revoluÇÃo nacional e estratÉgia de inserÇÃo … · construção de uma economia industrial e...

36
REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO INTERNACIONAL NO SUDESTE ASIÁTICO: OS CASOS DE VIETNÃ, INDONÉSIA E MALÁSIA Bruno Magno 1 Athos Munhoz Moreira da Silva 2 Rômulo Barizon Pitt 3 Resumo O artigo propõe contribuir para uma compreensão sobre a relação entre o fenômeno da guerra e o contexto sociohistórico no qual ela ocorre. Especificamente, espera-se contribuir para o debate a partir de uma experiência distinta da ocidental e inserida no contexto dos então chamados países de Terceiro Mundo, e por isso centrada em guerras revolucionárias no século XX. Pretende-se cumprir este objetivo a partir da análise da relação entre a definição de estratégias para a construção do Estado e as transformações do Sistema Internacional ao longo do processo de descolonização do século XX em Vietnã, Indonésia e Malásia. Parte-se da hipótese de que estas estratégias foram formuladas a partir de uma agenda de Revolução Nacional. Esta agenda é resultado ainda do colapso do Sistema Tributário sinocêntrico e da inclusão do Leste Asiático dentro da lógica do sistema de produção capitalista e do Sistema Internacional Vestifaliano. Nesse sentido, a estratégia de construção de Estado e inserção internacional de China e Japão, processos iniciados ainda no século XIX, são tomados como referência pelos nascentes Estados do sudeste asiático. São centro desta estratégia: (a) consolidação de um Estado centralizado politicamente; (b) construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar, serão analisados os antecedentes históricos de Revolução Nacional e estratégias de inserção internacional de China e Japão. Esta análise será feita a partir da perspectiva de mudanças sistêmicas no século XIX e XX. A partir destes antecedentes, serão destacados os elementos que permitirão analisar os casos de relação entre Revolução Nacional e estratégia de inserção internacional de Vietnã, Malásia e Indonésia. Palavras-chave: Sudeste Asiático; Revolução Nacional; Inserção Internacional Abstract The article proposes to contribute to an understanding about the relation between the war phenomenon and the sociohistorical context in which it occurs. Specifically, it is expected to contribute to the debate from a different experience from the West and inserted in the context of the so-called Third World countries, and therefore focused on revolutionary wars in the twentieth century. The aim is to fulfill this objective by analyzing the relationship between the definition of strategies for the construction of the State and the transformations of the International System throughout the process of decolonization during twentieth century in Vietnam, Indonesia and Malaysia. It is hypothesized that these strategies were 1 Mestrando no Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS), pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected]. 2 Doutorando pelo Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS), Gerente do Instituto Confúcio na UFRGS; pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected]. 3 Doutorando pelo Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS), pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected].

Upload: others

Post on 14-Sep-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO

INTERNACIONAL NO SUDESTE ASIÁTICO: OS CASOS DE VIETNÃ,

INDONÉSIA E MALÁSIA

Bruno Magno1

Athos Munhoz Moreira da Silva2

Rômulo Barizon Pitt3

Resumo

O artigo propõe contribuir para uma compreensão sobre a relação entre o fenômeno da guerra e o

contexto sociohistórico no qual ela ocorre. Especificamente, espera-se contribuir para o debate a partir de

uma experiência distinta da ocidental e inserida no contexto dos então chamados países de Terceiro Mundo,

e por isso centrada em guerras revolucionárias no século XX. Pretende-se cumprir este objetivo a partir da

análise da relação entre a definição de estratégias para a construção do Estado e as transformações do

Sistema Internacional ao longo do processo de descolonização do século XX em Vietnã, Indonésia e

Malásia. Parte-se da hipótese de que estas estratégias foram formuladas a partir de uma agenda de

Revolução Nacional. Esta agenda é resultado ainda do colapso do Sistema Tributário sinocêntrico e da

inclusão do Leste Asiático dentro da lógica do sistema de produção capitalista e do Sistema Internacional

Vestifaliano. Nesse sentido, a estratégia de construção de Estado e inserção internacional de China e Japão,

processos iniciados ainda no século XIX, são tomados como referência pelos nascentes Estados do sudeste

asiático. São centro desta estratégia: (a) consolidação de um Estado centralizado politicamente; (b)

construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim,

em primeiro lugar, serão analisados os antecedentes históricos de Revolução Nacional e estratégias de

inserção internacional de China e Japão. Esta análise será feita a partir da perspectiva de mudanças

sistêmicas no século XIX e XX. A partir destes antecedentes, serão destacados os elementos que permitirão

analisar os casos de relação entre Revolução Nacional e estratégia de inserção internacional de Vietnã,

Malásia e Indonésia.

Palavras-chave: Sudeste Asiático; Revolução Nacional; Inserção Internacional

Abstract

The article proposes to contribute to an understanding about the relation between the war

phenomenon and the sociohistorical context in which it occurs. Specifically, it is expected to contribute to

the debate from a different experience from the West and inserted in the context of the so-called Third

World countries, and therefore focused on revolutionary wars in the twentieth century. The aim is to fulfill

this objective by analyzing the relationship between the definition of strategies for the construction of the

State and the transformations of the International System throughout the process of decolonization during

twentieth century in Vietnam, Indonesia and Malaysia. It is hypothesized that these strategies were

1 Mestrando no Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS),

pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), pesquisador associado do Núcleo

de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana

(NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected]. 2 Doutorando pelo Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS),

Gerente do Instituto Confúcio na UFRGS; pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia

(ISAPE), pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da

Universidade Federal da Integração Latino-Americana (NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected]. 3 Doutorando pelo Programa de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (PPGEEI-UFRGS),

pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), pesquisador associado do Núcleo

de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana

(NEEGI-UNILA). e-mail: [email protected].

Page 2: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

formulated from a National Revolution agenda. This agenda is also the result of the collapse of the

Sinocentric Tax System and the inclusion of East Asia within the logic of the capitalist production system

and the Westphalian International System. In this sense, the strategy of State-building and international

insertion of China and Japan, started in the nineteenth century, are taken as a reference by the nascent states

of Southeast Asia. The center of this strategy is: (a) the consolidation of a politically centralized state; (b)

building an industrial economy and (c) promoting and modernizing a national army. Thus, in the first place,

the historical antecedents of National Revolution and strategies of international insertion of China and Japan

will be analyzed. This analysis will be made from the perspective of systemic changes in century XIX and

XX. From these antecedents, the elements that will allow to analyze the cases of relation between National

Revolution and strategy of international insertion of Vietnam, Malaysia and Indonesia will be highlighted.

Keywords: Southeast Asia; National Revolution; International Insertion

Introdução

Este artigo propõe analisar as guerras de libertação de Indonésia, Malásia e Vietnã

sob uma abordagem semiperiférica. Para isto, lança-se mão de uma operacionalização do

conceito de Revolução Nacional, fundamentado na teoria do desenvolvimento e

subdesenvolvimento de Celso Furtado. Pretende-se com isto demonstrar a relação entre

os objetivos políticos daqueles Estados, sua percepção do Sistema Internacional e sua

concepção estratégico-operacional para a guerra.

Além disto, espera-se demonstrar também a relação entre subdesenvolvimento,

conforme a teoria de Furtado, e a guerra. Se em uma economia subdesenvolvida o

comportamento do Estado se caracteriza pela sua relação com o centro, os enclaves

industriais pela sua produção para o mercado externo, a defesa e a guerra também

possuem peculiaridades em países subdesenvolvidos, necessitando de uma abordagem

específica para a sua compreensão. Se a formulação de políticas econômicas não pode se

resumir a aplicação de modelos mecânicos, a política de defesa e a preparação militar

também não, necessitando de uma abordagem autóctone e independente para o seu

alinhamento com os objetivos políticos da nação.

Assim, o artigo procura colaborar para uma visão da guerra e das Relações

Internacionais menos eurocêntrica e mais adequada as perspectivas de países

semiperiféricos. Desse modo, sustenta-se neste artigo que a Revolução Nacional é

composta pelo trinômio: centralização política, industrialização e Forças Armadas

Modernas. Busca-se demonstrar isto resgatando os antecedentes desta agenda ainda no

Page 3: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

século XIX, com o avanço das potências ocidentais sobre a região a partir da guerra do

ópio (1939-1942), passando pela Restauração Meiji (paradigma de Revolução Nacional),

pela segunda guerra sino-japonesa (paradigma de uma concepção estratégica-

operacional), até as guerras de libertação do sudeste asiático.

Espera-se que este artigo represente uma primeira aproximação para a formulação

de uma agenda de pesquisa que contribua para a construção de abordagens

semiperiféricas e brasileiras para a análise de Relações Internacionais e Estudos

Estratégicos. Para a academia, parte de sua responsabilidade nesta tomada de consciência

e no auxílio de formulação de políticas públicas de desenvolvimento diz respeito ao

estímulo do trabalho teórico de natureza crítica ou criadora perseguindo formulações

independentes e autóctones que contribuam para a internalização de centros de decisão e

a sua instrumentalização para o interesse nacional (FURTADO, 1962, p. 69–71, 91, 99).

Considerando a primazia que a ‘política’ tem sobre a política econômica é essencial a

colaboração transdisciplinar na formulação de políticas de desenvolvimento, incluindo a

ciência política, a sociologia, entre outras disciplinas das humanidades e sociais aplicadas

(FURTADO, 1962, p. 91,99). É nesse sentido de colaboração transdisciplinar para a

operacionalização de conceitos de Celso Furtado para a análise da realidade e formulação

política que se propõe neste artigo a inclusão da esfera da defesa/guerra para a

compreensão da Revolução Nacional, pois a noção de desenvolvimento aglutina

disciplinas, não as compartimentaliza (FURTADO, 2013, p. 197).

Conceitos: Celso Furtado, Revolução Nacional e Guerra

Celso Furtado define o desenvolvimento industrial do centro do sistema de

produção capitalista como um fenômeno histórico autônomo circunscrito à Europa e

América do Norte e relacionado ao processo da Revolução Industrial (FURTADO, 2013,

seç. O Modelo Clássico do Desenvolvimento Industrial). Este fenômeno teria sido

resultante de uma série de ações e decisões de agentes em estruturas políticas e

econômicas, pois segundo Furtado:

“Quem decide atua em função de objetivos e exerce alguma forma de

poder. Ver os processos econômicos como cadeias de decisões, e estas como

estruturas de poder, é afastar-se dos conceitos de mecanismo e equilíbrio, que

são a essência de todo o enfoque neoclássico. Antes de estudar economia, eu

já sabia que não existe organização sem coordenação e controle, e que para que

se efetivem a coordenação e o controle é indispensável que existam centros

Page 4: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

diretores capazes de definir objetivos. Ora, por uma simples economia de

esforço, todo centro de decisão tende a aprofundar o seu horizonte temporal,

isto é, a planejar a sua ação. Dessa forma, quando se observa a economia como

uma organização, a ideia de planejamento como técnica destinada a elevar a

eficiência dos centros de decisão surge naturalmente. Por último, quem diz

planejamento diz objetivos explícitos ou implícitos. Assim, cai por terra o mito

do laissez-faire, o qual nas economias subdesenvolvidas tem servido para

sancionar e consolidar a dependência.” (FURTADO, 2013, seç. Aventuras de

um economista brasileiro)

A partir destes conceitos que Furtado elabora o conceito de Centro de Decisão e a

sua teoria do subdesenvolvimento. O Centro de Decisão diz respeito à capacidade de

articulação de um sistema produtivo em torno de interesses e valores de uma coletividade

(SARAIVA, 2015, p. 6), ou seja, a capacidade de promover decisões em estruturas de

poder de forma a atingir um objetivo de forma autônoma. Já o subdesenvolvimento seria

uma economia caracterizada por uma estrutura híbrida, parte moderna, capitalista e

industrial, parte baseada em relações arcaicas ou pré-capitalistas de produção. Nesse

sentido, o subdesenvolvimento não seria uma etapa da evolução natural do Estado ou da

economia, mas também fenômeno histórico autônomo, coetâneo ao fenômeno do

desenvolvimento, e por isso a experiência europeia do desenvolvimento não poderia se

repetir, até mesmo por que o subdesenvolvimento está relacionado à relação de

dependência com estes países, a superação do subdesenvolvimento passaria pela

capacidade de construção da própria história (FURTADO, 1968, p. 4).

A superação do subdesenvolvimento estaria ligada a internalização do centro de

decisão e sua instrumentalização para a formulação de políticas econômicas de

desenvolvimento. No exemplo brasileiro internalizou-se um centro dinâmico de produção

industrial, voltado para o mercado interno, resultante da massa salarial criada pelo ciclo

cafeeiro, da escassez gerada pela I Guerra Mundial e o subsequente período protecionista

da depressão (FURTADO, 1962, p. 109–110). Desse modo, internalizou-se um centro de

decisão, nossa produção não dependia mais das flutuações do mercado externo, estavam

voltadas para o consumo interno. Entretanto, para a superação do subdesenvolvimento

seria necessária a instrumentalização de forma consciente desse centro de decisão para a

formulação de políticas públicas que eliminassem as estruturas econômicas e políticas

pré-capitalistas e promovessem uma política de desenvolvimento reduzindo as

contradições sociais. Poder decidir não significa tudo, capacidade de decisão é causa

Page 5: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

necessária, mas não eficiente de uma política de desenvolvimento (FURTADO, 1962, p.

112).

Assim, para a formulação de uma política de desenvolvimento seria necessário a

tomada de consciência do problema do subdesenvolvimento visando criar um sistema de

instituições políticas capazes de superintender as mudanças sociais sem as quais o

desenvolvimento não seria viável (FURTADO, 1968, p. 40). Desse modo, é possível

identificar os fatores estratégicos que atuam no processo social, o que abre a porta à

política consciente de reconstrução social (FURTADO, 1962, p. 17). Entretanto, para isto

um Estado forte e soberano é essencial, na medida em que possa reverter parte do

excedente econômico na formação e modernização de uma tecnoburocracia (FURTADO,

2008, p. 202–206). Segundo Furtado:

Uma coletividade que se autogoverna e em que coexiste uma forte

aspiração de melhoria de condições de vida com a ausência de um processo

espontâneo de crescimento econômico, tenderá naturalmente a buscar um

caminho político para o seu problema de desenvolvimento e o Estado é o

instrumento de que dispõe a coletividade para atuar politicamente. Surgem,

assim, os vários enfoques do problema do desenvolvimento de um ângulo

político, os quais têm a sua expressão mais avançada nas técnicas de

planejamento (FURTADO, 1968, p. 113).

É nesse sentido que se compreende Revolução Nacional, como um esforço

direcionado para a superação do subdesenvolvimento que objetiva o desenvolvimento

industrial e tecnológico autossustentado que permita a melhoria sistemática do padrão de

vida da população (BRESSER-PEREIRA, 2014, p. 55). Se para a Revolução Nacional é

necessária uma combinação de ação consciente de um Estado centralizado e capaz com

uma base industrial assentada no mercado interno, o que garante a autonomia deste Estado

em um Sistema Internacional anárquico, além de consistir em um dos principais

instrumentos para o desenvolvimento tecnológico, é a preparação para a guerra e, em

casos extremos, a própria guerra, como abordado nos exemplos fornecidos neste artigo.

Segundo o próprio Furtado a apropriação do excedente econômico acarretou

historicamente o uso da violência (real ou virtual) levando à constituição de sistemas

políticos ou estruturas de poder (FURTADO, 2008, p. 42). Nesse sentido, o perfil das

Forças Armadas de um país, seu recrutamento, composição social, correlação entre as

forças e o grau de tecnologia empregado, possui influência considerável sobre os

processos de mudança social e de transformação do Estado (REIS, 2015, p. 13). Com o

Page 6: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

advento da Revolução Industrial esta relação se tornou ainda mais estratégica. Por um

lado a preparação militar foi utilizada como um dos instrumentos para políticas de pleno

emprego e desenvolvimento tecnológico a partir de planejamento centralizado na

burocracia estatal, como no célebre caso da Marinha Real Inglesa de fins do século XIX

e princípio do XX (MCNEILL, 1982, p. 209). Desse modo, a preparação militar se torna

uma forma de entronizar o centro de decisão de determinada tecnologia de produção,

possibilitando a formulação de um projeto nacional próprio e por conseguinte uma

inserção internacional autônoma (MARTINS, 2008, p. 8–9, 251). Por outro, gerou o

fenômeno da industrialização da guerra, agora para travar um engajamento era necessário

um gerenciamento pleno da economia industrial que permitisse a produção em massa das

tecnologias que permitissem o domínio do ar, do mar e a superioridade de poder de fogo.

Este uso da tecnologia industrial na guerra também foi responsável por aumentar a

letalidade da guerra o que requeria por parte do Estado uma grande capacidade de

mobilização nacional para recrutamento e organização logística.

Da mesma forma que a industrialização modificou o perfil da preparação militar

e a conduta da guerra em países industrializados, também apresentou suas características

específicas em países subdesenvolvidos. Segundo Clausewitz a guerra é a continuidade

do relacionamento político entre Estados por outros meios (CLAUSEWITZ, 2016, p.

11764). Nesse sentido a guerra consiste em um dos meios para se atingir os objetivos

políticos dos beligerantes, disso decorrendo a noção de que sua conduta deve condizer

com suas finalidades (CLAUSEWITZ, 2016; CORBETT, 2005; ECHEVARRYA II,

2007). Assim, apesar do combate ser o centro da teoria clausewitziana (ECHEVARRYA

II, 2007, p. 196) e nesse sentido a derrota do inimigo ser o objetivo único, há de se

diferenciar a guerra como abstração filosófica e a guerra como fenômeno que ocorre na

realidade (CLAUSEWITZ, 2016). Tanto para Clausewitz quanto para Corbett existe uma

diferenciação entre a guerra abstrata, onde se maximizariam os meios para se atingir a

derrota do adversário de forma absoluta, e a guerra real, onde os meios utilizados devem

condizer com as necessidades, limitações e objetivos políticos do Estado.

Entretanto, na análise factual, a diferenciação desses conceitos torna-se menos

clara. Se tomarmos como exemplo a Guerra do Vietnã, na perspectiva estadunidense essa

é claramente uma guerra limitada. Da perspectiva do defensor, por sua vez, estão sendo

Page 7: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

empregados todos meios e recursos disponíveis e em jogo está a sua própria existência

como entidade política, isto é, uma guerra ilimitada; mas como explicarmos dentro desse

quadro teórico a busca do impasse para a definição da guerra?

Echevarrya II (2007, p. 194) observa que Clausewitz concluiu que cada era

possuiria sua própria teoria da guerra no que diz respeito aos meios empregados para

alcançar objetivos que também variariam. Na análise que Corbett (2005, p. 13) faz de

Clausewitz, percebe-se que a teoria da guerra é vulnerável às circunstâncias se

considerada em sua forma abstrata, mas ela é universal se aplicada conforme as

circunstâncias dos eventos analisados. O próprio Clausewitz, em seu livro VIII, se

pergunta ao analisar guerras de séculos diferentes, “circunstâncias diferentes não devem

dar espaço a considerações diferentes?” (CLAUSEWITZ, 2016, p. 11269). Nesse sentido,

a teoria da guerra incentiva a sua constante revisão a partir de estudos de caso, como

propõe este projeto, ainda segundo Duarte:

“O desenvolvimento e utilidade da teoria estão atrelados à condução

de estudos de caso. Sem esses, a teoria torna-se um texto sacrossanto e

hermético, portanto pseudocientífico e sem consequências práticas positivas.

Isso marca que a teoria da guerra limitada de Clausewitz, para estar ‘viva’,

precisa estar constantemente em desenvolvimento e revisão por meio de

estudos de casos” (DUARTE, 2016, p. 122).

Desse modo, este artigo propõe uma análise da guerra, da preparação militar e da

construção do Estado a partir da realidade do subdesenvolvimento e da Revolução

Nacional. Esta perspectiva é pouco analisada no mainstream dos Estudos Estratégicos,

onde se prioriza a capacidade ofensiva e de travar a guerra a partir de uma conduta

moderna e industrial.

Antecedentes, o ingresso do Extremo Oriente no Sistema de Produção

Capitalista e no Sistema Internacional Contemporâneo

A entrada do leste asiático no Sistema Internacional vestfaliano e de produção

capitalista consistiu em um processo traumático para China e Japão. Para ambos, isto

levou ao colapso das antigas instituições econômicas e administrativas e a uma enorme

perda humana, na casa das dezenas de milhões de mortos. A consolidação da China como

Estado moderno se deu de forma especialmente traumática, com cerca de cem anos de

Page 8: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

guerras4 quase ininterruptas. Pode-se considerar como o evento marco deste processo a

primeira guerra do Ópio5.

Esse evento representou o fim do modelo do Estado tributário asiático e a entrada

da região na divisão internacional do trabalho capitalista. O resultado prático foi a

assinatura do Tratado de Nanquim. O primeiro de uma série de tratados desiguais (ou

iníquos)6, ele garantia: o direito de extraterritorialidade a cidadãos britânicos, a concessão

de direito exclusivo de comércio em uma série de portos e o estabelecimento de áreas

para moradia de cidadão britânicos nesses portos, além da cessão do território de Hong

Kong a Londres por tempo indeterminado. Este foi o método padrão pelo qual todas as

grandes potências buscaram adquirir mercados exclusivos no extremo oriente.

É de suma importância, neste momento, lembrar-se das grandes transformações

que ocorriam no contexto internacional do período. O núcleo do sistema capitalista

passava por um período de transição tecnológica provocada pela maturação da Primeira

Revolução Industrial. O Reino Unido consolidava sua posição como líder do Sistema

Internacional após a vitória decisiva sobre o desafio napoleônico e agora precisava

assegurar o monopólio de novos mercados e de fontes de matéria-prima para a sua

crescente indústria.

O leste asiático, em grande parte devido ao poderio da China, manteve-se à

margem do sistema europeu até aquele momento. Tanto na China quanto no Japão

vigoravam políticas econômicas e externas isolacionistas. Entretanto, a partir da

4 Dentre as principais conflagrações se pode citar a Primeira Guerra do Ópio (1839–1842) Rebelião de

Taiping (1850–1864); a Segunda Guerra do Ópio (1856–1860); a Guerra Franco-Chinesa (18841885);

a Primeira Guerra Sino-Japonesa (18941895), a Rebelião dos Boxers (1899–1901) a Revolução Xinhai

(1911), Expedição do Norte (1927–1929), Guerra da Planície Central (1930) 1ª etapa da Guerra Civil

Chinesa (1927–1936), Guerra Civil Manchu (1931–1932), 2ª Guerra Sino-japonesa (1937–1945), 2ª

etapa da Civil Chinesa (1946–1949). 5 A primeira Guerra do Ópio (18391842), ocorrida entre o Reino Unido e a China Qing, teve como

principal motivação o comércio de ópio na China. O império chinês havia proibido a comercialização desse

produto em seu território, que para o Reino Unido e suas companhias de comércio, representava boa parte

dos lucros que extraíam da região. O resultado foi uma guerra que durou quase três anos e meio e que

envolveu, do lado chinês, 200 mil homens, enquanto do lado britânico, cerca de 19 mil homens. Enquanto

as baixas do lado britânico foram de cerca de 500 homens, do lado chinês chegaram a 20 mil (MARTIN,

1847, p. 81). O império mais rico e o país mais populoso do mundo havia sido derrotado (THOMPSON,

2012; ZHU, 2012). 6 Os tratados desiguais ou iníquos possuíam quatro características principais: a) abertura dos portos; b)

extraterritorialidade; c) tarifas externas fixadas por tratado e d) cláusula de nação mais favorecida, que

garantia que todas as vantagens garantidas as potências signatárias dos tratados deveriam ser

automaticamente concedidas às demais potências que viessem a assinar novos tratados (ROBERTS,

2011, p. 196).

Page 9: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

Revolução Industrial, os países europeus passaram a buscar na região não mais somente

artigos de luxo e temperos para comerciar, mas principalmente a extração de matérias-

primas de forma extensiva e a consolidação de novos mercados consumidores para seus

produtos industrializados.

O processo de abertura que se deu no Japão foi semelhante ao que ocorreu com a

China. Em 1853, o Comodoro da Marinha estadunidense, Matthew Perry, desembarcou

próximo a Tóquio com a missão de firmar um Tratado de Amizade e Comércio com as

autoridades japonesas. O resultado foi a desagregação do sistema político, econômico e

social vigente. Assim foi assinado o primeiro tratado iníquo do Japão com uma grande

potência, o Tratado de Kanagawa, estopim do processo que, após cerca de 50 anos,

representaria a superação de sua relação de dependência com o centro do sistema, o

advento de uma política de desenvolvimento e a consequente Revolução Nacional.

O resultado imediato da abertura japonesa foi a deflagração de uma guerra civil,

conhecida como guerra Boshin, e a derrubada do xogunato, dando início ao processo

conhecido como Restauração Meiji em 1868. Sob o slogan “reverenciar o Imperador e

expulsar os bárbaros”, os restauradores perseguiam a reversão dos tratados iníquos

assinados com as potências ocidentais e a devolução dos poderes concedidos ao Xogum

ao Imperador (MAGNO, 2015, p. 26). Verifica-se por este slogan um esforço político

consciente para a eliminação de estruturas econômicas e políticas pré-capitalistas,

objetiva-se um Estado centralizado em uma monarquia constitucional, uma economia

industrializada e um exército forte como forma de encerrar a relação de dependência com

o ocidente e recuperar a autonomia nacional.

Apesar da ideologia antiocidental dos samurais revoltosos, ou Genro7, ou sua

vitória só foi possível através do intercâmbio que seus clãs tiveram com países do

ocidente (HALL, 1985, p. 240). Dessa forma, nesses feudos, técnicas capitalistas de

produção já haviam começado a ser implantadas (NAKAMURA, 1962, p. 29). Além disto,

foi criado um exército profissional formado por camponeses. Neste ponto pode-se

observar como o Japão se enquadra na caracterização de subdesenvolvimento de Furtado,

7 “Genro” é designação usada no Japão para os samurais que promoveram a restauração Meiji. A

literatura anglo-saxônica traduz a expressão como “oligarcas”. Contudo, entre nós, o termo oligarca é

utilizado usualmente para designar a classe dos latifundiários, cujo poder depende do controle de

recursos naturais e mão de obra. No Japão o que mais se aproxima disto são os Daimios, justamente

contra os quais se levantaram os genro, portanto, “oligarca” induz a erro de interpretação.

Page 10: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

com o hibridismo ou sobreposição estrutural entre formas de produção capitalistas e pré-

capitalistas, ou arcaicas (FURTADO, 2013, p. 128–129).

É justamente essa contradição que permitiu a internalização de um centro

dinâmico econômico com o seu próprio centro de decisão, capaz, através de uma política

econômica consciente de desenvolvimento, tornar o Japão um país industrial

desenvolvido. Assim, após a tomada do poder, os Genro iniciaram o seu próprio programa

de reformas, inspirados pelo slogan “enriquecer a nação e fortalecer as Forças Armadas”

(Fukoku Kyouhei) baseado em três princípios: (1) centralização política e administrativa,

(2) constituição de uma economia industrial e (3) formação de forças armadas modernas

baseadas no sistema de conscrição. Dessa forma, os líderes do governo Meiji esperavam

cumprir a promessa da Restauração, elevar o Japão à condição de par das demais

potências ocidentais revendo todos os tratados iníquos (NAKAMURA, 1962, p. 78–79).

Eliminaram-se as estruturas arcaicas com a abolição das castas e dos privilégios dos

samurais, instituição de uma reforma agrária e a constituição de indústrias estatais,

posteriormente vendidas a título de reparação aos antigos daimios (conhecido como

zaibatsu), e a instituição de uma monarquia constitucional.

Já consolidação das novas forças armadas modernas japonesas teve como marco

guerra russo-japonesa (1905). Nela, a mobilização da indústria para suprir o esforço de

guerra japonês e sua consequente vitória, não só provaram o sucesso do modelo do

zaibatsu como promoveram sua expansão, a consciência de classe na burguesia japonesa

e sua articulação estreita com o governo e objetivos nacionais (NAKAMURA, 1962, p.

104). A vitória japonesa teve dois principais resultados: (1) a garantia dos recursos

necessários para a expansão e consolidação de sua economia industrial, através do

estabelecimento de sua zona de influência exclusiva sobre a Manchúria e (2) elevou o

Japão ao status de grande potência, entrando para a história como a primeira nação

asiática a vencer uma potência europeia.

Dessa forma, após cerca de 50 anos, cumpriu-se o proposto na Restauração Meiji:

industrializou-se o país, elevou-se o Japão à condição de par perante as demais grandes

potências e constituiu-se forças armadas capazes de garantir os seus interesses na região

e perante o Sistema Internacional. O Japão, ao contrário da China Qing, havia conquistado

sua Revolução Nacional: havia internalizado os seus Centros de Decisão através de uma

Page 11: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

economia industrial consolidada por um sistema de manufaturas próprio e original, o

zaibatsu, da centralização administrativa e de forças armadas fortes o suficiente para

proteger as conquistas anteriores e garantirem os seus interesses no meio internacional.

Por estes motivos, Celso Furtado tem a Restauração Meiji como referência de política de

desenvolvimento bem-sucedida (FURTADO, 1962, p. 9, 2013, p. 220–221). Apesar da

análise de Furtado ter pouco abordado a esfera militar do fenômeno, verifica-se que a

própria implantação de políticas de desenvolvimento no caso do Japão levou em conta a

modernização militar e a preparação para a guerra.

Na China, a erosão dos sistemas vigentes trouxe a ideia de que era necessário

modernizar o Estado chinês, passando por certo grau de ocidentalização de seus costumes

e instituições. A ideia começou a se tornar lugar-comum entre diferentes elites intelectuais

chinesas e, por fim, para a própria dinastia Manchu.

Entre 1850 e 1873 uma série de revoltas assolou a China, quase todas

questionando as instituições e a autoridade da corte de Pequim. A principal delas foi a

Revolução Taiping (18501864). Movimento de cunho cristão e milenarista, propunha

uma série de reformas às instituições do período, incluindo reforma agrária, exército

baseado no sistema de conscrição, reformas econômicas, mudanças no sistema de

concursos públicos, entre outros. A Revolução Taiping só foi debelada após a criação de

um sistema de exércitos locais, origem dos Senhores da Guerra, e com o apoio britânico.

Embora derrotados, os Taiping colocaram em evidência uma agenda que viria a pautar as

iniciativas de reforma do Estado chinês até a queda do Império em 1911, mais

especificamente em três momentos: a Campanha do Autofortalecimento (1860), a

Reforma dos Cem Dias (1898) e as Reformas Tardias (1901), as duas últimas já inspiradas

pelo sucesso da Restauração Meiji (MAGNO, 2015, p. 22). Contudo, a criação dos

exércitos provinciais, as divisões dentro da própria corte, as pressões das potências

ocidentais por mais direitos exclusivos, desestruturaram e fragilizaram o governo central,

por fim provocando o fracasso destas iniciativas.

Três classes proeminentes consolidaram-se no decorrer do século XIX e tornaram-

se as principais forças sociais na derrocada da Dinastia Qing e no período Republicano:

os senhores da guerra (originários da repressão às rebeliões de meados do século XIX), a

nova elite intelectual (resultante do novo sistema de ensino ocidental) e a “burguesia

Page 12: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

compradora” 8 , composta por mercadores e banqueiros ligados ao comércio com as

potências ocidentais. A correlação de forças entre essas três classes definiu a dinâmica

política chinesa em seu primeiro período republicano. Elas convergiam na sua oposição

à dinastia vigente: a instituição de um moderno exército nacional desagradou às milícias

regionais, os intelectuais identificavam nos manchus uma das forças estrangeiras que

ocupavam a China e a “burguesia compradora” não se interessava por reformas que

fortalecessem o Estado chinês (MAGNO, 2015, p. 24).

Dessa forma, o Império Qing é derrubado e a República é proclamada em 1911.

O resultado foi a criação de um grande vácuo de poder e a incapacidade de Pequim de

impor o governo sobre as províncias chinesas, que passaram a ser governadas pelos

potentados criados ainda à época da Revolução Taiping, inaugurando a era dos senhores

da guerra.

Apesar do período dos senhores da guerra ser considerado uma etapa sombria da

história chinesa, Roberts (2011, p. 246) argumenta que existem alguns pontos positivos a

serem destacados. As exportações e o número de indústrias modernas aumentaram

durante a Primeira Guerra Mundial e a produção industrial aumentou 300% entre os anos

de 1916 e 1918 (ROBERTS, 2011, p. 246). Entretanto, esse resultado econômico positivo

ainda estava ligado aos interesses das economias de enclave existentes nas concessões e

zonas de influência das grandes potências estabelecidas na China. O Estado chinês ainda

carecia de seu próprio centro de decisão e de uma indústria ou burguesia ligada aos

interesses nacionais. Carecia também de um exército nacional, que só seria reestabelecido

através da cooptação dos Senhores da Guerra.

Assim, em 1928, Jiang Jieshi (Chiang Kai-shek) logrou acabar com a Era dos

Senhores da Guerra, seja pela vitória militar na Expedição do Norte, seja integrando

lideranças regionais como generais de seu exército. Assim, a República da China foi

reunificada e a capital foi transferida para Nanquim, base do poder do GMD

(Guomindang/Kuomintang), iniciando o período histórico que é conhecido como a

Década de Nanquim. A Expedição do Norte, apesar da terminologia, consistiu em uma

8 O termo comprador na China Qing era ligado aos comerciantes e bancos que negociavam com as

potências ocidentais. Mao Zedong utilizaria amplamente o termo burguesia compradora para designar

a grande burguesia chinesa, avessa aos interesses nacionais e agentes aliados das forças imperialistas na

China, em oposição à burguesia nacional.

Page 13: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

campanha militar de grandes proporções, envolvendo mais de um milhão de combatentes,

estendendo-se pela maior parte do território chinês, causou um número desconhecido de

baixas civis e militares e resultou na Grande Fome de 1927 que matou de 3 a 6 milhões

de civis. O seu objetivo declarado era a reconquista do governo do país por parte do GMD

e o objetivo não declarado era a definição pela liderança do partido e a base de alianças

do futuro governo.

Não há consenso sobre o resultado econômico da Década de Nanquim. Há quem

defenda que houve estagnação completa da economia no período e há quem defenda que

o produto da economia cresceu ao mesmo ritmo que o Japão na época. Entretanto, há

unanimidade em alguns pontos. Nesse período houve grande aumento de gastos com as

forças armadas, perfazendo 78% da renda nacional chinesa (PAINE, 2012, p. 51–52) —

a China voltou a possuir um exército nacional e as escaramuças com japoneses e

comunistas precisavam ser custeadas —, e grande ampliação da infraestrutura do país.

Durante essa década foram construídos 8 mil quilômetros de linhas férreas, 51 mil

quilômetros de rodovias e, ao eclodir da guerra, mais 10 mil quilômetros ainda estavam

em construção (ROBERTS, 2011, p. 258). No entanto, havia contradições nesse

desenvolvimento. O abismo econômico entre os camponeses e a população urbana

aumentou durante o período, em parte devido ao comprometimento de Jiang com os

antigos senhores da guerra (o que crescentemente aumentava a popularidade do PCCh no

campo, em detrimento do apoio a Jiang). Além disso, mais da metade do investimento

em linhas férreas foi promovido por japoneses na Manchúria, que ao fim da década de

Nanquim foi ocupada pelo Japão (ROBERTS, 2011, p. 259). Ao mesmo tempo, o governo

do GMD tentou assentar as bases para a construção do Estado chinês a partir de um

exército nacional, entretanto o custeio de suas campanhas e posteriormente a guerra

contra o Japão impediram a consolidação de uma indústria e burguesia nacionais e um

centro de decisão autônomo (MAGNO, 2015, p. 41).

Os diferentes momentos deste processo possuíam um objetivo comum: criar os

meios para que a China pudesse se desfazer dos tratados injustos e permitir o

desenvolvimento econômico e inserção internacional de forma autônoma (MAGNO,

2015, p. 25–26). Para atingir estes objetivos a prioridade do GMD era a consolidação da

Page 14: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

centralização chinesa sob sua égide e nisso os comunistas representavam os seus

principais adversários9.

Enquanto o Japão deparava-se com um dilema: manter sua política de

desenvolvimento e se consolidar como o líder da Ásia, seja por defender parcerias em

termos iguais com os países da região, seja por uma política expansionista (TOGO, 2005,

p. 9–10). No contexto do Grande Terremoto de Tóquio, da Grande Depressão, combinado

a uma série de debilidades institucionais, incluindo a autonomia das Forças Armadas

perante o governo civil, o Japão acabou optando pela segunda opção, iniciando uma

guerra total de agressão contra a China.

Assim, em 7 de julho de 1937 teve início a segunda guerra sino-japonesa, também

conhecida como Guerra de Resistência na China, parte da segunda guerra mundial na

Ásia. Para a China esta guerra estava dentro do contexto de uma agenda de unificação

nacional, militar, política e economicamente, a sua execução só poderia ser levada a cabo

se resistisse ao domínio e agressão imperialista japonesa. Por esta perspectiva, pode-se

considerar esta a primeira guerra de libertação nacional do século XX, uma mobilização

total dos recursos materiais, políticos e humanos em prol da autodeterminação e da

extinção de uma relação de dependência colonial imposta a força.

Revolução Nacional e o fenômeno da guerra

Assim como na esfera política e econômica o fenômeno da Revolução Industrial

produziu no Sistema Internacional a relação de dependência entre centro e periferia e a

dicotomia entre desenvolvimento e subdesenvolvimento, na esfera militar temos o

advento da guerra industrial por um lado e, por outro, a guerra popular. Apesar dessa

relação ser amplamente estudada na esfera política e econômica, na esfera militar não o

é. Nesse sentido, os Estudos Estratégicos e o estudo da guerra em geral, acabam por deixar

uma grande lacuna, estuda-se a guerra e tem-se como referência, mormente as

experiências de países desenvolvidos do centro do Sistema e acaba-se por gerar distorções

no estudo de conflagrações que não envolvem estes países, ou em que eles constituam a

força predominantemente ofensiva. Como é o caso da Segunda Guerra Sino-Japonesa, se

9 O PCCh foi a última força a reconhecer a liderança de Jiang Jieshi, que via neles a principal ameaça para

sua consolidação, mormente por também perseguirem os mesmos objetivos, porém sobre um ideologia

radicalmente oposta (PEATTIE, M. R., 2011, p. 64, 77).

Page 15: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

não é relegada a um segundo plano dentro do contexto geral da segunda guerra mundial

na Ásia, é, em suas campanhas, categorizada como apenas uma guerra de guerrilha, como

no livro de referência sobre guerra terrestre “On Infantary” de John English e Bruce

Gudmunsson (1994)10. Na segunda guerra sino-japonesa os chineses lutaram, segundo

seus próprios registros, em 23 campanhas, 1.117 grandes batalhas e 38.931 engajamentos

menores com um Exército composto, no início das hostilidades, de 191 divisões e 52

brigadas independentes de infantaria (VEN, VAN DE, 2003, p. 210), em uma de suas

maiores campanhas, a Batalha de Shanghai, engajaram ao longo de três meses 750 mil

chineses e 250 mil japoneses (YANG, 2011, p. 143), perfazendo ao final cerca de 200 mil

baixas do lado chinês e 40 mil do lado japonês (HARMSEN, 2013, cap. 9; YANG, 2011,

p. 154), a campanha mais sangrenta da Ásia desde a guerra russo-japonesa e um

engajamento urbano talvez apenas comparável na segunda guerra mundial com

Stalingrado (HARMSEN, 2013, cap. Prologue), como caracterizar isto como guerrilha?

Apesar de possuir um relevante componente de guerrilha, a segunda guerra sino-

japonesa foi uma confrontação travada principalmente entre forças convencionais.

Entretanto, a conflagração foi marcada pela enorme disparidade tecnológica e econômica

entre os adversários, o que permitiu o Japão a travar a guerra industrial, enquanto a China

necessitou elaborar uma nova concepção operacional com o objetivo de não só defender

sua Revolução Nacional, mas também garantir a continuidade de sua própria existência

como uma entidade política autônoma.

A solução encontrada foi baseada no conceito da guerra prolongada ou chijiu zhan,

discussões sobre a sua aplicação em uma guerra contra o Japão datam ainda da década de

1910, Jiang Baili intelectual militar já propunha em suas obras que a China deveria

sustentar a sua linha de defesa a oeste de Wuhan e se utilizar do vasto território e

população como forma de minar a força japonesa com o tempo e evitar o desejo japonês

de uma vitória rápida e decisiva (CHANG, 2011, p. 85). E este foi o conceito operacional

utilizado por Jiang Jieshi na ausência de superioridade aérea e naval para se contrapor as

10 Em seu capítulo 8, que trata sobre infantaria e guerra terrestre no século XX na Ásia, a obra On Infantary

categoriza o confronto entre japoneses e chineses como uma grande guerra de guerrilha e, por este motivo,

se abstém de analisar a infantaria chinesa na segunda guerra mundial e apenas realiza a análise de

estadunidenses, britânicos e japoneses nas campanhas da Birmânia e Pacífico (ENGLISH;

GUDMUNSSON, 1994, cap. 8).

Page 16: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

forças mecanizadas e a mobilidade japonesa que buscavam um confronto decisivo.

Através de uma guerra defensiva e de atrito a China se utilizou de grandes contingentes

para fustigar as forças japonesas em grandes batalhas mas evitando o confronto decisivo,

cedendo terreno e estendendo as linhas de comunicação japonesas e mantendo a

indefinição da guerra até a exaustão do inimigo e simultaneamente buscando vitórias

políticas fora do campo de batalha. Esse padrão irá se repetir ao longo do século XX nas

guerras de libertação nacional, especialmente na Ásia (MACKINNON, 2011, p. 184).

A historiografia ocidental e os Estudos Estratégicos tradicionalmente tem

relegado esta confrontação a uma página de rodapé da história, interpretando a estratégia

e as operações chinesas como um sinal de fraqueza e atraso, por sua falha em reproduzir

a conduta moderna industrial e ofensiva da guerra (VEN, 2011, p. 450,452). Entretanto,

esta foi uma estratégia consciente e planejada a partir das condições chinesas do período,

onde estruturas arcaicas pré-capitalistas conviviam com um Estado que buscava a

centralização e modernização, que permitiram a mobilização de um grande contingente e

do Estado para uma guerra total, mas que não possuía uma base industrial para garantir

os meios modernos de travar uma guerra ofensiva ou buscar o contra-ataque e uma batalha

decisiva um modelo híbrido de conduta da guerra que reflete o hibridismo estrutural e

econômico de um país subdesenvolvido.

Apesar do sucesso do esforço de guerra nacionalista, o enfraquecimento

provocado pelos anos de guerra total prolongada (1937-1945), abriu espaço para a

expansão das forças comunistas que rapidamente ocuparam os territórios abandonados

pelos japoneses, dando prosseguimento à guerra civil chinesa. Não obstante a vitória do

PCCh, a agenda de revolução nacional permaneceu e às lições da segunda guerra sino-

japonesa foram incorporadas à sua doutrina. Esta experiência agora seria difundida pela

região no período dos processos de libertação nacional na Ásia.

A Luta de Libertação Nacional e a Revolução Nacional no Vietnã

O Vietnã foi diretamente impactado pela presença do colonialismo no final do

século XIX e na primeira metade do século XX. Esta seção tem por objetivo recontar a

luta vietnamita pela libertação nacional e a construção de um estado nacional autônomo

Page 17: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

partindo de uma condição de exploração colonial, subdesenvolvimento e da divisão

ideológica do sistema internacional, com a Guerra Fria.

A luta durou aproximadamente trinta anos e consistiu de dois confrontos

principais, contra França e Estados Unidos - os últimos lutando em defesa do Vietnã do

Sul. O padrão da guerra de Independência contra os franceses grosso modo se repetiu na

guerra contra os estadunidenses. Foi um modo de lutar baseado na total mobilização

nacional dos recursos e dos cidadãos, da utilização das condições geográficas - como a

existência de cavernas e da floresta tropical - e da engenharia e da combinação das forças

armadas regulares com as guerrilhas, com o objetivo de provocar o impasse, o

esgotamento e quebrar a vontade de lutar do oponente, levando-o à mesa de negociações.

Era a forma pela qual o Vietnã, inferior aos oponentes em termos de tecnologia e do

volume de recursos à disposição, poderia vencer franceses e estadunidenses. A vitória no

campo de batalha parecia improvável, mas se constatou que não era necessário vencer

para alcançar o objetivo político: bastava impedir o adversário de vencer (CURREY, 2002,

p. 235).

A partir da década de 1850, o Vietnã passou a ser atacado pelos franceses. A

França buscava se inserir na região em um contexto de aumento da competição com a

Grã-Bretanha e posteriormente a Alemanha, os Estados Unidos, a Rússia e o Japão. Nas

décadas seguintes, os franceses impuseram tratados de concessão territorial que

transformaram o Vietnã em uma colônia francesa e, associada ao Laos e ao Camboja, na

União Indochinesa.

Os franceses construíram um núcleo capitalista, com agricultura de exportação e

implantação de seringais, utilizando-se da mão de obra local e construindo infraestrutura

voltada a essas atividades econômicas (VISENTINI, 2013). Esse núcleo, entretanto,

redirecionava recursos do território vietnamita para o desenvolvimento francês, enquanto

coexistia no Vietnã uma economia pré-capitalista, em torno da qual vivia uma população

cada vez mais pobre.

O surgimento de forças nacionalistas vietnamita se deu entre o final do século XIX

e o início do século XX, inspirado pelo exemplo do Japão - símbolo da modernização

ocidentalizante e, ao mesmo tempo, da luta contra os ocidentais - e pela luta dos

nacionalistas chineses. Nessa época, o nacionalismo vietnamita buscava expulsar os

Page 18: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

franceses, mas restaurar a monarquia nativa, inspirados por Japão e China (TARLING,

2004).

O movimento nacionalista de fato surgiu apenas após a Primeira Guerra Mundial.

Em 1927, surgiu o Partido Nacionalista do Vietnã, baseado no modelo do Kuomintang e

de Sun Yat-Sen: buscar primeiramente a conquista militar do território, seguida de

tutelagem política e, por fim, a constituição de um governo constitucional (TARLING,

2004, p. 105). Nesse período despontou também Ho Chi Minh. Ele vivia na França,

quando ingressou nos movimentos operários de esquerda franceses. Aderiu

posteriormente ao Komintern, por ver no comunismo soviético uma posição política mais

vigorosa contra a colonização e a favor dos movimentos nacionalistas (TARLING, 2004;

VISENTINI, 2013). Em 1930, fundou o Partido Comunista da Indochina e em 1941, a

Liga pela Independência do Vietnã, ou Viet Minh.

A Segunda Guerra Mundial modificou a situação do Vietnã. Com a invasão da

França pela Alemanha, o controle francês sobre o Vietnã se enfraqueceu. O Japão

aproveitou-se e ocupou o Vietnã, em sua estratégia de expansão para o Sudeste Asiático.

Apesar das tentativas, o Viet Minh não recebeu apoio do Kuomintang chinês nem dos

Estados Unidos e não pode fazer frente aos japoneses (VISENTINI, 2013). A capitulação

do Japão, poucos meses depois, abriu espaço para a ascensão do Viet Minh, que buscou

conquistar as principais cidades antes que as forças francesas pudessem retomar o

controle do país (TARLING, 2004, p. 121).

Apesar de proclamar a independência e a República Democrática do Vietnã, em

setembro de 1945, o Viet Minh teve de lidar com forças estrangeiras: o Kuomintang ao

norte, os britânicos ao sul e os legionários franceses nas principais cidades portuárias, sob

o argumento de desarmar os japoneses e retomar o controle do país (CURREY, 2002, p.

182; 188).

Após a chegada das forças francesas ao Vietnã, as animosidades entre o Vietminh

e os franceses aumentaram progressivamente. Apesar das tentativas de negociação,

cresciam as possibilidades de confrontação, o que fez os vietnamitas ampliarem os

esforços de preparação para um conflito. Para o General Vo Nguyen Giap, Comandante

das Forças Armadas da RDV, “qualquer conflito desse tipo seria longo; na verdade, uma

única guerra prolongada possibilitaria as condições necessárias para uma vitória vietminh.

Page 19: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

Nenhum dos contendores seria capaz de terminar a luta com um golpe preventivo.”

(CURREY, 2002, p. 222). Giap tinha razão, pois a guerra estendeu por oito anos, até 1954.

Inicialmente, de 1946 a 1949, os franceses partiram para a ofensiva buscando uma

rápida vitória, enquanto o Viet Minh, ciente da superioridade francesa, buscou evitar o

confronto direto, recuando e construindo bases na retaguarda, estendendo a linha de

comunicações e suprimentos dos franceses. Durante um período de virtual trégua, entre

1948 e 1950, os norte-vietnamitas ampliaram e treinaram adequadamente uma força

regular de soldados. Para isso, tiveram apoio dos comunistas chineses, que fizeram a

revolução em 1949. Além disso, aprofundaram o trabalho de mobilização nacional, da

população e dos recursos, criando uma estrutura estatal (CURREY, 2002).

A partir de 1950, o Viet Minh adotou a guerra móvel, intercalando ofensivas e

movimentos diversionários. A decisão da guerra se deu na Batalha de Dien Bien Phu, no

início de 1954, quando os franceses buscaram atrair os norte-vietnamitas para uma batalha

decisiva junto à fronteira com o Laos, em que acreditavam que teriam vantagem de

recursos humanos e materiais. Foram, entretanto, surpreendidos. A batalha retratou a

evolução das forças regulares norte-vietnamitas no decorrer da guerra, com perfeita

execução da logística, por meio dos carregadores; mobilização de tropas e recursos;

utilização do terreno e uso da artilharia para negar aos franceses o uso de seu aeródromo

(CURREY, 2002; WINDROW, 1998). O Viet Minh mobilizou e forneceu suprimento a

50.000 tropas, cercou as forças inimigas e sustentou uma batalha de atrito, surpreendendo

os franceses, esgotando suas forças e vencendo a batalha (CURREY, 2002). Segundo

Giap, “nós seguimos estritamente o princípio fundamental da condução da guerra

revolucionária: atacar para vencer, atacar apenas quando o sucesso é certo; se não for,

então não ataque” (GIAP, 1961, p. 86, tradução nossa).

A vitória norte-vietnamita em Dien Bien Phu ocorreu pouco antes da Conferência

de Genebra, cujos temas seriam as situações da Península Coreana e da Indochina. Com

a vantagem militar obtida pelos norte-vietnamitas, o acordo resultante estabeleceu que os

franceses sairiam do Vietnã. Entretanto, o território entre Norte e Sul - cujo governo local

fora reconstituído e posto sob a liderança do ex-imperador Bao Dai - no paralelo 17º N,

de modo que o país deveria ser reunificado após eleições em 1956. À medida que os

franceses perderam força, os Estados Unidos envolveram-se cada vez mais no Vietnã.

Page 20: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

Primeiramente, apoiaram o esforço de guerra francês com dinheiro, armamentos e

veículos militares. Com a saída dos franceses, passaram a apoiar o Vietnã do Sul

(CURREY, 2002; TAYLOR & BOTEA, 2008; VISENTINI, 2013).

Em 1955, Ngo Dinh Diem, assumiu a Presidência do Vietnã do Sul,

desconstituindo o imperador Bao Dai, e no ano seguinte sabotou as eleições, consolidando

a divisão entre Sul e Norte. Apesar dessa demonstração de força, o novo presidente não

conseguiria manter controle absoluto sobre o território sul vietnamita, tampouco

conseguiria construir uma estrutura estatal e militar forte e coesa, ao menos não com a

mesma competência com que fez o norte.

A presença da Frente para a Libertação Nacional do Vietnã do Sul (FLN) tornou-

se uma grande ameaça ao governo do Sul. Fundada em 1954, com apoio do Vietnã do

Norte, passou a controlar grande parte do território do Sul, aproveitando-se da crescente

insatisfação com o governo de Diem. Até a escalada estadunidense, entretanto, no início

da década de 1960, os vietcongues, como viriam a ser chamados pelos estadunidenses,

atuavam de forma autônoma, com pouco apoio do Norte (VISENTINI, 2013).

Após o assassinato de Diem, em 1963, os Estados Unidos envolveram-se então

diretamente no conflito. O estopim foi o incidente do Tonkin, em 1964. Com isso, os

EUA deram início à Operação Rolling Thunder, com bombardeios estratégicos no Norte,

e enviaram tropas para confronto direto e missões de “busca e destruição” das forças

comunistas (WIEST, 2003).

No embate direto, os estadunidenses responderam à mobilidade e ao uso do

terreno pelos norte-vietnamitas com o uso dos helicópteros, da artilharia e do apoio aéreo.

Dessa forma, conseguiram vitórias táticas, tanto no norte quanto no sul. Entretanto,

estadunidenses e sul vietnamitas priorizaram a eliminação das forças inimigas e não a

ocupação do território, o que possibilitava sua reocupação pelos norte-vietnamitas e pelos

vietcongues (WIEST, 2003).

Já as forças norte-vietnamitas e os vietcongues buscavam manter a iniciativa e

lutavam apenas quando podiam manter o atrito. Quando percebiam que suas perdas eram

maiores que o aceitável, retiravam-se do campo de batalha para santuários, inclusive no

Laos e no Camboja, onde reorganizavam suas forças. Apesar da desvantagem inicial

contra os estadunidenses, os norte-vietnamitas equilibraram o embate, atraindo as forças

Page 21: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

inimigas para combates próximos, tornando-as vulneráveis. Para manter a coordenação

com os esforços dos vietcongs no sul, o norte mantinha comunicação e rota de

suprimentos pela Trilha Ho Chi Minh, que cruzava o Laos e o Camboja (WIEST, 2003;

CURREY, 2002).

A Ofensiva do Tet, no início de 1968, foi o divisor de águas do conflito. Forças

norte-vietnamitas e vietcongues atacaram alvos estratégicos nos principais centros

urbanos do Sul, acreditando que o sucesso da ofensiva ressaltaria a fragilidade do governo

sul vietnamita e levaria à insurreição popular em favor dos comunistas. A ofensiva foi um

fracasso tático: das 80.000 tropas, os comunistas perderam 58.000, praticamente

dizimando os vietcongs; não ocuparam nenhum território relevante e ainda perderam

territórios; e tiveram de retirar-se para os santuários para se reagrupar (WIEST, 2003).

Estrategicamente, porém, o resultado foi inverso: ao atacar as principais posições

dos sul-vietnamitas e estadunidenses, provocou a desconfiança da população

estadunidense em seu governo e sobre as chances de vitória no Vietnã. O presidente

Johnson desistiria da reeleição, a operação Rolling Thunder seria encerrada e teriam início

as negociações de Paris (WIEST, 2003; CURREY, 2002).

A eleição do republicano Nixon manifestou a intenção dos EUA de sair do conflito,

promovendo a “vietnamização”: além da redução de tropas, os estadunidenses lançaram

bombardeios aos santuários norte-vietnamitas no Camboja, combinados a ataques sul-

vietnamitas por terra, para enfraquecer o inimigo e criar condições para negociações. Esse

padrão se repetiria em 1972. Os dois lados tinham como objetivo melhorar suas condições

para as negociações de Paris. Os norte-vietnamitas lançaram a ofensiva da Páscoa contra

o Sul. Os EUA revidaram com a operação Linebacker, que interditou as linhas de

suprimento do Vietnã do Norte. Os norte-vietnamitas perderam 100.000 tropas e voltaram

às negociações (WIEST, 2003).

As negociações foram pautadas pela pressa dos Estados Unidos em encontrar uma

saída do conflito, de modo que concederam que a retirada estadunidense poderia ocorrer

mediante um cessar-fogo, sem a necessidade de retirada norte-vietnamita do território do

Sul, enquanto os norte-vietnamitas aceitariam a existência do governo do Sul apoiado

pelos EUA. Apesar da recusa inicial do Sul a esses termos, todas as partes assinariam o

Acordo de Paris no início de 1973.

Page 22: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

Com a saída dos Estados Unidos, os sul-vietnamitas tomaram a ofensiva para

capitalizar as vitórias operacionais dos EUA em 1972. Apesar de sucessos iniciais, sua

economia não era mais capaz de sustentar o esforço de guerra, especialmente após a

redução do apoio financeiro estadunidense. A partir do final de 1974, os norte-vietnamitas

tomaram a iniciativa, ganhando território e levando à queda do governo sul-vietnamita.

Os comunistas selaram a vitória tomando Saigon.

Há um grande debate a respeito das vitórias vietnamitas, especialmente sobre os

EUA. Dificilmente leva-se em consideração os méritos dos norte-vietnamitas e dos

vietcongs. Usualmente atribui-se um peso maior aos erros dos EUA (GILBERT, 2002) e

ao apoio de chineses e soviéticos. Apesar de reconhecer que tais circunstâncias

contribuíram para o resultado final das guerras, é necessário reconhecer a capacidade dos

comunistas vietnamitas de construir um Estado, uma economia autônoma e forças

armadas regulares competentes.

Para um estado pobre e recém-constituído como o Vietnã, a luta pela libertação

nacional pedia a mobilização de toda a sociedade e de seus recursos. Para tanto, devia

fomentar a unidade nacional, para obter o apoio e a lealdade da população. Isso era

necessário para angariar e concentrar os recursos necessários para a nascente economia

nacional, ampliar o contingente de forças militares e civis envolvidos no esforço de guerra

e obter força política para demandar que sua população suportasse os maiores sacrifícios

(CURREY, 2002; TAYLOR & BOTEA, 2008).

A mobilização foi a melhor, senão a única forma de cumprir o objetivo de angariar

e concentrar recursos para equipar e alimentar o nascente exército nacional e garantir a

subsistência da população civil (TAYLOR & BOTEA, 2008; CURREY, 2002).

Posteriormente, gradativamente, os norte-vietnamitas conseguiram criar uma base

industrial, ligada inicialmente à produção de armas leves e de munições (CURREY, 2002).

O nascimento de uma economia nacional vietnamita esteve, portanto, fortemente ligada

à questão da construção do estado e da luta conquista da independência.

A mobilização nacional também fazia-se necessária para garantir o recrutamento

de forças para o exército nacional, para a guerrilha e para o cumprimento de funções de

logística, vigilância e inteligência. Mesmo de posse de caminhões soviéticos e tendo

construído algumas estradas, o papel dos “collies”, que carregavam os suprimentos a pé,

Page 23: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

foi determinante para o suprimento das forças nortevietnamitas (CURREY, 2002; WIEST,

2003). Igualmente, os militares exerciam funções civis, como a colheita do arroz

(CURREY, 2002).

Apesar do grande apoio de chineses e soviéticos, os comunistas lograram, portanto,

conduzir uma enorme parte do seu esforço de guerra por conta própria. Mesmo os

vietcongs conseguiam amealhar 80% de seus recursos por conta própria. Para efeitos de

comparação, o governo do Vietnã do Sul recebeu muito mais recursos, mas perdeu a

guerra. (TAYLOR & BOTEA, 2008).

Percebe-se uma forte correlação entre a centralização política, a aquisição do

centro de decisão da economia e a modernização das forças armadas, que possibilitou ao

Vietnã do Norte fazer frente a inimigos poderosos como França e Estados Unidos. Ciente

da sua inferioridade em termos de recursos, tecnologia e formação de recursos humanos,

o Vietnã lutou com base no que tinha à disposição e submeteu os esforços militares e de

construção do estado aos objetivos políticos. A luta do Vietnã pela libertação nacional,

apesar do apoio externo e de se inspirar nas lutas de independência na Ásia, especialmente

da China, construiu uma trajetória própria, baseada em sua própria experiência. Nesse

contexto, logrou construir e consolidar um estado e uma economia nacionais e inserir-se

internacionalmente de forma autônoma.

Tentativas de Revolução Nacional em Indonésia e Malásia (1945-1965)

Para a Malásia e a Indonésia, a agenda de libertação nacional significava encerrar

o jugo imperialista europeu que retornava em 1945 após a rendição dos ocupantes

japoneses. Apesar de possuírem cultura e língua semelhantes, as duas regiões seguiram

caminhos políticos distintos pela divisão do sudeste asiático entre potências imperialistas

no seu passado. Os projetos de autonomia e centralização empregados os colocaram em

rota de colisão. O conflito teve seu desfecho em 1965 e encerrou o período das guerras

de libertação nacional, embora a contra-insurgência frente o movimento comunista tenha

continuado na península malaia.

Nesta região, o conceito de Revolução Nacional pode ser aplicado para auxiliar a

compreensão dos principais conflitos armados, apesar de que os movimentos políticos

que melhor correspondem aos princípios do conceito tenham sido derrotados. Na Malásia,

Page 24: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

o Partido Comunista Malaio era o movimento cujo objetivo de ruptura em relação à

economia colonial o distanciava da formulação de uma Federação Malaia alinhada à

antiga metrópole. Na Indonésia11, a busca por centralização política e gestão econômica

autônoma teve seu auge no regime da Democracia Dirigida de Sukarno, que tinha pilares

frágeis no apoio do Partido Comunista Indonésio (PKI) e das Forças Armadas, ambas

instituições antagônicas.

Especialmente no caso da Indonésia, é possível destacar elementos na conduta de

sua guerra de independência que se aproximam da experiência chinesa, com a devida

ressalva de que o contexto internacional do pós-guerra possui características próprias.

Especificamente, este contexto apresentava oportunidades de apoio à luta independentista

mesmo entre as grandes potências. Além disso, a criação da ONU e a independência de

diversos países significava que era possível mobilizar os atores da política internacional

para exercer maior pressão sobre a antiga metrópole. Um fator específico é que na

Indonésia, principalmente em Java, os japoneses mobilizaram as forças políticas locais

para utilizar o sentimento anti-colonial que já existia, a partir da criação de milícias

representando as diversas forças políticas (nacionalistas e islamistas). Em ambos os casos,

a ocupação japonesa teve um profundo efeito psicológico sobre as populações locais

(MOHAMAD, 1999)

Já na Malásia, o sentimento anti-colonial era relativamente menor, visto que os

malaios, comunistas ou não, lutaram em um primeiro momento em coordenação com o

comando britânico para o sul da Ásia contra os japoneses (PENG, 2003). Estas forças

encerraram sua cooperação com a rendição dos ocupantes. Os principais partidos malaios

conseguiram avançar a agenda de autonomia frente o Reino Unido com base em

manifestações e apoio popular.

Um elemento chave foi a Emergência Malaia a partir de 1948, conflito contra o

Partido Comunista Malaio, visto que impedir a tomada de poder pelos comunistas se

11 A Indonésia passou por uma democracia parlamentar até a 1958, em que o presidente Sukarno - o

principal líder na independência - possuía poderes reduzidos em relação ao gabinete do primeiro-ministro.

A insatisfação de Sukarno e das forças armadas com o regime parlamentar levaram à instituição da

Democracia Dirigida, que durou de 1958 até 1965. Neste período Sukarno aproximou os nacionalistas do

PKI, que também participou do regime. O antagonismo entre comunistas e forças armadas resultou no

colapso do regime em 1965, que resultou na ascensão de Suharto e do exército como forças dominantes na

chamada Nova Ordem.

Page 25: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

tornou uma das principais preocupações dos ingleses (HACK, 1999; JONES, 2001). Os

comunistas reivindicavam ser a única força realmente anti-colonial na Malaia (PENG,

2003), e podiam usar como argumento a proximidade do movimento político liderado por

Tunk Abdul Rahman (primeiro-ministro que liderou a independência formal) com o

antigo governo colonial. De fato, o mesmo argumento foi utilizado pela Indonésia na sua

guerra com a Malásia, dada a aliança militar com a SEATO (SUBANDRIO, 1959).

Na Indonésia, a luta pela descolonização e pelo reconhecimento de sua soberania

por parte da Holanda testou a resiliência da recém-criada República. A percepção na

Holanda era de que a declaração de independência era fruto principalmente da

propaganda japonesa durante os anos da ocupação. A partir disso, a metrópole buscou

reprimir o movimento e, assim, restabelecer o status quo ante. No período de quatro anos

que se seguem, a República teve de enfrentar duas grandes ações militares dos holandeses

(em julho de 1947 e em dezembro de 1948), dois levantes comunistas (em 1946, pelo

movimento trotskista de Tan Malaka; e, em 1948, pelo próprio Partido Comunista), e um

levante islamista (em 1948 pelo Darul Islam) (PITT, 2014, p. 34). Qualquer tipo de

centralização política na Indonésia passaria necessariamente pela retomada da autoridade

sobre a totalidade do arquipélago, fator crítico que dificultaria a coesão política.

O grande líder militar do período pelo lado indonésio é o General Nasution, cuja

teoria de guerra foi exposta na sua obra “Princípios Fundamentais da Guerrilha”

(NASUTION, 1965). O general expôs sua visão de que a guerra apropriada para a

Indonésia se aproximava do conceito de guerra popular, fazendo alusões à Mao e outras

experiências de guerrilha na Ásia (CRIBB, 1999), e ressaltava a ligação entre guerra e

política.

“É o povo que luta, não só os exércitos. É o povo que declara a guerra,

determina a paz e cria suas forças armadas. Os líderes militares devem sempre

se lembrar disto: eles são como as pontas-de-lança do povo e são dirigidos pelo

povo. É por isso que o exército é hoje um exército do povo e não mais uma

entidade separada”. (NASUTION, 1965, p. 13)

Conquanto a obra tenha claras alusões ao pensamento militar de Mao Zedong, o

líder demarca sua posição política ao insistir que é o nacionalismo que é a força

fundamental na luta, já que é só o nacionalismo que é capaz de mergir uma nação inteira

Page 26: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

em uma força para derrotar o inimigo12. Assim, ressaltava a ligação entre política e o

militar, que se daria através da ideologia (CRIBBS, 1999, p. 145).

Um dos principais elementos que caracterizam a doutrina das forças armadas na

Indonésia, cuja influência perdura até os dias de hoje, é o comando territorial do exército.

Em 1947, Nasution procurou implementar sua estratégia de dividir as forças terrestres em

dois comandos: um móvel, para buscar e enfrentar as forças holandesas em suas ofensivas,

e outra territorial, em que a hierarquia militar teria equivalência às subdivisões políticas

regionais, de distritos até vilarejos. Este comando territorial permitiria maior sinergia

entre o exército e a população, e distanciaria grandes parcelas da força de um conflito

direto contra uma força melhor equipada em termos materiais. Na medida em que as

forças armadas da Indonésia lograssem em equiparar sua condição material contra o

inimigo, o exército se transformaria em um exército moderno, e a importância da

guerrilha diminuiria (NASUTION, 1965, p. 70). Dessa forma Nasution também se

aproxima de Mao e mesmo de Giap no Vietnã, em que a fase final da revolução nacional

passa por um exército convencional forte. Entretanto, este objetivo não foi alcançado até

o colapso do governo de Sukarno em 1965.

Economicamente, a indonésia buscava um projeto de nacionalismo econômico,

entendido como “a aspiração nacional para adquirir e controlar a propriedade de

estrangeiros e conseguir realizar as funções econômicas até então feitas por estrangeiros”

(JOHNSON, 1972, p. 26). Para a Indonésia, isto significava encerrar o contínuo domínio

dos interesses comerciais dos holandeses e do setor de ascendência chinesa, que

participou ativamente do governo colonial (WIE, 2010). A Indonésia também aceitou em

troca da independência assumir a dívida do governo colonial em relação à metrópole

holandesa (KAHIN, 1997). Entretanto, o governo não logrou em centralizar a gestão da

economia. As medidas para maior autonomia da economia da Indonésia resultaram em

um quadro de hiperinflação. Por outro lado, o sistema territorial do exército permitia que

oficiais locais participassem diretamente das atividades econômicas na sua região. Ao

trocar alvarás, proteção securitária etc. por recursos econômicas diretamente com

12 Esta posição pode ser entendida como antagonista ao movimento comunista, que daria enfoque às

dinâmicas sociais.

Page 27: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

empresas locais, diminuía a capacidade do governo central de utilizar os excedentes

econômicos do país.

A luta pela centralização política unia a esfera doméstica à esfera internacional.

Um fator de ligação crítico foi o apoio que o ocidente - Estados Unidos e Commonwealth

- deram aos movimentos separatistas (KENNEDY, 1996; SIMONS, 2000). Esta

participação acentuou a visão de isolamento na política externa indonésia, colocando as

bases para a ampliação da política anticolonial rumo ao enfrentamento com as antigas

colônias britânicas na Malaia. O Ministro de Relações Exteriores, Subandrio, caracterizou

a situação regional da seguinte forma: “ao olhar para o mapa do nosso país, vê-se que

estamos cercados por estados que se associaram ou com a SEATO, ou são membros da

Commonwealth. De fato, nós estamos isolados” (SUBANDRIO, 1959).

A percepção de Sukarno era de que a combinação da utilização das forças armadas

de modo não-convencional e a ofensiva diplomática havia trazido até então bons

resultados. Entretanto, a Indonésia se viu progressivamente isolada com sua oposição ao

estabelecimento de uma Federação Malaia que mantivesse laços com a Grã-Bretanha.

Com o estabelecimento formal da Federação (1962), iniciou-se a campanha de

confrontação (konfrontasi) pela Indonésia. Automaticamente, os britânicos, juntamente

com os australianos e neozelandeses, foram acionados pelo arranjo defensivo do qual

participavam. Ao mesmo tempo, a Malásia ganhava recursos diplomáticos, e sua boa

relação com as potências ocidentais (e aquiescência do bloco não-alinhado) permitiram

que fosse eleita para o assento não-permanente do Conselho de Segurança em 1965. A

retórica internacional de Sukarno de uma oposição radical entre “NEFO” (novas forças

emergentes) e “NEKOLIM” (neocolonialismo e imperialismo) perdeu espaço para a

busca da Malásia pela garantia da soberania, algo preeminente para várias jovens nações

do bloco afro-asiático que temiam uma possível anexação ou outro tipo de ameaça à sua

integridade territorial.

Com o fracasso diplomático em relação à Malásia, o governo buscou uma

alternativa extrema ao se desvincular da ONU e buscar aproximação com a República

Popular do Vietnã e da China comunista. Tal aproximação tensionou sua relação com as

forças armadas, que se opunham a uma maior participação do Partido Comunista da

Indonésia e que percebiam a inabilidade da Democracia Dirigida em estabilizar a

Page 28: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

economia do país. Isso fez com que, embora oficialmente o exército apoiasse e

participasse das operações da konfrontasi, secretamente buscavam uma solução

negociada com o inimigo (MIETZER, 1999).

A posição de Sukarno ressoava a posição dos movimentos comunistas malaios,

que haviam perdido grande parte da sua capacidade de enfrentamento a partir de 1960. A

“emergência malaia”, assim chamada para relativizar a severidade da oposição comunista

assim como para assegurar às companhias internacionais de que não havia um estado de

guerra declarada, perdurou de 1948 até 1960 e representou a oposição, grosso modo, da

população etnicamente malaia da península (que representava metade da população total),

apoiada pelos britânicos, contra a população de etnia chinesa, empobrecida e mobilizada

em torno de movimentos comunistas (HACK, 1999).

O movimento político que melhor representava, em um primeiro momento, a

agenda de nacionalização econômica na península malaia era o Partido Comunista Malaio.

O movimento possuía laços e era inspirado tanto pela China comunista como Partido

Comunista Indonésio. Assim, o auge de sua estratégia de luta política armada se deu em

meados da década de 1960, opondo a formação da Federaçao Malaia, em apoio à

Indonésia (KHENG, 2009). O interesse tanto dos Estados Unidos como da Grã-Bretanha

na região era a manutenção da presença econômica, que poderia ser assegurada mesmo

com a independência - mas não com a participação política dos comunistas.

Especialmente importante era a exportação de borracha e latão (KHENG, 2009, p. 133).

O colapso da Democracia Dirigida na Indonésia e o extermínio do PKI em 1965,

com o estabelecimento de um regime pró-ocidente centrado na figura de Suharto,

representou uma grande perda para o Partido Comunista Malaio. Ao contrário do PKI, os

comunistas malaios nunca lograram participar legalmente do governo. Ainda em 1953 o

movimento já havia sofrido diversas perdas e forçados a centrar suas operações na

fronteira com a Tailândia. Em 1960, o governo malaio estava correto em afirmar que as

forças comunistas estavam desbaratadas, e o principal líder, Chin Peng, buscou asilo em

Beijing (PENG, 2003). Por mais que as forças comunistas estivessem enfraquecidas, a

luta armada permaneceu até 1989. Segundo Peng, uma das principais influências foi a

atuação dos líderes comunistas do Vietnã, que enfatizavam a militância armada dentre os

partidos comunistas asiáticos. Do lado governamental malaio, o país tomou uma posição

Page 29: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

mais pronunciadamente pró-ocidente na década de 1970, acentuando a marginalização do

movimento comunista na região. Finalmente, a aproximação da Malásia com a China de

Deng a partir da década de 1980 foi um dos fatores fundamentais para a desarticulação

da militância armada do Partido Comunista (KHENG, 2009). Cabe ressaltar que a partir

da década de 1970 a Malásia logrou efetuar um processo de industrialização a partir de

medidas protecionistas à indústria nascente, sendo um dos fatores que permitiu ao país a

modernização da economia e a relativização da sua posição em relação à antiga metrópole

(ALAVI, 2009).

Em suma, no período aqui analisado, houve forças políticas tanto na Malásia

quanto na Indonésia que buscaram um projeto de Revolução Nacional, nos seus pilares

político, econômico e militar. Nesta região, tal projeto significava ganhar capacidade de

gestão econômica após um longo período de colonização imperialista e centralizar a

autoridade política. A constituição de uma força convencional forte estava no horizonte

das Forças Armadas da Indonésia, entretanto a sua realidade limitada impôs a utilização

de uma doutrina que se aproximava da experiência chinesa - cristalizada na guerra civil

chinesa, mas com origens na guerra sino-japonesa. Tal influência também se deu no

Vietnã e, consequentemente, na Malásia.

Conclusão

Procurou-se com este artigo analisar a entrada de Indonésia, Malásia e Vietnã no

Sistema Internacional como Estados Independentes a partir de uma abordagem focada no

aspecto da Revolução Nacional. Propôs-se para esta análise uma abordagem baseada na

teoria do subdesenvolvimento de Celso Furtado e na operacionalização de um conceito

de Revolução Nacional, fundamentado nesta teoria.

Argumentou-se que, a partir da Restauração Meiji e tendo-a como exemplo,

definiu-se no Leste Asiático uma agenda para a inserção no Sistema Internacional

vestifaliano e no Sistema de produção capitalista de forma autônoma. Esta agenda estaria

centrada em três fatores, igualmente relevantes e que se retroalimentam: a) centralização

política; b) industrialização da economia e c) modernização militar. O objetivo final sendo

a superação do subdesenvolvimento e dos laços de dependência no Sistema Internacional,

Page 30: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

ou seja, a construção de uma nação industrial inserida autonomamente no Sistema

Internacional e, potencialmente, inserida no rol das grandes potências.

Identificou-se que, para a consecução deste programa, a necessidade de

internalizar um centro de decisão, ou seja, uma capacidade de formulação autônoma,

capaz de reformar estruturas sociais e econômicas pregressas e implementando uma

política de desenvolvimento. Desse modo, verificou-se a importância do aspecto militar

para este processo, seja como forma de impulsionar uma política de industrialização,

como forma de impor internamente a agenda de Revolução Nacional, ou como forma de

dissuadir outras potências e/ou cortar os lações de dependência.

Desse modo, argumentou-se que do mesmo modo que o Estado subdesenvolvido

se move pelas contradições entre estruturas desenvolvidas e subdesenvolvidas em suas

esferas política e econômica, o mesmo ocorre na esfera militar. O Estado para superar o

subdesenvolvimento e defender sua Revolução Nacional da agressão externa necessita de

um conceito operacional-estratégico que lide com as contradições entre a guerra

convencional industrial moderna e uma economia e sistema logístico baseado na relação

de dependência com centro do sistema de produção capitalista.

Nesse sentido, o conceito estratégico-operacional adotado como paradigma foi o

chijiu zhan, ou guerra prologada, formulado pela China nacionalista na segunda guerra

sino-japonesa. Este conceito procurava diminuir as desvantagens econômicas,

tecnológicas e de poder de fogo através da guerra defensiva e de atrito, evitando batalhas

decisivas e cedendo terreno ao inimigo para fustigar suas linhas de comunicação,

objetivando um impasse no campo de batalha a ser solucionado no campo político e/ou

pela exaustão do inimigo.

Os processos de libertação nacional do séc. XX no Leste Asiático, mais

especificamente os aqui analisados, de Indonésia, Malásia e Vietnã, refletiram

diretamente estes fenômenos e processos. Os três países buscam, com diferentes graus de

sucesso, o controle dos excedentes de produção como forma de internalizar um centro de

decisão e perseguir uma agenda de Revolução Nacional.

Pode-se resumir a análise destes processos através de três pilares: econômico,

político e militar. Em termos gerais, os movimentos políticos que possuiam afinidade com

os objetivos da Revolução Nacional não obtiveram êxito em Malásia e Indonésia, ao

Page 31: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

menos no período aqui retratado. Já o Vietnã obteve sua unificação e conseguiu

implementar parcialmente medidas centralizadoras. Sob o aspecto econômico, a

Indonésia e a Malásia não lograram nacionalizar os excedentes do setor primário, apesar

de haver pressão política para tanto; o Vietnã gradualmente foi capaz de exercer controle

sobre conjunto maior de atividades econômicas nativas, ao ponto de criar pequenas

indústrias locais. Em termos de centralização política, o Vietnã conseguiu

instrumentalizar a cúpula do Viet Minh como centro decisório, enquanto a Indonésia

passou por um embate constante entre linhas antagônicas e mesmo movimentos

separatistas. Relativamente, a Malásia manteve um regime sem rupturas tão drásticas com

o legado colonial. Em termos militares, é possível fazer uma ligação direta com a

experiência chinesa, visto que os principais líderes militares em Indonésia, Vietnã e

Malásia fazem referência à Mao Zedong. Em especial se destacam as condições similares

em que as forças nacionalistas se opuseram a um inimigo com maiores capacidades

materiais, como descritos por Giap no Vietnã e por Nasution na Indonésia.

Desse modo, espera-se ter colaborado para a promoção de uma visão

semiperiférica para a análise de Relações Internacionais e de Estudos Estratégicos.

Conceitos ou modelos tradicionais, principalmente no estudo da guerra, geralmente

pecam por falhar em capturar os objetivos políticos de beligerantes, resultando em

conclusões que tomam como referência apenas aqueles países capazes de engajar em uma

guerra no sentido moderno e industrial. Estas abordagens, como procurou-se demonstrar,

possuem pouco poder explicativo para a análise de eventos no Leste Asiático, quiçá

mesmo para o estudo de outros países semiperiféricos como o Brasil.

Assim, este artigo representou uma primeira aproximação para a construção de

uma agenda de pesquisa em Estudos Estratégicos baseada, para além da percepção da

semiperiferia, também em uma percepção brasileira dos fenômenos internacionais e da

guerra, neste caso, fundamentada no pensamento sobre desenvolvimento e

subdesenvolvimento de Celso Furtado.

Referências

A.H., Nasution. Fundamentals of Guerrilla Warfare. 2. ed. London: Pall Mall, 1965.

ALAVI, Rokiah. Industrialization in Malaysia. 1. ed. London: Routledge, 1996.

Page 32: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

BODIN, L. E. The Boxer Rebellion. Londres: Osprey Publishing Ltd, 1979.

BRESSER-PEREIRA, L. C. Desenvolvimento, progresso e crescimento econômico. Lua

Nova: Revista de Cultura e Política, 2014. n. 93, p. 33–60. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

64452014000300003&lng=pt&tlng=pt>.

CHANG, J. The Nationalist Army on the Eve of the War. In: PEATTIE, M. R.; DREA,

E. J.; VEN, H. VAN DE (Org.). The Battle for China: Essays on the Military History of

the Sino-Japanese War of 1937-1945. Stanford: Stanford University Press, 2011, p. 83–

104.

CHIN, Peng. My Side of History. 1. ed. Singapore: Media Masters Pte Ltd, 2003.

CLAUSEWITZ, C. Von. On War. Toronto: Aegitas, 2016.

CORBETT, J. S. Some Principles of Maritime Strategy. [S.l.]: Project Gutemberg,

2005.

CRIBB, Robert. Military Strategy in the Indonesian Revolution: Nasution’s Concept

of ‘Total People’s War’ in Theory and Practice. War & Society, [s. l.], v. 19, n. 2, p. 143–

154, 2001.

CURREY, Cecil B. Vitória a Qualquer Custo: A biografia do General Vo Nguyen Giap.

Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2002.

DUARTE, É. E. Clausewitz, Corbett e o desafio das guerras limitadas. Revista da Escola

de Guerra Naval, 8 ago. 2016. v. 21, n. 2, p. 115–144. Disponível em:

<https://revista.egn.mar.mil.br/index.php/revistadaegn/article/view/169/131>. Acesso

em: 5 ago. 2018.

ECHEVARRYA II, A. J. Clausewitz & Contemporary War. Oxford: Oxford

University Press, 2007.

ENGLISH, J. A.; GUDMUNSSON, B. I. On Infantry. Westport: Praeger, 1994.

FURTADO, C. A Pré-Revolução Brasileira. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1962.

______. Economia do desenvolvimento: curso ministrado na PUC-SP em 1975. Rio de

Janeiro: Contraponto, 2008.

______. Essencial Celso Furtado. São Paulo: Editora Schwarcz, 2013.

______. Subdesenvolvimento e Estagnação na América Latina. Rio de Janeiro:

Editora Civilização Brasileira, 1968.

Page 33: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

GIAP, Vo Nguyen. People’s War, People’s Army. Hanoi: Foreign Languages

Publishing House, 1961.

GILBERT, Marc Jason (ed.). Why the North won the Vietnam War. New York:

Palgrave, 2002.

HACK, Karl. Iron claws on Malaya: the historiography of the Malayan emergency.

Journal of Southeast Asian Studies, [s. l.], v. 30, n. 01, p. 99–125, 1999. Disponível em:

http://journals.cambridge.org/abstract_S0022463400008043%5Cnhttp://www.jstor.org.l

ibproxy1.nus.edu.sg/stable/pdfplus/20072108.pdf?acceptTC=true%5Cnhttp://oro.open.a

c.uk/23675/.

HALL, J. W. El imperio japonés. 7a ed. Cidade do México: Siglo Veintiuno Editores,

1985.

HARMSEN, P. Shanghai 1937: Stalingrad on the Yangtze. Havertown: Casemate, 2013.

JOHNSTON, Harry. The ideology of economic policy in new states. In: WALL, David

(Ed.). Chicago essays in economic development. Chicago: University of Chicago Press,

1972. p. 23–40.

JONES, Matthew. Conflict and Confrontation in South East Asia 1961-1965: Britain,

the United States, Indonesia and the Creation of Malaysia. 1. ed. Cambridge: Cambridge

University Press, 2002.

KAHIN, George McTurnan. Some recollections from and reflections on the Indonesian

revolution. In: TAUFIK, Abdullah (Ed.). The heartbeat of the Indonesian revolution.

Jakarta: PT Gramedia Pustaka Utama, 1997. p. 10–27.

KENNEDY, Douglas Blake. Operation HAIK: The Eisenhower Administration and the

Central Intelligence Agency in Indonesia, 1957-1958. 1996. University of Georgia,

Atlanta, 1996.

KHENG, Cheah Boon. The Communist Insurgency in Malaysia, 1948-90: Contesting

the Nation-State and Social Change. New Zealand Journal of Asian Studies, [s. l.], v. 11,

n. 1, p. 132–152, 2009.

MACKINNON, S. The Defense of the Central Yangtze. In: PEATTIE, M. R.; DREA, E.

J.; VEN, H. VAN DE (Org.). The Battle for China: Essays on the Military History of

the Sino-Japanese War of 1937-1945. Stanford: Stanford University Press, 2011, p. 181–

206.

Page 34: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

MAGNO, B. Segunda Guerra Sino-Japonesa: Gênese De Um Modo Asiático De Fazer

A Guerra? [S.l.]: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/10183/140739>.

MARTIN, R. M. China; political, commercial, and social; an official report. London:

James Madden, 1847.

MARTINS, J. M. Q. Digitalização e Guerra Local: Como Fatores do Equilíbrio

Internacional. [S.l.]: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2008.

Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/14405>.

MCNEILL, W. H. The Industrialization of War. Review of International Studies, 1982.

v. 8, n. 3, p. 203–213. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/20096953>.

MIETZNER, Marcus. Military politics, Islam, and the state in Indonesia: from

turbulent transition to democratic consolidation. Singapore: Institute of Southeast Asian

Studies, 2009.

MIYAZAKI, S. Y. M. As Origens do Investimento Japonês na Ásia. São Paulo:

Annablume, 2009.

MOHAMAD, Mahatir. Our Region, Ourselves. Time, [s. l.], 1999. Disponível em:

http://content.time.com/time/world/article/0,8599,2053708,00.html

MOREIRA DA SILVA, A. M. et al. O processo de integração do Leste Asiático sob a

perspectiva japonesa. BR: Revista Perspectiva, 2011. v. 4, n. 6, p. 109–124. Disponível

em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaPerspectiva/issue/viewIssue/2604/152>.

NAKAMURA, K. The Formation of Modern Japan, as viewed from Legal History.

Tóquio: The Centre for East Asian Cultural Studies, 1962.

PAINE, S. C. M. The Wars for Asia, 1911 – 1949. Cambridge: Cambridge University

Press, 2012.

PEATTIE, M. R. The Dragon’s Seed: Origins of the War. In: PEATTIE, M.; DREA, E.;

VEN, H. VAN DE (Org.). The Battle for China: Essays on the Military History of the

Sino-Japanese War of 1937-1945. Stanford: Stanford University Press, 2011, p. 48–78.

PITT, Rômulo Barizon. Indonésia: o desafio da liderança regional. 2014. Universidade

Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-

Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais. 2014. Disponível em:

https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/103903

Page 35: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

REIS, J. A. Da S. A industrialização da guerra: perfil de força, gestão do estado e

mudança no regime de acumulação de capital (1850–1950). [S.l.]: Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2015. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/10183/140473>.

ROBERTS, J. A. G. História da China. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2011.

SARAIVA, R. O conceito de Centros de Decisão Econômica nas obras de Celso

Furtado: um esforço de formalização teórica e de aplicação prática na análise das

relações internacionais Renato Saraiva 1. Porto Alegre, Brasil: [s.n.], 2015. p. 17.

SIMONS, Geoff. Indonesia: The Long Oppression. Nova Iorque: Palgrave Macmillan,

2000

SUBANDRIO. MANIPOL, “Manifesto Politik Republik Indonesia” Jakarta, Discurso.

1959.

TARLING, Nicholas. Nationalism in Southeast Asia. New York: RoutledgeCurzon,

2004.

TAYLOR, Brian D.; BOTEA, Roxana. Tilly Tally: War-Making and State-Making in the

Contemporary Third World. International Studies Review, Malden, v. 10, n. 1, pp. 27–

56, mar. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1468-2486.2008.00746.x.

THOMPSON, D. The Economic History of the Last 2000 Years : Part II. The Atlantic,

[S.l.], 2012. Disponível em: <https://www.theatlantic.com/business/archive/2012/06/the-

economic-history-of-the-last-2-000-years-in-1-little-graph/258676/>. Acesso em: 21 abr.

2018.

TOGO, K. Japan’s Foreign Policy, 1945-2003: The quest for a proactive policy. Leiden:

Brill, 2005.

VEN, H. Van De. The Sino-Japanese War in History. In: PEATTIE, M. R.; DREA, E. J.;

VEN, H. Van de (Org.). The Battle for China: Essays on the Military History of the

Sino-Japanese War of 1937-1945. Stanford: Stanford University Press, 2011, p. 446–466.

VEN, H. VAN DE. War and nationalism in China: 1925-1945. Londres:

RoutledgeCurzon, 2003.

VISENTINI, Paulo. A Revolução Vietnamita e os movimentos de libertação nacional na

Indochina. Em: VISENTINI, Paulo. et. al. Revoluções e Regimes Marxistas: Rupturas,

experiências e impacto internacional. Porto Alegre: Leitura XXI, 2013, pp. 205-244.

Page 36: REVOLUÇÃO NACIONAL E ESTRATÉGIA DE INSERÇÃO … · construção de uma economia industrial e (c) promoção e modernização de um exército nacional. Assim, em primeiro lugar,

WIE, Thee Kian. Understanding Indonesia: the Role of Economic Nationalism. Journal

of Indonesian Social Sciences and Humanities, [s. l.], v. 3, p. 55–79, 2010.

WIEST, Andrew A. Essential Histories 38: The Vietnam War 1956-1975. Oxford:

Osprey Publishing Ltd., 2003.

WINDROW, Martin. Men-At-Arms: The French Indochina War 1946-54. Oxford:

Osprey Publishing Ltd., 1998.

YANG, T. Chiang Kai-shek and the Battles of Shanghai and Nanjing. In: PEATTIE, M.

R.; DREA, E. J.; VEN, H. VAN DE (Org.). The Battle for China: Essays on the Military

History of the Sino-Japanese War of 1937-1945. Stanford: Stanford University Press,

2011, p. 143–158.

ZHU, X. Understanding China’s Growth: Past, Present, and Future. Journal of

Economic Perspectives, nov. 2012. v. 26, n. 4, p. 103–124. Disponível em:

<http://pubs.aeaweb.org/doi/10.1257/jep.26.4.103>.