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O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias
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Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais
Ricardo Batista Bettencourt
outubro de 2014UM
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|201
4
Trabalho realizado sob a orientação daProfessora Doutora Sandra Marinho
Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais
Ricardo Batista Bettencourt
outubro de 2014
Relatório de Estágio Mestrado em Ciências da Comunicação Área de especialização em Informação e Jornalismo
O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias
Agradecimentos
À Débora, minha namorada, futura mulher, presente mais que tudo, porquanto sem ela não teria sido
possível tudo isto. Tenho a consciência de que nem a totalidade das páginas deste relatório me
bastariam para escrever o quanto lhe amo e o quão grato estou pelas horas de mel, dias de carinho,
semanas de ternura, meses de afeto e anos de amor. Agradeço também pela ajuda e pela
disponibilidade, pela paciência e pelo mais belo sorriso que alguma vez vi.
À minha orientadora da Universidade do Minho, professora Sandra Marinho, pela preciosa ajuda e
afável simpatia com que sempre me brindou nas reuniões.
Ao meu orientador de estágio no Diário de Notícias, David Mandim, e a toda a equipa de jornalistas do
DN na redação do Porto, por toda a ajuda e por todos os conselhos que me deram numa nova etapa
da minha vida profissional.
À minha família, e em particular aos meus pais, por tudo terem feito para que pudesse alcançar esta
meta e por me terem proporcionado as melhores condições para que fosse possível singrar no ensino
superior. A eles, prometo enchê-los de orgulho.
À comunidade do Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores e à
minha antiga turma da licenciatura – nunca serão esquecidos –, por me terem inspirado a continuar a
vida académica e por me terem alimentado o gosto pelo jornalismo.
iii
O lugar do crime no jornalismo: a escrita de notícias sobre crimes no Diário de Notícias
Resumo
O crime é um evento que, pela sua natureza, tem de ser noticiado. Em todos os jornais, há sempre
espaço para as notícias relacionadas com crimes de diversas origens, tal como há para política,
economia ou desporto. No entanto, há diferentes formas de o crime ser noticiado. Em jornais ditos
mais sensacionalistas, o objetivo de emocionar mais do que informar faz com que se corra o risco de
infringir algumas regras que fundaram a profissão de jornalista, presentes no Código Deontológico do
Jornalista. No presente relatório, além de uma profunda reflexão sobre a experiência de estágio vivida
na redação do Diário de Notícias, foi conduzido um estudo que visou compreender que fontes
noticiosas foram utilizadas nos relatos de crimes do Diário de Notícias no período em que lá estagiei e
se e que normas do Código Deontológico do Jornalista foram violadas. Depois, atestou-se que
diferenças existem entre esses relatos de crimes escritos nesse jornal de pendor mais informativo e
noutro mais sensacionalista (Correio da Manhã). Tais objetivos foram alcançados através da análise de
conteúdo das notícias presentes no Diário de Notícias para se aferir as fontes utilizadas e as normas do
Código Deontológico desrespeitadas e da comparação entre notícias relativas aos mesmos crimes nos
dois jornais supracitados. Este estudo permitiu concluir que as notícias de crimes no Diário de Notícias
afastam-se do sensacionalismo, enquanto as que são noticiadas pelo Correio da Manhã dele se
aproximam.
Palavras-chave: crime; sensacionalismo; Código Deontológico do Jornalista; Diário de Notícias.
v
The place of crime in journalism: the writing of crime news in Diário de Notícias
Abstract
Crime is an event that, due to its own nature, has to be reported. In every newspaper, there is always
space for news related to any sort of crime, just like there is for politics, economy issues or sports.
However, there are different ways to report the crime. In the so-called sensationalist newspapers, the
goal of trigger emotions rather than inform people can put in danger some vital rules that founded the
journalist profession, established in the Journalist’s Code of Ethics. In this report, apart from a profound
reflection on the internship experienced in Diário de Notícias’ newsroom, a study was conducted in
order to understand which journalistic sources were used in crime news that I have written in Diário de
Notícias and if and what rules of the Journalist’s Code of Ethics were infringed, and then to
comprehend what were the differences between the crime reports written in that newspaper and those
written in a more sensationalist one (Correio da Manhã). These goals were met through the content
analysis of the news written in Diário de Notícias to assess the sources used and the rules of the Code
of Ethics that were disrespected and also through the comparison between news related to the very
same crimes in the two newspapers mentioned above. This study concluded that crime news written in
Diário de Notícias avoids sensationalism, whilst those reported in Correio da Manhã embraces it.
Keywords: crime; sensationalism; Journalist’s Code of Ethics; Diário de Notícias.
vii
Índice
Introdução .......................................................................................................................................... 1
Capítulo I – Diário de Notícias: uma viagem por entre mais de um século de história........................... 3
Capítulo 2 – O estágio: uma viagem por entre mais de um século de aprendizagem ............................ 7
2.1 – Afazeres plenos de prazeres .................................................................................................. 7
2.2 – Mortes que me deram vida ................................................................................................... 8
2.3 – Novos desafios de um novo mundo ...................................................................................... 9
2.4 – Amargos dissabores para temperar no futuro ...................................................................... 12
2.5 – Entre a experiência e o estudo das notícias sobre crime ...................................................... 13
Capítulo 3 – O que envolve a escrita de notícias de crimes: um olhar sobre a literatura .................... 17
3.1 – Algumas considerações sobre a imprensa tabloide .............................................................. 17
3.2 – O valor do texto e da imagem na construção das notícias .................................................... 19
3.3 – Notícias de crimes na imprensa ........................................................................................... 21
3.4 – As fontes de informação em relatos de crimes ..................................................................... 23
3.5 – O que diz o Código Deontológico do Jornalista .................................................................... 27
Capítulo 4 – Metodologia .................................................................................................................. 31
4.1 – Objetivos ............................................................................................................................ 31
4.2 – Amostra ............................................................................................................................. 31
4.3 – Instrumentos de análise ..................................................................................................... 32
4.4 – Procedimentos ................................................................................................................... 32
Capítulo 5 – As notícias de crime no Diário de Notícias .................................................................... 35
5.1 – As fontes noticiosas utilizadas nos relatos de crime no Diário de Notícias ............................. 35
5.2 – O Código Deontológico do Jornalista e os relatos de crime no Diário de Notícias ................... 40
5.3 – Relatos de crime no Diário de Notícias e no Correio da Manhã: a comparação ..................... 44
Capítulo 6 – Considerações finais .................................................................................................... 55
Referências ...................................................................................................................................... 59
ix
x
Anexos ............................................................................................................................................. 65
Anexo I – Total das 20 notícias analisadas no DN .......................................................................... 65
Anexo II – Número e tipo de fontes de informação utilizadas nas 20 notícias do DN ....................... 75
Anexo III – Grelha de observação referente ao respeito pelas normas do Código Deontológico do
Jornalista das 20 notícias do DN ................................................................................................... 77
Anexo IV – Grelha de observação para a comparação das 14 notícias sobre o mesmo tema do DN e
do CM ......................................................................................................................................... 79
Anexo V – Notícias do CM sobre o mesmo tema do DN ................................................................. 87
Índice de figuras e tabelas
Figura 1 – Gráfico representativo dos valores da tiragem e da circulação do DN nos três bimestres do
ano de 2014 ...................................................................................................................................... 4
Figura 2 – Gráfico comparativo dos valores da circulação dos cinco jornais diários nos primeiros três
bimestres do ano de 2014 .................................................................................................................. 5
Tabela 1 – Tipificação das fontes jornalísticas, de acordo com Schmitz (2011) .................................. 24
Tabela 2 – Número de notícias e breves redigidas em função das secções do jornal .......................... 32
Introdução
“É a primeira vez, tem tudo para correr bem”. Ainda me lembro do pensamento que não pediu
licença para me invadir a mente momentos antes de pôr os pés na redação do Diário de Notícias. Na
data certa, nove meses depois de lá ter estado pela última vez, nasce o presente relatório de estágio,
num esforço de demostrar o que vi, senti, vivi e aprendi na minha primeira experiência a sério numa
redação de um dos principais jornais diários portugueses. Constitui também, por isso, um exercício de
reflexão que se desdobrará em duas partes distintas.
O presente relatório congrega, por um lado, a minha experiência de estágio profissionalizante,
decorrido entre outubro de 2013 e janeiro de 2014, com um relato sistematizado de todas as
experiências, dificuldades, expetativas e esperanças para o meu futuro profissional. A descrição das
atividades realizadas é sempre feita com um pensamento crítico, tendo em vista refletir sobre o que foi
feito, o que poderia ter sido feito e o que poderá ser feito no futuro. A segunda parte deste relatório
debruça-se sobre o modo como as notícias de crime são ou devem ser escritas nos jornais, uma
questão que durante o estágio muito me fez pensar. Tendo sido o meu trabalho diário no jornal muito
baseado em notícias que envolviam o crime como temática, estive sempre exposto a essa realidade, o
que me fez questionar, por várias vezes, sobre como deve o crime ser relatado num jornal de pendor
mais informativo. Por isso, foi levado a cabo um estudo que se distribuiu em três partes: primeiro,
analisar 20 notícias sobre crimes da minha autoria escritas durante o período de estágio, para se aferir
quantas e que tipo de fontes de informação foram utilizadas; segundo, averiguar se tais notícias
cumprem as normas vigentes no Código Deontológico do Jornalista; terceiro, atestar se existem
diferenças – e quais – entre os relatos de uma mesma notícia do Diário de Notícias, escritos por mim,
e do Correio da Manhã. Mas antes de tudo isso, o ponto de partida é dado no capítulo que
imediatamente se segue, onde conto um pouco mais sobre o jornal onde estagiei, a sua história e os
seus números de tiragem e circulação.
“Tem tudo para correr bem”. Não podia iniciar este relatório de estágio sem registar de novo o
pensamento com que principiei o estágio e que, curiosamente, é o mesmo que sinto no momento em
que dou início à sua etapa conclusiva.
1
Capítulo I – Diário de Notícias: uma viagem por entre mais de um século de história
O Diário de Notícias (DN) é um jornal que no presente ano de 2014 completa 150 anos de
existência, o mais antigo do território continental e o segundo mais antigo do país. Testemunha de
várias e diferentes forças políticas que governaram Portugal e de outros tantos acontecimentos que
marcaram a história do país e da própria humanidade, é um dos títulos mais importantes da imprensa
diária nacional.
Nascido na segunda metade do século XIX, no ano de 1864, altura que apadrinhou o fim das
guerras civis e militares que dividiram o país, o DN assumiu-se desde o primeiro número como um
jornal informativo, numa altura em que a imprensa era marcadamente partidária. Segundo pode ler-se
no site do jornal1, ao passo que os jornais custavam, na altura, entre 30 a 60 reis, podia adquirir-se o
DN por 10, facto que contribuiu para uma difusão rápida do jornal por todo o país. Foi responsável pela
introdução da reportagem no país tal como hoje a conhecemos e pela introdução dos telegramas das
agências de informação internacionais nas suas colunas. O DN foi pioneiro também na introdução da
publicidade nos jornais e na reformulação da venda do jornal nas ruas através de uma nova classe
profissional – os ardinas.
Também se pode ler no site do jornal que o seu fundador, Eduardo Coelho, desejava que o DN
fosse convertido num “jornal de todos e para todos, para pobres e ricos de ambos os sexos e de todas
as condições, classes e partidos”. Em 1919, Augusto de Castro assumiu a direção do jornal e, a partir
daí, a fisionomia do DN foi mais adaptada aos padrões europeus, nomeadamente os que ecoavam de
Paris. Atualmente, em 2014, o jornal opera a partir de várias cidades: a sede é em Lisboa, mas as
delegações do Porto, Coimbra, Leiria, Faro e Funchal também ajudam a construir o jornal que todos os
dias é posto à venda no país.
Hoje, o DN já não está só. Com a profusão da imprensa no país, o jornal enfrenta agora
desafios que se prendem com a sua própria sustentabilidade. Num mercado cada vez mais feroz e
agressivo, onde tudo vale em nome do lucro, o DN já não se posiciona como o líder de vendas no país.
Na verdade, analisando os dados da Associação Portuguesa para o Controlo da Tiragem e Circulação
(APCT), percebemos que ao longo do ano de 2013, a tiragem e a própria circulação do DN foi
gradualmente diminuindo. Se no primeiro bimestre desse ano se publicaram 41.504 exemplares dos
jornais e 25.398 circularam – ou seja, 61% deles chegaram às mãos das pessoas –, o último bimestre
de 2013 testemunhou uma tiragem na ordem dos 32.217 exemplares e uma circulação de 17.794, o
que significa que 55% dos jornais nesse bimestre chegaram efetivamente ao público. No ano de 2014,
1 http://www.dn.pt/
3
a informação disponibilizada até à data pela APCT, a qual podemos observar através da Figura 1,
permite-nos constatar que o cenário se mantém idêntico, ainda que com valores de tiragem mais
baixos: o primeiro bimestre foi marcado por uma circulação de 17.478 jornais e o terceiro – último
com dados disponíveis no site 2 – de 17.414 jornais.
31.409 31.071 31.197
17.478 17.420 17.414
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
1.º Bimestre 2.º Bimestre 3.º Bimestre
Tiragem Circulação
Figura 1 – Gráfico representativo dos valores da tiragem e da circulação do DN nos três bimestres do
ano de 2014 (fonte: APCT).
Por comparação com os jornais diários de informação que se vendem em Portugal,
percebemos que o DN está longe do fulgor de outros tempos. Hoje, encontra-se – sempre tendo em
conta os dados disponibilizados pela APCT relativos aos três primeiros bimestres do ano – em quarto
lugar dos jornais de informação geral diários que mais venderam no país em 2014. A Figura 2 mostra
que o Correio da Manhã (CM) é, destacadíssimo, o que mais circulação registou, o único acima das
100.000 unidades. O pico acontece no primeiro bimestre, em que atinge a marca de 115.165 jornais
vendidos. De seguida, encontra-se o Jornal de Notícias, com uma vantagem de mais de 30.000
unidades em todos os três bimestres em comparação com o Público. Só depois vem o DN, que apenas
está acima do jornal i, o qual nunca ultrapassou uma circulação de pouco mais de 4.207 unidades.
Um facto curioso é que todos os diários apresentaram números inferiores de circulação se
compararmos com o ano de 2013, à exceção do Público, que no primeiro bimestre deste ano registou
um número ligeiramente superior de circulação (27.918 em 2013 contra 28.284 em 2014). Posso
dizer, com a certeza que só os números conseguem dar, que houve uma quebra generalizada de
circulação de jornais nos principais diários de informação em Portugal nesse período.
2 http://www.apct.pt/
4
140.000
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
1.º Bimestre 2.º Bimestre 3.º Bimestre
Correio da Manhã
Jornal de Notícias
Público
Diário de Notícias
Jornal i
Figura 2 – Gráfico comparativo dos valores da circulação dos cinco jornais diários nos primeiros três
bimestres do ano de 2014 (fonte: APCT).
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Capítulo 2 – O estágio: uma viagem por entre mais de um século de aprendizagem
2.1 – Afazeres plenos de prazeres
Neste que foi o quarto jornal de informação diário que mais vendeu no país durante todo o ano
de 2013, estagiei durante três meses na secção País – Segurança, na delegação do Porto, de 7 de
outubro de 2013 a 6 de janeiro de 2014. Nesta secção, são redigidas sobretudo notícias relacionadas
com crimes, tribunais, acidentes, forças de segurança e ações de sensibilização que ocorrem no país.
Embora fosse essa a secção na qual eu trabalhava diariamente, pude também direcionar, de vez em
quando, a minha atenção para outras duas secções: a de País – Cidades, onde se incluem notícias
mais de âmbito local e/ou relacionadas com eventos que acontecem nas várias cidades que povoam o
país, e a de Sport, além dos habituais e – porque não? – tradicionais trabalhos destinados a estagiários
na secção dos obituários. Pude, ainda, escrever para a plataforma online do DN.
Durante este período, confrontei-me com várias situações que merecem uma reflexão própria
de quem entrou para o mundo real do trabalho, ainda que no regime de estagiário. Foi, até, no estágio
que fiz o primeiro telefonema enquanto jornalista para obter informações de uma fonte. Numa notícia
em particular da minha autoria, respeitante a um incêndio que ocorrera numa oficina no distrito de
Leiria, foi da minha responsabilidade o telefonema para os bombeiros, no sentido de me inteirar do
que tinha acontecido antes e depois do incidente, dos estragos causados e de possíveis feridos.
Aprendi, nesse exato momento, que comecei por fazer as perguntas erradas. De facto, assim que me
introduzi ao comandante, perguntei de imediato por feridos, pelo número de viaturas queimadas e
pelos estragos no edifício. Com a ajuda do meu orientador de estágio, David Mandim, jornalista do DN,
percebi que deveria, primeiro, fazer uma pergunta de âmbito mais geral e… mais simples. “Pode dizer-
me o que aconteceu ao certo?”, por exemplo. Só depois, com o desenrolar do discurso da minha fonte,
é que deveria ir ao pormenor. Faz sentido. Porventura a inexperiência e a ansiedade próprias de quem
quer mostrar serviço poderão ter-se apoderado de mim e tornado mais árdua uma tarefa que não o é.
Mas tudo isso faz parte da aprendizagem e do contacto com o mundo real do trabalho.
Finalizado esse primeiro passo, incumbiu-se-me a tarefa de, claro, ouvir a outra parte. Neste
caso, tive de ligar para a oficina lesada pelo infortúnio. Afinal, só uma fonte ligada a ela me poderia
inteirar do estado da oficina e dos seus trabalhadores. Preparado para fazer um telefonema enquanto
jornalista pela segunda vez, não obtive nenhum “sim?” ou “estou?” do outro lado da linha. Voltei a
tentar. Voltei a não obter resposta. É um problema que voltei a encontrar na redação de uma outra
notícia, em que, não obtendo resposta via telefone, tive de enviar um e-mail, ao qual só obtive resposta
passados dois dias. Num mundo e numa profissão que exige rapidez, é impensável contactar as fontes
7
apenas por e-mail, pois o risco de não obter resposta é por demais evidente. É também um dos
problemas do chamado “jornalismo de secretária”, aquele em que as notícias são feitas
maioritariamente na redação, sem que o jornalista se desloque ao local onde o evento se deu. Sem
resposta da oficina, lá tive então de pôr em prática algo que aprendi nas várias aulas práticas de
jornalismo que durante cinco anos fui tendo. “O DN tentou contactar a oficina, com o intuito de se
inteirar da situação da empresa e dos seus trabalhadores, mas sem efeito”, escrevi, com alguma
tristeza por não poder fornecer toda a informação que queria e que era devida.
Mas também naquilo que considerava, à primeira vista, fácil encontrei dificuldade. Falo das
breves, essas notícias em miniatura que exigem que o jornalista escreva tudo e não escreva nada. Em
poucos caracteres, muitas vezes mesmo em uma ou duas frases, no máximo, tive de conseguir
condensar a informação lógica e adequadamente, para que o leitor percebesse o que queria transmitir
num espaço tão curto. Fi-lo a partir de textos já existentes, fornecidos pela Lusa. Tentei sempre
obedecer à lógica da resposta aos tradicionais “quem, o quê, quando, onde, porquê e como”, o que
me levou a ter de cortar várias palavras por várias vezes do texto original e a modificá-lo, também para
não entrar no facilitismo do copy-paste, que queria, a todo o custo, evitar. O maior entrave que senti
nesta atividade não foi tanto discernir que informação necessitava de selecionar para a breve; foi
mesmo a de fazê-la caber no espaço que lhe era reservada.
Encontrei essas dificuldades em respeitar os limites de uma caixinha de texto com uma notícia
nas primeiras vezes, é certo, mas tomei-as como um desafio a ultrapassar, tendo acabado por,
também com a prática, demorar cada vez menos tempo na sua realização. Fiquei, inclusive, a gostar
de cortar expressões, trocar palavras maiores por sinónimos mais pequenos e, numa lógica quase de
uma brincadeira séria, fazê-lo de forma a que a última linha ficasse preenchida integralmente. Foi uma
tarefa que me acompanhou na quase totalidade dos dias do estágio, a ponto de pensar que aquele dia
em que não havia feito nem uma breve não tinha sido o mesmo. Isto apesar, claro, de o meu sonho,
como o de qualquer jornalista, não se coadunar propriamente com a escrita deste estilo de texto
informativo, que acaba por limitar o nosso trabalho, mas antes a de grandes reportagens escritas. Este
assunto será, de resto, também aprofundado ao longo do presente relatório.
2.2 – Mortes que me deram vida
Durante três meses, mantive contacto com uma secção que, longe de me ser próxima, é
familiar a todos os jornais. Na verdade, creio que qualquer estagiário de qualquer jornal informativo
está sujeito a dedicar algum do seu tempo aos obituários. O período durante o qual estagiei coincidiu
8
com a morte de alguns nomes notáveis de várias áreas. A mais flagrante é, sem dúvida, a de Nelson
Mandela, em inícios de dezembro de 2013. Mas claro que os obituários da minha autoria não foram
respeitantes a tal figura, porquanto a própria vida e história do ilustre líder sul-africano naturalmente
merece mais do que uma pequena caixa de texto numa página. Quem fala de Mandela fala também de
Lou Reed, monstro da música cuja morte, em fins de outubro do mesmo ano, também mereceu
páginas de destaque, não pequenas caixas de texto na secção dos obituários.
Será porventura importante ressalvar que estes obituários de que falo não se podem traduzir
propriamente na necrologia que alguns jornais, possivelmente de âmbito mais regional, têm. Estes
obituários do DN, que todos os dias são escritos, contêm quatro caixas de texto, uma maior e mais
destacada, todas com uma fotografia a ilustrar o perecido, com linhas dedicadas aos êxitos e
conquistas da sua vida e a dar conta da natureza da sua morte. São, portanto, pessoas que se
destacaram um pouco por todo o mundo em diversas áreas, desde cientistas a músicos, passando por
bispos, escritores, pensadores, atletas, atores e políticos… mas também criminosos e assassinos em
série que se tornaram famosos por razões invariavelmente menos nobres. Isto para ilustrar que são
obituários não relativos ao comum cidadão, mas aos que, portugueses ou de qualquer outra
nacionalidade, se destacaram por esta ou por aquela razão.
Encarei a escrita dos obituários como uma forma de conhecer melhor quem partiu. Muitos dos
nomes que escrevi eram-me manifestamente desconhecidos, confesso, pelo que me obriguei, mais não
seja por uma questão de respeito, a perceber quem foram e o que fizeram nas suas vidas. A escrita
deste tipo de texto não é lecionada nas disciplinas de jornalismo, e considero importante reconhecer
que qualquer estudante desta área se encontra habilitado a escrevê-lo, pelo que nem me parece fazer
sentido estudar obituários ou a sua escrita. Pelo menos é a sensação com que fico, dada a manifesta
facilidade da tarefa.
2.3 – Novos desafios de um novo mundo
Nem só de mortes se fizeram os meus três meses de estágio. Também o desporto – mais
concretamente, aquele que é considerado o desporto-rei, o futebol – ocupou um lugar de destaque em
fins de 2013, muito por culpa da seleção nacional. Em novembro, qualificou-se para o Campeonato do
Mundo de 2014, no Brasil, no playoff que opôs o nosso lusitano Portugal à viking Suécia. Menciono isto
simplesmente porque me permitiu viver numa redação um ambiente que só o futebol, esse perito no
despertar de emoções, poderia proporcionar. Foi, aliás, motivo de conversa – umas vezes mais séria,
outras mais em tom de brincadeira – todos os dias entre os colegas de redação. E também refiro o
9
desporto porque, apesar de estagiar na secção de segurança, acabei por fazer trabalhos também na de
desporto, quando ainda não havia material para trabalhar em segurança, por exemplo. Isto foi algo que
me deu prazer, uma vez que tenho um gosto especial por esta área – não necessariamente para a
seguir profissionalmente.
Aliás, foi também na secção de desporto que pude fazer mais um telefonema enquanto
jornalista. Na verdade, foram três, mas dado que uma das pessoas contactadas não atendeu, outra
disse não ter tempo para prestar declarações e outra ainda fez questão de, bem alto, exclamar “então
você liga para o telemóvel e não sabe que eu ‘tou no Irão? Assim também pago a chamada!”, prefiro
contar como um telefonema apenas. Uma experiência que, apesar de algo amarga, me abriu os olhos
para o facto de nem sempre ser fácil contactar fontes e estabelecer com elas uma relação. Fiz, durante
o meu estágio, apenas duas notícias de desporto, uma de fórmula 1 e outra de ténis, um número
pequeno mas suficiente para perceber que conseguiria ser competente e encontraria também prazer
se me dedicasse ao jornalismo de âmbito desportivo.
O ambiente na redação marcou-me. Sendo manifestamente pequena, senti camaradagem e
proximidade entre todos os jornalistas. Não me senti, de todo, posto de parte pela minha condição de
estagiário ou por ser novo. De facto, se precisasse de ajuda para obter um número de telefone ou para
tirar alguma dúvida sobre questões técnicas, por exemplo, eu tinha essa ajuda de pronto. A
proximidade entre todos manifestava-se, também, em comentários – novamente, mais ou menos
sérios, mais ou menos em tom de brincadeira – às notícias do dia, transmitidas na redação pela RTP
Informação, TVI 24 e SIC Notícias. Esse foi também um facto que me impressionou: o dia era passado
a escrever notícias ouvindo notícias. Além de nos pôr em constante contacto com o que se passa no
país e no mundo, escrever notícias no jornal a ouvir notícias na televisão faz-nos ter presentes dois
estilos de escrita jornalística diferente, o que contribui para, no meu caso, aprender com maior
exatidão as diferenças que necessariamente existem entre as notícias escritas na imprensa e aquelas
que são transmitidas na e pela televisão. Ao contrário do que poderia ter pensado ao início, a
informação que provinha das televisões não era utilizada na escrita das notícias para o jornal. É que, a
meio da tarde, o trabalho estava já destinado, cada jornalista, eu incluído, sabia o que tinha a fazer
para aquele dia, e utilizavam-se outras fontes de informação que não as televisões. Elas funcionavam,
no fundo, como banda sonora para o desenrolar da ação, mas não assumiam o papel principal.
Algo que também não me imaginava a fazer foi a parte do online, de escrever notícias para o
site do DN. Mas fi-lo. Eu, que estou longe de ser um perito em questões relacionadas com HTML, lá fui
escrevendo notícias para publicar online quando não dispunha de material para escrever as notícias na
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edição em papel do jornal ou quando, pura e simplesmente, como qualquer estagiário está sujeito, não
me tinha sido destinado nenhum trabalho para o jornal em papel do dia seguinte. No espaço virtual,
escrevi notícias única e exclusivamente relacionadas com a secção de segurança, pelo que, mesmo
que não tivesse nenhuma notícia para o jornal, sempre ia praticando a escrita de notícias da minha
secção.
As notícias que escrevi foram maioritariamente retiradas dos sites da Guarda Nacional
Republicana (GNR), Polícia Judiciária (PJ) e Polícia de Segurança Pública (PSP), as três grandes forças
policiais nacionais que fazem do combate ao crime a sua vida. A partir dos comunicados que
disponibilizavam nos seus sites, a maioria com títulos demasiadamente parecidos (algo do género
“detidos por furto a habitação”, “detido por tráfico de droga”, precedidos da localização onde a
apreensão ocorreu), construía textos diferentes, com títulos diferentes, o que me obrigava a ser criativo.
Nesse âmbito, senti-me plenamente capaz quando escrevi numa notícia os mesmos crimes – ou de
natureza semelhante – que tinham ocorrido em localidades diferentes. Por exemplo, em vez de fazer
duas notícias referentes a “um jovem detido por assalto com recurso a arma branca em Loulé” e a
“três indivíduos detidos por assalto à mão armada em Matosinhos”, escrevi uma só notícia com
destaque para a que tinha mais informação. Se a notícia de Loulé fosse o caso, então escreveria sobre
ela, para no fim mencionar que “também em Matosinhos um grupo de jovens foi detido por assalto,
mas à mão armada (…)”. Não foi propriamente algo que me ensinaram nas aulas de jornalismo nem
na própria redação me aconselharam a fazê-lo. Partiu de mim e foi algo do momento.
Escrever para o online não é o mesmo que escrever para o jornal em papel. Aliás, há um fator
crucial que distingue as escritas para um e para outro: o tempo. É que um jornalista acaba por ter
mais ou menos tempo para escrever uma notícia para sair no dia seguinte, mas se ela tiver de sair no
site do jornal, então ele terá de a escrever e publicar já. Apesar de não ter sentido qualquer tipo de
pressão para publicar as notícias online, a verdade é que, no meu subconsciente, ouvia sempre uma
voz que funcionava como um tic-tac irritante, ordenando-me que terminasse o trabalho o mais
rapidamente possível, naquele espírito jornalístico de ser o primeiro a dar a notícia. E tentava respeitar
essa voz, mas sempre certificando-me de que o trabalho estava bem feito. Foi, sem dúvida, a minha
maior dificuldade no que respeita à escrita de notícias para o online, visto que até nem notei diferenças
– quer em termos de linguagem, quer em termos de estrutura – entre a forma como estava habituado
a escrever para o jornal e a forma como escrevi para o seu site.
Ainda sobre o tempo, considero pertinente mencionar a pena que sinto por não ter
experienciado o stresse próprio do deadline do jornal. Por força da viagem de regresso a Braga que
11
todos os dias tinha de fazer de comboio, saía mais cedo do trabalho que os restantes jornalistas do
DN. Acabei por não apanhar o frenesim típico do fecho do jornal, em que dali a uma hora já tinha de
estar na tipografia e ainda era preciso fazer mais um texto ou modificar outro. Teria certamente
contribuído para melhorar a minha capacidade de trabalho em condições de stresse e para eu próprio
poder amadurecer enquanto profissional. Terei, ainda que mais esperançosa do que garantidamente,
oportunidade para viver essa ordenada confusão no meu futuro.
Percebi que existe todo um processo por detrás da escrita de uma notícia que antes do início
do estágio só conseguia imaginar. É que as notícias que fui escrevendo tinham sempre de passar por
um superior – neste caso, o meu orientador do estágio –, o qual manifestava a sua opinião e, claro,
corrigia aquilo que, pela sua maior experiência, considerava que precisava de ser feito de uma outra
maneira. Havia, portanto, uma mediação na escrita das notícias. Há sempre mais do que um jornalista
envolvido na produção noticiosa; na verdade, são vários os profissionais que se envolvem, de forma
direta ou indireta, na preparação, construção e revisão do produto noticioso. Esta é outra realidade que
só graças a um estágio profissional eu pude ter noção.
2.4 – Amargos dissabores para temperar no futuro
O jornalismo tem na sua identidade a procura da informação, a busca incessante pela verdade
e a demanda pelos factos concretos e reais. Neste sentido, é o espírito empreendedor e destemido do
jornalista, capaz de resistir a pressões externas e de desafiar os limites impostos seja por que
circunstâncias forem – no fundo, a visão romântica da profissão –, o responsável por tornar prática
esta teoria.
Não é ao acaso que o parágrafo supramencionado, ainda que seja mais curto do que todos os
que o antecederam, é aqui colocado: de facto, todo esse lema que envolve o jornalismo da busca pela
verdade pode ser transposto para o caráter prático do trabalho realizado por um jornalista. Por outras
palavras, o trabalho de campo é crucial nesta profissão. E durante o período em que estive a estagiar,
esta foi uma realidade que ficou por experienciar. Grande parte dos textos que redigi foi através da
agência Lusa, que fornecia as notícias. Depois, reescrevia-as, desmontando cada parágrafo, arranjando
outras expressões, distinguindo o essencial do acessório. No fundo, tornava as notícias minhas, dava o
meu cunho e nunca, mas nunca caí na tentação do copy-paste. Até porque, na verdade, para mim não
é grande tentação copiar um texto que não é da minha autoria. Nem mesmo o fator de poder poupar
tempo com essa ação me atrai, porquanto o regozijo de ter uma notícia escrita por mim suplanta
qualquer outra motivação.
12
Esta escrita de notícias a partir de outras notícias fez parte do meu dia-a-dia no DN. Nunca saí
propriamente para a rua, com o intuito de fazer o tal trabalho de campo, recolher depoimentos
pessoalmente, procurar a raiz do acontecimento. Fiquei pelo trabalho na redação, pelos takes da Lusa,
pelos telefonemas, pelas pesquisas na internet. Era ambição minha fazer uma reportagem, género
jornalístico que muito aprecio pela liberdade que concede ao jornalista, mas naqueles três meses
nunca se proporcionou. É quiçá o maior arrependimento, um amargo arrependimento, que tenho do
tempo em que estive no estágio e que me irá decerto perseguir até conseguir finalmente assinar uma
reportagem num jornal.
Considero que ter feito o trabalho jornalístico de campo poderia ter-me dado um arcaboiço que
muito gostaria de ter tido e que de outra forma não é possível ter. Poderia também ter-me tornado
mais ativo na procura da informação. Ter-me-ia porventura dado mais gozo, até. Mas tento sempre ver
a realidade pelo lado positivo. Na verdade, e embora reconheça essa lacuna, o tempo que estive na
redação tornou-me mais competente na componente das interações entre colegas de profissão e
fortaleceu os meus conhecimentos dos meandros das redações dos jornais, mesmo apesar de a
redação portuense do DN ser manifestamente pequena – a contar comigo, eramos sete jornalistas ao
todo. Para quem nunca tinha estado em real contacto com esse mundo, para quem a imagem de uma
redação era ainda um mistério envolto num denso mas convidativo nevoeiro, já se pode considerar isto
como um começo. Um começo que deseja não ter fim.
2.5 – Entre a experiência e o estudo das notícias sobre crime
O estágio trouxe-me toneladas de aprendizagens e novos conhecimentos que só esta
experiência me podia ofertar. Depois de quatro anos de braço dado com a teoria, através das aulas e
dos manuais, foi altura de abraçar a prática e partir numa aventura que muitos frutos me deu. Uma
vez finalizada, é altura de refletir e aprofundar a temática da escrita de notícias de crimes, a qual me
foi introduzida por este estágio e que me marcou profundamente.
No desembarque desta viagem, não tinha bem noção do que iria fazer quando fosse colocado
no DN. Tanto poderia tratar de assuntos da política como envolver-me no desporto, cingir-me ao online
ou até cumprimentar as sempre evitáveis páginas do social. Apenas sabia que não iria tratar da
cefaleia que é a economia, porquanto a incompatibilidade própria de quem não consegue harmonizar
as letras com os números, cuja cura ainda persigo, me obrigou a colocá-la no fundo das minhas
preferências numa reunião preliminar que juntou o subdiretor do DN, Leonídio Paulo Ferreira, ao grupo
de estagiários, onde me incluía, que iria entrar de serviço naquele período. Acabei por ser colocado na
13
Segurança, uma secção em que não havia imaginado trabalhar, mas que, à medida que os dias foram
passando, me marcava cada vez mais e me oferecia sensações – umas mais mórbidas do que outras
– a cada linha que escrevia.
Sempre existiram crimes, e os jornais sempre os acompanharam. Os crimes fazem parte da
história do jornalismo, e eu pude participar, mesmo que por pouco tempo, na contínua construção
dessa história. Fascina-me a ideia de alguém poder vir, daqui a uns anos, a estudar – porque não? – os
crimes que ocorreram no nosso país e saber que tenho a minha miúda inscrição na história. É por isso
que também me atrai o modo como os crimes se relatam nos jornais. Porque, estou em crer, haverá
consideráveis diferenças quando se escreve sobre crimes, que não estão circunscritas à natural
perceção diferente de cada jornalista de cada jornal acerca do mesmo crime, notória aquando da
transposição para a escrita do evento. O próprio facto de trabalharem para jornais diferentes pode
mudar a forma como noticiam o crime. Além disso, é um tema que muito facilmente, pela sua própria
natureza que já acarreta dramas e/ou bizarrices, pende para o sensacionalismo, algo que qualquer
jornalista, mais não seja por se tratar de um ideal definido no próprio Código Deontológico da
profissão, deveria repudiar. Daí a pertinência do tema (e o meu óbvio interesse por ele).
Aliás, uma experiência que tive no estágio, aquando da escrita de uma notícia, ajudou-me na
decisão de prosseguir o relatório com este tema. Motivado não só pela aprendizagem que durante
cinco anos recebi mas também pelos meus ideais do que deve ser o jornalismo, escrevi um título
essencialmente informativo numa notícia de um crime. O meu orientador de estágio elogiou-me, disse
que a notícia estava muito bem escrita, mas o título teria de ser forçosamente outro, sob pena de
passar despercebido naquela página do jornal. Teria de ser um título que, de algum modo, mostrasse
como o crime ocorreu e que desse uma ideia da sua violência, com o intuito de prender o leitor. Isto
também prova o quão ténue pode ser a linha que separa o jornalismo rigoroso do jornalismo mais
sensacionalista. Mas o primeiro é sempre mais desejável e pode ser exequível.
A proposta, daqui por diante, é simples: depois da reflexão acerca da minha experiência de
estágio, segue-se um estudo sobre como são construídas as notícias de crimes no DN –
especificamente, as da minha autoria –, aferindo o número e tipo de fontes de informação utilizadas na
sua redação, averiguando o respeito pelas normas do Código Deontológico do Jornalista, versão
portuguesa, e comparando-as com as notícias sobre o mesmo evento escritas pelo CM, um jornal mais
conotado com o sensacionalismo e com o jornalismo tabloide.
Mas antes, propunha uma viagem por entre definições e conceitos. Falo, claro está, da
literatura, ela que é, por razões óbvias, importante não só para a compreensão da experiência de
14
estágio, mas também – e principalmente – para o estudo que foi feito e que será apresentado no
presente relatório no capítulo a ele destinado.
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Capítulo 3 – O que envolve a escrita de notícias de crimes: um olhar sobre a literatura
Para melhor compreender a minha experiência de estágio e enquadrar não só as vivências que
diariamente me inundaram durante aqueles três meses mas também o próprio estudo que foi levado a
cabo, é importante que tenhamos algumas noções sobre a imprensa tabloide, a construção das
notícias, o crime na imprensa, a tipologia das fontes de informação e quais as que são utilizadas
nessas notícias e o conteúdo do Código Deontológico do Jornalista. É precisamente a estas temáticas
que as próximas linhas se dedicam.
3.1 – Algumas considerações sobre a imprensa tabloide
Os meios de comunicação social, abrangente leque no qual a imprensa naturalmente se inclui,
podem ser concebidos como instrumentos com grande peso na construção da realidade e na
moldagem ideológica do mundo (Frade, 2006: 7). O acesso a essa informação que é produzida pelos
media está, na ótica de Sodré (1996; citado por Frade, 2006: 8), estreita e intimamente ligado à
situação económico-financeira dos leitores. Não será de estranhar, por isso, a existência de uma visão
mais mercantil – nada romântica – do news making, em que a informação se torna num produto
colocado à venda ao público. Neste sentido, os órgãos de comunicação social, cientes do seu poder
nos meandros da esfera pública, “podem estimular o consumo de informações em massa” (Frade,
2006: 8), originando uma expetativa de que a democracia social poderá ser alcançada por via deste
caminho.
É por demais evidente que não é correto fazer referência a esta noção de comunicação
alargada às massas sem introduzir um aspeto que muito contribui para essa maximização do produto
informativo: o surgimento dos tabloides. É sabido que os conteúdos desse tipo de jornais se centram
no foco na vida privada dos indivíduos, na política – não raras vezes intervindo nesse campo de forma
partidária e populista –, num movimento fluido entre as notícias e o entretenimento e no uso
predominante de imagens e dramatização em detrimento de elementos textuais e analíticos
(Johansson, 2007: 32). Um jornal sensacionalista, para Frade (2006: 14), é um jornal que valoriza a
violência, que destaca temas como “o assassinato, o suicídio, o estupro, a vingança, a briga, as
situações de conflito, a agressão sexual e a tortura”. Notícias ligadas ao mundo das celebridades e de
escândalos sexuais, os quais podem ser muitas vezes acompanhados de “métodos jornalísticos
agressivos” (Johansson, 2007: 7), como a cobertura paparazzi, constituem igualmente características
deste tipo de jornais. O sensacionalismo busca, pois, “conteúdos mais sedutores para um público
popular” (Frade, 2006: 17), aproximando-se do leitor ao transportá-lo para o local do acontecimento,
17
mesmo junto à vítima e ao criminoso, sentindo as suas emoções (Angrimani, 1995; citado por Aguiar,
2013).
A objetividade, sabe-se, “contribui para o discurso que sustenta a instituição jornalística”
(Brixius, 2006: 8), aproximando o jornalista dos factos sem que haja juízos de valor. No entanto, não é
difícil perceber que os jornalistas não são meros observadores passivos da realidade, dado que têm um
papel ativo na sua construção, mais não seja pela própria natureza do seu trabalho. É importante reter
que as notícias não constituem um espelho da realidade, mas antes “uma representação do mundo, e
todas as representações são seletivas” (Schudson, 2003: 33). Tendo em conta que a objetividade é “a
característica preponderante do texto informativo” (Frade, 2006: 9), um princípio-chave do jornalismo,
um pilar sobre o qual toda a atividade jornalística se ergueu desde os tempos mais remotos, importa
perceber que os tabloides desafiam constantemente essa regra de ouro do jornalismo. De facto, linhas
editoriais há repletas de exageros e engrandecimentos na escrita das notícias, algo que contraria a
objetividade, o rigor, a exatidão com que o jornalismo deve abordar a realidade a ser comunicada.
As características supramencionadas dos jornais tabloides configuram, na prática, o
sensacionalismo, conotado com um declínio e uma redução dos standards jornalísticos que, em última
instância, debilita as funções dos media nas democracias liberais (Gripsrud; in Sparks & Tulloch, 2000:
285). Por poder ser entendido enquanto uma arma ao seu serviço que estende a produção noticiosa
além daquilo que é efetivamente real, a credibilidade do sensacionalismo – e, por extensão, dos
tabloides – pode ser colocada em causa (Frade, 2006: 10). Não se estranha, pois, a existência de
críticas ao modo como os tabloides operam quer da parte de jornalistas quer da parte de políticos,
além de textos académicos produtos de investigações no campo do jornalismo (Johansson, 2007: 7).
Uma das mais comuns prende-se com o facto de os jornais tabloides “venderem sensacionalismo e
entretenimento em vez de fornecer o tipo de informação que pode contribuir para uma cidadania
democrática” (Wasserman, 2008: 1). Muitas vezes, os jornalistas e editores deste tipo de jornais
acabam por ser vistos como “cínicos em busca de lucro (…) que professam uma coisa e fazem o
oposto assim que tiverem outra oportunidade” (Rhoufari; in Sparks & Tulloch, 2000: 163), No fundo, e
como Amaral (2005: 5) refere, o sensacionalismo pode ser considerado como um “conceito errante”,
seja pelas suas insuficiências, seja pelas suas generalizações.
Para caracterizar a linguagem própria dos tabloides e do sensacionalismo, Tófoli (2010: 1)
recorre a Pedroso, que a define como valorizando a emoção em detrimento da informação, como
dando destaque a elementos “insignificantes, ambíguos, supérfluos ou sugestivos” e subtraindo
elementos importantes e acrescentando ou até mesmo inventando palavras ou factos. Além disso, o
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sensacionalismo caracteriza-se por ter uma “produção discursiva sempre trágica, erótica, violenta,
ridícula, insólita, grotesca ou fantástica” (Pedroso, 2001; citado por Tófoli, 2010: 1). Apesar das
críticas, com as quais concorda, Gripsrud (in Sparks & Tulloch, 2000: 299) defende que para um
sistema democrático dos meios de comunicação social funcionar são necessários todos os tipos de
jornalismo, incluindo o sensacionalismo, já que só na diversidade e pluralidade é que há espaço para
um medium ser meritório.
Ora, este sensacionalismo próprio dos tabloides não é de agora. Com efeito, as suas raízes
reportam-nos ao período do yellow journalism, nos Estados Unidos da América, nos finais do século XIX
e inícios do século XX. Ampla e largamente debatido um pouco por toda a comunidade jornalística,
esse tipo de jornalismo acarretou um novo modo de encarar a própria fisionomia dos jornais. Aos
broadsheets, um tipo de jornal marcadamente informativo, a preto e branco, com poucas ou
nenhumas imagens e com um tamanho maior, juntaram-se nesta época, então, os tabloides, mais
pequenos no formato, mais coloridos, mais ousados e com conteúdos diferentes, com uma visão mais
focada na obtenção de lucros no sentido da manutenção do próprio jornal (Filho, 1989; citado por
Zacariotti et al., 2007: 2). Foi nesta altura que as notícias de crimes invadiram em força os tabloides
norte-americanos, estridentes e sensacionais, sendo que esta imprensa rapidamente tecia conclusões
acerca da inocência ou culpa de quem era acusado dos crimes, bem antes de o júri deliberar o
veredito (Petersen, 1999: 75). É exatamente sobre o modo de noticiar crimes que o presente relatório
enveredará a partir das próximas páginas.
3.2 – O valor do texto e da imagem na construção das notícias
Há dois elementos que assumem uma importância capital na construção de uma notícia, que
pode ser construída não só pelo próprio texto, mas também por imagens. Aliás, de acordo com Cunha
e Andrade (1999: 3), “a linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação de diversas linguagens:
a linguagem verbal escrita, a fotográfica, a gráfica e a diagramática”. Sendo as três primeiras
percetíveis, convém precisar que a última se trata daquela linguagem referente à disposição da
informação no espaço da página do jornal. “O tamanho do texto, se conterá 20, 30 ou 70 linhas, bem
como o tamanho do título, a forma de diagramação, os destaques que são dados na hora de se
esboçar o layout da página do jornal” são, para Freitas (1999: 11), os chamados filtros visíveis de
informação e que podem ajudar a destrinçar diferentes tipos de jornais.
Ora, enquanto uns jornais organizam os seus textos de modo a apresentar uma linguagem
culta, formal e até editam manuais de redação, outros optam por uma linguagem de cariz mais
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popular, “na busca de maior aproximação com o leitor das classes mais modestas da população”
(Cunha & Andrade, 1999: 3). Esta diferença é provocada pela concorrência existente entre os jornais,
que os fazem procurar a adesão de um determinado público leitor. É pressuposto, na ótica dos
autores, que os jornais utilizem uma linguagem “fiel à norma padrão culto”, “um estilo preocupado
com a comunicação em todos os níveis socioculturais”, que se reja pela ausência da retórica e do
hermetismo, de extremismos, purismos, vulgarismos, gíria e coloquialismo.
Recorrendo a um livro de Ana Rosa Ferreira Dias, os mesmos autores dão um exemplo de uma
notícia publicada no jornal brasileiro Folha de São Paulo, em 1991, sobre a crise na antiga Jugoslávia,
em que são notórios traços que vão contra o que o próprio jornal advoga – no seu manual de redação
– sobre como noticiar eventos dramáticos, através de uma descrição “seca e concisa”. O facto de o
clima de tensão emocional vivido não se limitar à narração direta e precisa dos factos, mas ao uso de
adjetivos (“reportagem excitante”), à presença pontual do discurso na primeira pessoa do singular (“vi
tiroteios”) e à avaliação e emprego de termos incomuns na linguagem culta (“deixando os
observadores malucos”), mostra como um jornal pode ultrapassar a barreira do relato sério, imparcial
e cuidado dos factos.
A linguagem usada na notícia tem, de facto, uma importância vital na construção por parte do
público da realidade e do próprio crime (Pollak & Kubrin, 2007: 61). A dificuldade do jornalista
aumenta na escrita de uma notícia sobre crime se tivermos em conta que os jornais têm de condensar
os crimes em curtos espaços de notícia. Além disso, em certos temas como, por exemplo, crimes ou
violência social, “é difícil para o jornalista redigir o seu texto” (Cunha & Andrade, 1999: 5). Com efeito,
a língua “não é constituída de significados restritos e homogéneos; ela não é um instrumento de
comunicação fechado” (Freitas, 1999: 7).
A imagem – particularmente a fotografia – começou, também, a ganhar cada vez mais
importância nos jornais nas últimas décadas da imprensa. “Mais espaço para a fotografia, para a
infografia, mais atenção à página enquanto unidade que se quer atraente, de leitura mais fácil”, a
atribuição de “valor estético às superfícies brancas, permitindo que as páginas – que antes se
asfixiavam de tanto texto – passassem a respirar” (Alves, 2003: 187) são algumas características
dessa mudança. A função primordial da fotografia nos jornais e no jornalismo coaduna-se com a da
profissão: informar o público (Cordeiro, 2006: 17). Para Sousa (2002: 5), a fotografia jornalística
“mostra, revela, expõe, denuncia, opina” e fornece informação, funcionando como um aliado na
credibilização da informação textual. A fotografia e o texto estão sempre unidos; “não existe
20
fotojornalismo sem texto” (ibidem: 76). É, pois, um importante elemento discursivo presente nos
jornais, especialmente desde que eles deixaram de ser ocupados apenas por texto.
Um dos mais importantes nomes da filosofia linguística, Roland Barthes, é autor do estudo
fundador das relações entre texto e imagem. Barthes (1964; citado por Martinec & Salway, 2005: 341)
baseou-se numa tripla distinção concernente à relação entre texto e imagem: quando o texto suporta a
imagem, que assume um papel de maior protagonismo, há uma relação de “ancoragem” (anchorage);
quando o contrário se verifica, ou seja, quando é a imagem a suportar o texto, de “ilustração”
(illustration); quando as duas componentes são igualmente importantes, de “retransmissão” (relay).
Empregando as próprias palavras de Barthes, há uma relação entre texto e imagem de “ancoragem”
quando a linguagem claramente funciona como uma elucidação em relação à imagem e de
“ilustração” quando a imagem elucida ou perceciona o texto.
3.3 – Notícias de crimes na imprensa
Budó (2006: 1) afirma que “o crime e o jornalismo sempre tiveram relações estreitas”. De
facto, se recuarmos até ao período que se estendeu desde o século XV aos inícios do XX, era em que a
imprensa escrita assumiu particular preponderância na transmissão de informação, antes da rádio,
televisão e da internet, percebemos que as notícias relativas a crimes começaram a atingir um público
cada vez mais vasto (Surette, 2011: 7). Aliás, os crimes começaram a ser uma característica central
das notícias dos jornais por volta de 1830, sendo que pouco mais de meio século depois, em 1890,
com o advento do yellow journalism, a dramatização dos crimes e também dos próprios criminosos
tornou-se uma realidade. Não é demais lembrar que foi neste período que os meios de comunicação
social se transformaram em meios massificados de infotainment, uma perigosa confluência entre a
informação e o entretenimento com fronteiras um tanto ou quanto indefinidas.
Ora, nesta época do yellow journalism, os crimes ganharam toda uma nova dimensão e
importância para os jornais e tornaram-se, inclusive, um aliado porque os ajudaram a ter mais vendas
(Chermak, 1994: 97). O tipo de crimes julgados e relatados pelos tabloides expuseram as
preocupações e os problemas americanos específicos do início do século passado (Petersen, 1999:
77). A importância dada por aqueles media aos crimes que viriam a ser julgados era de uma extensão
tal que os próprios julgamentos serviam como barómetros sociais. De facto, a própria construção da
narrativa dos crimes influenciava a opinião pública e o modo como o crime relatado era observado.
Neste sentido, é importante notar que Surette (2011: 6) nos alerta para a “surpreendente” similitude
entre os relatos de crimes feitos nesse período e aqueles com que nos confrontamos no nosso
21
quotidiano: ambos apresentam imagens que fomentam a impressão de que “os indivíduos
competentes perseguem e capturam os criminosos; e encorajam a crença de que os criminosos
podem ser reconhecidos prontamente e de que o crime é, em última análise, reduzido através de
esforços agressivos das forças da lei”.
Nesta altura do yellow journalism, os jornalistas dos tabloides não só estereotipavam os
arguidos do sexo feminino como descreviam vítimas do mesmo sexo de determinadas formas que
podiam indevidamente fazer com que os júris tivessem preconceitos contra os arguidos do sexo
masculino (Petersen, 1999: 80). Por outras palavras, o preconceito e o estereótipo, que provocam uma
resposta de emoção no leitor, acabam por operar de forma injusta contra os arguidos e funcionam
como aliados da acusação. Com efeito, alguns media “simpatizam com algumas vítimas e culpam
outras” (Jewkes; in Greer, 2010: 225), e, embora não cubram todas as formas e expressões do crime,
tendem a “favorecer os desejos mais voyeuristas da audiência ao exagerar e dramatizar crimes
relativamente incomuns, ignorando ou minimizando crimes mais prováveis de acontecer à pessoa
‘comum’” (ibidem: 225). Neste sentido, Medeiros e colaboradores (2010: 7) salvaguardam a
importância de o jornalista que atua na secção do crime e da investigação criminal ter algum tipo de
especialização, motivada pelo grande interesse que o público tem sobre estas matérias policiais, para
que tenha familiaridade com a linguagem jurídica ao ponto de ser capaz de a traduzir para o seu
público.
Apesar da forma dramática a que os jornais tabloides tanto recorrem para relatar o crime, a
verdade é que ele constitui um evento noticioso por natureza, que não deve ser deixado de lado pelos
media. De facto, é reconhecido ao crime um “elevado grau de noticiabilidade por conter violência,
rutura com a ordem social e imprevisibilidade” (Penedo, 2003: 41). Este valor-notícia do crime satisfaz,
na ótica da autora, “as exigências das rotinas produtivas das organizações dos media ao assegurar
constante matéria noticiosa” (ibidem: 42).
Para Leal (2010: 422), é “inquestionável” o poder dos órgãos de comunicação social, eles que
podem influenciar “o modo como os indivíduos constroem as representações acerca da insegurança e
do mundo e como o experienciam”. A este propósito, assume-se como natural e até lógico perceber
como são construídos os relatos de crimes nos jornais. De acordo com Surette (2011: 16), as notícias
de crimes são construídas, na sua generalidade, tendo em conta três segmentos: primeiro, o anúncio
de que o crime ocorreu; depois, o jornalista transporta, visual ou verbalmente, o leitor para a cena do
crime; por fim, é dado destaque à identidade do criminoso e ao esforço dos agentes policiais.
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Pollak e Kubrin (2007: 78) levaram a cabo um estudo em que examinaram as diferenças entre
os relatos de crimes no Washington Post e numa televisão local da ABC. Nele, concluíram que, para
ser noticiado, um crime tem de ter uma natureza tipicamente violenta, já que 85% dos crimes incluídos
na sua amostra eram violentos.
3.4 – As fontes de informação em relatos de crimes
Já se percebeu, a esta altura, que a temática da criminalidade se configura “como fonte
inesgotável de matéria-prima à produção noticiosa” (Penedo, 2003: 43). Como tal, nos crimes e, no
fundo, em qualquer situação ou evento a noticiar, “as fontes de informação são elementos
fundamentais da produção noticiosa” (Brites, 2010: 4). O acesso a elas é inclusive consagrado por
diversos códigos deontológicos como um “direito dos jornalistas e pressuposto fundamental para
garantir aos cidadãos o seu direito à informação” (Fidalgo, 2000: 322). Com a sua crescente
profissionalização, as fontes, que têm interesse na cobertura mediática de determinados assuntos
respeitantes ao seu âmbito de ação, utilizam variadas estratégias para obter um tratamento jornalístico
que vá ao encontro dos seus interesses. Por outras palavras, “a informação fornecida aos jornalistas
pelas fontes, muitas vezes, já pressupõe um enquadramento implícito que serve as finalidades da
fonte” (Brites, 2010: 5). Tal acontece mais, na ótica de Ribeiro (2006: 13), no noticiário político.
De facto, o exercício da atividade jornalística, que se deve pautar pela “disciplina da
verificação” (Kovach & Rosenstiel, 2003: 100), está muito sujeito a constrangimentos exteriores cuja
influência pode ser direta ou indireta (Bordieu, 1996). A relação entre jornalistas e fontes advém do
facto de o jornalista nem sempre estar capaz de observar um evento noticiável, necessitando de
“alguém que lhe faça um relato o mais correto possível – a fonte” (Santos; in Traquina et al., 2001:
96). No entanto, as fontes de informação, que detêm um papel fulcral no jogo jornalístico, procuram
muitas vezes assumir um papel ativo, organizando-se “para publicitar interesses próprios, garantindo
acesso a enquadramentos específicos de um acontecimento e não apenas a sua simples menção ou
cobertura” (ibidem: 95). De facto, o jornalismo “tenta chegar à verdade num mundo confuso,
procurando discernir em primeiro lugar o que é informação fidedigna de tudo o que é informação
errónea, desinformação ou informação interessada” (Kovach & Rosenstiel, 2003: 63). Assim, cabe ao
jornalista impedir que a fonte intervenha no relato honesto e sério do acontecimento a noticiar,
averiguando qual a intenção da fonte e procurando dissecar toda e qualquer réstia de dúvida que possa
impedir o correto exercício da sua atividade, para a qual contribuem os códigos deontológicos.
23
Ora, concretamente, as fontes “são pessoas, são grupos, são instituições sociais ou são
vestígios – falas, documentos, dados – por aqueles preparados, construídos, deixados” (Pinto, 2000:
278). Existem múltiplas definições de fontes jornalísticas propostas por vários autores, e não menos
extensas são as suas propostas de classificação. Tal comprova não só a vastidão do campo mas
também a complexidade que caracteriza a relação entre as fontes, cada vez mais especializadas, e os
jornalistas, que dependem sempre das primeiras para realizar o seu trabalho. Para o estudo que mais
à frente será apresentado neste relatório, irá ser utilizada a matriz de tipificação das fontes de notícias
de Schmitz (2011), presente na tabela 1, que congrega contributos de vários autores.
Tabela 1. Tipificação das fontes jornalísticas, de acordo com Schmitz (2011).
Tipificação das fontes jornalísticas
Categoria Grupo Ação Crédito Qualificação
- Primária
- Secundária
- Oficial
- Empresarial
- Institucional
- Popular
- Notável
- Testemunhal
- Especializada
- Referência
- Proactiva
- Ativa
- Passiva
- Reativa
- Identificada
- Sigilosa
- Confiável
- Fidedigna
- Duvidosa
Sem querer tornar este tópico demasiado extenso, centremo-nos no essencial da definição de
cada item. De acordo com os dados recolhidos pelo autor, uma fonte primária é aquela que fornece
diretamente o essencial de uma matéria, estando envolvida ou próxima dos factos. Uma fonte
secundária, por sua vez, é a que “contextualiza, interpreta, analisa, comenta ou complementa a
matéria jornalística, produzida a partir de uma fonte primária” (Schmitz, 2011), estando envolvida nos
eventos de forma indireta.
Uma fonte pode ser, segundo o grupo, oficial se se tratar de alguém a desempenhar algum tipo
de cargo público “que se pronuncia por órgãos mantidos pelo Estado e preserva os poderes
constituídos (executivo, legislativo e judiciário), bem como organizações agregadas”; empresarial se for
um representante de uma corporação empresarial da indústria, comércio ou serviços; e institucional se
a fonte for alguém de um grupo social ou de uma organização sem fins lucrativos, que não raras vezes
procura os jornalistas com o intuito de defender uma causa social ou política. Uma fonte pode, ainda,
24
ser popular se se tratar de uma pessoa comum, não pertencente a qualquer organização, muitas vezes
sendo a vítima, o cidadão reivindicador e/ou a testemunha ou então contextualizando uma informação
na vida quotidiana; notável se for alguém que é procurado pelo jornalista pela sua fama e/ou talento,
seja para falar sobre si e o seu trabalho, seja para falar sobre o próprio assunto da notícia; testemunhal
se tiver participado ou observado – no fundo, presenciado – o evento a noticiar; e especializada se for
uma pessoa “de notório saber específico” ou “organização detentora de um conhecimento
reconhecido”. Por fim, de acordo com o grupo, uma fonte é considerada de referência se se tratar de
algum tipo de documento, media ou bibliografia que o jornalista usou na construção da notícia e que
serve para enriquecer a narrativa, agregando razões e ideias.
Na conceção de Schmitz (2011), uma fonte pode ser proactiva, ativa, passiva ou reativa, de
acordo com a sua ação. A primeira é uma fonte que, por ter aprimorado as suas estratégias,
efetivamente produz as suas próprias notícias e oferece-as de pronto ao jornalista de forma antecipada.
Semelhantemente, uma fonte ativa age criando material de apoio à produção de notícias – entrevistas
exclusivas ou comunicados de imprensa, por exemplo –, mantendo, ainda que menos ostensivamente,
uma “regularidade no relacionamento” com os media, com quem procura defender os seus interesses.
Como facilmente se depreende, fazem parte das fontes passivas a bibliografia e os documentos que o
jornalista utiliza, mas também organizações e pessoas que se manifestem somente quando são
interpeladas por um jornalista, fornecendo a informação estritamente necessária. As fontes que
privilegiem uma ação mais discreta, low-profile, ou que não queriam ver a sua privacidade
potencialmente invadida, mesmo apesar de serem notórias e de deterem informação relevante e de
interesse público, são consideradas pelo autor como fontes reativas.
Relativamente ao seu crédito, uma fonte pode prestar informações a um jornalista sendo
revelada a sua identidade ou em anonimato. Como tal, pode classificar-se uma fonte como sendo
identificada ou sigilosa. No primeiro caso, que deve sempre ser a regra, a fonte surge na notícia
discriminada, idealmente com o nome, status, profissão, cargo, função ou condição e quem
representa. No caso da fonte sigilosa, é necessário uma relação de confiança para que haja um
compromisso do silêncio quanto à origem da informação. A fonte decide o que quer ou não divulgar e
se quer ou não que a sua identidade seja exposta. Nestes casos em que a fonte não é revelada, é
considerado que a matéria veiculada no jornal é da autoria do jornalista ou do próprio jornal, passando
a ser essa identidade a responder civil e criminalmente pelo que publica.
Na categoria projetada por Schmitz (2011) concernente à qualificação da fonte, o autor
distingue entre uma fonte confiável, fidedigna e duvidosa. A seleção que o jornalista faz das suas fontes
25
é, naturalmente, influenciada pelo tipo de relação que os primeiros mantêm com as segundas. Deste
modo, nas relações mantidas por traços de conveniência e de confiabilidade, mais estáveis e em que a
informação vinda das fontes é verdadeira e recebida pelos jornalistas na hora esperada, a fonte é
considerada confiável. Se a fonte for procurada pelo jornalista por critérios que se prendem com
notoriedade, credibilidade e respeitabilidade, então estamos perante uma fonte fidedigna, aquela que,
não mantendo um “histórico de confiança mútua”, exerce o seu poder pela posição social. Citando
Charaudeau, Schmitz (2011) afirma que, pelo contrário, uma fonte duvidosa é aquela que expressa
reserva, dúvida, hipótese e inclusivamente suspeita. Como tal, a informação fornecida por esse tipo de
fontes é dúbia, embora o jornalista tenda a considerá-la “provisoriamente verdadeira, até prova em
contrário”.
Hall e colaboradores (1999: 239; citados por Brites, 2010: 4) referem que em notícias
relacionadas com crime e/ou delinquência, os órgãos de comunicação social “parecem estar mais
fortemente dependentes das instituições de controlo de crime para as suas ‘estórias’ do que
praticamente em qualquer outra área”. Assim, tanto a polícia como os tribunais assumem-se como o
monopólio das fontes de notícias de crime nos media. No caso brasileiro, Brites (2010: 5) afirma que
as fontes policiais (25%) e os familiares das vítimas (11,1%) são as fontes que mais se destacam na
cobertura de crimes ligados à delinquência juvenil.
Um jornal tem maior credibilidade quanto maior for a sua preocupação com o apuramento e
tratamento das fontes. Esse é, aliás, um dos princípios jornalísticos mais elementares: a averiguação
do que efetivamente aconteceu. Porém, muitas são as vezes em que os jornais apresentam páginas
repletas de uma prática diferente. Há, efetivamente, notícias em que existe apenas uma fonte, que
poderão ser produto de uma “relação viciosa e viciada com as fontes” (Zacariotti et al., 2007: 5), ou
em que não haja sequer uma, fruto das dificuldades sentidas pelos jornalistas no acesso às fontes de
informação (Brites, 2010: 6).
A este respeito, o próprio facto de serem noticiados acontecimentos com fontes anónimas
pode encobrir opiniões e considerações feitas, inclusive, pelo próprio jornalista (Santos, 2006; citado
por Brites, 2010: 6). No processo de escrever a notícia, é então por demais evidente a necessidade de
o jornalista atentar a este tipo de pormenores, sob pena de incorrer na descredibilização da
informação, e ao poder que uma fonte de informação detém, ainda para mais se tivermos em conta
que “quanto menos informação houver sobre um assunto, mais o jornalista aceita o material dado
pelas fontes” (Santos; in Traquina et al., 2001: 100).
26
3.5 – O que diz o Código Deontológico do Jornalista
O jornalismo é, para Karam (1997: 39), “moralmente imprescindível”: ele assume-se como a
forma pela qual as pessoas se vão apropriando dia-a-dia do seu movimento no interior da humanidade.
Uma vez que esta atividade profissional “trabalha com valores e significados contraditórios” (ibidem:
39), e porque vimos, ao longo do presente relatório, a falar de sensacionalismo, importa abordar um
tema assaz importante em qualquer matéria jornalística: o Código Deontológico do Jornalista, que
funciona quase como a Bíblia da profissão. E é fácil perceber porquê. Ainda que a especialização
investigativa dos tabloides tenha mapeado e descortinado várias e diferentes estratégias de corrupção e
outros crimes, não é menos verdade que também “gerou demandas próprias, rápidas demais e
desprovidas de regras preestabelecidas” (Fortes, 2005). O mesmo autor considera, inclusive, que
existe um conflito geral de interesses e métodos na classe jornalística que necessita de
regulamentação, sob pena de o jornalismo ser resumido a uma “corrida desenfreada por cabeças de
ministros e pela degola política em geral” (ibidem). De facto, a forma de noticiar e relatar crimes dos
tabloides desafia as regras e os pilares fundamentais existentes nos códigos deontológicos do
jornalismo.
Os vários códigos que existem um pouco por todo o mundo “complementam-se, compensando
lacunas ou iluminando pontos de vista e aspetos distintos” (Aznar, 2005: 41), contribuindo para
melhorar eticamente a comunicação. No caso português, o Código Deontológico do Jornalista
(doravante, Código), aprovado em 1993, contém dez tópicos pelos quais o jornalista deve sempre
pautar o seu trabalho. Com relação ao crime e ao modo como deve ser noticiado, a primeira alínea
mostra que “os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso”.
Isto significa que todos, vítimas, testemunhas e também arguidos, devem ter o mesmo peso na
construção de uma notícia de um crime. Devem todos ser ouvidos em igualdade de circunstância. A
segunda alínea é igualmente importante: “o jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e
considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais”. A esta segunda alínea
pode perfeitamente juntar-se a sétima, que se traduz no dever de o jornalista “salvaguardar a
presunção de inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado”. Sabendo de antemão que
os tabloides não têm problemas em fazer juízos de valor acerca da culpa e da inocência dos envolvidos
em crimes, percebe-se que contrariam e desrespeitam esta importante regra deontológica do
jornalismo. Aliás, também pelo seu hábito de julgamento de valores, a ação dos tabloides vai também
um pouco contra o que na oitava alínea se lê: “o jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório
das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo”.
27
Na quarta alínea, pode ler-se que “o jornalista deve utilizar meios legais para obter
informações, imagens ou documentos” e que “a identificação como jornalista é a regra e outros
processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público”, algo que se pode
relacionar com o conteúdo da nona alínea, que ilustra o dever de o jornalista “respeitar a privacidade
dos cidadãos exceto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga,
manifestamente, valores e princípios que publicamente defende”. Continua a perceber-se algum
conflito entre a prática dos tabloides, que recorrem aos paparazzi – logo, não respeitam a privacidade
dos indivíduos –, e as ideias preconizadas na ética da profissão. O problema é quando o Código se
refere ao interesse público. Tal expressão não se encontra definida com clareza e “continua a ser um
conceito vago, aberto a uma ampla variedade de enfoques e entendimentos” (Chaparro, 2011: 2).
Deste modo, muitos podem encontrar formas de argumentar que um determinado assunto é de
interesse público quando, se calhar, até se trata de interesse do público, procurando legitimidade para
quebrar as regras fundadoras da profissão.
Esta questão da ausência de uma definição clara e objetiva do que significa interesse público
merece pelo menos um parágrafo de reflexão. Se atentarmos que o chamado interesse público nos
remete para o plano da ética dos valores e não para o dos comportamentos, percebemos que, então,
os valores que motivam e justificam a ação humana, nos quais se inclui a narração e análise da
atualidade – ou seja, o jornalismo – estão contemplados nesta conceção de interesse público
(Chaparro, 2011: 8). Os chamados jornais sensacionalistas são hábeis no jogo diário que empreendem
de interação indireta com o outro: conhecem bem as expetativas e os interesses do seu público, isto é,
os interesses do público. Por outras palavras, o interesse do público, ao contrário do interesse público,
pertence ao universo dos indivíduos, relacionado, pois, com as “razões emocionais e/ou objetivas das
pessoas” (ibidem: 8). Neste sentido, torna-se compreensível quais os “interesses” que são mais afetos
ao jornalismo praticado pelos jornais ditos mais rigorosos e aos tabloides.
Não é difícil concluir, pois, que o Código, pelo que preconiza e defende, repudia o
sensacionalismo. Em praticamente todas as alíneas há elementos passíveis de chocar com o que os
tabloides, na prática, fazem quando cobrem, entre outros acontecimentos, crimes. É assim em
Portugal e também um pouco por todo o mundo, como agora vamos ver, ainda que sem explorar em
demasia este campo. No Brasil, por exemplo, o Código de Ética dos Jornalistas reconhece a existência
do sensacionalismo e rejeita-o (Tófoli, 2010: 1). Na verdade, o artigo 11.º ilustra exatamente isso: “o
jornalista não pode divulgar informações [...] de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos
valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes”.
28
No Código de Conduta do jornalista no Reino Unido3, está bem patente que o jornalista deve
assegurar que a informação é transmitida de forma honesta, precisa e justa e deve distinguir aquilo
que é facto daquilo que é opinião. O jornalista não pode, inclusive, produzir material que leve a ódio ou
discriminação de qualquer indivíduo baseado na sua idade, género, raça, credo ou orientação sexual.
Além disso, obtém material “através de meios honestos, diretos e abertos” e não pode invadir a vida
privada de ninguém, salvo se as investigações forem de inequívoco interesse público. Mais uma vez, é
aberta aqui uma brecha nos códigos, porquanto este “interesse público” não se encontra total e
claramente definido, podendo os jornais sensacionalistas argumentarem que quebram tais regras
porque estão a tratar de um assunto de interesse público. O Código dos Deveres do Jornalista do
Sindicato dos Jornalistas4 Franceses tem também uma palavra a dizer no que diz respeito a estes
assuntos que põem o papel do jornalista em confronto com o que, na prática, os jornais tabloides
fazem. Por exemplo, o jornalista “exige a liberdade de publicar a informação honestamente” e “tem de
respeitar a justiça e dá-la prioridade”.
Os jornalistas, como qualquer outra classe profissional, produzem uma representação mais ou
menos ideal e mitificada dela mesmo (Bordieu, 1996). No entanto, Aznar (2005: 51) alerta-nos para o
facto de que não se deve pensar nos códigos como “um mecanismo de defesa dos interesses dos
jornalistas ou como um reforço corporativo da profissão”, mas antes como um aliado para prestar um
serviço melhor à sociedade. No fundo, é graças aos códigos deontológicos que o público conhece os
deveres dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social, constituindo, pois, “uma fonte de
informação ética não só para o profissional mas também para o público” (ibidem: 51).
Todos estes parágrafos relativos à revisão teórica vieram introduzir o estudo empírico que nos
capítulos a seguir se desenvolve. Só aprofundando o conhecimento acerca do surgimento e das
características da imprensa tabloide, do contributo do texto e da imagem para o texto noticioso, do
modo como o crime tem sido objeto de notícia ao longo do tempo, das fontes de informação utilizadas
nos seus relatos e sua tipologia e das normas presentes no Código Deontológico do Jornalista é que é
possível chegar à investigação levada a cabo que envolve todos estes temas. O próximo capítulo refere-
se precisamente à metodologia do estudo.
3 http://www.nuj.org.uk/about/nuj-code/
4 http://www.rjionline.org/MAS-Codes-France-Charter/
29
Capítulo 4 – Metodologia
A investigação que será desenvolvida no capítulo a seguir não poderia nunca ser introduzida no
relatório sem antes serem explicitados pontos fulcrais para a sua compreensão. Refiro-me, pois, aos
seus objetivos, à sua amostra, aos seus instrumentos de análise e aos seus procedimentos. Só depois
desta útil e necessária leitura é que poderemos compreender como foi construída e processada a
investigação e como se pôde chegar às conclusões que ela logicamente apresenta mais à frente no
relatório.
4.1 – Objetivos
O presente relatório e esta investigação em particular visam abordar uma temática concernente
ao mundo do jornalismo que pode ter múltiplas análises. O primeiro objetivo é o de perceber e
descrever como é que o crime é relatado num jornal de pendor informativo, como é o caso do DN.
Mais especificamente, pretende-se a) aferir o número e tipo de fontes utilizadas aquando da cobertura
de peças noticiosas respeitantes a crimes e b) averiguar se são cumpridas as normas estabelecidas
pelo Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa. Estas questões são importantes indicadores
de como o crime é noticiado no jornal. Só assim se poderá chegar ao outro objetivo da investigação,
que passa por comparar o relato que é feito de uma mesma notícia por dois jornais diferentes, um de
teor mais informativo (DN) e outro mais sensacionalista (Correio da Manhã; CM), ao nível dos vários
elementos textuais e visuais. Estes objetivos poderão ajudar a perceber quais as fronteiras existentes
entre um tipo de jornalismo de pendor informativo e outro de índole sensacionalista no que respeita a
notícias sobre crimes.
4.2 – Amostra
Durante o período de estágio, realizei ao todo 39 notícias e 44 breves que saíram na edição em
papel do DN, repartidas pelas secções País – Segurança, País – Cidades e Sport. Para o presente
relatório, foram tidas em conta apenas as notícias referentes à secção de Segurança, uma vez que são
aquelas que estão relacionadas com algum tipo de criminalidade. Como tal, do total das 39 notícias
escritas, 20 respeitam esse princípio, pelo que constituirão material de análise. As breves, por serem
textos muito curtos, com pouca margem de análise, foram excluídas, assim como as notícias que
foram destinadas ao online, uma vez que se pretende analisar artigos de imprensa escrita que tenham
saído no próprio jornal. Destas 20 notícias, 14 foram também noticiadas no mesmo período pelo CM,
31
pelo que apenas essas foram utilizadas para procurar responder ao objetivo de comparar as mesmas
notícias de crimes que saíram nos dois jornais.
Tabela 2 – Número de notícias e breves redigidas em função das secções do jornal.
Secções Tipologia Número de notícias
País – Segurança Breves 44
Notícias
205
País – Cidades 17
Desporto 2
4.3 – Instrumentos de análise
Para a análise proposta, foi utilizado o Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa,
para aferir se os princípios fundamentais do jornalismo são assegurados na redação de notícias sobre
crime no DN. A análise obedeceu a uma grelha de observação, construída para esquematizar esse
estudo do respeito das notícias do DN pelas normas vigentes no Código (cf. Anexo III). Também foi
utilizada outra grelha de observação, com o intuito de levar a cabo a comparação entre as notícias
escritas pelo DN e pelo CM (cf. Anexo IV).
4.4 – Procedimentos
Para responder ao primeiro objetivo do presente relatório, foi feita uma análise de conteúdo
das 20 notícias da secção de Segurança do DN. Todas as notícias foram lidas com detalhe e foi feito
um levantamento do número e tipo de fontes – segundo a tipologia de Schmitz (2011) – utilizadas,
para se ter uma ideia mais clara da dinâmica existente entre a redação das notícias e as fontes
noticiosas consultadas. Além disso, as 20 notícias do DN foram confrontadas com o Código
Deontológico do Jornalista, versão portuguesa, para aferir o cumprimento das normas presentes no
documento e, assim, perceber, ainda que numa amostra que não é estatisticamente representativa, se
os ideais fulcrais do jornalismo são respeitados e quais os que eventualmente não o são. Para isso, foi
utilizada uma grelha de observação (cf. Anexo III) com as normas presentes no Código para atestar se
cada notícia respeita cada alínea do documento.
A comparação entre as 14 notícias que tratam os mesmos temas redigidas no DN e no CM foi
efetuada através de uma análise de conteúdo, socorrida por uma grelha de observação (cf. Anexo IV).
5 Destas 20 notícias, 14 têm correspondência com notícias que saíram no CM.
32
Procurou-se atender aos vários elementos textuais e visuais que constituem uma notícia, desde o
número de linhas do texto e a extensão do título ao uso de adjetivação e tipo de linguagem utilizado,
passando pelo espaço que ocupam na página, pela secção do jornal onde se encontram e pela relação
existente entre a imagem, se ela existe, e o texto. A comparação foi também feita ao nível do
cumprimento das normas estabelecidas no Código Deontológico do Jornalista, versão portuguesa, de
modo a perceber se e que diferenças existem entre os dois diários a esse nível.
33
Capítulo 5 – As notícias de crime no Diário de Notícias
A minha experiência de estágio despertou-me para uma temática para a qual nunca havia
atentado de forma particular. Por ter trabalhado na secção de segurança, conotada com notícias de
acidentes, sentenças de tribunais e principalmente crimes, e por me ter marcado um episódio em que
fui confrontado com a necessidade de alterar um título para despertar mais a atenção do público leitor,
a ideia de estudar o lugar do crime no jornalismo pareceu-me adequada e pertinente. Tendo em conta
que o DN é um jornal conotado com um estilo jornalístico mais informativo, e sendo o crime um
assunto que rapidamente pode cair no sensacionalismo – seja pela exploração das emoções
associadas ou pelo uso de uma adjetivação que prima pelo dramatismo –, foi levado a cabo um estudo
sobre as notícias da minha autoria, no sentido de averiguar o número e tipo de fontes utilizadas e o
(des)respeito pelas normas vigentes no Código Deontológico do Jornalista. No fim, estas notícias foram
comparadas com as que tratam o mesmo tema escritas no CM, um jornal que, ao contrário do DN, é
mais conotado com o sensacionalismo. Isto para, no fundo, se perceber as fronteiras entre o
jornalismo informativo e sensacionalista no que toca a notícias de crimes.
5.1 – As fontes noticiosas utilizadas nos relatos de crime no Diário de Notícias
No total das 20 notícias analisadas, presentes e enumeradas no Anexo I, foram consultadas 21
fontes, sendo que em quatro notícias foram utilizadas duas e três delas não continham nenhuma (cf.
Anexo II). Na verdade, estas notícias que não apresentaram fontes foram produzidas a partir de uma;
não poderia, nunca, tê-las escrito sem nada que as fundamentasse. O problema é que as fontes
(nestes casos, dois takes da Lusa e um comunicado da PJ) não foram identificadas nas notícias nem
tão pouco foi feita referência a elas. Por exemplo, poderia estar expresso “de acordo com a GNR” ou “a
PJ comunicou”, mas nem isso; a informação surge como um dado adquirido. Por isso, considerei que
essas três notícias não continham fontes, exatamente porque elas não estão expressas em nenhuma
parte da notícia, ou seja, ninguém, ao ler os relatos, identifica as fontes.
Adotando a tipificação de Schmitz (2011), o tipo de fonte mais comummente utilizado (11
vezes), obedecendo às escalas de categoria, grupo, ação, critério e qualificação, é uma fonte primária,
oficial, ativa, identificada e confiável, respetivamente. Esta classificação de fonte esteve presente em 10
notícias, normalmente constituindo algum tipo de comunicado de imprensa de uma força de segurança
– GNR, PJ ou PSP. De resto, uma fonte primária, oficial, passiva, identificada e confiável surgiu em
quatro notícias, sendo que os restantes tipos de fonte em apenas uma notícia cada. Este primeiro
levantamento acerca da tipologia das fontes utilizadas permite desde logo tecer algumas conclusões.
35
Desde logo, é possível perceber que a dependência de fontes oficiais é uma realidade: apenas três não
o são. Este é um dado elucidativo e que demonstra que em notícias relacionadas com crimes há uma
maior tendência para se optar por este tipo de fonte de informação. Mesmo na minha experiência de
estágio pude constatar isso. A lista das fontes e dos seus contactos era maioritariamente constituída
por fontes oficiais – logo à partida, polícia e bombeiros –, e sempre que necessitava de alguma fonte
para completar a notícia era a esse tipo que tinha de recorrer.
Convenhamos: o crime é parente próximo das forças de segurança e os acidentes dos
soldados da paz, pelo que faz sentido que noticiar este tipo de eventos requeira um contacto com estas
fontes. Este resultado vai ao encontro do que Schmitz (2011) refere quando afirma que elas são as
“preferidas” dos órgãos de comunicação social, uma vez que “emitem informações aos cidadãos e
tratam essencialmente do interesse público”. Tal poderá dever-se, novamente, à prática do “jornalismo
de secretária”, que acaba por promover o facilitismo de extrair informação dos comunicados de
imprensa e transpô-los para notícia. Ainda que o meu trabalho se tivesse baseado muito nisso, o facto
é que, pelo menos, não me cingi ao copy-paste dos takes da agência Lusa, como sei que é prática
nalgumas publicações diárias. De facto, nem sempre houve nem foi possível fazer referência às várias
partes envolvidas nos casos. Se me tivesse deslocado aos locais onde a ação decorreu – coisa que se
afigurou impossível –, estou certo de que poderia recolher mais depoimentos de mais fontes, sem que
tivesse de depender tanto dos comunicados das forças de segurança ou dos takes da Lusa.
Particularizando cada escala de classificação das fontes, existem duas fontes que, segundo a
categoria, são secundárias – todas as outras 19 são primárias. Uma delas, curiosamente, a mesma
que, de acordo com o grupo, é a única popular. Também segundo o grupo, quatro são as notícias que
possuíam uma fonte oficial cada, existindo apenas uma notícia com uma fonte considerada como
empresarial e outra com uma fonte testemunhal. Esta última constitui, conforme o critério, uma das
três fontes sigilosas – as restantes 18 são fontes identificadas. Segundo a ação, foram contabilizadas
11 fontes ativas, nove passivas e uma reativa, e a totalidade das fontes em análise são, no que toca à
qualificação, consideradas confiáveis.
Uma conclusão que se pode tirar desta preliminar análise da tipologia das fontes tem a ver
também com o número elevado de fontes ativas. Tal faz-me pensar que os jornais tendem a não ser
tão ativos quanto porventura deveriam na procura de informação. Na verdade, e uma vez mais, o meu
estágio comprovou exatamente esta situação: muito do trabalho que realizei baseou-se na adaptação
de material com informação provinda de comunicados. Por outras palavras, as notícias que escrevi
foram iniciadas com material que as próprias fontes produziram.
36
Detalhando cada notícia analisada, na primeira, que tem por título “GNR fiscaliza veículos
pesados em todo o País”, está então presente uma fonte primária, uma vez que se trata da GNR,
entidade envolvida nos factos e que fornece o essencial da matéria; oficial, porque, tratando-se de um
documento – o que poderia suscitar algumas dúvidas, pois poder-se-ia pensar que se trata de uma
fonte de referência –, é informação provinda de uma força de segurança, ou seja, não se trata
propriamente de um livro, por exemplo, que o jornalista usou para redigir o texto, mas antes de
informação oficial. Foi, de resto, esta a razão pela qual também considerei a fonte presente na notícia
11 – “Funcionária de Cooperativa desvia 252 mil euros por amor” – como oficial: tratando-se de um
acórdão do tribunal, é informação oficial, não um documento que se possa equiparar a um livro, por
exemplo. A fonte presente na primeira notícia é, ainda, uma fonte ativa, por se tratar de um press
release, que não é mais do que material de apoio fornecido aos jornalistas para a construção das
notícias; identificada, porque é bem passível de identificar a fonte como sendo a GNR; e confiável, visto
que a relação entre o jornalista e a fonte é marcada pela confiança relativamente à veracidade da
informação transmitida. Do mesmo modo, também as notícias 5, 6, 8, 12, 16, 18, 19 e 20 têm este
tipo de fonte. Todas elas são suportadas em comunicados de imprensa; a diferença reside na origem
da informação. Se as notícias 5, 8 e 20 foram construídas com base em comunicados também da
GNR, as notícias 6, 16 e 18 foram escritas utilizando comunicados da PJ e a notícia 19 da PSP. De
notar que a notícia 12 contém duas fontes que se traduzem em dois comunicados de duas forças de
segurança diferentes: um da GNR e outro da PSP.
A quarta notícia em análise, “Incêndio em oficina destrói dezenas de carros”, apresenta como
fonte Luís Lopes, segundo comandante do Comando Distrital de Operações de Socorro de Leiria. Trata-
se, portanto, de uma fonte primária, porque é alguém que esteve envolvido no acontecimento e que foi
capaz de fornecer as principais informações sobre o incidente; oficial, uma vez que ocupa um cargo
nas Operações de Socorro; passiva, dado que fui eu, enquanto jornalista, que a contactei com o
objetivo de prestar esclarecimentos sobre o que realmente se tinha passado; identificada, já que a sua
identidade está exposta na notícia; e confiável, na medida em que o contacto foi feito por se presumir
que a informação que a fonte iria transmitir fosse verdadeira.
Como já oportunamente foi referido, apenas quatro notícias – a sétima, “Incêndio destrói
prédio e obriga a hospitalização”, a décima segunda, “Apreensões de armas subiram quase 50% em
relação a 2012”, a décima quarta, “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, e a vigésima, “Duas
otárias apreendidas ao circo Chen” – possuem duas fontes. No primeiro caso, são as testemunhas
presentes no local e o chefe do regimento de sapadores bombeiros de Lisboa, chefe Franco. A primeira
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é uma fonte primária, por serem pessoas envolvidas no incidente; testemunhal, dado que viram e
atestaram o acontecimento; passiva, porque prestaram informações apenas quando interrogadas por
mim, enquanto jornalista; sigilosa, no sentido em que não surge o nome de nenhuma das testemunhas
(“diversas testemunhas presentes no local”), o que significa que não são identificadas; e confiável, na
medida em que o jornalista confia que as testemunhas transmitiram uma informação verídica, mais
não seja por terem estado presentes no local. Por seu turno, a segunda fonte da notícia é também
primária, mas oficial, por se tratar de uma pessoa que desempenha um cargo nos bombeiros; passiva,
porque também deu informações porque foi contactado e questionado em primeira mão por mim;
identificada, uma vez que está expresso o nome e cargo que a fonte ocupa; e confiável, porque é
pressuposta a veracidade da informação que a fonte prestou. A notícia 12 tem por fontes dois
comunicados de duas forças policiais – a GNR e a PSP –, cuja caracterização em tudo se assemelha
ao que já foi acima descrito.
Já a notícia 14 tem a particularidade de possuir uma fonte que é, com relação à categoria,
secundária – o filho da vítima, Lúcio Lourenço –, que comentou e deu o seu ponto de vista sobre a
decisão do tribunal, sendo também uma fonte popular, no que toca ao grupo. Na mesma notícia,
surgiu-me dúvidas quanto à classificação de acordo com a ação da outra fonte, o juiz Rui Alexandre.
Isto porque não considero que ela se encaixe numa fonte proactiva ou ativa – até porque não produziu
nenhuma notícia por si – nem passiva – não foi interpelada por mim para prestar informações; ela é
que as prestou em pleno tribunal –, pelo que me parece, nesse sentido, que a fonte acaba por optar
por uma estratégia mais discreta e, por isso, considero-a como uma fonte reativa. Mas admito outras
leituras neste ponto, até porque a classificação das fontes é um vasto e heterogéneo campo de estudo
que irá sempre depender, em última análise, do olhar de quem o estuda.
A notícia 20 tem, como já foi referido, uma fonte primária, oficial, ativa, identificada e confiável,
materializada no comunicado da GNR, mas também uma outra, o responsável do Núcleo de Proteção
Ambiental do Comando Territorial de Lisboa da GNR, capitão Fernando Alves. Trata-se, pois, de uma
fonte secundária, já que analisou e complementou a matéria jornalística que havia sido dada por uma
fonte primária, o tal comunicado; oficial, na medida em que desempenha um cargo público; passiva,
porque fui eu, enquanto jornalista, que a contactei no sentido de prestar mais esclarecimentos sobre o
sucedido; identificada, dado que o nome e o cargo da fonte estão bem patentes na notícia; e confiável,
porque a honestidade nas declarações prestadas pelo capitão Fernando Alves é presumida.
Apesar de a fonte presente na nona notícia – “Queda de 45 metros de uma ponte provoca
morte a casal” – ser, à semelhança de outras, a GNR, é importante notar que a sua tipologia difere.
38
Neste caso, já não se trata de um comunicado, mas de um elemento da Guarda que prestou
informações quando contactado pelo jornalista. Neste sentido, tratando-se de uma fonte primária,
porque forneceu o essencial da matéria tendo estado envolvida no acontecimento, trata-se igualmente
de uma fonte oficial, na medida em que representa um cargo, e passiva, porque prestou informações
quando foi interpelada pelo jornalista. Até aqui, nada de novo. O ponto fulcral que distingue esta notícia
das outras que utilizaram fontes oficiais é que, neste caso, se trata de uma fonte sigilosa, porque não
se percebe que elemento da GNR prestou as informações (“de acordo com a GNR”), mantendo-se total
anonimato acerca da fonte.
No mesmo seguimento, a classificação da fonte presente na notícia 10, “Agente da PSP
suspeito de roubos em prisão domiciliária”, é em tudo semelhante à anterior: é primária, oficial,
sigilosa e confiável. No entanto, há a ressalva de que se trata de uma fonte passiva, quanto à ação. Na
verdade, esta “fonte da PJ”, como, de resto, está descrita na notícia – por isso é que é sigilosa, porque
a sua identidade não está expressa –, é alguém que foi contactado com o intuito de saber se existiria
alguma ligação entre os crimes, tendo a fonte admitido que sim. “Funcionários de cooperativa
suspensos” é o título da notícia 13, que apresenta como fonte o diretor da Cooperativa Agrícola de
Felgueiras, Rui Pinto. Tratando-se de uma fonte primária, passiva, identificada e confiável, é a única
que, de acordo com o grupo, é empresarial, uma vez que se trata de um representante de uma
corporação empresarial, como é o caso da cooperativa supramencionada.
As notícias que não apresentam qualquer fonte de informação são, então, a segunda – “Penas
até 19 anos e meio para casal por homicídio” –, a terceira – “Acusado de abuso sexual das netas não
fala em tribunal” – e a décima sétima – “Simulava saber de mecânica para atrair e violar as vítimas”.
Constituem, pois, meros relatos do que aconteceu sem que o texto seja suportado em nenhuma fonte
de informação. Na verdade, e como já foi explicado logo no primeiro parágrafo desta secção, existem
fontes por detrás das notícias, mas o facto é que não foram para elas transpostas. Nem se poderia
considera-las como fontes sigilosas porque nem sequer houve indicação de onde a informação proveio
– é diferente escrever-se “fonte da PJ afirmou” (fonte sigilosa) e não escrever sequer que foi fonte da
PJ que afirmou tal sucedido. Trata-se, assumo, de uma má prática, na medida em que eu, enquanto
jornalista, não poderia ter cometido este erro, que viola o dever de identificar as fontes, um dos
princípios mais básicos do jornalismo. Em qualquer notícia que escreva, sei que o meu dever é o de
identificar a fonte. Reconheço, pois, que deveria ter identificado como fontes a Lusa e a PJ.
A análise do número e tipo de fontes presentes nas minhas notícias do DN permitiu-me
perceber que a existência destas três notícias em que não havia uma fonte poderá dever-se à natureza
39
do trabalho desenvolvido, que não promoveu de todo o cruzamento de fontes. Reforço que se as
notícias fossem criadas por completo por mim, isto é, se me tivesse deslocado aos locais da ação, sei
que agiria no sentido de procurar mais fontes. Não é por acaso que 11 fontes foram classificadas como
ativas do ponto de vista da ação, quase criando as suas próprias notícias, para depois eu transformá-
las em notícias da minha autoria. Mesmo sem haver muitas fontes, consegui usar como critério
fundamental a sua identificação nas notícias – 18 notícias tinham fontes identificadas –, o que constitui
sempre um ponto positivo quando falamos deste tópico de análise.
O ponto que mais me saltou à vista durante esta análise foi mesmo o facto de ter utilizado
poucas fontes, algo que procuraria fazer de forma diferente se tivesse oportunidade de reescrever as
notícias. Este será, por certo, um dado que irei reter para o futuro, já que é minha intenção procurar
fazer sempre mais e melhor jornalismo. Recordando que em 20 notícias existiram 21 fontes de
informação, concebo o número como pequeno essencialmente porque tenho ainda presente a – será
mesmo ilusória? – ideia romântica do jornalismo como havendo o cruzamento das fontes e, portanto,
em cada notícia haver pelo menos duas fontes informativas. De facto, este estudo permitiu aferir a
existência de poucas fontes, mas tal pode também prender-se com o facto de serem notícias sempre
curtas, sem muito espaço de manobra, o que, a juntar à prática do “jornalismo de secretária”, poderá
ter contribuído para que as notícias fossem baseadas numa só fonte.
5.2 – O Código Deontológico do Jornalista e os relatos de crime no Diário de Notícias
É importante referir, numa nota prévia, que numa notícia nem sempre se justifica atestar o
cumprimento de todas as normas do Código. De facto, uma notícia que, por exemplo, se centra num
acidente rodoviário nada nos diz nada acerca da salvaguarda por parte do jornalista da presunção de
inocência dos envolvidos (uma das alíneas), mas noutra referente a um crime de assassinato ou de
roubo já poderá haver matéria para avaliar essas normas.
Com essas contingências em mente, foi então desenvolvida uma grelha de observação (cf.
Anexo III) para aferir se as 20 notícias da minha autoria no DN respeitam as 10 normas constantes no
Código. Observando os dados de um âmbito mais geral, todas as notícias redigidas no DN respeitaram
a terceira, quarta, quinta e décima alíneas. Aliás, a terceira – lutar contra a restrição ao acesso à
informação –, a quinta – assumir a responsabilidade pelos seus trabalhos – e a décima – recusar
funções que possam comprometer a independência e a integridade profissional – são normas mais
referentes ao modo como o jornalista opera na redação, e sobre isso não tenho dúvidas de que o meu
trabalho foi sempre marcado pela independência e responsabilidade. Com relação à quarta norma –
40
utilizar meios legais para obter informação –, de facto, a informação de que dispus foi obtida sempre
de um modo legal, seja por via de telefonemas, seja através dos comunicados de imprensa que
chegavam à redação, seja mesmo pelos takes que a agência Lusa disponibilizava. Nenhuma
informação foi, pois, conseguida de um modo duvidoso ou sub-reptício, algo que as próprias notícias
confirmam, mesmo as que não apresentam nenhuma fonte de informação (como já expliquei, estas
últimas falharam em transpor para o texto a fonte, mas tiveram por base informação provinda de
fontes). É que apesar de saber, por ter sido o autor das notícias, que a informação das notícias 2 e 3
foi extraída de takes da Lusa, mesmo olhando para as notícias como mero leitor dá para perceber que
foram informações decretadas pelos tribunais (“foi dado como provado pelo tribunal”; “é acusado pelo
Ministério Público”), não correspondendo a nenhum modo fraudulento de obter informação. O mesmo
pode, de resto, aplicar-se à notícia 17, que também não tem fontes citadas, mas cuja informação pôde
– e ainda hoje pode – ser consultada no próprio site da PJ6, algo que refuta qualquer tipo de névoa em
relação a um eventual modo mais obscuro como a informação foi conseguida.
Parece existir, também, uma tendência de respeito pela primeira e segunda alíneas do Código
– noticiar factos comprovados e evitar o sensacionalismo, respetivamente – por parte de todas as
notícias em análise, com a exceção da notícia 17, que se assume como a que menos acata as regras
presentes no documento. Isto poderá ser explicável pelo facto de esta notícia ter constituído uma
tentativa de construir um texto noticioso de forma diferente – algo que será relatado uns parágrafos
abaixo. Todas as outras 19 notícias são, de facto, escritas com rigor, com factos que podem ser e são
comprovados (alínea 1) e evitam o sensacionalismo, com uma linguagem de pendor mais informativo,
sem acusação sem provas (alínea 2). Como já foi referido anteriormente, a terceira, quarta, quinta e
décima alíneas do Código são respeitadas pela totalidade das notícias, incluindo a 17.
Inversamente, nenhuma notícia houve que não respeitasse qualquer alínea. Com efeito, o
número máximo de alíneas que uma notícia (neste caso, a número 17) desrespeitou foi quatro. Mais
abaixo irá ser dedicado um parágrafo em absoluto à análise desta notícia. A sétima, oitava e nona
normas não foram analisadas em seis notícias – as números 1, 4, 5, 7, 12 e 19 –, devido ao já
supramencionado facto de nessas notícias elas não serem passíveis de análise. Há, porém, uma
exceção: a notícia 9, a qual, não sendo possível ser analisada à luz da sétima e oitava normas do
Código, é possível verificar que respeitou a nona. É que, tratando-se de um acidente, considerei que
acaba por respeitar a privacidade dos cidadãos que perderam a vida ao não colocar uma fotografia em
que os seus corpos estivessem presentes.
6 http://www.pj.pt/
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Particularizando a análise, a primeira notícia, cujo título, à semelhança de todas as notícias em
análise, já foi mencionado acima e pode sempre ser consultado no Anexo I, respeitou as alíneas 1, 2,
3, 4, 5, 6 e 10. De facto, a notícia veicula informação de um modo sério – muito descritivo –, sendo
que não há espaço para confusões em relação ao que lá está escrito como tratando-se de uma opinião,
pelo que também não há qualquer tipo de sensacionalismo na notícia, pois o relato é feito de uma
forma marcadamente informativa. A notícia possui informação que foi obtida de um modo honesto e
legal, uma vez que é baseada num comunicado divulgado pela GNR, fonte que, de resto, está
identificada. No entanto, a sétima, oitava e nona não foram analisadas, porque não há matéria para
averiguar a presunção de inocência de arguidos, o tratamento discriminatório de indivíduos e o respeito
pela sua privacidade.
Como a primeira, também as notícias 4, 5, 7, 9 e 19 respeitam as mesmas normas do Código
e não possuem substância para se analisar a sétima, oitava e nona normas. A norma referente ao
dever do jornalista de identificar as fontes e não revelar aquelas que são confidenciais, a sexta, não é
respeitada por cinco notícias: 2, 3, 9, 10 e 17. Isto significa que nelas não está discriminado quem
forneceu a informação ou de onde ela foi retirada, um princípio que, sabe-se, é fundamental no
jornalismo. Nestes casos, a fonte ou não está, de todo, presente na notícia ou a sua identidade não
está explicitada. Tendo em conta que o jornalista deve ter como princípio fundamental a identificação
das fontes, percebe-se que esta foi uma má prática e algo que, estou certo, irei ter em mente no
exercício futuro do meu trabalho enquanto jornalista. Na verdade, três delas – a 2, 3 e 17 –, sendo que
as outras duas, apesar de terem uma fonte cada, não são identificadas. De facto, “de acordo com a
GNR” (notícia 9) e “fonte da PJ” (notícia 10) não nos permitem perceber exatamente quem forneceu a
informação, e também não há motivos para crer que elas constituam fontes confidenciais de
informação, as quais, segundo o Código, não devem ser reveladas, até porque a informação que elas
transmitiram não é propriamente perigosa ou arriscada. Todas as outras 15 notícias analisadas
respeitam esta sexta norma do Código Deontológico do Jornalista.
Notícias houve, como de resto já foi mencionado oportunamente, em que não foi possível
analisar-se as normas 7, 8 e 9 do Código. No entanto, nas que, com efeito, foi possível fazer essa
análise, conclui-se que todas elas – 2, 3, 6, 8, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 18 e 20 – salvaguardaram a
inocência dos arguidos, rejeitaram a discriminação de pessoas e respeitaram a privacidade dos
indivíduos. Novamente, a exceção recai para a notícia 17, que apesar de respeitar a oitava e nona
normas, falha em respeitar a sétima. É que a notícia nem por um momento refere que o arguido
“alegadamente” terá cometido o crime. Na verdade, o arguido foi detido, sim, mas na altura em que a
42
notícia foi escrita não tinha sido presente a nenhum interrogatório judicial, pelo que ainda não havia
saído qualquer sentença em que me poderia basear para dizer que o arguido efetivamente cometeu
aqueles crimes. De resto, esta notícia apenas consegue preencher os critérios necessários para
respeitar três normas (além da terceira, quinta e décima, acima explicitadas, que todas as notícias
respeitaram), as referentes aos meios legais com que a informação foi recolhida, à rejeição da
discriminação de pessoas e ao respeito pela privacidade dos indivíduos, já que todas as outras – desde
o rigor e exatidão com que a informação deve ser escrita à salvaguarda da presunção de inocência dos
arguidos, passando pelo combate ao sensacionalismo e pela identificação das fontes – são
desconsideradas.
A notícia 17 é, como já se viu, a única que não tem uma escrita rigorosa e que acaba por não
rejeitar o sensacionalismo. Se a ela atentarmos, percebemos com alguma facilidade porquê: tratando-
se de uma notícia, não de uma reportagem – onde há mais liberdade na estrutura do texto –, ela inicia
não pelo lead, como todos os manuais de jornalismo apregoam, mas antes por uma espécie de
história, construída para prender a atenção do leitor (“Tem 58 anos e um longo historial de
antecedentes criminais e policiais”). Mal se começa a ler o texto, não se consegue, pois, perceber o
que efetivamente aconteceu, o que, na prática, constitui notícia. A sua construção, apesar de ter uma
linguagem formal – no sentido em que não existem extremismos nem vulgarismos –, peca por tornar a
notícia numa história, algo que vai contra o rigor e a precisão do jornalismo dito mais sério e aproxima
a notícia do jornalismo de âmbito mais sensacionalista. Além disso, a própria ausência de fontes
também não abona a favor do rigor e da transparência da notícia, uma vez que a informação que lá
está presente acaba por carecer de validação: não deveria ter tomado como minha a informação
provinda de outros meios. É, portanto, a notícia que mais normas desrespeita do Código (quatro de
dez), assumindo-se como aquela que mais difere das restantes em análise.
Olhando atentamente para esta notícia com a distância que naturalmente dela me separa
passado cerca de um ano desde que a escrevi, consigo perceber que tentei adotar uma abordagem
diferente à normal escrita de uma notícia. Consigo também perceber que esta tentativa, a qual
considero falhada – e a presente análise acaba por me dar razão –, adveio do facto de ter sido exposto
a outras maneiras de noticiar crimes. É que o meu trabalho era centrado em breves e em notícias mais
pequenas, mas tinha sempre acesso às notícias de maior destaque escritas pelos outros jornalistas “da
casa”, particularmente as que retratavam crimes, e notava que elas fugiam à tradicional ideia da
notícia que inicia com o lead e depois é desenvolvida. Tentei, de alguma forma, inspirar-me nesses
43
relatos e escrever uma notícia… diferente. O facto é que ela não deixa de ser uma notícia e, por isso,
não deixa de ter de possuir fontes de informação e de ser um relato sério dos acontecimentos.
Em jeito de resposta ao segundo objetivo do estudo, pode dizer-se que nem todas as normas
estabelecidas pelo Código foram cumpridas. O saldo é, ainda assim, positivo, se tivermos em conta
que o maior desrespeito que houve foi protagonizado por apenas uma notícia, a número 17, que
apenas cumpriu a terceira, quarta, quinta, oitava, nona e décima normas. De resto, regra geral, todos
os pressupostos do Código foram satisfeitos por todas as notícias, excetuando o que diz respeito à
identificação das fontes, desrespeitado em cinco notícias – três por não terem fontes de todo, duas por
falharem em identificá-las. Este resultado acaba por ir ao encontro das minhas expetativas, uma vez
que tinha em mente que seria difícil preencher todos os requisitos do Código sem exceção, ainda que
os tenha procurado – e continuarei a procurar na minha vida profissional futura – respeitar.
Além disso, sorrio ao notar que todas as notícias – novamente, excetuando a número 17, que
gosto de acreditar ser a exceção que confirma a regra – afastam todo e qualquer cenário de
sensacionalismo. Nunca caí no erro de não salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos nem
faltei ao respeito pela privacidade dos envolvidos nas notícias, e muito menos discriminei quem quer
que fosse. Estamos, pois, perante notícias essencialmente informativas, cujos dados foram obtidos
através de meios legais, relatos sérios, rigorosos, exatos e honestos, escritos de acordo com a norma
culta, afastados de coloquialismos, popularismos, extremismos, vulgarismos e outros ismos que
culminam… no sensacionalismo. Esse era um dos meus grandes objetivos: perceber até que ponto a
ameaça sensacionalista poderia interferir com o relato sério em notícias sobre crimes. O facto é que é
possível escrever notícias acerca de crimes, acidentes e tragédias cumprindo as normas vigentes do
Código Deontológico do Jornalista e sem entrar na esfera do sensacionalismo que, apesar de tudo, está
sempre pairando no ar, à espera de penetrar no rigor com que se deve escrever notícias.
5.3 – Relatos de crime no Diário de Notícias e no Correio da Manhã: a comparação
Para que a comparação entre as notícias que retratam o mesmo assunto escritas pelo DN e
pelo CM fosse mais ajustada, coerente e lógica, foi desenvolvida uma grelha de observação que
englobou os aspetos essenciais desta análise comparativa (cf. Anexo IV). Nota para o facto de o total
das 28 notícias analisadas – 14 de cada jornal – não estar enumerado no mesmo anexo; a
enumeração das notícias do DN é, pois, diferente daquela que foi utilizada acima, nos primeiros dois
pontos do estudo.
44
Todas as notícias dos dois jornais foram escritas na terceira pessoa do singular, o que significa
que não se registou nenhum caso em que o jornalista autor da notícia assumisse a primeira pessoa no
relato do evento a noticiar. O número de linhas das notícias é outro tópico de análise. Deste modo,
constata-se que a notícia mais longa que, nesta análise, o DN apresenta contém 50 linhas –
“Funcionária de Conservatória desvia 252 mil euros por amor” –, sendo que o CM retrata o mesmo
evento em 55 linhas. Por sua vez, aquela que é a mais longa notícia desenvolvida no CM – “Fogo
queima mulher e desaloja 12 pessoas” – tem 66 linhas, quando no DN ela fica-se pelas 36 linhas. A
notícia mais curta escrita no DN tem somente sete linhas – “Queda de 45 metros de uma ponte
provoca morte a casal” –, enquanto o CM apresenta uma notícia com 12 linhas – “GNR faz 17
detidos” – como a mais pequena. Interessante é, porventura, verificar que a primeira é uma notícia de
destaque no CM, que desenvolveu a notícia por mais de 60 linhas, e a segunda tem 30 linhas no DN.
Embora não nos transmita nada em concreto nem seja preditor de qualquer conclusão, é
interessante notar que a média do número de linhas das notícias do DN analisadas é inferior (29) à do
CM (36). Ainda que se pudesse pensar que, por se tratar de um tabloide, as notícias do CM teriam, à
partida, menos linhas do que um jornal de pendor mais informativo, também não se pode ignorar o
facto de essas notícias assumirem um papel de destaque na página do jornal, ao contrário do DN. Na
verdade, enquanto apenas duas notícias do DN em análise foram consideradas como tendo uma
posição de destaque, seis notícias do CM preencheram grande parte da mancha gráfica da página. O
CM dá, pois, maior destaque a notícias sobre crimes do que o DN, não tanto pelo número de linhas
das notícias, mas mais pelo destaque na página dado a elas. Aliás, mesmo as duas notícias com papel
de destaque no DN são mais curtas do que uma notícia que é tradicionalmente a de destaque, uma
vez que são notícias de fecho daquela secção do jornal, em que o próprio layout da página faz com que
haja apenas duas colunas de texto – ainda que ligeiramente mais longas – para a notícia destacada,
acompanhadas por uma fotografia. Na verdade, não posso dizer que tenha produzido, no período de
estágio, uma notícia que merecesse papel de total destaque na página. É por esta razão que defendo
que a média do número de linhas não deve ser tida em conta quando se procuram conclusões sobre a
análise, embora seja um dado interessante e que contraria as expetativas que tinha aquando do início
do estudo.
Seguindo esta lógica, o facto de a mesma notícia no DN (no caso, a menor) ter somente sete
linhas e no CM 61 faz-me tecer algumas considerações acerca dos assuntos que merecem mais
atenção por parte dos dois títulos. De facto, as maiores notícias do CM, as mais desenvolvidas –
aquelas que, portanto, têm um papel de destaque –, disseram respeito ao avô acusado de abusar da
45
neta, ao incêndio que destruiu um prédio e obrigou à hospitalização de uma moradora, ao acidente
rodoviário que vitimou um casal, à condenação de uma mulher por desvio de dinheiro e à violação de
duas mulheres por parte de um homem – todas acompanhadas de uma imagem de grandes
dimensões, que na maioria dos casos serviam de mera ilustração. Destas, apenas a notícia referente à
condenação de uma mulher por desvio de dinheiro foi igualmente desenvolvida pelo DN. Por um lado,
isto mostra que uma notícia dita secundária do DN pode ter quase tantas linhas (50) quantas a de uma
notícia de destaque do CM (55). Por outro, mostra que o destaque dado pelos jornais às notícias é
díspar, motivado em grande escala pela linha editorial que cada um segue. De facto, a notícia mais
longa do DN, “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, que sucede à imediatamente acima referida,
tem 40 linhas, ao passo que no CM tem 16, equivalente à segunda notícia mais curta deste diário.
À exceção das notícias 1, 5, 10, 13 e 14, todas as notícias do DN têm títulos maiores. A maior
diferença é visível na sétima notícia, em que o título do DN tem 11 palavras – “Queda de 45 metros de
uma ponte provoca morte a casal” – contra as seis do CM – “Caem para a morte após despiste”. Nas
notícias 5 e 14, os títulos têm a mesma quantidade de palavras, sendo que esta última assume o
peculiar detalhe de quase ter o mesmo título ipsi verbis nas duas publicações: “Criminalidade violenta
e grave diminui 10%” (DN) e “Criminalidade violenta e grave diminuiu 10%” (CM) – a única diferença
está, pois, no tempo verbal utilizado. Tal facto poderá advir de ambas as notícias terem sido
construídas com base no mesmo comunicado. Ao invés, na primeira notícia, o título do CM tem 11
palavras, mais uma do que o DN, situação que se repete na notícia 10, mas com outros dígitos: o título
tem oito palavras no CM contra as sete no DN.
Afigura-se, pois, como interessante verificar as diferenças existentes nos títulos e respetivos
tamanhos por parte dos dois diários. Os títulos que o CM cria para as notícias assemelham-se a
citações diretas de expressões usadas em cafés ou praças públicas: “PSP ladrão fica em casa” e
“Mulher falida não paga ao estado”, à cabeça. É um registo popular e informal, com claros e explícitos
juízos de valor, não próprio de um jornal que se quer informativo. São paradigmas de como o título tem
de ser ajustado ao corpo da notícia… ou de como um título tem o poder suficiente para arruinar uma.
Não é que o tamanho da página seja diferente para os dois diários, não; a diferença entre o tamanho
dos títulos – só por três vezes o CM teve um título maior do que o DN – reside no facto de o CM utilizar
uma estratégia de maximização dramática, colocando títulos que até podem ter poucas palavras, mas
cujas letras são graficamente grandes e grossas (“Sete porsches queimados”, por exemplo). Algo que,
no fundo, volta a aproximar o jornal do sensacionalismo.
46
Outra diferença entre os diários encontra-se ao nível do tipo de linguagem utilizado. Se em
todas as notícias o DN assume uma linguagem formal, regida pela ausência de qualquer espécie de
vulgarismos, extremismos ou do emprego da gíria, o caso do CM é já diferente: há cinco notícias em
que o jornal utiliza um estilo de linguagem popular, com termos marcadamente incomuns numa
linguagem que se quer cuidada. Para se perceber melhor esta realidade, nada melhor do que
atentarmos aos exemplos práticos que me fizeram considerar aquelas cinco notícias como tendo uma
linguagem do tipo popular. Na notícia 7, “Caem para a morte após despiste”, há expressões como
“encontraram a morte”, “o casal caiu para a morte” ou “a brutal queda que ceifou a vida ao casal”.
Tal vocabulário vai, pois, contra o estilo essencialmente informativo com que uma notícia deve ser
escrita, com uma linguagem informativa. O mesmo acontece, então, nas notícias 8, “PSP ladrão fica
preso em casa”, 9, “Mulher falida não paga ao Estado”, 11, “Rapta e viola ex-mulher por ciúmes”, e
12, “Viola duas mulheres a quem oferece ajuda”. A linguagem destas restantes quatro notícias é
popular por causa de expressões nos títulos das duas primeiras – “PSP ladrão” e “mulher falida” – e
no corpo das duas últimas – “os ciúmes não deixavam em paz o homem” e “o pesadelo começou”. É
um vocabulário aproximado da informalidade e afastado do rigor pelo qual o jornalismo se deve pautar.
Para terminar a análise comparativa das notícias no que toca aos elementos textuais, falta-nos
atentar ao número e tipo de fontes utilizadas. No total das 14 notícias de cada jornal, o DN possui
menos fontes (13) do que o CM (14). Como este já foi um tópico desenvolvido para as notícias do DN
no primeiro ponto da análise do estudo, parece-me mais lógico focarmo-nos primeiro no caso do CM –
enumerar e tipificar as fontes – para depois compararmos aos dados que já respeitantes às notícias do
DN. Deste modo, há cinco notícias do CM que não possuem fontes de todo, seis que têm uma fonte
cada, uma que contém duas e outras duas notícias possuem três fontes cada. Destes dados, retém-se
o facto de o CM ter duas notícias com três fontes, algo que na análise do DN não foi encontrado, e
também o facto de o CM ter mais notícias sem qualquer fonte de informação (o DN tinha três). De
resto, houve dois tipos de fontes mais utilizados na escrita de notícias por parte do CM, que surgiram
por três vezes em seis diferentes notícias: primária, oficial, reativa, identificada, confiável e primária,
oficial, passiva, identificada, confiável. Tal como o DN, também o CM não apresentou nenhuma fonte
na notícia 12, “Viola duas mulheres a quem oferece ajuda”. Ambos os jornais contabilizaram o mesmo
número de fontes – um – nas notícias 9, 13 e 14. Em todas as outras, ou o DN contém mais fontes
(notícias 3, 4, 8, 10 e 11) ou os papéis invertem-se (notícias 1, 2, 5, 6, 7). Um traço comum à tipologia
das fontes de informação por parte dos dois diários é o facto de todas elas serem confiáveis, no que
respeita à qualificação. Ao contrário do que poderia supor à partida para a investigação, nesta amostra
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o CM não tem um número de fontes populares superior ao DN. Tem, apesar disso, mais fontes
testemunhais (4) do que o DN (1), o que se traduz num maior número de pessoas que assistiram aos
eventos a serem ouvidas, e mais fontes sigilosas (4) do que o DN (2), o que significa que o jornal
identifica menos fontes. Pelo menos nestes pontos esta análise conseguiu ir ao encontro das minhas
expetativas.
Algo que também me surpreendeu nesta análise foi ter descoberto que as notícias do DN
possuíam menos uma fonte do que o CM. Ainda que haja poucas fontes por notícia nos dois diários,
este não deixa de constituir um ponto que favorece o CM. Tal resultado prende-se, na minha ótica, com
a maior extensão da generalidade das notícias do CM, que acaba por permitir que haja um maior
desenvolvimento e também mais fontes que podem fornecer informação. No entanto, como se poderá
ver nos parágrafos a seguir, a tendência positiva dos resultados da análise para o CM não perdura
muito mais.
Em termos dos elementos visuais que compõem ou acompanham as notícias em análise, é
possível verificar que todas as notícias do DN se encontram na mesma secção (País – Segurança), ao
passo que o CM divide mais as notícias: 11 pertencem à secção Portugal e três à secção Norte. No CM
há também mais notícias que assumem um papel de destaque na página, ou seja, ocupam a maior
parte daquela página do jornal, em comparação com o DN. Na verdade, são seis notícias contra
apenas duas. As outras notícias – portanto, oito do CM e 12 do DN – são notícias consideradas
secundárias, já que estão reservadas a espaços não tão centrais da página. Algo que distingue os dois
jornais é a presença de imagem a acompanhar o texto da notícia. De facto, o DN tem 11 notícias que
não têm nenhuma imagem a servir de suporte. Apenas três notícias – a 3, “Incêndio em oficina destrói
dezenas de carros”, a 7, “Queda de 45 metros de uma ponte provoca morte a casal”, e a 8, “Agente
da PSP suspeito de roubos em prisão domiciliária” – fazem-se acompanhar de fotografias: a primeira é
uma imagem da oficina já destruída pelas chamas, a segunda, o carro amolgado pela queda, e a
terceira, o agente suspeito, a cobrir a face com uma camisa à saída do tribunal. A primeira tem uma
função de “retransmissão”, o que significa, de acordo com Barthes (1964; cit. por Martinec & Salway,
2005: 341), que tanto a imagem como o texto têm igual importância para a compreensão da notícia.
De facto, se só aparecesse a fotografia da oficina queimada, não se perceberia o que efetivamente
aconteceu; mas é uma imagem importante e bastante relevante para acompanhar o texto da notícia. A
segunda notícia tem uma imagem cuja função é de “ancoragem”, ou seja, é o texto que apoia a
imagem, assumindo esta um papel de maior protagonismo. Isto porque a notícia em si é muito
pequena (tem sete linhas), e o que salta mais à vista é, de imediato, a fotografia do carro destruído; no
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fundo, o texto acaba por explicar a imagem. Na notícia 8, a imagem tem a função de “ilustração”, isto
é, ela acaba por funcionar como suporte para o texto da notícia. Tal é percetível pelo facto de a notícia
retratar a apreensão de um agente da PSP e a fotografia que aparece é a do agente – ainda que ele
tenha coberto a cara – no preciso momento em que lhe foi decretada prisão domiciliária. A fotografia,
por si só, não diz nada, não transmite informação nenhuma, pelo que tem a função de ilustrar o texto
noticioso.
Quando comparamos este número de três notícias com imagem com o CM, percebemos que é
bastante inferior. Com efeito, o CM tem 13 notícias com imagem, a maioria (10) com uma função
meramente ilustrativa. Veja-se os exemplos da notícia 6, “Ladrões tentam roubar sino de capela”, cuja
fotografia presente é referente à capela de que fala o texto, ou da notícia 13, “Famílias detidas por
abusos a uma menor”, cuja fotografia é da sede da Polícia Judiciária de Aveiro, cidade onde a notícia
se desenrolou. Tal indica, na minha ótica, um uso excessivo da imagem, por vezes mesmo quando ela
não é simplesmente necessária. Sei que estamos numa era em que os jornais, por via da própria
sustentabilidade, têm de apelar ao público para que consigam ter vendas – e as imagens funcionam
precisamente nesse sentido –, mas não deixa de ser curioso o facto de o CM utilizar imagens que até
quase nada têm a ver com o assunto retratado no corpo da notícia só para que a mancha gráfica seja
de algum modo mais apelativa. De facto, considero o exemplo da notícia 13 paradigmático: se ela é
respeitante à detenção de uma família por alegados abusos a uma menor, pouco sentido faz colocar
uma fotografia da sede da PJ de Aveiro, ainda que se trate da entidade que procedeu à detenção e da
cidade onde os factos ocorreram. A imagem, genérica e pouco relacionada com os factos que
realmente aconteceram, podendo ser utilizada para diversas situações, nada acrescenta à narrativa, e
parece colocada na notícia mesmo porque ela estaria incompleta sem uma imagem… qualquer. Tendo
em conta que uma das características do sensacionalismo é a abundante presença de imagens,
concluo, pois, que este é mais um traço que aproxima o CM do género sensacionalista de jornais. Há
também três notícias com uma imagem com função de “retransmissão”, em que as fotografias
assumem igual importância para a compreensão da notícia quanto o próprio texto. São os casos das
notícias 3, “Sete porsches queimados”, 5, “Fogo queima mulher e desaloja 12 pessoas”, e 7, “Caem
para a morte após despiste”.
Antes do exercício de comparação entre o DN e o CM no que ao Código Deontológico do
Jornalista diz respeito, parece-me pertinente referir que nem todas as normas do Código são passíveis
de escrutínio através das notícias escritas pelos jornais. Alíneas como a terceira, que postula que o
jornalista deve lutar contra a restrição ao acesso à informação, a quinta, que determina que o jornalista
49
deve assumir a responsabilidade pela totalidade dos seus trabalhos, ou a décima, que estipula que o
jornalista deve recusar funções que comprometam a sua independência e integridade profissional,
estão mais ligadas à atividade interna dos jornais, ao modo como os jornalistas operam fora da esfera
da escrita de notícias, algo que não se pode constatar através do modo como elas são escritas. Neste
sentido, e porque as três normas acima descritas se assumem como impossíveis de serem analisadas
no CM dada a própria natureza do presente estudo, elas são excluídas da análise, que se irá centrar,
então, nas normas presentes no Código concernentes ao comportamento do jornalista na construção
de notícias e percetíveis no modo como elas estão escritas. O mesmo é dizer que, por não ter tido
acesso à forma como as notícias são produzidas no CM, aos bastidores por detrás da notícia redigida,
as três alíneas supramencionadas, apesar de terem sido avaliadas no tópico anterior referente ao DN,
não são consideradas para a comparação.
Posto isto, há algumas diferenças entre os dois títulos que considero ser importante abordar. À
partida, é notório que o DN respeita mais normas do que o CM. Começando pela primeira notícia do
CM, considero que ela respeita a sétima norma – salvaguarda da inocência dos arguidos – porque,
apesar de na notícia estar escrito que os arguidos “foram a casa da vítima” e “a obrigaram a entregar
os cartões de crédito” antes de “incendiar o corpo da vítima”, ou seja, a notícia não utiliza os
vocábulos “terão” ou “alegadamente”, a verdade é que os arguidos já tinham sido considerados
culpados pelo tribunal. Logo, não constitui um erro dizer-se que o casal efetivamente cometeu as ações
que o tribunal relatou. Noutros casos, como as notícias 6, o mesmo não acontece. De facto, a sexta
notícia do CM, por exemplo, não respeita esta sétima norma do Código, porque é lá afirmado com
certeza que os assaltantes realmente cometeram o crime sem que o tribunal o tenha dado como
provado. Mesmo que as testemunhas o garantam, até que a sentença saia por parte do tribunal, é
dever do jornalista salvaguardar a presunção de inocência dos envolvidos.
Esta sétima norma não é respeitada também pelas notícias 8, 11 e 12. No primeiro caso, a
verdade é que, mesmo que no corpo da notícia esteja escrito que os arguidos foram detidos “por
suspeita de terem assaltado cerca de 10 casas” – está presente, pois, a expressão “por suspeita” –, a
forma como o título da notícia está escrito é suficientemente promotora de juízos de valor: “PSP ladrão
fica preso em casa”. Pelo título, o leitor assume imediata e instantaneamente que o agente é culpado,
quando o tribunal ainda não o decretou como tal. Ainda para mais, é sabido que muitas notícias não
são propriamente lidas por todos os leitores, mas pelo menos os títulos, por serem mais chamativos,
raramente não passam despercebidos aos seus olhos.
50
Por essa mesma razão, considero também que esta notícia 8 não respeita a primeira norma, já
que um jornalista não pode nunca escrever um título como aquele sem que tal tenha sido confirmado;
daí que não me parece haver muito rigor e exatidão – e, em última instância, mesmo honestidade – na
escrita do título. Além da primeira e da sétima normas, também desrespeita a segunda, já que o
dramatismo do título faz-me imediatamente colocar esta notícia como sendo própria do
sensacionalismo. A notícia 9 não respeita a segunda norma também por causa do título, “Mulher falida
não paga ao estado”. A notícia é referente à condenação de uma mulher por desvio de dinheiro, mas o
título puxa para destaque o facto de a condenada estar falida. Creio, contudo, que esta notícia 9, ao
contrário da 8 e da 11, respeita a primeira norma do Código pelo facto de se tratar de uma notícia de
destaque, cujo corpo da notícia de facto está escrito com rigor, sendo que as outras duas notícias são
mais pequenas e, por isso, o possível rigor presente no corpo da notícia não apaga o poder dos títulos
sensacionalistas. Por falar em sensacionalismo, a sétima notícia do CM, “Caem para a morte após
despiste”, possui, como já se viu acima, um estilo de linguagem popular, facto que, apesar de tudo,
não me inibe de considerar que ela respeita a primeira norma do Código, porque apesar da linguagem,
os factos estão efetivamente comprovados.
De regresso à primeira notícia do CM em análise, ela não respeita a segunda norma do Código
– o combate ao sensacionalismo –, na medida em que coloca imagens da vítima de assassinato e dos
condenados. Apesar de não se poder considerar que esta prática constitui um desrespeito pela nona
norma – respeito pela privacidade dos indivíduos –, dado que as fotografias dos arguidos foram tiradas
em locais públicos e a da vítima era uma fotografia que estaria disponível publicamente na internet,
isto é, não era uma fotografia da pessoa defunta, o facto é que levanta algumas questões éticas que
seriam interessantes abordar. Como esta, muitas notícias do CM também não respeitam esta segunda
norma. Veja-se o caso da terceira notícia, que chama a marca dos carros incendiados para assunto de
destaque; quase que o que tem mais importância não foi o facto de ter ocorrido um incêndio, mas
antes de ele ter destruído sete carros de luxo, sete Porsches. Nesta notícia em particular – tal como na
notícia 11 –, não é possível atestar o respeito pela quarta norma – utilizar meios legais para obter
informações –, isto porque, não havendo fontes, também não se consegue perceber como a jornalista
escreve que um dos carros destruídos era do dono da oficina, por exemplo. Como também não posso
partir do princípio de que a informação foi obtida ilicitamente, esta norma não pode, então, ser
analisada neste caso.
Ora, tudo isto é inútil se não se tiver uma visão mais abrangente desta análise. Para se ter uma
ideia mais consistente acerca do respeito pelo Código Deontológico do Jornalista por parte dos dois
51
diários em análise, proponho esquematizá-la. A primeira norma do Código é respeitada pelo DN em 13
notícias e pelo CM em 11; a segunda é respeitada em 13 notícias do DN contra as sete do CM; a
quarta é respeitada por todas as notícias dos dois jornais, salvo as que não possuem elementos
suficientes para essa análise; a sexta norma é respeitada pelo DN em nove notícias e pelo CM em oito;
a sétima norma é respeitada em oito notícias do DN e em cinco do CM (em nove que permitiam essa
análise); a oitava norma é respeitada pelo DN e pelo CM em todas as nove notícias passíveis de
análise; e a nona norma, por fim, é também respeitada pelo DN e pelo CM em todas as 10 notícias em
que esta análise foi exequível.
Não se registou, portanto, nenhuma ocasião em que o CM se tenha superado ao DN no que
toca ao respeito pelas normas do Código. A norma que o DN mais vezes desrespeitou foi a sexta,
referente à identificação das fontes. Foram cinco as notícias construídas sem que tivesse tido em conta
essa sexta alínea do Código. Curiosamente, esta norma foi também desrespeitada pelo CM em seis
notícias, sendo que a que mais vezes (em sete notícias) foi desrespeitada pelo jornal foi mesmo a
segunda, concernente ao combate do sensacionalismo. No fundo, estou em crer que se pode concluir
que o Código Deontológico do Jornalista não é respeitado nestas notícias por ambos os jornais. Afinal,
ele não poderia nunca ser respeitado tendo em conta que há desrespeitos efetivos em relação a
algumas normas por ambos os jornais. Ainda assim, o caso do CM é mais gritante, na medida em que
desrespeita mais normas e por mais vezes.
Como os parágrafos acima já deram, por certo, a entender, são consideráveis as falhas do CM
quanto ao combate ao sensacionalismo. De facto, metade das notícias em análise do jornal (sete)
possui elementos passíveis as tornarem sensacionalistas contra apenas uma notícia do DN. Esta é a
maior diferença entre os dois títulos em termos do respeito pelo Código, análise que me permitiu
concluir que na redação das notícias o DN respeitou sempre mais normas do que o CM, indo, deste
modo, ao encontro do que esperava à partida para este estudo. Houve algo em que esta investigação
me surpreendeu, no entanto: o facto de o CM respeitar sempre a privacidade dos cidadãos (nona
norma do Código). Digo isto porque, à partida, pensava que a publicação de fotografias dos arguidos
e/ou das vítimas nas notícias se trata de uma violação da privacidade dos cidadãos e, por isso, um
desrespeito pela respetiva alínea do Código. A verdade é que as fotografias, sendo públicas, são, por
isso, passíveis de serem utilizadas pelo CM ou por qualquer outro jornal. Tudo depende é da linha
editorial que cada jornal segue. O CM, claramente vizinho próximo do sensacionalismo, não hesita na
hora de procurar e publicar fotografias de pessoas que já morreram, por exemplo. Parece quase
paradoxal, mas não é um desrespeito pela norma. É, sim, sintoma de um sensacionalismo que parece
52
perdurar, mais não seja pelos resultados positivos que o CM tem alcançado nos últimos anos, sendo
líder em termos de vendas. Para isso, muito contribui também a aproximação do jornal a um tipo de
público leitor particular, mais extenso, através da linguagem de índole mais popular que, de acordo
com Cunha e Andrade (1999:3), procura “maior aproximação com o leitor das classes mais modestas
da população”, e do predominante uso de imagens e dramatização “em detrimento de elementos
textuais e analíticos”, como argumenta Johansson (2007: 32).
O CM não chega ao extremo de escrever a peça noticiosa na primeira pessoa, como Cunha e
Andrade (1999: 3) mostraram ser possível – todas foram escritas na terceira pessoa do singular –, é
um facto, mas sabe desbravar os caminhos do sensacionalismo como ninguém. Fazendo uso
constante dos nomes das vítimas e dos arguidos, inclusive com fotografias que revelam as suas
identidades, o CM distancia-se do DN, que opta por não revelar nem a cara, nem o nome dos
envolvidos nas notícias. Tudo isto foi visível através do estudo comparativo entre o DN e o CM que foi
levado a cabo, cuja conclusão maior é a de que, de facto, o DN afasta-se do sensacionalismo,
enquanto o CM dele se aproxima, o que acaba por ir ao encontro das minhas expetativas.
53
Capítulo 6 – Considerações finais
Depois não só da reflexão em torno da minha atividade de estágio no DN mas também da
investigação levada a cabo no tópico imediatamente acima, é natural que surjam ilações a que
podemos e devemos atentar. É exatamente sobre isto que as próximas linhas, as finais do presente
relatório, se debruçarão.
O valor-notícia associado ao crime é elevado, pelo que é inevitável noticiá-lo. Isto parece-me um
dado concreto e que não levanta dúvidas. Na verdade, o facto de haver um espaço dedicado a esse
tipo de notícias nos jornais – testemunhei isso no meu próprio estágio na secção de segurança –
prova-o. O tratamento que cada jornal dá ao crime, por sua vez, difere, e é aqui que se rompe uma
brecha que abre espaço à discussão. Como vimos, o DN noticia o crime de forma diferente do CM.
Enquanto o primeiro constrói um relato mais sério, com uma linguagem formal, o segundo dá primazia
a um estilo mais sensacionalista, marcado por títulos curtos mas vistosos, com juízos de valor em
algumas circunstâncias, pela presença constante de imagens, algumas mesmo sem ter a ver com o
que é propriamente noticiado, e pela publicação de fotografias de indivíduos que pereceram. Não sei se
numa análise de notícias do DN que não fossem da minha autoria obteria os mesmos resultados, mas
o facto é que aqui, neste estudo em particular, ele afasta-se do sensacionalismo.
Essa via, a do sensacionalismo, não é, parece-me claro, a mais desejável. O crime é um evento
que, por si só, já desperta emoções, é um assunto que já é sensível de si. Se estivermos a falar de
crimes ligados a mortes, isso ainda é mais evidente. O sensacionalismo aliado ao crime é, para mim,
um extremar do que já consegue ser um extremo. Explorar emoções associadas a um evento que já
causa dor suficiente para os envolvidos parece-me, mais até do que errado, inconveniente. Em última
análise, o sensacionalismo, sempre que aplicado em notícias de crimes e não só, acaba por
descredibilizar o jornalismo. Atendendo à natureza do que envolve os crimes, é exigido, mesmo que
não por alguma força direta – e porventura é isso que falta –, que o jornalista tenha alguma noção de
que está a escrever sobre um assunto delicado. Ao escrever, com certeza, que um indivíduo é
homicida quando o veredito sobre a inocência ou culpa ainda não foi comunicado por parte do tribunal,
o jornalista pode estar a colocar em causa, sem ter certeza, o nome da pessoa envolvida, o que poderá
criar dificuldades no reajustar da vida por parte do indivíduo em causa. Ao colocar fotografias de
pessoas que morreram num acidente, o jornalista pode estar a causar mais sofrimento à família por
ver o rosto do seu ente querido espalhado pelo país. Julgo que, nesse sentido, a escrita de notícias
sobre a criminalidade poderia beneficiar, do ponto de vista jornalístico, se houvesse algum tipo de
formação – essencialmente de índole ética – para os jornalistas desta área. Porém, creio, o problema é
55
mais difícil de combater. É que a generalidade dos jornalistas, parece-me, até está ciente da
sensibilidade da questão, mas por via das linhas editoriais de certos jornais e de ordens que provêm de
cima na hierarquia acabam por ser obrigados a compactuar com práticas sensacionalistas.
Não há volta a dar: na sociedade contemporânea, o sensacionalismo vende mais e é mais
lucrativo do que o jornalismo de cariz mais informativo. O próprio jornalismo é encarado por muitos
mais como um negócio do que como uma missão. Entendo a pressão em que hoje, mais do que
nunca, os jornais se encontram mergulhados; são necessárias receitas para que se consiga a
sustentabilidade do jornal. Nesse sentido, o jornalismo é também um negócio. Mas entendo também
que não é impossível fazer jornalismo com qualidade – sem laivos sensacionalistas – e ter vendas que
permitam o desafogo financeiro tão necessário nos dias que correm. Penso que uma solução poderá
passar pela educação para os media, já que os jornais recorrem ao sensacionalismo para ter mais
vendas porque sabem de antemão que é o que os leitores, na generalidade, procuram. Se estivermos
perante um povo mais culto, mais conhecedor e sobretudo mais interessado nos assuntos críticos da
vida em sociedade e que dizem respeito à atualidade, então será possível fazer-se jornalismo sem
sensacionalismo com vendas.
É importante perceber que não existe nenhuma regulamentação própria dos jornais tabloides:
como jornais que são, pertencentes a um todo mais global que é a imprensa e a outro ainda mais
absoluto que é o jornalismo, têm o dever de respeitar as normas fundadoras da profissão,
estabelecidas no Código Deontológico do Jornalista. É por isso que esse tipo de jornais, no qual se
inclui o CM, acaba por ser criticado dentro da própria classe jornalística e não só. Acredito, contudo,
que tudo permaneça como está: o sensacionalismo nem tão cedo se vai despedir do jornalismo. É que
se trata de um notável aliado dos jornais, que faz com que eles sejam mais procurados, mais vendidos
e, por conseguinte, oferece maiores lucro às grandes empresas que os detêm. Urge, pois, pensar,
debater e encontrar soluções para que o jornalismo não entre numa espiral de procura incessante já
não pela verdade, mas pelas vendas, já não pelos factos, mas pelo lucro. Parece-me lógico que a
concentração de esforços no sentido de haver uma maior e mais eficiente educação para os media do
público leitor, como já advoguei, pode ser uma solução, mas há também que agir no sentido de os
próprios jornais que não são sensacionalistas se reinventarem para dar a volta à situação. O público
leitor quer sentir-se próximo do seu jornal, e, numa era em que todo o mundo nos é próximo através do
online, há que saber usar essa ferramenta para fazer chegar o bom jornalismo, que tem na qualidade e
na idoneidade as suas maiores virtudes, aos leitores que só têm olhos para os jornais que ferem o
jornalismo mas que, com manobras de charme, os mantêm próximos de si.
56
A investigação que conduzi permitiu-me concluir que o número de fontes consultado na
totalidade das notícias foi muito baixo para aquilo que pensava numa primeira instância e para aquilo
que, no fundo, é desejável no jornalismo. E neste tópico de reflexão incluo as notícias tanto do DN
como do CM. No fundo, o requisito do contraditório, ou seja, o cruzamento de fontes, não foi aplicado
tanto quanto deveria. De facto, é uma relação sempre complexa, a que une jornalistas e fontes de
informação, algo que também pude comprovar na primeira pessoa. Com este estágio e posterior
estudo, considero que ganhei algum arcaboiço que não tinha para, num futuro que quero próximo,
lidar melhor com as fontes e procurar sempre melhorar estes dados oferecidos por esta minha
primeira experiência a sério naquele que gosto de acreditar ser o meu futuro. Adquiri, acima de tudo,
uma aprendizagem que futuramente me fará pensar duas vezes antes de terminar a redação de uma
notícia sem que tenha contactado, pelo menos, duas fontes. Até porque esse foi o aspeto que, sendo
eu instigado por este relatório a olhar para todo o meu trabalho de forma sistemática, mereceria um
tratamento diferente da minha parte.
Um outro tópico de discussão que gostaria de convocar, mais ligado à questão metodológica
do estudo mas que acaba por ter a ver com as próprias fontes, está relacionado com as dificuldades
que senti na aplicação das diferentes tipologias das fontes de informação. A tipificação de Schmitz
(2011) parece-me bastante completa, tendo em conta que existem várias escalas quando se classifica
uma fonte, e tal obriga, como é óbvio, a uma leitura cuidada aquando do seu levantamento. No
entanto, quando me surgiu um juiz como fonte numa notícia, fiquei bastante hesitante sobre que tipo
de fonte se tratava no que toca à escala da ação. Isto porque as definições do autor dos quatro tipos de
fontes dentro desta escala – proactiva, ativa, passiva e reativa – não pareciam encaixar-se na fonte.
Tive, portanto, de optar por exclusão de partes, sendo que proactiva e ativa nunca poderia ser – o juiz
não fez as suas próprias notícias – e passiva também não, dado que eu nunca o questionei na procura
de informações – no fundo, a fonte apenas estava a fazer o seu trabalho. Só pôde ser, pois, uma fonte
reativa, na medida em que detinha informação relevante e de interesse público mas agindo de forma
discreta. Este episódio ilustra a dificuldade com que os estudiosos se podem debater quando
examinam estas questões e faz-me questionar sobre se existe, de facto, uma forma geral de englobar
as fontes de informação em categorias. Elas existem, sim, e ajudam e muito no estudo das fontes,
claro, mas exigem, na minha ótica, uma constante revisão e atualização, pois podem sempre aparecer
novos tipos de fontes que desafiam o que até à altura era conhecido.
Seria interessante, no futuro, expandir este estudo, que nunca pretendeu ser generalizável,
dada a reduzida amostra, e passá-lo para a esfera do news making, não apenas da escrita de notícias,
57
mas de todos os bastidores por detrás da escrita de notícias. Isso passa por analisar o respeito pelo
Código Deontológico do Jornalista através de observação do modo como também os jornalistas
operam, para que nenhuma norma do documento escape à análise. Outra sugestão para uma
investigação futura prende-se com o facto de trazer para a análise notícias que tenham saído nos sites
dos jornais. Por outras palavras, parece-me interessante fazer uma análise deste género englobando o
jornalismo que é feito online, para se perceber se existem diferenças comparativamente ao que é feito
em imprensa escrita. Um estudo de maior envergadura, que englobe um número superior de notícias
na análise e/ou que inclua notícias de mais jornais, seria também útil para melhor se compreender
esta dinâmica e as diferenças entre o modo como se escreve notícias de crime – e, já agora, de
qualquer outro assunto e secção dos jornais – nos diversos e diferentes jornais portugueses.
58
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63
Anexos
Anexo I – Total das 20 notícias analisadas no DN.
Notícia 1 (08/10/2013)
Notícia 2 (09/10/2013)
65
Anexo II – Número e tipo de fontes de informação utilizadas nas 20 notícias do DN.
Fontes
Notícias
Número
de fontes
Tipo de fontes, de acordo com Schmitz (2011)
Categoria Grupo Ação Critério Qualificação
1 1 primária oficial ativa identificada confiável
2 0 - - - - -
3 0 - - - - -
4 1 primária oficial passiva identificada confiável
5 1 primária oficial ativa identificada confiável
6 1 primária oficial ativa identificada confiável
7 2 primária
primária
testemunhal
oficial
passiva
passiva
sigilosa
identificada
confiável
confiável
8 1 primária oficial ativa identificada confiável
9 1 primária oficial ativa sigilosa confiável
10 1 primária oficial passiva sigilosa confiável
11 1 primária oficial passiva identificada confiável
12 2 primária
primária
oficial
oficial
ativa
ativa
identificada
identificada
confiável
confiável
13 1 primária empresarial passiva identificada confiável
14 2 primária
secundária
oficial
popular
reativa
passiva
identificada
identificada
confiável
confiável
15 1 primária oficial passiva identificada confiável
16 1 primária oficial ativa identificada confiável
17 0 - - - - -
18 1 primária oficial ativa identificada confiável
19 1 primária oficial ativa identificada confiável
20 2 primária
secundária
oficial
oficial
ativa
passiva
identificada
identificada
confiável
confiável
Total: 21
75
Anexo III – Grelha de observação referente ao respeito pelas normas do Código Deontológico do
Jornalista das 20 notícias do DN.
Notícia 1
Notícia 2
Notícia 3
Notícia 4
Notícia 5
Notícia 6
Notícia 7
Notícia 8
Notícia 9
Notícia 10
1) Rigor, exatidão e honestidade
nos factos
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
2) Combater censura e
sensacionalismo
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
3) Lutar contra restrições ao
acesso à informação
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
4) Utilizar meios legais para obter
informações
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
5) Assumir responsabilidade pelos trabalhos
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
6) Identificar fontes e não revelar as
confidenciais
✓ X X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X X
7) Salvaguardar presunção de
inocência - ✓ ✓ - - ✓ - ✓ - ✓
8) Rejeitar discriminação de pessoas
- ✓ ✓ - - ✓ - ✓ - ✓
9) Respeitar privacidade
dos cidadãos - ✓ ✓ - - ✓ - ✓ ✓ ✓
10) Recusar funções que
comprometam a sua integridade
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
Notícias
Normas
77
Notícia 11
Notícia 12
Notícia 13
Notícia 14
Notícia 15
Notícia 16
Notícia 17
Notícia 18
Notícia 19
Notícia 20
1) Rigor, exatidão e honestidade
nos factos ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓ ✓
2) Combater censura e
sensacionalismo ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓ ✓
3) Lutar contra restrições ao
acesso à informação
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
4) Utilizar meios legais para obter
informações ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
5) Assumir responsabilidade pelos trabalhos
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
6) Identificar fontes e não revelar as
confidenciais
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓ ✓
7) Salvaguardar presunção de
inocência ✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ X ✓ - ✓
8) Rejeitar discriminação de pessoas
✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - ✓
9) Respeitar privacidade
dos cidadãos ✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - ✓
10) Recusar funções que
comprometam a sua integridade
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
Notícias
Normas
78
Anexo IV – Grelha de observação para a comparação das 14 notícias sobre o mesmo tema do DN e do CM (as notícias enumeradas do CM, com a nota da
respetiva notícia equivalente do DN, estão apresentadas logo a seguir da tabela).
Notícia 1 Notícia 2 Notícia 3 Notícia 4 Notícia 5 Notícia 6 Notícia 7
DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM
Elem
ento
s te
xtua
is
Pessoa conjugada
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
Número de linhas
28 24 28 55 20 32 30 12 36 66 32 28 7 61
Número de palavras
no título
10 11 10 6 7 3 8 4 7 7 8 6 11 6
Tipo de linguagem
formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal formal popular
Número de fontes
0 1 0 1 1 0 1 0 2 3 1 3 1 2
Tipo
(s) d
e fo
nte(
s)
Categoria - primária - primária primária - primária - primária primária
primária primária primária
primária primária primária primária
primária primária secun-dária
Grupo - oficial - oficial oficial - oficial - teste-
munhal oficial
teste-munhal oficial teste-
munhal
oficial
teste-munhal oficial teste-
munhal
oficial oficial
popular
Ação - reativa - reativa passiva - ativa - passiva passiva
passiva passiva passiva
ativa passiva passiva passiva
passiva passiva passiva
Notícias e jornal
Critérios de avaliação7
79
Crédito - identifi-cada
- identifi-cada
identifi-cada
- identifi-cada
- sigilosa identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
sigilosa
identifi-cada
sigilosa identifi-cada
sigilosa
identifi-cada
identifi-cada
sigilosa
Qualificação - confiável - confiável confiável - confiável - confiável confiável
confiável confiável confiável
confiável confiável confiável confiável
confiável confiável confiável
Elem
ento
s vis
uais
Secção do jornal
País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Norte País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal
Posição na página
secun-dária
secun-dária
secun-dária
desta-que
desta-que
desta-que
secun-dária
secun-dária
secundária
desta-que
secun-dária
secun-dária
secun-dária
desta-que
Presença de imagem
não sim não sim sim sim não sim não sim não sim sim sim
Relação texto-imagem
- ilustra-
ção -
ilustra-ção
retrans-missão
retrans-missão
- ilustra-
ção -
retrans-missão
- ilustra-
ção ancora-
gem retrans-missão
Códi
go D
eont
ológ
ico
1) Rigor, exatidão e honestidade
nos factos ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
2) Combater sensacionalismo
✓ X ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X
4) Utilizar meios legais para obter
informações
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
6) Identificar fontes e
não revelar as confidenciais
X ✓ X ✓ ✓ X ✓ X ✓ ✓ ✓ X ✓ ✓
80
7) Salvaguardar presunção
de inocência
✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ X - -
8) Rejeitar discriminação de pessoas
✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ ✓ - -
9) Respeitar privacidade
dos cidadãos
✓ ✓ ✓ ✓ - - - - - - ✓ ✓ ✓ ✓
81
Notícia 8 Notícia 9 Notícia 10 Notícia 11 Notícia 12 Notícia 13 Notícia 14
DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM DN CM
Elem
ento
s te
xtua
is
Pessoa conjugada
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
3.ª singular
Número de linhas
18 31 50 55 40 16 26 16 26 63 29 28 35 18
Número de palavras
no título 9 6 9 6 7 8 8 6 10 7 6 7 6 6
Tipo de linguagem
formal popular formal popular formal formal formal popular formal popular formal formal formal formal
Número de fontes
1 0 1 1 2 1 1 0 0 0 1 1 1 1
Tipo
(s) d
e fo
nte(
s)
Categoria primária - secun-dária
secun-dária
primária secun-dária
primária primária - - - primária primária primária primária
Grupo oficial - oficial oficial oficial
popular oficial oficial - - - oficial oficial oficial oficial
Ação passiva - passiva reativa reativa passiva
reativa ativa - - - ativa ativa ativa ativa
Crédito sigilosa - identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
- - - identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
identifi-cada
Notícias e jornal
Critérios de avaliação7
82
Qualificação confiável - confiável confiável confiável confiável
confiável confiável - - - confiável confiável confiável confiável
Elem
ento
s vis
uais
Secção do jornal
País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Norte País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Portugal País – Segu-rança
Norte País – Segu-rança
Portugal
Posição na página
desta-que
secun-dária
secun-dária
desta-que
secun-dária
secun-dária
secun-dária
secun-dária
secun-dária
desta-que
secun-dária
secun-dária
secun-dária
secun-dária
Presença de imagem
sim sim não sim não sim não sim não sim não sim não não
Relação texto-imagem
ilustra-ção
ilustra-ção
- ilustra-
ção -
ilustra-ção
- ilustra-
ção -
ilustra-ção
- ilustra-
ção - -
Códi
go D
eont
ológ
ico
1) Rigor, exatidão e honestidade
nos factos
✓ X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X X X ✓ ✓ ✓ ✓
2) Combater sensacionalismo
✓ X ✓ X ✓ ✓ ✓ X X X ✓ ✓ ✓ ✓
4) Utilizar meios legais para obter
informações
✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
6) Identificar fontes e
não revelar as confidenciais
X X X ✓ ✓ ✓ ✓ X X X ✓ ✓ ✓ ✓
7) Salvaguardar presunção
de inocência
✓ X ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ X X X ✓ ✓ - -
8) Rejeitar ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ - -
83
7 Esclarecimento dos critérios de avaliação
Pessoa conjugada – predominância da pessoa (primeira, segunda ou terceira) em que o texto
está escrito;
Número de linhas – total de linhas que compõem a notícia;
Número de palavras no título – extensão do título;
Número de adjetivos – quantidade de adjetivos presentes no título e no texto;
Tipo de linguagem – culta ou popular, como descrito por Cunha e Andrade (1999);
Número de fontes – total de fontes consultadas na escrita da notícia;
Tipo(s) de fonte(s) – em relação à categoria, primária ou secundária; ao grupo, oficial,
empresarial, institucional, popular, notável, testemunhal, especializada ou de referência; à ação,
proativa, ativa, passiva, reativa; ao crédito, identificada ou sigilosa; à qualificação, confiável,
fidedigna ou duvidosa, de acordo com a tipificação de Schmitz (2011);
Secção do jornal – segmento/divisão do jornal em que a notícia se encontra;
Posição na página – notícia de destaque (se ocupa a maior parte da página) ou secundária (se
estiver reservada a espaços não tão centrais);
Presença de imagem – existência ou não de uma imagem que acompanha a notícia;
Relação texto-imagem – de ancoragem, ilustração ou retransmissão (Barthes, 1964);
Rigor, exatidão e honestidade nos factos (primeira norma do Código) – presença de uma
linguagem clara e objetiva que veicule uma informação marcadamente independente de opinião
e de conjeturas;
Combater censura e sensacionalismo (segunda norma do Código) – ausência de um estilo
sensacionalista na escrita da notícia;
Utilizar meios legais para obter informações (quarta norma do Código) – informação recolhida
por meios honestos;
Identificar fontes e não revelar as confidenciais (sexta norma do Código) – quantidade de fontes
identificadas, se presentes, salvo as que são confidenciais;
Salvaguardar presunção de inocência (sétima norma do Código) – presença de elementos na
escrita que não atribuam de imediato culpa a um indivíduo sem que haja provas fundamentadas;
Rejeitar discriminação de pessoas (oitava norma do Código) – ausência de qualquer tipo de
favoritismo e/ou desvalia de pessoas com base na cor, raça, credo, nacionalidade ou sexo;
Respeitar privacidade dos cidadãos (nona norma do Código) – ausência de abuso da boa-fé dos
envolvidos.
85
Anexo V – Notícias do CM sobre o mesmo tema do DN.
Notícia 1 (equivalente a “Penas até 19 anos e meio para casal por homicídio”, do DN)
Notícia 2 (equivalente a “Acusado de abuso sexual das netas não fala em tribunal”, do DN)
87
Notícia 3 (equivalente a “Incêndio em oficina destrói dezenas de carros”, do DN)
Notícia 4 (equivalente a “GNR deteve 17 condutores em operação de fiscalização”, do DN)
88
Notícia 5 (equivalente a “Incêndio destrói prédio e obriga a hospitalização”, do DN)
Notícia 6 (equivalente a “Detido homem apanhado em flagrante a roubar sino”, do DN)
89
Notícia 8 (equivalente a “Agente da PSP suspeito de roubos em prisão domiciliária”, do DN)
Notícia 9 (equivalente a “Funcionária de Conservatória desvia 252 mil euros por amor”, do DN)
91
Notícia 10 (equivalente a “Homicida condenado a 16 anos de prisão”, do DN)
Notícia 11 (equivalente a “Detido suspeito de violação e rapto da ex-companheira”, do DN
92
Notícia 12 (equivalente a “Simulava saber de mecânica para atrair e violar as vítimas”, do DN
Notícia 13 (equivalente a “Detido grupo que abusou de menor”, do DN)
93