sambodh naseeb - vida iluminada (29.01.10, naodual.blogspot.com)

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1 SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB (NATTANIEL PIVA) Vida Iluminada Des-cobrindo a Essência Divina que você já É A fantástica Jornada da Autoinvestigação

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SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB SAMBODH NASEEB

(NATTANIEL PIVA)

Vida Iluminada Des-cobrindo a Essência Divina que você já É

A fantástica Jornada da Autoinvestigação

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Para Moni,

Em gratidão pela transparência, cumplicidade, entrega, e amor incondicional.

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“Silêncio. Mantenha-se silencioso. Deixe as coisas acontecerem diante de você, e desfrute este universo que lhe é oferecido. Se você está silencioso, há uma paz em sua mente. E assim, você

encontrará paz em todo mundo. Se sua mente está agitada, você encontrará agitação em todo lugar. Então, primeiro encontre paz dentro de você, e você verá esta paz interior refletida em tudo o mais,

porque VOCÊVOCÊVOCÊVOCÊ é esta Paz interior.”

PapajiPapajiPapajiPapaji

O mental e o material são dois lados de um mesmo processo global que, como a forma e o conteúdo, estão separados apenas no pensamento e não na realidade. Há uma energia que é a base de toda a realidade (...) Nunca há divisão real entre os lados mental e material em nenhum estágio do processo

global.

(A New Theory of the Relationship of the mind and matter, p.122.) David BohmDavid BohmDavid BohmDavid Bohm

Iluminação é a maior brincadeira que há. Você está tentando buscar o que já é. Está tentando evitar o que não existe. Esse esforço é ridículo! Você é iluminado desde o começo. Iluminação é sua

natureza. Iluminação não é algo que tenha que ser obtido. Ela não é uma meta. Ela é sua fonte. Ela é sua própria energia.

OshoOshoOshoOsho

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A BUSCA ESPIRITUAL

Como você sabe, no início da busca espiritual, parece que o que se deseja, aquilo pelo que se anseia,

é alegria pessoal, libertação pessoal, iluminação pessoal. Mas a iluminação pessoal é um mito. Iluminação, na verdade, é a descoberta de que não existe uma pessoa separada de qualquer outra

pessoa, exceto na aparência. A inseparabilidade de cada pessoa em relação a todas as

outras é permanente e imutável.”

GangajiGangajiGangajiGangaji

Aos quinze anos, eu era um adolescente rebelde que amava e venerava os Beatles, e entrei em contato pela primeira vez com a espiritualidade através da música de George Harrison. Igualmente, o espírito revolucionário de John Lennon, sua campanha pela paz mundial e a constante busca por mais consciência, foram estopins, naquele tempo, para que eu acreditasse que um novo mundo era possível. Tudo isso marcaria minha alma para sempre como músico e compositor que compartilha a cultura de paz através da arte. Por esta mesma época, havia começado a ler os escritos de Allan Watts, Richard Bach, D.T. Susuki, Trungpa, Lao Tsé, Gautama Buda, Henry Miller, Julio Cortázar, Fernando Pessoa, Oscar Wilde, Mário Quintana, Walt Whitman, David Thoreau, e muitos outros, que, naquele tempo, começaram a inspirar a minha alma para os vôos do espírito ... A história da minha busca espiritual propriamente dita se fez clara um pouco mais tarde, no ano de 1993, enquanto o verão ainda continuava a pleno. Desempregado e deprimido, não havia nenhuma ideia do que poderia fazer para me sentir útil na vida. Trabalhei em diversas áreas para não depender exclusivamente da minha família, e com isso até obtive uma boa experiência em vendas. Nessa época, havia trancado a minha faculdade para poder refletir sobre meus dons e talentos pessoais e como colocá-los em prática. No meio do caminho, no intuito de não ficar esperando por uma inspiração que não vinha, resolvi novamente ganhar uma grana investindo na área de vendas em uma empresa de alimentação. Certa vez, no meio da tarde de um dia quente de verão, uma ideia me veio à cabeça. Peguei o guia telefônico e selecionei uma empresa para visitar e deixar mais um currículo: Vale Restaurante do Brasil. O interessante foi que, quando cheguei lá, a secretária me informou que justamente naquela semana estavam selecionando pessoas na área que eu procurava. Lembro do meu sorriso interior entrando na sala do diretor da empresa com meu currículo na mão. O Sr. Fraga me apontou a cadeira para sentar, quando, de relance, vi um livro de Osho por sobre a mesa. Nesse momento, quase que por instinto, eu disse: “Olha o Osho”, e ele, me olhando com os olhos brilhando, perguntou: “Tu conheces?” É claro que

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certamente se surpreendia por alguém também participar de seus gostos exóticos. O fato era que, ainda naquele tempo, o mestre era muito obscuro no Brasil (na verdade ainda é, porque é muito difícil compreendê-lo pelos livros, sem participar das vivências, dos grupos, das meditações, porque muita gente ainda confunde religiosidade com religião, e este peculiar mestre é a essência da religiosidade livre e não da religião tradicional e ortodoxa.). Osho vinha se tornando um pouco mais conhecido das pessoas que buscavam com sinceridade uma vida livre, sem dogmas ou crenças limitantes, despertando a religiosidade que habita em todo coração humano, fonte da bondade e sabedoria, do amor e da compreensão. Devemos sempre lembrar que uma religião ortodoxa se forma em volta de um conjunto de crenças e dogmas fixos, enquanto que a religiosidade é apenas uma busca livre e pessoal, uma peregrinação, uma aventura rumo à essência inata de cada indivíduo. Religiosidade seria, então, o despertar da beleza do ser humano, de sua capacidade criativa e celebrativa de ser feliz sem qualquer razão. Em 1988, quando fazia jornalismo e filosofia na Unisinos, em São Leopoldo – RS, havia conhecido seus livros, mas, na época, o considerava apenas um “filósofo genial”, não o vendo ainda como um mestre espiritual capaz de despertar as pessoas do sonambulismo social. O Sr. Fraga, então, num sinal de pura descontração com a descoberta de um interesse mútuo, pediu-me que sentasse ao seu lado para que olhasse em seu “lep-top” os livros e o material inédito que ele tinha do mestre. Ficamos algum tempo olhando e conversando sobre o assunto. Eu estava surpreso de encontrar uma pessoa no mundo dos negócios que se interessava pela sabedoria de um mestre indiano controverso e incomum. Ali nasceria uma parceria que duraria dois anos. Quando terminamos a conversa, nem mais me lembrava de que estava ali para me candidatar a uma vaga de emprego. Foi muito engraçado, porque me levantei da cadeira, falei algumas coisas sobre mim mesmo, deixei o meu currículo, e ele me olhou e disse: “Segunda-feira esteja aqui às 8h da manhã. Começaremos o seu treinamento”. Nos dois anos em que trabalhei lá, fiz muitos amigos e tinha um prazer muito grande de pertencer àquela organização. Os diretores realmente criavam um clima empresarial muito familiar e amigo, e nos sentíamos todos como uma grande família buscando o mesmo objetivo. Até hoje lembro, com muito agradecimento no coração, esse importante período de trabalho com aquelas pessoas.

centro de meditação O mais importante é que acabei conhecendo, como consequência, o Osho Bholi Meditation Center, um espaço em Porto Alegre onde se praticavam as técnicas de meditação e crescimento de consciência que o mestre desenvolvera. Naquela época o lugar era coordenado pelo Swami Prahful, um advogado que cedeu parte do seu prédio para um antigo sonho: reunir amigos e discípulos de Osho para compartilhar amizade, amor e expansão de consciência. Minha primeira meditação foi a “Kundalini”. Saí de lá com a sensação interior de completa limpeza, suavidade, gratidão e silêncio. Sentia plenamente que estava no lugar

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certo, na hora certa. Tudo se encaixava como luva. O lugar era perfeito. As pessoas tinham buscas afins, e fiquei fortalecido para ir mais fundo na minha jornada. Comecei a aprender que espiritualidade é uma prática constante de um “certo olhar”, um mergulhar total dentro do momento, do Agora, desse único instante presente. Cada momento, um momento sagrado. Muito simples. Hoje, se me perguntassem quando houve o primeiro “despertar”, eu diria que foi em março de 1993, sem dúvida. Desde lá tem havido muitos e muitos processos de desintoxicação, purificação e cristalização do sagrado no coração. Desde lá, tudo tem sido um maravilhoso e constante aprofundamento. O despertar não é algo estático, mas um movimento constante em direção a mais e mais vida.

renascimento

Ao longo deste período, fui praticando as meditações e, ao mesmo tempo, fazendo alguns grupos terapêuticos. Tive uma experiência de expansão maravilhosa com o grupo de “Renascimento”, que foi algo muito forte e importante para mim. Renascimento é uma técnica de respiração muito poderosa, que pode ajudar na purificação de muitos processos emocionais e abrir o coração para o silêncio interior e o amor. A minha primeira experiência com o Renascimento foi em grupo. Em uma determinada parte do processo, enquanto estava respirando, a minha mente parou, os pensamentos não mais vinham. Eu estava “oco” por dentro. E de repente, uma dor no peito que vinha como uma adaga no coração. A dor era tão insuportável que num determinado momento imaginei que fosse morrer. Mas foi incrível ouvir uma voz que vinha de dentro, como se fosse um guia, dizer “Morra. Se tiver que morrer, morra...”, e lembrei do Osho, e do seu sorriso. E fui fundo, sem medo. Assim, fui além de toda dor e atravessei uma porta ... Ao invés de trancar a respiração, eu respirei ainda mais fundo, ainda mais rápido. De repente, desapareci. E quando fiquei consciente do meu corpo novamente, percebi que a terapeuta estava ao meu lado, olhando-me com os olhos atentos para ver como eu estava. Dei um sorriso. Estava leve. Mais tarde, ela pediu-me que levantasse e me olhasse no espelho. Um brilho diferente vinha lá do fundo de meus olhos, que estavam transparentes. A sensação corporal era de completa e profunda paz e calma. Nunca em minha vida algo tinha batido tão forte dentro de mim. Naquele momento me veio à mente que eu poderia ser um terapeuta e também ajudar outras pessoas com aquela técnica. Foi nesse instante que começou minha transição para me tornar um terapeuta, auxiliando também outros a passarem por processos de crescimento e expansão. A terapeuta Gyata, que hoje trabalha no Namastê, um centro ativo do Osho em Porto Alegre, nem imagina o quanto, mas participou ativamente do processo de eu pensar pela primeira vez em trabalhar com pessoas. Aquele Renascimento foi o primeiro e o mais forte de minha vida. Sem dúvida, uma ajuda inestimável para limpar meu coração e as couraças do meu corpo, de modo a que pudesse mais facilmente acessar a intimidade com o silêncio meditativo.

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despertar inicial

Em março de 1993, mesmo antes de iniciar as práticas ou estudos espirituais, tive espontaneamente uma experiência transcendental muito profunda, que deu partida a esta busca intensa. A experiência durou muitos meses intensamente, e veio como que do nada, mas chegou para dar impulso a uma nova fase na minha vida. Eu sentia uma sensação de completa ausência de problemas, leveza no corpo, clareza mental. Seguidamente via o mundo através de uma névoa branca na frente dos olhos, e uma presença enevoada que mantinha a minha mente no estado presente, em pura alegria e celebração. Muitas vezes, caminhando pela rua, sentia chegarem algumas emoções fortes que não sabia definir muito bem. Elas vinham e faziam-me chorar de êxtase, de alegria, de gratidão por tudo. Eu achava tudo aquilo muito estranho e, ao mesmo tempo, maravilhoso. Na verdade, como não tinha um mestre vivo, aquele processo era totalmente desconhecido. Eu me sentia embaraçado, e muitas vezes, como dentro de um ônibus, disfarçava as lágrimas espontâneas e meu êxtase com meus óculos escuros ... Sabia que não podia prever hora exata para acontecerem os choros de alegria imensa e incontrolável ... A qualquer momento as lágrimas podiam vir ... E aquela experiência viva era como se limpasse alguma coisa profunda dentro de mim. Era um acontecimento sempre bem-vindo, apesar de ser engraçado ficar chorando daquele jeito e sentindo aquela alegria imensa sem nenhuma razão aparente. Sentir felicidade e paz sem causa nenhuma era algo muito estranho. Sempre imaginamos que a felicidade é decorrente de algo que ganhamos, conquistamos ou conseguimos. Mas estava aprendendo que a real felicidade estava em mim mesmo. Ela pode me acompanhar em todos os momentos de minha vida, porque esta felicidade é a essência da minha alma. E quando há sintonia com a alma, sua presença é sentida em todos os momentos.

na trilha da meditação

A minha meditação preferida era a Kundalini. Quatro estágios de quinze minutos, cada um: chacoalhar o corpo, dançar, sentar em silêncio, e depois deitar em relaxamento. No final de tudo, eu sempre estava me sentindo cheio de luz, feliz e centrado como nunca. Fiz esta meditação durante todo o ano de 1993, sem faltar um dia. Acredito que ela foi muito importante para dar luz à presença observadora da consciência, e aprender a ficar presente ao que o momento trazia para mim. Comecei a perceber que minha sintonia interior com a essência espiritual era o que determinava a qualidade dos meus pensamentos. Se estivesse centrado, presente, meditativo, então estava tudo bem e minha mente ficava em paz. Estar meditativo é exatamente estar na sintonia da luz, e as práticas e a autoinvestigação são bens preciosos para este fim. Eu respirava meditação e lia todos os livros relacionados ao assunto. Passei um tempo fazendo uma meditação-dança chamada Nataraj. Adorava a criatividade que despertava em mim ao fazê-la.

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Outra meditação de que gostava muito era a Nadabrahma – uma técnica tibetana com mantra e observação, muito profunda, curativa e gostosa de fazer. Minha vida começou a girar em torno da “busca”. Em meados de 1995, deixei meu emprego fixo e comecei a me dedicar à música, com shows de violão e voz. O meu canto e meu dedilhar no violão se tornavam outra meditação, e aprendi a curtir a celebração de tocar para pessoas e sentir a vibração que acontecia nos shows. Tocava em barzinhos, boates, reuniões, aniversários, festas e eventos. A música, o amor e a meditação tornaram-se minhas paixões constantes.

grupo bio-zen

Alguns anos praticando meditação geram uma vontade imensa de que outros também tenham a oportunidade de conhecer esta maravilhosa arte de viver. Estava começando a me dar vontade de criar um trabalho para compartilhar o que vinha aprendendo. Em 1997, tinha finalmente decidido dar um workshop básico para ensinar pessoas a meditar. Era minha primeira experiência com um grupo. Ocorreu tudo maravilhosamente! Havia umas vinte pessoas inscritas. O pessoal adorou, e as coisas aconteceram num ritmo musical. Sentia claramente uma presença sagrada me guiando e me ajudando na condução do grupo. O coração da minha vida estava nascendo de forma mais clara para mim: compartilhar os ensinamentos de amor e meditação a todos que tivessem interesse. Assim, depois de algumas semanas após o workshop, aconteceu a criação do hoje conhecido BIO-ZEN, o espaço que criei para o ensino da meditação e do autoconhecimento. O BIO-ZEN convidava as pessoas a aprender sobre a essência da vida meditativa e o poder de criatividade amorosa que todos possuímos. Surgiu a vontade de criar um grupo de meditação para que pudéssemos nos reunir um dia por semana para trocar ensinamentos e aprendizados. Assim, até hoje, o GRUPO BIO-ZEN se encontra semanalmente para mergulhar no silêncio e na paz de nossa verdadeira natureza espiritual. Aos poucos fui gostando do trabalho de facilitador e terapeuta. Quanto mais grupos ministrava, mais vontade tinha de continuar. Comecei a fazer algumas formações e treinamentos em Renascimento (Terapia de Respiração), Reiki, Bioenergética, Terapia Corporal Reichiana e Gaiarsiana, que me possibilitaram criar um trabalho diferenciado, em que o foco era o resgate da energia da pessoa e, num segundo passo, o aprofundamento para o silêncio da meditação. O trabalho seria, na verdade, não uma terapia tradicional, mas um Treinamento em Energia Meditativa. Nessa época, comecei a dar algumas palestras em colégios e instituições, e a divulgar em artigos de jornal e revista os ensinamentos. Um período de muita motivação, muitas alegrias e pessoas maravilhosas, e a certeza de que estava fazendo a coisa certa e que meu coração estava cheio de graça.

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acordar é para todos Os grupos são preparações para a meditação, e a meditação é a preparação para o acordar espiritual. Quando você está entregue, solto, inocente, espontâneo, e aceita as polaridades da vida sem impedimento, sem aversão ou apego, apenas permitindo o momento como ele é, podemos chamar isto de graça ou estado meditativo. Acordar espiritualmente é possível a todos. Antigamente, poucos adeptos podiam conhecer os ensinamentos dos sábios iluminados. Hoje em dia, em virtude de um momento ímpar na evolução da consciência no planeta, todos que forem sinceros em suas buscas estarão tendo acesso ao que verdadeiramente são em essência: essa presença de amor divino que permeia todas as coisas, que está em você, que é você, que ama em você, e em última instância é puro Amor Incondicional.

Ame, ao invés de pedir amor Se já fizemos muitos esforços em vão para nos livrarmos deste sentimento negativo de insatisfação, indo em busca de dinheiro, poder, fama, controle, prestígio, respeitabilidade, sexo, drogas ... devemos saber que tudo isso aconteceu na tentativa de sermos felizes. Todas as tentativas e erros um dia nos levam à porta do Divino. Se você já jogou os jogos do mundo e ainda não está satisfeito, você será convidado a escutar o ensinamento que desperta o coração. Na minha jornada, percebo que, em geral, acontece de primeiro depositarmos nossa esperança de felicidade no mundo, nos relacionamentos, nas coisas, nos bens que conquistamos. O tempo vai passando, e começamos a perceber que o que temos adquirido não tem nos dado paz duradoura, a não ser nos momentos que se seguem a uma nova conquista. Se você for uma pessoa bem controlada, de fácil relacionamento, eficiente, perfeccionista, ambiciosa e persistente, você obterá sucesso em suas metas no mundo. Sem sombra de dúvida! Uma pessoa de bom relacionamento tende a obter sucesso no mundo. Saber lidar com pessoas é uma arte. Mas o incrível é que, esta mesma pessoa que pode ter sucesso no mundo, que pode ser um sucesso aos olhos de todos, ainda assim pode ser uma pessoa infeliz consigo. Aprendi que o que nos dá paz duradoura é a nossa capacidade de amar. O quanto somos capazes de amar é o que define verdadeiramente a nossa paz. E isso é conquistado, primeiramente, quando começamos a amar aquilo que somos em essência. Amar é nossa verdadeira natureza! Mas você só pode amar se estiver livre do passado e em paz consigo mesmo. Mendigar amor é decorrência de pobreza espiritual. Para viver em paz, tenho de bancar este amor e este respeito por mim mesmo. O respeito por este “mim mesmo” é o respeito pela essência que sou, pelo divino que sou, que na verdade, é o que todos Somos! Respeitar-me é respeitar a todos. Ver o divino em mim é o mesmo que ver o divino em todos.

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entrando na corrente “Há profundezas e mais profundezas a serem descobertas depois que a mente entra na corrente, depois que a mente está aberta em direção ao infinito”, diz o professor budista Jack Kornfield. Os mestres deixam claro que acordar é despertar primeiramente para o que você É. A partir de então, há um mundo de aprofundamentos magníficos que o esperam até a derradeira liberação completa. Ou seja, acordar é perceber que não existe você fazendo a busca, mas simplesmente a Vida buscando a fonte e origem dela mesma através de uma pessoa. A busca é da Vida Universal, em relembrar a sua natureza iluminada original.

Advaita Em 2001, percebi uma nova compreensão nascendo, que acompanhava o silêncio da meditação. As fichas do reconhecimento finalmente estavam caindo em profusão. E foi nesse tempo que comecei a manter contato com um professor de Advaita Vedanta chamado Burt Harding, que me esclareceu, pela primeira vez, a visão profunda da não-dualidade. Vieram, depois, as vivências interiores, satsangs, pesquisas e estudos profundos com os ensinamentos de Ramana Maharshi, e outros professores de Satsang (Mooji, Satyaprem, Gangaji, Eckhart Tolle, Jean Klein, Bob Sailor, e outros ... ), que me ajudaram a cristalizar ainda mais os insights, e compreender de forma ainda mais lúcida os ensinamentos que haviam iniciado com Osho. Pela primeira vez, compreendi o que Cristo queria dizer com: “Eu e meu Pai Somos Um”. Veio, também, a profunda compreensão de que somos todos seres divinos nesse exato momento, e tudo que nos impede de reconhecer isto são crenças limitantes, pensamentos aprendidos que afirmam que o divino está distante do que somos agora. Essas crenças nos deixam perder de vista o absolutamente óbvio. E Satsang existe para conversar com você e esclarecer sobre o óbvio que se esconde por trás desses conceitos errôneos. Este foi, para mim, um período que marcou o fim de uma busca neurótica, ou seja, aquela busca ansiosa por iluminação, por algum êxtase permanente, por alguma coisa que estivesse distante do aqui-agora. Foi o encontro suave com a minha natureza sempre presente. Um reconhecimento de que tudo aquilo que precisamos fazer é amar a nossa divindade e parar de criar separação entre nós e os outros, entre nós e o divino, entre o bem e o mal, entre o espiritual e o material. Essas polaridades são todas oriundas de uma mesma Totalidade, que é a Vida Universal. A essência está o tempo inteiro se revelando exatamente agora. Não existe um hiato entre o que somos agora e a nossa essência. Quem cria esta lacuna é um pensamento, uma ideia de que você é uma pessoa limitada e que ainda não alcançou sua essência. Isso cria um não-reconhecimento da sua grandiosidade, uma falta de amor para com o que você é neste momento. E quando não amamos este momento, a decorrência natural é culpa, negação, medo, encolhimento energético, desaprovação, e muita dor emocional.

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você já é perfeito

Os sábios dizem: Não busque perfeição nas coisas que vêm e vão. O mundo é passageiro e impermanente. Como podemos exigir perfeição do mundo? A perfeição é o reconhecimento do amor que acolhe este momento. A perfeição não está no futuro, mas na manifestação do Amor Incondicional a cada momento como você, suas ações, e suas escolhas. Mas para isso você tem que parar de se julgar ser apenas uma personalidade, parar de ter expectativas consigo e com as pessoas, e amar o momento como ele É. O sábio Jesus dizia que precisávamos estar despidos para entrar no “Reino dos Céus”. Isso quer dizer despojados, desapegados, relaxados e com um coração inocente e puro “como o das criancinhas”. Como o sábio indiano Krishnamurti dizia: “Eu não me preocupo com o que acontece”. O que ele queria dizer com isso? É muito profundo. Sim, ele vivia o que acontece, mas não havia a noção e nem a expectativa de que as coisas deveriam ser diferentes do que eram, tanto para ele, como para as outras pessoas! Meditação é simplesmente uma abertura sincera para o momento presente como ele é. Este convite da meditação e da autoinvestigação é uma entrega à vida, um desejo de viver o momento, com todo o amor, toda a simplicidade, toda a intensidade que o momento possa oferecer. Aprenda a amar o seu centro mais profundo. O que chamamos de prática meditativa é simplesmente entregar ao universo a sua identidade, os seus planos, as suas ideias, a sua agenda, seu passado, seu futuro, sua programação, seus relacionamentos, tudo, apenas por este instante. Apenas por este momento. Uma pequena pausa para simplesmente ser ninguém! Apenas ser uma presença desapegada. Uma nuvem branca. Um vazio criativo. Na prática, você aprende a simplesmente devolver todos os pensamentos para o lugar de onde eles vieram, e deixa o perfume do amor envolver tudo. Quando você senta a mente e o corpo em silêncio, o amor que exala dessa quietude, e que sempre esteve ali, se torna visível para você. O que é viver sem esforço? É viver naturalmente, descobrindo como fazer tudo com amor, com presença. Meditar em ação é acolher tudo. Meditar na vida diária é trazer a compreensão para todos os aspectos da vida cotidiana. “Sentar” a mente e o corpo não significa apenas fazer um exercício. “Sentar” na tradição Zen, por exemplo, é ver as coisas como elas são, estar presente, e não ser ludibriado pelas emoções aflitivas da mente e por toda a interpretação ilusória do ego.

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espiritualistas e materialistas Nós costumamos dizer que o mundo se divide em espiritualistas e materialistas. Espiritualistas são considerados aqueles que buscam a felicidade no espírito e em Deus, enquanto materialistas julgamos aqueles que buscam a felicidade nas “coisas do mundo”, no dinheiro, nos bens materiais, nas novidades que aparecem diante dos olhos e sentidos. Mas vamos ver um pouco mais fundo essa questão ... Na verdade, espiritualistas e materialistas são como dois lados de uma mesma moeda. Podemos observar que ansiar por mais e mais dinheiro, prestígio, fama, ou mesmo desejar ser espiritualmente mais elevado que outros, têm essencialmente algo em comum: o desejo de mais, o desejo de superioridade, ou como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “O desejo de Poder”. Afinal, quem deseja ser forte? O forte deseja ser forte? Nietzsche nos lembra que a força é forte naturalmente. Ela não tem desejo de se tornar forte. É o fraco que tem um complexo de inferioridade e desejo de se tornar forte, poderoso, perfeito, e o “melhor de todos”. O fraco traz em si um ego ferido e fará loucuras para aparecer em destaque. O forte não precisa aparecer – ele já se basta. Ele naturalmente se sente em sintonia com a existência, espontaneamente está tranquilo e compreende a si mesmo como é, portanto não precisa provar nada para ninguém. Portanto, um ponto importante: a busca real não é por algo, não é por uma ideia, a busca genuína não é por alguma coisa que esteja distante. Você precisa observar toda essa busca por algo no futuro, e se dar conta de que sua essência está exatamente onde você está, nenhum palmo a frente; logo, não há busca, mas um eterno reencontro com o que você já é agora, essencialmente. Procurar pela paz é como se estivéssemos procurando nossos óculos, e eles se encontrassem o tempo inteiro em nossos narizes. Procuramos sem cessar por toda a casa, para, enfim, nos darmos conta de que já estamos com eles. Ela É o que Somos. Para encontrá-la, precisamos identificar o que não somos. A paz é parte da nossa natureza essencial. Mas por que não estamos conscientes dela? Porque de alguma forma acreditamos que ela está distante. Ninguém nos diz que a paz está ao nosso alcance. Assim, acreditamos que “um dia” a encontraremos. Mas este dia nunca chega, não é mesmo? Continuar adiando faz parte da programação de não achar paz nenhuma, e de considerar que esta paz está fora de nós mesmos. Se ela está distante, é preciso tempo para encontrá-la.. Mas, se ela está aqui, em nós mesmos, é preciso tempo?

a raiz fundamental Esta paz de espírito é a raiz fundamental. Sem esta paz, nosso corpo e nossa mente se desarmonizam. É por isso que tantas doenças têm aparecido nos nossos tempos. São doenças que surgem no corpo e na mente pela falta de paz. Quanto mais estresse, mais a frequência da mente e do corpo adquire vibrações desgovernadas.

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Tudo que existe está em movimento e se move em vibrações. Nosso corpo/mente são vibrações. Pensamos que somos sólidos, mas se estudarmos nossos corpos cientificamente, poderemos comprovar que eles não passam de energia em movimento, vibrações de energia se movendo em tamanha velocidade que nossos olhos não podem captar as mudanças contínuas. A cada ano percebemos que envelhecemos, mas não notamos isto no dia a dia. Há uma ilusão de que somos seres fixos e sólidos, enquanto que, na verdade, somos vibrações em constante mudança o tempo inteiro. Onde está o nosso corpo de criança? Onde está nosso corpo de adolescente? Mudamos o tempo inteiro e mal nos apercebemos do fato de que nossas mentes, pensamentos e sentimentos também são mutantes. Eles também são simplesmente “vibrações”. Os pensamentos são vibrações mais elevadas que o corpo. É por esta razão que não são vistos. O corpo pode ser tocado, apalpado, reconhecido solidamente. Mas o pensamento nós conhecemos apenas pelos seus efeitos, não é mesmo? Algum dia você viu a sua mente? Você tem experiência de ter pensamentos, mas não sabe muito bem o que um pensamento é, não é mesmo? Pensamento é vibração, energia em movimento. Pensamentos não são o que sou, porque aquilo que Eu Sou pode observar pensamentos, pode testemunhar os pensamentos, e é de uma qualidade diferente dos pensamentos, que são energia em movimento. O que eu sou em realidade não é uma vibração. É por isso que sábios como Ramana dizem que não somos nem o corpo e nem a mente. O que somos é uma consciência espiritual pura, que percebe vibrações do corpo e da mente sem envolver-se com os mesmos. Quando estamos presentes, somos simplesmente consciência. Mas quando envolvidos numa história pessoal mental, o que somos é envolvido por um fantasma sofredor chamado ego-mente. Este ser fantasmagórico (ego) é apenas uma ilusão criada pela identificação da consciência pura que somos com os pensamentos. Há um pouco de confusão por parte de alguns espiritualistas em relação à mente. Há muito interesse pelo poder da mente, pelo poder do pensamento, chamando isso de espiritualidade, porém a real espiritualidade está acima do nível da mente. A mente é ainda matéria sutil, ainda parte do mundo, parte dos desejos, parte de samsara (a roda da vida e da morte). Os mestres iluminados deixam bem claro: para sair do ciclo vicioso da vida e da morte, da cadeia incessante de encarnações e de sofrimento sem fim, é preciso conhecer uma dimensão que está além da mente, que mora no silêncio, na subjetividade pura do Ser. Essa dimensão se começa a viver quando se aprende a testemunhar a mente (o eu sofredor). Há algo que observa um pensamento. O que é este algo? Esta é a matéria de Satsang. Descobrir quem você é além dos pensamentos que têm sobre si mesmo.

o ensinamento não-dual Em todas as grandes tradições religiosas, através da história, seus fundadores desenvolveram uma sabedoria oculta, um aspecto mais filosófico e profundo dos ensinamentos, que sempre se mantiveram à margem do grande público. Este ensinamento sempre chamou a atenção a respeito da Unidade de todas as coisas, ou, em outras palavras, da não-separação de tudo que existe.

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O Cristianismo tem o seu lado místico e profundo que é em essência não-dual, (os Gnósticos, os Rosacruzes, os ensinamentos do Mestre alemão Eckhart, e outros místicos cristãos como Jakob Böhme, João da Cruz, Thomas Merton, são alguns exemplos). No hinduísmo temos a sabedoria não-dual do Advaita Vedanta; no Judaísmo existe a Kabalahh; no Taoísmo, os maravilhosos ensinamentos de Lao Tzu e Chuang Tzu; no Budismo, entre tantos, podemos citar os ensinamentos Zen, dos mestres Nagarjuna e Hui-Neng, e o insights Tântricos do sábio iluminado Tilopa. Há paralelos deste ensinamento não-dual na filosofia ocidental, como em Plotinus, Heráclito, Leibniz, Spinoza, Ludwig Wittgeinstein ...

a visão transcendental Este ensinamento é um conjunto de indagações e reflexões, no sentido de clarear a nossa verdadeira identidade para além dos conceitos mentais. É um ensinamento que não se preocupa com a verdade conceitual, pois sabe que a verdade absoluta não pode ser encaixotada em palavras. O modelo deste ensinamento é um gesto apontando em direção a uma verdade além das palavras, dos conceitos, ou de qualquer forma de pensamento organizado. É uma seta que o desperta para a pura subjetividade do Ser. O ensinamento é um conceito que aponta para além dos conceitos. Esta mensagem é uma visão inédita a respeito da natureza do homem e do universo, enfocando especialmente a unidade da existência como um todo. Os conceitos deste ensinamento têm inúmeros efeitos. Na maioria das vezes, trazem uma compreensão que desperta mais leveza e relaxamento no viver cotidiano, descortinando mais discernimento e lucidez em relação à nossa natureza mais profunda, e nos libertando de crenças e pensamentos que limitam a nossa capacidade natural para sermos felizes aqui-agora. A maioria dos livros sobre o tema “meditação” costuma dar ênfase aos processos mentais de visualização, posturas, respiração, esforço e disciplina, através de centenas de exercícios e técnicas. O diferencial que desejei abordar aqui neste livro é que, independente dessas práticas, podemos paralelamente aprender a discernir e compreender algumas sutis nuances da mente e da busca espiritual, o que ajuda imensamente a dar um sentido de que o que procuramos está o tempo inteiro aqui, e que uma busca sem discernimento e transparência pode nos distrair até o final de nossas vidas, na ideia ilusória de uma iluminação no futuro, ou de uma promessa de felicidade que nunca virá. Agradeço de coração a você, leitor, por estar com este livro em mãos, e por me deixar compartilhar um pouco dos meus passos com você.

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A REALIZAÇÃO DO ABSOLUTAMENTE ÓBVIO

A verdadeira devoção é a rendição do ego ao Eu Real.

Ramana MaharsRamana MaharsRamana MaharsRamana Maharshihihihi Este é um convite para desfrutarmos o absolutamente óbvio. Pode ser descrito como a vida vivida na fluidez mansa da energia em movimento, que nos convida a participar da aventura do “experienciar”, a aventura do viver, a misteriosa jornada da expressão divina do miraculoso. A realização do absolutamente óbvio revela o que é em realidade a busca do ser humano por felicidade ou iluminação, como um processo natural da “parte” buscando novamente o “Todo”. A realização do óbvio é perceber a vida com a clareza do coração, que é onde se reflete o Eu Real no ser humano. Este é o convite de Ramana Maharshi, o grande sábio iluminado hindu. Investigar a natureza daquilo que chamamos de nosso “ego” através da pergunta “Quem Sou Eu?”. O Eu Real, para Ramana, é aproximadamente o que o chamamos de Deus. Ramana falava a seus discípulos sobre Advaita – o ensinamento da não-dualidade. Esta visão de sabedoria postula que existe apenas a Pura Potencialidade, Deus, o Absoluto. Todo o cosmos se compreende dentro do Absoluto, e não possui realidade independente deste Absoluto, que, por conseguinte, é eternamente não-manifesto, uno, permanente e jamais sujeito a mudanças. Este ensinamento fala do mundo como o exemplo do sonho de um homem, que não existe separado deste homem que sonha. O mundo, a vida, as pessoas, fazem parte da criação sonhadora do Divino. Isto quer dizer que o Absoluto é a essência de tudo e de todos os seres. Desse modo, quando procuramos o Eu verdadeiro pela autoinvestigação “Quem Sou Eu?”, revela-se, então, aquilo que é a origem do homem: o Absoluto, a Suprema Divindade, Deus.

o amanhã O primeiro passo essencial a compreender é percebermos que o “tempo” sempre adia nossa felicidade para amanhã. Mas será mesmo que a felicidade pode ser encontrada no futuro? Toda a nossa busca por felicidade pressupõe tempo, e o tempo nos lança ao futuro. Se a vida se manifesta sempre no presente, e sintonizar-se com a vida é praticamente alinhar-se com a realidade, como podemos precisar de tempo para uma sintonia com esta realidade que já está aqui/agora acontecendo neste momento? O que realmente parece deslocar a minha conexão com este momento de vida, que é o único momento que tenho agora, é justamente o adiamento, a promessa futura, a imaginação de que algo precisa acontecer para que eu possa ser perfeito, completo ou

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iluminado. São imposições mentais muito sutis às vezes, mas elas impedem a realização do óbvio. Elas são crenças aprendidas que nos iludem de que a felicidade prometida será encontrada no amanhã, ou na sua próxima aquisição pessoal. A vida está aqui, pronta para ser amada e vivida, em inocência, em pureza e transparência, mas parece que algo está impedindo. O que será? Pergunte-se o que acontece neste momento, quando você abandona as expectativas sobre o amanhã. Indague-se agora sobre o que resta em você quando desejos, metas, controle, julgamentos, análise, interpretação, ficam suspensos no ar por um instante e você pode permanecer quieto, presente, neste momento? Verifique por si mesmo o que acontece. Você se vê num silêncio completo junto da realidade que o cerca, não? Pois quem é este você que percebe este silêncio? Neste silêncio ainda há você percebendo o silêncio. Quem é você que está consciente deste momento, quando você está presente e sem pensamentos a respeito de nada?

a consciência que você é O que é que percebe os pensamentos? Existe uma atenção que permanece mesmo que os pensamentos se ausentem ou mudem. O que é esta atenção? Fiquemos aqui, lendo estas palavras agora, mas notando uma coisa: existe algo que está atento às palavras. O que é esta atenção? O que é esta consciência? Dê-se conta desta atenção que você é. Dê-se conta de que ela está em qualquer coisa que você vê, cheira, toca, sente, ouve, prova. Mente é um processo de pensamentos que acontecem na consciência. Catalogar, analisar, interpretar, julgar, definir – tudo isso é mente. Ela é um mecanismo importantíssimo em nossas vidas. Mas quando você está interpretando, analisando, catalogando, quem observa isso? Não existe uma atenção imóvel no momento em que você está analisando algo? Pare um pouco e veja. A análise é feita pela mente, mas como estou sabendo que a mente analisa? Um computador faz suas operações. Como sabemos que o computador está operando? Nós sabemos porque existe “alguém consciente”. Afinal, existe consciência (você) por trás do computador. O computador não sabe que ele está operando (ele é só um objeto, desprovido de consciência). Quando a mente está operando, existe uma consciência que nota isto. Esta consciência chamaremos de Eu Real, consciência que observa; aquilo que você é em essência e que está sempre estável porque isto É VOCÊ. Você é um observador puro, intocado, imaculado, observando as experiências do corpo/mente. A natureza desse observador puro é interessante: se você examinar esta consciência em meditação, fechando os olhos e ficando quieto, perceberá que ela em Si é uma tranquilidade, uma quietude, uma paz além do pensamento. Esta é a natureza da consciência: quietude e paz. Mesmo que tenha pensamento, esta consciência é maior que o pensamento. Esta consciência permeia tudo. Pensamento acontece e desacontece nessa consciência que você é. O ponto chave é que se você passa a se centrar nessa consciência que você é, o corpo e a mente ficam diferentes, e são percebidos com uma energia mais leve, mais pura, mais

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alegre, mais criativa, mais ordenada. O ponto é aprender a reconhecer o que você é a cada instante. Ou seja, o poder divino está o tempo inteiro em você, como consciência, se manifestando no exterior como as coisas que essa consciência vê! E tudo é divino. Se você puder fazer esta prática espiritual de olhar tudo a sua volta como parte da energia divina, você entrará em sintonia com a Fonte da Vida. Um pensamento acontece a você, e você (consciência), nota que ele surge e desaparece depois. Um pensamento pode notar alguma coisa? Não! Os pensamentos são notados! Eles não podem notar! Quem nota os pensamentos? VOCÊ. Consciência. E de onde eles vieram? De você! Consciência é tudo que existe. Muitas vezes, precisamos de uma delicada investigação silenciosa para perceber o que estamos apontando aqui, e por isso a meditação é tão importante. A meditação lhe dá a clareza e a experiência direta e viva de tudo que está sendo dito aqui. Ela existe para você parar e ver mais facilmente quem você é, antes, durante e depois dos pensamentos. E você é silêncio e paz, antes, durante e depois dos pensamentos! Sua mente pode estar cheia de pensamentos, mas se você está centrado no espaço que você é, que não é um pensamento, então você se sente como um ser silencioso. Portanto, seu acordar vai despertá-lo para a paz que você é em essência neste momento, não importando com os problemas que seu corpo ou mente estejam envolvidos. Isto é pura liberdade! De fato, acontece uma linda aceitação do seu corpo e de sua mente como eles são Agora! Este eu puro que observa é um vazio consciente. É um sentimento de vida, um sentimento de existência, uma Presença Oculta. É a sua sensação de EU SOU. E isto não surge do corpo e nem da mente. A sensação de existir é decorrência direta da consciência que você é em essência. Esta consciência observadora não contém conflitos, divisões, nem dualidade, nem opostos, sendo simplesmente um reflexo da mais pura existência, do milagre da vida acontecendo num corpo humano. E é isto que precisamos amar para que possamos ir para o mundo sem nos perdermos nos pensamentos e emoções aflitivas. Não há nenhum problema com o que você aprendeu com o mundo, nenhum problema com os pensamentos ou emoções, pois isto tudo é belo, é um lindo aprendizado da escola terra para criar você como uma pessoa. Mas na identificação cega com os pensamentos, no momento em que você (consciência que observa) esquece sua pureza natural, e se mistura com a energia do corpo/mente, sofrerá todas as consequências de suas circunstâncias no mundo. Então, se seu corpo sofre, você sofrerá. Se a sua mente sofre, você sofrerá. É o mesmo que dizer que, se seu carro estraga, você estraga junto. Mas você não é o carro! É como dizer que, se seu amigo está em depressão, você entra em depressão junto. Mas você não é o seu amigo!!! O corpo sente. A consciência identificada ou mente, pensa. Porém, VOCÊ é uma testemunha desses fenômenos físicos e mentais. O corpo e a mente estão envolvidos em condicionamentos passados, misturados no mundo dos gens, da educação, do karma. Ao invés de procurar um corpo e uma mente perfeitos, olhe e centre-se no que já é perfeito neste exato momento. Este é o convite de todos os mestres iluminados. Centre-

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se no que já é iluminado por natureza. Aquiete-se em sua morada natural pela meditação e autoinvestigação. Não busque perfeição no corpo e na mente. Faça o básico para que possa desfrutá-los, mas mantenha seu foco principal naquilo que você realmente é, naquilo que não mudou desde que você era criança, adolescente, e depois adulto. O corpo e sua mente mudaram, mas você não mudou. A consciência que você é lhe dá esta verdade. Você sabe que você ainda é o mesmo. Você sabe disso. A consciência pura não muda. Ela observa as mudanças, mas não participa delas.

quem está sofrendo? Devemos sempre lembrar que a mente é também consciência, mas consciência identificada com o corpo/mente. Nessa identificação nasce a ideia “eu estou identificado”, “eu estou sofrendo”, “eu estou com problemas”. Mas quem está identificado? No momento que você faz essa pergunta, é possível notar que há uma consciência que observa ainda atrás deste pensamento “eu estou identificado”, portanto não pode haver dois “eus”. Só pode haver um Eu Real. Alguma outra coisa está se passando por um “eu”, algum impostor. E isso que se passa por um “eu” nós chamamos de ego (um conjunto de pensamentos identificados com uma imagem de si mesmo). Não há ninguém identificado quando você olha desse jeito, porque quem olha é você, e você não é uma imagem, e pensar que você está identificado com imagens é apenas mais um pensamento! . O ego é o impostor - a mente pensando. Mente é a identificação da consciência com os pensamentos, que ocorre naturalmente em todos os seres humanos devido ao nascimento do corpo e o envolvimento da consciência pura com o corpo. A mente é identificada, por natureza. O corpo é também sujeito a apegos, naturalmente. Tudo isso é natural para que a pessoa humana exista. Mas, quem observa os apegos do corpo e da mente? Você. Quando você faz a pergunta “Quem sou eu?” ou “Quem está identificado?”, abre-se um espaço de clareza para você perceber o óbvio. Você não está identificado. Tudo era fruto de um pensamento, criando um pseudo eu (ego) e um suposto sofrimento. Tudo era fruto da ilusão! Você não existe como um fenômeno! Você não existe em nenhum lugar para ser observado! Você simplesmente não existe! E este é o segredo da autoinvestigação. Você não existe em nenhum lugar separado da consciência, e a consciência é sem forma. Ela é tudo que existe, na verdade. Uma das facetas dessa consciência é que ela pode se identificar com pensamentos e criar uma ilusão de que é limitada, finita, e que é uma pessoa. É da natureza da consciência ser assim. Você observa a identificação e o sofrimento. Então você deve estar além do sofrimento! O paradoxo é que você existe como observação, porém você não está no corpo e nem na mente. Imaginar-se sendo a mente faz parte da história da criação da própria mente (pensamentos). É natural. Sim, a mente é uma consciência programada e identificada com pensamentos, mas lembre-se, ela não é você! Este é o ponto chave. Há algo

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observando e tendo consciência dos pensamentos. Este algo é você. Mas este você não pode ser encontrado objetivamente. Portanto, você é no-thing. Você é uma não-coisa. Você não é um objeto. Você é sempre o sujeito. Onde você está? Impossível saber. Quem é este sujeito? Impossível saber. Não há ninguém para saber! A mente quer saber, mas a mente é observada pelo sujeito. E o sujeito não pode ser observado, afinal, ele não é um objeto! A mente faz parte da dança da vida. Parte da manifestação, da brincadeira divina de se tornar um corpo separado. Pensamentos são pensamentos. Sentimentos são sentimentos. Sensações são sensações. Não há nada a fazer para impedir isso! Pois, QUEM faria? Não há nenhum desejo de fazer nada. Qualquer desejo é observado por você. E você é consciência.

o que é sempre estável em você É um esforço inútil buscar felicidade permanente na personalidade. A personalidade é construída pela identificação com certos pensamentos e experiências que tivemos, porém ela não é fixa. Está sempre mudando. E, com a mudança constante de pensamentos, seus gostos, preferências, também mudam – e sempre haverá algo faltando, porque a natureza da personalidade é ausência de estabilidade. Você tem que ir à raiz do problema. Qual a raiz estável de seu ser? A consciência. Centre-se naquilo que é imutável. Muitas vezes, você pensou ser um camaleão, um mutante diário. Todavia, o que está sempre mudando não pode ser você! Você é aquilo que está por trás e que nota a mudança. O que muda é a expressão da mente e do corpo. Você é o estável imutável. Você é a consciência silenciosa. Quando meditamos profundamente, percebemos o que é este silêncio estável. É um silêncio avassalador e maravilhoso. Nos primeiros dias em que este silêncio aconteceu na minha vida, tive realmente a clareza no coração do que se chama Deus. É um silêncio tão delicioso e cheio de amor, que não queremos trocar aquilo por nada, por nenhum tipo de prazer já conhecido. Nada se equipara ao silêncio vivo do ser interior – a consciência, o verdadeiro Ser que você é. Um pequeno vislumbre disso já é o suficiente para mudar totalmente o foco de nossas vidas. Há um sentido de preenchimento que é preciso ser descoberto. E esta completude se faz quando você vislumbra aquilo que já está completo em você, aquilo que não pode ser perdido, aquilo que não é passageiro. Não descanse enquanto não encontrar isto. Deus é algo vivo. Não acredite, descubra! Não creia, veja! A fé não é um simples acreditar, mas uma confiança inabalável que nasce no coração de uma alma pura. Descubra o que é puro em você exatamente agora.

você se torna aquilo com que se identifica Se você depende das circunstâncias externas para ser feliz, então você se torna um escravo do mundo, e a felicidade ficará sempre para o futuro. Você fará de tudo para ser necessário às pessoas, porque, quando você não conhece a si mesmo, você precisa da aprovação delas para ser feliz. Então fará de tudo para ser

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amado, e nesse jogo, o que acontecer fora do seu controle é sentido como sofrimento. A circunstância da vida mudou, você muda junto. Por quê? Porque você se torna as circunstâncias quando está identificado com o mundo. Você se torna o corpo e os pensamentos quando está identificado com corpo e pensamentos. Você se torna um problema quando está identificado com um pensamento-problema. Você se torna a própria raiva quando está identificado com emoções-raiva. Tudo aquilo com que você se identifica, você se torna e vivencia. Qual o segredo? Deixe a mente pensar e o corpo sentir. Mantenha-se intocado. O silêncio interior o manterá puro diante das circunstâncias. Pode ser que seu corpo se envolva. Observe o envolvimento. Pode ser que sua mente se envolva. Testemunhe o envolvimento. Seja sempre você, apesar dos envolvimentos que existem naturalmente pelo condicionamento corpo/mente. Permaneça no silêncio e no centro de seu próprio Ser. É desse modo que se enfraquece a energia do condicionamento que cria sofrimento desnecessário em você.

amor e paz Quando uma pessoa pensa da mesma forma que nós, ficamos felizes. Mas quando ela nos contradiz, há um mal-estar. Quando alguém nos ama, tudo está perfeito e em paz, mas quando a pessoa que nos ama nos deixa, a paz é perdida. A circunstância mudou – tendemos a mudar junto! O fato óbvio é que as coisas do mundo estão em constante mudança. E tendemos a sofrer muito com essas mudanças quando não há contato com uma estabilidade amorosa, que mora no fundo de nós mesmos. A mente é sua expressão, mas não pode ser o seu centro. Porque se ela for o seu centro, a paz do seu verdadeiro centro é ignorada, porque sua atenção estará para fora, nos pensamentos. E amor e paz não vêm de sua mente. Amor e paz vêm do seu centro mais profundo. Amor e paz vêm do seu coração, da sua alma, do seu Eu mais íntimo. Amor e paz são a natureza da consciência pura que você é.

traga sua atenção para você mesmo Pode essa consciência pura sofrer com o mundo? Ela não é em Si mesma vazia de características? Por isso seu nome: consciência pura. Significa: não depende de nenhuma coisa, de nenhuma pessoa, de nenhuma circunstância. É o que é, nunca deixará de ser o que é, nunca deixou de ser o que é, e nunca irá mudar em sua natureza original vazia. Use da autoinvestigação para aprofundar isso no seu dia a dia. Pergunte-se: “Quem Sou Eu?” “Qual a fonte deste eu-pensamento?” “De onde surge este eu-pensamento?” “Para quem estes pensamentos surgem agora?” Comece a meditar e a inquirir, para reconhecer este espaço de silêncio puro.

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Na sua vida diária, não importa onde esteja, procure trazer frequentemente a sua atenção de fora para dentro de Si. A atenção geralmente está interessada nos pensamentos, nos outros, nas histórias e fofocas do mundo. O que fazemos? Trazemos a atenção de volta à sua fonte, que é consciência. Deixamos que ela descanse em sua origem. Quando a atenção repousa em nós mesmos, nossa identificação com o mundo e o corpo se quebram facilmente. Por que razão este milagre acontece? Porque nossa identificação com o mundo acontece pela identificação com os pensamentos! Quando me volto para mim mesmo, os pensamentos perdem a força e são vistos como simplesmente energia/pensamento. Não há mais nenhum problema. E por não dar mais interesse à história, o pensamento se desfaz. Apenas pura inocência permanece. Com a inocência, há um derretimento do ego controlador, e entrega à vida e ao momento acontecem naturalmente, sem esforço.O resultado disso é uma perda no autointeresse e uma abertura maior a tudo que nos cerca. Esta abertura permite-nos expandir nossa percepção da vida, e ver, sentir e pensar de maneira totalmente diferente. Desse modo, estou livre para transitar pelo mundo da forma mais bela possível, da forma mais relaxada e criativa que puder, mais brincalhona e celebrativa. Dessa maneira, é possível viver no mundo sem ser perturbado pelo mundo. Estar no mundo e, ao mesmo tempo, não ser tocado pelo mundo. De uma certa forma, você está livre para brincar no jogo do mundo. Você está livre para viver no mundo - mas de forma lúcida. Apenas aceitando o mundo como ele é, com seus limites, mas permanecendo na visão interna de seu verdadeiro eu estável ilimitado.

autointeresse Observe que, no momento que houver autointeresse num pensamento que surgir, este criará uma história, com direito a exigências e julgamentos – e um mundo particular de pré-requisitos para a sua felicidade. Fique muito quieto e perceba o envolvimento: na quietude algo é revelado. Esta revelação é a presença daquilo que sempre esteve aí, o que sempre está por trás de todos os pensamentos e envolvimentos: Você. Você como consciência espiritual. O corpo pode ser objetivado, quantificado. Pensamentos também podem ser contados, experienciados, vistos, e até provocam reações no corpo. Pensamentos são energias mais sutis que o corpo, mas são energias. Mas, você não é uma energia! Você, em essência, é aquilo que observa todas as energias, o espaço vazio de onde todas as energias surgem e desaparecem. Você não é uma pessoa! Você está, em verdade, além do mundo da forma e da objetivação. Você está mesmo além do observador, onde nada há para observar ou ser observado. Mas, por que falamos do observador, então? Porque você aqui tem a experiência de viver um corpo/mente. E, quando há mente, quando há pensamentos, há também aquilo que observa pensamentos. Como algo pode existir sem um observador?

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*** Quando digo que estou me tornando mais íntimo da consciência, gostaria de saber quem é este que está se tornando mais íntimo, já que eu mesmo sou consciência! O ego não tem poder nenhum, já que ele é só um pensamento. O que poderia se tornar mais consciente e íntimo da consciência? Tudo é consciência! Este encontro é o reconhecimento da verdade que você É. A verdade se reconhecendo como verdade. O amor se reconhecendo como amor! Tudo é Um. Como posso ir além das emoções negativas que sinto, como raiva, ciúme, medo? Experienciando-as diretamente, sem a interferência da mente. Sem analisar, sem interpretar ou julgá-las negativas, mas acolhendo-as pela consciência direta. Tente um dia simplesmente fechar os olhos e não fazer nenhuma história sobre uma emoção negativa que estiver sentindo. Toda emoção negativa, quando olhada diretamente sem interpretação, tende a desaparecer. E toda emoção positiva, quando olhada diretamente da mesma forma, tende a se expandir. Por quê? Porque, em essência, você é pura positividade. A natureza da consciência, da sua alma essencial, é pura positividade além dos opostos bem e mal. Definitivamente só há realmente o Supremo Bem. A consciência apenas revela aquilo que é real.

***

o coração puro Através da inocência de um coração puro, a vida é vista como um milagre. A consciência é sinônimo de inocência. Eis por que as crianças parecem mais felizes. De alguma forma, elas ainda não estão muito identificadas com o mundo. Recém chegaram da pureza, e mantêm mais contato com elas mesmas - consciência pura que são. Elas estão num processo gradativo de se identificarem mais e mais com os pensamentos e o mundo para formarem seus egos, contudo, de alguma forma, permanecem puras. Seu olhar é puro. Seu coração é puro. Esta pureza é a essência da consciência, de todo ser. Você também vai encontrar essa pureza nos cãezinhos, nos gatos, nas árvores, nos passarinhos. Essa pureza é a essência do que, na verdade, somos.

O pensar natural A busca por completude no futuro revela que o óbvio está sendo negligenciado. O que está perto não está sendo visto. O relaxamento está aqui, mas eu não posso encontrá-lo aqui; então, projeto-o no futuro, nos objetivos, nas metas. Digo que amanhã vou amar. Amanhã serei feliz, mas o amanhã não vem. E vamos inventando desculpas e mais desculpas para justificar ainda a ausência de um sentido para a vida neste momento. O amor se derrama no mundo, mas está além do mundo. Nada toca o amor. O amor é a essência mais íntima de sua consciência e é o que dá total preenchimento à vida. O eu

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puro é a mais límpida consciência-amor. E quando falamos em límpida consciência-amor, nos referimos a uma consciência sem nenhum conteúdo, vazia, pura, sem pensamentos, sem ideias, transparente, aberta, sempre fresca, límpida, inteligente, presente e permanente. Quando você reconhece esta consciência de amor como você mesmo, os pensamentos não mais o incomodam. Então o pensar natural acontece. O pensar obsessivo cessa, e dá lugar a um pensar lúcido. Esses momentos de abertura transparente são os instantes da experiência viva. Nós chamamos de momentos sublimes, momentos de amor, momentos de alegria, de lucidez. Por isso, sempre que pensamentos acontecem, eles podem ser vistos como apenas pensamentos, que não perturbam e nem podem jamais manchar a consciência pura que você é. Na vida comum, geralmente confundimos genuínos momentos de alegria com momentos de prazer que surgem quando conquistamos algo. Não há nenhum problema em brincarmos nos jogos do mundo, em conquistas, em ganhos. O mundo foi feito para que possamos nos divertir. Lembre-se que apenas a ignorância de sua verdadeira natureza é a raiz do sofrimento. Quando você está inconsciente da verdade de quem você é, esse divertimento tem um alto preço, e logo o sofrimento estará batendo à sua porta. Porque, quando nossa atenção se perde no mundo e nos pensamentos, ficamos à mercê das circunstâncias, e as circunstâncias MUDAM! Não gostamos disso, mas não percebemos como entramos na armadilha sutil da identificação com o que é passageiro. E, como tentamos manter o que não é possível, sofremos.

o convite sagrado O convite de Osho e de Ramana é mais simples do que parece. Aceite o corpo e a mente como eles são - fenômenos passageiros. Deixe o amor da consciência acolher tudo. E o que são os fenômenos? Sensações, sentimentos, emoções, pensamentos. Deixe que eles existam normalmente, mas comece a se dar conta de que não são você em essência. Você é sempre puro. Esta consciência mental acontece e pode ser observada por você! E você é quem observa! Reconheça os pensamentos como pensamentos. Não há razão para serem inimigos. Não há razão, também, para querer estar sem pensamentos. Pensamentos fazem parte do ornamento da vida. Apenas mude o foco. Você é um pensamento? Ou você é aquilo que permanece observando o pensamento?

*** Não consigo ver a distinção entre o que você está chamando de eu puro, e aquilo que você chama de pensamentos, de mente. Para mim é tudo igual. O que você fez para separar isso e se dar conta de que há esta separação? É muito simples. Tudo que aparece como visível para você é o que é observado. O visível é apenas um reflexo do seu ser real. E tudo que não aparece é o eu puro, o observador. Você não pode ver o observador, porque ele é quem vê. Vá a um espelho e olhe seu reflexo. Você é o reflexo? Não. Da mesma forma, o que você concebe como você, é simplesmente um reflexo do Ser Real, da consciência espiritual que você é. O corpo e a mente são expressões de quem você é. A sua atenção deveria se voltar para o

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sujeito. O sujeito é você! O sujeito é o observador. O sujeito é você, sempre intocado pelo mundo. Mas este sujeito não é uma pessoa. É simplesmente uma consciência impessoal. O amor e o desapego desabrocham quando sua atenção começa a transitar da mente para o coração. O coração sente diretamente a vida. O coração ama. A mente duvida. O coração sempre o guia ao que você precisa. A mente hesita, põe minhocas em sua cabeça, lhe impõe dezenas de condições para ser feliz. Coloque-se do ponto de vista do coração, que é seu Eu puro. Olhe para a vida sem exigências, sem imposições, sem julgamentos. Olhe para a vida com os olhos de criança. Os olhos puros veem apenas pureza. Olhos corrompidos veem corrupção. Os olhos do eu puro são límpidos e frescos. Eles não carregam o ranço da memória, dos anos. Eles estão sempre jovens e presentes. Os olhos do espírito estão sempre límpidos. O que você está vendo no mundo é aquilo que está em sua mente. Se sua mente está pura, se você vê sob o ponto de vista da pureza, tudo está no seu lugar. Assim, quando está em seu centro de amor, todos os pensamentos de que você precisar para viver a vida, virão naturalmente a você, e não lhe causarão nenhum mal. Pensamentos não são o problema quando você vive do ponto de vista do seu eu puro, do seu coração inocente. Pensar é natural e espontâneo, mas a mente e o coração precisam estar alinhados um com o outro. Há alguma prática para desenvolver isto? Posso sugerir a meditação e a autoinvestigação constante. O aquietamento da mente no silêncio é para torná-la mais transparente, mais ordenada, de modo que você possa fazer a autoinvestigação mais facilmente. Sente-se todos os dias para observar de olhos fechados a tela de sua mente. Isto não é concentração, nem análise, nem um tipo particular de terapia energética. É apenas sentar e observar sua mente como você observa um filme. Relaxe e aquiete o corpo, e observe. No começo notará que há um fluxo grande de pensamentos acontecendo. Deixe-os acontecer. Respire fundo algumas vezes. Perceba que há uma atenção observando. Se pergunte: “Para quem isto está acontecendo?”. E assim, quando nota que é para você, a testemunha de tudo, fique nesse centro que é você. Existe sempre uma atenção observadora notando o fluxo de imagens e pensamentos. Importante: não interfira, não analise, não interprete, não faça nada com os pensamentos. Deixe-os ir e vir. Não toque nos pensamentos – apenas perceba o fluxo com esta atenção consciente relaxada. Quando se perder no fluxo, retorne ao centro fazendo de novo a pergunta: “Quem observa isso tudo?”. Mantenha-se quieto. Sou um grande entusiasta da meditação do testemunho. Osho está muito certo nesse ponto: as técnicas não o levam ao definitivo despertar, mas apenas ouvir sobre o definitivo também não o levará. As duas coisas precisam ser combinadas. “Sentar em silêncio”, em última instância, é percepção, entendimento da vida, compreensão e sabedoria. Contudo, na minha experiência, há muitas brechas que precisam ser preenchidas na mente da maioria de nós para que possamos despertar para este silêncio interior. No mundo moderno, o fluxo incessante e confuso dos pensamentos impedirão que o verdadeiro ensinamento seja percebido com clareza num primeiro momento. No meu entendimento, quando uma pessoa começa o caminho, as técnicas que encaminham ao silêncio interior devem ser aliadas à compreensão e ao entendimento da

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mente. Pratica, mas observa o praticante. Medita, mas observa o meditador. No início é o ego meditando – nenhum problema. Você tem de começar de um certo ponto. A prática preencherá esses espaços e naturalmente vai nascendo em você uma nova percepção. A percepção de que você não é o ego. De que você está além. De que há uma presença maior que envolve seu corpo e sua mente. Essa presença é você! Então, sou a favor das duas coisas. Medite e frequente satsangs. Com o tempo, você vai sentindo um desprendimento maior, você vai notando que não faz mais esforço para testemunhar, você vai percebendo um desapego natural surgindo no seu cotidiano, um amor e uma leveza que não existiam antes. Então, faça técnicas para se sentir mais vitalizado, se quiser. O sábio Krishnamurti praticou yoga a vida inteira. Ele não praticava yoga para se iluminar. Ele nunca ensinou yoga. Ele já era iluminado! Mas ele amava o yoga porque deixava seu corpo energizado, vitalizado e leve. Nisargadatta Maharaj praticava três vezes por dia bahjans, que são canções devocionais ao divino. E ele não ensinava devoção. Ele era um Jnani, ensinava apenas o caminho do conhecimento. Por que fazia bahjans? Porque amava. Porque sentia este desejo de cantar que vinha do seu coração. Porque aprendeu isto com seu mestre e nunca mais deixou de fazer. Um homem acordado está livre. Ele segue espontaneamente o seu coração. Quando você já sabe quem você é e vive esta verdade, você vai além da lógica. Você está livre! Você pode continuar praticando as técnicas. Elas são muito boas para a saúde. Sinta o que é bom para você. Ouça seu coração sussurrar seu caminho a cada passo. Mas, no início, a minha sugestão é praticar e, ao mesmo tempo, ouvir os ensinamentos dos sábios, de pessoas que já assimilaram a sabedoria e a compreensão do caminho. E, veja bem, é apenas uma sugestão, e não uma verdade absoluta. Há pessoas que estão quase prontas para o salto, que apenas ouvindo sobre a natureza da mente e da iluminação acordam para o divino, sem praticar nada formal. Mas essas pessoas são raras. São exceção. Nem mesmo vale a pena citá-las. Vá passo a passo, pacientemente. Você já é divino! Apenas vá reconhecendo isso aos poucos. Com o tempo, de qualquer maneira, viver no amor e na aceitação vai se tornando gradativamente como a sua respiração, natural e espontânea. Mas, certamente, durante a meditação, virá um pensamento que vai querer julgar e analisar. Neste caso, o que faço? Ah, sim, pensamentos de julgamento acontecem. Pensamentos de tristeza, de comparação, desejos disso e daquilo, pensamentos do passado, de futuro. Sim, pensamentos acontecerão. Mas lembre-se de perguntar: “Quem está observando esses pensamentos? A quem isso está ocorrendo?”. No momento que você pergunta isso, você vai para o centro novamente. Você cai em si mesmo de novo, e o sonho da mente é cortado. Afinal, quem é que fica? A atenção que observa. Isto! Então centre-se nessa atenção que observa. Não interfira. Não toque em qualquer pensamento. Mantenha-se no centro. Qualquer interferência nos pensamentos e você

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estará mexendo com uma colmeia de abelhas. O que acontece? Cada pensamento que você toca e quer controlar, criará mais dez pensamentos. Haverá cada vez mais tumulto. Então: não interfira, não faça nada. A mente é como uma colmeia, então, não toque nela. Não mexa ali. Permaneça vazio. Permaneça sem esforço, na observação. Com o tempo, você vai perceber que não há nenhum esforço para ser você mesmo. O eu que você realmente é não lhe dá trabalho. É pura paz. Apenas permaneça quieto e certifique-se disso por você mesmo. A minha mente vai parar? Veja agora quem é você. Eu sou um observador. Se você é o observador, quem está preocupado com a mente? Hum. Você quer dizer que é a mente que se preocupa? Quem mais poderia? Veja por si mesmo! Sendo um observador silencioso, há realmente algum problema em você? Quando você está em seu centro, há algum tumulto? Não, mas eu me identifico facilmente ... Calma aí. Fique em você. Não toque na colmeia. Desse ponto de vista do silêncio, me diga: quem se identifica? “Eu” me identifico. Este “eu” é só um pensamento. Uma ideia. Quem observa esta ideia? Quem observa o pensamento “Eu me identifico”? Hum? Permaneça em silêncio. No silêncio, sem dizer nada, sem querer nada, sem interpretar, sem analisar. Quem se identifica? Não há mais identificação! Isso mesmo! Permaneça nisso. Por que criar tanta confusão, não é mesmo? Verdade. Sendo esta atenção pura agora, não há mais nada a fazer. Tudo que acontece é parte do funcionamento da vida no seu todo. Quem vai interferir? Este é o caminho da entrega. Você percebe que o ego é só um pensamento, e então entrega a ideia de controle. Sem o controlador, não pode haver mais ego. E, sem ego, não há luta. Entrega acontece espontaneamente. Então, o que você entregou? A ideia de controle!

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Não é maravilhoso perceber que tudo acontece de acordo como tem de acontecer, e que você não pode perder nada que seja significativo? Tudo que você pode perder não é você que perde. É só uma ideia de “perda” criada pela mente. Nada foi perdido. A vida está como sempre esteve. Na mente há apenas pensamentos de ganho e pensamentos de perda. O amor que você pode viver e ser está intacto. Não imponha regras ou exigências. O amor é livre e infinito. O amor é o perfume que exala de uma alma lúcida. O essencial nunca é perdido. Você sempre tem para dar, e quanto mais dá, mais nota que tem. O não-essencial é perdido para que o jogo da vida possa existir. O essencial é sempre seu, pois faz parte do seu ser. Viva no mundo, mas não leve o mundo a sério. Não há nada de sério no mundo. É um sonho. Um circo. Tome-o de forma relaxada. Aprenda a conhecer seus picos e vales. O mundo existe para você acordar para si mesmo. Então, nunca deixe de reconhecer o que está sempre estável em você. Deus é esta estabilidade que ama cuidar. Cuide de você mesmo. Invoque Deus. Deus é sua interioridade profunda. É desse modo que posso viver melhor num mundo instável? Exato. O mundo nos toca porque não estamos ancorados na estabilidade do coração puro e divino. Na instabilidade da mente, dos pensamentos, o mundo é realmente infernal. Entretanto, do ponto de vista do seu centro real, do seu coração estável, no descobrimento disso que você é em essência, as circunstâncias do mundo deixam de lhe causar tumulto, e mais e mais a paz é convidada. Viver no mundo a partir dessa paz é realmente delicioso. Isto é viver em Deus.

*** Qual o propósito dos mestres ao dizerem para irmos além do ego? Ir além do ego é ver que o ego não é você. Quando você tem a clareza, você já está livre. E tudo está perfeito. Quando se percebe que a cobra é uma corda, então não mais procuramos matar a cobra. Relaxamos na verdade. É só isso. Quando notar a irrealidade do ego pela autoinvestigação constante, regular, diária, então tudo que é verdadeiro é revelado. Tudo que é falso é visto como falso. E a verdade tem efeito relaxante e revitalizador. Isto é viver o divino a cada momento.

*** Por que existe este postulado de que “todos somos um”? O que quer dizer isto? Ainda não consigo ver a importância e a veracidade desta frase. “Todos Somos Um” é uma indicação de que não existe separação na criação divina. Tudo que você vê, incluindo seu corpo, sua mente, existe em interligação com tudo o mais no universo, como uma gigantesca teia de energia. Nada depende só de você. Este é o primeiro ponto.

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Vamos dar um exemplo: Quando eu olho para uma pessoa, eu sinto que “eu” estou olhando para aquela pessoa. Então digo que “eu” sou o sujeito. Certo? E a pessoa é o objeto que estou olhando. Em resumo: tudo aquilo que não sou eu, posso chamar de um objeto que está sendo visto por mim. Ok? Bem, então eu concluo que “eu” sou o sujeito, e “você” é o objeto. Parecem coisas separadas, não? É natural que eu pense que são coisas separadas. Eu estou aqui, você está aí. Eu estou olhando, você está sendo olhado. Coisas separadas. Parece óbvio. Agora vamos olhar mais de perto ... Se eu digo que “eu” estou olhando, então, quem sou “eu”? É o corpo que está olhando ou é a mente que está olhando? É possível que você diga que é a mente que está olhando. Talvez você note que o corpo não pode olhar sem o auxílio de uma mente. Muito bem. Agora vamos adiante ... Se é a mente que está olhando, o que é a mente? Você já reparou que a mente é um processo de pensamentos que aparecem para você? Você já deve ter percebido que você tem uma experiência da mente pelos pensamentos que tem, tanto que você diz que a mente existe, e não tem nenhuma dúvida quanto a isso. Mas quando eu olho para você, é um pensamento que olha? Um pensamento pode olhar? Quando eu ouço os pássaros é um pensamento que escuta? Quando eu sinto o toque de sua mão na minha, é um pensamento que sente o toque? Um pensamento tem consciência? Ou sou Eu que tenho consciência do pensamento? O que é que olha para você? O que é que escuta? O que é que sente? A consciência do pensamento não é anterior ao pensamento? Em sono profundo, você não está pensando, mas você acorda de manhã e diz que dormiu muito bem, que foi maravilhoso o seu sono. Algo estava ali que permaneceu consciente do sono, mesmo sem pensamentos. Este algo chamo de consciência. O Eu Real. Quando você está totalmente presente em alguma atividade, jogando futebol, dando uma aula, transando, plantando no jardim, fazendo uma comida, você está tão atento à atividade que não pensa. Mas o que permanece? Este algo que permanece chamo de consciência. Então, parece haver consciência além e anterior ao pensamento, anterior à mente. Parece haver uma consciência que percebe os pensamentos, os sentimentos, as sensações. Durante o sexo, quando você está próximo ao orgasmo, ou mesmo durante o orgasmo, o que surge é uma sensação maravilhosa de prazer percorrendo o corpo. Você não pensa no prazer, você testemunha o prazer do corpo. O prazer aparece para quem? Para a consciência que você é. Você usa a mente e pensa no prazer que sentiu “depois” que ele passou. Mas quando o prazer estava ali, no momento do prazer do orgasmo, não existia mente/pensamento, apenas a consciência do prazer orgásmico, da sensação prazerosa.

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É a consciência que está, no momento, testemunhando prazer. Os sábios dizem que, neste momento do sexo, há uma meditação espontânea. Por isso este momento é buscado com tanto fervor. É um instante em que você desaparece como um eu tenso, e não está separado do prazer que surge. Logo, quem é o separador? O pensamento. Pensamentos não testemunham. Pensamentos e sensações são testemunhados. Ali, no momento mágico do prazer, não havia pensamentos! Sensações então foram testemunhadas pela consciência. Mas, quando você pensa, já passou. O pensamento não pode pensar em algo presente. Não há tempo. O pensamento surge depois da experiência direta da consciência. Provo de uma comida saborosa. No momento em que a comida chega à minha boca, há um momento direto de prazer sem pensamento. Rápida e instantaneamente, a mente organiza o pensamento “Que delícia esta comida”. No presente do experienciar, não há pensamento! Os neurologistas afirmam exatamente isto. Todo pensamento chega milésimos de segundo no cérebro depois da experiência presente, ou seja, da consciência do experienciar. Primeiro ocorre a experiência, depois o pensamento a rotula. Experienciar é no momento, e Deus é a vida que acontece no momento. Experiência já é passado e faz parte do mundo mental. Vamos dizer de outra forma: há uma consciência que é, na verdade, a fonte do experienciar da vida que está exatamente agora. Ela é, de fato, o que somos em essência. A mente não é consciência. Mente é pensamentos congelados no arquivo da memória. A mente é consciência congelada, rigidez em forma de vida! Fluidez é consciência! Por que se dar conta disso é tão importante para as nossas vidas? Porque a razão de tanto afastamento do amor e da paz se deve ao fato de que estamos totalmente inconscientes da consciência viva. Estamos identificados com pensamentos mortos da memória, e vivemos do passado ou do futuro. A vida, como ela é, não pode ser sentida dessa forma. Por quê? Porque a vida não conhece o passado. Ela só conhece o Agora! A mente é uma ferramenta fantástica – mas uma ferramenta, não uma mestra. Um pensamento é um conceito fabricado pela experiência. Desde que você saiba o lugar de sua mente como sua serva, tudo está em perfeita ordem. A mente não precisa desaparecer, os pensamentos não podem atormentá-lo se você habita o seu centro real. Pensamentos são ornamentos no céu da consciência. Eles são como nuvens surgindo e desaparecendo. Quem você realmente é não é afetado pelos pensamentos. Este é o ponto. O céu não é afetado pelos aviões que passam. O céu não pode ser afetado pelas nuvens. Relaxe, você é como o céu. Os pensamentos me afetam. Como sair disso? Os pensamentos não afetam diretamente você. Eles afetam o corpo. Eles afetam a mente. Você diz que eles afetam você porque você está identificado e envolvido com o seu organismo. A quem os pensamentos afetam? Não existe nenhum “eu” para ser

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afetado, porque seu eu real é consciência e não a mente (pensamentos). O único EU que realmente existe é consciência. Mas consciência não é afetada por nada. Ela é vazia, sem conteúdo, sem programações, não tem nada, nenhum pensamento nela, não quer chegar a nenhum lugar, não tem opinião, não possui direção ou mandamentos. Quem pode ser afetado pelos pensamentos então? Alguma coisa. Eu não sei então o que é, mas algo é afetado. Eu sinto. Pode ser o ego? Consciência se identifica e imagina ser um “eu/ego”. Nesta imaginação ela esquece de sua natureza vazia e liberta, e assume uma identidade dentro da sua mente, através de alguns pensamentos. O ego que se sente afetado pelos pensamentos nada mais é que um pensamento. Mas é um pensamento que se tornou muito vivo pela identificação da consciência com ele. Se você investiga, esta identificação se quebra ou enfraquece. Este é o poder da autoinvestigação que Ramana propõe. Pergunte-se “quem está sofrendo com esses pensamentos?”, e descubra que tudo é um jogo mental. Quando você está dentro da mente, você se assume como mente. Quando você percebe que sempre está fora da mente, se assume como consciência, e usa a mente como uma ferramenta objetiva, quando precisar. Consciência é o divino em ação. Existe diferença entre dor e sofrimento? Existe. Dor é uma sensação, tem relação com seu corpo. Sofrimento é mental. Para haver sofrimento é preciso haver uma história, um personagem que sofre e um cenário onde este personagem experimentou o sofrimento e o porquê disso. Dor é natural. Sofrimento é relativo à identificação com sentimentos e pensamentos, e ao quanto você está perdendo com isso que aconteceu. Se você está aprendendo a se enraizar na sua verdadeira natureza, o sofrimento deve diminuir, pelo fato de que você faz menos histórias sobre si, tem menos exigências, e aceita com mais facilidade o modo como a vida é. Na investigação direta, sempre é possível olhar com mais profundidade a natureza do sofredor, o ego, para vislumbrar qual a fantasia que estamos tecendo, que está nos colocando em ilusão. Sofrimento é a ilusão do ego. Sabendo disso, devemos cada vez mais procurar nos estabelecer no espaço divino que está além de todo sofrimento humano, a consciência, de modo que possamos entregar todo o sofrimento, reconhecendo a história do começo ao fim, e relaxando no presente, renovados, mais sábios, mais amorosos. O sofrimento sempre é um convite para nos aproximar mais de nossa natureza sagrada.

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claro ver & consciência direta Assim como entre duas notas musicais há silêncio, da mesma forma entre dois pensamentos há quietude. E no silêncio, quem é você? O que é isto que está sem pensamentos e ao mesmo tempo silencioso em você? Talvez você tenha dificuldade de comprender agora, pois pode ser que nunca tenha se perguntado isso, mas toda a meditação e yoga têm apenas esta função: lhe mostrar que você é uma consciência pura, com ou sem pensamentos.

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A consciência pura é realmente o grande mistério maravilhoso da existência. Você está vendo estas palavras por causa desta consciência. Ela vê em seus olhos. Quando pensa, o pensar é feito pela memória, mas aquilo que vê, a visão que você tem da vida agora mesmo, não é vista por um pensamento. Um pensamento não vê. Ele é apenas um rótulo para comunicar o que vemos. Pensamentos são veículos de comunicação. O que vê? Nada menos do que uma pura consciência, que é inegável para você neste exato momento. Isto é o claro ver! Isto é o óbvio que está diante de nossos olhos! Tudo em verdade é tão incrível e mágico, que a mente fica de boca aberta ao ouvir tudo isso. Por que em verdade, tudo aquilo que rotulamos ser a realidade neste momento é apenas uma opinião momentânea dada pela mente, e jamais podemos reduzir a realidade a isto. A realidade permanece sempre um mistério. A sua personalidade é a cor e a tonalidade singular e individual da consciência. Não há nenhum problema com os pensamentos ou a personalidade, afinal, o fato de a consciência poder expressar-se em tantas formas mostra a suprema riqueza e a esplendorosa natureza deste mistério infinito. Viver a verdade do que você é legitima a beleza de sua unicidade no mundo e dá uma expansão na sua identidade, que não se baseia mais no ego para sustentar-se, e sim na consciência imediata. Afinal nenhum pensamento pode lhe dar o que a consciência imediata pode. A consciência imediata está além e é anterior a qualquer definição mental. E o mais fantástico disso tudo é que a percepção imediata e direta da consciência lhe dá uma experiência do que você é essencialmente: silêncio, paz, quietude, aconchego, tranquilidade, inteligência, verdade, beleza. Podemos apreciar isto que somos quando sentamos num banco de uma praça, quando vamos tomar nosso chimarrão, no intervalo de um lanche, na apreciação de uma caminhada num dia de céu azul, numa roda de amigos queridos, no mergulho no rio ou no mar, em que nada precisamos fazer, em que nada precisamos controlar, a não ser celebrar o momento como ele é. Você está disposto a parar de contar histórias sobre sua vida ou a vida dos outros e começar a viver realmente? Observe que no “presente” não há histórias! Esteja disponível a abandonar o apego a suas histórias do passado e se libertará de toda a limitação mais facilmente. Boas histórias ou más histórias. Páre e observe o que você é exatamente agora, sem histórias. Use uma personalidade, mas não seja uma personalidade! A maravilha da vida está por todos os cantos, e vem nos convidar para o seu banquete de amor a cada momento. Você aceita o convite?

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Já pratiquei meditações, contudo parece que não consigo ficar em paz. Algo dentro de mim está sempre em agitação. O que é isso? O que posso fazer?

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O que você está escondendo? Existe algo em seus bolsos que você está escondendo e não quer ver. Esvazie os bolsos. Largue todas as fichas. O que há em você em relação a tentativas de manipular a vida? O que você está esperando que aconteça? Existe algo em sua mente? Uma espera? Alguma exigência? Alguma cobrança? Algo aconteceu que você não queria que acontecesse? Algo não aconteceu que você queria que acontecesse? Pergunte-se: “O que eu quero de verdade?” A resposta virá. Você quer ser livre mesmo? Você quer mesmo mudar sua vida? Então faz parte disso observar com clareza o que tem ainda nos bolsos, o que está escondendo de você mesmo por medo de não conseguir enfrentar e olhar. Seja honesto com isso. Você tem que jogar com a verdade. Você tem que ser transparente para consigo mesmo. Olhe para dentro de sua mente e reconheça tudo que ela está falando. Não jogue nada para baixo do tapete. Algo ali, neste saco chamado de mente, algo ali está se debatendo. O que é? Descubra isso e comece a ser honesto. Quando fizer a investigação sozinho em sua casa, pergunte: “Do que estou tentando escapar?”. E reconheça o que vier em forma de pensamentos e sentimentos. Isso pode ajudar muito você a ir soltando as amarras. A partir de então, a vida vai lhe dizer através do seu coração, o que fazer com isso. Sinto que esse é um caminho de entrega absoluta. É isso mesmo? A entrega é o ponto central deste ensinamento? Sim. A entrega é o ponto central de todos os ensinamentos espirituais. Mas entrega a quê? E o que vai se entregar? Bem, você poderia dizer entrega a Deus, ao Infinito, à Consciência Universal. E quem se entrega? O desejo de controle, o julgador, o pseudo-controlador da vida – o ego. Se você puder se entregar imediatamente a isso que é maior que você e que guia seus passos a todo instante, não hesite. Entregue-se! Mas em nossos tempos há muita falta de fé e confiança. Vivemos tempos em que as pessoas estão mais centradas na mente do que no coração. A fé precisa de um coração aberto. Por este motivo, este ensinamento vai gradualmente lhe mostrando que você não tem saída a não ser se entregar à vida. Assim, você pode ir percebendo isto, e aos poucos afrouxando os limites do que você chama de ego, e relaxando o controle. Há pessoas que têm uma capacidade maior para esta entrega. Todos somos diferentes. E cada um tem o seu tempo para amadurecer. Tudo que estamos falando é para que sua mente compreenda seu lugar e deixe espaço para seu coração viver. O caminho de compreensão se chama Jnana Yoga, a via do conhecimento espiritual. Existe uma outra via: a Bhakti Yoga, o caminho da devoção e da entrega. Existe ainda o caminho da meditação, da prática de centrar a mente e o corpo. Este ensinamento mistura essas três vertentes. O amor e o conhecimento são as vias diretas para a conexão com o cosmos. O amor sem conhecimento é cego. O conhecimento sem amor é frio, sem vida. Deixe a sua vida ser uma harmonia entre os dois. Uma dança entre os dois. Amor e conhecimento espiritual. As meditações abrem seu coração e ampliam sua experiência do silêncio interior. O conhecimento lhe dá a compreensão de quem você é em essência. O amor convida você a compartilhar no mundo tudo aquilo que recebe. Meditando, compreendendo e amando, aos poucos você vai sentindo uma liberdade que não tem palavras, uma graça e

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um brilho que transborda de seus olhos, e uma vontade de viver e compartilhar que ilumina a todos que passam por você. De onde vêm os pensamentos? Depende. Quando há sintonia com sua essência, os pensamentos são expressões diretas da consciência no momento presente. Mas quando não há sintonia, os pensamentos são frutos da mente, da memória, ou seja, de uma sub-consciência, adulterada e envolvida com o passado e o futuro. Viver o que você é lhe permite pensar ordenadamente. Todo pensar que vem do amor e da sintonia com sua essência é perfeito, sem conflito, límpido e transparente. Entretanto todo pensar que vem da briga, da luta com a vida, da não-aceitação de você, da negação de sua vida natural, do envolvimento com expectativas e julgamento de como as coisas deveriam ser, é um pensar que traz sofrimento e ilusão. A suprema verdade é: todo pensamento nasce na consciência, e desaparece na consciência. Nasce do vazio e morre no vazio. Como elétrons que aparecem desaparecem no nada, e os cientistas ficam perplexos com o movimento inesperado deles. Portanto, apenas veja e silencie. A sua quietude é suficiente para que você possa perceber o amor que sempre o espera. O ponto é: ame a Si mesmo. E quem é você mesmo? Pura divindade que transcende os pensamentos! Amar a Si mesmo e amar a Deus não faz nenhuma diferença, desde que você saiba que você mesmo não é nem seu corpo nem sua mente. A consciência que você É, é luz, e está o tempo inteiro brilhando em si mesma, como a chama de uma vela. É o envolvimento com o falso, o hábito de se considerar um separado ego, que o mantém afastado da sua beleza e radiância naturais. Amar você mesmo lhe permite amar toda a existência como pura divindade. Procure ver a todos como deuses e a você mesmo como pura divindade. É uma belíssima prática espiritual. Envolva-se com a verdade de que tudo que existe é luz. Por trás do véu da ilusão, a luz divina protege e abençoa a todos que reconhecem essa verdade. Este é o significado de amar a Deus: O simples ato de ver a si mesmo em todos e em tudo. Tudo que eu fizer faço a mim mesmo. Tudo que existe é um reflexo de mim. Em essência, eu estou em todas as coisas que vejo.

*** E quando temos uma escolha a fazer? Quando estamos em um dilema e não sabemos o que escolher ou qual será o caminho certo? Como este ensinamento pode me ajudar nisso? O discernimento vem da consciência que você é. A dúvida vem do envolvimento com a mente, que são pensamentos desvinculados do agora, pensamentos antigos, que contêm medo, insegurança, confusão. Lucidez é a habilidade de ser Luz. Luz é a natureza real

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de tudo. Luz é consciência pura. Mente é uma consciência impura, uma consciência identificada com pensamentos, com matéria. Onde está sua atenção? Voltada para fora ou para dentro? Quando sua atenção se exterioriza, ela vai ao encontro dos objetos, coisas e pessoas no mundo. Quando a atenção aprende a se voltar para dentro, ela vai em direção à consciência silenciosa que você é. Este é todo o segredo da meditação. Meditação é contemplar o silêncio que você é em essência. O corpo e a mente são uma aparência momentânea daquilo que sempre é silencioso e perfeito: você! Quando você (consciência) se envolve com o mundo, com os pensamentos, com os desejos, com as exigências, com as expectativas, isso significa que sua atenção está para fora. A atenção para fora cria um pseudo-ser. Este falso ser chamamos de ego. O ego é você ao contrário. É apenas um reflexo distante do seu Ser real. Como o ego é o “você falso”, nenhuma coisa que o ego busca é verdadeira e preenchedora. Ou seja, a busca do ego é sempre frustrante. O ego busca no mundo um preenchimento, porque o ego em si não é nada, é um falso ser. Como o ego é um fantasma criado quando a atenção se volta para fora e se mistura com o mundo e os pensamentos, ele deseja incessantemente se preencher com alguma coisa externa – pessoas, sexo, poder, prestígio, reconhecimento, aprovação. O ego fará de tudo para manter esta falsa sensação de que conseguiu o que queria. Até que ele percebe que novamente está com fome. E então a caçada recomeça. E tudo isso gera muito sofrimento. Quando a atenção se volta para dentro, ela vai ao encontro do Eu Real, que não é nem o corpo e nem a mente, mas a percepção consciente que observa o corpo e a mente – a consciência. Esta consciência é o divino. Esta consciência nunca está no mundo. Está sempre fora do mundo, sempre intocada pelos pensamentos e emoções negativas do ego. Esta consciência pura que você é está além da mente e do corpo. Como aumentar a percepção disso? Traga a sua atenção frequentemente para Si mesmo. Como você faz isso? Primeiramente sinta seu corpo. Depois disso, quando puder sentir totalmente a temperatura e a sensação energética do corpo, perceba que o corpo está sendo observado por você. Este que observa é consciência. Assim, você está trazendo a atenção de fora para dentro. Se surgir um pensamento, perceba que o pensamento é como uma onda no oceano. Você é o oceano. O pensamento é uma onda. Deixe a onda surgir no oceano e desaparecer logo em seguida. Deixe o pensamento surgir e não dê atenção demasiada a ele. Permaneça dando atenção ao que você é – o observador do pensamento. E não faça nenhuma história com este pensamento, nenhuma análise, nenhuma interpretação. Deixe o pensamento em paz. Não convide, mas também não o rejeite. Dê atenção ao momento presente, ao aqui-agora, ao que é, ao instante. Nesse momento você vai perceber que há uma consciência. Esta consciência é a essência da graça. O que é meditação? Aprender a contemplar a essência, até unir-se a ela totalmente, para então, ser ela mesma. O que acontecerá? Você passará a viver na consciência imediata, e esta consciência imediata é sua pura inteligência, amor, sabedoria e lucidez. Cada vez mais sua intuição estará a pleno, porque tudo funcionará melhor à medida em que você não tem mais a mente criando distorções. Sem a mente, o que você é fica livre para manifestar e expressar-se diretamente. E este é o segredo para escolhas mais acertadas.

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A mente é um arquivo de pensamentos na memória. Se você vive envolvido nela, a fluidez da inteligência natural será distorcida pela sua experiência condicionada do passado. Você irá repetir padrões aprendidos sem saber o que fazer para escolher novos caminhos. Tudo que é bom vem do seu Ser mais íntimo. E reconhecer o Ser em si mesmo é o segredo dos segredos. Não basta ser humano, é preciso Ser!

A meditação lhe dá um vislumbre da mente universal que é você.

A busca é totalmente impessoal. Quem está buscando Deus?

A mente individual (ego) está buscando a mente universal (consciência). E tudo isso faz parte do plano divino.

Você nasce para que possa reconhecer-se como divino. Por isso o ego deve sofrer, deve sentir-se limitado, deve sentir miséria.

O sofrimento é um dos truques do plano divino. E quanto antes reconhecermos isso, mais colaboramos para o plano.

Ele já está acontecendo. Mas por não saber conscientemente do plano de se tornar divino, o ego resiste.

O ego imagina que vai morrer, que não irá suportar a dor do desconhecido. Mas a meditação é o grande truque de mestre.

Ela o faz aceitar a presença do divino em todos seus passos. Não apenas nos bons passos, mas nos passos errados, nos passos em falso.

Esses passos são muitos importantes. Quando a aceitação é total, o ego não mais resiste em sua jornada de volta para casa.

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VIVENDO ACORDADO

Quando você atinge a iluminação não se torna uma nova pessoa. Na verdade, você não ganha nada, apenas perde algo: se desprende de suas correntes, de suas amarras, deixa para trás seu sofrimento. A iluminação é um processo de perda. Quando não há nada a perder, esse estado é o nirvana. Esse estado de completo silêncio pode ser chamado de

iluminação.

OshoOshoOshoOsho

O que eu poderia fazer para recuperar minha energia quando uma emoção negativa como a raiva ou a tristeza se abate sobre mim? Podemos aprender a acolher esses sentimentos sem lhes dar um rótulo negativo. Se você não considera sua raiva algo “ruim”, você terá capacidade de acolhê-la e transformá-la. Todo o ponto é que qualquer sentimento ou pensamento a que você se oponha, criará uma divisão dentro de você. Se você percebe quem você É, não há razão para se opor, porque em essência você é UM com tudo o que existe. Não existem sentimentos ruins ou bons para a consciência. O negativo é uma interpretação mental. Apenas mental. Faça a pergunta: Quem Sou Eu? Pergunte a si mesmo: A quem está aparecendo essa negatividade? Pensamentos vêm e retornam à consciência. Observe e permita que eles retornem à fonte de tudo. Quando você não se confunde com os pensamentos, quando você percebe claramente que não é os pensamentos, você não reforça o aparecimento deles. O segredo da meditação é permanecer sendo você (Consciência). Observe seus sentimentos/pensamentos e acolha-os na sua vida, para transmutá-los no seu coração consciente. Sinta o que está sentindo, e não negue absolutamente nada, pois, se houver “alguém” negando você já deve saber que é a “mente-eu” negando. Tem de ser um pensamento “Eu não quero este sentimento” que cria a negação. Observe isso. Veja que este pensamento também aparece para você. Você é o observador. Sinta o sentimento e não o negue. Ele é belo. Faz parte da energia da vida. Está aí para iluminar. Sua função é você perceber mais profundamente que está além dele. Não lhe dê nomes negativos. Não se oponha a seus sentimentos ou pensamentos. Reconheça-os como sentimentos e pensamentos acontecendo. Não lhes dê muita conotação pessoal.

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Acolha-os como você acolhe uma criança que está chorando. Coloque seus sentimentos no colo e esteja consciente deles sem fazer uma história triste ou rejeitá-los. Não faça nada. Apenas absorva a energia deste sentimento no seu coração, sem fugir dele. Veja o que acontece. É um milagre. Você pode dissolver conflituosos sentimentos desse modo. E o que resta após a dissolução? Silêncio, amor, paz. É isto que há por trás de todos os sentimentos difíceis – Você mesmo! É você mesmo em forma de silêncio e paz! Quando nos sentimos vazios por dentro, costumamos procurar pessoas para conversar, ligar a televisão, ir ao cinema, sentar ao computador, e nos ocuparmos de alguma forma. Mas este vazio é um convite precioso! Do outro lado deste vazio, há um espaço de amor e compaixão que é inacreditável. Isso acontece quando estamos acordados para acolher e nos entregar a tudo que aparece diante de nós. Nenhum pensamento tem força em relação a você! É sua crença na força do pensamento que dá vida a ele! A ilusão não tem força. É sua crença na ilusão que dá força a ela. Se você sente algo negativo, isto é um convite para reconhecer novamente Quem Você É. Nada existe de negativo no Que Você Realmente É. O negativo é uma distorção da mente. Sempre. Aceite tudo como parte de você mesmo. Porque o seu coração acordado absorve e transforma tudo em UM. Este é mais um segredo: quando você não vê o negativo como negativo, ele é absorvido por você e desaparece. Assim, ele se torna parte do que você É. A totalidade é Amor. E você é a totalidade quando se percebe realmente como É. Porém, quando não percebe, se confunde com pensamentos intrusos, que limitam sua real natureza livre. Eu sou cristão e sinto que, em essência este ensinamento é o mesmo que Jesus havia nos ensinado. Mas algumas coisas não estão claras para mim. Eu gostaria de entender melhor sobre a dimensão do Pai Eterno. Pai Eterno, Consciência Universal, Infinita Inteligência, são todos nomes para a mesma substância: DEUS, sua essência interior. Na sua vida diária, a Inteligência Suprema está o tempo inteiro convidando você para ampliar a forma como você vê a si mesmo. O amor faz parte do invisível, de uma dimensão mais profunda de nós mesmos. É um engano pensar que o Amor venha de outra pessoa ou de algum lugar fora de nós mesmos. O Amor Real de que os sábios falam é uma dimensão profunda de nós mesmos, uma dimensão além da forma.

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Quando meditamos, o que estamos fazendo? Estamos procurando nos abrir ao mundo dimensional do Amor, que está num ponto mais fundo dentro de nós mesmos, que a mente racional não compreende. Quanto mais vamos para dentro, mais dimensões sutis de nós mesmos encontramos. A mente lhe mostra o mundo da forma. A meditação lhe apresenta o mundo da não-forma, da pura consciência. Nós somos muito maiores do que pensamos ser! É isto que estamos chamando de boas novas! Evangelho significa “boas novas”. A boa nova é que a felicidade, o Cristo, o Buda, a verdadeira vida de Amor que todos nós estamos buscando, reside nas dimensões profundas que Somos. Em nossa sociedade, não fomos educados a explorar esses níveis mais sutis de nós mesmos, portanto, um sofrimento desnecessário acaba acontecendo com muita gente. A vida chama e clama por estas novas descobertas, e, muitas vezes, nem sabemos por onde começar, porque ninguém fala sobre isso ao nosso redor. Acordar para estas novas dimensões é o que chamamos de Iluminação. Muitos no planeta estão passando por este processo. Estamos em tempos de mudanças profundas. Em todos os cantos do planeta há pessoas acordando ... O Pai Eterno é a sua morada original. Você é o Pai Eterno vivendo uma experiência humana como consciência. O seu ego, nesta dimensão material, mostra você como apenas uma pessoa - com uma forma e um nome, porém seu Eu Real está além da forma humana. Agora, você é consciência. O que chamamos de ego é apenas um rótulo em cima disso que você é. Queria perguntar se este ensinamento não nos torna muito passivos. O que é ser um observador? Há uma sensação em mim de que preciso parar de participar da vida ... Uma ótima pergunta. Muitos já demonstraram ter esta dúvida. É algo que precisa ser melhor esclarecido. Há muito mal-entendido que vem dessa ideia de que você tenha de ser tornar passivo. O fato mais incrível sobre isso tudo é que você já é um observador, e sempre foi, fazendo tudo que sempre fez. Não é uma questão de ser um observador, mas “reconhecer” que há uma observação do corpo e da mente ocorrendo sempre que você está consciente de alguma coisa. A única diferença é que estou lhe chamando atenção para este funcionamento – que já é o caso! Este ensinamento não o torna diferente, apenas lhe ensina como as coisas funcionam por trás das aparências. Você nunca deixou de ser uma testemunha, desde que nasceu! O nascimento do corpo é o início da sua vida como testemunha/observador. Você é sempre uma Testemunha do corpo/mente, apesar de ainda não perceber isto. Note como os bebês observam. Eles não pensam, porque ainda não está desenvolvida sua cognição. Mas eles observam, não é mesmo? Existe consciência ali, afinal, a consciência observadora aparece simultaneamente com o corpo.

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Você pergunta se há perigo de você se tornar passivo com este ensinamento. Então observe cuidadosamente: você nunca notou que o seu corpo funciona espontaneamente? Se você machuca seu pé, imediatamente o corpo cura sua ferida. Se você come uma comida, o corpo faz sua digestão sem que você pense sobre o assunto. Você respira, faz o sangue circular, elimina toxinas, faz sua digestão e tantas outras coisas sem sua escolha consciente. Isso ocorre tão espontaneamente, que você, às vezes, não se dá conta de que tudo isso acontece. E, então, você olha em volta e vê as nuvens passando, as árvores florescendo, a brisa soprando, a chuva caindo, o sol nascendo e se pondo, os passarinhos cantando, as borboletas passando, os cachorros latindo - e tudo isso sem a sua cooperação. Você apenas participa de tudo isso! Está tudo pronto pela Vida. Deus é o processo chamado VIDA em que tudo isso ocorre e é organizado. E mais ainda: dê-se conta de que você não precisa nem pensar! Seu pensamento acontece espontaneamente! Observe! Ele acontece sem sua escolha. Você está recebendo pensamentos incessantemente. Muitos deles você seria incapaz de escolher, pois eles lhe causam até desconforto. Outros pensamentos, que são maravilhosos e que mudam sua vida completamente, da mesma maneira, podem surpreender você, ainda mais se os mesmos o instigaram a novas ações que você não escolheu. Por que tudo isso ocorre? São processos espontâneos do seu corpo/mente. E você (consciência) pode observar todo esse processo. Então, é isso que quero dizer quando falo que você está sempre observando. Estou apenas chamando a atenção para o fato. Você não precisa se tornar uma Testemunha – você já É. Tornar-se consciente do fato é o ponto. Tudo está acontecendo e há algo que observa isto tudo acontecendo – e isto é consciência. Consciência está sempre por trás de todos os acontecimentos. Se há experiências, há consciência observando experiências. Se há pensamento, há consciência que observa pensamento. Se há sentimento, há consciência ali. Se há uma ação, consciência é a testemunha da ação. Quando os mestres dizem “Seja uma testemunha”, eles estão dizendo para você ser o que já É. O que eles estão fazendo é ajudar a direcionar a sua atenção a algo que já está presente. Se você é uma pessoa ativa, treine sua observação ficando presente, o mais presente que puder, em qualquer atividade que esteja. Limpando o chão, escrevendo, falando, caminhando, trabalhando, namorando, fique presente! Nesta consciência alerta, estará esta observação. O ponto é continuar vivendo no mundo como sempre vivemos. Apenas uma coisa tem de ser acrescentada: dê-se conta de que você é uma testemunha do seu pensar e do seu fazer. Pense, mas note sua mente pensando. Aja, mas note o seu agir. Sinta, e perceba que está sentindo.

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Não é você que pensa, sente e age. É o organismo corpo-mente. Este organismo existe para que você se reconheça como divindade, como consciência pura. Criatividade está acontecendo o tempo inteiro. A natureza da Vida é ser criativa. Você faz parte da criação. Você faz parte da natureza como corpo/mente. Deus está criando através de você! Desejo saber como me manter acordado. Sei que estar dormindo espiritualmente é quando me envolvo totalmente nos pensamentos e esqueço quem sou eu agora. Vejo tudo isso que está dizendo, mas sinto que as tendências e os hábitos da mente são ainda muito fortes para permanecer nesta Presença. O que pode ajudar a despertar mais e mais esta Presença? Como permanecer nesta iluminação? Veja o que Gangaji diz em um satsang: “Os hábitos da mente, é claro, são muito fortes e, possivelmente, irão reaparecer. Você pode dizer:“Ah, consegui, sou iluminado.” Isto já é um hábito da mente. Isto pressupõe uma entidade separada da Consciência, separada disto que é percebido, revelado, naquele instante em que a mente para. E a esta frase “Ah, consegui, sou iluminado,” certamente se seguirá outra frase, algum tempo depois: “Perdi tudo. Não sou iluminado”. Ou seja, perceba que esta Consciência que Você É não pode, de nenhuma maneira deixar você porque é você! O que ela observa? Deixe ela observar! O que ela percebe? Deixe ela perceber! Ela observa raiva? Então raiva está acontecendo! Raiva está acontecendo para o corpo-mente. Raiva é uma história da mente. Aconteceu algo que a mente não previa, então ela se sente sem controle. Vem a raiva. Mas a raiva vem para quem? Quem percebe raiva? Não há você como uma pessoa que fica com raiva. Raiva é um fenômeno impessoal que acontece para “ninguém”. Esta emoção-raiva é uma energia mental sendo observada pela Consciência Que Você É. Faça de novo a pergunta: “Quem Sou Eu?” Apenas note que raiva não se sustenta sozinha. Não há ninguém a ter raiva se você percebe que aquilo que observa raiva é o vazio da Consciência Impessoal de Deus. Então o que acontece? Raiva surge e vai embora no seu devido tempo. Você se manteve acordado e não personalizou: “Eu tenho raiva”. Dizer que você tem raiva é personalizar algo que é uma energia, algo que é um fenômeno que aparece para a Consciência Que Você É. E Consciência é como o céu: não há como agarrar as nuvens. Consciência não agarra os pensamentos!

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O céu deixa as nuvens passarem e não interfere. O céu é como a consciência que você é. E como essa consciência está em todos, e não é pessoal, então não posso dizer que essa consciência é minha. Consciência é Deus. É a essência de tudo que existe. É o pano de fundo onde tudo acontece. É para onde tudo que aparece aponta. Existe apenas o pensamento “eu” que acontece para você! Existe apenas a sensação “corpo” que aparece para você! O pensamento “eu” é sempre observado por você. Então, quem tem raiva? Ninguém! Ninguém tem raiva. Ninguém tem tristeza. Ninguém é iluminado. Ninguém é ignorante. Mas, por outro lado, raiva acontece, tristeza acontece, iluminação acontece, e ignorância acontece ... E quem nota isso? O vazio que você é. A consciência é o fenômeno mais misterioso que há. Nem os cientistas conseguem entender o que é esta consciência. Ela é inegável, mas ONDE ela está? É o que nos faz conhecer tudo, mas ONDE ESTÁ? Ela não aparece na forma e nem possui características delineáveis. É por isso que chamamos esta consciência de Deus. Consciência é tudo que há! Ela vive no mundo sendo o mundo, observa o mundo, e ainda, está além do mundo! Qual a diferença entre Deus e eu mesmo? Poderia me esclarecer mais um pouco sobre como somos a imagem e semelhança de Deus? Quando a ilusão de se sentir separado de Deus se vai, o divino vive livremente como você! Você apenas não se reconhece como divino por causa da ilusão de que está separado da Vida, de que existe um eu-ego separado. Existem hábitos mentais e tendências que o mantêm acreditando em ideias errôneas. Sem a noção de que existe algo separado como você, você é sempre Consciência! Você já é o Divino! Sente em silêncio e reconheça em você. Depois abra os olhos e veja tudo como divino! Até quando vou precisar usar este ensinamento? Até compreendê-lo e absorvê-lo completamente. Este ensinamento é como um barco. Quando você já atravessou o rio, não leva o barco na cabeça! Um dia você pode esquecer completamente tudo isso e viver espontaneamente no seu coração, seu mais nobre guia. Aí você volta para o mundo, mas está completamente mudado. Este é o viver natural. Preciso me desfazer dos prazeres da vida para acordar para minha essência? O que é preciso mudar em mim mesmo para alcançar o estado de fluidez e naturalidade? Se existe algo a mudar é apenas a percepção. A mente criativa, que é a expressão do divino no corpo, continua criando sua vida. Deixe-a criar! Permaneça notando. Os prazeres da vida são obras de Deus para quem está Acordado, e é possível desfrutar tudo

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como parte da celebração da existência. Do contrário, servindo à ilusão, na ignorância de Si, os prazeres significam tentações, sofrimento, vícios e compulsões. Tudo depende de você. Que tipo de meditação você recomenda para aumentar nossa consciência de Si mesmo? Bem, se você está começando, posso dar algumas sugestões que vêm da minha experiência. Elas não são regras. São apenas indicações e não pretendem tomar uma postura de única verdade. Compartilho apenas porque foi assim que aconteceu comigo... A primeira dica é frequentar satsangs e estudar com um professor que tenha este tipo de compreensão bem esclarecida. Outra dica é meditar. Há inúmeras meditações úteis para centrar a mente e preparar o corpo para receber um fluxo maior de energia. Dessa maneira, é mais fácil escutar o ensinamento e absorver sua profundidade. Todas as práticas são preparações para a compreensão final que é a entrega completa ao fluxo da Vida. Em entrega completa não há mais nada a fazer, porque você notou, sem sombra de dúvida, que tudo que existe é a Vida em sua Totalidade - energia inteligente em movimento. Assim, o fluxo leva o seu pensar, o seu agir e o seu sentir. O Cosmos pensa, age e sente através de seu corpo. Satsang lhe dará uma clareza disso. Entrega é quando o seu coração espontaneamente diz: “Seja feita a vontade da Vida, sempre”. Entrega é a compreensão de que tudo é feito pela Inteligência Suprema. E isso não é uma mudança de atitude ou comportamento, mas uma compreensão que acontece em você. Nada muda, mas você perde a necessidade de lutar desnecessariamente quando a vida frustra suas expectativas. Simplesmente porque percebe que não há quem lute. Lutar é lutar consigo mesmo! Só existe você mesmo! A aceitação passa a ser sua convidada natural. Tudo que tiver de fazer você faz, mas faz com graça, com amor, com totalidade, com presença, sabendo que é a única coisa a ser feita naquele momento. Entrega lhe traz totalidade. Entregue tudo a Deus. Você vive nele sempre... Sou uma pessoa muito ativa. Nunca vou conseguir meditar. Ficar no silêncio é impossível pra mim. Tenho chance? Mas claro! Seja o que você É. Sua personalidade é ativa? Ótimo, é assim que você É. Há pessoas ativas e pessoas passivas, e é assim que o mundo é. Neste mundo da espiritualidade, algumas pessoas tem a mania de começar a moldar uns aos outros, como se certos moldes fossem mais perfeitos que outros. Então vem a ideia de que as pessoas passivas são mais meditativas que as de temperamento ativo. Isso não é verdade. Lembremos que meditação, em última instância, não é uma técnica. Para observar você mesmo, não é preciso uma técnica. Para você perceber que suas ações são da Vontade

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da Vida, não é preciso técnica – apenas compreensão. Um pouco de atenção e vontade de ser livre é o suficiente. Aceite sua personalidade. Alinhe-se com isso e viva em paz sendo o que você é. Nada precisa ser mudado. Sei que muitas pessoas não são feitas para sentarem e ficarem em silêncio. Qual o problema? Algumas são feitas para tocarem piano, outras para cuidarem do jardim. Qual o problema? Seja o que Você É, e será perfeito. Ame o que você faz, e tudo que estará fazendo será uma expressão da Vida Universal através de você. Alguns mestres, como Osho e Buda, por exemplo, deram inúmeras meditações e práticas para preparar a mente para esta compreensão se tornar profunda. É preciso praticar as meditações? Elas são importantes para que o ensinamento seja melhor compreendido? Novamente, não existe regra geral. Cada indivíduo tem seu caminho. Se você sente em seu coração que precisa meditar, pratique. Algumas pessoas amam meditar, mas muitas outras podem se preparar através da oração, que é um estado de espera, de contemplação, de entrega à vida. Outras, ainda, podem se preparar através da caridade. Há pessoas que trabalham espiritualmente fazendo obras que embelezem a vida dos outros. Há ainda o tipo mais intelectualizado, que é atraído pelo caminho do conhecimento, da libertação do ego através do entendimento e esclarecimento da mente. Na Índia eles chamam de Jnana Yoga ou Advaita Vedanta. Existem, ainda, aqueles que estão no “caminho da ação” em direção a Deus. Tudo que fazem, oferecem a Deus. Trabalham para Deus, amam seus parceiros para Deus. Dessa maneira, purificam seus egos e passam a esquecer um pouco de si mesmos e de seus pequenos problemas. Assim, aos poucos vão se sentindo menos e menos separados da Vida. O processo de Acordar para Si tem variadas e criativas maneiras de se apresentar aos homens, pois há muitas personalidades diferentes. Esteja aberto! A prática correta virá a você. Esteja alerta! Quando o discípulo está pronto, o mestre sempre aparece! Todas as religiões falam a mesma coisa? Qual a diferença entre Cristo e Buda? Jesus falou que Seu caminho era o único. Como saber? Sim, é verdade! O único caminho é o Cristo. Mas temos que entender o que Jesus queria dizer com Cristo - o Caminho do Cristo. Cristo não é Jesus! Cristo é a dimensão da iluminação e divindade, que pertence a todos nós. Quando Jesus disse que o seu caminho era o único, ele estava querendo dizer que o caminho de Cristo, o caminho do Divino, é o único caminho da salvação.

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E o que é a salvação? É a noção de que o ego é uma entidade falsa que o impede de ver a realidade de sua natureza divina agora, como não-separado de tudo que vê. Todos somos Cristos. Todos somos Budas. Cristo/Buda é o convite do Altíssimo - é o chamado do Pai. É o convite para acordar para Quem Você Realmente É. Poderia definir a palavra Satsang? Na Índia, Satsang é uma palavra conhecida. Ela quer dizer “estar em associação com aquilo que é elevado”. É uma transmissão de energia que acontece pela sintonia com nossa essência Crística/Búdica. Satsang é compartilhar o amor que você tem, que é essencialmente você em essência. Você pode compartilhar com palavras, com silêncio, com música, com trabalho altruísta ... Satsang é comungar beleza, vida, celebração. É permitir-se ser um bambu oco, um instrumento do divino no mundo, uma receptividade. É simplesmente deixar a magia da existência VIVER VOCÊ. Eu não consigo parar de pensar. Estou sempre envolvido com coisas para o futuro. Isso me incomoda um bocado. O que posso fazer para melhorar isto? Como posso sentir a Presença, se ela só pode ser sentida no silêncio e sem pensamentos? Deixe a mente pensar! Quem é você? Se há pensamentos, tem consciência observando! Se você sabe que não é você quem tem pensamentos, se você não “pessoaliza” o pensamento, essa energia-pensamento surge e vai embora, como uma nuvem que passa. Sente-se em silêncio e observe. Permaneça um observador e não toque em nenhum pensamento que surgir! Se você “pessoaliza”, a mente criará uma história em volta deste pensamento, e você ficará envolvido na história. Mas Quem é Você? Isso deve ficar claro: não existe ninguém pensando. Pensar acontece. Então, quem se incomoda com o pensamento? É claro que, no início, quando não estamos ainda acostumados a perceber a Verdade do que Realmente Somos, é muito útil nos valermos de um ambiente propício e especial para criar um clima para este reconhecimento. Este ambiente são os retiros de silêncio, os momentos de meditação e investigação, os satsangs e a contemplação. Com o tempo, a presença que você é pode ser sentida mesmo com pensamentos e barulho, entretanto no início, é muito útil que procuremos os lugares certos para cristalizar e facilitar o amadurecimento desta nova percepção. Vejo que esta consciência de que você fala não é algo pessoal. Ela é a mesma para todos? Ela é Universal?

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Sim, isso mesmo. A Consciência que você É é UNIVERSAL. Ela é a grande interligação: Deus! A Consciência que você É não é o corpo/mente, e por isso não é pessoal. Podemos dar um outro exemplo para clarear esse ponto: imagine o espaço. O espaço é feito de ar, não é mesmo? Agora imagine uma bolha de ar surgindo deste espaço. Dentro da bolha tem ar. Fora da bolha, também tem ar. Ar existe dentro e fora da bolha, mas há uma diferença: a bolha tem uma quantidade de ar limitada em comparação ao espaço livre. O ar fora da bolha é a Consciência Infinita (Deus). Dentro, existe um espaço menor, então diremos que a bolha é consciência menor (mente). Uma “pessoa” sempre terá consciência limitada. Por causa do corpo, aparecem pensamentos, que ilusoriamente irão limitar essa consciência infinita que você é. O que chamamos de “pessoa” é como uma bolha no meio do espaço infinito. E todo o espaço livre é o que você É de verdade. Contudo, para o nascimento da pessoa humana, um limite teve de ser criado! É o nascimento da bolha! É o aparecimento do corpo-mente! No momento nos conhecemos apenas como uma consciência mental, porque nos resumimos ao que está dentro da bolha (pensamentos). Mas, com a investigação, você vem a descobrir que a bolha não é o seu limite. Este limite falso tem sido chamado de ego. É o que dá personalidade à bolha. É o que dá identidade à bolha. Lembre-se: a bolha também é você, porque tudo é consciência – mas a bolha é consciência limitada. Quando se limita assim, você ignora a expansão natural que você é além dos limites do corpo e da mente. Você é todo o espaço! E é necessário, dentro do plano divino, que inicialmente apareça o fenômeno do ego. A consciência nasce através de todo esse processo: o de se tornar primeiro individual (ego), para depois perceber sua universalidade (Deus). É por isso que todos nós ansiamos por mais, por melhorar, por ampliar, por evoluir. É por isso que chamamos o processo de se tornar mais e mais consciente de Si de ampliação da consciência. Além do corpo e da mente, nós continuamos a existir! Nosso limite não é o corpo! Nem a mente! Somos maiores que nossos pensamentos! Somos maiores que nossos corpos! Expansão da consciência é só uma maneira de falar que indica que você está começando a notar o seu tamanho real, a sua infinitude, a sua perfeição inerente. Isso é a consciência que você É. A consciência que você tem do corpo e da mente é uma pequena consciência (a consciência da bolha quando ela pensa em si mesma). A consciência do corpo/mente, da sua identidade como personalidade, sentimento e pensamento, é, sem dúvida, uma consciência estreita e pequena. O convite da meditação e da investigação de Si, é ampliar esta noção que você tem de si mesmo, e viver esta descoberta. O que lhe dá isto? Um estado de oração, ou seja, um

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estado de entrega em que não há mais nada a fazer a não ser viver o momento sendo você mesmo com totalidade e desprendimento. O que é se conhecer diretamente? Este caminho também é chamado de “O Caminho Direto”. Poderia falar um pouco sobre isso? Tudo que conhecemos sobre nós mesmos vem dos outros, porque “conhecimento” é algo emprestado de fora, que chega até nós pelo mundo. Eis por que dizemos que nossa identidade EGO é construída através dos outros. Se alguém lhe diz que você é bonito, você começa a acreditar que é bonito. Se alguém lhe diz que você é um fracasso, é possível que você comece a se sentir um fracasso aos olhos dos outros e de si mesmo. Isso quer dizer que você não conhece a si mesmo diretamente, mas sim, indiretamente. Hoje em dia muitos neurologistas e psicólogos afirmam que o que chamamos “eu” é uma ilusão criada pela mente. O indiano Ramachandran escreveu um livro chamado “Fantasmas do Cérebro” em que narra histórias muito interessantes, visando argumentar suas teses no sentido da não existência de um eu fixo e permanente na mente. Os budistas e os sábios não-duais sempre declararam que não há um “eu” fixo dentro de nós mesmos, e que o que chamamos de “eu” é simplesmente um conjunto de “impressões” que disputam ações distintas. Mas, é claro, ilusoriamente o cérebro nos passa a ideia de que existe um centro único que faz essas ações. O que os mestres iluminados sempre chamaram de Eu Real? Deus. Em realidade, no ensinamento da não-dualidade, a única substância real é Deus. Ou seja, dentro de si mesmo, está um caminho para que a mente não se perca nos pensamentos compulsivos que ela mesma cria. Qual é este caminho? Conhecer a sua mente e aprender que ela é sua serva. O caminho é conhecer a consciência que você é, e perceber-se cada vez mais como consciência vivendo na forma. Os meus erros sempre me marcam muito. Sou uma pessoa muito rancorosa e perfeccionista comigo mesma. Como faço para não me sentir tão culpada? No ditado popular dizemos que errar é humano. Sabemos disso, mas não compreendemos isso muito profundamente. Muitas vezes nos culpamos seriamente quando nos frustramos com alguma coisa. O corpo-mente erra e passa por experiências. Simplesmente inspire no coração e relaxe. Aquilo que nós Somos em realidade é consciência espiritual, e espírito nunca pode errar, e o corpo/mente é nosso veículo de experiências. Lembremos disso sempre que pudermos. Estamos aqui para viver experiências! Portanto, faça o melhor que puder, mas deixe os resultados para o fluxo da Inteligência da Vida. Às vezes, a vida ensina por meios que, para nós, são dolorosos. Mas faz parte do caminho da vivência.

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Perfeição existe apenas neste momento. Se você não compara este momento com outro, e faz tudo que pode fazer agora, não poderá se sentir imperfeito nunca. E, por fim, lembre-se daquilo que sempre é “Perfeito” em você. Sua mente está em evolução, mas sua Essência já É o que deve Ser. Esta relembrança cria um espaço de inocência e amor para com você. E isso já é por si só uma bênção. Acordo pela manhã e sempre digo “Obrigado!” Isso pode ser uma prática espiritual? Bem, isso vem do seu coração? Isso conecta você com o amor e a gratidão? Se a resposta for sim – então isso é uma conexão. Se for feito sem amor, sem envolvimento, do jeito que muitas pessoas às vezes oram, como se fossem papagaios, então não faz sentido nenhum. A meditação e a oração é um processo de intimidade com a vida. Elas abrem o coração para a beleza. Qualquer ritual que o conecte com seu coração amoroso é válido. O que você chama de purificação emocional? É a liberação dos medos que estão acumulados nas células do nosso corpo. Purificação emocional é um passo importante rumo à meditação. Sempre que alguém começa a jornada do autoconhecimento, inicia pela purificação emocional. É claro que cada pessoa é única, portanto a intensidade da purificação dependerá de cada um. Eu fui atraído pelo Renascimento (terapia de respiração consciente), pela Regressão hipnótica e a Bioenergética... Trabalhei em mim mesmo com meditações e terapias. A expansão é eterna. Haverá sempre picos mais altos. Existem muitos trabalhos maravilhosos... Confie em sua intuição. Sem a purificação emocional, algumas pessoas sentem muita dificuldade em ser elas mesmas e relaxar no Ser. Quando nosso sistema emocional está mais limpo, há muito mais facilidade para sentir o silêncio interior. Mas depende de cada pessoa. Há muitas que meditam sem nunca terem passado pela terapia. Uma criança pode meditar? Tenho filhos pequenos e sinto que seria lindo se pudesse sentar com eles. O que acha? Uma criança é um meditador nato. Na verdade, tudo que a meditação faz é voltar nossa consciência para a inocência. Iluminação é inocência. Saiba que simplesmente estar em amor com suas crianças, brincando, sentindo, falando abertamente e confiando no potencial delas é a melhor maneira delas meditarem. Mas, antes, você tem que estar feliz com você mesma. Ajude-se, e depois compartilhe este amor. Não podemos dar o que não temos. Pratique e sinta por você mesma, e mudará outras pessoas a sua volta sem nenhum esforço. O meu passado foi duro e de muito sofrimento. Minha mente pensa demais sobre isso. O que fazer? Não importa o que nos aconteceu, mas como estamos olhando para o presente neste exato momento. O coração é sempre criativo e vive no Agora. Ele adora aventuras. Ele

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não conhece o passado. Quem adora a rotina e tem medo do desconhecido e prefere se refugiar na segurança do conhecido? A mente. Uma dica: se é difícil ainda para você meditar, tente dar passagem a sua energia vital com um trabalho de Renascimento, com um terapeuta bem treinado. Depois pode dirigir sua energia para o aqui-agora através da prática da meditação. Assim, pode mais facilmente aprender a relaxar a energia no presente e chegar à meditação espontânea e natural. Então você vai além das técnicas. Concentração é uma parte do treinamento para que sua mente tenha um foco, ao invés de pensamentos desconexos e sem sentido. Então o próximo passo acontece facilmente: a meditação, que é uma atenção desfocada e relaxada em Si mesmo. A sua atenção vai ser treinada para viver a partir do presente. Neste exato momento agora você está no ponto zero – pode recomeçar. Nós podemos recomeçar sempre, porque não há nada sério a ser feito na vida. A vida é uma maneira de você se expressar. E a vida pode ser pura celebração. E você sempre pode fazer novas escolhas. Quando pego meu violão e faço uma canção, fico cheio de alegria e contentamento. Isso me enche de celebração interior. Todos nós temos algo que amamos fazer. Podemos aprender a fazer novas escolhas que condizem com o que amamos. Veja se há algo em sua vida que você amava e deixou de fazer com o tempo. Resgate isso! Expandir a consciência é aprender a fazer melhores escolhas, que tenham mais sintonia com o nosso coração aventureiro e criativo. Comece a meditar e conhecer melhor suas emoções e pensamentos, e muitas coisas vão acontecer... Tenho dificuldade de aceitar quando alguém me rebaixa ou me diz algo que fere o meu ego. O que posso fazer para me sentir mais forte? Aceite a você mesmo e tudo isso desaparece. Quem é você? Você é a essência de luz divina – energia pura. Se outra pessoa tem o poder sobre você, é porque você deve ter uma ideia de como você deve ser, e esta pessoa está mexendo com esta ideia mental de você! Mas lembre-se: você não é essa ideia! Retorne para o silêncio sem pensamentos que você é neste segundo, respire profundamente no coração, e abandone as ideias por um momento. Você verá que, para ser quem você é, não é preciso se comparar aos outros. Isso é assunto seu. Quando você se expande, por perceber que não cabe em nenhuma ideia que tenha, percebe também que não é necessário os outros o compreenderem. Você não é nenhuma ideia que tenha de si – você é energia pura! E com sabedoria, você pode compreender os outros. Se você vai esperar que os outros o compreendam, pode passar a vida esperando, e nunca vai dar certo. É interessante saber que você é sempre responsável pelas escolhas que faz – consciente ou inconscientemente. Se você escolhe se desaprovar, tome consciência de como isso está afetando sua vida. Você é responsável. Pare de se sabotar e se colocar de vítima das circunstâncias.

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O que está nos mantendo separados de Deus? O que nos faz sentir como se estivéssemos sozinhos, abandonados, mesmo quando estamos com outras pessoas por perto? O ego é o símbolo da separação. Sentir-se separado é estar com medo. Sentir-se unido é estar no amor. A mente racional vive na consciência do medo. O coração, na frequência do amor. O Jogo da Inteligência da Vida é feito para que possamos nos ver como criaturas separadas e desgarradas, de modo que usemos este contraste para buscar a unificação. Estamos buscando aquilo que somos em essência. O amor, a alegria, significa uma sintonia profunda com o coração. A mente sintoniza com o medo. Ela pensa, imagina, e cria muitos medos e fantasias. O coração, por outro lado, sintoniza com a aceitação do momento. Perceba o vício que há em pensar e se envolver nos pensamentos negativos, e sofrer por eles. Há sempre uma escolha. Respirar fundo e olhar o problema com os olhos amorosos, com uma visão iluminada e tranqüila. Faça o que pode fazer e entregue o resultado final para a Vida. Nem sempre será como você quer porque não há controle sobre certas coisas. Elas vão acontecer por serem parte do funcionamento da Totalidade, parte da Inteligência do Todo. O que podemos aprender é a ver de uma forma construtiva e inteligente tudo isso que chamamos de sofrimento. E a primeira coisa é saber que todo sofrimento é um desafio e um aprendizado. É exatamente a Vida o impulsionando à expansão, a mais e mais vida, a mais e mais experiências. Segundo os mestres, a vida é um movimento da energia. Cada pessoa é um padrão de energia. Tudo pulsa ricamente neste vasto universo de seres. Os mestres dizem: “Tudo é perfeito. É a sua mente que não pode ainda ver a perfeição”. O que é a “Verdade” de que fala Jesus? A verdade é que tudo é amor, e o amor é a presença de Deus, que é sua essência. Só este amor existe, e ele é o perfume da consciência. A verdade é o que existe sempre, aqui-agora, disponível. A verdade não precisa ser pensada, nem vista, nem falada. Vida é espírito/consciência em ação. Existe um jogo de ilusão e dualidade chamado VIDA para que possamos experienciar polaridades de energia, momentos de picos e momentos de vales. Então, cada mente vive e cria a alegria e a tristeza, a dor e o prazer. Na tensão desses polos, a vida acontece com sua fantástica galeria de ambientes, papéis e atores, sentimentos, pensamentos e sensações. E é na medida que você acolhe e fala a verdade para você mesmo, que nasce uma expressão de amor por você ser o que você É. Nasce uma expressão de naturalidade. Ser cada vez mais único e apreciado por você mesmo. Isto é a verdade. A verdade é ser natural. O que é acolher a dualidade? Você disse, em algum momento, que precisamos acolher a dualidade, ou seja, estar abertos ao bem e ao mal, à tristeza e à alegria. Como faço isso?

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Dualidade são padrões da mente. A mente de todo ser humano vive em dualidade, no negativo e no positivo, no inferno e no céu, na dor e na alegria. Isto é a dualidade - o jogo mental. Tudo no jogo da criação possui duas energias (yin e yang) para criar a tensão e gerar a vida, energias que expandem e geram a consciência humana. Sem esta energia dual não há consciência humana. A mente não pode existir, logo a vida não existiria sem estas polaridades. Este é o desafio da vida! Ir além das polaridades. Elas existem no JOGO DA CRIAÇÃO. Acolher a dualidade é trazer amor e consciência às experiências. Aprender a dizer SIM a todas as experiências. Isto é acolher a dualidade. Acolher é ver que o negativo é um sinal de alarme, um aprendizado, algo para ver e aprender sobre si mesmo. Algo precisa ser visto, olhado, entendido. Você não deve temer nada que lhe acontece. Evoluir é um caminho de acolhimento. Tudo é perfeito. E se você não achar, é porque há um mau entendimento da realidade. Cave mais fundo e sempre descobrirá a perfeição de todos os acontecimentos. O que é o perdão? É saber, pela compreensão, que somos todos totalmente perfeitos aqui-agora. Você perdoa a si mesmo e aos outros quando nota que nem você nem os outros são aquilo que você pensa que são. Tudo que você pensa vem do passado. Não está mais presente. É possível ir sempre em frente. E isso vem com uma intuição profunda no coração. Todos somos Um. O seu corpo e sua mente estão ligados com todos os corpos e todas as mentes que você vê. Na verdade, a separação só existe a nível do pensamento. O fato é que tudo é energia, e está interconectado com tudo mais. Perdão é abandonar o passado. Perdão é estar “zerado” para o Agora. Perdão é viver no presente. Que ensinamento é este que você ensina? Compartilho o que aprendí com meus mestres, Osho e Ramana. O aprendizado de como compreender o sofrimento reconhecendo o que somos em essência e mergulhando na meditação, para aprofundar cada vez mais este entendimento no coração. É a pureza de toda a religiosidade na terra. Simplesmente a compreensão de que somos todos divinos – agora mesmo! O sofrimento é criado pela ignorância. O sofrimento pode ser compreendido e dissipado pelo amor, pela meditação e pela sabedoria. O mestre Osho indicava, entre outras, a técnica do Renascimento como forma de purificarmos as emoções. O que você acha dela?

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É uma maravilhosa técnica de respiração que remove bloqueios energéticos no nosso corpo emocional. Ela permite uma maior clareza mental do nosso propósito como seres humanos criativos. Usei muito esta técnica quando estava começando a meditar, e foram realmente fantásticas as experiências que tive. É um trabalho que ajuda muitas pessoas a aprofundarem a meditação e o silêncio interior. Quando encontro pessoas que sentem muita dificuldade de irem além de certas emoções no trabalho com a meditação, algumas poucas sessões com Renascimento têm se mostrado muito úteis. Sempre ouvi que meditação era algo bem passivo, sentado e quieto ... O que são meditações ativas? Osho foi um mestre espiritual contemporâneo que se tornou muito conhecido pelas suas técnicas de meditação ativas. São técnicas que trabalham em duas fases, uma ativa e outra passiva. Há sempre um trabalho corporal energético anterior à prática sentada. Esta primeira parte prepara o corpo e a mente para, na segunda parte, você sentar em silêncio com mais profundidade e menor tensão corporal. Muitos ocidentais são beneficiados por estas técnicas ativas, já que não estamos acostumados à passividade. Muitas pessoas com a mente muito agitada, podem acabar desistindo da meditação se forem direto para a prática do sentar em silêncio. Qual a melhor hora de meditar? A melhor hora é sempre Agora. Aquiete-se, observe sua mente, ancore-se no aqui-agora, abandone-se neste momento presente. Saiba que meditar não é apenas uma técnica, apesar dos exercícios serem muito úteis. Se você for um iniciante, meditar em silêncio durante um tempo determinado é muito útil. Mas isso ainda depende de cada indivíduo. Há pessoas que não gostam de praticar meditação sentada. E há pessoas que amam. Eu, por exemplo, sempre amei me sentar em silêncio e desfrutar do vazio maravilhoso. Sinta o que melhor se adequa a você. Há inúmeras técnicas que poderão ser muito benéficas. Muitas pessoas se queixam primeiramente do sono que vem quando sentam em silêncio. Por isso, para iniciantes, sempre recomendo que façam alguns exercícios de respiração para ativar a energia corporal e manter-se alerta. Desse modo, você não ficará com sono. Se, mesmo assim, não for possível meditar, a sugestão seguinte é conhecer as técnicas de meditação ativas. Há dois livros do Osho sobre técnicas de meditação que podem ser muito úteis ao iniciante: “O Livro Orange”, da Editora Cultrix, e “Meditação – A Primeira e Última Liberdade”, da Editora Eco. Se já somos iluminados, como dizem alguns mestres, então por que meditar? O caminho do autoconhecimento existe para você ter essa experiência por si mesmo. Você pode ouvir que você já é iluminado, mas essa experiência não pode ser passada por palavras. É preciso viver isto a cada momento. A prática é um caminho para experienciar isto. Sim, somos iluminados, mas temos de saber por nós mesmos. Depois de saber, passamos anos estabilizando nosso corpo-mente para cristalizar este reconhecimento. Não restrinja sua prática à sua casa ou ao seu centro de meditação.

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Lembre que você carrega o Cristo, você carrega o Buda. Você é o Cristo. Você é o Buda. Precisamos viver isto a cada momento. Que poderes pessoais alcançamos com a meditação e os satsangs? O poder de ser você mesmo! Deixe-me perguntar uma questão muito prática. Sei que estou há uns meses ouvindo semelhantes ensinamentos, e eles têm mudado um tanto a minha vida. Tenho estado com alguns mestres que falam de não-dualidade. Acho incrível como a simples compreensão vai aumentando. Sinto-me enxergando coisas que antes não via nas palavras que leio ou ouço. Parece um mundo mágico ... Sim, é um mundo mágico ... a mente é pura magia ... Mas, ao mesmo tempo, algumas questões estão mais fortes e prementes. A minha relação com minha mulher está piorando sensivelmente. Não que briguemos mais, mas estamos nos afastando muito. O que posso fazer a mais para que obtenha mais harmonia no meu relacionamento com ela? Você está mesmo interessado nisso? Sente que existe amor? Há vontade genuína de crescer junto com essa pessoa? Não sei ... Este ensinamento também traz uma coisa muito interessante consigo: a transparência. Não podemos mais esconder certas coisas de nós mesmos ou dos outros. Você tem que falar a verdade, e primeiro para você mesmo. É como se fôssemos testados a falar a verdade de agora em diante. Sim, eu sinto também que com a compreensão expandindo muitas coisas mudam. Uniões acontecem. Outras terminam. É parte do fluxo da vida. Separações e uniões estão acontecendo todo o tempo no mundo. Tudo se transforma. Se você vive um relacionamento real e verdadeiro, a sabedoria os torna ainda mais parceiros e íntimos. Caso contrário, as relações que se mantêm nas aparências, seja por causa dos filhos, por causa do status, pela situação financeira ou mesmo por ilusão – não se sustentam mais. A verdade nua e crua começa a aparecer, e aos poucos vai ficando intolerável viver no meio de tanta mentira. A compreensão do ensinamento no coração mostra que o Amor é melhor que o Medo. E, se você está numa relação por medo, medo de ficar sozinho, medo de não suportar viver por conta própria, medo do que poderá acontecer com a separação, então isso vai gerar ainda mais medo e sofrimento. Mas agora um sofrimento mais consciente. Agora você sabe por que sofre. Sofre porque vive na mentira. Sofre porque não se ama o suficiente para criar a vida do jeito que quer e que tenha a ver com você. Então, por inteligência e consciência, é possível mudar. Sempre é possível mudar. Depende da sua Intenção.

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Às vezes, sinto que a paz desaparece, que não estou mais centrado como antes. Como não perder este estado de centramento? Os pensamentos são mutantes e passageiros. Existem mudanças de humor. Às vezes você se sentirá calmo, noutras agitado. Mas o que permanece nisso tudo? Se você medita e investiga, começa a notar que tem algo que envolve todo pensamento, todo sentimento, seu corpo, todas as coisas. O que é a mente? Que formato ela tem? Que cor ela tem? Tudo que você sabe sobre a mente foi a própria mente que lhe disse, não? Sim!!! Algo que você não conhece lhe diz algo, e isto é aceito sempre como verdade. Um tanto constrangedor, não é mesmo? Pois é ... desconfiamos dos outros, mas não desconfiamos de nossos pensamentos! Que coisa! Imagine a cena: você chega em casa. Vê uma carta deixada por baixo da porta ao chão. O envelope não tem destinatário nem remetente. Na carta está escrito: “Desista de tudo e fuja”. Mesmo sem saber para quem seja a carta, e mesmo sem ter ideia de quem a escreveu, você segue as instruções – desiste de tudo e foge. Pergunto: esta é uma decisão que poderia ser considerada lúcida? Acho que não. É insano! Pois os pensamentos acontecem como ondas de rádio que viajam pelo ar. Se você vai seguir todo pensamento que vem à sua mente, você ficará louco. Porque milhões de pensamentos, uns contradizendo outros, têm sempre a possibilidade de vir à sua mente. Concordo. Somos como antenas, não? Certo. Vamos pegar como exemplo a estação de rádio. Da estação central, saem as músicas, que viajam em ondas e chegam à sua casa, no seu rádio. Se pudermos ver esta estação central como a fonte universal da vida e os aparelhos de rádio como pessoas, nós chegaremos a visualizar algo bem interessante: se um aparelho estraga, deixaria de funcionar a estação de rádio, a fonte, que é de onde a música vem? Não. A central é independente. A música continuará a ser emitida, mas não chegará ao meu ouvido porque meu aparelho está estragado.

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Certo. Da mesma forma, quando a Consciência Divina precisa mandar um ensinamento, uma descoberta, um novo insight, para o mundo, o que faz? Simplesmente cria um médium, um instrumento que dará passagem a essa energia. O instrumento é criado pela Consciência Divina e leva o nome de pessoa humana: você mesmo! Gostaria de alguns toques úteis para que a meditação possa acontecer mais fácil para mim. 1) Aceite você mesmo. Celebre você mesmo como você é. 2) Não crie separação entre você e Deus. 3) Ame a si mesmo. Amar é perdoar. Perdoar é aceitar o que É. 4) Ame a todos ao notar e compreender que Somos Todos Um na brincadeira da Consciência Divina de procurar por si mesma através de você. 5) Aprenda que a meditação e a oração é um estado de quando você está totalmente agradecido ao universo, tão agradecido que você se desmancha no cosmos, sem nome, sem destino, sem identidade. Apenas presente em tudo que há. 6) A mente criativa é um co-criador. Lembremo-nos de que a Inteligência Infinita se expressa através dessa mente criativa. A mente negativa é apenas uma parte ignorante dessa Inteligência Universal. A mente negativa é quando essa Inteligência está inconsciente de Si mesma. Portanto, em realidade, não há negatividade nessa Potencialidade Infinita, mas apenas em uma “pessoa” que ainda não reconheceu totalmente sua relação com a divina inteligência da Vida. Ou seja, toda negatividade é um não-reconhecimento da nossa comunhão com Deus, que é esta Inteligência e Sabedoria Infinita. Negatividade existe apenas na mente. É por isso que muitos mestres dizem que a negatividade é uma ilusão. O que eles querem apontar é que a sabedoria revela que negatividade é ignorância de nossas mentes. Na completa iluminação, tudo é visto como possibilidades infinitas. A ilusão é reconhecida como ilusão, e a mente não mais se enreda nos jogos da ignorância. Falar em mais conceitos sobre a vida e a mente não é falar de mais idéias fantasiosas? A vida não está além da mente e dos conceitos? Veja os conceitos dos sábios como se fossem barcos. Atravesse o rio e deixe o barco. Não o leve nos ombros! Um sábio não é um homem de conhecimento. É um homem simples. Sabedoria traz simplicidade. Sabedoria = Inteligência + Amor. O sábio tem uma característica marcante: sua inocência. Ele vive aquilo que não pode ser perdido. Ele verdadeiramente vive no coração. Um sábio não precisa saber que é sábio, e geralmente não é reconhecido como tal. Ele se mistura na multidão e passa por uma pessoa comum. Não está mais querendo provar nada a ninguém. Observa com amor toda a criação divina e também cria junto, do seu modo. Se ele usa conceitos, é para ajudá-lo a ir além dos conceitos.

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Vejo que não há sentido em dizer que sou iluminado, não é? Exato. É uma boa percepção. Quando acordo para mim mesmo noto que não há ninguém separado – como um suposto “eu” (que se iluminou), que chegou a isto por méritos próprios – e, portanto, não há uma pessoa que possa estar acordada ou iluminada. Iluminação é a ausência deste “eu” que supostamente quer iluminação, e a percepção de que este “eu-ego” é uma ilusão cognitiva, e você como corpo/mente é parte de tudo na manifestação da vida (todos somos Um). Em realidade, o EU REAL é a presença divina que habita tudo. Eis por que, quando estamos brigando com a vida ao nos frustramos com algo, sempre é a mente que fica frustrada. A mente sempre vê uma ameaça. Acordamos pela manhã e já vemos inimigos em todo lugar. Se não encontramos um inimigo, começamos a brigar conosco. Um dia ouvi falar que o ego só consegue sobreviver no conflito. É isto mesmo? Conflito psicológico e ego são sinônimos! Como o ego é uma ausência da verdade e da presença verdadeira de você, ele tem que fazer esforço para existir. O espírito do amor, sendo pura consciência, não precisa fazer esforço para existir. É natural e espontâneo. O amor desmascara o ego porque o amor o faz relaxar, e você sente que não precisa mostrar nada especial para os outros para se sentir bem ou ser aprovado. O amor derrete o sentimento de separação e traz intimidade e força. Este relaxamento o desmancha e o torna flexível. Você passa a fluir como um rio, e a cada momento tem inteligência para fazer suas escolhas. O amor é esta fluidez, esta consciência que permeia a harmonia. Jesus, o Cristo, disse: “Amai vossos inimigos”. Os verdadeiros inimigos internos são pensamentos negativos, emoções perturbadoras, conflitos interiores. Amai vossos inimigos significa acolher tudo que a vida traz e transformar isto tudo em Amor. Sair da cabeça e habitar no coração. Sentir mais que pensar. Só existe uma consciência universal falando. E ela usa as nossas bocas. A Inteligência Infinita nos faz instrumentos de sua Voz. Este é o reconhecimento da verdade neste instante; em como falo, como sinto, como lido com meus cinco sentidos e como reajo às pessoas. É interessante ver tudo isso acontecer de um ponto de vista diferente. Não há briga interior com algo externo. Este ensinamento pode conduzi-lo a uma vida mais fácil, mais relaxada, e mais pacífica, porque não há ninguém para brigar com você! É muito bom nos darmos conta disso! Precisa-se de dois para uma briga. Se você é UM com tudo, quem brigará com quem? Em todos esses anos, tenho visto este ensinamento provocar um relaxamento muito grande nas pessoas que o ouvem de coração, no momento certo. Todas as ações que fazemos ficam mais leves e mais cheias de beleza. Cada pessoa reage conforme a sua

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percepção única, de acordo com condicionamentos e programas/crenças que formaram sua mente e personalidade. Esta consciência que somos é pura, virgem, não nasce com o corpo, não morre com o corpo, não está vinculada ao corpo-mente, não está no tempo, não é um pensamento, não pode ser pensada, tocada ou sentida pela mente. Mas quando encorporada, esta consciência aparece como atenção consciente. Esta atenção que você tem ao ler essas palavras vem da consciência. Consciência vivendo um corpo. Esta consciência habita todas as coisas. Dorme nas pedras, sente nos vegetais, se locomove nos animais, pensa no homem, e acorda totalmente para si mesma no sábio. É no homem que a consciência começa a acordar para o que é em Essência. Porque o homem é o melhor instrumento para a Inteligência Infinita se revelar para si mesma. A mente do homem é um instrumento para este acordamento. A mente é a semente do acordar espiritual, a raiz primordial para o nascimento da consciência de Si como Pura Divindade! Como posso ganhar a iluminação espiritual? Ao meditarmos, podemos ver que não há ninguém para saber ou ganhar qualquer coisa, e que tudo o que ganharmos será como fumaça – pois tende a passar. A consciência que você É não pode nunca passar, porque ela é você! O que vem e vai são pensamentos. Acordar espiritualmente é perceber claramente que não existe um eu para ser iluminado. O que é iluminado é sempre iluminado: o Eu Real. Você apenas se dá conta! O que há, sim, é um aprofundamento desse “dar-se conta”. A compreensão de que o “eu” é um conjunto de pensamentos e crenças diversas, mostra claramente que a iluminação do eu-corpo-mente é mais uma trapaça do ego, mais uma busca egoica do tipo “Eu quero me iluminar para não sofrer mais como os outros ...” ou “Quando eu for iluminado, os outros me olharão e sentirão inveja de mim, porque afinal consegui algo diferente e superior”... ou “Quando me iluminar, serei sempre feliz” ou “Quando me iluminar serei um mestre” ... Isso tudo é pura imaturidade, e mostra a total cegueira da mente. Aquilo que está iluminado agora, está iluminando o corpo e a mente. Lembre-se: de onde vêm as imagens/projeções do cinema? De trás, do projetor. E agora, de onde vem a luz que ilumina seu corpo/mente? De onde? Lembre-se de que o corpo/mente não tem luz própria, como a própria lua. O sol-consciência ilumina a lua-mente! Meditação faz sua atenção ir recuando, saindo dos objetos externos, passando pelos pensamentos e sentimentos, e indo mais atrás ainda, para o observador, que é consciência impessoal e pura luz. Lembre que o observador não é uma pessoa, não é um “alguém”. Melhor ainda seria dizermos que existe “observação”, e não um observador, para não trazermos a ideia de um “alguém” que observa!

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Na mente, o dar-se conta disso se faz no tempo, mas a iluminação está fora do tempo! Ou seja, o infinito, aquilo que é eterno, já é iluminado por natureza. É na ilusão do tempo que “pensamos” ser não-iluminados! Mas o tempo existe amparado pelo eterno, como sombra do eterno, reflexo dele. A mente é sombra da consciência! Uma sombra não existe!!! Só existe o real, e o real é o que está por trás iluminando a vida. Um Curso em Milagres diz: “Nada real pode ser ameaçado...” De onde vem essa consciência, senão de algo que não é material? De onde surgem os pensamentos, a inteligência, o amor? A tranquilidade é simplesmente aceitar as coisas como elas são, e tomar atitudes necessárias. Se você notar, verá que os sábios estão certos: “É tudo movimento da consciência, tudo um processo chamado Deus, Inteligência Suprema, Pura Potencialidade”. Porém isto é tão profundo, que, quando ouvimos pela primeira vez, nossas mentes não podem aceitar. Muitas dúvidas surgem. Satsang é esta associação com esta verdade, para poder esclarecer todas as dúvidas em relação a este Ser que nós Somos. Aí quando nos damos conta de que não existe nenhum Deus separado de nós mesmos, e que o eu pessoal não existe separado dos outros no mundo, então começamos a acordar... Você simplesmente faz tudo de melhor que possa fazer. E isso tudo que você pode fazer é aceito como a sua ação perfeita do momento. O melhor que puder, faça.

Só há um Deus

Só há um espírito Só há um amor

Só há um momento: AQUI-AGORA Só há um mestre: Consciência

Na ilusão da mente

O UM parece ser MUITOS

É como uma sala cheia de espelhos Todos refletem você!

Lembre-se disso e investigue

Tenha muita reverência por todas as pessoas que passam por você. Cada pessoa é um Mestre Porque você é um Mestre

E porque o Mestre

é apenas UM.

Você é o divino, manifesto como corpo-mente E sua essência é puro silêncio e paz

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QUEM SOU EU?

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente

porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em

seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que

é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração.

Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que

conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.

BudaBudaBudaBuda Satsang significa uma reunião de amigos, um encontro para nos aproximarmos e reconhecermos nossa essência divina, aquilo que nós somos realmente. Estamos aqui para conversarmos um pouco sobre nós mesmos. Conversar sobre si mesmo certamente é um pouco diferente. Fomos apresentados a tantas coisas neste mundo. Mas sobre nós mesmos? A sociedade não o obrigará a saber sobre você mesmo! Ninguém o obrigará a conhecer sua essência. Isto tem que vir de dentro de você. Estar em Satsang tem de ser vontade sua. Vai surgir do seu coração, da sua alma. Vocês têm ideia de quantas pessoas se interessam realmente por conhecer Quem Realmente São? Estamos aqui porque, juntos, podemos navegar em águas profundas. Assim, eu repito novamente: são poucos os que desejam conhecer a Si mesmos. E, dizendo isso, vamos refletir juntos: o que é conhecer a Si? O que seria autoconhecimento? Conhecer o Eu. Muito bem. Conhecer a mim mesmo. Ok. Mas o que é isso? Para que preciso conhecer a mim mesmo? Qual a vantagem disso? Qual a razão para ir a um Satsang? Nós parecemos saber tudo de tudo, fazemos mil e uma fofocas e damos opiniões sobre todas as coisas. Tem gente que sabe mais do seu vizinho ou vizinha do que de Si mesmo! Tem gente que sabe mais sobre o galã da novela do que de Si mesmo! Nós sabemos muito a respeito do mundo, das pessoas, das coisas. Lemos muito, nos informamos, dispomos da biblioteca “google” para solucionar todos os nossos problemas. Estamos na “crista da onda” em matéria de informação. Não é verdade? Uma vez uma pessoa ficou muito brava comigo. É que eu sugerí a ela, num retiro, que ficasse quieta em sua cabana por um dia inteiro, e abandonasse seus livros. Ela ficou brava porque não podia ficar quieta nem por cinco minutos!

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É a coisa mais difícil do mundo! Ficar quieto é pedir demais a qualquer pessoa, quanto mais a uma pessoa ansiosa! Ela ficará borbulhando por dentro! A mente, essa coisa que pensa dentro de vocês, esse computador biológico, não sabe o que é quietude! Compreendem, já, um pouquinho o porquê de tantas pessoas não poderem parar para se conhecerem? A mente é como um papagaio dentro da cabeça. Ela fala, analisa, compara, recorda, imagina, cria mil histórias, tudo em menos de um segundo. E você ali, à mercê dela, o tempo inteiro. Dá pra notar? Aquela pessoa que mencionei a pouco foi para a sua cabana e achou que podia ficar quieta, mas, em seguida, começou a reclamar com algumas pessoas que sentia que estava ficando louca. Sua mente não podia deixá-la em paz. Estava escutando coisas malucas dentro. Não é interessante? O tempo inteiro a cabeça fica dizendo coisas malucas, mas, um dia, a gente olha e se dá conta disso. É uma das funções de um Satsang, de um retiro espiritual. Uma pausa para se dar conta, parar, esclarecer-se, acordar para Si. Quietude é tudo que podemos aprender para começar a sintonizar com nossa essência mais profunda. Quando a mente entra em quietude, descanso acontece. Então, podemos dizer que o primeiro passo para o autoconhecimento é aquietar a mente. Mas como podemos aquietar a mente? É possível aquietar a mente? Todos tentam, não é? Existem meditações, relaxamentos, mil e uma terapias, tudo para aquietar a mente. Bem, mas eu vou lhes trazer uma boa nova. Vocês não precisam fazer nada para aquietar a mente! Mas com certeza ela aquietará. Sabem como? Através do esclarecimento! A mente é “maluca” porque é uma mente mal-esclarecida. Ela está assim porque não é lúcida. Uma mente lúcida jamais estará em desordem. Então, gostaria de dizer para vocês que meu ponto aqui é ajudar vocês a colocar a mente em ordem. Quando a mente começa a se esclarecer, quando ela começa a entender melhor a vida e a si mesma, um ajuste interno acontece. Uma nova ordem se faz presente. E isto é meditação natural! Iremos fazer o possível e o impossível para esclarecer o que é a mente. Vamos conversar bastante sobre como a mente pode criar o caos, como a mente pode criar problemas onde não existem, como a mente pode fazer nascer o inferno na sua vida. Para então, depois, mostrar como a mente pode realizar a ordem. Como a mente pode perceber as soluções diante de seus olhos. Como a mente pode fazer nascer o paraíso diante de você. Jesus disse: “Busque o reino de Deus e todas as outras coisas lhe serão acrescentadas”. Isso é a pura verdade. Busque a ordem interna, conheça a si mesmo, e um mundo novo abre-se diante de seus olhos. Buda disse: “Seus pensamentos criam a sua vida”. Pois, aqui, vamos investigar a origem desses pensamentos. Vamos olhar para dentro e ver o que é isto que está fazendo e criando sua vida, dia após dia. Eu amo compartilhar isto, porque sei que é o começo de uma nova vida para aquele que absorve e é tocado por esta mensagem, como eu fui. Todos nós somos divinamente especiais, e não há ninguém que seja comum. Eu apenas estou transmitindo o que recebi de Osho e Ramana. O meu compartilhar se resume em mostrar que todos nós somos especiais, filhos do santíssimo, idênticos ao Santíssimo, perfeitos, maravilhosos, únicos, espirituais, irmãos, e unos continuamente com a Inteligência Absoluta e Suprema.

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Essa ordem interna de que você fala, é possível? Já estive procurando a mim mesmo a minha vida inteira, e também estive com alguns mestres. Estou realmente muito frustrado. Não acredito mais que algo possa acontecer bom no futuro. Nada vai acontecer no futuro porque o futuro não existe! O futuro é uma ideia, um pensamento. Tente encontrar o futuro neste momento. Você consegue? É possível encontrar o futuro agora? Tentemos todos juntos; vamos procurar o futuro em algum lugar aqui da sala. Encontraram? No real autoconhecimento, devemos compreender que a mente é uma ilusão. A mente é um processo de pensamento, e sua instância é sempre o passado e o futuro – nunca o Agora. A Consciência que você é, está sempre Agora. Você já percebeu que sua mente nunca está no Agora? Ela está sempre julgando, analisando, intuindo, comparando, se debatendo, se rebaixando, pensando, pensando, pensando, e tudo isso fora do momento. A mente o envolve num filme. Já notou aonde ela leva você? Sim, já percebi. Mas é difícil sair dela. Pega a gente de um jeito muito forte. Gostaria muito de sair dessa loucura e ficar mais no presente ... Mas você não está dentro dela! “Mente” é um computador humano. Dentro dela há um programa que contém todas as suas experiências vividas no passado. Ali se encontra todo o arquivo. Neste arquivo, há histórias a serem montadas a cada minuto. Algumas são dramáticas, outras aventureiras, eróticas, comédias, policiais, etc. São muitas as possibilidades deste programa mental. Esta é a mente! Um biocomputador que seleciona novos e novos programas em forma de linguagem e imagem para você funcionar no mundo. A cada dia que você vive, um novo condicionamento vai sendo processado. O grande problema é que você nunca aprendeu a conhecer este computador. O grande infortúnio é que você não sabe observá-lo, e vive, desnecessariamente, apegando-se a mil e uma histórias que são criadas – porque esta é a sua função básica – criar histórias! Sim. Li uma vez que Buda falou que nós criamos nossas vidas através de nossos pensamentos ... Exatamente. Mas eu não diria que somos nós que criamos. No meu conceito digo de um outro modo. É sua mente que cria. E mais: ela cria para os dois lados, tanto o negativo como o positivo. Às vezes, ela está fazendo coisas maravilhosas e embelezando o mundo, e outras está pensando negativamente e destruindo tudo ao seu redor, seja com pensamentos ou ações. Momentos depois, você nem acredita que foi capaz de fazer ou pensar aquilo. Não é assim? Num momento guerra, no outro, paz? Exatamente assim. Céu e inferno ... Você está compreendendo o que é a mente? Aqui nós podemos chegar a algumas reflexões: como é possível viver sem conhecer a mente, que está o tempo inteiro criando a nossa vida? É quase um suicídio, não é mesmo? As pessoas podem dizer que não querem se conhecer, que não ligam para o autoconhecimento. Elas são livres para isso.

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Porém, você entende o que elas estão dizendo? Em outras palavras, estão expressando que preferem continuar negando que exista algo em si que produz sua infelicidade! Incrível, mas é isso mesmo! Todos desejam a felicidade, mas a sabotam o tempo inteiro, pois não sabem que a mente é capaz de criar o céu, mas também é capaz de criar o inferno. Existe algo em si mesmo que está oculto, criando mil fantasias e fazendo mil estragos em nossas vidas. E você simplesmente está fingindo que não é com você. Você simplesmente não está se importando. É inteligente fazer isso? É óbvio que as pessoas não sabem o que estão fazendo. Jesus disse que os “perdoava porque eles não sabiam o que estavam fazendo”. Sim, nós não sabemos o que estamos fazendo quando estamos desperdiçando nossas vidas sem conhecer nossos potenciais. Você ganhou de presente da vida um corpo, um templo sagrado, e não tem manual de instruções! Fica difícil, porque este organismo é vivo, funciona por si só, pensa toda hora, e não tem botão para desligar. Assim, ele vai fazendo muitas coisas, acertando numas, destruindo noutras. E você simplesmente vai como um robô, num frenesi automático, sobrevivendo – não vivendo ... A real condição da humanidade é realmente um caos. Ninguém se entende. Todos reclamam de todos e ninguém faz nada. Mas algo pode ser feito! E este algo é uma nova educação. Ensino você a olhar para você. Eu não ensino regras de conduta. Eu não tenho catecismo ou crenças dogmáticas. Quando você começa a se conhecer e a sintonizar-se com a Vida, uma nova maneira de ser e se comportar nasce. E isso cria uma nova ordem interna em você. A partir disso, você começa a agir com uma nova inteligência. Entretanto, com essa mente pensante o tempo todo nos envolvendo nisso e naquilo, fica extremamente complicado, não é? Essa inteligência fica dormente ... Essa Inteligência da Vida fica dormente porque nós não sabemos como despertá-la, e bem pelo contrário, aprendemos a usar esta mente em demasia. Nunca a descansamos. Meditação não é um fazer. Tem-se de compreender algo. Esta compreensão de Si é meditação. Meditação é o nascimento de uma vida inteligente, apenas isso. Meditação é algo muito sério, e que está sendo ridicularizado por alguns professores que nada sabem sobre ela. A própria yoga, para muitos, se tornou apenas um exercício físico. Quando algo vira moda, fiquem de olhos bem abertos. A yoga e a meditação estão se tornando apenas exercícios. Sim, não nego sua validade para a saúde, mas o contexto real é bem mais amplo. Você quer despertar sua inteligência natural? Você quer compreender esta mente desordenada que está dentro de você? Você quer aprender realmente a conhecer e viver aquilo que você É de verdade? Então lhe digo: você precisa aprender inicialmente a separar “você” de sua “mente”. Esta sutil separação precisa ser feita. A separação do joio e do trigo. Daquilo que você É para aquilo que você não é. E você não é a mente!

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Eu não sou a minha mente? Como assim? Não estou usando ela aqui para falar com você? Explique melhor. Vamos lá: Você usa o seu carro, mas você não é o carro. Você usa a sua roupa, mas não é a roupa. Você usa a sua mente, mas você não é a mente. Compreende? No início fica um pouco difícil de entender, por que nossa mente é nosso bem mais precioso. Retire a mente e com o que você fica? Ouvir que não somos a mente nos provoca um sentimento de que perdemos algo. Contudo, não é bem assim. Todo o seu passado está em sua mente. Tudo aquilo que você pode pensar está em sua mente. Veja: você não pode pensar nem entender nada que já não esteja na sua mente. Se eu lhe digo: “Compre um amipoglipoque para mim”, você ficará perplexo. Sua mente não tem a codificação para saber o que estou dizendo. Não está dentro do seu arquivo mental. Ou seja, a sua mente é o passado. Ela vive do que aprendeu. A sua mente é pensamento ligado a tudo que você recolheu como experiência no passado. Deu para notar isso? O que eu estou dizendo é que tudo que vivemos está dentro de uma certa linguagem, de um certo código mental. Estamos todos aprisionados dentro de códigos mentais neste exato momento. Quando eu falo algum código que você não tem dentro de sua mente, você perde as referências e não me entende. Você me acompanha? Sim, sim. Seria por isso que os mestres de meditação insistem em irmos além da mente? Eles sempre dizem que precisamos ir além das palavras para compreender a vida como ela é. Acho que faz sentido isso do jeito que você está colocando ... Com certeza. Tudo aquilo que os mestres e sábios espirituais queriam dizer é que existe um espaço dentro de todos nós que não está poluído pela linguagem. Um espaço de silêncio. Fora da linguagem nós caímos direitinho para dentro do silêncio. Então, exercícios de meditação foram criados para este fim: que sua mente possa ser deixada de lado por alguns instantes e você possa se dar conta do silêncio, e de que todo este ensinamento aqui não é uma fantasia. Então, nosso próximo passo: precisamos separar o joio do trigo. Neste ensinamento, neste modelo que ensino, primeiramente você tem que se dar conta de que você e sua mente são entidades distintas. Você usa a mente. A mente é uma ferramenta maravilhosa, mas é uma ferramenta – não é você! Ela é útil, mas não a confunda com você. Você está além da ferramenta. E é isso que é o processo da meditação. Isso é conhecer a si mesmo. Meditação lhe mostra que você está além de um pensamento, além de um sentimento, além de uma sensação. Meditação é uma autoinvestigação que lhe mostra sua identidade direta e real que sempre esteve aí. Uma vez, em um Satsang uma pessoa queria saber por que alguns buscam o autoconhecimento e outros não. No meu entendimento, e isso custou a se estabelecer em mim, tudo que você quer pode ser encontrado no silêncio, na paz que habita seu ser mais profundo. É o silêncio, a quietude interior, a clareza mental, o que você procura. Eu sei disso. Sei porque para todos funciona assim. Era isso que eu estava procurando o tempo inteiro. E é para este lugar que nós vamos agora ...

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Pois bem. Eu gostaria de salientar uma coisa muito importante. Você sabe por que estamos aqui agora, mas eu vou lhe relembrar. Você veio a este lugar à procura de autoconhecimento. Você está aqui porque quer paz. A vida o trouxe a este lugar porque, no fundo, você sabe que está perdendo algo. Bem, eu disse há pouco tempo uma coisa: precisamos separar o joio do trigo. Repito novamente: precisamos separar o joio do trigo. O que é o joio para nós aqui? É sua mente. E o que é o trigo? O trigo é você! Portanto, nós precisamos separar, em primeiro lugar, o que é sua mente, e o que é você! Estou de acordo. Pelo que sei, a mente é um processo de pensamento, um arquivo, um computador humano. Compreendi que tudo que está na minha mente está no passado. É por isso que preciso ir além da mente para encontrar a paz. A paz está no presente. Aliás, posso senti-la agora ... Temos que separar o joio do trigo, e como começamos esta separação? Bem, começamos fazendo uma pergunta clássica: “Quem Sou Eu?” Esta pergunta é um artifício meditativo que nos leva de volta para Si. Esta pergunta é a clássica pergunta para iniciar o processo de separação entre o que você é, e o que você não é. Quando você se pergunta isto, e olha para o lugar certo aonde isto está apontando, você descobre, pela primeira vez, que você não é os pensamentos que está vendo. Então, você pode me responder? Quem é você? Sou um buscador espiritual. Estou em busca da luz e da minha essência. Ok, ok. Bem, viemos aqui para fazer uma investigação, certo? Viemos aqui para descobrir quem você é de verdade, e dissemos que, em primeiro lugar precisamos separar o joio do trigo, ou seja, você de sua mente. Previamente eu já lhe disse que você não é sua mente. Vocês usa sua mente, mas não é sua mente. Ok. Você tem um nome, certo? Este nome vem de onde? De onde você buscou este nome para me dizer? De onde busquei? Está na minha mente. Eu apenas pensei e ele veio da memória. Muito bem. Vamos ver isso de pertinho agora. Um pensamento pode definir o que você é? Use quantos pensamentos quiser, eles poderão definir o que você é? Reflita sobre isso. Você pode se definir de muitas formas, feio, bonito, burro, inteligente, sagaz, esperto, tolo, vitorioso, fracassado, sensual, impotente, baixo, alto, legal, chato ... E também posso notar que, muitas vezes eu transito por vários tipos de pensamentos. Às vezes, penso que sou um chato e, outras vezes, imagino que sou um cara bacana. Às vezes, sou um tolo e, outras, sou esperto ... Exatamente! Como então é possível se definir assim? Você nota como todos nós aprendemos a nos definir através de um punhado de palavras e conceitos? E alguma pessoa conseguiu? O que estamos fazendo? Estamos tentando nos definir através de algo que está sempre mudando: nossos pensamentos!

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Você muda constantemente o que pensa sobre si mesmo, não é verdade? E a mesma coisa você faz com as pessoas. Você muda o conceito que tem das pessoas que conhece, não? Às vezes, seu melhor amigo parece um idiota. E o seu maior amor perde completamente o encanto. Não é assim que acontece? Nós imaginamos que, através do pensar, poderemos ter mais segurança. Ou seja, que sabendo o que a gente é, definindo o que a gente é através das palavras, poderemos viver melhor. Eu quero pensar em mim mesmo como alguém muito interessante. Quero ser uma pessoa perfeita. Quero ser uma pessoa que não oscila, não muda, que não passa por negatividades. Preciso manter um certo comportamento estável. Ora, tenho conseguido isso? Você tem conseguido isso? Então, o que basicamente está errado? Ora, estamos nos definindo por pensamentos. Estamos acreditando que podemos nos definir através de conceitos mentais. Pensemos juntos: Isso é possível? Nenhum código de linguagem pode definir o que você é e o deixar satisfeito. Você não ficará satisfeito com nenhuma resposta. Porque nenhuma palavra, nenhum pensamento, nenhum conceito pode definir quem somos. Os pensamentos são rótulos, etiquetas. A vida e a realidade estão além das palavras. A palavra Deus não é Deus. Se falo Deus, o que você pensa sobre isso? Uma Inteligência Infinita? E uma outra pessoa, o que pensará? Um homem de barbas longas vigiando-a do alto do céu, observando suas maldades e bondades? Você fala de amor, mas o que é amor para você? Para ela, o amor é quando alguém a cuida e supre suas carências afetivas. Para ele, amor é algo que lhe dá poder, como quando tem amor ao seu carro, ou ao seu novo cargo político. Para outro ainda, o amor é sacrifício pelos outros ... Afinal, o que é amor? O que significa uma palavra? Uma palavra realmente não tem significado em si mesma. É você que dá significado a ela, percebe? É através de suas experiências que você dá significado às palavras que ouve. O que significa ser monogâmico em nossa sociedade, não significa nada em outras culturas poligâmicas ... Por isso as pessoas não conseguem se entender. Estão falando as mesmas coisas, mas estão entendendo coisas diferentes. Este é sempre o problema nos relacionamentos ... Sim, absoluta verdade. E se a palavra não é a essência, como podemos definir o que somos pelas palavras? Ora, usemos palavras, elas são veículos de comunicação maravilhosos para nós humanos. Mas o que precisamos saber é que existe um mundo além das palavras que é muito mais real - o mundo do Ser e do Amor. No mundo das palavras, está o mundo do Fazer e do Ter. Estamos aqui para uma coisa: ampliar a nossa realidade. Tudo que temos feito até hoje foi pensado em função de “fazer e ter”. O que trago de “boa nova” é que o mundo do Ser, o mundo que está no “sentir”, além das palavras, é o mundo que traz um sentido de vida mais amplo para você. E que seu Ser verdadeiro, aquilo que Você Realmente É, está morando sempre nesse mundo mais amplo. Além das palavras, não há conflito ou sofrimento. Toda a confusão humana está engendrada no mundo das palavras. É o mundo da linguagem que solidifica todo conflito humano. Eu sou cristão, você é muçulmano. Ele é de esquerda, eu sou de direita. Ele tem mais, eu tenho menos. Ele é superior, eu

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inferior. O que é isso? Não são medidas humanas criadas pela mente humana? Você me acompanha? Podemos realmente ser diferentes quando vemos além de tudo isso? Agora, neste segundo, neste divino instante, não podemos saltar por sobre essas palavras todas e vislumbrar aqui um estado de silêncio apenas por não valorizar as palavras como antes, mas darmos mais atenção ao silêncio dessa Consciência sem conteúdo que observa? Não podemos fazer isto? Eu posso, por que você não poderia? Sim, talvez tenha que se acostumar com o fato. Mas o fato é um fato! Por trás de todas as palavras que estou proferindo há uma Consciência Silenciosa. Inclusive há um intervalo entre as palavras. Neste intervalo, só esta Consciência Silenciosa está. E, neste silêncio, pode haver algum conflito? Estou me fazendo claro? Sim, eu percebo. No silêncio não há conflito. Estou um pouco surpreso, mas é a pura verdade. A minha mente é muito agitada, mas posso vislumbrar isso como você disse. O que sente agora? Estou ao mesmo tempo sentindo um silêncio dentro de mim e palavras na mente. Ao mesmo tempo. É uma experiência diferente. Eu achei que não era possível a paz acontecer junto com os pensamentos. Mas é totalmente possível. Quando as nuvens aparecem no céu, o céu desaparece? Não. O céu é o que você É. Nuvens são ornamentos no céu – nuvens são como pensamentos. Se você se concebe como o céu, as nuvens não farão problema para você. Mas se você se confunde, então dirá que não pode ficar em paz quando passar uma nuvem preta. Você me compreende? Isso é verdade? Se eu sou o céu, a nuvem preta não me afetará! A nuvem nem toca o céu. Isso quer dizer que eu sou sempre livre do sofrimento quando percebo que sou o céu? E quem percebe que é o céu? Você! Perfeito! Isso quer dizer que você (consciência pura) não é aquilo que muda. As nuvens mudam, mas o céu não muda. O espaço nunca sofre qualquer mudança, porém o que está dentro do espaço está sempre mudando. Percebe isso? O Eu Real é um espaço de silêncio que não sofre modificações. Pela meditação e autoinvestigação constante é possível se dar conta disso. E ele está sempre aqui agora, comigo? Eu diria melhor: este espaço de silêncio É você!

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E os pensamentos? E as emoções? E o corpo? Todos nós sempre pensamos que o que somos é este corpo, esta mente. Mas eles não são observados por você? Você não pode notar que existe uma consciência que percebe tudo isso? Eles não são mutáveis? Pensamentos mudam, não? Emoções também. E seu corpo está a cada dia diferente. Eles são as nuvens a que estávamos nos referindo. Pensamentos, emoções e sensações são experiências. Você é o observador constante que observa as experiências! Mas, onde está este silêncio? Por tudo! Vamos dar um exemplo: há uma consciência agora em você que percebe. Vamos chamar essa consciência de atenção. Feche os olhos. Não mova o corpo, e me diga o que está acontecendo aí... Há pensamentos. Mudam toda hora. Não consigo vê-los direito. Há uma confusão. Ok. Quem observa essa confusão? Eu. Eu observo essa confusão! Este eu-observador (Consciência) que nota a confusão não faz parte da confusão! Olhe, não julgue a confusão, não julgue os pensamentos. Quero que você apenas observe a tela de sua mente. Ela é como um filme aparecendo aí. Você pode notar que você é um observador do filme? Sim, posso perceber. Mas eu me misturo! Quando vejo, estou pensando sobre o filme. Todo pensamento sobre o filme faz parte do filme. Não seja enganado pelo filme. Este observador apenas observa. Saiba que todo pensamento faz parte do filme, não importa que pensamento seja. A mente o engana dizendo que agora é um pensamento seu. Pois saiba: não há um único pensamento seu. Todo pensamento é da mente. Todo pensamento que aparece para você é da mente. Nós não estamos aqui para parar os pensamentos. Estamos aqui para separar o joio do trigo, apenas isso. Lembre-se: há uma tentação de querer parar os pensamentos ou fazer algumas coisas com a mente. Contudo, você deve saber que meditação não é um “fazer”. Meditação é perceber o Eu Real. Meditação é distinguir o Eu Real do Eu Mental. O Eu Real é um observador. Ele não faz nada. É pura luz. Sua morada é o silêncio. A morada do seu eu verdadeiro é na paz do silêncio. Os religiosos chamam este silêncio de Espírito, porque Espírito é aquilo que não tem uma forma. Este silêncio não tem uma forma, não tem tamanho, não tem altura, não tem gosto, não tem nenhuma particularidade. Este silêncio é um puro vazio criativo. E, por incrível que pareça, deste silêncio é que nasce toda a paz, o amor e a vida. A experiência do silêncio é muito maravilhosa. É na verdade o fim de sua busca. É você encontrando você.

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Para que possamos viver a paz, precisamos primeiro saber Quem Somos. De uma perspectiva real de nossa identidade, tudo se encaixa de forma bonita e harmoniosa. Você não deixa de pensar, mas sabe que não é nenhum pensamento e não mais se envolve facilmente nas mazelas mentais. O filme da mente é muito poderoso. Entretanto, sem o filme, o que somos? Puro silêncio. Uma consciência silenciosa. Essa consciência de silêncio, quando se mistura com um pensamento, se torna este pensamento. O pensamento é uma energia que pertence ao mundo. Você é uma presença que não é deste mundo. Esta presença silenciosa que está por trás dos pensamentos não é deste mundo. É por isso que é importante separar o joio do trigo. Nós estamos usando este mundo, mas não podemos nos confundir com o mundo. Podemos estar no mundo, mas não podemos deixar o mundo viver dentro de nós. É como se eu vivesse em constante desapego? É viver em desapego natural! Você não faz esforço para se desapegar. Não há metodologia para se desfazer de alguma coisa. Você percebe que tudo o que é do mundo, pertence ao mundo. Você continua fazendo tudo que sempre fez. Não há nada diferente a ser feito. A mudança é na percepção de quem você é. Você é Consciência Silenciosa! Por que você precisaria mudar algo no mundo se você não está no mundo, não toca o mundo, não é deste mundo? Hum? Isso é como caminhar sobre as águas. A metáfora de Jesus caminhar sobre as águas é brilhante. Ele não é deste mundo. Você o vê, mas Ele não é deste mundo. E não só Ele – você também não é deste mundo! Na verdade, o silêncio que você É está sempre além, não faz parte da energia material do pensamento. Se eu sou este silêncio, como vou fazer para viver isto? Não há nada a ser feito depois que você tem claro Quem Você É. Apenas viver em entrega à Vida, fazendo da vida uma canção a cada segundo. Você não está separado de nada que vê. Mas, digamos que eu saiba quem eu sou. Minha namorada não sabe disso. As outras pessoas não sabem disso. Como vou me relacionar com os outros? Este é o desafio maravilhoso que aprofunda o ensinamento. Se você realmente percebe o silêncio que você é, então me diga: os outros são o quê? Os outros não são exatamente como você? Hum ... Mas que coisa ... essa é a volta necessária ... os outros são o que eu sou também ... É isto! Vamos dizer que alguém vem e lhe chama de idiota. O que é um idiota? Olhe para esta palavra sem trazer todo o significado dela que você tem em sua mente. É só

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uma palavra. Ok? Idiota. Muito bem. Quando uma pessoa diz que você é um idiota, ela está dizendo, sem saber, que o silêncio é um idiota. Você percebe isso? Acho que não ainda ... Quem é você? Ah, sim, claro. Percebo agora. Nossa, que interessante ... Como o silêncio pode ser um idiota? De nenhuma maneira. Idiota é uma palavra que traz um significado apenas para a mente! Se não construo o significado, então não há nada. Ok. Se você nota que “idiota” é simplesmente uma palavra flutuando no ar, vinda do espaço como uma energia, e não dá significado a ela pela sua mente, então “idiota” não terá nenhum sentido e desaparecerá no ar. Sim. Eu percebo, então, que não sou um idiota, não é? “Eu” quem? Eu! Quem percebe? Não estou entendendo ... Estou perguntando quem percebe para saber se você está me acompanhando. Na verdade, não há ninguém que percebe, é isso que quero lhe dizer. Como assim? Do ponto de vista do silêncio, há alguém? Do ponto de vista do silêncio, existe uma pessoa? O que estamos chamando de silêncio? Não é este observador-eu-consciência? Veja, a mente não é silenciosa. A mente é um processo sem fim de energia-pensamento, contudo ela pode ser observada. Quem observa a mente? Sente-se quieta e observe. Quem observa o pensamento? Se você fecha os olhos, se dá conta disso claramente. Há uma consciência, um observador que observa os pensamentos, as imagens. A isto estou chamando “Consciência Silenciosa”. Isto é alguma coisa? Isto tem uma personalidade? Não. O silêncio não tem personalidade. O silêncio é silencioso!

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Logo, voltando ao que você disse antes: “Eu percebo que não sou um idiota”. Eu lhe perguntei: “Quem percebe?” Pode entender minha pergunta agora? Sim, sim, agora compreendo claramente. Este “quem” que percebe é nada. Nada percebe. O silêncio consciente percebe. O vazio percebe. Hum, estou compreendendo ... Profundo isso ... Quem está compreendendo? O vazio está compreendendo ... Isto mesmo! O vazio está se esclarecendo! A mente é simplesmente este vazio mal- esclarecido! Está claro? A mente humana é silêncio mal esclarecido, silêncio confuso. A meditação investigativa é a solução para esta confusão mental. Ela esclarece a natureza da sua mente e lhe põe uma nova perspectiva. Então eu vejo que o “idiota” não existe! Perfeito! O “idiota” não existe. A palavra “idiota” é só um rótulo que não significa nada, absolutamente nada, aparecendo para “ninguém”! Em primeiro lugar, “idiota” só pode existir na mente, no bio-computador, no arquivo. Quando percebo que o Eu Real não pode ser descrito por nenhuma palavra, sei que “idiota” não pode rotular-me. E quando olho para mim mesmo e investigo a natureza do meu ser real, compreendo que quem eu sou de verdade é silêncio observador, e não uma personalidade. Então, a palavra “idiota” é endereçada para o silêncio, ou seja, para “ninguém”! Apenas sendo “ninguém” você pode viver em paz no mundo. Apenas não se importando com o tal do “egozinho” é que você pode ser feliz, sincero, leve, e pode ajudar as pessoas a viverem mais felizes pela sua própria celebração e por viver uma vida mais plena. Ser “ninguém” é só uma maneira de dizer. Quando você percebe o que isto quer dizer, verá que ser ninguém dá, pela primeira vez, um gostinho de Ser realmente VOCÊ! É um paradoxo! Enquanto você for “alguém” para você mesmo, você sofrerá conflito de outros “alguéns”. Compreende? Quando você é um ego, um alguém, então você leva a sério o fato de ser um eu. Este EGO então vai lutar com outros EGOS, porque enquanto você for um EGO, enquanto você se conceber como uma entidade separada, conceberá todos como egos também, na mesma medida. Enquanto você se considerar melhor que os outros, viverá lutando para provar a todos que eles são menos que você. Isto é ego. Enquanto você se considerar pior que os outros, viverá acreditando que os outros têm poder sobre você. E isso é ego. Enquanto você se considerar uma pessoa individual separada dos outros, sofrerá porque viverá em busca de uma completude através da aprovação dos outros. E isso é ego. Só para você,

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seja ninguém. Mas, para os outros, você sempre parecerá um alguém, a não ser que o outro também veja em si mesmo o ninguém que ele é! Nossa! Uma visão extraordinária! Tudo que você pensa sobre si mesmo é projetado no mundo em que você vive. Sua mente é pura magia. Enquanto ela tem um pensamento no qual ela acredita ser real, ela projetará este pensamento no mundo e criará uma história que ela mesma vive. Todo o seu mundo, dessa forma, é criado pelos seus pensamentos. Quando você deixa de dar importância aos pensamentos e dirige sua atenção para dentro, buscando o observador dos pensamentos, tudo muda. Você percebe que estava vivendo um mundo de imagens falsas, ideias fantasiosas, um mundo criado completamente de sua imaginação. Este ensinamento não pede nenhuma mudança. É a crença de que a mente é você e o envolvimento com ela é que precisa ser percebido. Ser um Buda é perceber-se uma presença, um ninguém. Ser um Cristo é a mesma coisa. Cristo/Buda são qualidades intrínsecas de todos. O estado Crístico ou Búdico pode ser traduzido como a sua natureza além da forma, essência silenciosa de pura consciência viva, que está aqui-agora. Um pensamento vem. Um pensamento vai. Quem fica? Você! Uma nuvem vem, uma nuvem vai; o que permanece? O céu. E o céu tem uma característica essencial: ele é infinito, não segura nada, não contém nada, é pura espacialidade. E é exatamente como o céu que eu defino o Eu Real. A mente define o Eu Real como um corpo dotado de pensamentos/sentimentos, porém esta é uma definição mental de você, e uma definição mental é uma definição incompleta. O pensamento não pode definir e nem captar o Todo. O pensamento fala apenas de partes. O Todo não pode ser falado, o Todo pode ser vivido. Não busque a si mesmo nas partes, mas veja que você é o Todo. Isto é a essência do ensinamento. (Uma pessoa levanta a mão e quer fazer uma pergunta.) Venho aqui pela primeira vez. Meu nome é Satyana. Prestei muita atenção em tudo que nos disse, e tenho uma dúvida. Onde fica o karma neste ensinamento? Eu estou aqui neste momento cheia de karma... Você poderia me definir karma? Claro! Para mim karma são minhas dívidas de vidas passadas. São pensamentos, sentimentos, energias que estão em mim e que modelam minha vida hoje. Vejo karma como um condicionamento passado agindo em mim agora. Bem, a minha pergunta é: como posso fugir do karma? O que posso fazer para diminuir a ação do karma?

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Ok. Boa pergunta! Vamos investigar isto. Posso lhe fazer algumas perguntas? Sim, estou aqui para isso. Estou curiosa! Ótimo, muito bom. Estar disposto a investigar é a base de toda a nossa proposta. É isso que diferencia todo esse ensinamento. Ele é investigativo. Gosto muito de dialogar para que possamos realmente pegar o ponto juntos. Então vamos lá: Quem é esta entidade que possui karma? Eu. Eu possuo karma. Ele está atado a mim. Sim, mas quem é este “eu” que você está apontando? Diga-me se este “eu” é o silêncio, que chamei de Eu Real, ou este “eu” é a mente, que chamei de ego? Defina para mim o que você está chamando de “eu”. Hum ... acredito que seja a mente ... estou um pouco perdida... Você percebe que está perdida? Sim. Investigue com amor: Quem está perdida? É possível o silêncio se perder? Está me acompanhando? É possível o seu Ser Real se perder? Ou seriam pensamentos que estão confusos? Confesso que são pensamentos que estão confusos. Feche os olhos. Ok. Perceba a confusão. Agora note que há um observador que pode perceber a confusão, que pode perceber os pensamentos. Há um espaço de atenção, de observação, aí? Ainda muito confuso... Você está consciente da confusão? Sim. Quem está conciente da confusão?

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Eu. Quem é você? Estou percebendo agora ... minha mente parou um pouco. Mas sinto que continua algo, sinto que tem uma observação ... É isto que é esta Consciência Silenciosa de que você fala? É isto que quer dizer quando diz que sou o Silêncio? Sim, sim, muito bom. Você pode notar que tem algo permanente que observa as mudanças na sua mente? Certamente algo precisa estar consciente dos pensamentos. O que é isso? Descreva pra mim ... isso que está consciente ... Isso está consciente, mas não posso descrever o que isso é. É uma atenção, acho ... Certo. Esta atenção pura é algum pensamento? Não, acho que não. É algo fora disso. Esta atenção observa as coisas aqui dentro de mim. Ótimo. Agora como você se sente? Há algum pensamento que precise da sua atenção? Não. Estou calma. Certo. Estar calma pode ser observado por você? Sim. Quem observa? Esta atenção novamente. Ela nunca se vai. Alguns pensamentos vêm e se desfazem rapidamente. Eu permaneço nesta atenção ... Esta atenção silenciosa sempre está aqui. Permanece sempre. Sabe por quê? Porque você É esta atenção silenciosa! Esta atenção é a Inteligência da Vida chegando neste mundo através do seu corpo. Quando você dá atenção a esta atenção, percebe calma no corpo. Por quê? Porque esta atenção é sua essência sem forma, ilimitada, pacífica, silenciosa, divina. Você está sempre além de qualquer experiência negativa ou positiva. Então o ponto é não me perder no mundo dos pensamentos, que é sempre uma história de minhas experiências?

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Isso mesmo. Para isso, vigilância! Isto lhe mostra o espaço de amor que há sempre em você. E onde fica a minha pergunta sobre o karma? Agora posso respondê-la, com sua ajuda. Karma está na sua mente ou em você? Karma está na mente! Eu sou silêncio! Está claro para mim. Isso mesmo! Você nunca teve karma! Como o silêncio pode conter algo? Como o céu aberto e infinito pode conter uma nuvem? Mas eu tenho um corpo! O céu não tem corpo! É a mente que diz que você tem um corpo! Como o infinito pode ter um corpo? Como o silêncio pode ter um corpo, não é mesmo? Corpo é por si algo limitado. Aliás, é a crença em ter um corpo, em ser um corpo, que nos limita e cria sofrimento. Você não tem um corpo! Isso é uma ideia da mente. Lembre-se: tudo que aparece como pensamento é apenas uma aparência, um conceito da mente. Logo, ter um corpo e uma mente é um conceito da mente! Uau! Que complexo isso! Mas, ao mesmo tempo, lindo! Acreditar que algo é complexo é uma ideia da mente, não é? Separar o espiritual do mundano é mais uma ideia da mente. Nós separamos para podermos entender, mas quando está entendido, me diga, onde pode haver separação, se você olha para isso com os olhos do silêncio? É claro que se você continua olhando com os olhos da mente, você continuará a separar tudo. Material e espiritual, céu e inferno, feio e bonito, iluminação e ignorância, etc. Mas em que domínio estão estas coisas senão no domínio mental? A mente é como uma faca. Ela divide tudo em duas metades. No silêncio você não tem metade. Ali você é um só. UNO. Você deseja mesmo ir além do mental? Você deseja mesmo saltar para um domínio que lhe traz diretamente o silêncio? Mas, se eu não penso, onde está o karma? Era isso que eu queria lhe perguntar! Quando você dá o salto, não tem mais nada. Tudo fica silencioso. Você está em casa. Tudo aquilo que você concebe em forma de pensamento pode ser visto por você, e você é aquilo que vê! Você é consciência pura que vê! E aquilo que vê, não pode ser visto, não está no mundo, não há como verificar com os sentidos ou com sua mente. Aquilo que vê, que eu estou chamando de atenção, de observador, de Consciência Silenciosa, de Eu Real, de Presença, não tem uma forma que possa ser percebido. É o percebedor! Não há como perceber a consciência que vê. A consciência que vê, só pode perceber – jamais será percebida! Se for percebida, quem perceberia? Um outro observador?

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Então nunca vou conhecer quem Eu Sou? Nunca vou perceber o percebedor? O divino que você é não pode ser conhecido pela mente, não pode ser um objeto de conhecimento – mas pode ser vivido a cada momento, porque você é ISTO. Deus não pode ser conhecido por você! O que pode ser conhecido é a expressão de Deus, que é TUDO QUE VOCÊ EXPERIENCIA, o corpo, a mente, o mundo, sua vida. Tudo é uma expressão de Deus. Em outras palavras, uma expressão divina de você mesmo! Você deve viver o divino, mas não pode observá-lo. Deus jamais virará um objeto a ser visto. Deus é aquilo que vê. Deus é a testemunha em você. Os objetos são expressões da mente, que, por sua vez, é criada para que a vida, como conhecemos, possa ser vivida. Você pode, sim, ser uno com isso. Pode viver isso conscientemente agora, e na verdade está vivendo isso, porque isso está o tempo inteiro com você. Entende? Você nunca deixa de viver isto porque você está sempre em qualquer experiência que você tenha! Não há nenhuma experiência sem o silêncio que você é. Digamos que você está se sentindo triste. Ok. Faça a investigação. Quem está se sentindo triste? Tristeza é uma história da mente ou do silêncio? O silêncio pode fazer uma história? Não. O silêncio apenas observa as histórias da mente! Portanto, quem está triste? Ninguém. Há pensamentos de tristeza na mente. Jamais é você quem está triste! Isso é o que os místicos queriam dizer quando afirmavam que o Espírito não conhece tristeza. É verdade! O Espírito não conhece tristeza, mas pode envolver-se ilusoriamente na tristeza, através das histórias criadas pela mente. Quem é você? Se você já investigou com agudeza, com clareza, não tem mais dúvidas. Tristeza é uma história dentro da mente. Então o que você faz? Quando acontecer, você toma consciência da tristeza como um filme mental. Se o choro acontece, o choro acontece. Se a tristeza aumenta, a tristeza aumenta. O silêncio se intromete na tristeza? Como poderia? O céu pode mudar as nuvens? Jamais. O silêncio é um pura observação. Simplesmente seja uma testemunha da tristeza. O segredo dos segredos é: seja uma testemunha. Tristeza é apenas uma energia da mente que está acontecendo diante da consciência silenciosa que Você É. Consciência está na tristeza porque sem Consciência da tristeza não há tristeza. Mas está além, também, porque quando a tristeza se vai, o que permanece é a consciência. E se a tristeza não for embora? Se ela não for embora, ela não foi embora. Não deve haver um investimento no sentido de a tristeza ir embora. Quem teria este interesse? Você tem que saber que o Silêncio Que Você É não pensa, logo ele não pode tratar a tristeza da mesma forma que você,

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como pensamento, trata. Para a consciência que Você É, tristeza não existe. São experiências! Por isso que toda a tentativa de melhorar o que quer que esteja acontecendo, só pode ser uma ideia da mente. Acolha suas experiências e vá além. O coração de amor absorve e transforma tudo em amor. Amor aceita. Amor não julga. Amor é mutação silenciosa de tudo que é irreal. Quando você realmente quer viver na verdade, a mentira não tem mais força sobre você. Satsang é um convite que você faz para você mesmo de viver na verdade. Derreta no amor da verdade todas as ilusões. Eu sempre quero ficar bem. Não é uma coisa natural? Quando você diz: “Eu sempre quero ficar bem”, pode perceber o que isso implica? Não é uma frase bem tradicional da mente? Meditação quer dizer o seguinte: não faça nada. Não fazer nada não significa que sua mente não vai fazer nada! Isto significa apenas que você observa a mente fazer o que ela pensa em fazer, mas você não se interpõe. A mente, quando está protegida pelo Silêncio Consciente, toma caminhos surpreendentes. Se você já percebeu a ilusão dos pensamentos, pode brincar com eles. São só pensamentos! Eles não são reais, a não ser que você os considere reais. Questione-os! Permaneça Consciente. Seja o Silêncio Vivo. Deixe a mente livre e fique alerta. Acompanhe a mente como se acompanha uma criança. Você não fica dirigindo a criança, porque isso é muito chato, e ela não crescerá com isso. Você apenas acompanha! Acompanhe sua mente. Esteja no silêncio. Observe seu corpo sentir, sua mente pensar. Ela é inteligente e escolherá os caminhos mais certos que puder. Se você se aquieta, algo de inteligente acontece. E essa inteligência nasce de onde? Ela vem da Fonte do pensamento. Deixe a coisa acontecer. Aceite o momento e perceba Quem Realmente Você É. Em outras palavras, você está dizendo que tudo vai continuar do mesmo jeito? Não! Isso é sua mente que está se antecipando para assumir novamente o controle, ao invés de deixar tudo para seu coração. É muito delicado e sutil tudo que estamos tramando aqui. Portanto, vamos com calma, muita calma. Agradeço a você por ter me perguntado isso. E devo dizer agora: a presença de você como Silêncio Consciente altera tudo na sua vida. É a ausência dessa percepção que cria o tumulto e o falso “ver”. E o que estou chamando de sua ausência? A sua ausência é o seu envolvimento com a mente e o não reconhecimento de você mesmo como consciência de luz. Quando você se percebe como não envolvida, então tem o insight de que o jogo da mente é uma ilusão. Sendo o jogo da mente uma ilusão, você para de acreditar em pensamentos a que antes dava crédito total, porque tinha certeza de que aqueles pensamentos eram reais para você. Você vem a notar então que tudo aquilo que aparece em sua mente pode ser questionado, e nada precisa ser real. Afinal, a única substância real é você. E quem é você? Uma Presença Divina. Uma mente vazia de conteúdo.

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Ao que você dá validade? Com que pensamentos quer criar seu mundo? Por que ser usado por pensamentos destrutivos? Você me compreende? Quando você percebe a ilusão, então pode brincar dentro da ilusão. Se você trata a ilusão como verdade, acredita em uma realidade virtual que está sendo apresentada pela sua mente. Mas quando investigada, a mente se vê como apenas uma ferramenta. Veja: você, e tudo na sua vida, é um instrumento criado pela Vida Universal para que tenha no tempo finito uma experiência única e irrepetível do infinito. Vida e Deus são a mesma coisa! É um processo único. Quando você acorda espiritualmente para sua participação na obra da Vida, uma alegria maravilhosa brota em seu coração. Deus e você sempre foram Um. Agora você vai descobrindo isso e vai vivendo cada vez mais a partir do amor e da versão mais elevada do que Você É. Com esta compreensão, as coisas podem começar a mudar na minha vida? Sim. Mas você não deve esperar que ela mude de acordo com suas expectativas. Normalmente queremos mudar muitas coisas em nossas vidas e, nessa ânsia de mudança, esperamos que a vida mude de acordo como pensamos que seja certo. Temos cartas na manga de como as coisas deveriam acontecer, não é mesmo? Nós não confiamos, não entregamos as fichas para o coração fluir. Queremos controlar tudo mentalmente. Pensamos que sabemos o que é melhor para nós. Assim, como as surpresas do Infinito podem acontecer? Deixamos a Vida nos surpreender ou estamos sempre com planos prontos? A vida é sempre implacável. Ela tem seus jogos e suas cartas. Quando você aprende a morar no seu santuário interior de silêncio, você começa a entender sua mente e todos os seus jogos. Quando você não se envolve por notar que o silêncio é algo além da sua mente, e que você é este silêncio, então o seu ego joga sozinho. E quando ele joga sozinho, começa a enfraquecer. Ele precisa constantemente da sua participação ativa. O ego não vai sobreviver sendo o mestre de sua vida quando não há uma participação ativa sua com ele. Os comandos do ego, quando checados e questionados, enfraquecem. É por isso que proponho esta meditação investigativa ao invés de apenas a meditação silenciosa. O que você pode aprender por fazer algumas respirações? Ou alguns exercícios, ou alguns mantras? Relaxar sua mente por algum tempo. Depois a loucura volta. Você tem esta experiência já. A loucura volta. O que estou ensinando é para você se dar conta de que a loucura não é sua. A loucura é da mente! Permaneça vigilante ao que você é além da mente. Entretanto, quando vem um pensamento negativo, eu preciso fazer alguma coisa, não é? O que eu faço nesses casos? Ou quando estou com raiva? O que posso fazer? A raiva acontece e o pensamento negativo acontece. Acontece para quem? Deixe-os acontecer. A quem a raiva acontece? Quem dá o nome de raiva? O que é raiva? Quem é você?

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Eu sou silêncio, observação ... Você realmente é, ou isso é apenas algo que você decorou e colocou na sua mente? Como assim? Se você é o Silêncio, o que o Silêncio precisa fazer ao observar raiva no corpo e na mente? Diga para mim. O que o Silêncio pode fazer? Eu acho que não entendi ainda o que é ser o Silêncio então ... Ok. Sem problemas. Tentemos de novo. Feche os olhos. Ok. Observe as sensações no seu corpo. Pode fazer isso agora? Dá pra observar que você está consciente do seu corpo agora? Sim, posso observar isto. Bem, você pode notar isto que está consciente? Sinto que algo está consciente, mas não sei o que é. Isto é você mesmo! Ok. Você é aquilo que vê. Você não é aquilo que é visto! Você é o silêncio que observa. Você é o vazio que observa. E você observa é a mente. É a mente que contém pensamentos, sentimentos, sensações. Se não há mente, você não pode ter sensações ou pensamentos ou sentimentos. Em sono profundo, você tem sensações? Não. É porque, em sono profundo, sua mente está ausente. Então este vazio que eu sou não é uma pessoa? Não, não é pessoal. É impessoal. Totalmente impessoal. Podemos chamar de VIDA, podemos chamar de DEUS. O que importa o nome? O nome é só uma referência, um rótulo. O Silêncio é impessoal. O Silêncio é algo que todos nós somos, não só você. Você me entende agora? Aquilo que lhe dá amor sem limite e desapego total é o abandono da ideia de que você é apenas uma pessoa. De verdade, você é o encontro da forma (corpo) com a não-forma (Silêncio). Este Ser sem forma é impessoal. Não é uma pessoa. Deus não é uma pessoa. Deus é a Totalidade do funcionamento da VIDA. E este processo de VIDA está em todos os lugares. É uma Inteligência impressionante.

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Deus é sua essência e a essência de tudo. Deus é o que todos nós somos neste exato segundo. Esta meditação investigativa do “Quem Sou Eu” é para provocar em você uma visão do sagrado. Você precisa “ver” este silêncio que você é. Precisa não ter mais dúvidas a respeito. Isto é satsang. Corrigir a maneira errada de olharmos para nós mesmos! Então, neste momento presente, tudo que existe é o que é, sem o pensamento? Estou começando a entender ... O pensamento é que divide tudo, que separa tudo. Suas palavras demonstram que você está no caminho certo. No silêncio, ou seja, quando sua mente é posta em segundo plano, você nota que tudo que ela lhe propõe é apenas um filme de pensamentos. E então você se fixa mais no mundo além da linguagem, no mundo que está realmente aqui, diante de você, mas não codificado pela linguagem. Aqui, agora, o que nós somos? É indizível, não é mesmo? Olhe para uma rosa sem pensar em rosa. Olhe para seu parceiro amoroso como se fosse pela primeira vez. Olhe para o seu amigo como se não o conhecesse ainda. Olhe para a vida sem pensar na vida. Não é mágico? Tudo que é preciso é ver a ilusão como ilusão. O que acontece, então? Você se torna desapegado naturalmente. Ficamos sem saber o que dizer, com tamanha inocência... É neste “não-dizer” que mora a iluminação. Iluminação é quando este “não-saber”, este “não-dizer” se torna o seu chão, e você se acomoda nisso. Você continua agindo no mundo como qualquer pessoa comum. Isso não o transforma no super-homem, num guru, num santo, num ser superior, ou em qualquer viagem de poder que você tenha. Nada disso! Iluminação não é uma viagem de poder. Não é uma viagem da mente! É a simplicidade das simplicidades! Tudo a que a mente não está acostumada! Amar o comum e o simples é para a mente um grande problema. Quando pensamos em nos tornar mais espiritualizados, logo imaginamos tudo, menos a simplicidade! Amar cada momento é o que acordar espiritualmente significa. Amar cada momento é permitir que cada momento seja o que ele é. Tristeza, alegria, aperto, soltura, contração, expansão, acontecem à mente, mas não a você. O fato é que você por dentro não se concebe mais como uma pessoa. E quando você não é mais uma pessoa, ninguém é uma pessoa para você também, porque isso é válido para todos - se você realmente viu claramente. É realmente muito simples. Seja inocente, simples, viva no presente, e saiba que nada e nem ninguém tem poder sobre você. E por quê? Porque ninguém existe que possa interagir com você. Se você é silêncio, e o silêncio está consciente, então tudo está no silêncio, apesar de todo o barulho do mundo. Tudo está mergulhado no amor que o silêncio tem. E ali, você mora! Deus é este silêncio?

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Sim. Sempre estive acostumada a ter uma relação pessoal com Deus, isso é um pouco estranho ... Deus, neste ensinamento, parece tão impessoal ... Não posso ter uma relação com Deus sabendo que ele é apenas o silêncio ... Há um outro aspecto interessante que eu vou compartilhar agora com você: enquanto você não vive Deus como sendo Você a cada segundo do seu dia, Deus se torna aquilo que você precisa para adorá-lo! Se você se lembrar de que Deus está em tudo, perceberá que Deus pode aparecer como qualquer coisa, para que você possa devotar-se, e ajudar você a entregar para a vida, junto com sua ideia ilusória de separação, que inevitavelmente cria medo, que resulta em desejo de controlar tudo para que possa viver em paz. E é exatamente assim que a paz nunca vem. Então, para que servem os mestres, os nossos amigos espirituais? São maneiras que Deus encontrou de se fazer humano e poder elevar a consciência humana de amor. Muitos cristãos concebem Jesus como Deus. De alguma forma, Jesus, Buda, Krishna, são encarados como encarnações de Deus. Por quê? O Divino, que é sem forma, se faz forma no mundo para que possa compartilhar o mais elevado ensinamento ao ser humano, sobre a mais nobre natureza infinita que é nossa essência real. Sabe como você pode amar a Deus? Não esqueça: você pode amar a Deus através do AMOR. Você pode amar a Deus AMANDO! Sempre que você se entrega a seu mestre amado; sempre que se deslumbra com seu companheiro de vida; sempre que você se dedica às suas crianças, à caridade, aos necessitados; sempre que você se maravilha com o que as pessoas neste mundo podem fazer de belo e de maravilhoso; sempre que você canta na beira de um lago; sempre que você está em companhia de amigos queridos; sempre que você se ilumina olhando nos olhos de alguém que ama; sempre que a graça toca seu coração inesperadamente e você se enche de júbilo e alegria por estar vivo; sempre que a Vida o inspirar a viver e a celebrar, e compartilhar seu amor com tudo e com todos; sempre que isso acontecer ... você está tendo uma relação Pessoal com Deus. Deus não está separado de nada disso. Esta é a magia da vida humana. O divino é sempre a essência que permeia tudo que você vê. Lembre-se disso. No caminho da sabedoria, Deus é concebido como silêncio, consciência e quietude. No caminho do amor, Deus é sentido como o próprio Amor. Como você vivencia Deus, depende dos seus olhos. Tenho uma pergunta: para que existem a mente e o corpo, se somos o próprio divino?

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Ora, eles existem para que você saiba disso! É para que você desfrute da maravilha de Si mesmo como Vida! Para haver um observador deve haver um corpo. Compreende? Sem o seu corpo, você é o divino, mas não há nenhuma experiência. Você existe para testemunhar a presença de Deus que você É! Você existe como um ser humano para realizar esta unicidade e não apenas ter conhecimento dela. Você existe como uma mente e um corpo para experienciar a Vida! A mente e o corpo são instrumentos de você mesmo como divindade original. Tudo é Um. Qual exatamente a importância da meditação? Para que serve? Há dois pontos a serem vistos. O primeiro ponto da meditação é aprender a centrar a mente. Desenvolver uma mente focada, capaz de estar presente, alerta, consciente deste momento, sem vagar excessivamente. O segundo ponto da meditação é aprender a observar o pensador e a se estabelecer cada vez mais como o silêncio observador. Como experiência, quando estiver sozinho, observe como seus pensamentos funcionam, notando como acontecem na sua mente. Treine a atenção para que possa observar cada vez mais e com mais clareza. Veja que tudo que acontece é uma experiência. Por trás de toda experiência há um observador consciente dela. Temos que aprender a notar este observador. Com o tempo, isso se tornará sua natureza. Observar é sua natureza, mas no momento “parece” que não, devido a muita identificação com os pensamentos. Substitua gradualmente todo “eu faço” por “eu observo o corpo fazer”. Substitua o “eu penso” por “observo a mente pensar”. Então, todo o trabalho é elevar-se acima do pensamento? Não é isso? Passar do pessoal para o impessoal. Da pessoa para o divino-observador. Estou certa? Perfeito. Desse modo a sua mente para de ter pensamentos compulsivos e se torna uma mente agradável, que ajuda você a viver no mundo. Assim, o momento presente é simples, inocente e leve. O envolvimento com os pensamentos é apenas um estágio de nossa vida, um estágio de formação básica daquilo que chamamos de personalidade. Depois disso, devemos continuar a amadurecer. No oriente eles dizem que os pais dão origem ao primeiro nascimento, sua mente e seu corpo. Depois, então, eles falam de um “renascimento”, um segundo nascimento. Este seria o nascimento de sua alma. É o que estou chamando de Silêncio e Amor. Mais uma coisa que não entendi muito bem, e que está um pouco contraditório no ensinamento. Você diz num momento que somos consciência, que somos silêncio. E noutro momento você diz que somos tudo que há, que somos tudo aquilo que vemos, incluindo todas as pessoas e o universo inteiro. Você diz: “Você é uma estrela, uma flor, pessoas, uma montanha, pensamentos”. Como posso conciliar isso?

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Separar o joio do trigo, ou seja, o observador do pensador, a consciência da mente, é para que você veja que não há um Eu, separando isto daquilo. Este é o objetivo dessa investigação. Primeiro você tem que se dar conta de que não há um eu separado da experiência. Há apenas a experiência! Não há sujeito e objeto. Não há dualidade! Há apenas unicidade! Sempre! Não há ninguém caminhando, mas há o caminhar. Não há ninguém comendo, há o comer. Não há ninguém pensando, mas há o pensar. Tudo acontece espontaneamente na Vida. Então, quando você percebe que há um observador observando a mente, os pensamentos, as experiências, eu lhe pergunto: “O que é este observador? De que ele é feito? Qual sua forma? Ele tem características? Não tem características! Este observador é puro vazio. Não é nada! Nada que eu possa descrever, pelo menos ... Isto mesmo! Perfeito! Então, fizemos a primeira parte do caminho. Não há ninguém observando, apenas observação!!! Não há nenhuma pessoa que observa os pensamentos – apenas OBSERVAÇÃO! Essa OBSERVAÇÃO É A DIVINDADE! É o que muitos caminhos espirituais chamam de EU SOU!. Se não há ninguém observando, pensamento acontece por si mesmo sem um eu pessoal por trás controlando-o. Sentimento acontece por si mesmo sem um eu pessoal por trás julgando-o. O ponto definitivo é: tudo é UM! DIVINDADE é o fazedor! DIVINDADE é o pensador! E, diante disso, um relaxamento espontâneo e natural surge. A vida vive por si mesma. Não há mais controle neurótico! O controle se faz naturalmente! O mistério está aceito. O milagre da Vida foi compreendido. Ele não foi entendido, porque é a mente que pode entender algo. O milagre apenas foi aceito. O que existe é Consciência! Consciência é Deus. Deus vive em todas as coisas, assim como o brilho do sol vive na lua. Imagine Deus como o sol. O sol está além da lua. Do mesmo modo, Deus está além de todas as coisas. A mente existe para que Deus possa se ver no reflexo. Um reflexo perfeito, uma mente perfeita, vê a vida em todo seu esplendor. Um reflexo imperfeito, uma mente impura, é impedida pela ignorância de ver toda a imensidão e encantamento da pura divindade. Quando estamos diante deste mistério divino (mente pura ou consciência), a única coisa que podemos fazer é louvar isto. É um milagre! É algo que não pode ser entendido, mas pode ser vislumbrado. Sim, este é o milagre do TUDO É UM. Estou maravilhada com tudo isso!

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É o bastante pra você hoje? Sim. É o bastante. Obrigada! Namastê! Namastê!

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O JOGO MÁGICO DA VIDA

Nada real pode ser ameaçado.

Nada irreal existe. Nisso está a paz de Deus.

Um Um Um Um Curso em MilagresCurso em MilagresCurso em MilagresCurso em Milagres

Depois de estar em Satsang pela primeira vez, senti muita energia no começo, durante a meditação de olhos fechados. Queria perguntar de onde vem esta energia. Para lhe responder isto, vou lhe fazer uma pergunta: de olhos fechados, com o corpo totalmente relaxado, em profunda leveza e soltura, você percebe que não dá para distinguir entre sua mão direita e sua mão esquerda? Sim, já percebi isto. Este relaxamento consciente que você sentiu durante a meditação inicial significa que você perdeu o limite de si mesmo. Este limite é criado pelos seus pensamentos! Este seu limite chama-se ego, e é uma ideia em sua mente. Você não é uma ideia ou imagem. A experiência de ser “o divino além dessa forma pessoal” lhe dá uma paz infinita. Você é uma não-coisa, ou seja, você é uma enegia sem forma. A energia que você sente como divindade de paz é você mesmo além do corpo. É algo que está além dos limites da sua mente. Quando a mente não está, você está então consciente de algo mais. Este algo mais é também você. Mas um você diferente, muito mais leve, expandido, e sem fronteiras. Isto é a DIVINDADE. Um você que está além da forma e do nome. Este “VOCÊ” não vem nem vai. Pensamentos vêm e vão.Você, em realidade, mora muito além dos pensamentos, mas a identificação com eles o faz pensar que é um ser limitado a um corpo. Mas eu tenho um corpo... Vamos dizer de um modo diferente, que facilite a compreensão: este corpo é um corpo da Vida. Sendo da vida, é Deus-Consciência que vive “este corpo”. O que você chama de “eu-vivendo-um-corpo” é só um pensamento. Este EU é só uma ideia. Uma ideia que nasceu para proteger o corpo e garantir sua sobrevivência. Se você diz que não existe o “eu”, então quem está falando com você agora?

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O Divino! Consciência! O mesmo que está falando aí é que escuta aqui: Consciência! Tudo é a mesma Consciência Impessoal ou DIVINDADE. Deus usa instrumentos diferentes – apenas isso. Mas é tudo Consciência criando e desenhando a vida, em todos os níveis, do mais baixo ao mais elevado. Então somos uma UNIDADE DIVINA? Sim! Como o UM saberia de si mesmo se permanecesse apenas UM? Para haver conhecimento não é preciso dois? Como você pode ver seu rosto sem um espelho? O jogo da Consciência é o jogo dos espelhos. É preciso haver uma dualidade, uma relação de sujeito e objeto (aquele que conhece e outro que é o conhecido). Esta mente é o nascimento desta dualidade sujeito e objeto. Ela passa a ter experiências para ser uma pessoa. Amit Goswami é um dos maiores físicos da atualidade. Ele escreveu um livro chamado O universo autoconsciente. O que ele quer nos mostrar é exatamente o que os místicos e sábios falam há milhares de anos. Ele diz que o universo se conhece através de nós, ou seja, o universo é autoconsciente através de cada um de nós. É em você agora, neste momento, que o universo está se conhecendo. E isto realmente é fascinante! Um milagre! Cada organismo corpo/mente que existe (cada pessoa), vê uma expressão única desse universo. A mente é criada pela Consciência para que possa experimentar a vida como ela é. Você não é a gota do oceano. Você é o oceano! A gota (que simboliza o seu corpo) existe apenas como uma aparência temporária! Veja só o jogo da Inteligência Suprema: para que haja a realização que você é mesmo o oceano, que você é mesmo divino, você tem que se tornar não-divino. Para que você se reconheça como universal é preciso ser separado, não-universal. A sua não-divindade ilusória cria o contraste pelo qual você pode se conhecer como em realidade É. Satsang é um espaço onde criamos uma atmosfera para absorver isto. Em Satsang não há conceitos de iluminação ou ignorância. Não há tristeza ou alegria. Dentro de Satsang há apenas O QUE É. Os conceitos são vistos como conceitos – simplesmente conceitos. E então nós temos que ver o que há aqui-agora, que não é um conceito, mas que é vida real, pulsante, presente. Abramos os olhos! Está tudo aí! Tudo é uma expressão de Deus! Como posso ir além de minhas crenças negativas? Como posso sair do sofrimento? Acho que há algo errado comigo. Deve ser alguma crença negativa que tenho desde a infância. O sábio iluminado Nisargadatta Maharaj nos ensina: “Um príncipe que acredita ser um mendigo pode ser convencido conclusivamente de uma única maneira: deve se

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comportar como um príncipe e ver o que acontece. Tudo o que peço a você é um pouco de fé necessária ao primeiro passo. Com a experiência virá a confiança, e você já não me necessitará para prosseguir.” Isso não é suficiente. Já participei de um satsang. Sei que sou consciência. Contudo, não me basta ... Ok. Mas eu sinto que você SOUBE (passado). Você sabe AGORA? Quando você diz: “Eu sou consciência”, você pode perceber que consciência se transformou em um conceito para você? Pode ver isso? É preciso VER isto AGORA. Não adianta tornar essa consciência outro conceito que você tem na sua mente. A consciência não cabe na sua mente. Ela não cabe em nenhum pensamento. Você pode notar que tudo aquilo a que você se refere como sendo você, nesse momento em que você diz “Eu sou consciência”, acaba por se tornar um outro pensamento? Ah, sim. Posso notar isso. O olho que vê não pode ver a si mesmo. A faca que corta não pode se cortar. Aquilo que você é só pode SER AGORA, e nunca virar um objeto percebido por você, e nenhum conceito em sua mente. Todos os objetos percebidos por você são apenas objetos. Vá além. O que você é enquanto todos os pensamentos vêm e vão? Você pode criar um clima para que uma dose de compreensão possa acontecer. Quando nos reunimos em Satsang, estamos criando este clima favorável. Meditação é um outro nome para a existência do silêncio pacífico que está além de qualquer conceito mental. Nosso ponto aqui é simplesmente perceber que o ego não existe separado de ninguém ou do mundo. Mesmo depois de acordar espiritualmente, eu vou sentir ainda dor e prazer, não é mesmo? Depende. Acordar, na maioria das vezes, não apaga instantaneamente as experiências kármicas do corpo e da mente, mas põe em perspectiva o seu verdadeiro Ser Real. Assim, tudo se torna mais leve e mais fácil. O derretimento final sempre acontece pela graça divina. Nunca meditei, nunca escutei ensinamentos, li poucos livros. Queria saber se é necessário um prévio conhecimento para digerir e assimilar isso tudo. É um prazer ter você aqui. E devo lhe dizer que este não é um lugar para letrados ou sabidos. Seria até mais justo eu dizer que não sou um professor. Não estamos aqui para coletar mais informações. Aqui nos tornamos principiantes, somente. Eu sou sempre um principiante nisso. Aqui temos que esvaziar nossas xícaras.

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Você não pode ir a Deus cheio de conhecimento. Este ensinamento, na verdade, não é bem um ensinamento, porque o objetivo dele não é o de ensinar a você alguma coisa, mas sim de fazer a mente compreender o seu limite, perceber sua limitação, e aquietar-se. O apego ao conhecimento o afasta da comunhão direta com a vida. Sim, você pode ter conhecimento. Todo conhecimento é maravilhoso! O obstáculo, nesse sentido, é o “apego” ao conhecimento. É muito simples tudo isso. Não há nada complexo. Quando não estou preocupado comigo mesmo (com o tal do “eu”), tudo é muito simples. Quando você consegue deixar em segundo plano a sua mente com seus pensamentos, e fica aqui mesmo, neste momento, você experimenta oração. Você experimenta meditação. Cristo ensinou isto: “Celebrai-vos irmãos!”. Neste momento! Para celebrar só nos resta apreciar o momento, que é algo que já temos. No entanto, o que não sabemos é celebrar! O momento é simples, está sempre aqui, e o coração está sempre sintonizado com o momento. A mente não. Ela está no passado ou no futuro. O coração está aqui-agora. Com cada pessoa há um portal especial que abre a comunhão com a vida. Se você escutou e não lhe tocou é porque não ressoou em seu coração. Não é uma questão de entender. É apenas uma questão de silenciar. Este ensinamento são conceitos úteis para ajudar a mente a reconhecer sua pureza além dos pensamentos. Lembre-se: nenhuma palavra pode conter a verdade. Mas elas podem funcionar como setas, como indicações em direção à verdade, que mora no silêncio, além das palavras. Até dizer que a verdade mora no silêncio não é verdade! A verdade está aqui! No barulho ou no silêncio. Mas é indizível. Não há “verdade” nas palavras, mas elas podem ajudar. As palavras são indicadores. O ponto da meditação é um constante esvaziar, como se você estivesse esvaziando um balão cheio de ar viciado. Fique vazio de ideias mortas para que o novo possa entrar. É simplesmente procurar ser o que você é a cada momento, com total aceitação e plena vivacidade. Não posso aceitar a minha vida como ela é. Não está bom assim. Eu sei, eu sei. Isso é o que todos nós dizemos o tempo inteiro. Queremos mais, algo está faltando, uma peça do quebra-cabeças sempre está ausente, não é mesmo? Quando pensamos que vai ficar completo, eis que algo acontece novamente que nos põe em busca de outra coisa. Não é assim? Concordo que a vida é incompleta na percepção da mente. Todos estão querendo muito ser felizes, mas algo está impedindo isso. O que seria? Qual seria o verdadeiro motivo que nos impediria de sermos felizes? Parece que estou sempre com medo de alguma coisa... Bem, o estado de medo é oposto ao estado de amor. O medo nos tensiona. O amor relaxa. Estamos sempre em busca do amor porque o amor nos liberta do medo. O amor é a grande resposta. Mas, onde está o amor? Como podemos fazê-lo aparecer em nossas

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vidas para nos ajudar a sermos felizes? Bem, eu devo dizer: o amor está sempre disponível no espaço de silêncio que você é. O amor está sempre aqui. E por que não o encontro? Talvez porque eu esteja olhando para outro lado. Talvez porque não fui ensinado a olhar para o amor. Estamos tão cheios de ideias. E com esta mente buscadora nós vamos a um mestre procurando por respostas espirituais. Mas não há respostas espirituais! O mestre sabe que toda a resposta é não-espiritual. Ele fará de tudo para esvaziar você, porque ele sabe que, por baixo de suas crenças e da programação de sua mente está a pérola que você busca. A pérola do silêncio, do amor e da paz. O coração está sempre em silêncio? O coração está sempre em paz. E o que estou chamando de coração não é um sentimento, mas o seu centro mais profundo, sua alma. Um amigo chamado Niraj editou um livro maravilhoso de Mooji, que se chama Antes do Eu Sou. Ele diz algo interessante ali: “Apenas aquele com olhos perfeitos pode ver a perfeição. E o que são olhos perfeitos? Olhos que veem sem desejos ou interpretação”. Isto é o coração em ação. A inocência da criança interior operando através de você para que seja possível uma comunhão direta com a beleza da vida. O coração revela a paz que já existe em cada momento em você. Este é o milagre do coração. Mas, em minha vida diária, não estou sempre no coração. Eu preciso da mente para pensar, trabalhar, viver ... Você nunca abandona nada. É uma questão apenas de viver tudo isso a partir do coração. Pensando, trabalhando, vivendo. Tudo isso a partir de uma mente acordada. Sua mente estará em ordem quando você viver a partir do coração. Quando você está relaxado em seu centro interior, o seu corpo e sua mente são influenciados por esta energia de silêncio e amor. Ah, entendo. E isso pode ser chamado de “despertar o amor incondicional”? Amor é o sentimento de que estamos unidos no oceano da vida. Amor é o fim da separação. Quando estamos em amor, nos sentimos perfeitos. Amor é a morte do medo. É a declaração do nosso ser real, do verdadeiro encontro. Amor é a dissolução do ego controlador e o nascimento da comunhão consigo e com os outros. Amor é um alinhamento com a natureza e com o universo, de modo a nos sentirmos unos e à vontade, entregues ao prazer de estarmos vivos. Quando estou falando em silêncio, falo de um silêncio além da mente. Não é um silêncio oposto de barulho. A mente não sabe nada a respeito disso. Ela só transita no conhecido, na linguagem, nos conceitos. Tem-se que se dar um salto por todos os conceitos. O silêncio é a resposta. O silêncio é a verdadeira paz. Do silêncio nascem pensamentos elevados que criam apenas harmonia.

Para quem os pensamentos estão ocorrendo?

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Você responde: “Para mim mesmo”. Agora descubra que este “mim” não é você, mas a Presença do Divino.

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TUDO INTERLIGADO

Mudar o mundo não é a sua missão.

Mudar a você mesmo não é a sua tarefa. Despertar para a sua verdadeira natureza é a sua oportunidade.

MoojiMoojiMoojiMooji

O que é a evolução espiritual? É o jogo de Deus (vazio criativo) aparecendo como todas as coisas. Na essência de todas as religiões, tudo que há realmente é presença divina. O Divino Funcionamento da Totalidade da Vida. A jornada para Si é em direção ao reconhecimento de que somos a Totalidade da Vida vivendo experiências humanas impermanentes. Há uma história: um turista viajou até uma distante cidade para visitar um famoso sábio. Ele ficou muito surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito acanhado, repleto de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco. “Onde estão seus móveis?” , perguntou o turista. O sábio, depressa, perguntou: “Onde estão os seus?” “Os meus?!”, surpreendeu-se o turista. “Mas eu estou aqui só de passagem!” “Eu também ...”, concluiu o sábio. Por que os mestres do oriente dizem que o nosso verdadeiro “eu” é Deus? Quando eles falam em Deus, não estão falando de uma pessoa. Ok? Eles estão se referindo à uma Mente Universal. Então, simplesmente tudo que existe é simplesmente Deus. Deus vive no plano material sendo você! Deus/Consciência é a única realidade. Esta realidade se expressa agora através da sua mente/corpo. Sua mente está aqui para

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desenvolver sabedoria através das experiências da vida e dar testemunho de que você existe. E quem é você? Tudo que existe é a Totalidade da Vida – Deus ou Mente Universal. A vontade do homem é a vontade da Totalidade da Vida naquela pessoa, naquele momento. Mas porque então existe sofrimento? Sofrimento é simplesmente ausência de sabedoria. As experiências têm este destino: amadurecer a consciência, que no momento está imersa e identificada num corpo/mente, e cega sobre sua realidade divina! Sofrimento é decorrência exata da ignorância de Si mesmo. E o que estou chamando de Si mesmo? A Totalidade da Vida. Consciência ou Mente Universal. O que é mais importante na vida? Estar sempre aberto e disposto a aprender. Acredito que esta disposição para aprender desperta o coração inocente. Observemos as crianças. Podemos ver que uma criança está sempre disposta a aprender. E este é o resgate do coração aventureiro e aberto. A vida é um mistério permanente. É importante estarmos vivos para os ensinamentos diários. A vida é o grande guru. Meditação me ensinou isto: que a vida é o guru verdadeiro. De que adianta, porém, a vida ser o nosso guru se não sabemos aprender? Por isso apenas aqueles que estão abertos aos ensinamentos, recebem. E sempre no momento certo. Qual a melhor forma de começar a meditar? Crie um santuário em sua casa. Um cantinho onde possa meditar sempre na mesma hora e no mesmo lugar. Você vai tornando aquele lugar poderoso, cheio de luz. E sempre que precisar sentir uma energia de paz e de amor, você irá sentar-se lá. Santuários são para isso. Para criar um clima propício e fornecer o ambiente certo em que a mente pode relaxar e permanecer alerta na presença do divino. Alguns rituais são muito bons. Ajudam e favorecem a energia para o encontro e comunhão com o sagrado e transcendente. Sente-se no mesmo local e na mesma hora, todos os dias, por pelo menos dez minutos na primeira semana. Pode colocar uma música suave de que goste. Deixe a coluna reta e o queixo recolhido. Alinhe sua coluna e seu pescoço. Abra seu peito. Alinhe os ombros. Deixe as mãos no colo. Respire muitas vezes profundamente, inspirando pelo nariz e soltando pela boca. Quando seu corpo começar a relaxar, páre essa respiração e respire normalmente pelo nariz. Você pode entoar algum mantra que goste, ou mesmo visualizar luz sobre seu corpo. Pode contemplar o momento de sua vida e agradecer por tudo que tem. Pode invocar força, coragem, e cura. Há milhares de técnicas meditativas. Para ir mais fundo, tente encontrar um bom orientador que possa lhe ajudar.

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Tenho problemas com meu pai. Nunca gostei de sua presença. Isso me incomoda muito. Como resolvo isso? Não é do seu pai que você não gosta, e sim de um aspecto mental de si mesmo que ainda rejeita, e isto você projeta no seu pai. Ele é apenas um espelho para você reconhecer suas amarras. Lembre-se de que cada organismo corpo/mente e tudo que você vê na existência é parte da Totalidade da Vida. Seu pai faz parte dela tanto quanto você. Quando ver aquilo que dentro de si mesmo está ligado a esses sentimentos negativos, então verá que seu pai não mais o incomodará. Ele pode ser o que for, e você compreenderá que ele tem o jeito dele, mas não mais se ofenderá por isso. Não é nada pessoal. Ele é assim mesmo. É você que precisa deixá-lo ser ele mesmo e começar a ser você mesmo de uma forma livre. Talvez seja isso que a nível intuitivo você compreenda aos poucos. Olhe para dentro e veja que tudo que você se incomoda fora é um reflexo de dentro de você, da sua própria mente não-compreendida. Algumas terapias energéticas são muito boas para liberar alguma tensão emocional/mental energética que esteja ainda muito ligada às experiências negativas que você teve com seu pai. Paralelo a isso, dedique-se à meditação e a conhecer quem você realmente é.. Por isso, a melhor maneira de evitar maiores transtornos na vida é simplesmente ver que você não é nem seu corpo/mente, e que tudo que está na manifestação é observado pela Consciência Que Você É. Como eu inicio a caminhada espiritual? Nunca fiz nenhuma meditação, nunca estive em nenhuma escola espiritual. Não conheço pessoas que estão nesse caminho. Posso meditar sozinho em minha casa? Não há nenhuma regra quanto ao início dessa caminhada, e tudo depende das tendências inatas de cada pessoa. Mas poderia lhe sugerir que começar com um grupo de autoconhecimento é a melhor e mais segura maneira de continuar o processo com sucesso. Se você não tem pessoas a sua volta para ajudá-lo, é muito difícil que tenha persistência e motivação para meditar sozinho. Desejar conhecer sua consciência pura não é algo muito compreendido no mundo, e as pessoas em geral têm preconceitos. Sugiro que encontre um bom grupo e um professor com que simpatize, e comece daí. Eu li um bocado de livros, mas não me sinto ainda disponível para começar as práticas. O que devo fazer? Como posso me motivar? Para praticar é preciso um método. Cada professor espiritual tem o seu método. Encontre uma pessoa com que você sintonize, que desperte confiança e amor em você. Os livros podem lhe dar a sede, mas funcionam apenas como cardápios. No restaurante, cardápios não podem lhe saciar a fome. A verdadeira comida espiritual é praticar e ouvir os ensinamentos espirituais de quem já os assimilou em sua vida, e praticar, praticar, praticar. Foi assim que aprendi. E esta é a maneira que hoje ensino.

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Quero ter novas visões, ver luzes, sentir minha energia kundalini subindo pela espinha. A meditação me dará isto? Quero ter poderes especiais porque creio que sou uma pessoa especial. Acordar espiritualmente não é algo para ser exibido como um troféu. Se você quer “poder”, você não quer ecordar espiritualmente. A busca por SI MESMO é a busca pela simplicidade e pelo abandono do ego. É o abandono do desejo de poder que o libera do envolvimento com a autoimagem egoica. É na entrega, e não na luta, que o divino pode ser conhecido. Iluminação é a coisa mais natural do mundo. É vista apenas pelos puros de coração. Afinal, quem pode existir nessa paz? O ego não quer iluminação! O ego adora aprovação e poder! Os puros e os inocentes de coração não precisam de poder. É por isso que o ego não quer acordar ... Acordar implica ver que não somos o que pensamos ser! A maioria das pessoas quer poder ... Pessoas carentes querem poder como alimento vital para suas vidas. Mas a alma (aquilo que você É) não se alimenta de poder, e sim de Amor. Quem se alimenta de poder é o ego-mente. Pessoas satisfeitas querem beleza e paz. Por que se preocupar em competir se estou feliz e em paz? A guerra é sempre a inconsciência materializada no mundo físico ... Aquilo que nos faz sofrer demais é o nosso envolvimento com o ego. Iluminação não dará nada para seu ego. Nada. Portanto, esteja consciente do que você está buscando. O único poder que você terá é o poder do amor. Você quer? Ouvi falar que meditação traz tranquilidade e paz na vida. Tenho praticado e não tenho encontrado esta paz. O que estou fazendo de errado?

Na tradição espiritual do Zen, eles dizem para você praticar meditação sem ideia de ganho. Simplesmente pratique. Sente-se sem nenhum apego ao resultado. Você deve estar, nesses três anos, esperando que algo aconteça. É isso que o está frustrando. Se você não compreende a busca, ela nunca irá parar. Muitas pessoas estão viciadas em buscar e buscar, e nem sabem o que estão buscando. Algumas pessoas buscam grana, outras relacionamentos, sexo, poder, ou mesmo outras buscam paz, felicidade, Deus. A busca não pode parar a menos que você se dê conta de que já tem o que precisa, e comece a amar de verdade a essência do que você É Agora. Antes desse ponto, é o que Chögyam Trungpa chamava de “puro materialismo espiritual”. Mesmo depois que me dou conta em Satsang de que a busca é fútil, mesmo assim continuarei buscando? Existem pessoas que depois de um Satsang começam a melhorar sua qualidade de vida, optando por viver uma existência mais saudável, meditativa, com mais tempo voltado para Deus, para o silêncio, para a celebração, para o amor. Tudo se torna uma simples brincadeira, porque então VOCÊ JÁ SABE QUEM VOCÊ É. Se você vive sua vida sabendo Quem Você É, tudo se torna mais simples, porque aquela ansiedade que você tinha de que a felicidade iria ser conquistada no futuro é abandonada completamente. A

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vida é aceita no momento presente como um presente de Deus para você Agora, e você para de adiar. Uma vez você falou em viver satsang. O que é Viver Satsang? Viver Satsang é o desafio para a integração do ensinamento. Em primeiro lugar, você escuta o ensinamento. Em segundo lugar, você investiga em sua vida se tudo aquilo faz sentido. Então, à medida que você vive e contempla, os ensinamentos vão se integrando. Por fim, chega o momento da cristalização do ensinamento. Então há pura espontaneidade. Você vive cada dia seguindo seu guru interior, seguindo este guia interno. O final do caminho é quando o guru e você não são mais dois. Existe um ditado Zen para isto: “Antes de eu estudar o Zen, as montanhas eram montanhas e os rios eram rios. Depois tive minhas primeiras percepções meditativas, e as montanhas já não eram mais montanhas e os rios já não eram mais rios. Agora que eu vivo meditativo, as montanhas são novamente montanhas, e os rios novamente rios”. Isso quer dizer que a fase final é viver a vida de forma simples e total, com absoluta liberdade. O ensinamento é apenas um conceito útil na jornada. Contudo, Deus não é um ensinamento. Deus se revela no mistério sagrado do momento, sem palavras, em suas ações. O mestre Zen Shunryu Suzuki se refere assim: “Não há pessoas iluminadas, e sim, ações iluminadas”. O que é Meditação Ativa? O sistema de Meditação Ativa é um método moderno de meditação combinado com técnicas e abordagens corporais da terapia ocidental. Por exemplo, o mestre espiritual Osho criou muitas meditações ativas e deu ênfase às terapias corporais e energéticas, vendo que a nossa típica vida moderna produzia muito estresse e ansiedade. Percebeu, também, organismos muito despreparados para que pudessem sentar em meditação e silêncio profundo. Então criou métodos ativos de meditação, que incluem muita dança, catarse e trabalho corporal, antes do “sentar em silêncio”, na habitual posição sentada de olhos fechados. Adaptou antigas técnicas do Yoga, com novos e modernos trabalhos de psicoterapia ocidentais, num sistema muito rico que englobou toda a essência da religiosidade humana, unindo todo o profundo milenar misticismo oriental com a moderna psicologia ocidental. Os pensamentos me impedem de meditar. Acho que penso demais. O que poderia fazer? Qual é a fonte desses pensamentos? Sente em silêncio e descubra de onde esses pensamentos vêm. Qual é a fonte desses pensamentos? Você provocou estes pensamentos? Você escolheu pensar?

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Busque a fonte do pensamento e descobrirá que a própria fonte do pensamento é a energia pura (Consciência). Afinal, é o silêncio que você busca. Esta fonte está no fundo de você. Seja uma testemunha! Observe os pensamentos e relaxe nessa pura observação. Isto é sentar em meditação. Você não precisa parar a mente. Ela para no momento certo. Você não tem este controle direto! Por que você não tem este controle? Porque não existe um eu para ter controle. O eu é também um outro pensamento na mente! A mente enfraquece quando você se enche de luz habitando a Presença que você É. Tente as meditações ativas de Osho. Elas podem ajudá-lo neste início. Ouvi dizer que o Zen usa a arte como meditação. É verdade? Os mestres Zen são muito criativos realmente. Existe a cerimônia do chá, o cultivo das flores, a criação dos jardins. As pessoas do Zen amam a natureza, a música, a escultura, o teatro ... Em muitas comunidades, existem grupos em que as artes são usadas para facilitar o processo meditativo. Quando estamos imersos em algum processo artístico, a mente desaparece, sua percepção fica no presente, e o que há então é pura criação divina. Os mestres sufis diziam: “Dance até que você desapareça e só a dança permaneça. Quando o dançarino desaparece na dança, meditação acontece”. É o que estamos falando aqui. Quando tudo que existe continua existindo, mas você percebe que não há ninguém dentro de você, apenas consciência pura, paz acontece! Esta é a essência da meditação. Tudo que você puder fazer com totalidade lhe dará um vislumbre de meditação. Por isso a arte é muito usada. Na verdade, todas as técnicas de meditação servem para lhe dar um vislumbre do seu Ser, que é um sentimento de paz maravilhoso. Depois disso, podemos notar que este sentimento de paz maravilhoso surge toda vez que estamos em sintonia com a nossa essência: seja fazendo um trabalho que amamos, seja estando com pessoas que nos inspiram, seja em lugares que expandam nossa alegria natural de viver. Passe a notar e perceber com mais clareza tudo aquilo que expande a sua vida e lhe dá alegria e motivação. Essa é uma pista certa para levar você em direção ao que verdadeiramente toca seu coração. Nunca poderá ser feliz imitando os outros. Tem de encontrar seu próprio propósito na vida. O Zen é viver este propósito. E então tudo vira meditação, mesmo os momentos tristes e desafiantes da vida. Tudo é aceito como parte dos ensinamentos. Você pode me falar mais sobre os processos do Caminho Meditativo? Há duas fases distintas no processo da técnica de meditação: 1) Sentar em meditação e focar as sensações, sentimentos, pensamentos. 2) Sentar em meditação e focar no Silêncio, que é pura consciência. Ou seja, a atenção repousar na atenção, a consciência repousar na Consciência. Este é um passo mais fundo, onde há a descoberta do observador.

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Quando inicialmente sentamos, o que percebemos? Muitos pensamentos, confusão, ansiedade, medos ... é isto que é a mente! E eu lhe pergunto agora: se esta é a mente, como é possível relaxar com tanto lixo emocional assim? O que normalmente fazemos? Fugimos! Temos medo de tanta negatividade e confusão que existe dentro de nós, que procuramos um meio de nos distrair para nos livrar disto. A primeira fase da meditação é ver que os pensamentos negativos são alarmes que nos convidam para uma nova vida. Eles são um convite para olharmos para certos aspectos negados. Todos os pensamentos que se repetem são extremamente importantes nessa primeira fase da meditação porque nos dão a oportunidade de olhar para nós mesmos pela primeira vez, e então nos perguntarmos: a) O que estou fazendo com este aspecto da minha vida? b) O que este pensamento quer comigo? c) O que este sentimento está querendo me ensinar? Quando sentamos quietos, temos a oportunidade de reconhecer inúmeros pensamentos, e estes pensamentos são dádivas da vida para nos oferecer crescimento e evolução. Nenhum pensamento é negativo em essência. Ele só se torna negativo porque não compreendemos sua existência, ou por não estarmos querendo olhar para o que ele está querendo nos dizer, de modo a poder integrá-lo em nossa expansão. Na primeira fase da meditação, perceba seus pensamentos e reflita sobre eles. É possível que exista algo em sua vida, em alguma área específica, que precise ser olhada com mais atenção, com mais detalhe, com mais amor. Se você tem muitos pensamentos negativos, certifique-se de que não está deixando incompletas algumas áreas importantes da sua vida. A segunda fase da meditação pode então iniciar. Será bem mais fácil ficar em silêncio meditativo depois de passar pela primeira fase. Agora, você estará mais maduro para observar aquilo que observa. O silêncio observando o silêncio. E você aprende a curtir este espaço de silêncio e quietude. Você disse que eu não posso controlar diretamente os eventos externos, nem mesmo os meus pensamentos. Explique melhor. O controle natural acontece espontaneamente quando há alinhamento entre Corpo e Consciência. Você não pode controlar os eventos externos pelo ego. Com a compreensão profunda, você começa a perceber que não está preso ao mundo externo. Você vê que não precisa estar infeliz porque seu amigo ou parceiro está. Você vê que não é um escravo dos sentimentos dos outros. Você vê que não precisa ser levado por circunstâncias do mundo. Nota que o governo, a economia, o mau humor das pessoas, o tempo, a fofoca dos vizinhos, nada disso pode perturbar a paz que mora em seu centro. Lembre-se: a roda do carro gira, mas o eixo permanece imóvel. Você é o eixo. A mente é a roda.

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Les Kaye, no seu livro Zen no Trabalho, nos diz: “A mente se move constantemente; é imposível pará-la. Se tentamos parar a mente, não compreendemos de fato sua natureza. A prática do Zen é ficar atento à mente, reconhecer o seu movimento, sem se deixar distrair por ele. O modo de acalmar a mente é não se deixar distrair pelo seu constante movimento. Por isso não há necessidade de tentar parar a mente. Basta não se deixar enredar pelo seu movimento. Então podemos ver como as coisas realmente são.” Existem muitas pessoas que estão mudando de relacionamentos, de casas, de cidade, de emprego, e ainda não encontraram paz. Quando, porém, você percebe cada vez mais o silêncio interior em você, a quietude da meditação, você se perturba cada vez menos com o mundo. Claro que continua a escolher os lugares e coisas pelos quais tem preferência, mas tudo com mais suavidade e menos estresse. Quando não é possível escolher, há aceitação do que precisa ser feito. Os místicos cristãos dizem que “há somente Deus em tudo”. Se Deus está em tudo, este corpo, este sentimento, este pensamento, não é seu - é de Deus. Como seria seu, se não há nenhum “eu” separado? Como seria seu, se até o que você chama de corpo, é um corpo de Deus? Se não há “eu”, e apenas o divino vivendo uma pessoa humana, então há somente unicidade em TUDO E EM TODAS AS COISAS. Se você disser: “Ah, agora entendi. Não sou eu que faço, é a minha mente”. Ora, quando você diz: “É a minha mente...”, você está se referindo a QUEM que possui a mente? Mente de quem? Você pensa que tem de haver um eu que tem a mente. Mas não há. Você é que caiu na armadilha de novo. Ninguém tem a mente! Ninguém! Ninguém está tendo ninguém. Assim como quando notamos as nuvens passando sobre a lua e temos a ilusão de que a lua está se mexendo, enquanto são as nuvens que estão se movendo. Da mesma forma, nós temos a ilusão de que existe algo como a mente e um dono dela. Meditação é a faca que corta essa ilusão. E o instrumento que lhe dá essa certeza é a intuição espiritual, que nasce da proximidade com sua essência. Ou seja, o eu separado não existe. Só existe consciência aqui. O que pensamos ser o eu é apenas uma sombra do divino. Assim como a lua refletida no lago não é a lua, só um reflexo. Por isso dizemos que a mente é o reflexo da consciência. A lua é refletida no lago, contudo a lua no lago é um reflexo da lua real.

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RETORNANDO AO

SILÊNCIO

“Nada pode atingi-lo. Você é intocado. A mente deve chegar ao ponto de uma

compreensão completa da ilusão. Ali jaz o seu estado. Nada permanece para quem compreendeu. Não há mais perda ou ganho. Não pergunte se você pode atingir a

Realidade, porque você é a Realidade, então por que dizer: “Será que eu posso?” Primeiro saia do círculo. Largue tudo, uma coisa após outra, e entre fundo em seu Ser. Depois volte

e esteja em tudo.”

Ranjit MaharajRanjit MaharajRanjit MaharajRanjit Maharaj

O livro “Retornando ao Silêncio”, do Mestre Zen Dainin Katagiri, me marcou bastante na minha jornada espiritual, e este ensinamento agora me fez, em muitos momentos, lembrar Katagiri. Nesse livro ele fala sobre a meditação e o silêncio. O que você acha do zazen como meditação? É a espontaneidade e a sensibilidade que irão guiar o seu caminho. Se você gosta de meditar, medite. Se ama estar em contato com a natureza, arrume um tempo para isso. Quem é que está meditando ou entrando em contato com a natureza? Quem é esta Inteligência, que faz minha digestão, meu sangue pulsar, minha respiração se manter, uma rosa desabroxar, um planeta girar, o universo se expandir? Este ensinamento é mais uma pergunta do que uma resposta. A resposta virá dessa experiência viva. Ela tem de ser vivencial. No início é natural que seja teórica. Interessante que a palavra teoria queira dizer VISÃO. Transformar esta VISÃO em experiência viva é o que propõe este caminho. Quem está meditando? Se você for fundo, irá ver que tudo é consciência, e no mesmo momento sentirá a presença de Deus, que é tudo que há. A presença de Deus existe antes, durante e depois de sua meditação. Se você quer praticar zazen é maravilhoso, pratique com muito amor. Pode também praticar as meditações ativas. Elas são muito saudáveis para seu corpo. Pratique como se estivesse cantando uma canção. Pratique pelo amor de praticar, de estar UM com o momento. Torne-se a própria meditação! Sem metas, sem objetivos. Apenas praticar com devoção e amor. O amor que você dá a tudo que faz é a força maior que convida sua essência a se manifestar. Meditação sem amor é o mesmo que

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morar com alguém apenas por obrigação. Esta meditação será vazia, sem vida, estéril. E em qualquer caminho que escolher na vida saiba de uma coisa: seu coração tem de estar nele, senão será apenas perda de tempo. O Zen dá a isso o nome de “meditar sem ideia de ganho”. Você medita e percebe que não há ninguém fazendo a meditação – apenas a presença de Deus – não você!. Só há meditação, não há VOCÊ fazendo a meditação! A percepção transparente é que a mente é só um rótulo. É uma percepção muito profunda. Toda meditação é a presença da Consciência Cósmica, da Inteligência Infinita, Deus – e ao mesmo tempo o derretimento de você como um “alguém” fazendo meditação. A meditação é feita pela Presença Divina que habita cada instrumento humano. Naquele momento de meditação, iluminação não é pessoal, é simplesmente tudo que há. O pessoal do zen senta em meditação silenciosa para reconhecer sua natureza ilimitada, de modo a facilitar a vivência disto fazendo as simples tarefas diárias. Quando meditamos, invocamos a Presença Divina. É exatamente como orar. O estado de oração, o estado de prece, é exatamente como o estado de meditação! Você se transforma na prece. Você É a prece! Não há mais um ego separado da prece. Então podemos entender o que é estar com Cristo. É ser o Cristo! Este era o convite de Jesus! Fazer desaparecer a separação entre o criador e a criatura: o nascimento da Unidade com o Pai, como ele mesmo dizia: “Eu e o Pai Somos Um”. Sinto-me um buscador da verdade. Aprendi com alguns mestres do Budismo Zen a meditar. Fiz terapias, aprendi a respirar, fiz hatha yoga durante muito tempo. Mas nunca compreendi o que é acordar espiritualmente ... Um homem estava dirigindo numa estrada e, por um instante deu-se conta de que errara o caminho. Havia tomado a estrada errada. No mesmo instante, por sorte, avistou um maltrapilho que caminhava por ali. Estacionou seu carro perto do homem e perguntou: “Esta estrada vai para Ilhures?” O homem respondeu: “Não sei.” Então lhe fez outra pergunta: “Esta estrada vai para Costa Sul ?” O maltrapilho novamente respondeu: “Eu não sei.” Então o homem foi ficando irritado com aquilo, e disse: “Você não sabe nada mesmo, né...” Ao que o maltrapilho respondeu, rindo: “Mas eu não estou perdido.”

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O mestre zen Suzuki Roshi, dizia: “Quando há um “eu” que reivindica a iluminação, não há iluminação.

Havia um mestre de meditação que contava que seu próprio mestre era um homem infeliz. Ele sabia que ser infeliz era parte do seu caminho, parte do ensinamento e do seu destino, e mesmo assim ele sempre continuava meditando. Infelicidade não impedia de ele continuar meditando. Por mais que ajudasse as pessoas, sempre lhe aconteciam coisas terríveis. Sabia que era parte da vida daquele organismo (karma) ocorrerem aquelas tragédias pessoais. E ele seguiu simplesmente observando tudo que lhe acontecia. Ele seguiu testemunhando o karma, sabendo que tudo vinha do seu passado e que o caminho era prosseguir meditando e buscando luz no silêncio do seu ser. Muitos anos depois, chegou um momento em que ele não era mais tocado pelo sofrimento. Seu próprio discípulo reconhecia o brilho de seus olhos com o passar dos anos. A meditação simplesmente o fez desapegar-se do sofrimento, abriu seu coração, de modo que vislumbres de alegria começaram a surgir nele. Uma paz cheia de bênção começou a crescer em seu corpo. Ele pôde perceber que aceitar os desafios da vida e ainda assim sempre continuar o caminho espiritual é o ponto principal. A perseverança é irmã da iluminação. Nunca sabemos quando irá acontecer o desprendimento total. Enquanto isso, simplesmente fazemos o que temos de fazer. Nunca tinha ouvido falar de meditação investigativa. Apenas conhecia meditação silenciosa e o yoga clássico. Este ensinamento esclarece muita coisa. As técnicas de meditação podem ser usadas também, ao mesmo tempo? Cada pessoa é diferente na forma de aprender. Há pessoas que são muito ativas. Elas gostam de ouvir que podem encontrar Deus simplesmente fazendo o seu trabalho altruísta no mundo, ativamente. E é verdade. Elas, então, fazem o trabalho para Deus. Isto é um caminho espiritual maravilhoso. Oferecer tudo que você faz para a divindade abre caminho para o salto quântico. Há outras pessoas que nasceram com o temperamento que as impulsiona a se devotarem a alguém (estas escolhem o caminho do amor e da devoção). São pessoas cheias de amorosidade para compartilhar, e têm a tendência no coração a se entregarem a um mestre, a um guia. Através dessa adoração, elas esquecem de si mesmas e começam a aprender a silenciar a mente. Jesus inspirou muitas pessoas a entregarem o ego em seu nome e, desse modo, se dissolverem na presença do Cristo (Consciência Pura). E ainda, por outro lado, existem pessoas que já vivem espontaneamente essa paz, sem mesmo ter ouvido falar de espiritualidade. Suas almas nasceram inclinadas a este clima e a esta paisagem sagrada. Há uma história dos tempos de Buda. Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou: - Existe Deus? - perguntou. - Existe - respondeu Buda.

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Depois do almoço, aproximou-se outro homem. - Existe Deus? - quis saber. - Não, não existe - disse Buda. No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta: - Existe Deus? - Você terá que decidir - respondeu Buda. Assim que o homem foi embora, um discípulo comentou, revoltado: - Mestre, que absurdo! Como o Senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta? - Porque são pessoas diferentes, e cada uma chegará a Deus por seu próprio caminho. O primeiro acreditará em minha palavra. O segundo fará tudo para provar que eu estou errado. E o terceiro só acredita naquilo que é capaz de escolher por si mesmo.

Jesus disse: “Quereis paz? Procurai primeiro o Reino, e então todo o resto virá a partir disso. E o Reino está dentro de vós”. Dados de uma pesquisa mostram que todas as pessoas que estão em seus leitos de morte, dizem arrepender-se de não terem sido mais gentis, mais amorosas, mais tolerantes ao longo de suas vidas. Ressentem-se consigo por não terem abraçado mais, amado mais, passeado mais, vivido mais. Elas não disseram que queriam ter comprado mais bens, adquirido mais carros, casas, ou estado com mais mulheres ou homens. Essas pessoas notam, em seus últimos momentos de vida, que o valor de tudo está em simplesmente amar as coisas simples. Muitas pessoas falam que um relacionamento de amor as faz sofrer, que o amor não vale a pena. Ora, o amor vale a pena, mas de que tipo de amor estas pessoas estão falando? O que chamam de amor pode ser uma relação de dependência, carência e neurose. É claro que criará conflitos e brigas, obrigações, deves, não-deves, acusações, humilhações, chantagens emocionais. O verdadeiro RELACIONAR-SE é intimidade e leveza. Intimidade espiritual é amar a Deus no outro. Amar é amar a Fonte da Vida no outro. Amar o Amor no outro. Ver a preciosidade do outro como um ser divino. Sinta sempre um caminho que o aprofunde no amor. Por que preciso ir além da mente? Para saber que você não é um conceito mental, para sair da cabeça pensante e cair no seu coração amoroso. Lembre-se: a palavra casa não é a casa. A palavra Deus não é Deus. A palavra “eu” não é você, e você não cabe em nenhuma palavra. A mente é feita de palavras, conceitos. Este ensinamento pergunta: O QUE É VOCÊ? Quem está amando através de seu corpo? Se você nota que é a Consciência que está

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amando através de você, ou mesmo chorando através de você, o que você faz? Namora com isso! É a Fonte do Silêncio e da Paz que mora com você no seu coração. A oração e a meditação sempre foram maneiras de preparar o coração para uma vida de celebrativa. Orar é falar com o divino. Meditar é ouvir a divindade, no silêncio. Gostaria de saber um pouco mais sobre o ego. Por que precisamos sempre alimentar o nosso ego? Falamos tanto em autoestima. Precisamos ser aprovados o tempo inteiro para nos sentirmos harmonizados. Qual a necessidade do ego de se sentir sempre positivo e inflado? O ego precisa se alimentar constantemente de imagens para se sentir real. Não importa se você tem imagens positivas ou negativas sobre si mesmo. Para o ego, o importante é não ficar “vazio” de imagens. É por isso que precisamos o tempo inteiro de autoestima e de pessoas que reforcem nosso sentido de “eu-ego”, aprovando aquilo que somos e fazemos. Sentimos uma enorme necessidade de sermos aprovados por todos que estão a nossa volta para nos sentirmos amados. Assim, nos percebemos aceitos e com algum valor. Essa é a identidade do ego. Ela é criada pela aprovação dos outros. Ela vem de fora. Por isso os místicos dizem que o ego é uma falsa identidade, porque ela vem indiretamente. Você não sabe quem é. Você espera que os outros avaliem e aprovem quem você é. E se isso não acontece, sofrimento vem pelo sentimento de rejeição. Por isso, o ego sempre terá prazo de validade. Daqui a um dia ou dois (se durar tanto), alguém irá desaprovar você e todo encanto evaporará como fumaça. Então volta a depreciação, a sabotagem, a desvalorização de si mesmo e você se fecha novamente para a vida. Essa identidade do ego funciona como se fosse feita de areia. Basta subir a maré e tudo está destruído. Nós baseamos a nossa verdadeira identidade em algo falso: o ego. O ego não é real porque é uma imagem que temos de nós mesmos, e essa imagem é construída pela mente. Uma imagem, um pensamento, muda a cada momento. Note, durante o seu dia, quantas ideias passam pela sua cabeça. Note quantos pensamentos negativos e positivos sobre si mesmo passam por você ao longo de seu dia. Olhe como isso se alterna continuamente. Como você poderá ter uma clara visão de si mesmo diante dessa chuva de imagens contraditórias sobre si? Sou bom, sou mau, sou um fracasso, sou um sucesso, nunca vou conseguir, eu posso conseguir, sou perfeito, sou imperfeito, não vai dar, acho que vai dar. E tampouco adianta você dizer que é um mutante. Se você não viu quem você realmente é, você se confundirá com seus pensamentos e se julgará um mutante. Mas mutante não é você! Mutante é sua mente! Mutante é seu corpo! Você é Consciência e Atenção Pura que observa as mutações.

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Onde essas mutações do seu corpo e mente ocorrem? Como você percebe que sua mente muda? Porque há algo chamado “Consciência” como pano de fundo, percebendo. E isto não muda, apenas percebe a mudança. Quando você vê um filme no cinema, sabe que as imagens estão sendo projetadas em uma tela branca. Pois na vida humana, as imagens mentais, o corpo e a mente, estão aparecendo na Consciência (tela branca). Se você está dirigindo seu carro, as imagens da paisagem de fora mudam, mas você está parado! Assim é o observador em relação à mente! Você está sempre parado! É a mente que se movimenta. São as imagens da mente, continuamente em movimento, que criam a ideia de que você está em movimento, mas não é verdade. Aquilo que você é não se envolve com o movimento. Em silêncio profundo, seus pensamentos desaparecerão, bem como sentimentos e emoções. O que sobrará para lhe dar uma sensação de existir? O que permanece quando sensações, sentimentos e pensamentos não estão ali? O que acontece quando você está silencioso em profunda meditação? Ouse ter essa experiência por você mesmo e comprove o que estou dizendo. O que estamos falando não é uma filosofia, é uma prática comprovada. Em minha meditação, percebi claramente o que estou dizendo e sou uma testemunha de que os sábios estão dizendo a verdade. Em profunda meditação, não há pensamento, sentimento e nem sensações. Mas há consciência de existir! E quem experimenta este SER? Você em sua mais nobre essência! É importante você comprovar diretamente que a paz interior não vem do seu corpo e nem de sua mente. A paz nasce do silêncio que você é – a Fonte Inteligente da Vida.

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PRINCÍPIOS PRINCÍPIOS PRINCÍPIOS PRINCÍPIOS

OOOO Reino está dentro e está fora de vós. Se conhecerem a si mesmos, então serão conhecidos,

e saberão que são os filhos do Pai Eterno. Mas se não conhecerem a si mesmos,

então estarão na miséria, e serão a miséria.

Jesus CristoJesus CristoJesus CristoJesus Cristo

Durante os nove primeiros anos de minha busca espiritual, trabalhei com o que Osho chamava de “preparação” para a verdadeira Meditação. Esta “preparação” consistia de técnicas e exercícios, meditações e grupos terapêuticos que serviam para purificar a mente e o corpo, de modo a facilitar a compreensão intuitiva e definitiva do mais alto ensinamento sobre a verdade e a iluminação. Então, depois desses nove anos, a vida me deu a oportunidade de entrar em contato com os profundos ensinamentos de Ramana Maharshi e outros mestres da tradição do Advaita Vedanta e Jnana Yoga. Estes ensinamentos sobre a verdadeira natureza do Eu Real e do Ser, deram transparência a toda minha busca, e de alguma forma impulsionaram um reconhecimento profundo desta PRESENÇA CONSCIENTE INFINITA que habita meu coração. Esta Presença está em tudo que existe, e ela pode ser reconhecida por cada um de nós, no momento certo, quando começamos a despertar nossa atenção para ela. Esta é a maior riqueza que a espiritualidade pode nos dar. Conhecer nossa verdadeira natureza, além da dualidade, além da perfeição e imperfeição, além do bem e do mal, além do certo e do errado, é definitivamente o milagre dos milagres!

PONTOS BÁSICOS:

1. Tudo que existe tem origem em uma Pura Potencialidade. Esta Potencialidade

pode ser chamada de Fonte da Vida, Suprema Inteligência, Vazio Infinito, Potencial Criativo, Deus. Esta origem de tudo que existe, de todos os universos, de todos os estados de consciência, de toda a criação e vida não conhece espaço ou tempo, não conhece conflito, nem evolução ou involução, pois não há nenhuma dualidade nisto. Esta unicidade é inconsciente de si mesma e cria a

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partir dela a consciência para se tornar consciente de Si. Isso é chamado de Deus em busca de Si mesmo.

2. A consciência pura é a filha desta Potencialidade Infinita. Com o seu

aparecimento, a unicidade aparentemente toma dois aspectos: espiritual e material. A consciência pura, portanto, é o movimento da Unicidade. Este movimento da Unicidade nós chamaremos de Dualidade. Por que Dualidade? Porque aquilo que era uno, que era inconsciente de Si, agora passa a tomar consciência de Si, com o nascimento da consciência. Deus começa a conhecer a Ele mesmo. E como ocorre este processo de conhecimento? Para haver conhecimento, é preciso que o UNO se divida em DOIS aspectos distintos e complementares: o conhecedor e aquilo que é conhecido. É preciso que haja um sujeito e um objeto. Então há o nascimento do corpo para que a consciência possa operar.

3. O conhecedor é consciência, e o conhecido é o mundo. O conhecedor é sempre

espírito, consciência pura, enquanto que o que acontece como energia em movimento (vida) é, na verdade, a parte material desta consciência, fazendo parte seu corpo e sua mente desta parte material. EU SOU é espírito consciente, e o mundo é parte de mim, parte dessa consciência material. Consciência, portanto, é formada por estes dois aspectos: invisível e visível, yin e yang, feminino e masculino, negativo e positivo, o desconhecido e o conhecido, o Pai e o Filho. Porém, não esqueçamos: do ponto de vista da consciência não há conceitos. Portanto, todas as divisões conceituais são úteis “apenas” para apontar a natureza da consciência. Em consciência, tudo é silêncio destituído de qualquer construção mental.

4. O paraíso é relembrar quem você é. O alinhamento corpo/mente/consciência

como unos e inseparáveis do que você é em realidade, revela o paraíso. Consciência universal é a origem do que somos no mundo manifesto, e ela representa toda a existência. Consciência individual é a aparência que tomamos como um corpo físico, e representa o ego/mente.

5. A pergunta QUEM SOU EU? é apenas um artifício para levar a mente de volta

para sua origem silenciosa. A mente é pensamento. De onde vem o pensamento? Veja por si mesmo que todo pensamento surge na consciência. E quem é você mesmo agora? Consciência pura. Sem pensamentos você continua existindo. Como? Como consciência pura. Quando você se identifica com um pensamento tipo “Eu sou imperfeito”, cria uma subconsciência que se acredita uma identidade separada da vida: mente/ego. Ver todos os pensamentos como uma aparência na consciência é a chave da paz.

6. Consciência é anterior a tudo. Sem consciência não há nada. Pensamentos são conteúdos dessa consciência. Eles aparecem na consciência como as ondas aparecem no oceano. Pensamentos surgem e desaparecem na consciência universal que somos. Tudo é consciência e esta consciência é UNA com o não-manifesto Pai eterno, aquilo que é não-criado, atemporal, e além de todos os conceitos. Portanto, o real é este infinito. A criatura e o criador são um só processo. Na tradição religiosa, o Pai e o Filho, O Absoluto e o Relativo, o

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Eterno e o Finito, podem ser vistos agora como complementos de um processo único.

7. O ponto chave do ensinamento é trazer a atenção para esta consciência pura.

Esta consciência é silenciosa, compassiva, e sem conteúdo. Quanto mais fixarmos a nossa atenção na consciência, mais ela se expande para nós, e quanto mais ela se expande, mais percebemos paz. Nossas crenças limitam a energia. Padrões de pensamento criam caroços e vícios energéticos. Tudo isso pode ser visto como parte da mente, mas não parte do que Somos como consciência pura. O que somos está livre. O que somos é uma testemunha de toda ação do corpo e todo pensar da mente.

8. Nisargadatta diz: “O que você parece ser como fenômeno é apenas conceitual. O que você realmente é não pode ser compreendido pela simples razão de que no estado não-conceitual não pode haver ninguém a compreender”. Perfeito! Ora, se a mente é puro conceito, se tudo que você pensa de você e o mundo é puro conceito, e se o seu ego também é um conceito, então como um conceito pode compreender o não-conceito? Nisargadatta está tirando as bases de toda a busca e resumindo tudo: você é silêncio consciente. E, além do mundo, você é apenas silêncio, Pura Potencialidade.

9. O mundo é a expressão ativa da consciência universal. O que os sábios chamam de ilusório é confundir este corpo com o EU REAL. A sombra não pode ser a substância, logo, o EU REAL não pode ser o ego e nem o corpo. O EU é sempre o divino! O EU É SEMPRE ESPÍRITO!

10. Uma pessoa é o processo de objetivação daquilo que não tem forma, o Absoluto.

Para existir uma pessoa, é preciso haver consciência. Relembrar esta origem como consciência pura e fixar residência no silêncio anterior à manifestação é o ponto da meditação. Com isso, o organismo passa a ser uma expressão direta da consciência, não tendo mais a mente como intermediária. O que faz a mente como intermediária? Ela impede a inteligência natural de se manifestar na sua vida.

11. A inteligência espontânea e natural exala da consciência. A mente é apenas uma

consciência de segunda mão, adulterada, um arquivo de experiências vividas. Ela relembra o passado e imagina um futuro. Mas tudo isso no mundo virtual dos conceitos. Vida vivida diretamente não necessita da mente como intermediária. Essa inteligência opera no Agora, não precisando do tempo para se manifestar. A consciência é a inteligência natural da vida.

12. O ouro está no anel, mas o anel não é o ouro. Anel é a forma do ouro. Assim

como seu corpo é a forma da consciência! Mas o ouro existe sem o anel de ouro. O que você É existe mesmo sem forma. Consciência é a sua raiz, a sua base. Consciência é sua Essência. Consciência é a alma da meditação. Meditação real é acordar para o verdadeiro EU - Consciência. Sofrimento é decorrente de uma identificação errônea com o que não somos. Identifique-se com a consciência sem forma, contemple o espírito que você já é agora, e permita-se observar a

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existência do corpo e da mente, deixando-os fazerem as melhores escolhas que puderem, mas mantendo-se desperto e alerta ao seu EU REAL, que é sempre perfeito, imutável, divino, pura presença consciente - o milagre dos milagres e razão de tudo que existe.

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O AUTOR

SAMBODH NASEEBSAMBODH NASEEBSAMBODH NASEEBSAMBODH NASEEB (NATTANIEL PIVA)))): Estudou jornalismo e filosofia na Unisinos (RS), e fez formações em Renascimento, Bioenergética, Terapia Corporal e Dançaterapia. Em março de 1993, teve espontaneamente uma profunda experiência espiritual que mudou drasticamente o rumo de sua vida. Aprofundou esta experiência através dos estudos, pesquisas e vivências dos ensinamentos de Osho, Zen, Cristianismo Gnóstico e Advaita Vedanta (Ramana Maharshi, Burt Harding, Mooji, Satyaprem, Nisargadatta Maharaj, Bob Sailor, Wayne Liquorman, Eckhat Tolle e Gangaji). Atualmente, dá encontros de Satsang (palestras e encontros espirituais), Meditações, Retiros, Workshops e Sessões individuais para promover o reconhecimento da Essência Divina. Também é Cantor e Compositor. Criador do projeto “SONS PELA PAZ” – trabalho em que une palestras sobre o autoconhecimento, meditação, cultura de paz, poesia, e músicas de sua autoria.

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