sistemas de impermeabilizaÇÃo de aterros de resÍduos. · 2013. 11. 12. · aplicadas em...

51
SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. EQUIPAMENTO PARA DETEÇÃO DE ORIFÍCIOS EM GEOMEMBRANAS (GeoSafe) Laboratório Nacional de Engenharia Civil Madalena Barroso | Rogério Mota Instituto Superior de Engenharia de Lisboa Maria da Graça Lopes | Pedro Matutino Agência Portuguesa do Ambiente Francisco Silva Empresa Geral do Fomento Rui Dores 1.ª Edição (outubro 2013)

Upload: others

Post on 20-Dec-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS.

EQUIPAMENTO PARA DETEÇÃO DE ORIFÍCIOS EM GEOMEMBRANAS (GeoSafe)

Laboratório Nacional de Engenharia Civil

Madalena Barroso | Rogério Mota

Instituto Superior de Engenharia de Lisboa Maria da Graça Lopes | Pedro Matutino

Agência Portuguesa do Ambiente

Francisco Silva

Empresa Geral do Fomento Rui Dores

1.ª Edição

(outubro 2013)

Page 2: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

ii

AGRADECIMENTOS

A elaboração deste livro não teria sido possível sem o contributo de várias instituições e pessoas. O primeiro

agradecimento é devido à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que, através do financiamento

concedido ao projeto PTDC/AAC-AMB/102846/2008, intitulado “Sistema móvel semiautomático de deteção de

orifícios na impermeabilização de aterros de resíduos”, permitiu o desenvolvimento de um equipamento de

ensaio inovador e a correspondente metodologia, para deteção e localização de orifícios em geomembranas

aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos.

Agradecimentos são igualmente devidos às instituições participantes no projeto, nomeadamente, ao Laboratório

Nacional de Engenharia Civil, I.P. (LNEC), que coordenou o projeto, ao Instituto Superior de Engenharia de

Lisboa (ISEL), à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à Empresa Geral do Fomento (EGF), que

providenciaram todos os meios humanos e técnicos necessários ao desenvolvimento do trabalho.

De suma importância foi, também, o trabalho desenvolvido pelos bolseiros de investigação, contratados no

âmbito do projeto, nomeadamente (ordem alfabética): Diogo Sérgio Esteves Cardoso, Igor Alejandro Soarez e

Luís César Ferreira Coimbra, cuja contribuição foi determinante para o sucesso do mesmo.

Por fim, mas não menos importante, o trabalho empenhado dos técnicos do LNEC e do ISEL, em especial dos

Srs. Carlos Martins e Válter Nascimento, que colaboraram de forma empenhada na construção do equipamento.

Page 3: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

iii

RESUMO

Os aterros de resíduos são obras de engenharia geotécnica concebidas para minimizar o efeito poluente dos

resíduos no meio ambiente, mediante a utilização de sistemas de impermeabilização e drenagem na base, nos

taludes e na cobertura final (sistema de encerramento).

Os sistemas de impermeabilização e drenagem incluem diversas camadas, com diferentes funções,

destacando-se o papel das barreiras, em particular da geomembrana, cujo desempenho é fundamental para

garantir a funcionalidade de tais sistemas.

O desempenho da geomembrana pode, porém, ser comprometido pela presença de orifícios, resultantes,

sobretudo, de atividades construtivas inadequadas, em particular, da colocação da camada de drenagem de

lixiviados sobre as barreiras do sistema de impermeabilização.

A presença de orifícios na geomembrana potencia a migração de contaminantes para o subsolo e para as águas

subterrâneas, sendo indispensável proceder à sua reparação, antes do início da exploração do aterro de

resíduos, para não se pôr em risco a eficácia desta barreira. Assim, após a colocação da camada de drenagem,

é necessário proceder à deteção e localização dos orifícios na geomembrana.

Em Portugal, não existia nenhum equipamento que permitisse a realização de ensaios expeditos e pouco

onerosos para deteção e localização de orifícios em geomembranas, pelo que foi desenvolvido um equipamento,

abreviadamente designado por GeoSafe, com esse objetivo.

O desenvolvimento do GeoSafe e da correspondente metodologia de ensaio ocorreu no âmbito do projeto

PTDC/AAC-AMB/102846/2008, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), envolvendo o

Laboratório Nacional de Engenharia Civil, I.P. (LNEC), que coordenou o projeto, o Instituto Superior de

Engenharia de Lisboa (ISEL), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Empresa Geral do Fomento (EGF).

Este equipamento constitui o primeiro passo para a realização de ensaios de deteção e localização de orifícios,

no nosso país, ensaios que, a serem integrados nas atividades de controlo e garantia de qualidade da

construção, contribuirão para o eficaz desempenho das geomembranas, com os benefícios daí decorrentes para

o meio ambiente.

O presente livro visa divulgar as potencialidades do GeoSafe na realização de ensaios de deteção e localização

de orifícios em geomembranas. Pretende, também, sensibilizar para a premente necessidade de se proceder à

realização destes ensaios bem como apresentar os benefícios que a sua realização representa para a proteção

do meio ambiente em Portugal. Tem, igualmente, por objetivo melhorar a prática construtiva dos sistemas de

impermeabilização e drenagem dos aterros de resíduos, no que diz respeito às atividades de instalação, de

controlo e de garantia de qualidade da geomembrana.

O livro é dirigido a todos os envolvidos e interessados no processo de conceção, construção e exploração de

aterros de resíduos.

Page 4: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

iv

Índice do texto

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 1

2. Enquadramento .............................................................................................................................................. 3

2.1 Gestão de resíduos ................................................................................................................................ 3

2.2 Principais questões ambientais associadas ........................................................................................... 3

2.3 Política de resíduos em Portugal – a gestão de Resíduos Urbanos (RU) ............................................. 4

2.4 Instrumentos de planeamento................................................................................................................ 5

2.5 Aterros de resíduos ................................................................................................................................ 6

2.5.1 Tipos de aterros ................................................................................................................................. 6

2.5.2 Sistemas de impermeabilização e drenagem de base e taludes ....................................................... 7

2.5.3 Sistema de encerramento .................................................................................................................. 8

3. Geossintéticos nos sistemas de impermeabilização e drenagem ................................................................ 10

3.1 Tipos de geossintéticos ....................................................................................................................... 10

3.2 Geomembranas ................................................................................................................................... 12

3.2.1 Seleção ............................................................................................................................................ 12

3.2.2 Instalação em obra .......................................................................................................................... 13

4. Atividades de Controlo e de Garantia de Qualidade Da geomembrana ....................................................... 25

4.1 Necessidade e importância dum plano de controlo e garantia de qualidade ....................................... 25

4.2 Funções e responsabilidades dos intervenientes no controlo e garantia de qualidade ....................... 25

4.3 Conteúdo do plano GQC ..................................................................................................................... 26

4.4 Métodos de ensaio para deteção e localização de orifícios em geomembranas cobertas .................. 28

4.4.1 Método permanente......................................................................................................................... 28

4.4.2 Métodos temporários ....................................................................................................................... 29

5. Equipamento semiautomático para deteção de orifícios em geomembranas (GeoSafe) ............................. 32

5.1 Considerações iniciais ......................................................................................................................... 32

5.2 Princípio de funcionamento do equipamento ....................................................................................... 33

5.3 GeoSafe – o equipamento e a metodologia de ensaio ........................................................................ 34

5.4 Exemplos de resultados obtidos .......................................................................................................... 36

6. Conclusão ..................................................................................................................................................... 38

ANEXO - Recomendações para a Elaboração de Cadernos de Encargos

Page 5: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

v

Índice das figuras Figura 1 – Hierarquia de gestão de resíduos (Diretiva 2008/98/CE). ........................................................................................ 3

Figura 2 – Exemplo de sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes para aterros de resíduos não perigosos. ............................................................................................................................................................................ 8

Figura 3 – Exemplo de sistema de encerramento para aterro de resíduos não perigosos. ....................................................... 9

Figura 4 – Exemplos de aplicações de geossintéticos em aterros de resíduos (Zornberg & Christopher, 2007). ................... 11

Figura 5 – Exemplos de superfícies adequadas e inadequadas da camada subjacente. ....................................................... 14

Figura 6 – Dimensões mínimas da vala de ancoragem na crista do talude. ............................................................................ 15

Figura 7 – Vala de ancoragem: (a) construção; (b) colocação e compactação do material de preenchimento; (c) ancoragem dos diferentes geossintéticos. .......................................................................................................................... 15

Figura 8 – Exemplos de disposição de painéis de forma adequada e inadequada. ................................................................ 16

Figura 9 – Exemplo de união entre os painéis geomembrana colocados nos taludes e na base. .......................................... 16

Figura 10 – Exemplo de transporte de geossintéticos: (a) adequado e (b) inadequado. ......................................................... 17

Figura 11 – Exemplos de manuseamento adequado. .............................................................................................................. 17

Figura 12 – Exemplos de armazenamento: (a) adequado e (b) inadequado. .......................................................................... 17

Figura 13 – Exemplo carregamento provisório com sacos de areia ........................................................................................ 18

Figura 14 – Exemplos de danos na geomembrana por ação do vento. ................................................................................... 18

Figura 15 – Exemplos de sobreposições entre painéis adequadas e inadequadas. ............................................................... 18

Figura 16 – Soldadura dupla por termofusão. .......................................................................................................................... 19

Figura 17 – Soldadura por extrusão. ........................................................................................................................................ 19

Figura 18 – Ensaio de pressão de ar. ...................................................................................................................................... 20

Figura 19 – Ensaio do fio de cobre. ......................................................................................................................................... 21

Figura 20 – Ensaios de resistência ao arranque e ao corte de soldaduras. ............................................................................ 21

Figura 21 – Exemplo de camada de proteção constituída por um geotêxtil. ........................................................................... 22

Figura 22 – Colocação da camada de drenagem sobre a camada de proteção à geomembrana. ......................................... 22

Figura 23 - Geomembranas: percentagem e causas dos danos. ............................................................................................ 23

Figura 24 – Organização das atividades de GQC (Koerner & Koerner, 2006) ........................................................................ 25

Figura 25 - Esquema do ensaio que utiliza um sistema de sensores fixos para deteção e localização de orifícios na geomembrana (CFG, 2003). ............................................................................................................................................... 29

Figura 26 – Esquema do ensaio da geomembrana condutora (adaptado de ASTM D 6747, 2012). ...................................... 30

Figura 27 – Esquema do ensaio da sonda elétrica móvel (CFG, 2003). ................................................................................. 30

Figura 28 – Princípio de funcionamento do método elétrico para deteção e localização de orifícios em geomembranas ........................................................................................................................................................................ 33

Figura 29 – Variação do potencial elétrico próximo de um orifício com 0,635 cm de diâmetro (adaptado de Peggs & Beck, 2010). .......................................................................................................................................................................... 34

Figura 30 – Montagem de quatro módulos do GeoSafe .......................................................................................................... 34

Figura 31 – Esquema do GeoSafe ........................................................................................................................................... 35

Figura 32 – Vista geral do GeoSafe (Módulo 1) ....................................................................................................................... 35

Figura 33 – Cartas de potencial elétrico medido em duas situações distintas – GM com um furo (A) e GM com dois furos (B) (os círculos de cor branca marcam os locais onde foram executados os furos com 2 mm de diâmetro; assinalam-se a cor encarnada as posições relativas entre os elétrodos de injeção – interior e exterior) ............... 37

Figura 34 – Carta do potencial elétrico medido numa célula experimental de aterro de resíduos (o círculo de cor branca assinala o local onde foi executado o furo com 2 mm de diâmetro) ............................................................................ 37

Page 6: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

vi

Índice dos quadros

Quadro 1 – Principais instrumentos de planeamento. ............................................................................................. 5

Quadro 2 – Requisitos mínimos a que devem obedecer as diferentes classes de aterro (adaptado de Decreto-Lei n.º 183/2009). ...................................................................................................................................... 7

Quadro 3 – Principais funções dos componentes do sistema de encerramento. .................................................... 9

Quadro 4 – Geossintéticos mais utilizados em aterros de resíduos e respetivas funções. ................................... 11

Quadro 5 – Geomembranas: tipos de danos e possíveis causas (adaptado de McQuade & Needham, 1999). .................................................................................................................................................................... 23

Quadro 6 – Responsabilidades dos intervenientes nas atividades de CQC/GQC. ............................................... 26

Quadro 7 – Atividades do plano GQC relativas às geomembranas. ..................................................................... 27

Quadro 8 – Métodos de ensaios para deteção e localização de orifícios de geomembranas cobertas. ............... 31

Page 7: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

1

SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS.

EQUIPAMENTO PARA DETEÇÃO DE ORIFÍCIOS EM GEOMEMBRANAS (GeoSafe)

1. INTRODUÇÃO

Os aterros de resíduos são, presentemente, obras de engenharia estruturalmente complexas, concebidas para

minimizar o efeito poluente dos resíduos no meio ambiente, através da utilização de sistemas de

impermeabilização e drenagem, quer na base e taludes, quer na cobertura final (sistema de encerramento).

Os sistemas de impermeabilização e drenagem incluem diversas camadas, cada uma delas com uma função

específica. De destacar, pela sua importância, o papel das barreiras, em particular da geomembrana, que

constitui a barreira ativa do sistema da base e taludes laterais.

O desempenho da geomembrana pode ser comprometido pela presença de orifícios. Contudo, diversos estudos

realizados sobre a instalação de geomembranas sugerem que os orifícios são inevitáveis. Por exemplo, uma

síntese de estudos apresentada por Rollin et al. (2002), cobrindo uma área total de 150 hectares, refere uma

frequência de 17,4 orifícios/hectare. Um valor semelhante, 12,9 orifícios/hectare, é relatado por Nosko &

Touze-Foltz (2000), com base em informações recolhidas em mais de 300 obras de 16 países, cobrindo uma

área total de 325 hectares.

A maior parte dos orifícios está relacionada com atividades construtivas inadequadas, em particular, com a

colocação da camada de drenagem sobre o sistema de impermeabilização. Segundo Nosko & Touze-Foltz

(2000), a colocação desta camada é responsável por 71 % dos orifícios.

Os orifícios representam caminhos preferenciais para a migração de poluentes para o subsolo e para as águas

subterrâneas, pelo que é indispensável proceder à sua reparação, antes do início da exploração do aterro de

resíduos, por forma a não pôr em risco a funcionalidade desta barreira. Para o efeito, após a colocação da

camada de drenagem, é necessário proceder à deteção e localização dos orifícios na geomembrana.

Não existindo no nosso país um equipamento que permitisse a realização de ensaios expeditos e pouco

onerosos para a deteção e localização de orifícios em geomembranas, foi desenvolvido um equipamento de

ensaio, abreviadamente designado por GeoSafe, com base no princípio de funcionamento do método geofísico

da resistividade elétrica. O desenvolvimento deste equipamento ocorreu no âmbito do projeto de investigação

PTDC/AAC-AMB/102846/2008, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), e envolveu os

seguintes parceiros: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, I.P. (LNEC), que coordenou o projeto, o Instituto

Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Empresa Geral de

Fomento (EGF).

Pretendeu-se que o equipamento desenvolvido fosse também vantajoso comparativamente com os

equipamentos existentes fora do país, nomeadamente, que pudesse ser utilizado em diferentes tipos de

sistemas de impermeabilização característicos das distintas classes de aterros de resíduos, em particular, nos

aterros de resíduos não-perigosos e perigosos, onde a presença de uma barreira ativa, geralmente constituída

pela geomembrana é requerida. De referir que os equipamentos atualmente existentes foram desenvolvidos para

deteção e localização de orifícios em sistemas de impermeabilização de aterros não-perigosos, constituídos,

apenas, por uma geomembrana e uma camada de solo argiloso compactada, que não é a solução geralmente

Page 8: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

2

adotada em Portugal, onde se inclui também uma barreira geossintética argilosa, nem a preconizada para

aterros de resíduos perigosos, estes últimos incorporando, geralmente, duas geomembranas.

Simultaneamente procedeu-se ao desenvolvimento de uma metodologia de ensaio que tirasse partido das

potencialidades do GeoSafe, em particular, que fosse independente da perícia e da experiência do operador. Por

este motivo, foram desenvolvidas e incorporadas no equipamento ferramentas que possibilitam a deteção e

localização dos orifícios através de georreferenciação por satélite, com recurso a um GNSS (Global Navigation

Satellite Systems). Este modo de operação é vantajoso, uma vez que os resultados são mais fiáveis, pois a

deteção e localização dos orifícios é realizada de forma semiautomática, proporcionando a garantia de que a

área em estudo é integralmente verificada, contrariamente ao que acontece quando a deteção e localização dos

orifícios é realizada de forma manual.

O desenvolvimento do GeoSafe constitui o primeiro passo para a realização de ensaios de deteção e localização

de orifícios nos aterros de resíduos portugueses, ensaios que, a serem integrados nas atividades de controlo e

garantia de qualidade da construção, constituirão um garante do eficaz desempenho das geomembranas, com

os benefícios daí decorrentes para o meio ambiente.

Convém ter presente que os aterros de resíduos serão sempre necessários, quer para a deposição de refugos

resultantes de outros métodos de tratamento dos resíduos, quer em situações de paragens programadas ou de

emergência de outras infraestruturas, pelo que é de extrema importância que o país possua meios técnicos que

permitam realizar atempadamente ações corretivas que assegurem que as geomembranas desempenharão

adequadamente a sua função de barreira.

O presente livro, dirigido a todos os envolvidos e interessados no processo de conceção, construção e

exploração de aterros de resíduos, tem por objetivo principal dar a conhecer as potencialidades do GeoSafe na

realização de ensaios de deteção e localização de orifícios em geomembranas, aplicadas em diferentes tipos de

sistemas de impermeabilização e drenagem dos aterros de resíduos. Tem, igualmente, por objetivos sensibilizar

a comunidade técnica para a premente necessidade de se proceder à realização destes ensaios no nosso país;

apresentar os benefícios que a sua realização representa para a proteção do meio ambiente; e contribuir para

melhorar a prática construtiva dos sistemas de impermeabilização e drenagem, no que se refere às atividades de

instalação, de controlo e de garantia de qualidade da geomembrana.

O livro inclui seis capítulos e um anexo. A seguir à presente introdução, no segundo capítulo, faz-se um breve

enquadramento sobre a gestão dos resíduos em Portugal e os aterros de resíduos. O terceiro capítulo é

dedicado aos geossintéticos, com especial relevância para a geomembrana, apresentando as principais

recomendações para uma adequada instalação da mesma. No quarto capítulo, descrevem-se as atividades de

controlo e de garantia de qualidade para a geomembrana. O quinto capítulo diz respeito ao equipamento

GeoSafe e à metodologia de ensaio desenvolvidos para deteção e localização de orifícios em geomembranas.

Por fim, no capítulo seis, apresentam-se as principais conclusões e algumas recomendações que se consideram

oportunas com vista a promover a realização destes ensaios em todos os aterros de resíduos do país. Em

anexo, apresentam-se algumas especificações técnicas, a incluir nos cadernos de encargos, com vista

possibilitar a verificação da integridade da geomembrana, após colocação da camada de drenagem.

Page 9: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

3

2. ENQUADRAMENTO

2.1 Gestão de resíduos

Na base da Política de Gestão de Resíduos estão objetivos e estratégias, devidamente alinhados com as

orientações comunitárias sobre a matéria, que visam garantir a preservação dos recursos naturais e a

minimização dos impactes negativos sobre a saúde pública e o ambiente.

Para atingir estes objetivos é necessário o incentivo à redução da produção dos resíduos e a sua reutilização e

reciclagem, promovendo a conceção e adoção de produtos e tecnologias mais limpas e que incorporem

materiais reciclados ou combustíveis derivados dos resíduos nos seus processos produtivos.

Importa também reforçar o importante papel das ações de sensibilização e divulgação em matéria de resíduos,

não só junto da população em geral, como também de entidades públicas e privadas, de modo a mudar

mentalidades e hábitos antigos ainda instalados e que constituem um obstáculo à plena participação dos

cidadãos no esforço da reciclagem.

Para além dos aspetos relacionados com a prevenção e sensibilização, é necessária uma rede de sistemas

integrados de recolha, tratamento, valorização e destino final de resíduos, segregando, sempre que viável, os

resíduos por fileira (p. ex., óleos usados, pneus, pilhas, resíduos de equipamento elétrico e eletrónico, plásticos,

matéria orgânica…).

Na base de todas estas ideias está a hierarquia de gestão de resíduos, definida pela União Europeia (EU), na

Diretiva 2008/98/CE, de 19 de novembro, artigo 4º, que determina a prioridade dos tratamentos e formas de

valorização a dar aos resíduos (Figura 1).

Prevenção

Redução

Reutilização

Reciclagem

Outros tipos de valorização (ex: energética)

Eliminação

Figura 1 – Hierarquia de gestão de resíduos (Diretiva 2008/98/CE).

2.2 Principais questões ambientais associadas

A gestão de resíduos é, em primeiro lugar, uma questão de saúde pública.

A evolução da sociedade tem como característica o aumento da oferta e consumo de bens e serviços. As

consequências deste consumo excessivo são notórias levando à necessidade de repensar a gestão de

processos e produtos e o modo como nos comportamos enquanto cidadãos:

- exagerada utilização dos recursos naturais, quando estes escasseiam;

- dificuldade na gestão dos orçamentos familiares e/ou empresariais, quando se desvaloriza a aquisição

de bens essenciais em detrimento de outros que se poderiam considerar de supérfluos;

- encaminhamento indevido dos resíduos produzidos.

Opções mais favoráveis

Page 10: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

4

Historicamente, a gestão de resíduos foi bastante negligenciada nas políticas de ambiente, a grande maioria dos

resíduos produzidos (principalmente de origem urbana e de pequenas industrias) eram encaminhados para

lixeiras sem controlo, a céu aberto, depositados sobre solo não protegido onde, em muitos casos, iam sendo

queimados para redução do seu volume, com a consequente poluição do meio envolvente e proliferação de

vetores potencialmente contaminantes.

Alterações climáticas

É sabido que a contribuição do sector dos resíduos, para as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE),

não é demasiado alta. No entanto, esta é uma área que pode dar um contributo significativo para a redução das

emissões globais.

A redução da produção de resíduos poderá ter um efeito enorme, nomeadamente a nível do consumo

energético. Otimizações de frotas e circuitos de recolha de resíduos levam também a uma efetiva redução de

emissões.

Uma vez que a grande maioria das emissões de metano neste setor se devem à degradação da matéria

orgânica depositada em aterros de resíduos, a reciclagem e o encaminhamento para destinos mais nobres,

darão um contributo enorme para a diminuição dos GEE.

Em sequência, importa também reforçar a importância que tem uma gestão cuidada dos aterros de resíduos,

através da instalação de sistemas de recolha e queima de biogás.

2.3 Política de resíduos em Portugal – a gestão de Resíduos Urbanos (RU)

Uma das áreas do saneamento básico que tem estado bastante em foco pela sua abrangência em termos de

território e população e, consequentemente, na definição de medidas de atuação por parte dos governantes tem

sido o setor dos resíduos urbanos. Este destaque ganha particular importância tendo em conta que a grande

maioria dos aterros em exploração em Portugal se destinam a este tipo de resíduos.

Assim, importa relembrar a rápida evolução que a gestão de RU em Portugal tem sofrido nos últimos anos,

desde 1996 aquando da publicação do primeiro Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos – PERSU–

(MAOTDR, 2006), tendo os governos de Portugal e a Autoridade Nacional de Resíduos zelado para que essa

evolução se tenha efetuado sob orientações específicas dos planos de resíduos, de forma uniforme em todo o

território continental, garantindo o contributo e envolvimento de todos os Sistemas de Gestão de Resíduos

Urbanos (SGRU) nas diferentes vertentes da gestão dos RU e na componente de sensibilização e educação

ambiental.

Dos quarenta SGRU originalmente criados em 1996, restam atualmente 23, cobrindo a totalidade do território

continental, cabendo a estas entidades a gestão dos RU na sua área de atuação, incluindo a construção e

exploração de infraestruturas.

Tendo em conta que um dos pilares do PERSU (MA & IR, 1996) era o encerramento das lixeiras existentes, a

estratégia inicialmente seguida baseou-se na construção de destinos adequados para os resíduos que

resolvesse o problema do encaminhamento imediato – aterro e incineração – enquanto eram fomentadas outras

opções de tratamento e de sensibilização das populações.

Em fase seguinte, e dando corpo às orientações comunitárias sobre a matéria, foi desenvolvida a Estratégia

Nacional para a Redução dos Resíduos Biodegradáveis Destinados aos Aterros – ENRRUBDA – (MCOTA,

2003), que originou a construção de centrais de valorização orgânica e de tratamento mecânico dos resíduos,

deixando para os aterros o importante papel de apoio e complemento em verdadeiros centros de tratamento de

resíduos.

Page 11: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

5

2.4 Instrumentos de planeamento

O Plano Nacional de Gestão de Resíduos e os Planos Estratégicos (setoriais) de Gestão dos Resíduos são, a

par com a legislação nacional e comunitária, os instrumentos existentes em Portugal que consubstanciam os

objetivos e princípios de gestão atrás referidos e visam regular a sua implementação.

Indicam-se no Quadro 1 os planos setoriais e alguns aspetos mais relevantes sobre os mesmos, à dada da

elaboração deste documento.

Quadro 1 – Principais instrumentos de planeamento.

Documento Principais linhas orientadoras

Plano Nacional de Gestão de Resíduos –PNGR (APA & IST, 2011)

Em processo de aprovação. O Projeto de PNGR estabelece as orientações estratégicas de âmbito nacional da política de gestão de resíduos, preconizando como visão a promoção de uma gestão de resíduos integrada no ciclo de vida dos produtos, centrada numa economia tendencialmente circular, que garanta uma maior eficiência na utilização dos recursos naturais

Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais – PESGRI

Processo de revisão em desenvolvimento. Aprovado através do Decreto-Lei nº 516/99, de 2 de dezembro, e objeto de duas revisões, a última das quais em 2001, publicada pelo Decreto-Lei nº. 89/2002, de 9 de abril, e respetiva Declaração de Retificação nº. 23-A/2002, de 29 de junho, encontrando-se em vigor para o período de 2001 a 2015. A linha de atuação estabelecida é centrada (1) na prevenção da produção de resíduos, (2) na promoção e desenvolvimento das opções de reutilização e reciclagem, garantindo um nível elevado de proteção da saúde e do ambiente, (3) na promoção da eliminação do passivo ambiental e (4) no desenvolvimento da autossuficiência do País em matéria de gestão de resíduos tendo em vista a criação de um sistema integrado de tratamento de resíduos industriais.

Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais – PNAPRI (IR & INETI, 2001)

Elaborado no contexto do PESGRI e encontra-se em vigor até 2015, prevendo-se a sua revisão na sequência da aprovação daquele plano. A prioridade do PNAPRI é a redução da perigosidade e quantidade dos resíduos industriais, não só pela aplicação de medidas e tecnologias de prevenção aos processos produtivos inseridos na atividade industrial, mas, também, através da mudança do comportamento e da atitude dos agentes económicos e dos próprios consumidores.

Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares – PERH (APA, 2011)

Aprovado e publicado pela Portaria n.º 43/2011, de 20 de janeiro, está alicerçado nos princípios enunciados no quadro legal comunitário e nacional aplicável (salientando-se neste contexto a Diretiva 2008/98/CE, transposta para o direito interno através do Decreto-Lei nº. 73/2011, de 17 de junho), visa reforçar as medidas em matéria de prevenção de resíduos hospitalares, preconizando objetivos de sustentabilidade, introduzindo a abordagem do ciclo de vida dos produtos e materiais (e não apenas a fase de gestão do resíduo), colocando a tónica na redução dos impactes ambientais resultantes da produção e gestão de resíduos, e fortalecendo a noção do valor económico associado aos mesmos. Incorpora ainda o incentivo à valorização dos resíduos e utilização dos materiais resultantes da valorização, no sentido da eliminação constituir a última opção de gestão considerada.

Programa de Prevenção de Resíduos Hospitalares– PPRH

Em fase de elaboração, constituindo uma das ações do PERH. Neste âmbito, foi realizado um estudo-piloto e um “Manual de Boas Práticas de Prevenção de Resíduos Hospitalares”, em fase de consolidação.

Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos 2007-2016 –PERSU II (MAOTDR, 2006)

Aprovado e publicado pela Portaria n.º 187/2007, de 12 de fevereiro, consiste na revisão do PERSU I, tendo também integrado e revisto a Estratégia Nacional de Redução de Resíduos Urbanos Biodegradáveis Depositados em Aterro (ENRRUBDA) aprovada em 2003 e o Plano de Intervenção de Resíduos Sólidos Urbanos e Equiparados (PIRSUE) aprovado em 2006. Para além da revisão do PERSU I, da ENRRUBDA e do PIRSUE, o PERSU II preconiza a estratégia de gestão dos resíduos urbanos para o período 2007-2016 e inclui objetivos, metas e ações para o sector dos resíduos, decorrentes da aplicação da legislação nacional e comunitária, designadamente:

- - O desvio de resíduos urbanos biodegradáveis (RUB) de aterro; - - A reciclagem e valorização de resíduos de embalagem; - - A redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Está em curso a estratégia de desvio de RUB de aterro, através da valorização orgânica da fração biodegradável dos resíduos urbanos previamente separada em instalações de tratamento mecânico, ou recolhida seletivamente (a meta definida na diretiva 1999/31/CE de 26 de abril relativa à deposição de resíduos de aterro, com a derrogação aplicada a Portugal, prevê que que apenas possam ser admitidos em aterro (a 31 de julho de 2013) 50% dos RUB produzidos em 1995). Processo de Revisão em fase final, naturalmente alinhado com o previsto na Diretiva 2008/98/CE no que diz respeito à sua estrutura, conteúdo e metas, e com as evoluções entretanto verificadas no setor.

Programa de Prevenção de Resíduos Urbanos – PPRU (APA, 2009)

Previsto no Eixo I do PERSU II e publicado em Diário da República, através do Despacho n.º 3227/2010, de 22 de fevereiro de 2010, tem como objetivo fundamental propor medidas, metas e ações para a sua operacionalização e monitorização, no que diz respeito à redução da quantidade e perigosidade dos RU produzidos. Concretamente, o PPRU pretende consolidar a vertente da prevenção na execução dos Planos de Ação dos Sistemas, procurando contribuir para a redução da produção de resíduos e a minimização dos impactes negativos da sua gestão.

Page 12: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

6

2.5 Aterros de resíduos

2.5.1 Tipos de aterros

A União Europeia prevê exigências técnicas estritas para os resíduos e os aterros de resíduos, de modo a evitar

e reduzir, na medida do possível, os efeitos negativos sobre o ambiente e, especialmente, sobre as águas de

superfície, as águas subterrâneas, os solos, a atmosfera e a saúde humana.

O principal documento orientador da construção e gestão de aterros de resíduos é a Diretiva 1999/31/CE do

Conselho, de 26 de abril de 1999, transposta para o Direito interno com a publicação do Decreto-Lei

n.º 152/2002, de 23 de maio (entretanto revogado pelo Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de agosto), que define

pormenorizadamente as diferentes categorias de resíduos e aplica-se a todos os aterros de resíduos, definidos

como locais de eliminação de resíduos por deposição sobre o solo ou no seu interior. Os aterros são

classificados em três categorias:

- aterros para resíduos perigosos;

- aterros para resíduos não perigosos;

- aterros para resíduos inertes.

A legislação estipula condições de admissão de resíduos em aterro mas também requisitos técnicos dos quais

se destacam:

- requisitos de localização;

- requisitos relativos a controlo de emissões e proteção do solo e das águas;

- requisitos de estabilidade;

- equipamentos, instalações e infra -estruturas de apoio;

- requisitos de encerramento e integração paisagística.

No âmbito do presente documento, salientam-se os requisitos relativos à proteção do solo, das águas

superficiais e subterrâneas e ao controlo das emissões gasosas.

A proteção do solo, das águas e o controlo das emissões gasosas é tipicamente assegurado por sistemas de

impermeabilização e drenagem colocados na base, nos taludes e na cobertura final do aterro (sistema de

encerramento). Na base e taludes estes sistemas incluem uma proteção ambiental passiva e uma proteção

ambiental ativa. O Quadro 2 resume os requisitos mínimos a que estes sistemas devem obedecer, de acordo

com a classe de aterros.

Conforme atrás referido, perspetiva-se que a deposição direta em aterro venha a diminuir nos próximos anos,

seguindo também as tendências comunitárias, tendo a hierarquia de gestão de resíduos como objetivo. Não

obstante, os aterros de resíduos serão sempre necessários, quer para a deposição de refugos resultantes

doutros métodos de tratamento dos resíduos, quer em situações de paragens programadas ou de emergência

de outras infraestruturas.

Page 13: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

7

Quadro 2 – Requisitos mínimos a que devem obedecer as diferentes classes de aterro (adaptado de Decreto-Lei n.º 183/2009).

Classes de aterro

Requisitos Inertes Não perigosos Perigosos

Sistema impermeabilização e drenagem de base e taludes - proteção ambiental passiva

Barreira de segurança passiva Sim Sim Sim

Condutividade hidráulica, k (m/s) ≤ 1x10-7 ≤ 1x10-9 ≤ 1x10-9

Espessura (m) ≥ 1 ≥ 1 ≥ 5

Sistema impermeabilização e drenagem de base e taludes - proteção ambiental ativa

Barreira de impermeabilização artificial Sim Sim

Sistema de drenagem de águas pluviais Sim Sim

Sistema de drenagem e recolha de lixiviados Sim Sim

Sistema de drenagem e tratamento de biogás (*) (*)

Sistema de encerramento

Camada de drenagem de gases (*) (*)

Barreira de impermeabilização artificial Sim

Camada mineral impermeável Sim Sim

Camada de drenagem > 0,5m Sim Sim

Cobertura final com material terroso > 1m Sim Sim Sim

(*) A definir em função do tipo de resíduos admitido no aterro

2.5.2 Sistemas de impermeabilização e drenagem de base e taludes

Tal como anteriormente mencionado, o sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes tem por

função principal prevenir e minimizar a migração de contaminantes para meio ambiente envolvente ao aterro de

resíduos, incluindo o solo e as águas subterrâneas. Este sistema deve ser capaz de garantir o confinamento dos

resíduos, bem como a coleta e encaminhamento dos lixiviados para o sistema de tratamento, por um período de

tempo compatível com a vida útil do aterro de resíduos.

Os sistemas de impermeabilização e drenagem de base e taludes são constituídos por várias camadas, cada

uma com uma função específica. O número de camadas depende das condições geotécnicas, do tipo de

resíduos, da regulamentação vigente no país, do tipo de aterro de resíduos, etc..

Na Figura 2 apresenta-se um exemplo de sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes para

aterros de resíduos não perigosos (por exemplo, resíduos urbanos), bem como as funções e os requisitos

mínimos a que as diferentes camadas devem atender de acordo com a legislação presentemente vigente em

Portugal. Para além dos requisitos indicados na figura, estes sistemas devem satisfazer os seguintes requisitos:

estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica dos materiais, estabilidade e compatibilidade química com os

resíduos e com os lixiviados gerados.

Page 14: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

8

Figura 2 – Exemplo de sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes para aterros de resíduos não perigosos.

2.5.3 Sistema de encerramento

O sistema de encerramento tem por objetivos principais controlar a infiltração das águas superficiais e,

consequentemente, a produção de lixiviado no aterro; isolar os resíduos do meio envolvente; e evitar a migração

não controlada de gás do aterro. Para além disso, o sistema de encerramento serve também para evitar o

arrastamento de poeiras e resíduos pelo vento, minimizar os odores, fornecer condições para o crescimento da

vegetação, manter afastados dos resíduos os animais e assegurar uma adequada integração paisagística do

aterro.

À semelhança do sistema de base e taludes, o sistema de encerramento inclui várias camadas, tais como:

camada de terra vegetal, camada de proteção, camada de drenagem das águas pluviais, camada mineral

impermeável (barreia), camada de drenagem e coleta de gases e camada de regularização. Pode, também,

incluir camadas de filtros entre as camadas granulares com o objetivo de evitar a migração da fração de finos

para as camadas adjacentes.

Na Figura 3 apresenta-se um exemplo de sistema de encerramento utilizado em aterros de resíduos não

perigosos e os requisitos mínimos que as diferentes camadas devem satisfazer. As correspondentes funções

são indicadas no Quadro 3.

O sistema de encerramento deve também cumprir requisitos em termos de estabilidade e levar em consideração

os elevados assentamentos que terão lugar durante e após o encerramento do aterro, bem como o risco de

erosão.

Page 15: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

9

Figura 3 – Exemplo de sistema de encerramento para aterro de resíduos não perigosos.

Quadro 3 – Principais funções dos componentes do sistema de encerramento.

Componente Função

Cobertura final com material terroso

Camada de terra vegetal

resistir à erosão causada pela água e pelo vento

fornecer condições para o crescimento da vegetação

assegurar o enquadramento paisagístico e a utilização futura do local

facilitar a manutenção

Camada de proteção

proteger as camadas subjacentes da erosão e da exposição às condições ambientais

servir como filtro

armazenar água para a vegetação

Camada de drenagem

minimizar a carga hidráulica sobre a barreira e, consequentemente, a infiltração

escoar a água infiltrada das camadas sobrejacentes

reduzir e controlar a pressão da água nos poros na interface com a barreira, de modo a evitar problemas de estabilidade dos taludes

Camada mineral impermeável (barreira)

controlar a infiltração de água nos resíduos

restringir as emissões de gás

Camada de drenagem de gases

drenar e conduzir o gás para os pontos de recolha e remoção

limitar a pressão sobre a barreira

Camada de regularização (opcional)

servir de fundação para as camadas sobrejacentes

proteger do impacto dos assentamentos diferenciais dos resíduos

redistribuir as cargas e as deformações

providenciar adequada capacidade de carga

No âmbito do presente documento, o capítulo seguinte será dedicado aos materiais constituintes dos sistemas

de impermeabilização e drenagem de base e taludes e de encerramento, nomeadamente, aos materiais não

naturais (geossintéticos), com especial relevo para as barreiras, em particular, para a geomembrana.

Page 16: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

10

3. GEOSSINTÉTICOS NOS SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E DRENAGEM

3.1 Tipos de geossintéticos

O termo geossintético é usado para descrever um material, em que pelo menos um dos seus componentes é

fabricado a partir de um polímero sintético, na forma de folha, tira ou estrutura tridimensional, utilizado em

contacto com o solo ou outros materiais em obras de engenharia civil (NP EN ISO 10318, 2006).

Nos aterros de resíduos, os geossintéticos têm um papel preponderante, tanto pela diversidade de produtos

potencialmente aplicáveis, como pela diversidade de funções que os mesmos podem desempenhar,

nomeadamente, contenção de líquidos/gases (barreira), proteção, separação, filtragem, drenagem e o reforço.

Os principais tipos de geossintéticos são os seguintes:

- geomembranas (GM): materiais de reduzida permeabilidade, produzidos à base de materiais

poliméricos, podendo ser usados como barreiras aos líquidos, gases e/ou vapores;

- geotêxteis (GTX): materiais poliméricos permeáveis que podem ser utilizados para filtragem, drenagem,

proteção, separação e, também, para controlo de erosão;

- geogrelhas (GGR): consistem numa grelha aberta e regular de elementos resistentes à tração, ligados

entre si por extrusão, colagem ou entrelaçamento, cujas aberturas têm dimensões superiores às da

superfície sólida da grelha formada pelos elementos constituintes, usadas para reforço;

- georredes (GNT): consistem em duas séries de elementos paralelos que se cruzam segundo vários

ângulos, formando uma estrutura plana aberta, sendo usadas para drenagem ao longo do seu plano;

- geotubos (GP): são utilizados para captação e drenagem de líquidos.

Os tipos de geossintéticos mencionados podem também associar-se, formando geocompósitos (GCO), sendo de

destacar as barreiras geossintéticas argilosas (GCLs), geralmente denominadas por geossintéticos bentoníticos.

Estes materiais, constituídos por bentonite e por GTXs e/ou GM, são usados com a função de barreiras à

migração de fluidos (líquidos ou gasosos). Outros geocompósitos frequentemente utilizados, são os

geocompósitos de reforço, formados por um ou mais GTXs e por uma GGR, e os geocompósitos de drenagem,

constituídos por GTX(s) e por GNT, que, como os nomes indicam, são utilizados para reforço e para drenagem,

respetivamente.

Nos sistemas de impermeabilização e drenagem, os tipos de geossintéticos mais utilizados são os indicados no

Quadro 4 e esquematicamente representados na Figura 4.

Dos tipos de geossintéticos atrás referidos, salienta-se pela sua a importância a geomembrana, que, na base,

cumpre a importante função de evitar que os líquidos gerados pela alteração dos resíduos possam atingir o

subsolo e as águas subterrâneas e, no sistema de encerramento, serve para controlar a infiltração das águas

superficiais no aterro e a emissão de biogás para a atmosfera.

Para desempenhar adequadamente a sua função de barreira, a geomembrana deve ser devidamente

selecionada, com base em dimensionamento a realizar de acordo com as solicitações previstas. Deve,

igualmente, ser adequadamente instalada, por forma a manter a sua integridade, bem como as suas

características funcionais a curto e a longo prazo.

Os aspetos referentes à seleção e instalação serão abordados nas secções seguintes, com ênfase no segundo

aspeto por estar diretamente relacionado com a integridade da geomembrana, que constitui o objeto principal do

presente documento. A questão da durabilidade sai do âmbito deste trabalho, pelo que não será discutida.

Page 17: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

11

Quadro 4 – Geossintéticos mais utilizados em aterros de resíduos e respetivas funções.

Tipo de geossintético Sigla Exem. Tipo de polímero/material Função

Geomembranas GM PEAD, PEBD, LPEAD, PVC,

PP, CSPE, EDPM Barreira

Barreiras geossintéticas

argilosas GCL

Bentonite + GTX(s),

Bentonite + GM(s),

Bentonite + GTX + GM

Barreira

Georredes GRT

PEAD Drenagem

Geogrelhas GGR

PEAD, PET, PP Reforço

Geotubos GP

PEAD, PEBD, PVC Drenagem

Geotêxteis

não-tecido

GTX

PP, PET, PEAD, PA Filtro, proteção, separação, reforço e

controlo de erosão tecido

Nota: PEAD – Polietileno de alta densidade; PEBD – Polietileno de baixa densidade; LPEAD - Polietileno linear de alta

densidade; PVC – Cloreto de Polivinilo; PET – Poliester; PA – Poliamida; PP – Polipropileno; CSPE – Polietileno

clorosulfanado; EPDM – Monómero de etileno-propileno-dieno.

Figura 4 – Exemplos de aplicações de geossintéticos em aterros de resíduos (Zornberg & Christopher, 2007).

Dreno de

controlo do nível de água

Filtro em

geotêxtil

Reforço com

fibras

Geomembrana secundária

Reforço (geogrelha, geotêxtil)

Georrede

Aterro

em argila

CCL

Geotubo Cascalho

Geomembrana primária

Georrede

Filtro em

geotêxtil

GC

L

Geocompósito para

biogás/lixiviado

Resíduos sólidos

Cobertura diária em geotêxtil Filtro em

geotêxtil

Filtro em geotêxtil

Geotubo

Geogrelha

Reforço com

fibras

Reforço (geogrelha,

geotêxtil, geocélulas) Geomembrana Poço de extração

de líquidos

Geocompósito de drenagem Sistema de controlo de

erosão em geossintéticos

Geocompósito de drenagem intercetor

Barreira vertical em PEAD Poço de água subterrânea

Page 18: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

12

3.2 Geomembranas

3.2.1 Seleção

A seleção da geomembrana efetua-se com base em exigências funcionais, em requisitos de instalação e em

critérios económicos. Relativamente aos primeiros, comparam-se os valores das propriedades indicados nas

especificações de projeto com os valores das propriedades disponibilizados pelos fabricantes, por exemplo, em

Fichas Técnicas. Salienta-se, contudo, que a comparação só é possível se as normas de ensaio utilizadas pelos

fabricantes forem as mesmas, ou equivalentes, às normas indicadas nas especificações de projeto.

Para a constituição das especificações de projeto é necessário identificar quais as propriedades a dimensionar, o

que depende das solicitações previstas para a geomembrana. Em termos gerais, as principais propriedades da

geomembrana a considerar no âmbito do projeto dos sistemas de impermeabilização e drenagem de base e

taludes e no sistema de encerramento são as seguintes:

- resistência química para resistir a agressões químicas e biológicas por parte dos resíduos, lixiviados e

biogás;

- resistência mecânica (resistência ao punçoamento, ao rasgamento e à tração), para resistir às

exigências funcionais e satisfazer as condições de instalação;

- deformabilidade/flexibilidade, sobretudo, quando a geomembrana é aplicada no sistema de

encerramento, face aos assentamento expectáveis;

- características de atrito, particularmente úteis no caso dos cálculos de estabilidade dos taludes

(resistência ao corte, levando em consideração os materiais adjacentes à geomembranas, por exemplo,

solos, geotêxteis, georrede, etc., pois os valores de resistência corte entre a geomembrana e os

diferentes tipos de geossintéticos são muito variáveis e podem ser muito baixos);

- estabilidade térmica, incluindo resistência aos esforços induzidos pelas variações de temperatura

(expansão / contração);

- durabilidade, sobretudo para resistir aos efeitos da termo-oxidação (envelhecimento térmico causado,

sobretudo, pelas elevadas temperaturas que o aterro pode atingir durante as fase de exploração e após

o encerramento), da foto-oxidação (envelhecimento devido aos raios ultravioletas) e ao

desenvolvimento de fissuras de tração (tempo de indução à oxidação, resistência à fissuração por

tração, etc.).

Para além destas propriedades de natureza funcional, é também usual especificar a espessura e tipo de

polímero no fabrico da geomembrana. No sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes a

geomembrana é, geralmente, de polietileno de alta densidade, devido à sua resistência química, mecânica,

durabilidade e também por permitir soldaduras resistentes do ponto de vista mecânico e de estanqueidade.

Estas geomembranas, embora rígidas, têm boas propriedades físicas e conseguem suportar tensões elevadas

muitas vezes impostas durante a construção do aterro. Já no sistema de encerramento, preconiza-se a utilização

de geomembranas de baixa densidade, sobretudo, por apresentarem maior flexibilidade, o que permite

acomodar mais facilmente os assentamentos deste sistema.

No caso das geomembranas de polietileno, são geralmente incluídas nas especificações técnicas requisitos

sobre outras propriedades, que, indiretamente, fornecem informações sobre a qualidade da geomembrana. De

salientar, a massa volúmica, o índice de fluidez e o teor em negro de carbono.

O valor da massa volúmica é importante por estar diretamente relacionado com a cristalinidade (Halse et al.,

1991), afetando as propriedades térmicas (ponto de endurecimento, viscosidade e temperatura de fusão),

mecânicas (resistência à tração e flexibilidade) e químicas (resistência química, à fissuração e “permeabilidade”).

Page 19: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

13

O valor do índice de fluidez permite avaliar indiretamente o peso molecular dos polímeros termoplásticos (um

valor alto do índice de fluidez indica que o polímero apresenta um peso molecular baixo), propriedade que

condiciona diretamente as propriedades mecânicas destes materiais. Contudo, a comparação de valores do

índice de fluidez só tem significado se forem comparadas geomembranas de um mesmo polímero (Koerner,

1998).

O negro de carbono é um aditivo que se junta na formulação da geomembrana para minimizar os efeitos

negativos dos raios ultravioleta sobre os polímeros, os quais conduzem à degradação das propriedades

mecânicas das geomembranas, nomeadamente ao surgimento de fissuras e a uma rotura do tipo frágil.

3.2.2 Instalação em obra

A qualidade do sistema de impermeabilização e drenagem está diretamente relacionada com a qualidade das

operações de instalação em obra, pois qualquer dano na geomembrana pode comprometer a sua função de

barreira e prejudicar o meio ambiente.

A instalação da geomembrana em obra abrange um conjunto de atividades, sendo de destacar as seguintes:

receção; preparação das camadas subjacente e sobrejacente; preparação da vala de ancoragem; plano de

instalação; transporte; manuseamento; armazenamento; colocação dos painéis; união dos painéis (soldaduras);

uniões às tubagens; ensaios de controlo e ensaios de garantia de qualidade das soldaduras em termos de

estanqueidade e de resistência mecânica. Para além destas atividades, a instalação inclui também as operações

de reparação de potenciais danos.

3.2.2.1 Receção

Aquando da receção da geomembrana deve proceder-se à análise da conformidade com vista a assegurar que

os rolos fornecidos correspondem à geomembrana selecionada e que satisfazem os requisitos de projeto. Para o

efeito, deve verificar-se se os rolos fornecidos estão devidamente etiquetados, se os documentos remetidos pelo

fabricante, incluindo os resultados dos ensaios de controlo de produção (se disponibilizados), dizem respeito aos

rolos fornecidos e deve providenciar-se a realização de ensaios de verificação da conformidade.

No que se refere à etiquetagem, de referir que a informação aposta em cada rolo (ou embalagem) deve

compreender a identificação do fabricante, a designação comercial da geomembrana, identificação do rolo (ex.

número ou código de identificação), o peso, as dimensões, a massa por unidade de área, a matéria-prima e a

classificação do produto, de acordo com o estabelecido na norma NP EN ISO 10320 (2003). A marcação CE

deve, também, estar aposta em rolo (ou embalagem).

Relativamente aos ensaios de verificação da conformidade, devem ser realizados em laboratório independente,

antes da colocação da geomembrana em obra, e incluir todas propriedades consideradas relevantes. Estes

ensaios visam, não só, assegurar que os rolos fornecidos efetivamente satisfazem os requisitos de projeto, como

também identificar possíveis defeitos de fabrico. Devem rejeitar-se os rolos cujos resultados dos ensaios não

satisfaçam os valores especificados no projeto.

3.2.2.2 Preparação da camada subjacente

Para que o sistema de impermeabilização e drenagem de base e taludes e de encerramento funcionem

adequada e eficientemente as condições de contacto entre a geomembrana e a superfície da camada

subjacente devem ser excelentes, por outras palavras, a geomembrana deve ser colocada sobre uma superfície

plana, quer esta seja constituída por uma barreira geossintética argilosa (GCL), ou por uma camada de solo

argiloso compactada (CCL).

Page 20: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

14

Em Portugal, os sistemas de impermeabilização e drenagem de base e taludes de escavação, geralmente,

incluem barreiras múltiplas, constituídas por uma geomembrana, uma GCL e uma CCL (do topo para a base).

Quando a geomembrana assenta sobre a GCL a superfície subjacente, em princípio, é plana. Contudo, para que

tal se verifique, a superfície da camada da inferior deve estar nivelada, devidamente compactada e isenta de

materiais contundentes, elevações ou depressões (devidas, por exemplo, a fragmentos rochosos, raízes ou

resíduos), mudanças bruscas de inclinação, zonas “moles”, nascentes, fissuras por secagem excessiva

(dessecação), etc..

As exigências acima mencionadas são também aplicáveis à superfície da CCL, no caso de a geomembrana ser

colocada diretamente sobre esta camada. De referir que para evitar que a superfície desta camada se deteriore

em consequência de chuvas, ventos, perda de humidade do solo, trânsito local, etc., a colocação dos

geossintéticos deve realizar-se imediatamente após os trabalhos de preparação da mesma. Caso tal não seja

possível, deve reinspeccionar-se cuidadosamente a superfície da camada subjacente e providenciar as

reparações necessárias, antes de autorizar a colocação da camada seguinte (GCL ou geomembrana). Na Figura

5 apresentam-se, a título de exemplo, superfícies da camada subjacente em condições adequadas e

inadequadas.

(a) adequadas

(b) inadequadas

Figura 5 – Exemplos de superfícies adequadas e inadequadas da camada subjacente.

3.2.2.3 Preparação da vala de ancoragem

Para evitar o escorregamento da geomembrana ao longo do talude e a formação de dobras, esta deve ser

amarrada no interior de valas de ancoragem.

As valas de ancoragem devem ser construídas antes da colocação dos geossintéticos, de acordo com as

dimensões e a localização indicadas no projeto. O dimensionamento da vala de ancoragem na crista do talude

deve ser efetuado de forma a evitar problemas de rotura ou arranque da geomembrana na zona de ancoragem,

Page 21: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

15

sobretudo quando são elevadas as alturas e as inclinações dos taludes de escavação. Deve, também, levar-se

em consideração a utilização de vários geossintéticos na constituição do sistema de impermeabilização e

drenagem, bem como atender aos baixos valores de resistência ao corte entre eles.

Deve, ainda, conciliar-se a geometria das valas com as características dos vários geossintéticos a aplicar no

aterro, visto que os materiais mais rígidos como as geomembranas dificilmente poderão ser dobrados numa vala

com uma configuração retangular. Pode optar-se por valas com diferentes geometrias, desde que estas

respondam satisfatoriamente às solicitações previstas. Salienta-se que, qualquer que seja a geometria, a vala

deve ser arredonda nos cantos, para evitar danos.

De destacar que, segundo a EPA (2000), as dimensões mínimas requeridas para a vala de ancoragem na crista

do talude são as seguintes (Figura 6): 0,6 m (profundidade); 0,6 m (largura); e 1 m (comprimento de ancoragem).

Figura 6 – Dimensões mínimas da vala de ancoragem na crista do talude.

As valas de ancoragem devem ser preenchidas preferencialmente com solo de baixa condutividade hidráulica, o

qual deve ser compactado logo após a colocação da geomembrana (Figura 7). Se o sistema de

impermeabilização e drenagem incluir outros geossintéticos e não for possível efetuar o preenchimento total da

vala, deve providenciar-se o carregamento provisório adequado (e.g., solo, sacos de areia), por forma a evitar o

escorregamento ao longo do talude e a formação de dobras no pé do talude. O material de enchimento deve ter

formas e dimensões que não danifiquem a geomembrana.

Figura 7 – Vala de ancoragem: (a) construção; (b) colocação e compactação do material de preenchimento; (c) ancoragem dos diferentes geossintéticos.

Geomembrana

GCL

Geotêxtil

(a) (b) (c)

Page 22: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

16

3.2.2.4 Plano de instalação

Deve ser preparado um plano de instalação para a geomembrana onde se defina, entre outros, os seguintes

aspetos: a disposição e sequência de colocação dos painéis num esquema de colocação (layout), tendo em

conta a geometria do aterro, a localização da rampa de acesso no interior do aterro, a direção predominante do

vento e a inclinação da base do aterro; o número de equipas a envolver na instalação; o método de uniões a

adotar; os ensaios de controlo de qualidade das soldaduras a realizar; etc..

O esquema de colocação deve indicar com detalhe a disposição dos painéis em pontos críticos, nomeadamente,

nos cantos dos taludes, em curva e nos locais onde as tubagens atravessam a geomembrana. Salienta-se que

devem evitar-se uniões múltiplas (Figura 8), uniões em cruz, uniões em “T” com um intervalo inferior a 0,5 m.

Figura 8 – Exemplos de disposição de painéis de forma adequada e inadequada.

Nos taludes, as uniões devem estar orientadas paralelamente à linha de maior declive, não devendo existir

uniões perpendiculares a essa linha (EPA Victoria, 2010). Nos cantos ou em locais de geometria complicada o

número de uniões deve ser minimizado.

De referir, ainda, que as uniões entre os painéis de geomembrana colocados nos taludes e na base devem ser

efetuadas a uma distância mínima do pé do talude de 1,5 m, conforme se ilustra na Figura 9.

Figura 9 – Exemplo de união entre os painéis geomembrana colocados nos taludes e na base.

3.2.2.5 Transporte, manuseamento e armazenamento

O equipamento para transporte em obra deve ser apropriado, para que não se verifiquem quaisquer danos nos

rolos de geomembrana. O transporte deve ser efetuado de forma a preservar a embalagem original, sem a

rasgar (Figura 10).

adequada inadequada

Page 23: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

17

Figura 10 – Exemplo de transporte de geossintéticos: (a) adequado e (b) inadequado.

O manuseamento, pelos funcionários do instalador, deve ser adequado (Figura 11), nomeadamente, não deve

ser permitido arrastar, deslizar ou empurrar os rolos.

Figura 11 – Exemplos de manuseamento adequado.

De igual forma, o armazenamento deve ser apropriado, para evitar, por exemplo, sujidade, danos mecânicos,

vandalismo, passagem de veículos ou outros fatores, como a chuva e os raios ultravioleta, sobretudo, se o

tempo de armazenamento for significativo. A superfície sobre a qual podem ser colocados os rolos de

geomembrana deve ser minimamente preparada, para que pedras ou objetos contundentes não a danifiquem.

Para o efeito, podem colocar-se os rolos sobre paletes de madeira (Figura 12). O empilhamento de rolos deve

seguir as recomendações do fabricante que, geralmente, acompanham o produto. Na ausência destas

recomendações, sugere-se que o empilhamento não exceda os cinco níveis de rolos. No caso da geomembrana

ser armazenada de forma inadequada, deve sacrificar-se as primeiras espiras, aproveitando apenas o material

intacto.

Figura 12 – Exemplos de armazenamento: (a) adequado e (b) inadequado.

G G

(

(a) (b)

(a) (b)

Page 24: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

18

3.2.2.6 Colocação dos painéis

A colocação dos painéis de geomembrana deve seguir a ordem e a configuração indicada no esquema de

colocação (layout) previamente definido pelo instalador e aceite pela fiscalização. Os painéis devem ser

numerados in situ, sequencialmente à sua colocação, conforme definido no plano de instalação.

Os painéis não devem ser colocados sob vento excessivo, nevoeiro, chuva, neve e temperaturas extremas.

Deve providenciar-se o carregamento provisório dos rolos recentemente colocados, até que se proceda à sua

união e a ancoragem definitiva na vala. Qualquer tipo de carregamento provisório é aceitável, desde que não

danifique a geomembrana. Geralmente, utilizam-se sacos de areia (Figura 13), ou pneus, espaçados

convenientemente e com peso tal que possam resistir ao esforço de levantamento provocado pelo vento.

Figura 13 – Exemplo carregamento provisório com sacos de areia

Deve ter-se o cuidado de só colocar os painéis de geomembrana cujas uniões se possam realizar no próprio dia. A união deve ser realizada logo que dois painéis sejam sobrepostos, para evitar o seu levantamento e

deslocamento sob ação do vento (

Figura 14), já que este pode causar acidentes pessoais graves, para além de prejuízos materiais.

Figura 14 – Exemplos de danos na geomembrana por ação do vento.

A largura de sobreposição entre painéis adjacentes deve respeitar as recomendações do fabricante.

Sobreposições mínimas de 125 mm são geralmente recomendadas (EPA Victoria, 2010). Na base do aterro, as

sobreposições devem realizar-se no sentido do escoamento, como ilustrado na Figura 15.

Figura 15 – Exemplos de sobreposições entre painéis adequadas e inadequadas.

sobreposições adequadas sobreposições inadequadas

Page 25: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

19

As variações de temperatura ambiente ao longo de um dia provocam a contração/expansão da geomembrana,

conduzindo à formação de dobras e à indução de tensões de tração nas mesmas. A indução de tensões de

tração em dobras potencia o desenvolvimento de fissuras de tração, a partir das quais os contaminantes podem

migrar para o subsolo e para as águas subterrâneas. A formação de dobras é também prejudicial porque piora

as condições de contacto entre a geomembrana e a camada subjacente. Nestas circunstâncias, a existência de

orifícios em dobras conduz ao aumento no fluxo de lixiviados sob a geomembrana, com as consequências

perniciosas para o meio ambiente.

Para minimizar a formação de dobras na geomembrana devem adotar-se folgas capazes de compensar as

deformações geradas pelas variações de temperatura, bem como promover-se a colocação de painéis que

possam ser unidos no próprio dia, nos períodos em que as temperaturas são mais amenas. No caso de se

formarem dobras, estas devem ser reparadas, por forma a manter a geomembrana plana e livre de tensões.

Todos os cuidados devem ainda ser tomados para evitar danos na geomembrana provocados por queda de

objetos contundentes e movimentação de pessoas ou equipamentos. A circulação de veículos diretamente sobre

a geomembrana é estritamente proibida.

3.2.2.7 União entre os painéis

Para as geomembranas mais utilizadas nos aterros de resíduos (polietileno alta e baixa densidade), as uniões

entre painéis, também designadas por soldaduras ou juntas, geralmente, realizam-se por termofusão dupla ou

por extrusão. A primeira consiste na união das geomembranas superior e inferior por aquecimento, através de

uma cunha metálica quente ou por insuflação de ar quente, com auxílio de uma pressão mecânica de rolos

compressores sobre as geomembranas aquecidas (Figura 16).

Figura 16 – Soldadura dupla por termofusão.

A soldadura por extrusão (Figura 17) consiste na deposição de material (obtido por extrusão de um cordão do

mesmo polímero da geomembrana), a temperatura elevada, na borda do painel da geomembrana superior.

Figura 17 – Soldadura por extrusão.

150 mm

25 a 40 mm

Extrusão

T = espessura

Geomembrana superior

Geomembrana inferior

Page 26: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

20

De referir, porém, que as soldaduras por extrusão devem realizar-se apenas nos locais onde não é possível

realizar soldaduras por termofusão, por exemplo, em pequenos remendos ou onde as tubagens atravessam o

sistema de impermeabilização. A opção pelas soldaduras por termofusão está diretamente relacionada com a

sua fiabilidade, relativamente às soldaduras por extrusão, cuja qualidade está mais dependente da experiência

do operador.

Qualquer que seja o método de união, as soldaduras devem ser estanques e apresentar resistência mecânica da

ordem de grandeza da geomembrana propriamente dita. Na seção seguinte descrevem-se sumariamente os

ensaios utilizados na verificação da qualidade das soldaduras.

3.2.2.8 Ensaios de controlo de qualidade das soldaduras

Para avaliar a qualidade das soldaduras é comum efetuarem-se dois tipos de ensaios, um para avaliar a perda

de estanqueidade e outro para averiguar resistência ao arranque e corte. Os primeiros são realizados ao longo

de todo o comprimento da soldadura e para todas as soldaduras (ensaios não-destrutivos). Os segundos são

realizados sobre amostras cortadas nas soldaduras existentes, razão pela qual estes ensaios são denominados

ensaios destrutivos.

Para a verificação da estanqueidade das soldaduras são realizados ensaios de pressão de ar, no caso das

soldaduras duplas por termofusão, e ensaios de fio de cobre, para as soldaduras por extrusão.

O ensaio de pressão de ar (Pressurized Air Channel Evaluation of Dual Seamed Geomembranes) realiza-se

segundo a norma ASTM D5820 (2011) e consiste em injetar, com uma agulha, uma determinada pressão no

canal existente nas soldaduras de termofusão duplas e verificar se existe estabilização da pressão, evidência de

que a junta é estanque (Figura 18).

Figura 18 – Ensaio de pressão de ar.

O ensaio do fio de cobre (spark test) realiza-se segundo a norma ASTM D6365 (2011), sendo necessário para a

sua realização a introdução de um fio de cobre na zona de sobreposição das geomembranas superior e inferior

durante a realização da soldadura. As duas extremidades do fio de cobre são depois retiradas da área de

soldadura para serem sujeitas a uma corrente elétrica. Seguidamente faz-se mover uma sonda (ligada a um

voltímetro), ao longo de todo o comprimento da soldadura. Se houver a emissão de um som agudo e/ou de uma

faísca ou se mostrador do voltímetro registar um aumento brusco do sinal, significa que a soldadura pode estar

defeituosa e necessita ser reparada (Figura 19).

Page 27: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

21

Figura 19 – Ensaio do fio de cobre.

Para a verificação da resistência das soldaduras são realizados ensaios (destrutivos) de arranque (peel test) e

de corte (shear test), segundo a norma ASTM D 6392 (2012). O princípio do ensaio é simples, consistindo em

tracionar, a velocidade preconizada, cada provete conforme é indicado na Figura 20(a) e (b), respetivamente

para o ensaio de arranque e corte.

No ensaio de arranque procura-se avaliar a resistência da soldadura (Peggs & Little, 1985), enquanto, no ensaio

de corte, se pretende avaliar de que forma o processo de soldadura afeta a resistência da geomembrana

adjacente à soldadura (Peggs, 1990).

soldadura por extrusão soldadura por termofusão

(a) ensaio de resistência ao arranque

soldadura por extrusão soldadura por termofusão

(b) ensaio de resistência ao corte

Figura 20 – Ensaios de resistência ao arranque e ao corte de soldaduras.

Page 28: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

22

3.2.2.9 Preparação das camadas sobrejacentes

Depois de instalada, a geomembrana deve ser coberta com uma camada de proteção para evitar potenciais

danos físicos, sobretudo, os resultantes da colocação do material granular da camada de drenagem de lixiviados

e dos resíduos. A camada de proteção pode ser constituída por solo, geossintético, ou ambos. Em Portugal, a

solução adotada tem recaído sobre um geossintético, designadamente, um geotêxtil (Figura 21).

Figura 21 – Exemplo de camada de proteção constituída por um geotêxtil.

Sobre a camada de proteção, coloca-se a camada de drenagem (Figura 22). Esta operação reveste-se de

cuidados especiais, por forma a minimizar os danos na geomembrana. Deve ser realizada de modo a impedir a

circulação de equipamentos diretamente sobre o geotêxtil de proteção à geomembrana (equipamento usados

nas operações de transporte e de espalhamento do material granular). A colocação do material de drenagem

deve iniciar-se na extremidade da célula de resíduos e prosseguir para o interior da mesma. Na fase inicial, deve

utilizar-se o braço da retroescavadora, ou equivalente, para empurrar e espalhar o material granular sobre o

geotêxtil. A circulação do equipamento pesado só é permitida quando a espessura da camada de drenagem for

superior à profundidade dos rodados dos equipamentos.

Figura 22 – Colocação da camada de drenagem sobre a camada de proteção à geomembrana.

Apesar de todos os cuidados, a ocorrência de orifícios durante a colocação da camada de drenagem parece

inevitável, como mostram os estudos realizados por diversos autores e que será objeto da secção seguinte.

geotêxtil

Page 29: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

23

3.2.2.10 Danos nas geomembranas

Os danos existentes nas geomembranas podem ocorrer por deficiente fabrico ou resultarem de atividades

realizadas durante a construção e exploração do aterro de rersíduos. O Quadro 5 mostra exemplos dos vários

tipos de danos que a geomembrana pode sofrer durante as diferentes fases e as suas possíveis causas.

Quadro 5 – Geomembranas: tipos de danos e possíveis causas (adaptado de McQuade & Needham, 1999).

Fases tipo de dano causas/ comentários

fabrico pequenos orifícios, variação de espessura, baixa resistência ao “stress cracking”

resina de má qualidade (pouco comum se existir controlo de qualidade de fabrico adequado)

cons

truç

ão

transporte sulcos, cortes, rasgos, furos, roturas equipamento de transporte, carga e descarga e locais de armazenamento inadequados

colocação sulcos, cortes, orifícios, rasgos arrastamento dos rolos, rebarbação descuidada dos painéis, superfície subjacente inadequada, utilização menos própria de equipamentos sobre os painéis, vento, rugas, dobras

soldadura cortes, sobreaquecimento, incisões, descolagem, rugas

rebarbação descuidada dos bordos, velocidade e temperatura de soldadura incorretas, excessiva pressão dos rolos, zona de soldadura suja ou molhada

colocação da camada drenante sobrejacente

rasgos, cortes, sulcos, orifícios, tensões na geomembrana

insuficiente proteção da geomembrana, ação dos equipamentos de movimentação de terras, contração da geomembrana devido a redução da temperatura, inadequada espessura mínima da 1ª camada de material drenante, ou dimensões inadequadas das partículas

exploração orifícios, rasgos, sulcos, roturas

punçoamento devido à deposição de resíduos, rotura de soldaduras de baixa resistência, tensões causadas por assentamento dos resíduos ou assentamentos diferenciais na base

Inúmeros autores têm efetuado estudos com o objetivo de verificar o tipo, localização, dimensão, frequência e

causa dos danos na geomembrana, nomeadamente Laine & Darilek (1993), Colucci & Lavagnolo (1995), Nosko

et al. (1996), McQuade & Needham (1999), Nosko & Touze-Foltz (2000), entre outros. Destes estudos pode

concluir-se que cerca de 98% dos danos observados em geomembranas utilizadas no sistema de

impermeabilização e drenagem de fundo e taludes de aterros de resíduos ocorrem durante o período de

instalação em obra. Destes, 25% ocorrem durante a colocação da geomembrana e ligação dos painéis, 73%

durante a colocação da camada de drenagem sobrejacente à geomembrana e só cerca de 2% ocorrem durante

a fase de exploração do aterro (Figura 23).

Figura 23 - Geomembranas: percentagem e causas dos danos.

Page 30: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

24

O número e tipo dos danos estão relacionados com a qualidade do material da camada subjacente, da qualidade

do material de cobertura, da qualidade da instalação da geomembrana e da fiscalização dessas operações.

Mesmo que seja implementado um bom controlo de qualidade durante as operações de instalação da

geomembrana, Snow et al. (1999) relata uma densidade média de 2,8 orifícios/ha após a instalação da

geomembrana e 11,9 orifícios/ha após a colocação da camada de drenagem. Os danos mais recorrentes estão

relacionados com soldaduras defeituosas e com orifícios por punçoamento da geomembrana, devido a

fragmentos rochosos angulosos aquando da colocação da camada de drenagem. Para minorar este tipo de

danos, foram desenvolvidos, por um lado, métodos para verificar a estanqueidade e resistência das soldaduras

e, por outro lado, métodos para detetar e localizar orifícios nos painéis da geomembrana antes e após a

colocação da camada de drenagem sobrejacente à geomembrana, ou seja, para geomembranas descobertas e

cobertas, respetivamente.

Os métodos para verificar a estanqueidade e a resistência foram apresentados na seção 3.2.2.8 e os métodos

para detetar e localizar orifícios serão mostrados na seção 4.4

3.2.2.11 Reparações

Todos os danos na geomembrana decorrentes da instalação em obra têm que ser devidamente reparados. As

reparações são diferentes consoante o tipo de danos (ver Quadro 5).

No que se refere aos danos identificados a partir dos resultados dos ensaios não-destrutivos, podem adotar-se

as seguintes técnicas:

- remendo;

- remoção da junta e substituição por uma faixa de geomembrana, soldada de ambos os lados por

termofusão;

- reforço da junta com uma soldadura por extrusão (só nos casos em que as medidas anteriores não

puderem justificadamente ser implementados).

Relativamente aos danos identificados com base nos resultados dos ensaios destrutivos, a reparação deve

consistir na colocação de um remendo, da mesma geomembrana, arredondado nos cantos, numa área que

exceda, pelo menos, 0,15m para cada lado da amostra retirada, e posterior união, sempre que possível, por

termofusão. O mesmo procedimento deve ser adotado para os danos identificados por inspeção visual.

De realçar que se deve comprovar a qualidade dos remendos efetuados, através da realização de novos ensaios

não-destrutivos.

Page 31: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

25

4. ATIVIDADES DE CONTROLO E DE GARANTIA DE QUALIDADE DA GEOMEMBRANA

4.1 Necessidade e importância dum plano de controlo e garantia de qualidade

Nos aterros de resíduos, as atividades de controlo e de garantia de qualidade da sua construção, sobretudo no

que respeita à instalação dos geossintéticos, nos quais a geomembrana se inclui, são da maior importância, pois

a suscetibilidade destes materiais a danos físicos e a sua deficiente instalação nestas obras pode pôr em risco,

não só o confinamento dos resíduos, como induzir a fuga de lixiviados ou biogás, com as repercussões

ambientais (contaminação do ar, do solo, das águas superficiais e subterrâneas) que se conhecem (Barroso &

Lopes, 2008).

A complexidade das ações a desenvolver no âmbito do controlo e garantia de qualidade relativas aos

geossintéticos justifica a realização de um plano onde se indique o conjunto de atividades a empreender com o

objetivo de assegurar que os materiais e as técnicas construtivas empregues pelo instalador de geossintéticos,

estão em conformidade com as condições estabelecidas no projeto e as regras de boa prática de instalação,

devendo também incluir a documentação e relatórios que permitam evidenciar e comprovar essa conformidade e

ainda indicar as responsabilidades dos vários intervenientes no processo.

4.2 Funções e responsabilidades dos intervenientes no controlo e garantia de qualidade

A garantia de qualidade da construção (GQC) depende muito da forma como interagem os diferentes

intervenientes na realização dessas atividades. Na Figura 24 mostra-se, a título de exemplo, a complexidade da

organização das atividades de garantia de qualidade da construção a empreender no que respeita aos solos e

geossintéticos.

Figura 24 – Organização das atividades de GQC (Koerner & Koerner, 2006)

Dono de Obra

Projectista Entidade Licenciadora

Organização da GQC

Ensaios de laboratório

geossintéticos solos

Empreiteiro

Fabricante

controlo de qualidade

de fabrico Ensaios de laboratório

Ensaios de laboratório

instalador

controlo de qualidade

de construção

controlo de qualidade

de construção Ensaios de laboratório

certificação

aprovação final

Page 32: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

26

No que respeita à geomembrana, antes da construção, a gestão da qualidade, passa pela verificação de que o

fabricante efetuou o respetivo controlo de qualidade (CQF) e pela verificação de que um organismo idóneo

independente atestou a garantia de qualidade de fabrico (GQF) da mesma a instalar. Durante a construção a

gestão da qualidade, passa pela verificação de que o instalador efetuou o respetivo controlo de qualidade (CQC)

e pela garantia da qualidade dos materiais e técnicas construtivas aplicadas (GQC) por parte de um organismo

idóneo independente.

No Quadro 6 indicam-se as responsabilidades dos diversos intervenientes nas atividades de controlo e garantia

de qualidade da construção.

Quadro 6 – Responsabilidades dos intervenientes nas atividades de CQC/GQC.

Equipa Responsabilidades

Dono de obra Responsável por patrocinar a obra e dirigir todas as operações a serem realizadas no local com o objetivo de concretizar o projeto

Projetistas Responsável por conceber, planear e providenciar um projeto de qualidade, em resposta aos requisitos indicados pelo dono de obra e especificações/regulamentos em vigor

Empreiteiros Responsável pelo planeamento e realização dos trabalhos de construção de acordo com o projeto. Inclui os subempreiteiros a contratar. No que respeita aos geossintéticos, inclui a equipa de instaladores, responsável pelo transporte/armazenamento, manuseamento e colocação (que inclui, nomeadamente, a união de painéis e ensaios de controlo)

Fiscalização Responsável pela inspeção/observação, ensaios e relatórios relacionados com as atividades de controlo de qualidade de construção

Inspeção de Qualidade Responsável por observar, conduzir e documentar as atividades relacionadas com a garantia de qualidade dos materiais e técnicas construtivas aplicadas. Tem de ser independente da equipa de projeto, construção e fiscalização, pelo que deve ser de tipo A(*)

(*) de acordo com a NP EN ISSO/IEC 17020

4.3 Conteúdo do plano GQC

Sendo o objetivo do plano GQC assegurar que são empregues as técnicas construtivas e os procedimentos

adequados e que o aterro é construído de acordo com o projeto e especificações em vigor, deve incluir no

mínimo o seguinte:

- funções do pessoal, responsabilidades e forma de comunicação;

- qualificações das equipas responsáveis pela GQC e pelo CQC e ainda da equipa de construção; - indicações sobre o sistema de impermeabilização e drenagem, incluindo desenhos;

- indicações sobre a execução de terraplenagens (preparação das superfícies das camadas subjacentes

aos geossintéticos e valas de ancoragem);

- indicações sobre a instalação dos geossintéticos;

- atividades de inspeção (observações e ensaios a ser utilizados para avaliar a conformidade com todos

os critérios de projeto, planos e especificações), nomeadamente, as seguintes:

detalhes dos métodos propostos e normas de inspeção e ensaios;

Page 33: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

27

relatórios diários por parte do engenheiro responsável pela garantia de qualidade, contendo: data, localização na célula em construção, trabalho desenvolvido, pessoal envolvido, condições climáticas, equipamentos em utilização, descrição dos materiais recebidos (incluindo qualquer documentação de controle de qualidade de fabrico) e decisões sobre a aprovação do trabalho ou dos materiais e/ou ações corretivas;

registo de todas as reuniões (incluindo as reuniões pré-construção para garantir que todos os intervenientes estão familiarizados com os planos de GQC e procedimentos CQC);

relatórios de inspeção e de ensaios (de campo e laboratório), incluindo a descrição das atividades de inspeção, localização das amostras recolhidas, observações de inspeções e padrões utilizados, assim como os resultados das inspeções e dos ensaios;

identificação dos problemas encontrados, incluindo a causa, localização e descrição do problema, e as medidas corretivas sugeridas e adotadas;

- relatório final detalhado que demonstre que o sistema de impermeabilização e drenagem, e os seus

diferentes componentes, estão conformes com o especificado, bem como que a equipa de CQC

monitorizou adequadamente a instalação dos materiais e a forma como os problemas eventualmente

ocorridos durante a construção foram corrigidos.

No caso particular das geomembranas o plano GQC deve incluir as atividades indicadas no Quadro 7.

Quadro 7 – Atividades do plano GQC relativas às geomembranas.

Antes da instalação da geomembrana

receção, análise de conformidade e aceitação dos materiais

definição e implementação de técnicas adequadas de transporte e armazenamento dos materiais

preparação e aceitação da superfície da camada subjacente e das valas de ancoragem

Dur

ante

a c

onst

ruçã

o

Atividades relativas à instalação

implementação do esquema de colocação sequencial dos painéis, integrado no plano de instalação, nomeadamente, nos pontos críticos, previamente definidos

realização do tipo definido de uniões (soldaduras) entre painéis, com os cuidados devidos, nomeadamente no que respeita à limpeza e dimensão das sobreposições das uniões, temperatura de realização e condições atmosféricas, soldaduras em “T” e “Y”.

implementação do plano de realização de soldaduras e da sua identificação, previamente definidos

implementação do plano de ensaios de controlo das soldaduras (ensaios de resistência e de estanqueidade), previamente definido

implementação dos métodos para as reparações da geomembrana (previamente definidos) decorrentes de: soldaduras defeituosas; rasgamentos devido ao vento, expansão e contração da geomembrana, devido à variação da temperatura; rugas ou dobras por deficiente ancoragem, etc..

implementação das técnicas para proteção da geomembrana relativamente à camada sobrejacente, previamente definidas

implementação das técnicas para a realização da camada sobrejacente à geomembrana, previamente definidas

Atividades relativas à inspeção da qualidade de instalação

verificação da competência da equipa de instaladores de geomembranas

realização de ensaios de comprovação da resistência e estanqueidade das soldaduras e definição e implementação do plano de ação no caso de verificação de não-conformidades

deteção de danos na geomembrana e definição e implementação dos métodos para a sua reparação

Mais pormenores sobre as atividades de GQC relativas às geomembranas referidas no Quadro 7 e sobre outros geossintéticos poderão ser encontrados no Plano de Garantia de Qualidade da Instalação dos Geossintéticos (Plano GQIG) em Aterros de Resíduos (Barroso & Lopes, 2008).

Page 34: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

28

Quando se apresentaram os tipos de danos que a geomembrana pode sofrer durante as operações de

construção do aterro, ficou demonstrado que a maior percentagem de orifícios é devida à colocação da camada

drenante e dado que esses orifícios não são facilmente detetáveis por a geomembrana já estar coberta,

considerou-se particularmente importante que seja incluído, com carácter obrigatório, este tipo de ensaios, nos

planos de GQC, o que não acontece atualmente. Apesar dos custos que envolvem, a sua utilização será sempre

mais eficaz e conduzirá a soluções mais económicas que quaisquer medidas corretivas a realizar, quando,

através da monitorização das águas subterrâneas, se observarem fugas de lixiviado.

Na seção seguinte serão apresentados os métodos de ensaio mais utilizados atualmente para verificar a

estanqueidade da geomembrana, após a colocação da camada drenante e efetuada uma análise comparativa

dos referidos métodos, no que se refere às suas vantagens e inconvenientes.

4.4 Métodos de ensaio para deteção e localização de orifícios em geomembranas cobertas

Os métodos de ensaio (não-destrutivos) desenvolvidos para verificar a estanqueidade de geomembranas

cobertas, destinam-se só a detetar danos (resultantes das operações de construção) que impliquem a

subsequente fuga de fluidos, ou seja, aqueles que afetam a geomembrana em toda a sua espessura. Estes

métodos podem ser permanentes ou temporários.

4.4.1 Método permanente

O método utiliza um sistema com sensores fixos/permanentes para deteção e localização de orifícios e permite a

realização de ensaios (grid test) segundo a norma ASTM D 6747 (2012) para verificação da estanqueidade da

geomembrana antes e após a sua cobertura. Para a realização destes ensaios, antes da colocação da

geomembrana, é necessária a colocação no solo, a pequena profundidade, de uma rede de sensores, segundo

uma quadrícula pré-definida (fixa/permanente). Cada sensor é ligado através de um cabo elétrico a um sistema

de aquisição de dados, situado na proximidade da obra. Depois da colocação da geomembrana (ou após a

colocação da camada drenante) instala-se um gerador de corrente elétrica ao qual se ligam dois elétrodos, um

colocado acima da geomembrana e outro (o elétrodo terra) colocado no solo de fundação. Quando uma corrente

elétrica é aplicada, a densidade de corrente sob a geomembrana pode ser medida pelos diferentes sensores.

Qualquer perfuração da geomembrana provoca uma anomalia na distribuição da densidade da corrente elétrica (

Figura 25).

Através de uma aplicação informática específica podem localizar-se os orifícios da geomembrana com bastante

precisão. Este método permite localizar orifícios com uma precisão correspondente a 15% do espaçamento entre

dois sensores, que varia normalmente entre 0,5 a 1 m. A área máxima de ensaio não deve ser superior a

10 000 m2 (compreendendo em média entre 130 a 200 sensores), sendo necessário entre 5 e 12 minutos para

se efetuarem as leituras, após calibração do equipamento. Este ensaio pode ser realizado em geomembranas

(não condutoras), cobertas ou não, desde que os materiais em contacto com as suas superfícies inferior e

superior sejam condutores e o mais homogéneos possível. A principal desvantagem deste método relaciona-se

com a necessidade de colocação prévia da rede de sensores no solo. Uma vantagem deste método é permitir a

realização de ensaios não só após a colocação da camada drenante, mas também durante o período de

exploração do aterro, apesar de, neste período, já ser difícil implementar medidas corretivas, caso sejam

detetados orifícios na geomembrana.

Page 35: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

29

Figura 25 - Esquema do ensaio que utiliza um sistema de sensores fixos para deteção e localização de orifícios na geomembrana (CFG, 2003).

4.4.2 Métodos temporários

4.4.2.1 Ensaio da geomembrana condutora

Neste ensaio é necessário utilizar uma geomembrana com uma camada inferior condutora fina (com cerca de

0,1 mm). Essa camada consegue ser eletricamente condutora por possuir um elevado teor em negro de

carbono. Este ensaio realiza-se de acordo com a norma ASTM D 6747 (2012), começando por carregar uma

placa condutora de neoprene, colocada na superfície superior da geomembrana, com uma tensão entre 15 a 30

kV. A carga é transferida para a camada condutora da geomembrana através do efeito capacitivo. De seguida,

com a ajuda de uma vassoura elétrica faz-se a prospeção da superfície superior não condutora da

geomembrana. Quando existe um orifício estabelece-se uma corrente, gerando uma faísca e/ou um sinal sonoro

(Figura 26). A velocidade de prospeção é da ordem dos 500-1500 m2/hora/aparelho por equipa de dois

operadores, podendo detetar-se orifícios da ordem do milímetro. Uma das vantagens deste ensaio é que não é

necessário bombear água para a zona de ensaio, aliás a geomembrana tem estar seca (não devendo realizar-se

o ensaio em dias de chuva) e funciona bem para qualquer inclinação dos taludes. Em geomembranas cobertas

embora se consiga detetar o orifício a sua localização precisa é difícil. Uma das vantagens da utilização de

geomembranas condutoras é que não é necessário garantir um bom contacto com a camada subjacente à

geomembrana, no entanto a realização do ensaio é limitada a este tipo de geomembranas. A presença de rugas

na geomembrana pode diminuir a velocidade do ensaio.

Page 36: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

30

Figura 26 – Esquema do ensaio da geomembrana condutora (adaptado de ASTM D 6747, 2012).

4.4.2.2 Ensaio da sonda elétrica móvel

Em geomembranas cobertas pode usar-se o ensaio da geomembrana condutora (mas só possível para este tipo

de geomembranas) e ainda o ensaio da sonda elétrica móvel para as geomembranas não condutoras. Este

último tipo de ensaio é realizado segundo a norma ASTM D 7007 (2009) e utiliza dois elétrodos, um colocado no

solo subjacente à geomembrana e outro colocado no material que cobre a superfície superior da geomembrana,

de modo a estabelecer-se entre eles uma diferença de potencial. Os dois elétrodos são ligados a um gerador de

corrente contínua. Com a ajuda de uma sonda elétrica móvel efetuam-se medidas de potencial elétrico, segundo

uma malha pré-definida. Uma mudança de sinal nos valores medidos pode indicar a existência de um orifício.

Como o campo de potencial diminui à medida que a sonda se afasta do elétrodo, se tal não acontecer e se pelo

contrário se verificar um aumento do potencial, significa que a sonda está na proximidade de um orifício. O

potencial é máximo quando a sonda se encontrar mesmo por cima do orifício (Figura 27).

Figura 27 – Esquema do ensaio da sonda elétrica móvel (CFG, 2003).

Page 37: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

31

Depois da colocação e calibração do aparelho de aquisição de dados, o tempo de leitura é imediato e a

interpretação dos resultados é de cerca de 10 minutos. A velocidade de prospeção depende do tipo de material

que cobre a geomembrana, da geometria do local e das condições meteorológicas, variando entre 400 a

1000 m2/hora por operador, podendo detetar orifícios superiores a 2-3 mm. A grande vantagem deste ensaio é

poder ser realizado, mesmo com tempo chuvoso, em geomembranas (não condutoras) cobertas, sem

necessidade de colocação de uma rede de sensores na camada subjacente à geomembrana. Uma limitação do

ensaio é que só é possível realizar-se quando os materiais em contacto com as superfícies inferior e superior da

geomembrana tenham alguma humidade (1 a 2% do peso é suficiente). A existência, por exemplo, de uma argila

muito seca, ou de uma geogrelha pode comprometer os resultados das medidas. Outra limitação é que a

existência de orifícios maiores pode mascarar a existência de outros mais pequenos.

No Quadro 8 apresenta-se uma síntese dos métodos referidos e respetivas vantagens e limitações.

Quadro 8 – Métodos de ensaios para deteção e localização de orifícios de geomembranas cobertas.

métodos de ensaio Vantagens Limitações

tod

o

pe

rma

nen

te

ensaio com sistema fixo de deteção e localização de

orifícios (the grid test)

utilização não só após a colocação da camada drenante, mas também durante o período de exploração do aterro

necessidade de colocação prévia de uma rede de sensores no solo subjacente à geomembrana

os materiais em contacto com as superfícies inferior e superior da geomembrana têm de ser condutores

tod

os

tem

po

rári

os

ensaio da geomembrana condutora

(electrically conductive geomembrane test

não é necessário bombear água para a zona de ensaio

não é necessário garantir um bom contacto com a camada subjacente à geomembrana

necessidade de geomembrana condutora a geomembrana deve estar seca embora se detete o orifício a sua localização

precisa é difícil

ensaio da sonda eléctrica móvel

(the soil covered geomembrane test)

não há necessidade de colocação prévia de uma rede de sensores no solo subjacente à geomembrana

pode ser realizado durante o tempo chuvoso

os materiais em contacto com a superfície inferior da geomembrana têm de ser condutores e estarem húmidos

a existência de orifícios maiores pode mascarar a existência de outros mais pequenos

Page 38: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

32

5. EQUIPAMENTO SEMIAUTOMÁTICO PARA DETEÇÃO DE ORIFÍCIOS EM GEOMEMBRANAS (GeoSafe)

5.1 Considerações iniciais

Face às limitações dos métodos referidos, no subcapítulo anterior, e atendendo a que, por um lado, a ocorrência

nos aterros de resíduos parece inevitável, designadamente, durante a colocação dos materiais da camada de

drenagem nos sistemas de impermeabilização e drenagem e, por outro, que não existia em Portugal, nenhum

equipamento que permitisse a realização de ensaios expeditos e pouco onerosos para deteção e localização de

orifícios em geomembranas, foram desenvolvidos um equipamento (GeoSafe) e uma metodologia de ensaio,

com esse propósito.

Conforme anteriormente referido, esses desenvolvimentos tiveram lugar no âmbito do projeto de investigação

PTDC/AAC-AMB/102846/2008, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o qual contou com a

participação do LNEC, que coordenou o projeto, do ISEL, da APA e da EGF.

A realização de ensaios de deteção e localização de orifícios, antes do início da fase de exploração dos aterros

de resíduos, permite a reparação da geomembrana, impedindo a migração de contaminantes para o subsolo e

para as águas subterrâneas, com claros benefícios para o meio ambiente.

Importa salientar que os aterros de resíduos serão sempre necessários, quer para a deposição de refugos

resultantes de outros métodos de tratamento dos resíduos, quer em situações de paragens programadas ou de

emergência de outras infraestruturas. Assim sendo, é de extrema importância dotar o país com ferramentas que

permitam realizar atempadamente ações corretivas que assegurem que as geomembranas desempenharão

adequadamente a sua função de barreira.

No que se refere ao desenvolvimento do GeoSafe, de referir que foi um processo iterativo, que envolveu a

construção de dois protótipos, um para utilização em laboratório e outro para utilização em campo, cada um

deles com várias versões, resultantes de melhoramentos sucessivos que os mesmos foram incorporando. O

desenvolvimento foi realizado com base no método da sonda elétrica móvel, cujo princípio de funcionamento é

idêntico ao método geofísico da resistividade elétrica, e na técnica de cabos multicondutores utilizada nos

equipamentos geofísicos mais recentes.

Procurou-se que o equipamento desenvolvido fosse vantajoso comparativamente com os equipamentos

existentes fora do país, nomeadamente, permitisse a realização de ensaios de forma rápida e,

consequentemente, menos onerosa, bem como que pudesse ser utilizado em diferentes tipos de sistemas de

impermeabilização, em particular, nos aterros de resíduos onde a presença da geomembrana é um requisito

(aterros para resíduos não-perigosos e perigosos). De referir que os equipamentos atualmente existentes foram

desenvolvidos para deteção e localização de orifícios em sistemas de impermeabilização de aterros não

perigosos, constituídos, apenas, por uma geomembrana e uma camada de solo argiloso compactada, que não é

a solução geralmente adotada em Portugal, nem a preconizada para aterros de resíduos perigosos.

Relativamente ao desenvolvimento da metodologia de ensaio, procurou-se que fosse independente da perícia e

da experiência do operador, com vista a tornar os resultados mais fiáveis, tirando partido das potencialidades do

GeoSafe, nomeadamente, procedendo à deteção e localização dos orifícios de forma automática. Esta

abordagem é ainda vantajosa na medida em que garante a cobertura integral da área em estudo, contrariamente

ao que acontece quando a deteção e localização dos orifícios é realizada de forma manual.

A construção do GeoSafe, infelizmente, registou um atraso considerável, que impossibilitou a conclusão dos

ensaios em tempo útil. Por este motivo, apresentam-se, neste capítulo, apenas alguns resultados, com o intuito

Page 39: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

33

de mostrar que o equipamento desenvolvido é inovador e permite a deteção e localização de orifícios em

geomembranas aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos.

A metodologia de ensaio será apresentada após a sua validação, o que acontecerá com a conclusão dos

ensaios ainda em curso num aterro de resíduos, pelo que o presente capítulo será complementado. Neste

âmbito será publicada uma segunda edição deste livro, que incluirá também os resultados dos ensaios

realizados no campo.

5.2 Princípio de funcionamento do equipamento

O desenvolvimento do protótipo baseou-se no mesmo princípio de funcionamento do método geofísico da

resistividade elétrica, que consiste na aplicação de uma corrente elétrica no terreno, por meio de dois elétrodos

(dipolo de injeção) e medição, por meio de outro par de elétrodos (dipolo de leitura), da diferença de potencial

elétrico do campo elétrico assim gerado. No caso do equipamento desenvolvido, os elétrodos do dipolo de

injeção são colocados, um, no terreno natural e, o segundo, no material drenante colocado sobre a

geomembrana (Figura 28). Sendo a geomembrana um material não condutor da corrente elétrica, esta apenas

flui entre os dois elétrodos se a geomembrana tiver orifícios. Deste modo, sendo homogéneo o material que

constitui a camada sobrejacente à geomembrana e mantendo-se constante a tensão elétrica aplicada, a

diferença de potencial elétrico medida com o dipolo de leitura deverá ser sempre reduzida e equivalente ao

potencial espontâneo natural dos terrenos; apenas ocorrendo uma alteração do mesmo em presença de um

orifício. À medida que o dipolo de leitura se aproxima de um orifício o potencial elétrico aumenta em termos

absolutos, ocorrendo uma inversão de polaridade após passagem pelo orifício (Figura 29).

Figura 28 – Princípio de funcionamento do método elétrico para deteção e localização de orifícios em geomembranas.

V

geomembrana camada drenante dipolo móvel de leitura fonte de tensão

fluxo de corrente elétrica

equipotenciais do campo elétrico

Page 40: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

34

Figura 29 – Variação do potencial elétrico próximo de um orifício com 0,635 cm de diâmetro (adaptado de Peggs & Beck, 2010).

5.3 GeoSafe – o equipamento e a metodologia de ensaio

O GeoSafe é constituído por uma estrutura com quatro rodas, à qual se encontrava acoplada uma malha de

elétrodos de leitura com movimento ascendente e descendente. Os elétrodos de leitura foram montados,

segundo uma quadrícula de 4 x 4, distanciados entre si de 30 cm, em módulos de 1 m x 1 m, com o objetivo de

facilitar o seu transporte e para ser escalável (Figura 30). O espaçamento d entre módulos é igual à distância

entre elétrodos. Com este modo de instalação dos elétrodos de leitura é possível cobrir, com um único

posicionamento do dispositivo de leitura, na sua versão alargada (4 módulos de elétrodos), 8 posições do dipolo

móvel de leitura.

Figura 30 – Montagem de quatro módulos do GeoSafe.

Os elétrodos encontram-se instalados de modo a permitirem movimento vertical independente entre si, para se

superar os obstáculos que constituem alguns materiais utilizados para a camada drenante – seixos, por

exemplo.

O GeoSafe compreende ainda um módulo de acondicionamento e aquisição de sinal, um módulo de controlo, de

leitura e de armazenamento de dados e um sistema de georreferenciação por satélite GNSS, com precisão

centimétrica, georreferenciado ao referencial PT-TM06/ETRS89 – European Terrestrial Reference System 1989,

e método de posicionamento relativo com medição da fase e cálculo em tempo real (RTK - Real Time

Kinematic).

Na Figura 31apresenta-se o esquema do GeoSafe e, na Figura 32, a fotografia do Módulo 1.

Distância ao furo (m)

Page 41: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

35

Módulo 1(malha subida)

Guias verticais

Enrolamentode cabos

Suporte para amalha de eléctrodos

Módulo 1(malha descida)

Módulo 1

Módulo 2

Módulo 1

Módulo 2

Módulo 3

Módulo 4

Figura 31 – Esquema do GeoSafe.

Figura 32 – Vista geral do GeoSafe (Módulo 1).

Page 42: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

36

No módulo de acondicionamento e aquisição de sinal (Matutino et al., 2011) procede-se à seleção do par de

elétrodos no qual se realiza a medição da diferença de potencial; ao acondicionamento do sinal de entrada e à

conversão do sinal analógico para digital. Os valores da diferença de potencial medida pelos diversos dipolos

são transmitidos, em formato digital, para o módulo de controlo e armazenados, juntamente com os dados de

georreferenciação dos dipolos, numa base de dados.

Com base nestes elementos, é possível obter, no fim do ensaio, de toda a base do aterro de resíduos, uma carta

de potencial elétrico. A partir da posterior análise destas imagens bidimensionais, assinalam-se os orifícios

detetados, constando as suas coordenadas no relatório produzido, para fácil localização das áreas a reparar, tal

como consta num dos exemplos que se apresentam na secção seguinte, resultante de um dos ensaios

realizados.

Conforme já referido, infelizmente, a construção do GeoSafe registou um atraso considerável, devido a

constrangimentos orçamentais decorrentes da situação financeira do país, que impossibilitaram a aquisição

atempada de todos os componentes necessários à sua montagem em tempo útil, impossibilitando a conclusão

do programa de ensaios antes do dia 30 de setembro (data da conclusão do presente projeto). Está ainda em

curso a realização de ensaios num aterro de resíduos com o GeoSafe, com vista a validar, em definitivo, não só

a funcionalidade do GeoSafe, como também, a metodologia de ensaio em condições reais. Assim, na secção

seguinte apresentam-se, a título de exemplo, alguns resultados obtidos em ensaios realizados em duas

instalações piloto, uma em laboratório, e outra no campus do LNEC, com vista a mostrar que o equipamento

desenvolvido permite a deteção e localização de orifícios em geomembranas.

5.4 Exemplos de resultados obtidos

Nas Figuras 33 e 34 ilustram-se, a título de exemplo, os resultados obtidos em dois ensaios realizados em

laboratório, na instalação piloto de pequenas dimensões, e numa instalação piloto de grandes dimensões.

Nestes ensaios, o sistema de impermeabilização e drenagem era constituído por uma camada de solo argiloso

compactado, uma geomembrana de polietileno de alta densidade (PEAD), com um orifício de 2 mm de diâmetro;

um geotêxtil; e uma camada drenante constituída por areia. Este sistema de impermeabilização e drenagem

adotado pretendeu simular o sistema geralmente usado nos aterros de resíduos portugueses.

Resultados semelhantes foram obtidos para outros sistemas de impermeabilização, indicando que o

equipamento era capaz de detetar e localizar, com exatidão e com precisão, os orifícios nas geomembranas

aplicadas em diferentes sistemas de impermeabilização, sendo, no entanto, de ressalvar que os mesmos foram

obtidos sob condições controladas, especialmente em termos de teor em água.

Recorda-se que estes resultados serão complementados, assim que se concluam os ensaios em curso no aterro

de resíduos. A conclusão destes ensaios possibilitará completar o presente capítulo, que incluirá, também, a

descrição da metodologia de ensaio. Neste âmbito, será elaborada uma segunda edição do livro.

Page 43: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

37

A B

Figura 33 – Cartas de potencial elétrico medido em duas situações distintas – GM com um furo (A) e GM com dois furos (B) (os círculos de cor branca marcam os locais onde foram executados os furos com 2 mm de

diâmetro; assinalam-se a cor encarnada as posições relativas entre os elétrodos de injeção – interior e exterior).

Figura 34 – Carta do potencial elétrico medido numa célula experimental de aterro de resíduos (o círculo de cor branca assinala o local onde foi executado o furo com 2 mm de diâmetro).

Page 44: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

38

6. CONCLUSÃO

A conceção e construção de aterros de resíduos evoluíram substancialmente nas últimas décadas, sendo

atualmente obras de engenharia estruturalmente complexas, as quais incluem sistemas de impermeabilização e

de drenagem na base e taludes e na cobertura final (sistema de encerramento), destinados a minimizar a

migração de poluentes e a assegurar a proteção do meio ambiente.

Os sistemas de impermeabilização e drenagem incluem várias barreiras, das quais se salienta a geomembrana.

O desempenho desta barreira é, contudo, afetado por orifícios, cuja presença parece ser inevitável, sobretudo,

após a colocação da camada de drenagem dos lixiviados na base dos aterro de resíduos. A presença de orifícios

na geomembrana levanta problemas de natureza ambiental, designadamente a potencial contaminação do

subsolo e das águas subterrâneas devido à migração de lixiviados através dos mesmos. É, por isso,

imprescindível proceder à deteção dos orifícios e à reparação da geomembrana antes do início da exploração do

aterro. Contudo, em Portugal, não existia nenhum equipamento que permitisse a realização desses ensaios de

forma expedita e pouco onerosa.

Para responder a este desafio, foi desenvolvido um equipamento (GeoSafe), com base no princípio de

funcionamento do método geofísico da resistividade elétrica, para realização de ensaios de deteção de orifícios

em geomembranas. Este equipamento é vantajoso comparativamente com os equipamentos existentes fora do

país, por poder ser utilizado em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização, nomeadamente, nos aterros

para resíduos não perigosos e perigosos, onde a presença, de uma barreira ativa, geralmente constituída pela

geomembrana, é requerida. Refira-se que os equipamentos atualmente existentes foram desenvolvidos para

deteção e localização de orifícios em sistemas de impermeabilização de aterros não perigosos, constituídos,

apenas, por uma geomembrana e uma camada de solo argiloso compactada, que não é a solução geralmente

adotada em Portugal, a qual inclui também uma barreira geossintética argilosa, nem a preconizada para aterros

de resíduos perigosos, que, geralmente, incluem duas geomembranas.

Simultaneamente foi desenvolvida uma metodologia de ensaio, que permite a deteção e localização dos orifícios

de forma semiautomática, tirando partido das potencialidades do GeoSafe e tornando os resultados dos ensaios

mais fiáveis, na medida em que é independente da perícia e da experiência do operador. A deteção e

localização semiautomática dos orifícios é, também, vantajosa porque garante a cobertura integral da área em

estudo, contrariamente ao que acontece quando é realizada de forma manual.

Estes desenvolvimentos ocorreram no âmbito do projeto de investigação intitulado “Sistema móvel

semiautomático de deteção de orifícios na impermeabilização de aterros de resíduos”, referência

PTDC/AAC AMB/102846/2008, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, envolvendo o Laboratório

Nacional de Engenharia Civil, I.P., como coordenador, o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, a Agência

Portuguesa do Ambiente e a Empresa Geral de Fomento.

Salienta-se que os aterros de resíduos serão sempre necessários, tanto para a deposição de refugos resultantes

de outros métodos de tratamento dos resíduos, como em situações de paragens programadas ou de emergência

de outras infraestruturas, pelo que se afigura de extrema importância dotar o país com ferramentas que

permitam realizar atempadamente as ações corretivas necessárias para assegurar o adequado desempenho das

geomembranas, enquanto barreiras à migração de contaminantes.

Espera-se com o desenvolvimento do GeoSafe impulsionar a realização de ensaios de deteção e localização de

orifícios nos aterros de resíduos portugueses, ensaios que deverão ser integrados nas atividades de controlo e

garantia de qualidade da construção, preferencialmente com carácter obrigatório, à semelhança do que acontece

noutros países, e, deste modo, contribuir para a proteção do meio ambiente.

Page 45: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

39

O presente livro, dirigido a todos os envolvidos e interessados no processo de conceção, construção e

exploração de aterros de resíduos, visa dar a conhecer as potencialidades do GeoSafe na realização de ensaios

de deteção e localização de orifícios em geomembranas, aplicadas em diferentes tipos de sistemas de

impermeabilização e drenagem dos aterros de resíduos. Visa, também, sensibilizar a comunidade técnica para a

premente necessidade de se proceder à realização destes ensaios no nosso país; apresentar os benefícios que

a sua realização representa para a proteção do meio ambiente; e contribuir para melhorar a prática construtiva

dos sistemas de impermeabilização e drenagem dos aterros de resíduos, no que diz respeito às atividades de

instalação, de controlo e de garantia de qualidade da geomembrana.

Page 46: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

40

Referências bibliográficas

APA (Agência Portuguesa do Ambiente) & IST (Instituto Superior Técnico) (2011). Proposta de Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2011-2020 (PNGR). Lisboa

APA (Agência Portuguesa do Ambiente) (2009). Programa de Prevenção de Resíduos Urbanos (PPRU). Lisboa

APA (Agência Portuguesa do Ambiente) (2011). Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares (PERH). Lisboa

ASTM D 5820 (2011). Standard Practice for Pressurized Air Channel Evaluation of Dual Seamed Geomembranes. American Society for Testing and Materials, USA.

ASTM D 6365 (2011). Standard Practice for the Nondestructive Testing of Geomembrane Seams using the Spark Test. American Society for Testing and Materials, USA.

ASTM D 6392 (2012). Standard Test Method for Determining the Integrity of Nonreinforced Geomembrane Seams Produced Using Thermo-Fusion Methods. American Society for Testing and Materials, USA.

ASTM D 6747 (2012). Standard Guide for Selection of Techniques for Electrical Detection of Potential Leak Paths in Geomembrane. American Society for Testing and Materials, USA.

ASTM D 7007 (2009). Standard Practices for Electrical Methods for Locating Leaks in Geomembranes Covered with Water or Earth Materials. American Society for Testing and Materials, USA.

Barroso, M. & Lopes, M.G. (2008). Plano de Garantia de Qualidade da Instalação dos Geossintéticos (Plano GQIG) em Aterros de Resíduos. Informação Técnica do LNEC, ITG 27, Lisboa.

CFG (Comité Français des Géosynthétiques) (2003). Présentation de méthods de détection et de localisation de défauts dans les dispositifs d’etanchéité par géomembranes. 44 p. www.cfg.asso.fr, acesso em 19/07/2013.

Colucci, P. & Lavagnolo, M. C. (1995). Three Years Field Experience in Electrical Control of Synthetic Landfill Liners. Proceedings of Fifth International Landfill Symposium: Sardinia ’95, Vol. 2, Cagliari, Sardinia, Italy, pp. 437-452.

Declaração de Retificação n.º 23-A/2002, de 29 de junho. Diário da república n.º 148 - I série A. Presidência do Conselho de Ministros. Lisboa

Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de maio. Diário da República - I série A. Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, Lisboa

Decreto-Lei n.º 183/2009, de 10 de agosto. Diário da República, 1.ª série - n.º 153. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Lisboa

Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de Junho. Diário da República, 1.ª série - n.º 116. Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Lisboa

Decreto-Lei n.º 89/2002, de 9 de Abril. Diário da república n.º 83 - I série A. Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Lisboa

Decreto-Lei nº 516/99, de 2 de dezembro. Diário da república n.º 280 - I série A. Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Lisboa

Despacho n.º 3227/2010, de 22 fevereiro. Diário da República, 2.ª série - n.º 36. Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Lisboa

Diretiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de abril. Jornal Oficial da União Europeia n.º L 182. Conselho da União Europeia. Bruxelas

Diretiva 2008/98/CE, de 19 de novembro. Jornal Oficial da União Europeia n.º L 312. Parlamento Europeu e Conselho. Bruxelas

EPA (Environmental Protection Agency) (2000). Landfill manuals. Landfill site design. 139 p. www.epa.ie/pubs/advice/licensee/epa_landfill_site_design.pdf, acesso em 10/10/2013.

EPA Victoria (2010). Siting, Design, Operation and Rehabilitation of Landfills. 119 p., www.epa.vic.gov.au, acesso em 30/08/2013.

Halse, Y.; Wiertz, J.; Rigo, J.M. & Cazzuffi, D.A. (1991). Chemical Identification Methods Used to Characterize Polymeric Geomembranes. RILEM: Report of Technical Committee 103, pp. 316-335.

IR (Instituto dos Resíduos) & INETI (Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação) (2001). Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais (PNAPRI). Lisboa

Page 47: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

41

Koerner, G. R. & Koerner, R. M. (2006). Construction Quality Assurance-Inspectors Certification Program (CQA-ICP). GRI white paper nº 8, Geosynthetic Institute, USA.

Koerner, R.M. (1998). Designing with Geosynthetics. Prentice Hall, Fourth Edition, 761 p.

Laine, D.L. & Darilek, G.T. (1993). Locating Leaks in Geomembrane Liners of Landfill Covered with Protective Soil. Proceedings of Geosynthetics’93, Vol. 3, Vancouver, Canada, pp. 1403-1412.

MA (Ministério do Ambiente) & IR (Instituto dos Resíduos) (1996). Plano Estratégico Sectorial de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU). Lisboa

MAOTDR (Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional) (2006). Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU II). Lisboa

Matutino, P. M., Dias, T., Cigarro, A., Vitorino, C., Mota, R., Lopes, M. G., Barroso, M., Dores, R. & Silva, F. (2011). Embedded Data Acquisition System for Effectiveness of Lining Systems. Proceedings CETC 2011, ISEL, Lisbon, Paper nº 83, 7p.

MCOTA (Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente) (2003). Estratégia Nacional para a Redução dos Resíduos Urbanos Biodegradáveis Destinados aos Aterros (ENRRUBDA). Lisboa.

McQuade, S. J., Needham, A. D. (1999). Geomembrane Liner Defects-Causes, Frequency and Avoidance. Geotechnical Engineering nº137 pp. 203-213.

Mota, R., Matutino, P. M., Barroso, M., Lopes, M. G., Dores, R. & Silva, F. (2011). Laboratorial Prototype for Detection of Defects on Geomembranes – The Geophysical Approach. 17th European Meeting of Environmental and Engineering Geophysics, Leicester, Extended Abstracts, P34.

Mota, R.; Matutino, P. M.; Barroso, M.; Lopes, M. G.; Dores, R. & Silva, F. (2012). Semiautomatic Equipment For Hole Detection in Landfill Protection Systems. Proceedings of XIII Portuguese National Congress of Geotechnics, Lisbon, Portugal, (CD-ROM) (in Portuguese).

Nosko, V. & Touze-Foltz, N. (2000). Geomembrane Liner Failure: Modelling of its Influence on Contaminant Transfer. Proceedings of EuroGeo 2, Vol. 2, Bologna, Italy, pp. 557-560.

Nosko, V., Andrezal, T., Gregor, T. & Ganier, P. (1996). “SENSOR damage detection system (DDS)-the unique geomembrane testing method”. Proceedings of the 1st European Geosynthetics Conference, Maastricht, pp. 743-748.

NP EN ISO 10318 (2005). Geossintéticos: Termos e Definições. Instituto Português da Qualidade, Portugal.

NP EN ISO 10320 (2003). Geossintéticos e Produtos Relacionados – Identificação em Obra. Instituto Português da Qualidade, Portugal.

NP EN ISO/IEC 17020 (2006). Critérios Gerais para o Funcionamento de Diferentes Tipos de Organismos de Inspeção. Instituto Português da Qualidade, Portugal.

Peggs I. D. & Little D. (1985). The Effectiveness of Peel and Shear Tests in Evaluating HPDE Geomembrane Seams. 2nd Canadian Symposium on Geotextiles and Geomembranes, pp. 141-146.

Peggs I. D. (1990). Destructive Testing of Polyethylene Geomembrane Seams: Various Methods to Evaluate Seams Strength. Geotextiles and Geomembranes, No. 9 (4), pp. 405-414.

Peggs, I.D. & Beck, A. (2010). Liner Integrity Surveys and Assessments - Short Course Notes.

Portaria n.º 187/2007, de 12 de Fevereiro. Diário da República, 1.ª série - n.º 30. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Lisboa

Portaria n.º 43/2011, de 20 de janeiro. Diário da República, 1.ª série - n.º 14. Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Ambiente e do Ordenamento do Território e da Saúde. Lisboa

Rollin, A.L., Marcotte, M. & Chaput, L. (2002). Lessons Learned from Geo-electrical Leaks Surveys. Proceedings of Seventh International Conference on Geosynthetics, Vol. 2, Nice, France, pp. 527-530.

Snow, M., Bishop, Keenan, R. (1999). Case History of Geomembrane Damage Assessement. Proceedings of Geosynthetics’99, Vol. 1, Boston, USA, pp. 635-644.

Zornberg, J.G., & Christopher, B.R. (2007). Chapter 37: Geosynthetics. In: The Handbook of Groundwater Engineering. 2nd Edition, Jacques W. Delleur (Editor-in-Chief), CRC Press, Taylor & Francis Group, Boca Raton, Florida, USA.

Page 48: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

ANEXO RECOMENDAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DE

CADERNOS DE ENCARGOS

Page 49: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

43

Recomendações para a Elaboração de Cadernos de Encargos

1. Introdução

Com o objetivo de mitigar o impacto no ambiente, a legislação nacional e europeia impõe ao projetista de aterros

de resíduos as especificações técnicas que os sistemas de proteção ambiental devem respeitar. Essas

especificações, em particular as que incidem sobre o sistema de impermeabilização de base e taludes dos

aterros de resíduos são responsáveis pelo reduzido efeito no ambiente envolvente destas instalações, o que

pode ser comprovado pelos resultados da monitorização ambiental, em particular das águas subterrâneas ao

nível dos piezómetros.

Contudo, se é certo que as especificações definem um patamar de exigência, nunca essa exigência será

atingida se na execução da zona de confinamento não forem adotadas por todos os intervenientes as melhores

técnicas disponíveis. Igualmente fundamental é a execução de um plano rigoroso de verificação da

conformidade e adequação das soldaduras, devendo, por princípio, serem verificadas todas as soldaduras

executadas em detrimento de uma escolha aleatória.

Os trabalhos desenvolvidos no âmbito do projeto “Sistema móvel semiautomático de deteção de orifícios na

impermeabilização de aterros de resíduos” (referência PTDC/AAC-AMB/102846/2008) permitem elevar a

exigência da execução do sistema de impermeabilização a um novo nível pois possibilita a deteção e

localização, por georreferenciação, de orifícios, sobretudo, resultantes de atividades construtivas, que não

identificáveis pelos planos de acompanhamento, bem como a sua correção atempada, antes do início da

operação.

No presente anexo, apresentam-se, às equipas envolvidas no projeto de aterros de resíduos, algumas

especificações técnicas, a incluir no caderno de encargos, com vista a possibilitar verificação da integridade do

sistema de impermeabilização, após colocação da camada de drenagem.

2. Especificações técnicas

As especificações técnicas a incluir no caderno de encargos, para possibilitar a realização de ensaios de

deteção e localização de orifícios na geomembrana do sistema de impermeabilização, apresentam-se

seguidamente. Salienta-se que as cláusulas devem ser adaptadas às especificações técnicas de cada projeto de

execução:

I. Na zona basal da célula de confinamento será executada uma camada de drenagem com o

objetivo de promover o encaminhamento e drenagem dos lixiviados gerados para o sistema de

tratamento.

Page 50: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

44

II. Após aplicação da camada de areia e da camada de material britado, que constituem a camada de

drenagem, o empreiteiro deverá proceder à determinação in situ do teor de água (massa de

água/massa de solo seco) da camada de drenagem;

III. Para o efeito, em cada alvéolo que integra a célula de confinamento, deverá o empreiteiro recolher

um mínimo de 5 (cinco) amostras representativas, por hectare, e proceder à determinação do seu

teor de água;

IV. Caso a média do teor de água das amostras realizadas seja inferior a 3,5%, o empreiteiro obriga-

se a promover, a suas expensas, o incremento do teor de água da camada de drenagem,

nomeadamente com a introdução de água, após o que serão repetidas as determinações in situ do

teor de água;

V. O empreiteiro é responsável pela logística associada a esta operação e por garantir a integridade

dos trabalhos de impermeabilização já executados;

VI. O empreiteiro deve indicar ao Dono de Obra, com uma antecedência mínima de 15 (quinze) dias

antes da realização da campanha de amostragem, a entidade responsável pela colheita, transporte

e realização das determinações;

VII. Caso a média do teor de água das amostras realizadas seja igual ou superior a 3,5%, o Dono de

Obra pretende verificar a qualidade do trabalho realizado, nomeadamente se a colocação dos

materiais que constituem a camada de drenagem não foi responsável pela ocorrência de orifícios

ou danos na geomembrana. Para o efeito será conduzida uma pesquisa de orifícios e danos na

geomembrana, recorrendo a um equipamento específico para o efeito;

VIII. Após a avaliação da integridade da geomembrana será elaborado um relatório que identifique a

localização georreferenciada de todos os orifícios;

IX. O empreiteiro obriga-se a proceder a suas expensas à reparação de todos os danos identificados,

seguindo as recomendações que lhe forem indicadas. Para o efeito deve o empreiteiro garantir a

possibilidade de acesso de colaboradores e/ou equipamentos afetos à empreitada ao local onde

sejam identificados danos na geomembrana;

X. O empreiteiro é livre de acompanhar os trabalhos de pesquisa de danos na geomembrana;

XI. Os trabalhos descritos nas presentes cláusulas são condição de receção provisória da empreitada.

Caso se verifique a situação descrita na cláusula IV, ou seja, caso seja necessário promover o aumento do teor

de água da camada de drenagem poderá recorrer-se, por exemplo, à água de um furo, se essa situação estiver

prevista na respetiva licença.

Page 51: SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO DE ATERROS DE RESÍDUOS. · 2013. 11. 12. · aplicadas em diferentes tipos de sistemas de impermeabilização de aterros de resíduos. Agradecimentos

45

Com o objetivo de minimizar o consumo de água associado a esta atividade, propõe-se que seja interrompida a

drenagem do alvéolo onde irá decorrer o ensaio, nomeadamente através do fecho da válvula de drenagem que

se localiza antes da lagoa de homogeneização.

Após a realização do ensaio nesse alvéolo, poderá promover-se a abertura da válvula de drenagem, permitindo

o escoamento da água para a lagoa de regularização, permitindo a disponibilização desse volume de água para

a realização de ensaios nos outros alvéolos da célula. Para o efeito, poderá promover-se a elevação da água a

partir de uma bomba submersível, sendo este processo realizado sequencialmente, o que minimiza a

necessidade global de água.