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lIeide Batista Ferreira
SALMONELOSES
Monografia apresenlada como requisito parcialpara obtent;ao do titulo de Especialisla, no Cursode Especializayao em Vigilancia Sanitaria deAlimentos, Faculdade de Ciencias Biol6gicas e daSaude , Universidade Tuiuli do Parana.
Orientador: Prof. Dr" Lucimeris Ruaro
Curitiba2007
SUMARIO
RESUMO ...............................................................•.................................................. iii
ABSTRACT iv
1 INTRODUc;:iiO 1
2 BACTERIOLOGIA 2
3 PATOGENIA 4
4 EPIDEMIOLOGIA 6
5 COMO SE ADQUIRE A SALMONELOSE 8
6 SINAIS E SINTOMAS .........................•....................................................•............ 11
7 A SALMONELOSE PODE SER EVITADA? 13
8 DIAGNOSTICO 14
9 COMO A SALMONELOSE PODE SER TRATADA 16
10 SITUAc;:iio DA ENFERMIDADE NO BRASIL 18
11 SALMONELOSES PROLONGADAS 19
11.1 DEFINIc;:Ao 19
11.2 ETIOPATOGENIA 19
11.3 EPIDEMIOLOGIA 22
11A QUADRO CLiNICO 22
11.5 DIAGNOSTICO 24
12 CONCLusiio 26
REFERENCIAS
RESUMO
A presen~ de salmonella no organismo dos seres humanos, suas formas deapresenta9E1o, conseqOemcias da contamina~o e tratamentos e 0 objetivo principaldesta monografia, ande atraves de textos variados foi verificado 0 hist6rico dedescoberta e desenvolvimento desta bacteria, bern como toda a sua patogenia eepidemiologia, verificado ainda a situa,iio da enfermidade no Brasil e suas form asde tratamento, pois a salmonella e urn desafio para a saude publica, talvez devido asua facit prolifera9ao no organismo humano, muitas vezes confundida com QutrasdoenC;8s do sistema digestiv~, despertando assim urn rigoroso controle de higieneem locals ande S8 cancentra os majores focos desta bacteria e tam bern apreocupac;c3o com a saneamento basico e 0 combate a desnutri9ao infantil e,baseados nesta facilidade de contaminaC;Elo atenta~se para a necessidade de urncontrole rigoroso das condic;oes de higiene nos locais onde ela tern maior chance deprolifera9ilo como hospitais e maternidades, cozinhas industriais, criadouros deanimais e granjas, alem de estruturar pianos de desenvolvimento de saneamentobasico as comunidades carentes em conjunto com uma intensa campanha deeducac;ao familiar quanto a alimentac;ao e higiene de suas crianyas.
Palavras~chave: Sal monel a hospitalar; gastrenterite; coleta de material; bacteria.
iii
ABSTRACT
The presence of salmonella in the organism of the human beings, its forms ofpresentation, consequences of the contamination and treatments is the mainobjective of this monograph, where through varied texts it was verified the descriptionof discovery and development of this bacterium, as well as all its patogenia andepidemiologia, verified still the situation of the disease in Brazil and its forms oftreatment, therefore salmonella is a challenge for the public health, perhaps had itseasy proliferation in the human organism, many times confused with other illnessesof the digestive system, thus despertando a rigorous control of hygiene in local whereif it also concentrates the facos greaters of this bacterium and the concern with basicsanitation and the combat to infantile malnutrition e, based in this easiness of intentcontamination for the necessity of one has controlled rigorous of the conditions ofhygiene in the places where it has greater proliferation possibility as hospitals andmaternities, industrial, criadouros kitchens of animals and farms, besidesstructuralizing plans of development of basic sanitation to the devoid communities inset with an intense campaign of familiar education how much the feeding andhygiene of its children.
Keywords: Hospital salmonella; gastric (enterite); material pick up; bacterium.
iv
1 INTRODU<;:Ao
As primeiras salmonelose loram descobertas em lim do seculo passado
Oesde entao, numerosos sorotipos novas fcram isalados do homem, animal,
alimentos, rar;6es, agua e Qutras fontes. Paralelamente e acompanhando as
evolw;6es economicas, industriais e socia is da humanidade, as infecc;6es causadas
par algumas salmonelas fcram caindo de freqCu§ncia, enquanto as causadas par
Qutras foram aumentando. A grande maieria das sal monel as, entretanto,
permaneceu estavel em sua ecologiat 0 isola menta de muitas nao S8 tern repetido
ale 0 momenlo. (TRABULSI, ALTHERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
Exemplo de infecc;ao salmonel6sica que teve sua incidencia reduzida com 0
progresso da humanidade e a febre tif6ide, cujo agente, a Salmonella typhi, tern
como hospedeiro exclusivo 0 homem. 0 exemplo inverso e encontrado nas
infecy6es causadas por varias outras salmonelas, como a S. fyphimurium, que
geralmente nao sao adaptadas a qualquer tipo de hospedeiro. Enquanto a doenya
caracterfstica da S. fyphi e a febre tif6ide, a das salmonelas nao adaptadas a
hospedeiros especificos e a gastrenterite aguda. (TRABULSI, ALTHERTUM,
GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
Nesta monografia, teremos 0 objetivo de demonstrar todo 0 processo de
contaminayao, erradicayao e diagnostico das salmonelas, bern como as formas em
que ela se apresenta, sua associayoes, as formas de preven9ao que estao sendo
adotadas, acompanhadas de pesquisas, as quais diminuem a falta de conhecimento
da medicina em relayEio a esta bacteria, podendo assim melhorar 0 nivel de vida e
diminuir os numeros de pessoas contaminadas, principal mente recem-nascidos.
(TRABULSI, ALTHERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
2 BACTERIOLOGIA
Salmonella corresponde a urn genera de microorganismos em forma de
bastilo, Gram-negative, nile fermader de espores. Destraem-se facilmente pelo calor
e a 60°C durante 15 minutos, porem, sobrevivem par VariDS di8S na temperatura
ambiente, principalmente em material fecal, podendo apresentar sobrevida
prolongada em agua dace ou salgada. Causam doeny8s infecciosas no homem e
nos animais e atualmente ja sao conhecidos mais de 2600 sorotipos de Salmonella.
As salmonelas causam tres tipas de sindrome: a febre tif6ide, causada par
Salmonella Typhi, as febres paratificas, causadas per Salmonella Paratyphi A, B e C
e as gastrenterites ou salmane loses, causadas par uma ampla variedade desorotipos. Os sorotipos Thiphirium e Enteritides sao as mais frequentes envolvidos
nos casos em humanos. °genera Salmonella engloba mais de 1800 sorotipos e as
antigenos que as caracterizam sao antigenos 0 ou somaticos, antfgenos H ou
flagelares, sendo que algumas salmonellas, em particular a Salmonella Typhi,
praduzem mais um antigeno enveltorie de carboidrato. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
Uma outra classificar.;:ao das salmonelas e bastante difundida nos Estados
Unidos. Segundo a mesma, 0 genera SalmoneJ/a compreende tres especies: S.
cholera-suis, S. typhi e S. enteritidis. As duas prrmerras correspondem a urn 56
soratipo e a S. enteritidis engloba tad os as demais sorotipos. Oesta maneira a S.
typhimurium seria designada S. enteritidis var (variedade) typhimurium. ° emprego
desta classifica9ao tem criada confusao na literatura, uma vez que sorotipos
classicos como a S. paratyphi, S. paratyphi A e outros tem sido ratulados
simplesmente como S. enteritidis .. Alem dista, muitos laboratorios clinicos vem
designando como S. enteritidis qualquer salmonela que nilo seja a S. typhi au a S.
chofera-suis. Em termos medicos e preferivel usarmos a primeira classificac;ao que,
alias, e recomendada pelo manual Bergey. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO,
SUCCI, 1998).
TABELA 1 - SUMULA DO ESQUEMA DE KAUFFMANN & WHITE, CONTENDO
ALGUMAS DAS SALMONELAS ENCONTRADAS EM
GASTRENTERITES E OUTRAS INFECc;:OES.
Grupo Tipo Sorologico Antigenos somaticos Antigenos flagelares
Fase 1 Fase 2
A S. paratyphi 12 A
B S. typhimurium 4 (5) 12 1,2
S. bredeney 4 27 1v 1,7
C1 S. cholera-suis 1,5
S. montevideo 6 7 gms
S. cranienburg 6 7 mt
C2 S. newport eh 1,2
D S. typhi 9 12 (Vi)
S. enteritidis 9 12 gm
S. dublin 12 (Vi) gp
S. gallinarium 12
E1 S. butantan 3 10 b 1,5
S. anatum 3 10 eh 1,6
S. give 3 10 tv 1,7
FONTE. VERONESI, 1982
A salmonela e conhecida he mais de 100 anos e ainda nos dias atuais, permanecem
como urn dos importantes desafios da saude publica em diferentes partes do mundo.
o termo e uma referencia ao cientista americana chamado Salmon, que descreveu adoen,a associ ada a bacteria pela primeira vez. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
Nos Estados Unidos a salmonela naD typhi e uma das mais comuns infec90esbacterianas, com relatas anuais de mais de 40 mil casos confirmados por cultura.
Embora a maioria dos pacientes desenvolva um quadro de gastrenterite
autolimitada, ha diferentes apresenta90es clinicas que variam desde quadros
assintomaticos ate bacterias com complica90es associadas. Nos pacientes
infectados pelo HIV a bacteremia e 100 vezes mais prevalente do que nos indivfduos
imunocompetentes, e a salmonelose sistemica recorrente e um dos criterios para a
classificayiio da Aids. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
3 PATOGENIA
As salmonelas sao bacterias invasoras e provavelmente enteroxigenicas. A
capacidade invasora pode ser demonstrada em cultura de tecidos, olho de cobaia,
intestine de animais de laboratorio inoculados experimental mente e no proprio
homem portados de uma infecc;ao natural. A enteroxigenicidade tern sido investigada
em pele de coelho e em camundongos recem-nascidos. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
A infecC;8o salmonel6sica localiza-s8 no ilea terminal e no intestine grosso,
sendo a invasao da mucosa destes 6rg8.05 pel a bacteria essen cia I para que a
infecgao S8 estabeleC;8. Estudos realizados em animais de laborat6rio indicam que a
invasao do intestino delgado ocorre da seguinte maneira: primeiro a bacteria adere
as microvilosidades e e englobada pelo enterocito, por urn mecanisme semelhante
ao da pinocitose. Uma vez dentro do enterocito ela progride para a lamina da propria
mucosa onde estimula um processo inflamat6rio e prolifera dentro dos macr6fagos.
As salmonelas, como algumas outras bacterias, sao parasitarias intracelulares
facultativas. (TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
Os fatores envolvidos na penetrac;ao da salmonela nao sao conhecidos.
Sabe-se, entretanto, que a membrana do enter6cito regenera-se ap6s a penetrac;:ao
da bacteria.
E bastante difundido a conceito de que as sal monel as tificas e paratificas
normalmente invadem a circulac;:ao, enquanto as infecc;:oes pelas outras salmonelas
sao confinadas a mucosa dos intestinos. Este conceito e consistente com a
demonstrac;:ao de que as salmonelas sao prontamente destruidas pelo neutrofilos,
um mecanismo de defesa que limitaria a infecc;:ao a mucosa intestinal. Nao obstante
a validade geral do conceito, excec;:oes importantes sao conhecidas e nao devem ser
ignoradas. Par exemplo, a S. paratyphi 8 causa infecc;:oes sistemicas e limitadas amucosa intestinal praticamente com a mesma freqOencia. E as infecc;:oes sistemicas
pelas salmonelas das gastrenterites ocorrem numa variedade de situa<;:6es
condicionadas por diferentes fatores. (TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS,
CANDEIAS, 1999).
A criant;a, em particular nos primeiros meses de vida, e muito sensivel assaimonelas das gastrenterites. Consequentemente, a dose infectante e menor que a
do adulto e a infec~o pode passar de criang8 para crianrya, sem necessidade de
participa920 de alimentos. (TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS,
1999).
o paciente com esquistossomose apresenta, com relativa frequencia,sal mane lose sistemica que S8 exterioriza par Febre de curso prolongado e outras
manifestaryoes clinicas. Varios sorotipos de salmonella tern sido isolados do sanguedesses pac1entes. 0 tratamento bern sucedido de verminose tambem cura a
salmonelos8. A persistencia de sal mane lose e hoje explicada par uma intera980 dasal monel a com 0 Shistossoma, que leva a uma coloniza<;ao dos tegumentos e dos
intestinos do verme por salmonela. 0 verme passa entao a funcionar como urn
reservatorio da bacteria que, par sinal, proliferam suas superficies e e fornecida
regularmente ao hospedeiro, 0 que, a nosso ver, e duvidoso, 0 fator condicionante
da infeC9aO na realidade nao e 0 hospedeiro, mas sim em parasita que nele se
instalou. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
A anemia falciforme frequentemente se acompanha de osteomelite e
septicemia por Salmonella. A osteomelite seria devida aos enfartes 6sseos em
consequemcia dos baixos P02 em que trabalha a medula. InfeC96es sistemicas par
salmonelas tem sido observadas tambem na malaria, verruga peru ana, individuos
imunodeprimidos por drogas e em outras situa90es. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
4 EPIDEMIOLOGIA
A salmanelose ocorre em varias partes do mundo e ainda hoje e urn grande
desafio a saude publica, devido a manulen9ao sua de frequencia independe do
desenvolvimentosocial e econ6mico da area, alem da crescenta resistemciaantimicrobiana, provocando alta taxa de mortalidade. (FEITOSA, 2004).
Sao divididas em dais grandes grupos quanta a patogenicidade e
epidemiologia.
• Grupo I - Salmonella Typhi e Salmonella Paratyphi A, B e C.
• Grupo II - Salmonellas de origem animal (Salmonella nao typhi),
nao apresentam hospedeiro especifico, S8 encontram espalhadosna natureza.
Trata-s8 de uma doenga infecciosa que S8 caracteriza par diarreia, febre e
c61icas abdominais, que aparecem 12 a 72 horas ap6s a infec9iio. A doen9a dura de
4 a 7 dias, e a maiaria das pessoas infectadas S8 recupera sem qualquer tratamento.Entretanto, a diarreia pode ser muito grave em idosos, crian<;as e pessoas com a
sistema imunol6gico comprometido, necessitando hospitaliza~o. Nesses pacientes
a infeC9aO por Salmonella pode atingir a corrente sanguinea e atraves do sangue
atingir outros locais, causando a morte se nao houver tratamento imediato com
antibi6ticos. Se 0 hospedeiro e uma crianc;a no primeiro ano de vida, particularmente
recem-nascidos, podem ocorrer serias complica.y6es, como meningites. No adulto,
diversas doen9as pre-existentes, como esquistossomose, anemia falciforme e
malaria, modificam 0 quadro clinico da salmonelose, podendo ocorrer bacteremia,
febre de evolu9ao prolongada, anemia e esplenomegalia. (FEITOSA, 2004).
Os principais reservat6rios de salmonella nao typhi sao os animais, incluindo
as aves (galinhas, perus), mamiferos (gado), "apteis (tartarugas, camaleao) e insetos
(moscas), e os produtos animais como avos e laticinios. Agua, alimentos
contaminados e seres infectados, sintomaticos ou nao, podem ser elos importantes
na cadeia de Iransmissao. (FEITOSA, 2004).
"1.As arizonas constituem urn grupo independente do grupo das salmon
mas depois foram inclufdas no genera Salmonella como urn subgenero. Do ponto de
vista medico devem ser consideradas como Salmonella. As infec!yoes humanas sao
raras. (FEITOSA, 2004).
5 COMO SE ADQUIRE A SALMONELOSE
Salmonella vive no trato intestinal de humanos e alguns animais,
principal mente aves. A transmissao 80 homem S8 de atraves de alimentos
contaminados com fezes, principal mente as de origem animal, como carne bovina e
de aves, leite e avos, mas todos as tipos de alimentos, inclusive vegetais podem
estar contaminados. 0 sorotipo Enteritidis e veiculado pelos avos e seus derivados,
pais esse sorotipo infecta as ovarios de aves aparentemente sadias e contamina as
DVOS antes da casca ser formada. Os alimentos podem contaminar-se tarnbsm
atraves das maDS sujas de manipuladores que nao adotam praticas de higiene
adequadas ap6s a usa do banheiro. Salmonella pode ser encontrada tarnbam nas
fezes de animais domesticos, especial mente quando estao com diarreia, e as
pessoas podem infectar -se se nao lavarem as maos ap6s 0 contato com essas
fezes. Os rapteis tem grande probabilidade de canter Salmonella e todo,
principal mente crianyas, devem sempre lavar bern as maos ap6s 0 contato com
esses animais, mesmo que saudave;s. E importante ressaltar que as pessoas que
tiveram infecC;8o por salmonella e se curaram podem eliminar 0 microorganismo
pelas suas fezes mesmo quando nao apresentam nenhum sintoma. Esses
portadores assintomaticos transformam-se em perigosa fonte de contaminagao da
agua e dos alimentos. Fezes de animals de estimayao, especial mente os que
apresentam diarreia, podem conter salmonella, e as pessoas em contato com estes
animais podem ser contaminadas e contaminar outras pessoas. (FRANCO,
LANDGRAF,1996).
Uma outra maneira de transmiss80 e 0 contato pessoa a pessoa,
particularmente importante em maternidades, ber~arios e enfermarias de individuos
idosos. As salmonelas hospitalares infantis sao extremamentes importantes em
nosso meio. Verificou-se no Hospital Infanti! da Cruz Vermelha de Sao Paulo entre
5248 crian9as internadas no piim81iO S8m8str8 de 1978, 418 (7,7%) 8ram portadores
de salmonella typhimurium. Destas, a julgar por resultados de culturas que foram
negativas a internag80 e positivas depois da internaC;8o, mais da metade adquiriu a
9
infec~o no hospital. Quanta a idade, aproximadamente 90% das criany8s
infectadas tinham urn ana ou menes. Resultados semelhantes sao relatados para
outros hospitais. (FRANCO, LANDGRAF, 1996)
Essa situac;ao aparentemente existe he muitos anos e apresenta aspectos
realmente importantes. A salmonela responsBvel e a S. typhimurium var copenhagen
que, 81em de resistente a maiaria dos antimicrobianos em usa terapeutico, pode
transportar genes plasmidiais para a fermentac;ao da lactose. Ate 1975 predominou
uma variante que fermentava a lactose rapidamente e assim S8 confundia facilmente
com E. coli nos me iDs de isolamento e de identificayao preliminar. A partir desta
epoca vern aumentando a frequemcia de Dutra variante que fermenta a lactose
tardiamente, isto ap6s tres a seis dias. Alem de peculiar com relar;ao as
caractedsticas mencionadas, ha evidencias clinicas e experimental de que esta
salmonella tem virulencia aumentada. Sua origem, implantar;80 e endemicidade
levantam importantes problemas de ordem pratica. Primeiro, ao que tudo indica, ela
e 0 fruto de uso abusivo de antibi6ticos. Uma vez que e crescente 0 numero de
marcas de resistencia, parece evidente que a seler;ao continua de mane ira
ininterrupta. Dos fatores que determinam a sua instala~o e permanencia alguns sao
6bvios e outros discutiveis. Sao obvias as intensas press6es se/etoras dos
antibi6ticos, a intemar;ao de crian9as sem triagem, a superpopu1a9a.O de crianr;as
internadas - frequentemente mal nutridas e mais sucessiveis a 0 germe - pessoal
despreparado, baixas condi96es de higiene etc. Entre as fatores discutiveis esta.o
sua capacidade de utilizar lactose, sua eventual maior virulencia, maior resistencia a
agentes fisicos etc. Do ponto de vista epidemiol6gico, a salmonelose hospitaJar
provavelmente e mais importante do que a alimentar no Brasil e em outros paises
em desenvolvimento. E interessante notar que surtos hospitalares de salmonelose
tern sido registrados em muitos parses desenvolvidos mas, sem exce98o, sao
autolimitados. Alem disso, salmone!as nao sao encontradas no meio ambiente dos
hospitais e berc;arios de Sao Paulo que procuram seguir preceitos de higiene mais
rigorosos. (FRANCO, LANDGRAF, 1996)
Nos EUA Icram relacionados 380 surtos de Salmonella enteritidis na ultima
decada, sendo que 224 foram descritas em restaurantes e outros servic;:os ligados adistribuir;ao de alimentos, 59 ocorreram em hospitais e 0 restante em outras
institui90es (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
IO
Enquanto a febre tif6ide apresenta incidencia diminuida nas areas mais
desenvolvidas, observa-s8 comportamento contrario da salmonela nao typhi, cuja
incidemcia tern aumentado em algumas partes do mundo, variando apenas dos
sorotipos encontrados. (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
Recentemente foi relatado urn caso de transmissao da salmonela atraves do
leite materna, cuja mae naD apresentava colonizacyaono ducto mama rio, e Dutro
case de transmissao transplacentaria, cuja mae apresentou infect;ao confirmada par
bacterias, cinco dias antes do parta cesarea. Apesar da placenta naD apresentar
sinais de infecg80 ao exame histopatologico, a cultura da placenta e do utero
resultou positiva. (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
As partas de entrada da bacteria no organismo sao a via digestiva e as vias
aereas superiores, estas provavelmente mais freqOentes na salmonelose do
lactente, e aparentemente de maior gravidade, por requerer menos quantidade de
bacterias para a instalal'80 do processo. (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
II
6 SINAIS E SINTOMAS
A maior parte das pessoas infectadas com salmonellas apresenta diarreia, dar
abdominal (dor de barriga) e febre, ou seja, um quadro de gastrenterite. Estas
manifestac;oes iniciam de 12 a 72 heras ap6s a infecc;ao. A doenva dura cerea de 4 a
7 dias e a maiaria das pessoas S8 recupera sem tratamento. Em algumas pessoas
infectadas, a diarreia pode ser severa a ponto de ser necessaria a hospitalizac;ao
devido it desidratac;ao, iS50 ocorre com maior freqQencia em idosos, crian<;8s e
aquelas pessoas com baixa imunidade. Nos pacientes infectados pelo virus HIV a
bacteremia e 100 vezes mais prevalente do que nos individuos imunocompetentes.
Uma das complic8<;6es mais grave e a difusao da infec<;8o para 0 sangue e dai para
Qutros tecidos, 0 que pode causar a morte casa a pessoa nao seja rapidamente
Iratada. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
o quadro clinico pe mais severo em lactentes e velhos do que nos adultos.
Em crianc;as desnutridas nao e rara a disseminaC;ao hematogemica da salmonela,
ocasionando processos septicemicos com comprometimento das meninges, ouvido,
pulmoes, rim e ossos. Neste caso a toxemia e evidente e 0 leucograma revela
leucitose au leucopenia com desvio a esquerda e alterac;oes degenerativas dos
neulr6filos. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
o perfodo de incubaC;ao para gastrenterites nao typhi e usual mente menos
que 24 horas, variando de seis a 24 horas. A excreC;ao fecal, muito intensa durante
essa fase aguda, pode se prolangar par tempo variavel, de ate 24 semanas, como
demonstrado em nosso meio em pacientes menores de seis meses, infectados pel a
salmonel/a typhimurium. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
As pessoas com diarreia recuperam-se completamente, embora possa levar
varios meses ate que 0 funcionamento do intestino fique normal. Entretanto, uma
parcela dos doentes pode apresentar a sind rome de Reiter, caracterizada por dares
nas juntas, irritaC;ao nos olhas e dar ao urinar. Esses sintomas podem durar meses,
podendo se Iransformar em artrite cronica de dificillratamento. °uso de antibi61icos
12
para tratar a salmonelose nao interfere no tratamento de sind rome de Reiter.
(FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
7 A SALMONELOSE PODE SER EVITADA?
• Sendo os alimentos de origem animal uma das principais fontes de
contaminar;ao par salmonella, avos, carne e galinha naG devem ser
ingeridos crus, mal passados au nao completamente cozidos
• Atenr;ao especial deve ser dada aos avos crus que aparecem sem ser
percebido em urn grande numero de pratos, como maionese case ira,
molho holandes, tiramisu, sorvete caseiro. Estes pratos devem ser
evitados.
• Carnes em geral, incluindo hamburgueres e frango, devem ser bern
cozidos (nao devem estar avermelhados no centro).
• Leite nao pasteurizado deve ser evitado.
• Todos os produtos devem ser bern lavados antes de sua preparac;ao e
consumo.
• Contaminac;ao entre alimentos deve ser evitada: carnes cruBs devem fiear
separadas de alimentos que estao sen do preparados, de a/imentos ja
cozidos e de alimentos prontos para serem servidos.
• Todos utensilios de cozinha (tabuas, facas etc.) devem sempre ser
lavados apos a utiliza9aO em alimentos crus.
• As maos devem ser lavadas antes do manuseio de qualquer alimento e
entre 0 manuseio de diferentes itens alimentares.
• Ja que os repteis sao portadores em potencia da salmonella, qualquer
pessoa deve lavar as maos imediatamente apos 0 cantata cam estes
animais.
• Repteis, incluinda as tartarugas, nao sao apropriados como animals de
estima~o de crian98:s e nao deveriam habitar 0 mesma ambiente.
(ABCDASAUDE, 2002).
14
8 DIAGNOSTICO
Muitos microorganismos diferentes podem causar diarn§ia, febre e c6licas
abdominais, par isso a identificayao correta do microorganismo causador depende
de testes laboratoriais para detectar sua presenc;a nas fezes das pessoas doentes.
Esses testes nem sempre sao realizados de forma rotineira, par isso e necessaria
que 0 medico especifique no pedido de exame que esse microorganismo deve ser
investigado. Uma vez identificado, sao necessarios testes complementares para
detectar 0 tipo da salmonella e tambem quais os antibi6ticos que devem ser usados
no tratamento. (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
A coleta de material deve ser a mais ampla passivel, pas as bacterias podem
tambem ser recuperada do liquor, urina e Qutros sitios nao relacionados asintomalogia clinica, como demonstrado por estudo realizado em nosso meio. Ha
forte indicio de que a infec9ao tenha cessado quando tres culturas sucessivas
venham negativas, mas deve-se ter em mente que isto pode ser temporario e a
excrel'ao bacteriana pode voltar. (FRANCO, LANDGRAF, 1996).
Geralmente as pacientes apenas com gastrenterite nao apresentam
alteral'oes hematologicas ou da bioquimica sanguinea. (FRANCO, LANDGRAF,
1996).
Durante a primeira semana da doenc;:a, op diagnostico pode ser efetuado pelo
encontro de salmonella lyphi na hemocultura em aproximadamente 90% dos casas.
A coprocultura e a cultura urinaria sao positivas mais frequente na terceira semana e
as culturas de medula 6ssea e de outros tecidos do sistema reticuloendotelial
geralmente se apresentam positivas mesmo ap6s a negativa9ilo da hemocultura. asaspirados dos exantemas cut£meos dao positiv~s em ate 50% dos casos.
(TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
Qutros metodos laboratoriais para estabelecer 0 diagnastica de infec90es par
salmonelas, principalmente para S. typhi, tern side desenvolvidos, mas nao tern side
largamente empregados na clinica. Estes incluem testes sorol6gicos, tais como
hemoglutina9ao passiva, aglutina9ao bacteriana pass iva, latex, radiomunoensaia,
15
contra-imunoeletroforese (hibridiza~o de DNA, analise cromoss6mica e analise de
plasmideas) e tecnicas fluarescentes estiia sendo estudadas. (FRANCO,
LANDGRAF, 1996).
A coprocultura deve incluir meies de enriquecimento e 0 bacteriologista deve
estar atento para 0 fata de que a S. lyphimurium em nosso meio, (pelo menDS em
Sao Paulo) fermenta a lactose, rapida ou tardiamente. As fermentadoras n3pidas,
que alias hoje sao raras, daD origem a colonias identicas a de E.coli e S8 comport am
como esta bacteria no tfiplice ar;:ucar com ferro. Par esta razac, em retina de
diagnostico, particularmente de material colhido de crianc;as internadas como
tambem em estudos epidemiologicos, e necessario investigar colonias de lactose-
positiva e usar meios de identifica<;iio preliminar desprovidos de lactose. As
variantes lactases tardias apresentam cOl6nias lactose-negativa com 24 horas de
incuba9ao e se comportam como salmonella no triplice a9ucar com ferro. Entretanto,
apos 48 a 72 horas de incuba'Y8o aparecem papilas lactose-positivas nas col6nias e
lactose ja come<;a a ser fermentada nos meios Jiquidos. (FRANCO, LANDGRAF,
1996).
A imunofluorescemcia direta oferece resultados inferiores a coprocultura.
Tampouco tem valor diagnostico as pesquisas de aglutininas sericas. a exame
bacterioscopico as fezes freqOentemente revela grande quantidade de leucOcitos.
(FRANCO, LANDGRAF, 1996).
16
9 COMO A SALMONELOSE PO DE SER TRATADA
A infecgao par salmonella usual mente dura de 5 a 7 dias e freqOentemente
nao e necessaria tratamento. Apos este periodo fica recuperada, podendo
permanecer ainda par algum tempo urn habito intestinal irregular. Casa 0 paciente
apresente severo quadra de desidratayao au a infecgflo S8 difunda do intestino para
Qutras regioes do organismo, medidas terapeuticas devem ser tomadas, incluindo a
hospitalizac;;ao. Pessaas com diarreia severa devem ser reidratadas atraves de
administrar;a,o endovenosa de sora. Os cases graves, em que a infecr;80 S8 difunde,
devem ser tratados com antibi6tieos. (FEITOSA, 2004).
A gastrenterite apresenta evolugao autolimitada e nao deve ser tratada com
antimicrobianos, pais alem destes nao abreviarem a dura930 da diarreia, nao
previnem 0 aparecimento de bacteremias, podem prolongar 0 estado de portador e,
alem disto, favorecem 0 aparecimento de resistemcia bacteriana, tornando 0 caso
mais eomplieado e de difieil manuseio. (FEITOSA, 2004).
Ha controversias na literatura quanto a indicagao de antimicrobianos na
vigemcia de bacteremias em lactentes de baixa idade, devido ao risco elevado de
disseminagao. Embora alguns admitam seu usc, preferimos avaliar cada caso
individualmente, mantendo a crianga bacteremica sob vigilancia cuidadosa, dando
inicio ao tratamento antimicrobiano, ao menor sinal de piora clinica. (TRABULSI,
AL THERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
E consenso que as cefasloporinas de terceira gerayao, tais como cefotaxina,
mostram-se efetivas no tratamento de salmoneloses resistentes, sendo esta ultima 0
antimicrobiano de escolha no nosso servir;o para tratamenta de septicemia, na dose
de 100 mg/kg/dia em uma unica aplicac;aa diaria par um periado minima de duas
seman as. Na meningite causada pel a salmonella nao typhi a duragao do tratamento
deve ser prolongada par tres a quatro semanas, e no caso de osteamelites,
geralmente assaciadas a anemia falciforme, a antimicrobianoterapia deve ser
mantida par quatro a seis semanas. (TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS,
CANDEIAS, 1999).
17
o usa de imunoglobulina endovenosa, associada a cefalosporina de terceira
gera«iio, para tratamento de infec,oes par salmonella typhimurium para prematuros,
na Turquia, mostrou-se efrcaz na reduyao da incidencia de bacteremia e
complica,oes, na dura,,,o do tratamento e tambem na taxa de mortalidade.
(TRABULSI, ALTHERTUM, GOMPERTS, CANDEIAS, 1999).
Para tratamento da febre tif6ide, a drega de escolha continua sendo 0
cloranfenicol na dose de 50 a 100 mg/kg/dia, divididos em quatro tamadas diarias,
par 14 dias, Apesar de alguns estudos terem relatado resistencia da salmonella fyphi
ao cloranfenicol, na decada passada, no continente asiatica, atualmente ja existe
relato do ressurgimento de cepas sensiveis nesses locais. 0 tratamento com
cloranfenicol reduz a letalidade de 10% a 15% para 1% au menes e a febre, de tres
semanas para tres ou cinco dias. Quando a cepa for resistente ao cloranfenicol
podemos usar a ampicilina (100 mg/kg/dia) au cotrimoxazol (6 a 8 mg/kg/dia de
trimetoprim) por 14 dias. Em casos de multiresiste!ncia, pode ser empregada
cefalosporina de terceira gera,"o. (FEITOSA, 2004).
Embora seja prov8vel 0 desenvolvimento da imunidade sorotipo especifica
ap6s uma infecyao por salmonella, a vacinayao para controlar as enterocoliticas
salmonelosicas na~ parece pratic8vel devido a variedade de sorotipos envolvidos.
Eventualmente poder-se·ia pensar numa vacina para prevenir situac;6es como a
existente hoje em Sao Paulo. Estudos em animais sugerem que vacinas vivas
atenuadas de S. typhimurium podem oferecer boa Prote9aO, e no homem sao
promissores os resultados obtidos contra a febre tif6ide, tam bern com uma vacina
viva. A amostra usada para preparar a vacina e urn mutante que 56 sintetiza uma
parede adequada em presen9a de galactosidade e que nao oferece risco de
infec«iio porque 0 acumulo da galactose fosforizada determina sua lise. (FEITOSA,
2004).
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10 SITUA(fAO DA EN FERM IDADE NO BRASIL
Surtos de salmoneloses sao descritos esporadicamente no Brasil, mas epassivel que a enfermidade seja subdiagnosticada e/au sub-relatada. No Mato
Grosso tern sido diagnosticados cases das formas septicemica e da forma enterica.
Os sorotipos isolados foram S. typhimurium dos casos septicemicos e S. Dublin, S.
newport, S. give, S. saint-paul e S. rubis law dos casas da forma enterica. No Rio
Grande do Sui, dois surtos foram descritos recentemente, incluindo as formas
enterica aguda e cronica, eo sorotipo isolado foi S. Dublin. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
No Brasil, as surtes par salmonella enteritidis no homem tern aumentado a
partir de 1993 (Silva, 1995; Irino et. AI., 1996; Taunay et. AI., 1996; Lirio et. AI., 1998)
Grande parte deles tern sido relacionada com 0 consume de avos ou pratos
preparados com ovos (Spackman, 1989; Barrow, 1993; Noorhvizen & Frankena,
1984; Tauxe, 1997). No Brasil, salmonella enteritidis foi detectada pel a primeira vez
em galinhas, em 1989, quando a cepa foi isolada de matrizes pesadas jovens que
apresentavam sintomas clinicos por salmoneloses (FERREIRA et. aI., 1990).
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11 SALMONELOSES PROLONGADAS
11.1 DEFINIi;iiO
A denominayao "salmoneloses prolongadas" refere-s8 a uma entidade bern
individualizada, que S8 caracteriza principal mente, do ponto de vista clinico, par
febre irregular, hepatosplenomegalia, fen6menos hemorragicos, diarreia, queda
progressiva do estado geral, alteray80 das proteinas plasmaticas. Tal condiy8o
evolui durante meses. Apresenta pronta resposta ao tratamento especifico com
antibi6ticos e quimioterapicos. For descrita inicialmente com 0 nome "febre tif6ide
prolongadaft
, pelo fato de terem sido as primeiros cases observados devido a S.
typhi. Posteriormente demonstrou-se que Qutras salmonelas poderiam tambem ser
responsabilizadas, dai a nova denominay8o "salmoneloses prolongadas"
As salmonelases prolangadas resultam de uma assacia<;Bo m6rbida:
esquistossomose ma90nica e salmonelose. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO,
SUCCI, 1998).
11.2 ETIOPETOGENIA
Em varias situa<;oes, as manifesta<;oes clinicas resultantes das infecc;oes par
salmonela se madificam quando a esta bacteria se associam, em determinado
paciente, outras condic;:oes m6rbidas. E assim nos individuos com
hemoglobinoplastias (falcemia e talassemia), paludismo, febre recorrente,
bartonelose, hepatite pr virus. E ainda, em certas alterac;:oes do trato digestiva, tais
como colite ulcerativa, diverticulose do colon, neoplasias do estomago e do grosso
intestina, assim como hematomas, aneurismas da aorta, tumores (mioma uteri no,
cisto de ovario, etc), aportunidades nas quais as sal monel as podem localizar-se
dando margem a alterac;oes nos quadros clinicos das respectivas doenc;:as basicas.
Entretanto, sobretudo em nasssa meia, tern real interesse a associayao de
salmonelose e esquistossomose. Esse tipo de associa<;jio tem-se verificado com 0
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S. haematobium, 0 S. japonicum e 0 S. mansoni. Em todas estas alternativas,
surgem modific8c;:oes na sindrome classica produzida pelas salmonelas.
Os primeiros cases observados fcram devidos a S. typhi. Cogitou-se da
eventualidade de se tratar de uma ra~a especial de S. typhi, 0 que foi logo afastado.
Registrou-se que Qutras sal monel as eram capazes de produzir quadros clfnicos
iguais. Em 1971, estudou-se urn doente clinicamente igual aos ate entaD descritos
como portadores de salmoneloses prolongadas, cuja doen~ evoluia ha mais de 36
meses. Surpreendentemente, em vez de isolarem urna salmonela, tal como era
esperado, verificou-se em hemoculturas repetidas e mieloGultura, 0 crescimento de
E. coli.. Tal observ8g8o afastou definitivamente a possibilidade de urn fator
especifico ligado a bacteria, atraves da existencia de rac;as especiais. Nao ha, em
pacientes com salmoneloses de curso prolongado, sintomagia neurologica, ao
contrario do que acorre na febre tif6ide classica (deliria, agita980 pSicomotora,
pSicopatias e neuroses, sintomas cerebelares, etc). Isto e explicado pela ausencia
de ac;ao da endotoxina bacteriana nos pacientes com salmoneloses prolongadas.
o papel da S. mansoni na patologia das salmoneloses prolongadas efundamental e pode ser encarado sob os seguintes aspectos:
1. Baseia-se no fato de que 0 S. manson; permite que a bacteria nels penetre e
se multipliquem. E fac;1 entender, uma vez que seu habitat natural e 0 sangue
do sistema porta, 0 facil acesso que ele tem as bacterias que vivem no trato
intestinal, principalmente as enterobacterias. A inten980 de cura da
salmonelose prolongada indiretamente, atraves do tratamento de
esquistossomose teve seu exile quando a pronta regresseD observada com 0
uso de antibi6licos especificos.
2. E sabido que a esquistossomose leva a apreciavel hiperplasia do sistema
reticuloendotelial. Provavelmente essa hiperplasia se acompanha de
medificac;ao de algumas funr;6es do referido sistema, sobretudo a sua
capacidade fagocitaria. Tem-se mencionado tambem que pacientes com
esquistossomose hepatosplenica apresentam inibigeo e retardo na
capaeidade de rear;2Io inflamat6ria. A analise comparativa do que aconteee
em pacientes com esquistossomose haemat6bica, japonica e mansonica,
quando se infectaras com salmonelas, e sugestiva do papel de SER. Na
primeira eventualidade tornam-se os pacientes apenas portadares, ao passe
que no caso das esquistossomoses japonica e mansonica quadros elinieos se
instalaram. E sabido que essas especies tem localiza.yao
organismo, a que condiciona haver pequeno comprometimento do SER na
esquistossomose haemat6bica e acentuada participa,8o do referido sistema
nos casos da esquistossomose mansonica e japonica. E provavel que as
bacterias se multipliquem tambem nas estruturas ricas em celulas do reticula
endotelio, mantendo a infec.yao.
3. A hiperplasia do SER e resultante da a,80 do S. manson; e da salmonela. Na
febre tif6ide classica, as altera.yoes verificadas no sistema reticulo endotelial
sao evidentes e muito se as semel ham as encontradas no calazar. As
diferen.y8s principais estariam ligadas a presen<;a do parasito, no caso da
leishmaniose visceral e da necrose produzida pela a.yao da toxina nas les6es
da febre tifoide. Nas salmoneloses prolongadas os fatos se sucedem da
seguinte mane ira: 0 SER e inicialmente atuado pelo S. manson;. Entre outras
conseqOencias, resulta disso, modificayao na composi.yao das proteinas do
plasma, explicita pelo aumento das globulinas. Nao ha, porem, diferenciaryao
celular.
Ja se esclareceu que varias especies de salmonela podem produzir as
salmonelas prolongadas. Deve-se acrescentar que a doenc;.a ocorre em pacientes
com a forma hepatosplenica e tambem com a forma hepatointestinal da
esquistossomose. Nesses individuos a bacteria penetra pel a via digestiva, atravessa
a parede do intestino, atinge as estruturas linf6ides locais e os ganglios do
mesenterio, onde se multiplicam. Dai ganham a circulac;ao, disseminam-se pelo
organismo, sobretudo naqueles orgaos ricos em celulas do SER (figado, bac;o,
medula 6ssea). Voltam ao intestino, onde produzem ulcera.yoes ao nivel das
formac;oes linf6ides previamente sensibilizadas.
No entanto, em vez da infecc;ao ter sua evoluC;80 classica, em
esquistossomoticos, ela se mantem. A bacteria multiplica-se no interior do verme e,
possivelmente, no SER, produzindo bacteremias freqOentes, perpetuando a doenrya.
Ao mesmo tempo seguem as altera<;6es proteicas. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
22
11.3 EPIOEMIOLOGIA
Pacientes com salmoneloses prolongadas sao encontrados exclusivamente
em areas ande a esquistossomose mansonica e endemica ou entao, fora dessas
areas, em individuos esquistossomoticos que emigram para Qutras zonas. Os
primeiros casas da doen<;8 fcram descritos em Sao Paulo e na Bahia. Logo a seguir,
em Minas Gerais, Pernambuco e Parana. Fora do Brasil, eles tern sido mencionados
no Egito, Africa do Sui e Africa Central. E facil entender a freqOencia com que a
doen<;8 pode ser encontrada nas areas de endemicidade de esquistossomose, pois
e conhecida a facilidade com que S8 infecta par sal monel as, individuos de reduzidas
condic;:6es de higiene, como e 0 case nas areas mencionadas. A freqOencia de
registros de novas casas seguramente aumentara, desde que os medicos que
trabalham em zonas rurais, nas quais a esquistossomose endemica, sejam alertados
sobre a doen9a. (TRABULSI, AL THERTUM, GOMPERTS, CANOE lAS, 1999).
11A QUAORO CLiNICO
o quadro clinico das salmoneloses prolongadas lembra, em seu conjunto, a
das doem;as caracterizadas par hepatosplenomegalia e febre, que evoluem durante
meses, sendo a calazar a melhor model a comparativo. 0 inicio e quase sempre
insidioso. Raramente 0 enfermo se mostra capaz de definir a momenta exato do
inicio da sua doenya.
As caracteristicas clinicas das salmoneloses prolongadas, ordenadas
segundo sua frequencia e importancia, sao as seguintes:
Febre irregular, as vezes do tipo continua; outras vezes intercalam-se
periodos de apirexia, que podem durar varios dias. A temperatura atinge, de
regra, mais de 39°. No entanto, em alguns pacientes ela nao pode assar de
37,5°. Em mais da meta de dos doentes a eleva9iio termica se acompanha de
calafrios, sudorese e cefaleia, fazendo com que a diagnostico de paludismo
seja seguidamente lembrado.
2. Diarreia e uma queixa comum. Ela nao e permanente; perfodos de obstipac;ao
se intercalam aos de diarreia. E comum a registro de sangue e muco nas
fezes.
23
3. Dar e disten<;ao abdominal constante, muitas vezes intensa a ponto de exigir
sedag.3o, e em Qutros momentos, de fraca intensidade. Difusa ou localizada
noabdome superior.
4. Hepatosplenomegalia, 0 figado e 0 ba<;o aumentam de volume
consideravelmente.
5. Comprometimento do estado geral definido principalmente pelo
emagrecimento e palidez. Nac e regra, porem, que as pacientes fiquem de
cama. E surpreendente como muitos deles, par meses a fio, S8 mantem
ativos. 0 emagrecimento, embora lento, e progressiv~, podendo chegar a
caquexia. Esta nac melhora senaa ap6s a cura da infecyao bacteriana, sendo
inuteis 0 usa de transfusao de sangue, sais de ferro, vitamin as ou 0
tratamento das verminoses associadas.
6. Manifesta<;oes hemofrC3gicas pe urn fen6meno constante nas sal mane loses
prolongadas. Podem ser registradas varias manifesta<;6es hemorragicas, tais
como epistaxe, petequias, entorragias, melena, escarros hemaptoicos e
gengivorragias.
7. De expressivas freqOencia das manifesta<;6es indicativas de altera9aa no
volume e ritmo urinarios. 0 edema existe em mais da metade dos casas.
Discreto e limitado aos membros inferiores, podem ser, parem, acentuada,
generalizar-se e se acompanhar de ascile, configurando assim, uma sind rome
nefr6tica. Dutro aspecto a ser considerado e a da presen9a da salmonela na
urina de pacientes com salmoneloses prolongadas. Em 6 pacientes dentre 29
submetidos a urocultura, verificou-se a presenc;a de salmonela na urina.
8. Ictericia infreqOente, aparecendo em 17% dos pacientes.
9. Qutras manifesta96es: tosse, dores articulares, prurido cutaneo etc.
A inexistencia de manifesta90es neurol6gicas nao deve ser esquecida.
As salmoneloses de curso prolongado evoluem durante muitos meses, podendo
alcan<;ar mais de 2 anos. Progressivamente a quadro clinico se acentua, embora 0
prognostico da doen9a nao seja dos mais sombrios. Intercorrencias agravam-no
sobretudo hemorragia e associagao com outras infecgoes. (FARHAT, CARVALHO,
CARVALHO, SUCCI, 1998).
24
11.5DIAGNOSTICO
o diagnostico de laborat6rio das salmoneloses prolongadas e orientado
atraves de exames nao especfficos e definidas pelas provas especificas. Entre as
primeiros, destacamos:
8. Proteinograma. Caracterizado par hipoalbuminemia e elev8r;:c3.0das globulinas
sobretudo da frayao gama; as fra¢es alfa 1 e alfa2 tambem estao elevadas
enquanto a frar;:c3o beta pouco varia. A proteina C reativa, pesquisada em 8
pacientes, foi positiva em 6. 0 interesse deste achadao esta no diagnostico
diferencial com 0 calazar, posta que, nesta doenr;a, a pesquisa da proteina C
e, na maiaria das vezes negativa.
b. Alteray6es hematol6gicas. 0 leucograma tern, como caracteristica
normoleucocitose au discreta leucocitose e tendElncia a eosinofilia. 0 valor
deste exame nao e grande se considerarmos isoladamente; mas e importante
no diagnostico diferencial com outras.
c. Provas de fun9aO hepatica. As provas de fiocula9aO sao todas positivas. As
transaminases nao se alteram.
d. Provas de fun9aO renal. 0 exame de urina e quase sempre anormal, pel a
presen9a de proteinura, hematuria, glicosuria e cilindruria. Em raros casos a
ureia pode-se elevar. A prova de exCre9.30 de fenulsulfoftaleina realizada em
6 paeientes indicou, em todos, deficit de func;ao renal.
o diagnostico definitivo das salmoneloses prolongadas e reallzado atraves de
culturas ou da reayao de Widal, sendo positiva em um bom numero de casos,
quando sao s. typhi e paratyphi os agentes responsaveis. No entanto, ela pode ser
negativa quando se trata de outras espeeies de salmonela.
As salmoneloses prolongadas devem entrar na cogitayao do elinico em todo 0
paeiente com esquistossomose, hepatosplemieo ou nao, que apresente febre de
longa durayao e hepatosplenomegalia. Varias doenyas tern estas caracteristicas.
Dentre todas, porem, a que merece mais aten980, em nos so meio, e a calazqar.
Clinicamente, estas duas doenyas sao praticamente indistinguiveis. Levando-se em
conta que as areas endemicas de calazar e esquistossomose muitas vezes se
superp6em, as dificuldades aumentam. Cabe ao laborat6rio definir 0 diagnostico.
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Malaria, histoplamose, endocardite bacteriana, meningocoeia cronica,
tuberculose extrapulmonar e Qutras condic;oes menes importantes merecem tambem
serem cogitadas.
Na terapeutica das salmoneloses prolongadas podem ser utilizadas, samente,
drogas esquistossomicidas, como 0 Dxamniquine (au hycantone), mesma
desconhecendo-se qualquer atividade contra as salmonelas. Esta indica~aolimita-s8
aos cases em que 0 comprometimento do estado gerai nao e acentuado. Em casas
mais graves da-se prefer€mcia a terapeutica antibi6tica (cloranfenicol, ampicilina,
cotrimexasol) de inicio; quando a temperatura cai e 0 paciente recupera-se no seu
estado geral deve-se, entaD, administrar a terapeutica antiesquistissomotica.
Quando se utilizam tao somente drogas antibi6ticas as recidivas sao
frequenles. (FARHAT, CARVALHO, CARVALHO, SUCCI, 1998).
26
12 CONCLUsAo
Baseado nas informac;oes obtidas, verifica-se a necessidade de urn controle
de vigilancia sanitaria mais eficaz, uma vez que ainda podemos observar surtos de
sa 1mone loses em algumas regi6es do pais, bern como orientac;oes aos moradores
das regi6es mais afetadas. Alem destes procedimentos a serem tornados, devemos
observar a controle das infec90es e ambientes publicos, hospitais, clinicas e Qutros,
as quais devem manter urn nivel de higiene aceitavel para evitar tais contaminagoes,
porem, nao devemos descuidar das orientagoes de higiene pessoal nos lugares
citados uma vez que 0 cantata pessoal e uma das fontes de contaminag8o das
salmoneloses.
Outro fator que contribui para a exposi980 do S8 humano e a pobreza, nao
que isso seja sin6nimo de doenc;as, mas as condi90es as quais sao expostas as
pessoas, a falta de saneamento basico, contato com 0 lixo e fezes de animais,
cria~o clandestina de animais e 0 comerdo clandestinos de alimentos sem
nenhuma orientac;ao e fiscalizaC;ao sanitaria.
Este talvez seja urn dos fatores mais complicado de se combater, pois
necessita de vontade politica que, muitas vezes nao trazem retorno para nossos
govern antes, porem nosso pais sofre com doenc;as infecciosas que poderiam ser
minimizadas com urn tratamento adequado de agua, esgoto, a cumprimento da
legisla~ao, bern como a punic;ao e fiscalizayao rigorosas sob 0 comercio de carnes
de animais nas periferias das grandes ddades, mas nao s6 no papel, mas sim na
pratica.
Com tuda issa basta-nos orientar e fiscalizar aquila que esta ao nos so
alcanC8. Higiene pessoal, alimentar, acondicionamento das alimentos bern como
evitar a contata com criac;6es e seus dejetos, cuidar do nosso lixo domiciliar, solicitar
junto a vigilancia sanitaria do nosso municipio uma a~a mais eficaz para a combate
destas doenc;as, pois se cada um frzer sua parte, poderemos viver urn pouco mais
saudaveis.
REFERENCIAS
ABCDASAUDE, EQUIPE, Nutri~ao e intoxica~ao alimentar, 2002; disponivel em
www.abcdocorposalular.com.br. acessado em 16/10/2005.
FARHAT, C.K; CARVALHO, E. S; CARVALHO, L. H. F. R.; SUCCI, R. C. M.,
Infectologia pediatrica, 2' ed, Sao Paulo; Ed. Alheneu, 1998.
FEITOSA, M. L.; Salmonellas, 2004, disponivel em www.cca.ufes.br. acessado em
19/10/2005
FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M., Microbiologia dos alimentos, Rio de
Janeiro, Ed. Alheneu, 1996.
TRABULSI, L. R.; ALTHERTUM, F.; GOMPERTZ, 0. F, CANDEIAS, J. AN.;
Microbiologia, 3' ed., Rio de Janeiro; Ed. Atheneu, 1999., disponivel em
www.sfdk.com.br/ciencias. acessado em 20/10/2005.