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Sobre uma ode anacreonteia São os seguintes os oito primeiros versos da anacreonteia relativa a Eros picado por uma abelha: "Ecoí; -o-' év hiòoiavj y.oifxcí^vjxv fj.íh~~xv 0Í)Y. ÚÒiV , x)l' £Tftó5"/í ' TÒv òáv.-S/cv ~c.-cc/?!íiç òpap.rbv êt v.y.l rí-rac-Sêi? -fòç li.'j y.cài.v KuSrrípav 'Ólwlcí , UZ-ÍSS , SÎ7ÏÎV, . . . Tal a redacção que lhes dou, adoptando a pontuação de Hiller-Crusius (Atiih. lj'r., Lípsia, 1907, p. 355) e de Buch holz-Peppmuller (Anth. aus den I.yr. der Griechen, Lípsia- -Berlim, 192D, p. 5i), a qual reputo expressivamente adequada, mas evitando as formas áticas que, em discrepância com as dóricas dos vv. 5 e 8, empregam nos vv. 2 e 7. Assim pro- cedi baseado na consideração de que este odário deriva eviden- temente do KnçicyJ.ÉTíT-n: de Pseudoteócrito. Desse poemeto, composto em oito hexàmetros, tirou o poeta anacreonteu uma canção convival, assim como, por exemplo, do fragmento onde Arquíloco afirma a sua indiferença pelas riquezas de Giges (frag. xxn, Diehl), saiu a anacreonteia Ou \ici pehi zà Y-jytn. . . Sendo essa, decerto, a origem do lù'os picado por uma abelha e se a redacção dele, no único ms. onde subsiste, insere alguns dorismos, é intuitivo que, inicialmente, pelo autor, foi, para toda a ode, empregada a y.oivri literária de Siracusa e que só descuido ou ignorância de sucessivos copistas deixou perder, ora numa, ora noutra palavra, a feição dórica.

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Sobre uma ode anacreonteia

São os seguintes os oito primeiros versos da anacreonteia relativa a Eros picado por uma abelha:

"Ecoí; - o - ' év hiòoiavj

y.oifxcí^vjxv fj.íh~~xv

0Í)Y. ÚÒiV , x)l' £Tftó5"/í '

TÒv òáv.-S/cv ~c.-cc/?!íiç

òpap.rbv êt v.y.l rí-rac-Sêi?

-fòç li.'j y.cài.v KuSrrípav

'Ólwlcí , UZ-ÍSS , SÎ7ÏÎV, . . .

Tal a redacção que lhes dou, adoptando a pontuação de Hiller-Crusius (Atiih. lj'r., Lípsia, 1907, p. 355) e de Buch holz-Peppmuller (Anth. aus den I.yr. der Griechen, Lípsia--Berlim, 192D, p. 5i) , a qual reputo expressivamente adequada, mas evitando as formas áticas que, em discrepância com as dóricas dos vv. 5 e 8, empregam nos vv. 2 e 7. Assim pro­cedi baseado na consideração de que este odário deriva eviden­temente do KnçicyJ.ÉTíT-n: de Pseudoteócrito. Desse poemeto, composto em oito hexàmetros, tirou o poeta anacreonteu uma canção convival, assim como, por exemplo, do fragmento onde Arquíloco afirma a sua indiferença pelas riquezas de Giges (frag. xxn, Diehl), saiu a anacreonteia Ou \ici pehi zà Y-jytn. . . Sendo essa, decerto, a origem do lù'os picado por uma abelha e se a redacção dele, no único ms. onde subsiste, insere alguns dorismos, é intuitivo que, inicialmente, pelo autor, foi, para toda a ode, empregada a y.oivri literária de Siracusa e que só descuido ou ignorância de sucessivos copistas deixou perder, ora numa, ora noutra palavra, a feição dórica.

4 ALUIZrO DE FARIA COIMBRA.

Boissonade (Anacr. Rei., Paris, i83i , p. 5o) e Edmonds (Elegy a. lamb. w. Anacr., Loeb Classical Library, ig3i , pp 64-65, 2a. nm.) divergem dos dois antólogos alemães em mínimas variantes de pontuação e de dialectologia, de todo insignificativas para o objecto deste estudo. No v. 4, Birt--Clarke-Russel (Anacr. Teii Carm., Londres, 1742, p. 138) usaram de dn^Sete em vez de TtaTctyjkk, sem importarem, todavia, mudança ao sentido, pois também em Homero (11., xvii, D72) òor/xuv é empregado na menção de um picar de insecto. Pon­tua Zuretti (Anacr. Odi see., Turim, 1944, p. 5o) de modo pouco aceitável e, empregando o sing. Sár^vhv no v. 4 e o pi. %eïçaç no v. 5, não dá lugar a que se lhe aprecie a coerên­cia. De yj-ïeuç usa também Rose (Anacr. Teii Suffît. -ri(iuk., Lípsia, 1890, p. 35), para fazê-lo complemento directo, em violenta inversão dos vv. 5 e 6 ( [ ) .

Ora, a fonte quase única dos odários anacreonteus consiste no Palatums 23, famoso ms. do see. x, que, segundo certa ver­são, era em i55i de propriedade de João Clemens, quando, em Lovaina, o examinou o grande Estienne ; ou que, noutra hipótese, depois de pertencer, em dias do mesmo século, a Miguel Sophianos, habitante de Ferrara, passara à posse de Francisco Porto, cujo filho, Emílio Porto, foi mestre de língua grega em Heidelberga. Já em 1606 ou 1607 Saumaise (Clau­dius Salmasius) . o versava na Biblioteca Palatina; parece, porém, que só depois de 1584 aí entrou, visto que não figura no catálogo que, para ela, se organizou nesse ano. Doado ao papa Gregório xv, foi, em 1623, num conjunto de 3.56o códs., levado para Roma, donde, em 1797, o conduziram para a capi­tal francesa as tropas napoleónicas.

O ms. chegara a Paris, dividido, como ainda hoje se acha, em dois vols., o primeiro dos quais, num total de 709 pp., compreende as 6r4 primeiras e o segundo as g5 restantes. Presume-se que a dicotomia remonta ao séc. xvu, isto é, ao tempo em que o levaram para a Itália, pois se sabe que nessa ocasião, para comodidade do transporte, foram arrancadas as capas de todos os mss. remetidos ao Vaticano.

(1) Rose, loc. cit.: « . . . ubi cum Bergkio dextra laevis transmuta vi.»

SOBRE UMA ODE ANACREONTEIA 5

Vencido o imperador, exigiram' os Alemães, em 1816, a entrega do cimélio. Todavia, por inadvertência dos requisito-res, só o primeiro tomo foi recebido e regressou a Heidel-berga. Ficou com os Franceses o segundo, o qual tem hoje na Biblioteca Nacional o n.° Suppl. Gr. 384. Nele se acha, em oito folhas, da p. 675 à p. 690 (1), essa colecção de poe­metos da decadência grega, que só por via de uma crítica excessivamente superficial puderam ser atribuídos ao «velho ilustre de Teos».

Rose imprimiu sua colectânea à vista do próprio Palatinus, «ex Anthologiae Palatinae volumine altero nunc parisiensi», conforme faz saber pelos dizeres do frontispício e confirma na p. ív: «Utrumque tomum ipse vidi, alterum Heidelbergae anno i860, Parisiis alterum 1864.» Essa circunstância não confere, entretanto, aceitação maior às formas do seu texto, bem sabidos que são os defeitos e incorrecções do ms., tão numerosos e graves que plenamente justificam os dizeres de Kdmonds (op. cit., p. 2, 2a. nm.): «there is scarcely a song in it that does not call aloud for emendation.»

À graciosa paráfrase composta sobre o motivo dessa ana-creonteia antepôs Castinho (A Lyr. de Anacr., Paris, 1866, pp. io3-io5) um texto que reproduz ad litteram o texto de Boissonade. E, em correspondência com os oito dímetros acima, escreveu estes versos :

Amor, gritando, parte, chorando, vôa ao materno

(1) Rose, op. cit., p. XHi, acrescenta: «in paginis x?r, vel. sec. num. Rom. f. 64) (ubi errore scriptum est 44c>)-652 in foliis octo.» Para os dados relativos ao Palatinus a3 cf. também Waltz, Anth. Gr., Paris, B. L., 1928, J, Introd. e bibliografia aí indicada.

6 ÀLÚ1ZI0 DE FARIA COIMBÍIA

regaço terno, e alça, mesquinho, querella tal:

— O' mãi, soccorroín. ...

Do seu lado, Edmonds, cujo texto não difere do de Boisso-nade, versejou nestes termos:

Once a dar, rose leaves among Young Lore did fail to see

A sleeping bee, And in the hand was stung,

He shrieked, and running both land flying

Sped to fair Venus side And «Mother» cried

«•Out, out, alas! I'm dying».

Birt-Clarke-Russel metrificaram a matéria em cinco difusos dísticos elegíacos, dos quais nos basta considerar esta parte:

Telum illa exiguum, atque ingentes protinus iras Exerit, & tenerum pungit amara Deu/n.

Saucius aí digitum, plorat ; currensque, volansque, Formosa/n ad Venerem, talia triste gemtt.

Heu ! perii,. . •

Das traduções acima, foi feita, como vimos, no séc. xvui a dos editores londinienses ; a de Castilho (i), no séc. passado; pertence aos nossos dias (1912) a feita por Edmonds (op. cit., p. iv). Têm as très, para o v. 6, uma expressão comum, a de

(1) Castilho náo conhecia o grego, segundo declara na Advertência do Fausto. Mas o ter tomado por base dos seus versos uma tradução bem aceita aos do seu tempo não tira à sua o valor documentár io com que a cito.

SOBRE UMA ODE ANACRKONTKIA f

voar: «volans», «vôa», «flying». Há como uma tradição bicen­tenária, provavelmente mais antiga, talvez contemporânea de Estienne, nesta inteligência:— picado pela abelha, Eros não só correu, mas também voou para junto da mãe, a formosa Afrodite.

Não será preciso dizer que essa visão do quadro se rela­ciona com a figura de Cupido como entidade alada; e é claro que se apoia no part, r.i-atôûî, entendido como equivalente a lendo voado. Depois de empregar a forma pariicipial do aor. de ~'J-/M, isto e', âpa^iv, tendo corrido, teria o poeta interposto esse outro aor. para aumentar a vivacidade da cena e melhor dizer da precipitação, do susto, da mágoa com que o deus ofen­dido procura a defesa e o conforto materno. A este respeito são explícitos Buchholz-Peppmuller (loc. cit.): «TrsTsrcrSsi;] Aor. von rã-oy.zi, seit Aristóteles gebráuchlich st. è-TS^^V.» E, presos de cálida admiração, Birt-Clarke-Russel : «Quid elegantius, vel majori cum ivíoyda potest exprimi? Et velis & remis uti dici solet, ait Baxterus : quò velocius properaret, currendo volavit, (Sc volando cucurrit.»

Não participo desse nobre sentimento, que neste ponto me parece destituído de objecto. Não há, na construção examinada, nenhuma ênfase expressiva. O artista enunciou, a meu ver, com a simplicidade própria do género e do verso escolhido, dois actos sucessivos e independentes. Nem creio que seja exacta a nota dos citados antólogos : T.î^xtôûç não me persuade de aqui ter sido usado como aor. méd. de -ÍT0//SÍI, voar, mas de rináwvp.1, desdobrar, abrir.

A despeito da sua riqueza semântica, terá sido pet- uma só raiz nos primórdios do i.-e., e dela, por associações de simila­ridade e de contiguidade; saíram, segundo pretendo, os diversos significados a que serve de base morfológica. Revela, com com efeito, a análise que estes se agrupam em torno de quatro acepções principais, a saber: a de procurar (lat. petere, gr. -stapó?, ser. pátati); a de voar (lat. propitius, gr. rd-op.y.i, ser. pairam); a de cair (lat. pessuin, gr. T.íT.-W, ser. pddyalej; e a de abrir, desdobrar (lat. pateo, gr. TTíTSW-J^I, zd. paZana). Bem próxima da de procurar está a ideia de mover-se celere-mente e isto faz o rio torrentoso. Demais, todos os cursos de água como que se movem sem cessar, procurando os desagua-douros. Desses sentidos terão saido os de voar e cair, pois

8 ALUIZIO DE FARIA COIMBRA

voando nas alturas do ar e' que a ave de rapina, com o olhar penetrante, procura a presa pela «terra de largos flancos» e «longos caminhos»; e, quando a avista, vem precipite cai sobre ela, para empolgá-la. O próprio homem, na aurora dos nossos falares, precisou com certeza, muitas vezes, errando, famélico ou sedento, em planícies esturradas ou álgidas flores­tas, cobrir com o corpo, atirar-se por terra, cair sobre uma baga murcha, antes que a atingisse a mão ávida do companheiro. E, como o processo do voo não se realiza sem o desdobramento das asas, compreende-se, fácil, como de pronto se convocam as ideias de voar e desdobrar.

A diversidade dessas significações se traduz primariamente, em grego, por meio de diferenças do tipo apofónico. Assim, enquanto íréirofxat e -orap.óç exprimem uma oposição assaz fre­quente, e X o , aquele para as formas verbais, este para as for­mas nominais, ire-ro/xai e itêrxuai, presentes de grau pleno, se opõem a aoristos de grau zero, ènzóaw, èmiu-nv, Inzw ; a ideia de cair se exprime, inversamente, com presentes de grau zero ou de vogal reduzida, TUTCTM, IííTVM, KiTváa, e aoristos de grau pleno, STC&70V, dór. ïmrov. Quanto a nerávwiu e seus sincréticos TvtTV/ip.i, imperf. hom. rniva (//., xxi, 7) e imperf. hes. ITUTVOV

(Esc. H., 299), distinguem-se desses pela coexistência de dois graus no presente, o de vogal plena e o de vogal reduzida. Neste último também se encontram lat. pateo, paiera, patidus.

Formas como titT«^«i, presente de-duplicação, alótropo de irÉTOfzai, oferecem, em contraste com a doutrina acima, grau zero onde seria de esperar o grau pleno. Considere-se, porém, que entre os dois presentes ocorre perceptivel gradação de sentido e que esta deve ter exigido diferença no tipo de formação. Duplicada a raiz, pelo modelo delambi, perdeu esta, como de regra, o seu vocalismo normal (cf. yíyvop.ai, lat. gignu). Dis­pensam explanação no-iao^ai e TCOTÉopat, cuja estrutura revela, ao primeiro olhar, origem denominativa.

Se, como parece certo, foi do sentido de voar que nasceu a acepção de desdobrar, abrir, isto é, abrir as asas, mais tarde, a partir de Aristóteles, voltou o aor. i:e-c<xa%iç, de 7tsT«wu//t, à ideia de voar. Tão próximos são os dois sentidos que sempre, quando empregado com valor médio ou reflexivo e em refe­rência a um pássaro, se entendia abrir-se naturalmente como

SOBRE UMA ODE ANACREONTEÏA Q

voar, pois tal é o objecto do gesto de abrir as asas. Para a criatura humana, diversamente conformada, abrir-se é, porém, abrir, estender os braços. Comprovo-o com esta cita de Opiano de Apameia, Cyneg., IH, IOG: -er.-apiévoci •F.eá Tsxvst fxéya yJaíovji yvvxïxsc, abraçadas aos filhos, mulhe­res choram ruidosamente. O valor do perf. méd.-pass., com os braços estendidos, altera-se neste exemplo, em pequena medida, por força da presença de ~spí, elemento que serve de prevérbio aos verbos do sentido de abraçar: TOçt-zátof/at, T.Zçu.o.fj.fiavM, TzefiixiixTG-optai, TîEfié̂ M. Mas não está aqui menos

clara a ideia de estender os braços, porquanto tal gesto se inclui no de abraçar. Note-se, de acréscimo, que na voz activa, com objecto expresso, nenhuma dúvida pode oferecer TiiTávwfj.t. seguido, p. ex., de yjXçet, %eípaç ou x£'F£- Vejam-se, para ilustração, os vv. 522-S>24 da 11., iv, passo que n'Os Elegs. Grs. de Calino a Crates, São Paulo, 1941, p. 169, assim traduzi :

. . . «o pó tombado, ambas as mãos estende aos companheiros, a alma exalando...

A expressão <ZV.M ^etpg... TrsTáowç, tendo estendido as mãos, se vê também empregada na descrição de episódio análogo, em xiii, 549, do mesmo poema.

E pois indiscutível a relação entre •Kt-áwvui e a ideia de alongar os braços para alguém. E, segundo vimos, as formas médias e passivas, de valor reflexivo, não reclamam a expres­são do complemento directo, visto como o têm implícito.

É exacto que a Eros, muitas vezes, alexandrinos e bucóli­cos figuraram eomo divindade alada: --Típóstc w; õpvtc, diz dele Pseudomosco no v 16 do"Epwc <5pa-éTV)c (Áhrens, Buc. Graec. rei., Lípsia, 1909, p. 109; Legrand, Buc. gr , Paris, B. L., 1927, n, p. 137). A asas aludem o poeta anacreonteu do Eros que pede abrigo (v. 18), o do Eros achado entre rosas (v. 3), o do Eros do ramo de jacinto (v. 10). Ninguém o representou, porém, incapaz de correr, de servir-se das suas pernas antropomórfi­cas. Ao contrário, faz expressa menção dessa faculdade o tídário que estudamos. No Eros furtador de mel, desvairado

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pelo ardume do aguilhão, o deusinho salta, bate na terra com os pés. Mostra em seguida à mãe as picadas que sofreu. Nenhuma referência ao emprego de asas. O que bem se entende e muito bem se harmoniza com a figura do herói das duas composições: uma criança frágil, descuidosa e imprudente, que sofre as consequências da própria travessura. Todavia, é sensível que o poeta anacreonteu o pintou mais infantil, mais delicado, mais tímido, mais ingénuo. Não tem afouteza para depredar uma abelheira. Ousa apenas collier uma flor que, entre outras, no rosal, mais o atraiu pela cor, pelo aroma. Picado, corre para junto de Afrodite, em desespero, julgando-se morto, perdido, sem remédio, pelo dardo do insecto. Essa criaturinha simples e assustadiça não dispõe da superioridade do voo. Quando a dor da aguilhoada o pungiu, soltou gritos agudos e, qual o menino a que o artista o equipara, procurou a mãe, veloz e pávido, estendeudhe os bracinhos, fosse para mostrar a ferida do insecto, como fez o K/,pt5^ÍTrr/í;, fosse para que ela o tomasse ao colo.

Tal deve ser aqui o sentido de TTí-íWSíCU, muito mais natural no quadro dessa pequenina tragédia e mais congruente com a infantilidade conferida ao personagem. A exegese que o vê correr e voar ao mesmo tempo afigura-se-me, a despeito da tradição bi, tri ou quadrissecular que a sustenta, pouco menos que extravagante.

Proponho, pois, para os oito primeiros versos transcritos acima, a interpretação seguinte :

Certa ve\, num rosa!, Eros, incauto, uma abelha não viu que ali dormia.

Não viu e ei-lo picado. Num dedinho sentindose ferido,

plangentes brados solta e para a formosíssima Citera

corre, estende-lhe os braços, « Ai de mim», di\-lhe, «o mãe, que

\_estou perdido » . . .

São Paulo (Brasil), Novembro de 1949.

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