romantismo - porto alegre, rio grande do sul,...
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Romantismo Século XIX – A Poesia
Prof. Roger
A Liberdade guiando
o povo, Delacroix
Independência ou Morte, de Pedro Américo
Três Gerações
I Geração – Nacionalista
II Geração – Mal do Século
III Geração – Condoreira
Início - 1836
Gonçalves de Magalhães
Inaugura o Romantismo no Brasil (1836) com
Suspiros Poéticos e Saudades
Importância apenas histórica pelo seu prefácio
Prof. Roger
Geração Nomes Características Principais
poetas Influência
I
Nacionalista
Indianista
índio, natureza,
saudade da pátria,
amor ingênuo
Gonçalves
Dias
Chateaubriant
II
Mal-do-século
Byronismo
amor ligado à
morte e a medo,
tristeza, dor,
pessimismo, tédio
(blasé, spleen),
Álvares de
Azevedo
Casimiro de
Abreu
Lord Byron
III
Social
Condoreira
questões sociais,
abolicionismo,
república,
progresso,
amor realizado,
sensual
Castro Alves
Victor Hugo
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro eu cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Prof. Roger
I – Juca Pirama
Canto I: Apresentação do
cenário: é a taba dos
timbiras, tribo valente
que provoca medo nas
demais tribos da região.
No meio deste cenário,
destaca-se um guerreiro
“infeliz”, que vai ser
sacrificado. Ele está
sendo preparado para a
execução.
Aquele que deve morrer
ou que é digno de morrer
Prof. Roger
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
(...)
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam doutrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
(...)
Prof. Roger
Canto II: Ritual de preparação do prisioneiro.
Apesar de saber que vai morrer, o prisioneiro
mantém-se tranqüilo, porém o narrador percebe
algo de errado com ele (“a mentirosa placidez do rosto na
fronte do audaz”). Na última estrofe vem a pergunta: “que
temes, ó guerreiro?”.
Canto III: Começa a cerimônia; aparece o chefe dos timbiras, a
quem cabe a honra do sacrifício, e este pergunta ao
prisioneiro quem é ele, pede que ele se defenda. E o índio,
chorando, começa a falar.
Canto IV: O índio conta sua vida, fala sobre como caiu
prisioneiro e, para surpresa de todos, pede para ser libertado
para poder buscar seu pai, cego, que está perdido na floresta.
Jura voltar e ser escravo daquela tribo, se eles, por piedade, o
deixarem cuidar de seu pai até que este morra.
Prof. Roger
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos inimigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do inimigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Prof. Roger
Meu pai ao meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço
guerreiro
Com que me
/encontrei;
O cru desassossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja, - dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho que sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer,
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo;
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro,
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer."
Prof. Roger
- "És livre: parte."
- "E voltarei."
- "Debalde."
- "Sim, voltarei, morto meu pai."
- "Não voltes!
É bem feliz, se existe em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!"
- "Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!"
- "És livre, parte!"
Canto V: Após ouvir o que disse o prisioneiro tupi, o chefe timbira manda que o soltem, o que surpreende a todos que ali se encontram. O tupi agradece, jura que vai voltar, mas o chefe timbira diz que não volte, porque é covarde e não vale a pena alimentar-se da carne de um covarde , referindo-se ao ritual do canibalismo que se desenvolvia ali. Com o coração apertado, o jovem tupi parte em busca de seu pai.
Prof. Roger
Canto VI: Ao encontrar o pai, o índio mostra-se nervoso,
o que é logo percebido pelo velho, que, tocando o corpo
do filho, descobre que este havia sido aprisionado por
alguma tribo. Quando o filho conta ao pai o que houve, o pai toma a
decisão de ir com ele de volta para a tribo que o havia libertado por
um motivo tão nobre. É preciso perceber que o pai não sabe que o
filho foi chamado de covarde.
Canto VII: Chegando à tribo timbira, o velho índio agradece ao chefe
por haver libertado seu filho e elogia a nobreza daquela tribo que era
inimiga da sua. Além disso, o velho pede que alguém cuide dele
quando seu filho for sacrificado, já que está de volta para isso. O
chefe timbira conta ao velho o que se passou e diz que o jovem tupi
é fraco e não seria nobre para sua tribo matar alguém como ele.
Canto VIII: O velho índio dirige-se ao filho e o interroga, querendo
saber se é verdade o que acabou de ouvir e diz ao filho que, se ele
chorou quando estava para morrer, se ele foi de fato covarde, como
diz o chefe timbira, então não mais será considerado seu filho.
- Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa dos vis Aimorés.
Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigo tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
Canto IX: O jovem tupi, ofendido
pelas acusações feitas contra sua
honra e, principalmente, desejando
mostrar a seu pai que não era
covarde, que havia chorado para
salvá-lo, e que nunca havia temido a
morte nem o que quer que fosse,
parte para cima dos guerreiros da
tribo inimiga e, com grande
coragem, mostra a todos o seu real
valor. O chefe timbira, vendo aquele
espetáculo de coragem e vigor, diz
que já chega, que já estava
convencido da honra daquele índio
e pede a ele que descanse, pois
para morrer também é preciso ter
forças. O velho pai emociona-se e
abraça o filho cansado, num gesto
de orgulho e reconciliação. A
cerimônia do sacrifício pode
prosseguir.
Prof. Roger
Canto X: Num tempo posterior, um velho
timbira relembra a história do jovem tupi. E
aos mais jovens diz que aquelas cenas de coragem e
encantamento haviam sido presenciadas por ele, que
não cansava de as repetir. Aqui temos o real valor desta
narrativa, que, feita no presente, recupera elementos do
passado para que estes sirvam de exemplo aos mais
jovens.
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: - “Meninos, eu vi!”
Prof. Roger
Poesia lírico-amorosa
Ainda Uma Vez - Adeus!
Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado aos teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti. (...)
Lerás, porém, algum dia
Meus versos, d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas.
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade
Nem de amor — de compaixão.
Prof. Roger
Segunda Geração
Ultra-Romantismo
Byronismo
Mal do Século
Prof. Roger
Lembrança de morrer
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- Foi poeta - sonhou - e amou na vida. -
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Prof. Roger
Soneto (mulher inacessível)
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
O Poeta Moribundo (humor)
Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa!
(...)
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
Prof. Roger
Meus Oito Anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d’amor!
Casimiro de Abreu
Obra: As Primaveras
Prof. Roger
Amor e Medo Quando eu te fujo e me desvio cauto Da luz de fogo que te cerca, ó bela, Contigo dizes, suspirando amores: “- Meu Deus, que gelo, que frieza aquela!” Como te enganas! Meu amor é chama, Que se alimenta no voraz segredo, E se te fujo é que te adoro louco… És bela – eu moço, tens amor, eu – medo!… Tenho medo de mim, de ti, de tudo, Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes, Das folhas secas, do chorar das fontes, Das horas longas a correr velozes.
*Minha Alma é Triste
Minha alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E como a rola que perdeu o esposo,
Minh’alma chora as ilusões perdidas
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
*Poema presente em “Livro Negro”
Prof. Roger
Fagundes Varela
Falta de originalidade,
características das três gerações
Elegia: saudade do filho morto (Cântico do Calvário)
Cântico do Calvário (fragmento)
Eras na vida a pomba predileta
que sobre um mar de angústias conduzia
o ramo da esperança! ... Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
apontando o caminho ao pegureiro! ...
Eras a messe de um dourado estio! ...
Eras o idílio de um amor sublime! ...
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
o porvir de teu pai! - Ah, no entanto,
pomba - varou-te a flecha do destino!
Astro - engoliu-te o temporal o norte!
Teto - caíste! Crença – já não vives! (...)
Prof. Roger
Castro Alves (1847-1871)
Influenciado pelo liberalismo de Victor Hugo –
poeta e romancista francês, cuja obra político-
social defendia a liberdade –, Castro Alves
caracterizou-se pela defesa das altas causas
sociais (ideais abolicionista e republicano).
Sua linguagem é apaixonada, sonora,
retórica, grandiloqüente, identificada com as
imagens grandiosas do universo.
Poesia Social: abolicionismo
Poesia Lírica: amor sensual
Prof. Roger
Prof. Roger
Observe o fragmento de Vozes d’ África
Deus! Ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus? (...)
Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É pois teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?...
E que é que eu fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
teu gládio vingador?...
Imagens
grandiosas
O Navio Negreiro
'Stamos em pleno mar...
(...)
Por que foges assim barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?...
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar doudo cometa.
(...)
Canto I: A poesia inicia com uma evocação de beleza: o mar e o céu formando dois espaços infinitos por onde passam os barcos. O poeta observa um barco e busca saber de onde vem, para onde vai. No final, pergunta-se: por que razão aquele barco foge dele? O poeta termina pedindo ajuda ao albatroz, para que este lhe dê asas e o faça aproximar-se do barco que passa ao longe.
Prof. Roger
Canto II: Na segunda parte o poeta dedica-se a elogiar os
marinheiros que, ao longo da história da humanidade, realizaram esta
tarefa, a de descobrir e interligar novos mundos. Assim, espanhóis,
italianos, ingleses, franceses e até os gregos, representados
mitologicamente por Ulisses, herói da Odisséia, são relembrados por
suas façanhas e por seu valor.
Canto III: Nas asas do albatroz, o poeta aproxima-se do barco
inicialmente citado e espanta-se com o que acontece ali dentro. Aqui
se dá a virada no poema. O que antes era visto como algo belo e divino
(estar no mar, ser um marinheiro...), passa a ser visto por um outro
ângulo, que vai ser apresentado nas partes seguintes.
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode o olhar humano,
Como o teu mergulhar no brigue voador...
Porém que vejo aí... que quadro de amarguras!
Que canto funeral!... que tétricas figuras!
Que cena infame e vil!... Meu Deus! meu Deus! Que horror!
Canto IV: Buscando imagens infernais (daí a citação a Dante, poeta
italiano, autor d’A divina comédia), o poeta passa a descrever os horrores
que acontecem naquele navio. Negros escravos são açoitados cruelmente,
e os sons que habitam aquele navio (chicotes, ferros que são arrastados
pelos escravos, os gritos e gemidos) parecem ser música produzida por
uma orquestra irônica: é uma música de terror e não de beleza. E todo este
horror só pode trazer contentamento a Satanás; é o inferno.
Era um sonho dantesco... O tombadilho,
Que das luzes avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar...
Negras mulheres suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali...
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando geme e ri...
No entanto o capitão manda a manobra...
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz, do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar."
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!...
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam
E ri-se Satanás!...
CANTO V: Numa súplica aos céus, o poeta pergunta-se
quem são estes homens que tanto sofrem. E a resposta
vem através da fala de uma musa, a partir da terceira estrofe desta parte.
São apresentados como heróis em suas terras, transformados em
escravos pelos conquistadores. No final, o poeta pede ao mar que engula
este navio, pede ao tufão que apague este horror que transita pelos
mares.
CANTO VI: Nesta parte, certamente a mais importante do poema, aquela
que legitima Castro Alves como um autor da terceira geração romântica,
dentro dos ideais condoreiros, o poeta lembra horrorizado que existe um
país que permite que esta cena selvagem se repita. Existe um país que
“empresta sua bandeira para cobrir tanta infâmia e cobardia”, e este país
é o Brasil. O poeta lamenta que uma bandeira que simbolizou a liberdade
(na Independência) agora sirva de mortalha para um povo, para os
escravos. Na estrofe final, o poeta apela para os heróis dos mares e da
pátria (Colombo e José Bonifácio de Andrada) para que evitem que este
mal permaneça.
Prof. Roger
E existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transportar-se nessa festa
Em manto impuro de Bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto,
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da Liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
(...)
... Mas é infâmia demais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca esse pendão dos ares!...
Colombo! fecha a porta de teus mares!...
Prof. Roger
O Adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...
E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”
Prof. Roger
Passaram tempos... sec’los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”
Prof. Roger
Teresa
(sátira modernista)
Manuel Bandeira (1886-1968)
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do /corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Prof. Roger
Boa Noite
Boa noite, Maria! Eu vou,me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos
(...)
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
. . . Quem cantou foi teu hálito, divina!
Prof. Roger
Se à estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
“É noite ainda em teu cabelo preto...”
E noite ainda! Brilha na cambraia
- Desmanchado o roupão, a espádua nua -
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
fechemos sobre nós estas cortinas...
- São as asas do arcanjo dos amores.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importam os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
- Boa noite! - formosa Consuelo!...
Maria
Julieta
Marion
Consuelo