sermao do monte lloyd-jones

748
ESTUDOS NO SERMÃO DO MONTE [Clicar em ÍNDICE] D. MARTYN LLOYD-JONES TRADUTOR: CARLOS BIAGINI ORIGINAL EM ESPANHOL: ESTUDIOS SOBRE EL SERMÓN DEL MONTE POR D. MARTYN LLOYD-JONES PASTOR, IGLESIA WESTMINSTER, LONDRES http://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.html ORIGINAL EM INGLÊS STUDIES IN THE SERMON ON THE MOUNT INTER-VARSITY PRESS 

Upload: zenilson-brito-barbosa

Post on 15-Oct-2015

223 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    1/748

    ESTUDOS NO SERMO DO MONTE[Clicar em NDICE]

    D.MARTYN LLOYD-JONES

    TRADUTOR:

    CARLOS BIAGINI

    ORIGINAL EM ESPANHOL:

    ESTUDIOS SOBRE EL SERMN DEL MONTE

    POR D.MARTYN LLOYD-JONES

    PASTOR,IGLESIA WESTMINSTER,LONDRES

    http://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.html

    ORIGINAL EM INGLS

    STUDIES IN THE SERMON ON THE MOUNT

    INTER-VARSITY PRESS

    http://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.htmlhttp://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.htmlhttp://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.html
  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    2/748

    Estudos no Sermo do Monte 2

    NDICE

    1. Introduo Geral

    2. Consideraes Gerais e Anlise3. Introduo s Bem-aventuranas4. Bem-aventurados os Pobres em Esprito (Mt 5:3, NVI)5. Bem-aventurados os que Choram (Mt 5:4)6. Bem-aventurados os Mansos (Mt 5:5)7. Justia e Bem-aventurana (Mt 5:6)8. Meios de Avaliar o Apetite Espiritual (Mt 5:6)

    9. Bem-aventurados os Misericordiosos (Mt 5:7)10. Bem-aventurados os Limpos de Corao (Mt 5:8)11. Bem-aventurados os Pacificadores (Mt 5:9)12. O Cristo e a Perseguio (Mt 5:10)13. Regozijo na Tribulao (Mt 5:11-12)14. O Sal da Terra (Mt 5:13)15. A Luz do Mundo (Mt 5:14)

    16. Assim Brilhe Tambm a Vossa Luz (Mt 5:13-16)17. Cristo e o Antigo Testamento (Mt 5:17-18)18. Cristo Cumpre a Lei e os Profetas (Mt 5:17-19)19. Justia Maior que a dos Escribas e Fariseus (Mt 5:20)20. A Letra e o Esprito (Mt 5:21-22)21. No Matars (Mt 5:21-26)22. A Extraordinria Pecaminosidade do Pecado (Mt 5:27-30)23. Mortificar o Pecado (Mt 5:29-30)24. Ensino de Cristo Acerca do Divrcio (Mt 5:31-32)25. O Cristo e Os Juramentos (Mt 5:33-37)26. Olho por Olho, Dente por Dente (Mt 5:38-42)27. A Capa e a Segunda Milha (Mt 5:38-42)28. Negar-se a Si mesmo e Seguir a Cristo (Mt 5:38-42)29. Amar os Inimigos (Mt 5:43-48)

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    3/748

    Estudos no Sermo do Monte 330. Que Fazeis de Mais? (Mt 5:43-48)31. Viver a Vida Justa (Mt 6:1-4)32. Como Orar (Mt 6:5-8)

    33. Jejum (Mt 6:16-18)34. Quando orares (Mt 6:9)35. Orao: Adorao (Mt 6:9-10)36. Orao: Petio (Mt 6:11-15)37. Tesouros na Terra e no Cu (Mt 6:19-20)38. Deus ou as Riquezas (Mt 6:19-24)39. A Detestvel Escravido do Pecado (Mt 6:19-24)40. No Andeis Ansiosos (Mt 6:25-30)41. Pssaros e Flores (Mt 6:25-30)42. Pequena F (Mt 6:30)43. Aumentando a F (Mt 6:31-33)44. Preocupao: Causas e Remdio (Mt 6:34)45. No Julgueis (Mt 7:1-2)46. O Cisco e a Viga (Mt. 7:1-5)47. Juzo e Discernimento Espirituais (Mt 7:6)

    48. Buscar e Encontrar (Mt 7:7-11)49. A Regra urea (Mt 7:12)50. A Porta Estreita (Mt 7:13-14)51. O Caminho Apertado (Mt 7:13-14)52. Falsos Profetas (Mt 7:15-16a)53. A rvore e os Frutos (Mt 7:15-20)54. Falsa Paz (Mt 7:21-23)

    55. Hipocrisia Inconsciente (Mt. 7:21-23)56. Os sinais do Autoengano (Mt 7:21-23)57. Os dois Homens e as duas Casas (Mt 7:24-27)58. Rocha ou Areia? (Mt 7:24-27)59. A Prova e a Crise da F (Mt 7:24-27)60. Concluso (Mt 7:28-29)

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    4/748

    Estudos no Sermo do Monte 4CAPTULO 1

    INTRODUO GERAL

    Ao examinar qualquer ensino, norma sbia proceder do geral aoparticular. S assim se pode evitar o perigo de que as rvores nodeixam ver o bosque. Esta norma tem importncia particular no caso doSermo da Montanha. Devemos levar em conta, portanto, que precisocomear por expor-se certos problemas gerais com relao a este famosoSermo e ao lugar que ocupa na vida, pensamento e perspectivas do

    povo cristo.

    O problema bvio para comear este: Por que devemos estudar oSermo do Monte? Por que devo lhes chamar a ateno a respeito de seuensino? Bom, a verdade que no sei que forme parte do dever do

    pregador explicar os processos mentais e afetivos prprios, emboranaturalmente que ningum deveria pregar se no sentir que Deus lhe deuuma mensagem. Todo aquele que tenta pregar e explicar as Escriturasdeve aguardar que Deus o guie e conduza. Suponho, pois, que a razo

    bsica de que pregue a respeito do Sermo do Monte que senti estapersuaso, esta compulso, esta direo do Esprito. Digo isto com todainteno, porque de ter dependido de mim no tivesse escolhido pregaruma srie de sermes a respeito do Sermo do Monte. Conforme entendoeste sentido de compulso, creio que a razo especfica de que o v fazer a condio em que se encontra a Igreja crist nestes tempos.

    No me parece que seja julgar com dureza dizer que a caractersticamais bvia da vida da Igreja crist de hoje , por desgraa, suasuperficialidade. Esta apreciao se baseia no s em observaes atuais,mas tambm ainda mais em tais observaes feitas luz de pocasanteriores da vida da Igreja. Nada h mais saudvel para a vida crist queler a histria da Igreja, que voltar a ler o referente aos grandesmovimentos do Esprito de Deus, e observar o que sucedeu na Igreja emdiferentes momentos de sua histria. Agora, creio que qualquer um que

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    5/748

    Estudos no Sermo do Monte 5contemple o estado atual da Igreja crist luz desse marco histricochegar concluso indesejada de que a caracterstica destacada da vidada Igreja de hoje , como eu j disse, a superficialidade. Quando digo

    isso, penso no s na vida e atividade da Igreja em certo sentidoevangelizador. A este respeito me parece que todos estariam de acordoem que a superficialidade a caracterstica mais bvia. Penso no s nasatividades evangelizadoras modernas em comparao e contraste comos grandes esforos evangelizadores da Igreja no passado a tendnciaatual turbulncia, por exemplo, e o emprego de recursos que tivessemhorrorizado e chocado a nossos pais. Penso tambm na vida da Igreja emgeral; dela pode-se dizer o mesmo, inclusive em matrias como seuconceito da santidade e seu enfoque todo da doutrina da santificao.

    O importante que descubramos as causas disso. Quanto a mim, eusugeriria que uma causa bsica a atitude que temos com relao Bblia, nossa falha em lev-la a srio, em tom-la como e em permitirque nos fale. Junto a isso, talvez, est nossa tendncia invarivel a ir deum extremo a outro. Mas o principal, parece-me, a atitude que temoscom relao s Escrituras. Permitam-me explicar com algo mais de

    detalhe o que quero dizer com isso.Nada h mais importante na vida crist que a maneira como

    tratamos a Bblia, e a maneira como a lemos. nosso texto, nossa nicafonte, nossa autoridade nica. Nada sabemos de Deus e da vida crist emcerto sentido verdadeiro sem a Bblia. Podemos tirar concluses danatureza (e possivelmente de vrias experincias msticas) por meio dasque podemos chegar a crer num Criador supremo. Mas creio que a

    maioria dos cristos esto de acordo, e esta foi a persuaso tradicional aolongo da histria da Igreja, que no h autoridade parte deste Livro.

    No podemos depender s de experincias subjetivas porque h espritosmaus alm dos bons; h experincias falsas. A, na Bblia, est nossanica autoridade.

    Muito bem; sem dvida importante que tratemos a Bblia de umamaneira adequada. Devemos comear por estar de acordo em que no

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    6/748

    Estudos no Sermo do Monte 6basta ler a Bblia. Pode-se l-la de uma forma to mecnica que notiremos nenhum proveito disso. Por isso creio que devemos tomarcuidado de todas as regras e normas em matria de disciplina na vida

    espiritual. bom ler a Bblia diariamente, mas pode ser infrutfero se ofizermos s para poder dizer que lemos a Bblia todos os dias. Sou umgrande defensor dos esquemas para a leitura da Bblia, mas devemosandar com cuidado de que com o emprego de tais esquemas no noscontentamos em ler a parte atribuda para o dia sem logo refletir nemmeditar a respeito do lido. De nada serviria isso. Devemos tratar a Bbliacomo algo que de importncia vital.

    A prpria Bblia nos diz isso. Sem dvida, vocs lembram dafamosa observao do apstolo Pedro com relao aos escritos doapstolo Paulo. Diz que h coisas neles que so difceis de entender, asquais os indoutos e inconstantes torcem... para sua prpria perdio. Oque quer dizer o seguinte. Leem estas Epstolas de Paulo, naturalmente;mas as deformam, desvirtuam-nas para sua prpria destruio. Pode-semuito bem ler estas Epstolas e no ser melhor no final que o que se erano comeo devido ao que algum fez Paulo dizer, desvirtuando-o para

    destruio prpria. Isto algo que sempre devemos ter em mente comrelao Bblia em geral. Posso estar sentado com a Bblia aberta diantede mim; posso estar lendo suas palavras e percorrendo seus captulos; e,contudo, posso estar tirando uma concluso que no tem nada a ver comas pginas que tenho lido.

    No h dvida de que a causa mais comum de tudo isso atendncia frequente de ler a Bblia com uma teoria j em mente.

    Aproximamo-nos da Bblia com tal teoria, e tudo o que lemos ficacolorido por ela. Todos ns sabemos que assim sucede. Em certo sentido certo o que se diz que, com a Bblia, pode-se provar tudo o que se quer.Assim nasceram as heresias. Os hereges no eram homens poucohonestos; eram homens errados. No deveria pensar-se que eram homensque se propuseram expressamente errar e ensinar algo errneo; contam-se, antes, entre os homens mais sinceros que a Igreja teve. O que lhes

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    7/748

    Estudos no Sermo do Monte 7ocorreu ento? O problema foi este: chegaram a ter uma teoria e sesentiram encantados com ela; logo foram com esta teoria Bblia, e lhes

    pareceu encontr-la na mesma. Se a pessoa ler meio versculo e insiste

    muito em outro meio versculo de outra passagem, logo terdemonstrado sua teoria.Agora, devemos tomar cuidado com isso. Nada h mais perigoso

    que ir Bblia com uma teoria, com ideias preconcebidas, com algumaideia favorita prpria, porque quanto se faz, passa-se pela tentao deinsistir muito num aspecto e deixar de lado outro.

    Este perigo tende a manifestar-se sobretudo no problema da relaoentre lei e graa. Sempre sucedeu assim na histria da Igreja desde seucomeo e continua sucedendo hoje em dia. Alguns insistem tanto na leique reduzem o evangelho de Jesus Cristo com sua liberdade gloriosa a

    pouco mais que uma coleo de mximas morais. Para eles tudo lei eno fica nada da graa. Falam de tal modo da vida crist como de algoque devemos fazer para chegar a ser cristos, que se converte em purolegalismo e a graa desaparece dela. Mas lembremos tambm que igualmente possvel insistir tanto na graa custa da lei que tambm se

    chegue a perder o evangelho do Novo Testamento.Permitam-me lhes dar um exemplo disso. O apstolo Paulo, nada

    menos que ele, viu-se constantemente diante de semelhante dificuldade.Nunca houve um homem cuja pregao, com sua poderosa insistncia nagraa, fosse com mais frequncia mal entendida. Por certo, lembram aconcluso que alguns tinham tirado em Roma e em outros lugares.Diziam: "Pois bem, se isto o que ensina Paulo, faamos o mal para que

    a graa possa abundar, porque, sem dvida alguma, este ensino conduz aessa concluso e no a outra. Paulo havia dito simplesmente: "Onde o

    pecado abundou, superabundou a graa" Bem pois, sigamos pecando afim de que a graa possa superabundar.' 'Deus no o queira', diz Paulo; etem que repetir constantemente. Dizer que porque estamos sob a graa jno temos nada que ver com a lei, no o que ensinam as Escrituras.

    Naturalmente que j no estamos sob a lei mas sim sob a graa. Mas isto

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    8/748

    Estudos no Sermo do Monte 8no significa que no precisemos observar a lei. No estamos sob a leino sentido de que nos condene; j no nos julga nem condena. No! masdevemos observ-la, e inclusive ir para alm. O argumento do apstolo

    Paulo que se deveria viver, no como aquele que est sob a lei, e simcomo homem livre em Cristo. Cristo observou a lei, viveu a lei; comoeste mesmo Sermo do Monte sublinha, nossa justia deve exceder a dosescribas e fariseus. Na verdade, no veio abolir a lei; cada um de seusdetalhes deve ser cumprido. E isto algo que vemos muitas vezesesquecido nesta tentativa de situar a lei e a graa como anttese, e aconsequncia que h homens e mulheres que prescindem da lei deforma total.

    Mas, deixem-me dizer o seguinte. No verdade que no caso demuitos de ns, na prtica nossa ideia da doutrina da graa tal que muito

    poucas vezes tomamos o singelo ensino do Senhor Jesus Cristo comseriedade? Insistimos tanto no ensino de que tudo graa e de que nodeveramos procurar imitar seu exemplo para ser cristos, que ficamosvirtualmente na posio de prescindir por completo de seu ensino e dedizer que no temos nada a ver com ela porque estamos sob graa. Mas

    me pergunto com quanta seriedade tomamos o evangelho de nossoSenhor e Salvador Jesus Cristo. A melhor maneira de enfrentar este

    problema me parece que examinar o Sermo do Monte. Que ideiatemos, pergunto-me, deste Sermo? Supondo que neste momentosugerisse que escrevssemos todas as respostas s seguintes perguntas: Oque significa para ns o Sermo do Monte? Em que sentido entra emfazer parte de nossas vidas e que lugar ocupa em nosso pensar e em

    nossa perspectiva da vida? Que relao temos com este Sermoextraordinrio que ocupa um lugar to proeminente nestes trs captulosdo Evangelho segundo So Mateus? Creio que encontrariam o resultadomuito interessante e talvez muito surpreendente. Sim, claro, estamosmuito inteirados da doutrina da graa e do perdo, e temos os olhos

    postos em Cristo. Mas aqui nestes documentos, que dizemos tm

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    9/748

    Estudos no Sermo do Monte 9autoridade, est este Sermo. Em que ponto comeam a fazer parte denossa perspectiva?

    Isto quero dizer quando falo de pano de fundo e introduo. No

    entanto, demos um passo mais; vamos expor-nos outra pergunta vital. Aquem est destinado o Sermo do Monte? A quem se aplica? Qual naverdade o propsito deste Sermo; que importncia tem? Quanto a isto,houve opinies opostas. Houve uma vez o chamado ponto de vista'social' do Sermo do Monte. Dizia que o Sermo do Monte na verdadea nica coisa importante no Novo Testamento, que nele est ofundamento do chamado evangelho social. Os princpios, dizia-se, queele contm falam de como devem viver os homens, e a nica coisa que

    preciso fazer aplicar o Sermo do Monte. Com isso, pode-seestabelecer o reino de Deus na terra, a guerra acabar e todos os

    problemas terminaro. Este o ponto de vista tpico do evangelho social,mas no temos por que gastar tempo nele. J passou de moda; s perduraentre certas pessoas que se poderiam considerar como relquias damentalidade de trinta anos atrs. As duas guerras mundiais acabaramcom este ponto de vista. Embora em muitos sentidos critiquemos a

    teologia do Barth, devemos lhe render este tributo: ps de uma vez portodas em completo ridculo o evangelho social. Mas naturalmente que averdadeira resposta a este ponto de vista a respeito do Sermo do Monte que sempre prescindiu que as bem-aventuranas, dessas afirmaescom que comea o Sermo, 'Bem-aventurados os pobres de esprito';'bem-aventurados os que choram.' Como esperamos lhes demonstrar,estas afirmaes significam que ningum pode viver o Sermo do Monte

    por si mesmo, sem ajuda. Os defensores do evangelho social, depois deter prescindido das bem-aventuranas segundo convenincia, insistiramna considerao dos mandatos e tm dito, 'Este o evangelho.'

    Outro ponto de vista, que talvez seja mais grave para ns, aqueleque considera o Sermo do Monte como uma simples elaborao ouexposio da lei mosaica. Nosso Senhor, dizem, percebeu que osfariseus, os escribas e outros mestres do povo interpretavam mal a Lei

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    10/748

    Estudos no Sermo do Monte 10que Deus tinha dado ao Seu povo por meio de Moiss; o que faz, pois,no Sermo do Monte elaborar e explicar a lei mosaica, dando-lhe umcontedo espiritual mais elevado. Este ponto de vista mais grave,

    naturalmente; e com todo me parece que completamente inadequadoembora no seja por outra coisa seno porque tambm prescinde dasbem-aventuranas. As bem-aventuranas nos colocam imediatamentenum terreno que vai completamente para alm da lei de Moiss. OSermo do Monte, sim, explica e expe a lei em alguns pontos mas vai

    para alm disso.O outro ponto de vista que quero mencionar aquele que

    poderamos chamar ponto de vista 'dispensacional' do Sermo do Monte. provvel que muitos de vocs o conheam. Certas 'Bblias'

    popularizaram-no. (Jamais gostei de tais adjetivos; s h uma Bblia,mas por desgraa tendemos a falar da 'Bblia tal' ou a 'Bblia qual'.)Popularizaram-se, pois, certos ensinos por este meio, as quais ensinamum ponto de vista dispensacional do Sermo do Monte; em essnciaafirmam que no tem nada a ver com os cristos de hoje. Dizem quenosso Senhor comeou a pregar a respeito do Reino de Deus, e que o

    Sermo do Monte esteve relacionado com a inaugurao deste reino. Pordesgraa, seguem dizendo, os judeus no creram seu ensino. Por issonosso Senhor no pde estabelecer o reino, e portanto, quase maneirade ideia tardia, veio a morte na cruz, e maneira de outra ideia tardia,veio a instituio da Igreja e a era da igreja, o qual perdurar at certo

    ponto da histria. Ento nosso Senhor voltar com o reino e voltar aentrar em vigor o Sermo do Monte. Isto o que ensinam; dizem, de

    fato, que o Sermo do Monte no tem nada que ver conosco. 'para aera do reino.' Esteve em princpio destinado para aqueles a quem nossoSenhor pregava; entrar em vigor de novo no milnio. a lei dessa era edo reino dos cus; e no tem absolutamente nada a ver com os cristosde agora.

    No h dvida de que estamos diante de um problema srio. Esteponto de vista ou acertado ou errneo. Segundo ele no preciso ler o

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    11/748

    Estudos no Sermo do Monte 11Sermo do Monte; no me devem preocupar os preceitos que contm;no tenho por que me sentir condenado se no fazer certas coisas; notem nada que ver comigo. Parece-me que se pode responder a tudo isto

    do seguinte modo. O Sermo do Monte foi pregado de forma primria eespecfica aos discpulos. 'Sentando-se, vieram a ele seus discpulos. Eabrindo sua boca lhes ensinava, dizendo. . .' Agora, parte-se da base deque lhes pregou . Tomemos, por exemplo, as palavras que lhes dirigiu,'Vs sois o sal da terra'; 'Vs sois a luz do mundo.' Se o Sermo doMonte no tiver nada que ver com os cristos de hoje, jamais devemosdizer que somos o sal da terra nem que somos a luz do mundo, porqueisso no se aplica a ns. Aplicou-se s aos primeiros discpulos; voltar aser aplicado a outros mais adiante. Mas, enquanto isso, no tem nada quever conosco. Tambm devemos prescindir das promessas do Sermo.

    No devemos dizer que devemos fazer com que nossa luz brilhe diantedos homens a fim de que vejam nossas boas obras e glorifiquem a nossoPai que est no cu. Se todo o Sermo do Monte no se pode aplicar aoscristos de hoje, todo ele carece de importncia. Mas evidente quenosso Senhor pregou a estes homens e lhes disse o que deviam fazer

    neste mundo, no s enquanto Ele estivesse aqui, mas tambm depois deque tivesse ido. Pregou-se a pessoas que deviam pratic-lo nesse tempo e

    para sempre depois.No s isto. Para mim outra considerao muito importante que

    no Sermo do Monte no se encontra nenhum ensino que no se achetambm nas diferentes Epstolas do Novo Testamento. Faam uma listados ensinos do Sermo do Monte; logo leiam as Epstolas. Encontraro

    que o ensino do Sermo do Monte tambm se encontra nelas. Agora, asEpstolas so para os cristos de hoje; por isso se o ensino que contm o mesmo que temos no Sermo do Monte, evidente que o ensino doSermo tambm para os cristos de hoje. Este argumento de peso eimportante. Mas talvez se poderia expressar melhor da seguinte forma. OSermo do Monte no mais que um desenvolvimento acabado,grandioso, e perfeito do que Nosso Senhor chamou seu novo

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    12/748

    Estudos no Sermo do Monte 12mandamento. Este novo mandamento foi que nos amssemos uns aosoutros como Ele nos ama. O Sermo do Monte no outra coisa senoum desenvolvimento disso. Se somos de Cristo, e nosso Senhor nos

    mandou, que nos amemos uns aos outros, aqui nos mostrado comofaz-lo.O ponto de vista dispensacional se baseia numa ideia errnea do

    reino de Deus. Da nasce a confuso. Estou de acordo, naturalmente, emque o reino de Deus em certo sentido ainda no foi estabelecido na terra. um reino que h de vir; sim. Mas tambm um reino que veio. 'Oreino de Deus est em meio de vs', e 'dentro de vs'; o reino de Deusest em todo cristo verdadeiro, e na Igreja. Significa 'o reino de Deus', o'reino de Cristo'; e Cristo reina hoje em todo cristo verdadeiro. Reina naIgreja quando esta o reconhece de fato. O reino veio, o reino vem, oreino h de vir. No entanto, sempre devemos ter isso em mente. Ondequer que Cristo aceito como Rei, o reino de Deus veio, de modo que,embora no possamos dizer que reina sobre todo o mundo nos momentosatuais, sim, reina certamente dessa forma nos coraes e vidas de todoSeu povo. No h, portanto, nada to perigoso como dizer que o Sermo

    do Monte no tem nada que ver com os cristos de agora. Antes, queroexpress-lo deste modo: para todo o povo cristo. uma descrio

    perfeita da vida do reino de Deus.Agora, no me cabe a menor dvida de que por esta razo Mateus o

    ps no comeo de seu evangelho. Considera-se que Mateus escreveu oevangelho especialmente para os judeus. Isto foi o que quis fazer. Daque insista tanto no reino dos cus. E o que quis Mateus sublinhar? Sem

    dvida, isso. Os judeus tinham uma ideia falsa e materialista do reino.Criam que o Messias era algum que ia chegar para emancip-los

    politicamente. Esperavam algum que os libertasse do jugo romano.Sempre pensaram no reino em certo sentido externo, mecnico, militar,materialista. Por isso, Mateus coloca o ensino verdadeiro com relao aoreino nas primeiras pginas do Evangelho, porque o grande propsitodeste Sermo apresentar uma exposio do reino como algo que

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    13/748

    Estudos no Sermo do Monte 13essencialmente espiritual. O reino sobretudo algo 'dentro de vs'. oque dirige e governa o corao, a mente e a perspectiva. No s no algo que conduz a um grande poderio militar, mas tambm 'pobre em

    esprito'. Em outras palavras, no nos dito no Sermo do Monte,'Vivam assim e sero cristos'; antes, somos informados, 'Como socristos vivam assim.' Assim deveriam viver os cristos; assim tm queviver os cristos.

    Para completar este aspecto de nossa argumentao devemosenfrentar outra dificuldade. Alguns dizem: Acaso no diz o Sermo doMonte que nossos pecados so perdoados s se ns perdoarmos a outros?Acaso no diz nosso Senhor, "Se no perdoardes aos homens as suasofensas, tampouco vosso Pai vos perdoar as vossas ofensas"? No istolei? Onde est a graa? Que se nos diga que se no perdoarmos noseremos perdoados, no graa. Deste modo parece que demonstramque o Sermo do Monte no se aplica a ns. Mas se disserem isto, teroque separar a quase toda a cristandade do evangelho. Lembrem tambmque nosso Senhor ensinou exatamente o mesmo na parbola que se refereno final de Mateus 18, a do servo que ofendeu o seu rei. Este homem foi

    ao rei para lhe pedir que o perdoasse; e o rei o perdoou. Mas ele mesmose negou a perdoar um conservo que tambm lhe devia algo, com aconsequncia de que o rei retirou o perdo e o castigou. Nosso Senhorfaz o seguinte comentrio a respeito disso: 'Assim tambm meu Paicelestial far convosco se no perdoardes de todo corao cada um a seuirmo suas ofensas.' exatamente o mesmo ensino. Mas ensina acasoque sou perdoado s por ter perdoado? No, o que se ensina , e

    devemos tomar este ensino com toda seriedade, que se no perdoo, nosou perdoado. Explic-lo-ia assim: aquele que se viu como pecadorculpado e vil diante de Deus sabe que sua nica esperana do cu queDeus o tenha perdoado. Aquele que de fato v, sabe e cr nisso no podenegar-se a perdoar a outro. De modo que, aquele que no perdoa noconhece o perdo. Se meu corao foi quebrantado diante da presena deDeus no posso recusar o perdo; e, portanto, digo a qualquer um que se

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    14/748

    Estudos no Sermo do Monte 14imagine que Cristo perdoou seus pecados, embora ele mesmo no perdoea ningum. Tome cuidado, meu amigo, no seja que despertes naeternidade e te encontres com quem te diz, 'Aparta-te de mim; nunca te

    conheci.' Interpretas mal a doutrina, a gloriosa doutrina da graa deDeus. Aquele que foi de fato perdoado e sabe, aquele que perdoa. Istosignifica o Sermo do Monte sobre isso.

    Mais tarde entraremos em mais detalhes a esse respeito. Nestemomento me permitam uma ltima pergunta. Tendo considerado a quemse aplica o Sermo do Monte, perguntemo-nos o seguinte: Por quedevemos estud-lo? Por que deveramos procurar viv-lo? Vou dar umalista de respostas. O Senhor Jesus Cristo morreu para que pudssemosviver o Sermo do Monte. Morreu. Por que? 'Para... purificar para si um

    povo prprio, zeloso de boas obras,' diz o apstolo Paulo - o apstolo dagraa (veja Tito 2:14). O que quer dizer? Quer dizer que morreu para que

    pudssemos viver o Sermo do Monte. Ele o tornou possvel.A segunda razo para estudar que nada me mostra a absoluta

    necessidade do novo nascimento, e do Esprito Santo e de sua aointerna, tanto como o Sermo do Monte. Estas bem-aventuranas me

    derrubam ao solo. Mostram-me minha absoluta impotncia. Se no fossepelo novo nascimento, nada poderia. Leiam e estudem-no, enfrentem a simesmos luz do mesmo. Ele os levar a compreender a necessidadefinal do novo nascimento e da ao gratuita do Esprito Santo. Nadaconduz ao evangelho e Sua graa como o Sermo do Monte.

    Outra razo esta. Quanto mais vivemos e procuramos praticar esteSermo do Monte, tanto mais bnos experimentamos. Considerem as

    bnos que so prometidas aos que o praticam. O problema de muito doque se ensina a respeito da santidade que deixa de lado o Sermo doMonte e nos pede que experimentemos a santificao. Este no omtodo bblico. Se quisermos ter poder na vida e receber bno, vamosdiretamente ao Sermo do Monte. Vivamo-lo e pratiquemo-lo comentrega total, e com isso chegaro as bem-aventuranas prometidas.'Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, porque eles sero

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    15/748

    Estudos no Sermo do Monte 15saciados.' Se desejamos ser satisfeitos, no busquemos bnos msticas;no vamos a reunies com a esperana de consegui-lo. Examine oSermo do Monte com suas implicaes e exigncias, considere sua

    necessidade absoluta, e o alcanar. o caminho direto bem-aventurana.Isto desejo deixar impresso na mente de todos. Digo-lhes que o

    melhor mtodo de evangelismo. No h dvida de que todos deveramosnos preocupar com isso nestes tempos. O mundo de hoje busca enecessita desesperadamente verdadeiros cristos. Nunca me canso dedizer que o que a Igreja precisa fazer no organizar campanhas deevangelizao para atrair a outros, mas sim comear a viver a vida crist.Se o fizesse, homens e mulheres encheriam nossas igrejas. Diriam, 'Qual o secreto disso?' Quase diariamente lemos que o verdadeiro segredo docomunismo que parece fazer algo e dar algo s pessoas. -me dito comfrequncia, ao falar com jovens e ler livros, que o comunismo avanatanto no mundo moderno porque as pessoas sentem que seus seguidoresfazem algo e se sacrificam pelo que creem. Assim ganham membros. Sh uma maneira de rebater isso, e demonstrar que possumos algo

    infinitamente maior e melhor. Tive a dita de falar no faz muito commais de uma pessoa convertida do comunismo, e em todos os casos nofoi consequncia de um sermo ou argumentao intelectual, mas sim deque este comunista viu em algum cristo singelo abnegao e

    preocupao por outros, mais sinceras que ele ou ela jamais tinhamesperado.

    Permitam-me sublinhar isso com uma citao de algo que li faz

    algum tempo. Faz tempo foi ministro do governo ndio um grandehomem chamado Dr. Ambedkar, prias e lder dos prias da ndia. Nessetempo de quem estou falando tinha muito interesse pelos ensinos doBudismo, e assistiu a um Congresso de vinte e sete pases no Ceilo quese tinham reunido para inaugurar uma associao mundial de budistas.Disse que a razo principal de assistir ao Congresso foi o desejo dedescobrir at que ponto o budismo era algo vivo. Disse no Congresso,

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    16/748

    Estudos no Sermo do Monte 16'Estou aqui para descobrir at que ponto a religio budista dinmica

    pelo que respeita aos habitantes deste pas.' A temos o lder dos priasque queria examinar o budismo. Disse: 'Desejo ver se for algo vivo. Tem

    algo a oferecer s massas de meus irmos prias? Tem dinamismo? algo que pode elevar o povo?' Mas a tragdia deste homem to capaz eculto que j tinha passado muito tempo na Amrica e Gr-Bretanha,estudando o cristianismo. E por ter descoberto que no era algo vivo, porter encontrado que carecia de dinamismo, voltava-se agora para o

    budismo. Embora no tinha abraado o budismo, no entanto procuravaver se possua a fora que andava buscando. Este a provocao que selana a vocs e a mim. Sabemos que o budismo no a resposta.Pretendemos crer que o Filho de Deus veio ao mundo e que enviou o Seu

    prprio Esprito Santo, com seu prprio poder absoluto que permanecernos homens para faz-los viver uma vida como a Sua. Veio, digo, viveu,morreu, ressuscitou e enviou o Esprito Santo para que vocs e eu

    pudssemos viver o Sermo do Monte.No digam que no tem nada a ver com vocs. Mas, sim, tem

    muitssimo que ver conosco! Se todos ns vivssemos o Sermo do

    Monte, os homens saberiam que o evangelho cristo possui dinamismo;saberiam que algo vivo; no andariam buscando em outras partes.Diriam, 'Aqui est.' Se leem a histria da Igreja vero que os verdadeirosavivamentos chegaram sempre quando os cristos tomaram a srio esteSermo do Monte e enfrentaram a si mesmos luz do mesmo. Quando omundo v o homem verdadeiramente cristo, no s se sente condenado,mas tambm atrado, arrastado. Portanto, estudemos com cuidado este

    Sermo que quer nos mostrar o que deveramos ser. Examinemo-lo paraque possamos ver o que podemos ser. Porque no s apresenta o que nosexige; assinala onde est a fonte de poder. Deus nos d graa paraexaminar o Sermo do Monte com seriedade e sinceridade e em oraoat que nos convertamos em exemplos vivos do mesmo, de Seu gloriosoensino.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    17/748

    Estudos no Sermo do Monte 17CAPTULO 2

    CONSIDERAES GERAIS E ANLISE

    No captulo anterior examinamos os antecedentes do Sermo doMonte e apresentamos uma introduo ao mesmo. Embora queria j sairdisso, devemos ainda examinar o Sermo de uma forma geral antes deentrar em detalhes e de analisar as afirmaes concretas que contm.Parece-me que faz-lo assim muito bom e conveniente. No querodizer com isso que eu v embarcar num estudo do que poderamoschamar tecnicismos. Os peritos sentem prazer em discutir, por exemplo,

    se o Sermo do Monte tal como o refere Mateus 5 e 6 igual ao quecontm Lucas 6. provvel que muitos de vocs conheam o que sedisse a respeito disso. Quanto a mim, com franqueza no me preocupagrande coisa: na verdade, no temo dizer que no me interessa. No que queira lanar por terra a coragem de uma discusso e estudocuidadosos da Escritura nesta forma; mas sim me parece que necessrio estar constantemente a par para no deixar-se submergir tanto

    nos tecnicismos da Escritura que passemos por alto sua mensagem.Embora devamos nos interessar pelo problema da concordncia dosEvangelhos e por outros parecidos, Deus no quer, digo, queconsideremos os Evangelhos como uma espcie de quebra-cabeasintelectual. Os Evangelhos no so para que extraiamos deles esquemase classificaes perfeitos; so para que os leiamos a fim de que saibamosaplic-los, viv-los e pratic-los.

    No tento, portanto, dedicar tempo a examinar tais questestcnicas. Sugeriram-se vrias classificaes e subdivises do Sermo talcomo aparece nestes trs captulos; houve muitas discusses a respeitode questes como se h sete bem-aventuranas, oito ou nove. Outros

    podem dedicar tempo a estes problemas se assim o desejarem, mas eucreio que o importante no so os nmeros, por assim dizer, mas sim que

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    18/748

    Estudos no Sermo do Monte 18examinemos as prprias bem-aventuranas. Por isso, espero nodefraudar a ningum que esteja interessado nessa classe de estudo.

    Quanto a isso, nunca esquecerei um homem que, sempre que o

    encontrava, deixava-me com a impresso de que era um grandeestudioso da Bblia. Suponho que em certo sentido o era, mas sua vidapor desgraa estava muito longe do que se descreve nas pginas do NovoTestamento. Contudo, o estudo da Bblia era seu passatempo favorito eisto o que temo. possvel ser estudioso da Bblia em certo sentidomecnico. Assim como alguns passam horas analisando Shakespeare,outros o passam analisando a Bblia. muito bom analisar a Escritura sea pessoa o faz com carter secundrio e se ela tem cuidado de que issono se converta em algo exclusivo, de modo que s nos interessemos emcerto sentido objetivo e intelectual. Trata-se de uma Palavra nica, e nose deve estudar como qualquer outro livro. Cada vez entendo maisaqueles pais e santos da Igreja de sculos passados que diziam que aBblia s se deve ler de joelhos. Necessitamos ser lembrados disso semcessar quando nos aproximamos da Palavra de Deus, ou seja, que naverdade e de fato a Palavra de Deus que nos fala diretamente.

    A razo, pois, de por que considero importante que falemos doSermo do Monte em conjunto antes de entrar em detalhes, o perigoconstante de certas afirmaes, a nos concentrar nelas custa do resto. Omodo de corrigir esta tendncia, creio, cair na conta de que no se podeentender nenhuma parte deste Sermo seno luz de todo ele. Algunsamigos me tm dito: 'Vai me interessar mais quando chegar a dizer com

    preciso o que quer dizer D a quem te pedir', etc. Isto denota uma

    atitude errada diante do Sermo do Monte. Fixam-se s em afirmaesparticulares. Isto entranha um alto risco. O Sermo do Monte, se mepermite empregar tal comparao, como uma grande composiomusical, como uma sinfonia se quiserem. Agora, o todo maior que umasrie de partes, e nunca devemos perder de vista o conjunto. No temodizer que, a no ser que tenhamos entendido e captado o Sermo doMonte em conjunto, no possvel entender nenhum de seus mandatos

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    19/748

    Estudos no Sermo do Monte 19concretos. Quero dizer que vo e intil apresentar a algum ummandato concreto do Sermo do Monte a no ser que tal pessoa j tenhacrido, e aceito as bem-aventuranas, e tenha conformado sua vida s

    mesmas.Nisso radica o fato de que a chamada ideia da 'aplicao social doSermo do Monte s necessidades modernas' seja uma falcia tocompleta e uma heresia. Com frequncia as pessoas o aplicaram destemodo. Por exemplo, escolhem o ponto de 'dar a outra face'. Tiram-no docontexto do Sermo e, baseados nisso, afirmam que todas as guerras soimorais e anticrists. No quero agora discutir o problema do pacifismo;o que me preocupa que no se pode tomar esse mandato concreto eapresent-lo a um indivduo ou nao ou ao mundo a no ser que esseindivduo, ou essa nao, ou o mundo inteiro vivam j e pratiquem asbem-aventuranas. Todos os mandatos concretos que estudaremosseguem s bem-aventuranas com as quais comea o Sermo. Isto querodizer quando afirmo que devemos comear com uma viso sintica,geral totalmente antes de nem sequer comear a considerar as partesconcretas. Em outras palavras, tudo o que o Sermo contm, se o

    tratarmos de forma adequada, e se quisermos que nos seja de proveito,deve ser tomado em seu marco natural; e, como acabo de sublinhar, aordem em que os mandatos aparecem no Sermo na verdade de sumaimportncia. As bem-aventuranas no aparecem no final, mas sim nocomeo, e no temo afirmar que a no ser que tenhamos uma ideia bemclara a respeito delas, no vale a pena prosseguir. No temos direito a

    prosseguir.

    Neste Sermo h uma espcie de sequencia lgica. E no s isso; htambm uma ordem e sequncia espirituais. Nosso Senhor no diz estascoisas sem pensar; tudo premeditado. Apresentam-se certos postulados,e deles se seguem certas coisas. Por isso, nunca discuto nenhum mandatoconcreto do Sermo com uma pessoa se no estiver bem seguro de queela crist. De nada serve pedir a algum que j no cristo, que

    procure viver ou praticar o Sermo do Monte. Esperar uma conduta

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    20/748

    Estudos no Sermo do Monte 20crist de quem no nasceu de novo heresia. Os convites do evangelhoquanto conduta, tica e moralidade sempre se baseiam no

    pressuposto de que aqueles a quem tais mandatos so dirigidos so

    cristos.Isto bvio no caso de qualquer das Epstolas, e tambm o nestecaso. Tomem a Epstola que quiserem. Vero que a subdiviso igualem todas; sempre a doutrina primeiro, e logo as concluses da doutrina.Propem-se os grandes princpios e se d uma descrio dos cristos aquem vai a carta dirigida. Logo, devido a isso, ou porque creem tal coisa,'portanto' so exortados a fazer certas coisas. Sempre tendemos aesquecer que todas as Epstolas do Novo Testamento foram escritas acristos e no a no-cristos; e os convites em termos ticos dasEpstolas se dirigem sempre aos cristos, aos que so homens e mulheresnovos em Cristo Jesus. Este Sermo do Monte exatamente o mesmo.

    Muito bem; procuremos apresentar uma espcie de diviso geral docontedo do Sermo do Monte. Tambm nisso vero que quaseverdade dizer que cada um tem sua prpria subdiviso e classificao.Em certo sentido, por que no deveriam t-la? Nada h mais vo que

    perguntar: 'Qual a subdiviso e classificao corretas do contedo desteSermo?' Pode ser subdividido de vrias maneiras. O que me parecemais adequado o seguinte. Dividiria o Sermo numa parte gerale outraespecfica. A parte geral do Sermo abrange do Mateus 5:3-16. Nelestemos certas afirmaes gerais com relao ao cristo. Logo o resto doSermo se ocupa de aspectos especficos de sua vida e conduta. Primeiroo tema geral, e logo uma ilustrao deste tema em particular.

    Mas por convenincia, podemos ir um pouco alm em nossasubdiviso. Em Mateus 5:3-10 temos a descrio da ndole do cristo.Quer dizer, mais ou menos, as bem-aventuranas que so uma descrioda ndole do cristo em geral. Logo, os vv. 11,12 diria que apresentam andole do cristo segundo visto pela reao do mundo diante dele.Somos informados, 'Bem-aventurados sois quando por minha causa vosvituperem e vos perseguirem, e disserem todo tipo de mal contra vs,

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    21/748

    Estudos no Sermo do Monte 21mentindo. Regozijai-vos e alegrai-vos, porque o vosso galardo grandenos cus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vs.'Em outras palavras, a ndole do cristo descrita de forma positiva e

    negativa. Primeiro vemos que classe de homem , e logo somosinformados, por ser assim, suceder-lhe-o certas coisas. Mas sempre setrata de uma descrio geral. Logo, naturalmente, os vv. 13-16 so umaexposio da relao do cristo com o mundo, ou, se o preferirem, estesversculos descrevem a funo do cristo na sociedade e no mundo; estasdescries do mesmo ficam de relevo e so elaboradas, e logo resumidas,

    por assim dizer, na exortao: ' Assim brilhe tambm a vossa luz diantedos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vossoPai que est nos cus.'

    Temos, pois, a uma descrio geral do cristo. Logo, parece-me,chegamos ao que chamaria exemplos e ilustraes concretos de comoum homem tal vive num mundo como este. Pode-se subdividir destemodo. Em Mateus 5:17-18 temos o cristo diante da lei de Deus e suasexigncias. Lembraro as vrias subdivises. Descreve-se de forma geralsua justia. Logo nos fala de sua relao com assuntos como o

    homicdio, o adultrio e o divrcio; logo como deveria falar e suapostura com relao ao problema da vingana e autodefesa, e sua atitudepara com o prximo. O princpio bsico que o cristo se fixa sobretudono Esprito e no na letra. Isto no significa que prescinda da letra, massim ele se preocupa mais com o esprito. O erro dos escribas e fariseusfoi que se interessavam s no aspecto mecnico. A ideia crist da lei levaem conta sobretudo o esprito, e se interessa pelos detalhes s quanto so

    expresso do esprito. Este princpio elaborado com uns quantosexemplos e ilustraes.

    Na minha opinio, todo o captulo 6 refere-se ao cristo que vive napresena de Deus, em submisso ativa a Ele, em dependncia completadEle. Se se ler devagar o captulo 6 me parece que se chega a estaconcluso. Centraliza o interesse na relao do cristo com o Pai.Tomemos, por exemplo, o primeiro versculo: 'Guardai-vos de fazer a

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    22/748

    Estudos no Sermo do Monte 22vossa justia diante dos homens, para ser vistos por eles; de outramaneira no tereis recompensa de vosso Pai que est nos cus.'Prossegue assim do princpio ao fim, e no final nos repete praticamente o

    mesmo. 'No vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos?Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios que procuram todasestas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas;

    buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justia, e todas estascoisas vos sero acrescentadas.' A temos uma descrio do cristo comohomem que sabe que est sempre na presena de Deus, de modo que seinteressa no na impresso que causa em outros homens, mas em suarelao com Deus. De modo que, quando ora, no se interessa pelo queoutros pensem, se por acaso louvam suas oraes ou as criticam; sabeque est na presena do Pai, e que ora a Deus. O mesmo quando desmola, s a Deus tem em mente. Alm disso, quando se enfrenta com

    problemas da vida, com a necessidade de comida ou veste, sua reaodiante de eventos externos, tudo o v luz de sua relao com o Pai. Este um princpio muito importante referente vida crist.

    Logo Mateus 7 pode ser considerado como uma apresentao do

    cristo como algum que vive sempre sob o juzo de Deus, e no temor deDeus. 'No julgueis, para que no sejais julgados.' 'Entrai pela portaestreita.' 'Guardai-vos dos falsos profetas.' 'Nem todo o que me diz:Senhor, Senhor, entrar no reino dos cus, mas aquele que faz a vontadede meu Pai, que est nos cus.' Alm disso se compara ao cristo com ohomem que edifica uma casa que sabe vai ser submetida prova.

    A temos, pois, no s uma anlise geral do Sermo do Monte, mas

    tambm um retrato e apresentao completo do cristo. Certos aspectossempre caracterizam o cristo, e estes so certamente os trs princpiosmais importantes. O cristo um homem que necessariamente deve

    preocupar-se em cumprir a lei de Deus. Mencionei no captulo 1 atendncia fatal de apresentar a lei e a graa como anttese em certosentido errneo. No estamos 'debaixo da lei' mas ainda temos queobserv-la; a 'justia da lei' tem que 'cumprir-se em ns', diz o apstolo

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    23/748

    Estudos no Sermo do Monte 23Paulo escrevendo aos Romanos. Cristo veio 'em semelhana de carne de

    pecado', condenando 'o pecado na carne'. Bem; por que 'Para que ajustia da lei se cumprisse em ns, que no andamos segundo a carne,

    mas segundo o Esprito' (Rm 8:3,4)? De modo que, o cristo algumque vive sempre preocupado por viver a lei de Deus e cumpri-la. Aqui lembrado como deve consegui-lo.

    O terceiro igualmente verdadeiro e fundamental. O cristo algum que sempre anda no temor de Deus no temor pusilnime,

    porque o amor perfeito exclui tal temor. No s se aproxima a Deus talcomo diz a Epstola aos Hebreus, 'com temor e reverncia', mas vivetoda a sua vida deste modo. O cristo o nico que vive neste mundosob esta impresso de juzo. Deve faz-lo assim porque nosso Senhor lhediz que o faa. Diz-lhe que vai ser julgado pelo que edificar, que vaichegar o momento do juzo. Diz-lhe que no repita, 'Senhor, Senhor,' queno dependa do que faz na Igreja como se isto fosse necessrio esuficiente, porque se aproxima o juzo, das mos de Algum que v ocorao. No se fixa na veste da ovelha, mas no que h dentro. Agora, ocristo algum que sempre lembra isso. Disse antes que a acusao

    ltima que se far aos cristos de hoje a de superficialidade evolubilidade. Estes defeitos se manifestam agora mais que nunca, e porisso bom que leiamos como viviam os cristos de antes. Estes do NovoTestamento viviam no temor de Deus. Todos aceitaram o ensino doapstolo Paulo quando escreve, ' necessrio que todos nscompareamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um recebasegundo o que fez enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mau' (2Co

    5:10). Isto dito aos cristos. Mas o cristo de hoje no gosta; diz queno combina com ele. Mas isto o apstolo Paulo ensina como foiensinado no Sermo do Monte. ' necessrio que todos nscompareamos diante do tribunal de Cristo'; 'Conhecendo, pois, o temordo Senhor.' O juzo aproxima-se e vai comear pela 'casa de Deus', como lgico, dado o que dizemos ser. Toda a seo final do Sermo doMonte insiste nestas ideias. Sempre deveramos andar e viver com

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    24/748

    Estudos no Sermo do Monte 24desconfiana da carne, de ns mesmos, sabendo que temos quecomparecer diante de Deus e ser julgados por Ele. uma 'porta estreita,' um 'caminho apertado', aquele que conduz vida que vida de fato.

    Quo importante , pois, considerar este sermo de uma forma geralantes de discutir a respeito do que significa quando nos diz queapresentemos a outra face, e tudo o mais. A pessoa costuma fixar-senestes detalhes e uma abordagem completamente falsa do Sermo.

    Estabeleamos agora alguns princpios que devem dirigir ainterpretao deste Sermo. O mais importante que devemos semprelembrar que o Sermo do Monte uma descrio de uma forma de ser eno um cdigo de tica ou moral. No deve ser considerado como lei como uma espcie de 'Dez Mandamentos' ou conjunto de normas eregras que devemos observar mas antes, como uma descrio do que oscristos devem ser, ilustrado em alguns aspectos concretos. como senosso Senhor dissesse: 'Por ser o que sois, assim deveis considerar a lei eviv-la.' Disto segue-se que cada ordem concreta no deve serconsiderada e logo aplicar-se de uma forma mecnica ou ao p da letra,

    porque isto a faria ridcula. A pessoa l este Sermo e diz por exemplo:

    Tomemos este mandato Ao que quer demandar contigo e tirar-te atnica, deixa-lhe tambm a capa. Se fizssemos assim logo nosobraria nada no guarda-roupa. Esta no a forma de consider-lo. Oque se inculca que deveria ter tal convencimento que sob certascircunstncias e condies, devo fazer precisamente isso entregar acapa, ou andar um quilmetro mais. No se procura uma regra rgida que preciso aplicar; mas sou tal que, se for a vontade de Deus e por sua

    glria, estou disposto a faz-lo. Tudo o que sou e tenho dEle, e nomeu. uma ilustrao concreta de um princpio e atitude gerais.

    Penso que esta relao entre o geral e o concreto algo muito difcilde expressar com palavras. De fato suponho que uma das coisas maisdifceis em qualquer esfera de pensamento definir em que consiste estarelao. O que mais chega a me satisfazer a seguinte formulao. Arelao de um mandato concreto com a vida inteira da alma a relao,

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    25/748

    Estudos no Sermo do Monte 25creio, do artista com as normas e leis concretas que regem o que faz.Tomemos, por exemplo, o campo da msica. Um artista pode tocar uma

    pea muito inspirada de forma muito exata; talvez no cometa nem um

    s erro. E, contudo, pode dizer com verdade que no tocou a Sonata aoLuar de Beethoven. Tocou as notas corretamente, mas no era a Sonata.O que fez, pois? Tocou de forma mecnica as notas exatas, mas a alma ea verdadeira interpretao estiveram ausentes. No fez o que Beethovenquis e pretendeu. Nisto, creio, consiste a relao entre o todo e as partes.O artista, o verdadeiro artista, sempre age de forma correta. Nem oartista mais genial no pode permitir-se o luxo de prescindir de regras enormas. Mas no isto o que o torna grande. algo extra, a expresso; o esprito, a vida, 'o todo' que sabe transmitir. A temos, parece-me, arelao do concreto com o geral no Sermo do Monte. No se podemdivorciar, no se podem separar. O cristo, embora se fixe mais noEsprito, preocupa-se tambm com a letra. Mas no se preocupa tosomente com a letra, nem nunca deve pensar na letra parte do esprito.

    Permitam-me, pois, resumi-lo deste modo. Eis aqui algumas provasnegativas que se podem aplicar. Se voc estiver discutindo com o

    Sermo do Monte, a respeito de algum ponto, significa que algo andamal em sua vida visto que sua interpretao do Sermo errnea.Parece-me que este critrio muito bom. Ao ler este Sermo algo mechoca e desejo discuti-lo. Bem, pois, e o repito; isto significa ou que meuesprito todo anda errado e que no estou vivendo as bem-aventuranas;ou que interpreto esse mandato concreto de uma forma errada e falsa. um sermo terrvel este Sermo do Monte. Tenham muito cuidado ao l-

    lo, e sobretudo ao falar dele. Se o criticarem em algo, vocs dizem muitode si mesmos. Para diz-lo com as palavras de Tiago, sejamos portanto'prontos para ouvir, tardos para falar, tardos para ira' (Tg 1:19).

    Alm disso, se a nossa interpretao faz com que um mandatoparea ridculo, podemos estar seguros de que tal interpretao esterrada. Vocs compreendem a ideia; mencionei-a antes na ilustrao da

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    26/748

    Estudos no Sermo do Monte 26tnica e a capa. Tal interpretao, repito, deve estar errada, porque nadado que nosso Senhor ensinou pode ser ridculo.

    Finalmente, se vocs considerarem qualquer mandato concreto

    deste Sermo como impossvel, mais uma vez sua interpretao domesmo est errada. Vou diz-lo de outra maneira. Nosso Senhor ensinouestas coisas, e espera que as vivamos. Seu ltimo encargo, lembram-no,aos que enviou a pregar foi, 'Ide, e fazei discpulos de todas as naes,

    batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo;ensinando-os a guardar todas as coisas que vos mandei.' Agora, nesteSermo encontram-se precisamente estas coisas. Quis que se ensinassem,quis que se praticassem. Nosso prprio Senhor viveu o Sermo doMonte. Os apstolos viveram o Sermo do Monte, e vocs se tomam amolstia de ler as vidas dos santos ao longo dos sculos, dos homens aquem Deus utilizou que uma forma mais visvel, vero que, sempre,foram homens que tomaram o Sermo do Monte no s a srio, mas emforma literal. Leiam a vida de um homem como Hudson Taylor e veroque o viveu de forma literal, e no o nico. Estas coisas nosso Senhoras ensinou e as destinou a ns, o seu povo. Assim como h de viver o

    cristo.Houve um tempo em que o cristo era chamado homem 'temente a

    Deus.' No creio que isto se possa nunca superar homem 'temente aDeus.' No quer dizer temor pusilnime, no quer dizer temor queatormente, mas uma maravilhosa descrio do verdadeiro cristo.

    Necessariamente , como somos lembrados com tanto vigor no stimocaptulo deste Evangelho, um homem que vive no temor de Deus.

    Podemos dizer de nosso bendito Senhor que sua vida foi uma vida cheiade temor de Deus. Entendam o importante que esta ideia da vida crist.Com frequncia, como j assinalei, os cristos modernos, que socapazes de dar testemunhos muito brilhantes e aparentementeemocionantes de alguma experincia que tiveram, no do a impressode que sejam gente temente a Deus, mas antes, homens mundanos, tantono vestir como na aparncia, numa espcie de jactncia e confiana fcil.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    27/748

    Estudos no Sermo do Monte 27Portanto no s devemos tomar os mandatos do Sermo com

    seriedade. Tambm devemos comprovar nossa interpretao concreta luz dos princpios enunciados. Tomem cuidado com o esprito de discutir

    com eles; tomem cuidado de no torn-los ridculos; e tomem cuidadopara no interpret-los de tal modo que paream impossveis. Esta avida qual somos chamados, e volto a repetir e sustentar que se todos oscristos da Igreja de hoje vivessem o Sermo do Monte, o grandeavivamento que anelamos e pelo qual pedimos j teria comeado. Coisassurpreendentes e assustadoras ocorreriam; o mundo estaria pasmado, ehomens e mulheres seriam atrados ao nosso Senhor e Salvador JesusCristo.

    Que Deus nos d graa para estudar este Sermo do Monte elembrar que no queremos julg-lo, mas somos ns os que estamos sob

    juzo, e que o edifcio que estamos levantando neste mundo e nesta vidater que fazer frente seu prova final e ao escrutnio definitivo do olhodo Cordeiro de Deus que foi imolado.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    28/748

    Estudos no Sermo do Monte 28CAPTULO 3

    INTRODUO S BEM-AVENTURANAS

    Terminamos j nossa anlise geral do Sermo pelo que podemoscomear a examinar esta primeira seo, as bem-aventuranas, esteesboo do cristo em seus aspectos e caractersticas essenciais. No me

    preocupa, como disse, a discusso quanto a se as bem-aventuranas sosete, oito ou nove. O que importa no quantas bem-aventuranas h,mas sim tenhamos uma ideia bem clara do que se diz a respeito docristo. Primeiro quero considerar isto de uma forma geral, mais uma

    vez, porque me parece que h certos aspectos desta verdade que s sepodem captar se o tomamos como um todo. Ao estudar a Bblia, a normadeveria ser sempre que comece com o todo antes de dedicar-se s partes.

    Nada h que leve mais facilmente heresia e ao erro que comear comas partes em vez de que com o todo. O nico homem que est emcondies de cumprir os mandatos do Sermo do Monte aquele quetem uma ideia bem clara com relao ndole essencial do cristo.

    Nosso Senhor diz que esta pessoa a nica coisa que verdadeiramente'bem-aventurada', quer dizer, 'feliz'. Algum sugeriu que se poderiaexpressar assim; a classe de pessoa que tem que ser felicitado, aclasse de homem que preciso invejar, porque s ele verdadeiramentefeliz.

    A felicidade o grande problema da humanidade. Todo mundoanela a felicidade e trgico ver em que forma procuram alcan-la. Agrande maioria, por desgraa, fazem-no de uma forma tal que no podeseno produzir calamidades. Qualquer coisa que, evitando asdificuldades, produza a felicidade de algum s momentaneamente, nofaz afinal de contas seno aumentar os problemas e a calamidade. Nistose manifesta o engano absoluto do pecado; oferece sempre felicidade, econduz sempre infelicidade e desdita e calamidade final. O Sermodo Monte diz, no entanto, que se algum deseja ser verdadeiramente

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    29/748

    Estudos no Sermo do Monte 29feliz, esta a forma. Esta e s esta a classe de pessoa que verdadeiramente feliz, que realmente bem-aventurada. Esta a classede pessoa que tem que ser felicitada. Contemplemo-la, pois, em geral,

    por meio de uma reviso sintica destas bem-aventuranas antes deexamin-las uma por uma. Ver-se- que com este Sermo adoto umprocedimento um tanto mais pausado e o fao assim voluntariamente.Referi-me j aos que desejam com nsia saber o que vamos dizer arespeito do 'vai com ele duas milhas', por exemplo. No; devemosdedicar muito tempo ao 'pobre em esprito' e ao 'manso' e outros termoscomo estes antes de examinar esses interessantes problemas to atrativose emocionantes. Antes de considerar a conduta devemos primeirointeressar-nos pela conduta.

    H certas lies gerais, creio, que se podem tirar das bem-aventuranas. Primeiro, todos os cristos tm sido assim. Leiam as bem-aventuranas, e nelas encontraro uma descrio do que deve ser ocristo. No a simples descrio de jejuns cristos excepcionais. NossoSenhor no diz que vai descrever como vo ser alguns seresextraordinrios neste mundo. Descreve a cada um dos cristos.

    Detenho-me aqui por um momento, e o sublinho, porque creio quedevemos todos estar de acordo em que a fatal tendncia que a IgrejaCatlica introduziu, e de fato todos os grupos da Igreja que gostam deempregar o termo 'Catlico', a de dividir os cristos em dois grupos os religiosos e os leigos, os cristos excepcionais e os cristos comuns,aquele que faz da vida crist sua vocao e aquele que se dedica aosassuntos do mundo. Esta tendncia no s por completo antibblica; em

    ltima instncia destri a verdadeira piedade, e de muitas maneiras anegao do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Na Bblia no seencontra semelhante distino. Distingue-se entre ofcios apstolos,

    profetas, mestres, pastores, evangelistas, e assim sucessivamente. Masestas bem-aventuranas no descrevem ofcios; so uma descrio docarter do cristo. E sob o ponto de vista do carter, e do que devemosser, no h diferena nenhuma entre um cristo e outro.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    30/748

    Estudos no Sermo do Monte 30Vou diz-lo de outra maneira. a Igreja Catlica a que canoniza

    certas pessoas, no o Novo Testamento. Leiam a introduo a quasequalquer Epstola do Novo Testamento e vero que se dirige a todos os

    crentes como na Epstola Igreja de Corinto, 'chamados a ser santos'.Toados so 'canonizados', se vocs querem utilizar este termo, no salguns cristos. A ideia de que esta altura da vida crist s para uns

    poucos escolhidos, e de que o resto temos que viver nas montonasplancies, uma negao completa do Sermo do Monte, e das bem-aventuranas em particular. Todos temos que ser exemplos de tudo o quese contm nestas bem-aventuranas. Por conseguinte, descartemos deuma vez por todas esta ideia falsa. No to somente uma descrio dosHudson Taylors ou dos George Mllers ou dos Whitefields ou Wesleysdeste mundo; uma descrio de todos os cristos. Todos ns temos quenos conformar a suas pautas e nos elevar norma que estabelece.

    O segundo princpio eu o expressaria assim: Todos os cristosdevem manifestar todas estas caractersticas. No s so para todos oscristos, mas necessariamente, portanto, todos os cristos tm quemanifest-las todas. Em outras palavras no que alguns tm que

    manifestar uma caracterstica e outros manifestar outra. No adequadodizer que uns tm que ser 'pobres em esprito,' e outros tm que 'chorar,'e alguns tm que ser 'mansos.' e outros tm que ser 'pacificadores,' eassim sucessivamente. No; todo cristo tem que ser todas estas coisas,tem que as manifestar todas, ao mesmo tempo. Creio, no entanto, que certo e justo dizer que em alguns cristos algumas destas coisas se veromais que outras; mas isto no porque deve ser assim. Deve-se s s

    imperfeies que h em ns. Quando os cristos forem por fim perfeitos,todos manifestaro todas estas caractersticas plenamente; mas nestemundo sempre haver variaes. No o estou justificando; simplesmenteo fao notar. O que quero sublinhar que todos e cada um de ns temosque as manifestar todas ao mesmo tempo. Na verdade, creio que

    podemos ir alm e dizer que esta detalhada descrio tal, que resultaabsolutamente bvio, quanto analisamos as bem-aventuranas, que cada

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    31/748

    Estudos no Sermo do Monte 31uma delas implica necessariamente as outras. Por exemplo, no se podeser 'pobre em esprito' sem 'ter fome e sede de justia;' e no se pode tertal fome e sede sem ser 'manso' e 'pacfico.' Cada uma destas coisas em

    certo sentido exige as outras. impossvel manifestar verdadeiramenteuma destas bnos, e receber a bem-aventurana que se pronuncia sobreisso, sem ao mesmo tempo exibir inelutavelmente as outras. As bem-aventuranas so um todo completo que no se pode dividir; de modoque, embora uma pode manifestar-se de uma maneira mais evidentenuma pessoa que em outra, esto todas presentes. As proporesrelativas podem variar, mas esto todas presentes, e devem estar todas

    presentes ao mesmo tempo.Este princpio de uma importncia vital. Mas o terceiro talvez

    ainda mais importante. Nenhuma destas descries refere-se ao quepodemos chamar uma tendncia natural. Cada uma delas por completouma disposio que s a graa e a ao do Esprito Santo em ns pode

    produzir. Nunca poderia pr isto suficientemente de relevo. Ningumresponde naturalmente s descries que so dadas nas bem-aventuranas, e devemos ter sumo cuidado em distinguir bem claramente

    entre as qualidades espirituais que se descrevem nessa passagem e asqualidades humanas que se assemelham a aquelas. Dito de outramaneira, h pessoas que parecem naturalmente 'pobres de esprito;' istono o que nosso Senhor descreve. H pessoas que parecem sernaturalmente mansas;' quando nos analisamos esse versculo espero

    poder demonstrar que a mansido da qual Cristo fala no a que pareceser mansido natural numa pessoa no regenerada. No se procura

    qualidades naturais; ningum assim de nascimento e por natureza.Trata-se de algo muito sutil que difcil para muitos. Dizem,

    Conheo uma pessoa que no crist, que nunca vai a nenhuma igreja,que nunca l a Bblia, que nunca ora, e que nos diz com toda franquezaque no se interessa por nada disso. Mas, a verdade que me parece que mais crist que muitas pessoas que vo igreja e que oram. Sempre semostra educada e corts, nunca fala com aspereza nem julga os outros, e

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    32/748

    Estudos no Sermo do Monte 32sempre faz todo o bem que pode. Tais pessoas olham certascaractersticas da pessoa da qual falam e dizem: No h dvida de queas bem-aventuranas saltam vista; esta pessoa deve ser crist embora

    negue a f. Esta a classe de confuso que com frequncia se suscitapor no ter ideias claras a esse respeito. Em outras palavras, ser nossaresponsabilidade mostrar que o que temos em cada uma das bem-aventuranas no uma descrio de um temperamento natural, masantes, uma disposio que a graa produz.

    Tomemos essa pessoa que por natureza parece ser to bom cristo.Se na verdade se trata de uma condio ou estado que harmoniza com as

    bem-aventuranas, parece-me que falso, porque algo detemperamento natural. Agora, ningum decide qual vai ser seutemperamento, embora at certo ponto o governe. Alguns de nsnascemos agressivos, outros pacficos; alguns so despertos e fogosos,outros tranquilos. Somos como somos, e essas pessoas to boas que secostuma exibir como argumento contra a f evanglica no so de modoalgum responsveis por ser como so. A explicao do que so

    biolgica; nada tem a ver com a vida espiritual nem sobre a relao do

    homem com Deus. algo puramente animal e fsico. Assim como aspessoas diferem quanto ao aspecto fsico, assim tambm diferem emtemperamento; e se isto o que determina que uma pessoa seja crist ouno, afirmo que completamente falso.

    Mas, graas a Deus, no assim. Qualquer de ns, todos ns, sejacomo for que sejamos por nascimento e natureza, como cristos temosque ser assim. Esta a glria fundamental do evangelho. Pode tomar o

    homem mais orgulhoso por natureza e faz-lo pobre em esprito. Hexemplos maravilhosos disso. Diria que nunca houve homem maisorgulhoso por natureza que Joo Wesley; mas chegou a ser pobre emesprito. No; no tratamos de disposies naturais nem de algo fsico eanimal, nem do que parece ser carter cristo. Espero saber demonstrarisso quando chegarmos anlise destas coisas, e creio que logo vero adiferena essencial que existe entre elas. Trata-se de caractersticas e

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    33/748

    Estudos no Sermo do Monte 33disposies que so o resultado da graa, o produto do Esprito Santo e,

    portanto, possveis para todos. Abrangem todos os estados e disposiesnaturais. Estamos, e creio que todos estaro de acordo com isso, diante

    de um princpio vital e essencial, de modo que ao analisar estasdescries individuais, no s no as devemos confundir comtemperamentos naturais, mas tambm devemos ter ao mesmo temposumo cuidado em no defini-las em termos assim. Sempre devemosdistinguir de uma forma espiritual, e baseados no ensino do NovoTestamento.

    Vejamos agora o seguinte princpio. Estas descries, conformecreio, indicam com clareza (talvez com mais clareza que qualquer outracoisa no mbito de toda a Escritura) a diferena essencial e completaentre o cristo e o no-cristo. Isto o que deveria realmente nos

    preocupar; e esta a razo pela qual digo que to importante estudar oSermo do Monte. No se procura uma simples descrio do que ohomem faz; o bsico a diferena entre o cristo e o no-cristo. O

    Novo Testamento considera isso como algo absolutamente bsico efundamental; e, conforme vejo as coisas nestes tempos, a necessidade

    primordial da Igreja uma compreenso clara desta diferena essencial.Foi-se obscurecendo; o mundo entrou na Igreja e a Igreja se tornoumundana. A linha divisria no se v to clara como antes. Houvepocas em que a distino era patente, e essas foram sempre as eras maisgloriosas na histria da Igreja. Conhecemos, no entanto, os argumentosque se alegaram. Foi-nos dito que temos que tornar a Igreja atrativa parao no-cristo, e a ideia consiste em assemelh-la mais possvel a ele.

    Durante a primeira Guerra Mundial houve capeles muito populares, quese misturavam com os soldados, fumavam com eles, e faziam muitascoisas que seus homens faziam para anim-los. Alguns pensavam que,como resultado disso, uma vez que a guerra terminasse, os ex-combatentes encheriam as igrejas. Mas no sucedeu assim, e nunca foieste o resultado. A glria do evangelho que quando a Igreja completamente diferente do mundo, nunca deixa de atra-lo. Ento faz

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    34/748

    Estudos no Sermo do Monte 34com que o mundo escute sua mensagem, embora no comeo talvez aodeie. Assim chegam os avivamentos. O mesmo deve ocorrer em nossocaso como indivduos. No deveria ser nossa ambio parecermos o mais

    possvel a outros, embora sejamos cristos, mas sim ser o mais diferentespossvel de todo aquele que no cristo. Nossa ambio deveria serassemelhar-nos a Cristo, quanto mais melhor, e quanto mais nosassemelhemos a Ele, tanto menos parecidos seremos aos no-cristos.

    Permitam-me explicar-lhes isto em detalhe. O cristo e o no-cristo so absolutamente diferentes no que admiram. O cristo admira oque pobre em esprito, enquanto que os filsofos gregosdesprezavam tal pessoa, e todos os que seguem a filosofia grega, querintelectualmente, quer na prtica, continuam fazendo exatamente omesmo. O que o mundo diz a respeito do verdadeiro cristo que um

    pusilnime, pouco homem. Isto o que dizem. O mundo cr naconfiana em si mesmo, em seguir os instintos, em dominar a vida ocristo cr em ser pobre em esprito. Vejamos os jornais para ver aclasse de pessoa que o mundo admira. Nunca encontraremos nada que se

    parea menos com as bem-aventuranas que o que atrai o homem natural

    e de mundo. O que desperta sua admirao a prpria anttese do queencontramos neste Sermo. Ao homem natural gosta da ostentao,quando isto precisamente o que as bem-aventuranas condenam.

    Logo tambm, como lgico, diferem no que buscam. Bem-aventurados os que tm fome e sede. Do qu? De dinheiro, riqueza,

    posio, social, publicidade? De maneira nenhuma. De justia. Ejustia ser justo diante de Deus. Tomemos um homem qualquer, um

    que no se considere cristo e que no se interesse pelo cristianismo.Averigemos o que busca e deseja, e veremos que sempre diferentedisso.

    Logo, naturalmente, diferem por completo no que fazem. Isto umaconsequncia necessria. Se ele admiram e buscam coisas diferentes,sem dvida, fazem coisas diferentes. A consequncia que a vida que ocristo vive deve ser essencialmente diferente da que vive o no-cristo.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    35/748

    Estudos no Sermo do Monte 35O no-cristo absolutamente coerente consigo mesmo. Diz que vive

    para este mundo. Ele diz: Este o nico mundo, e vou tirar dele todo oproveito que eu puder. O cristo, pelo contrrio, comea por dizer que

    no vive para este mundo; considera este mundo s como caminho depassagem para entrar em algo eterno e glorioso. Toda sua perspectiva eambio so diferentes. Sente, portanto, que deve viver de um mododiferente. Assim como o homem mundano consequente consigomesmo, assim tambm o cristo deveria s-lo. Se o for, ser muitodiferente do outro homem; no pode seno ser assim. Pedro o diz muito

    bem no segundo captulo de sua primeira epstola quando afirma que secremos de fato que fomos chamados 'das trevas a sua luz admirvel',devemos crer que isto nos sucedeu a fim de que possamos louv-lo comnossa vida. E afirma logo: Rogo-vos como a estrangeiros e peregrinos(os que esto neste mundo), que vos abstenhais dos desejos carnais que

    batalham contra a alma, mantendo boa vossa maneira de viver entre osgentios; para que no que murmuram de vs como de malfeitores,glorifiquem a Deus no dia da visitao, ao considerar vossas boas obras'(1Pe 2:11,12). No faz mais que recorrer ao seu sentido da lgica.

    Outra diferena essencial entre os homens estriba no que creem quepodem fazer. O homem mundano confia muito em sua prpriacapacidade e est preparado a fazer qualquer coisa. O cristo umhomem, o nico homem no mundo, que est verdadeiramente conscientede suas limitaes.

    Espero me ocupar destas coisas em detalhe em captulosposteriores, mas estas so algumas das diferenas essenciais, bvias,

    patentes que existem entre o cristo e o no-cristo. Nada h,naturalmente, o que nos exorte mais que o Sermo do Monte a ser o quedevemos ser, e a viver como devemos viver; ser como Cristo,apresentando um contraste total com relao a todos os que no

    pertencem a Cristo. Confio, no entanto, em que aquele que tenha sidoculpado de procurar ser como os homens do mundo em algum aspecto j

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    36/748

    Estudos no Sermo do Monte 36no continuar fazendo isso, e compreender que implica umacontradio completa de nossa f.

    Talvez possa resumir tudo do seguinte modo. A verdade que o

    cristo e o no-cristo pertencem a dois reinos completamente diferentes.Vocs devem ter notado que a primeira e a ltima bem-aventuranasprometem a mesma recompensa, 'porque deles o reino dos cus.' O quesignifica isto? Nosso Senhor comea e conclui assim porque suamaneira de dizer que a primeira coisa que preciso levar em conta comrelao a ns que pertencemos a um reino diferente. No s somosdiferentes em essncia; vivemos em dois mundos absolutamentediferentes. Estamos neste mundo; mas no somos dele. Estamos no meiodessa outra gente, naturalmente; mas somos cidados de outro reino. Isto o elemento vital que se pe de relevo em todas as fases desta

    passagem.O que quer dizer este reino dos cus? H alguns que dizem que no

    o mesmo o 'reino dos cus' e o 'reino de Deus;' mas me resulta difcildescobrir essa diferena. Por que Mateus fala do reino dos cus mais quedo reino de Deus? Sem dvida, a resposta que escreveu sobretudo para

    os judeus e aos judeus, e seu objetivo principal, talvez, foi corrigir oconceito judaico do reino de Deus ou do reino dos cus. Tinham umaideia materialista do reino; concebiam-no em certo sentido militar e

    poltico, e o objetivo principal de nosso Senhor neste caso mostrar queseu reino primordialmente espiritual. Em outras palavras lhes diz:'Vocs no devem pensar neste reino como em algo terrestre. um reinonos cus, o qual sem dvida afetar a terra de muitas maneiras, embora

    seja essencialmente espiritual. Pertence esfera celestial e no terrestree humana.' Em que consiste este reino, pois? Significa, em essncia, ogoverno de Cristo ou a esfera ou reino em que Ele reina. Pode-seconsiderar de trs modos. Muitas vezes enquanto viveu neste mundonosso Senhor disse que o reino dos cus era algo j presente. Onde querque Ele se achasse presente e exercendo funes de mando, l estava oreino dos cus.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    37/748

    Estudos no Sermo do Monte 37Lembraro como numa ocasio, quando O acusaram de expulsar

    demnios em nome de Belzebu, fez ver a insensatez que era afirmar talcoisa, e afirmou logo: Se eu pelo Esprito de Deus expulso os

    demnios, certamente chegou a vs o reino. (Mt 12:28). A est o reinode Deus. Sua autoridade, seu reinado eram j uma realidade. Logo est aexpresso que disse aos fariseus: 'o reino de Deus est dentro de vs', ou'o reino de Deus est no meio de vs'. Foi como se lhes dissesse, 'est-semanifestando no vosso meio.' No digam "vede-o aqui" ou "vede-o l."Deixai de uma vez esta ideia materialista. Eu estou aqui em meio de vs;estou agindo; est aqui.' Onde quer que se manifeste o reinado de Cristoa est o reino de Deus. E quando enviou os Seus discpulos a pregar,disse-lhes que proclamassem s cidades que no os recebessem, 'dizei-lhes: aproximou-se de vs o reino de Deus.'

    Quero dizer isto; mas tambm quer dizer que o reino de Deus estpresente neste momento em todos os verdadeiros crentes. A IgrejaCatlica costumou identificar este reino com a Igreja, mas isto no assim, porque a Igreja contm uma multido mista. O reino de Deus ests presente na Igreja nos coraes dos verdadeiros crentes, nos coraes

    dos que se renderam a Cristo e naqueles que e no meio daqueles quereina. Vocs lembraro como diz isto o apstolo Paulo de uma forma quelembra a de Pedro. Ao escrever aos Colossenses d graas ao Pai 'o qualnos libertou da potestade das trevas, e trasladou ao reino de seu amadoFilho' (Cl 1:13). O reino de seu amado Filho, o reino de Deus, oreino dos cus, este reino novo ao qual entramos. Ou, como diz naEpstola aos Filipenses, nossa cidadania est nos cus. Estamos aqui

    na terra, obedecemos a poderes terrestres, vivemos assim. Naturalmente;mas a nossa cidadania est nos cus, de onde tambm esperamos oSalvador (Fp 3:20). Os que reconhecemos a Cristo como Senhor,aqueles em cujas vidas Ele reina e governa neste momento, estamos noreino dos cus e o reino dos cus est em ns. Fomos trasladados aoreino de seu amado Filho; convertemo-nos num sacerdcio real.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    38/748

    Estudos no Sermo do Monte 38A terceira e ltima maneira de considerar o reino esta. Em certo

    sentido ainda h de vir. Veio; vem; vir. Estava presente quando Cristoexercia autoridade: est em ns neste momento; e, no entanto, ainda h

    de vir. Vir quando este governo e reino de Cristo for estabelecido nomundo inteiro inclusive em certo sentido fsico e material.Chegar o dia em que os reinos deste mundo se tornaro os reinos

    de nosso Senhor, e de seu Cristo. Ento ter chegado, de uma formacompleta e total, e tudo estar sob o Seu domnio e poder. O mal eSatans desaparecero; haver novos cus e nova terra, nos quais habitaa justia (2Pe 3:13), e ento o reino dos cus ter chegado nessa formamaterial. O espiritual e o material viro a ser uma mesma coisa em certosentido, e tudo ficar sujeito ao seu poder, de modo que em nome deJesus Se dobre todo joelho dos que esto nos cus, e na terra, e debaixoda terra; e toda lngua confesse que Jesus Cristo o Senhor, para glriade Deus Pai (Fp 2:10,11).

    Esta , pois, a descrio geral que se d do cristo nas bem-aventuranas. Veem vocs quo essencialmente diferente o cristo do

    no-cristo? As perguntas vitais que nos expomos so, pois, estas.Pertencemos a este reino? Governa-nos Cristo? Ele nosso Rei eSenhor? Manifestamos tais qualidades na vida diria? Anelamos que sejaassim? Compreendemos que devemos ser assim? Somos realmente bem-aventurados? Somos felizes? Fomos cheios? Temos paz? Pergunto, aocontemplar esta descrio geral, como vemos que somos? S aquele que assim verdadeiramente feliz, verdadeiramente bem-aventurado. um

    problema simples. Minha reao imediata a estas bem-aventuranasindica exatamente o que eu sou. Se me parecer que so difceis e duras,se me parecer que so muito rigorosas e que descrevem um tipo de vidaque me desagrada, temo que isto signifique simplesmente que no soucristo. Se no desejar ser assim, devo estar morto em transgresses e

    pecados, no recebi nunca a vida nova. Mas se sentir que sou indigno e,contudo, desejo ser assim, bem, por muito indigno que seja, se este

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    39/748

    Estudos no Sermo do Monte 39meu desejo e ambio, deve haver uma vida nova em mim, devo serfilho de Deus, devo ser cidado do reino dos cus e do amado Filho deDeus.

    Que cada um examine a si mesmo.

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    40/748

    Estudos no Sermo do Monte 40CAPTULO 4

    BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPRITO

    Entramos agora no estudo da primeira das bem-aventuranas:Bem-aventurados os pobres em esprito, porque deles o reino doscus. (Mt 5:3, NVI). Como indiquei no estudo precedente, no admiraque seja esta a primeira, porque obviamente , como veremos, a chave detudo o que vem a seguir. Nestas bem-aventuranas h, sem lugar advida, uma ordem bem definida. Nosso Senhor no as pronunciou naordem em que esto por simples acaso; h nelas o que poderamos

    denominar uma sequncia espiritual lgica. Esta primeira bem-aventurana deve necessariamente ser a primeira simplesmente porquesem ela no h acesso ao reino dos cus, ou ao reino de Deus. No hningum no reino de Deus que no seja pobre em esprito. acaracterstica fundamental do cristo e do cidado do reino dos cus, etodas as outras caractersticas so em certo sentido a consequncia desta.Ao explic-la, veremos que significa um vazio enquanto as outras so

    uma manifestao de plenitude. No podemos ser cheios at que noestejamos vazios. No se pode encher com vinho novo uma vasilha queainda conserva algo de vinho velho, at que o vinho velho tenha sidoderramado. Esta, pois, uma dessas afirmaes que nos lembram quetem que haver um vazio antes de que algo se possa encher. Sempre hestes dois aspectos no evangelho; h um derrubar e um levantar.Lembrem-se das palavras do ancio Simeo com relao a nosso Senhore Salvador quando o sustentou nos braos. Disse: Este est posto paraqueda e levantamento de muitos. A queda vem antes do levantamento. parte essencial do evangelho que antes da converso deve haver aconvico; o evangelho de Cristo condena antes de libertar. Isto algomuito fundamental. Se preferirem que o diga de uma forma maisteolgica e doutrinria, diria que no h afirmao mais perfeita dadoutrina da justificao pela f que esta bem-aventurana: Bem-

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    41/748

    Estudos no Sermo do Monte 41aventurados so os pobres em esprito, porque deles o reino dos cus.Pois bem, este o fundamento de todo o resto.

    Mas no s isso. obviamente uma prova muito a fundo para cada

    um de ns, no s ao nos enfrentar a ns mesmos, mas tambmsobretudo quando enfrentamos a mensagem completa do Sermo doMonte. O caso que condena imediatamente qualquer ideia do Sermodo Monte que o veja como algo que vocs e eu podemos fazer por nsmesmos, algo que vocs e eu podemos levar a cabo. Nega isto desde o

    primeiro instante. No comeo encontramos uma condenao to bvia detodos esses pontos de vista que vimos antes, que o consideram comouma lei nova ou como algo que introduz um reino entre os homens.Agora j no se ouvem tanto estas ideias, mas continuam existindo eforam muito populares a comeos do sculo. Falava-se ento deintroduzir o reino, e sempre se utilizava como texto o Sermo doMonte. Consideravam que o Sermo era algo que podia pr-se em

    prtica. preciso preg-lo e logo os homens passam imediatamente ap-lo em prtica. Mas esta ideia no s perigosa, mas tambm umanegao absoluta do prprio Sermo, o qual comea com esta proposio

    fundamental de ser 'pobres em esprito'. O Sermo do Monte, em outraspalavras, vem a dizer: H uma montanha que vocs devem escalar, acujo topo devem ascender; e a primeira coisa que devem levar em contaao contemplar essa montanha que lhes dito para escalar, que no

    podem consegui-lo, que so completamente incapazes disso por simesmos, e que qualquer tentativa de consegui-lo com suas prpriasforas prova positiva de que no o entenderam. De primeiro momento

    condena o ponto de vista que o considera como um programa de aoque o homem deve p-lo em prtica imediatamente.

    Antes de passar a falar do mesmo, do que poderamos chamar umaperspectiva espiritual, h um ponto que preciso considerar com relao traduo deste versculo. H os que dizem que deveramos l-lo daseguinte maneira: Bem-aventurados em esprito so os pobres.Alegam em sustento de tal verso a passagem paralela de Lucas 6:20,

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    42/748

    Estudos no Sermo do Monte 42onde se l Bem-aventurados vs, os pobres sem meno nenhuma depobres em esprito. Com base nisso, eles o consideram como umelogio da pobreza. Mas esta ideia completamente errnea. A Bblia

    nunca ensina que a pobreza seja algo bom. O pobre no est mais pertodo reino dos cus que o rico, se se pensa em ambos no terreno natural.No h mrito nem vantagem nenhuma em ser pobre. A pobreza nogarante a espiritualidade. Sem dvida, pois, que a passagem no podesignificar isso. E se se considera toda a passagem de Lucas 6, parece-meque est bem claro que nosso Senhor tambm a falou de 'pobres' nosentido de 'no estar possessos pelo esprito mundano,' pobres nosentido, se quiserem, de no confiar nas riquezas. Isto o que secondena, o confiar nas riquezas como tais. E obviamente h muitos

    pobres que confiam tanto nas riquezas como os ricos. Dizem: Se eutivesse isto e aquilo e invejam os que o tm. Se eles sentem assim

    porque no so bem-aventurados. Por isso no pode ser a pobreza comotal.

    Tive que sublinhar este ponto porque a maioria dos comentaristascatlicos e seus imitadores na Igreja Anglicana gostam de interpretar

    este versculo neste sentido. Consideram-no como a autoridade bblicana qual se baseia a pobreza voluntria. Seu santo padroeiro SoFrancisco de Assis; a ele e os que so como ele, consideram-nos como osnicos que se conformam a esta bem-aventurana. Dizem que se refereaos que abraaram voluntariamente a pobreza. O j morto Bispo Goreem seu livro a respeito do Sermo do Monte ensina isso com todaCaridade. a interpretao 'catlica' tpica desta afirmao concreta.

    Mas bvio, pelas razes expostas, que violenta as Escrituras.Ao que nosso Senhor refere-se ao esprito; a pobreza de esprito.

    Em outras palavras, em ltima instncia a atitude do homem paraconsigo mesmo. Isto o que importa, no o fato de ser rico ou pobre.

    Nisto temos uma ilustrao perfeita de um desses princpios gerais quedeixamos estabelecidos antes, quando dissemos que estas bem-aventuranas indicam com uma clareza nica a diferena total e

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    43/748

    Estudos no Sermo do Monte 43essencial entre o homem natural e o cristo Vimos que h uma diviso

    bem clara entre estes dois reinos o reino de Deus e o reino destemundo, o homem cristo e o homem natural uma distino e diviso

    completas e absolutas. Pois bem, no h talvez afirmao que sublinhe eponha de relevo essa diferena melhor que este Bem-aventurados ospobres em esprito. Permitam-me mostrar-lhes o contraste. Trata-se dealgo que no somente o mundo no admira; despreza-o. No possvelencontrar uma anttese maior ao esprito e viso mundanos que a queencontramos neste versculo. Quanto insiste o mundo na crena nadependncia de si mesmo, na confiana em si mesmo! Sua literatura nodiz outra coisa. Se se quer prosperar neste mundo, afirma, preciso crerem si mesmo. Esta ideia domina por completo a vida dos homens denosso tempo. Na verdade diria inclusive que domina a vida toda comexceo da mensagem crist. Qual , por exemplo, a essncia da arte devender segundo as ideias modernas? dar a impresso de confiana esegurana. Se se quer impressionar o cliente esta a forma de consegui-lo. A mesma ideia prevalece e se pe em prtica em outros campos deatividade. Se se quer ter xito numa profisso, o importante dar a

    impresso de ser uma pessoa de xito, de modo que se d a entender quealgum uma pessoa de mais xito que o que na verdade se , e a pessoadiga: Este o tipo de pessoa a quem se deve consultar. Este o

    princpio que rege a vida atual crer em si mesmo, notar a fora inataque h em algum e fazer com que todo mundo o veja. Autoconfiana,segurana, autodependncia. Como resultado disso os homens creem quese viverem segundo esta convico podem introduzir o reino; nisto se

    baseia a suposio fatal de que s com leis aprovadas pela Cmara deDeputados pode-se produzir uma sociedade perfeita. Por todas as partesvemos esta trgica confiana no poder da educao e da cincia comotais para salvar o homem, para transform-lo e convert-lo em serhumano honesto.

    Agora, neste versculo -nos apresentado algo que est em contrastetotal e absoluto com isso, e lamentvel ver como as pessoas

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    44/748

    Estudos no Sermo do Monte 44consideram este tipo de afirmao. Faz sculos algum criticou o famosohino do Carlos Wesley, Jesus, Lover of my soul. Um crtico disse:Quem, se quer conseguir um trabalho ou emprego, teria a ideia de ir ao

    empresrio para dizer: "Sou mpio e cheio de pecado"? ridculo! Epor desgraa disse isso em nome do que considerava como cristianismo.Creio que vocs veem quo grande mal-entendido desta primeira bem-aventurana revelam estas palavras. Como lhes explicarei a seguir, nose procura homens que reconhecem o que so uns diante de outros, massim de homens que se apresentam diante de Deus. E se algum sente na

    presena de Deus algo que no seja uma absoluta pobreza de esprito, emltimo termo, quer dizer que nunca esteve diante dEle. Este osignificado desta bem-aventurana.

    Mas nem sequer na Igreja de hoje tem muito bom nome esta bem-aventurana. Isto tinha em mente quando lamentei antes o contrastesurpreendente e bvio entre a Igreja de hoje e a de pocas passadas,sobretudo na poca puritana. Nada h to no-cristo na Igreja de hojecomo este falar nscio a respeito da 'personalidade.' Perceberam isso esta tendncia a falar a respeito da 'personalidade' da parte dos oradores e

    a empregar expresses como 'Que personalidade to estupenda tem estehomem'? A propsito, lamentvel ver a maneira como os que assimfalam tm de definir a personalidade. Costuma ser algo puramentecarnal, uma questo de aparncia fsica.

    Mas, e isto ainda mais grave, esta atitude costuma basear-se numaconfuso entre autoconfiana, segurana em si mesmo, por um lado, e averdadeira personalidade, por outro. De fato, s vezes notei uma certa

    tendncia de inclusive no valorizar o que a Bblia considera como avirtude maior, ou seja, a humildade. Ouvi membros de uma comissofalar de certo candidato e dizer: 'Sim, muito bem; mas lhe falta

    personalidade,' quando minha opinio desse candidato era que erahumilde. Existe a tendncia a valorizar certa agressividade e seguranaem si mesmo, e a justificar que algum se sirva de sua personalidade

    para procurar imp-la. A propaganda que se emprega cada vez mais na

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    45/748

    Estudos no Sermo do Monte 45obra crist pe bem claramente de manifesto esta tendncia. Quando sel relatos das atividades dos maiores obreiros cristos de outros tempos,evangelistas ou outros, a gente percebe quo discretos eram. Mas hoje

    em dia, estamos vendo algo que a anttese mais completa disto.Empregam-se com profuso anncios e fotografias.O que quer dizer isso? No nos pregamos a ns mesmos, diz

    Paulo, mas a Jesus Cristo como a Senhor. Quando foi a Corinto, diz-nos, foi com fraqueza, e muito temor e tremor. No subiu ao plpitocom confiana e segurana em si mesmo para dar a impresso de umagrande personalidade. Antes, o povo dizia dele, seu presena corporal() fraco, e a palavra desprezvel. Quanto nos apartamos da verdade e

    pautas das Escrituras. Que pena! Como permite a Igreja que o mundo eseus mtodos influam e rejam suas ideias e vida! Ser pobres emesprito j no bem visto nem sequer na Igreja como foi em outrotempo e como sempre deveria s-lo. Os cristos devem refletir nestes

    problemas. No aceitemos as coisas por sua aparncia; evitemossobretudo que a psicologia do mundo se apodere de ns; e caiamos naconta do primeiro momento de que estamos falando de um reino

    completamente diferente de tudo o que pertence a este mundo corrupto.Tratemos agora deste tema de uma forma mais positiva. O que

    significa ser pobre em esprito?Permitam-me mais uma vez dizer o queno . Ser 'pobres em esprito' no quer dizer que deveramos serdesconfiados ou nervosos, nem tampouco significa que deveramos sertmidos, fracos ou frouxos. H certas pessoas, certo, que, em reaocontra esta segurana em si mesmos que o mundo e a Igreja descrevem

    como 'personalidade', creem que significa precisamente isso. Todosconhecemos pessoas que so naturalmente discretas e que, longe deimpor sua presena, sempre ficam em segundo termo. So assim desde onascimento e talvez sejam tambm naturalmente fracos, tmidos e semcoragem. Antes pusemos de relevo o fato de que nenhuma destas coisasque se indicam nas bem-aventuranas so qualidades naturais. Ser

  • 6/1/2018 Sermao Do Monte LLoyd-Jones

    46/748

    Estudos no Sermo do Monte 46pobres em esprito, portanto, no significa que algum nasa