svmma daemoniaca

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Chega ao Brasil o mais completo tratado de demonologia existente na Igreja Católica. Fazendo uso do sistema de perguntas e respostas, e sem ‘papas na língua’, o autor vai conduzindo a leitura de modo claro e direto.Unindo sua experiência de mais de uma década, José Antonio Fortea trata do tema de maneira séria, apresentando todos os detalhes e sempre baseado nos documentos da Igreja Católica.Mais do que uma formação, voltada tanto para religiosos quanto leigos, Svmma Daemoniaca vai esclarecer muitas dúvidas ao tema, especialmente àquelas como os fenômenos poltergeist tratado em filmes de terror e suspense.

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Svmma DaemoniacaTRATADO DE DEMONOLOGIA

E MANUAL DE EXORCISTAS

Page 3: SVMMA Daemoniaca

Copyright desta edição © Palavra & Prece Editora, 2010.Edição brasileira autorizada por intermédio do Autor.

Título original em espanhol: Svmma Daemoniaca - Tratado de demonología e manual de exorcistas.

Todos os direitos desta edição reservados.

Fundação Biblioteca NacionalDepósito legal na Biblioteca Nacional,

conforme Decreto nº 1.825, de dezembro de 1.907.

Coordenação editorialJúlio César Porfírio

Revisão

Patrícia Santos

Revisão e DiagramaçãoEquipe Palavra & Prece

Tradução

Ana Paula Bertolini

CapaClaudio Braghini Júnior

Imagem: Istockphoto

ImpressãoOrgrafic Gráfica e Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Demonologia : Teologia cristã 235.4

PALAVRA & PRECE EDITORA LTDA.

Parque Domingos Luiz, 505, Jardim São Paulo, Cep 02043-081, São Paulo, SP

Tel./Fax: (11) 2978.7253

E-mail: [email protected] / Site: www.palavraeprece.com.br

Fortea, José Antonio Summa daemoníaca : tratado de demonologia e manual de exorcistas / José Antonio Fortea ; [tradução Ana Paula Bertolini]. – São Paulo : Palavra & Prece, 2010.

Título original: Summa daemoniaca : tratado de demonología e manual de exorcístas Bibliografia ISBN 978-85-7763-166-7

1. Demônio 2. Demonologia 3. Exorcismo 4. Possessão demoníaca I. Título.

10-09828 CDD-235.4

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Índice

Introdução ......................................................................................................................................................... 13

TRATADO DE DEMONOLOGIA ................................................................................................................ 15PARTE I – Natureza demoníaca .................................................................................................................... 17

Questão 1 – O que é um demônio? .......................................................................................................... 17Questão 2 – Por que Deus impôs uma prova aos espíritos angélicos? ............................................... 24Questão 3 – Por que Deus não retirou a liberdade daqueles que começaram a pecar? .................. 26Questão 4 – Todos os demônios são iguais?........................................................................................... 26Questão 5 – Zoologia e demonologia ...................................................................................................... 27Questão 6 – Astronomia e demonologia ................................................................................................ 29Questão 7 – Quais são os nomes dos demônios? .................................................................................. 30Questão 8 – O tempo existe para os demônios? .................................................................................... 32Questão 9 – Em que pensa um demônio?............................................................................................... 33Questão 10 – Qual a linguagem dos demônios? .................................................................................... 34Questão 11 – Onde estão os demônios? .................................................................................................. 34Questão 12 – Conhecem o futuro? .......................................................................................................... 35Questão 13 – Um demônio pode fazer algum ato bom? ...................................................................... 35Questão 14 – O demônio pode experimentar algum prazer? ............................................................. 36Questão 15 – O demônio é livre para fazer mais ou menos mal? ....................................................... 36Questão 16 – Quais são os mais malignos de todos os demônios?..................................................... 37

PARTE II – A tentação e o pecado ................................................................................................................. 39Questão 17 – Por que pecamos? ............................................................................................................... 39Questão 18 – Quantas tentações procedem do demônio? ................................................................... 40Questão 19 – Podemos ser tentados além de nossas possibilidades? ................................................. 40Questão 20 – Por que o diabo tentou Jesus? ........................................................................................... 41Questão 21 – O demônio sabe que Deus é impecável? ......................................................................... 42Questão 22 – É possível distinguir as tentações que procedem de nós mesmos das tentações do demônio? ....................................................................................................................... 43Questão 23 – O que fazer diante da tentação? ....................................................................................... 44Questão 24 – O demônio pode ter alguma tática para nos tentar? .................................................... 45Questão 25 – Deus pode tentar?............................................................................................................... 46Questão 26 – Por que Deus permite a tentação? ................................................................................... 47Questão 27 – O que é a morte eterna? ..................................................................................................... 48Questão 28 – Qual é o processo que leva à morte eterna? ................................................................... 48

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6 SVMMA DAEMONIACA

PARTE III – A ação do demônio no homem e na natureza ....................................................................... 51Questão 29 – Que diferença existe entre natural, preternatural e sobrenatural? ............................ 51Questão 30 – Os demônios aumentam seu castigo pelo mal que causam aos homens? ................. 52Questão 31 – É possível fazer um pacto com o demônio? ................................................................... 52Questão 32 – O demônio pode provocar uma enfermidade mental? ................................................ 54Questão 33 – O demônio pode provocar doenças no corpo? .............................................................. 55Questão 34 – Como distinguir se uma visão é um problema demoníaco ou psiquiátrico? .......... 56Questão 35 – Os demônios podem causar pesadelos? .......................................................................... 57Questão 36 – Os demônios podem ler nossos pensamentos? ............................................................. 57Questão 37 – Podem provocar catástrofes ou acidentes? .................................................................... 58Questão 38 – O demônio pode fazer milagres? .................................................................................... 59Questão 39 – Como sabemos que algo é causado pelo demônio? ..................................................... 60Questão 40 – O demônio pode causar má sorte? ................................................................................. 62Questão 41 – O que é o malefício? ........................................................................................................... 63Questão 42 – O malefício tem eficácia? ................................................................................................. 63Questão 43 – O que fazer em caso de malefício? ................................................................................. 64Questão 44 – O que é o feitiço? ................................................................................................................ 65Questão 45 – O modo de fazer um malefício ou um feitiço é importante? ..................................... 66 Anexo à questão 45................................................................................................................................ 67Questão 46 – Qual é a diferença entre magia branca e magia negra? ............................................... 68Questão 47 – Os magos adivinham o futuro pela intervenção do demônio? .................................. 69Questão 48 – O demônio intervém no horóscopo, tarô e outras formas de adivinhar o futuro? . 69Questão 49 – Um demônio pode causar falsas visões em um místico? ........................................... 70Questão 50 – Pode causar estigmas? ...................................................................................................... 72Questão 51 – Qual a forma que os demônios têm quando aparecem para os homens? ................ 73Questão 52 – É o demônio quem provoca a noite do espírito? ........................................................... 74

Parte IV – Questões teológicas ....................................................................................................................... 77Questão 53 – Deus odeia os demônios? ................................................................................................. 77Questão 54 – Os demônios podem unir-se e concentrar os seus esforços para influenciar uma sociedade? ............................................................................................................ 78Questão 55 – Por que Satanás não se manifesta aos homens mostrando todo o seu poder? ........ 79Questão 56 – Dentro da Igreja, a quem ele mais odeia? ...................................................................... 80Questão 57 – Quando Jesus viveu na Terra como Homem, o demônio sabia que Ele era o Messias? ...................................................................................................................................... 81Questão 58 – Jesus sofreu a tentação? .................................................................................................... 82Questão 59 – Qual foi a criatura mais magnífica criada por Deus, a Virgem ou Lúcifer? ............. 84Questão 60 – Por que a água benta atormenta o demônio? ................................................................ 85Questão 61 – Que outros objetos atormentam os demônios? ............................................................ 86Questão 62 – Qual é o demônio meridiano? ......................................................................................... 87Questão 63 – Como os anjos ocupam o seu tempo? ............................................................................ 88Questão 64 – Existe um sacerdócio no mundo angélico? ................................................................... 89

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Perguntas bíblicas 93 7

Questão 65 – É certo pintar o demônio com chifres e corpo de um homem? ................................ 90Questão 66 – Por que há água benta na entrada da Igreja? ................................................................. 90Questão 67 – O demônio é um mero símbolo do mal ou ele realmente existe? .............................. 91 Nota a essa questão................................................................................................................................ 92

Parte V – Perguntas bíblicas ........................................................................................................................... 93Questão 68 – Qual é a diferença entre o temor a Deus e ao demônio? ............................................. 93Questão 69 – Que ordem seguem as três tentações que Jesus sofreu no deserto? .......................... 95Questão 70 – O que são os mil anos em que o demônio ficará preso? ............................................. 97Questão 71 – Que significado teria o envio dos bodes para Azazel no Livro de Levítico? ........... 98Questão 72 – Por que a Sagrada Escritura diz que os demônios estão nas regiões do ar? ............ 99Questão 73 – Por que na Bíblia Deus chama o demônio de “o príncipe desse mundo”? ................ 99Questão 74 – Por que o demônio Asmodeu fugiu após Tobias queimar o coração e o fígado do peixe? ................................................................................................................ 100Questão 75 – Há algum significado nesse coração e no fígado do peixe de Tobias? .................... 101Questão 76 – O que quer dizer São Paulo ao afirmar que Cristo levou os demônios em Seu cortejo triunfal? ......................................................................................................................... 102Questão 77 – Por que o demônio é chamado de acusador? .............................................................. 103Questão 78 – Deus e o demônio falam entre si? .................................................................................. 104Questão 79 – É permitido insultar os demônios? .............................................................................. 104Questão 80 – Por que o Apóstolo Tiago diz que os demônios creem em Deus? ........................... 106Questão 81 – Os acontecimentos no Livro de Jó são históricos? ...................................................... 107Questão 82 – Por que se diz que Leviatã tem muitas cabeças? ........................................................ 108Questão 83 – Por que Satanás aparece com mais frequência no Novo Testamento do que no Antigo? ................................................................................................... 109Questão 84 – O Anticristo é o diabo? .................................................................................................. 109Questão 85 – Satanás pode ter um filho? ............................................................................................ 110Questão 86 – Existe uma paternidade espiritual do demônio? ....................................................... 111Questão 87 – A Besta do Apocalipse é o demônio? ........................................................................... 111Questão 88 – O que significa o 666? .................................................................................................... 111

Parte VI – O Inferno ...................................................................................................................................... 113Questão 89 – Quantos demônios se condenaram? ............................................................................ 113Questão 90 – Por que Deus não aniquila o demônio? ....................................................................... 114Questão 91 – Será que os demônios prefeririam deixar de existir? ................................................ 116Questão 92 – A pior condenação é a dos demônios ou a dos homens? .......................................... 116Questão 93 – Por que o Inferno deve ser eterno? ............................................................................... 117Questão 94 – Deus pode perdoar os demônios? ................................................................................. 118Questão 95 – Que punições há no Inferno? ........................................................................................ 119

Parte VII – Apêndices .................................................................................................................................... 121Apêndice 1 ....................................................................................................................................................... 123Apêndice 2 ....................................................................................................................................................... 133Apêndice 3 ....................................................................................................................................................... 141

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8 SVMMA DAEMONIACA

MANUAL DO EXORCISTA ........................................................................................................................ 143Capítulo I – A possessão ................................................................................................................................ 145

Questão 96 – O que é a possessão? ....................................................................................................... 145Questão 97 – Quais são as características essenciais para se diagnosticar uma possessão? ....... 145Questão 98 – Considerações da psiquiatria ......................................................................................... 147Questão 99 – O demônio também tem a alma do possuído? ........................................................... 152Questão 100 – Qual é a forma mais prática de saber se alguém está possuído? ........................... 152Questão 101 – Que truques o demônio pode usar para esconder a sua presença no possuído? 153Questão 102 – Quais são os demônios ocultos? ................................................................................. 154Questão 103 – Que frase deve ser dita para saber se alguém está possuído? ................................. 157Questão 104 – Quais são as causas da possessão? .............................................................................. 158Questão 105 – Por que o demônio age por possessão? ...................................................................... 159Questão 106 – Por que Deus permite que haja possessões? ............................................................. 160Questão 107 – Qual é a diferença entre a dupla personalidade e a possessão? ............................. 161Questão 108 – Que fenômenos extraordinários se dão na possessão? ........................................... 161Questão 109 – No Evangelho, a possessão não poderia ser uma mera simbologia da libertação do mal? .............................................................................................................................. 162Questão 110 – Houve possessões na época do Antigo Testamento? ............................................... 162Questão 111 – Por que hoje há menos casos de possessão do que na época do Evangelho? ....... 163Questão 112 – Quais são os tipos de demônios que aparecem nas possessões? ............................ 164Questão 113 – O que acontece se um possuído morre antes do demônio ter saído? .................... 164Questão 114 – As almas dos condenados podem possuir? ............................................................... 165Questão 115 – Um possesso pode se matar? ....................................................................................... 165Questão 116 – Um possesso pode matar? ............................................................................................. 166Questão 117 – Os assassinos seriais que cometem crimes hediondos são possuídos? ................. 166

Capítulo II – O exorcismo e o exorcista ..................................................................................................... 169Questão 118 – O que é o exorcismo? .................................................................................................... 169Questão 119 – Qual é a maneira ideal de organizar o ministério do exorcista? ........................... 171Questão 120 – É obrigatório um relatório psiquiátrico para se proceder o exorcismo? .............. 173Questão 121 – Por que é necessária a permissão do bispo para exorcizar? ................................... 174Questão 122 – Qual era a ordem menor do exorcistado? .................................................................. 175Questão 123 – O que fazer em caso de ausência absoluta de exorcista? ......................................... 175Questão 124 – Um não católico pode ser exorcizado? ....................................................................... 178Questão 125 – Os animais podem ser infectados? ............................................................................. 178Questão 126 – É verdade que o demônio se vinga dos exorcistas? ................................................... 179Questão 127 – É verdade que durante o exorcismo o possesso pode revelar os pecados dos presentes? ............................................................................................... 183Questão 128 – Quem pode ser um exorcista? ..................................................................................... 183Questão 129 – Existe exorcismos fora da Igreja Católica? ................................................................ 184Questão 130 – Já existia o exorcismo antes de Cristo? ....................................................................... 185Questão 131 – Por que alguns exorcismos duram bem mais tempo? ............................................. 185

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Fenomenologia demoníaca 197 9

Questão 132 – É preferível continuar até o fim em uma sessão ou ter várias sessões? ................ 186Questão 133 – Dicas para exorcismo ..................................................................................................... 187Questão 134 – Como você sabe quando o demônio é o último? ..................................................... 190Questão 135 – Pode ser repossuída a pessoa que tenha sido exorcizada? ...................................... 190Questão 136 – O que acontece se os demônios não saem por meio do exorcismo? ..................... 191Questão 137 – O que faz um demônio deixar um corpo em um exorcismo? ................................. 192Questão 138 – O que é mais importante: a confissão ou o exorcismo? .......................................... 193Questão 139 – Glossário ......................................................................................................................... 193

Capítulo III – Fenomenologia demoníaca ................................................................................................. 197Questão 140 – Qual é a fenomenologia demoníaca? ......................................................................... 197Questão 141 – O que é a influência externa? ......................................................................................200Questão 142 – O que é a influência interna? .......................................................................................200Questão 143 – Qual é a diferença entre a influência interna e externa? ........................................202Questão 144 – O que é a oração de libertação? ................................................................................... 203Questão 145 – Como fazer uma oração de libertação? .....................................................................205Questão 146 – O que é a infestação? .....................................................................................................209Questão 147 – Os fantasmas existem? .................................................................................................. 210Questão 148 – O que é o mandatum? ................................................................................................... 210Questão 149 – Quais são os demônios íncubos e súcubos? .............................................................. 211

Capítulo IV – Casos ....................................................................................................................................... 213Caso 1 ........................................................................................................................................................ 214Caso 2 ........................................................................................................................................................ 215Caso 3 ........................................................................................................................................................ 225Caso 4 ........................................................................................................................................................ 235Caso 5 .........................................................................................................................................................240Caso 6 .........................................................................................................................................................242

Capítulo V – Suplementos .............................................................................................................................245Suplemento I – Casos especiais de possessão ............................................................................................. 247Suplemento II – Legislação canônica .......................................................................................................... 251Suplemento III – História do exorcismo no cristianismo ........................................................................ 253Suplemento IV – A medalha de São Bento ................................................................................................. 257Suplemento V - Escala SD de graus de possessão e influência ................................................................ 259

O MAL ............................................................................................................................................................. 263Prefácio ............................................................................................................................................................. 265Seção I – Questões sobre o mal..................................................................................................................... 267

Questão 150 – O que é o mal? ................................................................................................................ 267Questão 151 – Existe o mal? .................................................................................................................. 267Questão 152 – Quais são os tipos de mal? ........................................................................................... 270Questão 153 – Mal é um conceito religioso? ....................................................................................... 271Questão 154 – Qual o limite do mal? .................................................................................................... 272

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10 SVMMA DAEMONIACA

Questão 155 – Existe o mal infinito?..................................................................................................... 272Questão 156 – Será que Deus está acima do bem e do mal? ............................................................. 273Questão 157 – Qual é o maior mal? ...................................................................................................... 273Questão 158 – O pecado é um conceito religioso? ............................................................................. 273Questão 159 – Existe um mal imperdoável? ....................................................................................... 274Questão 160 – Como sabemos que há condenação eterna? .............................................................. 275Questão 161 – Quem são aqueles que apenas querem condenar? ................................................... 276Questão 162 – Um pequeno pecado pode condenar? ........................................................................ 276Questão 163 – Onde está a linha divisória entre o mal extremo e a loucura? ............................... 277Questão 164 – Deus sonda o abismo? ................................................................................................... 278

Seção II – Estética do mal ............................................................................................................................. 281Seção III – O mal no cristianismo .............................................................................................................. 293Seção IV – O Terceiro Reich e o mal ........................................................................................................... 295Seção V – A cidade de Deus e a cidade do homem ................................................................................... 301Seção VI – Doença psiquiátrica e cristianismo .........................................................................................305Seção VII – Questões ..................................................................................................................................... 315

Questão 165 – Um homem condenado no Inferno ainda pode amar sua mãe? ........................... 315Questão 166 – Você tem uma mãe no Céu, vendo seu filho sofrer a condenação eterna? .......... 316Questão 167 – O que significa “desceu ao Inferno?” .......................................................................... 316Questão 168 – Quais foram as moradas do Inferno em que Jesus desceu depois da morte? ...... 318Questão 169 – Como se proteger dos ataques do demônio? ............................................................. 318Questão 170 – Será que Judas Iscariotes foi condenado? .................................................................. 320Questão 171 – Por que os demônios usam os sentidos físicos quando estão em alguém? .......... 321Questão 172 – O demônio odeia os judeus? ......................................................................................... 322Questão 173 – Será que não há perigo de orgulho para o exorcista? .............................................. 324Questão 174 – Algum dia haverá um número suficiente de exorcistas? ........................................ 325Questão 175 – E se um bispo se opõe a esse ministério? ................................................................... 326Questão 176 – Deus não poderia conceder anistia para os condenados ao Inferno como um mero ato de graça? ............................................................................................. 327Questão 177 – Deus não poderia impedir a existência desses condenados por um ato de misericórdia divina? ...................................................................................................... 328Questão 178 – Ao arrepender-se, o demônio seria perdoado? .......................................................... 329Questão 179 – Toda a ciência sobre o demônio está contida neste tratado? .................................. 330Questão 180 – Será que Deus sabe de tudo que há de errado? ......................................................... 331Questão 181 – Será que Deus está no Inferno? ................................................................................... 331Questão 182 – O mal sempre existiu? .................................................................................................. 332Questão 183 – O mal existirá pelos séculos dos séculos? .................................................................. 332

CONCLUSÃO ................................................................................................................................................ 335

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Por mim se vai à cidade do lamento; por mim se vai à eterna dor; por mim se vai para a raça condenada: a justiça incentivou a mim sublime arquiteto; me fez a Divina Potes-tade, a Suprema Sabedoria e o Primeiro Amor. Antes de mim não havia nada cria-do, com exceção do imortal, e eu existo eter-namente. Ó vós que entrais, abandonai toda a esperança!

Inscrição que Dante Alighieri colocou no portal de entrada para o Inferno

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Introdução

Optei por escrever um livro ao modo dos antigos tratados escolásticos, isto é, distribuir a obra em uma infinidade de questões de heterogênea extensão e

desigual peso teológico. Por quê? Porque concluí ser o modo mais livre de poder tratar o tema sob todos os pontos de vista. Sobretudo, essa me pareceu a melhor maneira de poder abarcar o demônio em todos os seus aspectos e detalhes, que, em matéria como essa, são muito importantes. Cada detalhe da Bíblia sobre o demônio não é em vão.

Sempre me fascinaram aqueles velhos volumes escolásticos escritos em le-tras góticas, em que os temas teológicos apareciam com uma lógica inflexível segundo os interesses e desejos do monge ou outro religioso, que ditava ao se-cretário encurvado sobre ssua escrivaninha. Entretanto, neste trabalho, quis fazer uma obra mais livre, menos sujeita a um esquema preconcebido, dife-rente de minha tese universitária sobre o exorcismo, que estava repleta de no-tas de rodapé, de citações eruditas e de temas que os acadêmicos consideram sérios e graves. Não me seria difícil aplicar a todo o conteúdo desse livro um outro aspecto formal, aparentemente mais orgânico, porém fiz uma obra tal qual gostaria de ler. Então, com o livro terminado, contemplo uma construção intelectual sobre o mundo dos anjos caídos.

O leitor observará que há mínimas referências bibliográficas nessa obra. Isso se deve ao fato de que desde o princípio determinei que todo esse edi-fício conceitual se baseasse sobre dois únicos alicerces: a Bíblia e minha ex-periência. A partir daí se levantou toda, pedra por pedra, a base da lógica. O leitor não deve, portanto, ler esse livro como uma recopilação dos ensinos do magistério da Igreja, mas sim como algo que pode alcançar a razão humana partindo da Sagrada Escritura.

Esse livro me recorda uma construção arquitetônica medieval. Com seus pilares, suas galerias e caminhos tortuosos. Um livro com seus capitéis,

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14 SVMMA DAEMONIACA

pórticos e criptas. Por essa obra sobre o demônio se pode ir e vir, pode-se percorrer a ela exaustivamente ou passear por ela; é uma obra teológica, uma espécie de labirinto demoníaco com suas questões, partes, apêndices, suple-mentos e anexos. Uma construção de todas as formas, levantada com concei-tos em vez de pedras, ou, melhor dizendo, com as pedras dos conceitos. Uma construção erigida sobre as firmes leis da lógica, um falso labirinto submetido a uma estrutura férrea que se esconde sob a aparente selva de questões. Espero que o leitor não esqueça, durante sua leitura – pelo passeio ao âmago dessa construção –, o que não foi esquecido durante sua escrita: que toda constru-ção teológica é erguida para a maior glória de Deus. É curioso como até uma construção teológica sobre o demônio pode proclamar o poder da onipotente mão divina.

Nota: O título em latim desta obra, Svmma Daemoniaca, se traduz como Suma de questões relativas ao demônio. Em latim, o substantivo svmma significa suma, conjunto, generalidades. O adjetivo daemoniaca pode significar maligno, demoníaco, mas também o relativo ao demônio, o que concerne ao demônio, e é neste segundo sentido que se deve considerar o título.

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Tratado de demonologia

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17

PARTE I

Natureza demoníaca

Questão 1 O que é um demônio?

Um demônio é um ser espiritual de natureza angélica condenado eterna-mente. Não tem corpo, não há em seu ser nenhum tipo de matéria sutil, nem nada semelhante à matéria, pois se trata de uma existência de caráter inteira-mente espiritual. Spiritus, em latim, significa sopro, hálito. Uma vez que não têm corpo, os demônios não sentem a menor inclinação para nenhum pecado que se cometa com o corpo. Portanto, a gula ou a luxúria são impraticáveis para eles. Podem tentar os homens a pecar nesses campos, porém, só com-preendem esses pecados de modo meramente intelectual, uma vez que não possuem sentidos corporais. Os pecados dos demônios, portanto, são exclusi-vamente espirituais.

Eles não nasceram maus, porém, depois de criados, foram submetidos a uma prova antes que lhes fosse oferecida a visão da essência da Divindade, pois viam a Deus, mas não viam Sua essência. Neste caso, o verbo ver é fi-gurativo, já que a visão dos anjos é intelectual. Como, para muitos, será difí-cil compreender o fato de que puderam ver/conhecer a Deus, porém não ver/conhecer Sua essência, poderíamos exemplificar que eles viam a Deus como uma luz, que O ouviam com uma voz majestosa e santa, mas Seu rosto per-manecia sem se revelar. De todo modo, mesmo que não penetrassem em Sua essência, sabiam que era seu Criador e que era Santo, o Santo entre os Santos.

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18 SVMMA DAEMONIACA

Antes que penetrassem na visão beatífica dessa essência divina, Deus os pôs a prova. Nessa prova, uns obedeceram, outros, não. Os que desobedece-ram de forma definitiva, tornaram-se demônios. Eles por si só se transforma-ram no que são. Ninguém os fez assim.

A psicologia dos anjos atravessou uma série de fases antes que eles se trans-formassem em demônios. Essas fases não aconteceram no tempo material, mas sim na eternidade (evo)1. Para os humanos, por se dar na eternidade (evo), estas fases pareceram instantâneas. Porém, o que para nós parece breve, para eles, foi muito demorado. As fases de transformação de anjos em demônios foram as seguintes:

No início ficaram em dúvida se a desobediência à Lei Divina talvez fosse o melhor. Nesse momento, em que voluntariamente aceitaram ser uma opção a considerar a possibilidade de desobediência a Deus, já cometeram um pecado. A partir daí, a aceitação da dúvida se constituiu um pecado venial, que pou-co a pouco foi evoluindo para um pecado mais grave. Porém, nenhum deles, nessa primeira fase, estava disposto a se afastar definitivamente, nem mesmo o diabo.

Já mais tarde, assentou-se neles o que suas vontades haviam escolhido, ape-sar dos conselhos da inteligência, a qual lhes recordava que a desobe diência era contra a razão. Suas vontades foram se afastando de Deus e, consequente-mente, suas inteligências foram aceitando como verdadeiro o mal que haviam escolhido, consolidando-se no erro. A vontade de desobedecer foi se afirman-do, fazendo-se cada vez mais profunda. Assim, suas inteligências passaram a buscar cada vez mais razões para que tudo se tornasse cada vez mais justi-ficável. Finalmente, esse processo os levou ao pecado mortal, que se deu em um momento concreto, por meio de um ato da vontade. Cada anjo, em de-terminado momento, não quis só desobedecer, mas, inclusive, optou por ter uma existência à margem da Lei Divina. Não era um esfriamento com relação ao Amor de Deus, uma simples desobediência a algo que lhes fosse difícil de

1 Evo: Significa a eternidade que é o tempo dos espíritos. Uma explicação mais detalhada aparecerá mais adiante.

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aceitar; mas na vontade de muitos deles, encontrava-se a ideia de um destino separado da Santíssima Trindade, um destino autônomo.

Os que perseveraram nesse pensamento e nessa decisão começaram um processo de justificação dessa escolha. Passaram a se autoconvencer de que Deus não era Deus. Ele era apenas mais um espírito. Até poderia ser seu Cria-dor, porém n’Ele havia erros e falhas. Começaram a acalentar a ideia que havia surgido em seus pensamentos: a de uma existência separada de Deus e de Suas normas. A existência separada de Deus aparecia como uma existência mais livre. As normas de Deus, a obediência a Ele e à Sua vontade, apareciam progressivamente como uma opressão. Deus passava a ser visto como um ti-rano do qual deveriam se libertar. Nessa nova fase de distanciamento, já não buscavam simplesmente um destino fora de Deus, uma vez que Deus mesmo lhes parecia um obstáculo para alcançar a liberdade. Pensavam que a beleza e a felicidade do mundo angélico seriam muito melhores sem um opressor. Por que haveria um espírito que se elevava sobre os demais espíritos? Por que sua vontade devia se impor sobre a dos outros espíritos? Por que uma vontade deve se impor sobre outras vontades? Devem ter pensado: “Não somos crian-ças, não somos escravos!”. Deus já não era um elemento que tinham deixado para trás, mas que começava a se converter para eles em um mal. E assim co-meçaram a odiá-l’O. O chamado de Deus para que estes anjos voltassem era visto como uma intromissão inaceitável. Nessa fase, o ódio cresceu mais em alguns espíritos e menos em outros.

Pode surpreender que um anjo chegue a odiar a Deus, porém deve-se compreender que Deus já não era visto por eles como um bem, mas como um obstá culo, uma opressão; Ele representava as cadeias dos mandamentos, a falta de liberdade. Já não era visto como Pai, mas como fonte de ordens e mandamentos. O ódio nasceu com a energia de suas vontades, resistindo continuamente aos chamados de Deus que, como um pai, os buscava. O ódio nasceu como reação lógica de uma vontade que tem de firmar-se na decisão de abandonar a casa paterna, para dizer em termos que sejam inteligíveis para nós. É como alguém que deseja sair de casa; no início quer apenas partir, mas se o pai o chama mais de uma vez, o filho acaba dizendo que o deixe em paz.

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Deus os chamava, pois sabia que, quanto mais tempo suas vontades ficassem afastadas d’Ele, mais se afirmariam nesse afastamento.

Contudo, muitos dos anjos que haviam se afastado, em um primeiro mo-mento, voltaram. Essa é a grande luta nos Céus de que fala o Apocalipse 12:

“Houve então uma batalha nos Céus: Miguel e seus anjos guerrearam con-tra o Dragão. O Dragão lutou, juntamente com os seus anjos, mas foi derrotado; e eles perderam seu lugar nos Céus. Assim foi expulso o grande Dragão, a antiga Serpente, que é chamado Demônio ou Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Ele foi expulso para a Terra, e os seus anjos foram expulsos com ele” (Ap 12,7-9).

Como os anjos podem lutar entre si? Se não têm corpo, quais armas fo-ram usadas? O anjo é espírito, o único combate que se pode travar entre eles é o intelectual. As únicas armas que podem usar são os instrumentos intelectuais. Deus enviava a graça a cada anjo para que voltasse à fidelida-de e se mantivesse nela. Os anjos davam argumentos aos rebeldes para que voltassem à obediência. No entanto, os anjos rebeldes mostravam suas ra-zões para fundamentar sua postura e introduzir a rebelião entre os anjos fiéis. Nessa conversação entre milhares e milhares de anjos, houve baixas de todos os lados: anjos rebeldes regressaram à obediência; anjos fiéis foram con-vencidos com a sedução dos argumentos malignos.

A transformação em demônios foi progressiva. Com o passar do tempo – a eternidade é um tipo de tempo – uns odiaram mais a Deus, outros menos. Uns se fizeram mais soberbos, outros nem tanto. Cada anjo rebelde foi se deformando mais e mais em pecados específicos. Assim como, ao contrário, os anjos fiéis foram se santificando progressivamente. Uns se santificaram mais em uma virtude, outros em outra. Cada anjo se fixou em um aspecto ou outro da divindade, amou com uma medida de amor. Por isso entre os anjos fiéis surgiram muitas distinções, segundo a intensidade das virtudes que praticaram.

Cada anjo tinha sua própria natureza dada por Deus, porém, cada um se santificou numa medida própria segundo a Graça de Deus e a correspondên-cia de Sua vontade. Exatamente o contrário ocorreu no caso dos demônios. Cada um recebeu de Deus uma natureza, se deformou segundo seus próprios

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caminhos extraviados. Por isso, a batalha acabou quando cada um deles per-maneceu enquadrado em sua postura de forma irreversível. Chegou um mo-mento em que havia só mudanças acidentais em cada ser espiritual, cada de-mônio se manteve firme em sua imprudência, em seus ciúmes, em seu ódio, em sua inveja, soberba, em seu egoísmo…

A batalha havia acabado. Podiam seguir discutindo, disputando, exortan-do-se durante milhões de anos, para dizer em termos humanos, porém havia somente mudanças acidentais. Foi então que os anjos foram admitidos na pre-sença divina e se deixou que os demônios se afastassem, que ficassem abando-nados à situação de prostração moral que haviam escolhido para si.

Como se pode observar, não se trata de ter enviado os demônios a um lugar de chamas e aparatos de tortura, mas que fossem deixados como es-tavam, abandonados em sua liberdade, em sua vontade. Não foram levados a nenhuma parte. Eles não ocupam um lugar, não há onde levá-los. Não há instrumentos de tortura, nem chamas que possam atormentá-los, nem ca-deias que os prendam. Tampouco os anjos fiéis entraram em algum lugar. Simplesmente receberam a graça da visão beatífica. Tanto o Céu dos anjos como o Inferno dos demônios são estados. Cada anjo tem em seu interior seu próprio Céu, esteja onde estiver. Cada demônio, esteja onde estiver, leva em seu espírito seu próprio Inferno.

O momento em que não há como voltar atrás é quando um anjo vê a essência de Deus. Porque depois de ver Deus, já não poderá mudar de opinião, nem esconder a menor coisa que O ofenda, pois a inteligência assimilaria que esconder uma falta seria o mesmo que esconder esterco em frente a um tesou-ro. Pecar, a partir de então, torna-se impossível.

O anjo, antes de entrar nos Céus, compreendia Deus, compreendia o que era, imaginava Sua santidade, Sua onipotência, sabedoria, amor… Depois de ser aceito para contemplar Sua essência, não só a compreende, como também a vê. Quer dizer, vê Sua santidade, Seu amor etc., se preenche de tal amor, de tal veneração, que jamais, por nada, quer se separar d’Ele. Por isso o pecado passa a ser impossível.

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O demônio fica irremediavelmente ligado ao que escolheu, desde o instan-te em que Deus decide não insistir mais. Chega um momento em que Deus toma a decisão de não enviar mais as graças de arrependimento, pois Ele com-preende que enviar mais graças só serve para que o demônio se assegure mais naquilo que sua vontade escolheu. Porque cada graça de arrependimento só pode ser superada, só pode ser vencida, afirmando-se mais no ódio. Chega um momento em que Deus Amor dá as costas2 e deixa Seu filho seguir seu caminho. Deixa o demônio seguir sua vida separado.

Podemos dizer que não é de uma hora para outra que o anjo se transforma em demônio, já que se trata de um processo lento, gradual, evolutivo. Há um tempo certo em que o espírito angélico tem de tomar a decisão de desprezar ou não o seu Criador. Já foi dito que nesse processo pode-se voltar atrás, essa é a celestial batalha de que fala o Apocalipse (cf. Ap 12,7-9). Mas chega um momento em que os demônios se afastam cada vez mais. Não haveria sentido insistir. O Criador respeita a liberdade de cada um.

Portanto, o demônio é um anjo que decidiu ter seu destino distante de Deus e quer viver livre, sem amarras. Frequentemente, ele é representado em pinturas e esculturas de modo disforme, uma forma muito adequada de representá-lo, pois se trata de um espírito angélico deformado. Segue sendo anjo; somente sua inteligência e sua vontade são deformadas. A solidão inte-rior em que permanecerá, por séculos e séculos, os ciúmes ao compreender que os fiéis gozam da visão de um Ser Infinito levam-no a reprovar seu pró-prio pecado mais uma vez. Como odeia a si mesmo, odeia a Deus, odeia aos que lhe deram razões para afastar-se.

Mas nem todos sofrem igualmente. Durante a batalha, uns anjos se de-formaram mais que outros. Aqueles que mais sofrem são os que mais se

2 Um grande amigo meu, professor da Universidade de Alcalá de Henares, ficou um pouco surpreso com essa expressão de ‘dar as costas’ e, inclusive, me sugeriu a possibilidade de uma correção na formulação da frase. Pode, de verdade, o Amor Infinito, fazer tal coisa? Sem dúvida, sim. A rebeldia da criatura faz com que, finalmente, Deus a abandone a sua própria sorte. Que momento é esse em que a criatura é abandonada? É o momento em que Deus decide não lhe conceder mais nenhuma graça de arrependimento. Nesse instante podemos dizer que Deus deu as costas ao ser que criou. Quando ocorre essa terrível e temível decisão, a criatura já está julgada.

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deformaram. Porém, é necessário recordar novamente que essa é uma defor-midade da inteligência e da vontade.

A inteligência está deformada, obscurecida pelas mesmas razões que justi-ficou seu caminho, sua libertação. A vontade impôs à inteligência sua decisão, e a inteligência se viu impelida a justificar tal decisão. A inteligência funcio-nou como um mecanismo de justificação, de argumentação daquilo que a vontade a estimulava aceitar. Como se vê, o processo tem uma extraordinária semelhança com o processo de aviltamento dos humanos. Não esqueçamos que nós, humanos, somos um espírito em um corpo. Se nos omitimos diante dos pecados relativos ao corpo, sofreremos o mesmo processo interno que leva uma pessoa boa a acabar na máfia, ou a tornar-se um soldado num cam-po de concentração ou um terrorista. Em princípio, o conceito de pecado, de tentação, de evolução da própria iniquidade é igual tanto no espírito angélico como no espírito do homem. Os pecados humanos são sempre pecados do espírito, ainda que os cometa com o corpo, já que este é tão somente um ins-trumento daquilo que o espírito decide com seu livre-arbítrio.

Assim como um menino atravessa um período da infância, o anjo que aca-ba de ser criado não tem experiência. O ser humano tem tentações com ou-tras pessoas, e os anjos também as têm. O homem pode pecar por ideais tais como a pátria, a honra da família, o bem-estar de um filho. O espírito angéli-co também tem por trás de si grandes causas, que, mesmo sendo distintas das humanas, presumem uma complexa correlação angélica de todo esse mundo humano que conhecemos.

Nós, humanos, somos também espírito, apesar de possuirmos um corpo. Só temos de olhar nosso interior para compreender como se pode cair no pe-cado, como se pode degradar-se. Sendo assim, os pecados dos anjos começam a nos parecer mais próximos e já não são tão incompreensíveis.

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