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SEMINÁRIO O ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO: TEORIA E PRÁTICA arq. e urb. Gogliardo Vieira Maragno vice-presidente ABEA – prof. UFMS Estágio em Arquitetura e Urbanismo: obrigatoriedade ou necessidade pedagógica?

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SEMINÁRIO O ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO: TEORIA E PRÁTICA

arq. e urb. Gogliardo Vieira Maragnovice-presidente ABEA – prof. UFMS

Estágio em Arquitetura e Urbanismo:

obrigatoriedade ou necessidade

pedagógica?

“o divórcio entre arte e técnica na arquitetura começa com o distanciamento entre teoria e prática, o desenho/proposta teórica e a construção/realização prática da obra, vale dizer, do espaço”

Edgard Graeff, 1995.

O que ouvimos sempre:

A qualidade da arquitetura

brasileira é cada vez mais baixa.

O mercado está saturado.

Há arquitetos e urbanistas em

excesso.

Há uma proliferação de cursos

de arquitetura pelo Brasil.

O nível de ensino caiu muito!

Os cursos formam cada vez pior.

O que ouvimos sempre:

A qualidade da arquitetura

brasileira é cada vez mais baixa.

O mercado está saturado.

Há arquitetos e urbanistas em

excesso.

Há uma proliferação de cursos

de arquitetura pelo Brasil.

O nível de ensino caiu muito!

Os cursos formam cada vez pior.

O que sabemos:O déficit habitacional no Brasil ainda é

gigantesco.

A qualidade das cidades ainda deixa muito a desejar...

Faltam espaços adequados para saúde,

educação, cultura, lazer...

O percentual de construções realizadas com participação de arquitetos e urbanistas ainda é

baixo.

Apesar de lei de assistência técnica, a

população de baixa renda ainda não tem acesso as serviços de arquitetura.

Muitas cidades ainda não tem um plano diretor, muitas nem arquitetos.

O que sabemos:O déficit habitacional no Brasil ainda é gigantesco.

A qualidade das cidades ainda deixa muito a

desejar...

Faltam espaços adequados para saúde,

educação, cultura, lazer...

O percentual de construções realizadas com participação de arquitetos e urbanistas ainda é

baixo.

Apesar de lei de assistência técnica, a

população de baixa renda ainda não tem acesso as serviços de arquitetura.

Muitas cidades ainda não tem um plano diretor, muitas nem arquitetos.

O problema está na quantidade de cursos, ou na qualidade dos cursos?

O que os cursos tem feito para aproximar a prática da teoria?

É possível privilegiar a prática em detrimento da teoria?

O problema no tempo e no espaço...

Vitruvius e os saberes dos arquitetos.

“O Arquiteto deverá possuir o conhecimento de muitos ramos de estudo e vários tipos de aprendizagem, já que é o seu juízo que põe à prova todo o trabalho feito pelas outras artes.

Este conhecimento é feito da prática e da teoria. A prática é o exercício contínuo e regular da ocupação com que se faz o trabalho manual com qualquer material necessário segundo um desenho. A teoria, por outro lado, é a capacidade de demonstrar e explicar os resultados da sua perícia sobre os princípios da proporção (...)”.

O Momento do Ensino: o fosso entre o ensino e a prática da arquitetura.

- A formação do arquiteto está cada vez mais distante da realidade prática profissional.

- Os profissionais que saem da escola não estão suficientemente bem preparados para a prática de arquitetura, ainda que tenham laboratórios sofisticados e elevado discurso técnico e teórico.

- Apesar da extrema habilidade em determinadas áreas, como modelagem computacional, os recém-egressos não apresentam familiaridade com processos construtivos, com questões comerciais, gestão de empresas e com a terminologia do mundo real da construção.

- Os currículos de arquitetura não devem ser como escolas de comércio. Alunos precisam sonhar, teorizar e ter liberdade criativa, ponto forte da formação em arquitetura, mas essa liberdade tem de ser equilibrada e mais próxima da experiência do mundo real.

- É fácil apontar o problema desse distanciamento, não é fácil encontrar uma solução equilibrada.

Onde trabalhamos arquitetos e urbanistas:

Fonte: CAU/BR. Censo 2012.

Fonte: ACSA. 2011.

Onde trabalham os arquitetos e urbanistas:Estados Unidos

Fonte: FENEA, 2014 – dados preliminares de pesquisa sobre estágio - http://www.fenea.org/estagios

O que fazem osestagiários no Brasil:

QUAIS ATIVIDADES VOCÊ REALIZA DENTRO DO SEU ESTÁGIO?

A boa arquitetura e o bom ensino.

Como avaliar o que é boa arquitetura e urbanismo?

Como avaliar o bom ensino de arquitetura e urbanismo?

Como avaliar o papel e a importância do estágio no ensino de arquitetura e urbanismo?

Como avaliar o bom estágio de arquitetura e urbanismo?

Art. 2º. A organização de cursos de

graduação em Arq. e Urb. deverá ser

elaborada com claro estabelecimento de

componentes curriculares, os quais

abrangerão: projeto pedagógico,

descrição de competências, habilidades

e perfil desejado para o futuro

profissional, conteúdos curriculares, estágio curricular supervisionado,

acompanhamento e avaliação,

atividades complementares e trabalho de

curso sem prejuízo de outros aspectos

que tornem consistente o projeto

pedagógico.

RESOLUÇÃO 2/2010 - Institui Diretrizes Curriculares Nacionais de Arquitetura e Urbanismo.

Art. 3º. O projeto pedagógico do curso (...)

deverá incluir:

I - objetivos gerais ...;

II - condições objetivas de oferta;

III - formas de interdisciplinaridade;

IV - modos de integração entre teoria e

prática;

V - formas de avaliação do ensino;

VI - integração entre graduação e pós

VII - incentivo à pesquisa;

VIII - regulamentação do TFC;

IX - concepção e composição das atividades

de estágio curricular supervisionado em

diferentes formas e condições de realização,

observados seus respectivos regulamentos;

X - composição das at. complementares.

Art. 7º O estágio curricular supervisionado

deverá ser concebido como conteúdocurricular obrigatório, cabendo à

Instituição de Educação Superior, por seus

colegiados acadêmicos, aprovar o

correspondente regulamento, abrangendo

diferentes modalidades de operacionalização.

§ 1º Os estágios supervisionados são

conjuntos de atividades de formação,

prgramados e diretamente supervisionados

por membros do corpo docente da

instituição formadora e procuram

assegurar a consolidação e a articulação das competências estabelecidas.

RESOLUÇÃO 2/2010 - Institui Diretrizes Curriculares Nacionais de Arquitetura e Urbanismo.

§ 2º Os estágios supervisionados visam a

assegurar o contato do formando comsituações, contextos e instituições,

permitindo que conhecimentos, habilidades e

atitudes se concretizem em ações

profissionais, sendo recomendável que suas

atividades sejam distribuídas ao longo do

curso.

§ 3º A instituição poderá reconhecer e

aproveitar atividades realizadas pelo aluno

em instituições, desde que contribuam para o

desenvolvimento das habilidades e

competências previstas no projeto de curso.

Art. 8º As atividades complementares são

componentes curriculares enriquecedores

e implementadores do próprio perfil do

formando (...)

§ 1º As atividades complementares podem

incluir projetos de pesquisa, ...

monitoria,

§ 2º As atividades complementares não poderão ser confundidas com o estágiosupervisionado.

RESOLUÇÃO 2/2010 - Institui Diretrizes Curriculares Nacionais de Arquitetura e Urbanismo.

O que é o estágio?

Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

(Art. 1º - Lei 11.788/2008)

O que é o estágio?

O que pode ser considerado estágio?§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na

educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso.

Qual é o objetivo do estágio?.

Art. 2o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do

educando para a vida cidadã e para o trabalho.

Quais os tipos de estágio?O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto

pedagógico do curso.

§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária

é requisito para aprovação e obtenção de diploma. § 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à

carga horária regular e obrigatória.

OBRIGAÇÕES

INSTITUIÇÃO DE ENSINOI – celebrar termo de compromisso indicando as condições de adequação do estágio à

proposta pedagógica, à etapa e modalidade da formação do estudante e ao horário e

calendário escolar;

II – avaliar as instalações e sua adequação à formação cultural e profissional do educando;

III – indicar professor orientador da área como responsável pelo acompanhamento e

avaliação das atividades do estagiário;

IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a seis meses, de

relatório das atividades;

V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para outro

local em caso de descumprimento das normas;

VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios;

VII – comunicar à concedente, no início do período letivo, as datas de realização de

avaliações escolares ou acadêmicas.

OBRIGAÇÕES

CONCEDENTEI – celebrar termo de compromisso com a instituição e educando, zelando por seu

cumprimento;

II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de

aprendizagem social, profissional e cultural;

III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional

na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar

até 10 (dez) estagiários simultaneamente;

IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais;

V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com

indicação resumida das atividades desenvolvidas

VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio;

VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de seis meses, relatório de

atividades, com vista obrigatória ao estagiário.

OBRIGAÇÕES

QUANTO AO ESTUDANTE- Carga horária não deve ultrapassar 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais.

- Durante as verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a

carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo

de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante.

- A duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos,

exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência.

- O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser

acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na

hipótese de estágio não obrigatório.

- A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre

outros, não caracteriza vínculo empregatício.

O estágio no contexto do modelo de universidade.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Finalidades da Educação Superior

(...)

-Formar diplomados nas diferentes áreas

de conhecimento

- aptos para a inserção em setores profissionais e

- para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira”.

(...)

Modelos de Educação Superior:

- Considerar que a universidade deva vincular diretamente o ensino que pratica com a vida social cotidiana, ou seja, com a prática profissional, reconhecendo como sua função primordial proporcionar mão de obra qualificada em atendimento ao mercado de trabalho;

- Considerar que a universidade deva ser a geradora e difusora de conhecimentos teóricos que serão futuramente incorporados à sociedade.

Deve haver uma escolha de modelo?

interesses de mercado x interesses sociais

-Papel das instituições privadas no ensino é ensinoprofissionalizante, arcando com a formação de recursoshumanos para atender as necessidades mais imediatasdo mercado de trabalho?

-Desenvolvimento científico, tecnológico, artístico ecultural responsável pela geração de riquezas, camposde trabalho e qualidade de vida sob responsabilidadeda universidade pública?

É cabível escolher um ou outro modelo?

Cursos para o Mercado:

Formando profissionais “sob medida” preparando de maneira mais direta e imediata para o exercício da profissão.

Universidades caracterizadas como “de ensino” com característica essencialmente profissionalizantes.

Cursos para a Sociedade:

Universidades públicas com graduação acadêmica.

Egressos com função social, para inovar, transformar, alavancar e modernizar o mercado de trabalho, responsabilizando-se pelo desenvolvimento científico e tecnológico do país.

X

No caso da arquitetura e urbanismo,estaríamos formando dois tipos deegressos: o profissional e o acadêmico,com formação e perfis distintos.

No caso da arquitetura e urbanismo,estaríamos formando dois tipos deegressos: o profissional e o acadêmico,com formação e perfis distintos.

Seria desejável?

Seria factível em nossa realidade?

Os honorários e as atribuições seriamdiferentes?

Perderíamos então a unicidade deprofissão a partir desta distinção?

Ou seria desejável alcançar a soluçãode meio termo?

No caso da arquitetura e urbanismo,estaríamos formando dois tipos deegressos: o profissional e o acadêmico,com formação e perfis distintos.

Seria desejável?

Seria factível em nossa realidade?

Os honorários e as atribuições seriamdiferentes?

Perderíamos então a unicidade deprofissão a partir desta distinção?

Ou seria desejável alcançar a soluçãode meio termo?

É necessário romper a dualidadeinstrução/educação que geraduas escolas, ou uma escola dual.

Uma para o trabalho-instrução eoutra para o mando-educação:

Escola interesseira

X

Escola omnilateral

Cada escola deve possibilitar aos homens não só a instrução para o

trabalho, mas também capacidade crítica e renovadora,

a verdadeira Educação” (Maria Elisa Meira, ABEA, 2001).

ACADÊMICO-DISCIPLINAR x TÉCNICO PROFISSIONAL

Equívoco da escolha dicotômica.O caminho mais acertado é a conexão entre as duas.

Estágio profissional tem papel destacado nesta conexão,Mas apresenta limites e distorções.

É preciso reconhecer as condições de oferta e as limitações para superá-las.

O DILEMA: dois perfis de formação.

- Estágio como atividade de caráter educativo e complementar ao ensino, com finalidade de integrar o estudante em um ambiente profissional.

- Colocar o estudante em contato com diferentes realidades sociais, econômicas e culturais.

- Proporcionar experiências que permitam desenvolver consciência crítica e compreensão da realidade para poder nela interferir.

O importante papel do estágio.

- Possibilitar ao estudante compreender a realidade e processos, identificar problemas e gerar soluções relacionando conteúdo teórico com atividades do dia-a-dia.

Nem o trabalho intelectual se transforma em prática por si só nem a prática

substitui o conhecimento.

Reconhecida sua obrigatoriedade e sua necessidade, é preciso obervar sua efetividade:

Como é oferecido e acompanhado pelas instituições?

Como é oferecido pelos profissionais concedentes?

Como é encarado pelos estudantes?

LIMITES E DISTORÇÕES DO ESTÁGIO:- Estágio NÃO substitui a formação e

não pode sobrepujar-se a ela.

- O estágio não consegue superar as deficiências na formação, mas sim complementa a boa formação em relação à prática profissional.

- Estágio muitas vezes é tratado como um “trabalho profissional” onde o estudante deve produzir ao invés de aprender.

- Os aspectos do cotidiano da prática profissional não devem ser observados isoladamente como a boa arquitetura. É um componente importante, mas não único.

- Concedente não arquiteto e urbanista.

- Atividade não relacionada com atribuições.

- Concedente do estágio com pouco tempo de formado e pouca experiência.

- Carga horária exigida pela instituição é muito baixa.

- Jornada de trabalho em conflito com asatividades acadêmicas.

- Inflexibilidade do concedente quanto ao cumprimento de atividades acadêmicas (“viradas de projeto”) e complementares.

- Profissionais desejam estagiários que dominem habilidades que eles não possuem.

PROBLEMAS APONTADOS PELA FENEA:

- Trabalho mal pago.- Trabalho pouco complementar ao conhecimento

acadêmico. - Exploração do trabalho estagiário, seja pela realização

de atividades de criação ou pelo mero “desenhismo”, como forma de redução do custo de projeto final ou maior lucro.

- Trabalho de estágio representa uma fonte de renda significativa para estudantes que acabam por priorizar a atividade no escritório, se dedicando menos aos estudos acadêmicos.

Melhorar a oferta de estágiopara contribuir na melhoria do ensino.

Melhorar a oferta de estágiopara contribuir na melhoria do ensino.

“há muito a melhorar no ensino, mas é preciso procurar fora das escolas

a causa dos desajustes, pois não cabe às escolas a

culpa de tudo o que acontece.

Antes, pelo contrário, a escola é igualmente vítima”

Vilanova Artigas, 1952

MUITO [email protected]