sÍndrome colestÁtica familiar – relato de caso

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1 Hospital Servidor Público Municipal SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO BEATRIZ RODRIGUES DE ANCHIETA São Paulo 2015

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Page 1: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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Hospital Servidor Público Municipal

SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

BEATRIZ RODRIGUES DE ANCHIETA

São Paulo

2015

Page 2: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

2

BEATRIZ RODRIGUES DE ANCHIETA

SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal, para obter o título de Residência Médica.

Área: Clínica Médica.

Orientadora: Dra Renata da Silva Moutinho.

São Paulo

2015

Page 3: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

3

AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

São Paulo, ____ / ____ / ______ .

_________________________________

Beatriz Rodrigues de Anchieta

Residente de Clínica Médica

Page 4: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

4

Beatriz Rodrigues de Anchieta

SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal, para obter o título de Residência Médica.

Área: Clínica Médica.

Orientadora: Dra Renata da Silva Moutinho.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________

Dra. Christiane M. V. Boas

_____________________________________________

Dr. Sadi F. S. Navarro

_____________________________________________

Dra. Pérola G. Lerner

São Paulo, 13 de outubro de 2015.

Page 5: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

5

RESUMO

Colestase é definida como uma redução do fluxo biliar. Em crianças, é quase

sempre devido a alterações genéticas. Pode ser por diminuição no transporte,

síntese ou obstrução biliar. As causas são divididas em intra ou extra-hepáticas.

Dentre as causas intra-hepáticas destacamos duas: colestase intra-hepática familiar

progressiva (PFIC) e colestase intra-hepática recorrente benigna (BRIC). PFIC

refere-se a um grupo heterogêneo de doenças autossômicas recessivas da infância,

secundárias a mutações em genes do sistema de transporte hepatocelular

envolvidos na formação de bile e se apresentam com colestase. Já BRIC é uma

doença rara, também de caráter autossômico recessivo, caracterizada por episódios

intermitentes de prurido e icterícia, que evolui sem sequelas funcionais hepáticas. O

objetivo do presente artigo é relatar um caso de síndrome colestática que ficou

internado no serviço de Gastroenterologia do Hospital do Servidor Público Municipal

e comentar os principais aspectos clínicos das colestases intra-hepáticas. Neste

episódio foi realizada uma investigação criteriosa, para a exclusão de outras causas

de colestase.

Palavras chave: colestase, colestase intra-hepática familiar progressiva

(PFIC), colestase intra-hepática recorrente benigna (BRIC).

Page 6: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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ABSTRACT

Cholestasis is defined as a decrease of the biliary flux. In children, it is almost

always due to genetic alterations. It may be decreased in transport, synthesis or

biliary obstruction. The causes are divided into intra or extrahepatic. Among the

intrahepatic causes we highlight two: progressive familial intrahepatic cholestasis

(PFIC) and benign recurrent intrahepatic cholestasis (BRIC). PFIC refers to a

heterogeneous group of autosomal recessive disorders of childhood, secondary to

mutations in genes of hepatocellular transport system involved in bile formation and

present with cholestasis. Already BRIC is a rare disease, also autosomal recessive,

characterized by intermittent episodes of pruritus and jaundice, evolving without liver

function sequelae. The objective of this article is to report a case of cholestatic

syndrome who was admitted to the Gastroenterology service of the Hospital do

Servidor Público Municipal and comment on the main clinical features of intrahepatic

cholestasis. In this episode a judicious investigation was carried out for excluding

other causes of cholestasis.

Key words: cholestasis, progressive familial intrahepatic cholestasis (PFIC),

benign recurrent intrahepatic cholestasis (BRIC).

Page 7: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

7

SUMÁRIO

1. Introdução ...................................................................................................... 8

2. Objetivo .........................................................................................................10

3. Relato de caso clínico ..................................................................................11

4. Discussão .................................................................................................... 14

A. Deficiência ATP8B1 ............................................................................... 15

B. Deficiência ABCB11 .............................................................................. 16

C. Deficiência ABCB4 ................................................................................ 17

D. BRIC ........................................................................................................ 19

E. PFIC e BRIC 1 ......................................................................................... 21

F. PFIC e BRIC 2 ......................................................................................... 22

G. PFIC 3 ...................................................................................................... 24

5. Conclusão..................................................................................................... 26

6. Referências .................................................................................................. 27

Page 8: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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INTRODUÇÃO

Síntese ou obstrução biliar, com consequente retenção de seus

componentes no fígado e sangue1.

Os exames laboratoriais em pacientes com colestase revelam aumento

sérico das enzimas canaliculares (gamaglutamiltransferase – GGT e fosfatase

alcalina – FA) em graus variáveis, elevação das bilirrubinas, predominantemente da

fração conjugada, e dos níveis de colesterol.

O quadro clínico cursa com icterícia, prurido, colúria, acolia fecal, fadiga,

anorexia, náuseas, vômitos, estatorreia e dor no hipocôndrio direito. A absorção

inadequada das vitaminas lipossolúveis acrescenta ao quadro sintomas como

distúrbios visuais e da coagulação e Colestase é falha do hepatócito em secretar bile

devido à diminuição do transporte, osteodistrofia.

Podemos distinguir entre colestase intra- e extra-hepática, dependendo da

localização da alteração do fluxo biliar.

Colestase extra-hepática pode ser causada por atresia e obstrução das vias

biliares. Intra-hepática é resultado de várias doenças, incluindo as auto-imunes e

distúrbios hereditários como colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC) e

colestase intra-hepática recorrente benigna (BRIC)2,3.

Colestase intra-hepática familiar progressiva refere-se a um grupo

heterogêneo de doenças autossômicas recessivas da infância, secundárias a

mutações em genes do sistema de transporte hepatocelular envolvidos na formação

de bile.

Page 9: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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O curso natural da PFIC provoca hipertensão portal, insuficiência hepática,

cirrose, carcinoma hepatocelular e manifestações extra-hepáticas. Três tipos de

PFIC foram identificados4,5.

A prevalência real da doença permanece desconhecida, mas a incidência

estimada é de um por 50.000-100.000 nascimentos. Ambos os sexos parecem ser

igualmente afetados4,6.

Outra forma de colestase intra-hepática é chamada de recorrente benigna

(BRIC). Trata-se de uma doença rara, de caráter autossômico recessivo,

caracterizada por episódios intermitentes de prurido e icterícia, de número e duração

bastante variáveis7. Entre as crises os pacientes permanecem assintomáticos

durante meses ou anos.

Ocorre mais frequentemente no sexo masculino, entre os 10 e os 30 anos de

idade, manifestando-se em até 80% dos casos em torno da segunda década de

vida8. O prognóstico clínico é favorável e não há o desenvolvimento de doença

hepática crônica ou cirrose9.

A patogênese tem sido elucidada com estudos moleculares dos

transportadores de sais biliares, assim como seu caráter familiar, que é reconhecido

em 50% dos casos10.

Page 10: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

10

OBJETIVO

Os objetivos do presente artigo são:

1. Relatar um caso de síndrome colestática em paciente jovem internado no

serviço de Gastroenterologia do Hospital do Servidor Público Municipal

2. Revisar os principais aspectos clínicos, laboratoriais e histológicos das

colestases intra-hepáticas.

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RELATO DE CASO

Identificação: G.L.S.R., 16 anos, estudante, natural e procedente de Santo

André.

Queixa principal: prurido há 15 dias.

História da moléstia atual: paciente deu entrada no Pronto Socorro do

Hospital do Servidor Público Municipal com queixa de prurido generalizado há 15

dias, com piora progressiva e associado à icterícia, colúria e acolia fecal. Negava dor

abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, disúria e febre. Havia comparecido na

mesma unidade na semana anterior com a mesma queixa e medicado com anti-

histamínico, sem melhora dos sintomas.

Antecedentes pessoais: negava comorbidades, uso de medicações, drogas,

anabolizantes, energéticos e chás. Negava transfusões sanguíneas, uso de álcool e

tabagismo. Amputação bilateral de pernas após acidente automobilístico há seis

anos.

Antecedentes familiares: pais e irmã hígidos. Tio paterno falecido por cirrose

e prima paterna com doença hepática.

Exame físico: bom estado geral, consciente, contactuante, afebril, eupneico,

acianótico, descorado+/4, ictérico 3+/4+, sem estigmas de hepatopatia crônica. Sem

flapping. Pele com sinais de escoriações pelo corpo. Abdome: flácido, indolor à

palpação superficial e profunda, ruídos hidroaéreos presentes e normoativos,

descompressão brusca negativa, sinal de Murphy negativo, sem visceromegalias.

Sem alterações nos aparelhos cardiovascular e respiratório.

Page 12: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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Exames laboratoriais: vide tabela 1.

Tabela 1: Exames Laboratoriais

17/05/14 23/05/14 04/06/14

Hb / Ht 16,2 / 48,9 10,4 / 32,5

Leucócitos 9.000 13.200

Plaquetas 396.000 344.000

TP (s) / AP (%) 12 /90 14 / 84

TTPA 38

AST 40 37 18

ALT 56 49 31

FA 428 391

GGT 3 9

Triglicerídeos 168 161

Colesterol total 113 97

HDL / LDL 4 / 75 6 / 59

Bilirrubina total / direta 13 / 10,2 20,8 / 18,4 5,7 / 4,8

Lipase 47

Amilase 60 57

Proteína total / albumina 6,7 / 3,7 5,5 /3,1

DHL 262 279

Ck total 285 87

Sorologias para hepatites A, B e C, HIV, toxoplasmose, citomegalovírus,

vírus Epstein Barr: negativas. VDRL: não reagente. Anti-DNA, FAN, anticorpo anti-

músculo liso negativo, anticorpo anti-LKM negativo e fator reumatóide: negativos.

Page 13: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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PCR: 0,13. Eletroforese de proteínas: dentro dos limites de normalidade. Urocultura

e hemocultura: negativas.

Exames de imagem:

Ultrassonografia de abdome: dentro dos limites da normalidade.

Endoscopia digestiva alta: pangastrite leve.

O paciente evoluiu com piora da icterícia com bilirrubina direta 18,4 mg/dl.

Foi realizada biópsia hepática percutânea que identificou fígado com

arquitetura lobular conservada. Espaços porta com infiltrado linfocitário moderado

envolvendo arteríolas, vênulas e ductos biliares, porém sem ultrapassar a placa

limitante. No lóbulo, os hepatócitos apresentavam colestase em zonas II e III. Os

sinusóides não apresentavam particularidades e as veias centro lobulares estavam

inalteradas. Diagnóstico: Colestase Intra-hepática.

O paciente permaneceu internado por 18 dias e recebeu alta com melhora

do prurido e diminuição dos níveis de bilirrubina após o uso de anti-histamínicos,

colestiramina e ácido ursodesoxicólico. Foi referenciado para acompanhamento

ambulatorial no mesmo serviço.

Page 14: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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DISCUSSÃO

Colestase é decorrente da alteração na formação e/ou do fluxo biliar.

Clinicamente se manifesta como fadiga, prurido e, na maioria dos casos, com

icterícia. As alterações bioquímicas são aumento da fosfatase alcalina (FA) e

gamaglutamiltransferase (GGT) e hiperbilirrubinemia com predomínio da fração

conjugada. O nível de elevação das enzimas tem sido discutido: nível de FA maior

que 1,5 e GGT maior que 3 vezes o limtie superior da normalidade (LSN) tem sido

aceito. Pode ser classificada como intra-hepática ou extra-hepática. Colestase intra-

hepática pode resultar de defeitos funcionais ou lesões obstrutivas do trato biliar

intra-hepático distal ou dos canalículos biliares11.

O diagnóstico diferencial de colestase intra-hepática do nosso paciente,

inclui causas hepatocanaliculares, tais como hepatites virais, hepatite alcoólica, uso

de drogas/medicações, hormônios esteróides, colestase intra-hepática familiar e

colestase recorrente benigna. Dentre as causas biliares, colangite esclerosante

primária (CEP) como principal. O paciente apresentava-se ictérico, com sinais de

escoriação, eutrófico, sem estigmas de hepatopatia crônica. Negava uso de álcool,

medicações, chás e anabolizantes. Os exames laboratoriais foram compatíveis com

colestase, sem deficit de função hepática, com destaque para níveis normais de

GGT. As sorologias virais foram negativas, bem como os marcadores de doença

auto imune. A ultrassonografia de abdomen descartou causas obstrutivas de

icterícia. A biópsia hepática foi realizada para esclarecimento diagnóstico e foi

consistente com colestase hepatocelular sem injúria aos ductos biliares. Os

diagnósticos de PFIC ou BRIC com primeiro surto foram considerados.

Page 15: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

15

A seguir, uma revisão da literatura dos principais aspectos clínicos,

laboratoriais e histológicos destas entidades que recentemente foram renomeadas.

Colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC) é um grupo heterogêneo

de doenças genéticas raras, autossômicas recessivas, caracterizada por colestase

intra-hepática, geralmente na infânica ou adolescência. A progressão para

insuficiência hepática pode ocorrer nas primeiras décadas de vida. Atualmente, são

reconhecidas três formas caracterizadas por defeitos nas proteínas biliares

envolvidas na formação e no fluxo de bile no fígado4.

A. Deficiência ATP8B1

A deficiência ATP8B1 é uma doença autossômica recessiva causada por

mutações no gene ATP8B1 que codifica ATP8B1 (denominada anteriormente como

FIC), uma ATPase. Atualmente, mais de 50 mutações são reconhecidas12-14.

PFIC1 e colestase intra-hepática recorrente benigna (BRIC) compartilham

das mesmas mutações. Contudo, na BRIC há um defeito parcial desta enzima.

A ATP8B1 também está expressa numa variedade de órgãos, tais como,

intestino delgado, vesícula biliar, fígado e pâncreas. Está localizada na membrana

apical das células epiteliais, incluindo a membrana canalicular dos hepatócitos. Sua

deficiência determina um posicionamento inadequado dos aminofosfolipídeos na

membrana canalicular, diminuindo a estabilidade e função dos transportadores

transmembrana, causando colestase15.

O quadro clínico caracteriza-se por colestase com prurido intenso,

geralmente na infância (PFIC1 ou doença Byler) ou com episódios recorrentes de

Page 16: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

16

colestase em qualquer idade (BRIC1). Algunas pacientes com BRIC apresentam

progressão da doença, porém, a maioria continua a ter episódios intermitentes de

colestase de duração variável, sem evidência de dano hepático16. Pacientes com

PFIC1 apresentam colestase contínua desde o primeiro ano de vida. Na ausência de

tratamento, irão progredir para cirrose e insuficiência hepática. Complicações

decorrentes da má absorção das vitaminas lipossolúveis podem ocorrer.

Manifestações extra hepáticas como diarréia, pancreatite e perda de audição

também são observadas17-19.

Em pacientes com deficiência ATP8B1, as aminotransferases e ácidos

biliares estão elevados, atividade da GGT e concentração de colesterol são normais.

Na histologia, observa-se colestase intra-canalicular com grânulos biliares identificados

na microscopia eletrônica18,20.

B. Deficiência ABCB11

Doença autossômica recessiva decorrente da mutação no gene ABCB11

que codifica a bomba exportadora de sais biliares (BSEP), uma enzima

transportadora específica do fígado. A BSEP transporta ativamente sais biliares

conjugados para o canalículo biliar , produzindo fluxo biliar. Foram identificadas

mais de 100 mutações21,22.

Quando a função da BSEP está diminuída, a doença é denominada BRIC 2

e quando estiver ausente, PIFIC 2 (Síndrome Byler). Na BRIC 2, a colestase é

episódica. Na PFIC 2 , ocorre colestase permanente desde a infância23.

Page 17: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

17

Os pacientes, geralmente, apresentam icterícia colestática no período

neonatal. Prurido é uma característica dominante da doença. As manifestações das

deficiências de vitaminas lipossolúveis são bem frequentes. Manifestações extra

hepáticas da doença não são observadas, uma vez que a proteína é específica do

fígado. O surgimento de colelitíase é comum, em até um terço dos pacientes, uma

vez que há menor concentração de sais biliares na bile, provocando aumento da

saturação de colesterol. O risco para tumores hepatobiliares está aumentado nestes

pacientes, devendo ser realizado rastreamento para hepatocarcinomas e

colangiocarcinomas24,25.

As alterações laboratoriais encontradas são aminotransferases elevadas,

colesterol normal e GGT normal ou baixa26. A doença pode progredir rapidamente

para cirrose, mas a doença hepática e os sintomas podem melhorar com o

tratamento cirúrgico. A necessidade de transplante é comum.

Na histologia, observa-se hepatite de células gigantes e canalículo biliar

afilado. A imuno histoquímica caracteriza-se por ausência ou redução da BSEP.

C. Deficiência ABCB4

Doença autossômica recessiva causada por mutações no gene ABCB4 que

codifica uma glicoproteína transportadora (MDR3). Ela se localiza na membrana

canalicular dos hepátócitos, translocando fosfatidilcolina de dentro para fora da

membrana. Neste processo, são formadas micelas que protegem as células da

membrana da árvore biliar das propriedades detergentes dos ácidos biliares. Assim,

na ausência ou diminuição da atividade MDR3 ocorre um desequilíbrio na

Page 18: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

18

composição biliar com falta de fosfatidilcolina e predomínio dos sais biliares ,

levando à inflamação e morte do epitélio biliar25,27.

Esta deficiência pode causar seis doenças hepáticas: PFIC3, cirrose biliar,

colelitíase, colestase intra-hepática da gravidez, colestase neonatal transitória e

colestase induzida por drogas28.

O prurido é menos intenso. Hipertensão portal pode ocorrer na adolescência

ou na fase adulto jovem. Os primeiros sintomas podem se manifestar como

colestase induzida por droga ou mais tardiamente como colestase na gravidez. Não

há manifestações extra hepáticas, nem evolução para malignidade24.

A atividade da GGT está elevada, acima de 10 vezes LSN. As

aminotransferases, bilirrubina conjugada e fosfatase alcalina estão aumentadas.

Fosfolipídeos biliares estão bem reduzidos. Pacientes com pequenas mutações

podem responder ao tratamento com ácido ursodesoxicólico. Entretanto, transplante

hepático pode ser necessário24, 26.

Na histologia, inflamação portal com proliferação ductular são identificados

na fase inicial. Nas fases tardias, cirrose biliar é observada. A ausência ou

diminuição, na imunohistoquímica, da expressão MDR3 pode auxiliar no diagnóstico,

embora possa estar normal em até 50% dos pacientes.

Page 19: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

19

Tabela 2: Características dos três subtipos de colestase familiar

Etiologia Características clínicas

Características diagnósticas

Deficiência ATP8B1

Mecanismo presumido: prejuízo na translocação de aminofosfolípides através da membrana celular

BRIC1 e PFIC1 Possíveis características extra hepáticas (diarreia, doença pancreática e deficiência auditiva)

Elevação sérica de sais biliares GGT sérica normal Colestase branda

Deficiência ABCB11

Mau funcionamento de BSEP: comprometimento do transporte canalicular de sais biliares

BRIC2 e PFIC2 Incidência aumentada de colestase Risco de malignidade hepatobiliar

Elevação sérica de sais biliares GGT sérica normal

Deficiência ABCB4

Comprometimento da translocação canalicular de fosfatidilcolina

PFIC3

Elevação sérica de sais biliares GGT sérica elevada Proliferação ductular

D. BRIC

É uma doença rara, sendo encontrados 77 casos relatados na literatura, e desses

apenas cinco casos brasileiros. Ocorre mais frequentemente no sexo masculino,

entre os 10 e os 30 anos de idade, manifestando-se em até 80% dos casos em torno

da segunda década de vida 8,29.

Mutações no gene ATP8B1 tem sido descritas como responsáveis pela

BRIC. Baseados na diferença no número de mutações identificadas no gene

ATP8B1 nestas duas condições, acredita-se que o produto proteico do FIC1 na

BRIC poderia ser mais disfuncional ou susceptível a outras formas de injúria,

exlicando a natureza recorrente da doença. A predisposição genética está bem

descrita na literatura: 50% dos casos tem caráter familiar. Entretanto, formas

esporádicas têm sido relatadas30.

Page 20: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

20

O quadro clínico se manifesta por episódios recorrentes de icterícia e

prurido. Outros sintomas são fadiga, anorexia, hipocolia fecal, colúria e esteatorréia.

Menos frequentemente, são observadas febre, artralgia e cefaléia. Recentemente,

tem sido descrito o surgimento de tosse intratável e alteração nas provas de função

pulmonar. Estas anormalidades desaparecem espontanemente após o término da

colestase.

Os surtos da doença podem durar semanas ou meses com recuperação

total espontânea e não estão relacionados com a idade. Apesar da sintomatologia

ser intensa durante a crise, com prejuízo temporário da qualidade de vida, o

paciente evolui sem sequelas funcionais hepáticas9,31.

Fatores ambientais têm sido aventados como possíveis desencadeadores

dos episódios de colestase, como gastroenterocolites, infecções por influenza, otite

média e erupções cutâneas.

As principais alterações laboratoriais são ácidos biliares elevados,

hiperbilirrubinemia e GGT normal32. A biópsia hepática é normal nos períodos sem

crise e no surto da doença é identifica colestase canalicular sem fibrose, cirrose ou

demonstração de obstrução ducto biliar extra hepático. Em estudo de seguimento de

30 anos de pacientes com BRIC, nenhum sinal de doença crônica foi observado.

Contudo, alguns pacientes com BRIC podem progredir para doença crônica com

fibrose e formação de septos porta-porta, caracterizando PFIC1.

Tygstrup e Jensen, em 1969, propuseram critérios clínicos para o

diagnóstico desta entidade33, sendo os seguintes: (1) pelo menos dois episódios de

icterícia e prurido separados por períodos assintomáticos com duração de vários

meses a anos; (2) alterações bioquímicas consistentes com colestase; (3)

Page 21: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

21

demonstração de colestase centrilobular em espécime hepático; (4) vias biliares intra

e extra-hepáticas normais à colangiografia; (5) ausência de outras causas

conhecidas de colestase.

Embora o diagnóstico possa ser suspeitado após a resolução do primeiro

episódio de colestase, o diagnóstico definitivo de BRIC não pode ser feito antes que

um segundo ou terceiro episódio de colestase sintomática se desenvolva e se

resolva espontaneamente.

Tratamentos com corticóide, fenobarbital, colestiramina, rifampicina, ácido

ursodesoxicólico não se mostraram eficazes. A plasmaferese pode auxiliar no

prurido e diminuição dos níveis de bilirrubina.

E. PFIC e BRIC 1

PFIC1 é causada por mutações no gene ATP8B1 (designado FIC1)14,16. Este

gene codifica uma ATPase do tipo P, designada proteína FIC1, localizada na

membrana canalicular de hepatócitos e cuja função é desconhecida. Como

mutações nesta proteína causam colestase não é claro. Postula-se que

indiretamente a função da proteína anormal poderia perturbar a secreção de ácidos

biliares, explicando a baixa concentração biliar destes encontrada em pacientes com

PFIC1 16,34. O gene FIC1 está localizado no cromossoma humano 18 12,35.

Mutações neste gene têm sido confirmadas no fenótipo mais suave de

colestase intra-hepática recorrente benigna tipo 1 (BRIC1)14,16,36. É muito provável

que a deficiência de FIC1 representa um processo contínuo com fenótipos

intermediários entre o fenótipo benigno BRIC1 e o fenótipo grave PFIC116. As

Page 22: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

22

mutações em PFIC1 perturbam gravemente a função da proteína, enquanto em

BRIC 1 esta funçaõ é apenas parcialmente prejudicada37.

Pacientes com PFIC1 mostram um nível normal de GGT no soro. A

colestase geralmente aparece nos primeiros meses de vida, e causa episódios

recorrentes de icterícia que se tornam mais tarde permanente no curso da doença.

Prurido grave é geralmente observado.

Características extra-hepáticas têm sido descritas em PFIC1, tais como

baixa estatura persistente, surdez e pancreatite, sugerindo uma função biológica

celular geral para FIC1 16,18, 38. O gene FIC1 é expresso em vários órgãos, incluindo

fígado, pâncreas, intestino delgado e rim 34.

A histopatologia hepática é caracterizada pela colestase canalicular e a

ausência de uma verdadeira proliferação ductular com metaplasia biliar só periportal

de hepatócitos18,24.

F. PFIC e BRIC 2

PFIC2 é causada por mutações no gene ABCB11 (designado BSEP). O

gene BSEP codifica a proteína hepática da membrana canalicular BSEP ATP-

dependente e está localizado no cromossoma humano 2 21,39.

Mutações nesse gene levam a uma falta de expressão da proteína BSEP,

que é a maior exportadora de ácidos biliares primários contra gradientes extremos

de concentração, o que leva a diminuição do fluxo de bile e acúmulo destes sais

dentro dos hepatócitos, resultando, assim, em grave dano hepatocelular 40.

Page 23: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

23

A deficiência de BSEP representa um fenótipo contínuo entre BRIC2 e

PFIC2.

Pacientes com PFIC2 tem atividade sérica normal de GGT e alta

concentração de ácidos biliares no soro. Também tem maiores níveis séricos de

transaminase e alfa-fetoproteína do que pacientes com PFIC1 24, 34, 40,41.

A evolução inicial de colestase é mais grave do que nos outros tipos de

PFIC, com icterícia permanente desde os primeiros meses de vida e aparecimento

rápido de insuficiência hepática dentro dos primeiros poucos anos.

Os achados histopatológicos revelam arquitetura hepática mais perturbada

do que PFIC1, com fibrose e inflamação lobular portal mais pronunciadas. Colestase

canalicular, ausência de uma verdadeira proliferação ductular, lesão lobular grave,

necrose hepatocelular mais óbvia e transformação de células gigantes mais

evidente são confirmados com exame histopatológico18,24,41.

Para PFIC1 e PFIC2, medicação como ácido ursodesoxicólico é

considerada durante a gestão terapêutica inicial das crianças42. Alguns pacientes

podem também se beneficiar de desvio biliar43,44. No tratamento do prurido tem sido

utilizado colestiramina, que é uma resina de troca aniônica que se liga a sais biliares

no intestino aumentando a eliminação fecal desses45.

Em PFIC2, ainda é incerto se transplante de hepatócitos ou terapia gênica

com hepatócitos modificados são uma boa abordagem terapêuticas. De fato, pode

haver um risco de deixar as células pré-malignas do fígado no local46.

Page 24: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

24

Pacientes com deficiência de BSEP estão em risco significativo para

malignidade hepatobiliar (15% podem desenvolver carcinoma hepatocelular ou

colangiocarcinoma)46.

G. PFIC 3

PFIC3 é causada por mutações no gene ABCB4 (designado MDR3),

localizado no cromossoma 7. Tal gene codifica uma proteína multidroga resistente

classe 3, denominada MDR3, que é uma proteína translocadora de fosfolípidos

(fosfatidilcolina) envolvida na excreção biliar desses e é predominantemente

expressa na membrana canalicular de hepatócitos4,47.

Os fosfolipídeos cumprem a função de solubilizar os sais biliares e proteger

o epitélio ductal. Colestase resulta da toxicidade de bile em que sais biliares

detergentes não são inativados por fosfolipídeos. O mecanismo dos danos no fígado

em PFIC3 está provavelmente relacionado com a ausência de fosfolipídeos

biliares24.

Pacientes PFIC3 mostram um elevado nível sérico de GGT, normal de

colesterol e concentrações moderadamente elevadas de sais biliares primários.

Raramente se apresenta com icterícia no período neonatal, e, em vez, ocorre mais

tarde na infância e até mesmo na idade adulta jovem. O prurido é geralmente leve.

No entanto, adolescentes e pacientes adultos jovens têm sintomas de cirrose devido

a hipertensão portal, que pode resultar em insuficiência hepática.

Page 25: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

25

A histopatologia do fígado obtido na fase inicial mostra fibrose portal e

verdadeira proliferação ductular com infiltrado inflamatório misto. Num estágio mais

avançado, existe extensa fibrose portal e uma imagem típica da cirrose biliar 24.

O espectro fenotípico da PFIC3 varia de colestase neonatal para cirrose em

adultos jovens48.

Deficiência MDR3 pode também representar uma clínica contínua, em que um

único paciente pode experimentar diferentes fenótipos durante o curso da doença.

Essa deficiência está envolvidade em colestase intra-hepática da gravidez tipo 3,

doença biliar do colesterol, colestase induzida por drogas, colestase neonatal

transitória e cirrose idiopática adulta6.

Nos candidatos a PFIC, o diagnóstico molecular pode ser proposto. A análise

genética é geralmente realizada por sequenciamento de DNA.

Page 26: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

26

CONCLUSÃO

A presença de colestase em paciente jovem, sem estigmas de hepatopatia

crônica, com as causas mais comuns de colestase intra-hepática excluídas, e níveis

normais de GGT sugeriram o diagnóstico de BRIC. A histologia hepática

identificando a presença de colestase hepatocelular sem fibrose e sem

anormalidades dos ductos biliares foi fundamental para esclarecimento da patologia.

Pelo fato de ter sido o primeiro episódio de colestase do paciente, o diagnóstico de

BRIC fica ainda sendo provável. Apesar de rara, BRIC deve ser considerada nos

diagnósticos diferenciais das colestases. O esclarecimento do caráter recorrente e

benigno da doença devem ser informados aos pacientes, uma vez que não estão

bem estabelecidos os fatores que determinam os episódios de colestase, assim

como um tratamento eficaz.

Page 27: SÍNDROME COLESTÁTICA FAMILIAR – RELATO DE CASO

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