satisfaçãofomos criados para glorificar a deus e para fazê-lo satisfeito em relação a nós....
TRANSCRIPT
Satisfação
Por
Silvio Dutra
Abr/2019
2
A474 Alves, Silvio Dutra Satisfação / Silvio Dutra Alves Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019. 58p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252
3
No dia do juízo, diante de Deus, somente
estará tranquila a consciência daquele que
viveu não para satisfazer a si mesmo, mas a
Deus.
O que queremos dizer com isto é que não
podemos ter a verdadeira satisfação e
contentamento eternos quando o nosso
propósito é viver apenas para agradar a nós
mesmos. Tudo é passageiro e este tipo de
comportamento que deixa a vontade de Deus do
lado de fora, é pecaminoso.
Fomos criados para glorificar a Deus e para fazê-
lo satisfeito em relação a nós.
Isto só pode ser feito vivendo em Jesus Cristo e
para Ele. Jesus foi dado àqueles que lhe foram
dados pelo Pai, não somente para morrer no
lugar deles, mas também para viver neles e ser
o Senhor, a regra, o governo de suas vidas.
É por se fazer a vontade de Jesus que podemos
achar verdadeira satisfação.
No evangelho Deus nos deu, não a Lei mas o
próprio Filho Unigênito. Veja o testemunho que
foi dado sobre Jesus por João Batista:
4
“16 Porque todos nós temos recebido da sua
plenitude e graça sobre graça.
17 Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de
Jesus Cristo.
18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito,
que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (João
1.16-18).
Quando João se referiu à plenitude de Jesus ele
marcou que ela é recebida por aqueles que
receberam dele o poder de serem feitos filhos
de Deus por meio da fé nele. Tudo o que Jesus é
e possui em si mesmo foi dado a nós, pela graça,
e é manifestado em graus crescentes desta
graça à medida que permanecemos nele.
A Lei foi dada por meio de Moisés, mas como
não podemos guardar a Lei com perfeição em
razão de sermos pecadores, tendo uma natureza
corrompida pelo pecado que é contrária à Lei,
algo superior à Lei deveria ser provido por Deus
em relação à nossa fraqueza, e isto ele fez nos
dando a própria pessoa de Jesus, e com ele, o
acesso à graça, à verdade, ao amor, à paz, alegria,
vida eterna, justiça, redenção, expiação,
sabedoria, justificação, regeneração,
santificação, glorificação, instrução, direção,
5
consolação, e tudo o mais que se refira à vida
abundante que Jesus veio dar aos que nele
creem.
A fé é o único canal para se obter tudo isto. Não
são as obras da Lei, mas as da fé que são
resultantes do governo de Jesus sobre nós e em
nós. Confiar-se a Jesus, permanecer nele – a
Videira verdadeira e o ramos, e tudo o mais,
inclusive as obras da fé, procedem daí.
Dentre os crentes do Velho Testamento que
alcançaram o bom testemunho da parte de Deus
acerca da fé e obediência que eles haviam tido
em relação a Ele, e que são relacionados pelo
autor de Hebreus no 11º capítulo de sua epístola,
também o próprio autor de Hebreus havia
alcançado tal testemunho, bem como os demais
apóstolos de Jesus e todos os crentes fiéis da
Igreja Primitiva, como por exemplo Timóteo,
Tito, Silas, Epafrodito, Filemom, Priscila, Áquila,
Apolo, João Marcos, Lucas, dentre outros.
Notavelmente, entre todos eles, destaca-se o
apóstolo Paulo que afirma de si mesmo ter
vivido contente em todas as circunstâncias. Ele
diz que mesmo quando estava triste, também
estava sempre alegre, e que alegria era esta
senão a resultante do contentamento que tinha
em saber ser aprovado pelo Senhor em todas as
6
coisas? Ele tinha este testemunho do Espírito
Santo com o seu espírito, e pela certeza da
comunhão que tinha continuamente com Deus,
mesmo em suas prisões que duraram anos.
O apóstolo Pedro também afirma que em nossos
vários contristamentos podemos sentir
também uma alegria cheia de glória no Senhor,
em razão da nossa eleição no Espírito.
O apóstolo Tiago também diz que podemos ter
por motivo de toda alegria, ou seja, de
contentamento em Deus, o fato de passarmos
por várias provações, especialmente pelo
resultado principal disto, que é o de sermos
aperfeiçoados em paciência.
Este contentamento cristão independe então se
estamos tristes ou alegres, pois o fato de
sabermos que Deus tem se agradado de nós, por
nosso viver de modo piedoso e santo, é o que nos
deixa também contentes.
O contentamento cristão é aquilo a que Pedro se
refere em I Pedro 3.10-17 , reportando-se ao que
Davi havia dito anteriormente no Salmo 34.12-
16, sobre a verdadeira felicidade em Deus:
7
“10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes
refreie a língua do mal e evite que os seus lábios
falem dolosamente;
11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,
busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.
12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os
justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas
súplicas, mas o rosto do Senhor está contra
aqueles que praticam males.
13 Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes
zelosos do que é bom?
14 Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da
justiça, bem-aventurados sois. Não vos
amedronteis, portanto, com as suas ameaças,
nem fiqueis alarmados;
15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em
vosso coração, estando sempre preparados para
responder a todo aquele que vos pedir razão da
esperança que há em vós,
16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor,
com boa consciência, de modo que, naquilo em
que falam contra vós outros, fiquem
envergonhados os que difamam o vosso bom
procedimento em Cristo,
8
17 porque, se for da vontade de Deus, é melhor
que sofrais por praticardes o que é bom do que
praticando o mal.”
Pedro certamente escreveu inspirado na
experiência de Davi, relatada no Salmo 34, que
escreveu depois de ter passado pela grande
aflição que tivera na presença de Abimeleque, a
ponto de ter que disfarçar-se de louco para
poder livrar-se da morte.
Ao mesmo tempo ele havia clamado ao Senhor
e Ele o livrou, como sempre vinha livrando o seu
servo de todas as suas tribulações,
especialmente aquelas que padeceu em razão
das perseguições que sofria da parte do rei Saul.
Era por causa do seu bom testemunho, da sua
completa fidelidade a Deus e à Sua Palavra que
ele estava sofrendo todas aquelas coisas, e sabia
que isto era de ser esperado, porque quando
alguém se determina a caminhar na verdade em
comunhão com Deus, do outro lado a fúria do
diabo é despertada contra ele, tentando
interromper a sua caminhada fiel.
Davi perseverou até o fim da sua vida, e o
contentamento ou alegria no Senhor, não se
afastou dele. Mesmo quando parecia ter sido
entregue a si mesmo, quando em aflição,
9
tristeza, abatimento de alma, ou o que fosse, ele
tinha a certeza de ter os olhos do Senhor sobre
ele, pois, buscava fazer somente aquilo que era
justo aos Seus olhos.
Este é o segredo do contentamento permanente
em todas as circunstâncias, mesmo quando
estamos abatidos e tristes: a certeza de que
temos agradado a Deus por buscarmos ser
sinceros diante dEle, confessando os nossos
pecados, e fazendo somente aquilo que é justo
segundo a Sua Palavra, e estando prontos a
sofrer e a fazer a vontade de Jesus em tudo em
que formos provados nesta vida.
Medite detidamente em cada palavra do Salmo
34, e veja a que Davi associa a razão do seu
contentamento. Não era por ser poderoso, por
ter riquezas, a ter plena saúde, e tudo aquilo que
o mundo considera erroneamente como sendo
a causa da nossa satisfação.
“Salmos – 34
1 Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu
louvor estará sempre nos meus lábios.
2 Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os
humildes o ouvirão e se alegrarão.
10
3 Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à
uma, lhe exaltemos o nome.
4 Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-
me de todos os meus temores.
5 Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso
rosto jamais sofrerá vexame.
6 Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o
livrou de todas as suas tribulações.
7 O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que
o temem e os livra.
8 Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-
aventurado o homem que nele se refugia.
9 Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois
nada falta aos que o temem.
10 Os leõezinhos sofrem necessidade e passam
fome, porém aos que buscam o SENHOR bem
nenhum lhes faltará.
11 Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o
temor do SENHOR.
12 Quem é o homem que ama a vida e quer
longevidade para ver o bem?
11
13 Refreia a língua do mal e os lábios de falarem
dolosamente.
14 Aparta-te do mal e pratica o que é bom;
procura a paz e empenha-te por alcançá-la.
15 Os olhos do SENHOR repousam sobre os
justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu
clamor.
16 O rosto do SENHOR está contra os que
praticam o mal, para lhes extirpar da terra a
memória.
17 Clamam os justos, e o SENHOR os escuta e os
livra de todas as suas tribulações.
18 Perto está o SENHOR dos que têm o coração
quebrantado e salva os de espírito oprimido.
19 Muitas são as aflições do justo, mas o
SENHOR de todas o livra.
20 Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles
sequer será quebrado.
21 O infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam
o justo serão condenados.
22 O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e
dos que nele confiam nenhum será condenado.
12
O contentamento na experiência real de vida
cotidiana do crente, não consiste apenas em
saber que já não há qualquer condenação sobre
ele para uma ruína eterna, por ter sido salvo por
Jesus, pois se andar de modo desordenado
contra a vontade de Deus, não poderá sentir a
Sua presença, e também a Sua aprovação, e de
fato, seria falsidade e cinismo carnal de sua
parte sentir-se contente em tal condição.
Somente quando confessar o seu pecado,
converter-se de seus maus caminhos, andando
humildemente com o Senhor, em obediência à
Sua Palavra, que poderá retornar ao processo de
ser educado pela graça em um viver santo,
piedoso e fiel, o qual será a causa do seu
contentamento, porque os olhos do Senhor
repousam sobre os justos, e fará com que se
sintam bem e felizes mesmo em meio às suas
tribulações.
Portanto, se estamos contentes com nossa vida
sem que Jesus esteja satisfeito em relação a nós,
em razão do modo desordenado e sem
comunhão com ele, como temos caminhado,
não deveríamos então estar contentes quando
somos reprovados por Ele, assim como foi o caso
dos crentes da Igreja de Laodiceia citada no livro
de Apocalipse. Eles estavam muito satisfeitos
consigo mesmos, mas Jesus disse deles que
13
eram na verdade infelizes, pobres, miseráveis,
cegos e nus. Eles estavam na posição de serem
repreendidos e castigados e não havia portanto,
motivo para estarem contentes em tal condição.
Já os crentes da Igreja de Filadélfia, que eram
pobres de bens deste mundo, fracos em número
e prestígio e perseguidos pelo mundo,
receberam o testemunho da parte de Jesus de
que estava satisfeito com eles, em razão de não
terem negado o Seu nome e a Sua Palavra. Eles
tinham então motivo para se gloriarem no
Senhor e estarem satisfeitos totalmente, uma
vez que Ele estava contente com a conduta
deles, de caminharem segundo a Sua vontade.
Para entendermos melhor o assunto do
contentamento cristão muito nos auxilia o que
foi escrito pelo sábio e piedoso Jeremiah
Burroughs (1600-1646), do que destacamos
algumas citações a seguir:
“Eu aprendi, em qualquer estado que eu esteja,
a estar contente”. (Filipenses 4:11). Este texto
contém um consolo para reanimar os espíritos
abatidos dos santos nestes momentos de
tristeza e afundamento. Pois a “hora da
tentação” já chegou a todo o mundo para tentar
os habitantes da terra. Em particular, este é o dia
14
do trabalho de Jacó em nossas próprias
entranhas.
Nosso grande apóstolo sustenta
experimentalmente neste texto evangélico a
própria vida e alma de toda a divindade prática.
Nele podemos claramente ler sua própria
proficiência na escola de Cristo, e que lição todo
cristão que deve provar o poder e o crescimento
da piedade em sua própria alma deve
necessariamente aprender com ele.
Estas palavras são trazidas por Paulo como um
argumento claro para persuadir os filipenses de
que ele não buscava grandes coisas no mundo, e
que ele não procurava "deles", mas "eles". Ele não
ansiava por grande riqueza. Seu coração foi
tomado por coisas melhores. " Digo isto, não por
causa da pobreza, porque aprendi a viver
contente em toda e qualquer situação." (v.11). Eu
aprendi - Contentamento em todas as condições
é uma grande arte, um mistério espiritual. É
para ser aprendido como um mistério. E assim,
no versículo 12, ele afirma: “Tanto sei estar
humilhado como também ser honrado; de tudo
e em todas as circunstâncias, já tenho
experiência, tanto de fartura como de fome;
assim de abundância como de escassez”.
15
A palavra que é traduzida como “já tenho
experiência”, tem no original o sentido de
"instruído" e é derivada da palavra que significa
"mistério"; é como se ele tivesse dito: "aprendi o
mistério desse negócio". O contentamento deve
ser aprendido como um grande mistério, e
aqueles que são completamente treinados nesta
arte, que é como o enigma de Sansão para um
homem natural, aprenderam um profundo
mistério. "Eu aprendi isso" - não tenho que
aprender agora, nem tenho a arte a princípio; eu
consegui isso, embora com muita demora, e
agora, pela graça de Deus, eu me tornei o mestre
desta arte. Em qualquer estado que eu esteja - a
palavra estado não está no original, mas
simplesmente no que sou, isto é, em qualquer
preocupação ou acontecimento, se tenho pouco
ou nada. Com isto, para estar contente - A
palavra processada contente aqui tem grande
elegância e plenitude de significado no original.
No sentido estrito, só é atribuído a Deus, que se
intitulou "Deus todo-suficiente", em que ele
descansa plenamente satisfeito em si mesmo e
sozinho. Mas ele tem o prazer de comunicar
livremente sua plenitude à criatura, de modo
que, de Deus em Cristo, os santos recebem
graça sobre graça (João 1:16). Como resultado, há
neles a mesma graça que está em Cristo, de
acordo com a medida deles. Nesse sentido,
16
Paulo diz que tem uma autossuficiência, que é o
que a palavra significa.
Mas Paulo tem uma autossuficiência? você dirá.
Como somos suficientes de nós mesmos? Nosso
apóstolo afirma em outro caso: "Que não somos
suficientes de nós mesmos para pensar
qualquer coisa como de nós mesmos" (2
Coríntios 3: 5).
Portanto, seu significado deve ser, eu acho uma
suficiência de satisfação em meu próprio
coração, através da graça de Cristo que está em
mim. Embora eu não tenha conforto exterior e
conveniências mundanas para suprir minhas
necessidades, ainda assim tenho uma porção
suficiente entre Cristo e minha alma
abundantemente para satisfazer-me em todas
as condições. Essa interpretação concorda com
esse lugar: "Um homem bom está satisfeito
consigo mesmo" (Provérbios 14:14) e também
com o que Paulo se dedica em outro lugar, que
"embora não tivesse nada, possuía todas as
coisas". Porque ele tinha o direito ao pacto e
promessa, que praticamente contém tudo, e um
interesse em Cristo, a fonte e o bem de tudo, não
é de admirar que ele disse que em qualquer
estado que ele se encontrava, ele estava
contente.
17
Isto não decorre de se ter ou não ter, de ter
convicção de bênçãos futuras ou não neste
mundo, mas de um sentimento e condição
espiritual que é infundido em nós pela operação
do Espírito Santo, que, por exemplo, nos faz
sentir quietos e sossegados, quando teríamos,
segundo a carne, motivos para estarmos
intranquilos e desesperados.
Assim você tem a verdadeira interpretação do
texto. Eu não farei qualquer divisão das palavras,
porque eu as levo apenas para promover o dever
mais necessário, acalmando e consolando os
corações do povo de Deus sob os problemas e
mudanças com os quais eles se encontram
nestes momentos agitados pelo coração.
A conclusão doutrinal resumidamente é a
seguinte: que ser bem qualificado no mistério
do contentamento cristão é o dever, a glória e a
excelência de um cristão.
Esta verdade evangélica é apresentada
suficientemente nas Escrituras, mas podemos
tomar um ou dois outros lugares paralelos para
confirmar isso. Em 1 Timóteo 6: 6 você encontra
expressado tanto o dever quanto a glória dele:
Tendo comida e vestuário, ele diz no versículo 8,
estejamos contentes - existe o dever. Mas a
piedade com contentamento é grande ganho (v.
18
6) - há a glória e excelência dela; como se
sugerisse que a piedade não era ganho, exceto o
contentamento com ela. A mesma exortação
que você tem em Hebreus: Deixe a sua conversa
ser sem cobiça, e esteja contente com as coisas
que você tem (Hebreus 13: 5).
Eu não encontro nenhum apóstolo ou escritor
das Escrituras que lide tanto com este mistério
espiritual de contentamento como este nosso
apóstolo fez ao longo de suas epístolas.
Para explicar e provar a conclusão acima,
tentarei demonstrar quatro coisas:
1. A natureza deste contentamento cristão: o que
é isso.
2. A arte e o mistério dele.
3. Que lições devem ser aprendidas para trazer o
contentamento ao coração.
4 Em que consiste a gloriosa excelência desta
graça.
Eu ofereço a seguinte descrição: O
contentamento cristão é aquela estrutura de
espírito doce, interior, tranquila e graciosa, que
livremente se submete e se deleita na
19
disposição sábia e paternal de Deus em todas as
condições.
Vou abrir essa descrição, pois é uma caixa de
unguento precioso, e muito reconfortante e útil
para corações perturbados, em tempos e
condições difíceis.
1. O contentamento é um coração doce para o
interior.
É UM TRABALHO INTERIOR DO ESPÍRITO
SANTO.
Não é apenas que não procuremos ajudar-nos
pela violência exterior ou que nos abstenhamos
de expressões descontentes e murmurações
com palavras perversas e contra Deus e os
outros. Mas é a submissão interna do coração.
Verdadeiramente, minha alma espera em Deus
(Salmo 62: 1) e minha alma, espera somente em
Deus (verso 5) - assim é em suas Bíblias, mas as
palavras podem ser traduzidas como
corretamente: Minha alma fica em silêncio para
Deus. Santidade é a tua paz, ó minha alma. Não
só a língua deve manter a paz; a alma deve ficar
em silêncio. Muitos podem sentar-se em
silêncio, abstendo-se de expressões
descontentes, mas interiormente estão
20
explodindo de expressões descontentes,
estando cheios de descontentamento.
Isso mostra uma desordem complicada e uma
grande perversidade em seus corações. E apesar
de seu silêncio exterior, Deus ouve a linguagem
rabugenta e irritada de suas almas. Um sapato
pode ser liso e arrumado do lado de fora,
enquanto o interior aperta a carne.
Externamente, pode haver grande calma e
quietude, ainda que no interior haja
surpreendente confusão, amargura,
perturbação e irritação.
Algumas pessoas são tão fracas que não
conseguem conter a inquietação de seus
espíritos, mas em palavras e comportamento
elas revelam quais perturbações lamentáveis
existem em seu interior. Seus espíritos são
como o mar revolto, lançando nada além de
lama e terra, e são problemáticos não só para si
mesmos, mas também para todos com quem
eles vivem. Outros, no entanto, são capazes de
conter tais desordens de coração, como fez
Judas quando ele traiu a Cristo com um beijo,
mas mesmo assim eles fervem interiormente e
comem como um cancro. Então Davi fala de
alguns cujas palavras são mais doces do que o
mel e macias do que a manteiga, e ainda têm
guerra em seus corações.
21
Em outro lugar, ele diz: "Enquanto eu mantive
silêncio, meus ossos ficaram velhos". Da mesma
forma, essas pessoas, enquanto há uma serena
calma em suas línguas, têm tempestades
violentas sobre seus espíritos e, enquanto
mantêm silêncio, seus corações ficam
perturbados e até mesmo desgastados pela
angústia e aflição. Eles têm paz e sossego
exteriormente, mas em seu interior estão em
guerra a partir do funcionamento desordenado
e turbulento do seu coração.
Se a obtenção do verdadeiro contentamento
fosse tão fácil quanto ficar quieto externamente,
não precisaria de muito aprendizado. Pode ser
tido com menos força e habilidade do que um
apóstolo possuía, sim, menos do que um cristão
comum tem ou pode ter. Portanto, há
certamente mais do que pode ser alcançado por
dons comuns e pelo poder ordinário da razão,
que muitas vezes freiam a natureza. É um
negócio do coração. E para alcançá-lo é
necessário ser educado pela graça de Jesus em
um viver santo e piedoso, pela renúncia às
paixões carnais e amor ao mundo.
2. É o espírito quieto do coração.
Tudo é calmo e ainda está lá. Para que você possa
entender isso melhor, eu acrescentaria que esse
22
quadro de espírito quieto e gracioso não se opõe
a certas coisas:
1. A um devido sentimento de aflição. Deus dá a
sua gente a permissão para sentir o que sofrem.
Cristo não diz: "Não conte como cruz o que é
uma cruz"; ele diz: "Tome sua cruz diariamente".
É como a saúde física: se você toma remédio e
não consegue segurá-lo, mas imediatamente
vomita , ou se não sente nada e não o move - em
ambos os casos, o remédio não adianta, mas
sugere que você está muito desordenado e
dificilmente será curado. Assim é com os
espíritos dos homens sob aflições: se eles não
podem suportar as poções de Deus e trazê-los de
novo, ou se eles são insensíveis a eles e não são
mais afetados por eles do que o corpo é por um
pequeno gole de cerveja, é um triste sintoma de
que suas almas estão em uma condição perigosa
e quase incurável. Portanto, essa quietude
interior não está em oposição a um sentimento
de aflições, pois, de fato, não haveria verdadeiro
contentamento se você não estivesse
apreensivo e sensível às suas aflições, quando
Deus estivesse irado.
2. Não se opõe a fazer de maneira ordenada o
nosso lamento e reclamação a Deus e aos nossos
amigos. Embora um cristão deva ficar quieto sob
a mão corretiva de Deus, ele pode, sem qualquer
23
violação do contentamento cristão, queixar-se a
Deus, mas não de Deus. Como diz um dos
antigos: Embora não com um clamor
tumultuoso e gritando em uma paixão confusa,
ainda assim, de um modo quieto, sossegado e
submisso, ele pode confiar seu coração a Deus.
Da mesma forma ele pode comunicar sua triste
condição a seus amigos cristãos, mostrando-
lhes como Deus lidou com ele, e quão pesada é a
aflição sobre ele, para que eles possam falar
uma palavra no tempo para sua alma cansada.
3. Não se opõe a toda a busca legal de ajuda em
diferentes circunstâncias, nem a tentar
simplesmente ser liberto das aflições presentes
pelo uso de meios lícitos. Não, eu posso buscar
provisão para a minha libertação e usar os meios
de Deus, esperando por ele, porque eu não sei,
mas que pode ser sua vontade alterar a minha
condição. E até onde ele me conduzir, eu posso
seguir sua providência; é meu dever, Deus é
misericordiosamente indulgente com a nossa
fraqueza, e ele não vai ficar doente se nós, por
sincera e inoportuna oração, o buscarmos para
sermos libertados, até que saibamos qual é a sua
boa vontade no assunto. Certamente buscando
assim ajuda, com tal submissão e santa
resignação de espírito, para ser livrado quando
Deus quiser, e como Deus quiser, de modo que
nossas vontades sejam fundidas na vontade de
24
Deus - isso não é contrário ao desejo de Deus
quanto à quietude que Deus requer em um
espírito satisfeito.
Mas ao que, então, será perguntado, esta
quietude de espírito se opõe?
1. Ele se opõe a murmurar e repicar nas mãos de
Deus, como os israelitas descontentes
frequentemente faziam. Se não podemos
suportar isso em nossos filhos ou servos, muito
menos Deus pode suportar isso em nós.
2. A irritação e preocupação, que é um grau além
de murmurar. Lembro-me do ditado de um
pagão: "Um homem sábio pode sofrer, mas não
ficar aborrecido com suas aflições". Existe um
vasto diferencial entre uma gentil aflição e uma
perturbação desordenada.
3. Para a turbação do espírito, quando os
pensamentos se desdobram e trabalham de
maneira confusa, de modo que as afeições são
como a multidão indisciplinada nos Atos, que
sabiam com que propósito se haviam reunido. O
Senhor espera que você fique em silêncio sob
sua vara de correção e, como foi dito em Atos
19:36, você deve ficar quieto e não fazer nada
precipitadamente.
25
4. Ele se opõe a um espírito instável e agitado,
por meio do qual o coração se distrai do dever
presente que Deus requer em nossos vários
relacionamentos, em relação a Deus, a nós
mesmos e aos outros. Devemos premiar mais o
dever do que nos distrair com todas as ocasiões
triviais. De fato, um cristão valoriza tanto todo
serviço de Deus que, embora alguns possam ser,
aos olhos do mundo e da razão natural, um
negócio leve e vazio, elementos mórbidos ou
insensatez, mas, como Deus o chama, a
autoridade do comando. Assim, surpreende o
seu coração que ele está disposto a gastar-se e a
ser gasto em descarregá-lo.
É uma expressão de Lutero que as obras
comuns, feitas com fé, são mais preciosas do
que o céu e a terra. E se isto é assim, e um cristão
sabe disso, ele não deve ser desviado por
pequenos assuntos, mas deve responder a toda
distração, e resistir a toda tentação, como
Neemias fez em relação a Sambalate, Gesem e
Tobias, quando eles teriam impedido a
construção do muro de Jerusalém, com isto:
"Estou fazendo grande obra, de modo que não
poderei descer; por que cessaria a obra,
enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?"
(Neemias 6: 3).
26
5. Ele se opõe aos cuidados que consomem
muita distração. Um coração misericordioso
estima tanto a sua união com Cristo e a obra que
Deus estabelece que não aceitará de bom grado
que nada venha para sufocá-lo ou enfraquecê-
lo. Um cristão está desejoso de que a Palavra de
Deus tome posse tão completa dele a ponto de
dividir entre alma e espírito (Hebreus 4:12), mas
ele não permitiria que o medo e o ruído das más
notícias tomassem tal poder em sua alma
fazendo uma divisão e luta, como os gêmeos no
ventre de Rebeca. Um grande homem permitirá
que pessoas comuns fiquem do lado de fora de
suas portas, mas ele não permitirá que elas
entrem e façam barulho em seu quarto quando
ele deliberadamente se aposentar de todos os
negócios mundanos. Assim, um espírito bem-
humorado pode investigar as coisas fora do
mundo e sofrer alguns cuidados e medos
comuns para invadir os subúrbios da alma, de
modo a tocar levemente os pensamentos. No
entanto, não será de forma alguma uma
intrusão na sala privada, que deve ser
totalmente reservada para Jesus Cristo como
seu templo interior.
6. Ele se opõe a afundar em desânimos. Quando
as coisas não caem de acordo com a expectativa,
quando a maré das segundas causas é tão baixa
que vemos pouco em meios externos para
27
sustentar nossas esperanças e corações, então o
coração começa a raciocinar como fez em 2 Reis
7: 2: Se o Senhor abrisse as janelas do céu, como
deveria ser isso? Nós nunca consideramos que
Deus pode abrir os olhos dos cegos com barro e
saliva, ele pode trabalhar acima, além, e até
mesmo contrariamente aos meios. Muitas
vezes, ele faz as mais belas flores dos esforços do
homem murcharem e faz com que coisas
improváveis passem, a fim de que a glória do
empreendimento possa ser dada a Si mesmo. De
fato, se o seu povo precisa de milagres para
realizar sua libertação, os milagres caem tão
facilmente das mãos de Deus como para dar pão
ao seu povo diariamente. Muitas vezes, a bênção
de Deus é um segredo de seus servos, de modo
que eles não sabem de que caminho está vindo,
como "não vereis o vento, nem vereis chuva,
mas o vale se encherá de água" (2 Reis 3 : 17).
Deus quer que dependamos dele, embora não
vejamos como isso pode acontecer; de outra
forma, não mostramos um espírito quieto.
Embora uma aflição esteja em você, não deixe
seu coração afundar nela. Tanto quanto o seu
coração afunda e você está desanimado sob
aflição, você precisa aprender muito essa lição
de contentamento.
28
7. Ele se opõe a mudanças pecaminosas e
evasões para obter alívio e ajuda. Vemos esse
tipo de coisa em Saul correndo para a feiticeira
de Endor e oferecendo sacrifícios antes que
Samuel viesse. Não, o bom rei Josafá se une a
Acazias (2 Crônicas 20:35). E Asa dirige-se a Ben-
Hadade, rei da Síria, em busca de ajuda, não
confiando no Senhor (2 Crônicas 16: 7,8),
embora o Senhor tenha entregue o exército
etíope em suas mãos, consistindo de milhares
de pessoas (2 Crônicas 14: 12). E o bom Jacó
juntou-se a sua mãe mentindo para Isaque; não
contente em aguardar o tempo de Deus e usar os
meios de Deus, ele fez uma grande pressa e saiu
do seu caminho para obter a bênção que Deus
pretendia para ele. Assim, muitos agem, através
da corrupção de seus corações e da fraqueza de
sua fé, porque eles não são capazes de confiar
em Deus e segui-lo plenamente em todas as
coisas e sempre. Por esta razão, o Senhor
frequentemente segue os santos com muitas
dolorosas cruzes temporais, como vemos no
caso de Jacó, embora eles obtenham a
misericórdia. Pode ser que o seu coração carnal
pense, eu não me importo como eu sou livrado,
se eu puder ser libertado dele. Não ocorre tantas
vezes em alguns de seus corações, quando
alguma cruz ou aflição acontece com vocês?
Você não experimenta tais trabalhos de espírito
como isto? Oh, se eu pudesse ser libertado dessa
29
aflição de alguma forma, eu não me importaria -
seus corações estão longe de estarem quietos.
Esta mudança pecaminosa é a próxima coisa
que está em oposição à quietude que Deus
requer em um espírito contente.
8. A última coisa a que a quietude de espírito é o
oposto disso é o surgimento desesperado do
coração contra Deus por meio de rebelião. Isso é
o mais abominável. Espero que muitos de vocês
tenham aprendido até agora a se contentar em
restringir seus corações de tais desordens. No
entanto, a verdade é que não apenas homens
perversos, mas às vezes os próprios santos de
Deus encontram o começo disso, quando uma
aflição permanece por um longo tempo e é
muito severa e uma aflição permanece por
muito tempo e é muito severa e pesada para
eles, e os atinge, por assim dizer, na veia mestra.
Eles acham em seus corações algo para
levantar-se contra Deus, seus pensamentos
começam a borbulhar, e suas afeições começam
a se mover em rebelião contra o próprio Deus.
Especialmente é este o caso daqueles que, além
de suas corrupções, têm uma grande dose de
melancolia. O diabo trabalha tanto na corrupção
de seus corações quanto na doença melancólica
de seus corpos, e embora muita graça possa
30
estar por baixo, ainda que sob aflição, pode
haver alguns levantes contra o próprio Deus.
Agora a quietude cristã se opõe a todas essas
coisas. Quando a aflição vem, seja o que for, você
não murmura; embora você sinta isso, embora
faça seu clamor a Deus, embora deseje ser
liberto, e busque-o por todos os meios, ainda
que não murmure, não se preocupe nem se
aborreça, não há turbação de espírito em você,
não uma instabilidade, não há medos distraídos
em seus corações, nenhum desânimo
afundando, nenhuma mudança indigna,
nenhum surgimento de rebelião contra Deus de
qualquer forma: Isto é quietude de espírito sob
uma aflição, e essa é a segunda coisa , quando a
alma é tão capaz de suportar uma aflição quanto
manter-se quieta sob ela.
3. Agora a próxima coisa que quero explicar na
descrição é isso, é um quadro inspirado,
tranquilo e gracioso de espírito.
É um quadro de espírito e também um quadro
gracioso. O contentamento é um negócio de
alma. Primeiro, é interno; em segundo lugar,
quieto; em terceiro lugar, é uma estrutura
sossegada de espírito. Quero dizer três coisas
quando digo que o contentamento consiste no
quadro quieto do espírito de um homem.
31
1. Que é uma graça que se espalha por toda a
alma. É no julgamento, isto é, o julgamento da
alma de um homem ou mulher tende a acalmar
o coração - no meu julgamento estou satisfeito.
Uma coisa é ficar satisfeito com o julgamento e
a compreensão de alguém, de modo a poder
dizer: Esta é a mão de Deus e é o que é adequado
à minha condição ou melhor para mim.
Embora eu não veja a razão da coisa, ainda assim
estou satisfeito com o meu julgamento sobre
isso. Então é nos pensamentos de um homem ou
mulher. Quando meu julgamento é satisfeito,
meu pensamento é mantido em ordem, de
modo que passe por toda a alma.
Há uma consciência interna testificada no
espírito de que Deus está agradado conosco, e
que sendo assim aprovados pelo Seu Juízo,
ficamos contentes ainda que em meio às
circunstâncias mais adversas ou pareceres
contrários daqueles que julgam segundo a
carne.
Em alguns, há um contentamento parcial. Não é
a estrutura da alma, mas alguma parte da alma
tem algum contentamento. Muitos homens
podem estar satisfeitos em seu julgamento
sobre algo que não pode, por sua vida, dominar
suas afeições, nem seus pensamentos, nem sua
32
vontade. Não duvido que muitos de vocês
conheçam isso em sua própria experiência, se
observarem o funcionamento de seus próprios
corações. Você não pode dizer quando uma
certa aflição acontece com você, mas pode
bendizer a Deus que está satisfeito em seu
julgamento sobre isso? Eu vejo a mão de Deus e
devo estar contente, sim, no meu julgamento,
estou convencido de que a minha é uma boa
condição.
Mas não posso, para minha vida, dominar meus
pensamentos, vontade e afeições.
Acho que sinto meu coração pesado e triste e
mais do que deveria ser; ainda meu julgamento
está satisfeito. Esta parecia ser a posição de Davi
no Salmo 42: "Ó minha alma, por que estás
inquieta?" No que diz respeito ao julgamento de
Davi, houve um contentamento, isto é, seu
julgamento foi satisfeito quanto à obra de Deus
sobre ele. Ele estava perturbado, mas não sabia
por que: “Ó minha alma, por que estas
perturbada dentro de mim?
Este é um salmo muito bom para aqueles que
sentem uma doença incômoda e atormentada
em seus corações a qualquer momento, para ser
lido e cantado. Ele diz uma ou duas vezes
naquele Salmo: Por que tu rejeitas, ó minha
33
alma? e no versículo 5: “Por que estás abatida, ó
minha alma? Por que te perturbas dentro de
mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a
ele, meu auxílio e Deus meu.”
Davi teve o suficiente para acalmá-lo, e o que ele
tinha prevaleceu com seu julgamento, pois
sabia que Deus era com Ele, e isto o acalmava e
lhe dava esperança em sua aflição. Mas depois
de ter prevalecido com seu julgamento, ele não
conseguiu mais. Ele não poderia obter essa
graça de contentamento para percorrer todo o
quadro de sua alma.
Às vezes, uma grande quantidade de
perturbações está envolvida na obtenção de
contentamento nos julgamentos das pessoas,
isto é, para satisfazer seu julgamento sobre sua
condição. Se você vier a muitos, sobre os quais a
mão de Deus está, talvez, de uma maneira
dolorosa, e procure satisfazê-los e dizer-lhes que
não têm motivo para ficarem tão inquietos, eles
dirão: “Oh, não há motivo?”, diz o espírito
conturbado, então não há motivo para que
alguém fique inquieto. Nunca houve tamanha
aflição como a que eu sinto. E eles têm cem
coisas com as quais evadir a força do que lhes é
dito, de modo que você não pode sequer chegar
a seus julgamentos para satisfazê-los. Mas há
muita esperança de alcançar contentamento, se
34
uma vez seus julgamentos estiverem satisfeitos,
se você puder sentar e dizer em seu julgamento:
"Eu vejo boas razões para estar contente". No
entanto, mesmo quando você chegou tão longe,
você ainda pode ter muito a ver com seus
corações depois. Há tal desleixo em nossos
pensamentos e afetos que nossos julgamentos
nem sempre são capazes de governar nossos
pensamentos e afeições. É isso que me faz dizer
que o contentamento é uma estrutura de
espírito interior, tranquila e graciosa - toda a
alma, julgamento, pensamentos, vontade,
afeições e tudo está satisfeito e quieto. Suponho
que apenas ao abrir esse assunto você começa a
ver que é uma lição que precisa ser aprendida, e
que, se o contentamento é assim, não é
facilmente obtido.
2. O contentamento espiritual vem da estrutura
da alma. O contentamento de um homem ou
mulher que é justamente satisfeito não vem
tanto de argumentos externos ou de qualquer
ajuda externa, como da disposição de seus
próprios corações. A disposição de seus
próprios corações provoca e produz esse
contentamento gracioso, em vez de qualquer
coisa externa.
Deixe-me me explicar. Alguém está perturbado,
suponha que seja uma criança ou um homem ou
35
uma mulher. Se você vier e trouxer alguma
coisa grande para agradá-los, talvez isso os
acalme e eles se sintam contentes. É a coisa que
você traz que os acalma, não a disposição de seus
próprios espíritos, nem qualquer bom
temperamento em seus próprios corações, mas
a coisa externa que você os traz. Mas quando um
cristão está contente no caminho certo, o
silêncio vem mais do temperamento e
disposição de seu próprio coração do que de
qualquer argumento externo ou da posse de
qualquer coisa no mundo.
Eu revelaria isso ainda mais a você com essa
analogia: ficar contente como resultado de
alguma coisa externa é como aquecer as roupas
de um homem junto ao fogo. Mas estar contente
por uma disposição interior da alma é como o
calor que as roupas de um homem têm do calor
natural do corpo. Um homem que é saudável no
corpo veste suas roupas, e talvez a princípio,
numa manhã fria, eles sintam frio. Mas depois
de um pouco de tempo, eles estão aquecidos.
Agora, como eles se aqueceram? Eles não
estavam perto do fogo? Não, isso veio do calor
natural de seu corpo. Agora, quando um homem
doentio, o calor natural de cujo corpo se
deteriorou, veste suas roupas, elas não
esquentam depois de muito tempo. Ele deve
36
aquecê-las junto ao fogo e, mesmo assim, logo
estarão frias novamente.
Isso ilustrará os diferentes contentamentos dos
homens. Alguns são muito bondosos, e quando
uma aflição vem sobre eles, embora a princípio
pareça um pouco frio, depois de terem
suportado por um tempo, o próprio
temperamento de seus corações facilita suas
aflições. Eles são silenciosos e não se queixam
de qualquer descontentamento. Mas agora há
outros que têm uma aflição sobre eles e não têm
esse bom humor em seus corações. Suas
aflições são muito frias e problemáticas para
eles. Talvez, se você trouxer alguns argumentos
externos sobre eles como o fogo que aquece as
roupas, eles ficarão quietos por um tempo. Mas,
infelizmente, se lhes falta uma disposição
graciosa em seus próprios corações, esse calor
não durará muito. O calor do fogo, isto é, um
contentamento que resulta meramente de
argumentos externos, não durará muito. Mas
aquilo que vem do temperamento gracioso do
espírito de alguém durará. Quando vem do
espírito de um homem ou mulher - isso é
verdadeiro contentamento.
No entanto, teremos mais a dizer sobre isso,
explicando o mistério do contentamento.
37
3. É a estrutura do espírito que mostra o caráter
habitual dessa graça de contentamento. O
contentamento não é meramente um ato,
apenas um lampejo de bom humor. Você
encontra muitos homens e mulheres que, se
estiverem de bom humor, ficarão muito quietos.
Mas isso não vai acontecer. Não é um curso
constante. Não é o teor constante de seus
espíritos serem santos e graciosos sob a aflição.
Agora eu digo que o contentamento é uma
estrutura silenciosa de espírito e com isso quero
dizer que você deve encontrar homens e
mulheres de bom humor não apenas neste ou
naquele tempo, mas segundo o teor constante e
temperamento de seus corações. Um cristão
que, no constante teor e temperamento de seu
coração, pode manter-se sossegado com
constância aprendeu essa lição de
contentamento. Caso contrário, seu
cristianismo não vale nada, pois ninguém, por
mais furioso que seja em seu
descontentamento, não ficará quieto quando
estiver de bom humor.
Então, primeiro, o contentamento é um negócio
do coração; em segundo lugar, é o silêncio do
coração; e depois, em terceiro lugar, é um
quadro do coração.
38
4. O contentamento é um quadro gracioso do
coração.
De fato, no contentamento há um composto de
todas as graças, se o contentamento é espiritual,
se é verdadeiramente cristão. Há, digo, um
composto de muitos ingredientes preciosos, por
isso é nesta graça de contentamento, que
iremos mais desdobrar quanto à sua excelência.
Mas agora a estrutura graciosa do espírito está
em oposição a três coisas:
1. Em oposição à quietude natural de muitos
homens e mulheres. Alguns são tão
constituídos pela natureza que são mais quietos
e sossegados; outros são de constituição
violenta e esquentada e são mais impacientes.
2. Em oposição a uma resolução robusta. Alguns
homens através da força de uma resolução
robusta não parecem estar preocupados,
aconteça o que acontecer. Então eles não estão
inquietos tanto quanto os outros.
3. Por meio de distinção da força da razão natural
(embora não santificada), que pode acalmar o
coração em algum grau. Mas agora eu digo que
uma estrutura de espírito graciosa não é
meramente uma quietude do corpo que vem de
sua constituição natural e temperamento, nem
39
uma resolução robusta, nem meramente
através da força da razão.
Você perguntará: De que maneira a graça do
contentamento se distingue de tudo isso? Mais
se falará disso quando chegarmos a mostrar o
mistério do contentamento e as lições a serem
aprendidas. Mas agora podemos falar um pouco
por meio da distinção da quietude natural do
espírito e de tal constituição corporal que você
raramente os encontra inquietos. Agora,
marque essas pessoas e você verá que elas são
igualmente de um espírito muito monótono em
qualquer coisa boa; eles não têm rapidez ou
vivacidade de espírito em tais assuntos também.
Mas onde o contentamento do coração brota da
graça, o coração é muito rápido e vivo no serviço
de Deus. Sim, quanto mais qualquer coração
gracioso puder trazer-se numa disposição
contente, mais adequado será para qualquer
serviço de Deus. E assim como um coração
contente é muito ativo e ocupado na obra de
Deus, ele é muito ativo e ocupado em santificar
o nome de Deus na aflição que lhe ocorre.
Inclusive, sem isto, sem este serviço a Deus,
especialmente na reunião com os demais
crentes, não se poderia contar com a aprovação
divina, e com isto, não teríamos qualquer
contentamento operado pela graça.
40
A diferença é muito clara: aquele cuja
disposição é quieta não é inquietado como os
outros são, mas também não mostra qualquer
atividade de espírito para santificar o nome de
Deus em sua aflição. Mas, por outro lado, aquele
cujo contentamento é da graça não é inquietado
e mantém seu coração quieto com respeito a
aflição e problemas, e ao mesmo tempo não é
enfadonho ou pesado mas muito ativo para
santificar o nome de Deus na aflição que ele está
experimentando.
Pois, se um homem deve estar livre de
descontentamento e preocupação, não é
suficiente simplesmente não murmurar, mas
você deve estar ativo em santificar o nome de
Deus na aflição. Na verdade, isso vai diferenciá-
lo de uma resolução robusta para não ser
incomodado. Embora você tenha uma resolução
firme para não se incomodar, você faz questão
de consciência em santificar o nome de Deus
em sua aflição e é daí que vem sua resolução?
Essa é a principal coisa que traz tranquilidade de
coração e ajuda contra o descontentamento em
um coração cortês. Eu digo, o desejo e cuidado
que sua alma tem de santificar o nome de Deus
em uma aflição é o que acalma a alma, e isto é o
que falta aos outros.
41
Uma quietude que vem da forma da razão
também não faz isso. Diz-se de Sócrates que,
embora ele fosse apenas um pagão, ele nunca
mudaria seu semblante, fosse o que fosse, e
teria esse poder sobre seu espírito apenas pela
força da razão e da moralidade. Mas o
contentamento gracioso vem de princípios
além da força da razão. Eu não posso
desenvolver isso até que venhamos a desvendar
o mistério do contentamento espiritual.
Sócrates, como tudo fazia para sua própria
glória, não poderia contar com o agrado de
Deus, e portanto, não poderia conhecer o
verdadeiro contentamento espiritual que
decorre da consciência do nosso amor e serviço
ao Senhor, para a Sua exclusiva glória.
Eu lhe darei apenas uma marca da diferença
entre um homem ou uma mulher que está
contente de uma maneira natural e aquele que
é contencioso de um modo espiritual:
Aqueles que estão contentes de uma maneira
natural se superam quando as aflições externas
os atingem e ficam contentes. Eles ficam
contentes também mesmo quando cometem
pecado contra Deus. Quando eles têm cruzes
exteriores ou quando Deus é desonrado, é tudo
o mesmo para eles; se eles são cruzados ou se
42
Deus é cruzado. Mas um coração misericordioso
que se contenta com sua própria aflição, se
erguerá fortemente quando Deus for
desonrado.
5. A quinta característica é que o contentamento
está operando livremente e tomando prazer na
disposição de Deus.
É um trabalho livre do espírito. Há quatro coisas
a serem explicadas nesta liberdade de espírito:
1. Que o coração é prontamente trazido. Quando
alguém faz algo livremente, ele não precisa de
muito movimento para fazê-lo. Muitos homens
e mulheres, quando as aflições pesam sobre
eles, podem ser levados a um estado de
satisfação com grande prazer. Finalmente,
talvez, eles possam ser levados a acalmar seus
corações em sua aflição, mas apenas com uma
grande quantidade de problemas, e não de todo
livremente. Se eu desejo uma coisa de outra
pessoa e a obtenho com muita dificuldade, não
há liberdade de espírito aqui. Quando um
homem é livre em uma coisa, apenas mencione
e imediatamente ele o faz. Então, se você
aprendeu esta arte de contentamento, você não
apenas ficará contente e tranquilizará seu
coração depois de um grande tempo, mas tão
logo você venha a ver que é a mão de Deus, seu
43
coração age prontamente e se fecha
imediatamente com o Senhor e a Sua vontade.
2. É livremente, isto é, não por restrição. Não,
como dizemos, paciência pela força.
Assim, muitos dirão que você deve estar
contente: Esta é a mão de Deus e você não pode
evitá-la. Oh, mas esta é uma expressão muito
baixa para os cristãos.
No entanto, quando os cristãos vêm visitar um
ao outro, eles dizem: Amigo (ou vizinho), você
deve estar contente. Não, deveria ser:
"prontamente e livremente estarei contente". É
apropriado para meu coração ceder a Deus e
estar contente. Acho que é natural que minha
alma esteja contente. Oh, você deve responder
aos seus amigos para que venham e digam que
devem estar contentes: Não, estou disposto a
ceder a Deus e estou livremente satisfeito. Esse
é o segundo ponto sobre a liberdade de espírito.
Agora um ato livre vem de maneira racional.
Isso é liberdade; não vem pela ignorância,
porque não conheço melhor condição ou
porque não sei por que minha aflição ocorre,
mas vem através de um julgamento santificado.
É por isso que nenhuma criatura, a não ser uma
criatura racional, pode fazer um ato de
44
liberdade. A liberdade de ação é apenas em
criaturas racionais e vem daí, pois é apenas a
liberdade que é feita de uma maneira racional.
Liberdade natural é quando eu, pelo meu
julgamento, veja o que deve ser feito, entendo a
coisa, e meu julgamento concorda com o que eu
entendo: isso é feito livremente.
Mas se um homem faz algo, não entendendo o
que ele está fazendo, dele não pode ser dito fazê-
lo livremente. Suponha que uma criança tenha
nascido na prisão e nunca tenha saído dela. Ele
está contente, mas por quê? Porque ele nunca
soube de nada melhor. Seu contentamento não
é um ato livre. Mas para os homens e mulheres
que sabem melhor, que sabem que a condição
em que se encontram é uma condição aflita e
triste, e ainda por um julgamento santificado
podem trazer seus corações ao contentamento -
isso é liberdade.
3. Essa liberdade está em oposição à mera
estupidez. Um homem ou mulher pode se
contentar apenas com a falta de sentido. Isto não
é livre, mais do que um homem que está
paralisado de um modo mortal e não o sente
quando o beliscado é paciente livremente. Mas
se alguém deve ter sua carne beliscada e sentir
isso, e ainda assim por tudo isso pode controlar-
se e fazê-lo livremente, isso é outro assunto.
45
Então é aqui: muitos se contentam com a mera
estupidez. Eles têm uma paralisia morta sobre
eles. Mas um coração gracioso tem bom senso e
ainda assim está contente e, portanto, é livre.
6. O contentamento é enviado livremente e
toma prazer na disposição de Deus.
Submeter-se à disposição de Deus - O que é isso?
A palavra submeter não significa mais nada a
não ser enviar sob. Assim, em alguém que está
descontente, o coração será indisciplinado e até
mesmo se elevará acima de Deus até onde
prevalece o descontentamento.
Mas agora vem a graça do contentamento e o
envia, pois submeter é mandar sob uma coisa.
Agora, quando a alma vem para ver seu próprio
desleixo - a mão de Deus está trazendo uma
aflição e, ainda assim, meu coração está
perturbado e descontente - o que, ela diz, você
estará acima de Deus? Não é esta a mão de Deus
e deve a sua vontade ser considerada mais do
que a de Deus? Oh, para baixo! Oh alma, rebaixe-
se! Mantenha sob! mantenha baixo! Mantenha-
se sob os pés de Deus! Você está sob os pés de
Deus e fica sob os pés dele! Mantenha-se sob a
autoridade de Deus, a majestade de Deus, a
soberania de Deus, o poder que Deus tem sobre
você! A alma pode se submeter a Deus no
46
momento em que pode ser enviada sob o poder
e autoridade e soberania e domínio que Deus
tem sobre ela. Esse é o sexto ponto, mas nem
isso é suficiente.
Você não alcançou essa graça de
contentamento, a menos que o próximo ponto
seja verdadeiro sobre você.
7. O contentamento toma prazer na disposição
de Deus.
Isto é assim quando eu estou bem satisfeito com
o que Deus faz, na medida em que eu posso ver
Deus nele, embora, como eu disse, eu possa ser
sensível à aflição, e possa desejar que Deus no
devido tempo a remova e posso usar meios para
removê-la. No entanto, estou bem satisfeito, na
medida em que a mão de Deus está nela. Estar
bem satisfeito com a mão de Deus é maior do
que o anterior. Vem daí: não vejo apenas que eu
deveria estar contente nessa aflição, mas vejo
que há algo bom nisso. Eu acho que há mel nesta
pedra, e então eu não apenas digo, devo, ou vou
me submeter à mão de Deus. Não, a mão de Deus
é boa, é bom que eu esteja aflito. Reconhecer
que é apenas que estou aflito é possível em
alguém que não está verdadeiramente
contente. Eu posso estar convencido de que
Deus lida justamente nesse assunto, ele é justo
47
e é certo que eu me submeta ao que ele fez; O
Senhor fez retamente de todas as maneiras! Mas
isso não é suficiente! Você deve dizer: Boa é a
mão do Senhor. Era a expressão do velho Eli:
"Boa é a mão do Senhor", quando era uma
palavra dolorida e difícil. Foi uma palavra que
ameaçou coisas muito graves para Eli e sua casa,
e mesmo assim Eli disse: Boa é a palavra do
Senhor. Talvez, alguns de vocês possam dizer,
como Davi, "É bom que eu tenha sido afligido",
mas vocês devem chegar a isso: "É bom que eu
esteja aflito". Não apenas bom quando você vê o
bom fruto que isto produziu, mas para dizer
quando você está aflito, É bom que eu esteja
aflito. Qualquer que seja a aflição, ainda que pela
misericórdia de Deus a minha seja uma boa
condição. É de fato, o topo e a altura desta arte de
contentamento para chegar a este ponto e para
poder dizer: “bem, minha condição e aflições
são assim e assim, e muito dolorosas; contudo,
pela misericórdia de Deus, estou em boas
condições, e a mão de Deus é boa apesar de
tudo!”
Eu deveria ter lhe dado várias Escrituras sobre
isso, mas eu lhe darei uma ou duas, que são
muito impressionantes. Você vai pensar que é
uma lição difícil chegar não apenas a ficar
sossegado, mas sentir prazer na aflição. “Na casa
dos justos há muito tesouro, mas nas riquezas
48
dos ímpios há angústia.” (Provérbios 15: 6): aqui
está uma Escritura para mostrar que um
coração misericordioso tem motivos para dizer
que está em boas condições, o que quer que seja.
Na casa dos justos há muito tesouro; sua casa -
que casa? Pode ser um chalé pobre, e talvez ele
não tenha um banco para sentar. Talvez ele seja
forçado a sentar-se em um toco de madeira ou
parte de um bloco em vez de um banquinho, ou
talvez ele tenha apenas uma cama para se deitar,
ou uma refeição diária para comer. No entanto,
o Espírito Santo diz: Na casa do justo há muito
tesouro. Deixe o homem justo ser o homem
mais pobre do mundo - pode ser que alguém
tenha vindo e levado todos os bens de sua casa
por dívidas. Talvez sua casa seja saqueada e tudo
tenha acabado; ainda assim, na casa do justo há
muito tesouro. O homem justo nunca pode ser
tão pobre, ter sua casa tão fuzilada e estragada,
mas haverá muito tesouro por dentro. Se ele
tiver apenas um prato ou uma colher ou
qualquer coisa no mundo em sua casa, haverá
muito tesouro enquanto ele estiver lá. Há a
presença de Deus e a bênção de Deus sobre ele,
e nisso há muito tesouro. Mas nas receitas dos
ímpios há problemas. Há mais tesouro na casa
do corpo mais pobre, se ele é piedoso, do que na
casa do maior homem do mundo, que tem seus
finos trajes e camas e cadeiras bem trabalhadas
e sofás e armários de pratos e afins. O que quer
49
que ele tenha, ele não tem tanto tesouro como
há na casa da mais pobre alma justa.
Não é de se admirar, portanto, que Paulo
estivesse contente, por um ou dois versos
depois do meu texto que você leu: “Recebi tudo
e tenho abundância; estou suprido.” (Filipenses
4:18). Eu tenho tudo? Pobre homem! o que Paulo
tinha para fazê-lo dizer que ele tinha tudo? Onde
havia um homem mais aflito do que Paulo? Ele
se encontrava em uma prisão em Roma quando
escreveu aos filipenses. Muitas vezes ele não
tinha farrapos para pendurar sobre seu corpo
para cobrir sua nudez. Ele não tinha pão para
comer, muitas vezes estava nu e dizia: "Mas eu
tenho tudo", diz Paulo, por tudo isso. Sim, você
encontrará em 2 Coríntios: Ele professa lá que
ele possui todas as coisas: “entristecidos, mas
sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a
muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (2
Coríntios 6:10).
Marque o que ele diz - é "como não tendo nada",
mas "possuindo todas as coisas". Ele não diz:
Como possuindo todas as coisas, mas possuindo
todas as coisas. Eu tenho muito pouco no
mundo, ele diz, mas ainda possuindo todas as
coisas. Então você vê que um cristão tem motivo
para ter prazer na mão de Deus, qualquer que
seja sua mão.
50
8. A oitava coisa no contentamento é submeter-
se e tomar prazer na disposição de Deus.
Isto é, a alma que aprendeu esta lição de
contentamento olha para Deus em todas as
coisas. Ele não olha para os instrumentos e os
meios, de modo a dizer que tal homem fez isso,
que foi a falta de razoabilidade de tais e tais
instrumentos, e uso bárbaro semelhante para
tal; mas ele olha para Deus. Um coração
satisfeito procura a disposição de Deus e se
submete à disposição de Deus, isto é, ele vê a
sabedoria de Deus em tudo. Em sua submissão,
ele vê sua soberania, mas o que faz com que ele
tenha prazer é a sabedoria de Deus. O Senhor
sabe ordenar as coisas melhor do que eu. O
Senhor vê mais do que eu; eu só vejo as coisas no
momento, mas o Senhor vê um grande
momento a partir de agora. E como eu sei, se não
fosse por essa aflição, eu deveria ter sido
arruinado. Sei que o amor de Deus também pode
suportar uma condição aflita, como uma
condição próspera. Existem raciocínios desse
tipo em um espírito satisfeito, submetendo-se à
disposição de Deus.
9. A última coisa é, que isto está em cada
condição.
Agora vamos ampliar isso um pouco.
51
1. Submeter-se a Deus em qualquer aflição que
nos aconteça: quanto ao tipo de aflição.
2. Quanto ao tempo e continuidade da aflição.
3. Quanto à variedade e mudanças de aflição: o
que elas forem, contudo, deve ser uma
submissão para a eliminação por Deus em cada
condição.
1. Quanto ao tipo de aflição. Muitos homens e
mulheres em geral dizem que devem se
submeter a Deus em aflição; Suponho que se
você fosse agora de uma extremidade desta
congregação a outra, e falasse assim para toda
alma: "Você não se submeteria à disposição de
Deus, em qualquer condição que ele pudesse
lhe colocar?", Você diria, Deus não permita que
seja de outro modo! Mas nós temos um ditado,
há uma grande dose de engano nas declarações
gerais. Em geral, você se submeteria a qualquer
coisa; mas e se for neste ou naquele caso
particular que mais o atravessa? - Então, tudo
menos isso! Geralmente, estamos aptos a
pensar que qualquer condição é melhor que
aquela em que Deus nos colocou. Agora, isso
não é contentamento; não deve ser apenas para
qualquer condição em geral, mas para o tipo de
aflição, incluindo aquilo que mais o aflige. Deus,
pode ser, atinge você em seu filho. - Oh, se
52
tivesse sido em minhas posses você diz, eu
ficaria contente! Talvez ele lhe atinja em seu
casamento. Oh, você diz, eu preferiria ter sido
afetado pela minha saúde. E se ele tivesse lhe
atingido em sua saúde ... "Ah, então, se tivesse
sido no meu negócio, eu não teria me
importado." Mas não devemos ser nossos
próprios escultores. Quaisquer que sejam as
aflições em que Deus possa nos colocar,
devemos estar contentes nelas.
2. Deve haver uma submissão a Deus em toda
aflição, quanto ao tempo e continuação da
aflição. Talvez eu pudesse me submeter e ficar
contente, diz alguém, mas essa aflição tem
estado em mim há muito tempo, três meses, um
ano, muitos anos, e eu não sei como ceder e me
submeter a ela, minha paciência está
desgastada e quebrada. Eu posso até ter uma
aflição espiritual - você pode se submeter a
Deus, você diz, em qualquer aflição exterior,
mas não em uma aflição da alma.
Ou se fosse a retirada da face de Deus - No
entanto, se isso tivesse acontecido por pouco
tempo, eu poderia me submeter; mas buscar a
Deus por tanto tempo e ainda assim ele não
aparece, Oh, como suportarei isso? Nós não
devemos ser nossos próprios operadores para o
53
tempo de libertação mais do que para o tipo e
forma de libertação.
Eu lhe darei uma Escritura ou duas sobre isso.
Que devemos nos submeter a Deus tanto para o
tempo quanto para o tipo de aflição. Veja o final
do primeiro capítulo de Ezequiel: "Quando o vi,
caí sobre o meu rosto e ouvi a voz de alguém que
falou". O Profeta foi lançado em seu rosto, mas
por quanto tempo ele deve deitar-se em seu
rosto? E ele disse-me: “Filho do homem, fica em
pé e eu falarei contigo. E entrou o espírito em
mim, quando falou comigo e me pôs de pé.”
Ezequiel foi lançado em seu rosto, e ali ele deve
deitar-se até que Deus lhe peça que se levante;
sim, e não apenas assim, mas até que o Espírito
de Deus entrou nele e permitiu que ele se
levantasse. Então, quando Deus nos derruba,
devemos nos contentar em ficar deitados até
que Ele nos peça para se levantar, e o Espírito de
Deus entra em nós para nos capacitar a se
levantar. Você sabe como Noé foi colocado na
Arca - certamente ele sabia que havia muita
aflição na Arca, com todos os tipos de criaturas
com ele por doze meses juntos - era uma coisa
poderosa, mas Deus o havia calado, mesmo que
as águas fossem amenizadas, Noé não deveria
sair da Arca até que Deus lhe desse uma
proposta. Assim, embora estejamos calados em
grandes aflições, e possamos pensar nisso e
54
naquilo e nos outros meios para sair dessa
aflição, ainda assim, até que Deus abra a porta,
devemos estar dispostos a ficar; Deus nos
colocou e Deus nos tirará. Assim, lemos nos
Atos de Paulo, quando eles o haviam trancado
na prisão e teriam lhe dito para sair. Não, disse
Paulo, eles nos prenderam e eles devem vir nos
libertar. Assim, de uma maneira santa e
graciosa, deve uma alma dizer: Bem, esta aflição
em que sou trazido é pela mão de Deus, e estou
contente em estar aqui até que Deus me tire por
Si mesmo. Deus requer isto em nossas mãos,
que nós não devamos estar dispostos a sair até
que ele venha e nos busque.
Em Josué 4:10 há uma história notável que pode
servir muito bem ao nosso propósito: lemos
sobre os sacerdotes que eles carregavam a arca
e ficavam no meio do Jordão (você sabe que
quando os filhos de Israel entraram na terra de
Canaã, atravessou o rio Jordão). Agora, para
atravessar o rio, o Jordão era uma coisa muito
perigosa, mas Deus lhes dissera para ir. Eles
podem ter medo da água que vem sobre eles.
Mas é dito que os sacerdotes que levavam a arca
ficaram no meio do Jordão até que tudo estava
terminado, que o Senhor ordenou a Josué que
falasse ao povo, de acordo com tudo o que
Moisés ordenara a Josué, e o povo se apressou e
passou. E aconteceu que, passado todo o povo,
55
passou a arca do Senhor e os sacerdotes na
presença do povo. Agora foi da disposição de
Deus que todas as pessoas devem passar
primeiro, que devem estar seguras em terra;
mas os sacerdotes devem ficar parados até que
todas as pessoas tenham passado, e então eles
devem ter permissão para partir. Certamente,
para raciocinar e sentir, havia um grande perigo
em permanecer, pois o texto diz que as pessoas
apressaram-se. mas os sacerdotes devem ficar
até que o povo vá embora, fique até que Deus os
convoque para fora daquele lugar de perigo. E
tantas vezes prova que Deus tem o prazer de
dispor das coisas para que seus ministros
permaneçam mais em perigo do que o povo, e
também os magistrados e os que estão em
lugares públicos, o que deve fazer as pessoas
ficarem satisfeitas com uma menor posição em
que Deus as colocou. Embora sua posição seja
baixa, você não está no mesmo perigo que
aqueles que estão em uma posição mais alta.
Deus chama os que ocupam cargos públicos a
ficarem mais tempo no vão e no local de perigo
que outras pessoas, mas devemos nos contentar
em permanecer no Jordão até que o Senhor
tenha prazer em nos chamar para fora.
3. E então pela variedade de nossa condição.
Devemos nos contentar com a aflição em
particular, e o tempo, e todas as circunstâncias
56
sobre a aflição - por vezes as circunstâncias são
aflições maiores do que as próprias aflições - e
pela variedade. Deus pode nos exercitar com
várias aflições, uma após a outra, como tem sido
muito perceptível, mesmo ultimamente, que
muitos que foram saqueados e saíram, depois
adoeceram e morreram; eles haviam fugido
para salvar suas vidas e depois a praga veio entre
eles; e se não essa aflição, pode ser outra. É
muito raro que uma aflição venha sozinha;
comumente, aflições não são coisas únicas, mas
elas vêm uma no pescoço de outra. Deus pode
atacar um homem em suas posses, depois em
seu corpo, depois em seu nome, esposa, filho ou
amigo querido, e assim acontece de várias
maneiras; é o caminho de Deus ordinariamente
(você pode achar isto pela experiência) que uma
aflição raramente vem só. Ora, isto é difícil,
quando uma aflição se segue após outra, quando
há uma variedade de aflições, quando há uma
mudança poderosa na condição de alguém, para
cima e para baixo, deste modo, e que: de fato há
o julgamento de um cristão. Agora deve haver
submissão à disposição de Deus neles. Lembro-
me que foi dito até mesmo de Catão, que era um
pagão, que nenhum homem o viu ser mudado,
embora ele tenha vivido em uma época em que
a comunidade era tão frequentemente mudada;
ainda assim é dito sobre ele, ele era o mesmo
ainda, embora sua condição tenha mudado, e
57
ele passou por uma variedade de condições. Oh,
o mesmo poderia ser dito de muitos cristãos,
que apesar de suas circunstâncias serem
mudadas, ainda que ninguém pudesse vê-los
mudados, eles são os mesmos! Você viu o
temperamento gracioso, doce e santo em que
eles estavam antes? Eles ainda estão nele.
Assim, devemos nos submeter à disposição de
Deus em todas as condições. O contentamento é
a estrutura de espírito interior, tranquila e
graciosa, submetendo-se livremente e
recebendo prazer na disposição de Deus em
todas as condições: essa é a descrição, e nela
nove coisas distintas foram abertas, as quais
resumimos da seguinte forma:
Primeiro, que o contentamento é uma obra do
coração dentro da alma; em segundo lugar, é a
quietude do coração; em terceiro lugar, é a
estrutura do espírito; em quarto lugar, é um
quadro gracioso; em quinto lugar, é o trabalho
livre deste quadro gracioso; em sexto lugar, há
uma submissão a Deus, enviando a alma a Deus;
em sétimo lugar, há um prazer na mão de Deus;
oitavo, tudo é traçado à disposição de Deus; em
nono lugar, em todas as condições, por mais
dura que seja e por quanto tempo ela continue.
Agora, aqueles de vocês que aprenderam a se
contentar, aprenderam a alcançar essas várias
58
coisas. Espero que a própria abertura dessas
coisas possa até agora funcionar em seus
corações, para que possa colocar suas mãos
sobre seus corações sobre o que foi dito, eu digo,
que o que está lhe dizendo qual é a lição pode
fazer com que você ponha suas mãos em seus
corações e diga: Senhor, vejo que há mais
contentamento cristão do que eu pensava, e
estou longe de aprender esta lição. De fato, eu só
aprendi meu ABC nesta lição de contentamento.
Eu estou apenas na classe inferior na escola de
Cristo, se é que estou nela. Falaremos dessas
coisas mais tarde, mas meu objetivo particular
ao abrir este ponto é mostrar que grande
mistério existe no contentamento cristão e
quantas lições distintas devem ser aprendidas,
para que possamos chegar a essa disposição
celestial, à qual o apóstolo Paulo alcançou.