revoltarte março #1
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1ª Edição do Magazine Cultural AEISCSP, Março 2011.TRANSCRIPT
2
_ficha técnica
Editor-in-chief & Director Criativo
Jo~o Pedro Padinha
Design Gráfico e Edição
Jo~o Pedro Padinha, Rui Salvador e Sara Lima
Editor de Música
Rui Salvador
Editora de Cinema
Catarina D’Oliveira
Editora de Moda
Isabela Campos
Editora de Literatura
Sara Lima
Editora de Magna Tuna
Joana Pereira
Colaboradores nesta edição
António Carvalho, Catarina Severino, Gonçalo Moura, Jo~o Fernandes Silva, Jo~o Pedro Borba, Rui Bajouca, Sara Aires, Tiago Mour~o
Fotografia capa João Pedro Padinha Modelo João Pedro Borba
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_índice
5. Editorial
7. Música
Reviews
10. Música
Rewind
11. Música
Antevisões
12. Música
A Árvore da Birra
13. Cinema
Black Swan
16. Cinema
Reviews
19. Cinema
And the Oscar goes to… You!
22. Teatro
T.U.T.—Teatro da U.T.L.
23. Editorial Fotográfico
I’ll Start a Revolution from my Bed
35. Moda
DIY - Do It Yourself
36. Moda
Especial Fashion Week
39. Literatura
Letras Encontradas
40. Literatura
Review
41. Literatura
Mês da Poesia
43. Entrevista
Martim Vicente
49. Actualidade
A Identidade
51. Tuna
53. Crónica
4
Caro Leitor,
Desde Pessoa que se ouve: "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce." Bem, se Deus existe ou não depende de cada um. Não somos dados a religiões ou dogmatismos teológicos. Aliás, falando por mim, a religião nunca me interessou. Nem mesmo com os floreados do paraíso.
O certo é que sonhámos, e criámos. Disso temos a certeza. Sonhos megalómanos que nunca pensámos concretizar. A vida é feita de surpresas, e esta sim, foi uma boa surpresa. Gostamos de acreditar que o que criámos ficará para a história e que fará burburinho, daquele que se ouve quando se passa por entre muita gente. Porque quando há vontade há tudo.
Somos uma Magazine Cultural da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. A Magazine Cultural! Viemos para agitar-vos a vós, estudantes que ainda estão em fase de crescimento, que ainda têm poder na voz, que ainda são a geração seguinte, aquela que ambiciona mudar o mundo. Não vamos ser a vossa voz, nem o vosso veículo motor. Vamos sim, metaforizando a coisa, ser a gasolina, para que com isto consigam abrir novos horizontes, ganhar novas ambições, e querer vencer novas lutas e mais do que tudo isto: quebrar a barreira entre utopia e realidade! A luta começa agora.
É hora de o fazermos à nossa medida, à nossa estrutura e à nossa vontade. Porque a Vontade tem a força da pessoa que a sente, e nós, temos muita. .
Para que no final, o que sobrar seja ARTE e uma boa história para contarmos às gerações seguintes, tão inquietas como nós.
Creio que não dissemos o nome: Somos a RevoltARTE, e não viemos em paz.
_editorial
*Esta magazine não foi escrita sob o novo acordo ortográfico. Não somos de modas.
jp
5
_editorial
6
Q uatro anos após o In Rainbows, os
Radiohead lançam o seu oitavo
|lbum de originais, The King of
Limbs. Com menos de 40 minutos de
duraç~o o disco segue um caminho
completamente diferente do seu
predecessor, que era definitivamente mais
catchy, com uma maior aposta no formato
canç~o e num Rock mais directo. Em The
King of Limbs, Thom Yorke e companhia
voltam { experimentaç~o, { electrónica
abusiva, compulsiva e agrad|vel que
explodiu com o lançamento de Kid A, em
2000. Os sons são como os Radiohead nos
acostumaram: hipnotizantes. Porém, na
maioria das músicas do |lbum esses sons
est~o em loop constante. É de resto essa
aposta em loops e samples que tira algum
brilho ao disco, tornando-o de certa forma
entediante em alguns casos. Este “abuso”
n~o retira, no entanto, a qualidade a que a
banda j| nos habitou, o que corresponde, na
maior parte, a um |lbum que é (mais uma)
aposta ganha.
Radiohead_the King of lim
bs
RS
_música
7
Quando em 2010 começou a
vaguear na blogosfera um
tema chamada Plumy Tale,
rapidamente as expectativas
para o lançamento de um
longa duraç~o em 2011 se
tornaram bastante altas.
Dumbo Gets Mad, assim assina
o artista, nomeadamente um
multi-instrumentalista italiano,
lança ent~o em 2011 o |lbum
Elephants at the Door que nos
leva ao psicadelismo dos anos
60/70. Ali|s, o psicadélico e a
experimentaç~o andam de
m~os dadas neste |lbum que
apresenta alguns dos mais
belos temas do ano. A
produç~o, totalmente a cargo
do artista em quest~o, resulta
num som quente e os
pormenores, que muitas vezes
precisam de ser escutados
v|rias vezes para se darem a
entender perfeitamente. Um
must listen para quem procura
um Pop/Rock experimental,
psicadélico e repleto de
efeitos.
Quem tem acompanhado a
carreira dos Mogwai est| mais
que habituado {s músicas
desta banda Post-rock
escocesa: começam de
mansinho com progressões
bastante agrad|veis,
crescendo depois até a uma
explos~o de guitarras
barulhentas e agressivas num
género de clímax. Ao sétimo
|lbum, Hardcore Will Never Die
But You Will, os Mogwai soam
mais simples, mais compactos.
Ao invés do crescendo, a
banda constrói os temas
simplesmente acrescentando e
acrescentando mais sons e
mais instrumentos aos que j|
se encontram a tocar, o que
culmina em instrumentais
bastante agrad|veis, que
fogem, aqui e ali, ao Post-rock
típico dos rapazes. Neste disco
os Mogwai est~o muito mais
directos, apostam mais no
formato canç~o e sem dúvida
que, barulhentos como
sempre, saem por cima.
Abandonada a
introspectividade de White
Chalk, PJ Harvey sobe ao topo
da colina e brada, afirma e
reafirma vestida com uma
armadura e com uma espada a
reluzir ao nascer do sol. Tudo
isto porque o |lbum n~o era o
que esper|vamos dela.
Militarista, espiritual (sem
superficialidades new age ou
conversões a religiões mais
sérias), e, sobretudo,
profundamente Inglês.
Rodeada pelos amigos e
colaboradores John Parish e
Mick Harvey, Polly Jean
elabora temas como On
Battleship Hill ou In The Dark
Places em autênticas provas de
força, onde a voz surge
inspirada, com bons floreados
e letras de igual valor. Se este
ano de 2011 for um bom ano
musical, que tenha os
trompetes militares de The
Glorious Land (bem conhecidos
pela maioria das pessoas) a
anunciar as hostilidades. RS RS GM
Dumbo gets mad
Elephants at the door
MOGWAI
Hardcore will never die, but you will
PJ HARVEY
LET ENGLAND SHAKE
_música
8
Os Yuck s~o uma banda
brit}nica que ao primeiro
|lbum (homónimo)
apresentam um conjunto de
canções bastante
diversificado mas que
mantém, transversal a todo o
|lbum, um cheiro intenso a
fim dos anos 80/primeira
metade dos anos 90. Esta
ser| ali|s uma das críticas a
fazer a este |lbum: As
influências da banda est~o {
flor da pele, o que poder|
levar alguns a questionar a
originalidade das
composições. Porém, mesmo
que algum (muito mesmo) do
som dos Yuck seja “pedido
emprestado”, esse pormenor
é (quase) absorvido pela
qualidade dos temas, que v~o
desde baladas lo-fi a canções
pop/rock simples e
descontraídas, bastante
atraentes ao ouvido. Este
disco agradar| certamente o
simples e apaixonado ouvinte
de música.
Ritual resume-se a: ambiç~o
de est|dio, sintetizadores,
sintetizadores, sintetizadores,
amor, morte, sexo, amor,
separaç~o, morte, amor...j|
tinha dito amor, certo? N~o
que seja totalmente mau (os
White Lies até mostram um
razo|vel talento para os
ganchos pop, como em The
Power and The Glory). Mas os
clichés repetitivos do Livro do
Rock (Joy Division, Echo &
The Bunnymen, Depeche
Mode) s~o demasiados, n~o
deixando espaço para respirar
ou tentar perceber a raz~o de
ser de determinadas letras
atiradas ao calhas como "Bad
sex and ethanol/High scores on
Solitaire" (em "Streetlights.
Isto soa tudo a "despacho
incoerente emocional
masculino", antes de se
levantarem e cumprirem o
h|bito brit}nico de se
afundarem nos copos no pub.
Quando tomei conhecimento
da reediç~o do |lbum de
estreia do supergrupo Orelha
Negra com remisturas e
presença de convidados, n~o
me convenceu. A qualidade
do primeiro é ineg|vel mas é
uma surpresa ver o |lbum a
ser reinventado, com
excelentes aspectos, mas n~o
com o mesmo impacto e
perfeiç~o do primeiro. A
Melhor Rima de Sempre a.k.a.
M.I.R.I.A.M. do Valete, é o
melhor ponto do |lbum. As
letras atingem um novo
significado com a respectiva
faixa. Destaque para o
trabalho vocal de Tiago
Bettencourt e de Lúcia Moniz
na Saudade e Tripical,
respectivamente. E a primeira
faixa Since You’ve Been Gone
a.k.a. A Memória merece um
thumbs up pela excelente
escolha para o registo vocal.
De resto, nada de
extraordinariamente novo.
RS gm rb
yuck
yuck
White lies
ritual
Orelha negra
Mix tape
_música
9
O Shoegaze (ou Shoegazing) foi
um subgénero formado nos em
finais dos anos 80 e inícios dos
anos 90, caracterizado por guitarras
ensopadas em feedback, vocais etéreos,
elementos melódicos v|rios e, como
pejorativamente diz o termo, um grande
uso de efeitos através de pedais, o que
fazia com que os músicos, em palco, se
focassem na música e n~o no seu ego.
Tendo como precursores grupos como os
Cocteau Twins, The Jesus & Mary Chain,
Velvet Underground, Sonic Youth ou The
Smiths, o movimento pautou-se por
jornadas sónicas. Jornadas essas que
começaram com os singles e |lbuns dos
My Bloody Valentine. Isn't Anything foi o
primeiro |lbum a estabelecer essa paleta
sónica. Com o tempo, surgiram v|rios
grupos, com v|rias características em
comum, mas cada um retendo a sua
marca distinta. Grupos como os Ride,
Slowdive, Lush, Boo Radleys,
Chapterhouse ou os Verve.
Um dos termos em voga na altura que
decreviam os concertos destes grupos
era The Scene That Celebrates Itself (A
Cena Que Se Celebra A Si Própria),
devido ao facto de a maioria dos grupos
assistir aos concertos dos outros, fosse
por gostarem, fosse por darem apoio ou
mesmo para aprender uns truques.
Sucederam-se outros marcos, como o
2º |lbum dos My Bloody Valentine,
Loveless, que se tornaria o "Alfa e o
Ómega" do movimento, Nowhere, dos
Ride, Souvlaki, dos Slowdive ou Split,
dos Lush.
No entanto, o impacto crescente das
bandas de Seattle levou a um
progressivo desinteresse do público e
da crítica, e ao desintegrar da cena,
que levou a que v|rias bandas
percorressem caminhos diferentes,
fosse na música Ambiente (Slowdive),
no Lo-Fi (Adam Franklin dos
Swervedriver no pseudónimo artístico
de Toshack Highway), no Britpop (Boo
Radleys e Lush) ou no Rock mais
convencional, ainda que alinhado com
o Britpop (The Verve).
No entanto, houve um subgénero
sucessor, o Nu-Gaze, que tornou a por
em voga este género. Nada que nao
seja explicado pelos primeiros versos
de Vapour Trail, ex-libris do majestoso
Nowhere, dos Ride:
"First you look so strong
Then you fade away.
The sun may well blind my eyes,
I love you anyway".
Guitarras em sinfonia_shoegaze REWIND
gm *Sonic Youth ao vivo na foto
_música
10
antevisoes 2 1 e
22
de
Março, estes
s~o os dias
em que
Roger
Waters, ex-
baixista/
mentor dos
Pink Floyd,
vai estar no Pavilh~o Atl}ntico, em
Lisboa, para um concerto que faz
parte da digress~o dos 30 anos de The
Wall.
Depois das v|rias complicações, que
aconteceram na primeira tentativa de
uma apresentaç~o ao vivo do mítico
|lbum, as expectativas s~o altas para
ver Mr. Waters derrubar o muro que ele
próprio construiu. Vai haver no palco
uma parede de 10m de altura e 73m de
largura que ser| derrubada durante o
concerto. Escusado ser| dizer que (para
quem j| tiver bilhetes ou ainda
conseguir arranjar algum) é um
concerto a n~o perder, uma celebraç~o
de um disco que é mais que um disco,
de um músico que n~o é somente um
músico e que fez parte de uma banda
que n~o foi
simplesmente
uma banda.
Este mês ter|
também a
presença da Joan as Police Woman em
cinco localidades de Portugal. Joan
Wasser, a ex-namorada do falecido Jeff
Buckley vai apresentar o novo |lbum
“The Deep field” no Centro de
Espect|culos de Tróia no dia 12 de
Março pelas 19h, no Auditório dos
Oceanos de Lisboa no dia 13 pelas 21h,
no Hard Club do Porto no dia 15 pelas
19h, no Centro de artes e espect|culos
em Guimar~es no dia 16 pelas 19h e
por fim no Cine-Teatro de Estarreja no
dia 17 também pelas 19h.
European Carnage Tour, assim se chama
a Tournée que traz a Portugal dois dos
monstros do Thrash Metal. A 30 de
Março sobem ao palco do Pavilh~o
Atl}ntico os Megadeth e os Slayer.
Depois da doença de Jeff Hanneman,
guitarrista do Slayer que est| a contas
com uma bactéria comedora de carne
(sim, isso mesmo que acabaram de ler) e
do recente internamento do vocalista
Tom Araya, espera-se que a banda da
Califórnia se apresente na m|xima força,
agora com Gary Holt, dos Exodus, a
substituir Hanneman.
js
~
_música
11
A árvore da birra.
H | quem faça birras, h| quem seja estúpido por
natureza. H| quem faça música execr|vel durantes
anos, simplesmente porque lançou um |lbum
satisfatório (genial para muitos!). H| quem tenha a mania que é o
John Lennon. E h| quem seja tudo e ainda tenta, constantemente,
irritar/”aborrecer” os colegas/amigos/desconhecidos.
Claro, só h| um Liam Gallagher. E sim, se est~o chocados, o
(What’s the Story) Morning Glory? É SÓ um |lbum satisfatório;
relativamente bom, admito. Curiosamente, este mesmo Liam que
vive {s custas e arrasta a carcaça desde 2000 com produções e
lançamentos que roçam o esterco, conseguiu fazer algo
definitivamente bom, agrad|vel com os Beady Eye.
Mas como sempre, este mesmo rapaz gosta de borrar a escrita
com críticas escusadas e afirmações ridículas. E mais uma vez os
Radiohead n~o claudicam, e sim, s~o o porta-estandarte da grande
música proveniente da Gr~ Bretanha, algo que os Oasis nunca
atingiram. Talvez a cara da música, mas n~o da boa música.
RB
_música
12
H | muito interessado
pelos lugares frios e
desesperados onde
os sonhos nos
podem levar, Darren Aronofsky
desenvolveu gradualmente o seu
vocabul|rio visual para condizer
com as suas ambições
vision|rias, chegando ao filme
mais completo e audacioso da
sua carreira. Black Swan.
Nina (Natalie Portman) é
uma bailarina que sabe que n~o
triunfar| no mundo competitivo
do ballet se n~o se "matar a
tentar". A sua dedicaç~o espelha-
se no seu próprio corpo: o que
n~o est| partido ou ferido, est|
coberto de nódoas negras. A sua
m~e, Erica, que também foi um
dia bailarina, acompanha o seu
treino em casa protegendo-a em
demasia, tentando mantê-la
eternamente numa redoma que
preserva a inocência da inf}ncia.
O objectivo de Nina? O papel
principal em "O Lago dos Cisnes"
de Tchaikovsky, livre depois do
abandono forçado da famosa
bailarina Beth (Wynona Ryder).
Thomas (Vincent Cassel) é o
director da companhia e é
enfeitiçado pela inocência de
Nina como o Cisne Branco.
Todavia, considera que lhe falta o
fogo da seduç~o necess|rio para
o seu alter-ego, o Cisne Negro.
“Go home and touch yourself”, diz
-lhe ele.
_cinema
13
A certa altura, o tom muda ligeiramente e
assistimos a um filme de terror onde a linha que
separa a realidade da alucinaç~o é cada vez
menos visível. Nina veste-se de branco mas vê a
sua cara em mulheres vestidas de negro. As
obsessões levam-na a arrancar a própria carne,
revoltar-se contra a m~e e partir freneticamente
para a acç~o com Lily, uma bailarina rival. Uma
espécie de erupç~o cut}nea começa a crescer
nas suas costas e, a certa altura, algo parece
começar a nascer. Uma pena negra.
Black Swan é um daqueles filmes cujas
críticas nunca poder~o ser resumidas { palavra
“meio-termo”. Porque é t~o audacioso, é por
vezes risível (ainda que faça parte do seu charme
natural), mas sempre urgente e impossível de
n~o ser visto com enorme fascínio. Black Swan
quer uma resposta: ama-me ou odeia-me, mais
nada. Eu, confesso, fiquei-me pela primeira,
ainda que sentisse traços da segunda em alguns
momentos demasiado literais que mais tarde
entendi necess|rios. As reacções desencadeadas
pelo visionamento s~o um reflexo perfeito do
filme: a tens~o entre opostos, as lutas interiores.
Odiamos o filme, amamos o filme, odiamo-lo
mais um pouco, e amamo-lo. Nós somos o filme.
Partindo do argumento de Mark Heyman,
Andres Heinz e John McLaughlin, o realizador
Darren Aronofsky é um vision|rio sem medos.
Depois de ensaios da loucura como Pi ou
Requiem for a Dream e dramas humanos como
The Wrestler, Aronosfky funde as melhores
características de todos num híbrido que se
apresenta como o seu trabalho mais completo.
A "quase-obra-de-arte" serpenteia entre o
controlo e o abandono, entre a criatividade e a
loucura, e entre as experiências objectivas e
subjectivas. Nas suas pequenas falhas, ou
momentos risíveis como falei talvez cruelmente
no início, tende a literalizar demais, ainda que
seja por vezes um sacrifício necess|rio. Todavia,
constitui-se como um thriller astuto e épico
passado no mundo sadomasoquista e de
clausura do ballet, que desafia a audiência com a
sua graça, inteligência e profundidade. Um h|bil
retrato de uma metamorfose, mas n~o apenas
isso.
A fita provoca as nossas expectativas antes
de tirar o ch~o debaixo dos nossos pés. Nina
mostra-se como uma profissional perseguida e
aterrorizada por terceiros que a prejudicam
(afinal, vemos toda a acção sob o seu ponto de
vista). Mas { medida em que avançamos na
Black swan_darren aronofsky
GOOGLE IMAGES
_cinema
14
dissipando, tal como outras.
Thomas é a promessa de um
bandido manipulador que usa as
suas bailarinas para satisfaç~o
de prazeres pessoais. Todavia,
quando o filme termina, temos
uma ideia completamente
diferente de um homem cujo
motor é artístico e n~o carnal. O
mesmo princípio aplica-se a Lily,
e { medida que o filme progride,
interrogamo-nos sobre o que
aconteceu realmente de mau e
o que foi apenas uma projecç~o
da mente perturbada de Nina.
Aronofsky apontou Black
Swan como uma espécie de
metade de The Wrestler, ainda
que seja muito mais ambíguo –
ambos s~o, de uma forma ou
outra, um filme de personagem,
cujo arco se desenvolve de
forma semelhante, embora em
cen|rios completamente
opostos. Tal como na história de
Randy The Ram, o final de Black
Swan fica em aberto para
interpretações. Todavia, a
história de Randy é mais
propícia a respostas emocionais
fortes, sendo uma tragédia mais
tradicional. Black Swan não é
menos intenso, mas, sendo
intelectualmente mais exigente,
os métodos de storytelling
empregues obrigam a uma certa
dist}ncia entre o espectador e a
protagonista Nina, ainda que
vejamos tudo da sua
perspectiva .
Ainda como fez em The
Wrestler mas agora respeitando
a questões meramente técnicas,
Aronofsky filma muitas vezes
Portman por tr|s; uma
elaboraç~o pertinente do ponto
de vista imersivo do filme (um
estilo que é particularmente
bem usado, uma vez que a
postura de Portman diz tanto da
história da personagem).
Técnica recorrente utilizada
pelo realizador é ainda o
grafismo extremo em
momentos específicos, cujo
objectivo é transportar o
espectador o mais possível para
a dor sentida pela personagem.
Este grafismo foi visto em
Requiem for a Dream, The
Wrestler, e agora Black Swan
que é, por vezes, extremamente
difícil de ver.
_cinema
15
CO
_cinema
GOOGLE IMAGES
O hand-held shooting de
Matthew Libatique e a banda
sonora de Clint Mansell que exala
todo o temor da obra de
Tchaikovsky s~o duas
importantes adições ao tornado
de emoções. Aronofsky filma
close-ups íntimos e intensos que
seguram as personagens bem
perto. Nas filmagens firmemente
enquadradas de Nina, n~o vemos
tanto da dança como a sua
absorç~o e interpretaç~o da
mesma – a concentraç~o de uma
profissional que abriu m~o de
todo o egoísmo e egocentrismo
em prol da carreira. A fotografia é
altamente evocativa, usando
}ngulos pouco comuns e
contrastes fortes entre o preto e o
branco.
A performance da bailarina
que se desintegra
psicologicamente est| num
patamar muito superior ao
alcançado pelo mero elogio. O
desempenho arrebatador tem o
selo de Natalie Portman, a
mesma actriz que, com apenas 13
anos deu que falar com The
Professional (1994). Portman, no
papel da sua carreira (pelo menos
até agora), esvai-se em ansiedade
e solid~o – uma jovem mulher (ou
menina) cujos sonhos e ambições
s~o maiores que a vida. Mesmo
nos extremos, é impossível vê-la
representar. E isto acontece,
meus amigos, quando estamos
perante aquelas raras
performances, aqueles tour de
force que nos mostram para que
servem o Oscar, e quaisquer
outros prémios e
reconhecimentos.
O restante elenco sofre pelo
brilhantismo da protagonista,
mas n~o deve ser esquecido,
especialmente, as duas actrizes
secund|rias Mila Kunis e Barbara
Hershey. A primeira demonstra
uma feliz capacidade de actuar
em algo mais do que comédias e
dramas leves. A partir de uma
abordagem narrativa que lhe
requer a interpretaç~o de três
papéis distintos (pelas diferentes
formas como Lily é vista e
entendida), Kunis arranja boas
formas de diferenciar as três e,
ainda assim, manter um elo de
ligaç~o entre todas. Ainda que
viva na sombra de Portman, é um
trabalho que merece
reconhecimento. Quanto a
Hershey, actua com um poder
enorme, ajudando Portman a
construir uma relaç~o m~e-filha
aterradora e encorporando uma
personagem que é t~o f|cil de
odiar como de entender.
N~o ser| o favorito de todos,
mas estou aqui para vos assegurar
que este conto de loucura, dança
e repress~o é completamente
esmagador desde que os
primeiras frames invadem o nosso
fr|gil globo ocular. A loucura é,
ali|s, intencional e tem um
objectivo derradeiro - uma
mancha negra ao serviço da arte.
O acto criativo e o impulso
destrutivo est~o unidos no
pavoroso sopro das últimas
palavras da protagonista: “It was
perfect”. E talvez tenha sido
mesmo. Assim, Black Swan é um
dos melhores e mais
empolgantes filmes estreados em
2011.
GOOGLE IMAGES
16
O
nde é
que o
grande
vencedor dos
Oscars 2011
falha? Bom, n~o
é propriamente
falhar, mas eu tenho algumas
dificuldades em consider|-lo um
grande filme. Na verdade, acho
que três filmes ser~o
relembrados dos ano de 2010:
The Social Network, Inception e
Black Swan, por razões
diferentes, é claro. O que
acontece é que The King's Speech
repousa nas expectativas do
género e é um típico crowd-
pleaser.
Todavia, presenteia-nos com
um drama sólido com um clímax
emocionante - uma peça histórica
bastante satisfatória que atinge
os padrões dram|ticos que se
requeriam sem sacrificar a técnica
ou a precis~o histórica. É uma
combinaç~o sagrada para receber
prémios que junta o melhor de
Inglaterra com os princípios de
Hollywood, que nos permite
assistir a dois actores brilhantes a
recriar um teste de vontades
monumental. The King's Speech
parece estar admiravelmente livre
de respostas f|ceis e finais felizes;
é uma vers~o "desviante" da
história, mas uma vers~o bem
polida. Uma das razões para o
filme de Tom Hooper resultar t~o
bem é que opera em v|rios níveis
diferentes com sucesso, incluindo
a nível técnico, de onde devemos
destacar a banda sonora e a
fotografia lindíssimas.
Um filme extraordin|rio
sobre uma extraordin|ria
amizade, e que, aumentando o
seu estatuto de raridade, honra a
inteligência da audiência.
O realizador
David O.
Russel sempre
se deu bem a encontrar novas
formas de utilizar actores
familiares, e as performances em
The Fighter provam isso mesmo
uma vez mais. Enquanto o filme
se aguenta bastante bem "dentro
do ringue", fora dele é brilhante
no retrato de uma família da
classe oper|ria que brutaliza o
seu membro mais novo em
nome de alguma espécie de
reconhecimento. The Fighter
tenta algumas manobras
arriscadas, mas elas acabam por
se mostrar boas escolhas; tal
como no boxe, o resultado final é
que conta. A grande fraqueza do
filme est| no papel principal, e
esta crítica n~o é dirigida a Mark
Wahlberg, que j| se mostrou
capaz noutras oportunidades;
aqui n~o tem simplesmente muito
com que trabalhar na
personagem menos interessante
da trama. Por outro lado,
Christian Bale domina a cena
como Dicky Eklund, um tagarela
que deixou fugir a própria
carreira. De resto, h| personagens
t~o repulsivas que é difícil
preocuparmo-nos com o que lhes
acontece, mas devido ao elenco
soberbo, acabamos mesmo por
querer saber delas. Com um
corpo de trabalho bastante sólido
e um coraç~o maior do que
qualquer outra coisa na sua
génese, fica a um ou
dois suissinhos de ser um filme
grandioso, mas a técnica
empregue em todo o projecto é
magistral. É uma fita que sabe o
que é, n~o tenta ser outra coisa e
que nos atinge com tal violência
que seguimos directos para K.O.
The kings speach
The fighter
_cinema
17
O filme
segue
talvez
o legado de
Precious – nunca
compreendemos
bem onde
termina a profundidade e onde
começa o desolamento de um
enredo t~o negro. Apesar de n~o
me ter conquistador totalmente,
é um daqueles exemplares raros
que prova que os thrillers n~o
têm de ser barulhentos e
espalhafatosos para manter a
atenç~o do espectador. Winter’s
Bone parece desenrolar-se num
mundo completamente { parte,
com a sua própria lógica moral e
códigos de conduta. Poderia
parecer uma espécie de pris~o
decrépita sen~o estivesse a jogar
t~o obviamente em casa.
A heroína Ree Dolly
(fant|stica Jennifer Lawrence)
enfrenta uma crise semelhante
{quela apresentada em Frozen
River (2008): um homem
desaparece deixando dívidas a
uma mulher, neste caso, { jovem
filha, respons|vel pelo resto da
família. Este é um drama negro e
realista sobre uma comunidade
dizimada pela pobreza e por uma
esperança desaparecida h|
muito tempo, mas ligada por
laços profundos de sangue,
género e classe social. Debra
Granik filmou em |reas reais e
recrutou v|rios locais como
actores, e tanto os visuais como
as adições ao elenco misturam-
se discretamente entre os
profissionais.
Espectacular pela
humanidade, beleza austera e
urgência, n~o podemos deixar de
achar que este parece n~o ser
um filme para nós, e o que salva
Winter’s Bone de ser uma peça
elitista é a protagonista, cujo
car|cter n~o é revelado por
discursos vazios, mas por acções
e um foco inabal|vel. Winter’s
Bone é definitivamente tough to
love, mas Lawrence faz do
investimento emocional um
ganho certo.
C omo
sempre,
elementos
visuais dos Coen s~o originais e
puros. Os contrastes nos
interiores iluminados pelo fogo
s~o lindíssimos, e Roger Deakins
mantém a c}mara perto,
resistindo, em grande parte das
situações, {s vistas panor}micas
tradicionais.
No seus próprios termos, é um
filme bem sucedido – n~o como
um filme dos Irm~os Coen, mas
como uma história bem contada.
A melhor forma de o abordar
é baixar as expectativas. O
problema n~o est| no filme que
é, na verdade, magnífico em
muitos pontos - a fotografia é
lindíssima e sem dúvida uma das
melhores do ano, a banda sonora
é fant|stica e confunde-se com a
história, e as interpretações s~o
fant|sticas (excepto o Matt
Damon que, a meu ver, n~o faz
nada de extraordin|rio, todavia é
também o personagem mais
ingrato) – mas True Grit é
provavelmente o filme menos
irónico da m|quina
cinematogr|fica que s~o os
irm~os Coen, e é talvez o filme
“menos Coen” de todos.
Nada disto quer dizer que a
fita seja menos valida do que
qualquer outra, mas estes
realizadores j| puseram a fasquia
t~o elevada que este True Grit
n~o consegue evitar deixar um
pouco a desejar.
Winter’s Bone
CO True grit
_cinema
18
A vossa prateleira est| demasiado
vazia? Precisam de uma boa arma
para dar cacetadas ao vosso irm~o
mais novo? Querem ter a oportunidade de
agradecer { m~e, ao pai, ao irm~o, ao c~o e ao
gato? Trazemos-vos a resposta – ganhar um
Oscar! Simples como beber um copo de |gua, e
hoje todos ficar~o a saber o que fazer para
ganhar um.
1º PASSO - GÉNERO
OK, comecemos por pensar em que género
nos vamos meter para esta nossa alucinante
viagem até { vitória de um prémio da Academia.
Estritamente proibido:
Se planeiam fazer comédias, filmes de
adolescentes, filmes de terror, filmes animados
ou algo do género, mais vale estarem quietos,
porque assim n~o chegam l|.
Filmes de Guerra:
A pancadaria sempre deu lucro, se for em
doses industriais e tiver metralhadoras e bombas
ainda melhor! Desde um cheiro da 1ª Grande
Guerra com All Quiet on the Western Front (2
estatuetas) { 2ª Grande Guerra com Patton (7
estatuetas), até ao Vietname com Platoon (4
estatuetas). Se tiver uma boa carrada de drama
ent~o...ui nem se fala! Veja-se Saving Private
Ryan (5 estatuetas), Schindler’s List (7 estatuetas)
e The Pianist (2 estatuetas) são a prova disso
mesmo. Juntem-se as tropas!
Drama:
A sério... É preciso explicar porquê?
L-O-V-E:
A maior parte das histórias de amor
modernas quase nos fazem arrancar os cabelos
de t~o impossíveis e irritantes que s~o. Em
relaç~o a essas, amigos, tirem o cavalinho da
chuva porque além de actuarem ao lado da
Jennifer Aniston ou do Matthew Mccaughney…
pouco mais têm a ambicionar. O que resulta s~o
mesmo aqueles amores impossíveis ou aquelas
histórias de amor tr|gicas tipo Shakespeare in
Love (7 estatuetas), Out of Africa (7 estatuetas),
Annie Hall (4 estatuetas), Kramer vs. Kramer (5
estatuetas).
2º PASSO - REALIZAR OU
INTERPRETAR? Para Melhor Realizador:
Façam MUITOS filmes. Carradas. Em
quantidades industriais. Quando n~o tiverem o
que fazer, aqueles momentos mortos... yep!
Façam filmes! Mesmo que n~o sejam
nomeados, um dia h~o-de ser honrados de t~o
entupidos que deixaram os cinemas com os
vossos contributos para a sétima arte. Alternar
géneros também é uma boa técnica (ex.:
Spielberg);
Façam um filme com hobbits;
Actores / Realizadores também fazem
sucesso, veja-se o caso de Mel Gibson, Clint
Eastwood, Robert Reford e Kevin Costner;
Rezem um bocadinho para o vosso filme
ganhar a categoria de Melhor Filme – ajuda
bastante;
Ser Homem: a verdade é dura e crua…só
uma mulher ganhou em 2010, Kathryn Bigelow,
com The Hurt Locker (2008).
And the oscar goes to… You!
_cinema
19
Para Melhor Actor/Actriz:
• Realizadores por que procurar:
Agarrem-se que nem carraças a um filme de
Clint Eastwood ou Martin Scorsese - os velhotes
safam-se bem. Se estes dois j| estiverem
ocupados, tentem uma personagem inst|vel de
Paul Thomas Anderson ou um esgrouviado dos
irm~os Coen...
• Ser britânico:
Esta é daquelas coisas mais chatas e difíceis
de contornar. Se n~o forem brit}nicos, a sorte n~o
é vossa amiga, porque é certo e sabido que
quando os brit}nicos s~o nomeados…
enfim! Helen Mirren, Daniel Day-Lewis, Judi
Dench, Jim Broadbent, Rachel Weisz, Kate Wins-
let…dizem alguma coisa? Yep! O-S-C-A-R. Mas a
esperança é a última a morrer, como se costuma
dizer… reinventem-se como brit}nicos e con-
tratem um BOM treinador para a vossa pronúncia
n~o sair { Mourinho ou { Madonna.
• Improvisar...no sotaque:
Interpretem alguém com sotaque
Se n~o d| para serem brit}nicos, interpretem um.
Ou ent~o algum outro sotaque agreste, da África
do Sul, Austr|lia ou algo do género.
• Realismo acima de tudo:
Protagonizem um filme biogr|fico em que
interpretam uma pessoa real. Se puder ser
alguém que ninguém conheça ent~o… ui! ( Ben
Kingsley com Gandhi, Charlton Heston em Ben-
Hur, Robert DeNiro em Raging Bull, F. Murray
Abraham em Amadeus, Forrest Whitaker em The
Last King of Scotland)
• Fora do normal:
Interpretem um louco ou alguém
mentalmente inst|vel (Jack Nicholson fê-lo em
One Flew Over the Cuckoo's Nest e As Good as It
Gets, Tom Hanks em Forrest Gump, Dustin
Hoffman em Rain Man, Geoffrey Rush em Shine).
Interpretar um deficiente também d| bons
resultados entre a Academia - Daniel Day-Lewis
em My Left Foot, e Al Pacino em Scent of a
Woman.
• Concorrência Desleal:
NUNCA se deixem ficar no mesmo elenco que
Meryl Streep, Cate Blanchett e Kate Winslet ou
Jack Nicholson e Dustin Hoffman. Eu compreendo
a vontade de contracenar com grandes nomes,
mas a verdade é que se o fizerem com estas
alminhas, v~o ser cilindrados…traduç~o: eles s~o
nomeados; vocês n~o.
• Perecer on screen:
Morrer no final do filme é sempre bom. Bom
para o actor, claro. Para o personagem é sempre
uma maçada como calculam. Como m|rtir, ou
morrendo aos olhos da felicidade ou com uma
doença terminal é o melhor caminho. Estes
últimos ent~o s~o bem propícios a ter daqueles
discursos filosóficos sobre a vida e oportunidades
perdidas que nos fazem enriquecer a indústria dos
cleanexes. (Gladiator, Philadelphia, Ed Wood,
Leaving Las Vegas, Dead Man Walking, Titanic... )
• Beleza interior:
Se forem bonitos/as, interpretem alguém
menos bonito (Nicole Kidman – The Hours,
Charlize Theron – Monster) ou transformem-se
drasticamente a nível físico (novamente Charlize
Theron em Monster, Robert DeNiro em Raging
Bull).
• O antigamente:
Protagonizem um daqueles filmes com roupas
catitas do antigamente e sets elaborados ou
gettos perigosos e problem|ticos com histórias
moralistas (um drogado no tempo dos Afonsinhos
seria uma nomeaç~o pela certa).
_cinema
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Para Melhor Filme:
•Catchy-phrase
Ter uma frase daquelas mesmo que fique no
ouvido e para sempre na história do cinema (“Life
is like a box of chocolates”)
• Guiões
Guiões insuport|veis mas com cenas tensas
com pouco di|logo ou com monólogos que nunca
mais acabam s~o bons prenúncios. Nada grita
mais “OSCAR” do que um daqueles filmes que
fazem menos dinheiro do que uma banca de
limonada gerida por dois miúdos de quatro anos.
Conclus~o: o público n~o compreende, nem
vocês compreendem, e o filme só lucrou 15 € ?
N~o entrem em p}nico; os Oscars v~o chegar.
• The end
Quanto aos finais dos filmes, é na base do 8
ou 80: ou super-hiper-mega felizes, ou super-
hiper-mega dram|ticos e depressivos. O final
perfeito acaba “feliz” com um personagem
realmente bom falecido.
*** *** *** *** ***
Uma vez trilhado o caminho para a nomeaç~o e,
posteriormente, para a vitória… h| que ter o
GRANDE agradecimento bem preparado.
E n~o nos esquecemos dessa parte…
1. Chorem como se não houvesse amanha
e até ficarem desidratados - além de fazerem
menos chichi na cama, fica sempre bem;
2. Agradeçam a toda a gente, incluindo
{quela senhora que uma vez tomou conta do
vosso c~o quando estavam a decorar o vosso
papel de figurantes nos Morangos com Açúcar;
3. Agradeçam a Deus, ainda que façam
macumbas sat}nicas no mato e decapitem
galinhas inocentes;
4. Passem-se da cabeça quando a banda
começar a tocar a musiquinha de fundo que
significa um gentil convite a abandonar o palco.
CO
_cinema
21
cs
Caes sao permitidos, mas
a máscara fica lá fora
~ ~
Q uem disse que no teatro só
existe espaço para actores?
Nós, estudantes, pessoas
mundanas, perdidos entre os livros, as
aulas, empregos e noitadas, todos
sofremos de um mal comum: o peso da
m|scara social. Em n~o raras vezes a
nossa identidade, ideologias, e
pensamento, que julgamos serem livres,
s~o altamente condicionados por
constrangimentos sociais que nos
roubam visam periférica, ideias próprias
e personalidade. Tendemos, assim, a
misturarmo-nos com o os padrões que
nos dizem ser correctos, em detrimento
de nós próprios.
Quando procuras o teu espaço,
o teu lugar no mundo, tens de, primeiro,
te encontrar a ti próprio fora de
par}metros sociais castradores e de
frases feitas. H| que experienciar o
ridículo, a criaç~o individual, as reais
perspectivas sobre a existência o que, no
final de contas, engloba muito mais que
o que nos é perceptível num olhar
supérfluo.
Foi exactamente isto que
pensei antes de me “alistar” na grande
família que é o Teatro da Universidade
Técnica (TUT). Não era, de todo, o meu
objectivo envergar por esta opç~o
profissional, mas sim encontrar-me.
Avancei e dei de caras com um
cen|rio de 20 pessoas a saltar como
índios, a soltar imensas gargalhadas e
fonemas { velocidade da luz, a tomarem
um objecto que, sendo, a título de
exemplo, uma garrafa de |gua, se
transforma num osso, num telefone,
numa bola, em qualquer coisa que seja
possível { imaginaç~o criar. Intimidou-
me o { vontade daquela gente.
Intimidou-me que eles n~o receassem o
troçar por parte de outrem.
No entanto, pus termo {s
minhas inseguranças de um coraç~o
irrequieto e deixei-me ficar, apesar de o
meu instinto estandardizado para a
comum definiç~o de bem e de mal me
repetir continuamente “isto n~o é para
ti, n~o te enquadras”,
Hoje, cada ensaio é o ponto
alto do meu dia. J| aprendi tanto, tudo
apinhado de variedade, qualidade e,
principalmente, utilidade. Hoje sei fazer-
me ouvir, sei lidar com o espaço em meu
redor e com os outros, tenho uma muito
maior consciência do meu corpo, dos
seus movimentos. Hoje, descobri sítios
novos, dentro e fora de mim. Se sou
actriz? N~o me parece que o seja, mas
sou, sem sombra de dúvida, muito mais
feliz.
_teatro
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*AUTOR DESCONHECIDO
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_moda
DIY
D IY surge da abreviaç~o do inglês Do It Yourself e teve o seu inicio com o movimento Punk nos anos 70, em que se
pretendia que a produç~o musical fosse inteiramente independente. Característico dessa mesma ideologia, o DIY era um manifesto anti-consumista e anticapitalista, reflectindo um espírito empreendedor, criativo e autónomo. Promove a ideia de que qualquer pessoa pode completar tarefas, criar objectos e afins sem depender de outrem.
Na moda, o "DIY" possibilita criar peças semelhantes a outras {s quais dificilmente teríamos acesso, e é também uma maneira de reaproveitar roupas antigas e acessórios.
Com o fim dos saldos e o regressos {s aulas ir {s compras pode ficar mais complicado, por isso deixamos-te aqui, diversas ideias de como aplicar o DIY!
Tens o arm|rio cheio de t-shirts e camisolas velhas e não sabes o que fazer com elas?
Deixamos te aqui algumas sugestões. N~o tenhas medo de usar a tesoura: corta, rasga, fura, inventa!
Sê original, aproveita todo o tipo de t-shirts que tiveres posto de lado no arm|rio e cria algo novo.
Vem aí o verão porque não aproveitar umas calças que j| não uses e torna-las em calções?
As antigas calças da LEVI’S, ligeiramente subidas s~o perfeitas para este DIY. Sendo bastante f|cil de fazer, é uma óptima maneira de aproveitar n~o só as tuas calças antigas como as dos teus pais. Basta cortares as calças { certa, e n~o fiques só por ai, uma vez calções, podes sempre rasga-los um pouco tanto nas pontas como nos bolsos, conforme preferires.
Farta da bijutaria que tens em casa?
Cria os teus próprios colares, pulseiras e brincos. Porque n~o utilizar correntes para o fazer? Vejam, por exemplo, a colecç~o da Chanel Spring 2011, inspirem-se!
N~o se limitem só {s correntes, juntem -lhe outras coisas, ou pintem-nas!
ic
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_moda Especial fashion week
Acne Fall 2011 Paris
Das melhores colecções masculinas vistas nas semanas de moda pelo mundo. A ACNE, { semelhança de outros, optou por cortes e formas cl|ssicas, cores na sua maioria neutras e acessórios minimalistas que n~o se destacam mas que completam o look. Passa uma imagem 'casual' mas ao mesmo tempo elegante. Convenceu a 100%. Preppy but never too preppy. Rapazes aqui fica a dica: apostem nestes looks!
Burberry Prorsum Fall 2011 londres
Skinny pants, fatos e grandes casacos. É assim que se resume esta colecç~o da Burberry, que seguindo uma linha cl|ssica na calças e nos calçado, inova e esbanja cor e padr~o nos casacos e camisolas, mantendo as grandes malas de cores essencialmente neutras como acessório.
Conquista-nos, assim, mais uma vez. A originalidade teve presente na invulgar escolha de materiais utilizados em casacos e boinas, e pelo invulgar design do calçado. A
simplicidade dos looks é rematada pela complexidade de uma peça, neste caso a parte de cima. Ficamos { espera que marcas como a Zara se inspirem nesta colecç~o, pois se as peças são de cortar a respiração, o preço das mesmas não fica atr|s!
Coleccoes masculinas ~
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_moda
Especial fashion weeks
Gucci Fall 2011 milao
A Gucci abriu a semana da moda em Mil~o, seguindo uma linha inspirada nos anos 70, onde esbanjou as cores turquesa e fúchsia, juntamente com os grandes chapéus e peles. Pessoalmente, gostei bastante, apesar de ser semelhante aquilo que j| tinham apresentado previamente, n~o deixa de ser uma colecç~o que apela para o 'chic' e que arrisca em duas cores que, de facto, se conjugam. Ao contr|rio da colecç~o da Prada que apesar de inovadora, pouco tinha de apelativa e funcional, desiludindo depois da sua colecç~o primavera/ver~o 2011.
Burberry prorsum Fall 2011 Londres
A Burberry Prorsum trouxe { semana da Moda em Londres um desfile de cores vibrantes e formas luminosas . Focou-se nos padrões e nas peles. Proporcionando um regresso aos 60's chic com um toque inovador para a estaç~o. Mais uma vez a
Burberry n~o falha em encantar e desta vez arriscou nas cores e o fez de maneira brilhante. Como lhe é habitual, cativa especialmente
pelos pequenos detalhes. Tem vindo a tornar-se uma favorita e um must see durante a semana da moda.
Coleccoes femininas ~
´ ~
ic
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F oi em busca de qualquer coisa que n~o carregasse o aspecto
brilhante e muitas vezes piroso dos blogs que encontr|mos estes
tumblrs. Queríamos coisas simples e que acalmassem a vista ao
mesmo tempo que afastavam o tédio.
O tumblr divide o gosto por um mesmo motivo: a maior parte deles
baseia-se somente em fotografias que viram algures e que copiaram para o deles,
por lhe acharem graça ou qualquer coisa parecida. Onde est| a criatividade?
Contudo, aqui e ali somos capazes de encontrar umas pérolas de imagens ou
citações que apesar de j| terem viajado meio mundo, n~o chegariam até nós se
n~o fosse por esta arte de “rebloggar” (aportuguesando o termo “reblog” utilizado
no site, e termo esse, que ganha pelo menos com a tentativa de conservar, de
alguma maneira, os “direitos de autor”). Encontr|mos estes dois:
http://nomadismo.tumblr.com/
http://lifeofliterature.tumblr.com/
O primeiro por se balançar, saudavelmente, entre citações,
desabafos sensíveis e sinceros e fotografias próprias. Um tumblr com
personalidade e um sossego de dedos que parecem mexer só quando o corpo j|
n~o aguenta mais. O segundo, por servir de consolaç~o a quem se vê preso no
mundo dos livros. Uma consolaç~o para quem os devora sem piedade ou
discriminaç~o. Consolaç~o por aqui se encontrar pessoas em igual, ou pior
situaç~o. Um trago de inveja por imagens de livrarias, bibliotecas e cafés
espalhados pelo mundo onde os livros cobrem as paredes.
Queremos deixar aqui, também, este blog pela surpresa que foi.
Uma boa escrita tanto de literatura, como relatos humorísticos da vida que leva o
seu autor, Bruno Nogueira. Aconselhamos o texto Dói”s”-me e (o texto
imediatamente abaixo) Mente sem Abrigo ambos “postados” (outro
aportuguesamento, que gostamos particularmente de alguns) em Agosto de 2005.
http://corpodormente.blogspot.com/
Letras encontradas
_literatura
SL
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SÓ
…O Livro mais triste que h| em Portugal!
N ~o que precisemos de mais tristeza. Realmente n~o
precisamos. Precisamos é de poesias e atitudes destas! O
que António Nobre trouxe com esta obra foi novidade a
tresandar de ousadia. Romper com o usual, com o
politicamente correcto tanto pode ser mais f|cil (para quem j| nasce com o
espírito ou tem convicções bem fincadas) ou mais difícil (para quem ainda
tem medo da sociedade e da sua validaç~o). Mas Só surpreendeu com o
car|cter inesperado dos temas e com a novidade das opções formais e
estilísticas. Integrado na geração de poetas da década de 90, Nobre revela o
desejo de renovação da linguagem poética próprio de uma estética finissecular,
integrando temas e registos de língua cujo acesso { expressão poética estivera
outrora vedado. Em termos tem|ticos, destaca-se o pessimismo profundo da
sua visão do mundo; em termos formais, a presença da linguagem popular e a
utilização expressiva das marcas da coloquialidade.
Um livro para ler e reler, quantas vezes forem necess|rias nem que seja
para nos sentirmos menos Sós.
AUTOR: António Nobre
EDITORA: PORTO EDITORA
ANO DA ÚLTIMA EDIÇÃO: 2011
PREÇO: 6,60 €
_literatura
SL
40
_literatura
A
qui ficam algumas sugestões para
onde, como e quando celebrar o Mês da Poesia da melhor
maneira possível, na melhor companhia possível – dando o
maior descanso { carteira possível.
Onde_ Casa da América Latina (Lisboa)
Avenida 24 de Julho, nº118-B Tel- 21 395 53 09
Como_ Festa da Poesia
Quando_ -Dia 16 (Quarta) A América Latina em Portugal
18h30 Recital por Lauren Mendinueta com a
participaç~o de Luís Represas;
-Dia 23 (Quarta) Sor Juana Inés de la Cruz: No limiar da liberdade
intelectual no México Colonial
18h30 Comunicaç~o por Isabel Araújo Branco;
-Dia 23 (Quarta) Dos dois lados do mar
19h30 Recital por Júlia Lello e Jo~o Roque;
-Dia 25 (Sexta) Das seis { meia-noite
18h-00h Maratona de Poesia.
-Feira do Livro
Com a Livraria «Poesia Incompleta»
(nas sessões de festa)
- Mais informações em www.casamericalatina.pt
41
_literatura
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_entrevista
43
_entrevista
44
_entrevista
M al sabíamos nós que aqueles
trinta segundos de fama no
primeiro casting do talent
show da SIC onde muito
abruptamente se ouviria cantar Hit the Road Jack
valeriam a Martim Vicente uma escalada
repentina até ao panorama musical e uma
afirmaç~o de que a música portuguesa est| bem e
de boa saúde. Valendo o seu talento pelas
interpretações de E Tudo o que Eu te Dou de Pedro
Abrunhosa ou Me and Mrs. Jones de Billy Brown, o
segundo classificado dos Ídolos carrega consigo a
cruz e a espada da boa voz portuguesa.
Da génese ao futuro, Martim Vicente.
RevoltArte- Em pequenino quais foram as
primeiras pisadas pela música e o primeiro ídolo?
Martim – Em pequeno comecei a cantar por volta
dos 4 ou 5 anos. Cantava por casa as músicas das
telenovelas da altura, a música de Parabéns do
Herman… A primeira vez que agarrei numa guitarra
foi aos 8 anos. Nessa altura n~o cheguei a ter um
ídolo em termos musicais, n~o queria ser igual a
ninguém. A primeira coisa por que ganhei um gosto
foram p’raí os Excesso, mas nada de mais.
45
_entrevista
R- Porquê participar neste “Ídolos” e
não em edições anteriores ou na
Operação Triunfo por exemplo?
M- A verdade é que j| me picavam para
ir as edições anteriores. Mas o ídolos
funciona como uma espécie de teste {s
nossas capacidades, e é um teste que pode
ser passado ou n~o na televis~o nacional.
Eu tenho uma relaç~o e um gosto
demasiado especial pela música para na
altura arriscar a ir a um sítio em que
publicamente me dissessem que n~o era
bom para isto, “cantas bem mas n~o és
assim t~o bom ...” e isso seria a destruiç~o
de um sonho. Num programa destes onde
est|s sujeito a isto, tens de estar
capacitado a ouvir estas coisas sem que
isso signifique a destruiç~o de um sonho.
Se a coisa tivesse corrido mal n~o sei se eu
teria ficado bem, mas felizmente...
Decidi que ia ao Ídolos porque, para j|,
foi a primeira coisa que apareceu na
televis~o portuguesa e depois, porque o
Ídolos tem uma maior exposiç~o que a
Operaç~o Triunfo.
R- Maior expectativa que tinhas e
como se verificou?
M- A maior expectativa que eu tinha era
conseguir entrar no programa e n~o passar
despercebido. Consegui chegar ao
segundo lugar com muitos votos e as
pessoas reconhecem-me na rua, pelo meu
trabalho e por quem sou. As pessoas falam
do meu trabalho! E por isso acho que o
meu principal objectivo foi cumprido.
R- Em que é que o Ídolos contribuiu,
de facto, para a tua evolução enquanto
músico?
M- Em termos técnicos, musicais e
noutras coisas do género, n~o ganhei nada
com o Ídolos. N~o é esse o objectivo do
programa. O programa n~o tem qualquer
tipo de objectivo de ensinar, no m|ximo
desenvolve a tua capacidade de aprender.
Eu aproveitei para aprender muita coisa.
Mas ninguém me ensinou a tocar melhor
guitarra ou piano, nem a cantar melhor. O
programa tem uma vertente que obriga a
trabalhar mais em certos aspectos. Acaba
n~o por ser uma escola de música, mas
uma escola de profissionalismo. A press~o
em que és colocado no programa, as coisas
pelas quais tens de passar, as tarefas,
responsabilidades perante a realizaç~o da
produç~o – coisas que te comprometes a
fazer. Ninguém pode chegar ao Ídolos, a
uma gala, e fazer o que lhe apetecer. Se
formos contra a produç~o ou a realizaç~o
as coisas provavelmente n~o v~o correr t~o
bem porque o trabalho n~o fica t~o bem
feito. Apesar de o sujeito principal ser o
músico, existem mais profissionais de
outras |reas em quem temos de confiar
porque eles est~o a trabalhar para que o
músico seja o melhor. Para se ser um
músico profissional também temos de
saber ouvir essas pessoas, saber critic|-las,
saber organizar cosias com elas…No Ídolos
aprendemos a trabalhar com elas. É um
trabalho de equipa.
46
_entrevista
R- Agora sem o júri à frente a primazia
será dada ao conteúdo e forma da música ou
ao ‘aspecto de ídolo’? Até que ponto é que
esse ‘aspecto’ é realmente importante?
M- O Júri sempre foi uma coisa muito
ambígua. O que o júri queria nem sempre
significava o que o público queria. Est|vamos ali
para ser os Ídolos de Portugal e n~o para ser os
ídolos do Manuel Moura dos Santos, Laurent
Filipe, Roberta Medina ou do Pedro Boucherie.
Obviamente que a opini~o conjunta dos quatro
dava um bom bolo para se saber o que era
necess|rio para sermos um ídolo. Também era
relativo noutras coisas, por exemplo, por ganhar
o concurso n~o queria dizer que nos torn|vamos
automaticamente ídolos de Portugal. Isso é o
Tony Carreira, o David Fonseca, a Marisa, o
Jorge Palma, o Sérgio Godinho e por aí fora.
Esses sim s~o os Ídolos de Portugal. Os ídolos
que o programa intitula s~o os que conseguem
ganhar alguma coisa com o concurso.
Obviamente que eu agora quero ser
avaliado pelo meu trabalho. A partir de agora
vou passar a construir a minha carreira e
começar a trabalhar para que as pessoas me
reconheçam pelo meu trabalho. Que gostem,
que comprem, que criticam, que se debatam por
ele. Esse é o meu objectivo agora. N~o é agradar
o júri, um certo tipo de pessoas, mas ser
reconhecido e que as pessoas apreciem o meu
trabalho.
R- Achas que a tua participação no
programa te deu ou tirou credibilidade
perante um público mais difícil de agradar –
tendo até em conta todos os exemplos
anteriores ?
M - O Ídolos, como qualquer talent show,
tem as suas vantagens e desvantagens. Torna-te
alguém medi|tico e alguém que é facilmente
conhecido e ouvido. Como desvantagem tens o
facto de haver sempre um público que n~o te
consegue ver como um cantor ou músico e só te
vêm como um producto de televis~o. É um
estereótipo que temos de ultrapassar mas que
n~o se ultrapassa só sendo bom. Para convencer
essas pessoas acho que só tenho de me manter
fiel {quilo de que gosto, saber ouvir, trabalhar
muito, ser rodeado pelas pessoas certas (que
n~o sei quais s~o), para que as pessoas daqui a
uns tempos j| n~o pensem assim. J| ninguém se
lembra de que o Jo~o Pedro Pais ficou em
segundo lugar no Chuva de Estrelas! É uma coisa
que com o tempo se ganha e se cria.
47
_entrevista
R– Daqui em diante, quais serão os
horizontes da tua música?
M- Quero começar a trabalhar nos meus
originais. Tenho de aproveitar enquanto somos
esse produto televisivo para dar alguns
concertos (Idolomania em tournée é boa para
nos treinar, uma espécie de est|gio. A sensaç~o
de palco é diferente da de estúdio). Aproveitar o
dinheiro que ganho com isso para um pé de
meia, para a carreira. J| tenho 21 anos e j|
tenho de me começar a fazer { vida para n~o ser
só mais um licenciado desempregado. Começar
a trabalhar a sério nos meus originais
para se conseguir fazer um |lbum.
R- O que é que falta à juventude
hoje em dia, em termos musicais?
M - Embora seja verdade que toda a
gente gosta de música, ouvir música,
e que cada um tem os seus gostos,
também é verdade que nem toda a
gente gosta de Músicos...
R- Por que é que achas que isso
acontece? Por que é que nem toda a
gente gosta de músicos?
M – Acho que a juventude actual tem
um grande problema, que é próprio e
comum desta idade, que se chama
inveja. O jovem normal tem alguma
dificuldade em ser Super Fã de um
músico ou um cantor; pode gostar de
ir a um concerto dele, mas porque o
intérprete o diverte, n~o por que este
o admira.
48
N um mundo dessacralizado, muitos
duvidam da “simetria progressista” que
intenta um progresso humano
indissoci|vel dos avanços tecnológicos e
científicos. Talvez o aparente desequilíbrio
evolutivo esteja na base do desaparecimento de
verdadeiros filósofos e teóricos - “agitadores”
das consciências - emergindo uma nova tentativa
reconciliadora para com os cl|ssicos e seu
contributo moral ({ falta de inspiraç~o suscitada
pelo homem moderno, amoral e acrítico).
Para além do imediatismo informativo, os
avanços tecnológicos potenciaram um fenómeno
de “desinformaç~o” que se alastrou de forma
perigosa ao espaço individual, no qual cada um
encontrava o distanciamento necess|rio para
“repensar” o mundo, assumindo-se espectador e
crítico da realidade.
O excesso de informaç~o, bem como os
sucessivos e ininterruptos bombardeamentos
publicit|rios firmaram uma nova (e falsa) noç~o
identit|ria que, esvaziada de verdadeira
significaç~o interior, converteu-se num conceito
exterior abstracto que induz ao n~o
questionamento.
Esta nova “identidade” surge ent~o
totalmente
vinculada { imagem. A originalidade,
outrora do pensamento, converte-se numa
procura exterior de distinç~o que gera um
sentimento de rivalidade face o outro, face a
semelhança atroz que neste encontra. Pois a
diferença enquanto m|xima identit|ria torna a
igualdade grotesca, tornando-se mesmo
contr|ria { própria natureza humana, de
sociabilidade - de uni~o. De pertença.
Tal recriaç~o identit|ria, para além de
reforçar o individualismo característico das
sociedades modernas, torna-se indispens|vel {
manutenç~o de um sistema assente no consumo
e consequente embrutecimento das massas. O
inconformismo e a revolta tornam-se assim
meras representações exteriores sem força e,
talvez por isso, o ser que se diz “inconformado”
tenha tanta ou maior preocupaç~o em
exterioriz|-lo, face aos seres “indistintos”, que
caminham ordeiramente com o restante
“rebanho”.
O problema surge quando o inconformismo
n~o vai além da indument|ria. A ilus~o
identit|ria acabou por assumir verdadeira chefia
na nossa mente, levando-nos a desperdiçar o
nosso potencial criativo numa utopia que, se
assume contr|ria a esse sonho que outrora
comandava a vida – “Eles n~o sabem, nem
sonham, / que o sonho comanda a vida, / que
sempre que um homem sonha /o mundo pula e
avança”. Pois o mundo “pula e avança” com
ideias e, enquanto procurarmos a nossa
singularidade fora de nós mesmos perpetuamos
esse estado de adormecimento colectivo, que
tanto criticamos.
A identidade
_ACTUALIDADE
49
Todas as formulações que enalteçam um
pressuposto de singularidade assente na
aparência têm como objectivo o
entorpecimento das mentes, o fomento do
acriticismo e da ignor}ncia. N~o basta
aparentarmos um certo inconformismo e
rebeldia. N~o basta assumirmo-nos diferente,
é preciso que pensemos diferente.
A mudança por que tanto ansiamos nasce
do questionamento profundo, de um
verdadeiro desprendimento da
superficialidade.
Repensemos então esse “sonho”, no qual
repousa grande parte da construç~o de nós
próprios, pois tal ilus~o torna cada vez mais
difícil a percepç~o de um outro para além de
nós mesmos. N~o queiras um outro mundo, sê
parte integrante deste. Recria este mundo,
recriando-te a ti mesmo.
Por isso despe-te. Despe-te agora da ideia
em torno da qual firmas-te a tua identidade.
Olha em redor. Ver|s o mundo de outra forma
e ver-te-|s decerto de outra forma. A
verdadeira mudança emerge do interior de
cada um de nós.
Sa
_ACTUALIDADE
50
_magna tuna
N o dia 17 de Março três
aprendizes de doutor
juntaram-se para formar
um grupo que combinasse
o amor pela música com o espírito boémio e
a vida académica: a Magna Tuna
ApocalISCSPiana. O grupo foi crescendo,
tal como a paix~o e a vontade de aprender e
evoluir, e, com quase 18 anos, a MTA conta
no seu currículo a presença em v|rios
encontros e festivais, j| palmilhou Portugal
e voou além fronteiras. Somos uma tuna
orgulhosamente mista que procura na
música e na amizade a fórmula-chave para
levar o nome do ISCSP a tascas, arraiais,
coliseus ou {s ruas de Lisboa. Porque n~o
queremos que o percurso na universidade
seja apenas uma passagem, unimo-nos com
vontade de que nas nossas memórias
permaneça o espírito académico e a música
que nos juntou.
Quanto mais bebo, melhor canto
Iv apocaliscspiano
VIII apocaliscspiano
2006
2004
1996
51
_magna tuna
Em 1999 organiz|mos o I
ApocalISCSPiano, o encontro de tunas que se
realiza todos os anos na nossa faculdade, onde
reunimos as novas e as mais antigas gerações
da MTA, amigos, família, copos e música,
enchendo deste modo as paredes do nosso
ISCSP com uma tunalidade diferente.
É com orgulho que este ano a Magna
Tuna atinge a maioridade e, { semelhança de
anos anteriores, fazemos sempre quest~o de
juntar a velha guarda da MTA com os novos
rebentos num jantar de convívio. O espírito que
nos une é sem dúvida intemporal e percorre
cada um de nós, deixando sempre alguma
nostalgia por cada ano que passa. Olhamos
para o futuro com alguma ansiedade, olhamos
para o passado com algum carinho, mas
vivemos o presente de forma intensa, sempre
fiéis a nós próprios e com vontade de alcançar e
tocar cada um dos estudantes do ISCSP.
Porque a Magna Tuna ApocalISCSPiana é a
tuna da tua faculdade e, por isso também é a
TUA Tuna!
Cartaz XI ApocalISCSPiano (2009)
jp
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M uita gente tem as suas ideias brilhantes no banho. Eu tenho as minhas no autocarro e ao mesmo tempo que as tenho as
vou perdendo, t~o r|pida é a viagem. Sou das poucas que me posso gabar de demorar quinze minutos até chegar { faculdade e que vou quase sempre comodamente sentada a ouvir as conversas dos outros, a ver como adormecem ou como se colam ao telemóvel logo desde as oito da manh~. A palavra “comodamente” poder-se-ia ligar a tantas outras descrições de actividade de tanta gente como eu. A inércia com que levamos a vida, sempre numa bossa-nova suave, numa brisa primaveril com cores neutras que d~o com tudo, é t~o aborrecida que d| jeito. D|-nos jeito que tudo esteja t~o longe quanto est| o nosso pé esquerdo e d|-nos, sobretudo jeito, termos alguma coisa com que reclamar. Se tudo estiver bem, somos hipócritas. Se tudo estiver mal, somos hipócritas. Se n~o nos mexemos e reclamarmos de vez em hora com o motorista ou com a velhota que se sentou ao nosso lado, j| somos inteligentes e conseguimos decidir melhor a nossa posiç~o – consoante nos leve a conversa e a manchete do jornal.
J| vi muita coisa neste autocarro, tanto que o pude comparar { vida que levamos em conjunto. N~o digo em comunidade, repare-se, mas em conjunto uma vez que estamos todos fisicamente no ano de 2011. Imaginem ent~o este mesmo autocarro, pequenino, cheio do barulho do motor, abafado de toda a gente que j| passou por l| e do ar condicionado (que ninguém sabe se est|, ou se alguma vez esteve, ligado), a cumprir o caminho que cumpre sempre. E assim, vendo de tanta coisa, vi que antónimos eram afinal sinónimos mal traduzidos. O eu é tão diferente do outro, tal como o outro é completamente o oposto do eu.
Se eu sou eu ao mesmo tempo que sou o outro, e o outro o é ao mesmo tempo que é eu,
ent~o j| n~o sei o que sou ou para quem. Só sei que sou diferente daqueles tipos. Independentemente como acabarem estas observações de pessoas e como é que essas pessoas se processam, cheguei { conclus~o de que o autocarro vai andando enquanto as pessoas se julgam umas {s outras – e do inútil que s~o esses julgamentos. O autocarro leva-as ao mesmo sitio, forem as pessoas quem forem. Estamos comodamente no nosso lugar a passar o tempo a olhar para os outros, em vez que olharmos, primeiro, para nós.
Até porque dói olharmos para nós. Dói ver que tent|mos passar { margem e mesmo assim falhamos redondamente e chafurdamos ou na hipocrisia ou numa apatia-apapagueada (a tal do diz que disse, com uma cara muito indignada, mas que no fundo n~o est| assim tanto).
Posto tudo isto parece-me, que a revoluç~o deve realmente começar por nós, pelos nossos olhos e sobretudo pelas nossas m~os. Da introspecç~o rapidamente para a acç~o. Libertarmo-nos dos clichés e do politicamente correcto, mandar { merda quem o tiver de ouvir, e depois conversar com censo.
Amanh~ é dia é pormos as duas m~os na massa – até ao cotovelo. Amanh~ é dia de devolvermos ao espírito o orgulho de ser saber que h| uma causa que precisa que luta e vontade de agir. Amanh~ é dia de actuar, mais n~o seja, para que nos possamos orgulhar de sermos seres humanos que lutam. Sim, que lutam e que vencem. Gosto de palavras, juro-vos que gosto, mas neste momento estou farta delas. As palavras movem, mas os corpos alteram a realidade. Amanh~, porque hoje a revolta começa por nós.
sl
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