sr cheda, uma dádiva para o grupo primavera

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uma dádiva para o Grupo Primavera Sr. Cheda Entrevista concedida pela revista “A terceira idade”. v.23 nov.2012 nº55 p.77-95.

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Um pouco sobre a vida desse jovem voluntário de 84 anos.

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Page 1: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

uma dádiva

para o

Grupo Primavera

Sr.Cheda

Entrevista concedida pela revista “A terceira idade”.

v.23 nov.2012 nº55 p.77-95.

Page 2: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Quando chegou a minha vez de ir para a escola, tinha uma escola rural onde estávamos e uma na cidade vizinha, distante uns oito quilômetros, tinha um ginásio particular. Fiz os três anos da escola rural e minha mãe não queria saber, tinha que estudar!”

“Fui ao ginásio. Ia a cavalo, a pé, de bicicleta, de qualquer jeito, mas tinha que ir.”

“Passei minha infância em Ara-mina. A gente vivia ali na rua com a molecada. Jogava bola, ia caçar passarinho com estilin-gue. Era realmente aquela vida rural, bem rural.”

INFÂNCIA

“Por força do meu nascimento, minha mãe dizia que eu era um Cheda para ela, uma dádiva de Deus. Isso, Cheda significa dádiva de Deus. Conto isso por ser significativo.”

“Quando minha mãe ficou grávida de mim, ela já tinha perdido dez filhos. Isso gerou muito sofrimento”

Page 3: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Nessa época, era tempo de guerra, tudo muito difícil, tudo racionado. E mesmo depois da guerra, porque o trigo vinha da Europa.”

“Eu tinha 14 anos e meio e vim pra São Paulo. Sozinho, fiquei numa pensão no Brás, na Rua Vasco da Gama. Na época, o único curso noturno que havia era o de Contabilidade. Eu me ins-crevi nesse para poder trabalhar.”

JUVENTUDE

“Vocês não imaginam como era ficar na pensão no domingo. De vez em quando, a gente passava a semana na casa de algum conhecido ou parente para ver se convidavam para o almoço de domingo.” - Olha, estou aqui. “ era assim mesmo.”

“Quando terminei o ginásio, disse para minha mãe que queria ser alfaiate. Ela disse”_não, você vai pra São Paulo, vai estudar em São Paulo.”

Page 4: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Os primeiros seis meses, em São Paulo, foram de adapta-ção, e, depois de seis meses consegui um trabalho no banco. Sabe fazer o que? Entregar carta na rua. Imagina, saí de Aramina para entregar cartas nas ruas de São Paulo.”

“Eu era bem dedicado. Come-cei a entregar cartas e não ficava fazendo rodinha na rua.”

“Pelo fato de datilografar bem, eu passei logo para o controle de caixa, datilografava envelo-pe para os outros, e depois fui para o controle de caixa, até chegar a chefe do controle de caixas, com vinte anos.”

“Eles começaram a perceber, eu terminava o trabalho, não ficava enrolando e datilografa-va meus envelopes. Eu aprendi lá em Aramina a datilografar. Isso me ajudou muito porque me possibilitou passar para o traba-lho interno do banco.”

TRABALHO

Page 5: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Nós passamos a assistir uma cooperativa de pessoas defi-cientes. O nome é ”Cooperati-va da diversidade humana.”

“Na minha casa, pela forma do meu nascimento, pelo espírito dos familiares que eu tive, somos agradecidos a Deus pela minha vinda. O espírito em casa sempre foi de amor ao próximo e de gratidão a Deus.”

“O trabalho do Rotary foi uma continuidade daquele espírito que eu tinha sempre e que me levou a entender que amar ao próximo era servir, não é só amar, você tinha que servir. E o espírito do Rotary é servir, então, caiu para mim de mão cheia.”

“É uma cooperativa que presta serviços de finalização gráfi-ca, como manuseio de mala direta para agências de cor-reio, serviço de envelopamen-to, encarte. São pessoas que tem têm vários tipos de defici-ência, inclusive mental.

O grupo faz artesanato e esta-mos esperando uma oportunida-de para mexer com essas coisas. Enquanto isso, separo e digito nota fiscal paulista. Pra mim não tem problema faço com prazer e alegria.”

“Bem, minha semana é dividida assim: segunda-feira vou ao Bol-drini, quarta-feira vou ao Grupo Primavera. É um grupo que tem por objetivo estimular a autoesti-ma da mulher. Há um espaço para que as crianças permane-çam fora do período escolar, ficam lá só com mulheres duran-te o dia.

VOLUNTARIADO

O

Page 6: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Eu senti que poderia dar um pouco mais de mim. O tempo que eu dedicava a ela, eu po-deria dedicar a alguém.”

“Quando minha esposa faleceu, eu e meus filhos passamos no nosso apartamento para conver-sarmos e minha filha perguntou “_ Papai, eu não vi a aliança da mamãe. Eu gostaria de ficar com ela” eu disse “_Claro minha filha, está aqui.” meu outro filho disse

“_Papai, e aquela medalhinha que a mamãe usava? Eu gosta-ria de guardar de lembrança” fui buscar a medalha e disse “_Está aqui meu filho”. Quando meu outro filho disse “_Tá bom, tá bom eu fico com o velho!” ((risos)).

FAMÍLIA

Ele morava em um prédio de apartamentos e sem eu saber ele já havia alugado outro, em outro andar, para que eu ficasse perto dele. “

Page 7: Sr Cheda, uma dádiva para o Grupo Primavera

“Eu não perdi ainda o senso de capacidade, desculpe-me, estou falando de mim para dar sua resposta e não para me vangloriar, absolutamente.”

“É índole que tenho, e eu faço, aproveite ou não, fiz minha obri-gação. Minha vida tem sido digna, graças a Deus, fico feliz quando posso doar alguma coisa para o outro.”

“Na realidade, eu não me con-sidero com 84 anos, eu me considero jovem.”

O JOVEM CHEDA