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O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias Ricardo Batista Bettencourt O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais Ricardo Batista Bettencourt outubro de 2014 UMinho|2014

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O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias

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Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais

Ricardo Batista Bettencourt

outubro de 2014UM

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4

Trabalho realizado sob a orientação daProfessora Doutora Sandra Marinho

Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais

Ricardo Batista Bettencourt

outubro de 2014

Relatório de Estágio Mestrado em Ciências da Comunicação Área de especialização em Informação e Jornalismo

O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias

Agradecimentos

À Débora, minha namorada, futura mulher, presente mais que tudo, porquanto sem ela não teria sido

possível tudo isto. Tenho a consciência de que nem a totalidade das páginas deste relatório me

bastariam para escrever o quanto lhe amo e o quão grato estou pelas horas de mel, dias de carinho,

semanas de ternura, meses de afeto e anos de amor. Agradeço também pela ajuda e pela

disponibilidade, pela paciência e pelo mais belo sorriso que alguma vez vi.

À minha orientadora da Universidade do Minho, professora Sandra Marinho, pela preciosa ajuda e

afável simpatia com que sempre me brindou nas reuniões.

Ao meu orientador de estágio no Diário de Notícias, David Mandim, e a toda a equipa de jornalistas do

DN na redação do Porto, por toda a ajuda e por todos os conselhos que me deram numa nova etapa

da minha vida profissional.

À minha família, e em particular aos meus pais, por tudo terem feito para que pudesse alcançar esta

meta e por me terem proporcionado as melhores condições para que fosse possível singrar no ensino

superior. A eles, prometo enchê-los de orgulho.

À comunidade do Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores e à

minha antiga turma da licenciatura – nunca serão esquecidos –, por me terem inspirado a continuar a

vida académica e por me terem alimentado o gosto pelo jornalismo.

iii  

iv  

O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias

Resumo

O crime é um evento que, pela sua natureza, tem de ser noticiado. Em todos os jornais, há sempre

espaço para as notícias relacionadas com crimes de diversas origens, tal como há para política,

economia ou desporto. No entanto, há diferentes formas de o crime ser noticiado. Em jornais ditos

mais sensacionalistas, o objetivo de emocionar mais do que informar faz com que se corra o risco de

infringir algumas regras que fundaram a profissão de jornalista, presentes no Código Deontológico do

Jornalista. No presente relatório, além de uma profunda reflexão sobre a experiência de estágio vivida

na redação do Diário de Notícias, foi conduzido um estudo que visou compreender que fontes

noticiosas foram utilizadas nos relatos de crimes do Diário de Notícias no período em que lá estagiei e

se e que normas do Código Deontológico do Jornalista foram violadas. Depois, atestou-se que

diferenças existem entre esses relatos de crimes escritos nesse jornal de pendor mais informativo e

noutro mais sensacionalista (Correio da Manhã). Tais objetivos foram alcançados através da análise de

conteúdo das notícias presentes no Diário de Notícias para se aferir as fontes utilizadas e as normas do

Código Deontológico desrespeitadas e da comparação entre notícias relativas aos mesmos crimes nos

dois jornais supracitados. Este estudo permitiu concluir que as notícias de crimes no Diário de Notícias

afastam-se do sensacionalismo, enquanto as que são noticiadas pelo Correio da Manhã dele se

aproximam.

Palavras-chave: crime; sensacionalismo; Código Deontológico do Jornalista; Diário de Notícias.

v  

vi  

The place of crime in journalism: the writing of crime news in Diário de Notícias

Abstract

Crime is an event that, due to its own nature, has to be reported. In every newspaper, there is always

space for news related to any sort of crime, just like there is for politics, economy issues or sports.

However, there are different ways to report the crime. In the so-called sensationalist newspapers, the

goal of trigger emotions rather than inform people can put in danger some vital rules that founded the

journalist profession, established in the Journalist’s Code of Ethics. In this report, apart from a profound

reflection on the internship experienced in Diário de Notícias’ newsroom, a study was conducted in

order to understand which journalistic sources were used in crime news that I have written in Diário de

Notícias and if and what rules of the Journalist’s Code of Ethics were infringed, and then to

comprehend what were the differences between the crime reports written in that newspaper and those

written in a more sensationalist one (Correio da Manhã). These goals were met through the content

analysis of the news written in Diário de Notícias to assess the sources used and the rules of the Code

of Ethics that were disrespected and also through the comparison between news related to the very

same crimes in the two newspapers mentioned above. This study concluded that crime news written in

Diário de Notícias avoids sensationalism, whilst those reported in Correio da Manhã embraces it.

Keywords: crime; sensationalism; Journalist’s Code of Ethics; Diário de Notícias.

vii  

viii  

Índice

Introdução .......................................................................................................................................... 1

Capítulo I – Diário de Notícias: uma viagem por entre mais de um século de história........................... 3

Capítulo 2 – O estágio: uma viagem por entre mais de um século de aprendizagem ............................ 7

2.1 – Afazeres plenos de prazeres .................................................................................................. 7

2.2 – Mortes que me deram vida ................................................................................................... 8

2.3 – Novos desafios de um novo mundo ...................................................................................... 9

2.4 – Amargos dissabores para temperar no futuro ...................................................................... 12

2.5 – Entre a experiência e o estudo das notícias sobre crime ...................................................... 13

Capítulo 3 – O que envolve a escrita de notícias de crimes: um olhar sobre a literatura .................... 17

3.1 – Algumas considerações sobre a imprensa tabloide .............................................................. 17

3.2 – O valor do texto e da imagem na construção das notícias .................................................... 19

3.3 – Notícias de crimes na imprensa ........................................................................................... 21

3.4 – As fontes de informação em relatos de crimes ..................................................................... 23

3.5 – O que diz o Código Deontológico do Jornalista .................................................................... 27

Capítulo 4 – Metodologia .................................................................................................................. 31

4.1 – Objetivos ............................................................................................................................ 31

4.2 – Amostra ............................................................................................................................. 31

4.3 – Instrumentos de análise ..................................................................................................... 32

4.4 – Procedimentos ................................................................................................................... 32

Capítulo 5 – As notícias de crime no Diário de Notícias .................................................................... 35

5.1 – As fontes noticiosas utilizadas nos relatos de crime no Diário de Notícias ............................. 35

5.2 – O Código Deontológico do Jornalista e os relatos de crime no Diário de Notícias ................... 40

5.3 – Relatos de crime no Diário de Notícias e no Correio da Manhã: a comparação ..................... 44

Capítulo 6 – Considerações finais .................................................................................................... 55

Referências ...................................................................................................................................... 59

ix  

x  

Anexos ............................................................................................................................................. 65

Anexo I – Total das 20 notícias analisadas no DN .......................................................................... 65

Anexo II – Número e tipo de fontes de informação utilizadas nas 20 notícias do DN ....................... 75

Anexo III – Grelha de observação referente ao respeito pelas normas do Código Deontológico do

Jornalista das 20 notícias do DN ................................................................................................... 77

Anexo IV – Grelha de observação para a comparação das 14 notícias sobre o mesmo tema do DN e

do CM ......................................................................................................................................... 79

Anexo V – Notícias do CM sobre o mesmo tema do DN ................................................................. 87 

Índice de figuras e tabelas

Figura 1 – Gráfico representativo dos valores da tiragem e da circulação do DN nos três bimestres do

ano de 2014 ...................................................................................................................................... 4

Figura 2 – Gráfico comparativo dos valores da circulação dos cinco jornais diários nos primeiros três

bimestres do ano de 2014 .................................................................................................................. 5

Tabela 1 – Tipificação das fontes jornalísticas, de acordo com Schmitz (2011) .................................. 24

Tabela 2 – Número de notícias e breves redigidas em função das secções do jornal .......................... 32

Introdução

“É a primeira vez, tem tudo para correr bem”. Ainda me lembro do pensamento que não pediu

licença para me invadir a mente momentos antes de pôr os pés na redação do Diário de Notícias. Na

data certa, nove meses depois de lá ter estado pela última vez, nasce o presente relatório de estágio,

num esforço de demostrar o que vi, senti, vivi e aprendi na minha primeira experiência a sério numa

redação de um dos principais jornais diários portugueses. Constitui também, por isso, um exercício de

reflexão que se desdobrará em duas partes distintas.

O presente relatório congrega, por um lado, a minha experiência de estágio profissionalizante,

decorrido entre outubro de 2013 e janeiro de 2014, com um relato sistematizado de todas as

experiências, dificuldades, expetativas e esperanças para o meu futuro profissional. A descrição das

atividades realizadas é sempre feita com um pensamento crítico, tendo em vista refletir sobre o que foi

feito, o que poderia ter sido feito e o que poderá ser feito no futuro. A segunda parte deste relatório

debruça-se sobre o modo como as notícias de crime são ou devem ser escritas nos jornais, uma

questão que durante o estágio muito me fez pensar. Tendo sido o meu trabalho diário no jornal muito

baseado em notícias que envolviam o crime como temática, estive sempre exposto a essa realidade, o

que me fez questionar, por várias vezes, sobre como deve o crime ser relatado num jornal de pendor

mais informativo. Por isso, foi levado a cabo um estudo que se distribuiu em três partes: primeiro,

analisar 20 notícias sobre crimes da minha autoria escritas durante o período de estágio, para se aferir

quantas e que tipo de fontes de informação foram utilizadas; segundo, averiguar se tais notícias

cumprem as normas vigentes no Código Deontológico do Jornalista; terceiro, atestar se existem

diferenças – e quais – entre os relatos de uma mesma notícia do Diário de Notícias, escritos por mim,

e do Correio da Manhã. Mas antes de tudo isso, o ponto de partida é dado no capítulo que

imediatamente se segue, onde conto um pouco mais sobre o jornal onde estagiei, a sua história e os

seus números de tiragem e circulação.

“Tem tudo para correr bem”. Não podia iniciar este relatório de estágio sem registar de novo o

pensamento com que principiei o estágio e que, curiosamente, é o mesmo que sinto no momento em

que dou início à sua etapa conclusiva.

1  

2  

Capítulo I – Diário de Notícias: uma viagem por entre mais de um século de história

O Diário de Notícias (DN) é um jornal que no presente ano de 2014 completa 150 anos de

existência, o mais antigo do território continental e o segundo mais antigo do país. Testemunha de

várias e diferentes forças políticas que governaram Portugal e de outros tantos acontecimentos que

marcaram a história do país e da própria humanidade, é um dos títulos mais importantes da imprensa

diária nacional.

Nascido na segunda metade do século XIX, no ano de 1864, altura que apadrinhou o fim das

guerras civis e militares que dividiram o país, o DN assumiu-se desde o primeiro número como um

jornal informativo, numa altura em que a imprensa era marcadamente partidária. Segundo pode ler-se

no site do jornal1, ao passo que os jornais custavam, na altura, entre 30 a 60 reis, podia adquirir-se o

DN por 10, facto que contribuiu para uma difusão rápida do jornal por todo o país. Foi responsável pela

introdução da reportagem no país tal como hoje a conhecemos e pela introdução dos telegramas das

agências de informação internacionais nas suas colunas. O DN foi pioneiro também na introdução da

publicidade nos jornais e na reformulação da venda do jornal nas ruas através de uma nova classe

profissional – os ardinas.

Também se pode ler no site do jornal que o seu fundador, Eduardo Coelho, desejava que o DN

fosse convertido num “jornal de todos e para todos, para pobres e ricos de ambos os sexos e de todas

as condições, classes e partidos”. Em 1919, Augusto de Castro assumiu a direção do jornal e, a partir

daí, a fisionomia do DN foi mais adaptada aos padrões europeus, nomeadamente os que ecoavam de

Paris. Atualmente, em 2014, o jornal opera a partir de várias cidades: a sede é em Lisboa, mas as

delegações do Porto, Coimbra, Leiria, Faro e Funchal também ajudam a construir o jornal que todos os

dias é posto à venda no país.

Hoje, o DN já não está só. Com a profusão da imprensa no país, o jornal enfrenta agora

desafios que se prendem com a sua própria sustentabilidade. Num mercado cada vez mais feroz e

agressivo, onde tudo vale em nome do lucro, o DN já não se posiciona como o líder de vendas no país.

Na verdade, analisando os dados da Associação Portuguesa para o Controlo da Tiragem e Circulação

(APCT), percebemos que ao longo do ano de 2013, a tiragem e a própria circulação do DN foi

gradualmente diminuindo. Se no primeiro bimestre desse ano se publicaram 41.504 exemplares dos

jornais e 25.398 circularam – ou seja, 61% deles chegaram às mãos das pessoas –, o último bimestre

de 2013 testemunhou uma tiragem na ordem dos 32.217 exemplares e uma circulação de 17.794, o

que significa que 55% dos jornais nesse bimestre chegaram efetivamente ao público. No ano de 2014,

                                                            1 http://www.dn.pt/

3  

a informação disponibilizada até à data pela APCT, a qual podemos observar através da Figura 1,

permite-nos constatar que o cenário se mantém idêntico, ainda que com valores de tiragem mais

baixos: o primeiro bimestre foi marcado por uma circulação de 17.478 jornais e o terceiro – último

com dados disponíveis no site 2 – de 17.414 jornais.

31.409 31.071 31.197

17.478 17.420 17.414

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

1.º Bimestre 2.º Bimestre 3.º Bimestre

Tiragem Circulação

Figura 1 – Gráfico representativo dos valores da tiragem e da circulação do DN nos três bimestres do

ano de 2014 (fonte: APCT).

Por comparação com os jornais diários de informação que se vendem em Portugal,

percebemos que o DN está longe do fulgor de outros tempos. Hoje, encontra-se – sempre tendo em

conta os dados disponibilizados pela APCT relativos aos três primeiros bimestres do ano – em quarto

lugar dos jornais de informação geral diários que mais venderam no país em 2014. A Figura 2 mostra

que o Correio da Manhã (CM) é, destacadíssimo, o que mais circulação registou, o único acima das

100.000 unidades. O pico acontece no primeiro bimestre, em que atinge a marca de 115.165 jornais

vendidos. De seguida, encontra-se o Jornal de Notícias, com uma vantagem de mais de 30.000

unidades em todos os três bimestres em comparação com o Público. Só depois vem o DN, que apenas

está acima do jornal i, o qual nunca ultrapassou uma circulação de pouco mais de 4.207 unidades.

Um facto curioso é que todos os diários apresentaram números inferiores de circulação se

compararmos com o ano de 2013, à exceção do Público, que no primeiro bimestre deste ano registou

um número ligeiramente superior de circulação (27.918 em 2013 contra 28.284 em 2014). Posso

dizer, com a certeza que só os números conseguem dar, que houve uma quebra generalizada de

circulação de jornais nos principais diários de informação em Portugal nesse período.

                                                            2 http://www.apct.pt/ 

4  

140.000

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

1.º Bimestre 2.º Bimestre 3.º Bimestre

Correio da Manhã

Jornal de Notícias

Público

Diário de Notícias

Jornal i

Figura 2 – Gráfico comparativo dos valores da circulação dos cinco jornais diários nos primeiros três

bimestres do ano de 2014 (fonte: APCT).

5  

6  

Capítulo 2 – O estágio: uma viagem por entre mais de um século de aprendizagem

2.1 – Afazeres plenos de prazeres

Neste que foi o quarto jornal de informação diário que mais vendeu no país durante todo o ano

de 2013, estagiei durante três meses na secção País – Segurança, na delegação do Porto, de 7 de

outubro de 2013 a 6 de janeiro de 2014. Nesta secção, são redigidas sobretudo notícias relacionadas

com crimes, tribunais, acidentes, forças de segurança e ações de sensibilização que ocorrem no país.

Embora fosse essa a secção na qual eu trabalhava diariamente, pude também direcionar, de vez em

quando, a minha atenção para outras duas secções: a de País – Cidades, onde se incluem notícias

mais de âmbito local e/ou relacionadas com eventos que acontecem nas várias cidades que povoam o

país, e a de Sport, além dos habituais e – porque não? – tradicionais trabalhos destinados a estagiários

na secção dos obituários. Pude, ainda, escrever para a plataforma online do DN.

Durante este período, confrontei-me com várias situações que merecem uma reflexão própria

de quem entrou para o mundo real do trabalho, ainda que no regime de estagiário. Foi, até, no estágio

que fiz o primeiro telefonema enquanto jornalista para obter informações de uma fonte. Numa notícia

em particular da minha autoria, respeitante a um incêndio que ocorrera numa oficina no distrito de

Leiria, foi da minha responsabilidade o telefonema para os bombeiros, no sentido de me inteirar do

que tinha acontecido antes e depois do incidente, dos estragos causados e de possíveis feridos.

Aprendi, nesse exato momento, que comecei por fazer as perguntas erradas. De facto, assim que me

introduzi ao comandante, perguntei de imediato por feridos, pelo número de viaturas queimadas e

pelos estragos no edifício. Com a ajuda do meu orientador de estágio, David Mandim, jornalista do DN,

percebi que deveria, primeiro, fazer uma pergunta de âmbito mais geral e… mais simples. “Pode dizer-

me o que aconteceu ao certo?”, por exemplo. Só depois, com o desenrolar do discurso da minha fonte,

é que deveria ir ao pormenor. Faz sentido. Porventura a inexperiência e a ansiedade próprias de quem

quer mostrar serviço poderão ter-se apoderado de mim e tornado mais árdua uma tarefa que não o é.

Mas tudo isso faz parte da aprendizagem e do contacto com o mundo real do trabalho.

Finalizado esse primeiro passo, incumbiu-se-me a tarefa de, claro, ouvir a outra parte. Neste

caso, tive de ligar para a oficina lesada pelo infortúnio. Afinal, só uma fonte ligada a ela me poderia

inteirar do estado da oficina e dos seus trabalhadores. Preparado para fazer um telefonema enquanto

jornalista pela segunda vez, não obtive nenhum “sim?” ou “estou?” do outro lado da linha. Voltei a

tentar. Voltei a não obter resposta. É um problema que voltei a encontrar na redação de uma outra

notícia, em que, não obtendo resposta via telefone, tive de enviar um e-mail, ao qual só obtive resposta

passados dois dias. Num mundo e numa profissão que exige rapidez, é impensável contactar as fontes

7  

apenas por e-mail, pois o risco de não obter resposta é por demais evidente. É também um dos

problemas do chamado “jornalismo de secretária”, aquele em que as notícias são feitas

maioritariamente na redação, sem que o jornalista se desloque ao local onde o evento se deu. Sem

resposta da oficina, lá tive então de pôr em prática algo que aprendi nas várias aulas práticas de

jornalismo que durante cinco anos fui tendo. “O DN tentou contactar a oficina, com o intuito de se

inteirar da situação da empresa e dos seus trabalhadores, mas sem efeito”, escrevi, com alguma

tristeza por não poder fornecer toda a informação que queria e que era devida.

Mas também naquilo que considerava, à primeira vista, fácil encontrei dificuldade. Falo das

breves, essas notícias em miniatura que exigem que o jornalista escreva tudo e não escreva nada. Em

poucos caracteres, muitas vezes mesmo em uma ou duas frases, no máximo, tive de conseguir

condensar a informação lógica e adequadamente, para que o leitor percebesse o que queria transmitir

num espaço tão curto. Fi-lo a partir de textos já existentes, fornecidos pela Lusa. Tentei sempre

obedecer à lógica da resposta aos tradicionais “quem, o quê, quando, onde, porquê e como”, o que

me levou a ter de cortar várias palavras por várias vezes do texto original e a modificá-lo, também para

não entrar no facilitismo do copy-paste, que queria, a todo o custo, evitar. O maior entrave que senti

nesta atividade não foi tanto discernir que informação necessitava de selecionar para a breve; foi

mesmo a de fazê-la caber no espaço que lhe era reservada.

Encontrei essas dificuldades em respeitar os limites de uma caixinha de texto com uma notícia

nas primeiras vezes, é certo, mas tomei-as como um desafio a ultrapassar, tendo acabado por,

também com a prática, demorar cada vez menos tempo na sua realização. Fiquei, inclusive, a gostar

de cortar expressões, trocar palavras maiores por sinónimos mais pequenos e, numa lógica quase de

uma brincadeira séria, fazê-lo de forma a que a última linha ficasse preenchida integralmente. Foi uma

tarefa que me acompanhou na quase totalidade dos dias do estágio, a ponto de pensar que aquele dia

em que não havia feito nem uma breve não tinha sido o mesmo. Isto apesar, claro, de o meu sonho,

como o de qualquer jornalista, não se coadunar propriamente com a escrita deste estilo de texto

informativo, que acaba por limitar o nosso trabalho, mas antes a de grandes reportagens escritas. Este

assunto será, de resto, também aprofundado ao longo do presente relatório.

2.2 – Mortes que me deram vida

Durante três meses, mantive contacto com uma secção que, longe de me ser próxima, é

familiar a todos os jornais. Na verdade, creio que qualquer estagiário de qualquer jornal informativo

está sujeito a dedicar algum do seu tempo aos obituários. O período durante o qual estagiei coincidiu

8  

com a morte de alguns nomes notáveis de várias áreas. A mais flagrante é, sem dúvida, a de Nelson

Mandela, em inícios de dezembro de 2013. Mas claro que os obituários da minha autoria não foram

respeitantes a tal figura, porquanto a própria vida e história do ilustre líder sul-africano naturalmente

merece mais do que uma pequena caixa de texto numa página. Quem fala de Mandela fala também de

Lou Reed, monstro da música cuja morte, em fins de outubro do mesmo ano, também mereceu

páginas de destaque, não pequenas caixas de texto na secção dos obituários.

Será porventura importante ressalvar que estes obituários de que falo não se podem traduzir

propriamente na necrologia que alguns jornais, possivelmente de âmbito mais regional, têm. Estes

obituários do DN, que todos os dias são escritos, contêm quatro caixas de texto, uma maior e mais

destacada, todas com uma fotografia a ilustrar o perecido, com linhas dedicadas aos êxitos e

conquistas da sua vida e a dar conta da natureza da sua morte. São, portanto, pessoas que se

destacaram um pouco por todo o mundo em diversas áreas, desde cientistas a músicos, passando por

bispos, escritores, pensadores, atletas, atores e políticos… mas também criminosos e assassinos em

série que se tornaram famosos por razões invariavelmente menos nobres. Isto para ilustrar que são

obituários não relativos ao comum cidadão, mas aos que, portugueses ou de qualquer outra

nacionalidade, se destacaram por esta ou por aquela razão.

Encarei a escrita dos obituários como uma forma de conhecer melhor quem partiu. Muitos dos

nomes que escrevi eram-me manifestamente desconhecidos, confesso, pelo que me obriguei, mais não

seja por uma questão de respeito, a perceber quem foram e o que fizeram nas suas vidas. A escrita

deste tipo de texto não é lecionada nas disciplinas de jornalismo, e considero importante reconhecer

que qualquer estudante desta área se encontra habilitado a escrevê-lo, pelo que nem me parece fazer

sentido estudar obituários ou a sua escrita. Pelo menos é a sensação com que fico, dada a manifesta

facilidade da tarefa.

2.3 – Novos desafios de um novo mundo

Nem só de mortes se fizeram os meus três meses de estágio. Também o desporto – mais

concretamente, aquele que é considerado o desporto-rei, o futebol – ocupou um lugar de destaque em

fins de 2013, muito por culpa da seleção nacional. Em novembro, qualificou-se para o Campeonato do

Mundo de 2014, no Brasil, no playoff que opôs o nosso lusitano Portugal à viking Suécia. Menciono isto

simplesmente porque me permitiu viver numa redação um ambiente que só o futebol, esse perito no

despertar de emoções, poderia proporcionar. Foi, aliás, motivo de conversa – umas vezes mais séria,

outras mais em tom de brincadeira – todos os dias entre os colegas de redação. E também refiro o

9  

desporto porque, apesar de estagiar na secção de segurança, acabei por fazer trabalhos também na de

desporto, quando ainda não havia material para trabalhar em segurança, por exemplo. Isto foi algo que

me deu prazer, uma vez que tenho um gosto especial por esta área – não necessariamente para a

seguir profissionalmente.

Aliás, foi também na secção de desporto que pude fazer mais um telefonema enquanto

jornalista. Na verdade, foram três, mas dado que uma das pessoas contactadas não atendeu, outra

disse não ter tempo para prestar declarações e outra ainda fez questão de, bem alto, exclamar “então

você liga para o telemóvel e não sabe que eu ‘tou no Irão? Assim também pago a chamada!”, prefiro

contar como um telefonema apenas. Uma experiência que, apesar de algo amarga, me abriu os olhos

para o facto de nem sempre ser fácil contactar fontes e estabelecer com elas uma relação. Fiz, durante

o meu estágio, apenas duas notícias de desporto, uma de fórmula 1 e outra de ténis, um número

pequeno mas suficiente para perceber que conseguiria ser competente e encontraria também prazer

se me dedicasse ao jornalismo de âmbito desportivo.

O ambiente na redação marcou-me. Sendo manifestamente pequena, senti camaradagem e

proximidade entre todos os jornalistas. Não me senti, de todo, posto de parte pela minha condição de

estagiário ou por ser novo. De facto, se precisasse de ajuda para obter um número de telefone ou para

tirar alguma dúvida sobre questões técnicas, por exemplo, eu tinha essa ajuda de pronto. A

proximidade entre todos manifestava-se, também, em comentários – novamente, mais ou menos

sérios, mais ou menos em tom de brincadeira – às notícias do dia, transmitidas na redação pela RTP

Informação, TVI 24 e SIC Notícias. Esse foi também um facto que me impressionou: o dia era passado

a escrever notícias ouvindo notícias. Além de nos pôr em constante contacto com o que se passa no

país e no mundo, escrever notícias no jornal a ouvir notícias na televisão faz-nos ter presentes dois

estilos de escrita jornalística diferente, o que contribui para, no meu caso, aprender com maior

exatidão as diferenças que necessariamente existem entre as notícias escritas na imprensa e aquelas

que são transmitidas na e pela televisão. Ao contrário do que poderia ter pensado ao início, a

informação que provinha das televisões não era utilizada na escrita das notícias para o jornal. É que, a

meio da tarde, o trabalho estava já destinado, cada jornalista, eu incluído, sabia o que tinha a fazer

para aquele dia, e utilizavam-se outras fontes de informação que não as televisões. Elas funcionavam,

no fundo, como banda sonora para o desenrolar da ação, mas não assumiam o papel principal.

Algo que também não me imaginava a fazer foi a parte do online, de escrever notícias para o

site do DN. Mas fi-lo. Eu, que estou longe de ser um perito em questões relacionadas com HTML, lá fui

escrevendo notícias para publicar online quando não dispunha de material para escrever as notícias na

10  

edição em papel do jornal ou quando, pura e simplesmente, como qualquer estagiário está sujeito, não

me tinha sido destinado nenhum trabalho para o jornal em papel do dia seguinte. No espaço virtual,

escrevi notícias única e exclusivamente relacionadas com a secção de segurança, pelo que, mesmo

que não tivesse nenhuma notícia para o jornal, sempre ia praticando a escrita de notícias da minha

secção.

As notícias que escrevi foram maioritariamente retiradas dos sites da Guarda Nacional

Republicana (GNR), Polícia Judiciária (PJ) e Polícia de Segurança Pública (PSP), as três grandes forças

policiais nacionais que fazem do combate ao crime a sua vida. A partir dos comunicados que

disponibilizavam nos seus sites, a maioria com títulos demasiadamente parecidos (algo do género

“detidos por furto a habitação”, “detido por tráfico de droga”, precedidos da localização onde a

apreensão ocorreu), construía textos diferentes, com títulos diferentes, o que me obrigava a ser criativo.

Nesse âmbito, senti-me plenamente capaz quando escrevi numa notícia os mesmos crimes – ou de

natureza semelhante – que tinham ocorrido em localidades diferentes. Por exemplo, em vez de fazer

duas notícias referentes a “um jovem detido por assalto com recurso a arma branca em Loulé” e a

“três indivíduos detidos por assalto à mão armada em Matosinhos”, escrevi uma só notícia com

destaque para a que tinha mais informação. Se a notícia de Loulé fosse o caso, então escreveria sobre

ela, para no fim mencionar que “também em Matosinhos um grupo de jovens foi detido por assalto,

mas à mão armada (…)”. Não foi propriamente algo que me ensinaram nas aulas de jornalismo nem

na própria redação me aconselharam a fazê-lo. Partiu de mim e foi algo do momento.

Escrever para o online não é o mesmo que escrever para o jornal em papel. Aliás, há um fator

crucial que distingue as escritas para um e para outro: o tempo. É que um jornalista acaba por ter

mais ou menos tempo para escrever uma notícia para sair no dia seguinte, mas se ela tiver de sair no

site do jornal, então ele terá de a escrever e publicar já. Apesar de não ter sentido qualquer tipo de

pressão para publicar as notícias online, a verdade é que, no meu subconsciente, ouvia sempre uma

voz que funcionava como um tic-tac irritante, ordenando-me que terminasse o trabalho o mais

rapidamente possível, naquele espírito jornalístico de ser o primeiro a dar a notícia. E tentava respeitar

essa voz, mas sempre certificando-me de que o trabalho estava bem feito. Foi, sem dúvida, a minha

maior dificuldade no que respeita à escrita de notícias para o online, visto que até nem notei diferenças

– quer em termos de linguagem, quer em termos de estrutura – entre a forma como estava habituado

a escrever para o jornal e a forma como escrevi para o seu site.

Ainda sobre o tempo, considero pertinente mencionar a pena que sinto por não ter

experienciado o stresse próprio do deadline do jornal. Por força da viagem de regresso a Braga que

11  

todos os dias tinha de fazer de comboio, saía mais cedo do trabalho que os restantes jornalistas do

DN. Acabei por não apanhar o frenesim típico do fecho do jornal, em que dali a uma hora já tinha de

estar na tipografia e ainda era preciso fazer mais um texto ou modificar outro. Teria certamente

contribuído para melhorar a minha capacidade de trabalho em condições de stresse e para eu próprio

poder amadurecer enquanto profissional. Terei, ainda que mais esperançosa do que garantidamente,

oportunidade para viver essa ordenada confusão no meu futuro.

Percebi que existe todo um processo por detrás da escrita de uma notícia que antes do início

do estágio só conseguia imaginar. É que as notícias que fui escrevendo tinham sempre de passar por

um superior – neste caso, o meu orientador do estágio –, o qual manifestava a sua opinião e, claro,

corrigia aquilo que, pela sua maior experiência, considerava que precisava de ser feito de uma outra

maneira. Havia, portanto, uma mediação na escrita das notícias. Há sempre mais do que um jornalista

envolvido na produção noticiosa; na verdade, são vários os profissionais que se envolvem, de forma

direta ou indireta, na preparação, construção e revisão do produto noticioso. Esta é outra realidade que

só graças a um estágio profissional eu pude ter noção.

2.4 – Amargos dissabores para temperar no futuro

O jornalismo tem na sua identidade a procura da informação, a busca incessante pela verdade

e a demanda pelos factos concretos e reais. Neste sentido, é o espírito empreendedor e destemido do

jornalista, capaz de resistir a pressões externas e de desafiar os limites impostos seja por que

circunstâncias forem – no fundo, a visão romântica da profissão –, o responsável por tornar prática

esta teoria.

Não é ao acaso que o parágrafo supramencionado, ainda que seja mais curto do que todos os

que o antecederam, é aqui colocado: de facto, todo esse lema que envolve o jornalismo da busca pela

verdade pode ser transposto para o caráter prático do trabalho realizado por um jornalista. Por outras

palavras, o trabalho de campo é crucial nesta profissão. E durante o período em que estive a estagiar,

esta foi uma realidade que ficou por experienciar. Grande parte dos textos que redigi foi através da

agência Lusa, que fornecia as notícias. Depois, reescrevia-as, desmontando cada parágrafo, arranjando

outras expressões, distinguindo o essencial do acessório. No fundo, tornava as notícias minhas, dava o

meu cunho e nunca, mas nunca caí na tentação do copy-paste. Até porque, na verdade, para mim não

é grande tentação copiar um texto que não é da minha autoria. Nem mesmo o fator de poder poupar

tempo com essa ação me atrai, porquanto o regozijo de ter uma notícia escrita por mim suplanta

qualquer outra motivação.

12  

Esta escrita de notícias a partir de outras notícias fez parte do meu dia-a-dia no DN. Nunca saí

propriamente para a rua, com o intuito de fazer o tal trabalho de campo, recolher depoimentos

pessoalmente, procurar a raiz do acontecimento. Fiquei pelo trabalho na redação, pelos takes da Lusa,

pelos telefonemas, pelas pesquisas na internet. Era ambição minha fazer uma reportagem, género

jornalístico que muito aprecio pela liberdade que concede ao jornalista, mas naqueles três meses

nunca se proporcionou. É quiçá o maior arrependimento, um amargo arrependimento, que tenho do

tempo em que estive no estágio e que me irá decerto perseguir até conseguir finalmente assinar uma

reportagem num jornal.

Considero que ter feito o trabalho jornalístico de campo poderia ter-me dado um arcaboiço que

muito gostaria de ter tido e que de outra forma não é possível ter. Poderia também ter-me tornado

mais ativo na procura da informação. Ter-me-ia porventura dado mais gozo, até. Mas tento sempre ver

a realidade pelo lado positivo. Na verdade, e embora reconheça essa lacuna, o tempo que estive na

redação tornou-me mais competente na componente das interações entre colegas de profissão e

fortaleceu os meus conhecimentos dos meandros das redações dos jornais, mesmo apesar de a

redação portuense do DN ser manifestamente pequena – a contar comigo, eramos sete jornalistas ao

todo. Para quem nunca tinha estado em real contacto com esse mundo, para quem a imagem de uma

redação era ainda um mistério envolto num denso mas convidativo nevoeiro, já se pode considerar isto

como um começo. Um começo que deseja não ter fim.

2.5 – Entre a experiência e o estudo das notícias sobre crime

O estágio trouxe-me toneladas de aprendizagens e novos conhecimentos que só esta

experiência me podia ofertar. Depois de quatro anos de braço dado com a teoria, através das aulas e

dos manuais, foi altura de abraçar a prática e partir numa aventura que muitos frutos me deu. Uma

vez finalizada, é altura de refletir e aprofundar a temática da escrita de notícias de crimes, a qual me

foi introduzida por este estágio e que me marcou profundamente.

No desembarque desta viagem, não tinha bem noção do que iria fazer quando fosse colocado

no DN. Tanto poderia tratar de assuntos da política como envolver-me no desporto, cingir-me ao online

ou até cumprimentar as sempre evitáveis páginas do social. Apenas sabia que não iria tratar da

cefaleia que é a economia, porquanto a incompatibilidade própria de quem não consegue harmonizar

as letras com os números, cuja cura ainda persigo, me obrigou a colocá-la no fundo das minhas

preferências numa reunião preliminar que juntou o subdiretor do DN, Leonídio Paulo Ferreira, ao grupo

de estagiários, onde me incluía, que iria entrar de serviço naquele período. Acabei por ser colocado na

13  

Segurança, uma secção em que não havia imaginado trabalhar, mas que, à medida que os dias foram

passando, me marcava cada vez mais e me oferecia sensações – umas mais mórbidas do que outras

– a cada linha que escrevia.

Sempre existiram crimes, e os jornais sempre os acompanharam. Os crimes fazem parte da

história do jornalismo, e eu pude participar, mesmo que por pouco tempo, na contínua construção

dessa história. Fascina-me a ideia de alguém poder vir, daqui a uns anos, a estudar – porque não? – os

crimes que ocorreram no nosso país e saber que tenho a minha miúda inscrição na história. É por isso

que também me atrai o modo como os crimes se relatam nos jornais. Porque, estou em crer, haverá

consideráveis diferenças quando se escreve sobre crimes, que não estão circunscritas à natural

perceção diferente de cada jornalista de cada jornal acerca do mesmo crime, notória aquando da

transposição para a escrita do evento. O próprio facto de trabalharem para jornais diferentes pode

mudar a forma como noticiam o crime. Além disso, é um tema que muito facilmente, pela sua própria

natureza que já acarreta dramas e/ou bizarrices, pende para o sensacionalismo, algo que qualquer

jornalista, mais não seja por se tratar de um ideal definido no próprio Código Deontológico da

profissão, deveria repudiar. Daí a pertinência do tema (e o meu óbvio interesse por ele).

Aliás, uma experiência que tive no estágio, aquando da escrita de uma notícia, ajudou-me na

decisão de prosseguir o relatório com este tema. Motivado não só pela aprendizagem que durante

cinco anos recebi mas também pelos meus ideais do que deve ser o jornalismo, escrevi um título

essencialmente informativo numa notícia de um crime. O meu orientador de estágio elogiou-me, disse

que a notícia estava muito bem escrita, mas o título teria de ser forçosamente outro, sob pena de

passar despercebido naquela página do jornal. Teria de ser um título que, de algum modo, mostrasse

como o crime ocorreu e que desse uma ideia da sua violência, com o intuito de prender o leitor. Isto

também prova o quão ténue pode ser a linha que separa o jornalismo rigoroso do jornalismo mais

sensacionalista. Mas o primeiro é sempre mais desejável e pode ser exequível.

A proposta, daqui por diante, é simples: depois da reflexão acerca da minha experiência de

estágio, segue-se um estudo sobre como são construídas as notícias de crimes no DN –

especificamente, as da minha autoria –, aferindo o número e tipo de fontes de informação utilizadas na

sua redação, averiguando o respeito pelas normas do Código Deontológico do Jornalista, versão

portuguesa, e comparando-as com as notícias sobre o mesmo evento escritas pelo CM, um jornal mais

conotado com o sensacionalismo e com o jornalismo tabloide.

Mas antes, propunha uma viagem por entre definições e conceitos. Falo, claro está, da

literatura, ela que é, por razões óbvias, importante não só para a compreensão da experiência de

14  

estágio, mas também – e principalmente – para o estudo que foi feito e que será apresentado no

presente relatório no capítulo a ele destinado.

15  

16  

Capítulo 3 – O que envolve a escrita de notícias de crimes: um olhar sobre a literatura

Para melhor compreender a minha experiência de estágio e enquadrar não só as vivências que

diariamente me inundaram durante aqueles três meses mas também o próprio estudo que foi levado a

cabo, é importante que tenhamos algumas noções sobre a imprensa tabloide, a construção das

notícias, o crime na imprensa, a tipologia das fontes de informação e quais as que são utilizadas

nessas notícias e o conteúdo do Código Deontológico do Jornalista. É precisamente a estas temáticas

que as próximas linhas se dedicam.

3.1 – Algumas considerações sobre a imprensa tabloide

Os meios de comunicação social, abrangente leque no qual a imprensa naturalmente se inclui,

podem ser concebidos como instrumentos com grande peso na construção da realidade e na

moldagem ideológica do mundo (Frade, 2006: 7). O acesso a essa informação que é produzida pelos

media está, na ótica de Sodré (1996; citado por Frade, 2006: 8), estreita e intimamente ligado à

situação económico-financeira dos leitores. Não será de estranhar, por isso, a existência de uma visão

mais mercantil – nada romântica – do news making, em que a informação se torna num produto

colocado à venda ao público. Neste sentido, os órgãos de comunicação social, cientes do seu poder

nos meandros da esfera pública, “podem estimular o consumo de informações em massa” (Frade,

2006: 8), originando uma expetativa de que a democracia social poderá ser alcançada por via deste

caminho.

É por demais evidente que não é correto fazer referência a esta noção de comunicação

alargada às massas sem introduzir um aspeto que muito contribui para essa maximização do produto

informativo: o surgimento dos tabloides. É sabido que os conteúdos desse tipo de jornais se centram

no foco na vida privada dos indivíduos, na política – não raras vezes intervindo nesse campo de forma

partidária e populista –, num movimento fluido entre as notícias e o entretenimento e no uso

predominante de imagens e dramatização em detrimento de elementos textuais e analíticos

(Johansson, 2007: 32). Um jornal sensacionalista, para Frade (2006: 14), é um jornal que valoriza a

violência, que destaca temas como “o assassinato, o suicídio, o estupro, a vingança, a briga, as

situações de conflito, a agressão sexual e a tortura”. Notícias ligadas ao mundo das celebridades e de

escândalos sexuais, os quais podem ser muitas vezes acompanhados de “métodos jornalísticos

agressivos” (Johansson, 2007: 7), como a cobertura paparazzi, constituem igualmente características

deste tipo de jornais. O sensacionalismo busca, pois, “conteúdos mais sedutores para um público

popular” (Frade, 2006: 17), aproximando-se do leitor ao transportá-lo para o local do acontecimento,

17  

mesmo junto à vítima e ao criminoso, sentindo as suas emoções (Angrimani, 1995; citado por Aguiar,

2013).

A objetividade, sabe-se, “contribui para o discurso que sustenta a instituição jornalística”

(Brixius, 2006: 8), aproximando o jornalista dos factos sem que haja juízos de valor. No entanto, não é

difícil perceber que os jornalistas não são meros observadores passivos da realidade, dado que têm um

papel ativo na sua construção, mais não seja pela própria natureza do seu trabalho. É importante reter

que as notícias não constituem um espelho da realidade, mas antes “uma representação do mundo, e

todas as representações são seletivas” (Schudson, 2003: 33). Tendo em conta que a objetividade é “a

característica preponderante do texto informativo” (Frade, 2006: 9), um princípio-chave do jornalismo,

um pilar sobre o qual toda a atividade jornalística se ergueu desde os tempos mais remotos, importa

perceber que os tabloides desafiam constantemente essa regra de ouro do jornalismo. De facto, linhas

editoriais há repletas de exageros e engrandecimentos na escrita das notícias, algo que contraria a

objetividade, o rigor, a exatidão com que o jornalismo deve abordar a realidade a ser comunicada.

As características supramencionadas dos jornais tabloides configuram, na prática, o

sensacionalismo, conotado com um declínio e uma redução dos standards jornalísticos que, em última

instância, debilita as funções dos media nas democracias liberais (Gripsrud; in Sparks & Tulloch, 2000:

285). Por poder ser entendido enquanto uma arma ao seu serviço que estende a produção noticiosa

além daquilo que é efetivamente real, a credibilidade do sensacionalismo – e, por extensão, dos

tabloides – pode ser colocada em causa (Frade, 2006: 10). Não se estranha, pois, a existência de

críticas ao modo como os tabloides operam quer da parte de jornalistas quer da parte de políticos,

além de textos académicos produtos de investigações no campo do jornalismo (Johansson, 2007: 7).

Uma das mais comuns prende-se com o facto de os jornais tabloides “venderem sensacionalismo e

entretenimento em vez de fornecer o tipo de informação que pode contribuir para uma cidadania

democrática” (Wasserman, 2008: 1). Muitas vezes, os jornalistas e editores deste tipo de jornais

acabam por ser vistos como “cínicos em busca de lucro (…) que professam uma coisa e fazem o

oposto assim que tiverem outra oportunidade” (Rhoufari; in Sparks & Tulloch, 2000: 163), No fundo, e

como Amaral (2005: 5) refere, o sensacionalismo pode ser considerado como um “conceito errante”,

seja pelas suas insuficiências, seja pelas suas generalizações.

Para caracterizar a linguagem própria dos tabloides e do sensacionalismo, Tófoli (2010: 1)

recorre a Pedroso, que a define como valorizando a emoção em detrimento da informação, como

dando destaque a elementos “insignificantes, ambíguos, supérfluos ou sugestivos” e subtraindo

elementos importantes e acrescentando ou até mesmo inventando palavras ou factos. Além disso, o

18  

sensacionalismo caracteriza-se por ter uma “produção discursiva sempre trágica, erótica, violenta,

ridícula, insólita, grotesca ou fantástica” (Pedroso, 2001; citado por Tófoli, 2010: 1). Apesar das

críticas, com as quais concorda, Gripsrud (in Sparks & Tulloch, 2000: 299) defende que para um

sistema democrático dos meios de comunicação social funcionar são necessários todos os tipos de

jornalismo, incluindo o sensacionalismo, já que só na diversidade e pluralidade é que há espaço para

um medium ser meritório.

Ora, este sensacionalismo próprio dos tabloides não é de agora. Com efeito, as suas raízes

reportam-nos ao período do yellow journalism, nos Estados Unidos da América, nos finais do século XIX

e inícios do século XX. Ampla e largamente debatido um pouco por toda a comunidade jornalística,

esse tipo de jornalismo acarretou um novo modo de encarar a própria fisionomia dos jornais. Aos

broadsheets, um tipo de jornal marcadamente informativo, a preto e branco, com poucas ou

nenhumas imagens e com um tamanho maior, juntaram-se nesta época, então, os tabloides, mais

pequenos no formato, mais coloridos, mais ousados e com conteúdos diferentes, com uma visão mais

focada na obtenção de lucros no sentido da manutenção do próprio jornal (Filho, 1989; citado por

Zacariotti et al., 2007: 2). Foi nesta altura que as notícias de crimes invadiram em força os tabloides

norte-americanos, estridentes e sensacionais, sendo que esta imprensa rapidamente tecia conclusões

acerca da inocência ou culpa de quem era acusado dos crimes, bem antes de o júri deliberar o

veredito (Petersen, 1999: 75). É exatamente sobre o modo de noticiar crimes que o presente relatório

enveredará a partir das próximas páginas.

3.2 – O valor do texto e da imagem na construção das notícias

Há dois elementos que assumem uma importância capital na construção de uma notícia, que

pode ser construída não só pelo próprio texto, mas também por imagens. Aliás, de acordo com Cunha

e Andrade (1999: 3), “a linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação de diversas linguagens:

a linguagem verbal escrita, a fotográfica, a gráfica e a diagramática”. Sendo as três primeiras

percetíveis, convém precisar que a última se trata daquela linguagem referente à disposição da

informação no espaço da página do jornal. “O tamanho do texto, se conterá 20, 30 ou 70 linhas, bem

como o tamanho do título, a forma de diagramação, os destaques que são dados na hora de se

esboçar o layout da página do jornal” são, para Freitas (1999: 11), os chamados filtros visíveis de

informação e que podem ajudar a destrinçar diferentes tipos de jornais.

Ora, enquanto uns jornais organizam os seus textos de modo a apresentar uma linguagem

culta, formal e até editam manuais de redação, outros optam por uma linguagem de cariz mais

19  

popular, “na busca de maior aproximação com o leitor das classes mais modestas da população”

(Cunha & Andrade, 1999: 3). Esta diferença é provocada pela concorrência existente entre os jornais,

que os fazem procurar a adesão de um determinado público leitor. É pressuposto, na ótica dos

autores, que os jornais utilizem uma linguagem “fiel à norma padrão culto”, “um estilo preocupado

com a comunicação em todos os níveis socioculturais”, que se reja pela ausência da retórica e do

hermetismo, de extremismos, purismos, vulgarismos, gíria e coloquialismo.

Recorrendo a um livro de Ana Rosa Ferreira Dias, os mesmos autores dão um exemplo de uma

notícia publicada no jornal brasileiro Folha de São Paulo, em 1991, sobre a crise na antiga Jugoslávia,

em que são notórios traços que vão contra o que o próprio jornal advoga – no seu manual de redação

– sobre como noticiar eventos dramáticos, através de uma descrição “seca e concisa”. O facto de o

clima de tensão emocional vivido não se limitar à narração direta e precisa dos factos, mas ao uso de

adjetivos (“reportagem excitante”), à presença pontual do discurso na primeira pessoa do singular (“vi

tiroteios”) e à avaliação e emprego de termos incomuns na linguagem culta (“deixando os

observadores malucos”), mostra como um jornal pode ultrapassar a barreira do relato sério, imparcial

e cuidado dos factos.

A linguagem usada na notícia tem, de facto, uma importância vital na construção por parte do

público da realidade e do próprio crime (Pollak & Kubrin, 2007: 61). A dificuldade do jornalista

aumenta na escrita de uma notícia sobre crime se tivermos em conta que os jornais têm de condensar

os crimes em curtos espaços de notícia. Além disso, em certos temas como, por exemplo, crimes ou

violência social, “é difícil para o jornalista redigir o seu texto” (Cunha & Andrade, 1999: 5). Com efeito,

a língua “não é constituída de significados restritos e homogéneos; ela não é um instrumento de

comunicação fechado” (Freitas, 1999: 7).

A imagem – particularmente a fotografia – começou, também, a ganhar cada vez mais

importância nos jornais nas últimas décadas da imprensa. “Mais espaço para a fotografia, para a

infografia, mais atenção à página enquanto unidade que se quer atraente, de leitura mais fácil”, a

atribuição de “valor estético às superfícies brancas, permitindo que as páginas – que antes se

asfixiavam de tanto texto – passassem a respirar” (Alves, 2003: 187) são algumas características

dessa mudança. A função primordial da fotografia nos jornais e no jornalismo coaduna-se com a da

profissão: informar o público (Cordeiro, 2006: 17). Para Sousa (2002: 5), a fotografia jornalística

“mostra, revela, expõe, denuncia, opina” e fornece informação, funcionando como um aliado na

credibilização da informação textual. A fotografia e o texto estão sempre unidos; “não existe

20  

fotojornalismo sem texto” (ibidem: 76). É, pois, um importante elemento discursivo presente nos

jornais, especialmente desde que eles deixaram de ser ocupados apenas por texto.

Um dos mais importantes nomes da filosofia linguística, Roland Barthes, é autor do estudo

fundador das relações entre texto e imagem. Barthes (1964; citado por Martinec & Salway, 2005: 341)

baseou-se numa tripla distinção concernente à relação entre texto e imagem: quando o texto suporta a

imagem, que assume um papel de maior protagonismo, há uma relação de “ancoragem” (anchorage);

quando o contrário se verifica, ou seja, quando é a imagem a suportar o texto, de “ilustração”

(illustration); quando as duas componentes são igualmente importantes, de “retransmissão” (relay).

Empregando as próprias palavras de Barthes, há uma relação entre texto e imagem de “ancoragem”

quando a linguagem claramente funciona como uma elucidação em relação à imagem e de

“ilustração” quando a imagem elucida ou perceciona o texto.

3.3 – Notícias de crimes na imprensa

Budó (2006: 1) afirma que “o crime e o jornalismo sempre tiveram relações estreitas”. De

facto, se recuarmos até ao período que se estendeu desde o século XV aos inícios do XX, era em que a

imprensa escrita assumiu particular preponderância na transmissão de informação, antes da rádio,

televisão e da internet, percebemos que as notícias relativas a crimes começaram a atingir um público

cada vez mais vasto (Surette, 2011: 7). Aliás, os crimes começaram a ser uma característica central

das notícias dos jornais por volta de 1830, sendo que pouco mais de meio século depois, em 1890,

com o advento do yellow journalism, a dramatização dos crimes e também dos próprios criminosos

tornou-se uma realidade. Não é demais lembrar que foi neste período que os meios de comunicação

social se transformaram em meios massificados de infotainment, uma perigosa confluência entre a

informação e o entretenimento com fronteiras um tanto ou quanto indefinidas.

Ora, nesta época do yellow journalism, os crimes ganharam toda uma nova dimensão e

importância para os jornais e tornaram-se, inclusive, um aliado porque os ajudaram a ter mais vendas

(Chermak, 1994: 97). O tipo de crimes julgados e relatados pelos tabloides expuseram as

preocupações e os problemas americanos específicos do início do século passado (Petersen, 1999:

77). A importância dada por aqueles media aos crimes que viriam a ser julgados era de uma extensão

tal que os próprios julgamentos serviam como barómetros sociais. De facto, a própria construção da

narrativa dos crimes influenciava a opinião pública e o modo como o crime relatado era observado.

Neste sentido, é importante notar que Surette (2011: 6) nos alerta para a “surpreendente” similitude

entre os relatos de crimes feitos nesse período e aqueles com que nos confrontamos no nosso

21  

quotidiano: ambos apresentam imagens que fomentam a impressão de que “os indivíduos

competentes perseguem e capturam os criminosos; e encorajam a crença de que os criminosos

podem ser reconhecidos prontamente e de que o crime é, em última análise, reduzido através de

esforços agressivos das forças da lei”.

Nesta altura do yellow journalism, os jornalistas dos tabloides não só estereotipavam os

arguidos do sexo feminino como descreviam vítimas do mesmo sexo de determinadas formas que

podiam indevidamente fazer com que os júris tivessem preconceitos contra os arguidos do sexo

masculino (Petersen, 1999: 80). Por outras palavras, o preconceito e o estereótipo, que provocam uma

resposta de emoção no leitor, acabam por operar de forma injusta contra os arguidos e funcionam

como aliados da acusação. Com efeito, alguns media “simpatizam com algumas vítimas e culpam

outras” (Jewkes; in Greer, 2010: 225), e, embora não cubram todas as formas e expressões do crime,

tendem a “favorecer os desejos mais voyeuristas da audiência ao exagerar e dramatizar crimes

relativamente incomuns, ignorando ou minimizando crimes mais prováveis de acontecer à pessoa

‘comum’” (ibidem: 225). Neste sentido, Medeiros e colaboradores (2010: 7) salvaguardam a

importância de o jornalista que atua na secção do crime e da investigação criminal ter algum tipo de

especialização, motivada pelo grande interesse que o público tem sobre estas matérias policiais, para

que tenha familiaridade com a linguagem jurídica ao ponto de ser capaz de a traduzir para o seu

público.

Apesar da forma dramática a que os jornais tabloides tanto recorrem para relatar o crime, a

verdade é que ele constitui um evento noticioso por natureza, que não deve ser deixado de lado pelos

media. De facto, é reconhecido ao crime um “elevado grau de noticiabilidade por conter violência,

rutura com a ordem social e imprevisibilidade” (Penedo, 2003: 41). Este valor-notícia do crime satisfaz,

na ótica da autora, “as exigências das rotinas produtivas das organizações dos media ao assegurar

constante matéria noticiosa” (ibidem: 42).

Para Leal (2010: 422), é “inquestionável” o poder dos órgãos de comunicação social, eles que

podem influenciar “o modo como os indivíduos constroem as representações acerca da insegurança e

do mundo e como o experienciam”. A este propósito, assume-se como natural e até lógico perceber

como são construídos os relatos de crimes nos jornais. De acordo com Surette (2011: 16), as notícias

de crimes são construídas, na sua generalidade, tendo em conta três segmentos: primeiro, o anúncio

de que o crime ocorreu; depois, o jornalista transporta, visual ou verbalmente, o leitor para a cena do

crime; por fim, é dado destaque à identidade do criminoso e ao esforço dos agentes policiais.

22  

Pollak e Kubrin (2007: 78) levaram a cabo um estudo em que examinaram as diferenças entre

os relatos de crimes no Washington Post e numa televisão local da ABC. Nele, concluíram que, para

ser noticiado, um crime tem de ter uma natureza tipicamente violenta, já que 85% dos crimes incluídos

na sua amostra eram violentos.

3.4 – As fontes de informação em relatos de crimes

Já se percebeu, a esta altura, que a temática da criminalidade se configura “como fonte

inesgotável de matéria-prima à produção noticiosa” (Penedo, 2003: 43). Como tal, nos crimes e, no

fundo, em qualquer situação ou evento a noticiar, “as fontes de informação são elementos

fundamentais da produção noticiosa” (Brites, 2010: 4). O acesso a elas é inclusive consagrado por

diversos códigos deontológicos como um “direito dos jornalistas e pressuposto fundamental para

garantir aos cidadãos o seu direito à informação” (Fidalgo, 2000: 322). Com a sua crescente

profissionalização, as fontes, que têm interesse na cobertura mediática de determinados assuntos

respeitantes ao seu âmbito de ação, utilizam variadas estratégias para obter um tratamento jornalístico

que vá ao encontro dos seus interesses. Por outras palavras, “a informação fornecida aos jornalistas

pelas fontes, muitas vezes, já pressupõe um enquadramento implícito que serve as finalidades da

fonte” (Brites, 2010: 5). Tal acontece mais, na ótica de Ribeiro (2006: 13), no noticiário político.

De facto, o exercício da atividade jornalística, que se deve pautar pela “disciplina da

verificação” (Kovach & Rosenstiel, 2003: 100), está muito sujeito a constrangimentos exteriores cuja

influência pode ser direta ou indireta (Bordieu, 1996). A relação entre jornalistas e fontes advém do

facto de o jornalista nem sempre estar capaz de observar um evento noticiável, necessitando de

“alguém que lhe faça um relato o mais correto possível – a fonte” (Santos; in Traquina et al., 2001:

96). No entanto, as fontes de informação, que detêm um papel fulcral no jogo jornalístico, procuram

muitas vezes assumir um papel ativo, organizando-se “para publicitar interesses próprios, garantindo

acesso a enquadramentos específicos de um acontecimento e não apenas a sua simples menção ou

cobertura” (ibidem: 95). De facto, o jornalismo “tenta chegar à verdade num mundo confuso,

procurando discernir em primeiro lugar o que é informação fidedigna de tudo o que é informação

errónea, desinformação ou informação interessada” (Kovach & Rosenstiel, 2003: 63). Assim, cabe ao

jornalista impedir que a fonte intervenha no relato honesto e sério do acontecimento a noticiar,

averiguando qual a intenção da fonte e procurando dissecar toda e qualquer réstia de dúvida que possa

impedir o correto exercício da sua atividade, para a qual contribuem os códigos deontológicos.

23  

Ora, concretamente, as fontes “são pessoas, são grupos, são instituições sociais ou são

vestígios – falas, documentos, dados – por aqueles preparados, construídos, deixados” (Pinto, 2000:

278). Existem múltiplas definições de fontes jornalísticas propostas por vários autores, e não menos

extensas são as suas propostas de classificação. Tal comprova não só a vastidão do campo mas

também a complexidade que caracteriza a relação entre as fontes, cada vez mais especializadas, e os

jornalistas, que dependem sempre das primeiras para realizar o seu trabalho. Para o estudo que mais

à frente será apresentado neste relatório, irá ser utilizada a matriz de tipificação das fontes de notícias

de Schmitz (2011), presente na tabela 1, que congrega contributos de vários autores.

Tabela 1. Tipificação das fontes jornalísticas, de acordo com Schmitz (2011).

Tipificação das fontes jornalísticas

Categoria Grupo Ação Crédito Qualificação

- Primária

- Secundária

- Oficial

- Empresarial

- Institucional

- Popular

- Notável

- Testemunhal

- Especializada

- Referência

- Proactiva

- Ativa

- Passiva

- Reativa

- Identificada

- Sigilosa

- Confiável

- Fidedigna

- Duvidosa

Sem querer tornar este tópico demasiado extenso, centremo-nos no essencial da definição de

cada item. De acordo com os dados recolhidos pelo autor, uma fonte primária é aquela que fornece

diretamente o essencial de uma matéria, estando envolvida ou próxima dos factos. Uma fonte

secundária, por sua vez, é a que “contextualiza, interpreta, analisa, comenta ou complementa a

matéria jornalística, produzida a partir de uma fonte primária” (Schmitz, 2011), estando envolvida nos

eventos de forma indireta.

Uma fonte pode ser, segundo o grupo, oficial se se tratar de alguém a desempenhar algum tipo

de cargo público “que se pronuncia por órgãos mantidos pelo Estado e preserva os poderes

constituídos (executivo, legislativo e judiciário), bem como organizações agregadas”; empresarial se for

um representante de uma corporação empresarial da indústria, comércio ou serviços; e institucional se

a fonte for alguém de um grupo social ou de uma organização sem fins lucrativos, que não raras vezes

procura os jornalistas com o intuito de defender uma causa social ou política. Uma fonte pode, ainda,

24  

ser popular se se tratar de uma pessoa comum, não pertencente a qualquer organização, muitas vezes

sendo a vítima, o cidadão reivindicador e/ou a testemunha ou então contextualizando uma informação

na vida quotidiana; notável se for alguém que é procurado pelo jornalista pela sua fama e/ou talento,

seja para falar sobre si e o seu trabalho, seja para falar sobre o próprio assunto da notícia; testemunhal

se tiver participado ou observado – no fundo, presenciado – o evento a noticiar; e especializada se for

uma pessoa “de notório saber específico” ou “organização detentora de um conhecimento

reconhecido”. Por fim, de acordo com o grupo, uma fonte é considerada de referência se se tratar de

algum tipo de documento, media ou bibliografia que o jornalista usou na construção da notícia e que

serve para enriquecer a narrativa, agregando razões e ideias.

Na conceção de Schmitz (2011), uma fonte pode ser proactiva, ativa, passiva ou reativa, de

acordo com a sua ação. A primeira é uma fonte que, por ter aprimorado as suas estratégias,

efetivamente produz as suas próprias notícias e oferece-as de pronto ao jornalista de forma antecipada.

Semelhantemente, uma fonte ativa age criando material de apoio à produção de notícias – entrevistas

exclusivas ou comunicados de imprensa, por exemplo –, mantendo, ainda que menos ostensivamente,

uma “regularidade no relacionamento” com os media, com quem procura defender os seus interesses.

Como facilmente se depreende, fazem parte das fontes passivas a bibliografia e os documentos que o

jornalista utiliza, mas também organizações e pessoas que se manifestem somente quando são

interpeladas por um jornalista, fornecendo a informação estritamente necessária. As fontes que

privilegiem uma ação mais discreta, low-profile, ou que não queriam ver a sua privacidade

potencialmente invadida, mesmo apesar de serem notórias e de deterem informação relevante e de

interesse público, são consideradas pelo autor como fontes reativas.

Relativamente ao seu crédito, uma fonte pode prestar informações a um jornalista sendo

revelada a sua identidade ou em anonimato. Como tal, pode classificar-se uma fonte como sendo

identificada ou sigilosa. No primeiro caso, que deve sempre ser a regra, a fonte surge na notícia

discriminada, idealmente com o nome, status, profissão, cargo, função ou condição e quem

representa. No caso da fonte sigilosa, é necessário uma relação de confiança para que haja um

compromisso do silêncio quanto à origem da informação. A fonte decide o que quer ou não divulgar e

se quer ou não que a sua identidade seja exposta. Nestes casos em que a fonte não é revelada, é

considerado que a matéria veiculada no jornal é da autoria do jornalista ou do próprio jornal, passando

a ser essa identidade a responder civil e criminalmente pelo que publica.

Na categoria projetada por Schmitz (2011) concernente à qualificação da fonte, o autor

distingue entre uma fonte confiável, fidedigna e duvidosa. A seleção que o jornalista faz das suas fontes

25  

é, naturalmente, influenciada pelo tipo de relação que os primeiros mantêm com as segundas. Deste

modo, nas relações mantidas por traços de conveniência e de confiabilidade, mais estáveis e em que a

informação vinda das fontes é verdadeira e recebida pelos jornalistas na hora esperada, a fonte é

considerada confiável. Se a fonte for procurada pelo jornalista por critérios que se prendem com

notoriedade, credibilidade e respeitabilidade, então estamos perante uma fonte fidedigna, aquela que,

não mantendo um “histórico de confiança mútua”, exerce o seu poder pela posição social. Citando

Charaudeau, Schmitz (2011) afirma que, pelo contrário, uma fonte duvidosa é aquela que expressa

reserva, dúvida, hipótese e inclusivamente suspeita. Como tal, a informação fornecida por esse tipo de

fontes é dúbia, embora o jornalista tenda a considerá-la “provisoriamente verdadeira, até prova em

contrário”.

Hall e colaboradores (1999: 239; citados por Brites, 2010: 4) referem que em notícias

relacionadas com crime e/ou delinquência, os órgãos de comunicação social “parecem estar mais

fortemente dependentes das instituições de controlo de crime para as suas ‘estórias’ do que

praticamente em qualquer outra área”. Assim, tanto a polícia como os tribunais assumem-se como o

monopólio das fontes de notícias de crime nos media. No caso brasileiro, Brites (2010: 5) afirma que

as fontes policiais (25%) e os familiares das vítimas (11,1%) são as fontes que mais se destacam na

cobertura de crimes ligados à delinquência juvenil.

Um jornal tem maior credibilidade quanto maior for a sua preocupação com o apuramento e

tratamento das fontes. Esse é, aliás, um dos princípios jornalísticos mais elementares: a averiguação

do que efetivamente aconteceu. Porém, muitas são as vezes em que os jornais apresentam páginas

repletas de uma prática diferente. Há, efetivamente, notícias em que existe apenas uma fonte, que

poderão ser produto de uma “relação viciosa e viciada com as fontes” (Zacariotti et al., 2007: 5), ou

em que não haja sequer uma, fruto das dificuldades sentidas pelos jornalistas no acesso às fontes de

informação (Brites, 2010: 6).

A este respeito, o próprio facto de serem noticiados acontecimentos com fontes anónimas

pode encobrir opiniões e considerações feitas, inclusive, pelo próprio jornalista (Santos, 2006; citado

por Brites, 2010: 6). No processo de escrever a notícia, é então por demais evidente a necessidade de

o jornalista atentar a este tipo de pormenores, sob pena de incorrer na descredibilização da

informação, e ao poder que uma fonte de informação detém, ainda para mais se tivermos em conta

que “quanto menos informação houver sobre um assunto, mais o jornalista aceita o material dado

pelas fontes” (Santos; in Traquina et al., 2001: 100).

26  

3.5 – O que diz o Código Deontológico do Jornalista

O jornalismo é, para Karam (1997: 39), “moralmente imprescindível”: ele assume-se como a

forma pela qual as pessoas se vão apropriando dia-a-dia do seu movimento no interior da humanidade.

Uma vez que esta atividade profissional “trabalha com valores e significados contraditórios” (ibidem:

39), e porque vimos, ao longo do presente relatório, a falar de sensacionalismo, importa abordar um

tema assaz importante em qualquer matéria jornalística: o Código Deontológico do Jornalista, que

funciona quase como a Bíblia da profissão. E é fácil perceber porquê. Ainda que a especialização

investigativa dos tabloides tenha mapeado e descortinado várias e diferentes estratégias de corrupção e

outros crimes, não é menos verdade que também “gerou demandas próprias, rápidas demais e

desprovidas de regras preestabelecidas” (Fortes, 2005). O mesmo autor considera, inclusive, que

existe um conflito geral de interesses e métodos na classe jornalística que necessita de

regulamentação, sob pena de o jornalismo ser resumido a uma “corrida desenfreada por cabeças de

ministros e pela degola política em geral” (ibidem). De facto, a forma de noticiar e relatar crimes dos

tabloides desafia as regras e os pilares fundamentais existentes nos códigos deontológicos do

jornalismo.

Os vários códigos que existem um pouco por todo o mundo “complementam-se, compensando

lacunas ou iluminando pontos de vista e aspetos distintos” (Aznar, 2005: 41), contribuindo para

melhorar eticamente a comunicação. No caso português, o Código Deontológico do Jornalista

(doravante, Código), aprovado em 1993, contém dez tópicos pelos quais o jornalista deve sempre

pautar o seu trabalho. Com relação ao crime e ao modo como deve ser noticiado, a primeira alínea

mostra que “os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso”.

Isto significa que todos, vítimas, testemunhas e também arguidos, devem ter o mesmo peso na

construção de uma notícia de um crime. Devem todos ser ouvidos em igualdade de circunstância. A

segunda alínea é igualmente importante: “o jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e

considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais”. A esta segunda alínea

pode perfeitamente juntar-se a sétima, que se traduz no dever de o jornalista “salvaguardar a

presunção de inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado”. Sabendo de antemão que

os tabloides não têm problemas em fazer juízos de valor acerca da culpa e da inocência dos envolvidos

em crimes, percebe-se que contrariam e desrespeitam esta importante regra deontológica do

jornalismo. Aliás, também pelo seu hábito de julgamento de valores, a ação dos tabloides vai também

um pouco contra o que na oitava alínea se lê: “o jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório

das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo”.

27  

Na quarta alínea, pode ler-se que “o jornalista deve utilizar meios legais para obter

informações, imagens ou documentos” e que “a identificação como jornalista é a regra e outros

processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público”, algo que se pode

relacionar com o conteúdo da nona alínea, que ilustra o dever de o jornalista “respeitar a privacidade

dos cidadãos exceto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga,

manifestamente, valores e princípios que publicamente defende”. Continua a perceber-se algum

conflito entre a prática dos tabloides, que recorrem aos paparazzi – logo, não respeitam a privacidade

dos indivíduos –, e as ideias preconizadas na ética da profissão. O problema é quando o Código se

refere ao interesse público. Tal expressão não se encontra definida com clareza e “continua a ser um

conceito vago, aberto a uma ampla variedade de enfoques e entendimentos” (Chaparro, 2011: 2).

Deste modo, muitos podem encontrar formas de argumentar que um determinado assunto é de

interesse público quando, se calhar, até se trata de interesse do público, procurando legitimidade para

quebrar as regras fundadoras da profissão.

Esta questão da ausência de uma definição clara e objetiva do que significa interesse público

merece pelo menos um parágrafo de reflexão. Se atentarmos que o chamado interesse público nos

remete para o plano da ética dos valores e não para o dos comportamentos, percebemos que, então,

os valores que motivam e justificam a ação humana, nos quais se inclui a narração e análise da

atualidade – ou seja, o jornalismo – estão contemplados nesta conceção de interesse público

(Chaparro, 2011: 8). Os chamados jornais sensacionalistas são hábeis no jogo diário que empreendem

de interação indireta com o outro: conhecem bem as expetativas e os interesses do seu público, isto é,

os interesses do público. Por outras palavras, o interesse do público, ao contrário do interesse público,

pertence ao universo dos indivíduos, relacionado, pois, com as “razões emocionais e/ou objetivas das

pessoas” (ibidem: 8). Neste sentido, torna-se compreensível quais os “interesses” que são mais afetos

ao jornalismo praticado pelos jornais ditos mais rigorosos e aos tabloides.

Não é difícil concluir, pois, que o Código, pelo que preconiza e defende, repudia o

sensacionalismo. Em praticamente todas as alíneas há elementos passíveis de chocar com o que os

tabloides, na prática, fazem quando cobrem, entre outros acontecimentos, crimes. É assim em

Portugal e também um pouco por todo o mundo, como agora vamos ver, ainda que sem explorar em

demasia este campo. No Brasil, por exemplo, o Código de Ética dos Jornalistas reconhece a existência

do sensacionalismo e rejeita-o (Tófoli, 2010: 1). Na verdade, o artigo 11.º ilustra exatamente isso: “o

jornalista não pode divulgar informações [...] de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos

valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes”.

28  

No Código de Conduta do jornalista no Reino Unido3, está bem patente que o jornalista deve

assegurar que a informação é transmitida de forma honesta, precisa e justa e deve distinguir aquilo

que é facto daquilo que é opinião. O jornalista não pode, inclusive, produzir material que leve a ódio ou

discriminação de qualquer indivíduo baseado na sua idade, género, raça, credo ou orientação sexual.

Além disso, obtém material “através de meios honestos, diretos e abertos” e não pode invadir a vida

privada de ninguém, salvo se as investigações forem de inequívoco interesse público. Mais uma vez, é

aberta aqui uma brecha nos códigos, porquanto este “interesse público” não se encontra total e

claramente definido, podendo os jornais sensacionalistas argumentarem que quebram tais regras

porque estão a tratar de um assunto de interesse público. O Código dos Deveres do Jornalista do

Sindicato dos Jornalistas4 Franceses tem também uma palavra a dizer no que diz respeito a estes

assuntos que põem o papel do jornalista em confronto com o que, na prática, os jornais tabloides

fazem. Por exemplo, o jornalista “exige a liberdade de publicar a informação honestamente” e “tem de

respeitar a justiça e dá-la prioridade”.

Os jornalistas, como qualquer outra classe profissional, produzem uma representação mais ou

menos ideal e mitificada dela mesmo (Bordieu, 1996). No entanto, Aznar (2005: 51) alerta-nos para o

facto de que não se deve pensar nos códigos como “um mecanismo de defesa dos interesses dos

jornalistas ou como um reforço corporativo da profissão”, mas antes como um aliado para prestar um

serviço melhor à sociedade. No fundo, é graças aos códigos deontológicos que o público conhece os

deveres dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social, constituindo, pois, “uma fonte de

informação ética não só para o profissional mas também para o público” (ibidem: 51).

Todos estes parágrafos relativos à revisão teórica vieram introduzir o estudo empírico que nos

capítulos a seguir se desenvolve. Só aprofundando o conhecimento acerca do surgimento e das

características da imprensa tabloide, do contributo do texto e da imagem para o texto noticioso, do

modo como o crime tem sido objeto de notícia ao longo do tempo, das fontes de informação utilizadas

nos seus relatos e sua tipologia e das normas presentes no Código Deontológico do Jornalista é que é

possível chegar à investigação levada a cabo que envolve todos estes temas. O próximo capítulo refere-

se precisamente à metodologia do estudo.

                                                            3 http://www.nuj.org.uk/about/nuj-code/

4 http://www.rjionline.org/MAS-Codes-France-Charter/ 

29  

30  

Capítulo 4 – Metodologia

A investigação que será desenvolvida no capítulo a seguir não poderia nunca ser introduzida no

relatório sem antes serem explicitados pontos fulcrais para a sua compreensão. Refiro-me, pois, aos

seus objetivos, à sua amostra, aos seus instrumentos de análise e aos seus procedimentos. Só depois

desta útil e necessária leitura é que poderemos compreender como foi construída e processada a

investigação e como se pôde chegar às conclusões que ela logicamente apresenta mais à frente no

relatório.

4.1 – Objetivos

O presente relatório e esta investigação em particular visam abordar uma temática concernente

ao mundo do jornalismo que pode ter múltiplas análises. O primeiro objetivo é o de perceber e

descrever como é que o crime é relatado num jornal de pendor informativo, como é o caso do DN.

Mais especificamente, pretende-se a) aferir o número e tipo de fontes utilizadas aquando da cobertura

de peças noticiosas respeitantes a crimes e b) averiguar se são cumpridas as normas estabelecidas

pelo Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa. Estas questões são importantes indicadores

de como o crime é noticiado no jornal. Só assim se poderá chegar ao outro objetivo da investigação,

que passa por comparar o relato que é feito de uma mesma notícia por dois jornais diferentes, um de

teor mais informativo (DN) e outro mais sensacionalista (Correio da Manhã; CM), ao nível dos vários

elementos textuais e visuais. Estes objetivos poderão ajudar a perceber quais as fronteiras existentes

entre um tipo de jornalismo de pendor informativo e outro de índole sensacionalista no que respeita a

notícias sobre crimes.

4.2 – Amostra

Durante o período de estágio, realizei ao todo 39 notícias e 44 breves que saíram na edição em

papel do DN, repartidas pelas secções País – Segurança, País – Cidades e Sport. Para o presente

relatório, foram tidas em conta apenas as notícias referentes à secção de Segurança, uma vez que são

aquelas que estão relacionadas com algum tipo de criminalidade. Como tal, do total das 39 notícias

escritas, 20 respeitam esse princípio, pelo que constituirão material de análise. As breves, por serem

textos muito curtos, com pouca margem de análise, foram excluídas, assim como as notícias que

foram destinadas ao online, uma vez que se pretende analisar artigos de imprensa escrita que tenham

saído no próprio jornal. Destas 20 notícias, 14 foram também noticiadas no mesmo período pelo CM,

31  

pelo que apenas essas foram utilizadas para procurar responder ao objetivo de comparar as mesmas

notícias de crimes que saíram nos dois jornais.

Tabela 2 – Número de notícias e breves redigidas em função das secções do jornal.

Secções Tipologia Número de notícias

País – Segurança Breves 44

Notícias

205

País – Cidades 17

Desporto 2

4.3 – Instrumentos de análise

Para a análise proposta, foi utilizado o Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa,

para aferir se os princípios fundamentais do jornalismo são assegurados na redação de notícias sobre

crime no DN. A análise obedeceu a uma grelha de observação, construída para esquematizar esse

estudo do respeito das notícias do DN pelas normas vigentes no Código (cf. Anexo III). Também foi

utilizada outra grelha de observação, com o intuito de levar a cabo a comparação entre as notícias

escritas pelo DN e pelo CM (cf. Anexo IV).

4.4 – Procedimentos

Para responder ao primeiro objetivo do presente relatório, foi feita uma análise de conteúdo

das 20 notícias da secção de Segurança do DN. Todas as notícias foram lidas com detalhe e foi feito

um levantamento do número e tipo de fontes – segundo a tipologia de Schmitz (2011) – utilizadas,

para se ter uma ideia mais clara da dinâmica existente entre a redação das notícias e as fontes

noticiosas consultadas. Além disso, as 20 notícias do DN foram confrontadas com o Código

Deontológico do Jornalista, versão portuguesa, para aferir o cumprimento das normas presentes no

documento e, assim, perceber, ainda que numa amostra que não é estatisticamente representativa, se

os ideais fulcrais do jornalismo são respeitados e quais os que eventualmente não o são. Para isso, foi

utilizada uma grelha de observação (cf. Anexo III) com as normas presentes no Código para atestar se

cada notícia respeita cada alínea do documento.

A comparação entre as 14 notícias que tratam os mesmos temas redigidas no DN e no CM foi

efetuada através de uma análise de conteúdo, socorrida por uma grelha de observação (cf. Anexo IV).

                                                            5 Destas 20 notícias, 14 têm correspondência com notícias que saíram no CM.

32  

Procurou-se atender aos vários elementos textuais e visuais que constituem uma notícia, desde o

número de linhas do texto e a extensão do título ao uso de adjetivação e tipo de linguagem utilizado,

passando pelo espaço que ocupam na página, pela secção do jornal onde se encontram e pela relação

existente entre a imagem, se ela existe, e o texto. A comparação foi também feita ao nível do

cumprimento das normas estabelecidas no Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa, de

modo a perceber se e que diferenças existem entre os dois diários a esse nível.

33  

34  

Capítulo 5 – As notícias de crime no Diário de Notícias

A minha experiência de estágio despertou-me para uma temática para a qual nunca havia

atentado de forma particular. Por ter trabalhado na secção de segurança, conotada com notícias de

acidentes, sentenças de tribunais e principalmente crimes, e por me ter marcado um episódio em que

fui confrontado com a necessidade de alterar um título para despertar mais a atenção do público leitor,

a ideia de estudar o lugar do crime no jornalismo pareceu-me adequada e pertinente. Tendo em conta

que o DN é um jornal conotado com um estilo jornalístico mais informativo, e sendo o crime um

assunto que rapidamente pode cair no sensacionalismo – seja pela exploração das emoções

associadas ou pelo uso de uma adjetivação que prima pelo dramatismo –, foi levado a cabo um estudo

sobre as notícias da minha autoria, no sentido de averiguar o número e tipo de fontes utilizadas e o

(des)respeito pelas normas vigentes no Código Deontológico do Jornalista. No fim, estas notícias foram

comparadas com as que tratam o mesmo tema escritas no CM, um jornal que, ao contrário do DN, é

mais conotado com o sensacionalismo. Isto para, no fundo, se perceber as fronteiras entre o

jornalismo informativo e sensacionalista no que toca a notícias de crimes.

5.1 – As fontes noticiosas utilizadas nos relatos de crime no Diário de Notícias

No total das 20 notícias analisadas, presentes e enumeradas no Anexo I, foram consultadas 21

fontes, sendo que em quatro notícias foram utilizadas duas e três delas não continham nenhuma (cf.

Anexo II). Na verdade, estas notícias que não apresentaram fontes foram produzidas a partir de uma;

não poderia, nunca, tê-las escrito sem nada que as fundamentasse. O problema é que as fontes

(nestes casos, dois takes da Lusa e um comunicado da PJ) não foram identificadas nas notícias nem

tão pouco foi feita referência a elas. Por exemplo, poderia estar expresso “de acordo com a GNR” ou “a

PJ comunicou”, mas nem isso; a informação surge como um dado adquirido. Por isso, considerei que

essas três notícias não continham fontes, exatamente porque elas não estão expressas em nenhuma

parte da notícia, ou seja, ninguém, ao ler os relatos, identifica as fontes.

Adotando a tipificação de Schmitz (2011), o tipo de fonte mais comummente utilizado (11

vezes), obedecendo às escalas de categoria, grupo, ação, critério e qualificação, é uma fonte primária,

oficial, ativa, identificada e confiável, respetivamente. Esta classificação de fonte esteve presente em 10

notícias, normalmente constituindo algum tipo de comunicado de imprensa de uma força de segurança

– GNR, PJ ou PSP. De resto, uma fonte primária, oficial, passiva, identificada e confiável surgiu em

quatro notícias, sendo que os restantes tipos de fonte em apenas uma notícia cada. Este primeiro

levantamento acerca da tipologia das fontes utilizadas permite desde logo tecer algumas conclusões.

35  

Desde logo, é possível perceber que a dependência de fontes oficiais é uma realidade: apenas três não

o são. Este é um dado elucidativo e que demonstra que em notícias relacionadas com crimes há uma

maior tendência para se optar por este tipo de fonte de informação. Mesmo na minha experiência de

estágio pude constatar isso. A lista das fontes e dos seus contactos era maioritariamente constituída

por fontes oficiais – logo à partida, polícia e bombeiros –, e sempre que necessitava de alguma fonte

para completar a notícia era a esse tipo que tinha de recorrer.

Convenhamos: o crime é parente próximo das forças de segurança e os acidentes dos

soldados da paz, pelo que faz sentido que noticiar este tipo de eventos requeira um contacto com estas

fontes. Este resultado vai ao encontro do que Schmitz (2011) refere quando afirma que elas são as

“preferidas” dos órgãos de comunicação social, uma vez que “emitem informações aos cidadãos e

tratam essencialmente do interesse público”. Tal poderá dever-se, novamente, à prática do “jornalismo

de secretária”, que acaba por promover o facilitismo de extrair informação dos comunicados de

imprensa e transpô-los para notícia. Ainda que o meu trabalho se tivesse baseado muito nisso, o facto

é que, pelo menos, não me cingi ao copy-paste dos takes da agência Lusa, como sei que é prática

nalgumas publicações diárias. De facto, nem sempre houve nem foi possível fazer referência às várias

partes envolvidas nos casos. Se me tivesse deslocado aos locais onde a ação decorreu – coisa que se

afigurou impossível –, estou certo de que poderia recolher mais depoimentos de mais fontes, sem que

tivesse de depender tanto dos comunicados das forças de segurança ou dos takes da Lusa.

Particularizando cada escala de classificação das fontes, existem duas fontes que, segundo a

categoria, são secundárias – todas as outras 19 são primárias. Uma delas, curiosamente, a mesma

que, de acordo com o grupo, é a única popular. Também segundo o grupo, quatro são as notícias que

possuíam uma fonte oficial cada, existindo apenas uma notícia com uma fonte considerada como

empresarial e outra com uma fonte testemunhal. Esta última constitui, conforme o critério, uma das

três fontes sigilosas – as restantes 18 são fontes identificadas. Segundo a ação, foram contabilizadas

11 fontes ativas, nove passivas e uma reativa, e a totalidade das fontes em análise são, no que toca à

qualificação, consideradas confiáveis.

Uma conclusão que se pode tirar desta preliminar análise da tipologia das fontes tem a ver

também com o número elevado de fontes ativas. Tal faz-me pensar que os jornais tendem a não ser

tão ativos quanto porventura deveriam na procura de informação. Na verdade, e uma vez mais, o meu

estágio comprovou exatamente esta situação: muito do trabalho que realizei baseou-se na adaptação

de material com informação provinda de comunicados. Por outras palavras, as notícias que escrevi

foram iniciadas com material que as próprias fontes produziram.

36  

Detalhando cada notícia analisada, na primeira, que tem por título “GNR fiscaliza veículos

pesados em todo o País”, está então presente uma fonte primária, uma vez que se trata da GNR,

entidade envolvida nos factos e que fornece o essencial da matéria; oficial, porque, tratando-se de um

documento – o que poderia suscitar algumas dúvidas, pois poder-se-ia pensar que se trata de uma

fonte de referência –, é informação provinda de uma força de segurança, ou seja, não se trata

propriamente de um livro, por exemplo, que o jornalista usou para redigir o texto, mas antes de

informação oficial. Foi, de resto, esta a razão pela qual também considerei a fonte presente na notícia

11 – “Funcionária de Cooperativa desvia 252 mil euros por amor” – como oficial: tratando-se de um

acórdão do tribunal, é informação oficial, não um documento que se possa equiparar a um livro, por

exemplo. A fonte presente na primeira notícia é, ainda, uma fonte ativa, por se tratar de um press

release, que não é mais do que material de apoio fornecido aos jornalistas para a construção das

notícias; identificada, porque é bem passível de identificar a fonte como sendo a GNR; e confiável, visto

que a relação entre o jornalista e a fonte é marcada pela confiança relativamente à veracidade da

informação transmitida. Do mesmo modo, também as notícias 5, 6, 8, 12, 16, 18, 19 e 20 têm este

tipo de fonte. Todas elas são suportadas em comunicados de imprensa; a diferença reside na origem

da informação. Se as notícias 5, 8 e 20 foram construídas com base em comunicados também da

GNR, as notícias 6, 16 e 18 foram escritas utilizando comunicados da PJ e a notícia 19 da PSP. De

notar que a notícia 12 contém duas fontes que se traduzem em dois comunicados de duas forças de

segurança diferentes: um da GNR e outro da PSP.

A quarta notícia em análise, “Incêndio em oficina destrói dezenas de carros”, apresenta como

fonte Luís Lopes, segundo comandante do Comando Distrital de Operações de Socorro de Leiria. Trata-

se, portanto, de uma fonte primária, porque é alguém que esteve envolvido no acontecimento e que foi

capaz de fornecer as principais informações sobre o incidente; oficial, uma vez que ocupa um cargo

nas Operações de Socorro; passiva, dado que fui eu, enquanto jornalista, que a contactei com o

objetivo de prestar esclarecimentos sobre o que realmente se tinha passado; identificada, já que a sua

identidade está exposta na notícia; e confiável, na medida em que o contacto foi feito por se presumir

que a informação que a fonte iria transmitir fosse verdadeira.

Como já oportunamente foi referido, apenas quatro notícias – a sétima, “Incêndio destrói

prédio e obriga a hospitalização”, a décima segunda, “Apreensões de armas subiram quase 50% em

relação a 2012”, a décima quarta, “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, e a vigésima, “Duas

otárias apreendidas ao circo Chen” – possuem duas fontes. No primeiro caso, são as testemunhas

presentes no local e o chefe do regimento de sapadores bombeiros de Lisboa, chefe Franco. A primeira

37  

é uma fonte primária, por serem pessoas envolvidas no incidente; testemunhal, dado que viram e

atestaram o acontecimento; passiva, porque prestaram informações apenas quando interrogadas por

mim, enquanto jornalista; sigilosa, no sentido em que não surge o nome de nenhuma das testemunhas

(“diversas testemunhas presentes no local”), o que significa que não são identificadas; e confiável, na

medida em que o jornalista confia que as testemunhas transmitiram uma informação verídica, mais

não seja por terem estado presentes no local. Por seu turno, a segunda fonte da notícia é também

primária, mas oficial, por se tratar de uma pessoa que desempenha um cargo nos bombeiros; passiva,

porque também deu informações porque foi contactado e questionado em primeira mão por mim;

identificada, uma vez que está expresso o nome e cargo que a fonte ocupa; e confiável, porque é

pressuposta a veracidade da informação que a fonte prestou. A notícia 12 tem por fontes dois

comunicados de duas forças policiais – a GNR e a PSP –, cuja caracterização em tudo se assemelha

ao que já foi acima descrito.

Já a notícia 14 tem a particularidade de possuir uma fonte que é, com relação à categoria,

secundária – o filho da vítima, Lúcio Lourenço –, que comentou e deu o seu ponto de vista sobre a

decisão do tribunal, sendo também uma fonte popular, no que toca ao grupo. Na mesma notícia,

surgiu-me dúvidas quanto à classificação de acordo com a ação da outra fonte, o juiz Rui Alexandre.

Isto porque não considero que ela se encaixe numa fonte proactiva ou ativa – até porque não produziu

nenhuma notícia por si – nem passiva – não foi interpelada por mim para prestar informações; ela é

que as prestou em pleno tribunal –, pelo que me parece, nesse sentido, que a fonte acaba por optar

por uma estratégia mais discreta e, por isso, considero-a como uma fonte reativa. Mas admito outras

leituras neste ponto, até porque a classificação das fontes é um vasto e heterogéneo campo de estudo

que irá sempre depender, em última análise, do olhar de quem o estuda.

A notícia 20 tem, como já foi referido, uma fonte primária, oficial, ativa, identificada e confiável,

materializada no comunicado da GNR, mas também uma outra, o responsável do Núcleo de Proteção

Ambiental do Comando Territorial de Lisboa da GNR, capitão Fernando Alves. Trata-se, pois, de uma

fonte secundária, já que analisou e complementou a matéria jornalística que havia sido dada por uma

fonte primária, o tal comunicado; oficial, na medida em que desempenha um cargo público; passiva,

porque fui eu, enquanto jornalista, que a contactei no sentido de prestar mais esclarecimentos sobre o

sucedido; identificada, dado que o nome e o cargo da fonte estão bem patentes na notícia; e confiável,

porque a honestidade nas declarações prestadas pelo capitão Fernando Alves é presumida.

Apesar de a fonte presente na nona notícia – “Queda de 45 metros de uma ponte provoca

morte a casal” – ser, à semelhança de outras, a GNR, é importante notar que a sua tipologia difere.

38  

Neste caso, já não se trata de um comunicado, mas de um elemento da Guarda que prestou

informações quando contactado pelo jornalista. Neste sentido, tratando-se de uma fonte primária,

porque forneceu o essencial da matéria tendo estado envolvida no acontecimento, trata-se igualmente

de uma fonte oficial, na medida em que representa um cargo, e passiva, porque prestou informações

quando foi interpelada pelo jornalista. Até aqui, nada de novo. O ponto fulcral que distingue esta notícia

das outras que utilizaram fontes oficiais é que, neste caso, se trata de uma fonte sigilosa, porque não

se percebe que elemento da GNR prestou as informações (“de acordo com a GNR”), mantendo-se total

anonimato acerca da fonte.

No mesmo seguimento, a classificação da fonte presente na notícia 10, “Agente da PSP

suspeito de roubos em prisão domiciliária”, é em tudo semelhante à anterior: é primária, oficial,

sigilosa e confiável. No entanto, há a ressalva de que se trata de uma fonte passiva, quanto à ação. Na

verdade, esta “fonte da PJ”, como, de resto, está descrita na notícia – por isso é que é sigilosa, porque

a sua identidade não está expressa –, é alguém que foi contactado com o intuito de saber se existiria

alguma ligação entre os crimes, tendo a fonte admitido que sim. “Funcionários de cooperativa

suspensos” é o título da notícia 13, que apresenta como fonte o diretor da Cooperativa Agrícola de

Felgueiras, Rui Pinto. Tratando-se de uma fonte primária, passiva, identificada e confiável, é a única

que, de acordo com o grupo, é empresarial, uma vez que se trata de um representante de uma

corporação empresarial, como é o caso da cooperativa supramencionada.

As notícias que não apresentam qualquer fonte de informação são, então, a segunda – “Penas

até 19 anos e meio para casal por homicídio” –, a terceira – “Acusado de abuso sexual das netas não

fala em tribunal” – e a décima sétima – “Simulava saber de mecânica para atrair e violar as vítimas”.

Constituem, pois, meros relatos do que aconteceu sem que o texto seja suportado em nenhuma fonte

de informação. Na verdade, e como já foi explicado logo no primeiro parágrafo desta secção, existem

fontes por detrás das notícias, mas o facto é que não foram para elas transpostas. Nem se poderia

considera-las como fontes sigilosas porque nem sequer houve indicação de onde a informação proveio

– é diferente escrever-se “fonte da PJ afirmou” (fonte sigilosa) e não escrever sequer que foi fonte da

PJ que afirmou tal sucedido. Trata-se, assumo, de uma má prática, na medida em que eu, enquanto

jornalista, não poderia ter cometido este erro, que viola o dever de identificar as fontes, um dos

princípios mais básicos do jornalismo. Em qualquer notícia que escreva, sei que o meu dever é o de

identificar a fonte. Reconheço, pois, que deveria ter identificado como fontes a Lusa e a PJ.

A análise do número e tipo de fontes presentes nas minhas notícias do DN permitiu-me

perceber que a existência destas três notícias em que não havia uma fonte poderá dever-se à natureza

39  

do trabalho desenvolvido, que não promoveu de todo o cruzamento de fontes. Reforço que se as

notícias fossem criadas por completo por mim, isto é, se me tivesse deslocado aos locais da ação, sei

que agiria no sentido de procurar mais fontes. Não é por acaso que 11 fontes foram classificadas como

ativas do ponto de vista da ação, quase criando as suas próprias notícias, para depois eu transformá-

las em notícias da minha autoria. Mesmo sem haver muitas fontes, consegui usar como critério

fundamental a sua identificação nas notícias – 18 notícias tinham fontes identificadas –, o que constitui

sempre um ponto positivo quando falamos deste tópico de análise.

O ponto que mais me saltou à vista durante esta análise foi mesmo o facto de ter utilizado

poucas fontes, algo que procuraria fazer de forma diferente se tivesse oportunidade de reescrever as

notícias. Este será, por certo, um dado que irei reter para o futuro, já que é minha intenção procurar

fazer sempre mais e melhor jornalismo. Recordando que em 20 notícias existiram 21 fontes de

informação, concebo o número como pequeno essencialmente porque tenho ainda presente a – será

mesmo ilusória? – ideia romântica do jornalismo como havendo o cruzamento das fontes e, portanto,

em cada notícia haver pelo menos duas fontes informativas. De facto, este estudo permitiu aferir a

existência de poucas fontes, mas tal pode também prender-se com o facto de serem notícias sempre

curtas, sem muito espaço de manobra, o que, a juntar à prática do “jornalismo de secretária”, poderá

ter contribuído para que as notícias fossem baseadas numa só fonte.

5.2 – O Código Deontológico do Jornalista e os relatos de crime no Diário de Notícias

É importante referir, numa nota prévia, que numa notícia nem sempre se justifica atestar o

cumprimento de todas as normas do Código. De facto, uma notícia que, por exemplo, se centra num

acidente rodoviário nada nos diz nada acerca da salvaguarda por parte do jornalista da presunção de

inocência dos envolvidos (uma das alíneas), mas noutra referente a um crime de assassinato ou de

roubo já poderá haver matéria para avaliar essas normas.

Com essas contingências em mente, foi então desenvolvida uma grelha de observação (cf.

Anexo III) para aferir se as 20 notícias da minha autoria no DN respeitam as 10 normas constantes no

Código. Observando os dados de um âmbito mais geral, todas as notícias redigidas no DN respeitaram

a terceira, quarta, quinta e décima alíneas. Aliás, a terceira – lutar contra a restrição ao acesso à

informação –, a quinta – assumir a responsabilidade pelos seus trabalhos – e a décima – recusar

funções que possam comprometer a independência e a integridade profissional – são normas mais

referentes ao modo como o jornalista opera na redação, e sobre isso não tenho dúvidas de que o meu

trabalho foi sempre marcado pela independência e responsabilidade. Com relação à quarta norma –

40  

utilizar meios legais para obter informação –, de facto, a informação de que dispus foi obtida sempre

de um modo legal, seja por via de telefonemas, seja através dos comunicados de imprensa que

chegavam à redação, seja mesmo pelos takes que a agência Lusa disponibilizava. Nenhuma

informação foi, pois, conseguida de um modo duvidoso ou sub-reptício, algo que as próprias notícias

confirmam, mesmo as que não apresentam nenhuma fonte de informação (como já expliquei, estas

últimas falharam em transpor para o texto a fonte, mas tiveram por base informação provinda de

fontes). É que apesar de saber, por ter sido o autor das notícias, que a informação das notícias 2 e 3

foi extraída de takes da Lusa, mesmo olhando para as notícias como mero leitor dá para perceber que

foram informações decretadas pelos tribunais (“foi dado como provado pelo tribunal”; “é acusado pelo

Ministério Público”), não correspondendo a nenhum modo fraudulento de obter informação. O mesmo

pode, de resto, aplicar-se à notícia 17, que também não tem fontes citadas, mas cuja informação pôde

– e ainda hoje pode – ser consultada no próprio site da PJ6, algo que refuta qualquer tipo de névoa em

relação a um eventual modo mais obscuro como a informação foi conseguida.

Parece existir, também, uma tendência de respeito pela primeira e segunda alíneas do Código

– noticiar factos comprovados e evitar o sensacionalismo, respetivamente – por parte de todas as

notícias em análise, com a exceção da notícia 17, que se assume como a que menos acata as regras

presentes no documento. Isto poderá ser explicável pelo facto de esta notícia ter constituído uma

tentativa de construir um texto noticioso de forma diferente – algo que será relatado uns parágrafos

abaixo. Todas as outras 19 notícias são, de facto, escritas com rigor, com factos que podem ser e são

comprovados (alínea 1) e evitam o sensacionalismo, com uma linguagem de pendor mais informativo,

sem acusação sem provas (alínea 2). Como já foi referido anteriormente, a terceira, quarta, quinta e

décima alíneas do Código são respeitadas pela totalidade das notícias, incluindo a 17.

Inversamente, nenhuma notícia houve que não respeitasse qualquer alínea. Com efeito, o

número máximo de alíneas que uma notícia (neste caso, a número 17) desrespeitou foi quatro. Mais

abaixo irá ser dedicado um parágrafo em absoluto à análise desta notícia. A sétima, oitava e nona

normas não foram analisadas em seis notícias – as números 1, 4, 5, 7, 12 e 19 –, devido ao já

supramencionado facto de nessas notícias elas não serem passíveis de análise. Há, porém, uma

exceção: a notícia 9, a qual, não sendo possível ser analisada à luz da sétima e oitava normas do

Código, é possível verificar que respeitou a nona. É que, tratando-se de um acidente, considerei que

acaba por respeitar a privacidade dos cidadãos que perderam a vida ao não colocar uma fotografia em

que os seus corpos estivessem presentes.

                                                            6 http://www.pj.pt/

41  

Particularizando a análise, a primeira notícia, cujo título, à semelhança de todas as notícias em

análise, já foi mencionado acima e pode sempre ser consultado no Anexo I, respeitou as alíneas 1, 2,

3, 4, 5, 6 e 10. De facto, a notícia veicula informação de um modo sério – muito descritivo –, sendo

que não há espaço para confusões em relação ao que lá está escrito como tratando-se de uma opinião,

pelo que também não há qualquer tipo de sensacionalismo na notícia, pois o relato é feito de uma

forma marcadamente informativa. A notícia possui informação que foi obtida de um modo honesto e

legal, uma vez que é baseada num comunicado divulgado pela GNR, fonte que, de resto, está

identificada. No entanto, a sétima, oitava e nona não foram analisadas, porque não há matéria para

averiguar a presunção de inocência de arguidos, o tratamento discriminatório de indivíduos e o respeito

pela sua privacidade.

Como a primeira, também as notícias 4, 5, 7, 9 e 19 respeitam as mesmas normas do Código

e não possuem substância para se analisar a sétima, oitava e nona normas. A norma referente ao

dever do jornalista de identificar as fontes e não revelar aquelas que são confidenciais, a sexta, não é

respeitada por cinco notícias: 2, 3, 9, 10 e 17. Isto significa que nelas não está discriminado quem

forneceu a informação ou de onde ela foi retirada, um princípio que, sabe-se, é fundamental no

jornalismo. Nestes casos, a fonte ou não está, de todo, presente na notícia ou a sua identidade não

está explicitada. Tendo em conta que o jornalista deve ter como princípio fundamental a identificação

das fontes, percebe-se que esta foi uma má prática e algo que, estou certo, irei ter em mente no

exercício futuro do meu trabalho enquanto jornalista. Na verdade, três delas – a 2, 3 e 17 –, sendo que

as outras duas, apesar de terem uma fonte cada, não são identificadas. De facto, “de acordo com a

GNR” (notícia 9) e “fonte da PJ” (notícia 10) não nos permitem perceber exatamente quem forneceu a

informação, e também não há motivos para crer que elas constituam fontes confidenciais de

informação, as quais, segundo o Código, não devem ser reveladas, até porque a informação que elas

transmitiram não é propriamente perigosa ou arriscada. Todas as outras 15 notícias analisadas

respeitam esta sexta norma do Código Deontológico do Jornalista.

Notícias houve, como de resto já foi mencionado oportunamente, em que não foi possível

analisar-se as normas 7, 8 e 9 do Código. No entanto, nas que, com efeito, foi possível fazer essa

análise, conclui-se que todas elas – 2, 3, 6, 8, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 18 e 20 – salvaguardaram a

inocência dos arguidos, rejeitaram a discriminação de pessoas e respeitaram a privacidade dos

indivíduos. Novamente, a exceção recai para a notícia 17, que apesar de respeitar a oitava e nona

normas, falha em respeitar a sétima. É que a notícia nem por um momento refere que o arguido

“alegadamente” terá cometido o crime. Na verdade, o arguido foi detido, sim, mas na altura em que a

42  

notícia foi escrita não tinha sido presente a nenhum interrogatório judicial, pelo que ainda não havia

saído qualquer sentença em que me poderia basear para dizer que o arguido efetivamente cometeu

aqueles crimes. De resto, esta notícia apenas consegue preencher os critérios necessários para

respeitar três normas (além da terceira, quinta e décima, acima explicitadas, que todas as notícias

respeitaram), as referentes aos meios legais com que a informação foi recolhida, à rejeição da

discriminação de pessoas e ao respeito pela privacidade dos indivíduos, já que todas as outras – desde

o rigor e exatidão com que a informação deve ser escrita à salvaguarda da presunção de inocência dos

arguidos, passando pelo combate ao sensacionalismo e pela identificação das fontes – são

desconsideradas.

A notícia 17 é, como já se viu, a única que não tem uma escrita rigorosa e que acaba por não

rejeitar o sensacionalismo. Se a ela atentarmos, percebemos com alguma facilidade porquê: tratando-

se de uma notícia, não de uma reportagem – onde há mais liberdade na estrutura do texto –, ela inicia

não pelo lead, como todos os manuais de jornalismo apregoam, mas antes por uma espécie de

história, construída para prender a atenção do leitor (“Tem 58 anos e um longo historial de

antecedentes criminais e policiais”). Mal se começa a ler o texto, não se consegue, pois, perceber o

que efetivamente aconteceu, o que, na prática, constitui notícia. A sua construção, apesar de ter uma

linguagem formal – no sentido em que não existem extremismos nem vulgarismos –, peca por tornar a

notícia numa história, algo que vai contra o rigor e a precisão do jornalismo dito mais sério e aproxima

a notícia do jornalismo de âmbito mais sensacionalista. Além disso, a própria ausência de fontes

também não abona a favor do rigor e da transparência da notícia, uma vez que a informação que lá

está presente acaba por carecer de validação: não deveria ter tomado como minha a informação

provinda de outros meios. É, portanto, a notícia que mais normas desrespeita do Código (quatro de

dez), assumindo-se como aquela que mais difere das restantes em análise.

Olhando atentamente para esta notícia com a distância que naturalmente dela me separa

passado cerca de um ano desde que a escrevi, consigo perceber que tentei adotar uma abordagem

diferente à normal escrita de uma notícia. Consigo também perceber que esta tentativa, a qual

considero falhada – e a presente análise acaba por me dar razão –, adveio do facto de ter sido exposto

a outras maneiras de noticiar crimes. É que o meu trabalho era centrado em breves e em notícias mais

pequenas, mas tinha sempre acesso às notícias de maior destaque escritas pelos outros jornalistas “da

casa”, particularmente as que retratavam crimes, e notava que elas fugiam à tradicional ideia da

notícia que inicia com o lead e depois é desenvolvida. Tentei, de alguma forma, inspirar-me nesses

43  

relatos e escrever uma notícia… diferente. O facto é que ela não deixa de ser uma notícia e, por isso,

não deixa de ter de possuir fontes de informação e de ser um relato sério dos acontecimentos.

Em jeito de resposta ao segundo objetivo do estudo, pode dizer-se que nem todas as normas

estabelecidas pelo Código foram cumpridas. O saldo é, ainda assim, positivo, se tivermos em conta

que o maior desrespeito que houve foi protagonizado por apenas uma notícia, a número 17, que

apenas cumpriu a terceira, quarta, quinta, oitava, nona e décima normas. De resto, regra geral, todos

os pressupostos do Código foram satisfeitos por todas as notícias, excetuando o que diz respeito à

identificação das fontes, desrespeitado em cinco notícias – três por não terem fontes de todo, duas por

falharem em identificá-las. Este resultado acaba por ir ao encontro das minhas expetativas, uma vez

que tinha em mente que seria difícil preencher todos os requisitos do Código sem exceção, ainda que

os tenha procurado – e continuarei a procurar na minha vida profissional futura – respeitar.

Além disso, sorrio ao notar que todas as notícias – novamente, excetuando a número 17, que

gosto de acreditar ser a exceção que confirma a regra – afastam todo e qualquer cenário de

sensacionalismo. Nunca caí no erro de não salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos nem

faltei ao respeito pela privacidade dos envolvidos nas notícias, e muito menos discriminei quem quer

que fosse. Estamos, pois, perante notícias essencialmente informativas, cujos dados foram obtidos

através de meios legais, relatos sérios, rigorosos, exatos e honestos, escritos de acordo com a norma

culta, afastados de coloquialismos, popularismos, extremismos, vulgarismos e outros ismos que

culminam… no sensacionalismo. Esse era um dos meus grandes objetivos: perceber até que ponto a

ameaça sensacionalista poderia interferir com o relato sério em notícias sobre crimes. O facto é que é

possível escrever notícias acerca de crimes, acidentes e tragédias cumprindo as normas vigentes do

Código Deontológico do Jornalista e sem entrar na esfera do sensacionalismo que, apesar de tudo, está

sempre pairando no ar, à espera de penetrar no rigor com que se deve escrever notícias.

5.3 – Relatos de crime no Diário de Notícias e no Correio da Manhã: a comparação

Para que a comparação entre as notícias que retratam o mesmo assunto escritas pelo DN e

pelo CM fosse mais ajustada, coerente e lógica, foi desenvolvida uma grelha de observação que

englobou os aspetos essenciais desta análise comparativa (cf. Anexo IV). Nota para o facto de o total

das 28 notícias analisadas – 14 de cada jornal – não estar enumerado no mesmo anexo; a

enumeração das notícias do DN é, pois, diferente daquela que foi utilizada acima, nos primeiros dois

pontos do estudo.

44  

Todas as notícias dos dois jornais foram escritas na terceira pessoa do singular, o que significa

que não se registou nenhum caso em que o jornalista autor da notícia assumisse a primeira pessoa no

relato do evento a noticiar. O número de linhas das notícias é outro tópico de análise. Deste modo,

constata-se que a notícia mais longa que, nesta análise, o DN apresenta contém 50 linhas –

“Funcionária de Conservatória desvia 252 mil euros por amor” –, sendo que o CM retrata o mesmo

evento em 55 linhas. Por sua vez, aquela que é a mais longa notícia desenvolvida no CM – “Fogo

queima mulher e desaloja 12 pessoas” – tem 66 linhas, quando no DN ela fica-se pelas 36 linhas. A

notícia mais curta escrita no DN tem somente sete linhas – “Queda de 45 metros de uma ponte

provoca morte a casal” –, enquanto o CM apresenta uma notícia com 12 linhas – “GNR faz 17

detidos” – como a mais pequena. Interessante é, porventura, verificar que a primeira é uma notícia de

destaque no CM, que desenvolveu a notícia por mais de 60 linhas, e a segunda tem 30 linhas no DN.

Embora não nos transmita nada em concreto nem seja preditor de qualquer conclusão, é

interessante notar que a média do número de linhas das notícias do DN analisadas é inferior (29) à do

CM (36). Ainda que se pudesse pensar que, por se tratar de um tabloide, as notícias do CM teriam, à

partida, menos linhas do que um jornal de pendor mais informativo, também não se pode ignorar o

facto de essas notícias assumirem um papel de destaque na página do jornal, ao contrário do DN. Na

verdade, enquanto apenas duas notícias do DN em análise foram consideradas como tendo uma

posição de destaque, seis notícias do CM preencheram grande parte da mancha gráfica da página. O

CM dá, pois, maior destaque a notícias sobre crimes do que o DN, não tanto pelo número de linhas

das notícias, mas mais pelo destaque na página dado a elas. Aliás, mesmo as duas notícias com papel

de destaque no DN são mais curtas do que uma notícia que é tradicionalmente a de destaque, uma

vez que são notícias de fecho daquela secção do jornal, em que o próprio layout da página faz com que

haja apenas duas colunas de texto – ainda que ligeiramente mais longas – para a notícia destacada,

acompanhadas por uma fotografia. Na verdade, não posso dizer que tenha produzido, no período de

estágio, uma notícia que merecesse papel de total destaque na página. É por esta razão que defendo

que a média do número de linhas não deve ser tida em conta quando se procuram conclusões sobre a

análise, embora seja um dado interessante e que contraria as expetativas que tinha aquando do início

do estudo.

Seguindo esta lógica, o facto de a mesma notícia no DN (no caso, a menor) ter somente sete

linhas e no CM 61 faz-me tecer algumas considerações acerca dos assuntos que merecem mais

atenção por parte dos dois títulos. De facto, as maiores notícias do CM, as mais desenvolvidas –

aquelas que, portanto, têm um papel de destaque –, disseram respeito ao avô acusado de abusar da

45  

neta, ao incêndio que destruiu um prédio e obrigou à hospitalização de uma moradora, ao acidente

rodoviário que vitimou um casal, à condenação de uma mulher por desvio de dinheiro e à violação de

duas mulheres por parte de um homem – todas acompanhadas de uma imagem de grandes

dimensões, que na maioria dos casos serviam de mera ilustração. Destas, apenas a notícia referente à

condenação de uma mulher por desvio de dinheiro foi igualmente desenvolvida pelo DN. Por um lado,

isto mostra que uma notícia dita secundária do DN pode ter quase tantas linhas (50) quantas a de uma

notícia de destaque do CM (55). Por outro, mostra que o destaque dado pelos jornais às notícias é

díspar, motivado em grande escala pela linha editorial que cada um segue. De facto, a notícia mais

longa do DN, “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, que sucede à imediatamente acima referida,

tem 40 linhas, ao passo que no CM tem 16, equivalente à segunda notícia mais curta deste diário.

À exceção das notícias 1, 5, 10, 13 e 14, todas as notícias do DN têm títulos maiores. A maior

diferença é visível na sétima notícia, em que o título do DN tem 11 palavras – “Queda de 45 metros de

uma ponte provoca morte a casal” – contra as seis do CM – “Caem para a morte após despiste”. Nas

notícias 5 e 14, os títulos têm a mesma quantidade de palavras, sendo que esta última assume o

peculiar detalhe de quase ter o mesmo título ipsi verbis nas duas publicações: “Criminalidade violenta

e grave diminui 10%” (DN) e “Criminalidade violenta e grave diminuiu 10%” (CM) – a única diferença

está, pois, no tempo verbal utilizado. Tal facto poderá advir de ambas as notícias terem sido

construídas com base no mesmo comunicado. Ao invés, na primeira notícia, o título do CM tem 11

palavras, mais uma do que o DN, situação que se repete na notícia 10, mas com outros dígitos: o título

tem oito palavras no CM contra as sete no DN.

Afigura-se, pois, como interessante verificar as diferenças existentes nos títulos e respetivos

tamanhos por parte dos dois diários. Os títulos que o CM cria para as notícias assemelham-se a

citações diretas de expressões usadas em cafés ou praças públicas: “PSP ladrão fica em casa” e

“Mulher falida não paga ao estado”, à cabeça. É um registo popular e informal, com claros e explícitos

juízos de valor, não próprio de um jornal que se quer informativo. São paradigmas de como o título tem

de ser ajustado ao corpo da notícia… ou de como um título tem o poder suficiente para arruinar uma.

Não é que o tamanho da página seja diferente para os dois diários, não; a diferença entre o tamanho

dos títulos – só por três vezes o CM teve um título maior do que o DN – reside no facto de o CM utilizar

uma estratégia de maximização dramática, colocando títulos que até podem ter poucas palavras, mas

cujas letras são graficamente grandes e grossas (“Sete porsches queimados”, por exemplo). Algo que,

no fundo, volta a aproximar o jornal do sensacionalismo.

46  

Outra diferença entre os diários encontra-se ao nível do tipo de linguagem utilizado. Se em

todas as notícias o DN assume uma linguagem formal, regida pela ausência de qualquer espécie de

vulgarismos, extremismos ou do emprego da gíria, o caso do CM é já diferente: há cinco notícias em

que o jornal utiliza um estilo de linguagem popular, com termos marcadamente incomuns numa

linguagem que se quer cuidada. Para se perceber melhor esta realidade, nada melhor do que

atentarmos aos exemplos práticos que me fizeram considerar aquelas cinco notícias como tendo uma

linguagem do tipo popular. Na notícia 7, “Caem para a morte após despiste”, há expressões como

“encontraram a morte”, “o casal caiu para a morte” ou “a brutal queda que ceifou a vida ao casal”.

Tal vocabulário vai, pois, contra o estilo essencialmente informativo com que uma notícia deve ser

escrita, com uma linguagem informativa. O mesmo acontece, então, nas notícias 8, “PSP ladrão fica

preso em casa”, 9, “Mulher falida não paga ao Estado”, 11, “Rapta e viola ex-mulher por ciúmes”, e

12, “Viola duas mulheres a quem oferece ajuda”. A linguagem destas restantes quatro notícias é

popular por causa de expressões nos títulos das duas primeiras – “PSP ladrão” e “mulher falida” – e

no corpo das duas últimas – “os ciúmes não deixavam em paz o homem” e “o pesadelo começou”. É

um vocabulário aproximado da informalidade e afastado do rigor pelo qual o jornalismo se deve pautar.

Para terminar a análise comparativa das notícias no que toca aos elementos textuais, falta-nos

atentar ao número e tipo de fontes utilizadas. No total das 14 notícias de cada jornal, o DN possui

menos fontes (13) do que o CM (14). Como este já foi um tópico desenvolvido para as notícias do DN

no primeiro ponto da análise do estudo, parece-me mais lógico focarmo-nos primeiro no caso do CM –

enumerar e tipificar as fontes – para depois compararmos aos dados que já respeitantes às notícias do

DN. Deste modo, há cinco notícias do CM que não possuem fontes de todo, seis que têm uma fonte

cada, uma que contém duas e outras duas notícias possuem três fontes cada. Destes dados, retém-se

o facto de o CM ter duas notícias com três fontes, algo que na análise do DN não foi encontrado, e

também o facto de o CM ter mais notícias sem qualquer fonte de informação (o DN tinha três). De

resto, houve dois tipos de fontes mais utilizados na escrita de notícias por parte do CM, que surgiram

por três vezes em seis diferentes notícias: primária, oficial, reativa, identificada, confiável e primária,

oficial, passiva, identificada, confiável. Tal como o DN, também o CM não apresentou nenhuma fonte

na notícia 12, “Viola duas mulheres a quem oferece ajuda”. Ambos os jornais contabilizaram o mesmo

número de fontes – um – nas notícias 9, 13 e 14. Em todas as outras, ou o DN contém mais fontes

(notícias 3, 4, 8, 10 e 11) ou os papéis invertem-se (notícias 1, 2, 5, 6, 7). Um traço comum à tipologia

das fontes de informação por parte dos dois diários é o facto de todas elas serem confiáveis, no que

respeita à qualificação. Ao contrário do que poderia supor à partida para a investigação, nesta amostra

47  

o CM não tem um número de fontes populares superior ao DN. Tem, apesar disso, mais fontes

testemunhais (4) do que o DN (1), o que se traduz num maior número de pessoas que assistiram aos

eventos a serem ouvidas, e mais fontes sigilosas (4) do que o DN (2), o que significa que o jornal

identifica menos fontes. Pelo menos nestes pontos esta análise conseguiu ir ao encontro das minhas

expetativas.

Algo que também me surpreendeu nesta análise foi ter descoberto que as notícias do DN

possuíam menos uma fonte do que o CM. Ainda que haja poucas fontes por notícia nos dois diários,

este não deixa de constituir um ponto que favorece o CM. Tal resultado prende-se, na minha ótica, com

a maior extensão da generalidade das notícias do CM, que acaba por permitir que haja um maior

desenvolvimento e também mais fontes que podem fornecer informação. No entanto, como se poderá

ver nos parágrafos a seguir, a tendência positiva dos resultados da análise para o CM não perdura

muito mais.

Em termos dos elementos visuais que compõem ou acompanham as notícias em análise, é

possível verificar que todas as notícias do DN se encontram na mesma secção (País – Segurança), ao

passo que o CM divide mais as notícias: 11 pertencem à secção Portugal e três à secção Norte. No CM

há também mais notícias que assumem um papel de destaque na página, ou seja, ocupam a maior

parte daquela página do jornal, em comparação com o DN. Na verdade, são seis notícias contra

apenas duas. As outras notícias – portanto, oito do CM e 12 do DN – são notícias consideradas

secundárias, já que estão reservadas a espaços não tão centrais da página. Algo que distingue os dois

jornais é a presença de imagem a acompanhar o texto da notícia. De facto, o DN tem 11 notícias que

não têm nenhuma imagem a servir de suporte. Apenas três notícias – a 3, “Incêndio em oficina destrói

dezenas de carros”, a 7, “Queda de 45 metros de uma ponte provoca morte a casal”, e a 8, “Agente

da PSP suspeito de roubos em prisão domiciliária” – fazem-se acompanhar de fotografias: a primeira é

uma imagem da oficina já destruída pelas chamas, a segunda, o carro amolgado pela queda, e a

terceira, o agente suspeito, a cobrir a face com uma camisa à saída do tribunal. A primeira tem uma

função de “retransmissão”, o que significa, de acordo com Barthes (1964; cit. por Martinec & Salway,

2005: 341), que tanto a imagem como o texto têm igual importância para a compreensão da notícia.

De facto, se só aparecesse a fotografia da oficina queimada, não se perceberia o que efetivamente

aconteceu; mas é uma imagem importante e bastante relevante para acompanhar o texto da notícia. A

segunda notícia tem uma imagem cuja função é de “ancoragem”, ou seja, é o texto que apoia a

imagem, assumindo esta um papel de maior protagonismo. Isto porque a notícia em si é muito

pequena (tem sete linhas), e o que salta mais à vista é, de imediato, a fotografia do carro destruído; no

48  

fundo, o texto acaba por explicar a imagem. Na notícia 8, a imagem tem a função de “ilustração”, isto

é, ela acaba por funcionar como suporte para o texto da notícia. Tal é percetível pelo facto de a notícia

retratar a apreensão de um agente da PSP e a fotografia que aparece é a do agente – ainda que ele

tenha coberto a cara – no preciso momento em que lhe foi decretada prisão domiciliária. A fotografia,

por si só, não diz nada, não transmite informação nenhuma, pelo que tem a função de ilustrar o texto

noticioso.

Quando comparamos este número de três notícias com imagem com o CM, percebemos que é

bastante inferior. Com efeito, o CM tem 13 notícias com imagem, a maioria (10) com uma função

meramente ilustrativa. Veja-se os exemplos da notícia 6, “Ladrões tentam roubar sino de capela”, cuja

fotografia presente é referente à capela de que fala o texto, ou da notícia 13, “Famílias detidas por

abusos a uma menor”, cuja fotografia é da sede da Polícia Judiciária de Aveiro, cidade onde a notícia

se desenrolou. Tal indica, na minha ótica, um uso excessivo da imagem, por vezes mesmo quando ela

não é simplesmente necessária. Sei que estamos numa era em que os jornais, por via da própria

sustentabilidade, têm de apelar ao público para que consigam ter vendas – e as imagens funcionam

precisamente nesse sentido –, mas não deixa de ser curioso o facto de o CM utilizar imagens que até

quase nada têm a ver com o assunto retratado no corpo da notícia só para que a mancha gráfica seja

de algum modo mais apelativa. De facto, considero o exemplo da notícia 13 paradigmático: se ela é

respeitante à detenção de uma família por alegados abusos a uma menor, pouco sentido faz colocar

uma fotografia da sede da PJ de Aveiro, ainda que se trate da entidade que procedeu à detenção e da

cidade onde os factos ocorreram. A imagem, genérica e pouco relacionada com os factos que

realmente aconteceram, podendo ser utilizada para diversas situações, nada acrescenta à narrativa, e

parece colocada na notícia mesmo porque ela estaria incompleta sem uma imagem… qualquer. Tendo

em conta que uma das características do sensacionalismo é a abundante presença de imagens,

concluo, pois, que este é mais um traço que aproxima o CM do género sensacionalista de jornais. Há

também três notícias com uma imagem com função de “retransmissão”, em que as fotografias

assumem igual importância para a compreensão da notícia quanto o próprio texto. São os casos das

notícias 3, “Sete porsches queimados”, 5, “Fogo queima mulher e desaloja 12 pessoas”, e 7, “Caem

para a morte após despiste”.

Antes do exercício de comparação entre o DN e o CM no que ao Código Deontológico do

Jornalista diz respeito, parece-me pertinente referir que nem todas as normas do Código são passíveis

de escrutínio através das notícias escritas pelos jornais. Alíneas como a terceira, que postula que o

jornalista deve lutar contra a restrição ao acesso à informação, a quinta, que determina que o jornalista

49  

deve assumir a responsabilidade pela totalidade dos seus trabalhos, ou a décima, que estipula que o

jornalista deve recusar funções que comprometam a sua independência e integridade profissional,

estão mais ligadas à atividade interna dos jornais, ao modo como os jornalistas operam fora da esfera

da escrita de notícias, algo que não se pode constatar através do modo como elas são escritas. Neste

sentido, e porque as três normas acima descritas se assumem como impossíveis de serem analisadas

no CM dada a própria natureza do presente estudo, elas são excluídas da análise, que se irá centrar,

então, nas normas presentes no Código concernentes ao comportamento do jornalista na construção

de notícias e percetíveis no modo como elas estão escritas. O mesmo é dizer que, por não ter tido

acesso à forma como as notícias são produzidas no CM, aos bastidores por detrás da notícia redigida,

as três alíneas supramencionadas, apesar de terem sido avaliadas no tópico anterior referente ao DN,

não são consideradas para a comparação.

Posto isto, há algumas diferenças entre os dois títulos que considero ser importante abordar. À

partida, é notório que o DN respeita mais normas do que o CM. Começando pela primeira notícia do

CM, considero que ela respeita a sétima norma – salvaguarda da inocência dos arguidos – porque,

apesar de na notícia estar escrito que os arguidos “foram a casa da vítima” e “a obrigaram a entregar

os cartões de crédito” antes de “incendiar o corpo da vítima”, ou seja, a notícia não utiliza os

vocábulos “terão” ou “alegadamente”, a verdade é que os arguidos já tinham sido considerados

culpados pelo tribunal. Logo, não constitui um erro dizer-se que o casal efetivamente cometeu as ações

que o tribunal relatou. Noutros casos, como as notícias 6, o mesmo não acontece. De facto, a sexta

notícia do CM, por exemplo, não respeita esta sétima norma do Código, porque é lá afirmado com

certeza que os assaltantes realmente cometeram o crime sem que o tribunal o tenha dado como

provado. Mesmo que as testemunhas o garantam, até que a sentença saia por parte do tribunal, é

dever do jornalista salvaguardar a presunção de inocência dos envolvidos.

Esta sétima norma não é respeitada também pelas notícias 8, 11 e 12. No primeiro caso, a

verdade é que, mesmo que no corpo da notícia esteja escrito que os arguidos foram detidos “por

suspeita de terem assaltado cerca de 10 casas” – está presente, pois, a expressão “por suspeita” –, a

forma como o título da notícia está escrito é suficientemente promotora de juízos de valor: “PSP ladrão

fica preso em casa”. Pelo título, o leitor assume imediata e instantaneamente que o agente é culpado,

quando o tribunal ainda não o decretou como tal. Ainda para mais, é sabido que muitas notícias não

são propriamente lidas por todos os leitores, mas pelo menos os títulos, por serem mais chamativos,

raramente não passam despercebidos aos seus olhos.

50  

Por essa mesma razão, considero também que esta notícia 8 não respeita a primeira norma, já

que um jornalista não pode nunca escrever um título como aquele sem que tal tenha sido confirmado;

daí que não me parece haver muito rigor e exatidão – e, em última instância, mesmo honestidade – na

escrita do título. Além da primeira e da sétima normas, também desrespeita a segunda, já que o

dramatismo do título faz-me imediatamente colocar esta notícia como sendo própria do

sensacionalismo. A notícia 9 não respeita a segunda norma também por causa do título, “Mulher falida

não paga ao estado”. A notícia é referente à condenação de uma mulher por desvio de dinheiro, mas o

título puxa para destaque o facto de a condenada estar falida. Creio, contudo, que esta notícia 9, ao

contrário da 8 e da 11, respeita a primeira norma do Código pelo facto de se tratar de uma notícia de

destaque, cujo corpo da notícia de facto está escrito com rigor, sendo que as outras duas notícias são

mais pequenas e, por isso, o possível rigor presente no corpo da notícia não apaga o poder dos títulos

sensacionalistas. Por falar em sensacionalismo, a sétima notícia do CM, “Caem para a morte após

despiste”, possui, como já se viu acima, um estilo de linguagem popular, facto que, apesar de tudo,

não me inibe de considerar que ela respeita a primeira norma do Código, porque apesar da linguagem,

os factos estão efetivamente comprovados.

De regresso à primeira notícia do CM em análise, ela não respeita a segunda norma do Código

– o combate ao sensacionalismo –, na medida em que coloca imagens da vítima de assassinato e dos

condenados. Apesar de não se poder considerar que esta prática constitui um desrespeito pela nona

norma – respeito pela privacidade dos indivíduos –, dado que as fotografias dos arguidos foram tiradas

em locais públicos e a da vítima era uma fotografia que estaria disponível publicamente na internet,

isto é, não era uma fotografia da pessoa defunta, o facto é que levanta algumas questões éticas que

seriam interessantes abordar. Como esta, muitas notícias do CM também não respeitam esta segunda

norma. Veja-se o caso da terceira notícia, que chama a marca dos carros incendiados para assunto de

destaque; quase que o que tem mais importância não foi o facto de ter ocorrido um incêndio, mas

antes de ele ter destruído sete carros de luxo, sete Porsches. Nesta notícia em particular – tal como na

notícia 11 –, não é possível atestar o respeito pela quarta norma – utilizar meios legais para obter

informações –, isto porque, não havendo fontes, também não se consegue perceber como a jornalista

escreve que um dos carros destruídos era do dono da oficina, por exemplo. Como também não posso

partir do princípio de que a informação foi obtida ilicitamente, esta norma não pode, então, ser

analisada neste caso.

Ora, tudo isto é inútil se não se tiver uma visão mais abrangente desta análise. Para se ter uma

ideia mais consistente acerca do respeito pelo Código Deontológico do Jornalista por parte dos dois

51  

diários em análise, proponho esquematizá-la. A primeira norma do Código é respeitada pelo DN em 13

notícias e pelo CM em 11; a segunda é respeitada em 13 notícias do DN contra as sete do CM; a

quarta é respeitada por todas as notícias dos dois jornais, salvo as que não possuem elementos

suficientes para essa análise; a sexta norma é respeitada pelo DN em nove notícias e pelo CM em oito;

a sétima norma é respeitada em oito notícias do DN e em cinco do CM (em nove que permitiam essa

análise); a oitava norma é respeitada pelo DN e pelo CM em todas as nove notícias passíveis de

análise; e a nona norma, por fim, é também respeitada pelo DN e pelo CM em todas as 10 notícias em

que esta análise foi exequível.

Não se registou, portanto, nenhuma ocasião em que o CM se tenha superado ao DN no que

toca ao respeito pelas normas do Código. A norma que o DN mais vezes desrespeitou foi a sexta,

referente à identificação das fontes. Foram cinco as notícias construídas sem que tivesse tido em conta

essa sexta alínea do Código. Curiosamente, esta norma foi também desrespeitada pelo CM em seis

notícias, sendo que a que mais vezes (em sete notícias) foi desrespeitada pelo jornal foi mesmo a

segunda, concernente ao combate do sensacionalismo. No fundo, estou em crer que se pode concluir

que o Código Deontológico do Jornalista não é respeitado nestas notícias por ambos os jornais. Afinal,

ele não poderia nunca ser respeitado tendo em conta que há desrespeitos efetivos em relação a

algumas normas por ambos os jornais. Ainda assim, o caso do CM é mais gritante, na medida em que

desrespeita mais normas e por mais vezes.

Como os parágrafos acima já deram, por certo, a entender, são consideráveis as falhas do CM

quanto ao combate ao sensacionalismo. De facto, metade das notícias em análise do jornal (sete)

possui elementos passíveis as tornarem sensacionalistas contra apenas uma notícia do DN. Esta é a

maior diferença entre os dois títulos em termos do respeito pelo Código, análise que me permitiu

concluir que na redação das notícias o DN respeitou sempre mais normas do que o CM, indo, deste

modo, ao encontro do que esperava à partida para este estudo. Houve algo em que esta investigação

me surpreendeu, no entanto: o facto de o CM respeitar sempre a privacidade dos cidadãos (nona

norma do Código). Digo isto porque, à partida, pensava que a publicação de fotografias dos arguidos

e/ou das vítimas nas notícias se trata de uma violação da privacidade dos cidadãos e, por isso, um

desrespeito pela respetiva alínea do Código. A verdade é que as fotografias, sendo públicas, são, por

isso, passíveis de serem utilizadas pelo CM ou por qualquer outro jornal. Tudo depende é da linha

editorial que cada jornal segue. O CM, claramente vizinho próximo do sensacionalismo, não hesita na

hora de procurar e publicar fotografias de pessoas que já morreram, por exemplo. Parece quase

paradoxal, mas não é um desrespeito pela norma. É, sim, sintoma de um sensacionalismo que parece

52  

perdurar, mais não seja pelos resultados positivos que o CM tem alcançado nos últimos anos, sendo

líder em termos de vendas. Para isso, muito contribui também a aproximação do jornal a um tipo de

público leitor particular, mais extenso, através da linguagem de índole mais popular que, de acordo

com Cunha e Andrade (1999:3), procura “maior aproximação com o leitor das classes mais modestas

da população”, e do predominante uso de imagens e dramatização “em detrimento de elementos

textuais e analíticos”, como argumenta Johansson (2007: 32).

O CM não chega ao extremo de escrever a peça noticiosa na primeira pessoa, como Cunha e

Andrade (1999: 3) mostraram ser possível – todas foram escritas na terceira pessoa do singular –, é

um facto, mas sabe desbravar os caminhos do sensacionalismo como ninguém. Fazendo uso

constante dos nomes das vítimas e dos arguidos, inclusive com fotografias que revelam as suas

identidades, o CM distancia-se do DN, que opta por não revelar nem a cara, nem o nome dos

envolvidos nas notícias. Tudo isto foi visível através do estudo comparativo entre o DN e o CM que foi

levado a cabo, cuja conclusão maior é a de que, de facto, o DN afasta-se do sensacionalismo,

enquanto o CM dele se aproxima, o que acaba por ir ao encontro das minhas expetativas.

53  

54  

Capítulo 6 – Considerações finais

Depois não só da reflexão em torno da minha atividade de estágio no DN mas também da

investigação levada a cabo no tópico imediatamente acima, é natural que surjam ilações a que

podemos e devemos atentar. É exatamente sobre isto que as próximas linhas, as finais do presente

relatório, se debruçarão.

O valor-notícia associado ao crime é elevado, pelo que é inevitável noticiá-lo. Isto parece-me um

dado concreto e que não levanta dúvidas. Na verdade, o facto de haver um espaço dedicado a esse

tipo de notícias nos jornais – testemunhei isso no meu próprio estágio na secção de segurança –

prova-o. O tratamento que cada jornal dá ao crime, por sua vez, difere, e é aqui que se rompe uma

brecha que abre espaço à discussão. Como vimos, o DN noticia o crime de forma diferente do CM.

Enquanto o primeiro constrói um relato mais sério, com uma linguagem formal, o segundo dá primazia

a um estilo mais sensacionalista, marcado por títulos curtos mas vistosos, com juízos de valor em

algumas circunstâncias, pela presença constante de imagens, algumas mesmo sem ter a ver com o

que é propriamente noticiado, e pela publicação de fotografias de indivíduos que pereceram. Não sei se

numa análise de notícias do DN que não fossem da minha autoria obteria os mesmos resultados, mas

o facto é que aqui, neste estudo em particular, ele afasta-se do sensacionalismo.

Essa via, a do sensacionalismo, não é, parece-me claro, a mais desejável. O crime é um evento

que, por si só, já desperta emoções, é um assunto que já é sensível de si. Se estivermos a falar de

crimes ligados a mortes, isso ainda é mais evidente. O sensacionalismo aliado ao crime é, para mim,

um extremar do que já consegue ser um extremo. Explorar emoções associadas a um evento que já

causa dor suficiente para os envolvidos parece-me, mais até do que errado, inconveniente. Em última

análise, o sensacionalismo, sempre que aplicado em notícias de crimes e não só, acaba por

descredibilizar o jornalismo. Atendendo à natureza do que envolve os crimes, é exigido, mesmo que

não por alguma força direta – e porventura é isso que falta –, que o jornalista tenha alguma noção de

que está a escrever sobre um assunto delicado. Ao escrever, com certeza, que um indivíduo é

homicida quando o veredito sobre a inocência ou culpa ainda não foi comunicado por parte do tribunal,

o jornalista pode estar a colocar em causa, sem ter certeza, o nome da pessoa envolvida, o que poderá

criar dificuldades no reajustar da vida por parte do indivíduo em causa. Ao colocar fotografias de

pessoas que morreram num acidente, o jornalista pode estar a causar mais sofrimento à família por

ver o rosto do seu ente querido espalhado pelo país. Julgo que, nesse sentido, a escrita de notícias

sobre a criminalidade poderia beneficiar, do ponto de vista jornalístico, se houvesse algum tipo de

formação – essencialmente de índole ética – para os jornalistas desta área. Porém, creio, o problema é

55  

mais difícil de combater. É que a generalidade dos jornalistas, parece-me, até está ciente da

sensibilidade da questão, mas por via das linhas editoriais de certos jornais e de ordens que provêm de

cima na hierarquia acabam por ser obrigados a compactuar com práticas sensacionalistas.

Não há volta a dar: na sociedade contemporânea, o sensacionalismo vende mais e é mais

lucrativo do que o jornalismo de cariz mais informativo. O próprio jornalismo é encarado por muitos

mais como um negócio do que como uma missão. Entendo a pressão em que hoje, mais do que

nunca, os jornais se encontram mergulhados; são necessárias receitas para que se consiga a

sustentabilidade do jornal. Nesse sentido, o jornalismo é também um negócio. Mas entendo também

que não é impossível fazer jornalismo com qualidade – sem laivos sensacionalistas – e ter vendas que

permitam o desafogo financeiro tão necessário nos dias que correm. Penso que uma solução poderá

passar pela educação para os media, já que os jornais recorrem ao sensacionalismo para ter mais

vendas porque sabem de antemão que é o que os leitores, na generalidade, procuram. Se estivermos

perante um povo mais culto, mais conhecedor e sobretudo mais interessado nos assuntos críticos da

vida em sociedade e que dizem respeito à atualidade, então será possível fazer-se jornalismo sem

sensacionalismo com vendas.

É importante perceber que não existe nenhuma regulamentação própria dos jornais tabloides:

como jornais que são, pertencentes a um todo mais global que é a imprensa e a outro ainda mais

absoluto que é o jornalismo, têm o dever de respeitar as normas fundadoras da profissão,

estabelecidas no Código Deontológico do Jornalista. É por isso que esse tipo de jornais, no qual se

inclui o CM, acaba por ser criticado dentro da própria classe jornalística e não só. Acredito, contudo,

que tudo permaneça como está: o sensacionalismo nem tão cedo se vai despedir do jornalismo. É que

se trata de um notável aliado dos jornais, que faz com que eles sejam mais procurados, mais vendidos

e, por conseguinte, oferece maiores lucro às grandes empresas que os detêm. Urge, pois, pensar,

debater e encontrar soluções para que o jornalismo não entre numa espiral de procura incessante já

não pela verdade, mas pelas vendas, já não pelos factos, mas pelo lucro. Parece-me lógico que a

concentração de esforços no sentido de haver uma maior e mais eficiente educação para os media do

público leitor, como já advoguei, pode ser uma solução, mas há também que agir no sentido de os

próprios jornais que não são sensacionalistas se reinventarem para dar a volta à situação. O público

leitor quer sentir-se próximo do seu jornal, e, numa era em que todo o mundo nos é próximo através do

online, há que saber usar essa ferramenta para fazer chegar o bom jornalismo, que tem na qualidade e

na idoneidade as suas maiores virtudes, aos leitores que só têm olhos para os jornais que ferem o

jornalismo mas que, com manobras de charme, os mantêm próximos de si.

56  

A investigação que conduzi permitiu-me concluir que o número de fontes consultado na

totalidade das notícias foi muito baixo para aquilo que pensava numa primeira instância e para aquilo

que, no fundo, é desejável no jornalismo. E neste tópico de reflexão incluo as notícias tanto do DN

como do CM. No fundo, o requisito do contraditório, ou seja, o cruzamento de fontes, não foi aplicado

tanto quanto deveria. De facto, é uma relação sempre complexa, a que une jornalistas e fontes de

informação, algo que também pude comprovar na primeira pessoa. Com este estágio e posterior

estudo, considero que ganhei algum arcaboiço que não tinha para, num futuro que quero próximo,

lidar melhor com as fontes e procurar sempre melhorar estes dados oferecidos por esta minha

primeira experiência a sério naquele que gosto de acreditar ser o meu futuro. Adquiri, acima de tudo,

uma aprendizagem que futuramente me fará pensar duas vezes antes de terminar a redação de uma

notícia sem que tenha contactado, pelo menos, duas fontes. Até porque esse foi o aspeto que, sendo

eu instigado por este relatório a olhar para todo o meu trabalho de forma sistemática, mereceria um

tratamento diferente da minha parte.

Um outro tópico de discussão que gostaria de convocar, mais ligado à questão metodológica

do estudo mas que acaba por ter a ver com as próprias fontes, está relacionado com as dificuldades

que senti na aplicação das diferentes tipologias das fontes de informação. A tipificação de Schmitz

(2011) parece-me bastante completa, tendo em conta que existem várias escalas quando se classifica

uma fonte, e tal obriga, como é óbvio, a uma leitura cuidada aquando do seu levantamento. No

entanto, quando me surgiu um juiz como fonte numa notícia, fiquei bastante hesitante sobre que tipo

de fonte se tratava no que toca à escala da ação. Isto porque as definições do autor dos quatro tipos de

fontes dentro desta escala – proactiva, ativa, passiva e reativa – não pareciam encaixar-se na fonte.

Tive, portanto, de optar por exclusão de partes, sendo que proactiva e ativa nunca poderia ser – o juiz

não fez as suas próprias notícias – e passiva também não, dado que eu nunca o questionei na procura

de informações – no fundo, a fonte apenas estava a fazer o seu trabalho. Só pôde ser, pois, uma fonte

reativa, na medida em que detinha informação relevante e de interesse público mas agindo de forma

discreta. Este episódio ilustra a dificuldade com que os estudiosos se podem debater quando

examinam estas questões e faz-me questionar sobre se existe, de facto, uma forma geral de englobar

as fontes de informação em categorias. Elas existem, sim, e ajudam e muito no estudo das fontes,

claro, mas exigem, na minha ótica, uma constante revisão e atualização, pois podem sempre aparecer

novos tipos de fontes que desafiam o que até à altura era conhecido.

Seria interessante, no futuro, expandir este estudo, que nunca pretendeu ser generalizável,

dada a reduzida amostra, e passá-lo para a esfera do news making, não apenas da escrita de notícias,

57  

mas de todos os bastidores por detrás da escrita de notícias. Isso passa por analisar o respeito pelo

Código Deontológico do Jornalista através de observação do modo como também os jornalistas

operam, para que nenhuma norma do documento escape à análise. Outra sugestão para uma

investigação futura prende-se com o facto de trazer para a análise notícias que tenham saído nos sites

dos jornais. Por outras palavras, parece-me interessante fazer uma análise deste género englobando o

jornalismo que é feito online, para se perceber se existem diferenças comparativamente ao que é feito

em imprensa escrita. Um estudo de maior envergadura, que englobe um número superior de notícias

na análise e/ou que inclua notícias de mais jornais, seria também útil para melhor se compreender

esta dinâmica e as diferenças entre o modo como se escreve notícias de crime – e, já agora, de

qualquer outro assunto e secção dos jornais – nos diversos e diferentes jornais portugueses.

58  

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63  

64  

Anexos

Anexo I – Total das 20 notícias analisadas no DN.

Notícia 1 (08/10/2013)

Notícia 2 (09/10/2013)

65  

Notícia 3 (09/10/2013)

Notícia 4 (11/10/2014)

66  

Notícia 5 (15/10/2013)

Notícia 6 (18/10/2013)

67  

Notícia 7 (18/10/2013)

Notícia 8 (22/10/2013)

68  

Notícia 9 (23/10/2013)

Notícia 10 (26/10/2013)

69  

Notícia 11 (29/10/2013)

Notícia 12 (13/11/2013)

70  

Notícia 13 (14/11/2013)

Notícia 14 (14/11/2013)

Notícia 15 (15/11/2013)

71  

Notícia 16 (15/11/2013)

Notícia 17 (30/11/2013)

Notícia 18 (04/12/2013)

72  

Notícia 19 (12/12/2013)

Notícia 20 (12/12/2013)

73  

74  

Anexo II – Número e tipo de fontes de informação utilizadas nas 20 notícias do DN.

Fontes

Notícias

Número

de fontes

Tipo de fontes, de acordo com Schmitz (2011)

Categoria Grupo Ação Critério Qualificação

1 1 primária oficial ativa identificada confiável

2 0 - - - - -

3 0 - - - - -

4 1 primária oficial passiva identificada confiável

5 1 primária oficial ativa identificada confiável

6 1 primária oficial ativa identificada confiável

7 2 primária

primária

testemunhal

oficial

passiva

passiva

sigilosa

identificada

confiável

confiável

8 1 primária oficial ativa identificada confiável

9 1 primária oficial ativa sigilosa confiável

10 1 primária oficial passiva sigilosa confiável

11 1 primária oficial passiva identificada confiável

12 2 primária

primária

oficial

oficial

ativa

ativa

identificada

identificada

confiável

confiável

13 1 primária empresarial passiva identificada confiável

14 2 primária

secundária

oficial

popular

reativa

passiva

identificada

identificada

confiável

confiável

15 1 primária oficial passiva identificada confiável

16 1 primária oficial ativa identificada confiável

17 0 - - - - -

18 1 primária oficial ativa identificada confiável

19 1 primária oficial ativa identificada confiável

20 2 primária

secundária

oficial

oficial

ativa

passiva

identificada

identificada

confiável

confiável

Total: 21

75  

76  

Anexo III – Grelha de observação referente ao respeito pelas normas do Código Deontológico do

Jornalista das 20 notícias do DN.

Notícia 1

Notícia 2

Notícia 3

Notícia 4

Notícia 5

Notícia 6

Notícia 7

Notícia 8

Notícia 9

Notícia 10

1) Rigor, exatidão e honestidade

nos factos

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

2) Combater censura e

sensacionalismo

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

3) Lutar contra restrições ao

acesso à informação

✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓ 

4) Utilizar meios legais para obter

informações

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

5) Assumir responsabilidade pelos trabalhos

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

6) Identificar fontes e não revelar as

confidenciais

✓ X X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X X

7) Salvaguardar presunção de

inocência - ✓ ✓ - - ✓ - ✓ - ✓

8) Rejeitar discriminação de pessoas

- ✓ ✓ - - ✓ - ✓ - ✓

9) Respeitar privacidade

dos cidadãos - ✓ ✓ - - ✓ - ✓ ✓ ✓

10) Recusar funções que

comprometam a sua integridade

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

Notícias

Normas

77  

Notícia 11

Notícia 12

Notícia 13

Notícia 14

Notícia 15

Notícia 16

Notícia 17

Notícia 18

Notícia 19

Notícia 20

1) Rigor, exatidão e honestidade

nos factos ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  X ✓  ✓  ✓ 

2) Combater censura e

sensacionalismo ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  X ✓  ✓  ✓ 

3) Lutar contra restrições ao

acesso à informação

✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓ ✓  ✓  ✓ 

4) Utilizar meios legais para obter

informações ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓ ✓  ✓  ✓ 

5) Assumir responsabilidade pelos trabalhos

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

6) Identificar fontes e não revelar as

confidenciais

✓ ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  X ✓  ✓  ✓ 

7) Salvaguardar presunção de

inocência ✓  - ✓  ✓  ✓  ✓  X ✓ - ✓ 

8) Rejeitar discriminação de pessoas

✓  - ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  - ✓ 

9) Respeitar privacidade

dos cidadãos ✓  - ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  ✓  - ✓ 

10) Recusar funções que

comprometam a sua integridade

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

Notícias

Normas

78  

Anexo IV – Grelha de observação para a comparação das 14 notícias sobre o mesmo tema do DN e do CM (as notícias enumeradas do CM, com a nota da

respetiva notícia equivalente do DN, estão apresentadas logo a seguir da tabela).

Notícia 1 Notícia 2 Notícia 3 Notícia 4 Notícia 5 Notícia 6 Notícia 7

DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM

Elem

ento

s te

xtua

is

Pessoa conjugada

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

Número de linhas

28 24 28 55 20 32 30 12 36 66 32 28 7 61

Número de palavras

no título

10 11 10 6 7 3 8 4 7 7 8 6 11 6

Tipo de linguagem

formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal popular

Número de fontes

0 1 0 1 1 0 1 0 2 3 1 3 1 2

Tipo

(s) d

e fo

nte(

s)

Categoria - primária - primária primária - primária - primária primária

primária primária primária

primária primária primária primária

primária primária secun-dária

Grupo - oficial - oficial oficial - oficial - teste-

munhal oficial

teste-munhal oficial teste-

munhal

oficial

teste-munhal oficial teste-

munhal

oficial oficial

popular

Ação - reativa - reativa passiva - ativa - passiva passiva

passiva passiva passiva

ativa passiva passiva passiva

passiva passiva passiva

Notícias e jornal

Critérios de avaliação7

79  

Crédito - identifi-cada

- identifi-cada

identifi-cada

- identifi-cada

- sigilosa identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

sigilosa

identifi-cada

sigilosa identifi-cada

sigilosa

identifi-cada

identifi-cada

sigilosa

Qualificação - confiável - confiável confiável - confiável - confiável confiável

confiável confiável confiável

confiável confiável confiável confiável

confiável confiável confiável

Elem

ento

s vis

uais

Secção do jornal

País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Norte País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal

Posição na página

secun-dária

secun-dária

secun-dária

desta-que

desta-que

desta-que

secun-dária

secun-dária

secundária

desta-que

secun-dária

secun-dária

secun-dária

desta-que

Presença de imagem

não sim não sim sim sim não sim não sim não sim sim sim

Relação texto-imagem

- ilustra-

ção -

ilustra-ção

retrans-missão

retrans-missão

- ilustra-

ção -

retrans-missão

- ilustra-

ção ancora-

gem retrans-missão

Códi

go D

eont

ológ

ico

1) Rigor, exatidão e honestidade

nos factos ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

2) Combater sensacionalismo

✓ X ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X

4) Utilizar meios legais para obter

informações

✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓

6) Identificar fontes e

não revelar as confidenciais

X ✓ X ✓ ✓ X ✓ X ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓

80  

7) Salvaguardar presunção

de inocência

✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ X - -

8) Rejeitar discriminação de pessoas

✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ ✓ - -

9) Respeitar privacidade

dos cidadãos

✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ ✓ ✓ ✓

81  

Notícia 8 Notícia 9 Notícia 10 Notícia 11 Notícia 12 Notícia 13 Notícia 14

DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM

Elem

ento

s te

xtua

is

Pessoa conjugada

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

3.ª singular

Número de linhas

18 31 50 55 40 16 26 16 26 63 29 28 35 18

Número de palavras

no título 9 6 9 6 7 8 8 6 10 7 6 7 6 6

Tipo de linguagem

formal popular formal popular formal formal formal popular formal popular formal formal formal formal

Número de fontes

1 0 1 1 2 1 1 0 0 0 1 1 1 1

Tipo

(s) d

e fo

nte(

s)

Categoria primária - secun-dária

secun-dária

primária secun-dária

primária primária - - - primária primária primária primária

Grupo oficial - oficial oficial oficial

popular oficial oficial - - - oficial oficial oficial oficial

Ação passiva - passiva reativa reativa passiva

reativa ativa - - - ativa ativa ativa ativa

Crédito sigilosa - identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

- - - identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

identifi-cada

Notícias e jornal

Critérios de avaliação7

82  

Qualificação confiável - confiável confiável confiável confiável

confiável confiável - - - confiável confiável confiável confiável

Elem

ento

s vis

uais

Secção do jornal

País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Norte País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Portugal País – Segu-rança

Norte País – Segu-rança

Portugal

Posição na página

desta-que

secun-dária

secun-dária

desta-que

secun-dária

secun-dária

secun-dária

secun-dária

secun-dária

desta-que

secun-dária

secun-dária

secun-dária

secun-dária

Presença de imagem

sim sim não sim não sim não sim não sim não sim não não

Relação texto-imagem

ilustra-ção

ilustra-ção

- ilustra-

ção -

ilustra-ção

- ilustra-

ção -

ilustra-ção

- ilustra-

ção - -

Códi

go D

eont

ológ

ico

1) Rigor, exatidão e honestidade

nos factos

✓ X ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  X X X ✓  ✓ ✓  ✓

2) Combater sensacionalismo

✓ X ✓  X ✓  ✓ ✓  X X X ✓  ✓ ✓  ✓

4) Utilizar meios legais para obter

informações

✓ ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  - ✓ ✓ ✓  ✓ ✓  ✓

6) Identificar fontes e

não revelar as confidenciais

X X X ✓ ✓  ✓ ✓  X X X ✓  ✓ ✓  ✓

7) Salvaguardar presunção

de inocência

✓ X ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  X X X ✓ ✓ - -

8) Rejeitar ✓ ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ - -

83  

84  

discriminação de pessoas

9) Respeitar privacidade

dos cidadãos

✓ ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ ✓  ✓ - -

7 Esclarecimento dos critérios de avaliação

Pessoa conjugada – predominância da pessoa (primeira, segunda ou terceira) em que o texto

está escrito;

Número de linhas – total de linhas que compõem a notícia;

Número de palavras no título – extensão do título;

Número de adjetivos – quantidade de adjetivos presentes no título e no texto;

Tipo de linguagem – culta ou popular, como descrito por Cunha e Andrade (1999);

Número de fontes – total de fontes consultadas na escrita da notícia;

Tipo(s) de fonte(s) – em relação à categoria, primária ou secundária; ao grupo, oficial,

empresarial, institucional, popular, notável, testemunhal, especializada ou de referência; à ação,

proativa, ativa, passiva, reativa; ao crédito, identificada ou sigilosa; à qualificação, confiável,

fidedigna ou duvidosa, de acordo com a tipificação de Schmitz (2011);

Secção do jornal – segmento/divisão do jornal em que a notícia se encontra;

Posição na página – notícia de destaque (se ocupa a maior parte da página) ou secundária (se

estiver reservada a espaços não tão centrais);

Presença de imagem – existência ou não de uma imagem que acompanha a notícia;

Relação texto-imagem – de ancoragem, ilustração ou retransmissão (Barthes, 1964);

Rigor, exatidão e honestidade nos factos (primeira norma do Código) – presença de uma

linguagem clara e objetiva que veicule uma informação marcadamente independente de opinião

e de conjeturas;

Combater censura e sensacionalismo (segunda norma do Código) – ausência de um estilo

sensacionalista na escrita da notícia;

Utilizar meios legais para obter informações (quarta norma do Código) – informação recolhida

por meios honestos;

Identificar fontes e não revelar as confidenciais (sexta norma do Código) – quantidade de fontes

identificadas, se presentes, salvo as que são confidenciais;

Salvaguardar presunção de inocência (sétima norma do Código) – presença de elementos na

escrita que não atribuam de imediato culpa a um indivíduo sem que haja provas fundamentadas;

Rejeitar discriminação de pessoas (oitava norma do Código) – ausência de qualquer tipo de

favoritismo e/ou desvalia de pessoas com base na cor, raça, credo, nacionalidade ou sexo;

Respeitar privacidade dos cidadãos (nona norma do Código) – ausência de abuso da boa-fé dos

envolvidos.

85  

86  

Anexo V – Notícias do CM sobre o mesmo tema do DN.

Notícia 1 (equivalente a “Penas até 19 anos e meio para casal por homicídio”, do DN)

Notícia 2 (equivalente a “Acusado de abuso sexual das netas não fala em tribunal”, do DN)

87  

Notícia 3 (equivalente a “Incêndio em oficina destrói dezenas de carros”, do DN)

Notícia 4 (equivalente a “GNR deteve 17 condutores em operação de fiscalização”, do DN)

88  

Notícia 5 (equivalente a “Incêndio destrói prédio e obriga a hospitalização”, do DN)

Notícia 6 (equivalente a “Detido homem apanhado em flagrante a roubar sino”, do DN)

89  

Notícia 7 (equivalente a “Queda de 45 metros de uma ponte provoca morte a casal”, do DN)

90  

Notícia 8 (equivalente a “Agente da PSP suspeito de roubos em prisão domiciliária”, do DN)

Notícia 9 (equivalente a “Funcionária de Conservatória desvia 252 mil euros por amor”, do DN)

91  

Notícia 10 (equivalente a “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, do DN)

Notícia 11 (equivalente a “Detido suspeito de violação e rapto da ex-companheira”, do DN

92  

Notícia 12 (equivalente a “Simulava saber de mecânica para atrair e violar as vítimas”, do DN

Notícia 13 (equivalente a “Detido grupo que abusou de menor”, do DN)

93  

Notícia 14 (equivalente a “Criminalidade violenta e grave diminui 10%”, do DN

94