tablóides do pet educação popular - 1

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Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho PET Educação Popular: criando e recriando a realidade social organização e uma dinâmica para se reproduzir historicamente. A ordem social estabelecida impossibilitou que um grande número de pessoas pudessem exercer essa capacidade, pois valoriza alguns saberes em detrimento de outros, institucionaliza uma capacidade nata, utiliza-e da meritocracia, etc. Sendo assim, pensar um processo educacional que possibilite exercer essa vocação humana não há de ser fácil, mas possível e necessária. Essa educação para o povo, com o povo e pelo povo que chamamos de Educação Popular. E não é “popular” simplesmente por ser com o povo. Não é qualquer ação com as massas que se configura como educação popular. É popular por ter uma concepção de educação calcada num arcabouço teórico-metodológico que por meio de processos contínuos tem por intencionalidade a consciência crítica, o protagonismo do próprio sujeito oprimido e a transformação social. É esta concepção que possibilita além dos sonhos, termos meios também de realizá-los. Certa vez, Paulo Freire disse que “ninguém pode decretar que os homens e mulheres deixem de sonhar”. Inspiradxs nessa premissa, tomamos o referencial teórico- metodológico deste mestre como legado: uma pedagogia que visa o fim das opressões, a construção coletiva e a transformação social; enfim a emancipação humana não só como sonho, mas como realidade. Figura 1“Nós podemos reinventar o mundo” (Paulo freire) Leitura do Mundo Como o sujeito vê e compreende o mundo? É preciso entender isso para poder envolvê-lo, a partir do que ele já conhece; Círculos de Cultura Literalmente círculo, roda de conversa. Só isso em si já é uma afronta ao modo de educação bancária, onde se imagina que o professor deposita o saber no “aluno”. Os círculos possibilitam uma horizontalidade, olhar-se, considerar a história de vida de cada um, os seus valores, etc. Sistematização É preciso registrar, apreender os conhecimentos produzidos e partilhados, para que haja memória e também possibilidades de acesso aos que não puderam vivenciar o processo, é a história de nossas ações e a possibilidade de outras novas; Mística Muito presente nos momentos de início e término de atividades, expressa para além da oralidade a sintonia e essência que nos une, nos conectam: “A mística tem que ver com a vida, com os caminhos da vida e com o nosso jeito de neles caminhar. E nada disto é estático, nada disto está parado, ao contrário, tudo é movimento, é dinâmico. Nada disto está pronto, é no caminho, no despertar das consciências, que nos descobrimos inacabados” (Paulo Freire). Algunss procedimentos metodológicos presentes na Educação Popular Freiriana Paulo Freire (1987) afirma que seria ingenuidade esperar que a educação proporcionada pela classe dominante pudesse fomentar a crítica e a transformação social. E esta afirmação tem feito sentido ao longo da história. Partindo desta constatação, Paulo Freire propõe a Educação Popular com o propósito de romper com o ciclo da manutenção da ordem social. constitui-se em uma concepção que a partir da realidade do sujeito, desvela-se o mundo. Que não hierarquiriza e nem prioriza o saber - não há que se falar em saber, mas sim em saberes -, reconhecendo que a educação, o conhecimento, a capacidade teleológica é uma característica própria do ser humano, ontológica. E se somos todos humanos, logo, todos possuímos saberes. Contudo, essa mesma capacidade ontológica nos tornas seres sociais; nos leva a viver em sociedade. E se falamos em sociedade... Ela tem uma O que é Educação Popular? por Brenda Barbosa

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UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Janeiro 2014

Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho

PET Educação Popular: criando e recriando

a realidade social

organização e uma dinâmica para se reproduzir

historicamente. A ordem social estabelecida

impossibilitou que um grande número de pessoas

pudessem exercer essa capacidade, pois valoriza

alguns saberes em detrimento de outros, institucionaliza

uma capacidade nata, utiliza-e da meritocracia, etc.

Sendo assim, pensar um processo educacional

que possibilite exercer essa vocação humana não há

de ser fácil, mas possível e necessária. Essa educação

para o povo, com o povo e pelo povo que chamamos

de Educação Popular. E não é “popular” simplesmente

por ser com o povo. Não é qualquer ação com as

massas que se configura como educação popular. É

popular por ter uma concepção de educação

calcada num arcabouço teórico-metodológico que

por meio de processos contínuos tem por

intencionalidade a consciência crítica, o protagonismo

do próprio sujeito oprimido e a transformação social. É

esta concepção que possibilita além dos sonhos,

termos meios também de realizá-los.

Certa vez, Paulo Freire disse que “ninguém pode

decretar que os homens e mulheres deixem de sonhar”.

Inspiradxs nessa premissa, tomamos o referencial teórico-

metodológico deste mestre como legado: uma pedagogia

que visa o fim das opressões, a construção coletiva e a

transformação social; enfim a emancipação humana não

só como sonho, mas como realidade.

Figura 1“Nós podemos reinventar o mundo” (Paulo freire)

Leitura do Mundo – Como o sujeito vê e compreende o mundo? É preciso entender isso para poder envolvê-lo, a partir do que ele já

conhece;

Círculos de Cultura – Literalmente círculo, roda de conversa. Só isso em si já é uma afronta ao modo de educação bancária, onde se

imagina que o professor deposita o saber no “aluno”. Os círculos possibilitam uma horizontalidade, olhar-se, considerar a história de vida

de cada um, os seus valores, etc.

Sistematização – É preciso registrar, apreender os conhecimentos produzidos e partilhados, para que haja memória e também

possibilidades de acesso aos que não puderam vivenciar o processo, é a história de nossas ações e a possibilidade de outras novas;

Mística – Muito presente nos momentos de início e término de atividades, expressa para além da oralidade a sintonia e essência que nos

une, nos conectam: “A mística tem que ver com a vida, com os caminhos da vida e com o nosso jeito de neles caminhar. E nada disto é

estático, nada disto está parado, ao contrário, tudo é movimento, é dinâmico. Nada disto está pronto, é no caminho, no despertar das

consciências, que nos descobrimos inacabados” (Paulo Freire).

Algunss procedimentos metodológicos presentes na Educação Popular Freiriana

Paulo Freire (1987) afirma que seria

ingenuidade esperar que a educação proporcionada

pela classe dominante pudesse fomentar a crítica e a

transformação social. E esta afirmação tem feito

sentido ao longo da história.

Partindo desta constatação, Paulo Freire

propõe a Educação Popular com o propósito de

romper com o ciclo da manutenção da ordem social.

constitui-se em uma concepção que a partir da

realidade do sujeito, desvela-se o mundo. Que não

hierarquiriza e nem prioriza o saber - não há que se

falar em saber, mas sim em saberes -, reconhecendo

que a educação, o conhecimento, a capacidade

teleológica é uma característica própria do ser

humano, ontológica. E se somos todos humanos, logo,

todos possuímos saberes.

Contudo, essa mesma capacidade ontológica

nos tornas seres sociais; nos leva a viver em sociedade.

E se falamos em sociedade... Ela tem uma

O que é

Educação Popular? por Brenda Barbosa

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UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Janeiro 2014

Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 2 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho

Eu fiquei pensando o que exatamente levou o povo às ruas no

Brasil em junho 2013. Certamente não era apenas os R$0,20 (na

verdade R$0,40; afinal, na maioria das vezes a gente vai e também

volta de transporte público); tampouco o aumento abusivo, visto

que não era o primeiro (praticamente todo início de ano os

gestores municipais decretam o aumento da tarifa, em São Paulo

isso já era quase tão comum quanto aguardar a chegada do

carnaval...); não creio que tenha sido a comoção gerada pela

truculência da polícia militar, braço armado do Estado, pois

estiveram nos últimos grandes fatos violentos (massacre do

Carandiru, chacina da Candelária, chacina de Vigário Real,

massacre do Eldorado dos Carajás, massacre de Corumbiara,

massacre no Complexo do Alemão, massacre do Pinheirinho,

#CadêAmarildo, etc.) e não houve a mesma comoção. A única

coisa diferente, que poderia justificar a tomada das ruas, seria o

apoio das grandes mídias, até porque, historicamente, não seria a

primeira vez que isto ocorreria (Eleição do presidente Collor,

impeachment do mesmo...). Ainda assim, recuso-me em crer que

todos aqueles milhões de pessoas reuniram-se por conta de um

apelo midiático; logo, vale ainda algumas considerações.

Minha geração, anos 90, sempre foi apontada como despolitizada,

a que teve tudo de “mão beijada”, que “bons” jovens eram os das

só gerações anteriores, e que nosso universo cibernético não

dialogava com a realidade objetiva. Depois da abertura

democrática brasileira, grande parte das organizações que, ao

longo da história, organizam e dão direcionamento político ao

povo (movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos,

associações de bairro, eclesiais de bases, etc.), por vezes, não tem

realizado o trabalho de base , ou adotaram linhas conflitantes com

relação aos interesses do povo, frustraram seus integrantes ou

mesmo enfraqueceram e não dispensaram energias para a

formação política. Com isso, uma geração inteira deixou de ter

acesso a historização política ou a teve de forma mínima. Mas

nosso povo sempre foi um povo de luta; a história oficial até tenta

ofuscar, mas não se pode apagar as lutas do povo! Junte isso com

insatisfações políticas e as péssimas condições de vida dessa

geração e pronto: têm-se uma bomba prestes a explodir, só

aguardando ser acionada. E o aumento da tarifa acionou esta

bomba! A violência policial, também. O apoio midiático, o frenesi

que contagiou o povo, a juventude em especial. Por ora, a

situação foi controlada, o povo parecia ressonar, mas creio que

este sono é leve, apenas suficiente para alçar novos sonhos, novos

voos, pois ainda há muito com que sonhar e para quem já viu

O gigante acordou... Mas ainda há muito com que sonhar! Por Brenda Barbosa

sonhos de mudanças materializarem-se o sono pesado é um

pesadelo! Torço (e luto) para que este ressonar seja a

preparação para um período intenso de transformações

sociais. Reconheço que o contexto foi favorável, mas

precisamos criar condições para que a transformação social

seja realizida. Vimos durante as manifestações de junho/2013,

por exemplo, setores sociais conservadores e de direita

comprometendo a intencionalidade dos atos e querendo se

apropriar da luta (e não me venham com “somos todos

brasileiros”; sim, geograficamente somos, mas, de fato, entre

nós existem extremas diferenças, inclusive quanto à “leitura de

mundo” e a luta por tarifa zero – a redução da tarifa é

historicamente uma bandeira de luta da esquerda, crendo

você que ela existe ou não). Assim, para uma geração que foi

distanciada da política é fácil confundir e/ ou unificar a

intencionalidade da luta, ainda mais quando as bandeiras das

lutas passam a assumir valores nacionalistas. No contexto

vivido discursos de ojeriza aos partidos políticos, criou uma

imagem de hostilização das instituições políticas –

oportunidade para a ideologia do opressor vender gato por

lebre. Inclusive reproduziu muito bem a crença e que só a

partir de seu despertar a primavera floresceria, ainda que em

pleno outono.

Acordar no meio da tarde e desconsiderar que tem gente

trabalhando desde antes das 4 da manhã é, no mínimo,

prepotente. Tem gente que acordou agora, e tem gente que

se quer dormiu. Achar que o sol só brilhou a partir da hora que

você acordou é assumir uma visão umbilical. O gigante pode

ter acordado agora, mas o Davi nem dormiu!

As ações e reflexões possibilitadas pela Educação Popular, que

tem em seu horizonte a emancipação humana, a partir da

transformação social, da libertação do oprimido, e

consequentemente do opressor, adquirem maior relevância

neste momento histórico. Neste sentido, ao propiciar a “leitura

da própria realidade, com vistas ao fortalecimento do poder

popular, faz-se importante mencionar que a Educação Popular

tem o potencial de envolver e fortalecer a organização das

classe trabalhadora s para intervirem na realidade conforme

seus interesses e necessidades de classe”. É hora de nos

prepararmos para a luta e um de nosss maiores instrumento,

felizmente, é uma concepção de educação que promove a

amorosidade, a vocação ontológica do ser, a emancipação

humana e uma sociedade onde não haverá opressões.

Manifestações de junho: o que a Educação

Popular tem a ver com isso?

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Fotonarrativas

Em 2012, o PET Educação Popular desenvolveu um

trabalho na UME Padre Leonardo Nunes, zona

noroeste de Santos. O grupo de extensionistas que

lá atuavam,participavam da frente “Juventude e

Ideologia” do próprio PET. Por volta do mês de

outubro, o grupo recebeu o gás de uma dupla de

estudantes da psicologia, o Cesinha e o

Thiago. Além de se integrarem ao grupo, os

meninos tinham de fomentar o processo de

sistematização, parte intrínseca da educação

popular, na qual organizamos a produção do

conhecimento que vivenciamos. Eles optaram por

fotorrativas, técnica que apreenderam em uma

UC da graduação da Psicologia. Nós adoramos os

resultados, até elencamos que precisamos nos

apropriar dessa tecnologia e pedimos uma

formação sobre o assunto. Viva a

interdisciplinaridade! Deliciem-se com uma das

fotonarrativas!

Por Cesar Inoue e Thiago Polli

“Troca de Papéis”

Leonardo Nunes , 18:40h, arroz, feijão, almôndegas e alface.

Impressão dos poemas, biblioteca, trânsito de pessoas,

enciclopédia conhecimento. “Vocês sabiam que o mimetismo

passou a ser pouco utilizado pelo cameleão?”. “Deve ser

porque ele tem poucos predadores”. Minutos passavam,

ninguém parava. “E aí, o que vamos fazer?”. “Vamos marcar

para Terça?”. “Vamos marcar para sexta?”. “Vai ter gente

semana que vem?”. “É semana de prova, não vai ter

ninguém.”. “Vamos discutir lá fora.”. Picolé de leite

condensado, 1 real. Na frente da escola para discutir, 45

minutos do segundo tempo, uma voz não familiar rompe a

discussão: “Não vai ter a palestra hoje?”. “Vai. Ou ia, não

apareceu ninguém.”. “Vocês não foram chamar.” De novo

dentro da escola, procura por sala. “Vamos fazer lá fora? Tem

pouca gente.” “Não tem sala vazia.”. Uma sala vazia,

ventilador ligado, que calor! “Vamos sentar em roda?”. Meia

lua formada. “Tá todo mundo confortável?”. Desculpas pela

ausência na semana anterior, Rio de janeiro - ENUDS - fórum

de psicologia. Proposta para o encontro. “Posso fazer uma

proposta antes? Vamos afastar as carteiras e sentar no

chão?”. “NÃOOO”. “SIMMM”. “To de saia gente”. “Vamos

afastar as carteiras e sentar nas cadeiras?”

Novas pessoas no encontro, proposta do próximo encontro

para terça–feira, “Ok, tudo bem.”. Poema, Bertold Brecht,

“alemão, velho ancião, lutou pelos trabalhadores, a gente:

Precisamos de você (Bertold Brecht)

Aprende - lê nos olhos, lê nos olhos - aprende a ler jornais, aprende:

a verdade pensa com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo não te convenças sozinho mas veja com teus olhos. Se não descobriu por si

na verdade não descobriu. Confere tudo ponto por ponto - afinal

você faz parte de tudo,

também vai no barco, "aí pagar o pato, vai

pegar no leme um dia". que é isso? Como foi parar aí?Por

quê? Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada das discussões, do silêncio. Esteja sempre aprendendo

por nós e por você. Você não será ouvinte diante da discussão, não será cogumelo

de sombras e bastidores, não será cenário para nossa ação!

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“Posso propor algo mais dinâmico? Vamos nos dividir em grupos menores e pensarmos como seriam a direção,

professores e alunos ideais?”. “Pode ser?” “Pode?. Silêncio.“Vou partir do pré suposto de que quem cala,

consente. Pensando nisso, será que seus professores não partem deste pré suposto também?”. Divisão dos

subgrupos, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 1e 2.

Subgrupos:

Diretoria

“Quem é da direção vem pra cá!”. “Nossa, quanta gente da universidade!”. ” É, e tem pouco aluno...” Silêncio,

risadas de desespero. “E aí gente, como deveria ser a direção ideal? Pegamos o mais difícil né?!”. “Ah, sei lá.”. “Vamos

começar então em como ela é...”. “Ah, ela deixa alguns alunos fazer o que quiser!”. “Então ela é muito permissiva?”.

“É, deveria ser mais rigorosa.” “Como?”.

“Suspendendo o aluno.”. “Não deixar o

aluno vir, é a solução?”... Silêncio... “Que

mais gente? Pra que serve a diretoria?”. “Ah,

a diretoria é a “cabeça” da escola”. ”E o

que isso quer dizer?!”. “Ah ela que manda,

ela deveria fazer projetos com alunos...”

“Que tipo de projetos?” ...silêncio... “Ah, fala

você que eu já falei muito.”. “Falar o que?!

Sei lá.” ...Silêncio... “A direção tinha que

intermediar a relação dos professores com os

alunos. Eles sempre ficam do lado dos

professores e nunca ouvem a gente, e

quando ouvem, continuam do lado dos

professores”. “E isso é uma diretoria

permissiva?”. “Não, ah sei lá!” ...silêncio,

conversa truncada, pouca fluidez. “ Que

horas são?” Acho melhor voltar pra roda e

ver o que deu.”. ” Então vamos.”. Silêncios

diziam muitas coisas, mas nada se ouvia.

Indignação dizia muita coisa, mas nada se

ouvia. Ou eles não aprenderam a dizer ou alguém não soube escutar?

Professores

Canto direito da sala, próximo à porta, muito calor. “como a gente acha que deveriam ser os professores da

escola?”. “Deveriam passar pouca lição”. “Ninguém consegue decorar tudo”. “Será que é para decorar?”. “É o que

eles querem, para a prova”

Levantamento de elementos que faltam aos professores locais, fluidez na discussão, crítica ao modelo de ensino

da escola. “Eles deveriam

ser mais simpático”.

“Explicar mais, não

adianta gritar”. “deveria ir

explicar na mesa de cada

um”. “Mas será que ele

teria tempo para passar

na mesa de cada um?”.

“Não poderiam ter dois

professores por sala? Um

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Escola é

... o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

Programas, horários, conceitos...

Escola é sobretudo, gente

Gente que trabalha, que estuda

Que alegra, se conhece, se estima.

O Diretor é gente,

O coordenador é gente,

O professor é gente,

O aluno é gente,

Cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

Na medida em que cada um se comporte

Como colega, amigo, irmão.

Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”

Nada de conviver com as pessoas e depois,

Descobrir que não tem amizade a ninguém.

Nada de ser como tijolo que forma a parede,

Indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar, não é só

trabalhar,

É também criar laços de amizade,É criar ambiente

de camaradagem,

É conviver, é se “amarrar nela”!

Ora é lógico...

Numa escola assim vai ser fácil!Estudar,

trabalhar, crescer,

Fazer amigos, educar-se, ser feliz.

É por aqui que podemos começar a melhorar o

mundo.

(Paulo Freire)

para explicar na lousa e outro para passar nas mesas?”. “poderia.”. “Poderíamos ter aulas lá fora, para discutir um

texto.” “poderia ter jogos para nos ensinar” “Matemática com baralho, todo jogo de baralho precisa de um raciocínio

lógico, eu raciocino com o baralho”. “poderíamos fazer modelos de ciências, to cansada de estudar a tabela

periódica e não saber onde fica meu rim”. “Para fazer os modelos precisaríamos estudar antes, eu aprenderia muito

mais”. “Tem uma escola que eles aprendem geografia com mapas

e com uma lousa digital”. “Pra que? Para o pessoal roubar?”.

“Deveria ter câmeras na escola toda”. “Deveria ter mais

seguranças, isso sim, câmeras não, não quero ser vigiada como no

big brother.”.

Discussão potente, as falas transpassavam os muros do

colégio, segurança, ser vigiado, o poder reflexivo acontecia,

potência, muita potência. Um embate, deixar esta potência agir,

ou retomar o assunto dos professores ideais? A grupalidade nos

puxa de volta. “Como ta a discussão por aí? Já dá para

apresentar?”.

Um misto de satisfação pela crítica que borbulhou, uma

potência que estava viva e uma decepção por ter que voltar.

Retorno ao grupo grande. “To chegando na escola.”.

“Vamos ter uma aula de matemática? Vocês sabem jogar

baralho?” “ Sei.”. “Você pode explicar para seus colegas?”. “EU

NÃO, VOCÊ QUE É PROFESSOR, VOCÊ QUE TEM QUE ENSINAR.”.

“Todo jogo de carta pressupõem um raciocínio.” “Não estou

gostando da sua didática.” “O professor é quem decide”.

Encenação e discussões se misturavam. “Tem uma

professora de computação que nos ensina a pintar flor no excel, e

a gente sabe que devíamos estar aprendendo a digitar no Word,

porque tem uma escola que o pessoal da 5° já sabe digitar no

Word e agente na 8° só sabe pintar florzinha.”. “Mas será que não

existe um lugar que certifique que isto é errado?”. “Será que existe

uma lei?”. Clima tenso, medo de enfurecer ainda mais a

professora, “a diretora sempre apoia a professora.”. Silêncios

reflexivos, pensamento de estratégias para o embate. “Mas vocês

tem que estar bem embasados para aquilo que vocês querem

discutir. Tem que saber onde procurar.”

“Teve um caso aqui na escola, de uma menina, ela já é

uma menina, transexual, que foi impedida de usar o banheiro

feminino, e a gente viu que pode, o que não faz sentido é ela ter

que usar o banheiro masculino”. Grande discussão sobre o assunto,

o que fazer? Para onde levar esta discussão? Com quem discutir? Como se organizar? Novo momento reflexivo. “Mais

alguma pergunta? Vamos ver um filme semana que vem?”

“Pode ser a vida é bela? Da para discutir a história.” “Pode ser”. Pode ser na segunda? Daí a gente aproveita e

tenta fazer uma discussão com o professor de história. “Assim ele foge um pouco dos textos.”.

Final de mais um encontro, cansativo, quente, alguns momentos de dispersão e com muita reflexão. Uma

esperança.

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O Brasil hoje é considerado o quarto país que mais encarcera no mundo, estipula-se 515 mil detentos, ficando atrás somente dos Estados

Unidos, da China e da Rússia. Segundo o autor Wacquant (1999), que estudou a situação na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento da

população carcerária está associado ao desenvolvimento do Estado “liberal paternalista” – liberal porque se utiliza de mecanismos econômicos

geradores de desigualdades sociais, e paternalista porque realiza ações paliativas frente à precarização do trabalho e da proteção social. Com a

grande população carcerária e a expansão que se encontra, a política pública de educação de jovens e adultos tem grandes dificuldades em sua

concretização no interior das prisões – embora seja um direito a educação e esteja previsto em lei, possibilitando a redução da pena por estudo -,

levando em conta o clamor público que prega a imposição da violência e da punição deixando em segundo plano a educação dos indivíduos

encarcerados.

No Brasil, segundo dados do Depen (2012), a população carcerária, em sua maioria, é composta por jovens, pobres e negros. É fundamental

compreendermos que os problemas existentes no sistema carcerário, estão em alguma medida relacionados à sociedade desigual em que vivemos.

No geral, cerca de 60% não chegaram a concluir o ensino fundamental. As condições de vida desse grupo são marcadas por violações de direitos,

sejam individuais ou coletivos, e agravadas pela desigualdade de gênero que caracteriza a sociedade brasileira. Olhando para dentro desses

espaços nos deparamos com uma especifica população, coincidência ou não, são pessoas que normalmente ocupam uma mesma posição na

sociedade, ou seja, pertencem a uma mesma classe.

A superlotação, a falta de assistência médica e jurídica e a extrema pobreza que caracteriza a maioria dessa população fazem com que este seja um

grupo totalmente excluído da garantia de direitos. Ao processo de criminalização da pobreza é incorporada uma Política de Tolerância Zero, tendo seu

início nos Estados Unidos, com o endurecimento das penas e a ausência de políticas públicas aumentando a cada ano.

No estado de São Paulo, recentemente, fruto de quase dez anos de lutas dos movimentos sociais e organizações civis, foi instituído, por meio

do Decreto 57.238, de 17 de agosto de 2011, o Programa de Educação nas Prisões, a ser implantado e executado pela Secretaria da Educação e de

Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, em parceria com a Secretaria da Administração Penitenciária, para prover aos sujeitos privados

de liberdade o direito ao acesso à educação.

Parágrafo único – A educação básica, de que trata o capitulo deste artigo, será implementada mediante projeto pedagógico próprio, na

modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA, de modo a atender a multiplicidade de perfis, interesses e itinerários escolares da clientela

(Resolução Conjunta SE/SAP 1, de 16-1-2013).

O direito à educação é assegurado a sujeitos em situação de privação de liberdade em algumas regiões do Brasil. Um exemplo significativo,

considerando o processo de mudanças dos sujeitos, é o programa da Unidade Prisional de Campos Belos (Goiás), que desenvolve os trabalhos na

perspectiva da Educação Popular. A garantia do direito à educação nas unidades prisionais do estado de São Paulo, conforme decreto citado,

ganha institucionalidade a partir de uma pressão social – movimentos e organizações de direitos humanos, defensoria pública e pastoral social – e

legal; a aprovação da lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que altera a lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre

a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho.

Art. 1o Os arts. 126, 127, 128 e 129 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de

execução da pena.

§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior,

ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm

No entanto, há grandes contradições nesta lei, pois há um incentivo maior ao trabalho em detrimento da educação; nesse sentido, a lei serve aos

interesses do capital, que obtém uma grande quantidade de mão de obra barata, tendo como justificativa para esta exploração a redução da pena e

a qualificação dos presos para o mercado. Em Minas Gerais, presidiários produzem bolas em troca da sua liberdade. Eles integram o universo de 43.104

presos, entre condenados e provisórios, que formam a população carcerária no estado. Por ocupar postos de trabalho, recebem três quartos do salário

mínimo vigente por mês, o que corresponde atualmente a R$ 466,50, e são beneficiados com a remissão de um dia de pena a cada três de trabalho,

seguindo a Lei de Execução Penal. http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/09/25/interna_gerais,319418/trabalho-garante-liberdade-a-

detentos-dos-presidios-mineiros.shtml

Já a lei de remição pelo estudo, pouco posta em prática, requer investimento do Estado, e, dependendo da forma como a educação é

desenvolvida, poderia formar pensamento crítico que confrontaria o sistema. O receio dos desdobramentos da educação praticada na prisão é o

que inviabiliza a entrada de projetos referenciados na concepção de Educação Popular. Fato que justifica a facilidade l da entrada da pastoral

carcerária que prega a religião e a crença em Deus em forma de alienação, do que o conhecimento crítico produzido por uma Educação Popular.

Tendo em vista a aprovação da lei e a necessidade de garantir mecanismos e ações para implementá-la, surge o questionamento sobre a

concepção de educação a ser adotada. Considerando a dificuldade extrema encontrada para adentrar a educação popular nas unidades e

serviços do sistema prisional em Santos, desejamos, lutamos e persistimos com ações que possibilitem às pessoas encarceradas a oportunidade de

acessar e produzir conhecimento de forma crítica.

Uma realidade muito dinâmica: quando a Educação Popular não é bem vinda...

“Se quiseres conhecer a situação socioeconômica do país, visite os porões de seus presídios” (Nelson Mandela).

Desde o seu surgimento, o PET Educação Popular, por meio da frente “Educação Prisional e Gênero” almejou realizar um

processo de educação popular dentro de unidades prisionais. Durante mais de dois anos tentou de diversas formas adentrarem

este espaço, com pedidos oficiais, protocolos, incidências, etc. O mais próximo que chegamos do objetivo foi o de dar início a

uma biblioteca que seria utilizada por mulheres encarceradas. Mas, o impedimento de adentrarmos as cadeias permite-nos

algumas reflexões, porque será que a educação popular não pode e outros projetos, inclusive de educação, sim? Confira o

texto preparado por Helena Kuabara, Maria Clara Pereira e Wildney Moreira, o trio de extensionistas que acompanhou a

sistematização deste processo!

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extensão popular que entendi que movimentos sociais,

greves, congressos, eventos, são todos espaços de

formação, são todos espaços de construção coletiva de

conhecimento, a educação popular ultrapassa qualquer

limite que tentemos colocar para estabelecer onde é e

onde não é espaço de educação.

“Este é apenas um breve relado do significado do projeto

Criando e Recriando a Realidade Social na minha

formação de assistente social, militante, mulher, educadora

popular, comunicadora e tudo isso junto que esse grupo me

ajudou a ser e estar”.

(Marília Marques, estudante de Serviço Social).

Uma profissão que se propõe em seu código de ética o

compromisso com a Classe Trabalhadora fica abstrata se

não colocarmos em prática essa perspectiva desde o

início da formação. Ao ingressar no curso de Serviço Social

da UNIFESP-BS senti que faltava alguma coisa até

encontrar um grupo que também tinha o mesmo

sentimento, que era envolvido com o movimento

estudantil, mas queria colocar os pés para fora dos muros

da universidade. Foi nessa toada que iniciamos o primeiro

projeto de extensão popular da UNIFESP; foi pensando em

articular educação popular, formação profissional e

movimentos sociais que demos nossos primeiros passos.

Momento interessante pra mim foi quando construímos, em

parceria com outras instituições e movimentos sociais, o

“Tribunal Popular: o Estado Brasileiro no Banco dos Réus –

Encarceramento em Massa”, pois foi neste momento que

de fato tive a dimensão de que outras pessoas espalhadas

em vários cantos do mundo estão insatisfeitas com o

sistema capitalista e que não estão caladas e nem

sozinhas, neste seminário conheci também outras formas

de fazer comunicação e se manifestar: o teatro de rua,

com a Brava Companhia de Teatro no espetáculo “Este

Lado é Para Cima”.

Foram em discussões com o grupo de estudantes da

“uma profissão que se propõe em seu código

de ética o compromisso com a classe

trabalhadora fica abstrato se não colocarmos

em prática essa perspectiva desde o início da

formação [...] este é apenas um breve relado

do significado do projeto criando e recriando a

realidade social na minha formação de

assistente social, militante, mulher, educadora

popular, comunicadora e tudo isso junto que

esse grupo me ajudou a ser e estar”.

(Marília Marques)

“Potencialidades da extensão universitária em educação popular para construir uma

formação profissional comprometida com o conhecimento crítico-reflexivo e as transformações sociais”

Reflexões dos que já vivenciaram...

Evento que discute e integra as atividades de Extensão Universitária na América Latina aconteceu em Quito, capital

do Equador. Nos dias 19, 20, 21 e 22 de novembro de 2013, foi realizado o XII Congresso Ibero americano de

Extensão Universitária, desta vez, sediado pela Universidade Central do Equador em parceria com a Rede

Equatoriana Universitária de Vinculação da Educação Superior (REUVIC), localizada também em Quito. A União

Latino-americana de Extensão universitária – ULEU, que organiza o congresso é direcionado a estudantes

universitários, docentes, sociedade civil organizada e autoridades. Neste ano, o Congresso teve como tema central

“A integração do ensino, pesquisa e extensão para a transformação social e o bem viver na América Latina”. Confira

um dos resumos enviado pelo PET Educação Popular que foi aprovado:

O PET Educação Popular vai ao Equador: grupo tem dois trabalhos aprovados no Congresso

Iberoamericano de Extensão/2013.

Abordar esta temática nasce da necessidade de registrar a memória dos estudantes a partir de suas vivências, em escutá-los,

em conhecer o que pensam, sentem e como avaliam sua atuação neste projeto de extensão, ao mesmo tempo, objetiva

registrar e sistematizar as experiências desses sujeitos a partir do seu envolvimento nesse processo de formação profissional.

A opção metodológica pela memória enquanto registro e instrumento de formação crítica, significa assumir a expressão

simbólica e histórica das relações sociais, “(...) a memória é, sim, um trabalho sobre o tempo, mas sobre o tempo vivido,

conotado pela cultura e pelo indivíduo (...)” (BOSI, 2004, p. 53). Nesse sentido, a memória foi reveladora dos diferentes

momentos de transformação que passam os estudantes, como sujeitos envolvidos nesse processo;, desde a concepção de

educação até a vivência transformadora no cotidiano de atuação nas diferentes frentes de extensão, no cotidiano

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O que Papai

CONTATOS DO PET

pedagógico, passando pelos objetivos e construção de uma

educação na perspectiva emancipatória.

Assim, capturamos e exploramos o campo das lembranças

dessas vivências, trazidas por fotografias, sistematizadas por

palavras contadas de maneira não oficial e o sentido dos

sujeitos sobre os processos formativos em que estão envolvidos

para a construção de espaço de reflexão, produção de

conhecimento, como também estratégias pedagógicas

concretas de transformação social, um resgate coletivo de

trajetórias pessoais.

A proposta de abordar a educação, numa perspectiva

transformadora não é tarefa simples. Embora todos tenham

identidade e adesão à concepção a questão ganha maior

complexidade quando se trata da formação profissional

universitária, em face da precarização das condições de ensino,

do trabalho docente, da flexibilização da reflexão crítica e da

tendência do aligeiramento do currículo do ensino superior no

Brasil.

O referencial teórico-metodológico freiriano possibilita

construções de estratégias pedagógicas que primam pela

educação como transformação dos sujeitos, sobretudo, na

dimensão política.

Vivenciar diretamente este cotidiano, em que os estudantes se

colocam como sujeitos de uma história que tem sido construída

pela troca contínua de experiências e de saberes, se

reconhecendo como incompletos e assim operando a sua

transformação e a da sociedade. A consciência dessa

incompletude é identificada e a busca pelo ser em si, e para si,

é reconhecida pelo estudante que se reconstrói para o mundo,

compartilhando ideias, vivências e saberes únicos,

transformadores e libertários das suas antigas concepções,

idealizando um devir em que todxs consigam ter consciência e

aprender, dialeticamente, com suas experiências e com as

trocas. A consciência é desenvolvida conjuntamente com outros

processos; Traz consigo o reconhecimento do pertencimento e

do papel histórico para a transformação não só de si, mas de

toda a sociedade.

“...os homens, ao terem consciência de sua

atividade e do mundo em que estão, ao

atuarem em função de finalidades que

propõem e se propõem, ao terem o ponto

de decisão de sua busca em si e em suas

relações com o mundo, e com os outros, ao

impregnarem o mundo com sua presença

criadora através da transformação que

realizam nele, na medida em que dele

podem separar-se e, separando-se, podem

com ele ficar, ao contrário do animal, não

somente vivem, mas existem, e sua

existência é histórica.” (FREIRE, 1996, p. 51)

As inúmeras ações coletivas realizadas nos projetos de extensão

universitária -, os diálogos interdisciplinares, as intervenções no

campus universitário e com a comunidade do entorno -,

possibilitam aos estudantes a ultrapassagem da consciência

ingênua para a crítica. Os sujeitos participantes dessa

construção passam a vivenciar um diálogo permanente e

a compreender as reais necessidades para a tomada de

decisões políticas.

Assim, a práxis (ação-reflexão-ação) tona-se a essência

transformações empreendidas no cotidiano pelo ato de

ensinar e de aprender na universidade. Coloca-se como

eixo estruturante para o processo de formação profissional

e intervenção na realidade.

Considera-se, portanto, que os valores e os princípios

propostos no Projeto de Extensão em Educação Popular

contribuem para a vivência de um processo de formação

profissional comprometido e que tenha como horizonte a

autonomia dos sujeitos, a participação política, a defesa

da liberdade e da equidade, a socialização da riqueza

socialmente produzida, a justiça social, o pleno

desenvolvimento do ser social e a defesa intransigente dos

direitos humanos.

Em síntese, a análise o realizado, a partir da memória dos

que viveram esta experiência universitária e do registro das

diferentes frentes de trabalho, possibilitou explicitar a

contribuição desse projeto de extensão em Educação

Popular para uma formação interdisciplinar,

fundamentada em práticas dialógicas entre diferentes

sujeitos - os estudantes e os sujeitos da comunidade-, na a

reflexão crítica, em atitudes autônomas, criativas,

científicas, solidárias, articuladora e mediadora de

conflitos. Revelou-se como um espaço de formação em

que se potencializou a desnaturalização do “olhar”, a

reflexão crítica e a produção de conhecimentos e saberes

de forma livre e com autonomia. Porém, muitos desafios e

lutas vigentes e por vir requerem resistências e permanente

formação ético-política e acadêmica, distanciando-se do

obscurantismo que persiste em adentrar as Universidades

Brasileiras.

Para saber mais sobre o PET Educação

Popular procure por Nós: UNIFESP Baixada

Santista – Edifício Central – Rua Silva Jardim,

136 – Sala 208

http://educacao-popular.blogspot.com

[email protected]