talles

Upload: joaogabrielnevesdema

Post on 02-Nov-2015

213 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

uhauhaua

TRANSCRIPT

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    A MSICA COMO PROTESTO NOS MOVIMENTOS DE CONTRACULTURA DOS

    ANOS 1960

    Talles de Paula Silva1

    RESUMO: O objetivo do presente trabalho fazer um levantamento panormico, sem

    pretenso de ser exaustivo, dos movimentos de contracultura da dcada de 1960, com

    destaque especial para as canes de protesto. Pretende-se realizar uma abordagem

    comparativa da histria musical deste perodo em determinados pases da cultura ocidental.

    PALAVRAS-CHAVE: Contracultura. Anos 1960. Msica

    Abstract: The aim of this paper is to give an overview, not intended to be exhaustive, about

    the movements of counterculture in 1960s, especially songs of protest. We aim to make a comparative approach of the History of Music at this time in some western culture countries.

    KEYWORDS: Counterculture. 1960s. Music

    Introduo

    Para comear, faz-se mister usar pelo menos uma definio do que se entende por

    contracultura. Por isso, cito Carlos Alberto Messeder Pereira, no livro O que contracultura

    (1986). O autor esclarece que

    Aos poucos, os meios de comunicao de massa comeavam a veicular um termo novo,

    contracultura. Inicialmente o fenmeno caracterizado por seus sinais mais evidentes: cabelos

    compridos, roupas coloridas, misticismo, um tipo de msica, drogas e assim por diante. Um

    conjunto de hbitos que, aos olhos do conjunto das famlias da classe mdia, to ciosas de seu

    projeto de ascenso social, parecia no mnimo um despropsito, um absurdo mesmo.

    Rapidamente, no entanto, comea a ficar mais claro que aquele conjunto de manifestaes

    culturais novas no se limitava a essas marcas superficiais. Ao contrrio, significava tambm

    novas maneiras de pensar, modos diferentes de encarar e de se relacionar com o mundo e com

    as pessoas. Enfim, um outro universo de significados e valores, com suas regras prprias.

    (PEREIRA, 1986, p.8)

    Tais movimentos foram liderados, em sua maioria, por estudantes intelectualizados,

    advindos das classes mdia e alta. Eles haviam tido, portanto, acesso a uma boa formao

    1 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Letras: Estudos Literrios da Universidade Federal de

    Juiz de Fora.

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    cultural e, agora, estavam contestando o regime capitalista, e buscando um novo modo de

    vida. Importante tambm salientar que esta juventude ansiosa por mudanas buscava uma

    identidade prpria a seu tempo, distinta daquela velha moral pregada por seus pais. Ora, isso

    quer dizer que a ecloso destes movimentos tambm est ligada a um processo juvenil de se

    criar uma cultura independente e alcanar, assim, a modernizao dos costumes de acordo

    com novos padres.

    Houve quem dissesse que a revoluo havia chegado s salas de visita de algumas das mais pacatas famlias burguesas ou mesmo sentado mesa de jantar. Ao invs de encontrar seu

    inimigo de classe no operariado das fbricas afirmavam-no alguns , a burguesia o encontrava na figura de seus filhos cabeludos. (PEREIRA, 1986, p.25)

    Neste mesmo perodo, era notvel a influncia exercida pelas culturas elitistas

    estadunidense e europeia sobre os pases perifricos, dentre eles o Brasil. Tal influncia pode

    ser explicada tambm pelo papel assumido pela mdia global nestes locais, principalmente

    pelos grandes canais televisivos.

    O processo provavelmente comeou nos Estados Unidos, ainda nos fins da dcada de

    1950, levado a cabo por um grupo de jovens artistas que renovaram a histria da msica

    atravs do rock. Aos poucos, esta nova corrente musical vai tomando conta de outras esferas

    culturais ao redor do mundo, contaminando vrios estilos de artistas e contribuindo para uma

    renovao mais geral dos padres de gosto vigentes. Alguns anos depois este novo estilo

    despretensioso vai dar origem a outros mais engajados e comprometidos com verdadeiras

    revolues sociais, e no meramente com uma transformao de estilo de vida e padres de

    comportamento.

    O caso do Brasil e de outros pases da Amrica Latina se difere muito daqueles moldes

    norte-americanos e europeus. As mazelas sociais e econmicas aqui presentes revelavam a

    necessidade de um tipo de arte nova mais comprometida com transformaes estruturais do

    sistema, em favor de uma classe trabalhadora explorada e bitolada. Os jovens intelectuais que

    por aqui produziam suas canes estavam na verdade lutando, via arte, por uma revoluo de

    cunho social contra a hegemonia capitalista responsvel pela misria entre ns instalada.

    Sobre isso, afirma Chacon no livro O que rock:

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    As questes polticas e a arte, em especial o rock, esto quase sempre ligados a um

    questionamento da superestrutura do sistema, ou seja, nos nveis do poltico, do cultural e do

    comportamento do sistema que trazem, obviamente reflexo sobre a infraestrutura. (CHACON,

    1982, p.49)

    Nesse sentido, os festivais culturais de cano funcionavam como um local de debates

    e de divulgao das novas ideais sobre arte. Cada compositor tinha a chance de apresentar ao

    pblico suas obras, que refletiam, muitas das vezes, seus pensamentos crticos com relao

    estruturao do corpo social. Como artistas se revezavam entre palco e plateia, tais

    festividades tambm se constituam espaos para cmbios de informaes e influncias

    (polticas, ideolgicas e estticas) mtuas.

    A histria dos festivais no tem incio no Brasil, mas uma tradio importada dos

    pases centrais, desde a dcada de 1950 e antes, onde se davam as grandes discusses acerca

    da hegemonia capitalista e da sobrevivncia da moral burguesa retrgrada, atravs da msica.

    Eles foram responsveis, tambm, tanto no exterior como entre ns, pela divulgao de certos

    ideais de cunho poltico entre os meios no universitrios, uma vez que sendo televisionados

    atingiam outras camadas da populao. Tambm notrio o fato de os festivais terem

    contribudo para o intercmbio cultural entre os diversos pases, inclusive entre os perifricos,

    e para a assimilao das concepes artsticas hegemnicas, dado o grande poder que a mdia

    global j comeava a manifestar nessa poca.

    Percebidos, entretanto, pela tica capitalista como possibilidade de lucro, os produtos

    gerados por estes movimentos contraculturais serviriam de fonte de renda para o mercado.

    Roupas, acessrios, discos, livros e filmes seriam vendidos maciamente, transformados em

    mercadoria que agradava a um determinado pblico que as comprava. A partir da, observa-se

    a massificao, a padronizao e a comercializao dos prprios elementos que compunham

    os ideais revolucionrios. Chacon explica: O Rock uma mercadoria, est inscrito no modo

    de produo capitalista, setor ideolgico ou lazer, como preferirem. Ele envolve um setor de

    produo, de comercializao, propaganda, lucros, royalties, etc. (CHACON, 1982, p.20)

    A propsito do rock, pode-se afirmar que ele foi a expresso maior da rebeldia da

    juventude americana, que logo se alastrou para outras partes do globo, penetrando, inclusive,

    em solos brasileiros. A jovem guarda nada mais era do que a adaptao para o portugus da

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    cultura musical rock n roll. Como est inserido num contexto que vai de encontro aos

    valores estticos valorizados no momento, dizemos que este gnero musical pode ser

    considerado parte da contracultura tanto nos EUA como no Brasil e na Frana.

    fundamental salientar que os Estados Unidos so a grande fora econmica do ps-

    guerra, a partir de 1945. A Europa, palco da guerra, vive sria crise e isso se refletir tambm

    na dominao cultural de um lado do Atlntico para o outro. Na Frana, por exemplo

    comandada pelo general De Gaulle, houve uma rpida assimilao da cultura do rock atravs

    de verses e composies de cunho imitativo. Pouco depois observou-se tambm a introduo

    da cultura hippie.

    Toda essa conjuntura social explodiu com os movimentos de 1968 em vrios pases do

    mundo, dentre eles o Brasil , at culminar no maio francs. Foi a juventude hippie e roqueira

    a responsvel por grande parte das agitaes e manifestaes contra os governos repressores,

    a explorao dos trabalhadores e a injustia social.

    Estados Unidos

    Nos Estados Unidos, a causa maior das manifestaes antigovernistas era a

    participao do pas na guerra do Vietn. Para escapar dos alistamentos obrigatrios, muitos

    rapazes fugiam, se escondiam e verbalizavam sua crtica explorao dos pases pobres por

    intermdio da fora. No acreditavam na justificativa humanitria que se dava a polticas

    externas violentas como esta, e, intelectuais que eram, percebiam o jogo de interesses

    econmicos e mercadolgicos envolvidos numa guerra to injusta e sangrenta.

    As atitudes revolucionrias que deram origem aos movimentos de contracultura,

    corporificados no movimento beat, nos hippies, nos festivais de cano e no rock, nasceram,

    como j assinalado, no seio das elites. Jovens indignados com a poltica governista e com a

    estrutura da sociedade manifestariam seu desagrado e sua discordncia.

    O final dos anos 1950 e comeo dos 60, nos Estados Unidos,foram especialmente

    movimentados. A descrena no liberalismo visto, cada vez mais, como um mito, uma retrica que s protegia interesses , aliada ao crescente questionamento dos benefcios da sociedade

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    industrial, constitua o pano de fundo das primeiras reivindicaes em torno dos direitos civis.

    O acirramento das lutas raciais, a crescente corrida armamentista e o incio da Guerra do

    Vietn, por volta de 1963, vinham se acrescentar a esse clima de descrdito e

    descontentamento. (PEREIRA, 1986, p. 75)

    Bob Dylan foi uma das principais figuras da msica engajada nos Estados Unidos e o

    primeiro a ganhar notoriedade. Escreveu sobre temas do momento, como a crueldade da

    guerra do Vietn, colocando-se contra a interveno forada das tropas governistas na regio,

    o que contribuiu para que ele se tornasse um dolo para a juventude universitria dos anos

    1960. Anos depois, porm, parou de militar e no cantou mais versos de protesto.

    No cenrio de crescimento econmico experimentado pelos Estados Unidos com o fim

    da Segunda Guerra, auge da poltica imperialista e da exportao do American Way Of Life,

    surgiu o movimento beat para contestar a poltica econmica estabelecida bem como a cultura

    atrelada a ela, que se convertia em modelo de imitao para todo o mundo.

    Os beats se identificavam, pois, com os demais jovens intelectuais, em sua maioria

    universitrios, espalhados por vrias partes do mundo, na medida em que contestavam o

    sistema de dentro, ou seja, enquanto elite privilegiada, se posicionavam contra a ordem

    estabelecida, buscando novos valores e um novo estilo de vida. Podemos pensar que so eles

    os iniciadores da contracultura, apesar de o termo aparecer somente na dcada de 1960, num

    mbito literrio. Como produtores de Literatura, estes jovens se reuniam para se embriagar e

    se drogar enquanto se dedicavam sua arte, desejando insufl-la de coloquialismos e de temas

    cotidianos relativos aos seus ideais de vida, aproximando-a da realidade material, e afastando-

    a do grandioso e do moralmente aceitvel. Por fim, podemos considerar os beats os grandes

    precursores do movimento dos hippies e dos estudos culturais que aflorariam anos mais tarde.

    Os artistas americanos introduziam em suas composies no somente referncias a

    seus pensamentos revolucionrios mas tambm temas novos nunca antes tratados to

    abertamente na cano popular.

    In addition to the songs and bands that talked about protest in one way or another, there were

    also those who talked about freedom in general, pushing the rules of convention to their outer

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    limits. The Velvets Undergrounds lyrics include references to transgender, homosexuality and

    drug use in a way that had never been seen before.23

    interessante destacar, tambm, outros vetores musicais estadunidenses que

    contriburam para a popularizao desta arte. Elvis Presley foi o precursor do rock ainda nos

    anos 1950, e acabou se tornando o primeiro grande pop star internacional. Seu estilo

    influenciou muitos artistas ao redor do mundo e sua obra considerada por muitos uma das

    maiores revolues culturais experimentadas no sculo XX.

    A msica folk (folk music) dos anos 1960 tambm constituiu um elo importante da

    Histria da msica de protesto. Valendo-se de temas extrados das crenas e costumes locais,

    os artistas mesclavam anlises sobre a realidade e introduziam em seus versos debates sobre

    os direitos civis. Eram, pois, compositores da Esquerda Liberal que tratavam de questes

    fundamentais para o pas, principalmente aquela relacionada militncia negra.

    Inglaterra

    A cultura dos bares dos anos 1950, quando o maior dolo era Presley, trazia inovaes

    significativas para os padres de comportamento da poca. A moda se transformava, a

    juventude ganhava espao para reunies regadas a bebidas e cigarro. Talvez esse tenha sido o

    nascimento de uma cultura jovem, influenciada pelos anglo-americanos e internacionalizada

    pela mdia. Tais padres de comportamento passaram a ser exportados e criaram condies

    para a grande revoluo da dcada seguinte.

    A Inglaterra do fim dos anos 1950 vivenciou uma reforma educacional que permitiu

    aos jovens ter acesso aos bens simblicos e frequentar um curso de msica, por exemplo. A

    partir de ento, passaram a repensar a sociedade britnica e enxergaram nela graves

    2 Disponvel em http://www.pophistorydig.com/?tag=rolling-stones-1960s. Acessado em 17/01/2013

    3 Alm das msicas e bandas que faziam protesto de uma forma ou de outra, havia tambm aquelas que

    falavam sobre a liberdade em geral, extrapolando os limites das regras de conveno. As letras de Velvets

    undergrounds incluem referncias a homossexualidade, transgneros e drogas de uma forma que nunca tinha

    sido vista antes. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    problemas que seriam alvo de sua arte. O engajamento poltico desses jovens se manifestava

    principalmente nas letras de rock, espao primeiro para suas reivindicaes, que chamavam a

    ateno para a hipocrisia moral da poca e erguiam a voz por um mundo melhor.

    O rock por sua vez, to difundido pela cultura de vertente inglesa e norte-americana,

    constitui um ritmo musical prprio para expressar os anseios da juventude descontente com o

    sistema cultural dominante e simpatizante com as causas revolucionrias. Constitui, pois, um

    ritmo nascente nos Estados Unidos e que logo fora apreciado pelo operariado britnico como

    vlvula de escape s misrias decorrentes da explorao capitalista, num ritmo pesado,

    acelerado e danante.

    Apesar de terem sido considerados uma banda menos engajada que outras do

    momento como Rolling Stones, os Beatles tambm veicularam algumas canes de cunho

    poltico, chamando a ateno dos fs para os acontecimentos do momento.

    Though not overtly political, back in 1966 The Beatles criticised Britain's high taxes in

    "Taxman". In the late '60s John Lennon started taking a political stance with anti-war songs

    like "Revolution" and "Give Peace a Chance". And, of course, there was the famous

    Amsterdam bed-in protest. George Harrison organised benefit concerts for Bangladesh in

    1971.45

    Uma das maiores contribuies do Rolling Stones para a msica de protesto inglesa

    a cano Satisfaction. Sobre ela se diz:

    Satisfaction at the time was more of a general angst tune; a song that captured the frustrations bubbling up with the younger generation on a number of fronts, Vietnam and civil

    rights included. Conventional wisdom and social values were then being challenged all around

    4 Disponvel em http://www.newstatesman.com/blogs/cultural-capital/2010/03/greatest-political-songs.

    Acessado em 17/01/2013.

    5 Apesar de no serem propriamente polticos, em 1966, os Beatles criticaram os altos impostos da Gr-

    Bretanha em "Taxman". No final dos anos 60 John Lennon comeou a tomar uma posio poltica anti-guerra

    com canes como "Revolution" e "Give Peace a Chance". E, claro, havia o famoso protesto de

    Amsterd.George Harrison organizou swows beneficentes por Bangladesh em 1971. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    and Satisfaction chimed in with lyrics aimed at superficial advertising and uptight sexual mores.67

    A msica em questo representava os anseios de uma juventude ansiosa por viver num

    mundo melhor, e expressa sua insatisfao em relao a realidade social.

    Satisfaction became the pop/rock equivalent of what Dylan and other folk/protest musicians were offering to somewhat less mainstream audiences. Satisfaction was a hard-rock tune with a driving sound, but with lyrics that were also aimed at the status quo; a song that

    expressed a distinct dis-satisfaction with the way that things were.89

    Revolution (Beatles) e We Love You (Rolling Stones) so tambm conhecidas como

    canes que trazem mensagens de transformao da realidade e busca de um mundo melhor,

    chamando a juventude a repensar os valores estabelecidos na sociedade ocidental. O

    importante nas letras de Jagger sempre foi sua atualidade. claro que ele escreveu muita

    bobagem mas msicas como Street Fighting Man e Satisfaction so um libelo contra as

    guerras, a mdia, o sistema. Essa a grande sacada (LUCENA, 2001, p.35)

    Brasil

    At os primeiros anos da dcada de 1960, a bossa nova constitua o estilo mais

    apreciado pelos artistas e pelo pblico brasileiros. Porm, tal estilo devia muito a

    6 Disponvel em http://www.pophistorydig.com/?tag=rolling-stones-1960s Acessado em 18/01/2013.

    7 "Satisfaction" no momento era mais que uma msica de comoo geral, foi uma msica que capturou

    os anseios da gerao mais nova em uma srie de temas, direitos civis e Vietn inclusive. A sabedoria

    convencional e os valores sociais foram ento sendo desafiados e "Satisfaction" entrou com letras destinadas a

    criticar a publicidade superficial e a moral sexual.

    8 Disponvel em http://www.pophistorydig.com/?tag=rolling-stones-1960s Acessado em 18/01/2013

    9 "Satisfaction" tornou-se o equivalente de pop rock do que Dylan e outros msicos de protesto estavam

    oferecendo ao pblico um pouco menos mainstream. "Satisfaction" foi uma msica de hard-rock com um som de

    conduo, mas com letras que tambm foram destinadas a criticar o status quo, uma cano que expressa uma

    "insatisfao" com a maneira que as coisas eram.

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    contribuies advindas dos Estados Unidos, mescladas a elementos da cultura erudita. Depois

    da consolidao da ditadura militar em nosso pas, os msicos passaram a rejeitar as

    influncias estrangeiras, sobretudo norte-americanas, cones da expanso imperialista, visando

    construir um gosto nacional, calcado na realidade particular vivida nos trpicos. Ora, isso

    tambm representava o momento histrico em que o Brasil experimentava uma massificao

    da cultura, com a popularizao da televiso, e, sobretudo, dos grandes festivais.

    Caetano Veloso em seu livro Verdade tropical narra como se deram os acontecimentos

    polticos no Brasil da ditadura e como os artistas lidaram com isso transformando-os em

    cultura.

    Desse modo, tnhamos, por assim dizer, assumido o horror da ditadura como um gesto nosso,

    um gesto revelador do pas, que ns, agora tomados como agentes semiconscientes,

    deveramos transformar em suprema violncia regeneradora. Uma violncia desagregadora que

    no apenas encontrava no ambiente contracultural do rock n roll armas para se efetivar, mas tambm reconhecia nesse ambiente motivaes bsicas semelhantes. (VELOSO, 1998, p.51)

    Veloso ainda destaca no livro aqui abordado que o que aconteceu no Brasil foi muito

    semelhante ao que se passava em outros lugares. As discusses polticas se deram num meio

    estudantil, intelectualizado e ansioso por desenvolver uma cultura musical prpria em que

    pudesse fazer circular suas ideias acerca do mundo. E nesse sentido os festivais foram de vital

    importncia para dar espao troca de informaes e opinies, alm de via de acesso para

    outros setores da populao, atravs do televisionamento.

    As pretenses de uma arte poltica, esboadas em 63 pelos Centros Populares de Cultura da

    UNE. Difundiram-se por toda produo artstica convencional, e apesar da represso nas

    universidades e da censura na imprensa, o mundo dos espetculos viu-se sob a hegemonia da

    esquerda. Num ambiente estudantil altamente politizado, a msica popular funcionava como

    arena de decises, importantes para a cultura brasileira e para a prpria soberania nacional (...)

    Os festivais eram o ponto de interseco entre o mundo estudantil e a ampla massa de

    telespectadores. (VELOSO, 1998, p.177)

    No concernente a assimilao daquilo que era produzido nos pases centrais, Veloso

    afirma que o rock foi um elemento importante de identificao para as massas tambm no

    caso brasileiro, e no constitua simplesmente um bem simblico importado, desprovido de

    significao entre ns. Mas com o passar do tempo, a simples reproduo e adaptao que

    fazia, por exemplo, a Jovem Guarda no iria mais condizer com as necessidades artsticas

    nacionais. Houve, portanto, um processo de hibridao em que elementos distintos, da cultura

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    popular e da erudita, da internacional e da nacional, se sobrepuseram para dar vazo a um

    outro movimento cultural, mais especfico com a condio da brasilidade, to cara para ns

    desde o Romantismo.

    De fato, devia haver, entre os estmulos do movimento, uma reao, por assim dizer, natural,

    ao antigo alinhamento com a cultura francesa. E essa reao era a expresso de um impulso

    que vem se desenvolvendo com vagar e ansiedade no esprito dos brasileiros no sentido de

    desvelar e construir o seu prprio. Por outro lado, ela servia tambm a um desejo expresso

    pelos produtores eruditos (...) de aproximar-se da cultura de massas, criticando-se atravs dela.

    (VELOSO, 1998, p.112)

    Este movimento cultural tipicamente brasileiro aspirado pelos intelectuais veio a ser o

    Tropicalismo. Ele pode ser entendido como desdobramento das experincias artsticas

    anteriores, e como uma confluncia de vrios ritmos, recursos e temas, absorvidos tanto das

    tradies populares, rejeitadas pela intelectualidade da poca, tanto das influncias

    internacionais.

    O Tropicalismo, enquanto movimento, retoma alguns ideais de vanguarda ao propor a

    digesto de alguns traos da cultura estrangeira, sobretudo de herana colonialista europia e

    imperialista estadunidense, e sua mescla com traos especficos da identidade brasileira. E

    estes traos eram extrados de vrias esferas da cultura, tanto a erudita quanto a popular,

    visando ao surgimento de uma arte prpria, que corresponderia nossa histria de formao

    cultural. Vale destacar tambm a influncia do Concretismo enquanto arte potica dos anos

    imediatamente anteriores sobre a tropiclia, no que tange composio das canes visando

    ao trabalho plstico do texto e aos jogos lingusticos.

    Outra vertente musical praticada por aqui nos anos 1960 era a cano de protesto.

    Esta, em sentido restrito, sobreviveu, pois, at o advento do AI-5 que tornaram ilegais as

    manifestaes explcitas contra o sistema dominante, obrigando os artistas a escrever suas

    canes disfarando-lhes o veio satrico e transgressor. A tropiclia, a bossa nova e a jovem

    guarda seguiram caminhos distintos, sobrevivendo durante a dcada e valendo-se de idias e

    concepes artsticas prprias e particulares.

    As canes de protesto, o rock e a tropiclia aparecem, ento, associados como

    movimentos culturais que demonstram sua fora na negao e na afirmao. Negando o

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    sistema poltico-econmico e sociocultural vigente e afirmando uma nova arte, seja engajada

    nos temas, seja irreverente na forma, ou seja revolucionria na ideologia

    As diferenas fundamentais, no Brasil, entre cano de protesto e tropiclia residem no

    fato de que nesta um projeto claro e definido orienta uma produo contnua engajada, mas

    alegrica, metafrica e irnica. J na msica de protesto, os versos so mais claros e

    categricos, dando ar de mais politizados e comprometidos, ainda que seus representantes no

    hajam assumido nenhum compromisso artstico sustentado por um manifesto pr-

    determinado. Sobre tal diversidade musical, Dunn comenta:

    A contracultura no Brasil, tal como em outros lugares das Amricas ou da Europa, no foi um

    nico movimento coerente, mas um conjunto de atitudes, ideais, e prticas que surgiram com a

    esquerda e se posicionaram contra o regime conservador, mas que tambm articularam uma crtica das formas mais convencionais de ativismo poltico. A contracultura brasileira se

    posicionou contra o Estado ditatorial e os valores sociais dominantes promovidos por ele, mas

    tambm entrou em conflito com setores da esquerda tradicional, principalmente do Partido

    Comunista Brasileiro, que promovia valores sociais e culturais mais convencionais. (DUNN,

    2008, p.146)

    Amrica Latina

    Os movimentos de contracultura foram uma consequncia direta da sociedade

    opressora que impunha suas verdades a uma juventude cada vez mais desejosa de novidades e

    melhorias em todos os aspectos. Em pases onde se instalaram ditaduras militares como no

    caso da Amrica Latina, os jovens revoltosos passaram de filhos rebeldes a inimigos da ptria,

    subversivos e perigos, e foram no raro, torturados, presos e at assassinados em nome da

    manuteno da ordem e dos bons costumes.

    la dcada del 1960, que marc un hito en la forma cmo los pueblos comenzaron a pensarse a

    s mismos, an cuando en la mayora de los casos esta renovacin de conciencia eclosion

    inicialmente en el interior de las elites que conformaban los grupos sociales de izquierda.

    Posteriormente, los nuevos planteamientos sobre la tradicin, lo popular y la revalorizacin de

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    la identidad, seran transmitidos a las masas de diversas formas y tendran un impacto social

    diferenciado dependiendo de los casos. (VELASCO, 2007, p.144)10

    A partir da dcada de 1960 e principalmente com o advento dos anos 1970 observou-

    se grande cambio cultural entre o Brasil e os demais pases da Amrica do Sul e destes entre

    si. A ideia da latinidade adentrou no mundo das canes e dos debates ideolgicos, uma vez

    que as naes vizinhas tinham em comum conosco caractersticas poltico-econmicas e

    scio-culturais que permitiam a todos almejar transformaes estruturais semelhantes. Com o

    objetivo de diminuir a barreira do idioma e criar um sentido de irmandade e de cooperao

    mtua, vrios msicos passaram a cantar juntos canes bilngues ou fazer verses brasileiras

    de msica em castelhano e vice versa. Devido a fatores histricos compartilhados, essa

    integrao ultrapassou o terreno da criao formal e da mistura de sons e ritmos e alcanou os

    textos das canes, politizados e comprometidos com uma Amrica latina soberana e

    prspera, livre das sombras do colonialismo europeu e do imperialismo estadunidense. Essa

    cooperao foi ainda mais intensificada quando vrias das naes latinas se viram sob a gide

    de ditaduras militares, quando os artistas fugindo da represso e da perseguio comungavam

    de ideias comuns e apreciavam a produo musical um do outro.

    En este contexto, los movimientos contraculturales comenzaron a proliferar sobre la base de

    mltiples sistemas ideolgicos, logrando una admirable capacidad de organizacin y accin

    social, sobre todo en el caso europeo. Los sesenta estuvieron marcados por la crtica a las

    instituciones, al modo de produccin capitalista y, sobre todo, estuvieron signados por la

    reaccin colectiva frente a un sistema sociopoltico considerado represivo. (VELASCO, 2007,

    p.149)11

    Todos precisavam burlar os aparatos da censura e usaram recursos parecidos para

    passar nas entrelinhas suas mensagens chamando o povo conscientizao e luta. Isso

    10 A dcada de 1960, que foi um marco na forma como as pessoas comearam a pensar em si, embora

    na maioria dos casos essa renovao da conscincia aconteceu inicialmente dentro elites que formavam grupos

    sociais de esquerda. Posteriormente, as novas abordagens sobre a tradio, o popular e a revalorizao da

    identidade seriam transmitidos s massas de vrias formas e teriam um impacto social diferenciado, dependendo

    do caso. (traduo minha)

    11 Neste contexto, os movimentos de contracultura surgiram com base em vrios sistemas ideolgicos,

    alcanando uma capacidade admirvel de organizao e ao social, especialmente no caso europeu. Os anos

    sessenta foram marcados por crticas a instituies, ao modo de produo capitalista e, acima de tudo, foram

    marcados pela reao coletiva contra o sistema sociopoltico considerado repressivo. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    acabou levando a uma estetizao maior das canes, atravs do uso de recursos estilsticos,

    como metforas e ironias, o que permitiu, mais tarde, a ampliao do pblico consumidor ao

    atingir as elites letradas que viam com certo preconceito o envolvimento da msica com a

    cultura popular.

    O Festival de la Cancin de Protesta de 1967, organizado por Casa de las

    Amricas, em Varadero, Cuba foi um marco muito importante que instituiu as diretrizes que

    deveria seguir a cano de protesto nos pases assolados pela ditadura. Ressaltou-se a sua

    funo social e sua magnitude enquanto arma de combate e luta revolucionria.

    En Amrica Latina, Cuba acababa de estrenar su Revolucin en 1959 y se eriga como un

    estandarte de esperanza, libertad y lucha antiimperialista anhelada y admirada por los grupos

    de izquierda que proliferaban con rapidez en los pases latinoamericanos. (VELASCO, 2007, p.

    150)12

    Dentre as manifestaes culturais engajadas na Amrica Latina pode-se destacar

    Nuevo Cancioner argentino, Nuevo Canto uruguaio, La pea de los Parra chileno e

    Nueva Trova cubana, todas comprometidas politicamente com a mudana e o advento de

    uma sociedade mais justa e igualitria.

    Por su parte, la Nueva Cancin Latinoamericana nace en un momento histrico de conflictos y

    de necesidades polticas y sociales. Se erige como canal de reaccin y expresin en contra de la

    dictadura a favor de los derechos de los ciudadanos, en contra del imperialismo, sobre la base

    de la sabidura de un pueblo que es inspiracin y, a su vez, valuarte de la identidad que urge ser

    rescatada. (VELASCO, 2007, p.147)13

    Tambm era considerado fundamental que os artistas no perdessem de vista a

    Histria de dominao por que passaram seus pases, com o intuito de escrever seus versos

    chamando o povo a ter conscincia de seu passado e de seus heris, bem como das grandes

    transformaes logradas atravs de suas lutas. Com isso, pretendia-se inculcar a ideia de que a

    12 Na Amrica Latina, a Revoluo cubana aconteceu em 1959 e manteve-se como um farol de

    liberdade, esperana e luta anti-imperialista valorizado e admirado por grupos de esquerda que proliferavam

    rapidamente nos pases latino-americanos. (Traduo minha)

    13 Por sua parte, a Nova Cano latino-americana chega em um momento histrico de conflitos e

    necessidades polticas e sociais. Ergue-se como canal de expresso e reao contra a ditadura em favor dos

    direitos dos cidados contra o imperialismo, com base na sabedoria de um povo que inspirao e, por sua vez,

    baluarte de uma identidade que pede para ser resgatado. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    unio e o combate ativo poderiam ser capazes de mudar a situao hostil a que estavam todos

    submetidos.

    Los dos ejes fundamentales de la discusin fueron, por una parte, la relacin entre la msica y

    la revolucin y, por la otra, el problema del colonialismo y la penetracin cultural. En lneas

    generales los planteamientos de cada uno de los exponentes eran coincidentes. Todos estaban

    de acuerdo en que la msica revolucionaria slo poda provenir de hombres revolucionarios,

    identificados con el pueblo y vinculados con la realidad social que los envolva. El cantor y

    compositor deba devolverle al pueblo su legtima identidad cultural, definida por lo autctono

    latinoamericano y enmarcada en la sensibilidad potica propia de cada pas. (VELASCO, 2007,

    p.145)14

    Espanha

    Na Espanha, onde a ditadura franquista controlava todos os meios de comunicao a

    mos de ferro, foi difcil ver o florescimento da cano de protesto. O rdio, principal recurso

    de entretenimento disponvel para a populao, veiculava um tipo de msica de cunho

    religioso, cujo objetivo maior era a manuteno da moral e dos bons costumes. A Igreja,

    inclusive, constitua um dos maiores pilares que sustentavam o governo de Franco no pas.

    Contudo, sabemos que os artistas sempre encontram uma maneira de driblar a censura

    e transmitir mensagens ocultas ao povo valendo-se dos recursos de que dispem. Na Espanha,

    canes que falavam de liberdade e justia constituam uma das alternativas disponveis para

    chamar a ateno para a represso vivida. Algumas das letras ainda se valiam de imagens

    religiosas, como a crucificao e a ressurreio, usando-as para falar da necessidade de

    mudana de horizontes, e assim pregoar ataques velados Igreja e ao Estado.

    14 Os dois pontos principais de discusso foram, em primeiro lugar, a relao entre a msica e revoluo

    e, por outro lado, o problema do colonialismo e da penetrao cultural. Em expoentes gerais as abordagens

    foram coincidentes. Todos concordaram que a msica revolucionria s poderia vir de revolucionrios,

    identificados com as pessoas e a realidade social que os cercavam. O cantor e compositor estava voltando para as

    pessoas a sua legtima identidade cultural definida pelo nativo da Amrica Latina e enquadrado na sensibilidade

    potica de cada pas. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    Fue un ejemplo de que en esto de la cancin de autor no importaba la procedencia. Chicho se

    afilia al Partido Comunista, y comienza a grabar una serie de canciones conocidas como

    Canciones de la Resistencia Espaola. Su primer gran xito, clandestino, fue la denuncia cantada del fusilamiento de Julin Grimau, lder comunista que fue arrestado por las

    autoridades franquistas estando en Espaa clandestinamente y condenado a muerte por

    sublevacin militar. "Julin Grimau, hermano" se perfila como el modelo primero de la

    cancin protesta.1516

    No caso do artista supracitado e de alguns outros que tambm lograram divulgar

    canes de cunho poltico-social, seus discos eram postos em circulao clandestinamente,

    correndo o risco de serem pegos pelas foras governistas. Grande relevncia tm eles para a

    histria do pas, pois foram responsveis por levar mensagens de rebeldia e desejo de

    mudanas para dentro de alguns lares espanhis.

    Frana

    Na Frana houve logo a assimilao do rock de origem anglo-americana tanto pelo

    pblico quanto pelos artistas. Estes faziam verses em lngua francesa dos hits tocados nos

    Estados Unidos e foram responsveis pela introduo da cultura roqueira no pas, seduzindo a

    juventude estudantil que via com simpatia, no somente a msica, mas tambm o estilo de

    vida preconizado pelo movimento do rock n roll. Isso serviu tambm para uma

    popularizao do mercado fonogrfico no pas e para a explorao da msica enquanto

    mercadoria. Todavia, percebe-se com o passar do tempo o florescimento de uma cultura

    musical de razes nacionais, rejeitando a cultura estrangeira do rock, ou pelo menos diluindo-a

    dentro de uma tradio artstica tipicamente francesa.

    Sur le plan musical, lexistence mme de ce mouvement est une preuve de plus, hlas, que la France na jamais t un pays de Rock. Notre vraie musique contestataire est trouver dans les

    15 Disponvel em http://pintegrado2.blogspot.com.br/2009/12/la-cancion-protesta-en-espana.html.

    Acessado em 19/01/2013.

    16 Ele foi um exemplo de que na cano do autor, no importa a fonte. Chicho filiado ao Partido

    Comunista, e comeou a gravar uma srie de msicas chamadas "Canes da resistncia espanhola". Seu

    primeiro grande sucesso, clandestino, foi a denncia cantada do fusilamento de Julian Grimau, lder comunista

    que foi preso pelas autoridades franquistas na Espanha e condenado morte por revolta militar. "Julian Grimau,

    irmo" est a emergir como o primeiro modelo da cano de protesto. Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    racines mmes de la musique franaise parmi les grands Ferra,Brel, Ferrer ou

    encore Gainsbourg de manire plus nuance.1718

    Neste mesmo perodo a Frana comeou a ver surgirem artistas colocando em suas

    canes temticas que seriam, alguns anos mais tarde, smbolos de uma cultura engajada, e

    que passaram a escrever num estilo prprio, expressando os anseios particulares da juventude

    francesa.

    En vrit ce fut la chanson intellectuelle qui connut un grand succs amenant la rvlation de

    nombreux artistes, comme George Brassens, Jacques Brel, Lo Ferr, Boris Vian et bien

    dautres leur tour. La chanson commence donc prendre un caractre politique dans lequel chaque artiste se permet de rvler leurs propres opinions politiques. Georges Brassens dans sa

    chanson Le Gorille critiquera la peine de mort, cette chanson choquant son poque sera pour sa part censure. 1920

    Para ilustrar tal questo, pode-se citar a obra de Boris Vian que, enfrentando a censura,

    escrevia seus versos denunciando a explorao da sociedade de consumo capitalista. E com o

    advento da televiso, as msicas comeam a alcanar um pblico maior, abarcando vrios

    temas polticos tais quais a ecloso de guerras, os regimes ditatoriais e at, ecologia.

    Peu peu cest une sensibilit accrue qui drive vers le partie de gauche, la majorit des musiques engages critiquent alors le militarisme et le colonialisme. Laura Diana chante

    Marie Dominique qui parle des illusions perdues des soldats dIndochine (...) Ces mouvements contestataires sattaquent aussi aux tabous des murs comme Jolie mme de

    17 Disponvel em http://lepachacamac.com/yeyes-au-carrefour-de-la-contreculture-et-de-la-culture-pop/.

    Acessado em 20/01/2013.

    18 No lado musical, a prpria existncia deste movimento mais uma prova, infelizmente, que a Frana

    nunca foi um pas de Rock. Nossa msica de protesto real encontrada nas razes da msica francesa dos grande

    Ferra, Brel, Ferrer ou Gainsbourg de maneiras mais sutis. (Traduo Minha)

    19 Disponvel em: http://musiqueengagee.wordpress.com/category/i-la-musique-engagee-en-france-

    depuis-le-debut-du-vingtieme-siecle/. Acessado em 20/01/2013.

    20 Na verdade, foi a cano intelectual um grande sucesso trazendo a revelao de muitos artistas, como

    George Brassens, Jacques Brel, Ferr Lo, Boris Vian e outros em volta. A msica comea a tomar um carter

    poltico, em que cada artista revela suas prprias opinies. Georges Brassens em sua cano "O Gorila" critica a

    pena de morte, essa msica vai ser chocante para o seu tempo sendo em parte censurada. (Traduo minha)

  • EDIO N 06 MAIO DE 2014

    ARTIGO RECEBIDO AT 02/02/2014 ARTIGO APROVADO AT 15/04/2014

    www.uems.br/lem

    Lo Ferr en 1960. Lapparition des mdias tels que la tlvision ou la radio permettent une permettent une plus grande diffusion de ces chansons dtes engages.2122

    Consideraes finais

    Percebemos, atravs de tal abordagem comparativa realizada aqui, que a histria

    musical dos anos 1960 muito semelhante em diversos pases da cultura ocidental. Vivendo

    situaes semelhantes face aos vrios governos ditatoriais e repressores de seus pases, e

    compartilhando suas experincias bem como suas ideais revolucionrias entre si, os artistas e

    intelectuais das diversas naes aqui abordadas acabaram por fazer da arte dos sessenta um

    apelo liberdade de expresso.

    Referncias

    CHACON, Paulo. O que rock. So Paulo: Brasiliense, 1982.

    DUNN, Christopher. Ns somos os propositores: Vanguarda e contracultura no Brasil, 1964-

    1974. In: ArtCultura, Uberlndia, v. 10, n. 17, p. 143-158, jul.-dez. 2008.

    LUCENA, Luis Carlos. Rock, sonho, revoluo. So Paulo, 2001.

    PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que Contracultura. So Paulo: Brasiliense, 1986.

    VELASCO, Fabiola. La Nueva Cancin Latinoamericana. Notas sobre su origen y definicin.

    In Presente y pasado. Revista de Historia. N 23, 2007.

    VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.

    21 Disponvel em http://musiqueengagee.wordpress.com/category/i-la-musique-engagee-en-france-

    depuis-le-debut-du-vingtieme-siecle/. Acessado em 20/01/2013.

    22 gradualmente aumentada a sensibilidade do lado esquerdista, a maioria das msicas engajadas

    criticam o militarismo e o colonialismo. Diana Laura canta "Marie Dominique" que fala de soldados perdidos na

    Indochina (...) Esses movimentos de protesto tambm abordam os tabus da moral como "bom garoto" Lo Ferr

    em 1960. O surgimento dos meios de comunicao, como a televiso ou rdio pode permitir uma maior

    divulgao destas canes. (Traduo minha)