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1 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Dayse Christine Loureiro Ferro Cavalli ARTE E ARQUITETURA: UMA REFLEXÃO ARTÍSTICA E HISTÓRICA ACERCA DE SUAS RELAÇÕES Trabalho orientado pela Prof. Dra Consuelo Schlichta - UFPR CURITIBA DEZ / 2009 1

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Dayse Christine Loureiro Ferro Cavalli

ARTE E ARQUITETURA: UMA REFLEXÃO ARTÍSTICA E HISTÓRICA ACERCA DE SUAS RELAÇÕES

Trabalho orientado pela Prof. Dra Consuelo Schlichta - UFPR

CURITIBADEZ / 2009

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ARTE E ARQUITETURA: UMA REFLEXÃO ARTÍSTICA E HISTÓRICA

ACERCA DE SUAS RELAÇÕES

Trabalho de Final apresentado ao Governo do Estado do Paraná, através do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, como parte das exigências para a obtenção de Certificação, na área de Arte, orientado pela Prof. Dra Consuelo Schlichta - UFPR

CURITIBADEZ / 2008

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À Deus,

à minha família, marido e filhas pelo apoio incondicional,

à minha Orientadora Consuelo pela confiança, incentivo e positividade.

3

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“A Arquitetura é um fato de arte, um fenômeno de emoção, fora das questões de construção, além delas. A construção é para sustentar; a

arquitetura é para emocionar.”

“Arquitetura consiste em relações, é pura criação do espírito.”

Le Corbusier

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Arte e Arquitetura: uma reflexão artística e histórica

acerca de suas relações

Dayse Christine Loureiro Ferro Cavalli1

RESUMO

Esse texto propõe uma reflexão acerca dos universos da Arte e da Arquitetura, problematizando: em que medida a arquitetura se configura como um fazer artístico ou um fazer científico. O ponto de partida é a análise da Arte e da Arquitetura sob duas faces – artística e histórica – uma vez que contribuem de modo notável para esclarecer os porquês de suas relações por vezes simétricas e harmônicas, por vezes assimétricas e conflitantes. A primeira é considerada, em nível de senso comum, lugar da razão, do fazer científico e a segunda, território privilegiado da criação e da emoção fundadas no dom gratuito e inato. Embora um conteúdo a ser estudado na disciplina de Arte é quase que praticamente desconhecida por parte dos professores, visto que nos currículos de ensino superior na área de Arte não se destina carga horária para o ensino desses conhecimentos.

Palavras-chave: Arte; Arquitetura; História.

ABSTRAT

This text make a reflection about the Art and Architecture’s universes, making some questions: how does the architecture configure like an artistic or a scientific making? The begin is the art and architecture’s analysis, in two aspects –artistic and historic – one time that it contribute with a noteworthy way sometimes for explain the whys in their symmetrical and harmonious relation, sometimes in their disagreements. The first it have been considered, in common sense, the scientific reason and the second the privileged territory of creation and emotions from free and innate gift. However the content studied in arts subject is almost ignored for majority of the teachers, because it isn’t in superior curriculum.

Key-words: Art. Architecture. History.

1 Licenciatura em Educação Artística – Habilitação Artes Plásticas pela Faculdade de Artes do Paraná; Especialização em Metodologia de 1º e 2º graus – IBEPEX, Especialização em Gestão Escolar, Supervisão e Orientação Educacional pelo Instituto Baggozzi.

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SUMÁRIO

Introdução

.............................................................................. 06

Arte e Arquitetura

.................................................................. 07

Caderno Pedagógico

............................................................. 12

Arquitetura: Conceito

.................................................. 12

Pequena história da

Arquitetura.................................. 13

Finalidade das

construções......................................... 14

As construções e seus materiais

................................ 14

Artistas / Arquitetos

..................................................... 14

O ensino de Arte

..................................................................... 15

Conclusão

................................................................................ 16

REFERÊNCIAS..................................................................

........ 18

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Introdução

Este texto propõe uma reflexão sobre as relações artísticas e

históricas entre arte e arquitetura e resulta da pesquisa desenvolvida

no Programa de Desenvolvimento Educacional.2

A arquitetura, a principio, embora um conteúdo a ser estudado

na disciplina de Arte é quase que praticamente desconhecida por parte

dos professores, visto que nos currículos de ensino superior na área de

Arte não se destina carga horária para o ensino desses conhecimentos.

Enfim, reflexões relacionadas à prática pedagógica evidenciam a

necessidade dos professores se aprofundarem nesta temática

ampliando o domínio dos conteúdos necessários a sua práxis.

A partir de uma perspectiva histórica de Arquitetura e Urbanismo

questiona-se á relação da arte com arquitetura, problematizando: o é

mais importante, a estética ou a funcionalidade? Assim como Lúcio

Costa, a geração atual de arquitetos acredita que arte e arquitetura

caminham juntas, completam-se; pois, uma não vive sem a outra e é

2 A Secretaria de Estado da Educação, com apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná, instituíram o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, como política pública de formação continuada dos professores da rede estadual. Essa proposta de visa ofertar ao professor PDE, através do retorno às atividades acadêmicas de sua área de formação inicial, condições de atualização e aprofundamento de seus conhecimentos teóricos e práticos, permitindo a reflexão teórica sobre a prática, possibilitando assim, mudanças na prática escolar.

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impossível pensar em arquitetura sem considerar a estética da

construção, bem como a sua funcionalidade. O homem necessita de

ambas para que possa se expressar tanto individualmente quanto

coletivamente sua capacidade de criação nesses dois campos.

Se não se aliar a estética à praticidade e funcionalidade na

construção dos espaços para a vivência do homem; se uma construção

não for uma obra de arquitetura e sim apenas um aglomerado de ferro

e cimento, afastando-se assim homem da beleza, enquanto ser

humano estará condenado a adoecer.

Para o arquiteto estes valores não são menos importantes, mas o

que impera é a forma estrutural, a tendência que segue, o inusitado da

diversidade de materiais e o resultado, a proporcionalidade e sua

funcionalidade.

Arte e Arquitetura

A pesquisa, nesse sentido, permeia os universos da Arte e da

Arquitetura, exigindo uma análise histórica sobre as suas possíveis

relações, por vezes simétricas e harmônicas, por vezes assimétricas e

conflitantes. O ponto de partida é a crítica ao pensamento reinante de

que a Arte ocupa o território privilegiado da criação e da emoção

fundadas no dom gratuito e inato e, a segunda, como lugar da razão,

do fazer científico com domínio de conhecimentos técnicos e

matemáticos.

Nessa perspectiva, concordando com Porcher, embora

predomine, em nível de senso comum, a visão de que a Arte é o campo

por excelência da inspiração, da emoção, da gratuidade, também

pressupõe trabalho e conhecimento.3 “Como todos os outros setores da

educação primária, as atividades artísticas visam à formação

intelectual do aluno”. (1982, p15)

Para Pareyson, a Arte também pressupõe trabalho, mas não só, é

um fazer que implica boa dose de invenção. Ou seja, a Arte não é um

3 PORCHER, Louis. Educação Artística: luxo ou necessidade?8

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mero fazer segundo regras dadas ou predispostas, mas, “uma

atividade na qual execução e invenção procedem pari passu,

simultâneas e inseparáveis”. Ou seja, “um fazer em que o aspecto

realizativo é particularmente intensificado, unido a um aspecto

inventivo”. (1984, p. 32)

Cabe ao artista, neste sentido, chegar a um novo fazer e por

meio deste procedimento estilístico ou medium – ao mesmo tempo

sensível e inteligível – dar visibilidade à realidade humano-social. Em

outras palavras, à criação de novas maneiras de representação da

realidade humano-social por meio das linguagens artísticas.

Ao arquiteto cabe a função de projetar – organizar e ordenar

plasticamente – o espaço onde vive o homem, um espaço modelado de

acordo com regras próprias. A arquitetura também pressupõe

conhecimento, mas, assim como a arte também implica em criação,

uma característica que está intimamente relacionada com produção,

inclusive, de objetos artísticos.

A arte não se fecha em um conceito único e definitivo, envolve

subjetividade e varia de acordo com a cultura, o período histórico ou

até mesmo os indivíduos.

Não se trata de um conceito simples e vários artistas e

pensadores já se debruçaram sobre ele. Vejamos, tomando-se o

conceito de arte no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira4, segunda edição), em duas de

suas definições refere-se: primeiro, a uma "atividade que supõe a

criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético,

carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em

outrem o desejo de prolongamento ou renovação"...; segundo, "a

capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais

sensações ou sentimentos...". Além da dificuldade de definição do que

seja a arte, o fato é que as definições são empobrecedoras. Portanto,

4 A retirada do conceito de arte e arquitetura do Aurélio não tem aqui o objetivo de definir as duas áreas, pois, as definições são empobrecedoras. Mas tem por razão evidenciar para o professor que, inclusive no Aurélio se observa a proximidade desses dois ...

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compreender o que é implica em contextualizar a arte, ou seja, estudar

o período ou a cultura particular em que se insere. Além disso, como

ela está sempre presente na história humana, sendo inclusive um dos

fatores que diferenciam o homem dos demais seres vivos, a produção

artística pode ser de grande ajuda para conhecer e compreender

quando os valores do tempo e espaço em que é produzida se opõem

ou se harmonizam.

Na produção da arte pode-se utilizar de vários meios; no caso

das artes visuais os mais conhecidos são a pintura, a escultura, o

desenho, as artes gráficas (gravura, tipografia e demais técnicas de

impressão, inclusive a fotografia) e a arquitetura.

A arquitetura (do grego arché — αρχή — significando "primeiro"

ou "principal" e tékton — τέχνη — significando "construção") refere-se

à arte ou a técnica de projetar e edificar o ambiente habitado pelo ser

humano. Culturalmente associa-se diretamente ao problema da

organização do espaço a serviço do homem (e principalmente do

espaço urbano).

Conforme a etimologia, “arquitetura” designa as construções

(tectônicos) que contém arché, ou seja, os vestígios da história e dos

princípios que deram origem a uma comunidade. Primeiramente, a

arquitetura é de um lado atividade (a arte, o campo de trabalho do

arquiteto) e, de outro, o resultado físico (o conjunto construído por um

arquiteto, de um povo e da humanidade como um todo). Enquanto

atividade é um campo multidisciplinar, incluindo a matemática, as

ciências, as artes, a tecnologia, as ciências sociais, a política, a história,

a filosofia, entre outros. Porém, como argumentando anteriormente,

também é difícil conceituá-la de modo preciso, de forma que a palavra

contém diversas acepções e a atividade compõe diversos

desdobramentos.

A arquitetura, como atividade também criadora, é uma arte

vinculada à harmonização estética de espaços interiores e formas

exteriores de edificações. Além dos princípios de simetria e proporção

dos quais se serve, a arquitetura também se preocupa com a própria

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finalidade utilitária do espaço, contudo, funcionalidade e estética

também devem formar um conjunto harmonioso.

Assim como na Arte, as definições de Arquitetura, na sua

maioria, tratam do binômio: ciência-arte, necessidade de

conhecimentos técnicos para se obter um resultado artístico. Mas,

ciência e a arte têm um ponto em comum: ambas exigem criatividade.

O ato de criação pode nascer de um trabalho artístico ou de uma teoria

científica. Nesse aspecto, é muito tênue a diferença entre um artista e

um cientista, pois ambos, quando produzem o novo estão criando.

Historicamente, o conhecimento técnico-científico não está

dissociado do campo das artes. Na arte há também a técnica, o saber

fazer, que é também conhecimento científico; mas, há ainda a

dimensão sensível e estética, o estudo das relações sociais e

interpessoais. A Arte é ciência, portanto conhecimento científico não

relacionado somente com as ciências exatas, com a razão matemática,

na verdade, cada vez mais, evidencia-se uma tentativa de diálogo

entre estes dois campos, embora distintos, complementares. Trata-se

do campo da arte e da tecnologia, o das ciências humanas e das

ciências exatas.

A proximidade entre arte e ciência pode ser traçada de muitas

formas diferentes no decorrer da história. O escultor, pintor,

engenheiro e cientista Leonardo da Vinci (1452-1519) afirmava que

ciência e arte completavam-se constituindo a atividade intelectual. Em

ambos os casos, bastante distantes, um ponto comum: a proximidade

entre arte e ciência, seja pela complementaridade ou pela influência

recíproca.

São homens que projetam, são os atuais e futuros usuários de

todo e qualquer espaço construído. Sendo assim, pode-se certamente

resumir complexidade do processo criativo em três itens básicos:

ciência, arte, homem.

Através da ciência temos acesso ao mensurável, às

quantificações. O objetivo da ciência é de fato discernir, separar ou até

discriminar para melhor compreensão do objeto de estudo. Em se

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tratando do processo projetual, inicialmente, a análise meticulosa dos

fatos que envolvem o problema é essencial para a posterior fase

criativa. Os dados numéricos, tamanhos de áreas e as somas totais e

também, o conhecimento técnico que envolve a execução da obra

englobam as questões do item ciência. Para tal necessitamos e

empregamos nossas capacidades racionais e intelectuais. Na ciência, a

criatividade leva às descobertas inusitadas, às invenções que, por sua

vez, resultam em tudo que conhecemos no âmbito da tecnologia.

O processo do fazer artístico evidencia singularidades, é

necessário ao artista dominar, controlar e transformar a experiência

em memória, a memória em expressão, a matéria em forma. A emoção

para um artista não é tudo; ele precisa também tratá-la, transmiti-la,

conhecer todas as regras, técnicas, recursos, formas e convenções com

que a natureza - esta provocadora - pode ser dominada e sujeitada à

concentração da arte.

Platão ligava a arquitetura à lógica das construções; dizia: “a

arquitetura e todas as artes manuais implicam numa ciência que tem,

por assim dizer, sua origem na ação e produzem coisas que só existem

por causa delas e não existiam antes”. Aristóteles corroborava com

esse pensamento dizendo que a arte da arquitetura era “resultado de

certo gênero de produção esclarecida pela razão”. (LEMOS, 1994, p 22)

Atualmente, o mais antigo tratado arquitetônico de que se tem

notícia, que propõe uma definição de arquitetura, é o do arquiteto

romano Marco Vitrúvio Polião. Em suas palavras: "A arquitetura é uma

ciência, surgindo de muitas outras, e adornada com muitos e variados

ensinamentos: pela ajuda dos quais um julgamento é formado

daqueles trabalhos que são o resultado das outras artes." (LEMOS,

1994, p

Vitrúvio, considerado o fundador da estética da arquitetura,

escreveu sobre o assunto em seus “Dez livros de arquitetura”,

destacando duas posições bem demarcadas que se relacionam com o

fazer arquitetônico: ele enfatiza primeiramente o belo e relega a plano

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secundário o aspecto construtivo e, a segunda, prioriza as normas

técnicas sem intenção plástica.

Num primeiro momento Vitrúvio percebe na arquitetura três

aspectos: a solidez, a utilidade e a beleza, dando importância maior ao

lado prático ou técnico deixando o artístico propriamente por último.

Depois, quando se detém sobre uma ampla definição de arquitetura

empresta maior atenção às categorias diretamente ligadas à estética.

As idéias de Vitrúvio são incorporadas ao pensamento de Santo

Agostinho e de Isidoro de Sevilha que já vê imprescindível na

arquitetura à ornamentação, pensamento que transcende a Idade

Média confundindo a figura do arquiteto com a do mestre de obras.

A arquitetura gótica, desenvolvida para a glória de Deus, foi uma

verdadeira integração entre a Ciência e as Artes, todo o conhecimento

aplicado em decoração para propiciar a elevação das almas dos

crentes.

No Renascimento as idéias de Vitrúvio – seus livros foram

considerados a “Bíblia” dos arquitetos deste período – voltaram pelas

palavras de Leon Batista Alberti. Uma arquitetura nova regida pelos

antigos ideais. Depois do Renascimento, o Maneirismo, que foi

sucedido pelo Barroco, que veio a dar lugar ao Neoclássico, que

coincidiu no tempo com a Revolução Industrial, provocou

sucessivamente alterações básicas no modo de vida e no modo de

julgar a arte, agora ao alcance de um número crescente de pessoas.

Todo o progresso advindo dessa época em diante se refletiu nas

construções e definiu a separação entre o arquiteto e o engenheiro.

Além dessas concepções de arquitetura, Viollet-Le-Duc no séc.

XIX supera os raciocínios de Vitrúvio, buscando a beleza nas relações

geométricas, graficamente determinava ou comprovava as leis da

harmonia que engrandeciam a composição arquitetônica.

No final do séc. XIX e início deste, novas visões de arquitetura

evidenciam um modo de olhar diferente, trazendo o espaço como

elemento significativo primordial.

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Hegel, por exemplo, dizia que o problema da arquitetura consiste

“em incorporar à matéria uma idéia”; enquanto Auguste Perret foi um

dos primeiros a dizer que “arquitetura é a arte de organizar o espaço e

é pela construção que ela se expressa”.

No séc. XX, vários arquitetos manifestaram-se sobre sua

profissão, elaborando definições nas quais enfatizam uma verdade que

favorece o espaço belo.

É exemplar, no caso, o que diz Le Corbusier, na década de 20:

“arquitetura é o jogo magistral correto e magnífico de massas reunidas

sob a luz” e, ainda, argumenta que “a arquitetura é a síntese das artes

maiores. A Arquitetura é forma, volume, cor, acústica, música”.

(LEMOS, 1994, p 36)

Enfim, esta fundamentação se constitui no corpus teórico da

produção didático-pedagógica ou do Caderno Pedagógico elaborado no

segundo semestre de 2008, material composto por abordagem de

várias unidades de um mesmo tema, contendo texto de

fundamentação, com as respectivas atividades que se propõe na

Implementação5.

Caderno Pedagógico

O Caderno Pedagógico “Arte e Arquitetura: Uma reflexão

artística e histórica acerca de suas relações”, elaborado de

acordo com as diretrizes da SEED, contém um relação detalhada dos

conteúdos previstos para a disciplina de Arte; dividido em unidades, e

permite não só ao professor, mas também aos alunos o entendimento

das relações entre Arte e Arquitetura – dá referência para o

envolvimento das outras linguagens da arte – fazendo-os pensar e

repensar a prática pedagógica por meio da arquitetura.

Arquitetura: Conceito

5 A implementação deste projeto foi realizada no primeiro semestre do ano de 2009, no Colégio Estadual Professor Manoel Borges de Macedo, jurisdicionado ao Núcleo Regional Estadual da Área Metropolitana Norte, no município de Rio Branco do Sul.

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Nesta unidade é feita a apresentação do conceito de arquitetura,

tanto para o professor quanto para o aluno. Os conceitos abordados

aproximam a noção do que se sabe de arquitetura a conceitos teórico-

práticos, históricos e até mesmo poéticos. Desta forma, desmistifica-se

a arquitetura como um assunto isolado, tratando-o de forma a

aproximar o entendimento de que o homem é um ser dotado de

sensibilidade e por isso, o espaço que o circunda deve ser significativo,

vívido, relacionando-se com quem o habita. Não pode ser um espaço

indiferente e impessoal. O primeiro texto, “Conceituação” de Lúcio

Costa, requer do professor fundamentação teórica e clareza sobre

como fazer a proposta de análise aos alunos, objetivando a discussão

coletiva sobre a compreensão que estes fazem da Arquitetura,

estabelecendo um diálogo entre os alunos e o conhecimento sugerido.

As atividades artísticas relacionadas com as imagens das

construções e seus habitantes possibilitaram aos alunos refletir sobre

sua realidade de moradia e sua inclusão tomando como referência

imagens que se assemelhavam com suas casas ou prédios da cidade.

Pequena história da arquitetura

A arquitetura, como “arte humana”, possibilita uma percepção

dos desejos, anseios e necessidades daquele que pretende erguer sua

moradia, seu local de trabalho, em espaços que possam ser sentidos,

interagindo com suas características pessoais. Ou seja, a construção

deve ter a “cara” do seu tempo e das necessidades dos homens desse

contexto; desta forma o breve histórico arquitetônico-artístico

apresentado no projeto aponta a arquitetura como inerente à

transformação social, tanto pela sua necessidade (funcionalidade),

como pelas características peculiares que representa cada época ou

região, enfatizando a importância da Arquitetura na sociedade atual e

futura.

As relações de Arte e Arquitetura, demonstradas através do

conteúdo de simetria e assimetria, podem ser observadas nas imagens

de construções e, também nos objetos de uso diário, prevalecendo

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uma leitura de imagens que envolvem a história da Arte e da

Arquitetura.

Finalidade das construções

Segundo Rino Levi “as manifestações artísticas trazem a marca

dos artistas que as criaram, pois refletem visões diferentes do conceito

de beleza e na função do objeto artístico”. Na análise da idéia de Rino

Levi, entende-se a arquitetura intimamente ligada ao conceito

artístico. E essa abordagem é pertinente ao que apresentamos aos

alunos no se refere a arquitetura; cabe a esta analise, aplicar à história

da arte ou ao estudo isolado de uma edificação algumas questões:

A qualidade do espaço (onde moramos, estudamos, trabalhamos,

etc.) está diretamente ligada à qualidade de vida?

A qualidade das construções que nos cercam e de todos os

espaços construídos?

A arquitetura é a arte que tem que ser funcional?

A arquitetura trabalha diretamente com a relação entre o homem

e o meio ambiente?

As construções e seus materiais

Se pensarmos na evolução dos materiais de base da arquitetura

através dos tempos, percebemos que ainda hoje como lá na Pré-

história continuamos a usar pedras como base de novas edificações.

A arquitetura moderna, no entanto, renova os espaços variando

materiais que já foram utilizados desde a.C, o que dá magnitude a uma

construção é a genialidade com que é pensada funcional e

artisticamente.

Artistas / arquitetos

Para o artista um projeto arquitetônico é reconhecido como uma

edificação bela, original e diferenciada, que marca o patrimônio

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cultural de uma população e pode ser entendido como a memória que

ela tem ou que não deve deixar de ter, da sua história, dos valores

afetivos e dos seus valores culturais. A atividade artística proposta aos

alunos, desenho da planta de parte da escola e a elevação frontal,

permitiu observar que estes têm dificuldade de visualização quanto à

distribuição das áreas e a proporção entre elas.

Le Corbusier é em si a síntese da arquitetura moderna do século

xx, inspirando jovens arquitetos do mundo inteiro, mas, foi o brasileiro

Oscar Niemayer quem traduziu em formas generosas a genialidade do

conceito de arquitetura de Lúcio Costa. A sua arquitetura se tornou

símbolo de toda uma geração e do século XX, na ousadia dos

materiais, na inovação tecnológica, em perfeita harmonia com a

plasticidade e estética das formas, aliadas a funcionalidade e

praticidades que o homem moderno necessita. Assim, Niemeyer é não

só um arquiteto, mas "o arquiteto" que conseguiu reunir o sentido da

obra de arte enquanto bela, ou seja, perfeita àquilo que se propõe.

Suas obras, não são apenas construções, mas obras de arquitetura.

Se pensarmos na visão do arquiteto, num primeiro momento, seu

projeto visa um fazer científico, ou seja, suprir uma necessidade da

sociedade. Num segundo momento, o que prevalece no projeto de

construção é de que forma esse projeto pode ser apresentado à

sociedade, configurando um fazer artístico.

O ensino de Arte

O ensino de Arte tem como objetivo o desenvolvimento do

pensamento artístico, ampliando a sensibilidade, a percepção, a

reflexão e a imaginação do aluno. Esta aprendizagem envolve o

conhecer, o fazer, o apreciar e refletir sobre a arte.

As tendências que se manifestaram no ensino da arte, ao longo

dos anos, trazem a pintura como elemento norteador do trabalho

pedagógico. As ações desenvolvidas pelos professores giram em torno

das obras e dos artistas que mais se destacaram na pintura. Esse fato

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deixa diversas lacunas no currículo do ensino da arte, e percebemos

que a gravura, escultura, arquitetura, fotografia, muitas vezes, nem

são apresentadas aos alunos restringindo o seu campo de

conhecimento artístico.

Ensinar a arte pelo viés da arquitetura possibilita uma ampliação

deste campo de visão e integra as várias áreas deste conhecimento

que é tão amplo.

Entendo que quando estudamos com nossos alunos o fazemos

pelo caminho do fazer artístico, analisando elementos como: linhas,

formas, relevos, texturas e características peculiares na arquitetura de

cada período, como as construções grandiosas de formas piramidais no

Egito, frontões na Grécia, colunas e arcos ogivas no estilo Gótico e

assim por diante.

Enfim, considero perfeitamente possível trabalhar os conteúdos

de arte através da arquitetura, pois, quando se analisa um projeto

arquitetônico com os alunos ele é feito de forma ampla. Por meio da

arquitetura podemos analisar elementos formais como a linha, o ponto,

os planos, a cor, a luz, bem como a composição e a produção artística

e cultural de um povo, de uma época e as relações do homem com a

sociedade e o meio em que está inserido.

Por exemplo, ao analisarmos a arquitetura grega da antiguidade

entendemos: não só as artes visuais desse período (escultura,

cerâmica, pintura, afrescos), mas também sua política, religião, seu

modo de morar, sua intimidade, seu gosto pela música, pela poesia,

pelo teatro, pelos esportes; ao analisarmos os templos, os anfiteatros,

as vilas e palácios, o senado, traduzindo a arquitetura grega,

simplesmente se conhece o homem grego da antiguidade.

Conclusão

Sobre a visão de diversos autores em tempos diferentes concluo

que ora a arquitetura é objeto de interesse da arte, ora é interesse da

ciência.

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Considerando que as pirâmides egípcias, construções

arquitetônicas indiscutivelmente, colocadas no campo das Artes,

servem hoje como um exemplo de mito, quando na verdade na época

de sua construção foi um "objeto" de uma grandeza científica que nos

deixa estupefatos ainda hoje, 5000 anos depois de sua construção.

Enfim, a proposta de trabalhar os conteúdos de arte pelo viés da

arquitetura foi uma possibilidade enriquecedora, pois em qualquer

período da História da Arte que se estude temos produções

arquitetônicas que influenciam ou foram influenciadas pela arte que,

por sua vez, foi desenvolvida conforme a necessidade do período

histórico considerando a questão social, política, religiosa, econômica,

etc. Como diz Argan: "a obra de arte determina o espaço urbano e o

que a produz é a necessidade para que vive e opera o espaço de

representar para si de uma forma autêntica ou distorcida a situação

espacial em que opera". (ARGAN, 1998)

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REFERÊNCIAS

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