roberto schwarz - ao vencedor as batatas (livro completo) [machado de assis]

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No famoso ensaio de abertura, "As idéias fora do lugar", Roberto Schwarz reflete sobre a comédia ideológica nacional representada pela disparidade entre a sociedade escravista e as idéias do liberalismo europeu. Deste olhar teórico mais amplo, passa, no segundo ensaio, à análise detalhada de Senhora, apontando as contradições da ficção de Alencar. Fecha o vo- lume uma longa reflexão sobre a prática do favor e os primeiros romances de Machado de Assis: A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia. Um dos pontos d~ partida deste livro foi o resgate crítico do processo histórico armado por Antonio Candido na Formação da literatu- ra brasileira: o estudo das relações entre forma literária e processo social nos inícios do roman- ce brasileiro. Publicado em 1977, Ao vencedor as batatas provocou uma reviravolta na crítica machadiana. Visto em perspectiva histórica, conferiu feição nova ao ensaísmo de esquerda, por seu alto grau de originalidade e grande poder de fogo. rn:J Livraria rn:J Duas Cidades editora.34 ISBN 85-7326-169-2 111111111 " 1111111111111111111 9 788573 261691 Coleção Espírito Cdlil:o Duas Cidades Editora 34 .' AO VENCEDOR AS BATATAS

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  • No famosoensaiodeabertura,"Asidias

    forado lugar",RobertoSchwarzrefletesobrea comdiaideolgicanacionalrepresentadapeladisparidadeentreasociedadeescravistaeasidiasdo liberalismoeuropeu.Desteolhartericomaisamplo,passa,nosegundoensaio, anlisedetalhadadeSenhora,apontandoascontradiesdaficodeAlencar.Fechaovo-

    lume umalongareflexosobrea prticadofavoreosprimeirosromancesdeMachadodeAssis:A moea luva, Helena eIai Garcia.

    Um dospontosd~partidadestelivro foio resgatecrticodoprocessohistricoarmadoporAntonioCandidonaFormaoda literatu-ra brasileira:oestudodasrelaesentreforma

    literriaeprocessosocialnosinciosdoroman-cebrasileiro.Publicadoem1977,Ao vencedor

    asbatatasprovocouumareviravoltanacrtica

    machadiana.Visto emperspectivahistrica,conferiufeionovaaoensasmodeesquerda,por seualto graude originalidadee grandepoderdefogo.

    rn:J Livrariarn:J Duas Cidades

    editora.34

    ISBN 85-7326-169-2

    111111111" 11111111111111111119 788573261691

    ColeoEsprito Cdlil:o

    DuasCidadesEditora34

    .'

    AO VENCEDORAS BATATAS

  • LivrariaDuasCidadesLtda.

    RuaBentoFreitas,158 Centro CEP 01220-000

    SoPaulo- SP Brasil Tel/Fax(lI) 3331-5134

    [email protected]

    Editora34Ltda.

    RuaHungria,592 JardimEuropa CEP 01455-000

    SoPaulo- SP Brasil Tel/Fax(11)3816-6777www.editora34.com.br

    Copyright DuasCidades/Editora34,2000

    Ao vencedoras batatasRobertoSchwarz,1977

    A fotocpiadequalquerfolhadestelivro ilegaleconfigurauma

    apropriaoindevidadosdireitosintelectuaisepatrimoniaisdo autor.

    Capa,projetogrficoeeditoraoeletrnica:

    Bracher6-Malta Produo Grfica

    Reviso:

    Mara Valles

    IracemaAlvesLazari

    AlexandreBarbosadeSouza

    5aEdio- 2000(3aReimpresso- 2007)

    CatalogaonaFontedo DepartamentoNacionaldoLivro

    (FundaoBibliotecaNacional,RI, Brasil)

    Schwarz,Roberto,1938

    S5411a Ao vencedorasbatatas:formaliterriaeprocessosocialnosinciosdo romancebrasileiro/ Roberto

    Schwarz.- SoPaulo:DuasCidades;Ed. 34, 2000.

    240p. (ColeoEspritoCrtico)

    ISBN 8573261692

    1.Alencar,Josde,18291877. Crtica e

    interpretao.2.Assis,Machadode,18391908.

    Crtica e interpretao.3. Ficobrasileira- Histriaecrtica. L Ttulo. lI.Srie.

    CDD B869.3

    ndice

    I. As idiasforado lugar

    lI. A importaodo romanceesuascontradiesemAlencar

    llI. O paternalismoeasuaracionalizaonosprimeirosromancesdeMachadodeAssis1.Generalidades .2. A moea luva / \ .

    i 'I

    3.Helena J. 4. Iai Garcia .

    ndiceonomstico.Sobreoautor .

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    9

    33

    8395

    117151

    233235

  • ~;gt

    Toda cinciatemprincpios,dequederivao seusistema.Um dosprincpiosdaEconomiaPolticao trabalholivre.Ora,

    noBrasildominao fato"impolticoeabominvel"daescravido.Esteargumento- resumodeumpanfletoliberal,contem-

    porneodeMachadodeAssis1- peforao Brasildo sistemada cincia.Estvamosaqumdarealidadea queestaserefere;ramosantesum fatomoral,"impolticoeabominvel".Gran-dedegradao,considerando-sequea cinciaeramasLuzes,oProgresso,aHumanidadeetc.Paraasartes,Nabucoexpressaumsentimentocomparvelquandoprotestacontrao assuntoescra-

    vonoteatrodeAlencar:"Seissoofendeo estrangeiro,comonohumilhao brasileiro!"2.Outrosautoresnaturalmentefizeramo

    raciocnioinverso.Uma vezquenosereferemnossarealida-

    de,cinciaeconmicaedemaisideologiasliberaisqueso,elassim,abominveis,impolticaseestrangeiras,almdevulnerveis.

    1A. R. deTorresBandeira,"A liberdadedo trabalhoeaconcorrncia,seu

    efeito,soprejudiciais classeoperria?",inO Futuro,nO9,15/01/1863.Macha-do eracolaboradorconstantenestarevista.

    2 A polmicaAlencar-Nabuco(organizaoe introduodeAfrnio Cou-

    tinho),Rio deJaneiro,TempoBrasileiro,1965,p. 106.

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  • Ao vencedor as batatas

    "Antesbonsnegrosdacostadafricaparafelicidadesuaenos-sa,a despeitode todaa mrbidafilantropiabritnica,que,es-quecidadesuaprpriacasa,deixamorrerde fomeo pobreir-mobranco,escravosemsenhorquedelesecompadea,ehip-critaou estlidachora,expostaaoridculodaverdadeirafilan-

    tropia,o fadodenossoescravofeliz".3Cadaum aseumodo,estesautoresrefletemadisparidade

    entreasociedadebrasileira,escravista,easidiasdo liberalismo

    europeu.Envergonhandoauns,irritandoaoutros,queinsistemnasuahipocrisia,estasidias- emquegregose troianosnoreconhecemoBrasil- sorefernciasparatodos.Sumariamenteestmontadaumacomdiaideolgica,diferentedaeuropia.

    claroquealiberdadedotrabalho,aigualdadeperantealeie,demodogeral,o universalismoeramideologianaEuropatambm;masl correspondiamsaparncias,encobrindoo essencial-aexploraodotrabalho.Entrens,asmesmasidiasseriamfalsasnumsentidodiverso,porassimdizer,original.A DeclaraodosDireitosdoHomem,porexemplo,transcritaempartenaCons-tituioBrasileirade1824,nosnoescondianada,comotor-

    navamaisabjetoo institutodaescravido.4A mesmacoisaparaaprofessadauniversalidadedosprincpios,quetransformavaemescndaloa prticageraldofvor.Que valiam,nestascircuns-tncias,asgrandesabstraesburguesasqueusvamostanto?Nodescreviamaexistncia- masnemsdissovivemasidias.Re-

    3 Depoimentodeumafirmacomercial,M. Wrighr&Cia., comrespeitocrisefinanceiradosanos50.CitadoporJoaquimNabuco,Um estadistado Imp-

    rio, vol. I, SoPaulo,1936,p. 188,eretomadopor S.B. deHolanda,Raizesdo

    Brasil, Rio deJaneiro,JosOlympio,1956,p. 96.

    4 E. Viotti daCosta,"Introduoaoestudodaemancipaopoltica",in

    C. G. Mata (org.),Brasil emperspectiva,SoPaulo,Difel, 1968.

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    GS

    As idias fora do lugar

    fletindoemdireoparecida,SrgioBuarqueobserva:"Trazen-do depasesdistantesnossasformasdevida,nossasinstituiese nossavisodo mundoe timbrandoemmantertudoissoem

    ambientemuitasvezesdesfavorvelehostil,somosunsdester-

    radosemnossaterra"5. Essaimpropriedadedenossopensamento,quenoacaso,comosever,foi defatoumapresenaassdua,atravessandoedesequilibrando,atno detalhe,avidaideolgi-cadoSegundoReinado.Freqentementeinflada,ourasteira,ri-dculaou crua,esraramentejustano tom,aprosaliterriadotempoumadasmuitastestemunhasdisso.

    Emborasejamlugar-comumemnossahistoriografia,asra-zesdessequadroforampoucoestudadasemseusefeitos.Como sabido,ramosum pasagrrioe independente,divididoemlatifndios,cujaproduodependiadotrabalhoescravoporumlado,eporoutrodomercadoexterno.Maisoumenosdiretamen-te,vmdaassingularidadesqueexpusemos.Erainevitvel,porexemplo,apresenaentrensdoraciocnioeconmicoburgus- aprioridadedolucro,comseuscorolriossociais- umavezquedominavanocomrciointernacional,paraondeanossaeco-nomiaeravoltada.A prticapermanentedastransaesescolava,nestesentido,quandomenosumapequenamultido.Alm doque,havamosfeitoaIndependnciahpouco,emnomedeidiasfrancesas,inglesaseamericanas,variadamenteliberais,queassimfaziampartedenossaidentidadenacional.Por outrolado,comigualfatalidade,esteconjuntoideolgicoiriachocar-secontraaescravidoeseusdefensores,eo quemais,vivercomeles.6Noplano dasconvices,a incompatibilidade clara,e j vimos

    5 S. B. deHolanda,op. cit., p. 15.

    6 E. Viotti daCosta,op. cito

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  • Ao vencedor as batatas

    exemplos.Mas tambmnoplanoprticoelasefaziasentir.Sen-doumapropriedade,umescravopodeservendido,masnodes-pedido.O trabalhadorlivre,nesseponto,dmaisliberdadeaseupatro,almde imobilizarmenoscapital.Esteaspecto- umentremuitos- indicao limitequeaescravaturaopunha ra-

    cionalizaoprodutiva.Comentandoo queviranumafazenda,umviajanteescreve:"nohespecializaodotrabalho,porqueseprocuraeconomizaramo-de-obra".Ao citarapassagem,F.H. Cardosoobservaque"economia"nosedestinaaqui,pelocontexto,a fazero trabalhonum mnimodetempo,masnum

    mximo. precisoespich-Io,afim deencheredisciplinaro diadoescravo.O opostoexatodoqueeramodernofazer.Fundadanaviolnciaenadisciplinamilitar,aproduoescravistadependiadaautoridade,maisquedaeficcia?O estudoracionaldopro-cessoprodutivo,assimcomoa suamodernizaocontinuada,comtodoo prestgioquelhesadvinhadarevoluoqueocasio-navamnaEuropa,eramsempropsitono Brasil.Paracompli-caraindao quadro,considere-sequeo latifndioescravistaha-viasidonaorigemumempreendimentodocapitalcomercial,equeportantoo lucrofradesdesempreo seupiv.Ora, o lucrocomoprioridadesubjetiva comumsformasantiquadasdocapitalesmaismodernas.De sortequeosincultoseabomin-veisescravistasatcertadata- quandoestaformadeproduoveioasermenosrentvelqueo trabalhoassalariado- foramnoessencialcapitalistasmaisconseqentesdo quenossosdefenso-resdeAdamSmith,quenocapitalismoachavamantesquetudoaliberdade.Est-sevendoqueparaavidaintelectualo n esta-

    7 F. H. Cardoso,Capitalismoeescravido,SoPaulo,Difel, 1962,pp.189-91e 198.

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    [;.$

    As idias fora do lugar

    vaarmado.Em matriaderacionalidade,ospapisseembara-lhavametrocavamnormalmente:acinciaerafantasiaemoral,

    o obscurantismoerarealismoeresponsabilidade,a tcnicanoeraprtica,o altrusmoimplantavaa mais-valiaetc.E, dema-

    neirageral,naausnciado interesseorganizadodaescravaria,o

    confrontoentrehumanidadeeinumanidade,porjustoquefos-se,aCilbavaencontrandoumatraduomaisrasteirano conflito

    entredoismodosdeempregaroscapitais- do qualeraa ima-gemqueconvinhaaumadaspartes.8

    Impugnadaa todoinstantepelaescravidoa ideologiali-beral,queeraadasjovensnaesemancipadasdaAmrica,des-carrilhava.Seriafcil deduziro sistemadeseuscontra-sensos,

    todosverdadeiros,muitosdosquaisagitaramaconscinciate-ricae moraldenossosculoXIX. J vimosumacoleodeles.No entanto,estasdificuldadespermaneciamcuriosamenteines-senciais.O testedarealidadenopareciaimportante. comosecoernciaegeneralidadenopesassemmuito,ou comoseaes-

    ferada culturaocupasseumaposioalterada,cujoscritriosfossemoutros- masoutrosemrelaoa qu?Por suamerapresena,aescravidoindicavaaimpropriedadedasidiaslibe-rais;o queentretantomenosqueorientar-Iheso movimento.Sendoemboraarelaoprodutivafundamental,aescravidonoerao nexoefetivodavidaideolgica.A chavedestaeradiversa.

    Paradescrev-Iaprecisoretomaro pascomotodo.Esquema-tizando,pode-sedizerqueacolonizaoproduziu,combaseno

    8 ConformeobservaLuiz FelipedeAlencastroemsuatesededoutorado,

    O tratodosviventes:trdficodeescravose 'FaxLusitana' noAtlntico Sul, sculosXVI-

    XlX(UniversidadedeParis,Nanterre,1985-1986),averdadeiraquestonacio-

    naldenossosculoXIX foi adefesado trficonegreirocontraapressoinglesa.

    Uma questoquenopodiasermenospropciaaoentusiasmointelectual.

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  • Ao vencedor as batatas

    monopliodaterra,trsclassesdepopulao:o latifundirio,oescravoe o "homemlivre",na verdadedependente.Entre osprimeirosdoisa relaoclara, a multidodosterceirosquenosinteressa.Nemproprietriosnemproletrios,seuacessovidasocialeaseusbensdependematerialmentedofavor,indiretooudireto,deumgrande.9O agregadoasuacaricatura.O favor,portanto,omecanismoatravsdoqualsereproduzumadasgran-desclassesdasociedade,envolvendotambmoutra,a dosquetm.Note-seaindaqueentreestasduasclassesqueiraconte-ceravidaideolgica,regida,emconseqncia,por estemesmomecanismo.10Assim,commil formasenomes,o favoratraves-

    soueafetouno conjuntoaexistncianacional,ressalvadasem-prearelaoprodutivadebase,estaasseguradapelafora.Este-vepresentepor todaparte,combinando-sesmaisvariadasati-vidades,maisemenosafinsdele,comoadministrao,poltica,indstria,comrcio,vidaurbana,Corteetc.Mesmoprofissesliberais,comoa medicina,ou qualificaesoperrias,comoatipografia,que,naacepoeuropia,nodeviamnadaaningum,entrenseramgovernadaspor ele.E assimcomoo profissionaldependiado favorparao exercciodesuaprofisso,o pequenoproprietriodependedeleparaaseguranadesuapropriedade,eo funcionrioparao seuposto.Ofavora nossamediaoqua-seuniversal- esendomaissimpticodoqueo nexoescravista,aoutrarelaoqueacolnianoslegara,compreensvelqueos

    9 Paraumaexposiomaiscompletadoassunto,MariaSylviadeCarvalho

    Franco,Homenslivresna ordemescravocrata,SoPaulo,InstitutodeEstudosBra-

    sileiros,1969.

    10Sobreosefeitosideolgicosdolatifndio,verocapomdeRaizesdoBra-si~"A heranarural".

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    I~

    J

    I

    II

    tis:

    As idias fora do lugar

    escritorestenhambaseadonelea suainterpretaodo Brasil,involuntariamentedisfarandoaviolncia,quesemprereinouna

    esferadaproduo.O escravismodesmenteasidiasliberais;maisinsidiosa-

    menteo favor,toincompatvelcomelasquantoo primeiro,asabsorveedesloca,originandoumpadroparticular.O elemen-to dearbtrio,o jogo fluido deestimaeauto-estimaaqueo fa-vor s~bmeteo interessematerial,nopodemserintegralmenteracionalizados.Na Europa,aoatac-Ios,o universalismovisarao privilgiofeudal.No processodesuaafirmaohistrica,aci-vilizaoburguesapostularaaautonomiadapessoa,auniversa-lidadedalei,aculturadesinteressada,aremuneraoobjetiva,aticadotrabalhoetc.- contraasprerrogativasdoAncienRgime.O favor,pontoporponto,praticaadependnciadapessoa,aex-ceoregra,aculturainteressada,remuneraoeserviospes-soais.Entretanto,noestvamosparaa Europacomoo feuda-lismoparao capitalismo,pelocontrrio,ramosseustributriosemtodalinha,almdenotermossidopropriamentefeudais-acolonizaoumfeitodocapitalcomercial.No fastgioemqueestavaela,Europa,enaposiorelativaemqueestvamosns,ningumno Brasilteriaa idiaeprincipalmenteaforadeser,digamos,umKant do favor,parabater-secontrao outro.I 1 Demodoqueoconfrontoentreessesprincpiostoantagnicosre-sultavadesigual:nocampodosargumentosprevaleciamcomfa-cilidade,oumelhor,adotvamossofregamenteosqueaburgue-siaeuropiatinhaelaboradocontraarbtrioeescravido;enquan-

    11 Como observaMachadodeAssis,em 1879,"o influxoexterno que

    determinaa direodo movimento;nohpor orano nossoambiente,a fora

    necessria invenodedoutrinasnovas".Cf. "A novagerao",Obra completa,

    vo!.m,Rio deJaneiro,Aguilar,1959,pp.826-7.

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  • "'Ao vencedor as batatas

    to naprtica,geralmentedosprpriosdebatedores,sustentadopelolatifndio,o favorreafirmavasemdescansoossentimentoseasnoesemqueimplica.O mesmosepassanoplanodasins-tituies,por exemplocom burocraciae justia,queemboraregidaspeloclientelismo,proclamavamasformase teoriasdoestadoburgusmoderno.Alm dosnaturaisdebates,esteanta-gonismoproduziu,portanto,umacoexistnciaestabilizada-queinteressaestudar.A anovidade:adotadasasidiase razeseuropias,elaspodiamserviremuitasvezesserviramdejustifica-o,nominalmente"objetiva':para o momentodearbtrioquedanaturezadojvor.Semprejuzodeexistir,o antagonismosedesfazemfumaaeosincompatveissaemdemosdadas.Estarecomposio capital.Seusefeitossomuitos,e levamlongeemnossaliteratura.De ideologiaquehaviasido- isto, en-ganoinvoluntrioebemfundadonasaparncias- o liberalis-mo passa,na faltadeoutrotermo,a penhorintencionaldumavariedadedeprestgioscomquenadatemaver.Ao legitimaroarbtriopormeiodealgumarazo"racional",o favorecidocons-cientementeengrandeceasieaoseubenfeitor,quepor suaveznov,nessaeradehegemoniadasrazes,motivoparadesmen-ti-Io. Nestascondies,quemacreditavanajustificao?A queaparnciacorrespondia?Masjustamente,noeraesteo proble-ma,poistodosreconheciam- e istosimeraimportante- aintenolouvvel,sejadoagradecimento,sejado favor.A com-pensaosimblicapodiaserumpoucodesafinada,masnoeramal-agradecida.Ou por outra,seriadesafinadaem relaoaoLiberalismo,queerasecundrio,ejustaemrelaoaofavor,queeraprincipal.E nadamelhor,paradarlustrespessoase so-ciedadequeformam,doqueasidiasmaisilustresdotempo,nocasoaseuropias.Nestecontexto,portanto,asideologiasnodescrevemsequerfalsamentearealidade,enogravitamsegun-do umaleiquelhessejaprpria- por issoaschamamosdese-

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    As idias fora do lugar

    gundograu.Suaregraoutra,diversadaquedenominam;daordemdo relevosocial,emdetrimentodesuaintenocogni-

    tiva e de sistema.Derivasossegadamentedo bvio,sabidodetodos- dainevitvel"superioridade"daEuropa- eliga-seao

    momentoexpressivo,de auto-estimae fantasia,queexistenofavor.Nestesentidodizamosqueo testedarealidadeedacoe-

    rnciapoparecia,aqui,decisivo,semprejuzodeestarsempre

    presentecomoexignciareconhecida,evocadaoususpensacon-formeacircunstncia.Assim,commtodo,atribui-seindepen-

    dncia dependncia,utilidadeaocapricho,universalidadesexcees,mritoaoparentesco,igualdadeaoprivilgioetc.Com-binando-seprticadeque,emprincpio,seriaacrtica,o Li-beralismofaziacomqueo pensamentoperdesseo p.Retenha-

    seno entanto,paraanalisarmosdepois,a complexidadedesse

    passo:aotornarem-sedespropsito,estasidiasdeixamtambmdeenganar.

    claroqueestacombinaofoi umaentreoutras.Paraonossoclimaideolgico,entretanto,foidecisiva,almdeseraquela

    emqueosproblemasseconfiguramdamaneiramaiscompletae diferente.Por agorabastemalgunsaspectos.Vimos quenelaasidiasdaburguesia- cujagrandezasbriaremontaaoesp-

    rito pblicoe racionalistadaIlustrao- tomamfunode...ornatoe marcadefidalguia:atestame festejama participao

    numaesferaaugusta,no casoadaEuropaquese... industrializa.

    O qiproqudasidiasnopodiasermaior.A novidadenocasonoestno carterornamentaldesaberecultura,quedatra-

    diocolonialeibrica;estnadissonnciapropriamenteincr-

    velqueocasionamo sabereaculturadetipo "moderno"quan-do postosnestecontexto.Sointeiscomoum berloque?Sobrilhantescomoumacomenda?Seroanossapanacia?Enver-

    gonham-nosdiantedo mundo?O maiscerto quenasidasevindasdeargumentoe interessetodosestesaspectostivessem

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  • Ao vencedor as batatas

    ocasiodesemanifestar,demaneiraquenaconscinciadosmaisatentosdeviamestarligadosemisturados.Inextricavelmente,a

    vidaideolgicadegradavae condecoravaosseusparticipantes,entreosquaismuitasvezeshaveriaclarezadisso.Tratava-se,por-tanto,deumacombinaoinstvel,quefacilmentedegeneravaemhostilidadeecrticaasmaisacerbas.Paramanter-seprecisadecumplicidadepermanente,cumplicidadequeaprticadofavortendeagarantir.No momentodaprestaoedacontraprestao- particularmenteno instante-chavedo reconhecimentorec-

    proco- anenhumadaspartesinteressadenunciaraoutra,ten-

    doemboraatodoinstanteoselementosnecessriosparafaz-Io.Estacumplicidadesemprerenovadatemcontinuidadessociaismaisprofundas,quelhedopesodeclasse:no contextobrasi-

    leiro,o favorasseguravasduaspartes,emespecialmaisfraca,dequenenhumaescrava.Mesmoo maismiserveldosfavore-

    cidosviareconhecidanele,nofavor,asualivrepessoa,oquetrans-formavaprestaoecontraprestao,por modestasquefossem,numacerimniadesuperioridadesocial,valiosaemsi mesma.

    Lastreadopeloinfinito dedurezaedegradaoqueesconjurava- ou sejaaescravido,dequeasduaspartesbeneficiametim-bramemsediferenar- estereconhecimento deumaconi-

    vnciasemfundo,multiplicada,ainda,pelaadoodo vocabu-lrio burgusda igualdade,do mrito,do trabalho,da razo.

    MachadodeAssissermestrenestesmeandros.Contudoveja-setambmoutrolado.Imersosqueestamos,aindahoje,nouniversodo Capital,quenochegoua tomarformaclssicano Brasil,

    tendemosaverestacombinaocomointeiramentedesvantajosaparans,compostasdedefeitos.Vantagensnohdetertido;masparaapreciardevidamenteasuacomplexidadeconsidere-se

    queasidiasdaburguesia,aprincpiovoltadascontrao privil-gio,apartirde 1848sehaviamtornadoapologtica:avagadaslutassociaisnauropamostraraqueauniversalidadedisfaraan-

    20

    ,

    ws;

    As idias fora do lugar

    tagonismosdeclasse.12Portanto,parabemlhe retero timbreideolgicoprecisoconsiderarqueo nossodiscursoimprprioeraocotambmquandousadopropriamente.Note-se,depas-sagem,queestepadroiriarepetir-senosculoXX, quandoporvriasvezesjuramos,crentesdenossamodernidade,segundoasideologiasmaisrotasdacenamundial.Paraa literatura,comoveremos,resultadaum labirintosingular,umaespciedeocodentrodo oco.Ainda aqui,Machadosero mestre.

    Em suma,seinsistimosnovisqueescravismoefavorintro-duziramnasidiasdotempo,nofoiparaasdescartar,masparadescrev-Iasenquantoenviesadas- foradecentroemrelaoexignciaqueelasmesmaspropunham,ereconhecivelmentenos-sas,nessamesmaqualidade.Assim,postodeparteo racioCniosobreascausas,restanaexperinciaaquele"desconcerto"quefoio nossopontodepartida:asensaoqueo Brasilddedualismoefactcio- contrastesrebarbativos,despropores,disparates,anacronismos,contradies,conciliaeseoquefor- combina-esqueo Modernismo,o TropicalismoeaEconomiaPolticanosensinarama considerar.13No faltamexemplos.Vejam-sealguns,menosparaanalis-Ios,queparaindicaraubiqidadedoquadroeavariaodequecapaz.Nasrevistasdotempo,sendograveou risonha,aapresentaodo nmeroinicialcomposta

    12G. Lukcs,"MarxunddasProblemdesideologischenVerfalls",in Pro-blemedesRealismus,Werke,vol. IV, Neuwied,Luchterhand.

    13 Exploradaemoutralinha,a mesmaobservaoencontra-seemSrgio

    Buarque:"Podemosconstruirobrasexcelentes,enriquecernossahumanidadede

    aspectosnovoseimprevistos,elevarperfeioo tipodecivilizaoquerepresen-

    tamos:o certo quetodoo frutodenossotrabalhoe denossapreguiaparece

    participardeumsistemadeevoluoprpriodeoutroclimaedeoutrapaisagem",

    op. cit., p. 15.

    21

  • Ao vencedor as batatas

    parabaixoefalsete:primeiraparte,afirma-seopropsitoredentordaimprensa,natradiodecombatedaIlustrao;agrandeseitafundadaporGuthenbergafrontaa indiferenageral,nasalturasocondoreamocidadeentrevemofuturo,aomesmotempoquerepelemoyassadoeospreconceitos,enquantoa tocharegene-radoradoJornaldesfazastrevasdacorrupo.Na segundaparte,conformando-sescircunstncias,asrevistasdeclaramasuadis-

    posiocordata,de"dara todasasclassesemgeraleparticular-mentehonestidadedasfamlias,ummeiodedeleitvelinstruoedeamenorecreio".A intenoemancipadoracasa-secomchara-das,unionacional,figurinos,conhecimentosgeraisefolhetins.14Caricaturadestaseqnciasoosversinhosqueservemdeep-grafe Marmotana Corte:"Eis a Marmota/Bemvariada/P'ra

    serdetodos/Sempreestimada'!/ Falaaverdade,!Diz oquesente,!Amaerespeita/A todagente".Se,noutrocampo,raspamosumpoucoos nossosmuros,mesmoefeitodecoisacompsita:"Atransformaoarquitetnicaerasuperficial.Sobreasparedesdeterra,erguidaspor escravos,pregavam-sepapisdecorativoseu-ropeusouaplicavam-sepinturas,deformaacriarailusodeum

    ambientenovo,comoosinterioresdasresidnciasdospasesemindustrializao.Em certosexemplos,o fingimentoatingiao ab-surdo:pintavam-semotivosarquitetnicosgreco-romanos- pi-

    14Vero "Prospecto"deO Espelho,nO1,Revistasemanaldeliteratura,mo-

    das,indstriaseartes,Rio deJaneiro,TypographiadeF. dePaulaBrito, 1859,p.1;"Introduo"daRevistaFluminense,anor,nO1,Semanrionoticioso,literrio,

    cientfico,recreativoetc.,etc.,novembrode 1868,pp. 1-2;A Marmota na Corte,

    TypographiadeF. dePaulaBrito,07/09/1840,p. 1;RevistaIlustrada, nO1,Rio

    deJaneiro,publicadapor ngeloAgostini,01/01/1876;"Apresentao"de O

    Bezouro,anoI, nO1,Folhahumorsticae satrica,06/04/1878;"Cavaco",in O

    Cabrio, nO1,SoPaulo,Typ. Imperial,1866,p. 2.

    22

    ~.~~

    As idias fora do lugar

    lastras,arquitraves,colunatas,frisasetc.- comperfeiodepers-

    pectivaesombreamento,sugerindoumaambientaoneocls-sicajamaisrealizvelcomastcnicasemateriaisdisponveisnolocal.Em outros,pintavam-sejanelasnasparedes,comvistasso-breambientesdo Rio deJaneiro,ou daEuropa,sugerindoum

    exteriorlongnquo,certamentediversodo real,dassenzalas,es-cravoseterreirosdeservio"15.O trechorefere-seacasasruraisnaPro~nciadeSoPaulo,segundametadedosculoXIX. Quan-to corte:"A transformaoatendiamudanadoscostumes,

    queincluamagorao usodeobjetosmaisrefinados,decristais,louase porcelanas,e formasde comportamentocerimonial,comomaneirasformaisdeservirmesa.Ao mesmotempocon-

    feriaaoconjunto,queprocuravareproduziravidadasresidn-ciaseuropias,umaaparnciadeveracidade.Dessemodo, osestratossociaisquemaisbenefciostiravamdeum sistemaeco-nmicobaseadonaescravidoedestinadoexclusivamentepro-

    duoagrcolaprocuravamcriar,paraseuuso,artificialmente,ambientescomcaractersticasurbanase europias,cujaopera-

    oexigiao afastamentodosescravoseondetudoouquasetudoeraprodutode importao"16.Ao vivo estacomdiaestnosnotveiscaptulosiniciaisdo QuincasBarba.Rubio,herdeirorecente, constrangidoa trocaro seuescravocrioulopor umcozinheirofrancseumcriadoespanhol,pertodosquaisnoficavontade.Alm deouroeprata,seusmetaisdo corao,apre-

    ciaagoraasestatuetasdebronze- umFaustoeumMefistfeles- quesotambmdepreo.Matriamaissolene,masigual-

    15NestorGoulartReisFilho,Arquitetura residencialbrasileiranosculoXIX

    pp. 14-5(manuscrito).

    16NestorGoulartReisFilho, op.cit.,p. 8.

    23

  • Ao vencedor as batatas

    mentemarcadap.elotempo,aletradenossohino Repblica,escritaem1890,pelopoetadecadenteMedeiroseAlbuquerque.Emoesprogressistasaquefaltav~o natural:"Ns nemcremos

    queescravosoutrora/Tenhahavidoemtonobrepas!"(outro-radoisanosantes,umavezqueaAboliode88).Em 1817,numadeclaraodo governorevolucionriode Pernambuco,

    mesmotimbre,comintenesopostas:"Patriotas,vossaspro-priedadesindaasmaisopugnantesaoidealdejustiaserosa-gradas".17Refere-seaosrumoresdeemancipao,queerapreci-sodesfazer,paraacalmarosproprietrios.TambmavidadeMa-

    chadodeAssisumexemplo,naqualsesucedemrapidamenteo jornalistacombativo,entusiastadas"intelignciasproletrias,dasclassesnfimas",autordecrnicasequadrinhascomemora-tivas,por ocasiodo casamentodasprincesasimperiais,e final-menteo Cavaleiroe maistardeOficial da Ordem da Rosa.18

    ContraissotudovaisairacampoSlvioRomero."misterfun-darumanacionalidadeconscientedeseusmritosedefeitos,de

    suaforaedeseusdelquios,enoarrumarumpastiche,umar-remedodejudasdasfestaspopularesquesserveparavergonhanossaaosolhosdo estrangeiro.[...] S um remdioexisteparatamanhodesideratum:- mergulharmo-nosna correntevivifi-cantedasidiasnaturalistasemonsticas,quevotransforman-

    do o velhomundo."19 distncia toclaraquetemgraaasubstituiodeumarremedopor outro.Mas tambmdram-

    17E. Viotti daCosta,op. cit., p. 104.

    18 Jean-MichelMassa,A juventude de Machado deAssis,Rio deJaneiro,

    CivilizaoBtasileira,1971,pp.265,435,568.

    19S.Romero,Ensaiosdecrticaparlamentar, Rio deJaneiro,Moreira,Ma-

    ximino& Cia., 1883,p. 15.

    24

    ~3

    As idias fora do lugar

    tica,poisassinalaquantoeraalheiaa linguagemnaqualseex-pressava,inevitavelmente,o nossodesejodeautenticidade.Aopasticheromnticoiria sucedero naturalista.Enfim, nasrevis-tas,noscostumes,nascasas,nossmbolosnacionais,nospronun-ciamentosderevoluo,nateoriaeondemaisfor,sempreames-

    macomposio"arlequinal",parafalarcomMrio deAndrade:o desatordoentrearepresentaoeo que,pensando.bem,sabe-mossero seucontexto.- Consolidadaporseugrandepapelnomercadointernacional,emaistardenapolticainterna,acom-binaodelatifndioe trabalhocompulsrioatravessouimp-vidaaColnia,ReinadoseRegncias,Abolio,aPrimeiraRe-pblica,ehojemesmomatriadecontrovrsiaetiros.2oO rit-mo denossavidaideolgica,no entanto,foi outro,tambmeledeterminadopeladependnciadopas:distnciaacompanha-vaospassosdaEuropa.Note-se,depassagem,queaideologiadaindependnciaquevaitransformaremdefeitoestacombina-o;bobamente,quandoinsistenaimpossvelautonomiacultu-ral,eprofundamente,quandorefletesobreo problema.Tantoaeternidadedasrelaessociaisdebasequantoalepidezideol-gicadas"elites"eramparte- apartequenostoca- dagravi-taodestesistemapor assimdizersolar,ecertamenteinterna-cional,que o capitalismo.Em conseqncia,um latifndiopoucomodificadoviu passaremasmaneirasbarroca,neoclssi-caromntica,naturalista,modernistae outras,quenaEuropaacompanharame refletiramtransformaesimensasnaordemsocial.Seriadesuporqueaquiperdessemajusteza,oqueempartesedeu.No entanto,vimosqueinevitvelestedesajuste,aoqual

    20 Paraasrazesdestainrcia,verCelsoFurrado,Formaoeconmicado

    Brasil, SoPaulo,CompanhiaEditoraNacional,1971.

    25

  • Ao vencedor as batatas

    estvamoscondenadospelamquinadocolonialismo,eaoqual,paraquej fiqueindicadoo seualcancemaisquenacional,esta-vacondenadaamesmamquinaquandonosproduzia.Trata-seenfimdesegredomui conhecido,emboraprecariamenteteori-zado.Paraasartes,nocaso,asoluoparecemaisfcil,poissem-prehouvemododeadorar,citar,macaquear,saquear,adaptarou devorarestasmaneirasemodastodas,demodoquerefletis-sem,nasuafalha,aespciedetorcicoloculturalemquenosre-conhecemos.Mas,voltemosatrs.Em resumo,asidiasliberais

    nosepodiampraticar,sendoaomesmotempoindescartveis.Forampostasnumaconstelaoespecial,umaconstelaopr-tica,aqualformousistemaenodeixariadeafet-Ias.Por isso,poucoajudainsistirnasuaclarafalsidade.Mais interessante

    acompanhar-Iheso movimento,dequeela,a falsidade,parteverdadeira.Vimoso Brasil,bastiodaescravatura,envergonha-dodiantedelas- asidiasmaisadiantadasdoplaneta,ouqua-se,poisosocialismojvinhaordemdodia- erancoroso,poisnoserviamparanada.Mas eramadotadastambmcomorgu-lho, de formaornamental,comoprovademodernidadee dis-

    tino.E naturalmenteforamrevolucionriasquandopesaramno Abolicionismo.Submetidas influnciado lugar,semper-deremaspretensesdeorigem,gravitavamsegundoumaregranova,cujasgraas,desgraas,ambigidadeseiluseseramtam-bmsingulares.Conhecero Brasilerasaberdestesdeslocamen-

    tos,vividosepraticadospor todoscomoumaespciedefatali-dade,paraosquais,entretanto,nohavianome,poisautiliza-oimprpriadosnomeseraasuanatureza.Largamentesenti-docomodefeito,bemconhecidomaspoucopensado,estesiste-madeimpropriedadesdecertorebaixavaocotidianodavidaideo-lgicae diminuaaschancesda reflexo.Contudo facilitavao

    ceticismoemfacedasideologias,porvezesbemcompletoedes-cansado,ecompatvelaliscommuitoverbalismo.Exacerbado

    26

    As idias fora do lugar

    um nadinha,darna foraespantosadavisodeMachadodeAssis.Ora, o fundamentodesteceticismonoestseguramentenaexploraorefletidadoslimitesdo pensamentoliberal.Est,sepodemosdizerassim,no pontodepartidaintuitivo,quenosdispensavadoesforo.Inscritasnumsistemaquenodescrevemnemmesmoemaparncia,asidiasdaburguesiaviaminfirmadaj de incio, pelaevidnciadiria,a suapretensodeabarcaranaturezahumana.Seeramaceitas,eram-nopor razesqueelasprpriasnopodiamaceitar.Em lugardehorizonte,apareciamsobreumfundomaisvasto,queasrelativiza:asidasevindasdearbtrioefavor.Abalava-senabaseasuaintenouniversal.As-sim,o quenaEuropaseriaverdadeirafaanhadacrtica,entrenspodiaserasingeladescrenadequalquerpachola,paraquemutilitarismo,egosmo,formalismoe o quefor, soumaroupaentreoutras,muitodapocamasdesnecessariamenteapertada.Est-sevendoqueestechosocialdeconseqnciaparaahis-triadacultura:umagravitaocomplexa,emquevoltaemeiaserepeteumaconstelaona quala ideologiahegemnicadoOcidentefazfiguraderrisria,demaniaentremanias.O queum modo, tambm,de indicaro alcancemundialquetmepodemterasnossasesquisiticesnacionais.Algo decomparvel,talvez,aoquesepassavanaliteraturarussa.Diantedesta,aindaos maioresromancesdo realismofrancsfazemimpressodeingnuos.Por querazo?Justamente, quea despeitode suaintenouniversal,apsicologiadoegosmoracional,assimcomoamoralformalista,faziamno ImprioRussoefeitodeumaideo-logia"estrangeira",eportantolocalizadaerelativa.De dentrode\seuatrasohistrico,o pasimpunhaao romanceburgusum,quadromaiscomplexo.A figuracaricatadoocidentalizante,fran-cfiloou germanfilo,denomefreqentementealegricoe ri-dculo,osidelogosdoprogresso,doliberalismo,darazo,eramtudoformasdetrazercenaamodernizaoqueacompanhao

    27

  • Ao vencedor as batatas

    Capital.Esteshomensesclarecidosmostram-sealternadamentelunticos,ladres,oportunistas,crudelssimos,vaidosos,parasitasetc.O sistemadeambigidadesassimligadasaousolocaldoide-rio burgus- umadaschavesdo romancerusso- podesercomparadoquelequedescrevemosparao Brasil.Soevidentesasrazessociaisdasemelhana.TambmnaRssiaamoderni-

    zaoseperdianaimensidodoterritrioedainrciasocial,en-travaemchoquecoma instituioservile comseusrestos-,choqueexperimentadocomoinferioridadeevergonhanacionalpormuitos,semprejuzodedaraoutrosumcritrioparamediro desvariodoprogressismoedo individualismoqueo Ocidenteimpunhae impeaomundo.Na exacerbaodesteconfronto,emqueoprogressoumadesgraaeoatrasoumavergonha,estumadasrazesprofundasdaliteraturarussa.Semforaremde-masiaumacomparaodesigual,h emMachado- pelasra-zesquesumariamenteprocureiapontar- umveiosemelhan-te,algodeGgol,Dostoivski,Gontcharov,T checov,edeou-trostalvez,quenoconheo.21Em suma,a prpriadesquali-ficaodo pensamentoentrens,quetoamargamentesenta-

    21 Paraurnaconsrruorigorosadenossoproblemaideolgico,emlinha

    umpoucodiversadesra,verPaulaBeiguelman,Teoriaeaonopensamentoaboli-

    cionista,primeirovolumedeFormaopoltica doBrasi~SoPaulo,Pioneira,1967,

    emquehvriasciraesqueparecemsairdeumromancerusso.Veja-seaseguinte,dePereiraBarreto:"De umladoestoosabolicionistas,estribadossobreo senti-

    mentalismoretricoearmadosdametafsicarevolucionria,correndoapstipos

    abstratospararealiz-Iosemfrmulassociais;deoutroestooslavradores,mudos

    ehumilhados,naatitudedequemsereconhececulpadooumeditaurnavingana

    impossvel".P. Barretodefensordeurnaagriculturacientfica- umprogres-

    sistado caf- enestesentidoachaqueaaboliodeveserefeitoautomticodo

    progressoagrcola.Almdequeosnegrossournaraainferior,eurnadesgraa

    dependerdeles.Op. cit.,p. 159.

    28

    i-

  • Ao vencedor as batatas

    co,analisado,daexperinciaintelectual.Pelaordem,procureivernagravitaodasidiasum movimentoquenossingularizava.Partimosdaobservaocomum,quaseumasensao,dequenoBrasilasidiasestavamforade centro,emrelaoao seuuso

    europeu.E apresentamosumaexplicaohistricaparaessedes-locamento,queenvolviaasrelaesdeproduoeparasitismonopas,anossadependnciaeconmicaeseupar,ahegemoniaintelectualdaEuropa,revolucionadapeloCapital.Em suma,paraanalisarumaoriginalidadenacional,sensvelnodia-a-dia,fomos

    levadosarefletirsobreoprocessodacolonizaoemseuconjunto,que internacional.O tic-tacdasconversese reconversesde

    liberalismoefavoroefeitolocaleopacodeummecanismopla-netrio.Ora, agravitaocotidianadasidiasedasperspectivasprticasamatriaimediataenaturaldaliteratura,desdeo mo-

    mentoemqueasformasfixastenhamperdidoasuavignciaparaasartes.Portanto, o ponto departidatambmdo romance,quantomaisdoromancerealista.Assim,oqueestivemosdescre-vendo a feioexatacom quea Histriamundial,na forma

    estruturadaecifradadeseusresultadoslocais,semprerepostos,passaparadentrodaescrita,emqueagorainflui pelaviainterna- o escritorsaibaou no,queiraou noqueira.Noutraspala-vras,definimosumcampovastoeheterogneo,masestruturado,queresultadohistrico,epodeserorigemartstica.Ao estud-Io,vimosquediferedoeuropeu,usandoemborao seuvocabulrio.Portantoaprpriadiferena,acomparaoeadistnciafazempartedesuadefinio.Trata-sedeumadiferenainterna- o

    descentramentodequetantofalamos- emqueasrazesnosaparecemoranossas,oraalheias,a umaluz ambgua,deefeitoincerto.Resultaumaqumicatambmsingular,cujasafinidadese repugnnciasacompanhamoseexemplificamosum pouco.natural,por outrolado,queessematerialproponhaproblemas

    originais literaturaquedependadele.Semavanarmosporago-

    30

    :i;:'"

    As idias fora do lugar

    ra,digamosapenasque,aocontrriodoquegeralmentesepen-sa,amatriado artistamostraassimnoserinforme:histori-

    camenteformada,eregistradealgummodoo processosocialaquedevea suaexistncia.Ao form-Ia,por suavez,o escritorsobrepeumaformaaoutraforma,edafelicidadedestaope-rao,destarelaocomamatriapr-formada- emqueim-previsveldormitaaHistria- quevodependerprofundida-de,fora,complexidadedosresultados.Sorelaesquenadatmdeautomtico,everemosno detalhequantocustou,entrens,acert-Iasparao romance.E v-se,variando-seaindaumavezomesmotema,queemboralidandocomomodestotic-tacdenossodia-a-dia,esentadoescrivaninhanumpontoqualquerdoBra-sil, o nossoromancistasempretevecomomatria,queordenacomopode,questesdahistriamundial;equenoastrata,seastratardiretamente.

    31

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    oromanceexistiunoBrasil,antesdehaverromancistasbra-sileiros.1Quandoapareceram,foinaturalqueestesseguissemosmodelos,bonse ruins,quea Europaj haviaestabelecidoemnossoshbitosde leitura.Observaobanal,queno entantocheiadeconseqncias:anossaimaginaofixara-senumafor-macujospressupostos,emrazovelparte,noseencontravam

    nopas,ouencontravam-sealterados.Seriaaformaquenopres-tava- amaisilustredotempo- ouseriaopas?Exemplodestaambivalncia,prpriadenaesdeperiferia,dadonapocapeloamericanoHenryJ ames,queacabariaemigrando,atradopelacomplexidadesocialdaInglaterra,quelhepareciamaispropciaimaginao.2Masveja-seocasodemaisperto:adotaro romance

    1Leia-sea esterespeitoo sugestivoestudode Marlyse Meyer, "O que , ouquem foi Sinclair das Ilhas?", in Revistado Instituto deEstudosBrasileiros,nO 14,

    So Paulo, 1973.

    2 Teobaldo, um americanoenfticode "The madona of the future" (1873):

    "Somos os deserdadosda arte!Estamos condenados superficialidade,excludos

    do crculo encantado!O solo da percepoamericana um sedimento escasso,estril,artificial! Sim, estamosdestinados imperfeio. Para atingir a excelncia,

    o americano tem que aprenderdez vezesmais que o europeu. Falta-nos o sentido

    35

  • Ao vencedor as batatas

    eraacatartambmasuamaneiradetratarasideologias.Ora,vi-

    mosqueentrenselasestodeslocadas,semprejuzodeguar-daremo nomeeo prestgiooriginais,diferenaque involun-tria,umefeitoprticodanossaformaosocial.Caberiaaoes-critor,embuscadesintonia,reiteraressedeslocamentoemn-

    velformal,semo quenoficaemdiacomacomplexidadeobje-tivadesuamatria- porprximoqueestejadaliodosmes-tres.EstaserafaanhadeMachadodeAssis.Em suma,ames-

    madependnciaglobalquenosobrigaa pensarem categoriasimprprias,nos induziaa umaliteraturaemqueessaimpro-priedadenotinhacomoaflorar.Ou poroutra,antecipando:emvezdeprincpioconstrutivo,adiferenaapareceriainvoluntriae indesejadamente,pelasfrestas,comodefeito.Uma instncia

    maisapurado.No temosgosto,tatooufora.E comohaveramosdeter?Nosso

    climarudee mal~encarado,nossopassadosilencioso,nossopresenteensurdece-

    dor,apressoconstantedascircunstnciasdesprovidasdegraa- tudotosem

    estmulo,alimentoe inspiraoparao artista,quantosemamargurao meuco-

    raoaodiz-Io!Ns,pobresaspirantes,deveremosviveremperptuoexlio".The

    completetalesofHenryJames,vol.m,Londres,RupertHart-Davis,1962,pp.14-5.DevoltaAmrica,emvisitaaBoston,Jamesanota:"Tenho37anos,fizaminha

    escolha,esabeDeusquenotenhotempoaperder.A minhaescolha,o velhomundo- minhaescolha,minhanecessidade,minhavida.[...] Meu trabalhoest

    l- je n'ai quejire nestevastonovomundo.No possvelfazerasduascoisas

    _ precisoescolher.[...] O pesonecessariamentemaiorparaumamericano-

    poiseleprecisalidar,maisoumenos,eaindaquesporimplicao,comaEuro-

    pa;enquantoqueeuropeualgumobrigadoa lidarsequerminimamentecoma

    Amrica.Ningumvaiach-Iomenoscompletoporcausadisto.(Falonaturalmente

    depessoasquefazemo meutipodetrabalho;nodeeconomistasou do pessoal

    dascinciassociais.)O pintordecostumesquenoseocupedaAmricanoin-

    completo,por enquanto.Mas daquia cemanos- talvezcinqenta- elecer-tamenteoser".F. O. MatthiesseneK. B.Murdock(orgs.),The notebooksofHenry

    James,NovaYork, GalaxyBook, 1961,entradade25/11/1881,pp.23-4.

    36

    :Jj.

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    literriado nvelintelectualrebaixadoa quenosreferamosnocaptuloanterior.- Lembrandoosanosdasuaformao,Alen-

    carfalanosseresdainfncia,emqueliaemvozaltaparaamee asparentas,atficara salatodaemprantos.Os livroseramAmandaeOscar,Saint-ClairdasIlhas,Celestinaeoutros.Men-

    cionatambmosgabinetesdeleitura,abibliotecaromnticadeseuscolegas,nasrepblicasestudantisdeSoPaulo- Balzac,Dumas,Vigny, Chateaubriand,Hugo, Byron,Lamartine,Sue,maistardeScotte Cooper- ea impressoqueentolhecau-sarao sucessodeA moreninha,oprimeiroromancedeMacedo.3Por quenotentar,eletambm?"Qual rgiodiademavaliaessaauroladeentusiasmoa cingiro nomede um escritor?"4Nofaltavamosgrandesmodelos,emaisqueesseou aquelehaviaoprestgiodomoldegeral,eo desejopatriticodedotaropasdemaisum melhoramentodo espritomoderno.5No entanto,aimigraodoromance,particularmentedeseuveiorealista,iriapor dificuldades.A ningumconstrangiafreqentarempen-samentosalesebarricadasdeParis.Mas trazersnossasruase

    salaso cortejodesublimesviscondessas,arrivistasfulminantes,

    ladresilustrados,ministrosepigramticos,prncipesimbecis,cientistasvisionrios,aindaquenoschegassemapenasos seusproblemaseo seutom,nocombinavabem.Contudo,haveria

    romancenasuaausncia?Os grandestemas,dequevemaoro-manceaenergiaenosquaisseancoraasuaforma- acarreira

    3JosdeAiencar,Comoepor quesouromancista,Obra completa(OC), vol.

    I, Rio deJaneiro,Aguilar,1959.

    4 Idem, p. 138.

    5 AntonioCandido,"Aparecimentodafico",Formaoda literatura bra-sileira,vol.n,SoPaulo,Martins,1969.

    37

  • Ao vencedor as batatas

    social,a foradissolventedo dinheiro,o embatedearistocracia

    evidaburguesa,o antagonismoentreamoreconvenincia,vo-caoeganha-po- comoficavamnoBrasil?Modificados,semdvida.Mas existiam,almde existiremfortementena imagi-nao,comarealidadequetinhaparanso conjuntodasidiaseuropias.No estavammonoentantoosistemadesuasmo-dificaes,emuitomenososefeitosdesteltimosobreaformaliterria.Estesdeveriamserdescobertoseelaborados.Assimco-

    mo, alis,os mencionadostemasnoestiveramprontosdesdesempre, esperadoromanceeuropeu.Surgiram,ou tomaramasuaformamoderna,sobreo solodatransio- continentale

    secular- da erafeudal do capitalismo.Tambmna Europafoiprecisoexplor-los,isolar,combinar,atqueseformasseumaespciedeacervocomum,emquesealimentaramruins,media-nosegrandes.Diga-sedepassagemqueesteaspectocumula-tivoecoletivodacriaoliterria,mesmodaindividual,queiriapermitiramultidodosromancesrazoveisqueo Realismopro-duziu.Na cristadassoluese idiascorrentes,aindasenoasaprofundam,esteslivrosfazema impressodecomplexidade,elogramsustentaro interessedaleitura.Como emnossosdiasobomfilme.Um gnerodeacumulaoquefoi difcil paraalite-raturabrasileira,cujosestmulosvinhamevmdefora.Desvan-tagem,por outrolado,quehojetemassuasvantagens,conver-gindomuitonaturalmentecomabancarrotadatradio,aqueduramenteseacostumao intelectualeuropeu,a fim dechegar- comoaumaexpresso-chavedenossotempo- desconti-nuidadeeaoarbitrrioculturaisemqueno Brasil,bemcontraavontade,sempreseesteve.

    Escritorrefletidoecheioderecurso,Alencardeurespostasvariadase muitasvezesprofundasa estasituao.A suaobraumadasminasda literaturabrasileira,athoje,e emboranoparea,temcontinuidadesno Modernismo.De Iracema,algu-

    38

    ~::~

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    ma coisaveioatMacunama:asandanasqueentrelaamas

    aventuras,ocorpogeogrficodopas,amatriamitolgica,ato-ponmiandiaeaHistriabranca;algumacoisado Grande-Ser-tojexistiaem Til,noritmodasfaanhasdeJo Fera;nossaico-nografiaimaginria,dasmocinhas,dosndios,dasflorestas,deve

    aosseuslivrosmuitodasuafixaosocial;e demodomaisge-ral,Pilranoencompridaralista,adesenvolturainventivaebra-

    sileirizantedaprosaalencarinaaindaagora capazdeinspirar.Issoposto,precisoreconhecerqueasuaobranuncapropria-mentebem-sucedida,equetemsempreumqudescalibradoe,bempesadaapalavra,debobagem. interessantenotarcontu-do queestespontosfracosso,justamente,fortesnoutrapers-pectiva.Nosoacidentaisnemfrutodafaltadetalento,sopelocontrrioprovadeconseqncia.Assinalamoslugaresemqueo moldeeuropeu,combinando-sematrialocal,dequeAlencarfoi simpatizanteardoroso,produziacontra-senso.Pontosportan-to quesocrticosparaa nossaliteraturaevida,manifestando

    osdesacordosobjetivos- asincongrunciasdeideologia- queresultavamdotransplantedoromanceedaculturaeuropiaparac.Iremosestud-losno romanceurbanodeAlencar,parapre-cis-los,everemseguidaasoluoqueMachadodeAssislhesdaria.- Comentriocuriosodestesimpassesencontra-seemNa-

    buco,o europeizante,queospercebiamuitobem,por ach-loshorrveis.Ao contrriodoquedizem,asuadisputacomAlencar pobreemreflexoe baixanosrecursos_. "um tte ttede

    gigantes",segundoAfrnioCoutinho;brigamatparaverquemsabemaisfrancs.Mas temo interessedereterumasituao.O

    realismodeAlencarinspiravaaNabucoduplaaverso:umapornoguardarasaparncias,eoutrapor nodesrespeit-Iascom,digamos,adevassidoescoladaeapresentveldaliteraturafran-

    cesa. comoumcidadoviajadoquevoltasseparaasuacidade,ondeo mortificamaexistnciadeumacasademulheres,eo seu

    39

  • Ao vencedor as batatas

    poucorequinte.As meninasalencarinas,comosseusarrancosdegrandedama,lhepareciamaomesmotempoinconvenientesebobocas,nemromnticasnemnaturalistas,o quebemperce-

    bido,emborapesandono pratoestrildabalana.6As observa-essobreo temaescravoesobreo abrasileiramentodalnguatmo mesmoteor.Selheaceitassea crtica,Alencarescreveria

    ouromanceedificante,ouromanceeuropeu.Nabucopeodedo

    emfraquezasreais,masparaescond-Ias;Alencarpelocontrrioincidenelastenazmente,guiadopelosensodarealidade,queo

    levaasentir,precisamentea,o assuntonovoeo elementobra-sileiro.Ao circunscrev-Iassemasresolver,nofazgrandelite-

    ratura,masfixaevariaelementosdela- umexemploamaisdecomotortuosoo andamentodacriaoliterria.

    EstudandoaobradeMacedo,emquetomapa tradiodenossoromance,Antonio Candidoobservaqueelacombina

    o realismodaobservaomida,"sensvelscondiessociais

    do tempo",ea mquinado enredoromntico.Sodoisaspec-tosdeum mesmoconformismo,queinteressadistinguir:ade-

    sopedestre"aomeiosemrelevosocialehumanodaburguesiacarioca",eoutro,"quechamaramospotico,evemasero em-'

    pregodospadresmaisprpriosconceporomntica,segun-do acabadesersugerido:lgrimas,treva,traio,conflito".O

    resultadoirpecarporfaltadeverossimilhana:"Tantoquenosperguntamoscomopossvelpessoastochsseenvolveramnos

    arrancosaquelMacedo]assubmete"7.Comoveremos,ligeira-

    6 CE. A polmicaAlencar-Nabuco, especialmenteasobjeesdeNabucoaDiva.

    7 Ver nacitadaFormadoda literatura brasileiraoscaptulosquetratamde

    romance.O seuconjuntocompeumateoriadaformaodestegnerono Bra-

    40

    ~~"

    A importao do romance e suas contradies em Alencilr

    menteajustada,estaanlisevaletambmparao romanceurba-no deAlencar.Antes,no entanto,voltemosaosseuselementos.

    A notaoverista,a cor localexigidapelo romancede ento,davamestatutoe cursoliterriosfigurase anedotasdenossomundocotidiano.J oenredo- overdadeiroprincpiodacom-posio- essetema suamolanasideologiasdo destinoro-mntico,emversodefolhetimparaMacedoealgumAlencar,eemversorealistaparao Alencardo romanceurbanodemaisfora.Ora, comoj vimoso nossocotidianoregia-sepelosme-canismosdo favor,incompatveis- numsentidoqueprecisa-remosadiante- comastramasextremadas,prpriasdo Rea-lismodeinflunciaromntica.Submetendo-seaomesmotem-

    porealidadecomezinhaeconvenoliterria,onossoromanceembarcavaemduascanoasdepercursodivergente,e erainevi-tvelquelevassealgunstombosdeestiloprprio,tombosquenolevavamoslivrosfranceses,j queahistriasocialdequeestessealimentavampodiaserrevolvidaafundojuntamenteporaquelemesmotipo deentrecho.- Vistasegundoasorigens,a dispa-ridadeentreenredoenotaorealistarepresentaajustaposiodeummoldeeuropeusaparnciaslocais(noimporta,nocaso,queestasaparnciassetenhamtransformadoemmatrialiter-riapor influnciadoprprioromantismo).Segundopasso,tro-que-seaorigemno mapa-mndipelasidiasquehistoricamen-telhecorrespondiam:teremosvoltado,commaisclarezaagoradasrazessubjacentes,aoproblemaprpriodacomposio- em

    sil, epodeserlido comoumaintroduoaMachadodeAssis.Emboranofaa

    partedafase"formativa"dequetratao livro,eestejamencionadosumaspoucas

    vezes,Machado umadassuasfigurascentrais,o seupontodefuga:atradio

    considerada,aomenosemparte,comvistasnoaproveitamentoqueMachadolhe

    dar.Paraostrechoscitados,verpp. 140-2.

    41

  • Ao vencedor as batatas

    queideologiasromnticas,devertentesejaliberal,sejaaristo-cratizante,massemprereferidas mercantilizaodavida,figu-ramcomochave-mestrado universodo favor.Fiel realidade

    observada(brasileira)eaobommodelodo romance(europeu),oescritorreedita,semsab-Ioesemresolv-Ia,umaincongrun-ciacentralem nossavidapensada.Note-sequenoh conse-qnciasimplesa tirardestadualidade;empasdeculturade-pendente,comooBrasil,asuapresenainevitvel,eoseuresul-tadopodeserbomou ruim. questodeanalisarcasoporcaso.Literaturanojuzo,figurao:osmovimentosdeumarepu-tadachavequenoabranadatmpossivelmentegrandeinteresseliterrio.VeremosqueemMachadodeAssisachaveserabertapelafechadura.

    Senhora um doslivrosmaiscuidadosdeAlencar,a sua

    composiovainosservirdepontodepartida.Trata-sedeumromanceemqueo tomvariamarcadamente.Digamosqueelemaisdesafogadonaperiferiaqueno centro:Lemos,pelintraeinteresseirotio daherona, gordinhocomoum vasochinsetemar depipoca;o velhoCamargo um fazendeirobarbaas,rudemasdireito;donaFirmina,me-de-encomendaou conve-

    nincia,estalabeijosnafacedameninaaquemserve,equandosenta,acomoda"asuagordurasemi-secular"8.Noutraspalavras,umaesferasingelae familiar,emquepodehaversofrimentoeconflito,semqueelaprpriasejapostaemquesto,legitimadaqueestpelanaturalesimpticapropensodaspessoas sobre-vivnciarotineira.Os negociantessoespertalhes,asirmzinhasabnegadas,aparentelaaproveita,vcios,virtudesemazelasadmi-tem-setranqilamente,demodoqueaprosa,aodescrev-Ios,noperdeaiseno.No conformista,poisnojustifica,nempro-

    8 JosdeAlenear,Senhora,De, vol. I, pp.958,966,969,1.065-6.

    42

    :j~"

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    priamentecrtica,pois noquertransformar.O registrosobequandopassamosaocrculomundano,limitadoalismocida-

    decasadoura- oquetemseuinteresse,comosever.Aqui pre-sidemo clculodo dinheiroedasaparncias,eo amor.A hipo-crisia,complexapordefinio,combina-sepretensodeexem-

    plaridadeprpriadestaesfera,edeespontaneidade,prpriaaosentimentoromntico,saturandoa linguagemde implicaesmorais.Espontaneamente,estasobrigam reflexonormativa,custadosprazeressimplesdaevocao.A matrizdistantesoa

    salae a prosadeBalzac.Finalmente,no centrodestecentro,avoltagemvaiaotetoquandoestemcenaAurlia,aheronado

    livro.Paraestaherdeirabonita,inteligenteecortejada,o dinheirorigorosamenteamediaomaldita:questionahomensecoisas

    pelafatalsuspeita,a quenadaescapa,dequesejammercveis.

    Simetricamente,exaspera-sena moao sentimentodapureza,expressonostermosdamoralidademaisconvencional.Purezae

    degradao,umatalvezfingida,umaintolervel:lanando-sede um a outro extremo,Aurliad origema um movimentovertiginoso,degrandealcanceideolgico- o alcancedodinhei-

    ro, esse"deusmoderno"- eumpoucobanal;faltacomplexi-dadeaseusplos.A riquezaficareduzidaaumproblemadevir-tudeecorrupo,queinflado,attornar-seamedidadetudo.

    Resultaum andamentodensoderevoltaedeprofundoconfor-mismo- a indignaodo bem-pensante- queno s deAlencar. umadasmisturasdo sculo,a marcado dramalho

    romntico,dafuturaradionovela,eaindahpoucopodiaservistono discursoudenistacontraacorrupodostempos.Masvolte-mosatrs,paracorrigiradistinodoprincpio,entreo tomdas

    personagensperifricasedascentrais.A questonogradual, qualitativa.No casodasprimeiras,trata-sede aproveitarasevidnciasdo consenso,localistae muitasvezesburlesco,tais

    comoatradio,o hbito,o afeto,emtodaasuairregularidade,

    43

  • Ao vencedor as batatas

    ashaviamconsolidado.Seumundoo que,noapontaparaoutro,diferentedele,noqualsedevessetransformar,ouporoutra

    ainda,noproblemtico:excluiaintenouniversalistaenor-mativa,prpriadaprosaromntico-liberalda faixadeAurlia.Veremosaindaqueesta a tonalidadedeum romanceimpor-tanteemnossaliteratura,asMemriasdeumsargentodemilcias.

    E nadaimpede,sejadito depassagem,queesteconsensotragaeleprprioacunhadetradiesliterrias.No segundocaso,pelocontrrio,procura-seperceberopresentecomoproblema,comoestadodecoisasarecusar.Estaarazodopesomaior,da"serie-

    dade"destaspassagens- aindaqueliterariamentesejasempreumalvioquandoAlencarvolta outramaneira,quelhedp-

    ginasdemuitagraaeforanarrativa.Entretanto,nestesegundoestilocarregadodeprincpios,polarizadopelaalternnciadesu-blimeeinfmia,queelesefilia linhafortedo Realismodeseutempo,ligada,justamente,aoesforodefiguraro presenteemsuascontradies;emlugardedificuldadeslocais,ascrispaesuniversaisdacivilizaoburguesa. esteo estiloqueirpreva-lecer.Resumindo,digamosqueem Senhoraa reflexotomaoalentoe a maneira esferamundana,do dinheiro,dacarreira,

    dando-lhepor conseguinteaprimazianacomposio.Comoas

    grandespersonagensda Comdiahumana,Aurliaviveo seudi-laceramentoeprocuraexpress-lo,transformando-oemelementointelectualdaexistnciacomum,eemelementoformal- como

    sever,apropsitodo enredo- responsvelpelofechamentodoromance.No entanto,essetomreflexivoeproblemtico,bemrealizadoemsimesmo,noconvenceinteiramente,einfelizem

    seuconvviocomo outro.Faz efeitopretensioso,temalguma

    coisadescabida,queinteressaanalisaremmaisdetalhe.Observe-se,quantoaisto,quepredominnciaformalepeso

    socialemSenhoranocoincidem.Senatural,porexemplo,que

    a cenamundanaestejaemoposio provnciae pobreza,

    44

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    esquisitoqueincluapequenosfuncionriosefilhasdecomercian-tesremediados.E esquisitssimoqueexcluaosadultos:nasfestas

    daCorte,asmesnuncasomaisquerespeitveissenhoras,quevigiamasfilhasenocansamdecriticarosmodosdesenvoltosdeAurlia,"imprpriosdemeninasbemeducadas"9.Comoalis

    oshomens,quesocaricaturas,desdequenosejamrapazes.Emsuma,o tomdamodareservado mocidadenbilebem-pos-ta,dequeoornamento,masnoasntesedaexperinciasocialdeumaclasse,almdesermalvistosevailonge.No temcursoentreaspessoasquej sejamsrias,asquaispor suavez,ficamexcludasdobrilholiterrio,edomovimentodeidiasquedevesustentare arremataro romance.Por suacomposio,portan-to,o livroseconfinaaoslimitesdafrivolidade,adespeitodeseuandamentoambicioso,queficaprejudicado.Estedesacordono

    existenomodelo;parasentiradiferena,bastalembraraimpor-tnciaquetmoadultriomaduro,apoltica,asarrognciasdopoder,nacenamundanadeBalzac.Alencarconserva-lheo tom

    e vriosprocedimentos,pormdeslocadospelo quadrolocal,impostopelaverossimilhana.Adiante,voltaremos diferena.

    Agora,vejamosa complexidade,a variedadedeaspectosdesteemprstimo.Inicialmenteprecisoretirar,masnodetodo,o

    sentidopejorativoaestanoo.Considere-seo quesignificava,comoatualizaoe desenvoltura,fazerqueumapersonagem,mulheraindapor luxo,tratasselivrementedasquestesdequeento,ou poucoantes,tratarao Realismoeuropeu.Em certosentidomuitoclaro,um feito,sejaqualfor o resultadoliter-rio.Algo semelhante,paraageraodosquefizeram20 agora,nosanos60,aosaltodosmanuaisdefilosofiaesociologia,em

    9 Senhora,p. 952.

    45

  • Ao vencedor as batatas

    lnguaespanhola,paraoslivrosdeFoucault,Althusser,Adorno.Entreumaalienaoantigae outramoderna,o coraobem-formadonohesita.Ficavaparatrsa imitaomidae com-placente,o romancistaobrigava-seaumaconcepodascoisas,impunhanvelcontemporneo reflexo.O romancealcana-vaaseriedadequeapoesiaromnticajhaviaalcanadohmaistempo.Finalmente,considere-seo prpriomovimentodaimi-tao,quemaiscomplicadoqueparece.No prefciodeSonhosd'ouro,escreveAlencar:"Tacharesteslivrosdeconfeioestran-

    geira,relevemoscrticos,noconhecerasociedadefluminense,queaestafaceirar-sepelassalaseruascomataviosparisienses,falandoaalgemiauniversal,quealnguado progresso,jargoerriadodetermosfranceses,ingleses,italianos,eagoratambmalemes.!Como sehdetirarafotografiadestasociedade,semlhecopiarasfeies?"10.O primeiropassoportantodadopelavidasocial,enopelaliteratura,quevaiimitarumaimitao.11Mas fatalmenteo progressoeosataviosparisiensesinscreviam-seaquinoutrapauta;retomandoo nossotermodo incio, soideologiadesegundograu.12Chegao romancista,queparteeleprpriodessemovimentofaceirodasociedade,enoslheco-

    10 Obra completa,vol.I, p. 699.

    11A situaocomparvel deCaetanoYelosocantandoemingls.Acusa-

    dopelos"nacionalistas",respondequenofoi elequemtrouxeosamericanosao

    Brasil.Semprequiscantarnestalngua,queouviano rdiodesdepequeno.E

    claroquecantandoinglscompronncianortistaregistraummomentosubstan-

    cialdenossahistriae imaginao.

    12Comentandooshbitosdeconsumono Brasildefinsdesculo,Warren

    Deanobservaqueo comrcioimportadortransformavaemartigosdeluxoospro-

    dutosqueaindustrializaotornaracorrentesnaEuropaeEstadosUnidos.Cf.AindustrializaodeSoPaulo, SoPaulo,Difel, 1971,p. 13.

    46

    :,~~

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    piaasnovasfeies,copiadasEuropa,comoascopiasegundoa maneiraeuropia.Ora, estasegundacpiadisfara,masnopor completo,a naturezadaprimeira,o queparaa literaturaumainfelicidade,elheacentuaaveiaornamental.Adotandofor-

    maetomdoromancerealista,Alencaracataasuaapreciaot-citadavidadasidias.Eis oproblema:tratacomosriasasidias

    queentrenssodiferentes;comosefossemdeprimeiro,ideo-

    logiasdesegundograu.Somaemconseqnciado ladoempo-ladoeacrtico- adespeitodoassuntoescandaloso- despro-vido damalciasemaqualo tommodernoentrensincons-

    cinciahistrica.Ainda umavezchegamosaon queMachadodeAssisvaidesatar.

    Em suma,tambmnasLetrasadvidaexternainevitvel,

    semprecomplicada,enoparteapenasdaobraemqueapare-ce.Fazfigurano corpogeraldacultura,commritovarivel,e

    osemprstimospodemfacilmenteserumaaudciamoraloupo-ltica,emesmodegosto,aomesmotempoqueumdesacertoli-terrio.Qual destescontextosimportamais?Nada,a noseradeformaoprofissional,obrigaaocritriounicamenteesttico.

    Assim,procuramosassinalarum momentodedesprovinciani-zao,a disposioargumentativana tonalidadequepredomi-naemSenhora,enemporissodeixaremosderev-Ioadianteem

    luzdesfavorvel,nemlhedisfararemosafraqueza,dopontodevistadaconstruo.Masvoltemosatrs:no gesto,o andamentodo livro audaciosoe inconcilivel,gostariadeserumavoznaalturado tempo;j seulugarnacomposio,pelocontrrio,faz

    vernesteimpulsograveumaprendadesala.A ltimapalavranocasoasegunda.Por algumarazo,queo leitorj agoraadivi-nha,aduradialticamoraldodinheiroseprestaaogalanteiodamocidadefaceira,masnoafetao fazendeirorico,onegociante,asmesburguesas,a governantapobre,queseorientampelasregrasdofavoroudabrutalidadesimples.Contudo,soestasas

    47

  • Ao vencedor as batatas

    personagensquetornampovoadoo romance.Emborasecund-rias,compemo traadosocialemquecirculamasfigurascen-trais,decujaimportnciaseroamedida.Noutraspalavras,nossoprocedimentofoi o seguinte:filiamoso andamentodoromance- depoisde caracteriz-Io- aocrculorestritoqueexprime,tudo semprenos termosqueo prprio romanceprope.Emseguidavimoscomoficaestecrculo,seconsideradorelativamen-te,no lugarquelhecabeno espaosocial,tambmeledefico.Qualaautoridadedoseudiscurso?O quedecideo refluxodestasegundavista:diantedela,o tom do livro e a pretensoqueoanimafazemefeitoinfundado.A suadicodesdizdasuacom-

    posio.O opostojustamentedo queseobservano modelo:amaneirasensacionalistaegeneralizantedeBalzac,toconstrudaeforada,liga-seaextraordinrioesforodecondensao,edefatovaisetornandomenosincmoda medidaquenosconvence-mosdesuacontinuidadeprofundacomosinmerosperfisoca-sionais,de"periferia",quedeslocam,refletem,invertem,modi-ficam- emsuma,trabalham- o conflitocentral,quedumaformaou doutra o de todos.13Sejapor exemploo discursodesabusadoe"centralssimo"dalgumadesuasgrandesdamas:

    13"Comparadaaoutrasformasderepresentao,amultiplicidadedeBalzac

    aquemaisseaproximadarealidadeobjetiva.Contudo,quantomaisseaproxi-

    madesta,maisseafastadamaneirahabitual,cotidianaou mdiadeespelh-Ia

    diretamente.De fato,o mtodobalzaquianoaboleoslimitesestreitos,costumei-

    ros,rotineirosdestareproduoimediata.Contrariaassimasfacilidadeshabituais

    namaneiradeconsiderararealidade,eporissomesmosentidopormuitoscomo

    sendo'exagerado','sobrecarregado'etc.[...] Aliso seuengenhonoselimitas

    formulaesbrilhantese picantes;antesmanifesta-senarevelaobemmarcada

    do essencial,natensoextremadoselementoscontrriosqueo compem."G.

    Lukcs,Balzac und derFranzoesicheRealismus,Werke,vol.VI, p. 483.

    48

    ;!~i.

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    revoltoso,futriqueiro,vulnervel,calculista,destemido,comoosero,quandoaparecerem"casualmente",o criminoso,acostu-reira,o pederasta,o banqueiro,o soldado.O andamentoverti-ginosoafasta-sedonatural,beirabastanteo ridculo,masavalizaestadistncia- o seunveldeabstrao- comgrandelastrodeconhecimentoseexperincia,queultrapassademuitoalati-tudeindividual,enofatoapenasliterrio:asomadeumpro-cessosocialdereflexo,naperspectiva,digamos,dohomemdeesprito. esteocinqentovividoesocivelquesegundoSartreo narradordo realismofrancs.14Dos pressupostoshistricosdestaformafalaremosadiante.Poragorabasta-nosdizerqueestareflexosealimentavadeum processoreal,novo,tambmelevertiginosoepouco"natural",quereviravadealtoabaixoaso-ciedadeeuropia,freqentandoigualmenteabrasileira,cujame-dulano entantonochegavaatransformar:trata-sedagenerali-zao- comseusinfinitosefeitos- daforma-mercadoria,do

    dinheirocomonexoelementardo conjuntodavidasocial. adimensogigantesca,ao mesmotempoglobale celulardestemovimento,queirsustentaravariedade,amobilidadetotea-tralda composiobalzaquiana- permitindoo livretrnsitoentrereassociaise de experinciaaparentementeincomensu-rveis.Em resumo,herdvamoscomoromance,masnoscom

    ele,umaposturaedicoquenoassentavamnascircunstnciaslocais,edestoavamdelas.MachadodeAssisiriatirarmuitopar-

    14J.-P. Sartre,"Qu'est-ce-queIalittrature?",SituationsII, Paris,Gallimard,

    1948,pp. 176ss.Paraumcondensadocmicodostiquesbalzaquianos,vera in-

    comparvelimitaoquedelesfazProust,emPasticheset mlanges.O aspecto

    desfrutvelesedativodasgeneralizaesdeBalzacmencionadoporWalterBen-

    jamin,noestudosobreoFlneur, in CharlesBaudelaire,Frankfurt/M.,Suhrkamp,

    1969,pp.39-40.

    49

  • Ao vencedor as batatas

    tidodestedesajuste,naturalmentecmico.Paraindicardumaveza linha de nossoraciocnio:o temrioperifricoe localistadeAlencarvirparao centrodo romancemachadiano;estedeslo-

    camentoafetaosmotivos"europeus",agrandiloqnciasriaecentralda obraalencarina,quenodesaparecem,mastomamtonalidadegrotesca.Estarresolvidaaquesto.Mas voltemosaSenhora.Nossoargumentoparecetalvezarbitrrio:comopodemumaspoucaspersonagenssecundrias,ocupandoumapartepe-quenadeum romance,qualificar-lhedecisivamenteo tom?Defato,sefossemeliminadas,desapareciaadissonncia.Masresta-

    ria um romancefrancs.No a intenodo Autor, quepelocontrrioquerianacionalizaro gnero.Entretanto,o pequenomundosecundrio,introduzidocomocorlocal,enocomoele-

    mentoativo,deestrutura- umafranja,massemaqualo livronosepassano Brasil- deslocao perfileopesodoandamentodeprimeiroplano.Eis o queimporta:seo traolocaldeveter

    forabastanteparaenraizaro romance,tem-natambmparanlhedeixarincontrastadaadico.Pelasrazesquevimoseporoutrasqueveremos,estapassaagiraremfalso.Noutraspalavras,oproblemaartstico,daunidadeformal,temfundamentonasin-

    gularidadedenossochoideolgicoefinalmente,atravsdele,emnossaposiodependente-independentenoconcertodasna-es- aindaqueo livronotratedenadadisso.Expressalite-rariamenteadificuldadedeintegrarastonalidadeslocalistaeeu-ropia,comandadasrespectivamentepelasideologiasdo favoreliberal.No queo romancepudesseeliminardefatoestaoposi-o:masteriadeacharum arranjo,emqueesteselementosnocompusessemumaincongruncia,esimum sistemaregulado,comsualgicaprpriaeseus- nossos- problemas,tratadosnasuadimensovivel.

    Menosqueexplicar,o quefizemosataquiforamatribui-es:um tomparac,outroparal,o enredoparaaEuropa,as

    50

    i~i'"

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    anedotasparao Brasiletc.Paraescaparaosacasosdapaternida-de,contudo, precisosubstituiracontingnciadaorigemgeo-

    grficapelospressupostossociolgicosdasformas,estessimatuaise indescartveis.Mais precisamente,digamosquedo conjuntomaisoumenoscontingentedecondiesemqueumaformanas-ce,estaretmereproduzalgumas- semasqaisnoteriasen-tido --T- quepassama seroseueftitoliterrio,o seu"efeitoderea-lidade"15,o mundoquesignificam.Eis o queinteressa:passan-

    doapressupostosociolgicoumapartedascondieshistricasoriginaisreaparece,comsuamesmalgica,masagorano planodaficoecomoresultadoformal.Nestesentido,formassooabstratoderelaessociaisdeterminadas,eporaquesecom-

    pleta,aomenosameuver,aespinhosapassagemdahistriaso-cialparaasquestespropriamenteliterrias,dacomposio-quesodelgicainternaenodeorigem.Dizamospor exem-plo queemSenhorahduasdices,equeumaprevaleceinde-vidamentesobreaoutra.O leitorcordatoprovavelmentereco-

    nhea,porqueachatambmasemelhana,queumadelasvemdo Realismoeuropeu,enquantoaoutramaispresaaumaora-lidadefamiliare localista.Como explicao,porm,estereco-

    nhecimentonochegaaoproblema.Por querazonoseriam

    compatveisasduasmaneiras,seincompatibilidade um fatoformal,enogeogrfico?E porquenopodeserbrasileiraaformado Realismoeuropeu?Questoestaltimaquetemo mritodeinverteraperspectiva:depoisdevermosqueorigemnoargu-mento,ficaindicadoquantodecisivoo seupesoreal.Enfim,unstantosemprstimosformaisimportantes,indicadosospres-

    supostosdaformaemprestada,quevieramaseroseuefeito;des-criodasmatriasaqueestaformaestejasendoaplicada;epor

    15ExpressodeAlthusser,mascomoutrafilosofia.

    51

  • Ao vencedor as batatas

    fim osresultadosliterriosdestedeslocamento- seroestesos

    nossostpicos.Paracomear,vejamoso desenrolardahistria.- Aurlia,

    moamuitopobreevirtuosa,amaaSeixas,rapazmodestoeumpoucofraco.Seixaspede-aemcasamento,masdepoisdesman-cha,emfavordeoutraquetemum dote.Aurliaherdadere-

    pente.TeriaperdoadoaSeixasa inconstncia,masnolheper-doao motivopecunirio.Semdizerquem,mandaofereceraoantigonoivoum casamentono escuro,comdotegrande,mascontrarecibo.O rapaz,queestendividado,aceita. ondeco-meapropriamenteo enredoprincipal.Parahumilharo amadoevingar-se,mastambmparap-Io embriose finalmenteporsadismo- detudoissohumpouco- Aurliapassaatrataromaridorecm-compradocomoaumapropriedade:reduzo ca-samentode conveninciaa seuaspectomercantil,cujasimpli-caespor supremaofensavocomandara trama.A talponto,queasquatroetapasdahistriasochamadas"O Preo","Qui-tao","Posse","Resgate".Como indicaesterigorismonacon-duodoconflito,enredoefigurasodelinhagembalzaquiana.Com abundnciadereflexoe sofrimentolevam improvvelconseqncialtima(emborahajaumaconciliaono final,de

    queaindafalaremos)um grandetemadaideologiacontempo-rnea.Aurlia dafamliafrreaeabsolutadosvingadores,al-quimistas,usurrios,artistas,ambiciososetc.,daComdiahuma-

    na; comoeles,agarra-sea umaquesto- dessasquehaviamcativadoa imaginaodo sculo- foradaqualavidapassaalheparecervazia.Em conseqncia,lgicae destinohistricodalgumaidiareputadatornam-seelementosdeterminantesna

    organizaodo entrecho,ganhamforadeprincpioformal-entreoutros.No queaspersonagensencarnemumanooabs-trata,comoHarpagoencarnaraaavareza.Mas umaabstrao- quevaicombinar-seatodasortedeparticularidadesdebio-

    52

    >i~;';

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    logia,depsicologiaeposionasociedade- elementovolun-trioeproblemticodesuaequaopessoal:decide-Iheso desti-no. Como um claroemcunoturno,estasfigurasreflexivase

    enfticasriscamapaisagemsocial,edeixam,almdavertigemdeseumovimento,o traadoimplacveldascontradiesqueopemasociedadeaseusideais.Retomandonossofio, trata-sedummodelonarrativoemcujamatriaentramnecessariamente

    asideologiasdeprimeirograu- certezastaiscomoa igualda-de,a repblica,a foraredentoradecinciae arte,o amorro-mntico,mritoecarreirapessoal,idiasenfimquenaEuropaoitocentistasustentamsemdespropsitoovalordaexistncia.16Nestesentido,o romancerealistafoi umagrandemquinadedesfazeriluses.Paracompreender-lhea importnciaprecisov-Ioemconjunto,emmovimento,atravessandofronteirasna-cionais,desrespeitandoahierarquiadosassuntos:umaaumavaidesdobrandoasconvicesmaiscarasaoseutempo,ascombi-

    nasfigurasmaisfortesedotadas,edeixaquesequebrem- aolongodoenredo- contraamecnicasemperdodaeconomiaedasclassessociais.Da o pesointelectualdestemovimento,suaposturaaudaciosa,amigadeverdade- retomadaporAlencar.Eis o nossoproblemaquetorna:importvamosummolde,cujoefeitoinvoluntriodedarsidiasestatutoehorizonte- tim-

    bre,energia,crise- emdesacordocomo queavidabrasileiralhesconferia.Ou, dopontodevistadacomposio:semcorres-

    pondncianaconstruodaspersonagenssecundrias,respon-

    16Paraexemploleiam-seaspginasdeLukcssobreo papeldoRomantis-

    mono romancerealista.Sendoumaideologiaespontneadoinconformismoan-

    ticapitalistadosc.XIX, avisoromnticaeramatriaderomanceporassimdi-

    zerobrigatria;ideologiadepersonagenseclimaliterrio,queo enredodestroa.

    Cf. "Balzac,crticodeStendhal",op. cit..

    53

  • Ao vencedor as batatas

    sveispelacorlocal.Quediriaaestasfiguras,interessadassobre-tudoemarranjarasobrevivncia,o discursouniversalizanteepo-lmicodeAurlia?Veremoscomoaprpriaaudciarealista,nes-tascircunstncias,tertransformadoo seusentido.

    Paraoutro exemplo,considere-seo "maquiavelismo"deAurlia,adesenvolturacomqueelasebeneficiadaengrenagemsocial.A moa,quetiveraasortedeherdar,enoja-seaprincpiocoma venalidadedosrapazes.Depois,pensandobem,fazumplanoecomprao maridodeseucorao.A vtimado dinheirovaisuaescola,econfia-lhefinalmente- aosseusmecanismos

    odiosos- aobtenodafelicidade.Alinhaassimno campoilus-tredascriaturas"superiores",queescapamaoimpriodefortu-naecarreiranamedidaemquealcanaramcompreend-loema-nobraremproveitoprprio.A seutempoe emseulugarestaspersonagens,dequeestcheiaaficorealista,foramfigurasdaverdade.Livravam-sedetradiesenvelhecidas,noeramenga-

    nadaspelamoral,epagavamasuaclarividnciacomo endureci-mentodo corao.Trata-sedeumasituaobsicado romanceoitocentista:asveleidadesamorosase deposiosocial,propi-ciadaspelarevoluoburguesa,chocam-secontraadesigualda-de,queemboratransformadacontinuaumfato;precisoadi-Ias,calcular,instrumentalizarasieaosoutros...paraafinaldes-

    cobrir,quandoriquezae podertiveremchegado,quenoestmaisinteiroojovemesperanosodoscaptulosiniciais.Com milvariaes,estafrmulaemtrstempossercapital.Entreosar-doresdo princpioeadesilusodo fim, sempreo mesmointer-ldio,devignciairrestritadosprincpiosdavidamoderna:aen-grenagemdo dinheiroedo interesse"racional"fazo seutraba-lho,annimoedeterminante,eimprimeo selocontemporneo travessiadeprovaesque o destinoimemorialdosheris.Soasconseqncias,naperspectivadoindividualismoburgus,dageneralizadaprecednciado valor-de-trocasobreo valor-de-

    54

    ,,~,

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    uso- tambmchamadaalienao- aqualsetransformaem

    pedradetoqueparaa interpretaodostempos.Efeitoliterrioepressupostosocialdesseenredo,domomentodeclculoqueasuaalavanca,estonaautonomia- sentidacomocoisificao,

    comoesfriamento- dasesferaseconmicaepoltica,asquais

    parecemfuncionarseparadasdo resto,segundoumaracionali-dade"desumana",detipomecnico.Paraaeconomiaacausaestno automatismodo mercado,aqueobjetoseforadetrabalhoestosubordinadosaomesmottulo,equedopontodevistadomritopessoalumaarbitrriamontanharussa.Quantopol-tica,no perodohistricoabertopeloestadomoderno,confor-meensinamentodeMaquiavel,assuasregrasnadatmavercomnormasdemoral.Nasduasesferas,comotambmnadacarrei-

    ra,queemcertosentidointermediria,avidasocialvemafeta-da desinalnegativoe implacvel,e emconflitocomelaquealgumacoisasesalva.17Esta,enooutra,apaisagemnaqualtempoesiao descompromissoromanesco,svezesexaltante,svezessinistro,entreindivduoeordemsocial.Solitriaselivres,

    umdesgnioatrsdatesta,aspersonagensderomanceplanejamosseusgolpesfinanceiros,amorososou mundanos.Uns triun-fampelaintelignciae dureza,outrospelocasamentoou pelocrime,outrosaindafracassam,efinalmenteexistemossimbli-

    17" somentecomo sc.XVIII ena'sociedadeburguesa'queasdiferentes

    formasdo relacionamentosocialsedeparamaoindivduocomosendosimples

    instrumentosparaaconsecuodesuasfinalidadesprivadasecomonecessidade

    externa."K. Marx, "Einleitung",in Grundrisseder Kritik derpolitischenOekono-

    mie,Frankfurt/M.,EuropaeischeVerlagsanstalt,s.d.,p.6.Cf. tambmG. Lukcs,Die TheoriedesRomans,Neuwied,Luchterhand,1962,e Geschichteund Klassen-

    bewusstsein,Werke,vol.lI, capo4;LucienGoldmann,Pour unesociologiedu roman,

    Gallimard,1964.

    55

  • Ao vencedor as batatas

    cos,quefazemumpactocomodiabo.Em todasumacertagran-deza,digamossatnica,vindadesuaradicalsolidoe do firmepropsitodeusara cabeaparaalcanara felicidade.MesmoSeixas,umnetoatenuadodeRastignac,fazumclculodessetipo:tratam-nocomomercadoria?aceitao papel,ecomtalrigor,queAurliaexasperadae finalmentederrotadapelasuaobedinciaacabaimplorandoqueelevoltea secomportarcomoum serhumano.- Em termosdenossoproblema:sofbulasquede-vemasuaforasimblicaaummundoqueno Brasilnotivera

    lugar.Suaforma a metforatcitadasociedadedesmitologi-zada(entzaubert,naexpressodeMax Weber)emistificadaqueresultadaracionalidadeburguesa,ou seja,dageneralizaodatrocamercantil.

    Issoposto,semteoriad-seo confrontodiretoentreumaformaliterriaeumaestruturasocial,jqueesta,porseraomes-mo tempoimpalpvelereal,nocompareceempessoaentreasduascapasde um livro. O fatode experincia,propriamenteliterrio,outro,eaelequeaboateoriadevechegar:estnoacordoou desacordoentrea formae a matriaa queseaplica,

    matriaqueestasim marcadae formadapelasociedadereal,decujalgicapassaasera representante,maisou menosinc-moda,nointeriordaliteratura. aformadestamatria,portanto,quevainosinteressar,paraconfrontocomaoutra,queaenvol-ve.Quaisentoestesembriesformais,queasseguramafideli-dadelocalistaecontrastamascertezasemqueassentao modelo

    - queimitvamos- do romanceeuropeu?Falvamos,pgi-nasatrs,deum "tommaisdesafogado".Voltemosaoproble-ma,apropsitoagorado enredo.- A parteinicialdo roman-ce,chamada"O Preo",terminaemsuspenseeclmax,nanoitemesmadocasamento:Seixas"modulavaoseucantodeamor,essa

    odesublimedocorao",quandoAurliao interrompeelhede-clara,derecibonamo,queeleum"homemvendido".Frente

    56

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    afrente"ascastasprimciasdosantoamorconjugal"eosintole-rveis"cemcontosderis"do dote.Nos limitesdoprimarismovibrantequeaideologiaromnticahaviaconsagrado,nopodiaestarmaiscarregadooantagonismoentreidealedinheiro.18Fimdecaptulo.J asegundaparteabresingelaedescontraidamente,noutroregistro,muitobeneficiadapelocontraste.Voltaatrsnotempo,afim decontarahistriadeAurliaedesuafamlia,dasorigensmodestasataheranademil contos.Samosdaesferaelegante,a cenaagorapobre,debairroou deinterior.Como

    sever,ashistriasaqui- subenredosquenochegamadeter-minaraformado livro- sodeoutraespcie.PedroCamargoporexemplofilho naturaldeum fazendeiroabastado,aquemtememaisquea morte.Vem Corte paraestudarmedicina.Gostadeumamoapobre,notemcoragemdecontaraopai,casacomelaemsegredo- quefogedecasa,poistambmnafamliadelahoposio,j queo rapazno filho legitimadoepodenoherdar.Do casamentonascemAurliae um meninode"espritocurto".19 Semprecommedodeconfessaraovelho,voltao estudante fazenda,ondeacabamorrendo.Deixamu-

    lherefilhosno Rio, naposioequvocadafamliasempaico-nhecido.As mulherescosruramparaviver,o filho viracaixeiroetc.Observe-se,nestesumrio,queemboraestejampresentesoselementosdoromancerealista,adiferenatotal:nemo av-

    dequemAurliairherdarafortunamaisadiante- fazfiguradetestvelpor terfilhosnaturais,nemo filho condenadoem

    nomedoAmorquenomoveumontanhas,oudaMedicina,quenoeraumavocao,nemasuamulherdiminudaporterdes-respeitadofamliaeconvenincias,enemafamliadela,queafinal

    18 Senhora,pp. 1.026,1.028-9.

    19 Idem,p. 1.038.

    57

  • Ao vencedor as batatas

    decontaserapobreenumerosa,podecondenar-seporqueno

    incorporaumestudantesemtosto.Noutraspalavras,amor,di-nheiro,famlia,compostura,profisso,noestoaquinaquelesentidoabsoluto,desacerdcioleigo,quelhesderaa ideologia

    burguesaecujaexignciaimperativadramatizaeelevao tomparteprincipaldo livro.No soideologiadeprimeirograu.Asconseqnciasformaissomuitas.Primeiramentebaixaa suatenso,queperdeaestridncianormativa,ecom elaa posiocentral,delinhadivisriaentreo aceitveleo inaceitvel.No

    sendoummomentoobrigatrioecoletivododestino,o conflito

    ideolgiconocentralizaaeconomianarrativa,emqueirfazerfiguracircunstancial,deincidente.Nem permiteo amlgamadeindividualismoeDeclaraodosDireitosdoHomem,dequede-

    pende,paraasuavibrao,o enredoclssicodo romancerealis-ta.As soluesnosodeprincpio,masdeconvenincia,econ-formam-se relaode forasdo momento.Arranjosqueno

    mundoburgusseriamtidoscomodegradantes,nestaesferasocomocoisasdavida.Note-setambmocarterepisdicodahis-

    tria,adispersodeseusconflitos,quedefatosupemamen-cionadadistenso,sema qualapoesiado andamentoerrtico,tobrasileira,ficariaanuviadademoralismo.Paraaprosa,resulta

    queasuaqualidadeliterrianoserdaordemdaforacrticaedo problema,masantesdafelicidadeverbal,degolpedevista,deandamento,virtudesestasdiretamentemimticas,queguar-

    damcontatosimpticoefcilcomafalaeasconcepestriviais.

    Umafugadeacontecimentos,evocadacomarteeindefinidamen-teprolongvel,quevemdesembocarnalgumacoisacomoo re-pertriodosdestinossugestivosnestemundodeDeus.Estamosprximosdaoralidadee talvezdo "causo",estruturamaissim-plesquearomanesca,masafinadacomasiluses- tambmelasindividualistas- denossouniversosocial.Um complementoli-

    terriodapredominnciaideolgicado favor:a faltadeabsolu-

    58

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    tismonasnormasreflete,sepodemosdizerassim,aarbitrariedadedo arbtrio,aoqualprecisoseacomodar.Da o encantoparamodernosdestamaneiranarrativa,emqueosAbsolutosqueaindahojenosvampirizamaenergiaeo moralaparecemrelativizados,referidosqueestoaofundomovedioehumano- repetimosqueilusrio- dosarranjospessoais.Paraconceberenfimadis-tnciaideolgicatranspostanestamudanaderegistro,digamosqueelacortaou dcircuito,comoumcomutador,nadamenosqueaofetichismoprpriocivilizaodoCapital;- fetichismoqueisolaeabsolutizaoschamados"valores"(Arte,Moral,Cin-cia,Amor, Propriedadeetc.,esobretudoo prpriovalorecon-mico),e queaosepar-losdo conjuntodavidasocialtantoostornairracionaisemsubstncia,quantodepositrios,parao in-divduo,detodaaracionalidadedisponvel:umaespciedefis-coinsacivel,aquemdevemosepagamosconscienciosamenteaexistncia.2o

    20 Paraaconstruodo contrasteentrenartativapr-capiralistaetomance

    - feitasobreo fundodatransiodoartesanatoptoduoindustrial,transio

    queno abrasileita- veja-seo admirvelensaiodeWalterBenjaminsobreo

    narrador, in Sehriften,vol. lI, Frankfurt/M.,Suhrkamp,1955.Idealmentee ar-

    riscando,digamosqueo "causo"submeteexperinciadeseusouvintes,etra-

    dioemqueestesseenttoncam,asimplicidadeinesgotveldeumaanedota.Ex-

    perinciaetradiocompostaselastambmdeanedotas,squaisamaisrecente,

    malfoi contada,jestseincorporando.Umahistria,destacadacomhabilidade

    sobreo fundovriodo repertrioquecompea sabedoriacomum,eisa poesia

    , destegneto- dequeestbanidoo conhecimentoconceitual,o conhecimento

    quenotenhacauovividaou traduonoutraanedota.O contrriodo quese

    passacomo tomance,cujasaventurassoatravessadaseexplicadaspelosmecanis-

    mosgeraismascontra-intuitivosdasociedadeburguesa:apoesiadesteestnacon-

    juno"moderna"eartisticamentedifcildeexperinciaviva,naturalmenteafim

    do esforomimtico,edo conhecimentoabstratoecrtico,referidosobretudo

    59

  • Ao vencedor as batatas

    Um sromance,masdoisefeitos-de-realidade,incompat-veisesuperpostos- eisaquesto.Aurliasaiforadocomum:seutrajetoirseracurvadoromance,eassuasrazes,queparaseremsriaspressupemaordemclssicadomundoburgus,sotrans-formadasemprincpioformal.J voltadela,o ambientedeclientelaeproteo.O velhoCamargo,DonaFirminaeo Sr.Le-mos,odecenteAbreueohonestoDr. Torquato,afamliadeSeixas,asfacilidadesqueesteencontraparaarranjarsinecuras-, sopersonagens,vidas,estilosqueimplicamumaordeminteiramente

    predominnciasocialdo valor-de-trocae smil variantesda contradioentre

    igualdadeformaledesigualdadereal.A durezaeaconseqncialgicaestoentre

    assuasmarcasdequalidade.Digamosportantoquenoroma'nceo incidenteatra-

    vessadodegeneralizao,masqueasuageneralidadereferidaaumtipoparticular

    desociedade,oumelhor,aumaetapahistricadamesma,cifradanoconflitocen-

    tral.J no causo,o incidentepurodeexplicao,eno entantovai inscrever-se

    - adespeitodeseutotallocalismo- no tesouroa-histricoegenricodasmo-

    tivaesedosdestinosdenossaespcie,vistasegundoa idiadadiversidadedos

    homensedospovos,enodatransitoriedadedosregimessociais.O causocontri-

    buiparaumacasusticadassituaeshumanasedastradiesregionais:servepara

    desasnaredivertir,fortificaeajudaaviveraquemo saibaouvir.Enquantoo ro-

    mance,quepelocontrriosdesilude,temcompromissocomaverdadesobrea

    vidanumaformaosocialdeterminada,efazpartedeummovimentodecrtica

    mesmoquandonoo queira.Formahistricaentretodas- qualseincorpora

    livrementeo conhecimentodito cientfico,emespecialdehistria,psicologiae

    economia,almdaintenodoretratodepocaededenncia- o romancepde

    barraratcertoponto,entrens,a figuraoliterriado pas.Eis o paradoxo.

    Enquantoo causo,incomparavelmentemenosdiferenciadoe banhandono cau-

    dalquaseeternoeinespedficodanarrativaoral,combinaaconcepoa-histrica

    - osenleiosdavida- eo apreodesimpedidopelareproduodacircunstn-

    cia,quelhepermiteum realismoqueentrenso Realismodetradioliterria

    nosnoalcanava,comodificultava.No entanto,claroqueAlencarnoum

    contadordecausos,jporqueescreve.Por umadestasfalsidadesfelizesdalitera-

    60

    tis;

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    diversa.Formalmente,oprivilgiocabeordemdoenredo.Ar-

    tisticamente,talprivilgionosematerializa,poisAlencarno

    completaapreeminnciaformaldosvaloresburguesescomacrti-cadaordemdofavor,dequeadmiradoreamigo.Assim,afor-manosficasemrendimento,como restringidaemsuavi-gncia:o sinalnegativoquepor lgicae aindatacitamenteelaaporia~matriadequediverge, desautorizado,contrabalan-

    adopelasboaspalavras.Ora, o revezamentodepressupostosin-compatveisquebraa espinhafico.Umabasedissociada,aque

    turaromntica,elecombinaaveiapopularautnticaaoromantismomodernoe

    restaurativodaevocao,cujoritmorespiradoe largoconstriasimbiosedeme-

    ditaoeespontaneidade- aligaoprofundaenaturalcomnaturezaecomuni-

    dade,fingidanapostura"visionria"- que apoesiadaescolaeo sentimento

    do mundoqueelaopesociedadeburguesa.Em estadopuroestesegundomo-

    vimentodaimaginaoencontra-seem Iracema,ondejamaiso mundoevocado

    sedeixaestarnadistnciaindiferentedaobjetividade.Fraseafrase,oupoucome-

    nos,a imagemestsemprepassando,aproximando-se,desaparecendoaolonge,

    compensandooutraanterior,noespao,notempo,naafeio- mobilidade"ins-

    pirada"quedesfazaesclerosedaobjetividadepuraerestituio elementointeressa-

    doepalpitanteemmemriaepercepo.Nestesentidovejam-setambmOguarani

    eabeladescrioinicialdeO troncodo ip.Guardadasaspropores,o ritmoda

    grandemeditaoromntica,emque custadesilncioe intensidadementala

    complexidadedomundoapreendidaeretida,pararecompor-se- emminutos

    deplenitudeeclarezaexaltadas- segundoaordemfluente,no-mutilada,daima-

    ginao.Note-sepormnestasvises,porafirmativasquesejam,nospoetasin-

    glesesouemHolderlinporexemplo,quesempreirrealo mundoquecompem

    - o mundoinstvele frementedavisualizaogovernadapelosentidointerior

    - cujaplenitude"devolve"aoshomenso sentimentodanaturezaedavidaquea

    sociedademodernaIhesteriatomado.A umadiferenaimportante:a natureza

    alencarinatemmuitodisso, efetivamenterepassadadenostalgia,maspor ins-

    tanteslheacontecedeserapaisagembrasileiraemaisnada.Ondeosromnticos,

    polemizandocontrao seutempo,imaginariamenterepristinavampercepoe

    61

    filll

    11

    '11

  • Ao vencedor as batatas

    irocorresponderno planoliterrioa incoerncia,o tomposti-oesobretudoadesproporo.SeemBalzacosmedianosolhammedusadosparaosradicais,quesoasuaverdadeconcentrada- os"tipos",dequefalaLukcs- emAlencarolhamcomes-pantoparaAurlia,cujaveemnciaparecedespropsitoaalguns,gracinhadesalaaoutros,literaturaimportadaaosdois.O aspectoprogramticodossofrimentosdela,quelhesdeveriaavalizaradignidademaisquepessoal,fazefeitodeveleidadeisolada,decaprichodemoa.Ora, amor,dinheiroou aparnciasnosen-

    natureza,Alencarcontribuiparaa glriadeseupas,cantando-lhea paisageme

    ensinandoospatrciosav-Ia.O sortilgioromnticoserve-lhedefatoparavalo-

    rizarasuaterra,enopararedescobri-Iacontraoscontemporneosmenossens-

    veis.Assim,aexaltaoromnticadanaturezaveioaperderentrensasuafora

    negativa,eacaboufixandoopadrodenossopatriotismoemmatriadepaisagem.

    O prestgiodumaescolaliterriamodernaconsagravaaterra,queoutrosconside-

    ravamrude,eadescobertadenossaterraconsagravaaverdadedaescolaliterria

    (A. Candido,op. cit.,vol.n,p. 9).Com grandesatisfaoesensodeprogressoasnossaselitespunham-seemdiacomo sentimentoquemandadesesperardacivi-

    lizao. o quesechamaserumjovempas.Da asuperposiotoesquisitaemIracema,depoesiadadistncia,quedouraderomantismoosnomesndioseos

    acidentesgeogrficos,edeintenopropriamenteinformativaepropagandstica

    - superposioquedmargemaumazonadeindiferenaentreliteraturaeufa-

    nismo,ounostalgiaecartopostal,combinaorecuperadaemveiahumorstica,

    esentoverdadeira,napoesiainicialdosModernistas.Em versoignbil,pois

    destitudadeingenuidade,aconfusodeparasoepasemprico- a"mentirada

    gentil"dequefalavaMrio deAndrade- hojealimentaapropagandaoficial.-

    Sejacomofor, o soprodameditaoromnticachegoutambmato romance

    realista,emboradiludopelaprosaextensaecontrariadopeloassuntomundano.

    Emlugardanaturezaedovilarejo,atotalidadedesenvolvidadomundosocial:para

    ofereceroequivalentedaplenitudecontemplativadopoeta,o romancistaobriga-se

    afundiremsuaprosaanecessriamassadeconhecimentosfatuais,asuaelabora-

    oanalticaecrtica,efinalmenteo movimentodesimpedidodareflexo- sn-

    62

    ii3

    A importao do romance e suas contradies em Alencar

    do absolutoseexclusivos,nadamaisrazovelquelevaremcon-

    taostrsaspectos,emaisoutros,nahoradecasar;oconflitoqueosabsolutizaparecedesnecessrioesemnatural.Idemparaapro-sa,quepareceexagerada.E mesmodopontodevistadacoern-

    cialinearhaverdificuldades,poisemborasejaboamoa,com-passivaedesprendida,Aurliadespedechispasdefulgorsatni-coeapliCarigorosamenteamoraldocontrato.Algumdirqueadialtica,ShylockePortianumaspersonagem.No ,poissehmovimentoentreostermos,movimentoatvertiginoso,o

    tesequecontrariaemtudoa tendnciado sculo,emqueostrsquesitosbriga-

    vamentresi,comocontinuambrigando.Aindaumavezo exemploserBalzac.A

    suaposturavisionria,ensaiadaenemsempreconvincente,apresenta-secomoa

    faculdade"genial"deabarcarnumasmiradado espritoaFranado capital;de

    auscultar-lheo movimentocomplexoa partirdequalquerdetalhesugestivo,de

    fantasiarlivrementeaseurespeito,semprejuzodesempredizerverdadesraras,

    finais,originaisetc.A naturezado assunto,contudo,atrapalha:a intimidadere-

    flexivacomo mundoburgussacustosustentaumclimademeditao- tran-

    saesnosopaisagensnemdestinos- dondea ocasionalimpressodequeo

    titanismovisionriodeBalzac tambmum descomunalimpulsofofoqueiro.

    Alencar,queprocuraamesmaatmosfera,tembonsresultadosquando retrospec-

    tivo: deixandosuspensoo conflitodeprimeiroplano(emquenofeliz),volta

    atrsparatraar,dasorigens,ahistriadeumdeseuselementos,o quefazcom

    olhoseguro,interessanteeeconmico,etambmpotico.Vejam-sealmdahis-

    triaprviadeAurlia,adeSeixaseo capo10,parteI,de O troncodo ip.Breveeinformativopor definio,o retrospectolimitaa reflexoideolgicadapersona-

    gemou do narrador- queprejudicao romanceurbanoeproblemtico- e as

    aventurasdescabeladas- queprejudicamoslivrosmaisaventurosos. realista

    pordefinio:asuaregrao encadeamentoclaroesugestivodosatos,comvistas

    nasituaoqueestiveranaorigemdoflash-back.Resultaumafiguraomaistran-

    qila,interessadanadescrio,enonacrtica,dasforasqueiropesar. umasoluoemquebrilhamo talentomimtico,aculturabrasileiraeavisodecon-

    juntodeAlencar,aomesmotempoqueseminimizamosefeitosdesencontrados

    63

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    III

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    III,III

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  • Ao vencedor as batatas

    processonoostransforma- Alencaradereaosdois,aumporsentimentodoscostumes,aoutroporapreopelamodernidade,quesaempurosdolivro,taiscomoentraram.Veja-seaindanes-tesentidoo pesoincertodasreflexesdesabusadasdeAurlia:setmrazodeser(comoteriam,seasuaforaformalfosseefe-

    tiva),assenhorasquenogostam,porqueasachamimprprias,deveriamfazerfiguradehipcritas;masno,soboasmes.Jos rapazesdo tom, queachampicantee noseofendem,soacusadosdeinsensibilidademoral.Seixasporsuavez,queroman-ticamenteaceitarahumilhar-seafim dereavero apreodaama-da,no finalapresentaentreasrazesdesuaobedincia... aho-

    de nossavida ideolgica. Recurso ocasionalem Senhora,esteandamento central

    em Til e O troncodo ip, os romancesalencarinosda fazenda.So livros de intriga

    abstrusa,ligada a uma noo subliterria do destino e da expiaodasculpas,no-

    o que no entanto vem aligeirar-lhes a prosa, maneira do que vimos para o

    flash-baek.Em lugar da complexidadeanaltica dos problemas,a fora do destino.

    Nos dois casostrata-sede ricos fazendeiros,que deveropagar em detalheos es-

    quecidosmalfeitosdajuventude. No entanto, quando sobe cenaeseabatesobre

    os mortais, o pesode suaculpa coincide em largamedida - evantajosamente-

    com o peso do passado, com o encadeamento e a purgao dos antagonismos

    objetivos do mundo da fazenda:filhos ilegtimos, escravosenlouquecidos de pa-

    vor, propriedadessubtradas,capangaseassassinatos,incndios,superstio,levantes

    nasenzalaetc. Leiam-se, em Til, os captulos em volta do incndio (parteIV, capo

    I-IX), para ter idia da fora e amplitude destemovimento. alisna unidade de

    flego de seqnciaslongasevariadas,como estaa que nos referimos, que seates-

    ta a fora romntica, "subjetiva", do narrador. a tambm, na prestezacom quelhe acodemaspalavrase asimagens- prestezade que nem sempreo bestialgico

    estausente- que a dicodeAlencar convergecom a fala comum, pr-literria.

    O andamento novelesco,por suavez, decompem-seem episdios breves,com-

    patveiscom a narrativade tradio popular. A mim, em matria do que poderia

    ter sido, pareceque soestesdois os seusmelhores livros.