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MARINHA DO BRASIL CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE MARINA MELO PEREIRA A EVOLUÇÃO DOS NAVIOS MERCANTES QUANTO À HIDRODINÂMICA RIO DE JANEIRO 2014

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  • MARINHA DO BRASIL

    CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA

    ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE

    MARINA MELO PEREIRA

    A EVOLUÇÃO DOS NAVIOS MERCANTES QUANTO À HIDRODINÂMICA

    RIO DE JANEIRO

    2014

    MARINHA DO BRASIL

    CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA

    CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE

    BRUNA GALLIPOLI DILÉO

    SISTEMAS DE PROPULSÃO ELÉTRICA

  • MARINA MELO PEREIRA

    A EVOLUÇÃO DOS NAVIOS MERCANTES QUANTO À HIDRODINÂMICA

    Trabalho de conclusão de curso apresentado como

    exigência para obtenção do título de Bacharel em

    Ciências Náuticas do Curso de Formação de Oficiais

    de Náutica da Marinha Mercante, ministrado pelo

    Centro de Instrução Almirante Graça Aranha.

    Orientador: Profº HERMANN REGAZZI GERK

    RIO DE JANEIRO

    2014

  • MARINA MELO PEREIRA

    A EVOLUÇÃO DOS NAVIOS MERCANTES QUANTO À HIDRODINÂMICA

    Trabalho de conclusão de curso apresentado como

    exigência para obtenção do título de Bacharel em

    Ciências Náuticas do Curso de Formação de Oficiais

    da Marinha Mercante, ministrado pelo Centro de

    Instrução Almirante Graça Aranha.

    Data da Aprovação: ____/____/____

    Orientador (a): Professor HERMANN REGAZZI GERK

    _________________________

    Assinatura do Orientador

    NOTA FINAL:____________

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus por me guiar, inspirar e iluminar meu caminho, permitindo que eu

    chegasse até aqui depois de percorrer uma longa jornada de estudo e dedicação antes mesmo

    de ingressar na EFOMM. Agradeço a minha mãe Clecí por ter sempre me ajudado e estado ao

    meu lado nos momentos difíceis e ao meu namorado Philipe pelo apoio com esta monografia

    e por ter acreditado em mim.

  • "Os que descem ao mar em navios, e os que fazem

    comércio nas grandes águas, esses vêem as obras do

    Senhor e as suas maravilhas nas profundezas”

    (Salmo 107:23 e 24)

  • RESUMO

    Esse trabalho tem como objetivo demonstrar a evolução dos navios mercantes desde a

    antiguidade, ou seja desde que o homem descobriu que um tronco de árvore poderia ser usado

    para deslocar pessoas e objetos na água, até os dias atuais. Será analisado os diversos aspectos

    do navio e a hidrodinâmica envolvida nestes. Serão abordados as características dos navios

    primitivos e os modernos quanto ao formato do casco, à propulsão empregada, o design, os

    materiais utilizados na sua construção dentre outros. Novas tecnologias serão mostradas,

    como aquelas aplicadas aos cascos de navios quebra-gelo. O naufrágio do Titanic também

    será abordado, não só pela importância histórica do fato, mas também para atentar quanto à

    evolução da construção naval em 100 anos e a hidrodinâmica envolvida no acidente.

    Palavras-chave: evolução, casco, hidrodinâmica, propulsor, antiguidade, design, materiais,

    eficiência, desenvolvimento

  • ABSTRACT

    This search has the goal of showing the merchant Ship´s evolution from its beginnings, when

    men discovered that a wood could be used to transport people and objects through water, until

    today. It will be analysed several aspects of the ship and its dynamics involved in it. It will be

    coment about the ancient ships’ characteristics and modern ships in relation to hull shape, the

    propulsion, design, materials used in its building and others. Modern technologies will be

    talked about, as icebreakers’ hull technologies. The sinking of Titanic will be talked too, not

    only by the historic importance, but also aware about evolution of shipbuilding in 100 years

    and dynamic involved in the accident.

    Key-words: evolution, hull, dynamics, propulsion, ancient, design, materials, efficiency,

    development

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1-: Embarcação romana 14

    Figura 2: Navio Viking 14

    Figura 3: Forma Típica de Carena de Deslocamento de Baixa Velocidade 16

    Figura 4: Forma Típica de Carena de Deslocamento de Alta Velocidade 16

    Figura 5: Forma Típica de Carena Planante (Series 62) 17

    Figura 6: Carenas planares com aresta dupla 17

    Figura 7: Aerobarco 19

    Figura 8: Hidrofólio 19

    Figura 9: Catamaran 20

    Figura 10: Trimaran 21

    Figura 11: SWAT 21

    Figura 12: Coeficientes de secção a meio navio 22

    Figura 13: Contorno de Popa 23

    Figura 14: Bulbo Original 25

    Figura 15: Bulbo Otimizado 25

    Figura 16: Antes do uso do CFD 25

    Figura 17 Após o uso do CFD 25

    Figura 18 Resistência do Casco 26

    Figura 19 Bulbo e a resistência de ondas 27

    Figura 20 Navio X-Bow 29

    Figura 21 Navio Quebra-Gelo 31

    Figura 22 Navio com casco côncavo 32

    Figura 23 Casco reto e inclinado num ângulo perfeito 32

    Figura 24 Embarcação romana de junco 34

  • Figura 25 Casco Compósito 35

    Figura 26 Casco de Aço 35

    Figura 27 Casco com rebites 35

    Figura 28 Soldagem do Casco 35

    Figura 29 Navio Great Eastern com roda de paletas a meia nau 38

    Figura 30 Gráfico relacionando a potência,torque e eficiência 40

    Figura 31 Redução de poluentes com a propulsão elétrica 41

    Figura 32 Propulsores Schottel 43

    Figura 33 Propulsor Voith Schneider 44

    Figura 34 A hidrodinâmica do Tubo KortTM

    46

    Figura 35 Tunnel Thrusters 47

    Figura 36 Propulsor com jato de água 47

    Figura 37 Casco rebitado do Titanic 49

    Figura 38 Leme do Titanic 49

    Figura 39 Perfis de leme 50

    Figura 40 Razão de aspecto e ângulo de STALL 51

    Figura 41 Secções NACA 0015 51

    Figura 42 FoilSlim Simulator 52

    Figura 43 Tipos de Flap 53

    Figura 44 Slats e Flaps 53

  • SUMÁRIO

    1INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10

    2 DESIGN DO NAVIO .......................................................................................................... 11

    3 EVOLUÇÃO QUANTO AO FORMATO DO CASCO ................................................... 12

    3.1 Antiguidade ....................................................................................................................... 12

    3.2 Atualmente ........................................................................................................................ 13

    3.2.1 A forma do casco adotada deve satisfazer um conjunto de requisitos: ........................... 14

    3.2.2 Classificação da Carena..........................................................................................14

    3.2.2.1 Quanto ao tipo de sustentação.............................................................................15

    3.2.2.2 Quanto à forma do casco....................................................................................15

    3.2.2.1 Quanto ao tipo de sustentação............................................................................15

    3.2.2.2 Quanto à forma do casco.................................................................................18

    3.2.2.2.1 Multi-casco......................................................................................................18

    3.2.3 Coeficientes de Forma..........................................................................................21

    3.2.3.1 Coeficiente de secção a meio navio (Cm) .......................................................21

    3.2.3.2 Coeficiente da área de flutuação (CW) ............................................................21

    3.2.3.2 Coeficiente da área de flutuação (CW).............................................................21

    3.2.3.3 Coeficiente de Bloco (CB)..................................................................................21

    3.2.3.4 Coeficiente Prismático (Cp)..............................................................................22

    3.2.4 Contorno de Popa................................................................................................22

    3.2.5 Otimização da Forma do Casco.........................................................................23

    3.2.5.1 Através da relação entre as dimensões do casco................................................23

    3.2.5.2 Pela otimização das linhas do casco...................................................................23

    3.2.5.3 Minimizando as Resistências.............................................................................23.

    3.2.5.1 Através da relação entre as dimensões do casco...........................................23

    3.2.5.3 Minimizando as Resistências...........................................................................24

    3.2.4 Novas Tecnologias utilizadas para forma do casco...........................................28

    3.2.4.1 Tecnologia “X-Bow”.........................................................................................28

    3.2.4.2 Navio Quebra-Gelo............................................................................................30

    4 EVOLUÇÃO QUANTO AOS MATERIAIS UTILIZADOS.................................33

    4.1 Antiguidade..............................................................................................................33

    4.2 Atualmente...............................................................................................................34

  • 5 EVOLUÇÃO QUANTO À PROPULSÃO.............................................................36

    5.1 Antiguidade.............................................................................................................36

    5.2 Atualmente...............................................................................................................37

    5.3 Comparação entre a propulsão elétrica e propulsão mecânica...........................38

    5.4 Vantagens da Propulsão elétrica............................................................................38

    5.5 Tipos de hélice..........................................................................................................41

    5.6 Sistemas Propulsores...............................................................................................41

    5.6.1 AzipodsTM

    ..............................................................................................................41

    5.6.2 Siemens SchottelTM

    ...............................................................................................42

    5.6.3 Voith Schneider™……………………………………………………………….43

    5.6.4 Tubo KortTM

    ..........................................................................................................44

    5.6.5 Tunnel Thrusters………………………………………………………………...45

    5.6.6 Propulsor com jato de água...................................................................................46

    6 A HIDRODINÂMICA DO NAUFRÁGIO DO TITANIC......................................47

    6.1 Casco........................................................................................................................47

    6.2 Leme.........................................................................................................................48

    6.2.1Perfil do Leme........................................................................................................49

    6.2.2 Flaps......................................................................................................................51

    6.2.3 Slats.......................................................................................................................52

    6.3 Velocidade................................................................................................................53

    7CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................54

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................55

  • 11

    1 INTRODUÇÃO

    A navegação começa na pré-história, no momento em que o homem descobriu que

    um tronco de árvore ao flutuar na água poderia lhe ser útil para deslocar-se ou para transportar

    objetos. Não levou muito tempo para compreender que, unindo esses troncos (formando assim

    uma jangada), ou com ajuda de uma vara ou um remo, lhe seria mais fácil navegar. Ou ainda,

    cavando um tronco, dando-lhe um formato, percebeu rapidamente que isto lhe proporcionaria

    melhor controle do rumo e mais resistência. A partir de então, foi aumentando o seu tamanho

    e acrescentando tecnologias até chegar ao “navio”.

    Atualmente o principal objetivo de um navio mercante é obter lucro com o comércio

    marítimo, portanto a eficiência e consequentemente a economia é de suma importância ao se

    projetar um navio. O armador requer que o navio que ele irá possuir lhe forneça o melhor

    retorno possível para o seu investimento inicial e demais custos decorrentes da construção.

    A evolução dos navios pode ser observada no formato do casco, que são projetados

    objetivando minimizar as componentes da resistência ao avanço, através da relação entre as

    dimensões do casco, da análise dos coeficientes de forma e através do uso de recursos como o

    bulbo de proa.

    Os materiais empregados na construção naval foram sendo aperfeiçoados ao longo

    dos anos, de maneira que pudessem resistir aos constantes esforços, que tornasse o navio mais

    leve ou ainda que diminuísse a viscosidade no casco.

    Os sistemas de propulsão evoluíram do remo, vela e roda de paletas para o hélice,

    que foi sendo gradativamente desenvolvido e incrementado, aumentando a eficiência da

    embarcação, consumindo menos combustível e poluindo menos. Os sistemas de propulsão

    modernos conferem maior manobrabilidade e resposta rápida à mudança de direção.

    O naufrágio do Titanic também será analisado neste trabalho, objetivando estudar a

    hidrodinâmica envolvida e acompanhar as mudanças ocorridas nas embarcações 100 anos

    após o acidente.

  • 12

    2 DESIGN DO NAVIO

    Na construção de um navio mercante, ao se realizar o projeto deste, o design final

    deve levar em conta não somente considerações econômicas atuais como também aquelas que

    provavelmente irão surgir durante a vida do navio. Esse é especialmente o caso de alguns

    tipos de navio como o LNG, na qual o navio é esperado navegar a mesma rota por toda a sua

    vida útil. Design para operação é o resultado. Para outros navios, incluindo graneleiros, o

    primeiro custo do navio é o principal fator para o armador e o navio deve ser designado de

    acordo com a sua finalidade, ou seja dependendo do tipo de carga que irá carregar ou da

    operação que fará.

    Com o auxílio de computadores é possível fazer um estudo de um grande número de

    parâmetros de design e chegar a um modelo de navio que além de tecnicamente viável, seja

    principalmente o mais eficiente economicamente. Preferencialmente, este design deverá levar

    em consideração o custo inicial, o custo de operação e manutenções futuras.

    O design inicial do navio geralmente procede através de três etapas: a concepção, a

    preliminária e o design de contrato.

  • 13

    3 EVOLUÇÃO QUANTO AO FORMATO DO CASCO

    3.1 Antiguidade

    No Império Antigo o formato clássico do casco dos barcos egípcios era a proa com

    forma de cabeça de animal, posteriormente a popa passou a ser mais alta. Até o Império Novo

    estes não possuíam quilha. Os navios egípcios foram os primeiros navios mercantes, cujo

    formato arquitetônico foi chamado de “redondo”. O navio mercante “redondo” foi

    desenvolvido para transportar um grande volume de mercadorias, este possuía um grande e

    forte calado. Posteriormente, a popa passou a ser mais alta do que a proa pois o mecanismo de

    direção era acionado por um timoneiro em pé.

    Os fenícios adotaram os modelos do barcos cretenses e egípcios, eram curtos,

    robustos, amplos e largos, as amuradas altas em forma de grades protegiam a tripulação das

    ondas que quebravam sobre o barco, na proa e na popa. Com o passar do tempo, surgiram as

    galeras gregas usadas para o transporte de carga, tinham cascos curtos e largos e carregavam

    até 250 toneladas.

    Os navios Vikings, conhecidos como “drakkas” eram de sólida construção, de

    tamanho médio, sua popa e proa formavam ângulos quase retos com a quilha, esta de formato

    pontiagudo e mais longa que as galeras. O casco era construído com tábuas finas, de calado

    baixo. Devido a essas características, eram estáveis, fáceis de manejar e mais velozes que as

    galeras.

    Os venezianos, devido à ataques de piratas, desenvolveram um tipo de navio que

    combinava as características das galeras de guerra com os redondos de comércio. Eram navios

    cujo comprimento era três vezes a largura, mais estáveis que as galeras, porém mais

    compridos, mais baixos e mais leves e, consequentemente mais rápidos do que os pesados

    navios redondos, estes foram chamados de galeões.

    Os portugueses utilizaram dois tipos de navio: a carraça e a caravela. A primeira,

    denominada de naus, era um navio de grande porte e a segunda era uma versão menor da

    carraca porém com perfil mais esguio e de linhas mais finas das obras vivas.

    No século XVIII, diversas modificações importantes forma introduzidas graças ao

    estudo da influência do vento e da resistência da água. Assim, o casco passou a ser de tábuas

    duplas. A quilha passou a ter novos perfis, passando a ser forrada com lâminas de cobre para

  • 14

    protegê-la contra a ação das plantas aquáticas e, ao mesmo tempo, aumentar a velocidade pela

    diminuição da resistência.

    O esporão, estrutura utilizada em navios de guerra do final do séc. XIX, deu origem

    ao bulbo de proa utilizado atualmente para amenizar a resistência de onda.

    Figura 1: Embarcação romana Figura 2: Navio Viking

    Fonte: Konijnenburg (1926) Fonte: Francisco Diocélio Alencar de Oliveira (2007)

    3.2 Atualmente

    Para projetar a forma de um casco, deve-se levar em conta a função que este vai

    desempenhar (o que determina o volume do espaço fechado de que se necessita, a disposição

    dos motores e do equipamento dentro dele, e questões relacionadas com a sua flutuabilidade),

    e sua velocidade, que é diminuída pela resistência ao avanço que atua sobre ele quando se

    desloca sobre a água. Para que um barco possa flutuar, a parte que se encontra sob a água

    deve ter uma densidade menor que a água que desloca. Apesar de os cascos finos serem

    melhores para atravessar ondas, ocupam volumes relativamente pequenos. Se esse barco

    transportar uma carga pesada, poderá se afundar nas águas do mar.

    Os desenhos dos cascos variam desde os iates de competição estreitos e leves,

    construídos especialmente para movimentar-se com grande velocidade, até enormes

    petroleiros projetados para transportar carga máxima da maneira mais econômica possível. Os

    cascos com frequência incorporam tabiques que o dividem em volumes menores. Isso ajuda a

    manter a carga bem distribuída na embarcação e também evita inundação no casco caso este

    se rompesse. Recentemente, projetos de cascos múltiplos desenvolvidos para iates como os

  • 15

    catamaras e os trimaras foram utilizados por buques de passageiros. Seu desenho reduz a

    resistência ao avanço, permitindo que estas embarcações desenvolvam grandes velocidades.

    Um superpetroleiro é estreito acima da água para reduzir a resistência ao avanço,

    mas possui uma curvatura na parte inferior para aumentar a capacidade de armazenamento e

    flutuação.

    3.2.1 A forma do casco adotada deve satisfazer um conjunto de requisitos:

    •Capacidade

    – Volume

    – Deslocamento

    • Estabilidade

    – Intacta

    – Em Avaria

    • Hidrodinâmica

    – Velocidade de serviço (carga / lastro)

    – Comportamento no mar

    – Manobrabilidade

    • Funcionalidade

    • Estéticos

    – Forma agradável

    3.2.2 Classificação da Carena

    3.2.2.1 Quanto ao tipo de sustentação:

    • Carenas de Deslocamento

    • Carenas Planantes

    • Semi-Planantes

    • Hidrofoil

  • 16

    3.2.2.2 Quanto à forma do casco:

    • Monocasco

    • Multi-casco

    – Catamaran

    – Trimaran

    – SWATH

    3.2.2.1 Quanto ao tipo de sustentação

    Carenas de Deslocamento

    Geralmente com o fundo redondo e com uma velocidade máxima de deslocamento

    que é determinada pelo comprimento na linha de água.

    Quanto maior for o comprimento na linha de água maior é a velocidade da carena no

    modo de deslocamento.

    Na sua velocidade de deslocamento, a carena mantém-se imersa na sua totalidade.

    Figura 3: Forma Típica de Carena de Deslocamento de Baixa Velocidade

    Fonte:Ventura (2012)

    Figura 4: Forma Típica de Carena de Deslocamento de Alta Velocidade (Series 64)

    Fonte:Ventura ( 2012)

  • 17

    Carenas Planares

    Carenas cuja forma é caracterizada por uma forte descontinuidade ao longo do fundo,

    que pode ser plano ou em V.

    A descontinuidade tem a forma de uma aresta bem vincada (hard chine).

    O objetivo é que a embarcação plane em duas pequenas áreas e assim a superfície

    molhada pode ser reduzida em 60% ou mais.

    Figura 5: Forma Típica de Carena Planante (Series 62)

    Fonte:Ventura ( 2012)

    Carenas Planares com aresta dupla

    Existem também carenas planares com duas arestas.

    Figura 6: Carenas planares com aresta dupla

    Fonte: Ventura (2012)

  • 18

    Carenas Semi-Plamares

    Algumas carenas de deslocamento quando submetidas a potências mais elevadas

    podem adquirir velocidades superiores à sua velocidade de deslocamento.

    Nestas condições, a proa eleva-se acima da linha de água à medida que a velocidade

    aumenta e diz-se que a carena é semi-planante.

    Existem dois tipos principais:

    – Com boca estreita e encolamento circular (Nelson-style)

    – Com arestas acentuadas (hard-chine)

    Hidrofólio e Aerobarcos

    Muitos poucos barcos viajam a mais de 55km/h, por causa da resistência ao avanço

    de seus cascos quando transitam sobre a água, que é aproximadamente 800 vezes mais densa

    que o ar. Ao viajar sobre um colchão de ar, os aerodeslizadores resolvem o problema da

    lentidão que a água impõe. Já os hidrofólios minimizam o contato com a água utilizando

    superfícies em forma de asa para elevar seus cascos fora dela quando viajam em alta

    velocidade.

    Num aerodeslizador, grandes ventiladores criam uma corrente de ar descendente

    através de orifícios de ventilação localizados ao longo da borda externa da embarcação. Este

    ar é preso por um rebordo de borracha flexível e se acumula sob o veículo, empurrando-o para

    cima. Ventiladores na parte traseira, acionados por motores, geram uma força propulsora que

    impulsiona a embarcação para frente.

    Já o Hidrofólio, possui lâminas em forma de asa localizadas sob o nível da água que

    permite obter um impulso que, a velocidades elevadas permite ao casco elevar-se acima da

    água reduzindo a resistência. O primeiro hidrofólio foi projetado pelo italiano Forlanini em

    1906.

    Existem dois tipos principais de hidrofólio: os perfuradores de superfície e os

    completamente submersos, que utilizam diferentes métodos para evitar que o casco do veículo

    choque contra as ondas enquanto viaja velozmente. Os submersos usam sistemas de sonares

    para determinar a altura das ondas e modificar o ângulo das lâminas a fim de ajustar o nível

    de elevação e assim manter constante a altura do bote sobre a superfície. O perfurador de

  • 19

    superfície produz maior elevação na água que no ar. Quando o bote atravessa uma onda, uma

    porção maior da lâmina em forma de V fica coberta por água. Isto cria mais elevação e

    levanta o casco sobre o topo da onda.

    Figura7:Aerobarco

    Fonte:Ventura (2012)

    Figura 8: Hidrofólio

    Fonte: Ventura (2012)

    3.2.2.2) Quanto à forma do casco:

    3.2.2.2.1)Multi-casco

    Catamaran

    Tipos de Carena:

    • Carena em Túnel

    • Carenas de Deslocamento

    • Carenas Planantes

  • 20

    Figura 9: Catamaran

    Fonte:Ventura (2012)

    Tipos de carena Catamaran:

    Carenas em Túnel

    – Força de sustentação (lift)

    – Alta velocidade

    – Elevada potência

    – Mau comportamento em ondas devido ao fundo plano

    Carenas de Deslocamento

    – Impulsão

    – Superfície molhada, resistência de atrito

    – Velocidade máxima limitada

    – Sujeitas a slamming

  • 21

    Trimaran

    Figura 10: Trimaran

    Fonte: Ventura (2012)

    SWAT

    Figura 11: SWAT

    Fonte: Ventura ( 2012)

  • 22

    3.2.3 Coeficientes de Forma

    3.2.3.1 Coeficiente de secção a meio navio (Cm)

    Cm =

    Figura 12: Coeficientes de secção a meio navio

    Fonte:Ventura

    (2012)

    3.2.3.2 Coeficiente da área de flutuação (CW)

    Cw =

    3.2.3.3 Coeficiente de Bloco (CB)

    Um navio que tenha um coeficiente de bloco pequeno é considerado como “fino”.

    Em geral, navios de alta velocidade têm pequenos coeficientes de bloco. Um coeficiente da

    área de flutuação alto em combinação com um coeficiente de bloco baixo é favorável à

    estabilidade em ambas as direções, transversal e longitudinal.

    Cb =

  • 23

    3.2.3.4 Coeficiente Prismático (Cp)

    Este coeficiente é importante para a resistência e portanto para mensurar a força

    necessária de propulsão. Se o Cp diminui, a força de propulsão necessária também se torna

    menor.

    O valor máximo alcançado de todos estes coeficientes é 1, no caso do casco ter

    formato de caixa retangular e o valor mínimo é teoricamente 0.

    Cp =

    =

    3.2.4 Contorno de Popa

    A figura representa algumas das evoluções das linhas da popa, desde a popa em colher (1) à

    popa em painel (2).

    Figura 13: Contorno de Popa

    Fonte:Ventura ( 2012)

  • 24

    A forma do contorno tem evoluído desde as soluções com cadaste (stern post) até ao

    bolbo de popa que se encontra em muitos navio recentes.

    Em navios com propulsão POD a forma da popa torna-se bastante mais simplificada.

    3.2.5 Otimização da Forma do Casco:

    3.2.5.1)Através da relação entre as dimensões do casco;

    3.2.5.2)Pela otimização das linhas do casco;

    3.2.5.3)Minimizando as Resistências

    3.2.5.1) Através da relação entre as dimensões do casco

    Principais Dimensões:

    Comprimento Total (LOA)

    Boca (B)

    Calado (H)

    Coeficiente de Bloco (Cb)

    Aumentando a razão LOA/B ou um aumento do comprimento e reduzindo o Cb pode

    proporcionar a redução do consumo de combustível para propulsão de até 3 a 5%, ou seja

    resulta na melhora da eficiência do casco. Em relação ao custo com a construção, o

    comprimento é a dimensão mais cara.

    Uma maior razão comprimento/boca tende a diminuir a resistência de ondas,

    enquanto ao reduzir a razão boca/calado tende a diminuir a carena e desta forma a resistência

    de superfície.

    3.2.5.2) Pela otimização das linhas do casco

    Redução da resistência de ondas através do Bulbo de Proa Otimizado.

  • 25

    Figura 14: Bulbo Original Figura 15: Bulbo Otimizado

    Fonte: Dokkum (2008) Fonte: Dokkum (2008)

    Na Popa: Uso de CFD (Computacional Fluid Dynamics).

    Figura 16: Antes do uso do CFD Figura 17: Após o uso do CFD

    Fonte: Dokkum (2008) Fonte: Dokkum (2008)

    3.2.5.3) Minimizando as Resistências

    Componentes da resistência ao avanço (Arrasto):

    Resistência ao vento;

    Resistência Viscosa;

    Resistência dos apêndices;

    Resistência de ondas

  • 26

    Componentes da resistência do casco em águas calmas no calado de projeto:

    Figura18: Resistência do casco

    Fonte: Ventura ( 2012)

    Coeficiente de Arrasto:

    D= Arrasto

    D = CD 1/2 p v2S

    Resistência Viscosa

    É composta pela resistência de superfície, devido à esforços cisalhantes e pela

    resistência de forma que se dá pela distribuição das pressões ao longo do casco. A resistência

    viscosa (superfície) é a maior componente entre as resistências ao avanço.

    A resistência de superfície ocorre na região do escoamento adjacente à fronteira

    sólida, onde ocorre o efeito da viscosidade do fluido (atrito fluido) que afeta a velocidade de

    escoamento, essa região é denominada camada limite (boundary layer).

    Resistência dos apêndices

    Para navios de carga em condição de águas calmas, a resistência de apêndices é em

    torno de 2 a 3%. Aproximadamente, metade da resistência é atribuída ao leme e a outra parte

    para as bolinas no bojo. A influência do leme pode aumentar substancialmente em condições

    severas de mar ou para navios direccionalmente instáveis.

  • 27

    Resistência de ondas

    O bulbo de proa é o recurso utilizado mais eficiente pra minimizar a resistência de

    ondas. Este gera um tem de ondas defasado de meio comprimento de onda em relação as

    ondas de proa. Como resultado disto tem-se uma interferência destrutiva entre elas,

    suavizando as ondas resultantes e, consequentemente, economizando o combustível da

    embarcação. O comprimento do bolbo define a fase de interferência e o seu volume determina

    a largura do seu sistema de ondas.

    Figura 19: Bulbo e a resistência de ondas

    Fonte: Dokkum (2008)

    Vantagens do bulbo de proa:

    Reduz a onda de proa, devido à onda gerada pelo próprio bolbo, tornando o

    navio mais eficiente em termos energéticos;

    Aumenta o comprimento do navio na flutuação, aumentando ligeiramente a

    velocidade do navio, reduzindo os requisitos de potência instalada e portanto

    o consumo de combustível;

    Funciona como um "para-choques" robusto em caso de colisão;

    Permite a instalação mais a vante do impulsor de proa, tornando-o mais

    eficiente;

    Permite maior reserva de flutuação ou maior capacidade de lastro a vante;

    Reduz o movimento de cabeceio (pitching)

  • 28

    Desvantagem do bulbo de proa:

    De acordo com Lewis (1989), a adição do bulbo às obras vivas da embarcação

    contribui negativamente na resistência friccional ao aumentar a área molhada ao casco. O que

    se obtém, ao final, é um ganho relativamente pequeno uma vez que ao reduzir-se a

    componente de ondas da resistência acaba-se por aumentar a componente friccional, e ao

    mesmo tempo uma grande complicação na construção das seções de vante da embarcação.

    Aspectos do projeto do bulbo:

    O bolbo nunca deve emergir completamente. O ponto da extremidade mais a vante

    deve ficar ao nível da linha de água;

    Distribuição do volume do bolbo:

    Demasiada imersão não produz efeito

    Volume concentrado longitudinalmente perto da superfície livre aumenta o

    efeito de interferência nas ondas

    O bolbo é vantajoso em navegação no gelo – os pedaços de gelo deslizam ao longo do bolbo

    com o seu lado “molhado” que tem coeficiente de atrito inferior

    Relação do bulbo de proa com o número de Froud:

    Número de Froud:

    Fr =

    Normalmente a velocidades baixas o efeito do bolbo é negativo. Quando o número

    de Froude (Fr) aumenta o seu efeito torna-se positivo e aumenta até um valor máximo. Deste

    ponto para cima, quando o Fr tende para infinito, o efeito do bolbo tende para zero.

  • 29

    Quando Fr é pequeno, ou seja, aproximadamente 0,16, o navio não precisa de bulbo.

    3.2.4 Novas Tecnologias utilizadas para forma do casco:

    3.2.4.1 Tecnologia “X-Bow”

    Figura 20: navio x-bow

    Fonte: Dokkum ( 2008)

    A nova proa concebida pela Ulstein promove as vantagens similares àquelas

    proporcionadas pela proa bulbosa sem o incremento à resistência friccional, promovendo um

    ganho final superior e uma construção mais simples das seções de vante.

    No Brasil, já existem três embarcações tipo X-BOW construídas, todas pelo estaleiro

    Aliança para a CBO.

    Benefícios:

    1)Quanto à eficiência e meio ambiente

    Maior velocidade de transito

    O resultado obtido no tanque de provas de Marin na Holanda, mostra que há uma

    melhoria de “perda de velocidade” em estado do mar com ondas entre 2,5 e 10 metros de

    19%;

  • 30

    Menor consumo de energia;

    Melhor eficiência de combustível;

    A economia de combustível é obtida primordialmente pela redução da componente

    de geração de ondas da resistência, pois possui uma proa contínua e afiada que divide

    suavemente as ondas e o mar calmo. O aumento de volume acima e na frente permite que a

    embarcação responda com eficiência à grandes ondas, diferentemente de uma proa

    convencional, que empurra as ondas para baixo e para vante, retardando o avanço da

    embarcação.

    O teste no tanque de provas de Marin na Holanda mostrou que dependendo do estado

    do mar e da velocidade da embarcação, o teste mostra uma redução de consumo de

    combustível entre 7 e 16%;

    Redução das emissões;

    Aumento do tempo operacional;

    2) Quanto à segurança e conforto:

    Eliminação de batida e impactos de proa;

    Entrada suave nas ondas;

    Menos borrifo;

    Menores níveis de aceleração vertical;

    Nível de vibração reduzido;

    Aumento do conforto e do descanso da tripulação

    Devido ao fato de não existir batidas de proa, e também devido aos níveis de aceleração serem

    menores;

    Área de trabalho mais segura devido a movimentos mais suaves e proteção fornecida

    pelo casco.

    Desvantagem:

    A proa fechada observada nas embarcações com proa “X-Bow” dificulta as

    manobras de atracação por dificultar a passagem das retinidas. Há também questionamento

    quanto à capacidade deste novo tipo de proa de evitar que o mar espalhado pela proa do navio

    atrapalhe a visão do navegante.

  • 31

    3.2.4.2 Navio Quebra-Gelo

    Figura 21: Navio Quebra-Gelo

    Fonte: National Geographic, (2010)

    Esses navios utilizam o casco não para cortar o gelo e sim o seu peso para quebrá-lo.

    A proa é projetada para subir no gelo, quebrá-lo e jogá-lo para baixo da quilha onde será

    triturado pelo propulsor azimutal.

    O documentário “Gigantes da Engenharia” da National Geographic sobre navios

    quebra-gelo, mostra as invenções quanto ao casco de navios quebra-gelo.

    Estas serão demonstradas a seguir:

    1)Casco Côncavo

    No passado os cascos eram afiados e retos para que cortassem o gelo como uma faca,

    porém se batessem em uma calota ficariam presos, além de que gelo poderia danificar o

    casco. Em 1871, o engenheiro Carl Ferdinand Stelzner criou um projeto de casco côncavo

    como uma colher. Assim, o navio conseguiria deslizar em cima do gelo.

  • 32

    Figura 22: Navio com casco côncavo

    Fonte:National Geographic (2010)

    2) Navio Petroleiro

    Um outro design para casco foi projetado para um petroleiro Finlandês, em que o

    casco era reto e inclinado em um ângulo perfeito para quebrar o gelo, não importando o

    quanto de petróleo estivesse carregando. Foi utilizado esse formato de casco também no navio

    Lenin, o primeiro quebra-gelo movido a energia nuclear, que podia navegar de 3 a 4 anos sem

    recarregar seus reatores nucleares.

    Figura 23: Casco reto e inclinado num ângulo perfeito

    Fonte: National Geographic (2010)

  • 33

    3) Navio Manhattan

    Seu casco era reforçado com pesadas ligas internas de aço pra torná-lo ainda mais

    rígido e também uma cinta de aço passada nas laterais para desviar o gelo das laterais. Em

    1969, o navio Manhattan foi transformado no navio mercante mais blindado da época, mas

    ficou preso devido ao atrito com o gelo. Isto advertiu os construtores navais quanto ao fato de

    que era possível quebrar gelo e transportar carga porém não ambos.

    4) Navio Pollarstern

    O engenheiros alemães utilizam uma tecnologia contra o atrito com o gelo em que o

    navio suga a água do mar através de um buraco em seu casco, a água se mistura com o ar e

    então passa em bicos diretamente abaixo da quilha. A mistura borbulhante forma uma camada

    escorregadia entre o casco e o gelo, na qual o gelo não se prende.

    5) Navio Sovcom

    Esse navio petroleiro para manter a carga segura, envolve o casco com mais de 100

    costelas de aço, que absorvem o impacto com o gelo. Além disso, utiliza propulsão a jatos de

    água e propulsores azimutais.

  • 34

    4 EVOLUÇÃO QUANTO AOS MATERIAIS UTILIZADOS

    4.1 Antiguidade

    As embarcações da antiguidade eram construídas com materiais rudimentares. As

    jangadas egípcias eram feitas com caules de papiro atados (sepy) por cordas de linho. Por isso

    tinham vida curta, mas sua substituição era fácil e barata. Já no Império Antigo o principal

    material de construção naval foi a madeira. Os cascos dos barcos egípcios eram constituídos

    de tábuas de madeira curtas para o tamanho do casco, característica essa que dificultada a

    navegação em mares revoltos, pois as junções não resistiam aos esforços a que eram

    submetidas. Por essa razão, os marinheiros envolviam a embarcação na proa e na popa com

    cabos ligados ao convés por outro cabo fixo, denominado “cabo tensor”. Este cabo, torcido

    com algumas barras, dava ao casco tensão tal que o navio era capaz de navegar em águas mais

    revoltas próximas da costa.

    No fim do século XIX, os cascos dos navios passaram a ser construídos em chapas

    de aço rebitadas. Estes navios eram pesados e desajeitados, faziam água com frequência.

    Quando o ferro e, posteriormente, o aço, substituíram a madeira como elementos principais,

    na construção naval, os rebites substituíram os parafusos e pregos, como meios de fixação das

    peças estruturais do casco. Posteriormente, foi introduzida na construção naval a soldagem,

    sendo empregada também em combinação com o rebitamento. A soldagem contribuiu para o

    aumento da produtividade da construção naval, possibilitando a construção de grandes blocos,

    fora da carreira. Estes cascos soldados se assemelham aos dos nossos dias com linhas mais

    hidrodinâmicas, mais leves e menos desajeitados.

    Figura 24: Embarcação romana de junco

    Fonte: Diocélio (2007)

  • 35

    Figura 25: casco compósito Figura 26: casco de aço

    Fonte: Diocélio (2007) Fonte: Diocélio (2007)

    Figura 27: casco com rebites Figura 28: soldagem do casco

    Fonte:Diocélio (2007) Fonte: Diocélio (2007)

    4.2 Atualmente

    Os cascos de metal (ferro, aço ou alumínio) são mais finos, mais fortes e mais leves

    que os de madeira. Os materiais modernos, como os compostos de fibra de vidro, são ainda

    mais leves e, para conseguir um formato ideal, tanto os metais quanto os compostos podem

    ser moldados com maior facilidade do que as tábuas de madeira usadas no passado.

    Além disso, estes materiais podem manter sua forma e dar apoio a uma

    superestrutura sem que seja necessário contar com pesadas vigas estruturais dispostas

    horizontalmente na embarcação. Os cascos compósitos são utilizados principalmente nos

    iates, enquanto os de metal continuam sendo usados nos barcos grandes; além de mais

    econômicos e fáceis de consertar, podem transportar cargas muito mais pesadas. Os barcos

    modernos usam solda em vez de rebiques para unir as placas de metal, e costumam ser

    construídos com unidades pré-fabricadas.

  • 36

    As ligas de alumínio têm três vantagens se comparado com o aço na construção de

    navios. Primeiramente o alumínio é mais leve do que o aço (o aço pesa aproximadamente

    2.723 tonnes/m3 e o alumínio pesa 7.84 tonnes/m3), é altamente resistente à corrosão e não

    tem propriedades magnéticas, a desvantagem porém está em seu maior custo inicial e de

    fabricação. Alumínio tem sido usado em navios especiais, incluindo hidrofólios e

    particularmente usado em ferries de alta velocidade onde o peso é crucial. O aço é até hoje o

    material mais usado na construção de navios devido aos seus benefícios técnicos e

    econômicos, adaptabilidade à soldagem, resistência, baixo custo e disponibilidade.

    Os compósitos, usados geralmente em iates, não são sensíveis à corrosão, entretanto

    a radiação ultravioleta do sol e agentes podem degradar a sua composição. São também não

    magnéticos e não podem ser soldados. Em navios grandes são utilizados nos sistemas de

    bombeamento pois não conduz eletricidade nem sofre corrosão. Um material sintético de

    construção amplamente usado no mundo marítimo é o poliéster de fibra de vidro reforçado

    (GRP), sendo principalmente usado em partes do navio onde o peso e propriedades corrosivas

    são importantes. Com o uso de um molde, é possível fazer formas complexas. Devido ao alto

    custo, GRP são usados geralmente para fabricar partes padronizadas do navio, produzidas em

    larga escala, como bombas, portas estanques ou até mesmo cascos de embarcações menores

    como bote salva-vidas, botes de resgate rápidos, iates e etc.

  • 37

    5 EVOLUÇÃO QUANTO À PROPULSÃO

    Propulsion (“Propulsão”) é o mecanismo, ou sistema, necessário para se “vencer” a

    resistência imposta pela água e o ar à passagem do navio no meio fluido. O elemento

    responsável por desenvolver o empuxo, ou força, necessário para superar a resistência chama-

    se propulsor (Propeller ou Thruster).

    A força requerida para mover o navio através da água depende da eficiência da

    propulsão e a resistência total do navio. A eficiência da propulsão é um fator primordial no

    processo de design do sistema de propulsão, visto que a eficiência e o consumo de

    combustível do navio estão diretamente relacionados.

    5.1 Antiguidade

    No Egito, o barco era o meio de transporte mais importante, além de transportar

    passageiros e carga, tinham ainda a função de se constituírem em lugares cerimoniais. Esses

    barcos utilizavam como meios de propulsão vários remos de popa e vela trapezoidal, e

    posteriormente o mecanismo de direção passou a ser de dois remos-leme, acionados por um

    timoneiro de pé à frente do poste do leme e a vela passou a ser mais larga do que alta. Este

    remo-leme, denominado mais tarde de remo-de-ginga ou alheta, tinha embutido no seu cabo a

    cana do leme, ficando preso a um mastro e à popa. O navio era dirigido pelo timoneiro, que

    movia lateralmente a cana do leme; esta por sua vez, rodava o cabo do leme direcionando a

    sua pá e, consequentemente o rumo do navio.

    Com o passar do tempo surgiram as galeras, embarcações cobertas que utilizavam

    remos e velas triangulares (vela latina).

    Entre os anos 1200 e 1500, os remos-leme foram gradualmente sendo substituídos

    pelo leme de madeira, dando um grande impulso à navegação e permitindo o aparecimento

    dos grandes navios.

    Com o surgimento das máquinas à vapor, navios à vela receberam máquinas e

    propulsão por rodas de paletas (roda hidráulica), que geralmente ficavam à meia nau, nos

    bordos ou na popa. Esse mecanismo era incômodo e economicamente deficitário, pois

    ocupava grande espaço, diminuindo as praças destinadas à carga, além de atrapalhar as

    manobras.

  • 38

    Posteriormente surgiu a hélice. Em 1827 o austríaco Ressel obteve a patente para o

    emprego das hélices, sendo utilizada pela primeira vez em 1829 no navio “Zivetta”, passando

    a ser o elemento propulsor predominante até os dias atuais.

    Figura 29: Navio Great Eastern com roda de paletas a meia nau

    Fonte: Diocélio (2007)

    5.2 Atualmente

    As primeiras utilizações da propulsão elétrica datam do final do século XIX, onde

    algumas embarcações pequenas construídas na Rússia e na Alemanha eram movidas a

    baterias.

    O hélice foi o mais moderno meio de propulsão desenvolvido. Este sistema consiste

    basicamente na interação entre o Motor de Combustão Principal (MCP), linha de eixo e

    propulsor, representando o mais caro sistema instalado na praça de máquinas.

  • 39

    5.3 Comparação entre a propulsão elétrica e propulsão mecânica

    A principal característica da propulsão mecânica é a simplicidade; a da elétrica, é a

    flexibilidade. Para chegar à conclusão do tipo de propulsão ideal para a embarcação, deve ser

    levado em consideração que tipo de operação o navio vai estar submetido.

    No sistema de propulsão mecânico convencional o dispositivo de acionamento

    principal a ser empregado, que pode ser uma turbina a vapor, um motor diesel ou uma turbina

    a gás, é acoplado diretamente ao eixo propulsor do navio através da engrenagem redutora.

    Sendo necessário um diesel-gerador auxiliar, que deve localizar-se separado do sistema de

    propulsão, o qual é responsável por fornecer a potência elétrica aos sistemas auxiliares de

    bordo. Nas embarcações que utilizam este modelo de propulsão, a rotação do motor diesel é

    que define a rotação do hélice, e assim, o motor em algumas condições de operação não atua

    na faixa de rendimento ótimo, gerando um inevitável desperdício de combustível.

    Já no sistema de propulsão elétrica a eficiência de transmissão é menos sensível à

    variação de velocidade do eixo propulsor que no sistema mecânico convencional. Portanto,

    nos períodos de operação do navio com velocidades mais baixas, aproximadamente 85% das

    atividades de navegação, a eficiência da transmissão elétrica é maior do que a transmissão

    mecânica. Tem-se, assim, o grande diferencial positivo para o emprego da propulsão elétrica.

    5.4 Vantagens da Propulsão elétrica:

    1)Melhor Manobrabilidade

    Permite variações suaves, pequenas e precisas na rotação do eixo propulsor, o que é

    essencial em situações de reboque e salvamento. Aumenta a manobrabilidade, o que permite

    uma segurança maior já que evita acidentes como encalhe de navios ou até mesmo colisão de

    embarcações de apoio marítimo com plataformas.

    2)Redução do consumo de combustível e emissão de poluentes

    Na propulsão mecânica, a velocidade do propulsor está diretamente relacionada

    com a do motor diesel devido ao fato de eles estarem ligados por um longo eixo. Como a

  • 40

    operação do navio varia e a velocidade exigida para cada situação não garante que o motor

    estará na sua faixa de melhor rendimento, o resultado são maiores gasto de combustível e

    desgaste mecânico.

    O uso da propulsão elétrica afasta esse problema porque permite que os diesel-

    geradores trabalhem na faixa de ótimo desempenho, já que os DGs não estão diretamente

    ligados aos hélices. Eles alimentam o quadro elétrico principal, que fornece energia para os

    MEPs e estes geram o movimento para os propulsores. A variação de velocidade ocorre por

    meio de inversores de frequência e, no caso de haver uma maior demanda de energia, mais

    geradores são colocados em barra. Ou seja, a propulsão elétrica elimina a relação direta

    entre as rotações do motor diesel e a velocidade do propulsor.

    A Figura 1 mostra um gráfico de um motor diesel relacionando a potência, o torque

    e o consumo específico, mostrando que há uma faixa (no caso, de 1000 a 1500 RPM) em que

    há um ótimo rendimento. O fato de trabalhar nessa faixa significa um melhor

    aproveitamento do combustível gasto, evitando um consumo além do necessário. Ao

    considerar essa diferença, é evidente que é possibilitada a redução da emissão de gases

    poluentes na atmosfera, dada a menor quantidade de óleo gasto. A figura 2 aponta que a

    propulsão elétrica permite essa redução de poluentes.

    Figura 30: Gráfico relacionando a potência,torque e eficiência

    Fonte: Bruce (2008)

  • 41

    Figura 31: Redução de poluentes com a propulsão elétrica

    Fonte:Bruce ( 2008)

    2)Redução da tripulação

    Por ser mais fácil de sistemas automatizados serem controlados à distância e de

    exigirem menos manutenção e intervenção direta do operador, abre precedentes para a

    diminuição da tripulação.

    3)Flexibilidade de projeto

    Além da produção dos equipamentos de forma modular, a eliminação do longo eixo

    que liga o motor de propulsão ao hélice permite a distribuição dos componentes de forma a

    facilitar a manutenção, possibilitar a otimização do design da embarcação, a descentralização

    da aparelhagem e melhor uso do espaço disponível.

    4)Redução dos custos de manutenção

    5) Redução das vibrações e ruídos produzidos

    Desvantagem:

    Requer uma corrente muito alta nas situações de manobra e mudança de rotação,

    porém pode-se minimizar isto com a utilização de sistemas azimutais.

  • 42

    5.5 Tipos de hélice:

    1)Passo Fixo

    O ângulo das pás não pode ser controlado.

    2)Passo Controlável

    O ângulo das pás (passo) é controlado por um mecanismo hidráulico dentro do cubo,

    não necessitando de caixas inversoras. O impulso é controlado pelo passo do hélice,

    permitindo que o navio navegue com sua velocidade mais eficiente.

    Esse sistema é mais eficiente, se comparado com o sistema de passo fixo, por se

    adaptar às condições de operação que influenciam a curva de carga do motor. Essa adaptação

    é feita através de um computador, que calcula essas resistências e mudanças que acontecem

    no navio, e por meio de controles eletrônicos ajusta o ângulo de ataque da pá do hélice para

    manter a eficiência do sistema de propulsão. A eficiência constante ajuda a aumentar a vida

    útil do motor e diminui seus custos de manutenção. Além disso, o nível de ruídos e vibrações

    é próximo de zero.

    3)Passo Variável

    As pás apresentam curvaturas, modificando a área de contato com a água durante a

    rotação.

    4)Passo Constante

    As pás não apresentam curvatura, sendo utilizado em alguns tipos de tunnel

    thrusters.

    5.6 Sistemas Propulsores:

    5.6.1) Azipods

    TM

    O sistema consiste em um motor de propulsão elétrica no próprio POD e um hélice

    de passo fixo diretamente ligado ao motor, se localizando portanto, na parte externa do casco

    do navio.

    É basicamente um propulsor azimutal, ou seja é capaz de girar 360º em torno de um

    eixo vertical direcionando o fluxo de água para qualquer direção, dispensando o uso de lemes,

  • 43

    sendo utilizado então um hélice de passo fixo, porém o motor elétrico é conectado

    diretamente ao hélice ou propulsor.

    Suas vantagens são:

    - Dispensa o uso do leme e de hélice laterais, pois gira 360º em torno do seu eixo;

    -.Permite mudanças rápidas de direção, logo maior manobrabilidade e desempenho

    hidrodinâmico, possuindo com isso excelente desempenho no campo de esteira;

    - Projeto de casco mais simples;

    - Dispensa longos eixos, caixas redutoras e sistema de governo;

    - Menor nível de ruídos e vibrações;

    - Melhor distribuição e aproveitamento do espaço no navio;

    - Maior segurança e redundância.

    5.6.2) Siemens SchottelTM

    Desenvolvido na década de 70, era inicialmente acionado mecanicamente, e

    introduziu o conceito de POD. Sua capacidade de manobra ainda era ampliada pela

    movimentação do POD em azimute, ou seja, 360º, o que garante a eliminação do sistema de

    governo. Mais tarde passou a utilizar propulsão elétrica para o acionamento das pás.

    Se diferencia dos demais sistemas pelo tipo de carcaça do motor elétrico dos PODs e,

    se destaca pela tecnologia Schottel Twin Propeller™ e o motor permanentemente excitado

    (PEM) da Siemens, o qual utiliza ímãs permanentes, tal qual nos veículos híbridos.

    Figura 32: Propulsores Schottel

    Fonte: Schottel (2012)

  • 44

    5.6.3) Voith Schneider™

    Esse sistema é o único que utiliza propulsão cicloidal em todo o mundo, foi

    desenvolvido pela Voith partindo da idéia do engenheiro austríaco Ernst Schneider. A

    propulsão cicloidal consiste em propulsores de eixos verticais ou cicloidais e uma série de pás

    verticais fixadas à periferia de um disco rotativo.

    Atualmente são utilizados 2 discos e seis pás. Esses discos giram em velocidade

    constante e, para gerar impulso, cada uma das pás do hélice executa um movimento

    oscilatório sobre seu próprio eixo. Através da variação do ângulo de cada lâmina é definido a

    intensidade e o sentido da força. Este controle é feito pelo oficial através de um volante e duas

    alavancas sendo o movimento transmitido mecanicamente para as pás.

    O que difere o sistema cicloidal do sistema de propulsão com hélice de passo

    controlável é apenas o posicionamento das pás em relação à força exercida, visto que no

    sistema cicloidal as pás estão posicionadas transversalmente ao impulso.

    Figura 33: Propulsor Voith Schneider

    Fonte:Voith Schneider (2012)

  • 45

    Vantagens:

    O sistema de propulsão Voith Schneider combina em uma única unidade, governo e

    propulsão, dispensando portanto o uso do leme. Além disso, proporciona imediata resposta ao

    comando, sendo muito solicitado em embarcações rebocadoras, pois confere uma melhor

    manobrabilidade. Devido à rápida transição de direção e intensidade de empuxo, permite que

    a embarcação anule o efeito de ondas, tornando-se absolutamente estável.

    Desvantagens:

    - Grande calado (além das lâminas, há uma estrutura que protege cada propulsor e funciona

    como direcionador do fluxo de água), o que impede que a embarcação atinja velocidades

    adquiridas com o propulsor azimutal;

    - O formato do fundo do casco, reto e largo, pode prejudicar a hidrodinâmica, dificultando a

    operação em mar aberto ou em alta velocidade;

    - Relação entre tração estática e potência do motor inferior a de outros sistemas de propulsão;

    - Maior custo de instalação e manutenção

    5.6.4) Tubo KortTM

    Foi desenvolvido e difundido por uma empresa inglesa na década de 1930. Consiste

    em tubos fixos que envolvem o hélice, organizando o fluxo de descarga e possibilitando um

    ganho na tração a vante de até 30%, assim gera um aumento considerável em relação aos

    hélices convencionais e por isso são utilizados em rebocadores, PSVs e etc.

    Porém por reduzir a capacidade de governo, necessita a associação com lemes mais

    eficientes. Ele é originalmente destinado a embarcações de baixa velocidade, como

    rebocadores.

  • 46

    Figura 34: : A hidrodinâmica do Tubo KortTM

    Fonte: Bruce (2008)

    5.6.5) Tunnel Thrusters

    Consistem em túneis localizados na proa ou na popa da embarcação abaixo da linha

    d’água (bowthrusters e Stern thrusters respectivamente), composto de motor e hélice, auxilia

    na manobra, proporcionando impulsos laterais que facilitam a atracação/desatracação nos

    portos e as manobras durante operações com plataformas de petróleo. Inicialmente os

    Thrusters eram acionados por motores diesel, porém atualmente utilizam motores elétricos.

    Proporciona controle preciso a baixas velocidades em pontes e canais estreitos e

    rasos, por isso são utilizados em todo o mundo em operações que necessitam de navios

    commanobras precisas. Uma outra vantagem é a possibilidade de manutenção sem a

    necessidade de docagem em dique seco.

  • 47

    Figura 35: Tunnel Thrusters

    Fonte: Gerk (2012)

    5.6.6) Propulsor com jato de água

    Seu funcionamento se baseia no princípio de operação de uma bomba centrífuga. Um

    rotor aspira a água da parte debaixo do casco do navio e a transfere para uma voluta. As

    aberturas de saída de água estão dispostas na parte inferior do propulsor que fica tangente a

    linha de base do casco sendo, dessa forma, ideal para a instalação em embarcações que

    operam em águas rasas. O princípio é semelhante ao do hélice, no entanto suas partes móveis

    estão dentro do navio.

    A eficiência é significantemente inferior à dos hélices devido às perdas na tomada de

    água e condutas, além da entrada de lixo no coletor de água, por essa razão é mais vantajoso o

    seu emprego em águas rasas e é mais utilizado em embarcações rápidas como hidrofólios.

    Figura 36: Propulsor com jato de água

    Fonte: Bruce (2008)

  • 48

    6 A HIDRODINÂMICA DO NAUFRÁGIO DO TITANIC

    O naufrágio do Titanic ocorrido em 1912 no Atlântico Norte, foi o maior desastre

    marítimo da história. Este navio foi o maior objeto móvel construído na época.

    Será analisado neste trabalho os aspectos de construção do Titanic que, sob o ponto

    hidrodinâmico, explicam o acidente e consequente naufrágio deste. Essa análise é de suma

    importância, pois através dela pode-se constatar a gradual evolução da construção de navios e

    os seus benefícios, em segurança, eficiência, economia e etc.

    Os aspectos do Titanic a serem discutidos serão:

    6.1) Casco

    O casco do Titanic, como os navios da época, foi construído de chapas de aço

    rebitadas. Esses rebites aumentam a rugosidade do casco e, consequentemente aumentam a

    resistência viscosa, que é um dos componentes do arrasto, diminuindo assim a velocidade de

    cruzeiro.

    O formato do casco era tradicional para um navio tão grande, além de não possuir

    nenhum recurso para minimizar a resistência de onda, como o bulbo de proa.

    Os rebites eram feitos de ferro fundido porque não havia tecnologia de aço em 1912.

    Esses rebites analisados a microscópio revelaram ser uma estrutura metalográfica totalmente

    contaminados por uma espécie de escória, o que dava uma fragilidade ao metal,

    principalmente a baixas temperaturas. Por essa razão, os rebites não resistiram ao golpe da

    colisão com o iceberg e à pressão estática da profundidade à qual o navio estava, e se

    soltaram, fazendo com que o casco ficasse literalmente sem placas, permitindo assim, que a

    água pudesse entrar.

    A colisão com o iceberg não ocorreu na proa do navio e sim à boreste, fazendo um

    rasgo. Então pode-se concluir que se os rebites não tivessem se soltado, havendo somente um

    rasgo na sua lateral, o Titanic teria ficado emerso por mais tempo, podendo conseguir socorro

    durante o dia, e a tragédia não teria tido tal proporção.

  • 49

    Figura 37: Casco rebitado do Titanic

    Fonte: National Geographic

    6.2) Leme

    O leme utilizado pelos navios da época era em forma de placa, e por isso não tinha

    resposta rápida à guinada, precisando de um deslocamento maior para guinar, não

    conseguindo assim, mudar a direção a tempo.

    Figura 38: Leme do Titanic

    Fonte: National Geographic

  • 50

    6.2.1)Perfil do Leme:

    O arrasto é uma força paralela ao fluxo de ar, que acontece devido ao formato do

    objeto que interage com o fluxo, e ao atrito do fluido com a superfície deste. A soma da

    sustentação com o arrasto origina a resultante aerodinâmica. Logo, a eficiência aerodinâmica

    de um perfil pode ser calculada dividindo-se a sustentação pelo arrasto (L/D).

    Observa-se pela figura abaixo que um formato mais afinalado terá um menor

    coeficiente de arrasto, e portanto menor resistência ao avanço.

    Figura 39: Perfis de leme

    Fonte: Clark (2005)

    O ângulo de ataque é o ângulo da asa em relação ao ar que se aproxima e por isso

    determina também a sustentação que a asa gera. Quando atinge o ângulo de ataque máximo,

    ocorre o STALL, ou seja a sustentação cai drasticamente e o arrasto aumenta.

    A razão de aspecto é dada pela razão corda/ altura da asa, ou neste caso do leme.

  • 51

    Figura 40: Razão de aspecto e ângulo de STALL

    Fonte: Clark (2005)

    Em 1912 ainda não havia o conhecimento do Efeito Asa, em que o leme sendo em

    forma de asa, é mais eficiente, pois as grandes diferenças de pressão ocorrem até 50% da

    corda, gerando uma maior força de guinada. Sendo o leme do Titanic em forma de placa, o

    bordo de ataque era rombudo e com isso não possuía rápida resposta na mudança de direção.

    Atualmente o perfil de leme utilizado por ser mais eficiente é aquele com perfil

    NACA ou fishtail. NACA aerofólios são formatos aerofólicos desenvolvidos pela National

    Advisory Committee for Aeronautics (NACA), onde o formato do leme ou asa é descrito

    usando uma série de dígitos seguidos da palavra NACA. A série recomendada atualmente é a

    NACA 0015.

    Figura 41: Secções NACA 0015

    Fonte: NACA (2010)

  • 52

    A figura a seguir mostra o FiolSlim Simulator, onde observa-se que as grandes

    diferenças de pressão ocorrem até 50% da corda e a melhor performance do leme aerofólio.

    Figura 42: FoilSlim Simulator

    Fonte: Dokkum (2008)

    O leme empregado no Titanic além de não ser NACA também não possuía nenhum

    dispositivo moderno, como os mostrados a seguir.

    6.2.2) Flaps

    Os flaps são dispositivos hiper-sustentadores, superfícies articuladas, existentes nos

    bordos de fuga (parte posterior) das asas de um avião, os quais, quando abaixados e/ou

    estendidos aumentam a sustentação e o arrasto ou resistência ao avanço de uma asa pela

    mudança da curvatura do seu perfil e do aumento de sua área.

    Com esse dispositivo aumenta-se a força de guinada do leme.

  • 53

    Tipos de Flap:

    Figura 43: Tipos de Flap

    Fonte: Bruce (2008)

    6.2.3) Slats

    Slats são superfícies aerodinâmicas sobre o bordo de ataque das asas de uma

    aeronave de asa fixa, que quando implantadas, permitirão que a asa funcione com um maior

    ângulo de ataque. Um maior coeficiente de sustentação.

    Figura 44: Slats e Flaps

    Fonte: Clark (2005)

  • 54

    6.3) Velocidade

    No momento da colisão com o iceberg, o navio estava navegando a uma velocidade

    acima da que foi testada em provas de mar, com todas as caldeiras em operação, além de não

    ter sido realizado nenhum ensaio deste em águas geladas. Portanto, conclui-se que não havia

    uma previsão do que pudesse acontecer em tais situações.

  • 55

    7CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Após a análise das modificações sofridas pelas embarcações desde a antiguidade, é

    possível concluir que o conhecimento resultado da pesquisa, é o fator primordial para o

    desenvolvimento do navio como um todo, pois foi através do conhecimento dos princípios

    hidrodinâmicos, que o homem pôde desenvolver a tecnologia existente hoje nos navios, que

    jamais poderia ter sido imaginada na antiguidade. É necessário compreender a interação das

    partes do navio com a água para criar mecanismos que impulsionem o seu deslocamento,

    diminuindo resistências, otimizando o casco, aumentando a eficiência do sistema de propulsão

    empregado, dentre outros fatores.

    É essencial também o entendimento das causas de acidentes ocorridos, para saber o

    que deve ser modificado e o que deve ser mantido em termos de equipamentos, além de criar

    soluções para transpor as barreiras existentes ainda nos dias atuais.

    Em suma, é primordial que se conheça o passado, para entender o presente e poder

    planejar o futuro. Logo, ainda que as embarcações utilizadas no passado fossem rudimentares

    ou inferiores a tecnologia existente hoje, é preciso conhecer a história marítima para saber o

    que deve permanecer e o que deve ser aprimorado.

  • 56

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    DOKKUM, Klaas Van. Ship Knowledge. 3 ed. São Paulo: Dokmar, 2008

    CLARK, I. C. Ship Dynamics for Marines: a guide to the theory of hull resistance power

    requeriments, propulsion, steering, control systems and ship motion in a seaway.

    London: The Nautical Institute, 2005.

    BRUCE, D.G. Ship Construction. 7 ed.

    DE OLIVEIRA, Francisco Diocélio Alencar. História Marítima. Rio de Janeiro: Ciaga, 2007

    WRIGHT, Michael. Como Funciona – Scientific American. Rio de Janeiro: Visor

    National Geographic Channel, documentário Gigantes da Engenharia: Navio Quebra-gelo

    National Geographic Channel, documentário Titanic: A Verdadeira História

    IBRAHIM, Eden Gonzalez. Propulsão elétrica de embarcações. Rio de Janeiro: Centro de

    Instrução Almirante Graça Aranha, 2006.

    http://www.mar.ist.utl.pt/mventura/projecto-navios-i/pt/pn1.5.4-projecto-bolbo.pdf

    http://www.mar.ist.utl.pt/mventura/projecto-navios-i/pt/pn1.5.1-forma-carena.pdf

    http://www.mar.ist.utl.pt/mventura/projecto-navios-i/pt/pn1.5.4-projecto-bolbo.pdfhttp://www.mar.ist.utl.pt/mventura/projecto-navios-i/pt/pn1.5.1-forma-carena.pdf