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1 Situação epidemiológica da esquistossomose mansônica em uma microrregião do estado da Bahia, Brasil La situación epidemiológica de la esquistosomiasis masónica en una microrregión del estado de Bahía, Brasil Epidemiological situation of schistosomiasis mansoni in a micro-region of the state of Bahia, Brazil *Enfermeiro. Especialista em Saúde Pública com ênfase em saúde da família pela Faculdade Madre Thaís Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB **Farmacêutica e Bioquímica. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Docente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz. Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Farmacogenômica e Epidemiologia Molecular CNPq/UESC ***Enfermeiro. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia ****Enfermeiro. Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde PPGES/UESB Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAPESB Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB *****Educador Físico. Mestre em Enfermagem e Saúde pelo PPGES/UESB Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB Tilson Nunes Mota* [email protected] Ana Paula Melo Mariano** [email protected] Adilson Ribeiro Santos*** [email protected] Jules Ramon Brito Teixeira**** [email protected] Ramon Missias Moreira***** [email protected] (Brasil) Resumo O objetivo deste estudo foi descrever a situação epidemiológica da Esquistossomose mansônica na microrregião de Jequié com o uso de dados do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE). Os dados foram agregados para o cálculo de indicadores epidemiológicos de cobertura do programa e de intensidade de infecção para os municípios endêmicos da microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, entre 2001 e 2009. Os resultados demonstram que a microrregião de Jequié apresentou 25.040 casos de esquistossomose, sendo o ano de 2006 o de maior prevalência (10,3%). Houve registro de atividades de controle de esquistossomose em 45,4% dos municípios da área em estudo. Quanto ao número de exames realizado no período, atendeu apenas 9,98% da população residente na área estudada. Portanto, pode-se considerar o SISPCE como um avanço no monitoramento e vigilância da esquistossomose, necessitando de ações sistemáticas pelos municípios, através do fluxo contínuo de dados capaz de orientar os gestores na elaboração de politicas públicas. Descritores: Esquistossomose Mansoni. Sistemas de informação. Doenças endêmicas.Vigilância epidemiológica. Políticas públicas. Abstract The objective of this study was to describe the epidemiological situation of Schistosomiasis mansoni in the micro-region of Jequié using data from Information System in the Brazilian Schistosomiasis Control Program (SISPCE). The data were aggregated for calculating epidemiological indicators of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of the region of Jequié, Bahia, Brazil, between 2001 and 2009. The data were aggregated for calculating epidemiological indicators of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of the region of Jequie, Bahia, Brazil, between 2001 and 2009. The results demonstrate that micro-region of Jequié presented 25.040 cases of schistosomiasis, the year 2006 being the most prevalent (10,3%). There were records of schistosomiasis control activities in 45,4% of the cities in the study area. Concerning the number of tests realized in the period, attended only 9,98% of the resident population in the studied area. Therefore, can be considered the SISPCE as an advance in the monitoring and surveillance of schistosomiasis, requiring systematic actions by the cities through continuous flow of data able to guide managers in the development of public policies. Keywords: Schistosomiasis mansoni. Information systems. Endemic diseases. Epidemiological surveillance. Public policies. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Page 1: Situação epidemiológica da esquistossomose mansônica ... · de exames realizado no ... Estado da Bahia, no ... âmbito do Ministério da Saúde com o Plano de Desenvolvimento

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Situação epidemiológica da esquistossomose

mansônica em uma microrregião do estado da Bahia,

Brasil La situación epidemiológica de la esquistosomiasis masónica en una microrregión del estado de

Bahía, Brasil

Epidemiological situation of schistosomiasis mansoni in a micro-region of the state of Bahia, Brazil

*Enfermeiro. Especialista em Saúde Pública com ênfase em saúde da família pela Faculdade Madre Thaís

Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB

**Farmacêutica e Bioquímica. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Docente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual

de Santa Cruz. Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Farmacogenômica

e Epidemiologia Molecular CNPq/UESC

***Enfermeiro. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

****Enfermeiro. Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde – PPGES/UESB

Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB

Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB *****Educador Físico. Mestre em Enfermagem e Saúde pelo PPGES/UESB

Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB Tilson Nunes Mota* [email protected]

Ana Paula Melo Mariano** [email protected]

Adilson Ribeiro Santos*** [email protected]

Jules Ramon Brito Teixeira**** [email protected]

Ramon Missias Moreira***** [email protected]

(Brasil)

Resumo O objetivo deste estudo foi descrever a situação epidemiológica da Esquistossomose mansônica na microrregião de Jequié com o uso de dados do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE). Os dados foram agregados para o cálculo de indicadores epidemiológicos de cobertura do programa e de intensidade de infecção para os municípios endêmicos da microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, entre 2001 e 2009. Os resultados demonstram que a microrregião de Jequié apresentou 25.040 casos de esquistossomose, sendo o ano de 2006 o de maior prevalência (10,3%). Houve registro de atividades de controle de esquistossomose em 45,4% dos municípios da área em estudo. Quanto ao número de exames realizado no período, atendeu apenas 9,98% da população residente na área estudada. Portanto, pode-se considerar o SISPCE como um avanço no monitoramento e vigilância da esquistossomose, necessitando de ações sistemáticas pelos municípios, através do fluxo contínuo de dados capaz de orientar os gestores na elaboração de politicas públicas. Descritores: Esquistossomose Mansoni. Sistemas de informação. Doenças endêmicas.Vigilância epidemiológica. Políticas públicas. Abstract The objective of this study was to describe the epidemiological situation of Schistosomiasis mansoni in the micro-region of Jequié using data from Information System in the Brazilian Schistosomiasis Control Program (SISPCE). The data were aggregated for calculating epidemiological indicators of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of the region of Jequié, Bahia, Brazil, between 2001 and 2009. The data were aggregated for calculating epidemiological indicators of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of the region of Jequie, Bahia, Brazil, between 2001 and 2009. The results demonstrate that micro-region of Jequié presented 25.040 cases of schistosomiasis, the year 2006 being the most prevalent (10,3%). There were records of schistosomiasis control activities in 45,4% of the cities in the study area. Concerning the number of tests realized in the period, attended only 9,98% of the resident population in the studied area. Therefore, can be considered the SISPCE as an advance in the monitoring and surveillance of schistosomiasis, requiring systematic actions by the cities through continuous flow of data able to guide managers in the development of public policies. Keywords: Schistosomiasis mansoni. Information systems. Endemic diseases. Epidemiological surveillance. Public policies.

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

A esquistossomose mansônica vem se estabelecendo como um importante problema de

saúde pública, afetando cerca de duzentos milhões de pessoas em várias regiões do mundo

(CARDIM et al., 2008). No território brasileiro, a doença é considerada endêmica, com

aproximadamente seis milhões de indivíduos infectados distribuídos em 19 unidades federadas

(BRASIL, 2006). Dentre as regiões do país, o Nordeste é a que apresenta a maior prevalência

dessa enfermidade e o Estado da Bahia é a segunda maior área endêmica, com média de 165,8

internações/ano e 40,2 óbitos/ano, notificados em 65% (271) dos seus municípios (BRASIL,

2006).

Historicamente o padrão de transmissão da esquistossomose mansônica circunscrevia-se a

ambientes rurais do Nordeste do país, porém, a partir da década de 1980, observou-se uma

mudança substancial no seu perfil ecoepidemiológico, com o aparecimento de casos autóctones

em zonas periurbanas de grandes cidades (GARGIONI et al., 2008).

Dentre os fatores que contribuíram para a expansão da esquistossomose estão às condições

de infraestrutura das populações migrantes, que ao se fixarem nas localidades urbanas,

continuam com o comportamento semelhante ao das pessoas que permaneceram na zona

rural. Somado a esse fator estão a hipertrofia dos núcleos urbanos, o uso indevido dos recursos

hídricos, a ampla distribuição dos hospedeiros intermediários, a longevidade da doença, a

descontinuidade das ações do programa oficial de controle e a carência em atividades de

educação sanitária (BARBOSA et al., 1996; MARTINS Jr.; BARRETO, 2003; RIBEIRO et al.,

2004).

O padrão de distribuição da doença indica que a dinâmica de transmissão do agente

etiológico, o Schistosoma mansoni, depende da inter-relação entre o meio ambiente, as pessoas

e suas condições sociais. A forma não planejada da ocupação humana no espaço urbano

associada à vulnerabilidade social como o desemprego, baixos níveis de escolaridade, exclusão

e pobreza, e às condições inadequadas de saneamento e moradia vem causando grandes

impactos na expansão da esquistossomose no país (LOUREIRO, 1989; BARBOSA et al., 2001;

CARDIM, 2010).

A grande abrangência e endemicidade da esquistossomose no Brasil e, principalmente, a

intensa transmissão na região nordeste é uma situação importante. No período de 1999 a 2002,

não ocorreram ações integradas para o controle da doença em alguns estados do nordeste,

sendo que tal aspecto continua deficiente nos dias atuais (FARIAS et al, 2007).

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A dificuldade no controle da esquistossomose mansônica pelos serviços de saúde ocorre

devido a multiplicidade de fatores envolvidos na sua transmissão. As ações de controle deste

agravo, no Brasil, vêm sendo adotadas de maneira sistemática e abrangente desde 1976. Ao

longo das três últimas décadas os programas de controle da esquistossomose (PCE) passaram

por diversas fases nas quais foram feitas tentativas de medicalização maciça dos portadores,

conjugadas com outras ações preventivas consideradas importantes.

O conhecimento sobre o comportamento da endemia permite a identificação de problemas

individuais e coletivos no quadro sanitário de uma população, propiciando elementos para

análise da situação encontrada, subsidiando a busca de possíveis alternativas de controle,

essenciais ao processo de tomada de decisão.

Este estudo teve como objetivo descrever a situação epidemiológica da esquistossomose

mansônica na microrregião de Jequié, Estado da Bahia, no período de 2001 a 2009.

Método

O presente estudo caracteriza-se como epidemiológico de cunho quantitativo e exploratório.

A amostra estudada compreende a microrregião de Jequié, que incluem os seguintes

municípios: Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Boa Nova, Brejões, Cravolândia, Dario Meira,

Ibirataia, Ipiaú, Irajuba, Iramaia, Itagi, Itagibá, Itamarati, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara,

Jequié, Jitaúna, Lafaiete Coutinho, Lajedo do Tabocal, Manoel Vitorino, Maracás, Planaltino e

Santa Inês. Esta microrregião abrange uma população total de 517.25 habitantes (BAHIA,

2012).

Segundo o Plano Diretor de Regionalização do Estado da Bahia, o município de Jequié

apresenta a maior população sendo, considerado a referência para microrregião e sede da 13ª

Diretoria Regional de Saúde (BAHIA, 2012).

Como estratégia de obtenção dos dados sobre a esquistossomose na microrregião de Jequié,

no período 2001 a 2009, fez-se necessário o levantamento de dados do Sistema de Informação

do Programa de Controle da Esquistossomose (SIS-PCE) que está disponível na página de

Internet do Departamento de Informação e Informática do SUS (DATASUS:

http://www.datasus.gov.br).

Os dados obtidos na base de dados do SISPCE correspondem às seguintes variáveis:

população trabalhada, população examinada, população positiva, recusa e ausência. A

alimentação do SISPCE é gerada pelas atividades de vigilância e controle da esquistossomose

executadas pelos municípios, consolidados pela Gerência Estadual do Programa de Controle e

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Vigilância da Esquistossomose na Bahia. Em virtude do processo de informatização, que teve

inicio no ano de 1995, os dados são considerados como parciais.

Para a análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva, através do cálculo dos

seguintes indicadores: proporção de população trabalhada que foi obtida através do número de

pessoas que receberam o recipiente para realização do exame coproparasitológico em relação à

população total do município; proporção da população examinada através da relação entre o

número de pessoas examinadas e a população total do município e o cálculo da prevalência.

Os indicadores são apresentados por meio de tabelas elaboradas com o auxílio do software

Microsoft Office Excel versão 2010.

Resultados e discussão

Na microrregião de Jequié, no ano de 2001, houve registro de atividades de controle da

esquistossomose mansônica em 45,4% dos municípios. No período estudado, houve uma

redução da população trabalhada de 56.769 em 2001 para 30.168 em 2009, esta redução

coincidente com o momento da descentralização das ações de controle da endemia para o nível

municipal (Tabela 1).

Tabela 1. Indicadores utilizados pelo PCE, na microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, 2001-2009

Quanto ao numero de exames realizados, houve grande variação durante o período de 2001

a 2009, decrescendo 64% no ano de 2002 em relação ao ano de 2009 com posterior redução

(Tabela 1).

Ainda assim, alcançou somente 9,98% da população residente na área em estudo. No ano

de 2001, o número de indivíduos com tratamentos pendentes por ausência foi de 262 sendo o

maior valor no período (Tabela 1). O número de pessoas não tratadas por ausência foi elevado

nesse ano, podendo refletir deficiências do planejamento das ações na fase de medicação,

como por exemplo, na busca do paciente em horários incompatíveis com a sua rotina, ou

dificuldade de seu acesso aos serviços de atenção básica (GARGIONI et al., 2008). Tal indicador

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tem importância na programação das ações de controle e vigilância da esquistossomose e pode

oferecer indícios de falhas no modelo de tratamento adotado (RIBEIRO et al., 2004).

Observa-se uma redução significativa na ausência ao tratamento alcançando 30 indivíduos

no ano de 2009, o que pode demonstrar um melhor planejamento e execução das ações no

fase do tratamento dos portadores do S. mansoni.

Os resultados mostram uma taxa de prevalência que varia de 2,9 a 10,2 no período.

Segundo Farias et al (2007), este percentual não é representativo da prevalência real, pois nem

sempre os mesmos municípios são trabalhados ano a ano, fator limitante para uma análise mais

precisa de situação da doença.

A partir do ano de 2007, foi observado as menores taxas de prevalência do período

estudado, esse indicador corrobora com as ações desenvolvidas no Brasil, desde 2005, no

âmbito do Ministério da Saúde com o Plano de Desenvolvimento e Pesquisa em Doenças

Negligenciadas.

Ao comparar os dez municípios com maior número absoluto de exames positivos com o

município de Jequié, município de maior prevalência para a doença, o maior percentual de

população trabalhada (Tabela 2) foi de 82%, em 2004, no município de Aiquara.

Tabela 2. Proporção da população trabalhada, Proporção da população examinada, Prevalência de casos

situação de Pendências ou Recusa de exames da microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, 2001-2009

Após o município de Jequié, Santa Inês é o município com maior prevalência em todo o

período, e mostra o maior resultado no percentual de população trabalhada neste ano 25,5%.

São valores baixos se considerada a população total exposta ao risco de contrair a doença. O

município de Jequié apresentou em números absolutos a maior ausência ao tratamento da

doença de 133 em 2005.

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Quando avaliado a proporção entre a população examinada em relação à população

trabalhada, o município de Jitaúna foi o único que apresentou trabalhos em todo o período

estudado. Apesar da variação desses percentuais, entre 0% e 87%, eles não são

esclarecedores para um efetivo monitoramento, uma vez que o SISPCE não disponibiliza o

nome ou código da localidade, como ocorre com outros sistemas de informação, a exemplo do

SIVEP Malária (Sistema de Informação e Vigilância Epidemiológica da Malária), que permite o

acesso das informações das localidades pelo nível central (RODRIGUES; ESCOBAR; SOUZA-

SANTOS, 2008).

O registro de pendências por ausência é inquietador em 2004, sendo presente em 90% dos

municípios. O município de Jequié em 2001 apresentou 270 pessoas que se recusaram ao

tratamento.

É visível a queda de registros no período imediatamente após a descentralização das

atividades (ARAUJO, 2004), que aconteceu no segundo semestre de 2001, com aumento

gradual, que pode ser reflexo da retomada das ações pela esfera municipal, quiçá a influência

da integração dessas atividades com as da atenção básica.

Conclusão

De acordo com os resultados, ao se adotar o município como unidade de análise, não é

possível dimensionar a doença naquele território. De este modo identificar grupos que

apresentam elevado risco da infecção constitui uma tarefa de extrema relevância.

Espera-se que os achados do presente estudo possam ser utilizados para nortear a adoção

de condutas preventivas e redirecionar o planejamento das ações de saúde nos municípios.

Além disso, contribua para a reflexão das práticas e políticas relativas à esquistossomose na

microrregião de Jequié, visto que, para o controle efetivo dos casos, além das medidas

curativas, são necessárias ações de prevenção, como melhorias nas condições de vida das

coletividades, educação sanitária, vigilância dos vetores e fatores condicionantes para a sua

transmissão e expansão.

Referências

ARAUJO, K. C. G. M. Distribuição espacial de focos de esquistossomose através

de sistemas de informações geográficas - SIG, Ilha de Itamaracá,

Pernambuco [Dissertação de Mestrado] Recife: Instituto Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz, 2004.

BAHIA. Secretaria Estadual de Saúde. Superintendência de Gestão dos

Sistemas e Regulação da Atenção à Saúde. Diretoria de Programação e

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Desenvolvimento da Gestão Regionalizada. Plano Diretor de Regionalização

2004 – 2005 do Estado da Bahia. Salvador, 2011. Disponível em:

http://www1.saude.ba.gov.br/mapa_bahia/result_micro.asp?MICRO=Jequi%E9

. Acesso em: 19 dez. 2012.

BARBOSA, C. S., SILVA, C. B., BARBOSA, F. S. Esquistossomose: reprodução e

expansão da endemia no Estado de Pernambuco no Brasil. Revista Saúde

Pública, São Paulo, v. 30, n. 6, p. 609-616, 1996.

BARBOSA, C. S.; COUTINHO, A. L.; MONTENEGRO, S. M. L.; ABATH, F.;

SPINELLI, V. Epidemia de esquistossomose aguda na praia de Porto de

Galinhas, Pernambuco. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3,

p. 725-728, maio/jun. 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema

Nacional de Vigilância em Saúde, Relatório de Situação, Bahia. Brasília, DF,

2006. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_snvs_ba_2ed.pdf. Acesso

em: 18 set. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Situação

Epidemiológica da Esquistossomose no Brasil. Brasília, DF, 2011. Disponível

em:

http://portal.saude.gov.br/.../apresent_esquistossomose_mansoni_30_05_2011

.pdf. Acesso em: 18 set. 2012.

CARDIM, L. L. et al. Avaliação da Esquistossomose Mansônica mediante as

Geotecnologias e Técnicas Multivariadas no Município de Jacobina,

Bahia. Revista Baiana de Saúde Pública, Salvador, v. 32, n. 1, p. 29-42,

jan./abr., 2008.

CARDIM, L. L. Caracterização das áreas de risco para a esquistossomose

mansônica no município de Lauro de Freitas, Bahia. Salvador, 2010.

Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos). Salvador: Escola de

Medicina Veterinária, Universidade Federal da Bahia, 2010.

FARIAS, L. M. M; et al. Análise preliminar do Sistema de Informação do

Programa de Controle da Esquistossomose no período de 1999 a

2003. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 235-239, fev.,

2007.

GARGIONI, C. et al. Utilização de método sorológico como ferramenta

diagnóstica para implementação da vigilância e controle da esquistossomose no

município de Holambra, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de

Janeiro, v. 24, n. 2, p. 373-379, fev., 2008.

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LOUREIRO, S. A. A questão do social na epidemiologia e controle da

esquistossomose mansônica. Memória do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, v. 84, n. 1, p. 124- 131, out. 1989. Suplemento. Mimeografado.

MARTINS JR., D. F.; BARRETO, M. L. Aspectos macroepidemiológicos da

esquistossomose mansônica: análise da relação da irrigação no perfil espacial

da endemia no Estado da Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de

Janeiro, v. 19, n. 2, p. 383-393, abr./jun. 2003.

RIBEIRO, P. J. et al. Programa educativo em esquistossomose: modelo de

abordagem metodológica. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 415-

421, 2004.

RODRIGUES, A. F; ESCOBAR, A. L; SOUZA-SANTOS, R. Análise espacial e

determinação de áreas para o controle da malária no Estado de Rondônia. Rev

Soc Bras Med Trop, Minas Gerais, v. 41, p. 55-64, 2008.

A prática docente no ensino

superior sob

a ótica de formandos de

enfermagem La práctica docente en la enseñanza superior bajo la

óptica de los estudiantes de enfermería

The teaching practice in higher education under the

optics of nursing graduate students

*Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e

Saúde

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB. Jequié

(BA)

**Enfermeira, Professora Pós-doutorado, Graduação/Programa de Pós-

Graduação em Enfermagem

e Saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB. Jequié (BA)

***Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de Pós-

Graduação em Enfermagem

e Saúde. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB.

Jequié (BA)

****Educador Físico, Mestre em Enfermagem e Saúde pelo

PPGES/UESB Professor auxiliar do Departamento de Saúde da UESB

*****Enfermeiro, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem e Saúde

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB. Jequié

(BA)

Vanessa Cruz Santos* Karla Ferraz dos Anjos* Rita Narriman Silva de Oliveira Boery** Eduardo Nagib Boery*** Ramon Missias Moreira **** Jules Ramon Brito Teixeira***** [email protected] (Brasil)

Resumo O estudo objetivou analisar a prática docente no ensino superior sob a ótica de formandos de enfermagem. Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em uma Instituição de Ensino Superior, com 26 formandos de enfermagem. Utilizou-se para coleta de dados questionário aberto, e suas respostas analisadas a partir da técnica de Análise de Conteúdo. A pesquisa aconteceu após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob o protocolo nº 207/2009. Verificou-se insatisfação por parte dos formandos quanto à prática docente em sua instituição de ensino, principalmente quanto à articulação da metodologia utilizada e sua relação com a teoria e a prática. Considera-se necessário que mudanças ocorram no processo de ensino-aprendizagem da instituição em estudo, na qual o processo educacional ocorra de forma horizontal, trans e interdisciplinar e que o estudante seja protagonista ativo deste processo. Descritores: Enfermagem. Docentes. Prática profissional. Educação em enfermagem. Ensino superior. Abstract The study aimed to analyze the teaching practice in higher education under the optics of nursing graduate students. A descriptive study with a qualitative approach, conducted in a Higher Education Institution,

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with 26 nursing graduate students. Was used for data collection an open questionnaire and their answers analyzed using the technique of Content Analysis. The research took place after approval of the Ethics Committee in Research of the State University of Southwest Bahia, under protocol nº 207/2009. There was verified dissatisfaction among graduates due to teaching practice at their school, especially as the articulation of the methodology and its relation to theory and practice. It is considered necessary that changes may occur in the teaching-learning of the institution in study, in which the educational process occurs in a horizontal form, trans and interdisciplinary and that the student be an active protagonist of this active process. Unitermos: Nursing. Teachers. Professional practice. Nursing education. Higher education.

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

As dimensões da educação de ensino superior têm vários desafios a serem vencidos.

Diversas são as mudanças que acontecem constantemente nas propostas metodológicas de

ensino, com o intuito de formar indivíduos comprometidos profissionalmente e socialmente, isto

não se difere com os futuros profissionais de enfermagem que necessitam ser bem preparados

na academia. 1

A educação precisa ser capaz de desencadear uma visão holística do estudante, bem como

possibilitar a construção de redes de mudanças sociais, com a consequente ampliação da

consciência individual e coletiva. Por isso, um de seus méritos está na crescente tendência à

busca de métodos inovadores, que permita uma prática pedagógica crítica, ética, reflexiva e

transformadora, ultrapassando os limites do treinamento meramente tecnicista, para

efetivamente alcançar a formação do homem como um ser histórico, inscrito na dialética da

ação-reflexão-ação. 2

Neste sentido, reforça-se a relevância em contextualizar acerca de como se dá a prática

docente na educação superior do curso de enfermagem, a partir da percepção de formandos

deste curso que também são protagonistas do processo de ensino e que, futuramente, por

meio dessa educação serão formados profissionais que devem estar comprometidos a atuarem

de forma crítica, reflexiva e coletiva. Para isso, as metodologias utilizadas no processo de

ensino-aprendizagem devem ser inseridas de forma articulada com a teoria e a prática, de

forma que o aluno faça parte ativamente do processo.

Para a melhoria da prática pedagógica na universidade, é preciso contribuir com situações

alternativas, levando os envolvidos a refletirem de forma critica sobre os avanços e retrocessos

na prática docente e a agir de maneira transformadora sobre a realidade, estabelecendo

condições de reorganização do conhecimento adquirido, oferecendo alternativas viáveis e

adaptadas às diferentes realidades, compreendendo dialeticamente o processo. 3

Entre os problemas educacionais enfrentados na atualidade estão as propostas pedagógicas

de ensino de Instituições de Ensino Superior (IES), enfatizando o curso de Enfermagem, que

precisa ser repensado. A prática docente, em determinadas instituições, não permite que os

estudantes participem da construção do seu próprio conhecimento, o que compromete sua

formação profissional.

A formação, desempenho e desenvolvimento profissional do professor torna-se objeto de

análise e estudo a partir do movimento de transformação do ensino superior no Brasil. Nesse

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contexto, a formação do professor é apontada como um dos principais fatores que podem

contribuir para a melhoria da qualidade do ensino. 4

A formação inicial tem um papel amplamente importante na educação profissional, isto

porque além de subsidiar uma formação sólida, fundamentada e crítica, instrumentaliza o

professor para o desenvolvimento da proposta estabelecida a partir da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação, vez que esta facilita sua prática pedagógica para que utilize estratégias que

envolvam o estudante como sujeitos ativos, tornando o processo de aprendizagem significativo

para o estudante que poderá ter a possibilidade em realizar conexões entre os saberes. 5

Diante a contextualização, o estudo objetivou analisar a prática docente no ensino superior

sob a ótica de formandos de enfermagem.

Material e métodos

Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em uma Instituição de Ensino

Superior, pública, situada em um município no interior do Estado da Bahia. A Universidade,

local de estudo, conta com vários cursos da área da saúde, entre eles o de Enfermagem.

Foi considerada a participação de todos os formandos de enfermagem matriculados no

primeiro semestre de 2012, sendo a coleta realizada no mês de março. Os sujeitos pesquisados

totalizaram 26, do turno matutino. A coleta de dados aconteceu a partir do agendamento da

coordenação do curso e reunião com todos os formandos.

O instrumento utilizado para a coleta foi um questionário contendo 16 questões abertas,

sendo que para esta análise. Os critérios para inclusão foram: ter idade igual ou superior a 18

anos, ser estudante do último semestre de graduação do curso de enfermagem e está

matriculado regularmente.

Os resultados foram analisados por meio da Técnica de Análise de Conteúdo Temática

Categorial6, que são compostas de três fases a serem seguidas. Na fase de pré-análise houve

organização e leitura completa das respostas dos participantes da pesquisa, de forma a

sistematizar e registrar a frequência do surgimento das unidades de registro.

Na fase de exploração do material aconteceu leitura detalhada e exaustiva de cada resposta,

observando, desta maneira, o que surgia de mais relevante conforme o objetivo proposta em

cada categoria. Na última fase, a de tratamento dos resultados e interpretação, aconteceu

a organização e codificação do material, de maneira a serem significativos. Neste contexto,

produziram-se três categorias, que serão apresentadas na forma de tópicos.

Estudo realizado observando os aspectos éticos para pesquisas que envolvem seres

humanos, como consta na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados

ocorreu após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste

da Bahia, campus de Jequié, Bahia, sob o protocolo nº 207/2009. Após os esclarecimentos dos

objetivos da pesquisa, cada formando assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e discussão

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A análise das respostas dos formandos de enfermagem produziu conhecimento que foi

classificado em três categorias: a prática docente, o processo de ensino-aprendizagem e a

formação do docente. Estas retrataram a concepção dos participantes sobre a prática docente

no Ensino Superior no curso de enfermagem da Instituição em que estudam e o processo de

aprendizagem.

Prática docente

É relevante destacar que a maioria dos formandos está pouco satisfeita ou insatisfeitos com

a conduta de alguns professores em sala de aula, justificando suas respostas apontando

estratégias para melhorar a forma de avaliação adotada por seus professores.

Se estivesse na condição de professor aproveitaria todo o momento com o aluno para avaliá-

lo constantemente. (Freire) Seria mais flexível em alguns pontos, sem deixar que a qualidade

do ensino fosse perdida. (Gil)

Prova não é o melhor tipo de avaliação. (Misukame) [...] a única modificação seria diminuir a

prova escrita e incorporar aulas estratégicas, alternativas de avaliação. (Alacoque)

[...] é preciso rever a forma de avaliação aqui bem como incorporar novas formas. (Teixeira)

Valorizaria mais as provas escritas, já que reconheço que algumas pessoas têm dificuldade em

expressar-se em grupo. (Gadotti) abriria um pouco mais para o campo da discussão em

sala/reflexão. (Vigotsky) Só procuraria diversificar as formas de avaliação. (Piaget)

[...] o docente não reconhece as limitações do aluno como parte do processo de

aprendizagem. (Aquino) Muitos professores acabam sendo injustos ao avaliar a habilidade

prática e teórica (Foucalt) percebo, não com todos, mas alguns professores rotulam o aluno.

(Boaventura)

A proposta de uma prática pedagógica inovadora é o início para o desconhecido e,

representa, diversas vezes, uma ameaça ao que já foi conquistada. O desconhecido abre,

porém, novas vertentes e possibilidades de transformação, mas, para isso, a participação

coletiva e democrática é indispensável na implantação de qualquer mudança, já que todos os

sujeitos estão interligados em uma rede. 2

As novas tecnológicas vêm sendo utilizadas de maneira expressiva na contemporaneidade e

estão inseridas em várias áreas, como na educacional. Estas representam ferramentas de apoio

que podem auxiliar em um melhor e mais facilitado aprendizado, entretanto, é necessário ter

cautela em seu uso, pois, apesar de serem bem vindos nas salas de aula, devem ser dominadas

pelo professor, isto porque o excesso de seu uso bem como a maneira de expor os conteúdos

podem dificultar a prática docente e o processo de ensino-aprendizagem.1

Inserir novas técnicas à prática docente é necessário, uma vez que as transformações

educacionais e o ser professor exigem novas propostas de aprendizagens que sejam suficientes

para satisfazer os desafios colocados à atual realidade entorno de uma educação diferenciada

que critica e transforma os sujeitos envolvidos no processo educativo. 7

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A prática docente precisa ultrapassar o ato focado meramente em transmitir informações. O

professor necessita assumir o papel de mediador do processo ensino-aprendizagem de maneira

que os estudantes ampliem suas possibilidades humanas de conhecer, duvidar e interagir com o

mundo por meio de uma nova estratégia de educar. 4

Processo de ensino-aprendizagem

Em relação ao tipo de avaliação mais utilizada em sala de aula por seus professores, foi visto

que varia conforme o docente e a disciplina, embora sobressaíssem as provas escritas e

seminários. Referindo-se a avaliação expositiva, apenas um dos formandos informou que os

professores, anteriormente ao seminário, ministram a aula sobre a temática, para então, os

estudantes realizarem a apresentação e, quase que de forma unânime, informaram que o

conteúdo somente é abordado por seus professores no momento da apresentação, em que

também acontece a discussão entre alunos e professores do tema proposto.

Os professores quase sempre discutem sobre o tema apresentado [...] (Morin) A discussão é

realizada somente após a apresentação dos alunos. (Platão) Os professores deixam seguir a

apresentação. Algumas vezes discutem outras apenas avaliam. (Cury)

Depende do professor. Muitos dão uma grande contribuição após a apresentação dos

trabalhos, porém, sempre tem aqueles professores que utilizam os seminários para se livrar de

trabalho. (Foucalt)

O conhecimento do estudante é mensurado pelo professor por meio da avaliação, que passa

a ser, para o estudante, a única alternativa para a obtenção da aprovação da disciplina. A

avaliação pode tornar-se, então, um fator que interfere na aprendizagem, pois, em varias

situações, o aluno estudará apenas os conteúdos que serão cobrados, não se aprofundando em

outros assuntos. 8

Tratando-se das atividades avaliativas como a apresentação de seminários, destaca-se a

relevância do docente antes de solicitar os discentes alguma atividade deste tipo, ministrar aula

acerca do assunto proposto, favorecendo assim, melhorarias no entendimento dos envolvidos e

na qualidade da apresentação. A função do seminário não deve ser apenas avaliativa, mas

funcionar como forma de construção do conhecimento entre alunos e professores, sendo assim,

é imprescindível que no decorrer e posteriormente a sua apresentação ocorra a

problematização e discussão da temática abordada.

Os formandos, em sua maioria, acreditam que as propostas pedagógicas de ensino de sua

instituição precisam ser aprimoradas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, vez que

em alguns momentos os estudantes sentem dificuldades em aprender o conteúdo discutido em

sala de aula.

A busca por melhorias deve ser constante em qualquer instituição [...] (Cury) Mesmo com

novos métodos de ensino é preciso estar sempre buscando aprimorar a metodologia.

(Goleman)

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Ás vezes existe um grande número de aulas expositivas o que acaba ficando cansativo para

os discentes e prejudicando o processo de ensino-aprendizagem. (Piaget) Muitos conteúdos são

transmitidos de forma superficial, sem que aja o verdadeiro aprendizado. (Foucalt)

Em relação às dificuldades relatadas, uma postura preventiva poderá favorecer melhor o

desempenho e o êxito do estudante, não só na sua avaliação enquanto estudante, mas também

como futuro profissional. 8

No processo de ensino-aprendizagem da Enfermagem, percebe-se a necessidade de

mudanças na prática docente, isto porque o modelo ainda reproduzido por algumas instituições

de ensino não possibilita o estudante ser um cidadão ativo na construção da sociedade. Por

isso, o pensamento crítico precisa ser incentivado na prática e no ensino de Enfermagem como

condição primordial para a formação do profissional enfermeiro. 9

É indispensável que o professor universitário pense a partir do novo e não de condições

ultrapassadas, visando inserir no mercado, profissionais competentes, capazes de interagir e

usufruir das novas tecnologias. Para isso, é essencial repensar as condições do processo de

ensino-aprendizagem em que se produzem os novos profissionais. 3

Os estudantes descreveram o que consideram uma aula ideal para melhor desempenho da

prática docente e maior envolvimento dos alunos, isto com o objetivo de melhorar a qualidade

do processo de ensino-aprendizagem.

A aula ideal é aquela em que o professor consegue o objetivo e os alunos aprendem

trocando experiências. (Freire) [...] é aquela que exige raciocínio do aluno e que explore suas

habilidades e competências [...]. (Alacoque) [...] o professor expõem o assunto de forma

atrativa, e, permite ao aluno discutir em grupo assuntos pertinentes ao tema. (Foucalt)

É aquela em que se consegue associar a teoria com a prática. (Durkheim) [...] que possibilite

um processo ensino-aprendizagem eficaz para todos os envolvidos. (Aristóteles)

Uma aula na qual exista uma comunicação eficaz entre o aluno e professor [...]. (Aquino)

Quando há trocas de informações entre alunos e professores, havendo respeito entre ambos

[...] (Platão)

A aula ideal é uma aula dinâmica, expositiva, onde o professor domina o conteúdo e passa

de forma clara [...] (Morin) [...] em que um assunto é abordado teoricamente pelo professor e

aprofundado por discussões e trocas de conhecimento entre aluno-professores. (Sócrates)

Entre as alternativas para a prática docente referente a cursos de graduação em

Enfermagem e que estejam entrelaçadas às políticas públicas de saúde, entende-se que

repensar a prática profissional envolve mudanças, desde reformulações de projetos

pedagógicos, linhas pedagógicas e postura do docente, para estabelecer uma relação horizontal

e menos autoritária que possa oferecer possibilidades ao desenvolvimento do estudante. Logo,

não será possível formar um enfermeiro reflexivo, crítico e político, se a prática profissional

docente não seguir esses mesmos princípios. 9

Formação do docente

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Constatou-se que maior percentual dos estudantes acredita que seus professores estão

preparados para associar de forma produtiva as metodologias e instrumentos utilizados em sala

de aula, no entanto, alguns expressam insatisfação com a prática docente.

Os professores demonstram-se muito capacitados, porém as modificações de metodologias

provêm [...]. (Nietzsche)

Alguns professores precisam melhorar a didática do ensino [...]. (Arendt) não transmitem de

forma clara o conteúdo, ficam presos a leitura dos slides o que dificultam a compreensão da

aula. (Gadotti). [...] acho que a educação permanente poderia ser uma alternativa viável.

(Arendt)

A grande maioria dos professores sim, mas existem alguns que, apesar do cargo ocupado,

não tem essa capacidade. (Durkheim) [...] não conseguem, a partir da metodologia utilizada

compartilhar o conhecimento de forma eficaz. (Aquino) [...] não dominam o assunto abordado,

e dessa forma o ensino é prejudicado. (Morin)

A formação do docente em enfermagem precisa ser consistente com base no domínio de

conhecimentos científicos e na atuação investigativa no processo de ensina-aprendizagem,

recriando situações de aprender por investigação do conhecimento de maneira coletiva com o

intuito de valorizar a avaliação diagnóstica dentro do universo cognitivo e cultural dos

estudantes como processos interativos. 4

A formação inicial e permanente é considerada relevante condição para que o educador

possa modificar sua prática pedagógica, para isso, a flexibilidade é o primeiro passo para a

transformação, vez que é essencial romper barreiras, conceitos, paradigmas; é preciso

transcender da postura tradicional, exercitando a aceitação de novas ideais; é preciso o

envolvimento e comprometimento com o processo, com o contexto.5

O processo de redirecionar a formação dos profissionais de Enfermagem precisa estar

voltado para as mudanças sociais. Por conseguinte, as propostas pedagógicas devem dialogar

com estas mudanças. É esperado que a formação esteja interligada à realidade vivenciada

pelos estudantes e seja capaz de incorporar os aspectos intrínsecos a sociedade globalizada do

século XXI. 4

Mesmo que algumas instituições de ensino realizem atividades de educação permanente dos

enfermeiros educadores, a capacitação docente ainda é considerada um desafio. Diria que está

em estado embrionário, necessitando de reconhecimento pela instituição de sua necessidade e

sua inserção no projeto pedagógico e prática educativa. 5

Foi visto que a insatisfação dos formandos de enfermagem está relacionada, principalmente,

à postura de alguns professores frente às metodologias de ensino adotadas na instituição.

Diante o contexto, os mesmos sugerem estratégias para aprimorar o processo de ensino-

aprendizagem.

Investir em educação ou práticas baseadas em evidências. (Alacoque) Maior relação da

prática com a teoria [...]. (Gil)

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Maior disponibilidade para realização de atividades extra, [...]. (Aristóteles) momentos de

discussão em sala e sugestões de temas por parte dos alunos. (Rousseau) [...] diversificação de

métodos, a inclusão de módulos tutoriais como um dos principais recursos. (Auad)

Buscar sempre formas diversas de ensino, não ficar preso às aulas expositivas e estimular a

busca de conhecimentos pelo aluno. (Morin)

Aulas menos expositivas, diminuição do uso de provas teóricas, deve-se utilizar outros

recursos como tutoriais, debates, seminários. (Goleman) Incorporar metodologias de ensino

coletivas como o “tutorial” que promove o conhecimento de uma forma participativa. (Teixeira)

Que fosse explorado com maior intensidade o método de ensino baseado em

problematização. (Durkheim) Discussão e crítica entre alunos, professores, comunidade,

trabalhadores da área. (Marx)

A formação profissional assume um papel inquestionável como forma de possibilitar a

aquisição de saberes e práticas imprescindíveis à atuação do docente. A capacidade e

competência que se espera do professor na contemporaneidade não acontece tão

simplesmente pelo seu exercício profissional em função de sua formação, seja ela inicial ou

continuada, mas que seja caracterizada a partir do processo de reflexão-ação-reflexão. 7

A interdisciplinaridade na prática docente implica em um novo tipo de educador, mais flexível

e mediador na produção de conhecimento, para que os estudantes se apropriem do

conhecimento a partir da ação-reflexão-ação. Portanto, o educador precisa superar a prática

individual e trabalhar no coletivo. Isso pressupõe planejamento e ação coletivos envolvendo

ajuste de ações e projetos que objetivam a interligação e construção dos saberes. 5

Nesta perspectiva, é indispensável o estabelecimento de programas de formação continuada

e permanente, voltados para a docência, que consideram a reflexão sobre a prática,

universidade como local de formação, coletivo e o saber experiencial. 4

Considerações finais

Diante a percepção dos formandos de enfermagem sobre a prática docente vivenciada na

IES em que estudam, notou-se que apesar de vários terem afirmado que alguns professores

encontram preparados para assumir a prática docente e inserir no processo de ensino-

aprendizado novas propostas metodológicas, relacionando a teoria e a prática, ainda existe um

déficit neste processo que interfere negativamente na educação oferecida no curso de

enfermagem.

Sugere-se que a prática docente seja repensada, de forma que o ensino ocorra de forma

horizontal, trans e interdisciplinar, e que os estudantes sejam protagonistas ativos do processo

educacional, pois, desta forma, será possível formar profissionais de qualidade e

comprometidos com a profissão e o social. Portanto, a partir desta formação será possível

prevenir futuros entraves na educação, vez que o enfermeiro também poderá estar atuando em

sala de aula.

Referências

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2. Mitre SM, Siqueira-Batista R, Mendonça JMG, Morais-Pinto NM, Meirelles CAB,

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