subjetividade, historicidade e pós modernidade - graça
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7/24/2019 SUbjetividade, Historicidade e Ps Modernidade - Graa
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ISSI14133aBX
TemaSfIl
Psicalogia199
8,VoI 6I'2,
135
146
A istoricidade
da categoria
subjetividade
Maria da Graa Marchina Gonalvci
Pontificia Universidade Callica de Sii Pau a
esumo
o objetivo do
anigo
discutir a categoria subje
ti
vidade na forma dupla como
se
configura na modernidade:
como expcrincia ampliada, reconhecida e aprofundada e como qucst loepisterno16gica central no bojo da
defini io da c i ~ n c i a moderna. Ambos os aspectos, na sua inten;.eao e desenvolvimento, ser io fundamentais
naconstrullohistricadapsico l
ogia.Ot
e
xtoabordaalgunsfatoresrelacionados
a essa dupla configura io
da categoria subjetividade, a partir do desenvolvimento do capitalismo. Aponta como essa dupla marca
aparecenasprincipaisteoriasdapsicologiasemqueacontrndillosubjclividade-objetividade seja superada c
tambm os elementos de critica s teorias tradicionais que podem levar a essa supera:lo. Por fim. s io
indicados
aspeCIOS
atuais dessaquestllo. no seio dodebale da ps-modernidade, no qual alguns marcos da
modernidade
queimp
licaramne
ssadup
laconfigura:los iol'l:vistos,obrigw)(roaumaI'l:discussllodasno1les
de indivduo. sujeito e su bjetividade.
Pilmas-dlne:subjctividade. subjetividade-objetividade, ps-modemidade.
Thehistoricityolthecategoryol
s
ubjectivit
y
Thisanicleaimstodiseussth
e
categor)'ofsubjectivityinilsdoublcmod
e
rnconfigurdtion:asancnlargcd.
recogni7,cdanddeepencdexperienceandasacenlralepislcmologicalqueSliontothedefmilionofthemodern
seience itself. 60th asf'l'CIs,
in
Iheir intcrsection and development. will be fundamental to th e hislorical
conslruclion ofPsychology_ The leXI runs lhrough some faclolS relaled to this double calegor)' configuration
derived from the capitalism development: ii points to how this double feature is pTe5ent he
m m
psycho
logicaltheorieswithlhesubjectivi[y
/objectivitycon[radictionnolrcsolve
d,andalsopointsoutthecritical
l ~ m n t s abou[ the Iraditional thcories which ma)' lcad 10 solution
ofthis
impasse. Finally, some current
aspectsofthisquestional'l:poinledout.amidstthepoSI-mod ernitydebale inwhichsomeframesformodemity
implied
in
this double conJiguration are reviewed, leading [O a new
d i s c u ~ i o n
ofthe o t i o n ~ of individual.
subjeclandsubjectivity
l e t l l O ~ s : subjectivity. subjeclivity-objectivity. post-modemity.
Subjelividadenamodemidade:constituiohist6rica
deumaexperinciaede uma categoria
Arefercneiabsicadcanlisenestctcxtoada
historicidade das
experincias
humanas, bem
como
das idias produzidas pelos homens como
expresso
mediada dessas experincias.
Entendemos
como
experincias
humanas toda a
atividade realizada
socialmente pelos homens, como forma de atender
suas
necessidades,
produzindo, dessa
forma,
sua
prpria existncia. As expericnclas concretas de
atividade
dos
homens
implicam,
necessariamente.
na produo de
idias e representalles sobre elas, as
quaisretletem sua
vida real -
acs
c relalles
Colocando
de
outra
forma, partimos das
ealegorias
trabalho
e
relacs socia
is para
situar
o
I.
Trabalho
aprc5Cnll1do
naMe
.
redonda:
S
ubjetividad
e:
rela6csenlre aconSlituilodo
conceitoeda
",alidade
\
na
xxvm
Reuni
Anualdc
Psicologia, outubro. 998
2.Endereo:RuaTucuna,1237_S30Paulo-SP.CEI'05021-OIO
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homem na suahistoricidadc, entendendo que atravs
da transformao da natureza, em sociedade, para
produo de sua existncia, o homem constitui-se,
historicamente, enquanto tal.
Em
sua constituio
histrica o homem produz bens maleriais e espiri
tuais, ouscja, produzobjetose idias.
O conjunto de idias produzidas pelo homem
inclui crenas, valores e conhecimentos de toda
ordem. Ik acordo com nosso referencial, entAo as
idias e oonhedmentos produzidos pelo homem em
um determinado momento histrico re
fl
etem a reali
dade desse momento histrico,
ou
seja, nosso pres
suposto de que a o rigem das idias produzidas
socialmente esta na base material da sociedade.
Essas idias. por sua vez, orientam a ao dos
homense, nesse sentido, modificam e desenvolvem a
ao, processo no qual tambm so modificadas.
Trata-se de
um
processo continuo de relao, que
ocorre de forma dialtica, expressando a
uni
dade
contraditria entre real e raeionaln u
ma
perspectiva
materialista. Isto significa entender que, embora as
idias tenham seu prprio movimento, que deve ser
descrito e analisado a partir da comparao de
diferentes autores, conceitos, representaes, na sua
contraposiO e desenvolvimento. tal movimento
deve, por outro lado, ser sempre situado na sua
relao com O movimento da base material e, em
lti
ma
instncia, como representallodela.
A categoria subjetividade, tomada simulta
neamen
te
como exper
in
cia huma
na,
signo
e
conceito terico pode mostrnr essa re lao construda
no movimento his trico. Enquanto experincia
humana, a subjetividade modifica-se e aparece de
diferentes formas ao longo da histria humana;
enquanto signo, designa essa experincia, modifi
cando-se juntamente com ela, ao mesmo tempo
pemlitindo a expresso dessa experincia e transfor
mando-a; enquanto signo que ganha o estatuto de
um
conceito terico, aparece no bojo do desenvolvimento
da cincia
na
modernidade, mais espec ificamente
com a psicologia, embora no aparea desde o inicio
fomlal dessa cincia como
um
conceito explcito.
Evidentemente. a categoria subjetividade
implica a categoria sujeito e, por essa via, tratando
das duas categorias, ou de uma delas. pode-se
faura
anlise que indicamos, do carater histrico da
subjetiv
id
ade. Para essa anlise, faremos um recorte
a partir da modernidade, considerando que nesse
momento que surgem algumas importantesquestcs,
presentes hoje, que nos propomos a problematizar
como forma de refletir sobre a psicologia e sua
produo terica.
Isso post
o
podemos ento dizer que a subjeti
vidade s se torna objcto de conhecimento cientfico
em funo de alguns fatores histricos: quando
se
toma uma experincia privatizada, aprofundada e
un iversal e quando, enquanto experincia privatizada,
entra em crise, confonne anlise e Figueiredo 1997)
Isso ocorre com o advento do capitalismo. O
desenvolvimento das foras produtivas capitalistas
p
em
relevo o individuo, como possuidor de livre
arbtrio, eapaz de dec idir que lugar ocupar na socie
dade jque
a nova sociedade se abre enquanto
um
mercado no qual todos podem vender c comprar
em
funo de seus prprios talentos. A llecessidadede
se
produzir mercadorias impe aos homens uma partid
pao na socicdade enquanto indiv duos. produtores
elou consumidores de mercadorias.
O liberalismo enquanto
ideolog
ia da
burguesia, expressa essa nfase no individuo. Todos
os homens so livres e iguais; apesar de iguais,
tminteresses prprios individuais); isso se resolve
atravs da fraternidade.
Por outro lado. o romantismo, que representa a
nostalgia da velha ordem, da aristocracia feudal.
tambm fala aos i
nd
ivduos. Os individuos so todos
diferentes.A liberdadea liberdadedeserdiferente.
Apesar de diferentes, todos tm grandes e intensos
sentimentos e sentem faltada vida em comunidade.
Entretanto, o desenvolvimento do capitalismo
mostra que tanto a liberdade quanto as diferenas
entreosindivduossoiluscs. Por
um
lado,oforta
leeimenlodoEslado;poroutro,aproduodagrande
indstria. Ou seja, as propostas iniciais do libera
lismodevem ser revistas, necessrio forta lecer o
Estado e limita r a liberdade individual, j que a
fraternidade ainda no foi possvel. Estamos no
sculo XIX e a realidade poltica ps revolues
burguesas mostra isso.
Por sua vez, o romantismo se desatualizade
vez. pois rcpresentava a velha ordem social que est
agora perdida para sempre. O desenvolvimento e a
consolidao da ordem burguesa mostram isso
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concretamente e a massificao na qual se sustenta pelo correspondente conjunto de ideias que a
cada vez mais a produo de mercadorias acaba
com
representa-e,
ao
mesmo tempo, como o conceito
ou
qualquer dvida sobre a possibilidade da manu- conceitos) produzido s), modificam a prpria
teno das ideias romiinticas. experincia.
Os homens percebem, ento, que no so to Uma particularidade da categoria subjetivi-
livres e to diferentes como pensavam. Essa perple- dade deve ser indicada neste momento, pois serve
xidadeabrecampoparaodesenvolvimentodcexpti- tambm de
parmetro para a anlise qlle estamos
cacs sobre a subjetividade, suas caractersticas, fazendo. Ao se constituir em conceito terico, a
constituio, origem, pela via melhor identificada subjetividade delimita o conjunto
de
experincias
do
naquele momento histrico como capaz de levar a sujeito. E, nesse conjunto, est a experincia
do
tais explicaes - a cincia como definida pela conhecimento, inclusive a experincia
do
conhe-
mod
ernidade, o que d origem
criao
da
psico- cimento sobre as prprias experincias subjetivas.
logia como cinc ia. Essa complexidade evidenciada
no
seu surgimento
Aomesmotcmpo,aqueleindividuoparaquem pela modernidade acompanhar todo o desen-
se pregou a poss ib ilidade da liberdade precisa ser volvimento das cincias humanas, em especial a
controlado e treinado, para que esteja a servio do psicologia
capital. O Estado passa tambm a ter questes sobre O mesmo momento histrico que possibilitou
as
individualidades. as subjetividades, no sentido de a nfase
no
individuo e sua subjetividade impe.
adequ-las s suas do Estado, que representa o contraditoriamente, a necessidade
da
objetividade
do
capital e a burguesia) necessidades. Dessa fonua, o conhecimento. O individuo que tem livre 3rbtrio e
novo conheoderemos observar, atraves
do
desenvolvimento da lismo expressa, ento,
as
contradies especificas
psicologia, como a construo desse conceito terico desse momento histrico. E, a partir
de
seu sur
gi-
ao
mesmo tempo est contextualb:ada historiea- mento, vai perpassar vrias outras questcsedebates
menle - no sentido
de
expressar as indagaes quesurgiroaolongododesenvolvimentodocapita_
oriundas
do
desenvolvimento da base material do lismo, tais como empirismo x racionalismo; idealis-
capitalismo e responder a elas dentro de possibili- mo x materialismo; metafisica x fenomenologia;
dades colocadas historicamente por essa realidade e metafisica x dialetica.
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Aafirmaodosdoiselementos,oobjetivoeo fsica) relativas s transformaes da natureza
subjetivo, corno expresso de experincias historica- (transformao dos continentes; teoria da evoluo
mente constituida'>, cada urna com sua importncia, das espcies: descoberta das partculas do tomo em
representou
um
avano na compreenso do homem movimento). E o sculo da consolidao da expe-
sobre si mesmo, sobre mundo que o cerca e sobre a rincia da subjetividade privatizada
e,
ao mesmo
possibilidade de conhecer e agir sobre esse mundo. A tempo, da crise dessa subjetividade.
no compreenso, entretanto, da unidade eontradi- Todos esse fatores histricos contribuem,
tria entre as duas experincias - de incio impos- ento, para a
sistem tiz o do
pensamento
svel por limites histricos, mas a partir do sculo dialtico, com Hegel e Marx, no qual a realidade da
XIX j possvel - implicou em limites para esse transfomlao constante
de
todas as coisas a partir
da
conhecimento e essa compreenso do homem.
com
contradio que encerram expressa. Nesse sentido,
consequncias presentes ate hoje. Parte das questes o pensamento dialtico representa a possibilidade
de
postas pela chamada ps-modernidade podem ser
superftlj o da
separalj'o dicotmica entre objeti-
entendidas eomo resultado dessa forma de eolocara vidade e sub
jetivid de
, a partir da categoria
questo na modernidade. contradio. Nessa perspectiva, objetividade c
I.
modernidade, no entanto, encerra uma subjetividade continuam a ser afinnadas na sua
riqueza
de
questes. Como fruto
de
um perodo importncia e especificidade, enquanto contrrios;
histrico altamente dinmieo e produtivo, fundado mas,
ao
mesmo tempo, so afinnadas enquanto
em contradies prenhes de possibilidades de unidade de contrrios, cm movimento de transfor-
superao, podemos dizcrque a modernidade no s mao constante.
coloca de fonna contraditria a questo da relao Assim, podemos dizer que com o surgimento
entre a objetividade e a subjetividade, mas, tambm do capitalismo e da modernidad
e,
enquanto
C{)njunto
contraditoriamente, coloca a possibilidade de sua de idias que representam essa realidade histrica, a
superao. Isso ocorre no mesmo sculo XIX. com o subjetividade ganha uma (onna histrica especifica e
pensamento dialtico. determinada, seja enquanto expcrillcia humana,
Tambm aqui podemos perceber o pen- signo ou conceito terico. E podemos diler tambm
sarnento produzidO como expresso da realidade que, pcla riqueza de contradies desse momento
histrica concreta.
Se
a sistematizao da C{)ncepo histrico, a modernidade coloca questes profundas
dialtica no era
n e c e ~ s r i
ou possvel nos sculos a respeito da subjetividade, quest s qu e, contradito-
anteriores,
em
quc as novas foras produtivas se riamentc,voparaalmdomomentohistricoqueas
desenvolviam e se impunhMn cada vez com mais engendrou. Estas referncias estaro presentes na
fora, neste seulo XIX a nova situao
do
eapim- anlise que apresentamos a seguir, um breve histrico
li5mo traz a possibilidade
e
se expressar a eontra- da psieologia e a psicologia na ps-modernidade
dio da realidade em um pensamento organizado,
trazendo para ode bate uma nova fonnade concebera
realidade e seu movimento, o homem nessa realidade
e o prprio C{)nheeimcnto
o
sculo XIX e o sculo
do
apogeu e das
primeiras crises do capitalismo. o sculo das
grandes transformalj'es; algumas que se consolidam,
com a nova ordem econmica e politica burguesa, e
outras que se anunciam, com
as
propostas socialistas
que
j
questionam a ordem burguesa. o sculo das
descobertas cientficas (na geologia, na biologia, na
tegori
subjetivid de
n
~ i s t r i d psicologi
No mbito da psicologia, a categoria subjetivi
dade vai aparecer explcita ou implicitamente
enquanto
seu
objeto, objeto esse que expressa questes
postas historicamente, como assinalamos acima. E a
questo da relao objetividadc-subjeth'idaclc vai
aparecer na configurao desse objeto e na defi nio
de formas para apreend-lo. Ser interessante
observar que esses dois aspectos se articularo na
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conslruodas diferentes teorias da psicologia; assim,
poderemos falarda subjetividade enquanto objeto
da
psicologia e da questo metodolgica de relao
entreobjctividadc c subjetividadesim ultaneamente.
Inicialmente essas questes aparcccm na
contraposio psicologia experimental psicologia
filosfica. Mas, em seguida, vo se expressar de
forma panicular em cada teoria da psicologia quc
surgc. Apesar das especificidades de cada teoria,
apesar das diferenas entre elas, entretanto,
unI
aspecto comum pcrmanece: a separao entre
objetividade e subjetividade.
Wundt, o fundador da psicologia
a expressAo
clara da contradio fundamental qu e d origem a
essa cincia. Seu m ior mrito talvcz csteja,
exatamcntc, em tcr evidenciado a questo para a
psicologia.
Tambm Wundt sofre as influncias dosculo
XIX
e suas ambiguidades: apogeu e primeiras crises
do capitalismo; subjetividade privatizadae sua crise;
positivismo e materialismo dialtico; monismo e
dualismo; ent
re outras. Refletindo v r i a ~ dessas
questes, podcmos dizer que Wundt, na verdade,
funda duas psicologias: uma psicologia experimen
taI
objetiva. que procura explicar a unidade mente
corpo (tentativade scr mon ista) e que procura descre
ver o funcionamento da subjetividade dc forma
objetiva. E uma psicologia, que ele chamou de social,
atravs da qual buscava recuperar a subjetividade
que pareia impossvel de ser alcanada pela psicolo
gia experimental: essa subjetividade complexa
seriam os processos volitivos e a aperceplio,
processos de uma conscincia dinmica e ativa que
devcria ser estudada com outro mtodo.
A panir de Wundt as duas perspectivas sero
trabalhadas sem se unificarem. As principais corren
tes da psicologia representam, de certa forma, uma
ou outra perspectiva.
A
anlise dc Figueiredo 1987)
sobre Wundt aponta
ParaWundt, o domnio da psicologa era
vasto e comple
xo.
pOrque explicar e compreen
der a experincia imediata exigia tanto uma
aproximao com as cincias naturas como
uma aproxima:io com
a
cincias
da
sociecofisica'
as dificuldades eram mensas e os
disclpl.dO de Wundt. em sua maioria, desisti
ram de acompallhar o mestre e foram procurar
solues menos complcadas. embora. talvez.
muito mas pobres. (Figueredo. 1987. p.60)
'
Podemos, ento, dizer que o surgimento da
psicologia como cincia coloca, atravs de Wundt,
de fonna cla
ra
os desafios postos para uma cincia
que se propunha ser objetiva
no
estudo
da
subjetivi
dade. A continuidade da psicologia revelaa dificul-
dade
de
enfrentar esses desafios.
Na sequncia, o estrutural ismo de Titchener
radicaliza na tentativa de conseguir objetividade na
descrio da subjetividade atravs da introspeco.
O funcionalismo vai em buscadaobjetividade nas
re
laes do organismo e da
o ~
com o meio,
atribuindo conscincia (ponanto subjetividade)
uma funcionalidade e
um
dinamismo pragmticos
O b
eh viorismo critic
essas tcntativas
porque, afinal,
tm
muito pouco de objetividade.
Muda o enfoque utilizando critrios
de
objetividadc
j:l.
para a definio
do
objeto e no apenas para
seu
estudo.
Em
vez da conscincia deve-se
eSlUdar
o
comportamento, qu e
o nico aspecto da subjeti
vidade que pode ser tornado de maneira objetiva.
A gestalt, sob influncia da fenomenologia,
redefine a noo de conscinciae prope a superao
do objctivismo analitico que no se adequaria a
abarcar uma subjetividade globa
l.
A fenomenologia
restaura a nfase
na
subjetividadee questiona a idia
da possibilidade de uma objctividade sem o sujeito.
A psicanlise tem uma aparncia inicial
hibrida de varias influncias, mas termina por
enfatizar
um
subjetividade revista e submetida ao
inconsciente.
o
cognitivismo mantm o carter pragmtico
do funcionalismo e procura descrever as cstruturas
cognitivas que se interpem entre o individuo e o
meio. Restringe, dessa forma, a subjetividade
cognio e submetc-a a mtodos de estudo objeti
vistas.
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.
Algumas imp licaes
para l
noo de sujeitoe
subjetividade podem ser retiradas desse desenvolvi
men to da psicologia. Resulta da separao entre
objetividadc e subjetiv ida
de
uma naturalizao tanto
dos aspectos subjetivos como dos aspectos obj etivos,
que, em ulti
ma
instncia, parecem indepe ndc r uns
dos outros. A partir do momento em que so tomados
como
se fossem independentes, passam a ser vistos
como
aulnomos.
com
movimento prprio c naturaL
Caberia psicologia estabelecer, da melhor maneira
possvel , os
meca
nismos de intc rao
ent
re os
aspectos subjetivos e os aspectos objetivos.
Tanto nas vises o bjetivistas, como nas subje
tiv istas da psicologia, a separao e a natura lizao
dos
aspectos
ocorre. E
ao
explicar
a interao entre
os do is tipos de fa
tores, as d iferentes teorias deixam
isso claro. Assim, ou se absol utizam os fatores objeti
vos, submetendo a subjetividade e com ela o sujeito
li
real idade externa
a
ele, nas vises objetivistas.
Ou
se autonomizam ilusoriamente a subjet ividade e o
sujeito, tornando-os absolutos nas vises subjetiv is
tas.
No
primeiro caso resulta que a su
bj
etividade
desconsiderada na sua complexidade, seja
por
sua
redu
o
ao compo rtamento observvel ou aos
aspectos racionais-cognitivos.
No
segun
do
caso. a
subjetividade
ilusori
amente
t
om
ad a
em sua
complexidade.
j
que, embora apresentada como
complexa, temlina por se r limitada por uma reali
dade host
il
que impede sua rea
li
zao.
o
conhecimento psicolgico consti
tuiuse marcado
por
dicotomias:
ob
j
etivid
ade e
subjetividade. corpo e mente, naturale cultural,
objeto e suje i
to.
razo e elTlOllo
individuo
e
sociedade, exclusio e
inekisilio
. Com isso. o
sujeito da psicologia
oscila
entre uma
objetividade observvel e uma subjetividade
inefvel: (Molon. 1997. p. 21)
Apesar
de percorrerem
caminhos
opostos,
pode-se dizer que as duas
venentes
acabam por
impor uma noo de subjetividade comum que histo
ricamente tem influenciado o prprio desenvolvi
mento
da
experincia concreta de subjetividade.
Trata-se de uma subjetividade natura l, constituda de
maneira individual no enfrentamento da objetivi
dade. Isso aparece na discusso de fenmeno psico
l
gico
feita por Boek ( 1997), que mostra que,
independentemente da teoria que ilumina o psic
logo, ele tem uma noo de indivduo prpria das
aventuras do Baro de Munchhausen.
-o homem colocado na viso l
iberal
.
pe 1sado de
forma
descontextualizada , cabendo
8
ele a responsabilidade
por
seu cresdmento e
por
sua sade psicolgica.
Um homem qu
e
'puxa pelos seus prprios cabelos e sa i do
pn
ta
no
por
um
esforo prprio'.
Um
homem
que
dotado de capacidaciese
possibilidaOe$que
lhe so inerentes, naturais. Um homem dotado
de uma nalureza humana que lhe garante, se
desenvolvida adequadamente . ric:ase variadas
possibilidades. sociedade apenls
o
locus
de desenvolvimento do homem. 1 : vista como
algo que
cootribLJ ou
impe6e o 6esenvolvimento
dos aspoctos na tura is do homem. Cabe a cada
um
O
esforo necessrio para que a sociedade
seja um espao de incentivo ao seu desenvolvi
mento . s condies esto dadas. cabe a cada
um
aproveM-Ias
(Bock.1997.
p.
277)
uma viso que est presente, de alguma
fo
nn
a, nas vrias teorias da psicologia e orienta a
concepo e a atuao dos psiclogos
em
relao ao
fenmeno psicolgico. Mas uma viso que, ao
mesmo tempo, ex
pr
essa e ratifica
exper
incias dc
subjeti\lidade presentes em
uma
soc iedade que ainda
tcm espao para a viso liberal
c
para a abordagem da
subjetividade com uma viso cientificista e objeti
vista.
-o conhecimento psicolgico passa a
ser postulado ao
longo
do sculo
XX como uma
questao fortemente creditada das redues
metodolgicas indispensveis que a
psicologia
fez.doquedecorremasreduesconce ituais
Psicologia, ao operar essa s u j u ~
ao, reduziu o sujeito cognoscente ao sujeito
emp i
rico
, aconscindacognio.asubjetivi
dade objetividade, o humano ao observvel
Esse
pr
ocesso de reduao levou exdusoo do
objeto inicialmente atribu
ido
a ela. a saber, a
experincia da subjetividade
. (Molon,
1997,
p.
ll)
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Entretanto, necessrio destacar
que
as
contradies que a modernidade encerra implicam
cm outras possibilidades que surgem na histria da
psicologia, mas em uma histria no oficial
(Molon, 1997). O pensamento e o mtodo dialticos
vo aparecer como uma nova proposta, inaugurada
por Vygotski a partir, exatamente, da crtica
separao entre objetividade e subjelividade e da
considerao da historicidade corno caraeteristica
fundamental de todas as
e o i ~ s
de acordo com essa
oulra perspectiva metodolgica.
Pela considerao do carter histrico do
movimento social no qual esto inseridos os indi
vduos e por mcio do entendimento de que esse
movimento, tendo por base a contradio, um
processo continuo no qual se do unidade e luta de
contrrios, transfornJao da quantidade em quali
dade e superao (negao da negao), possvel
abordara realidade e o homem sob um outro enfoque.
A subjetividade enquanto experincia humalia pode
ser tomada com uma outra confOlmao a partir de
um mtodo que entende a relao entre objetividade
e subjetividade como uma unidade de contrrios, em
movimento de transfornJao cnnstante.
Tambm a teoria social resultante do materia
lismo histrico e dialtieo refora essa possibilidade,
na medida
em
que representa uma viso alternativa
(oposta) viso liberal de homem. O homem, no
materialismo histrico e dialtico, s
indivdu
o,
ou
melhor, s se constitui indivduo porque
social e
histrico. No h um homem universal, no h um
homem que se reali
.e
individualmente. H homens
concretos, determinados pela realidade social e
histrica e, ao mesmo tempo, detenninantes, atravs
da ao co1etiva, dessa realidad
e.
o marxismo representa, ento, desde seu
incio, a contraposio viso liberal. E, metodolo
gicamente, reprcscrlta uma alternativa viso
dominante objetivista, que reduzia ou exclua a
subjetividade do processo social ou acolocava corno
uma essncia do sujeito individual.
Na psicologia, essa viso representou a possi
bilidade de entender o sujeito e a subjetividade corno
produes histricas, na relao dialtica com a rea-
'
lidade objetiva
A psicologia scio-his trica
propor, ento, a partir de Vygotski, que se estudem
os fenmenos psicolgicos corno resultado de um
processo de constituio social do indivduo, em que
o plano intersubjetivo, das relaes, convenido, no
processo de desenvolvimento, em
um
plano intra
subjetivo. Assim, a subjetividade constituda
atravs de mediaes sociais, dentre
as
quais a
linguagem a que melhor representa a sntese entre
objetividade e subjetividade,j que o signo
6,
ao mes
mo
tempo, produto social que designa a realidade oh
jetiva,
construo subjetiva compartilhada por
diferentes indivduos e construo subjetiva individual
que se d atravs do processo de apropriao do
significado social e atribuio de sentidos pessoais.
En
el
tralamiento de todos los
proble-
mas sellalados, Vygotski parte de un
hombre
que.
inserto
en
Sl
ClIHura y en sus relaciones
sociales. est permanentemente i n t e m a
l ~ n o
formas
concretas de U actividad intera ctiva
las que se convierten en sistemas de signos
que mediatizan y organizan el
funcionamiento
integral de Iodas sus funciones psi quicas. El
desarronode los sistemas de signos, entre los
rualessedestacadeformaparticularellenguaj@.
sirve de
base para el desarrollo
de
operaciones
intelectuales cada
vez
ms complejas, que
se
apoyan
no
solo en
los
sistemas actuales de
oomunicaci6n deI hombre. sino tambin. y de
maneraesencial.enlacontinuidadhistricadel
desarrottocultural. posible
solo
por los distintos
sistemas de lenguaje en que
se
sintetizan
los
logros esencialesda la cultura a travs delUempo,
g a r a n ~ z a n d o
la
continuidad
de su progresiva
eomplejidad en una dimensin hist6rica :
(Gonzlez Rey , 1996, p. 64)
A partir de Vygotski, psicologia tem a
possibilidade de um caminho que recupera como seu
objeto a subjetividade. Embora essa categoria no
aparea de forma explicita cm sua obra, mesmo
porque Vygotski dialogava com uma psicologia
dividida na conceilllao de seu objcto, como apon
tamos anteriormente, possvel reconhecer quc essa
autor fala de um sujeito ativo e histrico, com uma
conscincia construda a panir de mediaes sociais,
na qual se inclui o fator subjctivo por excelncia. a
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base afetivo-voliliva-' (Vygotski, 1991). A possibi
lidade de considerar a afetividade tambm na sua
constituin social e histrica recupera para a psico
logia a subjetividade comoobjeto, numa viso cienti
ficaaltemativae sem o risco de reduo do conceito.
-Afirmando a
c o n s t ~ u i l i o s 6 c i o - h i s t 6 r i c a
dos processos psicolgicos. Vygotsky no perde
o sujeito nem a subjetividade. pois
osfe menos
psicolgicossorela6essociaiseoovertidas
no
s u j e ~ o
pela mediaao semi6tica
s fenmenos psicolgicos so
mediados e no imediatos, so consmuidos
nas II pelas relaes sociais. porm nao sao
simplesmente produtos destas
Nesta Pf rsPf ctiva. o sujeito
quase
social ,
ele nao apenasexpres.sa o social e nem
o coloca dentro de
si
em situaes artificiais,
mas
na
relaliocom os outros e pareia.
na
linguagem e por ela que
se
constitui sujeito e
constituinte de outros sujeitos: (Molon, 1995,
p.IS3)
Apesar de a psioologia scio-hislric.a proposta
por VygolSki no ter seguido. por condies histri
cas,
um
desenvolvimento continuo, a partir do final
da dcada de
70
ela comea a aparecer
no
Brasil
como uma alternativa
na
psicologia, representando
teoricamenle a
revi:>o
que a psioologia social buscava
fazer para dar couta de explicar o sujeito com o qual
se deparava. A realidade social e histrica no
s
do
I3rasil, mas de toda a Amrica
La
tina, impunha essa
necessidade de compreender os individuos como
seres sociais e histricos, especficos, portanto, dessa
realidade e que no eram explicados com as teorias
que os consideravam de maneira a-histrica e univer
sal. Lane, em vrios artigos,
enfati7 a
o modo como a
psicologia social nessa poca questionou a viso
dominante de homem presente nas teorias tradicionais e
buscou novas alternativas tericas e
m e t o d o l g i c a ~
encontrando
no
mtodo c
na
teoria materialista
histrica e dialtica a possibilidade
de
superao
da
viso liberal c objetivista de sujeito. (Lane c Codo,
1985. Lane e Sawaia, 1994)
A histria da psicologia mostra, ento, como a
fomlulallo terica em tomo da categoria subjeti
vidade produto e,
ao
mesmo tempo, produtora
da
experincia de subjetividade, na medida em que
revela e explica o sujeito prprio de cada momento
histrico, expressando as contradics presentes na
realidade.
Nesse sentido, veremos que
da
mesma fonua
que a modernidade apresenta ento possibilidades
diversas, cumu resultado das cuntradics histricas
que engendram o conjunto de fomlUlacs que essa
concepo encerra, a ps-modernidade apresenta
se como a manifestao histrica do capitalismo
na
sua fase aluaI. Veremos que esto presentes nas
concepes ps-modernas idias sobre o sujeito e a
subjetividade que resultam
de
criticas a concepes
d e s e n v o l v i d a ~
pela modernidade. Embura pudessem
de
inicio ser saudadas como a real superao dos
limites presentes nas concepcs modernas sobre
sujeito e subjetividade, pode-se dizer que significam,
na verdade, o risco
de
negao
ou d e s c a r a c t e r i : a l ~ i o
total do sujeito, sua volitizao , fenmeno alis
muito prprio de tempos ps-modemos. Ao declarar
a falncia de todas
as
verses da modernidade,
notadamentc a liberal c a marxista. a ps-moder
nidade trouxe o risco de
se
jogar fora o beb com a
gua do banho . A breve anlise das idias ps
modernas e
de
suas implicaes para a psicologia,
apresentada a seguir, levanta algumas considera1'es
sobre isso.
A ubjet
ividad
ena ps mdem
idade
Entendendo-se a ps-modernidade como um
conjunto de idias que emerge
de
mudanas sociais,
econmicas e polticas, podemos encontrar nesse
conjunto
duas
grandes posies
Um prime iro
enfoque define a ps-modernidade como uma nova
condio que
se
caracteriza por alguns pontos
hsicos reveladores de modificaUes da
~ o n d i o
anterior, os quais implicam a reviso da noo de
histria como um processo. Um segundo, que
tambm aponta modificaes, as v, entretanto,
como decorrentes de um processo histrico, deven
do
ai ser entendidas, em seu carter histrioo e ideo
lgico.
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A primeira forma do debate aponla, ento, a
srie
de modificaes
que expressariam
o
surgimento dc uma nova condio e que passam J1 Clo
reconhecimento de que o desenvolvimento do
capitalismo, com suas caractersticas intrnsecas,
leva a uma realidade social, econmica e politica
nova
totalmente atrelada
e
dependeme
do
desenvolvimento lecnolgico e do desenvolvimento
dos signos e smbolos_ Uma nova sociedade, cujas
leis
nilo
so mais as da luta de classes, mas as da
produo de smbolos e t e c n o l o g i ~ a c o n ~ l i d a o
de uma sociedade tecnolgica, com o
fim
das classes
sociais e da dicotomia capital-trabalho_
Tal sociedade requer ateno a suas novas e
mltiplas caractersticas, devendo-se garantir que as
representaes sobre ela respeitem toda a
complexidade decorrente do avano tecnolgico e
toda a gama de diversidades que se abre com o
fortalecimento e valorizao da produo de signos_
Isso coloca a necessidade de se declarar o
fim
das
metanarrativas cm todas as suas formas, j quc as
metanarrativas buscam explicaes nicas para a
diversidade_ Essa realidade atual estaria, ento,
revelando o
fim
das ideologias; das totalidades, dos
conceitos gerais (tais como sociedade, modo de
produo); o fim das teorias sociais. E indicando que
a anlise
deve ser a das especificidades de cada
sociedade e deve ser plural.
Do mesmo
modo
as
idias
de histria,
p r o g r e s ~
transfonnao da sociedade no cabem
mais,
j
que, de alguma forma, remetem a nocs
totalizadoras que no so encontradas na atual
condio complexa c diversa. Projctos coletivos, em
nome de nocs totalizantes, no se sustentam, no
tm sentido.
Tais proposies tm em sua base o questio
namento da idia de cincia e razo como nicas
referncias.
Embora a racionalidade cientfica
esteja na base do desenvolvimento tecnolgico, a
complexidade da sociedade que ele engendra e que se
expressa atravs do desenvolvimento do signo vai
alm dessa racionalidade, adquirindo ate mesmo
alguma irracionalidade. Os parmetros, ento,
devem se ampliar.
Como representantes desse primeiro enfoque
podemos encontrar Lyotard e Baudrillard, conf
onne
anlise de Peixoto (1997) que mostra detalhadamente
como as caractersticas acima elencadas aparecem
nas obras desses dois pensadores.
Em
sua anlise,
Peixoto diferencia esses dois pensadores de outros do
mhito da chamada ps-modernidade
em
vrios
aspectos; entre eles. exatamente a noo de histria
c, cm decorrncia. o entendimento da relao das
idias da ps-modernidadc com essa noo. Em relao
a Lyotard e 8audrillard. mesmo reconhecendo sua
conlribuio ao entendi mcnto deste perodo, particu
larmente este ltimo que, segundo sua compreenso,
fornece parmetros importantes para anlise do papel
dos meios de comunicao, a autora
critica
"Lyo
tarcl
e Baudrit lard. IlOstextosjilcita
dos, cada um a seu modo. declaram
na
emer
gncia de uma condiao ps-moderna, a
ralncia
do conhecimento. da r a ~ a o ao
mesmo
tempo em que
in.dicam
que as unicas explica
es posslveis e permanentes sao aquelas
contidas na sua concepao ps--modema .
A conccpao ps-moderna aqui sa
c r c t r i ~ como a teoria da ruina universal do
conhecimento, tio terica e Io universalizanta
como todas as outras declaradassob suspeita.
Nisso reside sua principal incoerncia e
ponto important
e na
dif
erenciao dos outros
autores trabalhados
nesS