ricardo presz palmaka

94
7/21/2019 Ricardo Presz Palmaka http://slidepdf.com/reader/full/ricardo-presz-palmaka 1/94  Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Segmentação de empresas de serviços de informática: uma análise sob a ótica de Ecologia Organizacional  Ricardo Presz Palmaka São Paulo 2010

Upload: fj-mp

Post on 04-Mar-2016

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Innovation

TRANSCRIPT

  • Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Centro de Cincias Sociais e Aplicadas

    Programa de Ps-Graduao em Administrao de Empresas

    Segmentao de empresas de servios de informtica: uma anlise sob a tica de Ecologia Organizacional

    Ricardo Presz Palmaka

    So Paulo 2010

  • Ricardo Presz Palmaka

    Segmentao de empresas de servios de informtica: uma anlise sob a tica de Ecologia Organizacional

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Administrao de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao de Empresas

    Orientadora: Professora Dr. Dimria Silva e Meirelles

    So Paulo 2010

  • Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Manasss Claudino Fonteles

    Decano de Pesquisa e Ps-Graduao Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump

    Diretor do Centro de Cincias Sociais e Aplicadas Professor Dr. Moiss Ari Zilber

    Coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Administrao de Empresas

    Professora Dra. Darcy Mitiko Mori Hanashiro

  • P171s Palmaka, Ricardo Presz. Segmentao de empresas de servios de informtica: uma

    anlise sob a tica de Ecologia Organizacional / Ricardo Presz Palmaka. 2010.

    94 f.; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Administrao de Empresas) Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 2010.

    Orientao: Prof. Dr. Dimria Silva e Meirelles Bibliografia: f. 79-81.

    1. Classificao de empresas. 2. Ecologia organizacional. 3. Empresas de servio de informtica. I. Ttulo.

    CDD 338.40981

  • Dedico este trabalho querida esposa e companheira Viviane pelo amor, pela compreenso e por no desistir nunca,

    pequena e j to amada Mariana, que nasceu junto com a dissertao. E aos meus pais Eugeniusz e Helena, irmos Roberto e Cristina,

    apaixonados pelo conhecimento e eternos incentivadores

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo minha orientadora professora Dra. Dimria Silva e Meirelles, que com suas ideias, sua firmeza de carter e pacincia, se transformou em grande incentivadora para que o trabalho seguisse seu rumo.

    Aos professores Dr. Silvio Popadiuk e Dr. Luiz Artur Ledur Brito pelas sugestes e observaes realizadas na qualificao desta dissertao.

    professora Dra. Eliane Pereira Zamith Brito pelo apoio inicial no curso e por mostrar as vrias opes de caminho que se abriam no comeo do mestrado.

    Ao professor Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso por disponibilizar gentilmente as informaes de pesquisa apresentadas neste trabalho.

    Ao professor Pedro Luiz Santos Serra por todo apoio dado a mim e aos pesquisadores em geral, e por sua busca incansvel pela disseminao do conhecimento a seus alunos.

    Ao Fundo Mackenzie de Pesquisa (MackPesquisa) por incentivar a pesquisa cientfica tambm em Administrao de Empresas.

    A todos os amigos que me acompanharam neste caminho, principalmente os de sala de aula: todos contriburam muito para que esse trabalho pudesse ser desenvolvido.

  • O maior inimigo da verdade, no a mentira e sim, a convico (Friedrich Nietzsche)

  • RESUMO

    Classificar coisas a base para que seja possvel estudar as diferenas entre estas coisas; uma forma de armazenar dados e permitir as buscas pelas informaes. Assim ocorre na biologia, rea de estudo em que a classificao de organismos de indiscutvel importncia. Inspirada na biologia, a teoria de Ecologia Organizacional tem se preocupado com a classificao de organizaes. Muitas das pesquisas sobre organizaes utilizam predominantemente uma classificao de empresas que as distingue por tipo de indstria as quais pertencem ou pelo tipo de produto que oferecem a determinados mercados (HANNAN; HSU, 2005). Isso no surpreendente, visto que estes so critrios adotados pelas estatsticas oficiais nas classificaes das atividades econmicas, tanto em nvel nacional quanto internacional. A classificao por produto supe que em um grupo existam empresas homogneas e comumente usada para segmentao de potenciais clientes nas reas de marketing das empresas para criar aes mais efetivas de vendas, comunicao ou promoo, por exemplo. Esta classificao, entretanto, no adequada, sobretudo do ponto de vista organizacional. Corre-se o risco de juntar empresas diferentes entre si dentro de um mesmo grupo: uma grande empresa multinacional pode compartilhar a mesma atividade econmica de uma microempresa e as duas, to diferentes entre si, serem classificadas dentro de um grupo comum, pois oferecem os mesmos tipos de produtos ou servios. O principal objetivo desta dissertao , usando o conceito de forma organizacional proposto pela Ecologia Organizacional, identificar os segmentos de empresas de servios de informtica. Analogamente ao gene na biologia, a forma organizacional funciona como um conjunto de instrues para criao e conduo das aes coletivas no mbito da organizao. O trabalho procurou mostrar que dentro de um grupo de empresas de software possvel classific-las de acordo com a sua forma organizacional, levando em considerao no apenas suas atividades, mas outros atributos que do forma a uma empresa. Para a identificao desses atributos foram utilizadas as definies de forma na Ecologia Organizacional em uma pesquisa em 100 empresas de Tecnologia da Informao, em que foram encontrados cinco grupos de empresas, usando caractersticas objetivas de forma organizacional.

    Palavras-chaves: Forma organizacional. Classificao de empresas. Ecologia organizacional. Empresas de servio de informtica.

  • ABSTRACT

    Classifying things in groups is basic to study differences between these things; it is a way to store data and retrieve information. This happens in biology, the area of study where the classification of organisms is unquestionable important. Inspired by biology, Organizational Ecology theory has been concerned with the classification of organizations too. Much of the organizational research relies primarily on a firm classification which separates them by type of industry they belong to or by the type of product they offer to certain markets (HANNAN, HSU, 2005). This is not a surprise, since these are the criteria adopted by the official statistics in the classifications of economic activities, both nationally and internationally. Grouping companies by products they offer is also a commonly used way to target potential customers in marketing strategies, to create more effective sales processes, communication or promotion actions, for example. This kind of classification, however, is not always adequate, especially from an organizational point of view. It brings the risk of putting together different companies within a group: a large multinational company could share the same economic activity of a small business and both, although so different, be classified into a common group, since they offer the same types of products or services. The main goal of this dissertation is, using the concept of organizational form proposed by the Organizational Ecology, identify different groups in the software market. Similarly to the gene in biology, the organizational form serves as a set of instructions for the creation and conduction of collective action within the organization. This paper sought to show that within a group of software companies it possible to classify them according to their organizational form, taking into consideration not only their activities, but other attributes that form a company. To identify those attributes, the definitions of the form in Organizational Ecology were used, with a survey of 100 Information Technology companies, which generated five groups of companies, using objective characteristics of the organizational forms.

    Keywords: Organizational form. Industry classification. Organizational ecology. Information technology sector

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .......................................................................................................... 14 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................................... 17 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 17 1.2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 17 1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ..................................................................................... 18 2 REFERENCIAL TERICO ....................................................................................... 19 2.1 ECOLOGIA ORGANIZACIONAL ........................................................................... 19 2.1.1 Populao e Forma Organizacional ............................................................................ 23 2.2 DIMENSES DA FORMA ORGANIZACIONAL .................................................. 26 2.3 CLASSIFICAO ORGANIZACIONAL ................................................................ 33 2.4 CLASSIFICAES DAS EMPRESAS DE SERVIOS DE TECNOLOGIA DE INFORMAO ............................................................................................................................ 39 3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ............................................................... 47 3.1 NATUREZA DA PESQUISA .................................................................................... 47 3.2 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................. 47 3.3 AMOSTRAGEM ........................................................................................................ 48 3.4 TCNICA DE TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS ..................................... 49 4 ANLISE DOS RESULTADOS ............................................................................... 53 4.1 ANLISE FATORIAL .............................................................................................. 53 4.2 ANLISE DE CLUSTER ........................................................................................... 60 5 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 74 REFERNCIAS ............................................................................................................................ 79 ANEXO A Matriz de amarrao ................................................................................................ 82 ANEXO B Correspondncia entre o questionrio de pesquisa e as dimenses da forma .......... 83 ANEXO C Questionrio ............................................................................................................. 85

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - A natureza da taxonomia: procedimentos para a classificao organizacional....... 36 Tabela 2 - CNAE 2.0 - Topo da Hierarquia ............................................................................. 40 Tabela 3 - CNAE 2.0 - Seo J: Informao e Comunicao .................................................. 41 Tabela 4 - CNAE 2.0 - Diviso 62: Atividades dos servios de Tecnologia da Informao ... 42 Tabela 5 - CNAE 2.0 - Classe 6201-5: Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda ................................................................................................................................ 42 Tabela 6 - CNAE 2.0 Classe 6202-3: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizveis ....................................................................................................... 43 Tabela 7 - CNAE 2.0 Classe 6203-1: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador no-customizveis ................................................................................................ 43 Tabela 8 - CNAE 2.0 Classe 6204-0: Consultoria em Tecnologia da Informao ............... 44 Tabela 9 - CNAE 2.0 Classe 6209-1: Suporte tcnico, manuteno e outros servios em tecnologia da informao.......................................................................................................... 45 Tabela 10 - Variveis utilizadas no questionrio original da pesquisa com empresas de software da regio metropolitana de So Paulo (MEIRELLES; BASSO; PACE, 2008) ........ 50 Tabela 11 - Grupos de empresas geradas na anlise de cluster ................................................ 60 Tabela 12 - Grupos de empresas geradas na anlise de cluster distribuio das empresas ... 61 Tabela 13 - Formao de grupos Posicionamento em Inovao e Qualidade ....................... 62 Tabela 14 - Formao de grupos Tamanho da Empresa ....................................................... 62 Tabela 15 - Formao de grupos Barreira a concorrentes ..................................................... 63 Tabela 16 - Formao de grupos Processos internos ............................................................. 63 Tabela 17 - Formao de grupos Lucro operacional ............................................................. 64 Tabela 18 - Formao de grupos Receita Lquida ................................................................. 64 Tabela 19 - Formao de grupos Capital Estrangeiro ........................................................... 64 Tabela 20 - Formao de grupos Nicho ................................................................................ 65 Tabela 21 - Formao de grupos Poder dos clientes ............................................................. 65 Tabela 22 - Formao de grupos Posicionamento em relao a concorrentes Imagem da Marca ........................................................................................................................................ 66 Tabela 23 - Formao de grupos Informao dos clientes .................................................... 66 Tabela 24 - Formao de grupos Posicionamento em relao a concorrentes - Nicho ......... 67 Tabela 25 - Formao de grupos Posicionamento Preo/Prazo ............................................ 67 Tabela 26 - Formao de grupos Capacidade e tecnologia ................................................... 67 Tabela 27 - Formao de grupos Marca ................................................................................ 68 Tabela 28 - Formao de grupos Processos .......................................................................... 68 Tabela 29 - Formao de grupos Investimentos .................................................................... 68 Tabela 30 - Formao de grupos Imagem da Marca ............................................................. 69 Tabela 31 - Formao de grupos Adequao do produto ao cliente ..................................... 69 Tabela 32 - Formao de grupos Nvel de informao dos clientes ...................................... 69

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Abordagens tericas na definio de formas organizacionais ................................. 29 Quadro 2: Atributos da forma organizacional (externos e internos) e seu respectivo referencial terico ....................................................................................................................................... 30 Quadro 3: Dimenses da Forma Organizacional ...................................................................... 31 Quadro 4: Fatores para identificar a forma organizacional ...................................................... 54 Quadro 5: Variveis (fatores) gerados para diminuir a dimensionalidade dos dados .............. 55 Quadro 6: Classificao das variveis por dimenso da forma organizacional (externa ou interna empresa) e pelos indicadores da forma organizacional ............................................. 59 Quadro 7: Grupos encontrados Grupo 1 ................................................................................ 70 Quadro 8: Grupos encontrados Grupo 2 ................................................................................ 70 Quadro 9: Grupos encontrados Grupo 3 ................................................................................ 70 Quadro 10: Grupos encontrados Grupo 4 .............................................................................. 71 Quadro 11: Grupos encontrados Grupo 5 .............................................................................. 71

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Taxonomia de tipos organizacionais comparada com a classificao na Biologia... 38 Figura 2: Caminho utilizado para classificar empresas de software-regio metropolitana de So Paulo .................................................................................................................................. 49

  • 14

    1. INTRODUO

    De acordo com a viso de Ecologia Organizacional, dentro de um mesmo setor podem existir diversas populaes de empresas. Segundo os autores desta abordagem populacional (HANNAN; FREEMAN, 1977; ALDRICH, 1979; ALDRICH; MCKELVEY, 1983), cada populao de empresas envolve uma forma organizacional especfica.

    Conforme assinala Aldrich (1979), a correta classificao a priori das empresas de acordo com a sua forma organizacional fundamental na anlise da dinmica evolucionria, pois organizaes competindo por recursos em um mesmo ambiente, mas usando formas diferentes, tm probabilidades diferentes de serem positivamente selecionadas.

    Em geral, a classificao de empresas realizada por tipo de produto ou servio oferecido, chamada de atividade econmica. Implicitamente, como afirmam Hsu e Hannan (2005), o pesquisador utiliza os tipos de servios ou produtos oferecidos como sendo a forma organizacional que define uma populao Assume-se, desta maneira, que a forma organizacional de uma empresa caracterizada pelo resultado de suas operaes ou das atividades que exerce.

    No entanto, o conceito de forma organizacional envolve outras dimenses da forma organizacional alm da atividade econmica, como processos internos, rotinas, objetivos e misso, tecnologia usada, nicho de recursos, cdigo culturais, entre outros atributos.

    No artigo clssico de Hannan e Freeman (1977), a forma organizacional definida como sendo composta por: estrutura, processos, definio formal de controle e autoridade de uma empresa, que formam as suas caractersticas fundamentais.

    Na definio de Ulrich (1987), forma organizacional a maneira como as organizaes mobilizam seus recursos na busca de seus objetivos, adotam caractersticas de autoridade, usam a tecnologia e estruturam seu marketing.

    Classificar as empresas apenas pelos objetivos (produtos ou servios principais oferecidos) faz-lo olhando apenas uma das dimenses possveis da forma organizacional (ALDRICH, 1979). Esta limitao das classificaes tem implicaes tanto do ponto de vista estratgico das empresas quanto de poltica pblica.

  • 15

    No cotidiano das organizaes existe uma necessidade de se agrupar empresas-clientes nas relaes B2B (abreviao de business-to-business, que caracteriza os negcios entre empresas, sem envolvimento do consumidor final), para se tomar aes especficas e focalizadas a um determinado grupo, visto que preciso muito investimento para atingi-los um a um e que tambm pode ser um desperdcio financeiro atingir um grupo maior do que o necessrio. Muito deste trabalho de classificao nas empresas chamado de segmentao de clientes ou mercados. Kotler (2000) define um segmento de mercado como um grupo identificado a partir de suas preferncias, poder de compra, localizao geogrfica, atitudes e hbitos de compra. E um nicho uma diviso deste segmento, de consumidores que procuram um mix de benefcios distintos e nicos. Se for considerado o ambiente de relaes entre empresas, pode-se perceber que estes consumidores so outras organizaes, que formam um segmento ou uma populao a ser atendida.

    Tambm para criar e aplicar incentivos em setores especficos as aes governamentais so realizadas nestes grupos separados por atividade econmica. Desta forma, empresas de tamanhos e formas totalmente distintos recebem de maneira igualitria os mesmos benefcios, como um potencial corte em impostos, por exemplo.

    As pesquisas sob a tica da Ecologia Organizacional tm como unidade de anlise a populao de empresas e dependem fortemente de que estas populaes estudadas realmente representem unidades sociais significativas (HSU; HANNAN, 2005). Desta forma, agrupar empresas de acordo com as formas organizacionais encontradas, caracterizando as populaes correspondentes de acordo com a identidade de seus membros, pode ser muito til inclusive em pesquisas posteriores (ULRICH, 1987). A falha em se distinguir populaes significantes pode invalidar tentativas de se estabelecer processos genricos em pesquisas empricas (HANNAN; FREEMAN, 1989).

    Considerando a importncia de se classificar organizaes para que seja possvel identificar e analisar as diferenas entre elas, este estudo procura evidenciar que as empresas podem ser classificadas de maneiras diferentes, usando o conceito de forma organizacional.

    No Brasil, a classificao nacional das atividades econmicas (CNAE), adotada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, segue o padro de classificao definido pela ONU (ISIC International Standard Industrial Classification) e est baseada nos servios ou produtos que as empresas oferecem.

  • 16

    Estudo recente de Guimares (2009) sobre aglomeraes de empresas de servios Intensivos em Conhecimento (tambm conhecidas como KIBS, sigla em ingls de Knowledge Intensive Business Services) identificou concentraes de empresas de servios de tecnologia de informao (grupo 620, CNAE 2.0), em vrias regies do pas (Centro-Oeste, Sul e Sudeste), incluindo cidades como Blumenau, Joinville, Florianpolis, So Paulo, entre outras. Todavia, estas aglomeraes no necessariamente refletem populaes de empresas, tal como so definidas pela Ecologia Organizacional, ou seja, um conjunto de empresas com a mesma forma organizacional. Uma grande empresa multinacional, por exemplo, pode compartilhar o mesmo espao geogrfico que uma microempresa ou oferecer os mesmos produtos e servios, mas no compartilhar outras caractersticas da forma organizacional.

    Fazem parte do grupo 620 as seguintes atividades: desenvolvimento de programas de computador sob encomenda, desenvolvimento e licenciamento de programas de computador, consultoria em tecnologia de informao e suporte tcnico e outros servios de tecnologia de informao. Dentro deste grupo encontram-se os mais diversos tipos de empresas, dos mais variados tamanhos e caractersticas.

    A pergunta que surge da leitura do estudo de Guimares (2009) : um grupo de empresas sob um mesmo cdigo de atividade econmica constitui uma populao de organizaes? Deveriam existir tantas populaes num grupo quantas fossem as formas

    organizacionais nele existentes, j que uma populao formada por organizaes que possuem a mesma forma organizacional (HANNAN; FREEMAN, 1977).

    A proposta aqui verificar as potenciais diferenas no grupo de empresas de informtica localizadas na regio metropolitana de So Paulo, identificando segmentos de acordo com indicadores de forma organizacional.

    Espera-se que sob o cdigo CNAE 620 haja vrias populaes distintas, derivadas da identificao das diferentes formas organizacionais existentes neste grupo. As empresas ento poderiam ser agrupadas sob uma nova classificao, de acordo com as caractersticas das formas organizacionais encontradas.

    Outro fator relevante a se observar que no trabalho de Carroll e Hannan (2000) eles identificam no chamado Vale do Silcio dos Estados Unidos uma grande diversidade de formas organizacionais entre os diversos grupos de empresas da regio. Por isso tambm apareceu a vontade de se estudar as formas organizacionais das empresas de Tecnologia de

  • 17

    Informao em algumas regies do Brasil. claro que no se pretende fazer nenhuma comparao entre o Vale do Silcio americano e as empresas de software brasileiras. No entanto, este estudo pode ser um indcio que, como l, a diversidade de formas deve ser muito maior do que as somente cinco classes de empresas divididas e agrupadas de acordo com os produtos e/ou servios que oferecem ao mercado, identificados como sendo sua atividade econmica, por meio do CNAE 2.0.

    Dentre as diferenas a serem avaliadas esto as formas de controle, estrutura organizacional (HANNAN; FREEMAN, 1987), objetivos - produtos, servios ou interesses principais (ALDRICH, 1979), processos (ULRICH, 1987), elementos da estrutura interna (ULRICH, 1987; McKELVEY, 1982) e nichos de recursos (CARROLL; HANNAN; 1995).

    1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

    Com base na justificativa do trabalho e na reviso terica, o problema de pesquisa :

    Quais so as diferenas entre as vrias populaes de empresas que compem a aglomerao de servios de tecnologia de informao na regio metropolitana de So Paulo?

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 OBJETIVO GERAL

    Caracterizar as diferenas entre as populaes de empresas que compem as aglomeraes de tecnologia de informao na regio metropolitana de So Paulo, mais especificamente as empresas de servios de software, e agrup-las a partir do conceito de forma organizacional.

  • 18

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    I. Identificar as dimenses das formas organizacionais nas perspectivas interna e externa das empresas

    II. Agrupar as empresas de acordo com as dimenses da forma organizacional

    Para atingir os objetivos propostos, os indicadores da forma organizacional foram obtidos a partir de uma base de dados primria composta de 100 empresas do setor de software, localizadas na regio metropolitana de So Paulo. Esta base de dados oriunda de uma pesquisa que originalmente serviu como base para anlise do impacto de recursos especficos das empresas no seu desempenho competitivo, especificamente no setor de software brasileiro (MEIRELLES; BASSO; PACE, 2008).

    As tcnicas estatsticas utilizadas incluem a anlise fatorial, para identificao das dimenses da forma organizacional, bem como a tcnica de anlise de cluster, em que so agrupadas as populaes de empresas que apresentam indicadores semelhantes ou prximos.

    O estudo a seguir apresentado em trs captulos, alm desta introduo, concluso, referncias bibliogrficas e os anexos. O primeiro captulo apresenta a fundamentao terica, dividida em quatro sees. A primeira seo aborda os conceitos e pressupostos da Ecologia Organizacional. A segunda se refere s dimenses da forma organizacional. A terceira trata da classificao organizacional e a ltima aborda as caractersticas e classificaes das empresas de Tecnologia de Informao.

    No segundo captulo so apresentados os procedimentos metodolgicos adotados e a anlise dos resultados da pesquisa. E, por fim, no terceiro so debatidas as concluses e apresentadas as consideraes finais.

  • 19

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 ECOLOGIA ORGANIZACIONAL

    Ecologia geralmente definida como o estudo da relao entre os organismos e seu ambiente (HAWLEY, 1986). E organizaes so os jogadores do jogo econmico, enquanto as instituies atuam como a regra do jogo (NORTH, 1992). Exemplos de organizaes, segundo North (1992) so: partidos polticos, senado, agncias regulatrias, empresas (ou firmas), sindicatos, fazendas familiares, cooperativas, igrejas, clubes, escolas, colgios. No entanto, em Ecologia Organizacional, as organizaes so sinnimo de empresas, no se usando a terminologia mais ampla, da Economia (HANNAN; FREEMAN, 1977). A Ecologia Organizacional, tambm chamada de ecologia populacional, seleo natural ou perspectiva populacional (ULRICH, 1987), tem recebido cada vez mais ateno e um dos domnios tericos mais em evidncia nos estudos sobre organizaes (CUNHA, 1999).

    Hannan e Freeman (1977), em artigo intitulado Ecologia Populacional das Organizaes comentam que muitas das abordagens de gesto empresarial pem foco na adaptao das empresas em relao s mudanas que ocorrem no ambiente: os gestores buscam entender o que acontece no ambiente no presente e se antecipar s suas mudanas potenciais futuras. Grande parte da misso de um lder empresarial proteger a organizao de perturbaes externas e realizar ajustes mnimos na estrutura organizacional para responder a essas mudanas, colocando o foco nas mudanas adaptativas das organizaes. No entanto, apesar dos esforos de adaptao que as empresas lanam mo, muitas vezes o ambiente muda mais rpido que as mesmas so capazes de se adaptar ou mudam de forma diferente do que a imaginada pelos seus gestores. Neste momento, por um processo de seleo natural, sobrevivem as empresas que esto em melhores condies de responder ao ambiente que muda. Contudo, esse foco na seleo natural sofre tambm muitas crticas, como se ver adiante.

    Hannan e Freeman (1977) so considerados os autores seminais sobre Ecologia Organizacional e a definem como uma abordagem para a macro sociologia das organizaes baseada em modelos genricos de ecologia e evoluo de populaes e comunidades de organizaes de empresas. O objetivo desta perspectiva de entender as foras que moldam as estruturas das organizaes no tempo. Para fazer essa comparao com a biologia e seus

  • 20

    aspectos ecolgicos, se inspiraram principalmente em autores como Amos Hawley (1986), que desde os anos 1950 fazia comparaes entre a ecologia das plantas, como organismos se relacionando com o ambiente, com os seres humanos, lanando mo da teoria de bioecologia dos anos 1930 para explicar os padres de adaptao das comunidades humanas por meio de definies ecolgicas. Hawley (1986) se baseia principalmente no conceito de isomorfismo, em que unidades sujeitas s mesmas condies ambientais ou mediadas por uma dada unidade-chave adquirem uma forma similar de organizao.

    Os autores em Ecologia Organizacional procuram explicar como as condies polticas, econmicas e sociais afetam a relativa abundncia e diversidade de organizaes e tentam justificar sua composio mutante ao longo do tempo (BAUM, 1996).

    No entanto, a abordagem da Ecologia Organizacional baseada na seleo natural e na generalizao do darwinismo, tambm chamado de darwinismo universal, termo criado por Dawkins (1976), recebe tanto fortes crticas como defesas importantes. A verso do darwinismo universal que engloba a Economia e outras cincias sociais se baseia na tese que o prprio Darwin sugeriu sobre a ideia de se utilizar os princpios essenciais de sua teoria para cobrir a evoluo de entidades sociais (ALDRICH et al, 2008). Esta tese utiliza os trs princpios de variao, seleo e reteno (ALDRICH, 1979; HODGSON, 2002) como fonte de uma comparao entre biologia e as cincias sociais. A seleo natural se d pela perseverana do mais capaz (DARWIN, 1859). Aldrich e outros pesquisadores escreveram uma espcie de manifesto em defesa da generalizao do darwinismo em 2008, em que reivindicam que fenmenos sociais ou econmicos no podem ser explicados em termos biolgicos, mas possvel aprender dos debates da biologia de maneira que se entenda a lgica dos conceitos como: adaptabilidade (fitness), adaptao e unidade de seleo. Ao invs de propor uma analogia, em que estudos de um domnio so tomados como referncia para outro domnio em estudos de fenmenos similares, propem uma generalizao mais ampla, em que se pode compartilhar os mesmos princpios. Como exemplo, comentam que embora bolas de bilhar e planetas obedeam s mesmas leis da fsica, h enormes diferenas com relao a tamanho, composio e forma dos dois domnios. Mas perfeitamente possvel generalizar comportamentos fsicos de ambos porque os mesmos princpios se aplicam aos corpos, apesar das principais diferenas em suas caractersticas.

  • 21

    Os crticos do uso da definio de seleo natural das cincias biolgicas nas cincias sociais (como Antropologia ou Economia) identificam alguns graves problemas (POSSAS, 2008):

    1. Unidade de seleo: a grande questo qual o gene econmico? Nelson e Winter (1982) apesar de elegerem as rotinas como a unidade de seleo reconhecem que tanto as rotinas como as formas organizacionais, as tecnologias ou

    as instituies so inadequados para essa a analogia, por terem baixa persistncia e alta capacidade de mudana endgena.

    2. Intencionalidade da ao humana nos ambientes socioeconmicos: envolve cognio, desejos e criatividade, tpicos das aes humanas e que so ausentes nos processos naturais de variao evolutiva. Nas organizaes, tanto inovaes como adaptaes (que ambas podem ser consideradas como sendo inovao, uma disruptiva, outra realizada aos poucos), geradoras de variao, resultam de processos cognitivos, envolvendo imaginao, planejamento estratgico e aprendizado.

    3. Transmisso dos caracteres adquiridos: na esfera socioeconmica existe a

    possibilidade lamarckiana de transmisso de caracteres adquiridos, o que ampla ou completamente excludo da evoluo gentica.

    4. Caracterizao imprecisa do mecanismo de adaptabilidade (fitness): no fica claro qual o mecanismo em que se d o processo de seleo, o que determina o sucesso ou no da empresa. Usam-se conceitos como da lucratividade ou da competitividade, mas ambos tm limitaes importantes para serem caracterizados como os mecanismos para seleo.

    5. Mutaes (inovaes) no so aleatrias: ao contrrio, em geral so geradas pelas prprias empresas e transmitidas (como j comentado) por processos lamarckianos.

    Outra crtica que recebe a Ecologia Organizacional sobre seu carter anti-management, em que os gestores tm um papel passivo na administrao das empresas, j que o ambiente responsvel pelas mudanas. As empresas seriam entidades inertes, incapazes de empreender reorganizao de objetivos, estrutura, formas de controle, tecnologia

  • 22

    e segmentos de mercado (AMBURGEY; HAYAGREEVA, 1996). Dessa forma no so as organizaes que mudam, mas sim as populaes (DONALDSON, 1995). Cunha (1999) aponta que embora estas consideraes sejam verdadeiras, o fato da Ecologia Organizacional ter como unidade de anlise a populao traz em si uma viso mais ampla da evoluo da indstria e no exclui a investigao em outros nveis, como as organizaes.

    Vale ressaltar que Hannan e Freeman (1989) afirmam que no procuram usar a teoria biolgica para explicar as mudanas organizacionais; nem ao menos propem o desenvolvimento de metforas entre populao biticas e as populaes de organizaes. Eles apenas usam o modelo da biologia porque parece que este clarifica de maneira mais adequada os processos analisados.

    Trs importantes premissas formam o centro dos estudos em Ecologia Organizacional (ou perspectiva da populao) e se distinguem de outras maneiras de se estudar uma organizao (ULRICH, 1987):

    1) A unidade de anlise a organizao ou uma populao de organizaes semelhantes, no indivduos;

    2) Teorias e pesquisas em Ecologia Organizacional assumem que explicaes do por que e como as organizaes mudam e sobrevivem devem se focalizar no processo de seleo ambiental;

    3) Teorias e pesquisas em Ecologia Organizacional assumem que mudanas organizacionais somente podem ser investigadas por meio de uma anlise longitudinal da evoluo organizacional, enfatizando as taxas vitais de nascimento e morte.

    Ulrich (1987) defende a necessidade de se deixar mais claras as definies das unidades de anlise na Ecologia Organizacional, distinguindo as organizaes individuais das formas organizacionais e, estas, das populaes. As definies destas unidades de anlise vem a seguir.

  • 23

    2.1.1 Populao e Forma Organizacional

    A Ecologia Organizacional se baseia na biologia para identificar e utilizar unidades de anlise, porm, diferentemente da biologia, em que o sistema composto por trs unidades (indivduo, populao e comunidade), na Ecologia Organizacional, so cinco os nveis: membros, subunidades, organizaes individuais, populaes de organizaes e comunidades de organizaes (HANNAN; FREEMAN, 1977). Como organizaes, a Ecologia Organizacional trata somente o que em Economia se conhece como empresas ou firmas.

    Unidade organizacional: no mbito dos estudos em Administrao, particularmente da Ecologia Organizacional, representa a menor unidade possvel de uma empresa, que tenha as responsabilidades por comercializar um produto ou servio, pelo planejamento estratgico e objetivos dessa unidade, pela definio e acompanhamento do desempenho gerado, pela definio e acompanhamento das relaes (reporting relationship) e pelo desenvolvimento e utilizao de processos tcnicos nicos para se entregar um produto ou servio. Portanto, o que alguns autores, como Hannan e Freeman (1977) e McKelvey (1982), chamam de organizao individual so na verdade unidades organizacionais de uma empresa. Exemplos de unidades organizacionais so cada um dos 29 centros de lucro, como eram chamadas as unidades da Westinghouse Corporation em 1984, pois a definio de cada uma delas adere aos critrios estabelecidos acima (ULRICH, 1987).

    Forma organizacional: representa um conjunto de unidades organizacionais com caractersticas comuns, como estruturas internas, processos utilizados por cada estrutura e processos de integrao, que possuem competncias semelhantes, necessrias para se oferecer um produto ou servio. Unidades organizacionais que compartilham formas comuns compem uma populao.

    Sendo a unidade de anlise por excelncia da Ecologia Organizacional, a populao de organizaes, definida como um grupo de empresas que compartilham a mesma forma organizacional, as pesquisas sobre estas populaes dependem fortemente da representatividade destas como unidades sociais significantes (HSU; HANNAN, 2005).

    Em Ecologia Organizacional, o termo populao usado para agregados de empresas, mais do que de membros. De acordo com Hannan e Freeman (1977), uma populao organizacional, no mbito da Administrao e Economia, formada por um conjunto de empresas que possuem a mesma forma organizacional. Tambm pode ser entendida como

  • 24

    uma coleo de organizaes com um grau semelhante de dependncia do ambiente e dos recursos que limitam as atividades que elas podem realizar e moldam sua estrutura (GEROSKI, 2001).

    Na definio de McKelvey (1982), populaes so um grupo de organizaes que se parecem nas competncias necessrias para oferecer um produto ou servio essencial para sua contnua sobrevivncia.

    Vale lembrar que o conceito de populao existe em outras reas de estudo: na Biologia, em Estatstica, em Demografia, em Sociologia ou em Economia. Aqui foi utilizado o conceito da Ecologia Organizacional, que teve clara influncia da Biologia.

    Mas se duas organizaes so afetadas de maneiras diferentes por aes externas, como definir ento uma populao como sendo um conjunto de que tipos de organizaes?

    As populaes tm um carter nico, que as diferenciam das demais, e possuem uma dependncia comum em relao ao ambiente. Desta forma, os membros de uma populao so afetados de maneira semelhante pelas mudanas que ocorrem no ambiente. No entanto, uma populao no deve ser definida depois que uma mudana ocorre e pode-se a identificar as organizaes que so afetadas de maneira semelhante. A definio deve ser realizada a priori, usando informaes sobre as caractersticas das organizaes ou definindo suas fronteiras sociais (HANNAN; FREEMAN, 1989).

    Nos ltimos anos, muitas das pesquisas em Ecologia Organizacional foram realizadas analisando-se histrias de empresas em determinadas populaes, definidas como sendo um conjunto de organizaes com formas comuns, o que aumenta a possibilidade de comparaes entre os estudos. No entanto, como o conceito de forma organizacional carece, todavia, de uma especificao clara, a definio das fronteiras de uma populao tambm apresenta a mesma falta de claridade. Infelizmente, tambm h pouca concordncia entre os pesquisadores em como definir formas organizacionais (HSU; HANNAN, 2005).

    Hannan (2005) cita que especificar as formas organizacionais e as fronteiras das populaes para uma anlise produtiva um grande desafio. A falta de uma definio clara desses nveis de anlise pode criar dificuldades para se agregar pesquisas de Ecologia Organizacional, porque algumas aplicam modelos de seleo para organizaes individuais,

  • 25

    outras para populaes, por exemplo. E se estes modelos podem ser aplicados para os dois nveis, qual o valor resultante dessa diviso?

    O conceito de forma organizacional foi definido inicialmente por Hannan e Freeman (1977) como um conjunto de caractersticas de uma empresa, dentro de um limite bem definido, usadas para sua constituio e atuao. Estas caractersticas incluem: estrutura, processos, definio formal de controle e autoridade. Existe claramente a uma analogia com a biologia, j que as formas organizacionais so como uma estrutura de protenas no DNA. Enquanto o DNA constitui-se num conjunto de instrues para criao de estruturas biolgicas, a forma organizacional um conjunto de instrues para criao e conduo das aes coletivas no mbito da organizao.

    O interessante deste conceito que a definio se d pelos recursos que as organizaes utilizam, no pelo o que elas fazem. Segundo Geroski (2001), por esse critrio duas organizaes que paream iguais ou sirvam para aparentemente o mesmo objetivo podem pertencer a populaes diferentes, se as necessidades de recursos so tambm diferentes. De acordo com o exemplo do autor, apesar das empresas americanas Wal Mart e Amazon serem duas empresas de varejo, que vendem produtos diretamente ao consumidor final, provavelmente pertencem a populaes diferentes (visto que uma vende em grande por meio de lojas fsicas enquanto a outra depende totalmente da venda pela Internet).

    Plos et. al. (2002) sugerem que formas e populaes se desenvolvem em conjunto, um afeta o outro: formas definem populaes, mas populaes definem identidades como as geradas por regras culturais que, por conseguinte, definem as formas.

    Mas o que exatamente uma forma? Que papis as formas assumem nas teorias sociolgicas ou organizacionais? Esta tambm a pergunta realizada e que tenta ser respondida por Plos et. al. (2002). Os autores afirmam que apesar do conceito ser central nas pesquisas sobre organizaes, aes coletivas, arte e cultura, surpreendentemente pouca ateno tem sido colocada em clarific-lo. A ambiguidade inicial pode ter sido til nos primeiros estgios de pesquisas, mas atualmente necessrio unificar o entendimento do que forma, para se obter um conceito comum entre as disciplinas.

  • 26

    2.2 DIMENSES DA FORMA ORGANIZACIONAL

    O conceito de forma organizacional parece bvio quando se estrutura as atividades da das empresas modernas (ALDRICH; RUEF, 1999). Quando se fala de hospitais, indstria automobilstica, por exemplo, esses construtos no necessitam ser definidos, porque j existe uma definio intuitiva do que seja um hospital ou uma indstria fabricante de automveis, e a classificao das organizaes parece simples.

    As diversas abordagens baseadas em caractersticas das organizaes tratam as diferenas entre formas apenas como arranjos estruturais, como se as formas pudessem ser definidas em puros termos tcnicos. Muitas das teorias organizacionais e as pesquisas realizadas nesta rea assumem que uma grande quantidade de diversidade dos atributos das organizaes reflete uma variao em implementao de um nmero relativamente pequeno de formas organizacionais (HANNAH; FREEMAN, 1986).

    Todavia, o conceito de forma organizacional mais complexo e abstrato. Estudos explorando uma linha de trabalho que define as formas em termos de claridade e fortaleza das fronteiras sociais das organizaes, como o de Hannan e Freeman (1986), mostram que os processos que criam e reproduzem essas fronteiras, sejam estas de ligaes das redes sociais, fluxos estreitos de pessoas entre um conjunto de organizaes, descontinuidades tecnolgicas, movimentos sociais articulando os interesses de um conjunto de organizaes ou outras, so elementos-chave para se entender formas organizacionais (PLOS et. al., 2002).

    Segundo Plos et. al. (2002), na definio de formas organizacionais, o aparato conceitual deveria ser construdo sobre teorias que produzem respostas empiricamente testadas para a seguinte questo: o que os agentes sociais reconhecem quando enxergam uma forma? Ou o que eles identificam como as fronteiras de uma forma organizacional?

    Na definio do trabalho seminal de Hannan e Freeman (1977), forma organizacional um conjunto de caractersticas comuns de um grupo de empresas, que estabelecem um limite definido, usado em sua criao e atuao. Os autores tambm a consideram como o desenho organizacional que serve como base das aes das empresas em transformar entradas em sadas. A forma composta pela estrutura organizacional, pelos processos e pela definio formal de controle e autoridade.

  • 27

    Segundo McKelvey (1982), forma organizacional composta por elementos da estrutura interna, processos e subunidades de integrao que contribuem para a unidade de toda uma organizao e a manuteno de suas atividades, funes ou natureza caractersticas. Aldrich (1979) se utiliza de trs dimenses para definir o conceito de forma organizacional: 1) objetivos o produto, servio ou interesse principal da organizao que a mais comum das caractersticas usadas para distinguir as organizaes; 2) sistemas utilizados nas atividades, como tecnologias, formas de produo, processos, participao em redes; e 3) fronteiras das organizaes se controlada por autoridades internas s organizaes ou de fora dela, se vulnervel ou no a presses externas, por exemplo.

    As formas vo tomando corpo com o tempo, assumindo caractersticas que as tornam legtimas ou se identificam com as outras organizaes (HANNAN; FREEMAN, 1986).

    Hannan e Freeman (1986) fazem uma comparao das formas com estruturas biolgicas: da mesma maneira que o DNA o conjunto de instrues usado na construo de estruturas biticas, as formas organizacionais podem ser definidas como um conjunto de instrues para a construo de organizaes, conduzindo as aes coletivas. A forma, nessa analogia um blueprint, um desenho, uma planta ou um esboo de como uma organizao ser construda. No entanto, as instrues contidas neste manual (blueprint) sofrem o impacto de conceitos culturais, treinamento daqueles que vo implement-lo, qualidade das ferramentas e recursos disposio e a natureza dos choques ambientais que sero enfrentados pela organizao durante o perodo de sua montagem. Portanto, populaes, mesmo que tenham formas diferentes, podem compartilhar caractersticas observveis semelhantes.

    H um grande nmero de autores que afirmam que as pesquisas sobre forma organizacional deveriam atingir a parte central e principal do tema: a identidade das organizaes (HSU; HANNAN, 2005). Esta identidade consiste em cdigos sociais ou conjunto de regras, especificando e limitando as caractersticas que se espera que uma organizao possua ou as aes que esta tome (HANNAN, 2005; PLOS et. al., 2002, HSU; HANNAN, 2005). Essa identidade reflete a expectativa do que os autores chamam de audincia das organizaes, que so uma conjunto de agentes com interesses no domnio e controle sobre os recursos materiais e simblicos que afetam seu sucesso e seu fracasso (HSU; HANNAN, 2005). Os compradores ou clientes de uma organizao so uma audincia importante para qualquer organizao, mas no os nicos (HANNAN, 2005). Como uma

  • 28

    organizao interage com vrios tipos de audincia, de vrias maneiras, com mltiplas identidades, os pesquisadores de organizaes comeam a repensar inclusive como definir populaes (HANNAN, 2005). Em um exemplo, Rao (2003) estudando o papel da identidade na gastronomia francesa entrevistou crticos gastronmicos, membros das maiores faculdades de culinria e os principais chefs de cozinha para conseguir um entendimento contextual do conjunto de cdigos que especificam identidades entre os praticantes da nouvelle cuisine em contrapartida daqueles da cozinha clssica. O conjunto de cdigos da cozinha clssica inclui, por exemplo, a celebrao do conservadorismo, do chef como um empregado de apoio ao dono do restaurante e um longo cardpio. J o conjunto da nouvelle cuisine inclui a celebrao da inovao e imaginao, do chef como centro das operaes e um cardpio extremamente reduzido. O estudo mostra como a forte teorizao dos jornalistas sobre a nouvelle cuisine influenciou a propenso dos chefs, na Frana, para moverem-se da cozinha clssica para a nouvelle cuisine, demonstrando empiricamente como aes e crenas da audincia externa podem ter um papel significante em moldar identidades.

    A identidade no apenas uma lista de caractersticas observveis e no pode ser detectada somente por meio da constncia de um conjunto de caractersticas dentro de uma organizao. A identidade organizacional reside na audincia da organizao e no dentro da organizao em si. Os pesquisadores tm que analisar as percepes, crenas e aes das audincias para que sejam um guia dos cdigos relevantes para uma identidade especfica (HSU; HANNAN, 2005).

    A identidade, portanto, um conjunto de regras e cdigos sociais que especificam as propriedades que uma organizao pode legitimamente possuir. Esses cdigos so reforados tanto por elementos de dentro de uma organizao como pelos de fora dela. E, desta maneira, uma populao pode ser definida como um conjunto de organizaes com uma identidade mnima comum em um sistema delimitado em um perodo de tempo, j que a forma organizacional definida como um tipo de identidade socialmente codificada. Identidade mostra como se espera que uma organizao que a possui atue (PLOS et. al., 2002).

    Numa tentativa de consolidar as vrias vises sobre forma organizacional, Aldrich e Rueff (1999) organizam estas vises a partir da percepo em relao ao papel da percepo (objetiva e subjetiva) e o foco em relao s fronteiras da organizao (interno e externo).

  • 29

    Foco em relao ao papel da percepo Interno Externo

    ObjetivoDesenhos de organizaes (blueprints )

    Nichos de recursos

    Subjetivo Identidades organizacionais Cdigos culturais

    Foco em relao s fronteiras da organizao

    Quadro 1: Abordagens tericas na definio de formas organizacionais Fonte: Aldrich e Ruef, 1999, p. 115

    Pela percepo subjetiva, tanto do ponto de vista interno como externo organizao, as dimenses da forma organizacional so ligadas a fatores como percepes e crenas dos stakeholders (tambm chamados por audincia, neste trabalho), que so as identidades organizacionais, ou ligadas cultura do ambiente em que a organizao se encaixa.

    Na percepo objetiva a forma organizacional pode ser medida e identificada por meio de uma estrutura organizacional formal, pelos processos utilizados (sob uma perspectiva interna organizao) ou pelos recursos que a empresa utiliza, como fornecedores, clientes, controladores, produtos, tecnologias, etc.

    No quadro 2 se observam os possveis atributos da forma que podem ser encontrados nas empresas, do ponto de vista objetivo (ao contrrio do subjetivo, que mostra aspectos de identidade organizacional, pelos traos de cultura, por exemplo) na viso dos respectivos autores. Por exemplo, Hannan e Freeman (1986) afirmaram em seu trabalho que identificamos atributos da forma organizacional observando-se trs aspectos: estrutura (ou forma de autoridade), objetivos (ou misso) e formas de controle. Em trabalhos subsequentes os mesmos autores falam sobre nichos de recursos. Percebe-se que a viso muda, passando de um olhar muito mais interno para algo mais amplo, incluindo os recursos do ambiente, como fornecedores, clientes, governo, etc.

  • 30

    Foco Atributos AutoresInterno Processos Aldrich (1979), Ulrich (1987), Hannan; Freeman (1977)

    Rotinas Aldrich; Ruef (1999), Nelson; Winter (1982)Estrutura / formas de autoridade Hannan; Freeman, 1986Controle Hannan; Freeman (1977, 1986)Competncias McKelvey (1982)Objetivos/Misso Hannan; Freeman (1986)Estratgia de marketing Carroll; Hannan (1995)

    Externo Tecnologia principal Aldrich; Ruef (1999)Clientes Carroll; Hannan (1995)Fornecedores Carroll; Hannan (1995)Participao em redes Aldrich; Ruef (1999)Nicho de recursos Hannan; Freeman, 1989Governo Hannan; Freeman, 1986Localizao geogrfica Lomi (1995)

    Quadro 2: Atributos da forma organizacional (externos e internos) e seu respectivo referencial terico Fonte: Autores de Ecologia Organizacional - Elaborado pelo autor

    O quadro 3 relaciona as vrias propostas conceituais de forma organizacional a partir de dimenses variadas, incluindo desde objetivos (produtos, servios ou interesses principais) at rotinas e identidade organizacional.

  • 31

    Autores Dimenses

    Aldrich (1979)

    Variaes em: objetivos (produtos, servios ou interesses principais), sistemas utilizados nas atividades (tecnologia, processos, participao em redes), fronteiras das organizaes (controles externos/internos, vulnervel ou no a presses externas)

    Aldrich; Ruef (1999) Rotinas como a fundao das formas organizacionais

    Carroll; Hannan (1995), Hannan; Freeman (1989), Aldrich; Ruef (1999)

    Nichos de recursos

    Hannan (2005) Identidade organizacional

    Hannan; Freeman (1977) Estrutura organizacional, padres de atividade organizacional (processos), ordens normativas (definio formal de controle e autoridade)

    Hannan; Freeman (1986) Blueprints (desenhos de organizaes); analogia com Biologia: formas como DNA da organizao; criao e eroso das fronteiras do mundo organizacional (fronteiras sociais)

    Hsu; Hannan (2005) Identidade organizacional: identidade no est s na organizao, mas dentro da audincia das organizaes: percepes, crenas e aes da audincia.

    Lomi (1995) Dependncia de localizao geogrfica

    McKelvey (1982) Elementos da estrutura interna, processos e subunidades de integrao que contribuem para a unidade de toda uma organizao e a manuteno de suas atividades, funes ou natureza caractersticas

    Plos; Hannan; Carroll (2002) Identidade organizacional, reforada por cdigos culturais

    Ulrich (1987) Estruturas internas, processos utilizados por cada estrutura e processos de integrao, que possuem competncias semelhantes, necessrias para se oferecer um produto ou servio

    Quadro 3: Dimenses da Forma Organizacional Fonte: Autores de Ecologia Organizacional - Elaborado pelo autor

    Mesmo havendo pouco consenso em como descrever as formas organizacionais, pode-se definir forma organizacional como a maneira na qual as organizaes mobilizam individualmente seus recursos para estabelecer e buscar seus objetivos, adotar formas de autoridade, utilizar tecnologia e estruturar seu marketing (ULRICH, 1987). Os recursos

  • 32

    utilizados pelas organizaes incluem consumidores e fornecedores, necessrios para que elas obtenham lucro e possam sobreviver e crescer (GEROSKI, 2001).

  • 33

    2.3 CLASSIFICAO ORGANIZACIONAL

    A primeira pergunta que surge quando algum prope fazer algum tipo de classificao em estudos organizacionais : grupos ou populaes homogneos de empresas realmente existem? E podem ser identificados? (ULRICH; McKELVEY, 1990). Uma reviso da literatura, proposta por McKelvey (1982) permite dizer que com bases na teoria e nas pesquisas empricas a resposta para a questo sim, possvel identificar grupos homogneos de empresas. Em geral esses agrupamentos de empresas usam o senso comum para classificar as organizaes como sendo sindicatos, empresas de semicondutores, jornais, restaurantes ou entidades de voluntariado (ULRICH; McKELVEY, 1990), por exemplo.

    Muitos economistas assumem, em geral, que as populaes, definidas de acordo com as formas organizacionais que as compem, tm uma correspondncia direta com as categorias industriais convencionais, como aquelas que so utilizadas para classificao por atividade econmica. Algumas populaes estudadas pela tica da Ecologia Organizacional correspondem a indstrias. Outras correspondem a nichos dentro de uma indstria. No entanto, existem populaes de organizaes classificadas de acordo com a forma organizacional das empresas existentes que no se ajustam a nenhuma noo convencional de classificao industrial (HANNAN, 2005) e dentro de um segmento identificado pelo senso comum (como por exemplo, restaurantes) podem existir diversas populaes e formas organizacionais (ULRICH; McKELVEY, 1990).

    Classificao um sistema de comunicao e o melhor sistema aquele que combina o maior contedo de informao com a maior facilidade para a busca desta informao (MAYR, 1969). Classificar algo que nos ajuda a organizar e estruturar nosso conhecimento de uma maneira muito mais produtiva e transfervel do que apenas uma lista de descries de itens, como organismos, empresas, pases, objetos, etc. (COCCIA, 2006).

    Classificar no apenas listar objetos ou outros itens; a classificao compreende aspectos cognitivos e de linguagem (McCARTHY, 2006). tanto um processo como um produto que prov modelos mentais para ordenar, rotular e articular conhecimento sobre o mundo em que vivemos. No entanto, qualquer classificao incompleta, parcimoniosa e de constante evoluo, permitindo desenvolvimento e refinamento contnuos.

  • 34

    Como a classificao um processo comum nas cincias fsicas e sociais, muitas vezes resulta em muitos tipos de interpretao e frequente mau uso dos itens classificados (COCCIA, 2006). Portanto, em estudos organizacionais, a taxonomia formada por teoria e mtodos para separar organizaes em tipos diferentes, incluindo o entendimento das causas da estabilidade de formas organizacionais no tempo. E a classificao a real construo de esquemas classificatrios, identificao e indicao de formas organizacionais a determinadas classes (McKELVEY, 1982).

    Classificar as empresas parte do que McKelvey (1978, 1982) chama de sistemtica organizacional, que o estudo das diferenas entre as formas das populaes organizacionais, o desenvolvimento de uma teoria taxonmica, o reconhecimento e a classificao das diferenas importantes. Sistemtica, segundo o autor, um termo usado na Biologia h mais de 200 anos, para denotar o estudo da diversidade dos seres vivos. E a classificao (ou categorizao) j usada h mais de 2.300 anos, principalmente por filsofos e bilogos. Aristteles se referia palavra como definindo um determinado grupo com caractersticas semelhantes como Kathegora. Taxonomia, por sua vez, um termo recente (sculo 18) e refere-se teoria e prtica da classificao, sendo esta a verdadeira atividade de se distribuir em grupos objetos de acordo com um esquema classificatrio.

    Em biologia, geologia, fsica e qumica muito esforo foi realizado na anlise de uma mistura de fenmenos classificados em grupos de substncias especficas que os constituem, como tipos de clulas, minerais, partculas subatmicas, etc. Somente com esse tipo de agrupamento e classificao foi possvel ter uma cincia clara, consistente e em ltima anlise,

    aplicvel. Isso no ocorre nas cincias organizacionais, porque a maioria das pesquisas realizada sobre organizaes como entidades jurdicas, como grandes corporaes, que na verdade so uma mistura de diferentes formas.

    Em estudo organizacional, tanto do ponto de vista econmico, como tecnolgico ou comportamental, para entender a variedade, mudana e sobrevivncia das empresas, os pesquisadores precisaram desenvolver mtodos de classificao que pudessem facilitar a interconectividade entre as dimenses estudadas (McCARTHY, 2006). Babbage em 1835 j classificava as empresas de acordo com os processos de manufatura que usavam, como idade da tecnologia, controle de processo usado, energia consumida, etc.

  • 35

    Rich (1992) chama a classificao de empresas de tipologia organizacional. Esta oferece um meio efetivo para armazenamento de dados e um sistema de buscas, bem como um meio para o desenvolvimento da teoria. O autor comenta que apesar de importantes, as tipologias existentes so tipicamente limitadas, falham em encontrar padres amplos.

    Tipologia essencialmente um sistema para armazenamento e busca de informao. Mas a tipologia muito mais que um sistema de classificao com uma forma fcil de recuperao e uso geral. Seu maior papel ordenar e dar sentido aos dados que ela contm.

    A classificao organizacional fornece a base para pesquisas slidas, por meio de uma quebra do mundo contnuo das organizaes em categorias discretas e coletivas adequadas para uma anlise detalhada. Classificao permite parcimnia sem simplicidade e a habilidade de reconhecer estruturas fundamentais e relaes. A tipologia um dispositivo que pode ser usado para que organizaes possam ser comparadas. Fornece um meio para ordenar e comparar organizaes.

    Classificar as organizaes em tipos apresenta uma alternativa ideia que as organizaes so ou todas iguais ou totalmente nicas (ALDRICH, McKELVEY, 1983). Fornece a base para teorizaes sobre as foras em ao dentro de determinados tipos organizacionais e permite ao pesquisador formar opinies e desenvolver teorias sem ter que generalizar os resultados para todas as organizaes.

    Entretanto, a literatura sobre classificao organizacional complexa, produzindo resultados extremamente tcnicos que falham em deixar claro o valor de uma classificao por tipos de organizao.

    Existem diversas maneiras para se classificar empresas. A tipologia monottica (quando a classificao requer apenas uma caracterstica para se uniformizar os membros de um grupo) tem sido muito usada por ser extremamente atrativa, porque forma um grupo de divises discretas, em que uma organizao s necessita ter uma determinada caracterstica (por exemplo, fornecer um determinado produto ou servio) para ser includa no grupo. No entanto, dificilmente no mundo real, emprico, as organizaes caem em apenas um tipo, porque o mundo emprico muito diverso e imperfeito. importante reconhecer o carter multidimensional da efetiva tipologia.

  • 36

    McKelvey (1982, p. 13), cita autores que classificaram em suas pesquisas as empresas pelos benefcios gerados do que elas produzem, pela funo que executam na sociedade em que esto inseridas ou pelo tipo de tecnologia que utilizam. Estes autores usaram um programa de computador de anlise de cluster (cluster analysis), para agrupar 75 organizaes, usando 99 atributos.

    McCarthy (2006) comenta que nas cincias sociais existe a possibilidade de uso de duas abordagens para a classificao: terica ou emprica. Classificaes tericas nas cincias sociais comeam por desenvolver uma teoria de diferenas que resultam em uma classificao dos tipos de organizao, conhecida como uma tipologia. Somente quando a classificao proposta que se toma uma deciso sobre a que grupo pertence uma organizao. J na abordagem emprica, a classificao se inicia com a busca de dados sobre as organizaes pesquisadas. Os dados so processados por mtodos estatsticos para produzir grupos de acordo com as medidas de similaridade e de tcnicas estatsticas utilizadas.

    Desta forma, o objetivo utilizar os dados para construir a classificao, em vez de apoi-lo, mas deve-se notar que na prtica raramente so dados coletados sem uma expectativa sobre o que ir revelar ou validar (McCARTHY, 2006).

    Tabela 1 - A natureza da taxonomia: procedimentos para a classificao organizacional

    Tipo de Procedimento

    Base do Procedimento Resultados

    Tradicional Senso comum Falha em definir contedo dos grupos organizacionais gerados

    Terico A priori / heurstico

    Classes organizacionais so formadas antes da incluso das organizaes em classes Organizaes so includas em classes baseadas em uma teoria ao invs de mtodos empricos

    Emprico A posteriori / aritmtico

    As classes organizacionais emergem de procedimentos empricos usados para classificar caractersticas organizacionais com base na semelhana ou no contraste

    Fonte: Warriner, 1984

  • 37

    Como os bilogos possuem problemas de classificao maiores que em outras cincias, j levam sculos neste trabalho e vrios autores de Ecologia Organizacional, como Hannan e Freeman (1977), Aldrich (1979), entre outros, sugeriram a semelhana entre organismos biolgicos e sistemas de organizaes (McKELVEY, 1982), esta analogia foi adotada neste trabalho.

    Rich (1992) mostra uma taxonomia hierrquica de tipos organizacionais em que a forma organizacional aparece como o elemento base de individualizao das empresas, para efeitos de classificao, tambm comparando com a Biologia:

  • 38

    Nvel 1Toda a indstria

    Nvel 2Diviso

    Nvel 3Grupo principal

    Nvel 4Grupo industrial

    Nvel 5Indstria

    Nvel 6Sub-indstria

    Nvel 7 Empresa

    No possvel se fazer distino entre indstrias(REINO)

    Ampla distino entre tipos de indstrias(PHYLUM)

    Distines entre indstrias, baseadas em produtos ou servios(FAMLIA)

    Distino mais especfica baseada em um tipo de grupo de produto principal(GNERO)

    Tipo organizacional especfico definido(ESPCIE OU POPULAO)

    Habilidade de se distinguir entre variedades de organizaes dentro de um tipo(SUB-ESPCIES OU POPULAES LOCAIS)

    Habilidade de se distinguir entre organizaes individuais dentro de uma sub-espcie(VARIEDADE / FORMA)

    Figura 1: Taxonomia de tipos organizacionais comparada com a classificao na Biologia Fonte: Rich, 1992

  • 39

    2.4 CLASSIFICAES DAS EMPRESAS DE SERVIOS DE TECNOLOGIA DE INFORMAO

    Para classificar empresas como sendo de servios de Tecnologia de Informao em geral se utiliza o CNAE Classificao Nacional de Atividades Econmicas. Ele o instrumento de padronizao nacional dos cdigos de atividade econmica e dos critrios de enquadramento utilizados pelos diversos rgos da Administrao Tributria do pas, oficializado em 1994. a classificao oficialmente adotada pelo Sistema Estatstico Nacional na produo de estatsticas por atividade econmica, e pela Administrao Pblica, na identificao da atividade econmica em cadastros de pessoa jurdica (IBGE, 2010).

    Essa classificao tem o objetivo de promover a comparabilidade entre as estatsticas econmicas das mais variadas fontes, sejam elas nacionais como internacionais, ao oferecer uma base padronizada para a coleta, anlise e disseminao das estatsticas relativas atividade econmica.

    A reviso 2007 da CNAE resultou na verso 2.0, com o objetivo de prover uma verso atualizada e conforme com as mudanas na estrutura e composio da economia brasileira e sincronizada com as alteraes introduzidas na verso quatro da Clasificacin Industrial Internacional Uniforme de todas las Actividades Econmicas CIIU (essa classificao internacional de atividades econmicas adotada pelas Naes Unidas foi durante muito tempo conhecida no Brasil pela designao e sigla em ingls International Standard Industrial Classification ISIC). Como a CNAE est baseada em padres internacionais, permite a comparao entre estudos de pases distintos.

    A CNAE se aplica a todos os agentes econmicos que esto engajados na produo de bens e servios, podendo compreender estabelecimentos de empresas privadas ou pblicas, estabelecimentos agrcolas, organismos pblicos e privados, instituies sem fins lucrativos e agentes autnomos (pessoa fsica).

    A CNAE resulta de um trabalho conjunto das trs esferas de governo, elaborada sob a coordenao da Secretaria da Receita Federal e orientao tcnica do IBGE, com representantes da Unio, dos Estados e dos Municpios, na Subcomisso Tcnica da CNAE, que atua em carter permanente no mbito da Comisso Nacional de Classificao - CONCLA.

  • 40

    Sua estrutura hierrquica mantm a mesma estrutura da CNAE (5 dgitos), adicionando um nvel hierrquico a partir de detalhamento de classes da CNAE, com 7 dgitos, especfico para atender necessidades da organizao dos Cadastros de Pessoas Jurdicas no mbito da Administrao Tributria.

    essa classificao em categorias industriais convencionais que a maioria dos pesquisadores utiliza em seus trabalhos. Os grupos que surgem dessa classificao tambm muitas vezes so chamados de populaes, pois se assume que forma organizacional tem uma correspondncia direta com as categorias industriais (HANNAN, 2005).

    Na classificao tradicional de empresas de Tecnologia de Informao, utilizando o CNAE 2.0, estas se encontram sob o cdigo 62. As tabelas 2 a 9 mostram como essa classificao realizada, desde o topo da hierarquia CNAE (sob o grupo Informao e Comunicao).

    Tabela 2 - CNAE 2.0 - Topo da Hierarquia

    Seo Divises Descrio CNAEA 01 .. 03 AGRICULTURA, PECURIA, PRODUO FLORESTAL, PESCA E AQICULTURAB 05 .. 09 INDSTRIAS EXTRATIVASC 10 .. 33 INDSTRIAS DE TRANSFORMAOD 35 .. 35 ELETRICIDADE E GSE 36 .. 39 GUA, ESGOTO, ATIVIDADES DE GESTO DE RESDUOS E DESCONTAMINAOF 41 .. 43 CONSTRUOG 45 .. 47 COMRCIO; REPARAO DE VECULOS AUTOMOTORES E MOTOCICLETASH 49 .. 53 TRANSPORTE, ARMAZENAGEM E CORREIOI 55 .. 56 ALOJAMENTO E ALIMENTAOJ 58 .. 63 INFORMAO E COMUNICAOK 64 .. 66 ATIVIDADES FINANCEIRAS, DE SEGUROS E SERVIOS RELACIONADOSL 68 .. 68 ATIVIDADES IMOBILIRIASM 69 .. 75 ATIVIDADES PROFISSIONAIS, CIENTFICAS E TCNICASN 77 .. 82 ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS E SERVIOS COMPLEMENTARESO 84 .. 84 ADMINISTRAO PBLICA, DEFESA E SEGURIDADE SOCIALP 85 .. 85 EDUCAOQ 86 .. 88 SADE HUMANA E SERVIOS SOCIAISR 90 .. 93 ARTES, CULTURA, ESPORTE E RECREAOS 94 .. 96 OUTRAS ATIVIDADES DE SERVIOST 97 .. 97 SERVIOS DOMSTICOSU 99 .. 99 ORGANISMOS INTERNACIONAIS E OUTRAS INSTITUIES EXTRATERRITORIAIS

    Fonte: IBGE, 2010

  • 41

    Tabela 3 - CNAE 2.0 - Seo J: Informao e Comunicao

    Diviso Descrio CNAE58 EDIO E EDIO INTEGRADA IMPRESSO

    59ATIVIDADES CINEMATOGRFICAS, PRODUO DE VDEOS E DE PROGRAMAS DE TELEVISO; GRAVAO DE SOM E EDIO DE MSICA

    60 ATIVIDADES DE RDIO E DE TELEVISO61 TELECOMUNICAES62 ATIVIDADES DOS SERVIOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAO63 ATIVIDADES DE PRESTAO DE SERVIOS DE INFORMAO

    Fonte: IBGE, 2010

    Nota Explicativa: Esta seo compreende as atividades de criao e colocao de produtos com contedo de informao em mdias que possibilitam a sua disseminao; as atividades de transmisso desses produtos por sinais analgicos ou digitais (por meios eletrnicos, sem fio, ticos ou outros meios); e as atividades de proviso dos servios e/ou operao de infraestrutura que possibilitam a transmisso e o armazenamento desses produtos.

    Os produtos com contedo de informao no so necessariamente tangveis e, diferentemente de produtos tradicionais, no esto associados a um formato especfico. O valor desses produtos est no contedo e no no formato do suporte no qual so colocados para serem distribudos. Por exemplo, um filme pode ser passado no cinema, na televiso ou copiado em vdeo para aluguel ou venda ao pblico. Algumas das atividades compreendidas nesta seo envolvem direitos autorais.

    As principais atividades desta seo so as de edio e de edio integrada impresso (diviso 58), as atividades cinematogrficas e as de gravao de som e edio de msica (diviso 59), as atividades de rdio e de televiso (diviso 60), as atividades de telecomunicaes (diviso 61), as atividades de tecnologia da informao (diviso 62) e as outras atividades de prestao de servios de informao (diviso 63). As atividades de edio incluem a aquisio de direitos autorais de produtos com contedo de informao, bem como as atividades que permitem a disseminao desse contedo para o pblico em geral, ou seja, a reproduo e a distribuio desse contedo. Esto includas nesta seo todas as formas viveis de edio de produtos com contedo de informao (impressa, eletrnica ou sonora, na internet e em produtos multimdia, como CDs, DVDs, etc.). As atividades relacionadas produo e distribuio de programao de televiso abrangem as divises 59, 60 e 61, refletindo as diferentes etapas deste processo. Atividades como a produo de filmes cinematogrficos e seriados de televiso esto compreendidas na diviso 59, enquanto a criao de uma programao completa de um canal de televiso, que inclui tanto os produtos que resultam das atividades da diviso 59 como a programao de televiso ao vivo, faz parte da diviso 60. A diviso 60 tambm inclui atividades de difuso dessa programao pelo prprio produtor. A distribuio de programao de televiso por terceiros, isto , sem incluir nenhuma alterao no contedo, includa na diviso 61. A atividade de distribuio de contedo (telecomunicaes), tratada na diviso 61, compreende a difuso por cabos, micro-ondas ou satlites ou por uma combinao dessas tecnologias.

  • 42

    Tabela 4 - CNAE 2.0 - Diviso 62: Atividades dos servios de Tecnologia da Informao

    Classes Descrio CNAE6201-5 DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR SOB ENCOMENDA

    6202-3 DESENVOLVIMENTO E LICENCIAMENTO DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR CUSTOMIZVEIS

    6203-1 DESENVOLVIMENTO E LICENCIAMENTO DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR NO-CUSTOMIZVEIS

    6204-0 CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAO6209-1 SUPORTE TCNICO, MANUTENO E OUTROS SERVIOS EM TECNOLOGIA DA

    INFORMAO

    Fonte: IBGE, 2010

    Tabela 5 - CNAE 2.0 - Classe 6201-5: Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda

    Classe 6201-5 Esta classe compreende: Esta classe no compreende:O desenvolvimento de sistemas para atender s necessidades do cliente, ou seja, as atividades voltadas para a definio dos mdulos, especificaes funcionais internas, tipos de relatrios e testes de avaliao do desempenho

    O desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizveis (62.02-3)

    A programao com o uso de ferramentas e de linguagens de programao

    O desenvolvimento e licenciamento de programas de computador no-customizveis (62.03-1)

    O fornecimento de documentao de programas de informtica desenvolvidos sob encomenda

    Os servios de customizao dos programas de computador (62.04-0)

    O desenho de pginas para a internet (web design)O desenvolvimento de projetos e modelagem de banco de dados sob encomenda

    Fonte: IBGE, 2010

  • 43

    Tabela 6 - CNAE 2.0 Classe 6202-3: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizveis

    Classe 6202-3 Esta classe compreende: Esta classe no compreende:O desenvolvimento de sistemas ou programas de computador (software) que permitem a realizao de customizaes (adaptaes s necessidades especficas de um cliente ou mercado particular)

    A produo de programas de computador sob encomenda (62.01-5)

    O licenciamento ou a outorga de autorizao de uso dos programas de informtica (software) customizveis; este licenciamento freqentemente obtido atravs da prpria empresa que os desenvolveu ou de seus representantes

    O desenvolvimento e licenciamento de programas de computador no-customizveis (62.03-0)

    Os servios de customizao dos programas de computador (62.04-0)

    Fonte: IBGE, 2010

    Tabela 7 - CNAE 2.0 Classe 6203-1: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador no-customizveis

    Classe 6203-1 Esta classe compreende: Esta classe no compreende:O desenvolvimento de sistemas ou programas de computador (software) que no permitem customizaes (adaptaes s necessidades especficas de um cliente ou mercado particular). Esses programas so, em geral, adquiridos no comrcio, embora possam ser tambm obtidos diretamente da empresa que os desenvolveu ou atravs de seus distribuidores e representantes, como, por exemplo:

    A reproduo de programas de computador em qualquer suporte (18.30-0)

    Aplicativos para empresas e para outras finalidades O comrcio varejista de programas de computador no-customizveis (47.51-2)

    Jogos de computador para todas as plataformas O desenvolvimento e elaborao de programas de computador sob encomenda (62.01-5)

    O licenciamento ou a outorga de autorizao de uso dos programas de informtica (software) no-customizveis

    O desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizveis (62.02-3)

    Os distribuidores autorizados de programas de computador no-customizveis, que so responsveis pela concesso e regularizao de licenas para uso, treinamento, etc.

    O acesso a programas de computador pela internet (63.19-4)

    Fonte: IBGE, 2010

  • 44

    Tabela 8 - CNAE 2.0 Classe 6204-0: Consultoria em Tecnologia da Informao

    Classe 6204-0 Esta classe compreende: Esta classe no compreende:A anlise para determinao das necessidades do cliente ou do mercado potencial e a especificao tcnica do sistema quanto definio das funcionalidades e campo de aplicao

    A assessoria em informtica associada venda de computadores e perifricos (47.51-2) e (46.51-6)

    Os servios de assessoria para auxiliar o usurio na definio de um sistema quanto aos tipos e configuraes de equipamentos de informtica (hardware), assim como os programas de informtica (software) correspondentes e suas aplicaes, redes e comunicao, etc.

    O desenvolvimento de programas de computador sob encomenda (62.01-5)

    O acompanhamento, gerncia e fiscalizao de projetos de informtica, ou seja, a coordenao de atividades envolvidas na definio, implantao e operacionalizao de projetos destinados informatizao de um determinado segmentoA consultoria para integrao de sistemas e solues, ou seja, atividades de estruturao e operacionalizao de uma soluo final funcional, a partir da unio de diferentes sistemas, mantendo suas caractersticas essenciaisOs servios de customizao de programas de informtica (software) customizveis, ou seja, atividades que consistem em adaptar as necessidades do usurio s telas, terminologias, tabelas e a outras caractersticas inerentes ao sistema

    Fonte: IBGE, 2010

  • 45

    Tabela 9 - CNAE 2.0 Classe 6209-1: Suporte tcnico, manuteno e outros servios em tecnologia da informao

    Classe 6209-1 Esta classe compreende: Esta classe no compreende:As atividades de assessoramento ao usurio na utilizao de sistemas, remotamente ou em suas instalaes, de modo a superar qualquer perda de performance ou dificuldade de utilizao (help-desk)

    A assessoria em informtica associada venda de computadores e perifricos (47.51-2) e (46.51-6)

    As atividades voltadas para solucionar os problemas que dificultem a navegabilidade entre as pginas ou impeam o usurio da plena utilizao do website

    O desenvolvimento de programas de computador sob encomenda (62.01-5)

    A recuperao de panes informticas Os servios de customizao dos programas de computador (62.04-0)

    O servio de instalao de equipamentos de informtica e programas de computador

    A consultoria para integrao de sistemas e solues (62.04-0)

    A manuteno em tecnologias da informao, ou seja, a disponibilizao para o usurio final de modificaes necessrias ao sistema para atender a alteraes tcnicas, aprimorar os recursos, funes e caractersticas tcnicas dos programas e para corrigir falhas no sistema

    A reparao e manuteno de computadores e equipamentos perifricos (95.11-8)

    Fonte: IBGE, 2010

    Fazendo-se uma anlise das bases de dados de organizaes sob os cdigos CNAE 2.0 das tabelas 5 a 9, percebe-se como caracterstica destas empresas de Tecnologia de Informao uma heterogeneidade muito grande: empresas multinacionais produtoras de software bsico, presentes na maioria dos computadores atuais, grandes empresas brasileiras e internacionais produtoras de programas de planejamento empresarial (ERP, sigla em ingls de Enterprise Resource Planning), pequenas e mdias desenvolvedoras de programas para segmentos especficos, como hospitais, varejo ou e-commerce, empresas que possuem de 1 a 5 funcionrios que produzem software para pet-shop, farmcias, lojas de vesturio, etc.

    Ou seja, uma das caractersticas do setor de Tecnologia de Informao, principalmente o de desenvolvimento de software a diversidade e a quantidade de empresas existentes. Como so baseadas em grande conhecimento tecnolgico, geralmente saem de incubadoras ao redor de universidades ou quando uma pessoa com alta especializao em tecnologia aproveita esse conhecimento no desenvolvimento de um programa de computador que passa a ser utilizado por vrias empresas clientes. E para se iniciar uma empresa deste tipo no necessrio muito investimento financeiro inicial.

  • 46

    No estudo realizado por Guimares (2009), sobre aglomeraes de empresas de servios Intensivos em Conhecimento (tambm conhecidas como KIBS, da sigla em ingls), classificadas no CNAE 2.0 sob a diviso 62, percebe-se que as empresas de tecnologia de informao se dividem do ponto de vista geogrfico em trs regies: Centro-Oeste (Braslia), Sul (Blumenau, Florianpolis e Joinville) e Sudeste (Vitria, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Volta Redonda, Itapecerica da Serra, Jaguarina, Po, Santana do Parnaba, Santo Andr, So Bernardo do Campo, So Caetano do Sul, So Paulo). Nota-se que no existem aglomeraes das atividades de servios em Tecnologia de Informao no Norte e tampouco no Nordeste. H grande concentrao destas aglomeraes no Sudeste, principalmente na regio metropolitana de So Paulo e cidades prximas, e no Sul, em trs cidades de Santa Catarina.

  • 47

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    3.1 NATUREZA DA PESQUISA

    Os tipos de pesquisas podem ser classificados em trs principais categorias (RICHARDSON, 1999):

    1) exploratrias: so aquelas realizadas quando o pesquisador est comeando o estudo de algum tema, no tem nenhuma informao sobre determinado assunto e ele deseja conhecer todos os aspectos importantes do fenmeno;

    2) descritivas: so aquelas utilizadas para descrever aspectos de uma populao ou analisar a distribuio de determinadas caractersticas ou atributos; e

    3) explicativas: buscam explicar os aspectos de uma populao, por exemplo, como uma varivel afeta outra e por que. Avalia as causas ou consequncias de um fenmeno.

    Neste estudo foi conduzida uma pesquisa de natureza descritiva, pois se buscar descrever as caractersticas ou dimenses das organizaes de Tecnologia de Informao, mais especificamente as de desenvolvimento e manuteno de software, na regio metropolitana de So Paulo, para posteriormente classific-las de acordo com as formas organizacionais encontradas no estudo.

    3.2 TIPO DE PESQUISA

    Segundo Richardson (1999), o mtodo de pesquisa quantitativo usado, a princpio, quando a inteno de se garantir a preciso dos resultados, evitar distores na anlise e interpretao, desta forma possibilitando uma margem mais segura nas inferncias geradas pelas pesquisas. Este mtodo procura a medio objetiva e a quantificao dos resultados.

    A pesquisa quantitativa frequentemente aplicada em estudos descritivos, naqueles que tm por objetivo descobrir e classificar a relao entre variveis, que exatamente o caso do estudo a ser conduzido neste trabalho. Por esta razo, foi utilizado aqui o mtodo quantitativo de pesquisa, pois o objetivo identificar, caracterizar e agrupar as empresas de

  • 48

    Tecnologia de Informao da regio metropolitana de So Paulo, de acordo com as formas organizacionais encontradas.

    No foram realizados estudos qualitativos neste trabalho, apesar do autor entender que pesquisas posteriores desta natureza podero ser conduzidas, com o objetivo de se conhecer em mais profundidade as caractersticas da forma organizacional mais subjetivas e internas organizao (ver quadro 3), como aspectos de identidade organizacional (HSU; HANNAN, 2005), identificando as percepes, crenas e aes da audincia.

    3.3 AMOSTRAGEM

    A presente dissertao utilizou os dados da pesquisa primria realizada junto a empresas de software localizadas na regio metropolitana de So Paulo. Esta base de dados oriunda de uma pesquisa que originalmente serviu como base para anlise do impacto de recursos especficos das empresas no seu desempenho competitivo, especificamente no setor de software brasileiro (MEIRELLES; BASSO; PACE, 2008).

    A base amostral da pesquisa inclui um total de 100 empresas do setor de software localizadas na regio metropolitana de So Paulo. Do total de empresas entrevistadas, 62% fornecem produtos (softwares de gesto, automao, softwares customizveis em geral, etc.) e 38% prestam servio (manuteno, gerenciamento, implantao e integrao de sistemas, etc.).

    Estas empresas esto classificadas sob o cdigo CNAE 2.0 na diviso nmero 62 (Atividades dos servios de tecnologia de informao), mais especificamente nas classes:

    1) 6201-5: Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda

    2) 6202-3: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizveis

    3) 6203-1: Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador no-customizveis

  • 49

    3.4 TCNICA DE TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS

    De acordo com McCarthy (2006), a classificao em cincias sociais pode ser terica ou emprica. Na terica, parte-se de uma teoria de classificao para uma tipologia. Na emprica, se recolhem dados das empresas para construir a classificao. Neste estudo foi utilizada a classificao emprica, buscando nas informaes das empresas de software da regio metropolitana de So Paulo os dados que posteriormente foram submetidos aos mtodos estatsticos.

    O que se buscou neste estudo foi o seguinte caminho para atingir o objetivo de caracterizar os grupos de empresas diferentes dentro de um mesmo grupo de atividade econmica:

    Classificar empresas identificar diferenas

    e agrupar as homogneas

    Identificando os atributos que possam

    ser comparveis

    Mas como identificamos as diferenas?

    So caractersticas objetivas (tangveis)

    ou subjetivas (intangveis) ->

    dimenses

    O que so os atributos das empresas?

    Identificamos apenas os atributos da forma objetivos (internos e

    externos)

    Usamos questionrio que visa perguntar

    aspectos objetivos das empresas de software

    Para cada pergunta (varivel) do questionrio

    atribumos uma dimenso da forma

    Encontramos os fatores que so

    homogneos entre empresas

    Que caracterizam a FORMA

    ORGANIZACIONAL de uma empresa

    ?

    ?

    Agrupamos e classificamos as

    empresas divididas pelas dimenses

    encontradas

    Figura 2: Caminho utilizado para classificar empresas de software-regio metropolitana de So Paulo Fonte: Elaborado pelo autor com base nos atributos encontrados nas diversas definies de forma organizacional do referencial terico e nos dados da pesquisa das 100 empresas de software da regio metropolitana de So Paulo (MEIRELLES; BASSO; PACE, 2008).

  • 50

    A forma organizacional foi identificada para este estudo de acordo com dimenses (ou atributos) objetivos, ligados perspectiva interna ou externa organizao. Foram utilizados fatores ligados estrutura organizacional formal, processos, definio formal de controle (percepo objetiva), como estabelecem os autores Hannan e Freeman (1986).

    Foram utilizadas apenas dimenses (ou atributos) da forma organizacional objetivos (como tipo de sociedade, nichos de recursos, competncias, etc.). No se usaram atributos subjetivos, como cultura organizacional, por exemplo, porque seria necessrio outro tipo de pesquisa/questionrio.

    Inicialmente a anlise foi realizada com as 72 variveis que continham informaes para todas as empresas do estudo ou, pelo menos, para a grande maioria delas. As variveis utilizadas esto apresentadas na tabela a seguir:

    Tabela 10 - Variveis utilizadas no questionrio original da pesquisa com empresas de software da regio metropolitana de So Paulo (MEIRELLES; BASSO; PACE, 2008)

    1 Idade

    2 Tempo que trabalha na empresa

    3 Tamanho (Nmero de funcionrios) 4 Tipo de Sociedade

    5 MKT Share

    6 Participao de empresas estrangeiras no setor

    7 Posicionamento CUSTO/PREO 8 Posicionamento PRAZO

    9 Posicionamento QUALIDADE 10 Posicionamento INOVAO 11 Posicionamento IMAGEM DA MARCA

    12 Posicionamento PRAZO DE ENTREGA

    13 Posicionamento PS-VENDA 14 Posicionamento PROXIMIDADE GEOGRFICA 15 Posicionamento ESCOLHA DO NICHO

    16 Posicionamento ADEQUAO DO PRODUTO AO CLIENTE 17 Posicionamento em relao ao concorrente CUSTO/PREO 18 Posicionamento em relao ao concorrente PRAZO

    19 Posicionamento em relao ao concorrente QUALIDADE 20 Posicionamento em relao ao concorrente INOVAO 21 Posicionamento em relao ao concorrente IMAGEM DA MARCA

    22 Posicionamento em relao ao concorrente PRAZO DE ENTREGA

    23 Posicionamento em relao ao concorrente PS-VENDA 24 Posicionamento em relao ao concorrente PROXIMIDADE GEOGRFICA 25 Posicionamento em relao ao concorrente ESCOLHA DO NICHO

  • 51

    26 Posicionamento em relao ao concorrente ADEQUAO DO PRODUTO AO CLIENTE 27 Diferenciao da base tecnolgica

    28 Diferenciao do produto

    29 Importncia da prpria marca

    30 Influncia no custo e barreira de entrada a concorrentes CAPACIDADE INSTALADA

    31 Influncia no custo e barreira de entrada a concorrentes USO DE TECNOLOGIA ESPECFICA 32 Influncia no custo e barreira de entrada a concorrentes ACESSO PRIVILEGIADO A FORNECEDOR

    33 Influncia no custo e barreira de entrada a concorrentes PRODUTIVIDADE DA MO DE OBRA 34 Influncia no custo e barreira de entrada a concorrentes PRODUTIVIDADE EQUIPAMENTOS 35 Influncia no custo e barreira de entrada a