sistema de escassez
DESCRIPTION
Livro que conceitualiza um possível viés no conceito de escassez usado pelo modelo econômico e que provavelmente pode ter influenciado todas as culturas concebidas dentro desse modelo e toda uma visão de mundo. Usando fontes históricas, textos científicos e documentários de fontes diversas, tenta-se juntar pontas de diversos pontos de vistas que são vistos usualmente de forma independente, mas que também se relacionam, inevitavelmente, entre si.TRANSCRIPT
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Sistema de Escassez
Estudo de Caso:
Civilizao Asteca, suas relaes
monetrias e pirmide social
Reescrevendo Soustelle
Jos Loureno Gomes
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Dedicatria
Dedico este livro a absolutamente todas as pessoas, sem exceo.
Porque o futuro dos meus filhos e dos meus netos depende do futuro dos seus
filhos e dos seus netos.
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O ser humano sempre se achou imprevisvel. Sempre achou que determina o
meio no qual vive. Neste livro levantaremos a possibilidade do caminho oposto. De
que o meio quem determina o ser humano. E que dentro de um conceito de
escassez temos muitos comportamentos facilmente previsveis.
Temos portanto essa mquina biolgica fantstica com um DOS (sistema
operacional em disco), que o fato de ser humano, num conceito extremamente
vago, mas que todos ns sentimos l no fundo, com infinitas possibilidades e
potenciais.
Como interface para interao temos este tipo de Windows 3.2 (escassez/
sistema monetrio) que entra constantemente em conflito com o seu DOS, inclusive
com o surgimento de tela azul durante o processamento. Dentro desse ambiente
Windows temos diversos aplicativos e programas como amor, poltica, sucesso,
felicidade, medicina, engenharia, etc... Todos concebidos dentro desse ambiente de
escassez.
Seria possvel atualizar essa interface? Reprogram-la? No para conceber
uma mquina sem conflitos ou sem erros, pois o perfeito simplesmente no existe.
Mas para que os conflitos com seu DOS fossem reduzidos ao mximo possvel.
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ndice
1. PRLOGO----------------------------------------------------------------------5
2. CONSIDERAES INICIAIS-------------------------------------------------7
3. INTRODUO-----------------------------------------------------------------21
4. ASPECTOS HISTRICOS----------------------------------------------------25
5. CIVILIZAES PR-ASTECAS----------------------------------------------35
6. O IMPRIO ASTECA E SUAS RELAES MONETRIAS---------------46
7. SOCIEDADE ASTECA E SEUS CIDADOS--------------------------------51
7.1. A ELITE--------------------------------------------------------------------54
7.2. OS ESCRAVOS E MENDIGOS-------------------------------------------56
7.3. OS HOMENS DE NEGCIO---------------------------------------------57
7.4. OS HOMENS DE RELIGIO--------------------------------------------58
8. O DINHEIRO-------------------------------------------------------------------60
9. A RELIGIO--------------------------------------------------------------------61
10. GOVERNO HIERRQUICO---------------------------------------------------65
11. LEIS E SISTEMA JURDICO--------------------------------------------------68
12. QUEDA DO IMPRIO---------------------------------------------------------70
13. CONSIDERAES FINAIS----------------------------------------------------75
14. ADENDO------------------------------------------------------------------------92
15. REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS------------------------------------------94
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PRLOGO
A Histria de Uga e Buga.
Existiam 2 vizinhos. Uga tinha gua. Buga tinha comida. Quando um ficava com
fome e o outro com sede brigavam. Eles no falavam a mesma lngua e no se
entendiam. No entendiam seus costumes e no entendiam as coisas ao redor deles.
No havia dilogo entre eles e no final das contas, tinham, na verdade, medo das
coisas ao redor e um do outro e de tudo que no entendiam. Quando ocorria
relmpagos com troves era uma correria s. Achavam que alguma criatura muito
poderosa estava com raiva deles.
Aps um tempo, eles decidiram trocar as coisas em vez de brigar. Um pouco de
gua por um pouco de comida. Um tempo depois, como no achavam muito justo,
criaram uma moeda para poder mensurar as trocas. Porm depois que eles juntaram
um pouco de moeda surgiu a necessidade de estocar o mximo de comida ou de gua
quando a transao favorecia um ou o outro. Para no passarem por momentos de
escassez.
Ainda assim havia perodos em que consumiam de forma exagerada toda a
comida e toda a gua. Quando isso ocorria, olhavam eles um para o outro. Pouco
tinham aprendido sobre a lngua um do outro. Pouco tinham entendido sobre a
histria um do outro. Mas viam que a cor da pele entre eles era diferente. E que os
hbitos de um desagradavam o outro. Confiar, no confiavam um no outro. Afinal j
haviam manipulado tantas vezes os preos a favor de si mesmo. Haviam passado
tantas vezes a perna um no outro na hora de contar o dinheiro. No importava mais
que fossem vizinhos. No importava mais conversarem e se entenderem. E quando
no concordavam com alguma negociao, logo voltavam a brigar como antes.
Um dia Buga teve um sonho. Sonhou que ele e Uga estavam brigando. Eles j
nem sem lembravam o motivo. Ento, exaustos eles sentavam para descansar.
Olhavam um para o outro e comeavam a ver o quanto eram iguais. Os dois estavam
cansados. Os dois tinham famlias para sustentar. Os dois eram vizinhos e moravam
no mesmo planeta. Os dois dependiam um do outro e dependiam dos mesmos
recursos naturais. Precisavam comer e beber. Os dois tinham pensamentos
abstratos (sonhos e planos). A famlia de cada um havia construdo uma tecnologia
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que ajudava a vida de ambas as famlias. O filho de Uga tinha descoberto a roda e a
cadeira, o filho de Buga tinha aprendido a manipular o fogo e a construir casa de
alvenaria. A neta de Uga tinha criado roupas de tecelagem e a porcelana. O neto de
Buga tinha inventado o aqueduto e o relgio.
Quantas tecnologias maravilhosas tinham eles criados. E se eles, agora que j
conheciam mais a lngua um do outro, os costumes um do outro, sentassem e
conversassem. Ao invs de trocar as coisas de forma to desesperada em possuir na
quantidade que eles tivessem dinheiro para comprar, ser que eles poderiam
conversar e ver o quanto eles tinham de recurso e quanto que eles precisavam. Sem
medo de um dia no ter. Apenas gerenciando da melhor forma seus recursos e
ampliando suas tecnologias de forma renovvel e maximizando a reciclagem de seus
recursos. At teriam de sobra as coisas que eles quisessem produzir. Quem sabe
sobraria um tempo para participar da vida de seus filhos, de seus netos. Talvez um
tempo para conversar sobre suas diferenas, suas semelhanas. E at para que as
geraes seguintes pudessem conversar entre si, sem que o dinheiro substitusse as
palavras, o afeto e a lgica...
Triiimmm! O neto de Buga havia inventado o despertador. Buga j no se
lembrava direito do sonho. Ele tinha que ir trabalhar para garantir o sustento de sua
famlia que s crescia. Afinal as coisas comearam a custar dinheiro ou no? Ora,
pensou ele, se fosse para isso acontecer, o Uga que viesse conversar comigo. Eu vou
estar esperando."
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CONSIDERAES INICIAIS
So duas as principais dificuldades em entender o que ser discutido. Primeiro,
a crena dogmtica de que as coisas so como so e que no mudam. Para quem tem
apenas a viso micro e no usa a viso macro das coisas.... Para quem v apenas o
momento e no tem uma viso da histria do universo como um todo, pode parecer
verdade. Existem dois sites que de uma forma bem didtica oferecem uma viso
sobre a histria do Universo. Dessa histria somos uma pequena parte, pois de 13,7
bilhes de anos fazemos parte apenas de 200 mil anos. Os sites so Big History
Project e The Reality of Me. Essa histria mostra que nosso mundo e todas as
coisas ao redor continuam se modificando independente da presena humana e
tambm por causa dela. E se um dia a raa humana se extinguir, o universo
continuar sua mudana. Tudo muda. O tempo todo.
A segunda dificuldade vem de uma viso segmentada do mundo. Como se as
coisas, os assuntos e os seres vivos fossem caixas individuais e que nada tem a ver
com nada. Que economia no se mistura com sade, que pessoas no tm a ver com
ecossistemas martimos. Ningum uma ilha. Mesmo que se v para o meio do
mato, ainda assim vai se comer comida do meio ambiente e vai se beber gua do
meio ambiente. Fala-se muito de viso holstica, mas pouco se pratica. Ser que
devido ao conceito de especializao criada pela prpria economia? Cada um sabe de
si e pronto. O mdico fala e eu obedeo, no preciso entender do que ele fala. O
economista fala seus clculos e isso. Pronto, eu obedeo, no preciso entender. Pra
que... uma linguagem muito tcnica, no tem traduo. Ser que no podemos nos
esforar um pouquinho para entender um s um pouquinho das coisas que nos
afetam diretamente. Ento vamos l tentar.
A base do sistema monetrio a escassez e o direito propriedade, to
defendida por John Locke e Adam Smith. Afinal, se no h para todo mundo, preciso
definir de quem , ou seja, a propriedade. Se no houver escassez, no h demanda e
logo no h troca. Mas esse ainda um sistema instvel, portanto para mant-lo
surgi a terceira base: o medo. Porm o medo ainda no totalmente estvel em
grandes populaes como vemos em revoltas camponesas e de escravos durante a
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revoluo neoltica. Entra ento a estratificao social com distribuio de recursos
de forma escalonada conforme um gradiente de escassez do recurso. Isso deu maior
estabilidade ao sistema. Portanto, pode-se dizer que a base do sistema um trip: a
escassez, a propriedade e o medo. Esse trip projetvel em qualquer sistema de
escassez, incluindo o monetrio. Logo, no s a base da econmica, ela acaba
influenciando cada aspecto de nossas relaes no mundo.
Algum pode pensar que o medo necessrio. Eu diria que na verdade ele
ocorre naturalmente da anlise de experincias prvias ruins, sejam suas ou de seus
genitores, segundo a possibilidade de uma herana epigentica. Voc comeu algo e
passou mal ou algum comeu algo, passou mal e voc viu. Logo, voc ter medo da
prxima vez que encontrar essa comida. Mas voc pode confront-lo, conviver com
ele ou estud-lo. Das trs, prefiro estud-lo. Pode-se aprender muito com eles e
inclusive assim venc-lo sem danos maiores. Conviver com ele no faz o medo sumir
e voc sempre estar se sentindo limitado por ele, podendo at pior-lo ou agreg-lo
a outros medos. Principalmente se voc acredita que o medo te mantm vivo.
Confront-lo uma forma de estudar, porm muito combativa. Voc pode se
machucar ou machucar outros nesse processo e nem sempre estar aberto a tudo
que o medo pode te ensinar: ensinar a no ter medo conhecendo as variveis
envolvidas e que naturalmente voc poder usar em outras situaes.
Para entendermos a base da nossa economia e como ela pode nos influenciar
precisamos definir alguns conceitos acima. Demanda procura. E se uma ao s
pode ser feita por organismos vivos. E esta procura ser sempre causada por uma
escassez ou manipulao dela.
J escassez, segundo o dicionrio Aurlio sinnimo de carncia. Carncia s
faz sentido tambm com organismos vivos. Se houver menos gua num lago ele
apenas muda de nome para poa de lama. No faz sentido dizer que o lago tem
carncia de gua. Portanto carncia s faz sentido com organismos vivos porque eles
tm necessidades. E quando eu no atendo essas necessidades totalmente ou
parcialmente ou apenas por um perodo eu gero uma carncia ou uma demanda.
Essa a ferramenta num sistema de trocas, pois apenas existe a troca porque h
escassez e interesse. No se faz o trabalho pelo que ele ou porque algum precisa
ou por bondade ou por filantropia, mas apenas por interesse, seja ele qual for. Essa
a regra de como funciona. Pois no final voc tem que pagar suas contas, seus
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impostos, certo?
Como a escassez influencia a sociedade? Uma sociedade de leoa tem vrias
caractersticas de sistemas de escassez. A mais antiga e mais forte lidera sobre um
regime de medo, um respeito pelo medo. O leo lder se alimenta primeiro, depois a
leoa lder se alimenta primeiro. As leoas mais de baixo dessa sociedade se digladiam
sobre a comida num constante teste a pirmide social. E por ltimo os filhotes se
alimentam. Eles consomem carne sem se preocupar sobre a sustentabilidade do
recurso que precisam e obviamente seu conhecimento os deixam a merc da
escassez que na natureza ocorre de forma espontnea. Portanto, se uma sociedade
de leoas entra em escassez de comida, elas ficam mais estressadas, lideranas so
questionadas e pode chegar ao momento de uma luta corporal que pode causar no
s a morte de algumas das leoas, mas at atos de canibalismo. Parece um pouco com
nossa sociedade? Parece que um quer comer o outro vivo? De certa forma...
Esse comportamento frente a escassez extrapolvel para o comportamento
humano. Vemos inclusive em smios e macacos. Quando algo se torna escasso
ficamos mais competitivos, ansiosos em adquirir. Portanto ficamos mais
possessivos, pois aquilo que conseguimos de forma suada no queremos dividir.
Ficamos mais desconfiados, com medo que outros roubem aquilo que est em nossa
posse e com medo de que talvez no tenhamos pego a melhor opo. Portanto
comparamos mais as coisas que podemos dispor para pegar a melhor escolha
possvel.
A competio traz o melhor resultado? Esse um conceito de escassez, pois se
eu sou o vencedor porque ningum consegue fazer que nem eu. Se tratando do
vencedor, no h dvidas do benefcio, mas e para o bem-estar comum? E para o
perdedor? Alis, quem o ganhador sem o perdedor? A competio, em muitos
casos, no leva a guerra? Se analisarmos o ganhador veremos que a meritocracia
tem algumas coisas esquisitas. A imensa maioria dos casos dos ganhadores tiveram
condies para se desenvolverem. Tiveram alimentao adequada, tiveram estimulo
dentro do mais avanado para o corpo ou para a mente se desenvolverem
dependendo do campo de atuao. E tiveram persistncia, muitas vezes fascista ou
sadomasoquista. Mas probabilisticamente falando, persistncia quer dizer que eu
vou tentar o maior nmero de vezes. Isso no aumenta a minha chance de sucesso?
Quanto mais eu tento, mais eu conheo as variveis envolvidas, e consigo control-
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las melhor. Ento se levarmos em conta as condies para se desenvolver um
campeo e a probabilidade da sua persistncia, nos perguntamos qual o seu
mrito? um benefcio apenas prprio? Isso d direito a pisar em cima dos
perdedores? Hum, abriu mo de lazeres e amigos... Mas foi sua opo ou foi imposta,
muitas vezes quando o campeo no tinha nem idade para melhor discernimento
sobre si mesmo ou sobre sua sociedade. Ou simplesmente porque era a nica opo
de sobrevivncia como no pas do futebol. Isso d direito a excluir pessoas? Bom,
numa sociedade estratificada, acho que isso normal. Ser que cooperao no leva
a um resultado melhor? Como no conceito open source.
Outro exemplo de como escassez influencia nossa sociedade o termo criar
dificuldade para vender facilidade. No ser isso apenas a manipulao da escassez
para conseguir algo? Como lucro ou um benefcio em negcios; sejam eles polticos,
financeiros ou prestgio social. E quando uma pessoa se esmera tanto em um
conhecimento que ele se torna to raro e precioso como um diamante Koh-i-Noor.
Sua opinio vale mais que cem homens juntos. Seu preo s a prpria pode estimar.
Isso tambm no manipulao de escassez de informao?
Numa sociedade onde h escassez de informao, quem tem mais informao
pode manipular essa escassez. E seu valor no mercado se baseia nisso. Portanto a
prpria linguagem tcnica acaba gerando escassez de informao e contribuindo
para o valor de mercado de determinadas reas. Em teoria, ela serve para diminuir a
variabilidade de interpretao daquela palavra, portanto deveria fazer parte do dia a
dia de todos e da educao de todos para melhorar a comunicao entre as pessoas.
Porm alguns termos tcnicos parecem ter apenas a funo de afastar o pblico
geral de determinados campos de conhecimento.
Um exemplo histrico para ilustrar o conceito de escassez e que merece o
conhecimento de todos a ilha de Pscoa e seu passado com o povo polinsio.
Colonizada provavelmente entre 800 a 900d.C. Por volta de 1300 h indcios de que a
populao alcanou o limite suportvel para a quantidade de recursos naturais da
ilha dentro dos seus recursos tecnolgicos, com vrios relatos de ecocdios e guerras
com genocdios entre as diferentes famlias e at mesmo dentro da mesma famlia.
Se compararmos a populao mundial que recentemente chegou a 7 bilhes, nos
faz perguntar: Estamos fadados ao mesmo erro?
A cultura e o nvel de educao de uma sociedade influenciam o seu
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comportamento num sistema de escassez. Historicamente um dos exemplos
recentes que podemos citar o incidente de Fukushima em 2011. Houve escassez de
alimentos devido a proibio aos produzidos pelas regies afetadas pela radiao e
que antes eram distribudos por todo o Japo. Houve racionamento tambm de gua,
devido ao risco da contaminao da mesma. As medies de iodo-131 e de csio-137
sugeriram lanamentos radioativos no meio ambiente na mesma ordem de grandeza
de Chernobyl em 1986. Porm um comportamento diferente permitiu evitar uma
catstrofe como a anterior. Por maior que seja o orgulho japons, no houve
acobertamento do ocorrido e todas as informaes prvias como treinamento j
haviam sido dadas e todas as informaes sobre o acidente eram atualizadas o mais
rpido possvel. O alto nvel de educao da populao incluindo conhecimento
tcnico sobre o que estavam enfrentando e os diversos treinamentos para agir em
catstrofes permitiu um comportamento peculiar que permitia a populao cobrar
transparncia do seu governo (ou seja, ainda houve um aumento do grau de
desconfiana) e ao mesmo tempo aplicar o que j sabiam. No houve saque ou
tumultos relatados durante o perodo. Culturalmente o pas j tem outros fatores que
contriburam para esse comportamento. Mas por quanto tempo esse
comportamento peculiar se manteria antes de surgir o caos social nunca
saberemos. Alis, o ideal seria deixar uma sociedade por nenhum tempo que no o
absolutamente necessrio e justificado em escassez que no fosse possvel de
prevenir.
Portanto o estado cultural pode atenuar ou agravar a sensao de escassez de
uma civilizao. Dentro do Brasil temos at exemplos regionais. Um aniversrio de
criana no nosso pas tem tradicionalmente a mesa de doces a qual dado acesso
aos convidados somente aps os parabns. Pois dependendo da regio do pas essa
mesa chegar ou no intacta a esse momento. Em algumas regies essa mesa ser
pilhada aps os parabns como se fosse faltar comida no supermercado. At com
brigas dentro das prprias famlias. Crianas so incentivadas a furtar antes dos
parabns os doces mais requisitados. So criadas vrias estratgias para acumular o
mximo de doces possveis, mesmo que muitos deles acabem depois no lixo. Em
outras localidades existem fila para a distribuio. E em outras existe um
desinteresse pelo doce, pois a educao sobre uma dieta mais saudvel acaba
causando desinteresse sobre a mesa de doces. Isso pode ser explicado pelo estado
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cultural e educacional de cada regio.
Em termos culturais, temos a sensao de viver a cultura da escassez, de uma
forma inconsciente, talvez devido escassez de tempo para refletirmos o estado
atual das coisas: S voc pode conseguir. Somente o ganhador dessa etapa poder
ter acesso. Vitoriosos so poucos, o resto rasteja. S os mais fortes
sobreviveram, Apresentamos essa exclusividade para clientes VIP. So sabores
nicos. Homens como ele existem poucos. Corra, oferta por tempo limitado.
Trabalhos bons s existem poucos, agarre bem o seu. Tnis s se for aquele.
Carro, somente aquele tipo com aquela configurao. O resto carroa. Bolsa, no
tem igual quela. Para vender produtos, cai muito bem. Mas e quanto as emoes,
ser que podem ser influenciadas por esse estado cultural: Mas o que voc tem
nunca o suficiente. Amor verdadeiro s existe um. S voc me entende. No
confie em ningum. Minha pacincia hoje pouca, voc quer brigar? Como
chegamos a essa situao?
A concepo de que somente os mais adaptados sobrevivem um conceito
evolucionista que serve apenas para todos os seres vivos com exceo do homem.
Porque se examinarmos como determinados tipos de escassez selecionaram
espcies e subespcies, veremos que essas populaes apresentavam uma
variedade gentica surgida espontaneamente aps milhares de anos. Portanto no
houve uma interveno inteligente sobre essa escassez. Houve a ao de eventos
naturais agindo sobre um pool gentico. O homem com sua suposta capacidade
intelectual superior a dos demais animais consegue prever e manipular a escassez.
Isso extremamente diferente do que vemos com todas as outras espcies.
Vamos ento tentar entender uma sociedade organizada pelo dinheiro. O
dinheiro apenas uma tentativa de regulamentao de um sistema de troca. Portanto
quem detm o suprimento de dinheiro, pode manipular as trocas? Quem detm esse
poder? E como isso pode influenciar o trabalho que tanto influencia nosso humor? J
que a maior parte do nosso dia.
Qual o empregador que no acha que paga demais seus funcionrios. E qual o
empregado que no acha que recebe de menos. Isso uma constante e que mina
progressivamente qualquer relao de confiana entre os dois.
Se tomarmos os salrios dos empregados como um lucro fixo, comeamos a
entender alguns pensamentos. Muitos empregados esto ali para pagar suas contas
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e no porque seu trabalho faz diferena na vida de outras pessoas ou mesmo na sua
vida. Se estivermos falando ento de trabalhos repetitivos e montonos ento
fechamos um ciclo vicioso. Pois independente do que ele fizer seu salrio ser o
mesmo no final do ms. J o patro tem um salrio varivel, pois seu lucro depende
de uma demanda varivel seja qual for a rea dele. Alm de ter que lidar com vrios
tipos de empregados, ele ainda tem que lidar com a parte burocrtica e legal e a
parte de impostos para poder trabalhar. Se o negcio falhar todo o peso do fracasso
e os custos da falncia tambm ficam por sua conta. Se ele no conseguir gerenciar o
seu lucro pode haver meses em que fique no negativo dependendo do decrscimo da
demanda, a menos que ele possa manipular esta demanda para no ficar tanto a sua
merc. Portanto dinheiro ensina sim e muito as pessoas em vrios aspectos do seu
cotidiano.
Alis, o dinheiro, hoje em dia, quem gerencia todo o acesso aos nossos
recursos naturais, nossos recursos tecnolgicos e servios. Se voc no tiver
dinheiro voc morre de fome, de sede ou de condies de vida insalubres. Vivemos
num mundo onde 805 milhes de pessoas no mundo no comem o suficiente para
serem consideradas saudveis; onde 3 milhes de crianas morrem anualmente de
causas relacionadas a fome ou a condies insalubres de vida. A fome mata
anualmente mais pessoas do que a AIDS, malria e tuberculose juntas. Viveremos
num mundo onde a previso para daqui a 30 anos teremos 24 milhes de crianas
em condies de fome. A fome no uma doena contagiosa. No uma fatalidade do
transito. E considerando que o mundo joga hoje mais de 1,3 bilho de tonelada de
comida por ano, por que essas pessoas no tm acesso a comida? O acesso
gerenciado basicamente por dinheiro e todas as instituies oriundas de uma
sociedade baseada no dinheiro. Ento est faltando dinheiro no mundo?!?!
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No Brasil os dados no so diferentes. J tivemos em torno de 22 milhoes de
desnutridos no incio da dcada de 90. Hoje temos em torno de 4 milhes segundo
relatrios incluindo o da FAO (Organizao das Naes Unidas para Alimentao e
Agricultura). Porm anualmente 26 milhes de toneladas de comida so jogadas no
lixo no Brasil, segundo dados de 2013. No faz sentido. Se diminuirmos a comida que
jogamos no lixo no vai aumentar para essas pessoas. E se simplesmente
aumentarmos o acesso sem educao corremos o risco de ainda termos pessoas que
no se alimentam direito por escolhas mal direcionadas.
At que ponto vivemos numa economia que gerencia escassez ou numa
economia que manipula escassez? Nossas necessidades podem ser necessrias a
sobrevivncia ou fazer parte de uma cultura de escassez. Por exemplo: algum com
fome uma necessidade real, afinal necessrio ser suprida para a sua
sobrevivncia. Porm um perfume numa propaganda que diz que com ele aquela
mulher conseguir o homem que ela desejar j poder ser considerada uma
necessidade virtual. Ou seja, foi criada uma necessidade que no necessria para
sua sobrevivncia e que provavelmente no influenciar realmente nas chances de
procriao daquela mulher principalmente dependendo da sua escolha de parceiro. A
manipulao dessas necessidades, ou melhor, dessa escassez; seja produzindo a
sensao de escassez; seja especulando e prevendo o seu surgimento; ou
simplesmente percebendo seu ponto de vantagem no momento em que ela surge
permite que o Interesse acumule Capital. Na nossa economia a transformao da
necessidade em escassez automtica porque no h interesse em simplesmente
atender necessidade. Tem que haver uma troca.
Como posso viver sem troca na nossa sociedade, ento? Doao?! Ser que d
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para viver de doao? Esse tipo de pensamento nos d uma noo vaga de que j
entramos nessa sociedade em dvida. A dvida, na verdade, financeira. Pois, mesmo
morando na casa dos pais, mesmo sem contribuir com os impostos da casa ou com
os impostos pessoais ou com os gastos pessoais em alimento, bebida, roupa ou
higiene. Mesmo assim, teremos que juntar dinheiro, ou pagar no crdito, ou pegar
financiamento para conseguir algum desejo, um vdeo game, uma viagem. Apesar
disto, ns aceitamos essa dvida sem questionamento atravs de concepes morais
baseadas em escassez. Afinal, temos que batalhar para ter nosso lugar ao sol. Sem
dor, sem ganho. Nada vem de graa. Entre outras. Se seus pais no tivessem o
dinheiro necessrio para pagar pela sua educao, pela sua cultura, pela sua sade
como voc cresceria? Teriam seus pais at mesmo tempo para lhe dar amor e
compreenso? Mas eu no pedi para nascer!!. Meus pais que tivessem pensado
nisso antes de te conceber! . essa a sociedade que queremos? E se seus pais no
tivessem dinheiro para te criar? Poderiam seus pais te criar s com doaes? No
sem o risco de se criar um desnutrido com deterioramento progressivo da sade. E
atendimento mdico? Pode-se atender bem esse desnutrido? Ele ter acesso a
medicao que precisa? Conseguir ele entender as informaes necessrias sua
sade? E educao, ser que existe uma de boa qualidade para esse desnutrido?
Segurana, talvez. Ah! Esse desnutrido acaba sendo o prprio alvo da segurana local.
E qualquer coisa com um grau de dignidade a mais... Bom, a tenho que entrar numa
economia onde tudo negocivel. Onde nossos filhos j entram endividados. Como?
Bom, imposto uma dvida, certo? E emprstimo, um tipo de dvida que no final eu
sempre pago um montante alm do valor emprestado. Sempre h juros, seja para
pessoa fsica, jurdica ou pblica. Contando que todo o dinheiro em circulao vem
de algum tipo de emprstimo, ento temos uma economia baseada em dvidas.
Ento, existe uma liberdade extremamente limitada fora do dinheiro, que
basicamente depende da boa vontade de pessoas para ceder o alimento e a bebida.
Com nenhuma segurana e at correndo o risco de ter o corpo incendiado, ou ser
esfaqueado, ou ser alvejado, porque simplesmente est incomodando os outros com
a sua presena. S em Braslia j aconteceu os trs tipos de agresso. O ndio Galdino
Jesus dos Santos participou de manifestaes do Dia do ndio em 1997 pela
recuperao da Terra Indgena Caramuru - Paraguau. Esteve em reunio com o
ento presidente Fernando Henrique Cardoso e outras autoridades junto com sete
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lideranas indgenas. Chegou tarde penso onde estava e no pode entrar. Resolveu
ento passar a noite em um abrigo de ponto de nibus. Teve seu corpo incendiado
em 20 de abril de 1997. Morreu horas depois devido a gravidade das queimaduras.
Na poca, um dos rapazes disse imprensa que ele e seus amigos achavam que
Galdino fosse um mendigo e por isso decidiram levar a frente atrocidade.
Moradia gratuita.... Esquea! Assistncia a sade depende da boa vontade
poltica. Educao.... Sem comentrios. Quem de uma classe social mais alta quer
aumentar a competio que seus filhos iro enfrentar. Ento, se voc quiser
realmente liberdade... Poder viajar, comprar o que quiser, ter um acesso digno a
sade e a informaes significativas s saber negociar. Saber entrar de baixo da
mo invisvel de Adam Smith.
A escassez em situaes naturais ocorre de forma espontnea e previsvel. Com
a tecnologia e o conhecimento que dispomos, h capacidade de prever ou prevenir
praticamente todos os tipos de escassez, se no todos. Portanto a economia de
gerenciar escassez comea a no fazer mais sentido no nosso atual nvel de
tecnologia e de conhecimento.
E o conceito de propriedade no dicionrio? Segundo o dicionrio jurdico o
direito de usar, gozar e dispor de um bem, com exclusividade, de acordo com os
limites e obrigaes impostas no ordenamento jurdico.
Na nossa sociedade muitas coisas j foram consideradas como propriedade:
pessoas podem ser consideradas propriedade e j foram legalmente consideradas
propriedade. Sentimentos e ideias so muitas vezes considerados propriedade. A
ideia de exclusividade gera uma projeo do eu onde muitas vezes a pessoa d sua
vida pelos seus bens. Carros se tornam mais importantes do que filhos ou do que
seres vivos atropelados. Vemos assim uma sociedade treinada para ser competitiva,
com cidades entulhadas de carros e com acessos restritos nas ruas, onde a escassez
de tempo se transforma em escassez de dinheiro. Resultado: olhe o transito de
nossas cidades.
E namorados, cnjuges e amantes que matam seu ente amado. Porque se no
pode ser meu no de mais ningum. Bom, teoricamente, se as pessoas esto
juntas deveria ser porque elas querem e no porque so propriedade uma da outra.
Na nossa economia e nosso estado cultural-educacional atual, ns sabemos que uma
pessoa pode ser manipulada para ficar com a outra. Alis, na nossa economia,
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qualquer um pode ter sexo a qualquer hora, sem que haja qualquer tipo de
convivncia ou relacionamento afetivo. Simplesmente se adquire esse produto
atravs do dinheiro. Ou seja, apenas porque a pessoa que oferece o produto precisa
comer, viver e ter acesso as coisas. At no sexo casual existe uma qumica entre as
partes, mas no sexo monetrio h algo automatizado, algo despersonalizado como
descrito em algumas sndromes psiquitricas. Chega a ser mecnico. O mesmo
acontece na sndrome Burnout e em trabalhos montonos. Onde est o rob? Parece
que na economia monetria as pessoas acabam virando os robs.
Sim, um aspecto que permeia a economia monetria a despersonalizao.
Quando voc compra uma vassoura de piaava voc sabe o que est comprando? E
quem so as pessoas envolvidas na fabricao? Que recursos naturais esto sendo
usados? Se o meio de produo poluente ou no? Que tipo de energia eles usam?
Quantos distribuidores existem at chegar a voc? Voc simplesmente compra e
magicamente a vassoura sua, no importa as outras informaes. No vai
influenciar a sua vida.... Ser? A despersonalizao tambm ocorre durante o
trabalho da pessoa. Muitas vezes, elas se esquecem que esto ali para ajudar ou
facilitar a vida das outras pessoas, s o que interessa o dinheiro no final do dia ou
do ms. Como nos casos de despersonalizao de cuidadores que em alguns casos
maltratam as pessoas que eles deveriam ajudar. Ou mesmo quando um chefe cobra
resultado de seu subordinado. Ele no quer saber sobre que tipo de escassez ou
presso seu subordinado est passando. E pode dar como desculpa algo totalmente
pessoal e intransfervel: Eu j passei por isso.
A despersonalizao tambm potencializa o desperdcio. Por exemplo: quando
voc vai comprar uma ma, voc no pega qualquer uma. Afinal a distribuio
desde quando foi colhida at chegar a sua mo no culpa sua. E partindo do
pressuposto que todos pagam o mesmo preo pela ma voc entende o seu direito
de pegar a melhor ma daquele mercado. Mas, e as mas machucadas durante o
transporte que ningum pega e que depois iro ser desprezadas, j apodrecidas. Sem
falar na ineficincia do sistema montado para a ma chegar a sua mo. Imaginemos
uma rvore no seu quintal com uma ma que est madura, mas j tem uma cicatriz
de um bicho. Ser que voc no aproveitaria at as machucadas no cho? Tentaria
voc aproveitar ao mximo as mas que esto ali? Existem pessoas que at comem
o machucado da ma. Uma ma sem preo. Ser que at as pessoas nesse modelo
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despersonalizado ou terceirizado acabam sendo pouco aproveitadas? E se tornam
facilmente descartveis. Acabam com seu potencial pouco aproveitado ou mesmo
desperdiado. Como uma ma.
Outro distrbio que parece ser estimulado pelo nosso modelo econmico so os
delrios persecutrios. Numa sociedade extremamente competitiva natural que e
no se confie com quem se est competindo, pois o seu colega de trabalho pode
ganhar a promoo que voc tanto queria. E at que ponto a tentativa de definir o
que tico numa competio tambm no deixa as pessoas paranoicas, procurando
erros nos outros, tentando definir o que certo e o que errado. Mas, alm disso, h
a desconfiana devido a estratificao social que simplesmente mostra qual o meu
grau de acesso aos recursos tecnolgicos, recursos naturais e servios. Portanto
aquele celular chique que sumiu de cima da mesa tem basicamente duas
proposies: Ou a moa da limpeza realmente passou a mo j que ela mesma
queria um celular assim ou precisava do dinheiro que aquilo representa; ou voc
simplesmente esqueceu debaixo do banco do seu carro. E andamos assim pela rua
olhando ao redor para adivinhar quem ir nos roubar algo. Portanto da prxima vez
que voc estiver dirigindo e achar que o cara do outro carro est apenas querendo
lhe prejudicar, pense com cuidado. Pode ser um assaltante de carro, mas pode ser
algum perdido procurando placas ou simplesmente distrado. Pois, no porque
voc est sendo espremido no seu trabalho e que tem hora para cumprir que voc
ter o direito de exigir do outro, ou achar simplesmente que o outro est querendo
lhe prejudicar. Sim, claro, estamos todos inseridos num sistema de escassez que
pem as pessoas constantemente sobre presso. Portanto, a tendncia de motoristas
estressados ser reagir com violncia e mesquinharias. Seja pela competitividade no
trabalho, seja pela escassez de acesso at sua casa, seja pela projeo do seu eu
sobre aquele carro. Mas, basicamente, cuidado com os delrios persecutrios. Pode
ser o comeo de uma esquizofrenia. Portanto, atravs desses modelos, vemos como
delrios persecutrios podem ser incentivados pelo modelo de sistemas de escassez.
Alis, somos todos ciclotmicos, variando nosso ciclo de humor ao longo do dia,
da semana, do perodo menstrual. O que aconteceria se botssemos um ciclotmico
sobre presso no de um dia, no de apenas um fim de namoro, mas de toda uma
preparao sadomasoquista na escassez de oportunidades para um projeto de vida.
Uma expectativa de como a vida deveria ser e no est sendo. Ou quando a vida se
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torna a expectativa que se queria, ele se torna o super-homem com a receita
infalvel para o sucesso. Ser que ele teria picos de frustao ou picos de
entusiasmo? Ser que poderia romper os limites mal definidos da ciclotimia? Se
tornar um bipolar ou ter um predomnio da fase depressiva ou da fase manaca?
Poderia ter ideao suicida, talvez distrbios do sono, uma inquietude inexplicvel.
Uma verborragia na busca por reafirmao e por reconhecimento. Ou talvez uma
sensao de culpa excessiva.
A noo inconsciente de propriedade e escassez tambm parece estimular um
comportamento acumulativo. H uma quantidade de coisas que compramos e
usamos uma ou duas vezes, s vezes nem usamos. Fica, ento, guardado no armrio,
na prateleira, no closet, na sapateira e s lembramos que aquilo estava l quando
mudamos de casa, isso quando lembramos. No pensamento, a ideia de que, um dia,
quando precisarmos, aquilo estar disposio. Isso nos d a sensao de que
estamos fazendo o melhor uso das coisas. Ser? Qual o limite para que isso no
acaba se tornando o distrbio de acumulao compulsiva? A famosa sndrome de
Digenes ou sndrome da misria senil (apesar de acometer jovens tambm). E
quando relacionados a animais se chama sndrome de No. Muitos acham que na
verdade um estgio final de um subtipo do transtorno obsessivo-compulsivo. De
qualquer jeito, parece que a prpria economia ajuda no surgimento desta sndrome.
A partir do momento em que vivemos a sensao de escassez no dia a dia e a noo
de propriedade permite o acumulo, a pessoa no consegue suportar no ter aquele
bem a sua disposio quando precisar. E o acesso a outro igual quele gerenciado
pelo dinheiro. Note-se que esse comportamento mesquinho vemos em qualquer
classe social. Alguns tm em suas garagens carros que no usam e que no
precisam. E mesmo que o carro fosse digno de um museu, o dono quer ter como sua
propriedade.
Mas como podemos pensar diferente? Na economia monetria, a forma de se
marcar ponto acumulando e ganhando dinheiro. Exemplo disso que quanto
mais raro, entenda-se como mais escasso, for a sua coisa acumulada, mais dinheiro
pode se ter. Pega-se um dinheiro comum e se guarda por bastante tempo. Pronto, ele
passa a valer mais. Ou uma figurinha rara. Um tnis de modelo raro como da Nike.
Um carro raro. Um pedao de terra numa regio onde j h muitas pessoas morando.
No s pode-se ganhar mais dinheiro, mas tambm aquelas coisas escassas podem
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dizer qual a sua posio naquela sociedade estratificada.
Voc, caro leitor, pode achar: mas, e o ouro? Ele no uma coisa rara e logo
escassa. Na verdade, no. O conceito de raridade vem da noo de consumo, de uso
sem reciclagem. Sem sustentabilidade. Vamos tornar mais claro. A estimativa de ouro
j explorado est em torno de 171 mil toneladas. Sem contar o que h de baixo da
terra ou em outros planetas. Portanto hoje a maior parte do ouro usado em joias,
bijuterias e cofres reciclada. A nica parte que no est sendo reciclada so
medicamentos produzidos com ouro e pequenas quantidades usadas em circuitos e
chips que representam 12% da produo anual. Estes usos representam realmente
um consumo de ouro, porque no possvel reciclar com a tecnologia atual, devido
ao custo monetrio de um mtodo de reciclagem atual e porque ainda no o
substitumos por materiais de reciclagem mais fcil. O ouro por si s no h como
dizer se temos pouco ou muito. uma comparao sempre relativa a algum ponto
de vista. Por exemplo, do ponto de visto ortodntico foi substitudo por materiais
mais fceis de serem produzidos e at reciclados, pois entram no ciclo do carbono.
Ento porque ele vale alguma coisa? Basicamente, porque estamos numa economia
de troca (escassez), por causa do interesse que se pe sobre ele, e por ltimo devido
a quantidade que se tem disponvel para negociao (quantidade esta sujeita a
especulao ou manipulao). Foi um dos primeiros metais que homem manipulou.
Tem propriedades de alta condutividade e resistncia oxidao. Para maioria de ns
d uma ideia de pureza, de valor, de realeza e ostentao. Nas competies os
ganhadores so premiados com ouro. Na histria relembra a realeza e a prpria
histria do dinheiro. E j foi causa de vcio temerrio: a febre do ouro. Porm, esses
so apenas valores culturais e no necessariamente verdadeiros. Quem est dando o
valor ao ouro? Somos ns mesmos. E passamos isso de gerao para gerao. Quem
nunca teve que disputar uma medalha na escola ou no clube. Quem nunca torceu
pelo seu atleta ou clube por uma medalha de ouro. Qual menina no foi elogiada
devido a uma bijuteria ou estimulada a ter uma bijuteria de ouro.
Historicamente percebemos tambm que o direito de propriedade um
conceito bem frgil. Por exemplo, quando somos assaltados, roubados, pilhados ou
forados a entregar devido a dvidas. At mesmo quando o seguro para cobrir um
roubo ou acidente no cumprido, ou quando compramos algo que no entregue.
Ou entregue com defeito e no conseguimos nem reaver o dinheiro nem um item
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novo. E principalmente, quando morremos, cad o direito propriedade? Ser que
no haveria uma maneira melhor de se gerenciar a questo de propriedade? Muitas
vezes no o iate que as pessoas desejam, e sim a experincia do uso daquele
produto. Muitas vezes, a questo de compartilhar essas propriedades com outras
pessoas traz muito mais felicidade do que a exclusividade de uso.
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INTRODUO
Os aspectos discutidos sobre propriedade e escassez esto presentes em
qualquer sociedade baseada em dinheiro. Neste livro abordaremos os aspectos
histricos da sociedade asteca. Historicamente, temos o privilgio de observar a
insero de uma cultura monetria numa sociedade tribal igualitria, causando
significativa modificao de sua estrutura social e do comportamento de seus civis.
Poderemos observar que suas tecnologias de guerra e de subsistncia eram
inferiores dos espanhis. Porm a organizao da sua sociedade e evoluo do
senso de humanidade e de participao de um ecossistema eram iguais dos
invasores. Com guerras constantes, uma lei organizada e hierrquica e uma religio
que se adaptou para atender as necessidades de uma elite que direcionava o resto da
sociedade, sua histria lembra a prpria histria do resto da humanidade. O leitor
mais descuidado poderia afirmar que somos absolutamente superiores a eles. Afinal
eles tinham escravos. Pois ns temos os nossos. No portal do ministrio do trabalho
e do emprego, temos 609 empregadores flagrados na avaliao semestral publicada
em julho de 2014 com trabalhadores em condies anlogas as de escravo. E os
que no foram flagrados? No Japo de 2013 foram flagrados trabalhadores em
condies anlogas as de escravo limpando o cho de Fukushima. Portanto em
termos tecnolgicos, no h dvida sobre a superioridade. Porm em termos
humanos, incluindo organizao social e resoluo de problemas humanitrios
estamos estagnados. Falamos em mobilidade social e incentivo a produo atravs do
interesse ou da ambio e esquecemos que a mobilidade no ocorre muito no topo
de qualquer pirmide em qualquer pas ou sociedade independente da poca e lugar.
E que abaixo destes, todos acabam se digladiando e fazendo qualquer coisa, pois
quando a msica para e todos sentam em suas cadeiras haver uma grande parte
que no ter cadeira, porque a sociedade continua estratificada. Portanto ainda
teremos os escravos e pobres enquanto permitirmos esse tipo de economia.
Poderemos observar no decorrer do nosso estudo proposto como o
comportamento humano previsvel dentro de um sistema de escassez que gerencia
os recursos naturais, tecnolgicos e servios de uma civilizao. Quando ocorre
alguma escassez numa sociedade monetria vemos o aumento da desconfiana de
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seu povo na liderana que o conduz e vemos comportamentos corruptos em
pessoas que no espervamos. Com isso, ocorre o aumento de manifestaes
populares que em alguns casos podem tomar propores caticas.
Corrupo no existe s no Brasil. Existe no mundo todo. Portanto ele faz parte
do sistema. Afinal o ser humano igual no mundo inteiro. Um bom exemplo a
denncia de empresas e entidades pblicas brasileiras com empresas estrangeiras.
Se h um corrompido, h o corruptor, seja brasileiro, holands, belga, suo ou
alemo. Principalmente na rea de licitao, seja qual for a entidade ou o pas.
Temos diferentes grupos fenotpicos que hoje com a maior interao da
economia a nvel global aumentaram suas trocas genticas. Mas em termos
comportamentais no h justificativa gentica para dizermos que um povo mais
preguioso que outro ou mais corrupto. A espcie a mesma e a diferena entre
raas ou subespcie inexistente. Somos obrigados a concordar com o brilhante
trabalho do bilogo americano prof. Alan Templeton da Washington University of
Saint Louis que propem o fim do conceito de raa. Ou seja, o conceito de raa
apenas cultural. Ele coletou genes de mais de 8000 pessoas em todo o mundo,
incluindo ndios xavantes e ianommis. Concluiu que as porcentagens mais
significativas de diferena entre os genes so entre pessoas com a mesma
caracterstica fsica e que a diferena entre o negro africano e o branco europeu
uma das menores porcentagens. Na mesma linha tambm se encontra o belssimo
livro do professor Srgio D. J. Pena do departamento de Bioqumica e Imunologia da
UFMG. Em seu livro: Humanidade Sem Raas? ele explora a diversidade e
sucessividade das migraes da nossa espcie e a rapidez e precocidade como
tivemos essas ondas de migraes. Isto impossibilitaria a separao por tempo
suficiente para termos a distino de raas humanas.
Portanto como podemos justificar a preguia, o comportamento corrupto, os
comportamentos violentos? O comportamento corrupto est intrinsecamente ligado
a escassez e propriedade. Numa sociedade monetria o reforo positivo vem pelo
dinheiro. Numa sociedade com caractersticas militares o reforo positivo vem pelo
prestgio. Mas no fundo, a alavanca a escassez, seja com relao ao menor prestgio
ou menor remunerao de posies inferiores. A escassez de segurana que
permite o acharque a comerciantes. Se for possvel manipular a escassez para obter
dinheiro, ento ocorrer. Se for possvel manipular o medo das pessoas, numa
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sociedade com caractersticas predominantemente militares, ento uma pessoa
poder ter mais prestgio, seja para se promover como lder de um grupo, ou seja,
para manter a ordem numa populao submissa. Se o leitor acha que esforos de
guerras necessitam de estratificao, ou que o exrcito necessita ser estratificado,
devemos lembrar que na primeira e na segunda guerra mundial, tenentes, sargentos
e soldados dividiam as mesmas condies de subsistncia. E decises, s vezes,
vinham de baixo. Devemos lembrar-nos de guerras como a confederao de
Guararapes onde o exrcito era formado por vrios povos tupis e sem uma
estratificao significativa. Devemos lembrar muitos naufrgios onde a
sobrevivncia de muitos veio da cooperao e no de uma ordem estratificada ou de
uma competio entre os membros.
Devemos lembrar acima de tudo que conflitos existem essencialmente devido
ao medo resultante de um erro de entendimento ou da falta de conhecimento; ou
devido a uma posio de vantagem que no se deseja perder.
A preguia, quando no por doena ou cansao fsico temporrio, um sinal
de total desinteresse e apatia pelas coisas e pelas pessoas ao redor. Mas uma criana
quando est na sua mais tenra idade tem curiosidade por tudo! Talvez por isso que
no vemos crianas com preguia com dois ou quatro anos de idade, a no ser pelos
motivos citados l em cima. Ento ser possvel que nosso formato educacional
desde a escola at o convvio em casa est fabricando a preguia? At que ponto o
cio tambm no pode ser produtivo e criativo e, portanto, desejvel. Esse ponto
bem explorado nos textos de Domenico De Masi e de Robert Heinlein que convergem
de forma singular em confluncia com o documentrio da REEVO (Rede de Educao
Viva): A Educao Est Proibida.
A necessidade a me das invenes. E o cio , ento, o pai das ideias. Mas se
voc puder trocar por algo j pronto como numa sociedade monetria voc no
precisa procurar solues. Ainda mais se voc no tiver tempo para pensar porque
tem trabalhar duro.
E a violncia Muitos se perguntam o que aconteceu com os ladres de
galinha. Por que houve uma piora na agressividade. Bom, acho que primeiro
devemos entender por que existe ladro. O princpio o mesmo. Escassez. Uma
pessoa com fome antigamente ia roubar galinha. Uma pessoa sem oportunidade,
sem educao e sem o amor dos pais durante a sua vida, inserida numa sociedade
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como a atual, extremamente competitiva e com uma velocidade de consumo acirrada,
qual ser o efeito? Ser que essa pessoa teve ao menos acesso a uma alimentao
saudvel? Qual o tipo de educao ou cultura a que ela foi exposta? Qual foi sua
experincia com o amor? Como cobrar um comportamento tico se no tenho
nenhuma contrapartida? O reforo positivo para essa pessoa o dinheiro, no o
tico. E o outro reforo positivo o prestgio da fora, do medo e no do amor.
Portanto, citando Jacque Fresco, acho que nunca seremos realmente civilizados
enquanto precisarmos de priso. Quem est na priso representa o lado do ser
humano que no queremos dialogar, que no queremos entender. Dizemos que
assim mesmo. Que da natureza humana e no se pergunta mais. Sabemos que no
existem genes do latrocnio ou estupro. Sabemos que no existe circunvoluo do
crebro da corrupo, inclusive atravs de experincias de lobotomia, infelizmente.
Mas simplesmente paramos de perguntar por qu. Botamos na cadeia e assunto
resolvido. Se for um distrbio psiquitrico, aquela pessoa necessita de ajuda e no de
excluso. Se foi um momento de raiva, ento, qual o motivo daquela raiva. No
tomemos qualquer resposta de imediato, at porque a pessoa com raiva est, j por
definio, em autodefesa. Logo, ela no vai se expor simplesmente. Ela no vai dizer
seus pontos fracos, seus traumas de infncia. Por que ela confiaria em algum no
momento em que est se sentindo acuada, punida? Por que ela confiaria em
qualquer um num mundo onde somos educados a no confiar em ningum? Estamos
educando as pessoas pela informao ou pelo medo? Qual o respeito que queremos
das pessoas ou de nossos filhos? o respeito pelo amor ou pelo medo?
Pelo amor seremos obrigados a receber crticas. E devemos saber receb-las se
realmente quisermos entender o que est acontecendo no mundo atualmente e o
que podemos fazer para melhorar a situao atual.
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ASPECTOS HISTRICOS
H um tempo todos os continentes estiveram juntos num supercontinente: o
Pangia. Depois da separao do Pangia, h 225 milhes de anos, sugerem as
pesquisas que primeiro formou-se a Laursia(Amrica do Norte e Eurosia) e a
Gondwana(Amrica do Sul, frica, ndia, Austrlia e Antrtida) que tambm se
separou h 135 milhes de anos. A conformao atual do nosso atlas comeou a ser
desenhada a 84 milhes de anos com a unio das Amricas e seu distanciamento dos
demais continentes. Este processo ainda ocorre nos dias atuais.
Figura de fonte pblica: deriva continental.
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Mas espere um momento. Tomemos o surgimento dos homindeos h mais de
4 milhes de anos atrs como o Australopithecus afarensis, um dos mais conhecidos
homindeos com ossadas achadas na regio norte do grande vale do Rift, em Afar na
Etipia. Tomemos sua evoluo e migrao com o surgimento dos homindeos de
Dmanisi 1,8 milho de anos num pas chamado Gergia, cuja capital Tbilisi e sua
posio entre a Turquia e a Rssia no continente asitico. Como foram surgir
homens modernos nas Amricas j separadas h milhes de anos?
Os humanos anatomicamente modernos, o Homo sapiens, tem seu fssil mais
antigo datado de mais ou menos 195 000 atrs. Foi achado no leste da frica, na
Etipia, mais amide em Omo Kibish. Com aumento da caixa craniana e aumento da
testa, abriga um crebro que pode chegar a duas vezes o tamanho do crebro do
gorila ou do chimpanz, alm da alterao da estrutura maxilar, mandibular e
dentria. Curiosamente no mesmo stio arqueolgico do Omo I h um outro crnio
com estrutura mais arcaica (Omo II), mostrando que coexistiam subespcies
diferentes de homindeos em uma mesma comunidade e levantando questionamento
sobre a definio de espcie. J a ossada mais antiga do homem moderno achada na
sia teria 63 mil anos segundo as escavaes numa gruta em Laos (gruta dos
Macacos: Tam Pa Ling). O fssil mais antigo at o momento encontrado no Brasil foi
numa gruta na Lapa Vermelha, regio metropolitana de Belo Horizonte. Data de 11
mil anos. Isto sugere as ondas de migrao que ocorreram. Portanto h 9 mil anos
existem fortes indcios de que o homem j havia alcanado todos os continentes,
incluindo a Oceania e o rtico. Houve nessa primeira chegada as Amricas uma
ajuda das eras glaciais. O ltimo mximo glacial teria ocorrido h 20mil anos,
comeando h 40mil anos e terminado por volta de 10mil anos atrs, permitindo
uma caminhada pelo estreito de Bering. Com a reteno de gua nos polos o nvel do
mar teria baixado em 80m com a formao de um subcontinente entre o estreito e
as ilhas Aleutas, chamado Berngia, permitindo ondas de migraes sucessivas por
terra. Sugere-se que uma das sucessivas migraes desse perodo tenha sido de
caadores siberianos do ramo tnico proto-monglico que teriam atravessado o
subcontinente seguindo manadas de bises. Dataes de diversos stios
arqueolgicos americanos giram em torno de 20 a 25mil anos reforando esta
teoria.
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Figura de fonte pblica: extenso territorial de Berngia durante glaciao.
Com o fim da era glacial as Amricas voltam a ficar isoladas dos demais
continentes. Portanto as novas migraes para o continente americano teriam
ocorrido com o domnio da navegao, causando provavelmente um choque entre
civilizaes diferentes. Um dos provveis vestgios desses confrontos pode ser o
desaparecimento dos sambaquis. Outra evidncia a expanso martima polinsia e
dos melansios vindo da Oceania que permitiu experincias fantsticas como a da
ilha de Pscoa. Outra expanso martima teria sido dos Vikings, colonizadores da
Groenlndia. A prpria expanso europeia um grande confronto entre civilizaes
diferentes que s foi possvel pelo desenvolvimento de uma tecnologia de navegao.
Depois da era glacial o continente americano ficou isolado do resto do mundo por
algum tempo, pois os povos que conseguiram chegar por mar, muito provavelmente
no voltaram para contar seu feito como os europeus o fizeram. Esse foi um dos
grandes feitos dos europeus. No foi chegar s Amricas e sim retornar delas.
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Figuras de fonte pblica. Legendas em mil anos.
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Portanto a histria das civilizaes pr-colombianas nossa pr-histria
autctone, pois os povos que aqui chegaram, aqui ficaram. E fizeram parte de forma
integral da histria do continente. Eles no voltaram para levar riquezas ou contar
seus feitos. Temporalmente, os estgios evolutivos de nossa pr-histria se deram
com um atraso de alguns mil anos em relao aos demais continentes. Devido ao ano
que homem moderno chegou ao continente; devido ao seu isolamento das evolues
tecnolgicas que ocorriam nos demais continentes, sem troca de informaes ou
objetos; e tambm devido caracterstica nmade predominante das primeiras
migraes que alcanaram nosso continente. Sabemos que a evoluo tecnolgica se
deu com a sedentarizao do homem, com desenvolvimento de tcnicas agrcolas,
aumento de aglomerao humana e suas tcnicas para organizar essa aglomerao,
com desenvolvimento das artes e da comunicao e de uma tecnologia de guerra
para defender um territrio especfico.
A pr-histria , por definio, o perodo que antecede a inveno da escrita na
histria do homem moderno. Nas Amricas, at a chegada dos europeus, tivemos
pictografia, porm no tivemos linguagem escrita. Para ser ter uma ideia do atraso
americano, podemos dizer que a pictografia egpcia com suas pirmides e sociedade
estratificada existia h 5200 anos. Os Astecas, com caractersticas extremamente
similares em termos de civilizao, tm sua pictografia (o Nahuatl) datado de 714
anos atrs (1300). Outro exemplo o surgimento da primeira atividade agrcola cujo
surgimento se estima em torno de 10 mil anos atrs na regio de Jeric, prximo ao
Mar Morto. J nas Amricas, a estimativa gira em torno de 6000 anos atrs na Meso-
Amrica com algumas dvidas sobre seu desenvolvimento autctone ou sua
exportao tecnolgica da sia juntamente com alguns espcimes vegetais.
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Figuras de fontes pblicas: Exemplos de pictografias do Nahuatl.
Paleoltico o perodo em que homens e homindeos comearam a produzir
alguns artefatos com madeira, osso e pedra lascada. Foi desenvolvida roupas com a
pele dos animais abatidos. Nesse perodo os homens eram essencialmente nmades
caadores-coletores. Precisavam deslocar-se constantemente em busca de alimento.
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Com isso deu-se a primeiras grandes migraes ao longo do globo. Em seguida veio a
Revoluo Neoltica que se deu em pocas diferentes em cada ponto do globo, porm
seguindo temporalmente, mais ou menos, as primeiras ondas de migrao do
Paleoltico.
No Neoltico tivemos a sedentarizao do homem com o desenvolvimento da
agricultura, a domesticao de animais, o desenvolvimento da cermica. H um
aumento do tempo para lazer e para comunicao com o surgimento de diversas
linguagens pictogrficas. As primeiras divises de trabalho surgiram: Os homens
cuidavam da segurana, caa e pesca, enquanto as mulheres plantavam, colhiam e
educavam os filhos. Essa especializao foi se acentuando com o surgimento de
cidades, do comrcio e de um sistema monetrio. A cermica permitiu os primeiros
armazenamentos de alimentos. Este perodo antecede a idade dos Metais, onde alm
do surgimento da metalurgia houve o desenvolvimento de uma linguagem escrita e
falada.
As classificaes de Paleoltico inferior, mdio e superior; Mesoltico e Neoltico
servem apenas para entendimento de caractersticas de diversas civilizaes. Porm
no podem ser observados com linearidade ou mesmo de forma universal.
Coexistiam civilizaes em estgios diferentes de agrupamento, de tecnologia e de
cultura em todos os pontos do globo. Um exemplo dessa falta de linearidade e
universalidade o fato de que quando os Europeus aqui chegaram havia grupos
nmades caador-coletores e havia civilizaes com conglomerados urbanos e
centros polticos. Outro exemplo histrico a revoluo industrial. Que pode ter
comeado em 1760, mas apenas terminou no sculo XX. Pois, somente aps a
libertao de colnias ao redor do mundo, pases inteiros puderam se industrializar.
Vemos historicamente que esses os grupos nmades, devido a sua baixa
densidade populacional e tecnologia mais rudimentar ficavam em desvantagem em
relao aos sedentrios e seminmades, geralmente sendo absorvidos pela
civilizao dominante. Os grupos seminmades, por sua vez, tambm ficavam em
desvantagem numrica e tecnolgica em relao as civilizaes sedentrias. Por
conseguinte, tendiam geralmente a serem absorvidos por essas civilizaes. E
conhecemos bem o poder de destruio do contato dos povos sedentrios ou no das
Amricas com a civilizao europeia. A progresso demogrfica territorial com
explorao dos recursos naturais que era promovido em lenta velocidade pelas altas
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civilizaes pr-colombianas foi levada a uma escala praticamente industrial pela
civilizao europeia.
Alis, a noo de propriedade vai se arrefecendo conforme aumenta o
conglomerado urbano. Os povos nmades e seminmades no tinham noo de
propriedade territorial. Portanto, na poca da invaso europeia, estes povos
habitavam regies marginais as influncias diretas das civilizaes pr-colombianas.
Adaptavam-se assim ao terreno que sobrava a eles.
Aqui nas Amricas os povoadores pioneiros eram nmades onde o parentesco
era a base social (bando). Neste tipo de organizao os homens de um bando devem
buscar esposas em outros bandos, e elas devem residir no bando do marido. Exemplo
este que vemos inclusive na histria de Gengis Khan, imperador mongol. O territrio
era de uso comunitrio do territrio e seus recursos tambm. A estratificao social
em termos de acesso a esses recursos e em termos sociais se dava pelo prestgio
pessoal circunscrito ao bando, no existindo linhagens hereditrias. Os bandos
podiam manter relaes entre si, integrando uma tribo dialetal, sem se constituir
entre eles um controle poltico institucionalizado. Porm com a baixa produtividade
das tcnicas produtivas e a dependncia dos recursos ao redor h uma
impossibilidade de subsistncia de uma grande populao ou mesmo de sua fixao
num determinado territrio. Como exemplos: os Chichimecas dos desertos
mexicanos, os pampas da argentina, os nativos das plancies centrais da Amrica do
Norte e os esquims mais ao norte.
Com a domesticao de animais e principalmente da agricultura, comea a
haver a sedentarizao do homem. Ocorre aumento dos ncleos populacionais,
devido ao aumento da disponibilidade de recursos alimentcios, at o surgimento de
tribos ou aldeias. Neste estgio temos centenas de pessoas relacionadas diretamente
a produo de recursos tecnolgicos e naturais. O usufruto desses recursos
coletivo e comunitrio. O parentesco continua tendo papel central nas relaes
sociais indo na direo da constituio de famlias alargadas ou cls. Cada vez mais
vemos o culto aos antepassados, sendo os mais velhos os detentores do saber
necessrio a sobrevivncia do grupo. Como exemplo, temos os povos Tupis-
guaranis, que praticavam agricultura rudimentar como a coivara. Esta a derrubada
da vegetao nativa com sua queima para em seguida promover o plantio nesta
regio.
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Chefias so populaes maiores que as tribos. Podem conter diversas tribos
formando, s vezes, confederaes, onde o poder era escalonado do chefe central aos
chefes de aldeia. Plenamente sedentarizada com hierarquias de linhagens e
estratificao social bem delineada. Com elas surgem as primeiras instituies
polticas, precursoras na formao de um Estado. Aparecem especializaes como a
religiosa, a do combate alm das do comrcio, da produo de bens agrcolas e da
poltica. Com a sedentarizao surge o cio que muitos historiadores reconhecem
atualmente como grande promotor do desenvolvimento da linguagem, e que
promoveu tambm as artes, a cermica e a troca de informaes. Surge, tambm, de
certa forma todos os aspectos que encontramos atualmente na sociedade monetria
nesse tipo de organizao. E de forma curiosa vemos diversas civilizaes no mundo
com aspectos monetrios sem que houvesse contato entre eles. Quase como se fosse
um estgio evolutivo obrigatrio. As civilizaes nmades e seminmades como os
Tupis tendem a serem absorvidas pelas civilizaes organizadas em chefias atravs
de guerra, escravizao ou assimilao do modo de vida sedentrio.
Vemos o que alguns chamariam de comportamento capitalista, mas intrnseca
a presso demogrfica que por sua vez promovida atravs de uma sociedade em
crescimento populacional acelerado, estratificada, belicista, cuja noo da
distribuio de recursos se d atravs da escassez (monetarismo) e com pouco
conhecimento cientfico em todos os campos. A escassez de conhecimentos da sua
prpria histria, da histria do mundo e da histria do universo, somado com a falta
de conhecimento tecnolgico necessrio para conhecer toda essa histria e se
autocompreender explica o carter blico. Aquele que eu no conheo no meu
amigo. Sua religio diferente da minha. Qual a correta? A minha! Claro!! Alis, a
prpria religio tem um conceito de escassez no seu surgimento. S o sacerdote
sabe o que certo e errado. S ele pode se comunicar com os Deuses. S ele sabe o
que eles querem. Em alguns casos a chefia encarna a prpria divindade em forma
terrena, dando assim legitimidade as suas solicitaes. Portanto para se alcanar uma
ddiva, deve ser feito ou dado algo em troca. Isso uma relao monetria, onde a
escassez de ddivas permite um trabalho servil na maioria dos casos. Sabemos que
de forma objetiva as religies deram legitimidade s chefias para dar explicaes de
determinadas decises atravs do conhecimento que se tinha na poca. Isso justifica
a estratificao social. E justificava porque aquela sociedade deveria ser daquele jeito
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e porque os menos privilegiados deveriam aceitar aquela situao. Portanto uma
relao intrnseca entre o monetarismo e a religio dos sacerdotes nessas
sociedades. Afinal, se todos pudessem ser sacerdotes como se organizaria uma
sociedade?
Vemos o comeo desse tipo de relao como, por exemplo, os Chibchas no
territrio atual da Colmbia na poca da chegada do Europeu. Politicamente uma
confederao tribal com dois chefes de carter poltico e sacerdotal: o Zipa de Bogot
e o Zaque de Tunja. Mais uma vez um precursor de um estado atrelado a religio.
Havia chefes menores constantemente em guerra uns com os outros. Havia feiras
nos povoados com desenvolvimento considervel da agricultura, artesanato e
comrcio. E j havia uma distino social entre os agricultores, os comerciantes e os
sacerdotes.
Alis, a ntima relao entre governo, militarismo, religio, servido e
escravido acaba sendo a alavanca para trabalhos coletivos em grandes obras como
templos, para a coleta de tributos e manuteno destes dois. Parte desses tributos era
usada para pagamentos de arteses, funcionrios da chefia e manuteno de uma
guarda. Portanto vemos os surgimentos de engenharia de arquitetura e de
locomoo. Vemos na alquimia sacerdotal o desenvolvimento de botnica e medicina.
Alm de outros campos de conhecimentos que tiveram seu desenvolvimento j
dentro de uma sociedade monetria.
Nesse ponto temos as sociedades nmades e seminmades como as ltimas
experincias de uma sociedade sem noes de propriedade e de comrcio, antes do
avano das civilizaes. interessante estudarmos o desenvolvimento cultural-
educacional e tecnolgico. Obviamente algumas dessas sociedades tinham algumas
noes de propriedade e de troca, visto que as caractersticas dos povos caador-
coletores, dos arranjos tribais, das chefias e das civilizaes se intercambiavam.
Vemos por exemplo no incio do imprio de Gengis Khan um conceito de diviso
igualitria dos recursos. E que conforme foi tendo contato com outros cls, a diviso
dos recursos foi se estratificando de forma monetria.
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CIVILIZAES PR-ASTECAS
Por volta de 1200 a.C. surge os Olmecas, considerados a primeira civilizao
americana. Localizavam-se na regio do Golfo do Mxico. Seus primeiros centros
cerimoniais, como San Lorenzo e La Venta, no chegavam a ser cidades, mas
possuam hierarquia social sendo uma confederao de tribos cujo os lderes eram
sacerdotes. Sugere-se seu declnio em 900 a.C. No seu perodo, surgem importantes
caractersticas das tradies culturais mesoamericanas. Surge a escrita pictogrfica,
surge um calendrio astronmico, surge o culto ao homem jaguar (ultrapassando o
estgio mais simples de xamanismo e culto aos antepassados), surge a arquitetura
piramidal dos templos, surge o jogo ritual com bolas de borracha, surge agricultura
com obras hidrulicas.
Esta cultura difundira-se por extensa rea Mesoamericana, seguindo o rastro
de comerciantes que buscavam matrias como o jade em lugares remotos. Sugere-
se, portanto, que tenha influenciado as quatro civilizaes clssicas: Mitla e Monte
Albn (no territrio dos Zapotecas que foram destrudos em 950 d.C., aps a invaso
dos Mistecas); os Maias com suas grandes cidades como Palenque, Yaxchil, Copn,
Uxmal; El Tajn (no atual estado de Vera Cruz); e Teotihuacn (planalto central). E
mais curioso que as quatro civilizaes clssicas possuem vrios vestgios de
contato e comrcio entre elas, apesar das distncias, dificuldades geogrficas e
barreira lingustica.
No perodo do incio da era crist (Anno Domini) ocorre nas Amricas a
entrada na era clssica das civilizaes mesoamericanas. Com o fim da
preponderncia olmeca, uma crescente hierarquizao social, desenvolvimento de
tcnicas agrcolas, de centros urbanos e logo o florescimento de cidades-estados
teocrticas.
Por volta de 100 d.C. surge Teotihuacn no Planalto Central mexicano.
considerada a primeira cidade do continente americano, cujo apogeu se deu entre
400 e 700 d. C. Construda a partir de quatro aldeias era a Cidade dos Deuses,
alcanando entre os sculos V e VII uma populao de 85 mil habitantes, alm de
irradiar sua influncia at onde atualmente a Guatemala. Durante sculos foi
centro de peregrinao, tendo como principais templos as pirmides do Sol e da Lua,
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com 63m e 43m de altura respectivamente. Sua principal avenida, a avenida dos
Mortos, possua 1 700m de comprimento. Seus comerciantes tinham o controle
sobre a venda e transformao da obsidiana. Matria-prima de suma importncia na
poca dada a ausncia de metalurgia para fabricao de instrumentos agrcolas e
blicos. Possua uma sociedade estratificada, sendo considerada uma metrpole
teocrtica. Os sacerdotes eram originrios da costa oriental de zonas de influncia
pela civilizao Olmeca e El Tajn, enquanto a populao camponesa era na sua
maioria composta por otomis e outras tribos rsticas. Na religio h referncias ao
deus da gua e da chuva (chamado pelos astecas de Tlaloc), a Serpente de Pumas que
era smbolo da fecundidade agrria (Quetzalcoatl para os astecas) e a deusa da gua
(Chalchiuhtlicue). Acreditavam em vida aps a morte com o paraso resguardado
pelo protetor Tlaloc, onde os bem-aventurados cantariam sua felicidade entre jardins
tropicais.
Teotihuacn foi destruda e incendiada por volta de 750 d.C. No h dados que
comprovem alguma hiptese para sua causa, sejam revoltas camponesas, revoltas de
escravos, revolta de alguma aldeia tributada ou ataque externo. Curioso observar que
as duas primeiras hipteses configuram revoltas de uma classe social desprestigiada.
A terceira possibilidade relembra a situao vivida pela Argentina com seus fundos
abutres. E a quarta poderia ser a invaso de alguma outra civilizao com
caractersticas expansionistas ou em disputa pelo poder dentro de um arranjo de
tribos.
Nessa poca os astecas se encontravam numa regio a noroeste do atual
Mxico que segundo sua histria tradicional chamava-se Aztln. O nahuatl era uma
famlia lingustica com dialetos que se distribuam da regio de Utah at a Nicargua.
Viviam como tribos guerreiras, nmades e coletor-caadoras: azteca chichimeca,
brbaros de Aztln. Cobriam-se com peles e viviam em cavernas ou cabana de
ramos. Permaneceram, assim, margem das civilizaes clssicas, passando
despercebidos por elas.
Apesar da derrocada de Teotihuacn e do abandono das grandes cidades
clssicas por fenmenos econmicos e sociais ainda pouco definidos, uma colnia
desta grande cidade sobreviveu em Azcaptzalco. Oriundos do norte, os toltecas, povos
de lngua nahuatl, fundaram a cidade de Tula sobre o local de uma aldeia otomi
chamada Mamhni em 856 d.C. A teoria mais aceita entre os historiadores que os
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primeiros imigrantes toltecas, ainda brbaros e pouco numerosos, tenham aceitado
de certo modo voluntariamente, por mais ou menos um sculo, uma classe
dominante sacerdotal originria de Teotihuacn e fiel tradio teocrtica da era
clssica. Isso estaria simbolizado nos relatos mticos do rei sacerdote Quetzalcoatl, a
Serpente de Plumas. Seu relato histrico fala uma lngua diferente do nahuatl,
proibia sacrifcios humanos, celebrava o culto do deus da chuva e se mostrava bom e
virtuoso em todas as circunstncias.
Esse acontecimento lembra a chegada da tribo levitas (todos eles com nomes
egpcios, inclusive moiss) a Israel entre o sculo 6 e 5 a. C., refugiados de cidades
egpcias abandonadas em meio a um colapso climtico, a escassez de comida e a
ataques de bbaros. Provavelmente, aps passarem por Midian, onde sofreram
influencias culturais da Babilnia, foram professar a crena de um deus nico como
sacerdotes entre tribos camponesas na regio de Israel. O deus que veio do sul: Jav.
Isso em meio a outros deuses israelitas como Baal, Asherah, e El, o grande( ou El, ou
Elohim). Surge desses sacerdotes a primeira constituio de Israel: as 613 leis,
derivadas dos 10 mandamentos. Abrandam as leis anteriores como as que regulavam
a escravido, por exemplo. Organizam uma espcie de Polnia da poca, as tribos de
Israel que viviam espremidas entre grandes potncias durante a poca do Bronze do
Oriente Mdio.
Voltando a Amrica central, vemos que os toltecas foram apenas os primeiros
de muitos que viriam em ondas migratrias sucessivas do norte para o Mxico.
Esses novos imigrantes traziam consigo novas ideias e ritos que com o seu aumento
populacional quebrariam a frgil relao entre os sacerdotes de Teotihuacn e os
toltecas. Eles traziam a religio astral, o culto da Estrela da Manh, a noo de guerra
csmica, os sacrifcios humanos legitimados e uma organizao social militarista.
Acredita-se que esta cultura esteja simbolizada no deus-feiticeiro Tezcatlipoca, deus
da Grande Ursa, do cu estrelado, do vento noturno e protetor dos guerreiros. Logo,
evocado uma srie de conflitos, guerras civis e encantamentos, graas aos quais
Tezcatlipoca consegue banir Quetzalcoatl em 999. O rei derrotado parte, ento, para
exlio em direo ao misterioso pas negro e vermelho, Tlillan Tlapallan, situado
alm do mar divino, por trs do horizonte oriental.
A partir deste ponto, desenvolve-se a civilizao tolteca durante o sculo XI,
com as velhas divindades da terra e da gua sendo superadas pelos deuses celestes. A
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Serpente de Plumas transforma-se em um deus astral: o planeta Vnus. A cidade
Cholula se torna num centro de peregrinao em honra Serpente de Plumas. Os
rituais de sacrifcio humano se espalham. Nos monumentos surgem representadas
guias (smbolos solares) e jaguares (smbolos de Tezcatlipoca) brandindo coraes
humanos. Os templos deixam de ser santurios de dimenses reduzidas, com espao
apenas para os sacerdotes, e passam a amplas salas, com espao para os guerreiros
se reunirem. O rei detm os poderes que antes cabiam classe sacerdotal
conjugados com o cargo militar de chefia, dentro de uma aristocracia militar, sinais
de uma sociedade j estratificada. No seu auge, a civilizao tolteca alcanou da
regio de Michoacn, a oeste, at as costas do golfo, ao leste; e do planalto central at
as montanhas de Oaxaca e a regio de Yucatn. O essencial de sua arte, de suas
concepes religiosas e de sua estratificao social com uma organizao dinstica
sobreviveu at a conquista espanhola. Em 1168, aps uma vasta expanso
territorial e com a invaso de novos imigrantes, a cidade de Tula foi saqueada e
abandonada. Porm outras cidades toltecas ainda se mantiveram incluindo Cholula,
Colhuacn e outras mais ao sul que proporcionaram um renascimento da
civilizao maia.
A notcia da queda de Tula transmitiu-se entre as tribos dos lugares mais
distantes sobre a influncia tolteca, e principalmente entre os povos de lngua
nahuatl. De toda parte, tribos brbaras puseram-se em marcha para o sul. Os
Chichimecas ento se instalaram mais ao norte do antigo imprio Tolteca, sem
necessitar de guerra para estabelecer seu territrio e mantendo inicialmente seu
modo de vida habitual em cavernas e florestas. Ao manterem um contato mais dirio
com as cidades toltecas remanescentes, um de seus primeiros reis, Nopaltzin,
desposa a filha de um senhor tolteca de Colhuacn, dando incio a diversas alianas
que surgiriam. Em 1168, os astecas comeam a longa marcha at o vale do Mxico,
junto com as outras tribos que tambm migravam para o sul. Naturalmente como
acontece com algumas tribos seminmades, essa migrao no deve ter se dado de
uma forma linear e objetiva. Portanto, podem ter se fixado por anos em algumas
regies ao longo dessa marcha. Por vezes entrando em conflito, e outras entrando em
contato pacfico com populaes civilizadas com troca de cultura e troca comercial
de artesanato e recursos naturais. Segundo a referncia histrica indgena, retratam
a marcha sendo guiada por sacerdotes. Eles levavam sobre os ombros a efgie de
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Uitzilopochtli, divindade solar representada por um colibri, um gnero de beija-flores
que ocorrem na Amrica Central. Segundo a crena, Uitzilopochtli falava com os
sacerdotes e eles transmitiam as ordens de Deus. Alm dos sacerdotes havia um
conselho dos chefes de cls para debater as questes mais importantes. Portanto
esse regime inicial asteca seria uma teocracia superposta a uma democracia tribal.
Enquanto os Astecas estavam em sua migrao, as tribos que inicialmente
chegaram ao planalto central do Mxico assimilaram rapidamente a cultura e
tecnologia tolteca remanescente. Inclui-se nesse processo a agricultara, os ritos
religiosos e cotidianos e a forma de governo. Vilas, como Texcoco, comeam a surgir
no final do sculo XIII. E no sculo seguinte, 28 cidades-estados compartilham o
planalto central, dentre os quais Colhuacn (Tolteca), Texcoco (Chichimeca),
Azcapotzalco (dinastia de origem Otomi ou Mazahua), Xaltocn (otomi). Intrigas,
alianas, guerras e golpes de governo faziam parte do dia a dia dessas cidades que
ficaram marcadas por uma violncia diria. Cada uma delas lutava pela hegemonia,
pelo poder, pelo controle das 28 cidades-estados.
Os astecas so os ltimos a chegarem nesse ambiente com notveis avanos
tecnolgicos e culturais, mas tambm marcado pela disputa pelo poder entre as
cidades e dentro de cada cidade e pelos sacrifcios humanos numa sociedade j
estratificada. A sociedade asteca, nesse momento, homognea e igualitria.
Essencialmente guerreira, com seus soldados e cultivadores. No reconheciam
nenhuma autoridade, seno a dos sacerdotes-guerreiros, os intrpretes de
Uitzilopochtli. Assim que chegam, entram em conflito com Colhuacn, pois
desejavam ter um rei como os das dinastias vizinhas. Seu soberano Uitzliuitl(Pluma
de Colibri), chamado O Antigo, foi derrotado, capturado e sacrificado. Exilados em
Tizapn, os astecas terminaram por se refugiar nas ilhas da zona pantanosa a oeste
do grande lago. Foi l que, em 1325, Uitzilopochtli (divindade solar em forma de
colibri) falou ao grande sacerdote Quauhcoatl (Serpente-guia). Revelou-lhe que
seu templo e sua cidade deveriam ser construdos em meio ao bambuzal, sobre
uma ilha rochosa na qual se veria uma guia devorando alegremente uma
serpente. Quaucoatl e os demais sacerdotes puseram-se procura do sinal
prometido pelo orculo; e viram uma gui pousada sobre uma figueira-do-inferno
(Tenochtli) tendo no bico uma serpente. L foi erigida uma simples cabana de
bambus, primeiro santurio Uitzilopochtli e ncleo da futura cidade de Tenochtitln.
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Segundo uma crnica asteca: Pobremente, miseravelmente, eles construiram a
casa de Uitzilopochtli (...). Onde poderiam eles encontrar pedra ou madeira? (...) Os
mexicanos reuniram-se e disseram: Compremos, ento, a pedra e a madeira com o
que se encontra na gua: o peixe, o Axolotl, a r, o lagostim (...). E, realmente, os
astecas desta poca levavam uma vida extremamente ligada ao lago, com suas
pirogas e redes, subsistindo e conseguindo comercializar o que no tinham na
regio graas pesca e caa de pssaros aquticos. Suas modestas aldeias
estendiam-se sobre as ilhotas. Criaram, graas ao acumulo de lodo em cima e entre
as jangadas de bambu, jardins flutuantes chamados chinampas. Estas eram fixadas
inicialmente com pesadas pedras e bambu e depois com as razes de chores que
eram plantados exatamente com este intuito. Nesse perodo passaram por
instabilidades polticas devido a disputa de poder entre as cidades que habitavam o
planalto e chegaram a pagar impostos ao Tepanecas de Azcapotzalco. Tambm
ganharam notoriedade devido a caraterstica blica de sua tribo e a prtica de
sacrifcios. Com a necessidade de criar uma dinastia e para evitar o desastre de
Uitzliuitl, os astecas procuraram um soberano tolteca de Colhuacn. Dessa forma se
ligariam a prestigiosa idade de ouro de Tula. Acamapichtli (Punho de Bambu) foi o
soberano que subiu ao trono em 1375.
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Figuras de fontes pblicas: Chinampas.
Seu sucessor, Uitziliuitl II, desenvolveu vrias alianas matrimoniais
importantes do ponto de vista econmico e que fortalecia o reconhecimento de sua
vila perante as demais. Desposou assim a princesa Miahuaxihuitl (Flor de Milho
Turquesa), filha de um chefe de Quauhnahuac, regio produtora de algodo. Ao
mesmo tempo a dinastia blica de Azcapotzalco procurava ampliar a subordinao
das demais cidades do vale central, de tal forma que o terceiro rei asteca,
Chimalpopoca (Escudo Fumegante), foi pouco mais que um vassalo de
Azcapotzalco e morreu assassinado em 1428, assim como o rei de Texcoco foi 10
anos antes.
O planalto central passava por mais um perodo de instabilidade poltica e
violncia crescente. O rei Tezozomoc havia anexado ao domnio de Azcapotzalco
vastos territrios inclusive ao redor do grande lago. O herdeiro do trono de Texcoco, o
prncipe Nezaualcoyotl (O Lobo que Jejua) se refugiava pelas montanhas,
perseguido pelos guerreiros de Tezozomoc. Em Tenochtitln, a maioria da populao
preconizava a submisso em nome da paz.
O quarto soberano asteca, Itzcoatl (Serpente de Obsidiana), eleito em
circunstncias dramticas, tomou a liderana de Tenochtitln e se aliou a
Nezaualcoyotl. Liderou resistncias aos assaltos e saques dos guerreiros de
Azcapotzalco e em seguida levou a guerra at o rei Tezozomoc, invadindo e
destruindo Azcapotzalco.
Os dois soberanos vencedores tomaram estrategicamente como aliada a cidade
de Tlacopan que tambm era submissa a Azcapotzalco, fundando assim a Trplice
Aliana.
Ao final deste captulo interessante demarcar que no podemos culpar o
dinheiro de forma direta pelas intrigas e a disputa pelo poder. Alis, nesse perodo, o
dinheiro promovia integrao cultural e permitia aos povos complementarem suas
necessidades dialogando entre si apesar de dificuldades lingusticas e culturais. O
dinheiro nessa poca e localizao era a semente de cacau e algodo, alm de outros
produtos (ou comodity). Tudo que pudesse ser trocado conforme a necessidade a ser
atendida. Portanto, havia uma relao direta com escassez. Mas veremos que em
tempo de paz a classe que mais crescia era a dos comerciantes. Os homens que
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sabiam das necessidades que ocorriam e que tinham ideia dos preos e dos
cmbios.
Contudo, na disputa pelo poder, vemos uma estrutura singular, presente como
estrutura de manuteno do poder para poucos: a escassez. Sim, a escassez de
conhecimento permitia que religies surgissem e que povos inteiros seguissem
seus sacerdotes, os nicos detentores do conhecimento das coisas e garantia seu
prestgio dentro daquele povo. A escassez de conhecimento e de irmandade entre os
povos permitiu que a estrutura militar, estratificada e justificada pelo medo do
desconhecido, pelo medo do povo que quer nos destruir, pela insegurana do dia a
dia, subisse ao poder. Esse medo a principal propaganda para mantermos essas
estruturas sociais e polticas at hoje. Esse medo no permite que a humanidade
converse realmente sobre suas verdadeiras necessidades e suas reais identidades.
Esse medo uma das principais barreiras ainda hoje, pois uma vez que algum d o
primeiro tiro, mesmo que tenha sido o fabricante de armas, ningum mais conversa.
Deixamos ligar o piloto automtico do medo com todos os seus preconceitos criados
de forma meramente cultural.
E a melhor ferramenta at hoje criada para mostrar esse fato foi o Satyagraha.
Criado por Mahatma Gandhi, foi reproduzida por pessoas como Nelson Mandela,
Martin Luther King Jr., John Lenon, Hu Yaobang e os corajosos da Praa Celestial da
Paz. Todas as pessoas que se usaram do Satyagraha e ganharam notoriedade,
documentaram para a posteridade como funciona a propaganda do medo e do
preconceito.
Caminhos diferentes para mostrar a manipulao pelo medo tambm foram
mostrados. O grande mestre Morihei Ueshiba possui uma histria de luta e de busca
pela invencibilidade. Mas a concluso que chega ao final fantstica e extremamente
comparvel com as concluses de Mohandas Gandhi. Podemos observar no s por
citaes do mestre como pela reunio de pensamentos que ele faz no livro A Arte da
Paz. Em muitos aspectos esta obra se mostra mais lgica, e para alguns mais