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SERVI90 SAUDE No meio do caminho 11 A UMA PEDRA A Iitiase renal, popularmente chamada de "pedra nos rins", tem sido considerada a doen<;ados tempos modernos, jei que sua origem pode estar associada ao consumo de aIimentos industriaIizados, ricos em s6dio. EspeciaIistas expIicam suas causas e orientam como preveni-la __ L P",/ O versinho de Carlos Drum- mond de Andrade que deu titulo a esta reportagem cer- tamente sera a ultima coisa a ser lembrada por urn individuo que sente c6lica renal - causada por "pedra nos rins" Conome correta e litiase renal). Mas que ela tern 0 poder de interromper qualquer coisa que se esteja fazendo, ah isso tern! Isso porque a dor que ela provoca e uma da piores que 0 ser humano pode sentir. o professor de teatro Manoel Ochoa, 56 anos, que 0 diga. Ha dois anos estava na sala de aula Sera que e pedra? Alem da colica renal - uma dor 10m bar tao intensa que frequentemente e acompanhada de nausea e vomito -, outros sintomas podem alertar o paciente: Urina amarelo-escura e de odor forte (sinal de que esta mal dilufda); Ardor ao urinar; Sangue na urina; Minusculos "graos de areia" na urina. quando comec;ou a gritar, a gemer e se contorcer. Os alunos, ja acos- tumados com suas brincadeiras, comec;aram a rir, e s6 depois de algum tempo perceberam que ele nao estava interpretando. No pron- to-socorro, os medicos detectaram uma pedrinha do tamanho de urn feijao, que foi destruida em uma litotripsia extracorp6rea - ela foi quebrada por ondas de choque irradiadas na regiao lombar, sem necessidade de cirurgia (leia mais sobre tratamentos no quadro it pagina 33), e depois expelida pela urina. Normalmente e assim, acontece de repente, quando a pedra - que po- de estar ali ha muito tempo - re- solve caminhar em direc;ao a uretra. Ao se deslocar ela machuca as pare- des do rim e do canal da uretra, podendo obstrui-Io. E isso que causa as fortes c6licas. Veja infogra- fico na pagina 32. A DOEN<;A DOS TEMPOS MODERNOS De acordo com 0 urologista Edu- ardo Mazzucchi, chefe do grupo de litiase urinaria do Hospital das Cli- nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo CUSP),a incidencia de litiase renal cresceu

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Page 1: SAUDE No meio do caminho 11 A UMA PEDRA©ria_Litíase.pdfSERVI90 SAUDE No meio do caminho 11 A UMA PEDRA A Iitiase renal, popularmente chamada de "pedra nos rins", tem sido considerada

SERVI90SAUDE

No meio do caminho11 A UMA PEDRA

A Iitiase renal, popularmente chamada de "pedra nos rins", tem sido consideradaa doen<;ados tempos modernos, jei que sua origem pode estar associada ao

consumo de aIimentos industriaIizados, ricos em s6dio. EspeciaIistasexpIicam suas causas e orientam como preveni-la

__L

P",/

Oversinho de Carlos Drum-mond de Andrade que deutitulo a esta reportagem cer-

tamente sera a ultima coisa a serlembrada por urn individuo quesente c6lica renal - causada por"pedra nos rins" Conome correta elitiase renal). Mas que ela tern 0

poder de interromper qualquercoisa que se esteja fazendo, ah issotern! Isso porque a dor que elaprovoca e uma da piores que 0 serhumano pode sentir.

o professor de teatro ManoelOchoa, 56 anos, que 0 diga. Hadois anos estava na sala de aula

Sera que e pedra?Alem da colica renal - uma dor

10mbar tao intensa que frequentementee acompanhada de nausea e vomito -,outros sintomas podem alertaro paciente:• Urina amarelo-escura e de odor

forte (sinal de que estamal dilufda);

• Ardor ao urinar;• Sangue na urina;• Minusculos "graos deareia" na urina.

quando comec;ou a gritar, a gemere se contorcer. Os alunos, ja acos-tumados com suas brincadeiras,comec;aram a rir, e s6 depois dealgum tempo perceberam que elenao estava interpretando. No pron-to-socorro, os medicos detectaramuma pedrinha do tamanho de urnfeijao, que foi destruida em umalitotripsia extracorp6rea - ela foiquebrada por ondas de choqueirradiadas na regiao lombar, semnecessidade de cirurgia (leia maissobre tratamentos no quadro it pagina33), e depois expelida pela urina.Normalmente e assim, acontece derepente, quando a pedra - que po-de estar ali ha muito tempo - re-solve caminhar em direc;aoa uretra.Ao se deslocar ela machuca as pare-des do rim e do canal da uretra,podendo obstrui-Io. E isso quecausa as fortes c6licas. Veja infogra-fico na pagina 32.

A DOEN<;A DOSTEMPOS MODERNOS

De acordo com 0 urologista Edu-ardo Mazzucchi, chefe do grupo delitiase urinaria do Hospital das Cli-nicas da Faculdade de Medicina daUniversidade de Sao Paulo CUSP),aincidencia de litiase renal cresceu

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cerca de 20% nos ultimos dezanos no Brasil. "Estima-se que8% dos brasileiros tenham litia-se", infarma. Ainda segundo de,a doen~a, que atingia predomi-nantemente homens de 30 a 40anos, esta ganhando espa~o entremulheres, crian~as e adoleseen-tes, em fun~ao das mudan<;:asso-ciais. "A mulher hoje trabalhafora, e por isso come e cozinhamenos em casa, consome maisalimentos industrializados e fast--food, ingere menos agua e maisrefrigerantes, e tern pouco tempopara praticar exercicios fisicos",acrescenta Mazzucchi.

No caso de crian~as e adoles-centes tambem e a baixa ingestaode agua e sucos naturais, alem doconsumo exagerado de refrigeran-tes, sucos em po, bolachas, doces,salgadinhos e embutidos, comosalsichas e hamburgueres, quecontribuem para 0 aparecimentodas pedras, de acordo com a ne-fropediatra Simone Laranjo Mar-tins, do ambulat6rio de nefrologiapediatrica da Santa Casa de Mi-sericordia de Sao Paulo.

Se ha dez anos 0 ambulatoriode nefrologia infantil da Santa Ca-sa recebia dois novos casos de cri-

an~as com pedras nos rins pormes, hoje saGatendidas 30 crian-~as por semana, entre pacientesnovos e ja diagnosticados. Segun-do Simone, a maioria dos casosacontece entre crian<;:asem idadeescolar, mas tambem saGdetecta-dos em crian~as de 2 e 3 anos. Fe-lizmente, de acordo com a espe-cialista, os calculos em crian~ascostumam ser pequenos e expeli-dos facilmente com tratamentoclinico e reeduca~ao alimentar,sem necessidade de cirurgia.

DE ON DE ELA VEM?Segundo 0 nefrologista Roberto

Galvao, do corpo clinico do Hos-

pital lsraelita Albert Einstein, emSao Paulo, a farma~ao do calculorenal nao e subita. Ela leva algunsmeses e acontece em fun~ao deurn desequilibrio nas substanciasque compoem a urina. "A litiaseou pedra nos rins pode ter origemgenetica, metabolica ou ser causa-da por maus habitos alimenta-res", explica. Em resumo: ou fal-tam elementos que diluam 0 cal-cio presente na urina, como aagua e 0 citrato (substancia pre-sente nas frutas citricas, porexemplo, e que combate a agre-ga~ao do calcio), entre outros, ouha excesso de calcio na urina,provocado par alto consumo desodio. Mas segundo os medicosconsultados, nem s6 de calcio saGcompostas as pedras. Apesar deserem menos comuns, elas po-dem ser produzidas pdo excessode acido tirico excretado na urinadevido a urn disturbio metaboli-co. Existem ainda calculos forma-dos par infec<;:aoou pela metabo-liza~ao de alguns medicamentos.

"E importante que 0 paciente seconscientize de que a litiase sem-pre tern uma causa que deve serdescoberta e tratada, mesmo de-pois que a pedra e retirada, para

o famoso cha de quebra-pedras, receitadopor nossas avos, foi reconhecido como substan-cia fitoterapica pela Agencia Nacional deVigilancia Sanitaria (Anvisa) no ana passado.

De acordo com os especialistas consultadospara esta reportagem, a substancia nao quebraas pedras, como diz 0 nome, mas faz com queelas fiquem mais frageis e nao aumentem detamanho. Portanto, e um aliado nos tratamentospara a elimina~ao de pedras pequenas, quepodem ser expelidas naturalmente pel a urina.

\, Ureter

Bexiga_-yrinaria

'luretra

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que outras nao se formem emseguida", ressalta Galvao. Segun-do ele e Mazzucchi, 50% dos pa-dentes com pedra nos rins voltama ter outra (ou outras) num prazode cinco a dez anos. Por isso,quando termina 0 trabalho dourologista, que e 0 medico capa-citado para retirar a pedra pormeio de cirurgia, come<;:a0 traba-lho do nefrologista - 0 profissio-nal clinico que pedira exames deurina para poder realizar 0 estudometabolico do paciente. "E 0 ne-

TratamentosQuando a pedra ja esta insta-

lada nos rins ou nas viasurinarias, a solu<;:aoe elimi-

na-la. 0 dr. Eduardo Mazzucchiexplica que 0 tratamento depen-de do tipo de calculo, do tama-nho e da localiza<;:ao.

Se a pedra e bem pequenina,com apenas alguns milimetros, 0

tratamento costuma ser mais con-servador. Medicamentos anti-in-flamatorios, antiespasmodicos eanalgesicos saG receitados paraaliviar a dor, e saGrecomendadosa diminui<;:aodo consumo de sal eo aumemo da ingestao de agua,para que a pedra seja expelida na-turalmente pela urina.

Hoje, mesmo quando as pedrassaGmaiores, quase nao se faz maisdrurgias tradicionais para a suaretirada. ')a existem metodos me-nos invasivos para a elimina<;:aodos calculos", afirma Mazzucchi.Veja abaixo alguns tratamentos:

• Litotripsia extracorp6rea(LECO): ondas de choque irradia-das na regiao lombar quebram aspedras, sem precisar de cirurgia.

• Litotripsia percutanea:quando a pedra esta localizadanos rins, faz-se urn corte de cercade 1 cm nas costas do pacientepara introduzir 'um endoscopio,que visualiza a pedra, a fragmen-ta e a aspira.

frologista que vai detectar se 0

paciente tern pedra no rim por-que lan<;:amuito calcio au muitoacida urico na urina, au parquetern pouco citrata na urina", ex-plica Galvao. Segundo 0 especia-lista, quando diagnasticada a cau-sa e realizado urn tratamento pre-ventiva, que inclui medicamen-tos, reeduca<;:aoalimentar, praticade exercicios fisicos e aumento daingestao de agua, a probabilidadede forma<;:aode novas pedras di-minui muito.

• Ureteroscopia: quando aspedras est:3.olocalizadas no ure-ter, pode ser necessaria a intro-du<;:aode urn endoscopio, que aslocaliza, destroi com ondas dechoque e as suga para fora.

• Cirurgia aberta: indica-da quando ha varias pedras ouquando elas sao muito grandes .•

Saiba mais ~• Sociedade Brasileira de Nefrologia:<www.sbn.org.br/leigos/ index.php>.

• Materia "Cuidado com a pizza" (edi-gao n' 118, de fevereiro de 2008) sobre 0

excesso de sadie nas pizzas prontas.

• Materia "AIem da conta" (edigao n'129, de fevereiro de 2009) sobre 0 exces-so de sadio, agucar e gorduras nos bo-linhos recheados e salgadinhos que ascriangas levam na lancheira.

• Materia "Muito sal na sopa" (edigao n2

134, de julho de 2009) sobre 0 excessode sal nas sopas prontas.

• Materia "Doces, salgados e gordurososdemais" (edigao n2 136, de setembro de2009) sobre a quantidade de agucar, sale gorduras em alimentos industrializadospara criangas.

• Materia "Viloes em pele de herois"(edigao n2 148, de outubro de 2010)sobre as falhas na rotulagem de produtosindustrializados para criangas, ricos emgorduras e sadio.

• Beba diariamente de 2 a 3 litras de Ifquidos(agua, chas de ervas ou sucos de frutas naturais).

• Beba cerca de tres copos de leite por dia.Tambem vale ingerir seus derivados, como iogurte,coalhada e queijos, de preferencia com baixoteor de gordura (light, desnatados ou semi-desnatados). A nutricionista Nfdia Pucci,do Hospital das Clfnicas de Sao Paulo,destaca que apesar de a maioria daspedras ser formada por calcio, nao sedeve diminuir 0 consumo de leite e deri-vados e de outras alimentos ricos nessasubstancia, porque se 0 organismo nao recebea quantidade necessaria de calcio, precisa retira-Iodos ossos, 0 que pode causar osteoporase.

• Beba mais sucos naturais, principalmente osde frutas cftricas, que sac fontes de citrato, que eum solubilizador do calcio na urina.

• Evite refrigerantes, sucos de caixinha (quepossuem sodio para a sua conservacao) e sucosem po, cujos corantes tambem favorecem a for-mac;ao de pedras.

• Coma mais frutas, verduras e legumes. Alemdas frutas cftricas, a banana, que contem potas-sio, tambem ajuda a metabolizar 0 citrato.

• Tempere os alimentos com menosgal. A OrganizaCao Mundial da Sau-de recomenda 0 consumo de 6 gpor dia para adultos. Os medicosconsultados para esta reportagem

sac ainda mais radicais: eles orien-tam a nao ingerir mais de 3 g por dia.

• Use temperas naturais como ervas secas, sal-sinha, cebolinha, coentra, manjericao, entre outras.

• Consuma menos alimentos industrializados,como pratos e molhos prontos, alimentos emconserva e embutidos, como salsichas, presuntoetc., alem de temperas prantos e sopas depacote, que contem muito sodio.

• Evite comer alimentos com protefna animalem excesso, principalmente carnes vermelhas,porque ao metabolizar essa substancia 0 organis-mo praduz sulfato, que aumenta a quantidade decalcio e acido urico excretados na urina. Comaapenas uma porc;ao media por refeic;ao. Prefira ascarnes brancas e com pouca gordura.

• Use adoc;antes natura is, como a estevia, poisos de sacarina e ciciamato contem muito sadio.