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Universidade Federal do Rio de Janeiro SISTEMA BRASIILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA COMPLEXO ADAPTATIVO: UMA NOVA PERSPECTIVA DE ANÁLISE Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri Roberta Feliciano Fernandes 2014

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

SISTEMA BRASIILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA COMPLEXO

ADAPTATIVO: UMA NOVA PERSPECTIVA DE ANÁLISE

Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri

Roberta Feliciano Fernandes

2014

SISTEMA BRASIILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA COMPLEXO

ADAPTATIVO: UMA NOVA PERSPECTIVA DE ANÁLISE

Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri

Roberta Feliciano Fernandes

Projeto de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Thereza Cristina Nogueira de

Aquino

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

i

SISTEMA BRASIILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA COMPLEXO

ADAPTATIVO: UMA NOVA PERSPECTIVA DE ANÁLISE

Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri

Roberta Feliciano Fernandes

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Adriano Proença

________________________________________________

Prof. Vinícius Carvalho Cardoso

________________________________________________

Prof. Thereza Cristina Nogueira de Aquino

.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2014

ii

De Figueiredo Brandão Squadri, Ana Luiza

Feliciano Fernandes, Roberta

Sistema Brasileiro de Inovação como um Sistema

Complexo Adaptativo: Uma Nova Perspectiva de Análise/ Ana

Luiza de Figueiredo Brandão Squadri e Roberta Feliciano

Fernandes. – Rio de Janeiro: UFRJ/ ESCOLA POLITÉCNICA,

2014.

VI, 108p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Produção, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 107-110

1. Inovação. 2. Sistemas Complexos Adaptativos. 3.

Indicadores.

I. Aquino, Thereza Cristina Nogueira de. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia de Produção. III. Sistema Brasileiro de Inovação

como um Sistema Complexo Adaptativo: Uma Nova Perspectiva

de Análise.

iii

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer, primeiramente, a todos aqueles que nos apoiaram e

nos deram força durante a realização deste trabalho.

Nossos agradecimentos especiais à professora do curso de Engenharia de

Produção, Thereza Aquino, pela dedicação em nossas orientações e por nos guiar para

que pudéssemos encarar os desafios enfrentados e tornar nossas ideias um projeto de

graduação. A sua amizade, seus conselhos e suas sugestões foram importantes não

apenas para a realização de um projeto, mas para o aprendizado e desenvolvimento de

dois profissionais.

Agradecemos também ao Corpo Docente do curso de Engenharia de Produção da

UFRJ, cujos ensinamentos foram base para que nos tornássemos bons profissionais e

serão aproveitados para toda vida.

Um agradecimento muito especial também a nossos familiares, que sempre nos

guiaram e nos deram forças em todos os momentos de nossas vidas e que foram

fundamentais para que nos tornássemos melhores profissionais e cidadãos.

Aos nossos amigos, pelo carinho, amizade, incentivo e companheirismo, durante

toda a faculdade.

Para a Turma de Engenharia de Produção de 2009.1, a qual convivemos

intensamente todos os cinco anos de faculdade, e que contribuíram para nossa formação,

dentro e fora da sala de aula.

Agradecemos também ao companheirismo da parceria firmada para elaboração

do presente projeto de graduação, que foi construída ao longo dos cinco anos estudados

e que sempre foi repleta de apoio e confiança.

E a todos que, de alguma forma, colaboraram para que este trabalho se tornasse

possível, o nosso muito obrigado.

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Sistema Brasileiro de Inovação como um Sistema Complexo Adaptativo: Uma Nova

Perspectiva de Análise

Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri

Roberta Feliciano Fernandes

Agosto/2014

Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Curso: Engenharia de Produção

O presente trabalho apresenta uma revisão sobre os conceitos de sistemas de inovação e

de sistemas complexos adaptativos. Em seguida, delineasse um breve histórico da

inovação no país, para, em um segundo momento, explicitar diversos indicadores que

evidenciam a evolução da prática da inovação no Brasil.

Por fim, é estudada a relação entre os conceitos do Sistema de Inovação Brasileiro e de

Sistemas Complexos Adaptativos, analisando-o qualitativamente de maneira a obter

insights que possibilitem a identificação de novas propostas de ação ao Estado brasileiro

no sentido de alavancar a atividade de inovação no Brasil. Desse modo, para cada uma

das características, um aspecto a ser ponto de atenção do Estado brasileiro é levantado,

com a discussão da relevância para o desempenho do sistema como um todo.

Palavras-chave: Inovação, Sistemas Complexos Adaptativos, Indicadores.

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

BRAZILIAN INNOVATION SYSTEM AS A COMPLEX ADAPTIVE SYSTEM: A

NEW PERSPECTIVE

Ana Luiza de Figueiredo Brandão Squadri

Roberta Feliciano Fernandes

August/2014

Advisor: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Course: Industrial Engineering

This paper presents a conceptual overview of the innovation system and complex

adaptive systems. Then, a brief history of innovation in the country is drawn, followed

by an indicators analysis that display the evolution of the innovation practice in Brazil.

Finally, we study the relationship between the Brazilian Innovation System and the

Complex Adaptive System concepts, by analyzing them qualitatively in order to obtain

insights that will enable the identification of new proposals for the Brazilian state to

leverage innovation activity in Brazil. Thus, for each Complex Adaptive System

characteristic, an aspect to be the point of attention of the Brazilian state is raised, with

the discussion of the relevance to the performance of the system as a whole.

Keywords: Innovation, Complex Adaptive System, Indicators.

vi

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................. 1

1.2. MOTIVAÇÃO .................................................................................................. 2

1.3. OBJETIVO ....................................................................................................... 3

1.4. LIMITAÇÕES .................................................................................................. 3

1.5. MÉTODO ......................................................................................................... 4

2. REVISÃO TEÓRICA ............................................................................................ 6

2.1. CONCEITO DE INOVAÇÃO .......................................................................... 6

2.2. DETERMINANTES DA INOVAÇÃO E DA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO . 10

2.2.1. Processo de Inovação ................................................................................. 10

2.2.2. Processo de Difusão da Inovação .............................................................. 17

2.3. O PAPEL DO ESTADO NOS PROCESSOS DE INOVAÇÃO E DE

DIFUSÃO DA INOVAÇÃO .......................................................................... 19

2.3.1. Ações Indiretas ........................................................................................... 21

2.3.2. Ações Diretas .............................................................................................. 26

2.4. INOVAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO DE UM PAÍS ................... 28

2.5. SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS ............................................... 34

2.5.1. Agentes ....................................................................................................... 35

2.5.2. Auto-Organização e Padrões Emergentes ................................................. 36

2.5.3. Conectividade ............................................................................................. 36

2.5.4. Dimensionalidade ....................................................................................... 37

2.5.5. Dinamismo .................................................................................................. 37

2.5.6. Visão Irregular ........................................................................................... 38

2.5.7. Quasi-Equilibrium e Mudança de Estado .................................................. 38

2.5.8. Mudanças Não Lineares ............................................................................. 39

2.5.9. Futuro Não Aleatório ................................................................................. 39

3. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO ...................................................... 40

3.1. HISTÓRICO DO SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO ...................... 42

3.2. ALGUNS INDICADORES ............................................................................ 53

vii

3.2. ESTÁGIO DA INOVAÇÃO NO BRASIL ..................................................... 62

4. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA

COMPLEXO ADAPTATIVO ..................................................................................... 74

4.1. AGENTES E SCHEMA ................................................................................. 76

4.2. AUTO-ORGANIZAÇÃO E PADRÕES EMERGENTES ............................ 83

4.3. CONECTIVIDADE ....................................................................................... 86

4.4. DIMENSIONALIDADE ................................................................................ 88

4.5. DINAMISMO ................................................................................................. 90

4.6. VISÃO IRREGULAR .................................................................................... 92

4.7. QUASI-EQUILIBRIUM ................................................................................ 94

4.8. MUDANÇAS NÃO LINEARES ................................................................... 95

4.9. FUTURO NÃO ALEATÓRIO ....................................................................... 98

5. CONLUSÃO ....................................................................................................... 102

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 106

viii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Modelo Chain-Linked-Model ......................................................................... 12

Figura 2: Sistema de Inovação........................................................................................ 14

Figura 3: Framework do Dínamo da Inovação ............................................................... 15

Figura 4: Gráfico representativo do modelo epidemiológico de difusão da inovação ... 18

Figura 5: Resumo da evolução da literatura dos modelos de crescimento ..................... 30

Figura 6: As três forças dos Sistemas Complexos Adaptativos ..................................... 34

Figura 7: Características dos SCA .................................................................................. 35

Figura 8: Articulação da política de CT&I com as políticas de Estado e a integração dos

atores ............................................................................................................................... 50

Figura 9: Framework do Global Innovation Index ......................................................... 63

Figura 10: Posicionamento dos Ecossistemas de Start-ups ............................................ 66

Figura 11: Pedidos de registro de patentes no mundo em 2012 .................................... 72

Figura 12: Pedidos de registro de design industrial no mundo em 2012 ........................ 73

Figura 13: Estágios de Desenvolvimento de Inovação ................................................. 100

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Posição dos países no Ranking ....................................................................... 64

Tabela 2: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Agentes e Schema ........ 82

Tabela 3: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Auto-Organização e

Padrões Emergentes ........................................................................................................ 85

Tabela 4: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Conectividade .............. 87

Tabela 5: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Dimensionalidade ........ 90

Tabela 6: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Não-Linearidade .......... 97

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O presente projeto de graduação versará sobre o “O Sistema Brasileiro de

Inovação como um Sistema Complexo Adaptativo: Uma Nova Perspectiva de Análise”.

Em outras palavras, à luz das propriedades dos Sistemas Complexos Adaptativos,

analisaremos qualitativamente o Sistema Brasileiro de Inovação de maneira a obter

insights que possibilitem a identificação de novas propostas de ação ao Estado brasileiro

no sentido de alavancar a atividade de inovação no Brasil.

Ao longo dos relatórios do Global Innovation Index dos últimos anos, o Brasil

teve índices 36,29 (2014); 36,33 (2013); 36,60 (2012); 37,75 (2011). Apesar das

grandes evoluções do Brasil no âmbito de ações de estímulo à atividade inovadora, os

resultados de inovação apresentados não refletiram na mesma medida esses esforços.

Tal paradoxo nos leva a considerar que há áreas do Sistema Brasileiro de Inovação a

serem novos focos estratégicos para o Estado no sentido de impulsionar a atividade de

inovação no país. A dificuldade está em identificar quais são esses aspectos a terem

atenção do poder público, uma vez que as ações até aqui empreendidas não retiraram o

Brasil da sua posição de estagnação. São necessárias que novas ferramentas de análise

do Sistema Brasileiro de Inovação sejam utilizadas em vistas de identificar quais são as

possíveis estratégias a serem seguidas pela nação.

As ações governamentais ainda trazem consigo forte influência de teorias

ultrapassadas quanto ao entendimento dos Sistemas de Inovação, ressaltando a

necessidade de serem feitas novas abordagens em relação ao tema. Deve-se buscar não

apenas equiparar o nível das políticas públicas ao atual estado da teoria da inovação,

mas trazê-las a um passo a frente, colocando o Brasil na vanguarda dos países

inovadores.

Ao identificar as características teóricas do Sistema Complexo Adaptativo na

prática do Sistema Brasileiro de Inovação, para cada uma dessas características,

levantaremos um aspecto a ser ponto de atenção do Estado brasileiro, discutindo sua

relevância para o desempenho do sistema como um todo. A proposta do presente

2

trabalho não é esgotar a análise do Sistema Brasileiro de Inovação como um Sistema

Complexo Adaptativo. O que buscamos é incitar a aplicação de novas e diferentes

ferramentas como instrumentos de análise do Sistema Brasileiro de Inovação,

instigando os atores do sistema a refletirem sobre a dinâmica do mesmo com fins de

apontar novos caminhos a serem traçados pelo país rumo ao 1° lugar do Global

Innovation Index.

1.2. MOTIVAÇÃO

A importância da inovação é ressaltada desde a obra de SCHUMPETER (1942),

na qual o autor ressalta que as inovações inseridas nas economias capitalistas são

fundamentais tanto para o bom desempenho das empresas, por meio do aumento de sua

competitividade com a conquista de lucros extraordinários, quanto para a sociedade em

geral, uma vez que as inovações são difundidas através do processo concorrencial,

aumentando o nível de emprego, salários e renda da população e conduzindo o sistema

econômico ao desenvolvimento. A inovação passa a ser encarada como variável

estratégica fundamental para o aumento da produtividade e, consequentemente, da

competitividade nacional. (CASSIOLATO e LASTRES, 2005 apud NEUBERGER,

MARIN, 2013).

São diversos os países que vêm colocando a inovação como seu foco principal na

busca pelo desenvolvimento econômico. Entre os sete países estudados no projeto Plano

de Mobilização pela Inovação Tecnológica (MOBIT), o qual analisou as estratégias

nacionais de estímulo à inovação em sete países (EUA, Canadá, França, Finlândia,

Reino Unido, Irlanda e Japão), concluiu que todos têm a inovação como foco central de

suas políticas públicas e estratégias de desenvolvimento e crescimento econômico.

Segundo Glauco Arbix, coordenador geral do projeto, “há um inegável consenso dentro

e por cada nação que a inovação é coração das suas estratégias de crescimento e

competitividade” (SENNES, 2008).

3

1.3. OBJETIVO

O objetivo geral desse trabalho é verificar se é possível identificar novos pontos

de alavancagem do Sistema Brasileiro de Inovação a partir de sua análise como um

Sistema Complexo Adaptativo.

Para tal, ao longo desse projeto de graduação, buscar-se-á atingir os seguintes

objetivos específicos:

– Revisão teórica dos principais conceitos relativos à inovação;

– Revisão teórica do papel do Estado como promotor da inovação;

– Revisão teórica da relação entre o desenvolvimento de inovações e o

crescimento de um país;

– Revisão teórica sobre os Sistemas Complexos Adaptativos;

– Apresentação dos principais marcos históricos para a inovação no Brasil;

– Análise da evolução da prática da inovação no Brasil por meio de indicadores

gerais;

– Análise da evolução da prática da inovação no Brasil por meio de indicadores

sistêmicos (do Global Innovation Index);

– Identificação das características teóricas dos Sistemas Complexos Adaptativos

na prática do Sistema Brasileiro de Inovação e apontamento de possíveis pontos

de alavancagem do mesmo.

1.4. LIMITAÇÕES

A fim de viabilizar a conclusão do trabalho em tempo e qualidade adequados,

foram assumidas algumas limitações:

– Os indicadores usados ao longo do trabalho foram utilizados por facilidade de

acesso pelas autoras, as quais não avaliaram todos os indicadores produzidos

sobre o tema. Assim, os indicadores apresentados não necessariamente são os

melhores tradutores das informações a que se propõe passar. Vale ressaltar,

porém, que os mesmos são reconhecidos internacionalmente, sendo suficientes

para as análises praticadas nesse documento.

4

– O presente trabalho está focado apenas nas ações do Estado em termos de

estímulo à inovação. Como é a partir da combinação acertada de políticas

governamentais e de estratégias empresariais que é possível a criação de um

ambiente propício à geração de inovações, uma análise mais completa do

processo de inovação deve considerar também as estratégias empresarias e os

fatores que a tornam inovadora ou não.

– Há na literatura da Teoria da Complexidade outros tipos de sistemas. As autoras

selecionaram os Sistemas Complexos Adaptativos por já terem tido contato com

o tema em oportunidades anteriores. Sendo assim, não há garantia de que, dentre

os sistemas tratados pela teoria da Complexidade, o escolhido seja o mais

adequado para o presente trabalho.

1.5. MÉTODO

Para alcançar os objetivos deste estudo foi realizada uma pesquisa exploratória,

por meio de revisão de literatura. Tal pesquisa foi realizada com consultas ao banco

virtual de periódicos da Capes/MEC e ao buscador Google a partir das buscas dos

termos “inovação”, “sistema de inovação”, “inovação no Brasil”, “Estado e inovação”,

“sistema complexo adaptativo” e variações. Ao longo da leitura do material, foi

utilizada a metodologia da bola de neve, em que as referências bibliográficas dos artigos

encontrados em uma primeira etapa de busca serão analisadas, de modo a encontrar os

demais artigos e autores que fossem relevantes. Ao fim da leitura, avaliou-se se foram

mapeados os principais autores, assim como as principais instituições envolvidas no

tema, como universidades, institutos e centros de pesquisa.

A fim de alcançar os objetivos enumerados anteriormente, será seguido o

seguinte roteiro:

No capítulo 2 será feita uma revisão teórica para a explanação dos conceitos

concernentes ao tema da inovação de modo a estabelecer uma linha de orientação para a

discussão que se dará ao longo do restante do trabalho, com foco para qual a relação

entre o Estado e a inovação. Ainda serão apresentados os principais autores que

discutiram a relação entre a inovação e o crescimento de um país para que se tenha um

entendimento quanto à importância da inovação e, portanto, para que se compreenda a

5

imperatividade da atuação do Estado no sentido de promover a inovação. A revisão

teórica será concluída com a explicação dos principais aspectos quanto à literatura

referente aos Sistemas Complexos Adaptativos.

No capítulo 3 será iniciada a análise quanto à como está o Brasil quando se

discute inovação. Delinear-se-á um breve histórico da inovação no país, destacando os

fatos que impactaram o desenvolvimento de inovações e como foi a atuação do Estado

ao longo da história. Em um segundo momento, serão apresentados diversos indicadores

que demonstram a evolução da prática da inovação no Brasil, a fim de termos em mãos

dados que nos auxiliem a analisar de forma crítica a corrente atuação do Estado

brasileiro na promoção da inovação.

No capítulo 4 iremos contextualizar o Sistema Brasileiro de Inovação como um

Sistema Complexo Adaptativo, identificando as características teóricas do Sistema

Complexo Adaptativo na prática do Sistema Brasileiro de Inovação. A partir dessa

identificação, para cada uma das características, levantaremos um aspecto a ser ponto de

atenção do Estado brasileiro, discutindo sua relevância para o desempenho do sistema

como um todo.

Finalmente, no capítulo 5 concluiremos o trabalho avaliando as atividades

realizadas e se os objetivos foram alcançados e identificaremos propostas de estudos

futuros na área temática aqui trabalhada.

6

2. REVISÃO TEÓRICA

2.1. CONCEITO DE INOVAÇÃO

A literatura que trata do tema “Inovação” conceitua o termo de diferentes

maneiras, abrangendo diversos pontos de vista, sendo cada um aplicável em diferentes

circunstâncias (WOLFE, 1994 apud LOPES, BARBOSA, 2008). A despeito dessa

diversidade conceitual, é possível notar que a ideia de inovação está sempre ligada a

mudanças e a novas combinações de fatores que rompem com o equilíbrio existente.

Inicialmente, é valido destacar a diferença entre dois termos que são comumente

confundidos: invenção e inovação. A Lei de Inovação (Lei n° 10.973, de 2 de dezembro

de 2004) traz, dentre outras definições: criação é uma

“invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, programa de computador,

topografia de circuito integrado, nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada e

qualquer outro desenvolvimento tecnológico que acarrete ou possa acarretar o

surgimento de novo produto, processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por um

ou mais criadores” (BRASIL, Lei n° 10.973, de 2 de dezembro de 2004).

enquanto uma inovação é “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente

produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”. Portanto, a

princípio, podemos já estabelecer que uma inovação é a introdução de uma criação no

meio produtivo ou social, em outras palavras, a aplicação comercial de uma invenção,

bem como definido por SCHUMPETER (1934 apud VARELLA, MEDEIROS,

JUNIOR, 2012), o qual estabelece que uma inovação é a introdução comercial de um

novo produto ou uma nova combinação de algo já existente criados a partir de uma

invenção, a qual, por sua vez, pertence ao campo da ciência. Ainda, sustentando essa

mesma diferenciação, BOOZEMAN E LINK (1984 apud VARELLA, MEDEIROS,

JUNIOR, 2012) comentam que uma invenção é o desenvolvimento de algo novo

enquanto a inovação apenas acontece quando esta criação é colocada em uso.

De acordo com LOPES e BARBOSA (2008), ao observarmos a literatura, a

inovação é discutida, de modo geral, sob as seguintes perspectivas: estratégica, de

7

padrões, da gestão da inovação, e dos seus tipos. Ao longo desse tópico, seguiremos tal

partição.

Primeiramente, do ponto de vista da estratégia, as definições de inovação são

apresentadas no contexto de posicionamento diante da concorrência, em outras palavras,

ao estabelecimento de uma vantagem competitiva sustentável. DRUCKER (2005, apud

FIORIN, MELLO E MACHADO, 2009), define a inovação como o instrumento

essencial dos empreendedores, sendo o processo pelo qual eles exploram a mudança

como uma oportunidade para um negócio ou um serviço diferente. No contexto da

estratégia, LOPES e BARBOSA (2008) percebem que diversos autores, tais como

Porter (1998), Hamel (2007) e Davila et al. (2007), defendem que a inovação surge

como um elemento fundamental da ação e diferenciação das empresas e afirmam que a

inovação precisa estar alinhada à estratégia da empresa, dando suporte à mesma.

Em um segundo momento, agora sob a perspectiva do padrão, ou, em outras

palavras, do grau de novidade, a inovação é apresentada de acordo com o grau de

impacto na empresa, nos produtos ou nos mercado. FREEMAN E PEREZ (1998 apud

VIEGAS E BOMTEMPO, 2011) destacam alguns conceitos nesse sentido:

– Inovações incrementais são melhorias sucessivas em processos e produtos

existentes que ocorrem continuamente. Tais melhorias não são decorrentes

de pesquisa e desenvolvimento (P&D) deliberado, mas sim, por exemplo, de

invenções e melhorias sugeridas pelos funcionários da produção ou pelos

usuários.

– A inovação radical, por outro lado, é caracterizada por não ocorrer de

maneira contínua e, geralmente, é resultado de P&D deliberado. De acordo

com FREEMAN E PEREZ (1998 apud LOPES, BARBOSA, 2008), uma

inovação radical é por definição um ponto de partida capaz de iniciar um

novo curso tecnológico. A inovação radical leva ao crescimento de novos

mercados e investimentos, bem como a uma ruptura estrutural com o padrão

tecnológico anterior, originando novas indústrias, setores e mercados.

– Um novo sistema tecnológico corresponde a uma mudança de longo alcance

na tecnologia, afetando diversas indústrias, bem como levando ao

aparecimento de novas indústrias. Segundo VIEGAS E BOMTEMPO

8

(2011), pode ser identificada “uma lógica” que reúne sucessivas inovações

em uma trajetória comum.

– Por fim, a mudança no paradigma técnico-econômico, também chamada de

revolução tecnológica é um conjunto de sistemas tecnológicos que

influencia o comportamento de toda a economia, criando novas categorias

de produtos, serviços, sistemas e indústrias, e impactando quase todas as

indústrias. A revolução tecnológica leva a uma mudança estrutural profunda

e é a raiz de cada fase de prosperidade da economia mundial.

Já quando a inovação é abordada como um processo, os autores destacam a

forma como as organizações inovam, ou seja, quais as atividades que são realizadas até

que uma inovação aconteça. TIDD et al. (2005 apud LOPES, BARBOSA, 2008)

indicam que o processo de inovação consiste na identificação das necessidades dos

consumidores, na formulação de estratégia de referência para a inovação, no

desenvolvimento ou aquisição de soluções, na prototipação, nos testes, na produção e na

disponibilização de produtos e serviços novos ou melhorados. SONG e MONTTOYA

(1998 apud VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012) e FREEMAN (1991 apud

VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012), uma inovação surge de uma invenção que

passou pela produção, pelo planejamento e marketing, sendo enfim difundida no

mercado. Percebe-se assim, que a inovação é vista como um processo gerenciável, que

envolve desde pesquisas (para identificar necessidades do mercado ou descobertas que

possam gerar inovações) até a comercialização no mercado de bens e serviços ou

implantação na organização.

Por fim, quando em relação aos tipos de inovação, a literatura diferencia

basicamente as seguintes categorias: inovação de produtos e serviços, inovação de

processos e operações, inovação em marketing, inovação em estratégia, e inovação

organizacional e gerencial (OCDE, 2005), divisão que é sustentada de modo semelhante

por diversos autores, tais como Tidd et al. (2005), Tigre (2006), Hamel (2007) e

Birkinshaw e Mol (2006) (LOPES, BARBOSA, 2008).

O Manual de Oslo (OCDE, 2005) define inovação de produto e serviço como a

"introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que

concerne a suas características ou usos previstos", incluindo "melhoramentos

9

significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares

incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais".

Inovações em processos e operações se referem às mudanças nas tecnologias de

produção e entrega de bens e/ ou serviços (OCDE, 2005), podendo envolver

modificações nos equipamentos ou na organização da produção, ou uma combinação

dessas mudanças.

A inovação em marketing, por sua vez, é a implantação de novos métodos de

marketing, abrangendo: mudanças no design do produto, mudanças em seu

posicionamento, mudanças em sua promoção e colocação no mercado, e mudanças nos

métodos de estabelecimento de preços dos bens e serviços (OCDE, 2005).

A inovação também pode ocorrer no âmbito das estratégias e compreende a

introdução de novos modelos de negócios que alterem aspectos como cadeia de

suprimentos, proposição de valor e cliente alvo (LOPES, BARBOSA, 2008).

Por fim, as inovações podem ocorrer na gestão e nos formatos organizacionais,

ou seja, estão relacionadas à criação ou adoção de novidades na gestão e organização do

trabalho. Autores afirmam que a inovação organizacional está relacionada a novidades

nos princípios, políticas, práticas, processos, conhecimentos, métodos e técnicas de

gestão. TIGRE (2006 apud LOPES, BARBOSA, 2008) sustenta que são essas

inovações que, em última instância, permitem que a organização aproveite as inovações

tecnológicas, ajustando-se ao contexto.

Para finalizar esse tópico, discutiremos a definição de Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D), uma vez que a mesma é muitas vezes confundida com a

própria inovação. De acordo com o Manual de Frascati (OCDE, 2013), a P&D é uma

das atividades de inovação, e compreende as diligências científicas, tecnológicas,

organizacionais, financeiras e comerciais que são destinadas à realização de produtos e

processos tecnologicamente novos ou melhores.

10

2.2. DETERMINANTES DA INOVAÇÃO E DA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO

Inicialmente, antes de apresentarmos os conceitos da literatura concernentes aos

processos de inovação e de difusão de inovação, é importante avisar que tais fenômenos

compreendem um amplo espectro de possibilidades, bem como vimos no tópico

anterior: inovações de produtos ou serviços, inovações organizacionais etc. Entretanto,

verifica-se que os autores, tipicamente, centram suas análises em inovações de produto

ou serviço e inovações de processo, ou ainda, basicamente em novas tecnologias.

Assim, iremos descrever as ideias centrais que caracterizam as abordagens clássicas

sobre a matéria, sendo que muitas dessas ideias podem ser extrapoladas aos demais

tipos de inovação.

2.2.1. Processo de Inovação

Os primeiros autores que se empenharam em compreender como se dá o

processo de inovação, tal como SCHMOOKLER (1966 apud GODINHO, 2003),

defendiam a perspectiva market-pull ou demand-pull, segundo a qual o impulso para o

aparecimento de inovações surge primordialmente de procuras manifestadas nos

mercados. Em outras palavras, segundo esse modelo a inovação é estimulada pela

procura.

Em um segundo momento, foi apresentado o modelo science-push ou scince and

technology push, defendido por autores como MOWERY e ROSENBERG (1979 apud

GODINHO, 2003). Nesse modelo a inovação não é verificada como uma resposta às

oportunidades que surgem no mercado, e sim como uma resposta às oportunidades

tecnológicas, ou seja, é empurrada por descobertas científicas. Os autores adeptos desse

modelo defendem que, ainda que haja uma demanda significativa do mercado por

determinada inovação, o estado dos conhecimentos científicos impõem restrições

muitas vezes intransponíveis à efetivação de determinadas inovações. Importante

ressaltar que, de acordo com tais preceitos, portanto, as invenções que precedem as

inovações surgem sem que haja necessariamente algum tipo de demanda prévia

manifestada pelo mercado, ou seja, as atividades relacionadas às invenções (pesquisas e

estudos) são iniciadas com razoável autonomia por parte dos cientistas, os quais

11

desempenham sua função para alcance de novos conhecimentos motivados apenas pela

curiosidade e não por estímulos provenientes da sociedade.

Na década de 70, FREEMAN (1979 apud GODINHO, 2003) realizou um estudo

em que comparou séries de patentes concedidas, publicações científicas, produção e

investimentos no setor químico pós Segunda Guerra Mundial. Observou que, em

determinados pontos do estudo, o modelo demand-pull é validado, enquanto em outros

momentos do trabalho, o modelo scince-push é mais coerente, e em outros, nenhum

padrão é identificado. O autor conclui então que perspectivas esquemáticas

demasiadamente simplificadas devem ser refutadas. No lugar dessas, deve-se abrir

espaço para uma visão mais aderente à realidade, porém mais complexa, onde as

inovações surgem da combinação de fatores science-push e demand-pull, no que ele

chamou de modelo interativo.

Em 1982, Rosenberg publicou um artigo em que discutia a relação de

causalidade entre ciência e tecnologia (que aqui podemos expandir para o conceito de

inovação) e se opôs à concepção tradicional de que a relação de causalidade ocorre

exclusivamente no sentido da ciência para a tecnologia. Indo de encontro a essa visão, o

autor sustenta que o conhecimento tecnológico, normalmente, precede o conhecimento

científico. O autor exemplifica: o estudo da ciência da física nuclear expandiu-se após a

fissão do átomo em 1938 e das posteriores aplicações militares na Segunda Guerra

Mundial. Em resumo, para Rosenberg é a demonstração do potencial econômico

existente em determinados avanços tecnológicos que determina o desenvolvimento de

áreas científicas. O autor alerta que tal fato, entretanto, não significa que a relação

tradicional de causalidade seja simplesmente invertida (GODINHO, 2003).

Alguns anos depois, em 1986, os autores Kline e Rosenberg apresentaram o

chain-linked-model, no qual é dado destaque ao feedback existente entre os estágios a

montante (P&D, fornecedores de bens e serviços etc) e a jusante (marketing,

distribuição, clientes etc), e às constantes interações entre ciência e tecnologia ao longo

de todos os estágios. O modelo foi representado esquematicamente na figura abaixo. A

seta pontilhada (próxima da base da figura) indica a sequência básica do processo de

inovação, baseado no modelo linear demand-pull. As setas indicadas com a letra “F”

são os ciclos de feedback entre fases justapostas. As setas com números arábicos são as

12

ligações em cadeia (que dão nome ao modelo) entre ciência (“Pesquisa”) e os

conhecimentos da organização que são aplicados ao longo do processo de inovação

(“Conhecimento”): as setas 1 representam a utilização de conhecimento acumulado da

organização no processo de inovação; a seta 2 indica que as atividades de pesquisa

foram realizadas de modo a complementar os conhecimentos da empresa; as setas 3 são

as aplicações diretas de ciência na prática da inovação; a seta 4 corresponde à

contribuição direta da ciência à fase inicial de invenção; por fim, a seta 5 representa a

utilização de inovações na própria pesquisa ou então demandas da sociedade por

pesquisas.

Figura 1: Modelo Chain-Linked-Model

Fonte: Adaptado de KLINE e ROSENBERG (1986 apud GODINHO, 2003)

Até então, os modelos propostos caracterizaram o processo de inovação como

uma dinâmica de aprendizagem que ocorre predominantemente dentro das fronteiras de

uma organização, incluindo interações com as atividades à montante e a jusante,

mencionando por vezes outros atores como os clientes, fornecedores e institutos de

pesquisa. Percebe-se, porém, que diversos fatores, apesar de externos à empresa,

influenciam fortemente o processo de inovação, mas não são incluídos nesses modelos.

Essa “falha” foi solucionada com a proposição do conceito de “sistema de inovação”.

A expressão “Sistema de Inovação” surgiu nos anos 80 do século passado, se

difundindo com Chris Freeman (1987) e Richard Nelson (1987; 1988) e ganhando

espaço nos anos 90 com as obras de Lundvall (1992) e Nelson (1993). Desde então, tais

13

autores passaram a ser referência e são amplamente citados pelos estudos posteriores

neste campo. O uso cada vez mais amplo da expressão pode ser percebido em função de

sua incorporação por instituições contemporâneas que focam o desenvolvimento

econômico, como o Banco Mundial e a OCDE (NETO, APARECIDA, CORNÉLIO,

WESENDONCK, 2013), além dos governos de diversos países, inclusive o brasileiro.

A OCDE (1997) define sistema de inovação como o resultado de numerosas

interações de uma comunidade de atores e instituições que influenciam o desempenho

das empresas e das economias e destaca que a importância desse sistema é medida pelo

seu poder de distribuição do conhecimento e pela sua capacidade de assegurá-lo aos

inovadores. No sistema de inovação, o núcleo ainda é a empresa. Ao redor da mesma

estão diversos atores com os quais a organização estabelece ligações de diferentes

naturezas, cuja quantidade e qualidade definem a densidade sistêmica. Há inclusive

ligações estabelecidas entre diferentes organizações.

O sistema de inovação, representado na figura abaixo, enriqueceu a análise do

processo de inovação na medida em que sugeriu um framework que considera fatores

que antes não haviam sido considerados, destacando alguns fatores que atuam

fortemente ao longo de todo o processo de inovação (GODINHO, 2002): Padrões de

interação entre empresas e seus fornecedores, clientes, consultores e demais

stakeholders; identificação dos aspectos das estratégias e das estruturas organizacionais

que contribuem para o processo de inovação; papel das instituições de P&D e das

universidades; identificação dos sistemas de educação e de formação profissional como

partes do sistema; relevância do sistema financeiro no financiamento das inovações;

compreensão do quadro legal e regulamentar; integração das políticas públicas no

quadro global de análise. Além disso, NELSON e NELSON (2002 apud

NEUBERGER, MARIN, 2013) ressaltam o importante papel desempenhado pelas

instituições informais (cultura, comportamento e hábitos) além das formais (regras, leis,

constituições, regulamentos, ou seja, tudo aquilo que possui o caráter de ser específico e

definido com precisão) na medida em que ambas compõem esse sistema e influenciam

mutuamente, determinando o ambiente onde as inovações irão desenvolver-se.

14

Figura 2: Sistema de Inovação

Fonte: Adaptado de OCDE (1998)

Ainda, FREEMAN (1995 apud NEUBERGER, MARIN, 2013), ao comparar o

desempenho tecnológico de países latino-americanos com o leste-asiático, destaca que a

interação entre diversos agentes institucionais, como o sistema educacional e a estrutura

tecnológica, foi primordial para o sucesso tecnológico japonês, caracterizado por

ultrapassar diversos países desenvolvidos. Nesse sentido, AVELLAR e OLIVEIRA

(2008 apud NEUBERGER, MARIN, 2013) apontam que a criação de redes de pesquisas

entre empresas, universidades e instituições de pesquisa é uma alternativa bastante

interessante para a redução dos riscos e incertezas inerentes à natureza dinâmica dos

sistemas de inovação e aos riscos e incertezas do ambiente econômico dos processos de

inovação. Por fim, CAVALCANTE e DE NEGRI (2013) concluem que a questão

fundamental está na articulação entre a produção científica, a produção tecnológica e, ainda,

com o sistema produtivo do país, argumentando que, segundo SUZIGAN,

ALBUQUERQUE e CARIO (2011), as universidades e os institutos de pesquisa

15

produzem conhecimento científico que é absorvido pelas empresas, e estas acumulam

conhecimento tecnológico, fornecendo questões para a elaboração científica.

Adicionalmente, NELSON e ROSEMBERG (1993 apud NEUBERGER,

MARIN, 2013) argumenta que a análise das políticas de inovação será artificial se feita

separadamente das políticas econômicas, de educação ou, ainda, de segurança.

Contemporaneamente, CAVALCANTE e DE NEGRI (2013) afirmam que a formulação

de políticas de CT&I na maioria dos países tem se fundamentado no modelo sistêmico,

considerando a interação das instituições públicas e privadas, a infraestrutura de

pesquisa e das empresas, as políticas públicas e aparatos regulatórios relativos à

inovação e a propriedade intelectual.

Outro modelo interessante, que, bem como o sistema de inovação, aborda tanto

os fatores do processo de inovação como do processo de difusão da inovação, a ser

discutido no próximo tópico, é a abordagem proposta pela OCDE no Manual de Oslo de

1997. Nesse caso, a empresa é chamada de dínamo da inovação, o que dá nome ao

modelo. São destacados quatro domínios gerais que juntos conformam um sistema

nacional de inovação: as condições estruturais, a base de ciência e engenharia, os fatores

de transferência e o dínamo da inovação (OCDE, 1997).

Figura 3: Framework do Dínamo da Inovação

Fonte: Adaptado de OCDE (1997)

16

As condições estruturais correspondem à área externa à empresa que cerca as

suas atividades de inovação. Os elementos que o compõem são: estrutura da indústria e

ambiente competitivo; contexto legal e macroeconômico; instituições financeiras;

acessibilidade ao mercado; sistema de educação básica para a população em geral, o que

determina os padrões mínimos educacionais da força de trabalho bem como do mercado

consumidor.

A base de ciência e engenharia consiste em pilar básicos da inovação,

correspondendo às instituições que podem atuar como condutoras locais da inovação,

fornecedoras de pessoal qualificado para preencher as posições-chave, ou ainda como

fontes de consultoria especializada. É composta por: sistema de universidades e sistema

de treinamento técnico especializado; sistema de apoio à pesquisa básica; atividades

públicas de P&D, incluindo programas de financiamento; atividades estratégicas de

P&D (instituições e programas de financiamento dedicados ao P&D em áreas

estratégias ou tecnologias genéricas).

Os fatores de transferência são os diversos fatores humanos, sociais e culturais

que influenciam a comunicação dentro das organizações, as interações informais, a

cooperação e os canais de transmissão de informações. Inclui: as interações entre

organizações, formais ou informais, incluindo relações entre usuários e fornecedores,

relações entre empresas, agências e instituições de P&D e estímulos entre concorrentes

que levem as empresas a serem mais receptivas a inovações; o grau de mobilidade dos

cientistas e tecnólogos; interações internacionais; conhecimento codificado; ética,

sistema e valores da comunidade, confiança e abertura influenciam o ponto até onde as

redes, os elos e os outros canais de comunicação possam ser eficazes, afetando as

negociações informais entre os indivíduos.

Por fim, o dínamo da inovação, a empresa, está sujeita a um complexo sistema

de fatores internos que conformam à inovação praticada por ela. Dentre eles: a força de

trabalho da organização; sua estrutura; das facilidades de que dispõe como

competências e departamentos; sua estrutura financeira; sua estratégia; dos mercados

em que se insere; das alianças com outras empresas ou com universidades etc (OCDE,

1997).

17

2.2.2. Processo de Difusão da Inovação

Uma vez apresentados os principais modelos que versam sobre os fatores que

levam à inovação e influenciam o processo de inovação, discutiremos o processo de

difusão, o qual ocorre após a criação de uma inovação. Segundo o Manual de Oslo

(OCDE, 2005), difusão é o modo como as inovações se espalham, por meio de canais

de mercado ou não, a partir de sua primeira implantação a nível mundial para as

diversas empresas, mercados e países. Inclusive, segundo o Manual de Oslo, sem o

processo de difusão, uma inovação não terá qualquer impacto econômico.

Nesse sentido, GODINHO (2002) sustenta que a difusão permite transformar a

inovação de um acontecimento isolado no tempo e no espaço, em um fenômeno com

abrangência significativa no sistema econômico. A “destruição criativa” que

Schumpeter descreveu em 1978 constitui a essência da mudança de posições relativas

entre empresas, entre setores, ou até mesmo entre países. Após a introdução de uma

inovação, são postos em funcionamento mecanismos de aprendizagem, onde a inovação

pode ser difundida, dando início a um processo de compensação. Assim, enquanto a

inovação exerce um efeito desestabilizador, a difusão dos novos conhecimentos através

das demais empresas, setores ou países, exerce um efeito estabilizador, compensando o

distúrbio inicial causado pela inovação e assumindo um papel importante na mudança

tecnológica mundial.

Os autores que se debruçaram sobre o tema da difusão da inovação, tentando

entender como o processo de difusão ocorre, inicialmente o visualizaram por uma

perspectiva “epidemiológica” (GRILICHES, 1957; MANSFIELD, 1961 apud

GODINHO, 2003). Sob essa visão, a inovação expande-se de maneira rápida pelas

empresas em um primeiro momento até que atinge um ponto de inflexão, quando seu

ritmo de penetração é reduzido até alcançar um limiar máximo. Tal processo pode ser

representado pelo gráfico abaixo. Nesse modelo, os meios de informação permitem que

as organizações conheçam as vantagens e as desvantagens da utilização de uma

determinada inovação e assim decidir por adotá-la ou não. Desse modo, o fator

informacional é considerado o principal aspecto que permite a difusão progressiva da

inovação ao longo da totalidade das empresas potenciais.

18

Figura 4: Gráfico representativo do modelo epidemiológico de difusão da inovação

Fonte: Adaptado de ROGERS (1995 apud GODINHO 2003)

Um segundo modelo proposto em oposição ao epidemiológico é conhecido como

“modelo probit” (DAVID, 1969; DAVIES, 1979 apud GODINHO 2003). Segundo esse

modelo, após a criação de determinada inovação, a probabilidade de uma dada empresa

(pertencente à população de empresas com interesse pela inovação) adotar uma dada

inovação é tanto maior quanto maior for a dimensão dessa empresa (em termos de

produção, valor de mercado, número de empregados etc). Em um segundo momento,

após a relativa banalização da inovação e consequente barateamento, as unidades de

dimensão inferior poderiam adotar a tal inovação.

Atualmente, as teorias de difusão de inovação devem considerar outros aspectos

além daqueles pontuados pelos modelos epidemiológico e probit (GODINHO, 2003):

características da inovação (tipo de inovação; inovação radical ou incremental; grau de

mutabilidade/ estabilidade da inovação); características das empresas produtoras

(“oferta”) e das empresas adotantes potenciais (“procura”); quantidade e qualidade dos

fluxos de informação entre organizações (empresas, institutos de pesquisa e demais

atores envolvidos na inovação em questão); características do ambiente em que se

processa a difusão (infraestrutura física e de informação; qualificação do pessoal;

aspectos histórico-culturais etc).

19

2.3. O PAPEL DO ESTADO NOS PROCESSOS DE INOVAÇÃO E DE DIFUSÃO

DA INOVAÇÃO

Ao longo dos conceitos apresentados nos tópicos anteriores, já foi possível

identificar alguns pontos onde o Estado pode atuar como agente viabilizador e/ ou

estimulador da prática da inovação e da difusão da inovação. No presente tópico iremos

enumerar de maneira sucinta quais são as áreas de atuação às quais o governo deve estar

atento para estruturar um sistema de inovação adequado, conforme FONSECA (2001).

De maneira geral, podem-se categorizar as ações do governo no que tange a inovação

em ações diretas e indiretas, as quais veremos abaixo.

Ao estudarmos o conceito de sistema de inovação é possível perceber que o

papel do Estado é suscitado em diversos momentos, inclusive com uma postura

intervencionista. Segundo NEUBERGER e MARIN (2013), Freeman (1995) e Lundvall

(2004) reconhecem que o conceito de sistema de inovação foi bastante influenciado por

Friedrich List, economista segundo o qual as empresas nacionais não poderiam

desenvolver-se se o mercado já estivesse ocupado por empresas de países estrangeiros

economicamente mais avançados, justificando-se, nessas circunstâncias, um

protecionismo chamado por ele de “educador”: protege temporariamente o mercado

nacional para que, a médio prazo, possam concorrer com sucesso num ambiente onde

produtos estrangeiros circulam.

A ideia de base dos modelos de crescimento (assunto do tópico 2.4) é que os

fatores de produção privados estão sujeitos a rendimentos decrescentes, mas ao

considerarmos a despesa pública, em nível agregado, há o aumento da eficiência desses

fatores, os quais deixam de estar sujeitos a rendimentos decrescentes e podem

desencadear um processo de crescimento sustentado, no longo prazo. As políticas

governamentais e as instituições que constituem a infraestrutura de uma economia

determinam o investimento e a produtividade e, portanto, determinam a riqueza das

nações (ROMER, 2001, apud. SILVA, 2008).

SENNES (2008) defende que, como a atividade de inovação é uma atividade

incerta que envolve altos custos e riscos, mas que pode trazer grandes retornos e

benefícios para a empresa, a indústria e o país, tal atividade está entre aquelas que em

20

geral se credenciam para receber estímulos do governo por meio das políticas públicas.

O autor argumenta que até em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde há

uma forte orientação para os princípios do livre mercado e estruturas federais

descentralizadas, os governos são envolvidos ativamente no desenvolvimento de

políticas de estímulo a inovação e no apoio a estruturação de empreendimentos

inovadores, como foi o caso da Apple, em cuja trajetória, segundo MAZZUCATO

(2014 apud IEDI, 2014), é possível identificar três formas gerais de suporte estatal: (i)

investimentos diretos nos primeiros anos da empresa por uma companhia pública de

investimentos em pequenos negócios; (ii) acesso a tecnologias financiadas com recursos

públicos:

“As doze principais tecnologias integradas pela Apple em seus iPods, iPhones e iPads,

(...) resultam de suporte de instituições públicas e de suas redes de inovação(...):

microprocessadores (desenvolvidos com apoio da DARPA), micro hard driver storage –

microHD (apoiado pela DARPA e Department of Energy), telas LCD (National Science

Foundation, Department of Defense e National Institutes of Health), (...)”

(IEDI, 2014)

e proteção por meio de medidas fiscais, política de comércio exterior e política

tecnológica, além das compras governamentais que alavancaram as atividades da Apple

no mercado americano.

CASSIOLATO e LASTRES (2005 apud NEUBERGER, MARIN, 2013)

também ressaltam a importância do Estado como agente coordenador dos Sistemas

Nacionais de Inovação argumentando que cabe a este agente a tarefa de fomentar o

desenvolvimento produtivo e tecnológico e a expansão de setores estratégicos, além do

desenvolvimento e difusão de novas tecnologias através de atividades de P&D e do

apoio a redes de pequenas e médias empresas. SENNES (2008) complementa que

Estado e empresas possuem atuações diferem em relação aos investimentos em

inovação. O Estado dedica-se a investir em segmentos, atividades e setores de interesse

da sociedade, enquanto as empresas privadas investem em atividades que tenham

demanda e que lhes dêem lucros. Além disso, o Estado teria o papel de manter os

investimentos em inovação mais estáveis em momentos de instabilidade.

21

2.3.1. Ações Indiretas

Ações indiretas podem ser entendidas como aquelas por meio das quais o Estado

não age diretamente sobre o setor produtivo de inovações (empresas privadas,

instituições de pesquisa, laboratórios etc), não sendo, portanto, enquadradas como

política tecnológica. Apesar de serem indiretas, são de extrema importância ao efetivo

estímulo à criação e difusão de inovações, uma vez que compreendem as ações que

visam à criação de um ambiente propício para tal.

A. Ambiente Econômico e Político Favorável

O estabelecimento de um ambiente econômica e politicamente favorável é

importante para atrair investimentos de agentes econômicos nacionais e internacionais

tanto diretamente em inciativas de inovação como indiretamente, tornando o mercado

mais dinâmico e competitivo.

Nesse sentido, o Estado deve atuar para tornar estáveis as instituições legais, de

modo que as regras e as instituições não mudem com muita frequência. Isso porque

quaisquer incertezas que afetem o retorno esperado dos investimentos reduz o valor

presente do fluxo de benefícios previstos. Consequentemente, há desestímulo aos

investimentos uma vez que os investidores não possuem certeza suficiente de que

poderão auferir parte dos benefícios gerados para recuperar os custos incorridos e obter

lucro. Portanto, quanto maiores a estabilidade legal e política de um país, menor será o

risco em investir no país e maior será o incentivo ao investimento.

Além disso, fatores tais como alta criminalidade, corrupção, burocracia excessiva

e impostos elevados são exemplos de práticas que desviam os recursos da produção para

atividades não produtivas: os recursos que deveriam ser empregados em atividades

produtivas são desviados em razão de, por exemplo, roubo de material e pagamento de

impostos ou taxas abusivos; os empresários tendem a desviar recursos para o pagamento

de propinas, contratação de mais guardas de segurança, contadores e advogados a fim

de contornar as formas diretas de desvio. Portanto, o Estado deve prover um ambiente

econômico que minimize os desvios de recursos.

22

B. Direito de Propriedade Sobre as Inovações

Uma inovação é um bem não rival, ou seja, é um bem cujo uso por um indivíduo

não impede o uso por outro, mesmo que simultaneamente. A difusão de uma inovação,

ainda que não seja impossível de ser evitada, é dificilmente controlada pelo seu criador.

Assim, pode-se dizer que, de maneira geral, o custo de produção de uma inovação é

relativamente alto enquanto o custo de replicação dessa ideia é praticamente zero ou, no

mínimo, bem menor que o seu custo de produção inicial.

Essas características da inovação (não rival e não exclusividade), inicialmente,

desestimulam sua produção. Uma alternativa é o produtor manter em segredo a forma

de reprodução da inovação, de modo a manter seu poder de monopólio sobre a mesma,

podendo estipular um preço que remunere o custo de criação. Apesar de ser possível

encontrar casos de sucesso, como é o caso da Coca-Cola, essa alternativa é difícil de ser

executada na prática porque os concorrentes executam diversas atividades para

contorna-la: espionagem industrial; análises químicas e físicas; desmontagem etc.

Sendo assim, percebe-se um importante papel do Estado no sentido de garantir

os direitos de propriedade sobre a inovação, tornando-a um bem de uso exclusivo por

meio do mecanismo de patentes e de propriedade intelectual. Assim, o inventor, que

passa a dispor de poder de monopólio, pode cobrar um preço pelo uso da ideia,

permitindo a geração de uma remuneração mais do que suficiente para cobrir os custos

de desenvolvimento. Dessa maneira, a perspectiva de auferir lucros surge como o

principal incentivo para o desenvolvimento de inovações.

NORTH (1981 apud FONSECA, 2001) sustenta que a principal razão do baixo

ritmo de inovação tecnológica pré-revolução industrial foi a falta de um sistema de

direitos de propriedade sobre as inovações. A produção de inovações, assim como o

progresso tecnológico e o padrão de vida da população, passou a crescer de maneira

significativa apenas após tal sistemática ter sido estabelecida.

Dessa forma, é necessário não só uma legislação de propriedade intelectual e de

patentes apropriada, como também que os órgãos responsáveis pela emissão de patentes

e pelo respeito da lei sejam bem aparelhados e eficientes.

23

C. Política Comercial

Por outro lado, a criação do direito de propriedade sobre as inovações gera um

problema: o monopólio. Considerando que o monopolista não pode discriminar entre os

consumidores de maneira perfeita, a escolha do volume de produção do monopolista

será inferior ao socialmente ótimo. Adicionalmente, a criação de um monopólio seguro,

não contestável ou pouco contestável por causa do direito de propriedade, pode levar a

uma atitude de “passividade”: as empresas têm interesse em retardar a inovação com o

intuito de extrair um lucro maior dessa.

Em resposta a tal atitude, o Estado deve estimular um ambiente mais

competitivo, de modo a aumentar o custo da empresa em retardar a inovação. É

interessante notar o paradoxo aqui apresentado. Para incentivar a inovação o Estado

deve patrocinar a criação do direito de propriedade sobre as inovações, ou seja, a

criação de monopólios. No entanto, os monopólios tendem a reduzir a produção de

inovações. FONSECA (2001) sustenta que o segredo é calibrar corretamente tais

políticas, de modo a promover um ambiente fértil à criação e à difusão de inovações.

Em um primeiro momento, deve-se estar atento ao fato de que o processo de

inovação é estimulado pela competição entre as empresas e também entre os centros de

pesquisa e universidades. Dessa forma, o Estado deve promover um ambiente

econômico competitivo, coibindo a formação de cartéis, monopólio e a forte

concentração de mercado. Em segundo lugar, a entrada de produtos do mercado externo

acentua a competição no mercado interno e, consequentemente, estimula o processo de

inovação. Além disso, a importação permite o conhecimento pelos produtores e

consumidores de novidades, enquanto a atividade exportadora leva o produtor nacional

a outros mercados nos quais ele entra em contato com outras inovações, uma vez que o

mesmo deve estar atento às características dos produtos rivais, os custos e processos de

produção etc.

Desse modo, a política comercial do país deve buscar o livre comércio com o

intuito não só de auferir os benefícios inerentes ao comércio internacional, mas também

devido ao estímulo que este proporciona à atividade inovadora.

24

D. Capacitação

Inicialmente, vale explanar que o investimento em capital humano consiste no

desenvolvimento do nível de educação da população, devendo abranger todos os níveis:

básico, técnico e universitário. Segundo KIM (1998 apud FONSECA, 2001), o Estado

deve, antes mesmo de iniciar seu programa de industrialização, expandir seus

investimentos na educação. Destaca-se ainda o estímulo ao intercâmbio de

pesquisadores entre instituições domésticas e estrangeiras, práticas importantes para a

maior qualificação dos profissionais, bem como maior fluxo de conhecimento.

Vale ressaltar que, isoladamente, o capital humano passou a ser visto como

motor das etapas do crescimento econômico (PAIVA, 2001 apud SILVA, 2008) e

elemento chave na compreensão do crescimento econômico no longo prazo

(SCHULTZ, 1973 apud SILVA, 2008). Além disso, LUCAS (1988 apud SILVA, 2008)

considera o capital humano uma variável explicativa do crescimento econômico na

medida em que perfaz a qualificação da mão de obra, aumentando a produtividade dos

trabalhadores e, consequentemente, do processo produtivo.

Em adição, FONSECA (2001) sustenta que a capacitação de um país

compreende também o investimento em capital fixo (construção de centros de pesquisas

e/ ou universidades públicas). Similarmente, CAVALCANTE e DE NEGRI (2013)

argumentam que a pesquisa científica e tecnológica de excelência é função da

infraestrutura (instalações físicas, laboratórios, equipamentos etc.), a qual deve fornecer

aos pesquisadores os meios necessários para a realização de investigações de alto nível

em seus campos de atuação. Os dois acrescentam que uma infraestrutura de pesquisa

moderna e atualizada permite ainda a formação de recursos humanos qualificados.

FONSECA (2001) dá grande destaque também ao papel do Estado no sentido de

formular um aparato regulatório que estimule o uso eficiente dos recursos e a maior

interação entre as instituições públicas, instituições privadas, universidades e a

indústria: reduzir os obstáculos à formação de redes de instituições; promover parcerias

entre instituições públicas e privadas; remover os impedimentos de intercâmbio de

pessoal, de uso de equipamentos e de conhecimento. O autor explica que tal interação

aumenta o fluxo de conhecimento e auxilia na melhoria da qualificação dos

25

pesquisadores, além de reduz o custo de duplicação de esforços, aumentando a

produtividade da pesquisa. Sustentando tal discurso, CAVALCANTE e DE NEGRI

(2013) afirmam ainda que a intensidade e a qualidade da interação entre a infraestrutura

pública de pesquisa e as empresas é um elemento fundamental para o bom

funcionamento do sistema nacional de inovação.

E. Mudança de Paradigmas

Há aspectos culturais que podem influenciar o pensamento dos empresários e até

as políticas de incentivo à inovação, afetando negativamente o volume de inovações

desenvolvidas no país.

FONSECA (2001) defende que persiste uma distinção demasiadamente simplista

entre pesquisa básica e pesquisa aplicada. Essa atitude leva, por um lado, a formulação

de políticas que priorizam a pesquisa básica, enquanto o setor privado torna-se

desestimulado a associar-se a centros de pesquisa e universidades, prejudicando a

efetiva utilização das ideias produzidas na pesquisa básica Em adição, CAVALCANTI

& PEREIRA (2013) atribuem o baixo grau de inovação no Brasil, dentre outros

motivos, à ideia equivocada de que a pesquisa básica se faz na universidade enquanto o

desenvolvimento tecnológico e a inovação acontecem nas empresas.

Tal argumento é corroborado pelo autor GODINHO (2002), que afirma que a

visão linear do processo de inovação, tais como nos modelos demand-pull ou science-

push, na prática ela continua inconscientemente presente em muitos aspectos, sendo ela

muitas vezes detectada em medidas e programas direcionados para a ciência, tecnologia

e inovação (CT&I). Dessa forma, deve ser estimulada a criação de arquiteturas diversas,

de modo a criar um ambiente adequado que aproxime as empresas, universidades e

instituições de pesquisa.

Outra falha apresentada por FONSECA (2001) corresponde à sistemática geral

de análise do custo/ benefício de um projeto de P&D, que desconsidera total ou

parcialmente a externalidade positiva (os conhecimentos gerados em uma pesquisa

podem ser usados em outras pesquisas; inovações geram crescimento sustentado da

economia etc) e que priorizam resultados de curto prazo. Assim, percebe-se o papel do

26

Estado no sentido de, por meio de suas atribuições, iniciar a aplicação, na prática, dos

mais atuais preceitos teóricos do tema de inovação.

2.3.2. Ações Diretas

De forma geral, o Estado pode intervir diretamente na produção de inovações das

seguintes formas: como produtor propriamente dito; por meio de subsídios a um projeto

privado (incentivos fiscal, financeiro ou creditício); e como demandante de inovações

(comprador).

As inovações são caracterizadas por externalidade positiva, uma vez que

aumenta a produtividade na produção de novas inovações. Toda atividade produtiva que

gera externalidade positiva produz, por definição, um benefício social maior do que o

privado, ou seja, maior do que o apropriado pelo produtor. Sendo assim já se percebe a

conveniência de uma intervenção do Estado no sentido de estimular essa atividade.

Quando o agente privado analisa o custo - benefício da produção de uma ideia,

realiza a comparação, obviamente, entre o benefício privado e o custo privado, sendo

que esse último é igual ao custo social. Dessa forma, o agente privado produzirá uma

quantidade menor que a ótima ou até mesmo deixará de produzir, ainda que o resultado

seja socialmente vantajoso (benefício social maior do que o custo social). Para eliminar

tal problema o Estado deve intervir subsidiando a produção de inovações de modo a

reduzir o custo de produção e/ ou aumentar o benefício privado. Importante notar que,

mesmo quando o inventor pode se apropriar do benefício gerado pela inovação em

razão da existência de patente, o benefício social continuará sendo maior do que o

privado. FONSECA (2001) conclui, portanto, que a criação de direitos de propriedade

estimula a produção de inovações, mas não tanto quanto seria socialmente desejado,

justificando a atuação direta.

Em adição, SENNES (2008) destaca que os investimentos em inovação possuem

um alto grau de incerteza, ficando fora na maioria das vezes do escopo do sistema

financeiro privado. Sendo assim, existe um espaço para a atuação dos Estados via

financiamentos a baixas taxas de juros, não-reembolsáveis ou subvenções.

27

Ainda, em algumas situações o elevado benefício social da inovação justifica a

atuação direta na produção e/ ou difusão de inovações. O Estado deveria produzir, ele

mesmo, a inovação ou subsidiar grande parte do projeto. Nesta situação encontra-se, por

exemplo, as pesquisas voltadas para o desenvolvimento de uma vacina para uma doença

altamente transmissível.

A pesquisa básica também aparece como candidata a receber apoio direto do

governo. Seu desenvolvimento é importante para a geração de novos conhecimentos e

seus benefícios são, em geral, de difícil apropriação individual, além de que tendem a

apresentar elevados custos, incertezas e tempo de gestação. Deve-se ter em mente,

entretanto, a ressalva de que os recursos públicos destinados à pesquisa básica devem

sê-los em razão dos elevados benefícios e do baixo grau de exclusibilidade

(possibilidade de impedir alguém de ter acesso), e não por ser este tipo de pesquisa

considerada superior à pesquisa aplicada, como defendido no tópico anterior (2.3.1.

Ações Indiretas - E. Mudança de Paradigmas) (FONSECA, 2001).

Nesse sentido, e com relação aos países em desenvolvimento, KIM (1998 apud

FONSECA, 2001) ressalta que os “fazedores de política” desses países geralmente

subestimam a importância da capacitação do país em fazer pesquisa básica. Ele lembra

que a pesquisa básica em países em desenvolvimento não é designada a criar novas

tecnologias que os levem a competir com os países desenvolvidos. Em vez disso, ela

promove uma “janela de oportunidade” para que as novas economias industrializadas de

segunda linha (second-tier NICs) alcancem as de primeira linha (first-tier NICs), num

processo chamado catching up.

Além disso, de acordo com ROMER (1987 apud FONSECA, 2001), a

participação do Estado por meio de políticas de fomento à P&D serve como o grande

motor para o crescimento das nações. O autor explica que quanto maior for o

conhecimento gerado, mais rápido se dará o crescimento da economia e, dessa forma, os

países mais avançados vão se distanciar cada vez mais dos menos desenvolvidos caso

não haja uma forte política de incentivo à inovação nesses últimos.

28

2.4. INOVAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO DE UM PAÍS

Para iniciar a discussão e ilustrar a importância do progresso tecnológico,

voltemos ao ano de 1798, quando Thomas Malthus publicou o Ensaio sobre a

População, onde apresentou a tese de que, em decorrência da existência de fatores de

produção finitos e da produtividade marginal decrescente do fator trabalho, o

crescimento da população não seria acompanhado pela produção (MALTHUS, 1983

apud CASTRO, CARVALHO, 2008). Como consequência, a civilização estaria

condenada a pestes e guerras, que serviriam à função de reequilibrar produção e

população, isto é, recuperar o padrão de vida.

Porém, Malthus não considerou em sua tese a significativa transformação que

estava se iniciando na economia e que foi denominada Revolução Industrial. Graças à

Revolução Industrial, à medida que a população crescia, o mesmo ocorria com o

estoque de capital, evitando a redução da produtividade marginal do trabalho. Ainda

mais importante foi a sucessão de novos produtos e processos de produção que foram

sendo introduzidos na economia, fazendo com que a produtividade do trabalho e do

capital crescesse significativamente desde então. Ou seja, não só a produção não

cresceu menos do que a população, como o significativo crescimento das inovações

possibilitou que ela crescesse bem mais rapidamente. Por conseguinte, o padrão de vida

da população melhorou consideravelmente durante os anos que se seguiram.

A importância da inovação tem sido retratada teórica e empiricamente há vários

anos. Na obra fundadora da ciência econômica, em 1776, Adam Smith já explicava o

progresso econômico pelas possibilidades de aumento de produtividade que a

especialização e simplificação das funções produtivas permitiam, tanto diretamente,

pelo aprendizado pela experiência do trabalhador, como indiretamente, já que a

simplificação de tarefas era o primeiro passo para sua mecanização (CASTRO,

CARVALHO, 2008).

De acordo com CASTRO e CARVALHO (2008), o progresso técnico e o

aumento da produtividade foram o tema central das primeiras décadas de

desenvolvimento do que era então chamado de economia politica, a qual se debruçava

sobre a organização da provisão de bens nas cidades. Contou com diversos autores:

29

Adam Smith, John Stuart Mill, David Ricardo, Karl Marx, dentre outros. Entretanto, ao

final do século, a noção de que a avanço técnico era central no crescimento de uma

nação foi amplamente abandonada com a emergência do paradigma neoclássico, o qual

versa sobre as adaptações de comportamento induzidas por pequenas mudanças no

contexto, mais especificamente, os autores passaram a se dedicar ao estudo de como o

indivíduo pode extrair o melhor resultado dos escassos recursos à sua disposição.

Nas primeiras décadas do século XX, o tema do progresso tecnológico foi

reintroduzido no pensamento econômico com Joseph Schumpeter em 1911, o qual

advogou a importância do processo de inovação para o crescimento do produto

defendendo que a inovação é a principal razão para os grandes saltos de crescimento

econômico na evolução da raça humana. Schumpeter declara ainda que apenas com a

inovação é que as nações podem dar os grandes saltos de crescimento permitindo sua

diferenciação frente aos demais países (VARELLA, MADEIROS e JUNIOR, 2012). A

figura do empresário inovador seria o agente da introdução de inovações, sejam essas

novas combinações de produtos, processos, mercados, fontes de aprovisionamento de

matérias-primas e de novas formas de organização da produção. Tudo isso, em síntese,

traria o que Schumpeter denominou de “destruição criadora”, cujo caráter perturbador

explicaria o progresso do capitalismo (CASTRO, CARVALHO, 2008). Vale citar ainda

que SCHUMPETER (1942) ressalta o papel da inovação institucionalizada em grandes

laboratórios produtores de soluções, e não apenas o empresário individualizado. Por

fim, em ambos os casos, os requisitos financeiros e o papel do crédito não se alteram,

continuando a ser a mola-mestra da engrenagem inovadora.

O lançamento da pedra fundamental por Schumpeter fez com que outros autores

se debruçassem sobre o tema inovação. Com o passar dos anos podem-se destacar o

surgimento de duas grandes vertentes: a evolucionária, cujos autores precursores são

Nelson e Winter (1974); e a neoclássica, que teve início com Solow (1957) e Swam

(1956) inicialmente tratando a inovação como um fator exógeno à função de produção,

e depois aprimorada por Romer (1986) e Lucas (1988) enquadrando a mudança

tecnológica como fator endógeno à função de produção (VARELLA, MADEIROS E

JUNIOR, 2012).

30

Figura 5: Resumo da evolução da literatura dos modelos de crescimento

Fonte: Adaptado de Varella, Medeiros e Junior (2012)

A teoria neoclássica teve início com Sollow (1956) e Swan (1956), autores que

desenvolveram modelos de crescimento que tratam a inovação como um fenômeno

exógeno à função de produção de um país. Em um primeiro artigo de Sollow (1956), o

autor apresenta um modelo teórico que sustenta o fato de que sem o progresso

tecnológico não há crescimento sustentado do produto per capita. Em um segundo

artigo, Sollow (1957) demonstra que o progresso tecnológico foi o maior responsável

pelo crescimento da economia norte-americana (VARELLA, MEDEIROS E JUNIOR,

2012).

A hipótese central do modelo de Sollow (1956) é a existência de rendimentos

decrescentes na acumulação do fator capital. A implicação disso é um crescimento nulo

no longo prazo. No interior do modelo de Sollow não se admite um eventual progresso

técnico que permitiria aumentar o volume do produto para um mesmo nível de insumo.

Sendo assim, o modelo não consegue explicar o crescimento de longo prazo a partir de

seus mecanismos, precisando recorrer ao progresso técnico exógeno, ou seja, um fator

exterior que aumenta a produtividade dos fatores de produção no longo prazo. Na

presença das inovações, as melhorias nas tecnologias compensam continuamente os

efeitos decrescentes sobre a acumulação de capital (JONES, 1979, apud. SILVA, 2008).

De acordo com VARELLA, MEDEIROS e JUNIOR (2012), a maior

contribuição de Sollow consistiu em explicar o crescimento da economia por meio da

mudança tecnológica apenas pelo fato de postular a sua existência. A identificação da

inovação era feita pode meio do resíduo explicitado na fórmula de Sollow (1957),

também chamada de “medida da nossa ignorância”, afinal, apesar de ter-se a ciência de

sua existência, não se sabia determinar como era sua dinâmica, ou seja, como surgia e

31

como levava ao crescimento da economia. Ainda, JONES (2000 apud SILVA, 2008) se

refere à inovação como “maná que caiu do céu”, no sentido de que, ao ser considerado

um fator exógeno, é como se surgisse na economia automaticamente, sem levar em

consideração outros acontecimentos que estejam afetando a economia.

Alguns anos depois, diversos autores tais como Arrow (1962), Uzawa (1965),

Shell (1967), Romer (1986) e Lucas (1988), desenvolveram a nova teoria do

crescimento, a teoria endógena, onde continuavam destacando o papel da inovação para

o crescimento de uma nação, entretanto a tratando como uma variável endógena.

ROMER (1986 apud SILVA, 2008) defendia que aqueles países que pretendam

aumentar a taxa de crescimento de seu produto per capita no longo prazo, ou seja, de

maneira sustentável, devem investir em políticas de incentivo à produção e à utilização

de ideias. A diferença desses modelos endógenos para os modelos exógenos está no

tratamento da variável inovação, na medida em que a consideravam como um fator

endógeno ao processo de crescimento econômico, ou seja, com base no comportamento

dos agentes econômicos, ou ainda com base no progresso tecnológico como resultado

de uma operação endógena ao sistema econômico. Isso quer dizer que os fatores de

crescimento são explicitados no modelo e sua origem e dinâmica são tentativamente

explicadas, deixando de ser uma caixa preta.

Os autores da teoria endógena destacaram o papel do “learnig-by-doing”, onde

se pode eliminar a tendência de retornos decrescentes do modelo neoclássico na medida

em que a experiência com a produção ou investimento contribui para o incremento da

produtividade. Também destacaram o processo pelo qual o aprendizado realizado por

um produtor incrementa a produtividade de outro por meio de um processo de

transbordamento de conhecimento (spillovers of knowledge) (SILVA, 2008).

Outra ideia importante na literatura de crescimento endógeno é que o nível

tecnológico pode avançar não apenas por obra do acaso, mas sim ser função das

despesas com P&D, ou seja, por meio de uma forma deliberada de se incrementar o

nível tecnológico. Tais despesas são motivadas pelo poder de monopólio temporário

que a inovação permite (SILVA, 2008).

32

De acordo com VARELLA, MEDEIROS e JUNIOR (2012), o maior passo para

a “endogeinização” da inovação se deu com Romer (1986), que dividiu o capital

humano em tangível e intangível, sendo o conhecimento um bem que pode ser

acumulado de forma crescente por poder ser adquirido por qualquer outro ator

envolvido no processo de inovação a custo total zero.

Vale ressaltar que os modelos endógenos destacaram o papel de outros fatores,

além da inovação endógena, dentre eles o capital humano (estoque de conhecimento dos

agentes econômicos), acumulação de capital físico e arranjos institucionais (incluindo aí

a política governamental e a organização da sociedade civil) (SILVA, 2008).

Por fim, a teoria evolucionária tem como principais autores Nelson e Winter

(1982). Tal teoria utiliza os conceitos de Darwin como base para explicar as

transformações nas empresas. WITT (2008 apud VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR,

2012) faz uma analogia equiparando as rotinas empresariais aos genótipos da biologia,

enquanto que as decisões resultantes de cada rotina são os fenótipos da biologia. Dessa

forma, rotinas que não derivam em resultados satisfatórios vão sendo descartadas, ao

contrário das que geram crescimento (VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012)

Complementarmente, VESPARGEN (2000 apud VARELLA, MEDEIROS,

JUNIOR, 2012) defende que as empresas com melhores estratégias irão crescer

enquanto aquelas com piores estratégias tendem a perder mercado. SMITH (2005 apud

VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012) destaca, entretanto, que, ao contrário do que

ocorre na biologia, as “mutações” são direcionadas por estratégias específicas voltadas

ao lucro, enquanto na biologia as mutações são aleatórias e podem levar a uma melhora

bem como uma piora na adaptação do ser ao ambiente.

Na teoria evolucionária, como traduz Smith (2005 apud VARELLA,

MEDEIROS, JUNIOR, 2012), a natureza do crescimento é mais complexa e variável ao

longo do tempo, não podendo ser alterada facilmente apenas com investimento em

P&D, ao contrário do que é defendido pela teoria neoclássica. Argumenta-se que no

modelo evolucionário, a incerteza, a diversidade e dependência da trajetória a ser

seguida são elaboradas de maneira mais sofisticada e explicita que nos modelos

clássicos. O autor explana que a dinâmica da mudança tecnológica está sempre em

33

movimento, havendo momentos na economia em que há taxas mais altas de crescimento

tecnológico enquanto há redução dessa taxa em outros. Perez (2009 apud VARELLA,

MEDEIROS, JUNIOR, 2012) destaca que há uma interação intensa entre as esferas

econômica e tecnológica. Ainda, Fischer (2001 apud VARELLA, MEDEIROS,

JUNIOR, 2012) complementa que a corrente evolucionária tem como cerne de sua

teoria a dinâmica constante e a natureza sistêmica do processo de inovação e difusão.

Por fim, vale ressaltar a estreita relação entre os teóricos evolucionistas e o

conceito de sistema de inovação. Segundo NELSON e NELSON (2002 apud

NEUBERGER, MARIN, 2013), tal conceito surgiu em função da insatisfação dos

economistas evolucionários com o tratamento dado aos avanços tecnológicos pelos

neoclássicos, os quais consideram que as tecnologias eram determinadas por meio da

concorrência ex-post e, portanto, não desenvolveram a noção de que essas seguem um

processo evolutivo. Além disso, de acordo com LUNDVALL (2004 apud

NEUBERGER, MARIN, 2013), os sistemas nacionais de inovação são definidos em

termos evolutivos uma vez que indicam, dentre outros aspectos, o papel estratégico do

conhecimento e do aprendizado para o processo de inovação (learning-by-doing,

learning-by-using e learning-by-interacting).

Complementarmente, vale citar outros autores que destacam a inovação e o

progresso técnico como fontes do crescimento econômico. MADRID-GUIJARRO et al

(2009 apud VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012) apontam a diminuição dos ciclos

dos produtos e as rápidas mudanças da demanda como sendo fatores potencializadores

da busca das empresas por inovação como forma de alavancar seu crescimento e,

consequentemente, afetar o mercado local no qual está inserido. Seguindo o mesmo

pensamento, Hejis (2004 apud VARELLA, MEDEIROS, JUNIOR, 2012) declara que a

competitividade de uma nação depende da capacidade inovadora de sua indústria, sendo

a inovação uma habilidade que se desenvolve a passos gradativos. LEMOS (1999 apud

SILVA, 2008) destaca o papel das inovações radicais, que causam impacto na economia

e na sociedade como um todo e alteram para sempre o perfil da economia mundial,

impulsionando a formação de padrões de crescimento, com conformação de paradigmas

técnico-econômicos. NAKABASHI e FIGUEIREDO (2005 apud SILVA, 2008)

defendem que o progresso tecnológico é tido como o principal fator na determinação do

crescimento e nível de renda por trabalhador, no longo prazo.

34

2.5. SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS

Um Sistema Complexo Adaptativo (SCA) é definido como um sistema que surge

naturalmente com o tempo em uma forma coerente e que se adapta e se organiza sem

que se haja uma entidade que a controle deliberadamente (HOLLAND, 2005 apud

CHOI et all., 2001). Exemplos de SCA são empresas que competem entre si e que

geram certos padrões de mercado, ou configurações do tráfego de uma rodovia geradas

por veículos (CHAN, 2001).

Interpretações recentes dos SCA observam o seu comportamento por meio da

interação de três forças principais: os sistemas em si, e seus mecanismos internos; o

ambiente externo no qual ele se insere; e a co-evolução de ambos. Essa visão possui

raízes semelhantes à de análises da biologia evolutiva. O ambiente é o contexto externo

ao SCA, sendo formado por indivíduos e interconexões que não são pertencentes ao

dado sistema propriamente dito. A co-evolução se refere ao fato do ambiente e o

sistema reagirem um ao outro, havendo feedback a partir da cooperação e competição

do uso dos recursos compartilhados. Um exemplo que pode ser dado é de uma floresta

(ambiente) na qual há animais convivendo. A evolução e aumento da quantidade de

espécies torna possível o desenvolvimento e atração de outras novas espécies, desta

forma os indivíduos presentes no sistema interagem com o ambiente e o alteram

(WALDROP, 1992 apud CHOI et al., 2001).

Figura 6: As três forças dos Sistemas Complexos Adaptativos

Fonte: Elaboração Própria

Ambiente

Co-Evolução

Mecanismos

Internos

35

Cada uma dessas forças que constitui os SCA é composta de fatores que

caracterizam o sistema e que serão explicadas a seguir de modo que sejamos capazes de

identifica-las nos sistemas de inovação brasileiro, o que será feito no Capítulo 4. Na

imagem abaixo todos os fatores que compõem o esquema teórico dos SCA podem ser

observados. Em seguida iremos explicitar os conceitos e fundamentos de cada um

destes fatores.

Figura 7: Características dos SCA

Fonte: Elaboração Própria

2.5.1. Agentes

O termo “agente” é utilizado para referenciar as entidades que compõem o

sistema, e que participam do processo de mudança espontânea com ele. Porém, para ser

considerado um SCA, essas entidades precisam possuir o poder de intervir sobre o

sistema. Um rio, por exemplo, por mais que seja um sistema complexo não poderia ser

considerado um sistema complexo adaptativo, já que os seus constituintes não possuem

poder de interferência no ambiente (GIDDENS, 1984 apud CHOI et all., 2001).

A análise do que são os agentes de um sistema é dependente da escala utilizada

na análise, podendo ser indivíduos, equipes, departamentos ou empresas. Agentes

possuem diferentes níveis de conectividade, pelos quais informações e recursos fluem

(CHAN, 2001). Além disso, os agentes possuem schema, o que consiste nos valores,

MECANISMOS

INTERNOS

• Agentes

• Auto-Organização e Padrões Emergentes

• Conectividade

• Dimensionalidade

CO-EVOLUÇÃO

• Quasi-Equilíbrium e Mudança de Estado

• Mudanças Não Lineares

• Futuro Não Aleatório

AMBIENTE

• Dinamismo

• Visão Irregular

Relação Dinâmica

36

normas suposições e crenças que os influenciam (ARGYRIS e SCHÖN, 1978 apud

CHOI et all., 2001). Importante destacar que tal schema é único para cada entidade do

sistema, apesar poder haver diversas semelhanças na medida em que inserem-se dentro

de um contexto comum. Assim, os atores possuem, cada um, individualmente, seus

próprios valores, normas, suposições e crenças, além dos seus interesses e objetivos

individuais.

Vale ressaltar também que, por mais que cada agente do sistema seja único, o

sistema segue o princípio de Pareto, no qual alguns poucos fatores dominantes ditam o

comportamento geral e, consequentemente, os resultados do SCA (EOYANG, 1997

apud CHOI et all., 2001).

2.5.2. Auto-Organização e Padrões Emergentes

Em um SCA o comportamento do sistema não é definido por apenas uma das

entidades, mas pelo conjunto de ações de todas as entidades que ocorrem de forma

paralela e simultânea. As características que ilustram este fator fundamental do SCA são

a auto-organização e a emersão. Ou seja, o comportamento de um SCA é emergente,

com o surgimento de padrões, estruturas e propriedades novas em um sistema auto-

organizado sem que haja imposição de uma entidade única (ZIMMERMAN et al., 1998

apud CHOI et all., 2001). Este comportamento pode ser observado em sistemas sociais,

no qual simples comportamentos realizados localmente podem levar a um

comportamento global complexo (KELLY, 1994).

2.5.3. Conectividade

Os sistemas complexos adaptativos podem ser definidos como um conjunto

agregado de agentes e conexões, sendo que alguns comportamentos podem ser

explicados por teorias como as teorias de rede, dos grafos e estudos de redes sociais. O

nível de conectividade na rede determina parcialmente a complexidade da mesma,

sendo que, se não existisse conectividade, os agentes agiriam de forma independente e a

resposta agregada do sistema seria desestruturada e aleatória (DOOLEY e VAN DE

VEN, 1999 apud CHOI et all., 2001).

37

Inter-relações são definidas como redes de agentes que estão conectados de

forma contínua e que, conforme a conectividade aumenta, também aumentam (CHAN,

2001). Quando um sistema possui níveis baixos ou elevados de conexão, a quantidade

de inter-relações aumenta de forma devagar. Existe um valor crítico de conectividade

que fará com que as inter-relações mudem de forma drástica. Essa característica é de

grande importância, pois o nível de inter-relações de um sistema está diretamente

relacionado ao potencial de reação da cadeia com antecedência e ao potencial da rede de

comunicação entre os agentes de forma livre (CHOI et all., 2001).

2.5.4. Dimensionalidade

Dimensionalidade consiste no grau de liberdade que cada agente possui para se

comportar de forma autônoma (DOOLEY e VAN DE VEN, 1999 apud CHOI et all.,

2001). O nível de controle que é aplicado sobre os indivíduos é, dessa forma,

inversamente proporcional à dimensionalidade. Isso porque os controles possibilitam a

restrição das ações dos agentes e, assim, ocorre a consequente redução da complexidade

de um SCA, tornando os efeitos de mudanças mais suaves e previsíveis (CHOI, 2001).

Por outro lado, um aumento de controle inibe atividades criativas e inovações

resultantes dessas, o que impacta diretamente na emersão de novas ideias e estratégias

que fazem o sistema se adaptar às inúmeras mudanças ambientais que possam vir a

ocorrer. Quando menos controles são impostos e um maior grau de autonomia é dado

aos agentes a dimensionalidade é aumentada e os resultados ocorrem com variância

amplificada. Este modelo é usando em geral em ambientes com atividade criativa

(DOOLEY e VAN DE VEN, 1999 apud CHOI et all., 2001).

2.5.5. Dinamismo

Um SCA está sofrendo mudanças constantes. Isso porque um SCA é composto

de outros SCAs menores que sofrem mudanças e causam modificações nos outros

também. Essas mudanças podem ser tanto incrementais como mudanças estruturais

radicais. Podem ocorrer por uma inclusão ou exclusão de alguns agentes ou criando ou

excluindo conexões entre agentes. Outra maneira de gerar essas mudanças é por

38

mudanças no ambiente do SCA, que podem forçar mudanças no schema através de

novas regras e normas (CHOI, 2001).

2.5.6. Visão Irregular

Esse fator relaciona o dinamismo do SCA com a definição do ponto ótimo do

sistema. Em um ambiente em que o ponto ótimo não é de fácil localização devido ao

dinamismo dos sistemas e suas constantes mudanças, diz-se que o SCA pode visualizar

inúmeros pontos ótimos locais até visualizar o ponto ótimo global.

2.5.7. Quasi-Equilibrium e Mudança de Estado

Em um ambiente com circunstâncias habituais o sistema complexo mantém um

equilíbrio estável, no qual ele alterna entre a ordem e a desordem incompleta (Goldstein

1994). Este ponto de equilíbrio, chamado de “beira do caos”, no qual o sistema é

mantido em ordem e interagem com as mudanças qualitativas de seu ambiente (Lewin

1994). Neste ambiente de equilíbrio, quando desestabilizado, o SCA tende a retornar a

esse estado de equilíbrio.

No entanto, ao passo que mudanças no ambiente levem o SCA a pontos mais

distantes do seu equilíbrio, a sensitividade do SCA aumenta em relação ao ambiente,

podendo ocorrer mudanças significativa na estrutura dos sistemas de forma a alterar o

seu ponto de equilíbrio estável. Analogamente, pode-se dizer que um SCA é

metaestável com múltiplos estados de estabilidade (Goldstein 1994).

Um exemplo a ser dado desta característica é o de economias. A economia de um

país tende a se manter em um estado de equilíbrio, com flutuações sensíveis na oferta e

demanda, contudo à medida que o ambiente econômico passa por uma ruptura em

relação a seu ambiente econômico ou político o resultado pode ser catastrófico e levar a

um estado de equilíbrio com um padrão de comportamento diferente (como inflação

descontrolada) (Choi et al. 2001).

Por fim, cabe ressaltar que esse estado de equilíbrio difere daquele equilíbrio

neoclássico do estado estacionário.

39

2.5.8. Mudanças Não Lineares

Em um sistema complexo adaptativo é verdade que caso o comportamento futuro

do sistema queira ser previsto, a melhor forma de fazê-lo seria esperar para desvendá-lo

com o passar do tempo (Choi et al. 2001).Em sistemas complexos adaptativos, a sua

estrutura complexa de interações entre suas variáveis geram comportamentos não

lineares às mudanças que ocorrem.

Assim, mudanças de larga escala global podem causar mudanças de pequena

escala local e mudanças de pequena escala podem causar um impacto local de grande

escala. Dessa forma, não se pode afirmar que existe uma correlação direta entre o

tamanho da mudança e o resultado que é gerado (Guastello 1995).

2.5.9. Futuro Não Aleatório

O futuro não ser previsível não significa necessariamente que ele é aleatório.

Ainda que pequenas mudanças sejam capazes de gerar grandes resultados, padrões de

comportamento podem ser identificados em sistemas complexos adaptativos. Desta

forma, ainda que a capacidade de previsão do futuro seja limitada, análises de longo

prazo podem ser beneficiadas desta visão. Por exemplo, por mais que não se possa

prever o futuro de economias, pode-se perceber o padrão expansões e crises

econômicas.

40

3. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO

No presente capítulo iremos apresentar o Sistema Brasileiro de Inovação (SBI),

com destaque para as políticas em vigor, atuação dos principais agentes e dos

instrumentos de apoio à inovação no Brasil, indicando os processos históricos que

influenciaram a formatação dessa estrutura. Além disso, apresentaremos alguns

indicadores tradicionalmente usados para a avaliação da inovação e, em seguida,

indicadores que consideram um espectro maior de fatores que impactam o desempenho

do país em termos de inovação. O conhecimento da atual conjuntura do SBI e de seus

atuais resultados é imprescindível para as análises que serão realizadas no próximo

capítulo. Apenas compreendendo a composição e funcionamento do sistema de

inovação brasileiro é que seremos capazes de identificar possíveis pontos de

alavancagem do mesmo.

Vale ressaltar que o estudo de qualquer sistema de inovação deve ser feito a

partir do entendimento das especificidades de cada recorte em questão. No caso do

presente trabalho, não devemos negligenciar as características específicas do SBI e sua

formação histórica. Isso porque o estado atual de um determinado sistema tem suas

raízes em um longo processo histórico e, portanto, os resultados de quaisquer alterações

que sejam feitas serão influenciadas por essa trajetória, ou seja, é possível identificar

uma forte dependência de trajetória (path dependence), de modo que a simples

replicação de arranjos de outros sistemas de inovação mostra-se insuficiente para o

desenvolvimento efetivo do SBI (SBICCA-FERNANDES, PELAEZ, 2006 apud

NEUBERGER, MARIN, 2013).

“Quando se estuda um sistema nacional de inovação (SNI) que obteve êxito, podem-se

observar os elementos que contribuíram para este resultado. Mas a transposição pura e

simples desse modelo para outros países, regiões ou setores é impraticável, na medida

em que cada sistema apresenta características específicas que só se revelam ao longo de

um processo histórico de formação.”

(SBICCA E PELAEZ, 2006 apud NEUBERGER, MARIN, 2013)

Vale destacar, a fim de justificar o recorte dado no presente trabalho, que,

segundo SBICCA-FERNANDES e PELAEZ (2006 apud NEUBERGER, MARIN,

41

2013) os estudos de sistemas de inovação podem ser feitos em diversas esferas:

nacional, regional, municipal etc. O âmbito nacional geralmente é o escolhido para a

análise, e será o foco dado nesse trabalho, pela facilidade de os agentes que compõem o

sistema possuírem o mesmo ambiente nacional e normas em comum, além de o estudo

de um país oferecer informações fundamentais sobre o ambiente em que se dá a inovação,

permitindo uma análise mais holística. Nesse sentido, podemos ainda citar NELSON e

ROSENBERG (1993 apud NEUBERGER, MARIN, 2013), os quais defendem que as

capacidades tecnológicas das empresas são, em grande medida, uma capacidade de

caráter nacional, sendo decorrentes de ações nacionais. Acrescenta-se que as análises de

sistemas de inovação são, em geral, feitas com o recorte nacional, o que facilita a

pesquisa realizada pelas autoras do presente trabalho.

Segundo SENNES (2008), as politicas mais relevantes para a criação de um

ambiente propício à inovação são: políticas industriais; políticas de comércio exterior

(importação e exportação); políticas de fomento e financiamento; políticas de competição e

regulação, incluindo as de propriedade intelectual; políticas de apoio às pequenas e médias

empresas (PMEs); políticas de educação; e políticas de CT&I. O autor faz a ressalva de que,

apesar de estarem menos ligadas à inovação do que as políticas enumeradas anteriormente,

as políticas macroeconômica, fiscal e monetária devem ser elaboradas de modo a não se

tornarem fatores limitadores do desenvolvimento das inovações. Sendo assim, ao

descrevermos o SBI, iremos percorrer os diversos âmbitos relacionados a essas políticas,

claro, considerando relevância e impacto gerado.

42

3.1. HISTÓRICO DO SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO

Durante o período colonial, foram estabelecidas condições que atrasaram a produção

industrial, científica e tecnológica em território brasileiro. Segundo GOMES (2014),

Portugal fixou austeras restrições ao desenvolvimento de quaisquer indústrias ou cultivos de

produtos que fossem produzidos na Europa e em 1785 foi imposto o Alvará de 5 de janeiro

de 1785, que proibia drasticamente as fábricas, indústrias e manufaturas no Brasil colônia.

Em 1808, a Família Real mudou-se para o Brasil, trazendo consigo um diferente

direcionamento para o desenvolvimento industrial no território brasileiro. Em 1808, o

Príncipe Regente D. João VI abriu os nossos portos às nações amigas e revogou o

Alvará de 1785 (GOMES, 2014). Além disso, foi possível dar os primeiro passos no

sentido da formação de competências científicas no país com uma primeira fase de criação

de instituições de ensino e pesquisa (ALMEIDA, 2014). No ano seguinte, por meio do

Alvará de 28 de janeiro de 1809, considerado o primeiro marco legal da propriedade

industrial no Brasil, iniciaram-se diferentes ações voltadas ao desenvolvimento

industrial, dentre elas: isenção de direitos à importação de matérias primas, isenção de

direitos à exportação de produtos manufaturados, e a concessão de privilégios aos

inventores e introdutores de novas máquinas.

Os pesquisadores pontuam os primeiros sinais da industrialização no Brasil

apenas na década de 1840, e a atribuem à Tarifa Alves Branco (redução severa das

tarifas alfandegárias visando iniciar o desenvolvimento da indústria nacional). Apesar

de sua pequena duração, a Tarifa Alves Branco deu origem a pequenas manufaturas,

sem maior importância no contexto econômico do país. E após o início da República em

1889, o desenvolvimento da agricultura do café estimulou o crescimento da indústria

diretamente relacionada ao café (ALMEIDA, 2014).

Em 1883, o Brasil assinou a Convenção da União de Paris (CUP) juntamente

com outros 11 países (Bélgica, Espanha, El Salvador, França, Guatemala, Itália,

Holanda, Portugal, Sérvia e Suíça). Esse acordo estabeleceu os requisitos mínimos

relacionados à proteção da propriedade intelectual. E em 14 de abril de 1891, foi

estabelecido o Acordo de Madri que versava sobre a interpretação, aplicação e

procedimentos de direitos inerentes à Propriedade Industrial. Após essas convenções, o

43

sistema de propriedade intelectual e industrial brasileiro começou a se estruturar e em

1923 foi inaugurado um órgão governamental especializado em propriedade industrial

(atual Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – INPI).

A partir de 1930, teve início um esforço nacional de industrialização do Brasil,

por meio da substituição das importações. Apesar de ter sido observado um aumento da

participação da indústria na produção brasileira, durante esse processo de

industrialização, houve apenas aumento da produção e não da produtividade, uma vez

que os avanços técnicos não se fizeram presentes. Tal ausência pode ser explicada pelo

fato de o contexto mundial naquele momento estar marcado por um forte capitalismo

monopolista, o que impediu a dispersão de tecnologias estrangeiras no mercado

nacional (SBICCA-FERNANDES, 2004 apud NEUBERGER, MARIN, 2013).

A partir da década de 1950, percebe-se um esforço inicial do Estado brasileiro em

estimular a produção científica e tecnológica nacional a fim de alavancar a industrialização

do país. Por meio do Plano de Metas (1956 – 1960) foram criadas importantes instituições

como o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico em 1952 (BNDE), o Conselho

Nacional de Pesquisas em 1951 (CNPq), e a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior em 1951 (Capes).

Entretanto, o que se observou foi uma desarticulação entre a política econômica e a

política científica e tecnológica. Para GUIMARÃES (2002 apud CAVALCANTE, DE

NEGRI, 2013), a constituição do parque brasileiro de CT&I neste período foi fortemente

influenciada pelos modelos lineares de inovação na medida em que as ações de fomento da

Capes e do CNPq foram dedicadas ao atendimento das demandas dos pesquisadores,

descartando-se considerações adicionais sobre relevância ou priorização de áreas de

pesquisa.

CAVALCANTE e DE NEGRI (2013) afirmam que a evolução do entendimento

acerca da complexidade do processo de inovação estimulou, no final da década de 1960, a

criação da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Entretanto, os autores observam

que, apesar da FINEP ter sido criada com o intuito de integrar a pesquisa científica às

necessidades do mercado, sua atuação inicial foi basicamente voltada ao financiamento de

programas de pós-graduação nas universidades brasileiras, sem uma preocupação clara no

sua integração com os interesses e necessidades do mercado.

44

A partir da década de 1970, com os Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (PBDCT), iniciou-se uma articulação das metas e das ações na área de CT&I

aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). VIOTTI (2008 apud CAVALCANTE,

DE NEGRI, 2013) afirma, porém, que apesar de pontuais iniciativas de integração entre o

setor de ensino e pesquisa e o setor produtivo, na prática, prevaleceram as ações que se

apoiavam no modelo linear de inovação.

Durante a década de 1980, embora o reconhecimento da natureza sistêmica do

processo tenha provocado a evidente alteração do discurso e as políticas enfatizasse a

necessidade de articular um sistema nacional de CT&I, os instrumentos que a

operacionalizavam mantiveram um modo de atuação que privilegiava a relação

individualizada com os agentes (CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013). Além disso, diante

das baixas taxas de crescimento e alta da inflação, a década de 80 foi marcada pela posição

defensiva adotada pelas empresas e pelo governo, o que impediu avanços relevantes no

processo de desenvolvimento tecnológico (SBICCA-FERNANDES, 2004 apud

NEUBERGER, MARIN, 2013).

A partir da década de 1990, o Estado interiorizou a ideia da necessidade do

incentivo à inovação no setor produtivo. Nesse sentido, foi promulgada a Lei n°

8.661/1993, na qual foram estabelecidos os Programas de Desenvolvimento

Tecnológico Industrial (PDTI), além dos Programas de Desenvolvimento Tecnológico

Agropecuário (PDTA), os quais estabeleciam condições para a concessão de diversos

incentivos fiscais (CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013).

A década de 1990 também foi marcada por importantes avanços no que diz

respeito aos direitos de propriedade intelectual. Em 1994, após a Rodada do Uruguai,

foi assinado o Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights Agreement

(Acordo TRIPS), o qual, dentre outras coisas, reforçou a necessidade da harmonização

entre as legislações nacionais de propriedade industrial e estabeleceu padrões mínimos

de proteção que as legislações nacionais deveriam garantir e os procedimentos e

recursos que cada membro deveria prover para garantir os direitos de propriedade

intelectual (ALMEIDA, 2014). SENNES (2008) aponta que, embora o acordo TRIPs

desse um período de 10 anos para os países internalizarem as resoluções estabelecidas, a

45

opção do Brasil foi a de avançar rapidamente no tema e logo em 1996 foi promulgada a

Lei de Propriedade Intelectual Brasileira (9.279/1996). O arcabouço legal no Brasil no

campo propriedade intelectual é bastante completo e confiável, colocando o país entre

aqueles com melhor regulação no setor. Porém, a existência desse alto padrão

regulatório não garantiu a eficácia das atividades de propriedade intelectual no país,

com falhas no cumprimento integral das leis relacionadas.

Após as crises econômicas da década de 80, foram criados os Fundos Setoriais

de Ciência e Tecnologia no ano de 1999, os quais tinham o objetivo de superar a crônica

instabilidade da alocação de recursos para o financiamento do desenvolvimento

científico e tecnológico e, também, de constituir um mecanismo mais adequado de

financiamento às atividades tecnológicas voltadas ao setor produtivo.

Os Fundos Setoriais são administrados pela FINEP e, atualmente, existem

quatorze fundos específicos (Aeronáutico, Agronegócio, Amazônia, Aquaviário,

Biotecnologia, Energia, Espacial, Recursos Hídricos, Tecnologia da Informação,

Mineral, Petróleo e Gás Natural, Saúde, Transportes Terrestres, Telecomunicações) e

três transversais (Fundos Verde-Amarelo, voltado à interação universidade-empresa, de

Infraestrutura, destinado a apoiar a melhoria da infraestrutura de instituições de ciência

e tecnologia, e Audiovisual, destinado ao desenvolvimento das atividades

cinematográficas e audiovisuais). Porém, como se trata de recursos não reembolsáveis,

apenas as instituições de ciência e tecnologia, ou seja, universidades e institutos de

pesquisa, podem receber tais recursos.

Segundo SENNES (2008), desde o início dos anos 2000 novas políticas e

programas governamentais vêm estabelecendo um novo cenário para a geração de

inovações no Brasil. MENDES (2008 apud SENNES, 2008) afirma que o início dos

anos 2000 representou uma retomada da relevância das políticas industriais com um

novo foco na inovação e nos processos sistêmicos que a geram.

No ano de 2003, a promulgação da Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior (PITCE – vigente entre 2004 e 2008), foi um significativo passo

dado pelo Estado no âmbito da inovação. Com o objetivo de induzir a mudança do

patamar competitivo da indústria brasileira, o foco voltou-se à busca de uma maior

46

inovação e diferenciação de produtos e serviços brasileiros. A PITCE, que tinha três

objetivos principais (eficiência produtiva, exportações e capacidade de inovação e

desenvolvimento tecnológico) estabeleceu quatro setores prioritários (fármacos e

medicamentos, semicondutores, software e bens de capital) e colocou a questão da

inovação com uma conotação mais sistemática, com estímulo principalmente à

interação entre o setor produtivo e acadêmico. A partir de então novas leis e programas

foram lançados com intuito de fortalecer o sistema nacional de inovação brasileiro

(SENNES, 2008).

Podemos destacar: (i) Lei de Inovação em 2004 (Lei no 10.973/2004); (ii) a Lei

do Bem (Lei n° 11.196/2005); e (iii) o lançamento de diversos programas e chamadas

públicas para apoio a empresas pela FINEP (MORAIS, 2008 apud CAVALCANTE, DE

NEGRI, 2013). Além da reestruturação do INPI.

A Lei de Inovação (Lei n° 10.973/2004) ampliou o apoio às parcerias

universidade-empresa e à participação das universidades e centros de pesquisa no

processo de inovação, principalmente por causa da obrigatoriedade dos Núcleos de

Inovação Tecnológica (NITs – núcleo ou órgão constituído por uma ou mais Instituição

Científica e Tecnológica – ICT – com a finalidade de gerir sua política de inovação)

para qualquer ICT e da liberação do compartilhamento de laboratórios e equipamentos

entre ICTs e empresas. Além disso, a lei permite que recursos públicos não

reembolsáveis possam ser destinados às empresas (BRASIL, Lei n° 10.973, de 2 de

dezembro de 2004). Com isso, foi criado o programa de Subvenção Econômica, em

2006, coordenado pela FINEP, que visa à disponibilização de recursos para custeio das

atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas (CAVALCANTE, DE

NEGRI, 2013).

Em 2004, com a criação da Agência Brasileira de desenvolvimento Industrial

(ABDI), seguida da criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial

(CNDI) em 2005, buscou-se organizar uma engenharia institucional capaz de dar

coerência às ações propostas e encorajar a comunicação entre o setor público e o setor

privado (FERRAZ, 2009).

47

Reforçando os avanços da Lei de Inovação, foi promulgada, em 2005, a Lei do

Bem (Lei n° 11.196/2005), a qual autoriza a utilização automática de benefícios fiscais

para as empresas que invistam em P&D e estejam dentro das exigências, sem

necessidade de pedido formal. Essa facilidade amplia o estímulo aos investimentos em

atividades de inovação pelas empresas. O regime especial de tributação e incentivos

fiscais da Lei do Bem prevê, dentre outros: dedução do imposto de renda retido na fonte

(IRRF) e da contribuição sobre lucro líquido (CSLL) dos dispêndios com P&D; redução

do imposto sobre produtos industriais (IPI) na compra de máquina e equipamentos para

P&D; benefícios em subvenções econômicas concedidas em contratações de mestres ou

doutores empregados em empresas para realizar atividades de PD&I; e isenção da

Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (CIDE) para pagamento de

depósito de patentes (BRASIL, Lei n° 11.196, de 21 de novembro de 2005).

Como parte da PITCE, uma meta importante consistia na reestruturação e

qualificação do INPI como um escritório de referência. Para tal buscou-se sua inserção

efetiva no sistema nacional de inovação, a ampliação da interface com o setor industrial

e o setor acadêmico, e o aumento da eficiência nas atividades de recepção, análise e

registro de pedidos e recursos. Nesse sentido, buscou-se modernizar a administração,

ampliar as equipes e as áreas fins, além da criação de ferramentas para fortalecer os elos

do INPI com a sociedade, como a ouvidoria e os treinamentos de recursos humanos no

uso da propriedade intelectual (ALMEIDA, 2014).

Em 2007, dando continuidade ao objetivo de mudança do patamar tecnológico

brasileiro, foi lançado o Plano de Aceleração do Crescimento da Ciência, Tecnologia e

Inovação (PAC de CT&I) com o objetivo de articular cinco políticas e programas

(Plano de Aceleração do Crescimento e Infra-Estrutura, PITCE, Política de

Desenvolvimento da Agropecuária, Plano de Desenvolvimento da Saúde e o Plano de

Desenvolvimento da Educação) que levem à consolidação da política econômica e ao

crescimento econômico do Brasil. Dentre as prioridades do plano, estão: expansão e

consolidação do Sistema Nacional de CT&I; promoção da inovação tecnológica nas

empresas; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em 12 áreas estratégicas;

CT&I para o desenvolvimento social (SENNES, 2008).

48

Além das políticas e dos programas iniciados desde o início dos anos 2000, vale

destacar a criação de dois órgãos que reforçam a atuação do governo na tentativa do

desenvolvimento industrial e da inovação no país (SENNES, 2008). O primeiro órgão é

o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) criado em 2001 que, dentre outros

objetivos, realiza atividades de avaliação de estratégias e de impactos econômicos e

sociais das políticas, dos programas e projetos científicos, tecnológicos, de inovação e

de formação de recursos humanos; e promove a interlocução, articulação e interação dos

setores de educação, ciência, tecnologia e inovação com o setor empresarial (CGEE,

2014). O segundo órgão, criado em 2004, é a Agência Brasileira de Desenvolvimento

Industrial (ABDI) que atua como entidade de apoio técnico sistemático às instâncias de

articulação e gerenciamento da nova política industrial (Plano Brasil Maior) realizando

estudos conjunturais, estratégicos e tecnológicos para diferentes setores da indústria e

contribuindo para a construção de agendas de ação setoriais e para os avanços no

ambiente institucional, regulatório e de inovação no Brasil (ABDI, 2014).

Segundo FERRAZ (2009), apesar de ser possível verificar alguns movimentos

positivos em decorrência da PITCE, como o aumento dos investimentos em inovação,

são poucos os elementos disponíveis que permitem uma avaliação mais ampla dos

resultados da PITCE. Ainda, tal análise é dificultada pela existência de descasamento

entre os investimentos em P&D e seus resultados, os quais demoram mais a aparecer.

MÁRIO SALERMO (2008 apud FERRAZ, 2009) – ex-diretor de Desenvolvimento

Industrial da ABDI, entre 2005 e 2006, e um dos formuladores da PITCE – essa foi

importante, pois deu um primeiro passo para o alinhamento e a articulação das políticas

nos estados. Nesse sentido, a opção pelo lançamento de um documento em bases

genéricas, sem a especificação de metas, se deu forçosamente, haja vista a

impossibilidade de instrumentos no aparelho estatal para fazê-lo. Como será visto a

seguir, a “nova versão” da política passava a ter os meios mais adequados para o

anúncio de metas e objetivos mais claros.

Em 2008, foi lançada uma nova política industrial no Brasil, a Política de

Desenvolvimento Produtivo (PDP, vigente de 2008 a 2011), dando continuidade à

PITCE, porém com meios mais adequados para o anúncio de metas e objetivos mais

claros. Seu objetivo central era o de dar sustentabilidade ao ciclo de expansão da

economia brasileira, atacando quatro aspectos fundamentais: a ampliação da capacidade

49

de ofertar, a preservação da robustez do balanço de pagamentos, a elevação da

capacidade de inovar e o fortalecimento das micro e pequenas empresas (MPEs)

(FERRAZ, 2009). Dentre suas macrometas estão: a ampliação do investimento fixo

(ampliar a relação investimento / PIB de 17,6% registrados em 2007 para 21% em

2010); a elevação do gasto privado em P&D (elevar a relação P&D privado / PIB de

0,51% em 2005 para 0,65% em 2010); a ampliação das exportações (melhorar a

participação brasileira nas exportações mundiais da posição de 1,18% em 2007 para

1,25% em 2010); e dinamização das MPEs (aumentar em 10% o número de MPEs

exportadoras; elevar para 35% a proporção de MPEs industriais inovadoras). E dentro

de cada uma dessas macrometas, foram estabelecidas ações com suas respectivas metas.

Em 2011, o Plano Brasil Maior (PBM - vigente de 2011 a 2014) tem como foco

a inovação e adensamento produtivo para obter aumento da produtividade do trabalho.

Para tanto, tem como áreas de ação prioritárias: a desoneração de investimentos e

exportações, o crédito, o marco regulatório da inovação, a defesa comercial e os

incentivos fiscais para adensar cadeias produtivas. Dentre suas macrometas estão:

ampliar o investimento fixo em % do PIB de 18,4% em 2011 para 22,4% em 2014;

elevar investimento empresarial em P&D em % do PIB de 0,59% em 2011 para o,90%

em 2014; aumentar a qualificação dos recursos humanos (% dos trabalhadores da

indústria com pelo menos nível médio) de 53,7% em 2011 para 65% em 2014; ampliar

valor agregado nacional (valor da transformação industrial / valor bruto da produção) de

44,3% em 2011 para 45,3% em 2014; e elevar percentual da indústria intensiva em

conhecimento (valor da transformação industrial da indústria de alta e média-alta

tecnologia / valor da transformação industrial total da indústria) de 30,1% em 2011 para

31,5% em 2014.

Como parte do Plano Brasil Maior, foi aprovada em 2011 a Estratégia Nacional

de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI - vigente de 2012 a 2015), dando

continuidade e aprofundando o PAC de CT&I (2007 a 2010). A ENCIT prima pela

articulação da política de CT&I com as demais políticas de estado, além da integração

dos agentes. Além disso, a ENCTI foi elaborada de modo a sustentar as diretrizes do

governo federal. Dentre suas macrometas estão: a elevação do dispêndio nacional em

P&D em % do PIB de 1,2% em 2010 para 1,80% em 2014; o aumento da taxa de

inovação de 38,6% em 2008 para 48,6% em 2014; o aumento do número de empresas

50

que fazem P&D contínuo de 3.425 em 2008 para 5.000 em 2014; e dobrar o número de

empresas inovadoras que fazem uso da Lei do Bem para 1.260 em 2014. Dentre as áreas

prioritárias estão as energias renováveis e a aplicação da CT&I para o desenvolvimento

social.

Interessante notar que as políticas públicas de apoio à inovação focam, em geral,

o crescimento econômico e a competitividade internacional, ou seja, inovações ligadas

ao desenvolvimento dos setores empresariais. Porém, é cada vez maior a quantidade de

países que ampliam o escopo de suas políticas de inovação para a resolução de questões

sociais, como a equidade, urbanismo e pobreza, e questões ambientais, como redução da

poluição e melhorias no uso e geração da energia (LUNDVALL e BORRÁS, 2005 apud

SENNES, 2008).

Figura 8: Articulação da política de CT&I com as políticas de Estado e a integração dos atores

Fonte: Adaptado de < http://www.mct.gov.br/upd_blob/0218/218981.pdf >

Importante ressaltar que é possível identificar casos de sucesso no Brasil quando

se fala de integração entre os agentes do sistema de inovação. Três grandes exemplos

dessa tendência são a Petrobras - Empresa Brasileira de Petróleo, a Embrapa - Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária e a Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz. A Petrobras

é a segunda maior patenteadora brasileira e uma das empresas que mais investem em

P&D no mundo, sendo este investimento majoritariamente realizado em seu centro de

51

pesquisa (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello -

Cenpes), mas também em muitas atividades de parceria com universidades e institutos

de pesquisa. A Embrapa, por sua vez, além da pesquisa realizada nas suas unidades,

realiza também parcerias com universidades nacionais e internacionais, empresas

privadas e outros institutos de pesquisa. A Fiocruz possui 13 unidades técno-científicas

especializadas principalmente no desenvolvimento tecnológico de insumos para a saúde

e mantém parcerias com universidades e institutos de pesquisa para realização de

atividades de P&D (TAKAKI et al., 2008 apud SENNES, 2008).

MAZZOLENI e NELSON (2005 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013)

observam que, em todos esses casos, em sua constituição, essas instituições de pesquisa

públicas foram orientadas a uma comunidade de usuários e desenhadas para resolver

problemas relevantes de determinados setores de atividade, nos termos de.

GUIMARÃES (2002; 2006 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) explica que a

existência de demandas claramente definidas do setor produtivo contribuiu para que

estas iniciativas superassem o baixo grau de indução das políticas de CT&I, identificado

por.

Entretanto CAVALCANTE e DE NEGRI (2013) argumentam que cabe

investigar melhor o que explica o sucesso desses casos. Características distintivas do

sistema de inovação nestes setores em relação a outros arranjos setoriais talvez possam

explicar as diferenças do desempenho. Os autores também destacam que as

características da infraestrutura de pesquisa podem ajudar a entender as razões da baixa

interação entre a dimensão científica e a dimensão tecnológica no país. Mas estas

características não são conhecidas por completo, daí porque o Brasil carece de

levantamentos como os feitos pela União Europeia ou pela Austrália.

Diversos esforços são feitos no sentido de conhecer o Sistema Brasileiro de

Inovação em suas diversas esferas. Duas iniciativas interessantes para o presente

trabalho foram realizadas pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das

Empresas Inovadoras (ANPEI) e pelo Centro de Gestão de estudos estratégicos

(CGEE). O primeiro consiste na construção de um mapa geral representativo do atual

SBI, identificando os principais fluxos de interação entre os atores do sistema e

apresentar alguns casos de boas práticas de integração entre os agentes. E o segundo é

52

um quadro de atores selecionados do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia &

Inovação. O quadro pretende ser um instrumento para estimular a concretização de

acordos na área de CT&I, funcionando como uma ferramenta para facilitar a

compreensão, direcionamento e estabelecimento das relações políticas e comerciais

entre instituições para inovação. O primeiro encontra-se no Anexo 1, e o segundo pode

ser encontrado no endereço: http://www.cgee.org.br/quadro/MapaCTI_02jun10.pdf .

53

3.2. ALGUNS INDICADORES

Vamos observar agora a evolução de alguns indicadores relativos à atividade de

inovação no Brasil de modo a inferir já algumas conclusões acerca da efetividade do

sistema brasileiro de inovação. Nesse tópico serão destacados alguns indicadores que

são considerados diretamente ligados à atividade de inovação (tanto no sentido dos

esforços para inovação como de resultados de inovação), e, no próximo tópico, iremos

analisar um volume maior de indicadores, tanto direta como indiretamente ligados à

inovação, a fim de realizar uma análise sistêmica.

Em termos de investimentos em P&D, a política industrial PDP (2008 – 2010)

tinha como meta a elevação do gasto privado em P&D em relação ao PIB para 0,65%

em 2010. Em 2010, tal percentual foi de 0,58%, não alcançando, pois, a meta estipulada

no PDP. A meta da ENCTI (2012 – 2015), alinhada à política industrial Plano Brasil

Maior (2011 – 2014), é a de aumentar o dispêndio nacional em P&D como percentual

do PIB para 1,8% até 2014, e elevar o dispêndio privado em P&D como percentual do

PIB para 0,90% até 2014. Atualmente, o dado mais atualizado do Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação (MCT&I) apresenta para 2012 os percentuais 1,24% de

investimento nacional em P&D / PIB e 0,56% de investimento privado em P&D / PIB.

A média dos 10 países que mais investem em P&D (como percentual do PIB), de

acordo com o Global Innovation Index, é de 3,29% do PIB. Sendo que o país que mais

investe em P&D, Israel, apresenta 4,39% para esse indicador e a Suíça, país mais

inovador de acordo com o Global Innovation Index dedica 2,87% do PIB à P&D.

54

Gráfico 1: Dispêndio em P&D em Relação ao PIB (2000 – 2012)

Fonte: < www.mct.gov.br > Elaboração Própria.

Em relação à produção científica brasileira, podemos observar que, no período

cujos dados estão disponíveis, vem crescendo continuamente. Desde 2000 até 2012,

houve um crescimento médio anual de 25% na produção científica.

Gráfico 2: Número de Artigos Brasileiro Publicados em Periódicos Científicos Indexados pela

Scopus

Fonte: < www.mct.gov.br > Elaboração Própria.

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Percentual dos Dispêndios em P&D em Relação ao PIB

Total Dispêndios públicos Dispêndios empresariais

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

19961997199819992000200120022003200420052006200720082009201020112012

Número de Artigos Brasileiros Publicados

55

Gráfico 3: Percentual dos Artigos Brasileiro Publicados em Periódicos Científicos Indexados pela

Scopus em relação à América Latina e ao Mundo

Fonte: < www.mct.gov.br > Elaboração Própria.

Gráfico 4: Número de Patentes Depositadas no Brasil por Residentes e por Não-Residentes

Fonte: < www.mct.gov.br >. Elaboração Própria.

Por outro lado, em relação ao depósito de patentes, que, a despeito de suas

limitações, representa uma proxy da produção tecnológica, realizadas no Brasil, os

depósitos feitos por residentes brasileiros, de 2000 a 2012 cresceu apenas 2%

anualmente em média.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Artigos Científicos Brasileiros em Relação à

América Latina e ao Mundo

% do Brasil em relação à América Latina

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Patentes Depositadas no Brasil

Residentes Não-Residentes

56

Tal distanciamento entre os indicadores nacionais de produção científica e os de

produção tecnológica também é destacada por CAVALCANTE e DE NEGRI (2013). A

partir de 2006, os estudos brasileiros publicados em periódicos científicos internacionais

indexados ao Institute for Scientific Information (ISI) convergiram para a média

mundial, levando a participação do país na produção científica mundial a ultrapassar

2,5% no final da década de 2000. Entretanto, a participação do país nas concessões de

patentes depositadas no United States Patent and Trademark Office (Uspto) é da ordem

de 0,1% do total mundial. Ao longo de toda a série de dados disponíveis, o Brasil não

superou a marca de duzentos patentes por ano, contra alguns milhares da Coreia do Sul

no período mais recente. Os autores concluem, portanto que, embora os instrumentos

criados pela Estado buscando superar o modelo linear de inovação e adotar uma

perspectiva mais sistêmica, há indícios de que o modelo, em vários casos, tenha

permanecido “bipolar”, isto é, caracterizado por um polo nas universidades e centros de

pesquisa e outro no setor produtivo (CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013).

Também é interessante notar que o nível de articulação entre universidades e

empresas no Brasil ainda é bastante reduzido, apesar dos avanços observados na última

década e de alguns casos representativos de sucesso. Dados consolidados por DE

NEGRI et al. (2009 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) evidenciam que, em um

total de 13.433 projetos aprovados no âmbito dos fundos setoriais, somente 1.831

(13,6%) tiveram participação de empresas. Ainda que estes projetos representassem

35,1% dos recursos totais investidos, é evidente o ainda reduzido número de iniciativas

que envolvem o setor produtivo. Assim, apesar dos avanços recentes, as universidades

e, em particular, a infraestrutura de pesquisa no Brasil, em que pese sua importância e o

volume de recursos que movimentam, parecem carecer ainda de uma maior articulação

com a produção tecnológica e com as atividades de inovação no sistema produtivo

(CAVALCANTE, NEGRI, 2013).

CAVALCANTI & PEREIRA (2013) ponderam, ainda, a explicação para tal

reside em como é medida a produtividade dos pesquisadores brasileiros. A Capes, o

CNPq e os demais órgãos de fomento são orientados pelo número de artigos publicados

em revistas indexadas internacionais, desconsiderando quaisquer outros indicadores.

Por exemplo, há um incentivo financeiro fornecido aos pesquisadores que mais

publicam artigos, a Bolsa de Produtividade. Inclusive, os autores defendem que,

57

considerando o dispêndio médio feito pelo Brasil em P&D em relação aos

pesquisadores em tempo integral, o Brasil fica em segundo lugar entre os países que

mais investem em ciência, tecnologia e inovação. Com isso exposto, CAVALCANTI &

PEREIRA (2013) concluem que o problema não está na quantidade do investimento

feito na área de ciência, tecnologia e inovação, e sim na qualidade desse investimento,

uma vez que os pesquisadores são direcionados a transformar esse investimento

exclusivamente em artigos, ao invés de buscar por resoluções dos problemas vitais e

estratégicos para a nação.

Nesse sentido, ALBUQUERQUE (2003 apud CAVALCANTE, DE NEGRI,

2013) reafirma que a fraca integração entre a infraestrutura de pesquisa e o setor

produtivo no país é característica dos chamados sistemas de inovação imaturos, típicos

de países em posição intermediária, como o Brasil. Para o autor, esse padrão de

interação tem suas raízes históricas no “caráter tardio da criação das instituições de

pesquisa e universidades no país”, por um lado, e no “caráter tardio da industrialização

brasileira”, por outro.

Tal afastamento também pode ser observado a partir do gráfico abaixo, que

mostra o número de pesquisadores dedicados à P&D, muito maior no ensino superior do

que no setor empresarial, além do primeiro estar apresentando crescimento enquanto o

segundo apresenta até um leve decréscimo. O segundo gráfico explicita que o Brasil é o

país que mais tem pesquisadores alocados no ensino superior, enquanto países como

Alemanha, França, Japão e Coréia, conhecidos por seu potencial inovador (posições no

Global Innovation Index, respectivamente: 15°, 20°, 22°, 18°, dentre 142 países

avaliados) possuem seus pesquisadores majoritariamente localizados nas empresas.

Em relação a isso, CAVALCANTI & PEREIRA (2013) adicionam a estatística

de que 76,7% dos portadores de diploma de Doutorado brasileiros atuam na educação

enquanto que apenas 1,3% atuam na indústria de transferência de tecnologia. Os autores

explicam que os cursos de pós-graduação são organizados para formar pesquisadores

que atuarão, sobretudo, na própria universidade, além de estimular o aluno a publicar

artigos. E, observando dados relativos ao número de doutores atuando como professores

e pesquisadores nas universidades e doutores empregados em empresas, concluem que

grande parte dos doutores formados no Brasil estão desempregados ou subempregados

58

(exercendo atividades incompatíveis com sua formação e qualificação). Ainda, dos

profissionais empregados nas áreas de P&D das empresas, apenas 1,8% possui

doutorado. Ou seja, há um descompasso entre o número de doutores que se formam

todos os anos e o ambiente econômico e social que está sendo desenvolvido para

absorvê-los e a lógica que inspira essa formação, afinal, os doutores orientam sua

prática profissional para a produção de artigos e as empresas os veem como

profissionais que não possuem potencial para contribuir ao desenvolvimento de

inovações.

Gráfico 5: Distribuição percentual de pesquisadores em equivalência de tempo integral, por setores

institucionais, de países selecionados

Fonte: < www.mct.gov.br >. Elaboração Própria

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0

África do Sul (2009)

Alemanha

Arrgentina

Austrália (2008)

Brasil

Canadá

China

Cingapura

Coréia

Espanha

França

Itália

Japão

México

Portugal

Reino Unido

Rússia

Pesquisadores por Setor Institucional

Ensino Superior Governo Empresas

59

Gráfico 6: Pesquisadores Dedicados à P&D no Brasil no ensino Superior e no Setor Empresarial

Fonte: < www.mct.gov.br >. Elaboração Própria

A literatura sobre a constituição do sistema nacional de inovação no Brasil mostra

que, até fins do século XVIII, a ciência no país estava muito defasada em relação à América

espanhola. Segundo CAVALCANTE e DE NEGRI (2013), diversos autores percebem que

o caráter tardio da constituição do sistema brasileiro de inovação ajuda a explicar algumas

de suas limitações na atualidade.

ARBIX (2008 apud SENNES, 2008) ressalta que os desafios da inovação no

Brasil não se dão na baixa capacidade de recursos dos empreendedores, mas sim em

transformar e unir os diferentes esforços dos governos, universidades e empresas em

produzir bens tangíveis, serviços e processos. De acordo com o autor, isso ocorre em

função de um fraco poder de Estado, marcado pela ineficiência das instituições públicas,

e uma burocracia complexa que obstrui ações concretas e dificulta a coordenação das

iniciativas para a construção de econômica inovadora. Faz-se necessário uma melhor

coordenação das políticas, e não somente a criação de novas políticas. Contudo,

continua, a fragmentação natural de seu sistema de inovação torna difícil para o governo

coordenar ações por meio de vários grupos, diferentes agências e organizações na tarefa

de implementar as políticas de inovação do país. Corroborando com tal declaração,

CRUZ (2008 apud SENNES, 2008) observa que a falta de uma coordenação coerente e

legítima entre diversos atores é responsável pela fraca capacidade inovadora do Brasil.

0

50.000

100.000

150.000

200.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Pesquisadores Dedicados à P&D

Ensino Superior Empresarial

60

Ainda de acordo com ARBIX (2008 apud SENNES, 2008), uma solução

possível é a articulação das políticas e arranjos institucionais responsáveis por sua

coordenação. A proposta é a criação de hubs, networks e demais formas de grupos de

firmas conectados para a inovação. Tais arranjos devem ser flexíveis, desde locais,

regionais, setoriais ou por projetos; instituições governamentais seriam responsáveis

pelo apoio na articulação e geração de funding com a criação de entidades de jurídicas

de suporte; e autoridades locais (municípios, secretarias, órgãos regionais) devem ser

ativamente envolvidas nos processos.

Adicionalmente, ABRIX (2008 apud SENNES, 2008) destaca que outra ação

que auxiliaria o desenvolvimento da atividade inovadora no Brasil seria a formulação de

um plano para utilizar o pode de compra do Estado em gerar inovações. Além disso,

destaca que o Brasil nem sempre baseia sua performance nos mais altos padrões

internacionais disponíveis.

Importante ressaltar a influência do conceito de sistema de inovação nas

proposições de políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). FREEMAN e

SOET (1997 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) e RUIVO (1994 apud

GUIMARÃES, 2006 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) identificam a influência

dos modelos lineares entre a década de 1940 e meados da década de 1960, quando as

políticas de CT&I recaíam sobre a pesquisa básica, baseadas na crença de que a ciência

seria o motor da inovação. Nos vinte anos subsequentes, apesar do modelo linear ainda

prevalecesse, já era possível perceber que o direcionamento do processo de inovação

também era dado pelo mercado, e a ciência passou a ser vista também como uma

ferramenta para a competitividade. Por fim, em meados da década de 1980, as políticas

passaram a se basear em um modelo mais complexo e sistêmico, que associa a oferta

(ciência) com a demanda (mercado), prevalecendo prescrições voltadas à articulação

entre os diversos agentes envolvidos no processo.

Por fim, relevante destacar que, em 2012, apenas 787 empresas foram habilitadas

a usufruir dos benefícios fiscais da Lei do Bem (dentre as 1.042 empresas que enviaram

formulário). Apesar de esse número representar um aumento de 700% desde 2006,

quando da criação da lei, não podemos afirmar que é um número expressivo. Podemos

indicar como possíveis motivos: não clareza da lei (dificuldades no enquadramento dos

61

dispêndios em P&D, procedimentos confusos para a requisição das isenções etc) o que

acaba exigindo que as empresas utilizem consultorias para auxiliá-las nesse processo;

desconhecimento dos benefícios da lei; estima-se que, no Brasil, existam menos de

duzentas mil empresas que adotam o lucro real e mais de um milhão que optam pelo

lucro presumido, enquanto a lei beneficia apenas aquelas com lucro real. Da mesma

maneira, a Lei de Inovação não teve alcance expressivo (MEMÓRIA, 2012). Nesse

mesmo sentido, a FINEP carece de monitoramento dos projetos beneficiados (inclusive

para os sem reembolso), com vistas a assegurar a aplicação dos recursos nos fins

previstos (MORAIS, 2008).

62

3.2. ESTÁGIO DA INOVAÇÃO NO BRASIL

Neste capítulo as autoras têm como objetivo traçar o estágio de desenvolvimento

atual do Brasil em relação à inovação comparando-o ao mundo. Analisaremos um

conjunto amplo de indicadores de modo a obter uma compreensão global do estágio de

desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Inovação. Tal entendimento será importante

para o próximo capítulo na medida em que as proposições possam ser feitas diante de

um cenário mais completo de fatores a serem considerados, reduzindo as chances de

negligenciarmos aspectos que não tenham sido abordados ainda na revisão teórica ou no

histórico brasileiro de inovação.

A metodologia da análise será realizada de forma análoga a análise elaborada

pelo Global Innovation Index 2013, na qual os países são avaliados em relação aos

recursos (em um conceito amplo) dedicados à realização de inovações e em relação ao

que efetivamente é gerado em termos de inovação. É considerado também a eficiência

do país em converter estes recursos em resultados reais (eficiência em inovação). A

proposta do relatório é que os países sejam estudados de modo a avaliar o quão propícia

é a criação de inovações e o quanto de resultados ele consegue gerar para a sociedade

em termos de inovação.

O Global Innovation Index é uma pesquisa realizada por um grupo de

pesquisadores das instituições Johnson Cornell University, Insead Business School e a

World International Property Organization. O estudo avalia 142 países, os quais são

ranqueados de acordo com o valor obtido para o índice final (o Global Innovation

Index). A figura abaixo resume os fatores considerados pelo relatório. Os recursos são

divididos em cinco pilares e os resultados em dois, cada um subdividido em sub pilares,

os quais são, por sua vez, compostos por indicadores e/ ou índices de diversas fontes. É

calculado então um índice que traduza o nível e qualidade dos recursos aplicados (sub-

índice de recursos para inovação) e, analogamente, para os resultados alcançados (sub-

índice de resultados de inovação). O índice de eficiência em inovação é a razão entre o

índice dos resultados e o índice de recursos. E, finalmente, o índice global de inovação é

a média simples do índice de recursos e do índice de resultados.

63

Figura 9: Framework do Global Innovation Index

Fonte: Adaptado de Global Innovation Index 2013

Abaixo iremos explicitar os indicadores considerados em cada sub pilar a fim de

explicitar quais as informações consideradas pelo Global Innovation Index na sua

análise. Para mais consultas ao relatório, o mesmo pode ser obtido gratuitamente a partir

do endereço www.globalinnovationindex.org.

No ranking geral de países o Brasil obteve a colocação de 64º, tendo caído em

colocação nos últimos 2 anos (caiu 6 posições este ano e 17 desde 2011) e sendo o país

entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) que mais caiu colocações nos últimos

anos. Os países com colocação mais alta no ranking geral foram a Suíça (1º), a Suécia

(2º), o Reino Unido (3º), a Holanda (4º) e os Estados Unidos (5º), como pode ser

observado na tabela abaixo.

64

Tabela 1: Posição dos países no Ranking

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

RANKING

FINAL

RANKING

RECURSOS

RANKING

RESULTADOS

Suíça 1 7 1

Suécia 2 5 3

Reino Unido 3 4 4

Holanda 4 10 2

Estados Unidos 5 3 12

Finlândia 6 6 8

Hong Kong (China) 7 2 15

Singapura 8 1 18

Dinamarca 9 8 14

Irlanda 10 12 11

...

Brasil 64 67 68

A pesquisa divide os países em dois grupos de acordo com PIB e

geograficamente. Quando divididos em 4 subgrupos de PIB (alto, alto-médio, médio-

baixo e baixo) o Brasil foi classificado como alto-médio, não estando entre os 10

primeiros países do grupo em nenhuma categoria (Índice de inovação, Índice de

Recursos, Índice de Resultados e Razão de Eficiência). Os países que se destacaram no

grupo brasileiro foram a Malásia, a China, a Costa Rica, a Letônia e a Venezuela.

Quando comparado aos países da região da América Latina, o país ficou com na 8º

colocação.

O Global Innovation Index também classifica os países de acordo com quatro

estágios de desenvolvimento quanto à inovação: o primeiro, no qual um nível mínimo

de todas as entradas deve ser atingido para que a inovação se desenvolva de forma

eficiente em relação aos resultados; no segundo estágio melhoras marginais podem ser

vistas nas instituições, como no ensino superior, maior integração com o mercado,

maior sofisticação do mercado; no terceiro estágio todas as entradas do ambiente

65

melhoram com a maior integração entre todos os seguimentos da sociedade na

economia, maior produtividade e aumento dos salários, desenvolvimento das cidades,

regressão da corrupção e outros; no último estágio, os líderes em inovação estabilizam

os níveis de resultados e de recursos em um nível alto, limitado pela estrutura

demográfica ou tamanho do mercado (e não por um plano estratégico deficiente ou por

uma política falha). Ao final da análise de todos os indicadores Brasileiros quanto ao

desempenho de seus pilares seremos capazes de identificar em qual estágio de

desenvolvimento de inovações o país se encontra.

Indicadores relacionados à qualidade das inovações são importantes para o país

para controle e criação de estratégias de estímulo a inovação, tanto em relação aos

resultados quanto aos recursos. O Global Innovation Index seleciona dentre alguns dos

indicadores presentes nos subpilares como indicadores que refletem a qualidade das

inovações realizadas em um país. Uma análise a parte destes indicadores é importante

para que a qualidade dos recursos e resultados de inovação tenham seus desempenhos

discutidos. Os indicadores de qualidade são: a média da nota das três melhores

universidades do país em relação ao mundo no ranking QS (Quacquarelli Symonds)

(desta forma a acessibilidade a educação de alta qualidade pode ser medida, e não

apenas a média da qualidade de todas as universidades), a quantidade de famílias de

patentes inscritas em pelo menos 3 escritórios no mundo (patentes com potencial muito

inovativo em geral são registradas em mais de um país) e a quantidade de citações em

artigos que as publicações dos países receberam entre 1996 e 2011. Nestes indicadores o

Brasil ficou posicionado em 25º lugar, estando em segundo lugar no grupo que pertence

em relação ao PIB (dos de PIB médio). Isto indica que apesar de não conseguir uma

colocação alta em relação aos seus recursos e os resultados gerados de inovação, o

Brasil consegue recursos e resultados de maior qualidade em relação aos outros países.

O país possui excelente desempenho em alguns indicadores: citações em artigos

internacionais (22º) e média de ranking das 3 melhores universidades do país (24º).

Outra forma de analisar um país quanto ao seu potencial inovativo é quanto ao

desenvolvimento de áreas com alta concentração de organizações que promovem e

geram inovações, chamadas de ecossistemas de startups. O Global Innovation Index

também identificou São Paulo entre os 20 ecossistemas de startups do mundo, contando

também com o sul-americano Santigo no Chile. São Paulo coloca-se na média em

66

relação a recursos disponíveis de Venture Capitals, mas perde em habilidades e

expertise para as outras cidades. Na figura abaixo o posicionamento de São Paulo pode

ser observado.

Figura 10: Posicionamento dos Ecossistemas de Start-ups

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

Outro exemplo de cidade bem sucedida em seus esforços para atrair empresas

inovadoras é Porto Alegre, que irá receber o parque tecnológico da IBM (International

Business Machines), contribuindo para o reconhecimento do parque e atraindo outras

empresas inovadoras a criar centros de pesquisa no local. Isto é decorrente de um

esforço nacional em atrair empresas inovadoras a criar institutos em diferentes estados.

A fim de analisarmos o estágio de desenvolvimento atual do Brasil em termos de

inovação, o estudo do desempenho do país para cada um de seus pilares será realizado,

de modo que possamos enquadrá-lo em um dos 4 estágios de inovação e identificar os

pilares que necessitam de maior atenção por parte das instituições.

Todos os pilares estudados no Global Innovation Index podem ser observados

nos gráficos abaixo, onde está indicada a posição do Brasil em relação aos 142 países

participantes na pesquisa. As barras escuras são os pilares, e as barras mais claras são os

sub-pilares (que compõem os pilares).

67

Gráfico 7: Colocação dos Recursos Brasileiros no Ranking Mundial

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

Gráfico 8: Colocação dos Resultados Brasileiros no Ranking Mundial

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

O primeiro pilar, de Instituições, pode ser observado como aquele em que o

Brasil possui o maior gap entre os outros países da amostra, sendo este o que apresenta

a sua maior fraqueza. Isto pode ser notado principalmente em relação ao sub-pilar de

Ambiente de Negócios, estando entre os 3 últimos países de toda a amostra. O país

possui particularmente dificuldade nos indicadores de facilidade para abrir um negócio,

95º

67º 64º

140º

75º 78º

116º

33º

51º 44º

80º

47º

76º

107º

40º

81º

42º 53º 47º 42º

67° 59º 63°

86º 72º

49º

108º

55º

68

facilidade em pagamento de impostos e facilidade em resolver insolvência/ falência

(138º, 125º e 132º, respectivamente). Estes três fatores são importantes para a criação de

um ambiente no qual as instituições estimulem a criação de empresas e instituições

inovadoras. O complexo sistema de impostos brasileiro, com impostos que incidem

sobre receita e sobre o lucro, a insuficiente especificação de aplicação de impostos para

empresas que possuem inovações e a complexidade de elaboração de uma folha de

pagamentos com constantes mudanças na legislação tornam muito mais complicada a

possibilidade de abrir um negócio no país. A excessiva burocracia também é um

empecilho para criação de um negócio inovador, já que a complexidade e o longo

período necessário para abrir uma empresa podem tornar a inovação obsoleta ou

inviabilizar a abertura do negócio.

No pilar de Capital Humano e Pesquisa o país possui baixo desempenho

basicamente nos sub-pilares de Educação Primária e de Ensino Superior. Na Educação

Primária a colocação geral do país foi de 78º, com destaque para o baixo desempenho

em matemática, ciências e literatura no teste PISA (OECD Programme for International

Student Assessment) fez com que o país atingisse a colocação de 56º neste índice, além

de estar em 81º na relação alunos/ professor. Na Educação Superior a colocação geral

do país foi de 116°, sendo que o indicador em que o Brasil possui pior desempenho é o

de Alunos Graduados em Engenharia e Ciências com uma média de 11,3% (a média da

Suécia é de 25,4%, da Tailândia de 53,2% e 34,7% na China), sendo o 94º colocado.

Outra fraqueza é a Mobilidade Interna e as Inscrições Brutas nos cursos superiores, nos

quais o Brasil se coloca em 99º e 138º, respectivamente. Neste pilar o país mostrou

possuir um ponto forte no sub-pilar de Pesquisa e Desenvolvimento, no qual atingiu

colocação de 33º, se destacando no indicador da Média do Ranking das 3 Melhores

Universidades do País (24º).

Em infraestrutura o país atingiu a colocação de 51º. Sua colocação foi de 44º no

sub-pilar de TI, possuindo um ponto forte em Participação Online (31º). O país atingiu a

colocação de 80° no sub-pilar de Infraestrutura Geral, principalmente devido à

colocação nos indicadores Formação Bruta de capital (91º), Produção de Eletricidade

(67º) e Consumo de Eletricidade (67º). No sub-pilar de Sustentabilidade Ecológica o

país obteve uma colocação de 47º, tendo como ponto forte de seu desempenho o

indicador Performance Ambiental (29º).

69

No pilar de Sotisficação de Mercado o país obteve a colocação 76º, com baixo

desempenho no indicador Empréstimos de Microcrédito (72º), que representa apenas

0,1% do PIB. Já no sub-pilar de Negociação e Competição, o país obteve o 81º lugar,

possuindo uma alta média ponderada das tarifas aplicadas (7,6%), indicador no qual foi

o 105° colocado.

Em Sofisticação dos Negócios o Brasil obteve uma boa colocação em relação aos

outros pilares (42º), com seus principais pontos fortes presentes nesse pilar. Os

principais pontos fortes analisados são os indicadores Empresas que Oferecem

Treinamento Formal (52,9% das empresas, colocado em 22º), Nota Média no GMAT

(Graduate Management Admission Test) (26º), Estado de Desenvolvimento dos Clusters

(31º) e Importação de Produtos de Alta Tecnologia Subtraídos da Reimportarão (19º).

Em relação aos Resultados de Inovação gerados pelo país, que foram indicados

no gráfico anterior, no primeiro pilar de Saída de Tecnologia e Conhecimento há um

ponto forte em Citações em Artigos Internacionais (22º) que, como já observado

anteriormente, é um dos indicadores considerados para cálculo do índice de qualidade

das inovações do Brasil. Já no sub-pilar de Impacto do Conhecimento existem um ponto

fraco e um ponto forte da situação atual brasileira. O ponto fraco é o indicador de

Gastos com Softwares (58º) e o ponto forte é o indicador de Produção de Alta

Tecnologia e Alta-Média Tecnologia (22º). No sub-pilar Difusão do Conhecimento

destacam-se como fraquezas os indicadores Exportação de Serviços de Computação e

Informática (129º, com 1,4%) e Investimentos Brasileiros Diretos no Exterior (72º com

2,9% do PIB).

No pilar Saídas Criativas o país apresenta baixo desempenho nos indicadores

Exportação de Serviços de Audiovisual e Relacionados (62º, com 0,0% das

exportações) e Filmes Nacionais por População entre 15 - 69 anos (83º). E possui como

ponto forte o indicador Tecnologias de Informação e Comunicação e Modelos de

Criação, onde atingiu a 32ª colocação.

Uma vez estabelecida a atual situação do Brasil em relação aos seus recursos e

seus resultados e tendo em vista seus principais pontos fracos e fortes, deve-se então

70

analisar-se em que estágio o Brasil se encontra atualmente de desenvolvimento de

inovações e como seus pilares estão em relação ao patamar que devem estar para que

ele se torne uma potência em inovações.

Gráfico 9: Pontuação dos Pilares Brasil x Dez Líderes em Inovação

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

Gráfico 10: Diferença de pontuação entre Brasil, média dos 10 países líderes do ranking e média

geral

Fonte: The Global Innovation Index 2013; Elaboração Própria

36,3

53,8

30,3

37,2

44,9

38,0 40,8

26,5

37,2

31,8

60,53

91,01

58,83 56,38

76,74

55,04

67,60

50,52

56,38

53,45

GII Instituições Capital

Humano e

Pesquisa

Infraestrutura Sofisticação

do Mercado

Sofisticação

do Mercado

Recursos Saídas de

Tecnologia e

Conhecimento

Saídas

criativas

Resultados

Brasil Média 10 primeros Média

-24,2

-37,2

-28,5

-19,2

-31,8

-17,0

-26,8

-24,0

-19,2

-21,7

-1,1

-8,7

-2,4

3,7

-3,4

4,3

-1,4

-1,1

-0,5

-0,9

GII

Instituições

Capital Humano e Pesquisa

Infraestrutura

Sofisticação do Mercado

Sofisticação do Mercado

Recursos

Saídas de Tecnologia e Conhecimento

Saídas criativas

Resultados

Diferença da média Diferença entre 10

71

Quando o Brasil é comparado com os dez primeiros colocados no Innovation

Index, em relação às pontuações recebidas em todos os pilares, tanto de Recursos como

de Resultados, pode-se observar um alto delta de desempenho. Ainda que comparado

com a média geral de todos os 142 países da amostra, o Brasil encontra-se em posições

bem inferiores, como pode ser observado nos dois gráficos acima. Quando analisado em

relação ao Índice de Eficiência, o Brasil é inferior em 18,2% à média dos 10 líderes em

inovação. O fato do país estar com um desempenho inferior a média de toda a amostra e

sua distância em relação a pontuação dos países líderes em desempenho explicita a

deficiência do país quanto a recursos que permitam que ele produza eficazmente

inovações.

O fato dos recursos brasileiros serem deficientes na geração de um ambiente

propício às inovações pode ser observado também quando analisamos a sua produção

intelectual em comparação com o mundo em termos de propriedade intelectual.

Segundo a World Intellectual Property Organizations (2013) o Brasil encontra-se em

23º lugar (contando com patentes de brasileiros residentes e não residentes) em pedidos

de registro de patentes no banco mundial, em 21º em pedidos de registro de marca e 26º

em pedidos de registro de designs industriais em uma amostra de 93 países. Contudo,

das patentes requisitadas por brasileiros nos 20 escritórios mais produtivos (que

realizaram mais solicitações), 84% foram feitas por pesquisadores que não residem no

Brasil (e 87,1% em pedidos que são atendidos). Ou seja, a maior parte da produção

intelectual realizada por brasileiros se dá por aqueles que não realizam suas pesquisas

no país, o que reforça a visão de que um ambiente propício e com recursos

desenvolvidos contribuem para uma maior produtividade de inovações.

72

Figura 11: Pedidos de registro de patentes no mundo em 2012

Fonte: World Intellectual Property Organizations 2013

Outro aspecto que pode ser analisado o quão pouco produtivo o país é em

relação a criação de patentes. 84% dos pedidos de patentes são realizados por não

residentes, podendo-se concluir que ainda que haja uma quantidade superior de

escritórios que solicitem patentes no Brasil, estes não são capazes de apresentar a

eficiência e eficácia dos brasileiros que realizam pesquisa no exterior.

O brasileiros que não residem no país contribuíram em 4,7% para o crescimento

no número de patentes requisitadas por brasileiros de 2011 para 2012, enquanto os que

residem no país obtiveram uma contribuição de apenas 0,4% no crescimento. O número

é mais crítico na quantidade de patentes garantidas pela instituição, que apresentou

retração de 609 patentes garantidas. Dentre os países pertencentes ao grupo dos BRICS

(Brasil, China, Rússia, Índia, e África do Sul) que em 1995 possuíam o mesmo volume

de pedido de patentes, o Brasil foi o que menos cresceu junto à África do Sul (China

cresceu 25.000 pedidos, Índia em 8.500, Rússia em 5.000 e Brasil e África do Sul cerca

de 1.000). Em seus pedidos de patentes o país foi categorizado como especializado em

pedidos de químicos de materiais básicos, o que condiz com os maiores avanços

tecnológicos brasileiros sendo em áreas de agricultura e geração de energia.

73

Figura 12: Pedidos de registro de design industrial no mundo em 2012

Fonte: World Intellectual Property Organizations 2013

Na figura acima pode ser observada a aplicação de pedidos de design industriais,

também alavancada por brasileiros que não residem no país, que representam 44,3% do

total de pedidos.

Por fim, pode-se concluir que o estágio de desenvolvimento que o encontra-se é

o primero , no qual os seus recursos ainda precisam obter progresso para que atinjam

níveis nos quais o ambiente se torne propício para a criação de inovações. Os recursos

que são disponibilizados e usufruídos pela sociedade apresentam grande influência na

eficiência e efetividade dos centros de pesquisa para geração de inovações. Isto se torna

claro diante do fato de que os escritórios atuais, ainda que em maior quantidade em

relação aos estrangeiros, não são capazes de produzir a quantidade de registros de

patentes quanto os que são situados no exterior.

74

4. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO COMO UM SISTEMA

COMPLEXO ADAPTATIVO

No presente capítulo iremos contextualizar o Sistema Brasileiro de Inovação

como um Sistema Complexo Adaptativo. Iremos identificar as características teóricas

do SCA na prática do SBI. A partir dessa identificação, para cada uma das

características, levantaremos um aspecto a ser ponto de atenção do Estado brasileiro,

discutindo sua relevância para o desempenho do sistema como um todo.

Toda a revisão da literatura realizada, bem como o estudo do histórico de

formação do SBI e seus atuais resultados, serão usados como base para que sejamos

capazes de identificar esses possíveis pontos de alavancagem da atividade de inovação

no Brasil.

Vale lembrar que proposta do presente trabalho não é esgotar a análise do

Sistema Brasileiro de Inovação como um Sistema Complexo Adaptativo. O que

buscamos é incitar a aplicação de novas e diferentes ferramentas como instrumentos de

análise do Sistema Brasileiro de Inovação, instigando os atores do sistema a refletirem

sobre a dinâmica do mesmo com fins de apontar novos caminhos a serem traçados pelo

país.

Importante também retomar que, ao realizarmos tal paralelismo entre SBI e

SCA, busca-se não apenas aprofundar os conhecimentos sobre o SBI ou avalia-lo em

critérios diversos, mas também propor o uso de mais uma ferramenta para que os atores

do sistema enxerguem o contexto sob uma perspectiva diferente, de modo a auxiliá-los

no entendimento de seu funcionamento como um todo e, mais do que isso, dar suporte a

proposta de ações que alavanquem o potencial inovador do país, tal como tentaremos

fazer nesse capítulo.

As autoras do presente trabalho entendem que, analogamente ao exposto por

CHOI et al. (2001) para as cadeias de suprimento, há uma grande importância em

estudar um sistema a partir dos conceitos propostos pela Teoria da Complexidade para

os SCA. Ainda, pensando o SBI como um SCA, gestores e pesquisadores podem

interpretar o comportamento do SBI de modo mais completo e desenvolver intervenções

75

que tenham mais chances de ser efetivas. Além disso, as tentativas de mapear o SBI

(como as feitas pelo CGEE e pela ANPEI) nos faz perceber que há um esforço no

sentido de tentar entender quais são os agentes e as interações entre eles, além de que é

reconhecida a importância de ter esse conhecimento para o direcionamento das ações.

Reconhecer as características de um SCA no SBI e perceber como esses aspectos

impactam os resultados nacionais de inovação são passos significativos no sentido de

orientar as ações dos diversos atores do sistema.

Vale complementar que ao equiparar a teoria de SCA ao SBI, busca-se ajudar na

interpretação do comportamento e da dinâmica do SBI. Diante das ações dos atores do

SBI ainda fortemente baseadas nos modelos lineares de inovação (como exposto no

Capítulo 2 e 3), tal abordagem mostra-se importante na medida em que aproxima a

teoria da prática, destacando os aspectos sistêmicos e dinâmicos do SBI.

76

4.1. AGENTES E SCHEMA

Antes de avançarmos, devemos delimitar nosso objeto de estudo de modo a

deixar claro qual a fronteira do mesmo: Estaremos falando de atores do sistema

brasileiro de inovação se os mesmos forem brasileiros ou se estiverem localizados em

território brasileiro. Aqueles que forem estrangeiros, internacionais ou localizados fora

das fronteiras físicas brasileiras constituem o ambiente no qual o SBI se encontra.

Os atores que compõem o SBI, para os propósitos do presente trabalho, foram

divididos em três macro categorias discriminadas abaixo e definidas em uma dimensão

bem geral de acordo com papel exercido no sistema de inovação. Vale observar que os

papeis destacados para cada categoria possuem a capacidade de afetar o sistema de

inovação como um todo (conceito de agency, inerente aos SCA). Tal classificação,

adaptada de acordo com as análises a serem realizadas posteriormente, foi baseada nos

mapeamentos realizados (mencionados ao final do tópico 3.2) pela Associação Nacional

de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI) e pelo Centro de

Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE) e nos conceitos de “sistema de inovação” e

“dínamo da inovação” (apresentados no Capítulo 2), e também com algumas

contribuições da classificação institucional proposta pelo Manual de Frascati (OCDE,

2013).

– Agentes Estruturantes (AE): são os atores diretamente responsáveis pelo

quadro regulatório; pelo fomento às atividades de inovação; pelas condições

da infraestrutura de comunicação e suporte; pela manutenção de condições

macroeconômicas adequadas; e pelas condições da educação básica e média.

Inclui: agentes reguladores no âmbito legislativo e executivo e agentes de

fomento e apoio às atividades de inovação. Exemplos: ministérios,

secretarias, conselhos e comissões (Conselho Nacional de Secretários para

Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação – CONSECTI, Conselho

Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa – CONFAP, e

outros), agências e órgão (CNPq, CAPES, fundações estaduais de poio à

pesquisa – FAPs, Finep, BNDES, CGEE, e outros).

77

– Agentes Transformadores (AT): são os atores que transformam a invenção

em inovação, ou seja, utilizam a invenção com o objetivo de extrair algum

benefício. Por serem os atores finais no processo de inovação, eles possuem

também a função de direcionar as atividades dos: agentes de educação e

pesquisa, na medida em que estimulam o desenvolvimento de áreas do

conhecimento de interesse do mercado; e dos agentes estruturantes ao

indicar os aspectos que facilitam ou dificultam o processo inovador,

apontando assim as melhorias a serem implementadas. Exemplos: empresas

de grande, médio e pequeno porte e microempresas; multinacionais;

incubadoras; parques tecnológicos e outros.

– Agentes de Educação e Pesquisa (AEP): são os atores que geram

conhecimento e invenções que serão (ou não) utilizados para gerar

inovações. A depender da qualidade e do tipo de conhecimento/ invenções

geradas por esses agentes, o sistema de inovação poderá ser mais ou menos

efetivo no que tange seu objetivo de gerar inovações que se adequem às

demandas do mercado. Inclui as instituições de ensino superior e técnico;

Institutos Científicos e Tecnológicos (ICTs); pesquisadores e outros.

– Agentes de Demanda (AD): são os selecionadores e consumidores finais das

inovações. São responsáveis por demandar inovações e funcionam inclusive

como seletores finais de inovação através da aquisição menor ou maior de

determinada inovação, direcionando diretamente as ações dos agentes

transformadores e, indiretamente, as ações dos demais agentes. Inclui a

sociedade propriamente dita (como consumidores do processo de inovação)

e organizações sociais diversas (entidades de classe, ONGs etc) e outros.

Importante salientar que, na classificação acima proposta, o aspecto determinante

está no papel do ator. Ou seja, um ator tipicamente classificado como AT, por exemplo,

pode atuar como AEP quando fornece treinamento aos seus funcionários. Assim, nesse

trabalho, ao analisarmos em que categoria determinado ator se encaixa, devemos nos

atentar a sua atividade fim, apesar de, para algumas ponderações ser necessário analisá-

lo conforme a atividade exercida em momento específico de sua atuação. Por exemplo,

em geral, classificaremos instituições governamentais como AE. Porém podemos, em

78

algum momento, analisá-las como compradoras de inovações, sendo então

categorizadas como AD. Ainda, vale ressaltar que, ao analisarmos aspectos sobre uma

determinada categoria, quando necessário, faremos a análise de acordo com seus atores

típicos, fazendo as ressalvas necessárias que a existência de atores não típicos requer.

Agora indicaremos as relações tradicionais entre cada par de agentes.

Os AE fornecem meios para a efetivação dos processos de inovação para os AT:

quadro regulamentar, financiamento, infraestrutura etc. Os AT por sua vez, irão retornar

aos AE pagamentos em forma de impostos. Vale ressaltar que os AE, ao suportarem as

atividades dos AT, têm como objetivo estimular a produção de inovações e, por

consequência, impulsionar o crescimento do país (com base nos modelos apresentados

no tópico 2.4), o que, por sua vez, eleva a arrecadação de impostos.

Os AE e os AEP têm uma relação análoga à relação exposta no parágrafo

anterior. Enquanto os AE fornecem as condições para a atuação adequada dos AEP

(infraestrutura de suporte, infraestrutura para pesquisa, população com educação básica

e média adequadas para se tornarem cientistas e tecnólogos etc), as AEP fornecem

também impostos aos AE. Aqui também cabe ressaltar quanto mais eficazes as

atividades dos AEP, atrelada ao uma boa integração aos AT (aspecto que será abordado

mais a frente), maior será a geração de inovações e, então, maior será o crescimento do

país, aumentando a arrecadação de impostos para os AE. Vale citar que nos casos em

que os AE não são órgãos governamentais e, portanto não receberão impostos, tal

interação com os AEP se dá por meio de parcerias com contrapartidas definidas entre os

atores envolvidos. Por exemplo, uma empresa que queira desenvolver uma determinada

tecnologia junto a uma ICT poderá fornecer insumos diversos (financeiros,

equipamentos, pesquisadores) para a ICT, e a empresa, em contrapartida, terá

participação financeira sobre os possíveis resultados da pesquisa. Tal dinâmica foi

semelhante à estabelecida no caso do “Projeto Dendê” entre Natura e Embrapa para o

desenvolvimento de um modelo inovador e ecológico para a produção de palma com

viabilidade técnica e econômica a partir de Sistemas Agroflorestais Sustentáveis

(ANPEI, 2014).

79

Os AE e os AD também tem uma relação análoga à exposta anteriormente. Os

AE fornecem as condições essenciais para que os AD possam consumir as inovações

(sem condições básicas de saúde, educação, segurança etc, o consumo de inovações não

é amplo o bastante para estimular as empresas a inovarem, e, ainda, não seleciona as

inovações competitivas em âmbito internacional, o que é importante dada a

globalização). E, como no caso da relação entre AE e AEP, ao fornecer tais condições

para os AD, o processo de inovação é estimulado e há elevação na arrecadação de

impostos.

Os AEP fornecem conhecimentos, inovações científicas e profissionais

qualificados para os AT, os quais, por sua vez, ao efetivarem o processo de inovação e

obterem os benefícios relativos a essa, retornarão aos AEP parte dos resultados

financeiros, em contrapartida. Além disso, por meio de uma integração adequada, os AT

fornecem aos AEP direcionadores para suas atividades, atuando de maneira mais efetiva

no sentido da produção de inovações (fitness). Tal dinâmica pode ser percebida no

“Projeto Dendê”, exemplo apresentado anteriormente.

Os AEP fornecem conhecimento para o AD, aprofundando aquele fornecido

pelos AE, de modo a elevar o grau de seleção de inovação dos AD (lembrando que,

dentro do modelo do “dínamo da inovação”, o sistema de educação básica para a

população em geral, o que é função dos AE, determina os padrões mínimos

educacionais da força de trabalho, bem como do mercado consumidor). O AD, como

consequência, serão direcionadores (por meio dos AT) dos próprios AEP. Um mercado

consumidor que baseia suas decisões de compra em um processo decisório mais

sofisticado e que seja esclarecida sobre as alternativas de compra, estimula as empresas

a serem mais competitivas, produzindo com maior qualidade e menores preços, ou

ainda, produzindo em acordo com as crescentes preocupações quanto ao

desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, podemos citar o indicador “Sofisticação

dos compradores” (medido como a média ponderada das respostas para a pergunta “Em

seu país, como os compradores tomam as decisões de compra? Dê uma nota de 1 a 7,

sendo 1 - baseado somente em preço, e 7 - baseado em uma sofisticada análise dos

atributos de performance do produto) que, dentre outros indicadores, é usado para medir

a eficiência do mercado de bens no The Global Competitiveness Report elaborado pelo

World Economic Forum. E podemos identificar esse feedback dos AD para ao AEP nos

80

exemplos dados por ROSEMBERG (1982 apud GODINHO, 2003) ao discutir a relação

de causalidade entre ciência e tecnologia: as indústrias de alta tecnologia, ao

pressionarem os níveis de desempenho técnico, identificam problemas a serem

estudados pelos cientistas; o estudo da ciência da física nuclear expandiu-se após a

fissão do átomo em 1938 e das posteriores aplicações militares na Segunda Guerra

Mundial. Nesses exemplos, percebemos que os consumidores das inovações (AD que

nos exemplos são representados por empresas de alta tecnologia e pelas forças militares

envolvidas na Segunda Guerra Mundial) sinalizam as áreas a serem exploradas pelos

AEP.

E os AT fornecem as inovações para suprir as necessidades dos AD, os quais

retornam aos AT um feedback, como um mecanismo de controle do sistema no sentido

de atingir seus objetivos. Por exemplo, em 2001, a Eletrolar Show (maior feira latino-

americana de eletrodomésticos, eletrônicos e informática) trouxe uma enorme variedade

de dispositivos para serem usados junto a sistemas iOS (iPhone, iPad e iPod touch),

revelando que as empresas estão dedicando-se ao desenvolvimento de acessórios para

os aparelhos iPhone, iPad e iPod em resposta ao sucesso que tais gadgets fazem junto

ao mercado consumidor da Apple no Brasil.

Todas essas interações têm por finalidade melhorar o fitness do SBI, ou seja, é

por meio do alinhamento de expectativas, necessidades e condições de cada ator que são

postos em prática os processos de inovação. Em outras palavras, tais relacionamentos

entre os diversos agentes busca de certa forma ajustar o processo de inovação como um

todo e melhorar seus resultados (fitness).

Conforme exposto no Capítulo 2 (Tópico 2.2), um SCA possui schema, que são

normas, valores, crenças e pressupostos que são compartilhados pelos diversos atores do

sistema. Tal aspecto está presente nos sistemas de inovação também conforme exposto

no Capítulo 2 (Tópico 2.1) pela OCDE ao descrever os componentes dos fatores de

transferência no modelo do “dínamo da inovação”: Ética, sistema e valores da

comunidade, confiança e abertura influenciam o ponto até onde as redes, os elos e os

outros canais de comunicação possam ser eficazes, afetando as negociações informais

entre os indivíduos.

81

Também podemos evidenciar a presença de schema nos sistemas de inovação a

partir dos autores NELSON e NELSON (2002 apud NEUBERGER, MARIN, 2013), os

quais ressaltam o importante papel desempenhado pelas instituições informais (cultura,

comportamento e hábitos) além das formais (regras, leis, constituições, regulamentos,

ou seja, tudo aquilo que possui o caráter de ser específico e definido com precisão) na

medida em que ambas compõem esse sistema e influenciam mutuamente, determinando

o ambiente onde as inovações irão desenvolver-se.

Ainda, é válido destacar o uso de indicadores como “desvio de recursos

públicos”, “favoritismo em decisões governamentais”, “comportamento ético das

empresas”, “cooperação entre patrões e empregados”, “participação feminina na força

de trabalho” e outros por organizações internacionais para avaliar o desempenho de

países (no caso os indicadores foram retirados do Global Competitiveness Report,

elaborado pelo World Economic Forum, 2012 - 2013), ressaltando que tais fatores, que

traduzem costumes, valores éticos e morais, afetam o desempenho econômico das

nações, e, por consequência, seus sistemas de inovação.

Em termos mais práticos, o schema se traduz também em normas, procedimentos

e linguagem compartilhados pelos atores do sistema. Nesse sentido, o mesmo

argumento do parágrafo anterior pode ser usado. Diversas organizações internacionais

utilizam indicadores tais como “número de certificados de qualidade ISO 9001” e

“número de certificados ambientais ISO 14001” para avaliar o desempenho dos países

(no caso os indicadores foram retirados no Global Innovation Index, 2013). Logo,

entende-se que tais fatores influenciam o SBI. A própria existência das certificações

ISO e sua ampla utilização pelo mercado nos levam a crer que tais padrões são positivos

para o mercado, e, por dedução, para os sistemas de inovação.

Portanto, vimos que o SBI: possui agentes, os quais são caracterizados por sua

capacidade de agir sobre o sistema; tais agentes se inter-relacionam de diversas formas,

em diversos níveis; seus atores buscam elevar o fitness do sistema; e os atores

conduzem suas ações de acordo com um schema, o qual influencia o comportamento do

sistema como um todo. Tal como prescrito na literatura de Sistemas Complexos

Adaptativos.

82

Ao identificarmos tais aspectos no SBI, percebemos que todos os atores e todas

suas inter relações estão submetidas ao schema, o qual, portanto, influencia o resultado

do SBI como um todo. Como já mencionado nesse tópico, há alguns indicadores que

nos auxiliam a avaliar qual a “qualidade” do schema brasileiro por meio de alguns

aspectos selecionados. Nesse sentido, apontamos alguns indicadores que impactam o

processo de inovação. Quanto maiores os desvios de recursos públicos, quanto maior o

favoritismo em decisões do governo e quanto menor o comportamento ético nas

empresas, menores serão os recursos aplicados em ações que tragam resultados efetivos

para o SBI e menores serão as ações voltadas às áreas realmente importantes para o

desenvolvimento do SBI e do Brasil como um todo.

Tabela 2: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Agentes e Schema

Fonte: The Competitiveness Report (World Economic Forum, 2013)

INDICADOR VALOR PARA BRASIL

(de 1 a 7 – quanto maior melhor)

Desvio de recursos públicos 2,5 (121° de 144)

Favoritismo em decisões do governo 2,9 (80° de 144)

Comportamento ético nas empresas 2,1 (135° de 144)

Na última década podemos identificar diversas ações nesse sentido: aprovação da

Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n° 101, de 4 de Maio de 2000), a

qual estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão

fiscal; criação da Controladoria-Geral da União (CGU) em 2003, órgão encarregado de

assistir o Presidente da República na defesa do patrimônio público, no controle interno,

nas auditorias públicas, na correição, na prevenção e combate à corrupção, nas

atividades de ouvidoria e de incremento da transparência; e aprovação da Lei da Ficha

Limpa (Lei Complementar n° 135, de 4 de Junho de 2010), a qual impede que

candidatos com condenação na Justiça possam concorrer a cargos eletivos; são alguns

exemplos. Apesar das iniciativas como as citadas acima, é conhecido que a corrupção

ainda está presente e ativa no governo brasileiro em todas as suas esferas.

Ao longo do Capítulo 3 não identificamos ações que buscassem a “qualificação”

do schema brasileiro no sentido de estimular a inovação no país. Apesar de haver

algumas iniciativas não ligadas às políticas industriais e de CT&I, o impacto que a má

83

“qualidade” do schema brasileiro possui sobre a produção de inovações justifica o

endereçamento de iniciativas direcionadas à “qualificação” do schema do Brasil nas

agendas de CT&I, de modo a fortalecer e impulsionar essas ações.

Por fim, muito relevante destacar que cada entidade do sistema complexo

adaptativo possui suas próprias normas, premissas e objetivos, ou seja, seu próprio

schema. Tal fato nos leva a concluir que ações do Estado brasileiro devem considerar

esse fator, ou seja, devem levar em consideração quais são os objetivos, alternativas,

limitações e disposições dos diversos atores para que as atividades inovadoras sejam de

fato estimuladas pelos mecanismos implementados. Na prática, tal fator se traduz em

leis que possam ser facilmente aproveitadas pelas empresas, sem elevada burocracia ou

dificuldade de interpretação dessas regulações.

4.2. AUTO-ORGANIZAÇÃO E PADRÕES EMERGENTES

Podemos dizer que o comportamento do SBI como um todo não é conduzido por

um ator em particular, e sim pelas ações simultâneas e paralelas de todos os atores do

sistema. O SBI manifesta estruturas, padrões, propriedades e processos de maneira que

se auto organiza. Em outras palavras, ao exercer suas funções, com seus respectivos

objetivos, os diversos atores do SBI naturalmente constroem novas dinâmicas internas

que podem se tornar padrões. Isso sem que um único agente tenha imposto tal

comportamento.

Durante a revisão teórica, vimos que o processo de inovação segue um certo

padrão, apesar de não obedecê-lo exatamente em todos os casos da prática. A

capacidade de identificarmos alguns padrões já é suficiente para nos levar a crer que os

diversos atores do sistema, apesar de atuarem com seus próprios objetivos, acabam por

se comportar de maneira relativamente semelhante, ou seja, evidenciam uma lógica

comum em certo nível. Tal constatação é coerente com a característica de auto-

organização e padrões emergente dos SCA.

No Capítulo 3, vimos os casos de sucesso de integração públicos-privados e

pesquisa-produção: Petrobras - Empresa Brasileira de Petróleo, a Embrapa - Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária e a Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz.

MAZZOLENI e NELSON (2005 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) observam

84

que há uma “receita” para o sucesso desses casos: em sua constituição, essas instituições

de pesquisa públicas foram orientadas a uma comunidade de usuários e desenhadas para

resolver problemas relevantes de determinados setores de atividade. GUIMARÃES

(2002; 2006 apud CAVALCANTE, DE NEGRI, 2013) sustentam também que a

existência de demandas claramente definidas do setor produtivo contribuiu para que

estas iniciativas superassem o baixo grau de indução das políticas de CT&I. Ou seja,

pudemos identificar um comportamento parecido dos atores envolvidos nessas

inciativas, de modo que resultados semelhantes puderam ser obtidos.

De acordo com KELLY (1994 apud CHOI et al., 2001) tal comportamento de

auto-organização pode ser observado em economias de mercado aberto, como é o caso

da economia brasileira. Nesse sentido, podemos argumentar que os atores do SBI

ajustam-se de acordo com as condições de mercado internacional (reproduzindo padrões

internacionais, importando novas tecnologias, reagindo a crises econômicas etc) sem

que haja a necessidade de um ator específico oriente tal adaptação. Ainda que haja a

interferência do Estado, por exemplo, estimulando a importação de uma nova tecnologia

por redução dos encargos de importação, os agentes transformadores irão utilizá-la

apenas se for coerente com seus objetivos. Ressaltamos que o Estado brasileiro tem o

poder de interferir no SBI por meio de suas políticas, financiamentos e leis, entretanto,

não há uma imposição de comportamentos no SBI feita pelo Estado.

CHOI et al. (2001) destaca ainda que tal característica traz para os atores de um

SCA a necessidade de estarem constantemente observando quais as mudanças

dinâmicas que ocorrem no seu sistema e em seu ambiente, de modo a ajustar-se

adequadamente às novas condições. Em outras palavras, para que emerjam padrões de

comportamento de sucesso por parte do sistema como um todo, é necessário que os

atores, individualmente, tenham a capacidade de reagir rápida e adequadamente às

mudanças no sistema e no ambiente.

Seguindo esse raciocínio, se os diversos atores do SBI possuem a capacidade de

se adaptarem prontamente às mudanças, o SBI como um todo será mais capaz de

responder rapidamente às alterações por meio de um comportamento uniforme que

adeque o SBI ao ambiente. Para avaliarmos como o SBI está nesse quesito, dentre os

indicadores disponíveis, podemos destacar, apenas para os AT, dois indicadores:

85

“Facilidade de iniciar um negócio” e “Facilidade de resolução de insolvência”. Em

ambos, o Brasil está em posições bastante deficientes e pontuações aquém do desejado.

Tabela 3: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à

Auto-Organização e Padrões Emergentes

Fonte: The Global Innovation Index (2013)

INDICADOR VALOR PARA BRASIL

(de 0 a 100 – quanto maior melhor)

Facilidade de iniciar um negócio 53,0 (138° de 142)

Facilidade de resolução de insolvência 17,7 (125° de 142)

No capítulo anterior não foram identificadas ações que buscassem diretamente o

aprimoramento dessa capacidade, ou ainda estudos que investigassem quais os fatores

na atual conjuntura brasileira que a afetam, positiva ou negativamente. Apesar de

haverem iniciativas que impactam a capacidade de resposta (como a redução das

burocracias impostas pelo Estado melhorias nos processos de concessão de patentes

etc).

Diante do exposto até aqui, cabe destacar que uma resposta rápida é requerida

dos diversos agentes do sistema, sejam eles os AE, AT, AEP e ainda dos AD.

Retomamos mais uma vez que o processo de inovação e de difusão de inovação é

sistêmico, e perpassa por todos os tipos de agentes do sistema, de modo que resultados

positivos consistentes e constantes do SBI são possíveis apenas com a qualificação do

sistema como um todo. Diante disso, podemos observar que para cada um desses

agentes, como possuem atividades e estruturas diferentes, possuirão também fatores

diversos que agem sobre suas capacidades de resposta. Desse modo, ações genéricas

não necessariamente surtirão os efeitos desejados.

Portanto, a importância dos agentes do SBI adequarem-se rapidamente às

variações no ambiente e no próprio sistema, justifica a necessidade de estudos que

esclareçam quais os atuais entraves a que esses agentes estão submetidos e que

prejudicam sua pronta resposta, bem como justifica a importância de ações que reduzam

esses entraves.

86

4.3. CONECTIVIDADE

No SBI, os diversos atores se conectam direta e indiretamente. As conexões

diretas são basicamente aquelas descritas no item 4.1, entre as categorias de agentes

definidas. E as conexões indiretas podem ser as mais variadas possíveis.

Podemos citar um exemplo descrito por CHOI et al. (2001): a empresa

Honeywell (fabricante de motores de avião) monitora constantemente a indústria de

base, principalmente quando relacionado a aço, cobre e alumínio, além de uma

variedade de outros materiais compostos, na medida em que, no caso de escassez de

algum desses materiais, a empresa pode ser prejudicada em termos de custos e prazos de

entrega. Assim, a empresa Honeywell está diretamente conectada às mineradoras

(fornecedoras de matéria prima). Indiretamente, a Honeywell está conectada a outras

organizações que estão, por sua vez, diretamente conectadas às mineradoras, como por

exemplo, as empresas que produzem equipamento de extração. Seguindo na cadeia de

suprimentos, a Honeywell está também indiretamente conectada à um infinidade de

outras empresas, por exemplo, àquelas que estão envolvidas no desenvolvimento de

novas técnicas de extração. Tais empresas baseiam seus estudos em diversas

tecnologias, dentre elas as técnicas de radiologia para investigação do solo. As técnicas

de radiologia estão também conectadas à área médica, sendo objeto de estudo na Metro

University Hospital, o qual obteve um importante avanço no desenvolvimento em uma

técnica de reconhecimento de padrões de raios-X. Tal avanço chegou ao conhecimento

de um pesquisador de uma empresa de perfuração de poços de óleo. Então, esse

pesquisador, após aplicar a técnica em perfurações de poços de óleo, reporta os

resultados positivos em uma conferência, na qual está presente um engenheiro de uma

empresa mineradora fornecedora da Honeywell. Finalmente, a Honeywell passou a

obter seus insumos por um preço bem menor que o anterior, elevando seus lucros.

O que esse exemplo nos mostra é que a empresa Honeywell não se imagina

inicialmente conectada à Metro Hospital University. Entretanto, tal conexão é real e,

mais importante, é significativa para o desempenho dela. O autor ainda destaca que é

importante para os atores do sistema ter consciência de que tais conexões estão

presentes e podem ser positivas para sua atuação. Assim, pode-se estimular o uso

consciente de tais conexões em busca de benefícios, por exemplo, facilitando o

87

intercâmbio de profissionais e potencializando o networking, aumentando a participação

em eventos e conferências, realizando mapeamentos de atores selecionados que

influenciam sua gestão etc.

Nesse sentido, além da importância de estar conectado em diferentes arquiteturas

como já mencionamos diversas vezes nesse trabalho, é importante também que os

diversos agentes busquem, se não aumentar o número de conexões, estar cientes das

possíveis conexões que podem ser feitas. Em outras palavras, devem estar atentos às

oportunidades que estão disponíveis nos mais diversos pontos do sistema. Isso é

possibilitado pelo acesso aos meios de comunicação informais e formais, de modo a

aumentar o número de informações que chegam aos atores, os quais poderão identificar

com maior facilidade as chances de estabelecer conexões de sucesso. Dois indicadores

que nos traduzem tal busca por informações são os destacados abaixo.

Tabela 4: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Conectividade

Fonte: The Competitiveness Report (World Economic Forum, 2013);

The Association Meeting Market Report (ICCA, 2011)

INDICADOR VALOR PARA BRASIL

Circulação diária de jornal (% população de 15 – 69 anos)

(de 1 a 7 – quanto maior melhor) 6,3 (79° de 144)

Número de eventos internacionais no país (número absoluto)(2011)

304 (7° de 104)

O que as autoras observaram é que não foi dado destaque, na avaliação do SBI, a

essa alternativa de prospecção de possíveis conexões entre os atores. Em outras

palavras, apesar de ser estabelecida a necessidade de integração entre os diversos atores,

o foco da discussão volta-se apenas às conexões feitas entre os atores para a produção

conjunta de inovações. Enquanto isso, conexões mais “simples”, como as

exemplificadas nesse tópico, para a difusão de inovações, que podem ser feitas através

de ferramentas como as dos indicadores (jornais, eventos e afins) explicitados acima,

são relegadas ao segundo plano. Portanto, vale considerar que seja dado maior enfoque

também aos meios de comunicação informais e formais, de modo que os diversos atores

possam identificar conexões a serem estabelecidas para a difusão de inovações.

88

Por fim, vale citar que GODINHO (1993) defende que economias em

desenvolvimento devem priorizar em suas políticas de inovação a difusão e não apenas

a inovação propriamente dita, uma vez que é primordialmente por meio da adoção de

inovações que as economias em desenvolvimento ou subdesenvolvidas poderão reduzir

o gap tecnológico existente. Ainda, ao adotar uma inovação desenvolvida por outra

organização, a empresa acaba por implantar melhorias incrementais, contribuindo

também para o processo global de inovação.

4.4. DIMENSIONALIDADE

Para um sistema de inovação é cabível concluir que os atores do sistema devem

possuir um grau de liberdade suficiente que lhes confira autonomia para que reajam de

forma eficiente às mudanças no ambiente e no próprio sistema. Isso porque as inovações

são ferramentas de competição (conceito de monopólio temporário discutido no

Capítulo 2), se tornando instrumentos básicos para a atuação no atual mercado

globalizado capitalista.

No que tange aos AE brasileiros, podemos dizer que tal grau de liberdade é

tolhido pela ainda elevada burocracia, bem como pelo elevado teor político das ações do

Estado em detrimento das ações voltadas ao real aumento da eficiência brasileira. Nesse

sentido, as ações estruturantes não são feitas com velocidade suficiente ou

adequadamente direcionadas para suportar as ações dos outros agentes de modo a se

reestruturarem para competir em âmbito global.

Em relação aos AT do SBI, os mesmos devem possuir autonomia no sentido de

selecionar as inovações a serem implementadas, bem como nos diversos passos para

efetivar as inovações. Em outras palavras, as restrições que dificultam as ações dos AT

no sentido de produzir inovações, reduz sua dimensionalidade. Assim, por exemplo, a

burocracia imposta pelo Estado brasileiro para a abertura de novas empresas, ou para a

obtenção de financiamento, ou para a simples operação das empresas, são empecilhos

que constrangem a atuação dos AT e, portanto, dificultam a atividade de inovação.

Já para as AEP do Brasil, podemos dizer que há restrições quanto a sua atuação

autônoma no processo de inovação, na medida em que os atuais mecanismos de

89

incentivo para o corpo de pesquisadores e cientistas prioriza a produção de artigos

científicos em detrimento da publicação de patentes. Com isso, os esforços dos AEP

acabam voltados à produção científica em detrimento da produção tecnológica, como

discutido no Capítulo 3.

Por fim, para os AD, as restrições a sua atuação autônoma diz respeito à

possibilidade de escolher entre as diversas inovações disponíveis no Brasil e no mundo.

Assim, deve-se discutir o nível competitivo brasileiro, o qual determinará se há mais ou

menos opções a serem consumidas, e ainda, as restrições nas informações que são

disponibilizadas à população, uma vez que quanto mais informada uma população, mais

sofisticado será seu processo de decisão para consumo.

Nesse sentido, é ressaltada para nós mais uma vez a importância de haver

competição no mercado, no sentido de estimular a inovação por parte das empresas. No

parágrafo anterior, entretanto, vimos a importância da competição do mercado da

perspectiva dos clientes. Nesse sentido, podemos dizer que o modo como as empresas

relacionam-se com seus clientes, na medida em que os clientes são um “termômetro”

para o sucesso de suas ações e, assim, para a necessidade de inovar ou não, é um fator

importante a ser considerado no processo de inovação. A partir de percepção de como

os clientes reagem a seus produtos, as organizações podem direcionar as inovações a

serem desenvolvidas. Com isso em mente, é interessante avaliar dois indicadores:

Extensão das atividades de marketing (média ponderada das respostas à pergunta “Em

que medida as companhias usam técnicas e ferramentas de marketing sofisticadas: 1 –

muito pouco, a 7 – extensivamente”); e Grau de orientação ao cliente (média ponderada

das respostas à pergunta “Como as companhias em seu país tratam os clientes: 1 –

geralmente tratam seus clientes mal, a 7 – são altamente responsivos aos clientes e suas

reações”).

90

Tabela 5: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Dimensionalidade

Fonte: The Competitiveness Report (World Economic Forum, 2013)

INDICADOR VALOR PARA BRASIL

(de 1 a 7 – quanto maior melhor)

Extensão das atividades de marketing 5,2 (26° de 144)

Grau de orientação ao cliente 2,0 (121° de 144)

4.5. DINAMISMO

O ambiente do SBI é formado por todos os atores que não estão incluídos no SBI

e também por suas inter-relações. Dessa forma, é composto, pelas populações, Estados e

empresas dos demais países do globo, além das instituições e organizações

internacionais (OCDE, ONU, World Bank etc). Podemos considerar inclusive que é

formado pelos sistemas de inovação dos outros países e pelos atores internacionais.

Considerando essa segunda perspectiva, podemos afirmar ainda que os diversos

sistemas de inovação se influenciam, bem como os atores internacionais. A atuação de

um sistema de inovação impacta a dinâmica dos demais de modo incremental ou de

modo radical. Aqui podemos citar as inovações radicais, por exemplo, que podem ter

início em um único sistema de inovação de um país, mas que podem modificar a

estrutura de todos os demais sistemas de inovação dos outros países, incluindo a atuação

dos agentes internacionais, uma vez que esses atuam em função dos diversos países.

Como exemplo, podemos citar o motor a vapor inventado no século XVIII na Inglaterra,

o qual impulsionou a Primeira Revolução Industrial, impactando todo o mundo (esse

exemplo foi dado como uma mudança no paradigma técnico-econômico, no Capítulo 2

– Tópico 2.1).

Em resumo, a atuação de um sistema impacta os demais sistemas a partir das

interconexões entre eles, até certo ponto em que se pode dizer que o ambiente aderiu à

mudança e os sistemas restantes também se adequam à modificação. Tal fato é coerente

com o atual capitalismo globalizado, onde a competição é a ordem e, mais do que

nunca, a mudança é a única constante.

91

Um exemplo prático nesse sentido são as empresas de comunicação impressa, as

quais estão se adaptando aos desenvolvimentos permitidos graças aos avanços na área

de tecnologia da informação e comunicação. Agora, com a mídia baseada na internet e

em eletrônico móveis, é possível alcançar um volume enorme de consumidores. Para

acompanhar as novas tecnologias usadas pelos clientes e, também, em um esforço para

redução de custos com papel, as empresas de comunicação dos diversos países buscam

diferentes serviços de mídia para conquistar esse mercado (CHOI et al., 2001).

Dessa forma, é importante destacar que os atores do SBI, bem como o SBI como

um todo, devem ser capazes de se adaptar às modificações que ocorrem no ambiente em

que se inserem, de modo a se manterem no mercado competitivo.

Nas últimas décadas tem-se elevado a preocupação quanto ao desenvolvimento

sustentável das nações e, consequentemente, busca-se aplicar inovações nos âmbitos

social e ambiental. Assim, ao avaliarmos que os agentes do SBI devem estar adaptando-

se às modificações no ambiente, é relevante que se busque medir a aplicação das

inovações nas esferas do desenvolvimento sustentável.

No relatório do Global Innovation Index, inclusive, são considerados indicadores

relacionados a fatores ambientais, mas os mesmos são voltados à medição da eficiência

energética (PIB por unidade de energia utilizada, performance ambiental, e número de

certificados ambientais da ISO 14001). Não foram encontradas, entretanto, métricas que

trouxessem à luz o esforço das nações para gerar inovações que tragam benefícios

ambientais e/ ou sociais. O Plano Brasil Maior traz como uma de suas macro metas a

produção mais limpa de energia (reduzir o consumo de energia por unidade de PIB

industrial). Mas um indicador que sinaliza diretamente o esforço de desenvolver

inovações para resolução de problemas sociais e/ ou ambientais também não são

considerados.

A OCDE apresenta alguns rankings quanto aos países que mais registram

patentes sob o Patent Cooperation Treaty (PCT) com “importância verde”. Em um

relatório que avalia 40 países no período de 2009 a 2011, o Brasil é responsável por 17

patentes, enquanto os Estados Unidos são responsáveis por 693, a Alemanha por 348 e

o Japão por 787. Desde 2012, o INPI vem implantando um processo acelerado para o

92

exame de pedidos de patente direcionados a tecnologias verdes, seguindo a tendência de

outros escritórios de patentes, os quais iniciaram tal esforço em 2009 (escritórios

nacionais do Japão, Israel, Coréia do Sul, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e

Canadá).

Portanto, as autoras consideram que se deve dar mais destaque às inovações

direcionadas às esferas social e ambiental, tanto no sentido de ações que estimulem

essas aplicações, como na consideração de indicadores sobre o tema nos relatórios

internacionais que medem a inovação, como o Global Innovation Index, e nas metas das

políticas brasileiras.

4.6. VISÃO IRREGULAR

Tal característica pode ser reconhecida no SBI na medida em que percebemos

que não há um ótimo global para o sistema diante da simples soma dos ótimos locais

para cada um dos agentes do mesmo. Isso acontece pelo fato de haver uma necessidade

de intensa integração entre os atores, os quais devem alinhar constantemente quais os

objetivos e tarefas de cada um.

Cada ator do sistema possui seus próprios objetivos e metas a serem alcançadas,

não necessariamente voltadas ao ótimo global, que, no caso do SBI, seria a produção de

inovações. Para que os resultados de inovação sejam otimizados é necessário, por

exemplo, a construção de instrumentos de coordenação entre os atores que interagem

nas atividades de inovação, de modo a alinhar quais as necessidades globais a serem

alcançadas e resultados finais a serem atingidos.

Essa interação constante é ainda mais importante no ambiente de inovação, o

qual está sujeito às constantes mudanças. Ou seja, a comunicação estreita entre os atores

aumenta a capacidade de adequação do sistema às modificações para que os agentes

atuem de modo a alcançar o novo ótimo global.

A difícil obtenção de um ótimo universal e atemporal, com a intensa mudança do

sistema, dos sistemas presentes no seu ambiente e com a co-evolução do ambiente e de

todos os sistemas faz com que não haja um indicador global que possa ser usado como

93

meta atemporal para o governo. A tradução do ponto de desempenho ótimo no sistema

em indicadores é de difícil obtenção, já que diante de perspectivas irregulares há uma

série de possibilidades e estados que podem resultar em ótimos que não

necessariamente somam o ótimo global.

Dessa forma, um entendimento do estado atual e a compreensão abrangente do

conhecimento corrente são necessários para que se descubra e conheça os pontos que

devem ser colocados como metas do sistema. Também, a pesquisa e estudo sobre as

possibilidades do futuro também se tornam necessárias, já que o ótimo global agora não

será atemporal, e em um ambiente que constante mudança seu schema será alterado,

bem como seus agentes, e novas conjunturas com novos pontos de desempenho ótimo

serão gerados.

Com isso, por mais que índices complexos sejam calculados de forma a retratar a

realidade dos sistemas de inovação, por meio da percepção de sistemas complexos

adaptativos chega-se a conclusão que se devem usar estes índices como parâmetros,

contudo é importante compreender suas limitações ao utilizá-los como metas. Na atual

conjuntura, os índices apresentados nesse estudo podem ser parâmetros a serem

alcançados pelo país, porém em um ambiente dinâmico, esses ótimos também serão

dinâmicos.

Por fim, cabe ressaltar que a análise de indicadores é essencial para a avaliação

de desempenho do Brasil e que indicadores devem ser utilizados para estabelecimento

de metas de modo a atingirmos melhores desempenhos e melhor fitness do nosso

sistema de inovação, contudo devemos utilizar metas entendendo a realidade na qual o

sistema está inserido e sob a percepção de que tal realidade é dinâmica, o que influencia

os valores das metas e as metas em si.

Nesse sentido, as recentes políticas industriais brasileiras, abordadas no capítulo

anterior: a PITCE, que colocou a questão da inovação com uma conotação mais

sistemática, com estímulo principalmente à interação entre o setor produtivo e

acadêmico, contudo não utilizou indicadores para avaliação do desempenho do Brasil

em inovação; o PDP, com o estabelecimento de condições para a concessão de diversos

incentivos fiscais; o Plano Brasil Maior, com a inovação e adensamento produtivo para

94

obter aumento da produtividade do trabalho. O primeiro plano a realizar uma análise de

indicadores de modo a estudar o desempenho do sistema de inovação do país foi o PDP,

sendo esta uma tendência que segue até hoje, com utilização de indicadores de

desempenho básico. A principal herança de uma perspectiva de sistemas complexos

adaptativos no contexto de visão irregular é que, para que os agentes e o sistema possua

uma resposta rápida a mudanças no ambiente é necessário que seus componentes

estejam em forma, e é indiscutível que metas devam ser traçadas para que inciativas

sejam realizadas de modo a alcançar essas metas, contudo a visão irregular nos leva a

discussão de que esta meta deve ser realizada a retratar o estado atual da melhor forma

possível e que deve ser dinâmica, bem como o sistema que ela tenta representar.

4.7. QUASI-EQUILIBRIUM

O SBI e seu ambiente têm meios de interferência mútua: o SBI influencia o

ambiente e vice-versa, como já explicitado quando falamos da característica de

Dinamismo (Tópico 4.5). O SBI está em um estado de quasi-equilibrium na medida em

que reage às variações do ambiente apesar de não modificar radicalmente sua estrutura

como um todo. Há, entretanto, mudanças de longo alcance no SBI a partir de mudanças

no ambiente, mas, o SBI, após adaptar-se à mudança, adquire um novo estado de quasi-

equilibrium, retomando a dinâmica inicial.

Podemos verificar esse comportamento quando observamos o processo de

formação histórica do SBI no Capítulo 3. Com a postura protecionista de diversas

nações na década de 1920 – 30, o Estado brasileiro passou a elaborar políticas pró-

industrialização, os empresários passaram a dedicar-se às atividades industriais em

detrimento das atividades agrícolas tradicionais, os consumidores passaram a adquirir

produtos nacionais, e as universidades e institutos de pesquisa interiorizaram a

necessidade da formação de profissionais para esse novo mercado e para a criação de

inovações. Estabeleceu-se uma nova estrutura dinâmica em um novo ponto de quasi-

equilibrium.

Ao longo dos relatórios do Global Innovation Index dos últimos anos, o Brasil

teve índices 36,29 (2014); 36,33 (2013); 36,6 (2012); 37,75 (2011). O que nos leva a

considerar que há um estado de quasi-equilibrium do Brasil quanto aos seus resultados

95

de inovação. Em outras palavras, o SBI encontra-se estruturado de certa forma que a

relação esforço/resultado mantém-se relativamente em equilíbrio apesar de algumas

variações no índice final, e algumas variações até grandes quando analisamos alguns

indicadores isoladamente. Ainda, podemos avaliar que apesar das grandes modificações

sofridas pelo Brasil nos últimos anos, os resultados de inovação apresentados não

refletiram na mesma medida esses esforços. Tal aparente paradoxo nos conduz a

considerar que há áreas do SBI a serem tratadas pelo Estado no sentido de impulsionar a

atividade de inovação no país. A dificuldade está em identificar quais são esses aspectos

a terem atenção do poder público, uma vez que as ações até aqui empreendidas não

retiraram o Brasil da sua posição de quasi-equilibrium.

4.8. MUDANÇAS NÃO LINEARES

Uma vez que cada agente possui sua atuação no sistema, mas também como

atores independentes, possuem seus próprios objetivos, e, ainda, ocorrem diversas

integrações entre os diferentes atores, não há como garantir que uma alteração de

determinada magnitude em um dos fatores do sistema gerará um resultado em uma

magnitude linearmente relacionada à mudança no input. Isso caracteriza um

comportamento não linear.

Isso faz sentido quando pensamos, por exemplo, em um financiamento de uma

pesquisa básica em um determinado instituto de pesquisa. Tal financiamento não

necessariamente será transformado em uma inovação e, portanto, não gerando retornos

financeiros para a instituição e para o financiador. No entanto, pode gerar conhecimento

que serão difundidos ao longo do instituto e pode posteriormente gerar outras

inovações. As inter-relações do sistema não nos permite prever quais serão os resultados

nem prever se haverão resultados.

Ainda podemos entender que, como o SBI é composto por outros subsistemas,

por exemplo, sistemas estaduais de inovação, e esses se sobrepõem, os inputs de um

ator de determinado sistema estadual, pode impactar as atividades de outros sistemas

estaduais. Além disso, como os atores estão conectados como que em uma rede, ou seja,

há interpelações em todos os sentidos, não apenas seguindo uma cadeia/ sequência, as

reações acontecem em paralelo ao longo do sistema, podendo seguir, em determinada

área grandes impactos, e, em outras áreas, impacto algum.

96

A percepção de tal característica no SBI é importante para os diversos atores do

sistema na medida em que deixa claro a não possibilidade de prever as reações do

sistema aos estímulos feitos por esses atores. Em conjunto com o exposto até aqui, deve

haver então um equilíbrio entre os controles e o nível de autonomia dedicada aos

agentes. Ou seja, ao mesmo tempo em que não devem ser descartados os controles de

qualidade das inovações, ou controles para a produtividade dos laboratórios, é

importante permitir que haja “espontaneidade” nas atividades das diversas partes

envolvidas, de modo a possibilitar a adequação do sistema às condições do ambiente e

do próprio sistema.

Mudanças que fazem com que o sistema complexo adaptativo reaja de forma

não-linear e tenha um novo comportamento que fuja do seu quasi-equilibrium em geral

são mudanças que afastam o sistema demasiadamente do seu estado de quasi-

equilibrium. À medida que os agentes mantêm o desempenho do sistema e utilizam

ferramentas de controle sobre ele, eles reduzem a dimensionalidade do sistema e fazem

com que mudanças drásticas ocorram com menor proporção, por consequência fazendo

com que haja uma redução da probabilidade que o sistema saia do seu nível de quasi-

equilibrium.

Por meio do aumento de controles, os agentes possuem menor grau de liberdade

e o sistema funciona de forma mais suave e com menor variância. Os controles

impostos pelas instituições podem ser observados, como por exemplo o ambiente

regulatório que o país possui. Ou seja, um país que possui controles bem estabelecidos,

reconhecidos como de qualidade e respeitados será capaz de desenvolver um ambiente

de inovação no qual haverá estabilidade e os resultados serão menos desproporcionais

em relação aos estímulos.

Para realização da análise do Brasil neste aspecto, o sub-pilar de ambiente

regulatório do Global Innovation Index será utilizado. Neste pilar, o ambiente

regulatório é estudado através de indicadores de “qualidade regulatória”, que captura a

percepção da sociedade quanto a capacidade do governo de criar regulamentos que

levam ao desenvolvimento do setor privado; “legislação”, que mede a percepção da

sociedade de que as leis são seguidas e que há confiança que contratos, regras,

97

julgamentos e na polícia; e “custo de demissões por redundância”, que indica o custo

em salários mínimos de demissão de uma pessoa pelo fato de seu trabalho se tornar

redundante. Na tabela abaixo, pode-se observar o resultado do Brasil.

Tabela 6: Resultados brasileiros para aspectos relacionados à Não-Linearidade

Fonte: Global Innovation Index 2013

INDICADOR VALOR PARA BRASIL

(de 0 a 100 – quanto maior melhor)

Qualidade Regulatória 53,9 (68° de 142)

Legislação 47,6 (60° de 142)

Custo de Redundância 15,4 (72º de 142)

Facilidade de iniciar um negócio 53,0 (138° de 142)

Facilidade de resolver insolvência 17,7 (125° de 142)

Facilidade em pagar impostos 39,1 (132° de 142)

O Brasil, apesar de apresentar resultados bons quanto ao ambiente regulatório

em comparação com os outros países analisados, precisa desenvolver controles e regras

que sejam eficientes em termos de criar um ambiente econômico dinâmico, o que, como

podemos perceber pelos três últimos indicadores, não ocorre na prática. A perspectiva

do sistema de inovação brasileiro como um sistema complexo adaptativo agrega para a

análise do SBI de modo a apontar como a melhor regulação da economia e do contexto

social irá fazer com que a amplitude de resultados aos estímulos dados seja prejudicada

por consequência da redução da dimensionalidade do sistema. Contudo, deve-se fazer

uma ressalva que por mais que os controles sejam importantes para que haja a redução

dos graus de liberdade do sistema, deve-se haver autonomia o bastante para que sejam

possíveis resultados criativos por parte do sistema de inovação. Ou seja, deve-se regular

o sistema o bastante para que ele mantenha um patamar de quasi-equilibrium, mas não o

bastante para tolhê-lo. O estabelecimento de excessiva burocracia no ambiente de

inovação dificulta a realização de inovações por parte das instituições. As regulações e

os controles devem ser eficientes, mantendo-se um equilíbrio entre controle e autonomia

e entre previsibilidade e criatividade.

Vale ressaltar que essa conclusão nos remete ao que já foi discutido

anteriormente quanto ao schema individual dos atores. O arcabouço regulatório não

98

contempla que cada ator do sistema possui seu próprio schema, e acaba por basear-se na

ideia ineficaz de que os agentes do sistema devem se adequar às leis e normas

elaboradas.

4.9. FUTURO NÃO ALEATÓRIO

No SBI, apesar de não haver estudiosos que consigam determinar com exatidão

quais os resultados que serão observados diante de alterações nos inputs, como

discutimos no item anterior, é possível identificar padrões de reação em relação às

mudanças nas entradas. Em outras palavras, apesar de não ser possível determinar qual

o futuro exato, tal futuro não será aleatório, uma vez que o SBI possui padrões de

comportamento.

Vimos no Capítulo 2 diversas teorias em relação ao processo de inovação e ao

processo de difusão da inovação. Tais teorias são baseadas em arquétipos que são

observados nos sistemas de inovação dos diversos países. Assim, podemos dizer que o

SBI também segue condutas arquetípicas. Como exemplos teóricos, podemos retomar

os modelos de difusão da inovação. Tanto o modelo epidemiológico (no qual a inovação

expande-se de maneira rápida pelas empresas em um primeiro momento até que atinge

um ponto de inflexão, quando seu ritmo de penetração é reduzido até alcançar um limiar

máximo, portanto a característica chave do modelo é a proximidade das empresas),

como o modelo probit (onde, a probabilidade de uma dada empresa adotar uma dada

inovação é tanto maior quanto maior for a dimensão dessa empresa, portanto a

característica chave do modelo é a dimensão das empresas), como os modelos correntes

(que consideram diversos fatores: proximidade e dimensão das empresas, características

das inovação, quantidade e qualidade dos fluxos de informação entre empresas etc), nos

traz certa previsibilidade quanto a maneira com que uma inovação irá ser difundida. Por

mais que não possamos determinar com precisão quando e quais empresas, por exemplo

irão aderir certa inovação, é possível ter uma ideia de quais aquelas que absorverão a

nova tecnologia.

Um exemplo geral desse tipo de comportamento para sistemas complexos

adaptativos são os ciclos econômicos. Os ciclos econômicos são padrões de

comportamento dos sistemas econômicos dos diversos países. Os níveis de produção

99

oscilam ao longo do tempo, alternando períodos de crescimento com períodos de

relativa estagnação ou declínio. Por mais que haja alterações drásticas nos sistemas

econômicos ao longo do tempo, no longo prazo, o sistema retoma o comportamento dos

ciclos econômicos. Faz sentido supor que o SBI, por estar inserido no sistema

econômico do Brasil e estar fortemente interligado a esse, uma vez que possuem uma

dinâmica interdependente (podemos dizer, inclusive, que o SBI é subsistema do sistema

econômico brasileiro), possui ciclos no longo prazo.

Ainda, BACK (1996 apud CHOI, 2001) observa que, em uma ampla gama de

tipos de sistemas, a frequência com que eventos de certa magnitude ocorrem é inversa à

sua potência. Com isso, podemos considerar que tal fato é verificado também nos

sistemas de inovação como o SBI, ou seja, há um padrão quanto às perturbações que são

sofridas pelo sistema.

Para o SBI, é interessante que tal característica seja reconhecida e haja um

esforço no sentido de identificar esses padrões de comportamento de modo a

complementar a capacidade de previsão dos efeitos de certos eventos no sistema.

Existem hoje muitas técnicas estatísticas que podem ser aplicadas ao tema e permitir a

determinação dos tipos de padrões de comportamento no longo prazo subjacentes ao

SBI.

Um padrão de comportamento identificado nos sistemas de inovação é o de

estágios de desenvolvimento dos países quanto à suas atividades de inovação

identificado pelo World Global Index 2013. Durante as pesquisas os autores foram

capazes de perceber que, em geral, os países passam por quatro estágios de

desenvolvimento de inovações: o primeiro, no qual um nível mínimo de todas as

entradas deve ser atingido para que o processo de inovação se desenvolva de forma

eficiente em relação aos recursos despendidos; no segundo estágio, melhoras marginais

podem ser vistas nas instituições, como no ensino superior, e também há uma maior

integração com o mercado, e uma maior sofisticação do mercado; no terceiro estágio,

todos os inputs do ambiente melhoram com a maior integração entre todos os

seguimentos da sociedade na economia, há maior produtividade e aumento dos salários,

desenvolvimento das cidades, regressão da corrupção e outros; no último estágio, os

líderes em inovação estabilizam seus níveis de outputs e de inputs em um nível alto,

100

limitado pela estrutura demográfica ou tamanho do mercado (e não por um plano

estratégico deficiente ou por uma política falha). A figura abaixo resume esse padrão de

desenvolvimento. No capítulo 3.2 fomos capazes de identificar em qual estágio o Brasil

se encontra e entender como seus indicadores estão em relação aos níveis necessários

para evolução em realização de inovações.

Figura 13: Estágios de Desenvolvimento de Inovação

Fonte: Global Innovation Index, 2013; Elaboração Própria

Ou seja, por mais que não haja capacidade de previsão do futuro quanto ao

desenvolvimento de inovações, a visão do SBI como um sistema complexo adaptativo

nos traz a perspectiva de que no longo prazo poder-se-á perceber como o Brasil irá

evoluir quanto à produção de inovações. Desta forma, o governo pode prever quais os

estágios de inovação e os ciclos que irão ocorrer durante o desenvolvimento do país

como gerador de inovações, podendo entender quais políticas serão necessárias e como

o país irá reagir com o tempo.

No tópico 3.2, por meio da análise de todos os pilares de inovação, pudemos

concluir que o Brasil encontra-se no primeiro estágio de desenvolvimento, ainda sendo

defectivo no desempenho de muitos indicadores. Ou seja, para que o país feche este

ciclo de desenvolvimento e atinja um estágio superior a esse, análises podem ser feitas

quanto ao próximo estágio a ser atingido e quanto à quais os caminhos a serem

Atinge nível mínimo dos

Recursos

Melhoras nas Instituições

Melhora geral com a

integração do mercado

Estabilidade em um alto

nível

101

percorridos para tal de modo que as iniciativas a serem realizadas elevem o desempenho

dos indicadores e os mesmos atinjam o nível necessário para que o Brasil tenha um

ambiente mais propenso ao desenvolvimento de inovações. Mesmo que o efeito dessas

inciativas isoladas ou o comportamento do SBI no curto prazo não possam ser previstos,

pode-se ver que seu desenvolver não se dará de forma aleatória.

102

5. CONCLUSÃO

O presente projeto de graduação objetivou verificar se a abordagem do Sistema

Brasileiro de Inovação por uma perspectiva diferente nos traria à luz aspectos referentes

às politicas de inovação e que não tivessem sido apontados ou tivessem sido pouco

abordados nos materiais lidos pelas autoras.

Para tal, foi realizada uma revisão da literatura quanto aos temas de inovação e

de Sistemas Complexos Adaptativos, bem como uma análise da evolução da prática da

inovação e das ações de estímulo à mesma no Brasil. Tais revisões foram consideradas

suficientes para a consecução do objetivo geral aqui proposto.

Verificamos que o país iniciou a formatação de um Sistema Nacional de

Inovação com bastante defasagem em relação aos países atualmente desenvolvidos, por

conta de sua condição colonial. A fim de reduzir tal gap, o Brasil desenvolveu, nos

últimos anos, diversos instrumentos e estratégias para o desenvolvimento científico e

tecnológico. Entretanto, o país ainda não possui um Sistema Nacional de Inovação

efetivo.

Bem como apontado por SENNES (2008), o arcabouço legal no Brasil no campo

propriedade intelectual é bastante completo e confiável, colocando o país entre aqueles

com melhor regulação no setor. Porém, a existência desse alto padrão regulatório não

garantiu a eficácia das atividades de propriedade intelectual no país, com falhas no

cumprimento integral das leis relacionadas. E como já mencionado no capítulo 3, em

2012, apenas 787 empresas foram habilitadas a usufruir dos benefícios fiscais da Lei do

Bem (dentre as 1.042 empresas que enviaram formulário). Apesar de esse número

representar um aumento de 700% desde 2006, quando da criação da lei, não podemos

afirmar que é um número expressivo. Podemos indicar como possíveis motivos: não

clareza da lei (dificuldades no enquadramento dos dispêndios em P&D, procedimentos

confusos para a requisição das isenções etc) o que acaba exigindo que as empresas

utilizem consultorias para auxiliá-las nesse processo; desconhecimento dos benefícios

da lei; estima-se que, no Brasil, existam menos de duzentas mil empresas que adotam o

lucro real e mais de um milhão que optam pelo lucro presumido, enquanto a lei

beneficia apenas aquelas com lucro real. Da mesma maneira, a Lei de Inovação não teve

103

alcance expressivo (MEMÓRIA, 2012). Nesse mesmo sentido, a FINEP carece de

monitoramento dos projetos beneficiados (inclusive para os sem reembolso), com vistas

a assegurar a aplicação dos recursos nos fins previstos (MORAIS, 2006).

Tudo isso nos leva a concluir que as ferramentas do Estado brasileiro de

incentivo à atividade inovadora não são eficazes. É inegável que ainda há enormes

avanços a serem conquistados e o papel do Estado é destacado. Observando o

desempenho do país nos pilares do Global Index, estamos mal colocados na sua grande

maioria, não apenas quando consideramos indicadores diretamente relacionados à

inovação. Isso, sob o entendimento de que a inovação é resultado da interação de

diversos fatores, nos leva a concluir que o alcance das iniciativas públicas devem

abranger um maior espectro de aspectos bem como atuar de modo mais eficiente

naqueles que já considera. Não obstante, deve ainda haver uma reforma que considere

as os objetivos das empresas enquanto participantes de um mercado competitivo.

Ainda que as autoras apenas dedicaram-se ao tema da inovação para o presente

trabalho e por um período de tempo reduzido, ao identificar as características dos SCA

no SBI, foi possível apontar diversos aspectos interessantes: necessidade de o Estado

atuar com maior assertividade nas questões éticas no âmbito público e privado; a

importância da velocidade de respostas por parte das empresas para a eficiência do SBI;

a utilidade do acesso aos meios de comunicação formais e informais para o

estabelecimento de conexões úteis á atividade inovadora; o valor do direcionamento das

empresas em relação aos seus clientes; a adaptação dos indicadores de inovação usados

pela esfera pública para a realidade dinâmica do SBI; a existência de entraves à

inovação não sendo tratados pelo poder público; a necessidade de maior equilíbrio entre

os controles do Estado e a autonomia dada às empresas; e a possibilidade do Estado usar

modelos como o do Global Index de Estágios de Desenvolvimento de Inovações para

suas políticas de inovação.

Por mais que os pontos levantados acima não representem de fato grandes

rupturas no âmbito da inovação, não há como negar que a análise do SBI a partir de uma

perspectiva diferente trouxe reflexões interessantes. Tal aplicação, podendo ser feita

com outros modelos teóricos de outros tipos de sistemas e por profissionais ligados às

104

atividades inovadores, tem potencial, portanto, de trazer reais benefícios às ações de

estímulo à inovação no Brasil.

Assim, as autoras consideram que o objetivo geral foi alcançado: verificamos

que é possível identificar novos pontos de alavancagem do Sistema Brasileiro de

Inovação a partir de sua análise como um Sistema Complexo Adaptativo.

Para trabalhos futuros, recomenda-se primeiramente, uma abordagem de estudos

de caso, conduzidos de forma a verificar empiricamente evidências que o SBI possui a

configuração de um Sistema Complexo Adaptativo. Estudos de caso podem, por

exemplo, identificar padrões de emergência de inovações no sistema, evidenciando

como ocorre o processo de geração de uma inovação. Por meio da demonstração

empírica que o sistema de fato apresenta o comportamento de um SCA, maior

profundidade de dados sobre os padrões e comportamentos poderão ser usados como

direcionadores de ações estratégicas.

Estes estudos serão fundamentais de modo a proporcionar insumos para a

tomada de decisão diante do paradoxo controle-autonomia, no qual o Estado e os

agentes que compõe este sistema obterão ferramentas e conhecimento para interpretar a

melhor forma de agir. Desta forma, uma análise fundamentada sobre o trade-off entre

controle e autonomia, de modo a entender até que ponto a criatividade do sistema é

comprometida poderá ser realizada. Outra abordagem de estudo possível dentro dos

estudos de caso seria com o foco de identificar ciclos do sistema, procurando entender

as características recorrentes desses ciclos e como o sistema reage a mudanças na

configuração de seus agentes e ambiente.

Estas possíveis abordagens futuras de estudos de caso seriam de alta importância

no desenvolvimento de políticas de incentivo a inovação e de acompanhamento destas

políticas, já que através de estudos que esclareçam a natureza do sistema de inovação

brasileiro, poder-se-á desenvolver metas que sejam apropriadas e que de fato revelem o

ponto ótimo deste sistema. Também é essencial a realização de estudos regulares que

apontem tendências para o futuro, para que estas metas estejam sempre coerentes com a

realidade do sistema atual e que reflitam as co-evoluções deste sistema.

105

Estudos que evidenciem padrões de mudanças ambientais que foram capazes de

gerar reações catastróficas também serão benéficos para o campo de estudo. Através

deles, poder-se-á entender historicamente como mudanças ambientais de diversas

magnitudes levaram o sistema a mudanças não-lineares, consequentemente entendendo

a sensibilidade a fatores econômicos e sociais brasileiros.

Outra abordagem de estudo sugerida trataria a influência dos agentes diante de

situações catastróficas e até onde os seus comportamentos são capazes de influenciar e

mudar o sistema, de modo a torná-lo menos sensível a mudanças ambientais. Desta

forma, aprofundando o conhecimento sobre as atividades catastróficas, o

comportamento dos agentes diante delas e das performances consequentes deste

comportamento. Consequentemente, poderemos entender como os agentes brasileiros

podem intervir no sistema e até que ponto sua intervenção será capaz de gerar o

resultado desejável.

Por fim, este estudo é apenas um primeiro passo para a reflexão sobre o Sistema

Brasileiro de Inovação diante da Teoria da Complexidade, cujas contribuições

empreendidas em outras áreas do conhecimento devem ser replicadas nesse sistema, o

qual tem elevado potencial de gerar imensas conquistas ao país.

106

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (ABDI), <

http://www.abdi.com.br/Paginas/sobre_abdi.aspx > Acessado em 01 de Agosto de 2014.

ALMEIDA, C. A. T., 2014, “Breve Histórico da Propriedade Industrial no Mundo e no

Brasil”, Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial – ABAPI,

Março de 2014.

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