santo andré a minha freguesia

8
Ed. 232 de 18 Maio 2011 | Coordenação: Emídio Francisco | Textos: Georgina Prior | Foto capa: Gabriel Sarabando «Santo André, a minha Freguesia» Ervedal Sanchequias Santo André São Romão Vergas Vigia A Junta de Freguesia de Santo André saúda todos os seus habitantes bem como os seus emigrantes espalhados pelo mundo.

Upload: jornal-o-ponto

Post on 18-Mar-2016

248 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Especial sobre a freguesia de Santo André de Vagos.

TRANSCRIPT

Page 1: Santo André a minha freguesia

Ed. 232 de 18 Maio 2011 | Coordenação: Emídio Francisco | Textos: Georgina Prior | Foto capa: Gabriel Sarabando

«Santo André,a minha Freguesia»

Ervedal

Sanchequias

Santo André

São Romão

Vergas

Vigia

A Junta de Freguesia de Santo André saúda todos os seus habitantes bem como os seus emigrantes espalhados pelo mundo.

Page 2: Santo André a minha freguesia

Em 2005, em entrevista a O PONTO, disse acreditar que o posto de saúde iria arrancar nesse ano. Até hoje tal não aconteceu e perante a reforma actual na área da saúde, será uma realidade muito improvável, mas a Junta procurou colmatar essa falha com a contratação de um enfermeiro. Ainda hoje o faz?

Já não acontece. Mesmo para um só utente, justifica-se esse serviço, mas era muito dispendioso e, como se sabe, esta e qualquer Junta tem cada vez menos verbas. No entanto, sempre que necessário, ajudávamos. Agora, a partir de Maio, um trabalho efectuado pelo Centro Social vai colmatar essa lacuna que temos: as carrinhas do Centro Social vão passar a fazer, duas vezes por semana, o transporte de idosos e doentes para o Centro de Saúde, farmácia e bancos. E isto porquê? Porque temos muitos idosos que ainda sabem gerir a sua vida, mas que não têm possibilidade de transporte – porque não temos uma rede de transportes públicos. E perante tantos assaltos, as pessoas começaram a sentir-se intimidadas e mostraram a sua preocupação aqui na Junta, mostrando que precisavam de ajuda. A Associação decidiu ter esse serviço gratuito para as pessoas.

Este transporte conta com o apoio da Junta de Freguesia?

Junta e Centro Social complementam-se. No geral, as associações de Santo André são muito solidárias umas com as outras, a nível de transportes, de trabalho ou até na realização da Feira Gastronómica. E a Junta de Freguesia ajuda sempre e naquilo que pode. Esta solução foi tomada porque já não acredito no posto médico na freguesia, que já esteve em PIDDAC e que tem já terreno e projecto. Candidatámo-nos e nunca surgiu nada de positivo… Mas como o Centro Social terá essa valência, será colmatado também por aí.

Actualmente, as pessoas que necessitem de cuidados médicos são encaminhados para onde?

Deslocam-se às unidades de saúde de Vagos, Ouca, Soza e Ponte de Vagos.

Apesar de ser uma freguesia nova, Santo André tem a sua história, nomeadamente em S. Romão. Qual o sentimento de uma presidente de Junta ao ver alguns dos símbolos da freguesia a deteriorar-se com o tempo, como os moinhos e a casa brasonada?A casa brasonada não depende de nós, é privada. Fiz algumas diligências para sensibilizar os proprietários a recuperar o edifício. As pessoas têm os seus direitos e exercem-nos. Se dependesse de mim, aquela casa nunca iria abaixo, mas não depende e a Junta não tem poder económico nem qualquer outro poder sobre o imóvel. Quanto aos moinhos, tenho uma boa novidade: iremos proceder à sua recuperação em breve. Já foi aprovado em assembleia de freguesia, estamos a tratar da cedência defi nitiva para a Junta de Freguesia, com a Câmara Municipal, para podermos recuperar os três moinhos. Dois terão fi nalidade turística e o outro funcionará como moinho.

Mas será para breve, mesmo no actual panorama em termos económicos?

Sim, com o apoio da Câmara e com trabalho próprio iremos recuperando, até porque algum trabalho já está efectuado.

Deste modo, o sentimento da presidente de Junta vai-se renovando…

Vamos aproveitar aquilo que podemos ter. Se não podemos ter aquilo que queremos, temos aquilo que podemos ter e temos que cuidar.

É também em S. Romão que existe uma das maiores lixeiras – senão a maior – do concelho. Já foi, em parte, limpa aquando do Limpar Vagos, mas a situação mantém-se. O que tem sido feito para se contrariar esta realidade?

Já fi z de tudo, até já lá estive de sentinela à espera de quem lá fosse deitar lixo, mas são essas pessoas que nos guardam e não nós a elas. Se calhar, em parte, eu também fui culpada por querer resolver a situação. A Junta limpou um espaço imenso, com a ajuda da Câmara, e sinalizou o espaço como local onde se poderia ir guardando algum do lixo (monos) para depois ser limpo. Para estarem centralizados e não estarem pelas estradas ou valas. Era degradante passar e ver, todos os dias, um colchão, uma sanita ou um lava mãos

pelos mais variados locais. Qual não foi o meu espanto quando, passado algum tempo (há três anos), se via um pouco de tudo: limpeza de estufas ou de stands de automóvel, e não eram lixos de pessoas de Santo André nem do concelho de Vagos, porque encontrámos lá várias coisas identifi cadas. Alertei o Ministério do Ambiente e Câmara. Algumas pessoas foram multadas, e até tivemos uma pessoa lá algum tempo, mas não compensa porque todas as pessoas sabem e parece que nos andam a guardar. Não deu resultado. Vamos tentando minimizar, até porque o povo está sensibilizado e quando vê alguma coisa alerta.

Ainda em termos ambientais e melhoria de condições de vida da população, neste momento, a AdRA é a entidade responsável pela instalação da rede de saneamento. Sabe para quando o investimento na freguesia de Santo André?

Ainda não sabemos quando iremos receber essas obras. Neste momento encontram-se a decorrer obras em Sanchequias, mas até 2012 ou 2013 penso que iremos ser benefi ciados com esses serviços. São obras que complicam a vida das pessoas, mas elas sabem que é para bem delas, e em Sanchequias é um pouco mais complicado porque o solo é mais barrento e

menos permeável.

Qual é a taxa de cobertura na freguesia?Neste momento, com as obras ainda a decorrer, deve andar na ordem dos 25%.

A centralidade de Santo André está dependente da deslocação de algumas infra-estruturas municipais para a freguesia, como os armazéns municipais e centro de protecção civil do Município, previstos para junto do nó da A17?

Sim, mas está tudo dependente dos dinheiros. Já há projecto, candidatura e os terrenos já estão todos adquiridos. Mas a conjuntura não nos permite pensar mais além e penso que estarão em “stand by”. Uma situação que lamentamos, porque estes dois projectos seriam óptimos para Santo André, até porque aquele espaço não é apenas centro para a freguesia como também para o concelho todo. Era uma mais-valia, ainda mais quando Santo André não possui qualquer estrutura. Tenho esperança que isso ainda venha a acontecer.

Em Fevereiro de 2005, o executivo municipal deliberou, por unanimidade, aprovar o estudo prévio do projecto de ligação da A17 ao caminho dos Cavaleiros e ordenar a elaboração do projecto de execução. Na actual situação económico-fi nanceira, acredita na concretização desta via?

Eu acredito. Sou uma mulher de convicções e de muita esperança. Acredito porque está marcada, há projecto e isso é um começo. Mas poderá demorar. Seria um projecto óptimo para a freguesia, sobretudo para os que trabalham na Zona Industrial. Mas também o centro de Vagos iria benefi ciar porque iria desviar o trânsito da A17 do centro da vila, porque o trânsito iria ter acesso mais directo à Zona Industrial. Mais uma vez está explícita a centralidade de Santo André no concelho.

Qual é o peso do Centro Social para a freguesia, sendo uma associação que ainda não tem “casa” própria?

Como disse há instantes, o povo de Santo André apostava muito no posto médico porque não havia uma associação de solidariedade em Santo André. Era um direito que se lhes assistia, como a todos os outros. Essa esperança foi-se desvanecendo, mas em 2003, com a formalização da nossa associação, todo o povo alimentou novamente a esperança. Actualmente, é o motor de desenvolvimento para tudo: economicamente, em termos de emprego e em termos de sociedade: as pessoas precisam para os fi lhos, precisam para os pais, para aqueles que ainda não se valem por si e para aqueles que já precisam de ajuda para se valerem. Não tem sede própria, mas tem muitas sedes e já tem cerca de 30 funcionários. Trabalham em Sanchequias, em Santo André, em Vigia, onde é preciso, mas sobretudo nas escolas, porque todas têm um espaço onde são servidas as refeições e onde se efectua a Componente de Apoio à Família e o prolongamento de horário. Sem qualquer verba fi nanciada, está a ser construída com o apoio do povo de Santo André.

Como gostaria de ver, em termos desportivos e culturais, a freguesia no fi nal do seu último mandato?

São duas áreas que estão bem. Quando entrei, há cerca de 14 anos para a Junta, a freguesia não tinha quase nada. A nível desportivo tinha um campo de futebol, um polidesportivo, mas não era usado como actualmente. Hoje, temos o campo de futebol Pinheiro Manso, na Vigia, que é utilizado por uma equipa de futebol masculino e outra feminina, e que tem umas instalações dignas, com muito esforço do povo de Santo André e da Câmara Municipal. Falta apenas o estacionamento que já está a ser resolvido com os terrenos que a associação tem vindo a comprar ao lado. Até fi nal do mandato gostaria que ambas continuassem o seu trabalho. Para tal, só tenho que agradecer às pessoas que lá estão e que trabalham arduamente para que tudo isto continue, porque a grande maioria deste trabalho é voluntário, contando apenas com algum apoio da Junta e subsídios da autarquia.

Ainda em termos de desporto, a Junta está a remodelar o polidesportivo em S. Romão…

Exactamente. E temos um campo em Sanchequias que nos foi cedido pelo ‘ti Pingas, que só falta vedar. Os campos da Vigia e de S. Romão não são muito distantes, mas é sempre bom ter um local mais perto de nós.

E em termos culturais?O nosso povo é solidário e tenho a sorte de ter um grupo de jovens (com cerca de 30) que está constantemente a organizar eventos. Temos também o nosso grupo polifónico e dois grupos corais que participam nas missas de sábado e de domingo. Vamos fazendo algumas actividades dentro das nossas possibilidades, mas não estou descontente, porque às vezes poderia dar mais, mas o tempo também é preciso para outras actividades e temos que fazer opções. Confesso que não me sinto nada envergonhada ao lado de outras freguesias. Ou seja, até ao fi nal do meu último mandato gostava que se mantivesse o que está: uma freguesia unida, que era um dos meus maiores anseios.

Sendo Santo André um bastião do partido, no concelho, sente-se de alguma forma “abandonada” ou não correspondida em investimentos ou em apoios fi nanceiros?

Conseguir muitos votos não signifi ca que tenha direitos. E o que poderia exigir? E exigir a quem? O PSD não é Governo e em 15 anos foi apenas 2 anos e 4 meses; logo por aí também não se pode exigir muito. Podia olhar mais com outros olhos, mas também temos que perceber uma coisa: uma mãe, quando tem dois ou três fi lhos, e tem um que lhe faz mais carinhos ou lhe presta mais atenção, não é por isso que a mãe o vai tratar melhor, tenta tratá-los a todos por igual. Se calhar, Santo André precisa, e precisa muito. Eu tenho esperanças que eles ainda consigam olhar para Santo André de uma outra maneira, mas se não o fi zerem também não os vou forçar a isso.

Povo solidário e unido em prol da freguesiaEntrevista a Dulcínia Sereno, Presidente da Junta de Freguesia de Santo André

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 12/II O Ponto | 13/III

Tel. 234 782 436 Rua da Capela nº 10 A 3840-557 Sanchequias - SANTO ANDRÉ

Fernando Jorge SeixeiroEncomendas de Leitão para:

Resturantes, Festas, Baptizados, Casamentos, etc.

Page 3: Santo André a minha freguesia

Santo André de Vagos foi, em tempos, terra onde proliferavam algumas azenhas e moinhos, sobretudo nas Vergas e Vigia. Os mais antigos contam que existiam «mais de meia dúzia de azenhas» que estavam todas ligadas ao riacho que por ali passava e que «tinha que ser aberto todos os anos pelo mês de Outubro». Isaías de Jesus Pequeno, hoje com 60 anos, lembra-se bem que, nos seus tempos de criança e adolescente, eram precisos cerca de dez homens para abrir as levadas de água, para que as azenhas tivessem água para funcionar. «Na altura, chegávamos a comer muitas caldeiradas de enguias, que eram apanhadas nesse riacho, cuja nascente era na Choca», conta.A azenha que o seu pai tinha e outra que alugava à família dos Costas funcionavam «quatro a seis meses» por ano, sempre depois de efectuadas as colheitas. Enquanto estudava e depois de concluir a 4ª classe, Isaías Pequeno ajudava o seu pai todos os dias. «A azenha funcionava dia e noite: de manhã íamos colocar mais milho e tirar a farinha que tinha fi cado a moer durante a noite, e ao fi nal da tarde íamos fazer o mesmo, para fi car a moer durante a noite», explica. Mais tarde, quando tinha 15 anos, as azenhas deixaram de funcionar, tendo sido substituídas pelas antigas moagens, que eram eléctricas. «Mas a farinha que era moída nas azenhas era muito melhor», garante. «O milho moído nas moagens perdia muito da humidade, abatendo cerca de 1%; na azenha isso não acontecia, o que fazia com que esta farinha fosse mais gostosa», esclarece.Posteriormente, Isaías Pequeno passou a ajudar o pai e o tio – António e Manuel Pequeno (mais conhecidos por Pompílios) – a abrir os poços de adobe que ainda hoje se podem encontrar nos terrenos um pouco por todo o concelho. Na altura, a construção era feita com a ajuda dos animais, através das “caçambas”. De acordo com as suas explicações, esta aparelhagem era movida pelas juntas de bois que, num vai e vem constante, retiravam a areia que os três a quatro homens, no fundo do poço, cavavam. «Um poço de quatro metros de diâmetro por quatro de fundo demorava uns dois dias se a areia fosse fi na. Se apanhávamos barro ou outras areias mais grossas demorávamos muitos mais dias», recorda. As paredes dos poços eram feitas com os adobes, muitos dos quais construídos pelos Pompílios.Desses tempos, restam agora apenas algumas ruínas das azenhas e dos poços. Também a azenha do pai de Isaías Pequeno não teve melhor sorte. Das ruínas, permanecem algumas peças e engrenagens, bem como as duas pedras da moagem, em exposição na sua casa. «É uma forma de ir recordando os velhos tempos e de mostrar aos netos onde e como trabalhei durante algum tempo…»

Uma vida entre mós Em S. Romão, contam os mais idosos que existiam duas azenhas movidas a água e que, em determinados Verões, devido à seca, o caudal da ribeira não era sufi ciente para mover as pedras das mós. Motivo que conduziu à construção, no início do século passado, à construção dos três moinhos de vento em pedra e outros três de madeira, sendo que ainda são visíveis, apenas os de adobe, apesar do seu avançado estado de deterioração, em S. Romão.

Um desses moinhos de pedra pertenceu a José Nunes Conde, avô do jovem residente em S. Romão, Roberto Conde, e um outro pertenceu ao irmão, João Conde, considerado como o último moleiro daqueles moinhos. «Por volta de 1990, aquando das comemorações dos 800 anos do Foral de S. Romão, a família cedeu à autarquia as estruturas já em ruína e alguns metros de terreno para que se procedesse à sua requalifi cação e se pusessem a funcionar», explica Roberto Conde à nossa redacção. De facto, a autarquia, no mandato de Carlos Bento, fez a recuperação exterior dos três moinhos, mas «não utilizou os materiais da época, substituindo o adobe por cimento», critica Roberto Conde, lamentando o abandono daquelas estruturas nos últimos anos.

De acordo com um estudo que fez no início da década de 90, Roberto Conde prevê que os moinhos tenham sido desactivados em 1960, altura em que «começaram a aparecer as máquinas de debulhar o milho e as moagens». Antes, e segundo testemunhos dados por João Conde, os moinhos eram procurados por pessoas vindas do Seixo de Mira, por exemplo, que faziam dezenas de quilómetros a pé. «Como aqui perto existiam as praias de arroz, com capas de cortiça, era também nos moinhos que se descascava o arroz», acrescenta.

Como era a vida de um moleiro?

«O dia do moleiro começava aquando ao vento. Não tinha hora para começar a trabalhar, porque estava dependente daquele que dava nome aos moinhos: o vento», refere o estudo. Caso o vento não parasse, os moleiros também não paravam o trabalho, aproveitando todos os momentos (dia e noite), porque não se sabia se no dia seguinte haveria vento ou não. Mas o trabalho do moleiro não se restringia apenas à actividade dentro do moinho, havia ainda o trabalho de campo, desde a sementeira à colheita das várias culturas. Sempre em vigia, o moleiro tinha sempre que estar atento à direcção do vento para «poder virar as velas na sua direcção» para que as mós

moessem. Para tal, a estrutura do telhado rodava através dos mecanismos próprios. Outra das tarefas do moleiro, segundo o estudo, consistia em picar as pedras, «de quatro em quatro dias», sempre que fi cavam lisas. Só assim seria possível moer os grãos. «Quando ambas a s pedra s e s tavam ra sa s , a fa r inha sa ía com farelos e mal moída, servindo apenas para a alimentação dos animais».

O pagamento pelo serviço de moer poderia ser efectuado de duas formas. «Na troca directa, por cada dez quilos de milho que se entregasse ao moleiro recebia-se nove de farinha (…); quando era pago em dinheiro, era dez centavos por quilo».

Dos moinhos, apenas de um ainda existem as

engrenagens, que estão guardadas no próprio moinho e noutro local. Perante este cenário, Roberto Conde lamenta que os moinhos não sejam requalifi cados. «Moro aqui perto e ao passar aqui todos os dias é um sentimento de tristeza que sinto ao vê-los», confessa, mostrando esperança de ver o espaço e as estruturas, «um dia, reconstruídos e valorizados», seja para «fi ns turísticos» como para «reconstrução de um património próprio da localidade».

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 12/II O Ponto | 13/III

Moinhos de Vento de S. Romão

Um património à espera de requalificação

Page 4: Santo André a minha freguesia

Basílio de OliveiraPolítico, escritor e defensor de S. Romão

Foi em S. Romão que nasceu, a 28 de Junho de 1937, Basílio de Oliveira. Enquanto criança, diz que ajudava os pais na agricultura, sobretudo a lavrar as praias de arroz que «sustentaram tanta gente da zona do vale do Boco e S. Romão». «Era ali que, guiando os animais, eu passava grande parte do tempo», afi rma à nossa redacção, adiantando que, já adolescente, passou muito tempo em São Pedro de Avelãs de Cima, onde viveu com o seu tio, padre Manuel de Oliveira e onde frequentou a primeira classe. Posteriormente, foi com o seu tio viver para a Palhaça. Acabou por voltar a Vagos, fez o exame da 4ª classe e o exame de admissão ao Seminário de Aveiro, local onde frequentou o curso fi losófi co. Passou também pelo Seminário de Cristo Rei dos Olivais, em Lisboa, onde conseguiu o 3º ano do curso superior de teologia. Profi ssionalmente, foi técnico de impostos até à sua aposentação.Apesar de ter passado algum tempo fora, S. Romão continuou a ser a sua terra natal, a «terra que eu adoro e jamais esquecerei», como afi rma. Recorda que a sua principal «coroa de glória» que deixou a S. Romão foi ter sido um dos promotores da «construção da estrada de ligação de S. Romão a Ouca», uma obra que fi cou registada no seu livro “Estrada de S. Romão a Ouca: a obra do século do concelho de Vagos”. Outra acção que salienta dos trabalhos realizados em prol desta localidade da freguesia de Santo André de Vagos é o livro “A luz vem do alto”, que para além de retratar S. Romão fala do seu tio-avô padre Manuel de Oliveira, que foi o primeiro pároco da paróquia de Santo André e presidente da Câmara Municipal de Vagos. Um livro que foi elogiado pelo Santo Padre João Paulo II em 2005, através de uma carta enviada pelo assessor Monsenhor Gabriele Caccia, onde Basílio de Oliveira é agraciado com «particular Bênção Apostólica».Foi, ainda, dos fundadores dos jornais locais “Notícias de Vagos” que, mais tarde, foi substituído pelo “Terras de Vagos”. Além disso, tem vindo a colaborar com a grande maioria dos jornais locais e dos concelhos vizinhos, inclusivamente o jornal O PONTO.Na área da política, Basílio de Oliveira foi o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Vagos, e assumiu também funções de vereador e assessor de Carlos Bento, então presidente da Câmara. Foi o responsável pelos acordos de geminação que o Município de Vagos efectuou com diversas cidades do mundo. Foi ainda fundador e colaborador em diversas associações/instituições culturais, sociais, humanitárias, desportivas e religiosas do concelho.E como descreve S. Romão? «Esta localidade está na base da fundação do concelho de Vagos», vinca, referindo-se ao direito próprio de vila concedido através de foral pelo próprio rei D. Sancho I. «Que continue humilde como sempre foi», espera Basílio de Oliveira, sublinhando que «apesar de reduzida a 40 casas e cerca de uma centena de habitantes não deixa de ser histórica». No entanto, e no futuro, gostaria de ver desassoreado o canal Boco ligando Vagos à ponte de S. Romão, bem como recuperados os Moinhos de S. Romão.

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 14/IV O Ponto | 15/V

Nasceu no lugar de S. Romão, em 16 de Abril de 1878. Dizer tudo o que foi o Padre Manuel de S. Romão, como homem, como vaguense e como homem público, não é tarefa fácil.As suas qualidades de honradez, lealdade, sinceridade, bondade e amor ao semelhante que durante a sua longa vida de 94 anos nunca deixaram de ornar a sua alma, conquistaram a admiração de todos quantos tiveram a felicidade de viver, conhecer e contactar com ele.Sem em nada prejudicar os muitos afazeres eclesiásticos, conseguia sempre tempo para dar aos interesses do seu concelho, a começar pela vila de Vagos que muito amava, a colaboração que lhe era pedida.Com que solicitude trabalhou para que Vagos tivesse uma casa condigna por Paços do Concelho, cabendo-lhe a honra de assinar, em 31 de Março de 1925, a escritura de compra do Palacete do Visconde de Valdemouro. Com que carinho falava na sua Banda de Música de que era sócio contribuinte, defendendo-a e elogiando-a em várias circunstâncias! Os Bombeiros mereceram-lhe igual afeição.Nunca recusou o seu contributo aos negócios da Administração Pública e Autárquica sempre que era para tal solicitado, considerando-se um expropriado a bem de todos.O Padre Manuel de Oliveira Júnior exerceu durante muitos anos o cargo de vice-presidente da Câmara. E após a morte do saudoso Edmundo Rosa teve que ocupar, durante bastante tempo, a instâncias do Governador Civil de Aveiro, o lugar de Presidência.Apesar de o concelho não ser rico e de as difi culdades económicas serem enormes, principalmente, naquela altura, não descuidou os interesses concelhios e os do Povo, no arranjo de caminhos, pontes, fontes e escolas.Com que entusiasmo o ouvimos falar na construção da escola da Gafanha da Boa Hora, cujos adobes, feitos no areeiro de S. João e, na falta estrada ou de caminho condigno, tiveram que ir para a Gafanha de barco moliceiro!Adquirindo o Palacete do Visconde de Valdemouro, preocupou-se por instalar no edifício, onde funcionava a Câmara, os serviços escolares do concelho, passando a funcionar aí as Escolas Primárias, onde milhares de alunos fi zeram o seu exame da 4ª classe. A escola teve como seu patrono o escritor vaguense João Grave.Já muito idoso, ainda jogou a sua infl uência política para que a sua terra, S. Romão, tivesse a sua estrada alcatroada que a ligasse ao mundo e beneficiasse da luz eléctrica, inaugurada pelo engenheiro Albino Fernandes Oliveira Pinto.Não conseguiu ver realizada a ligação

rodoviária de S. Romão a Ouca, obra por que também tanto ansiava.Como sacerdote, trabalhou imenso para que fosse possível a criação da freguesia religiosa de Santo André, o que veio a acontecer no dia 29 de Junho de 1956, tendo sido nomeado por D. João Evangelista de Lima Vidal, seu primeiro pároco.A sua caridade verdadeiramente evangélica e as necessidades do seu tempo, levaram-no a oferecer graciosamente o terreno onde está implantada a residência paroquial e parte do futuro centro social, e a fundar a chamada “Caixa dos Pobres”, quando no nosso concelho ainda não se falava nas conferências de S. Vicente de Paulo e outras obras de benefi cência.A pena que lhe causava o analfabetismo dos seus conterrâneos e do povo do seu concelho levou-o a tornar-se Mestre-escola, fundando um centro de Instrução Primária na sua terra, por onde passaram muitos rapazes, incluindo D. Manuel dos Santos Rocha, de Calvão, que foi arcebispo de Mitilene e de Beja. O Padre Manuel Oliveira transformou a sua própria casa numa escola onde exerceu o professorado gratuitamente.Amigo do esplendor litúrgico, punha todo o seu zelo e entusiasmo no rigor das cerimónias da Semana Santa que, com grande esplendor, se realizavam em Vagos.Por altura da implantação da República sofreu a amargura do desterro juntamente com outros sacerdotes do concelho, sendo obrigado a deixar a sua família e a sua terra, passando a viver em Ovar durante algum tempo.A sua obra notável no concelho levou, e muito bem, o Senhor Presidente da Câmara, dr. Rui Cruz, juntamente com a Junta de Freguesia e a comunidade paroquial de Santo André a perpetuar a sua memória com monumento simples mas bonito junto à casa onde nasceu, em S. Romão.Uma figura notável que Vagos e Santo André jamais esquecerão. Por Basílio de Oliveira

Pd. Ml. Oliveira JúniorO homem que promoveu a primeira revolução cultural

A discórdia

da nova IgrejaA actual Igreja Matriz da paróquia de Santo André de Vagos foi inaugurada a 17 de Abril de 1983, numa cerimónia que foi presidida pelo então Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade.A inauguração foi o culminar de “guerras” entre as diversas localidades, uma vez que era a agora chamada Igreja velha da paróquia, localizada em S. Romão, o templo utilizado pelas pessoas da paróquia, desde a sua criação, em Junho de 1956. Na altura, o arcebispo-bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal nomeou o conterrâneo padre Manuel de Oliveira Júnior como primeiro pároco, tendo sido a capela de S. Romão apresentada para «igreja paroquial até que melhor se possa conseguir, estando provida de todos os paramentos e alfaias necessários ao culto».No entanto, por ser demasiado pequena para acolher todos os paroquianos, optou-se por se construir um novo templo situado no centro de Santo André, junto à EN109. Claudino Pequeno Novo ainda se lembra da “revolta” que essa decisão trouxe ao lugar que ainda pertencia à freguesia de Vagos. «Os lugares de Santo André e S. Romão eram os únicos que não aceitavam a construção: os de S. Romão porque não queriam deixar a capela da sua terra, os de Santo André porque não queriam pagar uma igreja nova quando tinham uma ali tão perto», conta. Os desacatos foram «mais que muitos» e houve até quem viesse «ameaçar» o pároco, mas alguns populares, incluindo Claudino Novo (na altura juiz da irmandade na Igreja Velha), foram em seu auxílio.Projectada por engenheiros de Águeda, a construção da actual igreja arrancou no dia 1 de Janeiro de 1974, com o ofertório de mais de 18 contos. Foi por administração directa e contou com o apoio dos paroquianos e dos emigrantes, para além do apoio da Direcção-Geral do Equipamento Regional e Urbano, de Aveiro. «A caminhada foi dura, os contra-tempos foram fortes, mas hoje esquecemos com a alegra de termos a nossa Nova Igreja», pode ler-se no pequeno livro distribuído às pessoas aquando da inauguração do templo.Actualmente, a situação está ultrapassada, e «todos concordam que agora a igreja está mais centralizada na freguesia», defende Claudino Novo e a esposa Maria da Luz de Jesus, lamentando apenas que «a malta mais nova esteja afastada da religião». Mesmo assim, «a malta de meia-idade enche a nossa igreja», porque «foi a educação que receberam».

José Miranda

De futebolista a fiscal de leite e assador de leitõesNasceu em Mira, mas foi na Vigia que fez a sua vida, depois de casar.José Maria Miranda ainda se lembra dos tempos em que a freguesia não tinha ruas alcatroadas mas apenas caminhos de terra batida. Também não havia electricidade, diz, e sempre que vinha «namorar a minha esposa», vinha a pé ou de bicicleta atravessando a «fl oresta entre o Cabeço de Mira e Calvão. Era medonho, mas eu arriscava muito», diz, recordando os seus 18 anos. Um ano mais tarde casou-se e passou a residir na Vigia.Craque da bola, passou por diversos clubes da região, desde o Beira Mar, Ala Arriba ou no então Futebol Clube da Vigia. «Naquela altura jogávamos por gosto, até porque não recebíamos dinheiro. O nosso pagamento era uns tremoços e um copo de vinho no fi nal de cada jogo», ri-se.Abandonando a sua “carreira” de futebolista, trabalhou na torrefacção de cafés, em Aveiro, andou emigrado em França durante cinco anos e, no regresso, esteve empregado na Cooperativa Agrícola de Vagos como fi scal de leite, durante mais de vinte anos. «Eram tempos lindos e bonitos, onde quase todas as casas tinham vacas e tiravam leite», no qual o concelho de Vagos era conhecido como a capital do leite. «Quando a cooperativa fechou, eu fui para o fundo de desemprego e, passados quatro anos, reformei-me».José Miranda era conhecido, também, pelos leitões assados. Como passatempo, sobretudo aos fi ns-de-semana e por altura das festas, assava «20 a 30» leitões que eram inspeccionados pelo médico veterinário. Com seis fornos a funcionar em casa, na altura «até precisava de pessoas para me virem dar uma ajuda», recorda, orgulhoso por ter sido procurado por pessoas de todo o concelho e até concelhos vizinhos.

Page 5: Santo André a minha freguesia

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 14/IV O Ponto | 15/V

Regas São JuliãoSilva Julião, Lda

Fábrica de produtos para rega por aspersão

Tubos paraRega ou Jardim

Tubos para canalizações POLIETILIENES

Uma Indústria ao serviço da Agricultura

Tel. 234-791657 VIGIA - 3840 SANTO ANDRÉ DE VAGOS

Outrora, a freguesia de Santo André de Vagos possuiu um grupo de teatro e um rancho folclórico.Graciosa Pinho Santos foi uma das que participou em ambos. Para o rancho entrou «logo que arrancou», há mais de quatro décadas. «O rancho era da Vigia, constituído pela juventude daqui», recorda. Na altura, era José Miranda o organizador, e havia pessoas que tocavam instrumentos, outros que dançavam (cerca de dez pares) e outros que, como Graciosa Santos, cantavam. «O Rancho actuava sempre para animar as nossas festinhas», recorda, lamentando que, poucos anos após ter iniciado, tenha acabado por terminar depois que as pessoas se começaram a casar e a constituir família, deixando de ter o tempo necessário para ensaiar.Por outro lado, participou também no grupo de teatro que existiu na Vigia. «Era organizado por umas pessoas que, apesar de idosas, eram muito habilidosas», diz, relembrando que as «peçazinhas de teatro» eram tiradas de «livros antigos». Enquanto umas pessoas tinham «mais jeito» para ensaiar, outras subiam aos palcos para actuar. Graciosa Santos confessa que gostava de subir aos palcos, ter que decorar as falas das personagens que interpretava e que, na grande maioria, ainda se recorda palavra a palavra. «Fiz de cantora de fados, de viúvo duro com a fi lha, ou de mendigo… fiz um pouco de tudo», recorda com saudades. Saudades essas que vão sendo “mortas” de vez em quando com umas «brincadeiras» que ela e pessoas amigas vão fazendo. «Há pouco tempo, frequentei um curso de geriatria e pediram-nos para fazer uma animação no centro de dia. Eu fui das que dei mais ideias, uma vez que já tinha alguma experiência. Inventámos uma conversa de velhas moucas, muito engraçada», garante.Na altura, eram cerca de 20 pessoas a participar

nesse grupo de teatro, constituído pelos jovens mas sob a orientação das pessoas mais idosas. Antes de terminar, há cerca de 30 anos, o grupo sem nome ensaiava na casa dos pais de Graciosa ou noutras com pátios grandes, e apresentava as peças na casa dos pais e num palco grande que montavam no centro da Vigia em determinados dias. «Não cobrávamos nada às muitas pessoas que nos iam ver, mas elas queriam sempre ajudar com alguma coisa, para que pudéssemos apresentar trajes e cenários lindos».Apesar de os tempos de hoje serem melhores em termos de qualidade de vida, na óptica de Graciosa Santos era antigamente, mesmo sob a luz das velas, que havia maior convívio e uma «diversão mais sã».O PONTO sabe que o Centro Social pondera reactivar o grupo de teatro. Quando questionada sobre essa possibilidade, Graciosa Santos mostrou-se muito satisfeita, garantindo a sua ajuda «naquilo que puder, seja nos ensaios, seja na representação».

Fernando Seixeiro

A preservar a tradiçãodo leitão em SanchequiasSanchequias não pertence à zona demarcada da Bairrada, mas o que é certo é aqui que existe a “Casa dos Leitões”, local bastante procurado quando se pretende um leitão assado.Existente há 15 anos, nesta casa todos os leitões passam pelas mãos de Fernando Seixeiro que herdou «este serviço» e o «gosto por assar o leitão» do seu pai, o ‘ti Mário Seixeiro. Foi na Vigia, na casa onde cresceu, que Fernando Seixeiro aprendeu a arte de assar o leitão à moda da Bairrada com o seu pai, que para os casamentos, durante as festas e em determinadas alturas do ano não tinha mãos a medir com tantas encomendas. «O meu pai ajudava, na altura, na cozinha dos casamentos, e era aí que ele, e um grupo de pessoas, assavam os leitões», explica, justifi cando o gosto pela arte que o levou a «fazer dela profi ssão». «Andei emigrado e quando regressei entendi que seria uma alegria muito grande para o meu pai se continuasse com esta profi ssão», afi rma orgulhoso.Constitui, para si, um «enorme orgulho» ter as instalações «mais modernas da altura, com todas as exigências necessárias e exigidas por lei». Confessando nunca ter precisado de publicidade para «conseguir chegar à clientela», admite ter sido a experiência que ganhou com o seu pai que fez com que as pessoas do concelho e da região o passassem a procurar. «Depois, como o cliente gosta, volta e aconselha os amigos», afi rma.Este é um trabalho que exige maior esforço aos fi ns-de-semana e em determinadas épocas do ano: nas festas locais mas sobretudo da Senhora de Vagos, Natal, Páscoa e no 15 de Agosto. «São sempre dezenas de leitões que saem dos oito fornos a lenha que aqui temos», vinca, sendo procurado especialmente, para além dos vaguenses, pelas pessoas de Aveiro, das Gafanhas e Ílhavo.A qualidade do leitão é obtida também pela qualidade da carne. Para tal, Fernando Seixeiro socorre-se dos criadores da zona, por saber «o que compro e a quem compro». Para já é o único funcionário da “Casa dos Leitões”, pedindo ajuda apenas nos dias com mais encomendas. Sem intenções de crescer em termos de instalações, Fernando Seixeiro conta ainda com a ajuda dos fi lhos, sobretudo o mais velho, com 18 anos. «Anda a tirar o seu curso, mas sempre que pode vem ajudar-me, até porque é bom saber-se um pouco de tudo, porque nunca se sabe o dia de amanhã», remata. Uma experiência que vai ensinando ao seu fi lho, tal como o seu pai lhe ensinou.

José Miranda

De futebolista a fiscal de leite e assador de leitõesNasceu em Mira, mas foi na Vigia que fez a sua vida, depois de casar.José Maria Miranda ainda se lembra dos tempos em que a freguesia não tinha ruas alcatroadas mas apenas caminhos de terra batida. Também não havia electricidade, diz, e sempre que vinha «namorar a minha esposa», vinha a pé ou de bicicleta atravessando a «fl oresta entre o Cabeço de Mira e Calvão. Era medonho, mas eu arriscava muito», diz, recordando os seus 18 anos. Um ano mais tarde casou-se e passou a residir na Vigia.Craque da bola, passou por diversos clubes da região, desde o Beira Mar, Ala Arriba ou no então Futebol Clube da Vigia. «Naquela altura jogávamos por gosto, até porque não recebíamos dinheiro. O nosso pagamento era uns tremoços e um copo de vinho no fi nal de cada jogo», ri-se.Abandonando a sua “carreira” de futebolista, trabalhou na torrefacção de cafés, em Aveiro, andou emigrado em França durante cinco anos e, no regresso, esteve empregado na Cooperativa Agrícola de Vagos como fi scal de leite, durante mais de vinte anos. «Eram tempos lindos e bonitos, onde quase todas as casas tinham vacas e tiravam leite», no qual o concelho de Vagos era conhecido como a capital do leite. «Quando a cooperativa fechou, eu fui para o fundo de desemprego e, passados quatro anos, reformei-me».José Miranda era conhecido, também, pelos leitões assados. Como passatempo, sobretudo aos fi ns-de-semana e por altura das festas, assava «20 a 30» leitões que eram inspeccionados pelo médico veterinário. Com seis fornos a funcionar em casa, na altura «até precisava de pessoas para me virem dar uma ajuda», recorda, orgulhoso por ter sido procurado por pessoas de todo o concelho e até concelhos vizinhos.

Festa do Chão do Porco

A verdadeira romaria pagãNos anos 60, para comemorar o fi nal das colheitas, no primeiro domingo de Outubro realizava-se uma festa em Sanchequias. Uma vez que era pagã, sem adoração a qualquer santo, o pároco da altura, numa eucaristia, apelidou-a de “Festa do Chão do Porco”. Defendia o padre que as raparigas não deviam frequentar festas destas e que o seu lugar era em casa e em oração.A festa realizava-se no primeiro domingo, segunda e terça-feira do mês de Outubro, num terreno privado de areia branca existente em Sanchequias, que era vedado e apenas os rapazes tinham que pagar a entrada. No fi nal, todos saíam com «um quilo de areia em cada sapato, mas isso não importava», relembra Manuel Marques. Vivia em Ponte de Vagos mas, todos os anos, deslocava-se a Sanchequias para ir à festa. «Foi aqui que conheci a minha esposa», diz, recordando que esta era a maior festa da região. «Na altura, nas festas, havia um acordeão ou um clarinete a animar, mas ao longo dos três dias desta festa havia dois conjuntos em cada dia!». Manuel Marques compara esta festa com a romaria que todos os anos é feita ao Santuário de Nossa Senhora de Vagos. «Havia uma estrada pequena, de pedra e saibro que se enchia nesses três dias de pessoas. No total, eram cerca de três mil pessoas que vinham cá às festas, por dia, em grupos, de bicicleta ou a pé», recorda, garantindo que «quanto mais se falava da festa e quanto mais era proibida pela igreja, mais pessoas conheciam e vinham», mesmo de concelhos vizinhos.A festa durou ainda muitos anos, mas foi a partir de 1967 que começou a perder “força”. «Depois que a festa saiu desse terreno, passou a ser realizada no centro do lugar e depois veio para o terreno onde tenho hoje construída a minha casa. Foi em 1967, quando começámos a construir, que a festa deixou de ter muita gente, porque deixou de ter lugar fi xo e as pessoas, por vezes, não sabiam onde se realizava», lamenta. Para além disso, começaram a surgir as casas de bailes e, nos anos 90, foi construída a capela de Sanchequias, passando-se a promover as festas religiosas em honra da padroeira Nossa Senhora da Conceição.«Olhando à realidade de agora, era um mundo mesmo diferente, parecia um santuário», diz hoje Manuel Marques, confessando sempre que se lembra desses tempos por altura da Senhora de Vagos, onde se vêem muitos peregrinos pela rua vindos de Cantanhede. «Era uma vida totalmente diferente, mais pobre mas com muito mais convívio. Não tem nada a ver com os dias de hoje…».

Graciosa Santos

Uma mulher ligada à cultura local

Page 6: Santo André a minha freguesia

A freguesia de Santo André de Vagos foi, durante algum tempo, a única freguesia de Vagos sem uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Existia apenas uma Comissão de Melhoramentos, constituída em 1993 por pessoas da freguesia que tentaram desenvolver a sua freguesia.No entanto, e por volta do ano de 2000, «sentimos a necessidade de criar uma IPSS que desenvolvesse um trabalho tal como era feito nas restantes freguesias. Como sempre, já era tarde para querer aquilo que os outros tinham, mas mesmo assim arriscámos», lembra Dulcínia Sereno, a actual presidente de direcção. Praticamente todos os elementos que pertenciam à Comissão passaram para os órgãos sociais da nova Associação de Solidariedade Social de Santo André de Vagos.Sem terrenos, sem sede nem projectos, foi com o apoio da Câmara Municipal de Vagos que a Associação conseguiu dar os primeiros passos. Actualmente, a Associação tem o seu centro social em construção num terreno adquirido próximo da Igreja Matriz da freguesia. Um processo que teve algumas complicações, como nos conta a presidente de direcção. «Candidatámo-nos a vários programas de fi nanciamento e não conseguimos ver a aprovação em nenhum deles», lamenta, não perdendo, no entanto, a esperança, continuando a candidatar o projecto

aos vários programas que venham a surgir.Trabalhando sem apoios fi nanceiros, é através do angariado em peditórios e donativos das pessoas que a Associação tem conseguido as verbas para ir construindo o edifício que está orçamentado em cerca de 800 mil euros. «Neste momento temos tudo pago – cerca de 200 mil euros – e vamos passar para o telhado», adianta, prevendo a conclusão do edifício «até fi nal deste ano ou início do próximo». Até lá, a Associação vai desenvolvendo o trabalho que sempre tem efectuado. Mesmo sem casa própria – tem uma pequena sala administrativa na EB1 da Vigia –, a Associação presta serviço na componente de apoio à família, prolongamento de horário e presta as actividades de enriquecimento curricular, num protocolo que efectuou com a autarquia.

Apoio social na freguesia e nas freguesias vizinhas

«Por dia, servimos 280 refeições às crianças que estão englobadas na componente de apoio à família e, para além de servirmos as crianças da freguesia, servimos ainda as da Lomba e Quintã (na freguesia de Santo António) e Lombomeão e Vagos (neste último caso apenas durante as férias), dado que as IPSS dessas freguesias têm outras valências que lhe ocupam demasiado o tempo e espaço».Como conseguem fazer tudo isto sem

uma sede própria? «Às vezes nem eu sei como conseguimos», responde Dulcínia Sereno, aproveitando para elogiar o trabalho prestado pelos 30 funcionários, que «fazem de tudo sem olhar a nada». Trabalhando nas escolas primárias da freguesia, cedidas pela autarquia - «apesar de sermos nós quem paga as contas da água e electricidade, por exemplo», vinca –, a associação de Santo André orgulha-se de possuir já, com meios próprios e apoio da autarquia, uma frota automóvel que presta um serviço «ordenado, rigoroso e muito bom».Dando ajuda aos mais idosos da freguesia, com uma espécie de centro de dia não remunerado, será também para breve que a IPSS irá prestar apoio na sua deslocação ao centro de saúde, farmácia ou banco. «Duas vezes por semana (terças e quintas-feiras) iremos transportar gratuitamente os idosos, que, para além de não possuírem meio de transporte, mostraram algum receio de andar sozinhos na rua perante tantos assaltos», explica.Para Dulcínia Sereno, a Associação de Solidariedade Social é o «motor da freguesia» e sê-lo-á ainda mais quando o centro estiver pronto. «Iremos albergar 25 idosos em centro de dia e 30 crianças em creche, e iremos prestar apoio domiciliário a 20 idosos», anuncia, esperando que a autarquia apoie fi nanceiramente à semelhança do que tem feito com os projectos das outras IPSS.

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 16/VI O Ponto | 17/VII

DROGARIA Stº ANDRÉ Unipessoal, Lda.

Tel. 234 791 674 Telm. 969 532 239EN 109 Stº André 3840-555 VAGOS

Tubos e Redes

Louças Sanitárias

Material p/ Jardinagem

Torneiras

Utensílios Domésticos

Ferragens

Material eléctrico

Electrodomésticos

Material p/ Canalização

Ferramentas

Cópia de Chaves

Cópia de Chaves de automóvel codifi cadas

Agente Revigrês

Conferência Vicentina ajuda pobres da freguesia há décadasNão se sabe há quanto tempo foi criada, mas o que é certo é que a Conferência de S. Vicente de Paulo, da freguesia de Santo André, já passou por várias gerações. Actualmente, é Dulcínia Sereno a responsável pela associação desde há «cerca de quatro anos». Também ela não consegue precisar a data da criação, mas garante que «já a minha avó Elisa fez parte da conferência e ela hoje teria 105 anos».Umas vezes mais activas, outras menos, a Conferência Vicentina «nunca deixou de ajudar» as pessoas que mais necessidades apresentavam ao longo de todas estas décadas. «Ajudamos as pessoas a adquirir uma cadeira de rodas, óculos, uma porta, telhas ou qualquer outra coisa para a família ou casa, sempre que as pessoas tenham muitas difi culdades fi nanceiras», explica, adiantando que a associação distribui também cabazes alimentares sempre que vem comida do Banco Alimentar.Segundo Dulcínia Sereno, não há registo de muitas pessoas a necessitar de ajuda na freguesia, «mas houve já um tempo em que existiram bastantes». Uma tarefa que é dificultada pela «pobreza envergonhada», onde «quase que temos que “adivinhar” quem é que necessita», lamentou, garantindo no entanto que «somos bem recebidas quando abordamos, discretamente, essas pessoas».Neste momento, há cinco pessoas a trabalhar activamente na Conferência Vicentina, mas contam com a colaboração das pessoas da freguesia, sobretudo dos jovens. Os apoios financeiros são obtidos nos peditórios efectuados nas missas dos funerais. «Não havia peditório, mas a nosso pedido passou a efectuar-se e as pessoas sabem que, nesse momento, ao contribuir, estão a ajudar as famílias carenciadas da freguesia», explicou, dando nota da generosidade das pessoas «mesmo em tempos de crise». «Santo André é muito pródiga em dádivas para tudo», rematou orgulhosa.

A oito todos os caminhos vão dar à VigiaNo dia 8 de cada mês o centro da Vigia pára para receber mais uma edição da feira mensal. Esta é uma tradição que já existia, segundo dizem os mais antigos, «há cerca de 70 anos». Tradicionalmente era no dia 14 mas, com o passar do tempo, a feira foi-se desvanecendo até que deixou de se realizar.A tradição foi reiniciada em Setembro de 1998, depois dos alunos da escola, sob a tutela da professora Maria dos Anjos, terem recriado a feira à moda antiga. Alunos, pais e professores, Junta (na altura presidida por Vítor Oliveira), para além da comunidade , vestidos a rigor e sob música ambiente da altura, deram vida à antiga feira.«Gostei muito de ver aquela encenação e quando, posteriormente, me candidatei à Junta, alguém me fez o repto e me perguntou se eu não gostaria de ver a feira reanimada, e eu respondi logo que sim», recorda Dulcínia Sereno a O PONTO. A mudança de data (de 14 para 8) prende-se, de acordo com explicações da presidente de Junta, com o facto de o dia 14 ser muito próximo das restantes na região. «Apenas havia a Feira da Oliveirinha, que é a 6, mas como é longe, optámos pelo dia 8», esclareceu, garantindo ser uma «boa data» já que é início do mês e as pessoas «receberam o salário há pouco tempo».Tendo passado por altos e baixos, actualmente a feira é um «sucesso». Quem o garante é Dulcínia Sereno, que, como confessou, teve «alguma difi culdade» em conseguir feirantes para a Feira da Vigia. «Ao abordar feirantes das outras feiras da região, olhavam para mim e riam-se; diziam que uma feira nova não iria dar em nada. Hoje arrependem-se aqueles que não vieram e pedem para fazer parte da feira».Central e junto da população, esta é uma feira «atípica», que não está sectorizada. «Junto ao largo da Capela estão os sectores fundamentais», aqueles que aceitaram inicialmente o convite para participar; «depois, os sectores vão-se repetindo ao longo da feira». Uma realidade que se vai mantendo por vontade dos próprios feirantes que já têm marcado o seu lugar. «E as pessoas também já sabem onde encontrar os feirantes ou este ou aquele artigo e produto», vinca.

Associação de Solidariedade Social

O motor de desenvolvimentoda freguesia de Santo André

Page 7: Santo André a minha freguesia

Foi no passado dia 23 de Março que a Associação Desportiva e Cultural da Freguesia de Santo André de Vagos completou 29 anos de vida. A caminho das três décadas de existência, João Paulo Silva recorda, a O PONTO, que nem sempre os tempos correram bem para a única associação desportiva e cultural da freguesia. «Teve sem actividade cerca de dez anos», lamenta, dado que foi tempo «mal aproveitado» que impediu um maior desenvolvimento da associação. «Poderíamos estar, agora, com mais actividades e com mais infra-estruturas. A causa, diz, foi a «falta de pessoal directivo» e só no ano de 2000 é que foi formada uma comissão para se reactivar de novo a associação. O terreno com um campo de futebol e o início da construção dos balneários eram o «único património» existente, numa altura em que apenas se realizavam «jogos amigáveis». «As primeiras direcções sempre trabalharam em prol de arranjar

dinheiro e financiamento para melhorar as condições», conta o actual presidente da direcção da associação.Foi a partir do ano 2000 que se construíram os balneários, o muro e se criaram as condições para a prática desportiva. «Foi também nessa altura que Fernando Fernandes e outros tiveram a ideia de criar o coro polifónico. Foi a primeira actividade da associação, porque era uma actividade que não necessitava de infra-estruturas próprias», tendo sido cedido o salão paroquial para a realização dos ensaios.Na área desportiva, a equipa de futebol da associação surgiu na época 2005-2006. «Toda a direcção apoiou a ideia de dois jogadores que praticavam no Inatel e, todos juntos, aos sábados e domingos, fomos conseguimos as infra-estruturas necessárias», relembra, explicando que a escolha pelo Inatel se prende com o facto de haver, na altura, uma equipa do

concelho a competir (o Carregosa). Tornava-se também «mais barato» e tinha uma vantagem: «os jogos são ao sábado», o que se torna mais fácil para conseguir jogadores disponíveis para jogar. O sonho de ir para a Associação de Futebol de Aveiro nunca foi esquecido mas, para isso, «temos que criar uma equipa mais competitiva e obter uma estrutura fi nanceira melhor», admite. Para já, «vamos gerindo bem os apoios que recebemos dos patrocinadores, da Junta de Freguesia e da Câmara de Vagos, e vamos tentando arranjar mais fundos com os passeios de cicloturismo, jantar da associação ou nas tasquinhas da feira gastronómica».Para além da equipa sénior masculina que milita no Inatel, a associação possui ainda uma equipa sénior feminina a competir nas distritais de Futsal há já três épocas. Os resultados não têm sido os desejáveis, mas isso é atribuído, em parte, à deslocação da equipa para o Pavilhão de Vagos, o que afasta as pessoas de Santo André da equipa. «Julgo que os resultados poderiam ser melhores se tivéssemos em Santo André um pavilhão onde pudéssemos realizar os treinos e jogos», defende João Paulo Silva. Lamentando que no tempo das “vacas gordas” não se tenham aproveitado os subsídios existentes para construção de infra-estruturas na freguesia, João Paulo Silva não acredita que «com a conjuntura actual» a freguesia venha a ter um pavilhão.Para já, a associação vai melhorando as condições, nomeadamente em termos de estacionamento. No entanto, e como acontece um pouco em todas as associações, a Associação Desportiva e Cultural da Freguesia de Santo André de Vagos precisa de «alma nova», de «pessoas com outro pensar» que a revitalizem ainda mais. João Paulo Silva apela, portanto, aos cerca de 230 associados para que formem uma nova equipa.

Associação Desportiva e Cultural

Futebol para eles,futsal para elas

Motoclube a navegar pelo paísFoi há doze anos que Fernando Caetano e Gumersindo Santos fundaram, em Ponte de Vagos, o Motoclube Matolas Terras de Vagos. O clube, que já teve sede na Parada de Cima (na freguesia de Fonte de Angeão), encontra-se há cerca de três anos no centro de Santo André de Vagos.Foi neste café, que entretanto tinha fechado recentemente, que o motoclube encontrou a «visibilidade» que pretendia para a sua associação. Com porta aberta para a Estrada Nacional 109, o presidente da direcção admite que «agora somos mais procurados», não só pelos associados como pela população em geral, sobretudo a vizinhança. «Lamentavelmente, os motards são associados a distúrbios ou à alta velocidade, mas essa perspectiva tem melhorado nos últimos anos», vinca Filipe Costa, admitindo que foi na comunidade desta freguesia que melhor foram aceites.E o que é que une os 149 associados deste motoclube? A esta questão, Filipe Costa responde com o «gosto pelas motas», para além do gosto pelo «convívio». «Passeamos todos juntos com as cores de Vagos e partilhamos, desde os mais bebés (alguns já são sócios) aos mais velhos, o nosso gosto pelas motos», acrescenta. Presidente há três anos e membro do motoclube há mais de oito, também Filipe Costa já passou o “bichinho” pelas motos aos dois fi lhos, confessa.Com o intuito de divulgar o motociclismo em Vagos e divulgar o nome de Vagos além fronteiras, «um pouco por todo o país», o Motoclube Matolas promove, todos os anos, o seu aniversário, no mês de Abril, e o convívio motard, em Junho. O aniversário é celebrado com uma celebração eucarística no Santuário de Vagos seguida de almoço convívio, na qual se juntam cerca de dez motoclubes, num total de três centenas de motards. Por outro lado, «o nosso convívio tem decorrido, nos últimos anos, junto ao campo do Sosense, na freguesia de Soza», e durante três dias há muita música, animação, jogos tradicionais, striptease e o tradicional passeio pelo município vaguense. «É uma forma de darmos a conhecer o nosso concelho que já é conhecido de alguns e desconhecido para outros que, por sua vez, fi cam com vontade de regressar, depois, para o conhecer melhor, sobretudo por causa das praias», explica.A caminho dos 15 anos de idade, um dos sonhos do Matolas era promover o convívio anual no centro da vila de Vagos, nomeadamente no Parque Municipal Quinta do Ega. Para tal, o motoclube já está em conversações com a autarquia, por questões de logística.

Coro Polifónico a cantar e encantar há nove anos

Especial Freguesia de Santo AndréEspecial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 16/VI O Ponto | 17/VII

Clube dos Frangos

Tel 234 781 290R. Principal 75, Sanchequias 3840-557 STº ANDRÉ

CHURRASCARIA

A pr imei ra “va lênc ia” da Associação Desportiva e Cultural da Freguesia de Santo André de Vagos a ser criada foi o Coral Polifónico. A primeira actuação decorreu em 14 de Dezembro de 2002, aquando de uma actuação do coro litúrgico de Santo André, numa iniciativa promovida pela associação da freguesia. O Salão Paroquial da Igreja Matriz de Santo André de Vagos passou a ser o local de ensaio e o palco das suas iniciativas. Inicialmente com 42 pessoas, que costumavam cantar nas missas de domingo, o Coral Polifónico possui hoje cerca de 20 elementos, na grande maioria com menos de 40 anos de idade. Na altura, era Fernando Fernandes o maestro do coro litúrgico que, desafi ado, decidiu criar o coral. Desde a sua criação, todos os anos, passou a promover o Festival de Outono onde, para além de actuar o coral anfi trião, participam dois ou três grupos corais convidados.Por impossibilidade profi ssional de Fernando Fernandes, a partir de Março de 2007 o director artístico e maestro do Coral Polifónico passou a ser Pablo Ferreira. «Eu sempre pertenci ao coral polifónico e, sempre que necessário, era eu quem o substituía», salientou o jovem que iniciou o seu contacto com a música desde 1998, altura em que entrou para a escola de música da Banda Vaguense, da qual ainda hoje faz parte na classe

de saxofone.Com quase nove anos de existência, o Coral Polifónico já actuou em mais de uma centena de espectáculos culturais e religiosos um pouco por todo o pais, contando com um repertório com mais de uma centena de temas (dos géneros sacro, clássico ou popular português). Números que foram diminuindo nos últ imos tempos, talvez por «falta do sentimento de associativismo» como lamenta Pablo Ferreira. «Ultimamente saímos pouco, porque nos recusamos a sair se não tivermos as condições necessárias para cantar»; por outro lado, e por motivos profi ssionais ou pessoais, «os membros começaram a sair ou a não aparecer aos ensaios», o que prejudica a prestação do Coral.Para o futuro, um dos sonhos projectados por Pablo Ferreira passa por ir actuar a um festival em Itália. «Sei que vai ser complicado pelas verbas que uma viagem destas implica, mas também não sei se será viável, porque teremos que trabalhar ainda mais a nossa qualidade». Para tal, o Coral tem que «partir do zero», até porque «a grande maioria dos elementos não tem noções de música».Para já, e a médio prazo, outro dos objectivos do jovem director artístico é preparar o Coral para três tipos de concerto: sacra, gospel e outro mais comercial.

Foto: Ricardo Gomes

Page 8: Santo André a minha freguesia

A freguesia de Santo André é, juntamente com as freguesias de Santo António e Santa Catarina, a mais “nova” freguesia do concelho de Vagos. Santo André foi desanexado da freguesia de Vagos através do Projecto-Lei nº 61/II publicado em Diário da República em 27 de Novembro de 1980, pelo facto de Vagos possuir uma área grande onde, nela, existiam muitos lugares. Deste modo, e até às primeiras eleições dos respectivos órgãos representativos, a freguesia de Santo André passou a ser gerida por uma comissão instaladora composta de «um representante do Ministério da Administração Interna, um representante do Instituto Geográfi co e Cadastral, um da Câmara Municipal de Vagos e quatro cidadãos eleitores com residência habitual nas áreas das freguesias criadas pela presente lei, mediante proposta da Câmara de Vagos», como se pode ler na lei proposta pelos deputados do CDS Mário Henriques, Maria José Sampaio, João

Polido e Francisco Oliveira Dias.Apesar de ser uma “jovem” freguesia, Santo André é um dos locais mais antigos do concelho. Nos seus limites, a nascente, existe o rio Boco, afl uente da Ria de Aveiro, no qual, muito provavelmente, terão navegado gregos e fenícios no século IX aC. Entre S. Romão e Quintã existem restos de uma ponte denominada “pontes do porto” e entre Ouca e S. Romão há um local chamado “ilhote”, onde terá existido uma ilha na qual estaria sediado um estaleiro naval romano, ao qual ainda hoje chamam “embarcadouro”.E foi em 1190 que o segundo rei de Portugal, D. Sancho I, outorgou foral a S. Romão, estabelecendo a autonomia municipal. Posteriormente, entregou o senhorio da povoação ao fi dalgo D. João Fernandes e à sua esposa Marinha Moniz. A posse passaria, depois, para Fernando Anes e, mais tarde, passou a pertencer aos Crúzios do Mosteiro de Grijó, com a fi nalidade ou encargo de zelarem pelo

Santuário de Nossa Senhora de Vagos.Será em S. Romão que terá existido uma casa junto ao rio Boco, com um escudo de armas do século XVIII, feito em pedra Ança, que deverá ser uma das mais antigas do concelho e que terá albergado a cadeia. É a conhecida Casa dos Margaças. Consta também que, na freguesia, existiu uma ermida dedicada a Santo André, que terá sido um hospício dos Templários, embora não haja qualquer registo ou vestígio da sua existência.A freguesia de Santo André assinalou o 800º aniversário do Foral de S. Romão em Novembro de 1990, numa iniciativa promovida pela autarquia e Junta de Freguesia. As cerimónias incluíram actos religiosos, sessões culturais, exposições, cortejo etnográfi co e as crianças das escolas primárias da freguesia encenaram a concessão do foral, na qual o “rei”, com o ceptro na mão, leu a Carta de Doação na presença de todos os “fi dalgos da corte”.

Uma terra com mais de oito séculos

Santo Andréem númerosÁrea: 12,44 km2População: 2.079 (censos 2001)Recenseamento: 2.032 eleitoresEspaços populacionais: Ervedal, Sanchequias, Santo André, São Romão, Vergas e Vigia

Feiras:- Dia 8 de cada mês, na Vigia. A tradição foi reiniciada em Setembro de 1998;- Feira Gastronómica, no Largo da Igreja, no 2º fi m-de-semana de Agosto

Festividades:- S. Romão – no lugar de S. Romão, no primeiro domingo de Agosto;- Senhora das Dores – em Vigia e Vergas, no 3º domingo de Setembro;- Imaculado Coração de Maria e São João Batista – em Sanchequias e Ervedal, no primeiro domingo de Julho;- Santo André – no lugar de Santo André, no dia 30 de Novembro

Locais de interesse público:- Moinhos de vento de S. Romão;- Fontes (oito nas diversas localidades);- Igreja Matriz;- Antigo porto de embarcação de S. Romão e paisagem na envolvente

Associações:- Associação de Solidariedade Social de Santo André- Associação Desportiva e Cultural da Freguesia de Santo André de Vagos (secção desportiva e coral polifónico)- Clube Motard Matolas- Conferência Vicentina de Santo André de Vagos

Ensino Público:- EB1 Vigia (4 salas)- Jardim-de-infância de Santo André (2 salas)- Jardim-de-infância de Sanchequias (2 salas para alargamento de horário - 1º ciclo)

Actividade económicaServiços, comércio e construção civil

Emigração:Cerca de 300 emigrantes em França, Suíça, Luxemburgo, Venezuela e algumas pessoas nos EU América

Especial Freguesia de Santo AndréO Ponto | 18/VIII

Construção de Jardins | Sistemas de Rega | Aplicação de Relva em Tapete | Execução de Lagos e Canteiros R. 5 Outubro nº42 3840-553 STº ANDRÉ de VAGOS Tel 960257243 mourafl [email protected]

Construção e Manutenção de Espaços Verdes

Eleita em Setembro de 2007, pelos leitores do jornal O PONTO, como uma das sete maravilhas de Vagos, a chamada Casa dos Margaças localiza-se a sul da capela de S. Romão. E uma casa brasonada de certa antiguidade. De acordo com António Capão, no seu livro “Memórias Históricas de S. Romão de Vagos”, esta será uma «das mais antigas casas do concelho, encimada por um brasão de rara beleza». O autor prossegue, descrevendo que «o rés-do-chão chegou a funcionar como cadeia, onde eram provisoriamente presos certos indivíduos que praticavam distúrbios na região. A existência desta cadeia levou certos analistas e especialistas em histórica local a pensar que o lugar de S. Romão foi sede do concelho».Por sua vez, o escritor e historiador Nogueira Gonçalves salienta que esta casa «conserva no topo duas janelas de vão de pano de peito rectangular e, intermediamente, um escudo de armas do fi nal do século XVIII, tudo em pedra ançarense». Da antiguidade e origem da actual habitação pouco ou nada se sabe, mas surgiu já uma versão de que o brasão ali ostentado estaria ligado à Família dos Maias, de Ílhavo. Ainda de acordo com investigações de António Capão, a casa foi comprada pelos representantes do Mosteiro de Grijó a Manoel João e esposa para, dela, se fazer um celeiro da região. O documento de compra e venda data de 13 de Agosto de 1624.Actualmente, votada ao abandono, com arbustos a invadirem e as paredes a ameaçarem ruir, o futuro deste imóvel poderá ser mesmo… a demolição. O proprietário já solicitou a sua demolição e a autarquia aceitou, mas apresentou condições: desde logo, deverá ser «acompanhada e fi scalizada por um técnico especializado na área de arqueologia, que fi scalizará, a todo o tempo, a demolição, determinando a sua calendarização». O técnico avaliará, a cada momento, «a cedência de direitos imobiliários, quer de interesse histórico para o Município, quer a interrupção dos trabalhos para eventual aprofundamento do valor histórico e patrimonial das edificações existentes no local». Até lá, o proprietário deve «salvaguardar a segurança de pessoas e bens», dado o avançado estado de degradação em que se encontra o imóvel. A

Câmara espera, ainda, obter a c e d ê n c i a d e d i r e i t o s para poder reproduzir o brasão e outros e l e m e n t o s que o edifício possui.

Casa centenária ostenta brasão