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FUNDOS DE INVESTIMENTO Novembro 2010 ROTA DE Kalinka laquinto, do-Rio de Janeiro T udo começou em 2003. Aficio- desde o início buscamos um processo nado por joguinhos de celular, o transparente", conta. A prática da boa estudante de marketing mineiro governanç,a foi recompensada. Em Gustavo Caetano percebeu que o mer- 2007, quando a empresa ampliou seu cado para esse produto no Brasil era foco ao desenvolvimento de uma plata- inexistente, e decidiu explorá-lo. Com forma de internet para distribuição de o apoio financeiro de um amigo de seu-. .vídeos, conseguiu obter investimento pai e a parceria com uma desenvolve- do 'FIR Capital, em uma operação de dor a de jogos para dispositivos móveis venture capital pela qual a empresa de origem inglesa, ele abriu, em 2004, recebeu R$ 4,7 milhões. O resultado? a Sambatech, com R$ 100 mil. "Como Um crescimenFo de 300%?e 2008 para trabalhávamos com dinheiro de outros; cá, 50 jovens' funcionários - o mais

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• FUNDOS DE INVESTIMENTONovembro 2010

ROTA DE

Kalinka laquinto, do-Rio de Janeiro

Tudo começou em 2003. Aficio- desde o início buscamos um processonado por joguinhos de celular, o transparente", conta. A prática da boaestudante de marketing mineiro governanç,a foi recompensada. Em

Gustavo Caetano percebeu que o mer- 2007, quando a empresa ampliou seucado para esse produto no Brasil era foco ao desenvolvimento de uma plata-inexistente, e decidiu explorá-lo. Com forma de internet para distribuição deo apoio financeiro de um amigo de seu-. .vídeos, conseguiu obter investimentopai e a parceria com uma desenvolve- do 'FIR Capital, em uma operação dedor a de jogos para dispositivos móveis venture capital pela qual a empresade origem inglesa, ele abriu, em 2004, recebeu R$ 4,7 milhões. O resultado?a Sambatech, com R$ 100 mil. "Como Um crescimenFo de 300%?e 2008 paratrabalhávamos com dinheiro de outros; cá, 50 jovens' funcionários - o mais

Novembro 2010

velho tem 30 anos - e um faturamentolíquido de R$ 10 milhões previsto para2010, e de R$ 18 milhões para 2011.

Histórias como a de Caetano serepetem cada vez mais no Brasil: em-presas inovadoras com potencial derápido crescimento têm conquistadofundos de investimento em participa-ção (FIPs) - capital semente, venturecapital e, num terceiro momento,private equities - para financiar suaascensão. E há outra boa notícia en-volvendo esse mercado: as negociaçõesse dão em um ambiente no qual nãohá predomínio de região nem de umaárea específica - são multissetoriaise multirregionais -, atraindo espe-cialmente o interesse de investidoresestrangeiros que desviaram seu radardos Estados Unidos e da Europa embusca de economias mais aquecidas epromissoras.

FUNDOS DE INVESTIMENTO.

De acordo com o levantamento doCentro de Estudos em Private Equitye Venture Capital (GVCepe), da Fun-dação Getulio Vargas de São Paulo(FGV-SP), divulgado em abril de 2010,atualmente 140 gestores administramum capital comprometido - investidoe a investir - de US$ 34 bilhões, cor-respondente a 2,2% do PIE. "Nossaestimativa é que, nos próximos cincoou seis anos, o estoque de investimentosem private equities corresponda a até3,5% ou 4% do PIE", afirma ClaudioFurtado, coordenador do GVCepe. Oestudo também indica que esses núme-ros já se refletem positivamente na vidados brasileiros. Até o fim do ano passa-do, aproximadamente 1.700 empregosforam gerados no Brasil graças à ajudados private equities e venture capital,contra mil na Índia e 800 na China.

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Fonte: ABVCAP

• FUNDOS DE INVESTIMENTO

PRESENC~:::>

CRcSC=NTEParticipação

de priva te equítyno total de fusões

e aquisiçõesanunciadas no Brasil

2006c::==========-_

11%

2007c:::::========_

15%

2008C:::::::=====-:::I_

20%

2009

31%

(até set.) 2010

43%

Fonte: PriceWaterhouseCoopers

A crise econômica, cujo ápice se deu em2008, não abalou o ânimo dessa indús-tria no país. Ao contrário, deu um novoimpulso ao mercado de fusões e aqui-sições. Para se ter uma ideia, há quatroanos, os private equities participavamapenas de 11% das fusões e aquisiçõesanuais. Já em 2010, responderam por43% das 564 transações fechadas atésetembro. "Houve um crescimentoano após ano graças à presença deprivate equities capitalizados, fazendoinvestimentos em diversos setores comoportunidades de crescimento", dizAlexandre Pierantoni, sócio da Pri-ceWatherhouseCoopers (PWC). E osnúmeros não param aí. O levantamentoGVCepe ainda mostra que, de 2004 afevereiro deste ano, llà ofertas públicasde abertura de capital foram levadas aomercado, o correspondente a R$ 113bilhões. Desse total, 41 empresas eramde carteiras de gestores de PE&VC, oque representou R$ 28,4 bilhões.

Novembro 2010

anos, estarem inflados e muito com-petitivos. "O Brasil tem economia edemocracia equilibradas e necessidadede investimentos com preços atraentesde entrada. Além disso, tem uma bolsade valores adequada, e o que esses in-vestimentos procuram é abrir capital",diz Regueira. .

Na avaliação de Álvaro Gonçalves,sócio e fundador do Grupo Stratus,que atua junto à Finep, os PE&VCtêm papel específico no ecossistemado mercado de capitais: atuam cornodepurador e energizador. "É um abas-tecedor de células empresariais degrande sucesso", diz. "Os mercados decapitais em que essa indústria funcionade forma relevante tendem a ter nível dedepuração maior; são mais saudáveis,menos concentrados."

Para o empresário, a tendência doBrasil é ter uma quantidade maior deempresas abrindo seu capital e tran-sacionando ações na bolsa de valores.Na Índia, uma economia menor quea brasileira, existem cerca de sete milempresas de capital aberto, contra cercade 500 no Brasil. "Temos a menor bolsados mercados emergentes, seja porqueficamos muito tempo com altas taxasde juros, ou pela cultura de décadas emrenda fixa. Além disso, o empresáriomédio brasileiro acha que emitir açõesem bolsa é para ~mpresas gigantescas",avalia.

EnergizanteO empresário Marcus Regueira, daFIR Capital, gestora de um dos fun-dos apoiados pela Financiadora deEstudos e Projetos (Finep) e da qual aSambatech faz parte, soma um item àatratividade dessa indústria: o fato deo país se apresentar como um ambienteextremamente adequado para investi-mentos de longo prazo, característicados private equity e venture capital(PE&VC), que demandam, em geral, de _Atr.aç~o8 a 10 anos entre o investimento inicial O fato é que,a indústria de PE&VC noe a venda. Junte-se a isso, segundo o Brasil tem atraído a atenção lá fora,empresário, o fato de os mercados da ainda que seu capital comprometidoChina e da Índia, principais destinos seja concentrado por investidores do-de investimentos de PE&VC há alguns rnésticos, que representam 60,49%,

Novembro 2010

segundo o estudo da GVCepe. "Aindústria capta muitos recursos juntoa investidores institucionais, tais comoos fundos de pensão, que têm deixadode investir em CDIs para alocar maisrecursos nos fundos de private equity eventure capital", diz Cláudio Furtado.Para Sidney Chameh, presidente daAssociação Brasileira de Private Equaty& Venture Capital (ABVCAP), agora énecessário atrair fundos de pensão me-nores para esse mercado, aumentandoseu poder de ação.

Entre o total de investimentos com-prometidos (2,2% do PIE) e realizados,ainda há uma diferença marcante: os jáefetivados representam somente 0,2%do PIE brasileiro. Nos Estados Unidos,onde a indústria existe há pelo menos30 anos, esse número é naturalmentebem mais alto: 1,4%. Em países emer-gentes como Índia e China, os númerossão 0,81% e 0,21%, respectivamente.Ou seja, há espaço para crescer já quea maior parte dos recursos de PE&VCainda está estocada. Além disso, oBrasil segue uma tendência mundial deampliar o leque das carteiras dos fun-dos. Setores considerados tradicionaiscomo a construção civil e o imobiliáriojá flertam com os PE&VC. Ambosrespondem por 13% dos negócios,seguidos por indústrias diversas (19%),varejo (5%), alimentos e bebidas (4%),informática e eletrônica (13%), agrone-gócio (6%), energia (7%), comunicaçãoe mídia (8%) e biotecnologia (4%).

VolatilidadeApesar do otimismo da indústria dePE&VC aqui, o fato de o Brasil terum câmbio volátil é apontado como

FUNDOSDEINVESTIMENTO.

o desenvolvimento dos PE&VCno Brasil também pode ser atribuídoà ajuda de recursos de órgãos estatais, como o Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência eTecnologia,juntoa empresas edemais fundos.

Em 1996, o BNDEScomeçou a operar com PE&VCe hoje tem umpapel mais forte em venture capital, estágio intermediário entre anecessidade de capital semente (início da operação) e priva te equity(para potencializar avend-aou entrada da empresa na bolsa). Oestudodo GVCepe mostra que, no geral, o volume comprometido em capitalsemente e venture capital é baixo. Em 2009, foi de aproximadamenteUS$2,1 bilhões - para este ano a previsão é de US$2,5 bilhões.

O BNDEStem em seu portfólio 40 projetos de PE&VC, nas maisvariadas áreas como infraestrutura, energia, educação, agronegócioe meio ambiente. São 158empresas aprovadas cujo patrimônio com-prometido é de R$4,64 bilhões, sendo que R$976 milhões cabem aoBNDESe o restante a investidores parceiros. No que diz respeito aofoco dos fundos, inovação é o carro-chefe de 34% deles, seguido porinfraestrutura (27%) e governança (15%). Em termos da distribuiçãodo patrimônio líquido, a área de infraestrutura é a mais beneficiada:responde por 57% dos projetos do portfólio do BNDES.

Naavaliação de Eduardo Sá,chefe do Departamento de Investimentoem Fundos do BNDES,ainda é preciso investir mais nas empresas nas-centes via "investidores anjos", executivos de sucesso que procuramnovos negócios para aplicar capital e experiência. "Esseambiente quebuscamos promover deve acontecer com o tempo, à medida que cres-cer o empreendedorismo no Brasil com retorno e sucesso, a exemplodo que ocorre em outros países. É uma mudança cultural", pondera.

Essamudança de visão e entendimento do empreendedorismo noBrasiltambém foi percebida pela Finep. Em2000, afinanciadora inaugu-rou o Programa Inovar, que já está na segunda etapa e apoia empresasinovadoras por meio de operações de venture capital. Depois, em 2006,lançou o Inovar Semente, voltado a empresas inovadoras, mas que es-tão em estágio embrionário. PatríciaFreitas,superintendente da áreadeinvestimentos da Finep, avalia que osobjetivos estão sendo alcançados:"Hoje, os empresários já têm um conhecimento prévio e sabem o queé ter um investidor e um gestor aliados a seus negócios".

Atualmente, a Finep tem 25 fundos aprovados - 13de venture ca-pital, sete de capital semente e cinco de private equity -, dos quais 18estão em operação, com 70 empresas investidas. O volume total dosfundos é de R$ 3,5 bilhões sendo o comprometimento da Finep deR$33Smilhelils. Do portfólio da financiadora, asações de priva te equityrespondem por 43%, venture capital, 42%, e seed capital, 15%.

Paraa Finep, o governojá fez a sua parte no que diz respeito apriva teequities. "Acreditamos que a indústria de private não precisa do apoioda Finep de forma alguma, já temos muita coisa sendo feita. Mas, semdúvida, ainda existe uma lacuna muito grande no estágio inicial, emcapital semente e venture capital."

'. FUNDOS DE INVESTIMENTONovembro 2010

o câmbiovolátil é

apontadocomo

empecilho ainvestimentos

em longoprazo,

-preocupaçaocrescentediante dosrumoresde guerracambial

Origem do capital comprometido em 2009

60,5%Brasil

25,6 I:)

EUAAmérica

Latina

0,5%Europa 6,90/0

Ásia1,2% I I 2,4% OutrosInglaterra 1 ,8%

1 ,1 % Oriente Médio Fonte: FGV/GVCepe

empecilho para investimentos em longo significativamente a taxa de câmbio",prazo, preocupação que cresce frente avalia Marcus Regueira.a rumores de guerra cambial. Para a "Não se pode ter de um lado a genteindústria de PE&VC funcionar bem é fazendo um esforço grande de atraçãonecessário um ambiente estável, cenário de investimento privado e de investido-raro nos últimos meses, reclama o setor. res internacionais, e, de outro, elevarSome-se a isso a repentina decisão do o IOF para o investidor internacionalgoverno de elevar o Imposto sobre Ope- que vai ficar 10 anos nesses fundos. Érações Financeiras (IOF) como forma o Estado tendo dois papéis", completade equilibrar o câmbio. Patrícia Freitas.

"O problema é que o governo incluiu Apesar de todos os desafios, quan-o PE&VC entre os fatores que podem vir do se fala sobre o futuro de PE&VC,a causar instabilidade do câmbio. No tem-se quase uma unanimidade: omomento, não era possívelfazer exceção, mercado crescerá por aqui nos pró-mas não há um centavo deprivate equity ximos anos,' assim como devem serem renda fixa. Priva te equity investe na ampliadas as formas de fundos e suasprodutividade do país, ajuda a fixar a áreas de atuação. Nesse contexto, osbase industrial aqui", diz Gonçalves. fundos de fundos, que permitem o

O sócio e fundador da Stratus prega _ ac-esso a carteiras de outros fundosa isenção da indústria de PE&VC. Enão de invest imentos , apresentam-seestá sozinho. "O IOF é uma variável como uma alternativa, o que torna oextremamente negativa no processo. O mercado mais acessível a investidoresfluxo de receita de priva te equity diante menores e interessados em diversificardo PIE não é nada que possa afetar suas carteiras de ativos. liI