relembra que, ao chegarem, se abrigaram num galpão grande de

madeira construída pela JAMIC. Assim que ocorreu a divisão de lotes, os colonos

15

iniciaram o processo de construção de suas próprias casas (fig. 03), em um

processo no qual havia ajuda recíproca, uma casa cada de cada vez. No final do

dia de construção todos voltavam para o galpão provisório; a maioria das casas

eram feitas de madeira.

Após aproximadamente um ano, todas as casas ficaram prontas e, logo

no próximo, ano começou a vinda de outros colonos; ano pós ano chegavam

mais, sempre com o espírito de solidariedade entre todos.

Fig. 03 - Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de madeira.

Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60.

No período em que estavam em plantação, a prefeitura de Terenos

construiu a primeira escola da região, que alguns jovens imigrantes

frequentavam, com o auxílio da professora japonesa vinda de Aquidauana para

ensinar português; alguns estudavam de manhã e outros à noite, diz Makiko.

A escolha da área para onde foram destinados, foi feita pela própria

JAMIC, pois tomaram conhecimento do local quando chegaram a Várzea Alegre.

16

Fig. 04 - Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações.

Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60.

O plantio de arroz foi escolhido (fig. 04), por não precisar de muitos

recursos artificiais e cuidados; além de ser primeiramente produto de

subsistencia, o material e o auxilio de técnicos agrícolas eram fornecidos pela

JAMIC. Assim como nas construções das casas, a ajuda era coletiva, cada

terreno de cada vez, mulheres, homens e até crianças trabalhavam, dispunham

de tres tratores em que os colonos ajudavam com a gasolina e outros reparos.

Foram dois os motivos que contribuíram para a crise na agricultura da

Várzea Alegre nos primeiros anos de cultivo: a má qualidade do solo e a falta de

chuvas. Muitas famílias desistiram da tentativa inicial e foram embora para a

cidade de Campo Grande e para o interior de São Paulo, outros conseguiram

voltar para o Japão com o pouco de dinheiro que ainda restava.

A agricultura não gerava resultados e a saída seria encontrar uma nova

atividade; seguindo exemplo de outras colônias japonesas mais antigas

instaladas no Estado de São Paulo, os colonos de Várzea Alegre, aconselhados

17

pela JAMIC, começaram, a partir de 1963, a montar as primeiras granjas de

galinhas para a produção de ovos (fig. 05).

Fig. 05 - Primeiras granjas de galinhas construídas

Fonte: Album da família Okishima, década de 60.

Inicialmente, as 14 famílias que se instalaram no primeiro ano, 1959,

constituíram informalmente a Cooperativa Autônoma de Várzea Alegre, cujas

prioridades eram o controle e a administração do caminhão presenteado no

momento da instalação da Colônia, e promover a assistência mútua entre os

colonos. O caminhão foi um bem importantíssimo da comunidade, contribuindo

largamente para o transporte de materiais de construção e outros recursos. Uma

vez por semana, a chamada " linha regular" partia com famílias na carroceria

para Campo Grande, a fim de comprar artigos necessários ao dia a dia. Hoje

essa estrada esta asfaltada e o trajeto não leva uma hora, mas na época era um

caminho de terra vermelha que, depois de uma chuva, fazia o percurso durar

quase meio dia.

Decorridos mais dois anos, com o aumento do número de colonos,

manter o formato de cooperativa autônoma resultava em alguns entraves para a

realização de diversas atividades e nos contatos com as autoridades. Em 1º de

dezembro de 1962, na sede situada defronte à estação Pedro Celestino, se deu

a dissolução da cooperativa autônoma para dar lugar à CAMVA (Cooperativa

18

Agrícola Mista de Várzea Alegre), entidade legalmente registrada. A Cooperativa

realizaria vários tipos de atividades, com destaque para a avicultura, as primeiras

bases da criação de aves foram estabelecidas por conta do parecer da missão

de levantamento mencionado acima. Os cooperados construíram granjas em

grupos de mais ou menos cinco famílias cada, a fim de economizar custos. A

produção começou a ser escoada para Campo Grande a partir de 1962, e

continua até os dias de hoje.

Entre aproximadamente 1970 e 1990, a cooperativa fornecia cerca de

90% dos ovos consumidos nos dois Mato Grossos, o do norte e o do Sul. A partir

daí, aumentou significamente a produção de granjas individuais e pequenos

produtores, e hoje a fatia é de cerca de 60%.

Fig.06 - Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado

. Fonte: Album da familia Okishima, década de 70.

19

No início, a coleta dos ovos era feita diretamente das granjas,

manualmente com cestas, como se ve na fig. 06, sendo contadas uma a uma

para se ter o controle da produção; o trabalho era feito pelos próprios colonos

com o auxilio de empregados chamados pelos japoneses de “camaradas”. Os

ovos eram trazidos das granjas até a “casa de ovo”, basicamente um galpão,

que ficava próxima; ali o processo de seleção era feito por tamanhos, em seguida

colocados em bandeijas de 30 unidades, embaladas e transportada pelos

caminhões da Cooperativa para a central, sendo comercializadas. A presença

das crianças na foto se justifica,pois seus pais passavam grande parte do dia na

casa de ovo, permitindo a entrada delas,que às vezes até ajudavam.

Quanto à parte educacional, além da escola já citada nos primeiros dois

anos da Colônia, famílias se revezam para ensinar o idioma japonês, mas, à

medida que a administração agrícola passou a ocupar mais e mais tempo, a

iniciativa foi desaparecendo espontaneamente. Mais tarde, em 1987, alguns

jovens pais tomaram a iniciativa de começar a ensinar o japonês a seus filhos e

para os nisseis (brasileiros filhos de imigrantes japoneses). Trabalho esse que

continua, embora modesto, até os dias de hoje.

Por fim, embora tenha nascido de forma problemática, sob acusações de

escolha errada do local e venda de terras impróprias, essa Colônia se consolidou

e ganhou o reconhecimento das outras, graças ao esforço e à união dos colonos

que, sem condições para se transferir, dedicaram-se à avicultura,

empreendimento que podia ser realizado em família.

20

1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre

Quinze anos depois da instalação da Colônia, no mês de julho de 1974,

quando as condições já eram um pouco mais confortáveis, foi construído o

ansiado Kaikan (recinto comunitário), graças a subsídios da JAMIC e doações

locais. Até maio de 1979, os eventos sociais e comunitários da comunidade eram

realizados na sede da cooperativa; todavia, com o clima de maior estabilidade

na colônia surgiram condições propícias para serem desenvolvidas atividades

mais abrangentes, o que levou à fundação da ACENBVA (Associação Cultural

e Esportiva Nipo Brasileira de Várzea Alegre), que promoveria as atividades

culturais que propiciaram harmonia e união entre os associados,entre outras

funções.

Fig.07 – Inauguração do Kaikan

Fonte: Album da familia Kanezaki, década de 70.

Como em todo local comunitário uma organização foi necessária; assim

como em qualquer outra colônia, nessa surgiu uma divisão de grupos, e uma

delas era o Nihonjinkai (Sociedade da Colônia Japonesa) de Várzea Alegre,

defendendo o bem comum da sociedade japonesa, bem como estimular a

educação, a cultura e o lazer.

21

Outro grupo importantes é o Fujinkai (Associação de senhoras), que

busca a confraternização entre as associadas, defendendo os pontos postivos

da mulher japonesa, como a graciosidade, o recato e a suavidade, adequando-

se também aos bons costumes e moral do Brasil, sempre procurando absorver

novos conhecimentos, cutivando gostos finos, promovendo a educação para a

virtude e o cultivo da sensibilidade de seus filhos e netos, empenhando-se em

prepará - las para serem boas mães e boas esposas.

Sempre organizadas, fazem reuniões, são lideradas por uma delas

durante o ano, se unem para arrecadar dinheiro em eventos beneficentes que

são destinados a investimentos em prol do Fujinkai. São elas as responsáveis

pela culinária típica nas festas que ocorrem nos eventos e outras funções que a

mulher japonesa faz em sua tradição. As comidas preparadas são em geral o

Norimaki (shitake, gengibre, omelete, cenoura cozida e massa de peixe

envolvidos por arroz japones temperado com alga desidratada), o Harussamê

(macarrão japones de aspecto fino e transparente, temperado com vinagre de

arroz e servido gelado com pepino, kani kama e outros), Nishimê (cozido com

ingredientes variados, entre eles: queijo de soja frito, massa de peixe, caldo de

peixe, inhame, alga marinha, shitake, broto de bambu, batata entre outros) e o

Oniguiri (bolinho de arroz japones e alga marinha); esses são os mais comuns

em festas da colônia, além das comidas típicas, tambem tem o preparo do

churrasco, que vem sendo consumido desde a origem da colônia, pela região

estar cercada de áreas de pecuárias e também, o pastel que, mesmo não sendo

típico, integrou seu cardápio pela sua apreciação e praticidade.

22

Fig.08 - Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos eventos.

Fonte: Album da família Kanezaki, década de 70.

Por mais que a cultura brasileira já estivesse muito presente na vida dos

imigrantes, o nihonjinkai (associação dos japoneses) tem em maioria os isseis

(nascidos no Japão) que, com o passar dos anos, vão envelhecendo e, junto

deles, as experiências e os conhecimentos da cultura japonesa, que se não

colocadas em prática, facilmente serão esquecidas ou se tornarão

desconhecidas pelos descendentes nascidos no Brasil. Para que isso não

ocorra, é muito importante que os filhos e netos tenham frequentado a escola

japonesa, por exemplo, mesmo que poucas vezes por semana; assim,

aprendendo o idioma, poderão manter diálogo e troca de informações com os

isseis, já que na colônia é comum o convívio entre três gerações ou mais na

mesma casa. Essa convivência desperta o interesse, por exemplo, pelo modo

de preparo de receitas culinárias e pelas vestimentas em dias de festas

tradicionais. Isso já ajuda a manter viva a cultura que tanto os imigrantes

persistiram para que não fosse esquecida. Mantendo a renovação da cultura

através das novas gerações, hábitos como a disciplina, organização e a

persistência, que fizeram os japoneses superar vários obstáculos até os dias de

hoje, também poderão ser mantidas.

23

Canclini (2008) afirma que, embora exista um processo de

homogeneização globalizante que faz aflorar diferenças e integrações, esse

processo não anula a cultura local, ou regional; em outras palavras, seria como

dizer que “viver em uma cidade não implica dissolver-se na massa e no

anonimato” (CANCLINI, 2008, p. 286). Para esses imigrantes, acima de tudo, era

fundamental, como afirma Stuart Hall (2003), possuir uma identidade cultural,

estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando

ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta.

1.2 Principais atividades da AECNBVA

No recinto comunitário (kaikan) acontecem vários eventos tradicionais do

Japão, que até hoje os colonos mantem, para não se esquecerem da sua terra

de origem; eles estão sempre tentando repassar aos descendentes a cultura

para que seja relembrada nas futuras gerações.

Cada evento envolve todos os associados, desde a preparação dos

alimentos, em que os homens se encarregam do churrasco e as mulheres das

comidas típicas; outros limpam ao redor do local para que tudo fique pronto para

receber os visitantes, até o desfecho, em que todos se juntam na limpeza do

kaikan.

1.2.1 Shinnenkai

De acordo com o calendário da associação da Jamic, o ano começa com

o Shinnenkai, em que shinnen= ano e kai = reunião / festa; geralmente no inicio

de janeiro, é tradição realizar a cerimônia reunindo todos para as boas vindas do

ano novo; cada família leva uma porção de comida. A festa ocorre no kaikan e

se consome, em especial, o ozooni, uma sopa com legumes, algas, shitake e

môti2, trazendo muita sorte àqueles que tomarem, segundo a supertição.

Aproveitam a reunião para planejar o ano em relação à associação.

1.2.2 Nyuushokusai

2 Bolinho de arroz insípido feito com arroz específico após ser batido até obter consistência firme e lisa.

24

O Nyuushokusai é o aniversário da colonia que acontece em maio,

reunindo não só todos os associados mas, também, convidados especiais, como

as autoridades do município e pessoas de outras associações nipo brasileiras.

As atrações são livres, para qualquer um que quiser se apresentar, mas sempre

contando com as apresentações das senhoras do fujinkai, que se apresentam

com músicas típicas e tradicionais da terra de origem e da escola japonesa

(nihongo gakko), em que os alunos apresentam danças, coral ensaiados pelas

professoras (mães de alunos), e teatros representando estórias como por

exemplo do Ojizousan uma das imagens mais populares do budismo que são

esculturas, geralmente um monge sorridente de baixa estatura, vistas por todo o

território japonês, até em ruelas e vilas com pouquíssimo movimento.

No passado, como a viagem era muito perigosa, pois incluía a travessia

de matas muitos se perdiam e morriam diante do clima

severo, os moradores da região colocavam essas estátuas pedindo proteção aos

viajantes e também às crianças. As oferendas (geralmente o môti – bolinho de

arroz), que os moradores até hoje colocam, serviam de alimento emergencial

para os que passavam por lá, o conto folclórico japones fala sobre um casal de

idosos viviam distante da cidade e passariam o final de ano na miséria, sendo

assim a mulher fez potinhos para por carvão mandando o homem ir até a cidade

para vendê-los, não conseguindo dinheiro, decide trocar sua mercadoria por

chapéus de um outro vendedor, voltando para casa, ele encontra seis ojizousan

que estavam cobertos de neve e resolve cobri-los com os chapéus, como só

tinha cinco destes, cobriu o sexto com seu próprio lenço, chegando em casa

conta o ocorrido para a mulher e jantam apenas água fervida e conservas, logo

depois escutam barulhos na porta e ao sair para verificar se deparam com

comidas e fortunas deixadas pelas estátuas que estavam indo embora. As mães

destes alunos são as responsáveis pela coreografia, cenário e roupa, geralmente

com temática da cultura japonesa.

1.2.3 Undokai

O modelo do atual undokai foi criado no século XIX, no início da Era Meiji (1868-

1912), e embora atualmente a gincana poliesportiva seja essencialmente um

evento social e familiar, na sua origem, era uma atividade militar em que as

25

escolas tinham o dever de prepara alunos para o exército com outras atividades

físicas além dos esportes tradicionais praticados. Ocorre no mês de julho na

colônia para coincidir com as férias escolares das crianças, porem da maioria

dos undokais são realizadas no mês de maio no Brasil, por ser o mês dos

meninos no Japão; é uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no

campo de beisebol. O adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris, são carpas

gigantes de tecido colorido que “nadam” no céu hasteadas num grande mastro

de bambu, antes simbolizando o dia dos meninos pela comparação da carpa

pela força, persistência, bravura e sucesso e durante o pós guerra passou a ser

também o dia das crianças.

No início do evento os hinos do Brasil e do Japão são cantados, enquanto

o presidente da associação e o prefeito do municipio hasteiam as respectivas

bandeiras. As brincadeiras são diversas, recebem os melhores prêmios os três

primeiros lugares e o prêmio de consolação vai para o restante. Nos intervalos,

as famílias levam lanches à moda japonesa, tais como bolinhos de arroz, doces,

etc. Tomam-se em conjunto os lanches, elogiando-se reciprocamente as

habilidades no seu preparo, mesmo as comidas cotidianas eram bem recebidas

nessas ocasiões.

Fig.09 - Brincadeira da pescaria no Undokai de Jamic.

Fonte: Album da família Aizawa.

26

No undokai há diversas brincadeiras, entre elas a pescaria, realizada até

hoje, em que dada a largada os participantes correm até as respectivas varas

feitas de bambu, com um gancho pendurado, como mostrado na (Fig.09), e

correm até os peixes feitos de papelão pelos próprios colônos; o primeiro a

conseguir “pescar” pula a divisória e corre até a linha de chegada; a chegada só

é válida se o participante chegar com o peixe devidamente no gancho.

1.2.4 Bon Odori

É a celebração em homenagem aos mortos, na colonia, ocorre no mês de

agosto, num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares, o local do

evento é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin; no inicio

do evento ocorre a missa, com a presença de um missionário budista convidado,

todos ficam de frente a um altar (butsudan) onde é guardada todos os ícones e

acessorios budistas utilizados nas missas junto com oferendas a Buda como

bolinhos de arroz ansiando prosperidade, frutas por serem menos perecíveis,

velas, água além da queima do incenso criando uma atmosfera de pureza. A

maioria dos presentes são os idosos praticantes do budismo; logo depois,

acontece o jantar com comidas típicas, em especial, o ohagi3 que, pela tradição,

é uma oferenda comum levada para ancenstrais.

Mais tarde todos se reunem e dançam ao som de músicas tradicionais

alegres em maioria, manifestam o sentimento de gratidão a Deus pela boa

colheita ou por uma boa produtividade do ano. No centro, alguns com mais

habilidade ritmica tocam o taikô4, de forma aleatória, mas em harmonia com a

música. Em volta num grande circulo dançam pessoas de todas as idades com

movimentos que representam a letra da música.

3 Alimento doce feito de arroz específico coberto por doce de feijão azuki chamado “ankô”. 4 Instrumento de percussão, cuja superfície é confeccionada com pele de animal. É tocada com a mão ou com o uso de uma baqueta, muito usada em festas xintoístas e budistas.

27

Fig. 10 - Ensaio de dança para o Bon Odori

Fonte: Album da família Aizawa.

1.2.5 Bonenkai

É a tradicional confraternização de encerramento do ano que ocorre em

algum sábado de dezembro à noite, onde todos se reúnem, trazendo familiares

de fora da colonia e amigos. Um bingo é realizado após o jantar, com prêmios

diversos, muitos deles doados por amigos e familiares. Ao pé da letra significa

esquecer o ano que se foi; a festa é para se purificar o espírito.

1.3 A Casa de Estudante JAMIC

Os estudantes que concluiam o ensino fundamental e queriam melhores

condições de estudo e um local adequado para sua instalação, receberam

gratuitamente um terreno de 1.288 m²,a fim de continuarem os estudos na cidade

de Campo Grande. A casa do estudante foi assim construída, com assistência

financeira da JAMIC e doações dos colonos, sendo um conjunto de alojamentos

inaugurado em março de 1982, com 647,26m², e outro em fevereiro de 1989 com

28

234,38m2, tornando se um ponto de apoio na capital Campo Grande para a

educação dos descendentes de imigrantes, para prosseguirem os estudos no

ensino médio e no superior. Funcionando até os dias de hoje, e localizada

próximo à CAMVA de Campo Grande.

Fig. 11 - Placa exposta em frente a casa de estudante em Campo Grande - MS

Fonte:(https://mbasic.facebook.com/pensionato.jamic.5?_rdr.)

1.4 Associação Esportiva

Na área esportiva, o beisebol, inicialmente praticado com os atletas

calçando tabis (sapatilhas japonesas de tecidos), foi passado às gerações

seguintes, mantendo-se como o principal esporte da colonia. Outras

modalidades ativamente praticadas são o softbal, e o gateball. A comunidade

dispõe de uma quadra de beisebol, duas quadras de softbal, duas de tênis e três

de gateball.

O beisebol era muito praticado pelos imigrantes no Japão por ser um

esporte comum nas escolas; com o passar da estadia no Brasil sentiram falta de

lazer e do esporte; no começo, improvisaram materiais, já que não são fáceis de

encontar, e participavam em amistosos com times de cidades e estados vizinhos.

29

Fig. 12 - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre.

Fonte: Álbum da família Okishima

O time era composto, na maioria, de homens jovens que já tinham base

das regras do esporte aprendidas nas escolas no Japão; as mulheres presentes

na fig. 12 são amigas e parentes dos jogadores, dando força nas torcidas, em

jogos dentro e fora de Jamic; os treinos proporcionam a reunião e lazer a eles.

O gateball é um esporte que utiliza o taco e a bola e é praticado em terra

batida na colônia. As regras parecem simples, mas, por ser um jogo de equipe,

são bastante rigorosas. Em princípio, basta acertar a bola com um taco e passá-

la por três traves, cada uma com 22 centímetros de largura. Cada jogador ganha

um ponto pela passagem da bola na trave e dois quando acerta no pino central.

Por ser um jogo leve, com um desgaste físico moderado, gateball é indicado para

pessoas de qualquer idade e sexo, sendo que, na colônia, a maioria dos

jogadores são os idosos, que praticam durante a noite ou tarde.

O softbol é uma variação do beisebol, mas um pouco mais leve, devido à

bola ser menos dura e maior. Fora isso, segue basicamente as mesmas regras

do beisebol. O campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe;

é praticado tanto por homens como por mulheres e crianças. Hoje em dia na

colônia, um grupo misto de mulheres e homens se reúne todo domingo à tarde

30

para treinar amistosamente. Mas já houve tempos em que times de beisebol e

softbol eram formados por jovens e adultos, sempre conseguindo boas

colocações nos campeonatos interestaduais.

Algumas das influências, como os esportes citados acima, foram

consequência do extraordinário crescimento econômico que o Japão passou a

mostrar no pós guerra, em que as empresas japonesas apresentavam um

grande aumento, tanto de produção como de desenvolvimento tecnológico; e

isso era impulsionado por uma sociedade cada vez mais direcionada para o

consumo. A população era cada vez mais exposta, ao ideal de vida da família de

classe média norte-americana da época como modelo. A base material deste

modelo estava na aquisição da casa própria, com um carro na garagem e uma

televisão na sala de estar. (YOSHIMI, 2000).

Como explica Canclini (2003), o processo de globalização afeta

diretamente as culturas locais trazendo a hibridização; em outros termos,

significa que as novas relações sociais e econômicas impostas aos sujeitos na

pós-modernidade trazem, por um lado, como uma de suas consequências, os

processos de homogeneização cultural e, por outro, relações interculturais. O

crítico argumenta ainda que essa hibridização cultural leva a outros dois

processos inerentes ao momento no qual vivemos: a desterritorialização e

reterritorialização. Tais processos correspondem, respectivamente, à “perda da

relação ‘natural’ da cultura com os territórios geográficos e sociais. (CANCLINI,

2008, p. 309).

O fenômeno da globalização contribui para o deslocamento das

identidades culturais desintegrando-as, homogeneizando-as e,

consequentemente, enfraquecendo-as.

O confronto com uma verdadeira gama de identidades culturais é traço

marcante da contemporaneidade. Ela, inegavelmente, tem um efeito pluralizante

sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas

posições de identificação, tornando as identidades menos fixas e unificadas.

31

2 A FOTOGRAFIA ENTRE DOCUMENTO E ARTE

Quase dois séculos depois da invenção da tecnologia fotográfica, na década

de 1830, a fotografia ganha destaque como forma de arte contemporânea. No

século XXI, o mundo da arte acolheu plenamente a fotografia como suporte

legítimo, em pé de igualdade com a pintura e a escultura.

Usamos a comunicação baseada unicamente em imagens em nossas

interações cotidianas, nas redes sociais e nas plataformas de compartilhamento

de fotos. Essas novas facetas da produção de imagens não afetam somente as

linguagens visuais e as formas de disseminação da fotografia como arte

contemporânea, também nos impelem a definir de modo mais especifico, diante

da nova onipresença da fotografia na vida cotidiana, quais práticas fotográficas

devem ser consideradas artísticas. (COTTON, 2013).

Algumas fotos têm um estilo evidentemente informal e amador, os fotógrafos

contemporâneos agregam esse estilo expressivo, como sua construção de

sequências dinâmicas e seu foco em momentos inesperados da vida cotidiana.

As origens dessa abordagem estão na arte conceitual de meados dos anos

60 e 70, quando a fotografia se tornou um veículo central na disseminação e na

comunicação de maior amplitude das apresentações artísticas, assim como de

outros trabalhos de arte temporários. No âmbito da prática da arte conceitual, as

motivações e os estilos dessa fotografia foram nitidamente diferentes de modos

já consagrados pela refinada fotografia de arte daquela época. Em vez de exaltar

a atividade fotográfica virtuosística ou de distinguir alguns profissionais

relevantes com o rótulo de “mestres” da fotografia, a arte conceitual minimizou a

importância da autoria e da competência prática, aproveitando a capacidade

inabalável e cotidiana da fotografia de retratar as coisas: adotou um visual

peculiarmente “não artístico”, “inexperiente” e “anônimo” para enfatizar que a

importância artística residia no ato retratado pela fotografia. (COTTON, 2013).

A ideia é usar todos os recursos de uma forma diferente do habitual; a

fotografia artística é a arte de fotografar de maneira não convencional, em que

não existe uma preocupação única de retratar a realidade. Vai além disso, o

fotógrafo registra o tema de uma forma que transcende o ordinário, coloca a sua

emoção, sua expressão e a sua perspectiva do mundo na imagem que produz.

32

2.1 Arte e Documentário

Podem parecer termos conflitantes, mas o fim da década de 1970 viu

mudanças radicais na percepção e no consumo da fotografia. Combinadas com

a nova forma de pensar a linguagem visual, essas mudanças desafiaram as

distinções entre as modalidades da prática fotográfica. Mudanças em filmes e

câmeras – de 35mm para o formato médio e grande – e o uso de cor introduziram

meios alternativos de ver o mundo. Os fotógrafos documentais adotaram

métodos de trabalho da fotografia artística, e artistas contemporâneos passaram

a explorar modalidades documentais. (HACKING, 2012).

Entende-se a fotografia documental como aquela desenvolvida a partir de

um projeto previamente elaborado por um autor que possui conhecimento e

envolvimento com o tema abordado, cujas fotografias são devidamente

organizadas e apresentadas por meio de uma narrativa que descreve, num

determinado tempo e espaço, as ações e seus personagens.

Além de difusora de informações, é também provedora de prazer estético

e formadora de opinião. A fotografia é composta de estilos e técnicas expressivas

e elaboradas pelo realismo, com a intenção de ter semelhança com o natural e

registrar a percepção do mundo e de acontecimentos diversos pelo fotógrafo em

diferentes momentos. A preocupação em ser fiel ao visível deixou de ser

prioridade, e os fotógrafos começaram a transportar para suas imagens as

elaborações de sua própria personalidade.

No processo de intermediação entre o imaginário e a fotografia os

fotógrafos utilizam a criatividade para colocar em prática novas formas de

representação. O desfoque, o borrado, a sobreposição de imagens, ou seja,

recursos técnicos que não eram muito utilizados passaram a fazer parte da

linguagem da fotografia contemporânea. (ROUILLÉ, 2009).

Também houve a tentativa de explorar o caráter expressivo das

fotografias, aqui consideradas como imagens, buscando uma possível forma de

pensar as fotografias. Está sendo formada uma nova cultura de apreciação

delas, com foco em sua plasticidade, conteúdo estilístico e no caráter expressivo

que lhe pode ser conferido. No entanto, a novidade tecnológica, tão comum entre

os fotógrafos, não é necessariamente sinônimo de inovação estética, pois esta

depende muito mais do imaginário do artista. (ROUILLÉ, 2009).

33

Uma das melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é

através de suas imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas,

praças, monumentos preservados, mas também os seus costumes, festas,

tradições, língua, roupas, gestos e olhares que nos dizem sem palavras como

viveram e o que vivem, suas esperanças e medos, o que eram em seu passado,

o que eles esperavam do futuro.

Segundo a autora Annateresa Fabris (2004), o retrato fotográfico contribui

para a afirmação moderna do indivíduo, na medida em que participa da

configuração de sua identidade como identidade social. Todo retrato é

simultaneamente um ato social e um ato de sociabilidade. Não se pode esquecer

que à imagem fotográfica é conferido um papel moral, que transforma o retrato

no exemplo visível de virtudes e comportamentos a serem partilhados pela

sociedade.

Do ponto de vista ético, as portas encontram-se abertas para a construção e

montagem das cenas que permeiam o imaginário dos fotógrafos ao produzirem

suas imagens. O resultado é uma nova maneira de abordar e apresentar os

temas, uma nova visualidade que, sem perder o espírito crítico, “propõe uma

visão e um julgamento” (COTTON, 2013).

Ao contrário das tradicionais coberturas fotojornalísticas nas quais se

busca o impacto como elemento fundamental, o mundo social será configurado

de modo diferente, tanto na forma quanto no conteúdo, por profissionais que

preferem registrar “a realidade” de modo indireto, inteligente e poético.

(COTTON, 2013).

A fotografia documental pode – e continua – servir de testemunha dos

acontecimentos e das condições de vida do homem no mundo. Os textos de

apoio e as legendas das imagens são muito importantes, pois não apenas

transmitem informações sobre as pessoas e suas histórias pessoais (quem são,

onde e como vivem etc.), como também inserem suas falas, reforçando o papel

do fotógrafo como seu mediador.

(...) a fotografia é um duplo testemunho: por aquilo que ela nos mostra da cena passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca de seu autor (...) é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro

34

lado, ela representará sempre a criação de um testemunho (KOSSOY, 1999, p. 33)

Diante do exposto, confirmam-se as diversas possibilidades de criação na

fotografia documental contemporânea notam-se assim diversas mudanças,

como a produção de fotografias coloridas e mais descoladas de seus referentes,

o uso de narrativas não lineares, o dialogismo (fotógrafo/fotografado) e a

montagem das cenas, enfim, uma busca maior pelo prazer estético, sem

esquecer a importância do conteúdo informativo daquilo que poderia ser

chamado de “novo documento”. (COTTON, 2013).

2.1.2 Paul Graham (1956)

Na década de 1980, o fotógrafo britânico Paul Graham produziu trabalhos

inventivos que exemplificam a fusão entre arte e documentário que floresceu

nesse período. Seus trabalhos influíram no ressurgimento da fotografia

documental e no interesse pelas culturas da fotografia no Reino Unido e na

Europa. Graham estava trabalhando com fotos coloridas, que grande parte dos

fotógrafos da época rejeitava como agressivas, pouco confiáveis e sem

subjetividade. Mas ele utilizou a cor para produzir fotos poderosas que funcionam

esteticamente e como documentário social. (HACKING, 2012).

35

Fig. 13 - Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul Graham

Fonte: (http://www.theguardian.com/artanddesign/2009/mar/02/paul-graham-shimmer-possibility)

Graham combina paisagens e retratos para criar uma visão melancólica

de um país à beira da mudança social divisora resultante do período de Margaret

Thatcher como primeira-ministra. Na foto (fig. 13), a paleta é atenuada e

pictórica, uma paisagem desolada se torna sublime pelas gradações sutis de tom

e cor. (HACKING, 2012).

2.1.3 Martin Parr (1952)

O uso das cores foi o verdadeiro divisor de águas na fotografia

documental; em 1982 o fotógrafo inglês Martin Parr começou a fotografar em

cores e com uma câmera de formato médio. Seus trabalhos causaram um abalo

sísmico nas percepções do documentário, seu uso de cores foi controverso por

ser exclusividade dos fotógrafos editoriais e de moda.

36

Fig.14 - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr.

Fonte:(http://marcelocaballerofotografia.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html)

Enquanto a cor de Graham é sutil, a de Parr queima sob o flash forte e

superexposição, recriando o calor e a energia de um dia de passeio inglês ao

sol. Subitamente, apesar de controvérsia por usar assim a fotografia colorida, o

preto e branco pareceu ultrapassado. (HACKING, 2012).

2.1.4 Walter Firmo (Rio de Janeiro, RJ, 1937)

Fotógrafo, jornalista e professor. Autodidata, inicia sua carreira como

repórter fotográfico no jornal Última Hora, no Rio de Janeiro, em 1957.

Conhecido por suas fotos coloridas e por retratar importantes cantores da música

popular brasileira, inicia pesquisas sobre festas populares e folclore nacional.

O tema principal das fotos de Walter Firmo é a figura humana. Revela

particular interesse pelos costumes e festas populares brasileiras, realizando

ampla documentação fotográfica, na qual se destaca aquela sobre o carnaval do

Rio de Janeiro. Produz imagens marcantes como de integrantes de escolas de

samba viajando em um trem de subúrbio, até o local dos desfiles, salientando o

37

contraste entre a alegria da festa e o duro cotidiano da população menos

favorecida.

Fig. 15 - Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo.

Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseactio n=artistas_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555)

Na série Festa do Maracatu-Rural, 1997 (fig. 15), retrata a população em

trajes típicos, em meio a paisagens de grande luminosidade. É o fotógrafo que

se destaca pela exploração sensível da cor e da luz, mantendo diálogo com a

pintura. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).

38

Fig. 16 - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo.

Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555)

Nessas imagens, Walter Firmo nos dá a possibilidade de visualizar as

festas populares a partir de ângulos não convencionais do tema, reinventando a

imagem que todos têm sobre tais festas e culturas, sempre atento a cada

oportunidade de captura da foto.

Firmo é o nosso poeta da câmera. A sua intimidade com o aparelho é tão intensa e a sua forma de olhar o mundo tão absolutamente fotográfica, que ele consegue passar com a maior naturalidade do mais rigoroso abstracionismo construtivo ao mais doce lirismo impressionista - e sem deixar de ser fiel ao seu estilo inconfundível. (MACHADO).

Retratou a essência do povo, fotografando a riqueza do folclore e a

mistura de etnias em nosso país sendo marcados pelas cores saturadas e pelo

contaste encontradas em suas obras abordando festas populares, o subúrbio

entre outros.

2.1.5 João Urban (Curitiba PR, 1943)

É um fotógrafo publicitário que se dedica também a projetos documentais.

Nesses trabalhos, ele frequentemente enfoca aspectos sociais e culturais do

Estado onde mora, o Paraná. Seus ensaios mais conhecidos registram

39

camponeses diaristas, os chamados boias-frias; imigrantes poloneses e seus

descendentes que vivem nos municípios de Tomás Coelho Murici e Cruz

Machado; e a estrada que vai de Viamão, Rio Grande do Sul, a Sorocaba, São

Paulo, conhecida como Caminho das Tropas. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).

Os conjuntos são formados, sobretudo, de retratos posados - em preto-e-

branco ou coloridos - feitos com luz natural, de maneira direta e frontal. Desde

então, a fotografia documental é considerada como um campo de atuação

privilegiado no contexto do fotojornalismo, em que o operador da câmara alia

seu ponto de vista à denúncia de injustiças sociais e à divulgação de realidades

pouco conhecidas. Nesse tipo de produção, as qualidades estéticas são tão

importantes quanto o conteúdo e, por isso, os resultados muitas vezes são vistos

como artísticos.

No ensaio sobre as colônias polonesas (fig.17), descrever a cultura

material local é tão importante quanto retratar as pessoas. Elas são

apresentadas no interior ou diante de suas casas, em ambientes modestos, mas

cuidados com asseio. Os colonos são mostrados em sua integridade, de corpo

inteiro, em seus afazeres domésticos ou mirando a câmara com segurança. Mas

sua intimidade não se revela pela maneira como eles se colocam à disposição

da câmara, e sim por meio dos objetos pessoais. As fotos descrevem com

detalhes a decoração dos cômodos: paredes de coloração esmaecida, repletas

de imagens religiosas e fotos de família, flores de plástico, almofadas e móveis

com estampas variadas, toalhas e toda espécie de utensílios. Além do cuidado

com a clareza da composição, as qualidades formais das imagens provêm, em

parte, de uma estética vernacular. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).

40

Fig. 17 - Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban.

Fonte: (http://www.colecaopirellimasp.art.br/autores/47/obra/149)

Quando uma produção como a de Urban é exibida no circuito das artes

plásticas - em museus, galerias e catálogos de arte, uma das principais

características da arte moderna nacional da primeira metade do século XX é

atualizada: o empenho em chamar a atenção para questões sociais e para a

população do interior do país. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).

O uso de referências como Martin Parr e Paul Graham foram escolhidos

com intuito de melhor explicar o início e destaque do uso das cores em

fotografias documentais, enquanto a escolha dos fotógrafos brasileiros João

Urban e Walter Firmo se dá pela minha identificação com seus temas sobre

colônia de estrangeiros e festas típicas e tradicionais respectivamente, além do

uso da fotografia colorida em ambos os trabalhos, chegando mais próximos à

minha proposta dentre outros artistas fotógrafos pesquisados.

Acompanhamos durante o capítulo a fotografia documental o

fotojornalismo tradicional, começando a ser mais artística diversificando pontos

de vista e modalidades, mostradas nas obras dos fotógrafos artistas citados,

cada um apresentado uma forma própria de valorizar a cultura e costumes de

um povo, além do conteúdo e história que cada imagem traz.

41

3 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E ANÁLISE DAS OBRAS

Este capitulo será destinado à descrição prática da proposta desde a

escolha do tema até a finalização da série de fotografias.

3.1 Escolha do tema

Pela minha descendência japonesa e por fazer parte da colônia Jamic,

senti necessidade de dar destaque aos imigrantes que influenciaram de certa

forma com o desenvolvimento do estado de Mato Grosso do Sul; com 55 anos

de existência e muita das primeiras famílias ainda presentes, achei o momento

oportuno para aproveitar o que eles têm a contribuir com a pesquisa deste

trabalho.

Para isso a escolha da fotografia, apresentaria melhor este projeto, pela

possibilidade de captar com mais realidade o tema escolhido, especificamente a

fotografia documental já que, como comentado no capítulo anterior, “uma das

melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é através de suas

imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas, praças, monumentos

preservados, mas também os seus costumes, festas, tradições, língua, roupas,

gestos e olhares que nos dizem sem palavras como viveram e o que vivem, suas

esperanças e medos, o que eram em seu passado, o que eles esperavam do

futuro. “

3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas

O domínio de algumas técnicas é necessário para a possibilidade de

ousar, não existindo uma preocupação única de retratar a realidade.

As fotografias que compõem esta pesquisa teórica e prática, tiradas em

momentos e ambientes diversos, com uma câmera semi profissional, todas

coloridas, à qual se trata de um povo cheio de culturas e tradições, sendo

necessárias as cores para captar detalhes. Dentre as configurações utilizadas

estão basicamente a abertura de diafragma, o tempo de exposição e o ISO, que

vem do inglês: International Organization for Standardization significando em

42

português: Organização Internacional para Padronização; norma que se refere

à sensibilidade fotográfica também conhecida como sensibilidade ISO.

De acordo com cada situação busquei um equilíbrio entre elas, para obter

uma imagem nítida e com enquadramento adequado.

Para que as fotos não tivessem vestígio de movimento dos fotografados,

usei uma exposição rápida, consequentemente, a entrada de luz diminuiu,

escurecendo a foto. Para uma correção compensei no ISO pois quanto maior o

ISO, mais sensível está o sensor; e mais luz é absorvida. Portanto, escolhi um

alto valor de ISO para algumas fotos, tendo cuidado para não granular a imagem,

já que a qualidade e a nitidez tendem a diminuir ao aumentar a sensibilidade

ISO. A abertura do diafragma também foi utilizada, pois controla a quantidade de

luz na câmera, ora usando maiores aberturas para clarear a imagem, ora usando

menores aberturas para escurecer.

Fig.18 - Gráficos com valores padrão das configurações básicas da câmera.

Fonte: (http://marioamaya.com.br/blog/2010/06/01/os-quatro-numeros-magicos/)

As progressões de valores mostradas no gráfico são geométricas, ou seja,

cada etapa é proporcional à anterior. As câmeras também podem trabalhar com

valores intermediários “quebrados”.

43

3.3 Processos de Produção

Por meio do uso de configurações da câmera busquei o resultado mais

próximo do que queria para não necessitar de muitos ajustes nas imagens

originais. Foi utilizada uma câmera do tipo DSLR singla em inglês para digital

single lens reflex, que traduzida seria: "câmera digital de reflexo por uma lente"

o que possibilitou o uso no modo manual podendo configurar de acordo com

cada situação conseguindo deixar da forma desejada e esperada.

Ao passar os registros fotográficos para o computador, foram feitos

pequenos tratamentos em algumas imagens com as ferramentas de saturação

e exposição encontradas no software Adobe Photoshop.

3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos

Após estudos feitos para compreender melhor o estilo fotográfico

escolhido e a história da colônia a ser documentada apresento uma série de 12

imagens como resultado do trabalho, além do processo de produção que

sintetiza o modo como foram ajustadas as fotografias e a seleção delas dentre

as várias capturadas em cada situação e momentos, sendo expostas neste

capítulo duas fotos testes com dimensão menor e a selecionada em tamanho

maior, sendo a foto escolhida aquela melhor resolvida e mais representativa de

acordo com cada tema, seguidas de legendas e análises.

44

Fig. 19 Fig. 20

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig.21 – Sem Título I

Foto: Suzy Kanezaki

O nítido equilíbrio da luz comparada ao teste (fig.19) e a abrangência de todos

os elementos principais como a mulher issei (nascida no Japão) e a televisão

transmitindo o canal fechado japonês diferente do teste (fig.20), foram os fatores

principais na escolha da imagem (fig.21). Com acesso a canais fechados, eles

têm a possibilidade de assistir a programas em canais japoneses, pois os idosos,

por exemplo, os que mais assistem, têm dificuldade na língua portuguesa, sendo

45

atualizados e informados em tempo real sobre seu país. A foto (fig.21) mostra a

colona assistindo a um programa de variedades no intervalo de suas atividades

cotidianas. Percebe-se que, apesar do quarto estar organizado, não se vê

preocupação com a decoração, se olharmos para os simples móveis, janela e

roupa, o que caracteriza a vida pacata na área rural em que vive.

Fig. 22 Fig. 23

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 24 – Fujinkai I

Foto: Suzy Kanezaki

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Durante os preparativos para o 55º aniversário da colônia, me deparei com

mulheres do fujinkai (associação de senhoras da associação) descascando raiz

de lótus, usada como ingrediente nos pratos típicos que estavam sendo

preparados para a festa.

Uma delas, vinda na primeira leva da imigração para a colônia, e a outra, tendo

vindo mais tarde, observa-se o respeito, a afinidade recíproca e a união nos

trabalhos para a colônia, independentemente de sua geração.

A imagem retrata de forma natural e poética, o que não ocorre nas figuras 22 e

23 pelos gestos e expressões que não se encontram em sintonia, um momento

“isolado” dos preparos de um evento na colônia, em que se nota as expressões

dos rostos das mulheres transmitindo a informalidade mostrando que esses

eventos proporcionam união e reencontro, onde se divertem em meio ao

cansaço e trabalho que têm a fazer.

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Fig. 25 Fig.26

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 27 – Fujinkai II

Foto: Suzy Kanezaki

A fotografia escolhida (fig.27) mostra a cooperação e a organização do trabalho

em equipe da associação que não é exibida na fig. 26, de senhoras da colônia

com o preparo das comidas típicas mostrada em minoria na fig.25 pelo fato de

exibir mais o pastel, que não é típica porém mostra a diversidade com pratos

tambem brasileiros para um evento que são conhecidas pela fartura e qualidade

dos alimentos, valorizando a dedicação dessas mulheres no processo que

antecipa um grande evento.

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Diferente da imagem anterior (fig.24), a foto (fig.27) mostra a produção dos

alimentos típicos, quase num processo industrial. Refletindo os pontos positivos

da mulher japonesa empenhando-se no melhor para sua família e convidados,

além da preocupação da pontualidade e da organização. A luminosidade da foto

influencia na sensação de energia e força das mulheres trabalhando.

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Fig. 28 Fig. 29

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 30 – Sem Título II

Foto: Suzy Kanezaki

De alguns anos pra cá, as mães voluntárias da escola japonesa começaram a

participar nas apresentações dos aniversários da colônia, sempre escolhendo

músicas bem humoradas e divertidas como na foto acima (fig.30).

A imagem (fig.30) mostra o momento que mais expressa a música dançada, com

a exposição de todos as participantes na apresentação, além do uso de

acessórios e roupas usados no típico festival tradicional japonês denominado

Matsuri que fazem referência à vários temas como alguma divindade, colheita

50

ou estações do ano. No Japão são inúmeras, realizadas nas ruas, variando datas

de região para região. Os acessórios como o leque e o mastro, que repelem

possiblidade de incêndio e desastres, apenas ilustram a letra da música (O -

Matsuri Mambo), que fala exatamente sobre isso, o termo “mambo”, do título da

música, faz referência ao ritmo latino por ser animado E o uso do Happi,

vestimenta típica usada informalmente nos festivais, pois é usada por

pescadores e lavradores por exemplo, muito representados nas músicas de

matsuri, com algum distintivo impresso nas costas, antes identificando de qual

família ou grupo pertencia. No caso da fig. 28 não trasmite a idéia que a dança

passa pela postura estática das mulheres e a fig. 29 não mostra os acessórios

utilizados importantes na composição da apresentação.

Mesmo se submetendo a situações em que não estão acostumadas, e nas quais

ficam, às vezes, desconfortáveis, a preocupação das mães em participar e servir

de exemplo para que seus filhos aprendam a cultura e a língua japonesa é mais

forte, pois sabem da importância de manter a cultura entre os descendentes,

cada uma usando o talento que pode oferecer. A cor vermelha ajuda a enfatizar

o calor do momento, a união e parceria estampada nos rostos das mães após o

fim de uma apresentação tão ensaiada nos finais de semana, ocasiões que

também geravam momentos de esforço e diversão.

51

Fig. 31 Fig. 32

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 33 – Sem Título III

Foto: Suzy Kanezaki

A fotografia (fig.33) mostra uma das cenas principais do teatro do conto folclórico

japonês Ojizousan que tem como personagens principais estátuas de pedra

muito conhecidas e tradicionais, com inúmeros significados, mas em geral

significando proteção contra males realizada no aniversário da colônia,

interpretado pelos alunos da escola de língua japonesa, mostrando todo o

cenário no palco produzida pelas mães (professoras voluntárias).

A imagem (fig.33) é uma apresentação dos alunos da escola de língua japonesa

no aniversário da colônia (nyushokusai). Os alunos são ensaiados pelas

professoras que dão atenção ao cenário e figurino, tentando deixar tudo mais

próximos do conto original, repassado por várias gerações. Nas figuras 31 e 32

52

apresenta cenas aleatórias do teatro não focando nos elementos principais do

conto como os personagens, cenário e acessórios.

Esse tipo de atividade proporciona aos alunos experiências para o futuro, apesar

da participação ser compulsória, aprendem de maneira divertida por estarem

entre colegas, além do fator social que a escola acaba oferecendo entre os filhos

e netos dos colonos.

Fig. 34 Fig. 35

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 36 – Undokai I

Foto: Suzy Kanezaki

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A imagem (fig.36) com um ângulo inferior, teve o intuito de melhor exibir a

decoração e o espaço do local, em que o momento mais importante do evento

como o tradicional aquecimento ao som do radio taissô, é retratado de forma

mais dinâmica em relação às outras fotos mais estáticas, já que se trata de uma

gincana esportiva. A fig. 35 não passa a idéia de alongamento e na fig. 34 não

apresenta de forma equilibrada e clara os elementos princiais como os adornos

tradicionais e os participantes.

Antes das atividades do Undokai, após o canto do hino japonês e brasileiro, se

faz o alongamento ao som do Radio Taissô, que ao pé da letra significa ginástica

transmitida pelo rádio, costume japonês desde a década de 20. Com uma série

de movimentos simples, é praticada em quase todos os lugares no Japão, como

em escolas e serviços, até os dias de hoje. Todos se reúnem em filas e os

voluntários ficam na frente para auxiliar na sequência dos movimentos.

O centro de interesse foi enquadrado harmoniosamente com os objetos que se

encontram em primeiro plano, dando à fotografia uma sensação de

profundidade, não deixando que a foto seja considerada apenas um instantâneo.

O clima visto na imagem como o céu limpo e azul e o contraste com a terra batida

fazem parecer terem sido feitos especialmente para o evento, com o azul

transmitindo harmonia e saúde; e o contrastante com o marrom enfatiza o

contato com a natureza.

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Fig. 37 Fig. 38

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 39 – Undokai II

Foto: Suzy Kanezaki

As crianças, público alvo do Undokai, ganham destaque nesta foto (fig.39), na

corrida de 50 metros. Inclui também quase todos os elementos que caracterizam

este evento, como as demarcações da pista de corrida utilizada na maioria das

brincadeiras, os adornos como o koinobori e bandeirolas e a arquibancada

improvisada, onde familiares e amigos torcem e descansam. Ambas as figuras

55

37 e 38 mostra o centro de interesse, na ocasião, as crianças de forma distante

não dando destaque à elas.

Na corrida de 50 metros os participantes são divididos por faixa etária; as

crianças entre 4 e 6 anos disputam a chegada com o incentivo do locutor do

evento. Ocorre no mês de julho, para coincidir com as férias escolares delas ; é

uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no campo de beisebol. O

adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris que são as carpas gigantes de

tecido colorido encontrados no plano de fundo da imagem (fig.57), que

simbolizava o dia dos meninos e durante o pós guerra, passou a simbolizar

também o dia das crianças.

56

Fig. 40 Fig. 41

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 42 – Bon Odori I

Foto: Suzy Kanezaki

A orientação horizontal na fig.42 da imagem teve influencia na escolha por

expressar paz, tranquilidade e harmonia presentes no instante da foto onde

durante a missa budista, diferente da fig.40, antes da janta e celebração com as

danças típicas do Bon Odori da colônia. Além da serenidade da baixa iluminação,

o modo em como os participantes se organizam, mostra respeito e disciplina. A

fig.41 mostra apenas o missinário budista não dando destaque para o momento

da missa com participaçaõ dos colonos.

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Fig. 43 – Bon Odori II

Foto: Suzy Kanezaki

A fig.43 dá melhor destaque às praticantes mais assíduas do budismo e ao

missionário, permitindo perceber os elementos e acessórios importantes

utilizados no ritual espiritual realizado.

A celebração do Bon Odori se inicia com uma missa em memória dos mortos,

conduzida por um missionário budista convidado. Os mais adeptos do budismo

ficam na primeira fileira, sendo a maioria idosos, e é um costume cultural os

homens ficarem de um lado e as mulheres no outro. Ocorre no mês de agosto,

num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares. O local do evento

é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin. No altar onde

o missionário realiza a missa se encontram as oferendas a Buda, velas, incensos

e o sino budista que serve como louvor e alegria aos espíritos. Praticantes do

budismo acompanham a missa com uma espécie de rosário Odyuzu, tem o

intuito de trasnformar os problemas e sofrimentos em combustivel para nos

impulsionar para a felicidade. O ato de junar as mãos representa a fusão da

realidade e sabedoria – a fusão da nossa vida com a lei mística, entre outros

significados, já que se trata de uma religião cheia de símbolos e ícones.

58

Fig. 44 Fig.45

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig. 46 – Bon Odori III

Foto: Suzy Kanezaki

As tradicionais musicas do Bon Odori são tocadas e dançadas pelos colonos em

círculo com movimentos simbólicos e simples, usando roupas típicas e

manifestando o sentimento de gratidão a Deus pela boa colheita ou por uma boa

produtividade do ano., ao centro, se toca o instrumento taikô, acompanhando o

ritmo, sendo esta imagem (fig.46) a que melhor representa o momento principal

e mais esperado da festa. A fig.44 apresenta o mesmo objetivo da fig. 46, porem

de forma mais vaga e desiquilibrada enquanto a fig.45 não traz a imagem da

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celebração em si apenas mostrando a participação da nova geração com trajes

típicos como o yukata que é um kimono informal de algodão estampado, sem

forro, sendo mais simples, fresco e leve que o kimono tradicional.

O momento da celebração, após a missa em respeito aos mortos, tambem

éconsiderada um Matsuri, já que e celebrado em homenagem aos

antepassados, com músicas tradicionais. O happi, a roupa que a maioria das

pessoas usa na imagem, é um quimono curto com mangas estreitas, usado

como jaqueta ou avental desde a Era Edo (1600-1867), tradicional em festivais

como este, no qual se imprimiam símbolos que indicavam a profissão de quem

o vestia entre outros distintivos.

60

Fig. 47 Fig. 48

Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki

Fig.49 – Softbol I

Foto: Suzy Kanezaki

O movimento dos atletas na imagem (fig.49) humaniza a foto, sendo este

escolhido, mostrando os jogadores do softbol em ação e em suas devidas

posições. Hoje o esporte se mantem como um dos principais praticado na

colônia. Nas figuras 47 e 48 mostram apenas fragmentos de imagens do esporte

podendo ser interpretadas de forma incompleta sobre o tema retratado.

O esporte é praticado tanto por homens como por mulheres. A foto mostra um

rebatedor em ação e o time adversário se movimentando para defender; não há

uniforme nos treinos, cada um veste o que for mais adequado para si, sendo que

os materiais, tanto pessoais quanto coletivos, como a luvas, tacos e bolas foram

61

adquiridos ao longo do tempo com recursos da associação e de doações. O

campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe e se reúnem

uma vez por semana para treinar amistosamente.

Fig. 50 – Softbol II

Foto: Suzy Kanezaki

Sendo frequentado hoje como hobby por maioria adultos aos domingos, a fig. 50

mostra o cuidado e prática do conhecimento básico importantes sobre o jogo

como suas demarcações e regras.

A demarcação do campo, a partir da área do rebatedor, mede aproximadamente

60 metros, formando um quadrado, com 2 bases em cada ponta deste. Alguns

têm o hábito de chegar mais cedo, adiantando o processo do treino e se

voluntariando a fazer as devidas marcações no campo de softbol, como o colono

da foto (fig.50). Os usos de linhas, como as mostradas nas diagonais da imagem,

funcionam como linhas de condução a fim de proporcionar um direcionamento

para o nosso olhar, que facilmente segue em direção ao assunto principal.

62

CONCLUSÃO

Mesmo já tendo conhecido e vivenciado eventos e alguns momentos

fotografados, o que possibilita a realização de rascunhos e breves

planejamentos das imagens, muitos imprevistos apareceram no período da

realização do trabalho, pelo fato de não serem fotos ensaiadas e em estúdio. E

foram encaradas como um desafio, muitas vezes saindo da minha zona de

conforto, superando expectativas em alguns resultados, sendo todas

satisfatórias.

O objetivo foi não deixar passar desapercebida a importância de uma

colônia não muito comentada em relação ao seu povo e a sua cultura, já que

cada vez mais se torna difícil a conscientização de seus descendentes para

mantê-los. O trabalho foi realizado em respeito e homenagem aos primeiros

imigrantes japoneses da região de Várzea Alegre que persistem em seus

costumes tradicionais.

Busquei nas fotografias minha maneira de ver a colônia Jamic, resultando

em imagens carregadas de significados transparentes de emoção, afetividade e

religiosidade, numa tentativa de diálogo entre a realidade e a imagem capturada,

através de conhecimentos e práticas obtidas a partir de aula e oficinas de

fotografia em semestres anteriores.

Por fim pude aprofundar os conhecimentos sobre a minha própria cultura

e sobre a história através de entrevistas e pesquisas impulsionadas por este

trabalho, além de me interessar ainda mais por este gênero e de me sentir

“afortunada”, de certa forma, por pertencer a uma colônia que ainda mantém

suas tradições, conseguindo compreender melhor essa importância.

63

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