revista zé - 03

148
Entrevista A pianista Maria João Pires e a insustentável leveza das mãos Filhos da Terra Raul Seixas Eu parti há 20 anos atrás ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANHÃO PARAÍBA PERNAMBUCO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE MEMÓRIA - DOM HELDER CÂMARA MODA - A MULHER DA TÊCA MODERNIDADE - UMA APARELHAGEM DE SONS COM DJ DOLORES TEATRO - FIT BRINDA À SUBJETIVIDADE CULTURA - A OBRA DE FÉLIX FARFAN Pode entrar e conferir o ensaio com a diva baiana Ivete Sangalo INFORMAÇÃO + ATITUDE A REVISTA DO NORDESTE ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANHÃO PARAÍBA PERNAMBUCO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE ANO 1 #03 R$15 2009

Upload: josue-jackson

Post on 10-Mar-2016

241 views

Category:

Documents


8 download

DESCRIPTION

Uma revista voltada para o Nordeste do Brasil

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Zé - 03

Entrevista

A pianistaMaria João Pires

e a insustentável leveza das mãos

Filhos da Terra

Raul SeixasEu parti há 20

anos atrás

ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANHÃO PARAÍBA PERNAMBUCO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE

memória - dom hEldEr câmara moda - a mulhEr da Têca modernidade - uma aparElhagEm dE sons com dJ dolorEsTeaTro - FIT brInda à subJETIvIdadEculTura - a obra dE FélIx FarFan

Pode entrar e conferir o ensaio com a diva baianaPode entrar e conferir o ensaio Pode entrar e conferir o ensaio ivete Sangalo

INFORMAÇÃO + ATITUDEA REVISTA DO NORDESTE

ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANHÃO PARAÍBA PERNAMBUCO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE

ANO 1 #03 R$15 2009

Page 2: Revista Zé - 03

Governo ed 3.indd 2 03.09.09 17:17:11

Page 3: Revista Zé - 03

Governo ed 3.indd 3 03.09.09 17:17:20

Page 4: Revista Zé - 03

36 edição n#2 • 2009

...ser molequee f lutuar...

4 edição n#3 • 2009

Page 5: Revista Zé - 03

edição n#1 • 2008 169edição n#3 • 2009 5

Luis

Rei

s

Page 6: Revista Zé - 03

Ministerio saude.indd 6 10.09.09 17:15:06

Page 7: Revista Zé - 03

Ministerio saude.indd 7 10.09.09 17:15:21

Page 8: Revista Zé - 03

36 edição n#2 • 20098 edição n#3 • 2009

s ó a q u i

Page 9: Revista Zé - 03

edição n#1 • 2008 169edição n#3 • 2008 9

Rio São FRanciScoCanoa de toldaSombra e água fresca

Ale

xand

re R

ibas

Page 10: Revista Zé - 03

36 edição n#2 • 2009

m o d e r n i d a d e

36 edição n#2 • 2009

m o d e r n i d a d e

BoaLuz.indd 26 06.05.09 21:19:05

Page 11: Revista Zé - 03

edição n#1 • 2008 169edição n#1 • 2008 169

BoaLuz.indd 27 06.05.09 21:19:16

Page 12: Revista Zé - 03

s u m á r i o

12 edição n#3 • 2009

Page 13: Revista Zé - 03

CapaFoto:Cacau Mangabeira

04 SER ZÉ É...

08 SÓ aQUI

14 COLaBORaDORES

16 EDITORIaL

18 EXpEDIENTE

20 ENTREVISTa – Maria João pires

32 CONEXÃO – Lu Marini

38 FILHOS Da TERRa – Raul Seixas

48 CULTURa – Félix Farfan

54 MODERNIDaDE - DJ Dolores

59 GaLERIa – Ivete Sangalo

68 MODa – Helô Rocha

74 TEaTRO – 40 anos brindando à subjetividade

82 ENSaIO – Um olhar à margem

89 MEMÓRIa – Dom Helder Câmara

96 TURISMO – piranhas

104 DECORaÇÃO

112 DE QUEM ZÉ FaLa

13edição n#2 • 2009

Luis

Rei

s

Page 14: Revista Zé - 03

C O L A B O R A D O R E S

14 EDIÇÃO N#3 2009

DIANA MOURA BARBOSA é jornalista e trabalha atualmente como editora-assistente do Caderno C, do Jornal do Commercio, em Recife (PE). Além disso, também leciona jorna-lismo nas Faculdades Integradas Barros Melo/Aeso. Já foi coordena-dora de comunicação da Secretaria de Cultura de Pernambuco, quando trabalhou com o escritor Ariano Suassuna, e chefe de reportagem do Diário do Grande ABC, em São Paulo. Nesta edição da ZÉ, em Cultura, ela assina o perfil do curioso artista Félix Farfan.

LU MARINI é um aventureiro com fome de desafios. Recentemen-te, sobrevoou cerca de 4.000 km da costa brasileira de Paramotor, decolando do Rio Grande do Sul e pousando no Rio Grande do Norte. Em sua Aventura Fantástica, nome com o qual batizou o projeto, pas-sou por 12 estados brasileiros. Na seção Conexão, ele relembra alguns momentos vividos na Bahia. Confira, também, os registros do seu com-panheiro de aventuras, o fotógrafo Luis Reis.

LUIZ PAULO HORTA é o sétimo ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, em sucessão a Zélia Gattai. Trabalhou em jornais como Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Hoje, o jornalista carioca atua como editoria-lista e crítico de música do jornal O Globo. Fundou e dirigiu a seção de música do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e pertence à Academia Brasileira de Música e à Academia Brasileira de Arte. Também é membro do Conselho de Desenvolvimento da PUC-RJ, onde já dirigiu um grupo de estudos bíblicos no Centro Loyola, e da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ele colabora com um texto sobre Dom Helder Câmara, em Memória.

SYLVIO PASSOS é presidente do Raul Rock Clube, o maior fã-clube de Raul Seixas do Brasil. Foi responsável pela coletânea Let Me Sing My Rock´n´Roll, com gravações inéditas do musico baiano, e coordenou o projeto do livro Raul Seixas - Metamorfose Ambulan-te. Além de fã declarado, manteve uma estreita relação de amizade com o músico baiano. Tanto, que muitos dos escritos pessoais de Raulzito, fitas e mais fitas, lhes foram entregues pelo próprio. Confira um pouco desse material em Filhos da Terra.

Colaboradores.indd 14 12.09.09 01:53:41

Page 15: Revista Zé - 03

Prefeitura de recife.indd 15 12.09.09 02:11:34

Page 16: Revista Zé - 03

e d i t o r i a le d i t o r i a l

16 edição n#3 • 2009

Page 17: Revista Zé - 03

17edição n#3 • 2009

Colocar mais uma edição da revista ZÉ em circulação é gerar energia positiva, resultado do encontro de idéias que se materializam em cada parte do corpo da publicação.

A começar pela fantástica foto que ilustra esta página: o horizonte, vis-to da janela do avião, durante o pôr-do-sol, em que viajava a fotógrafa Tanit Bezerra. Mas antes de chegar aqui, você deve ter passado pelo menino que voa e pela canoa de tolda, clicados pelos fotógrafos Luis Reis e Ale-xandre Ribas. Foi só o começo.

Porque, daqui em diante, você vai encontrar muita informação, cuida-dosamente preparada. Para isso, foi indispensável a colaboração de algu-mas pessoas, como a da jornalista pernambucana Diana Moura Barbosa, que nos apresentou o inquieto artista plástico Félix Farfan.

Mas antes de chegar em Félix, você vai passar pela ilustre presença de Maria João Pires, nossa entrevistada desta edição. Vai conhecer um pouco do que pensa essa talentosa pianista portuguesa, nome de peso na música erudita mundial.

Raul Seixas está em Filhos da Terra, num relato bastante completo de Sylvio Passos sobre a vida deste ícone da música brasileira, que partiu há 20 anos atrás. Passado, presente, futuro = Modernidade = DJ Dolores, próxima parada.

Da beira da música para a beira do rio São Francisco, no município alagoano de Piranhas, nacionalmente conhecido pela história do Canga-ço. Do sertão para o mar e as aventuras de Lu Marini e seu Paramotor, no litoral da Bahia.

Do Rio Grande do Norte, trouxemos a estilista potiguar Helô Rocha. Com a sua marca, a Têca, ela faz a alegria de muitas mulheres por aí a fora. Celebramos o teatro por dentro dos quarenta anos do FIT, em São José do Rio Preto. E De Quem ZÉ Fala não parou a boca.

O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta nos presenteou com pala-vras, palavras sobre Dom Helder Câmara no centenário do seu nascimento. Antes Um olhar à margem, ensaio do fotógrafo Victor Dantas.

Enfim, no meio de tudo, o recheio delicioso de Ivete Sangalo, a musa

de todos nós.

Divirta-se.

Hugo Juliã[email protected]

Page 18: Revista Zé - 03

DIRETOR EXECUTIVOHugo Julião

PUBLISHERHugo Julião

[email protected]

DIRETORA DE REDAÇÃOThaís Bezerra

EDITOR CHEFE Sérgio Amaral

EDITOR ASSISTENTETheo Alves

DIREÇÃO DE ARTE E DESIGN GRÁFICOJosué Jackson, Marcos Ribas

TRATAMENTO DE IMAGENSAlexandre Ribas

COLABORADORESAlexandre Lyrio, Ana Paula Padrão, André Wanderley, Antonio Carlos Portinari Greggio, Astrid Fontenelle, Chico Alves, Diana Moura Barbosa, Eliana Bezerra, Ilma Fontes, Itamar Vieira da Costa, Jamil Moreira Castro, Kaliane Barbosa, Luiz

Eduardo Costa, Luiz Paulo Horta, Lu Marini, Manoel Soares, Mel Adún, Paulo Markun, Raul Lody, Ricardo Janoario, Sylvio Passos, Tanit Bezerra, Tiago Santana, Victor Dantas e Washington Olivetto.

PUBLICIDADE

DIRETORAMel Almeida

(79) 3246-4707 / [email protected]

ASSISTENTECristina Arruda

EXECUTIVOS DE CONTASSão Paulo e Rio de Janeiro – Sérgio Amaral / (61) 9982-9922

Minas Gerais e DF – Renato Amaral / (61) 9981-9933 Nordeste – Clóvis Munaretto / (79) 9978-3934

ADMINISTRAÇÃOCultura Gráfica e Editora Ltda

www.revistaze.com

IMPRESSÃOGráfica Ideal - Campinas (SP)

OPERAÇÃO EM BANCAS

ASSESSORIA

EDICASEwww.edicase.com.br

Distribuição Exclusiva em Bancas

FERNANDO CHINAGLIA DISTRIBUIDORA S/A

ManuseioFG PRESS

www.fgpress.com.br

JORNALISTA RESPONSÁVELThais Bezerra - DRT SE364

TIRAGEM 30.000 exemplares

A revista ZÉ é uma publicação bimestral da Cultura Gráfica e Editora Ltda.A ZÉ não se reponsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Só poderão falar em nome da revista as pessoas citadas no expediente. Qualquer outro profissional não tem autorização para usar o nome da ZÉ ou

utilizar qualquer material sem apresentação de documento datado por escrito e assinado pela direção da revista.

A R E V I S T A D O N O R D E S T E

INFORMAÇÃO + ATITUDE

18 edição n#3 • 2009

Page 19: Revista Zé - 03

Precaju.indd 19 10.09.09 18:11:10

Page 20: Revista Zé - 03

e n t r e v i s ta

Por Hugo Julião

MariaMaria João Pires nasceu em julho de 1944 e há mais de 60 anos exerce o ofício de pianista.

Uma carreira brilhante de concertista internacional, que não a afastou das preocupações com a

questão da educação nas artes. Ela está morando no Brasil há três anos, em Lauro de Freitas (BA),

e até o fim do ano muda-se para Aracaju (SE). O motivo é justamente poder dedicar-se à educação

artística de crianças carentes, com vínculos diretos com a questão social. Eu me encontrei com

Maria João, na hora do café da manhã, meiga, solícita, simples. O ritmo da entrevista segue num

delicioso compasso do português lusitano, entre muitos risos e algumas gargalhadas, o tempo

inteiro, mesmo quando o assunto parecia conter espinhos. Não vale a pena me estender, melhor

abrir a porta e deixar que você entre e fale com ela diretamente. Antes, deixo um presente: um

trecho de As mãos de Maria João, texto da jornalista e escritora portuguesa Clara Ferreira Alves:

“Na sala de concertos espalha-se uma luz oblíqua, e uma poeira doirada cai sobre os ombros

esguios, que a música encaminhará para outras paragens. Está muito imóvel antes de começar,

como se esperasse um sinal ou tivesse medo de um grito. Faz lembrar a imobilidade dos pássaros

antes da tempestade, uma imobilidade que nada tem de animal, que se distingue da dos grandes

gatos antes do ataque. Podia ser a imobilidade de um bicho, mas teria de ser um bicho pequeno e

delicado, com atenção ao decoro dos gestos, ao comedimento dos ossos. (...) Respira, ergue-se

ao de leve como quem vai levantar-se e logo de seguida cai sobre o piano, as duas mãos a fugir

sobre o marfim, desenhando uma sonata de Beethoven. Há anos que sigo com os olhos, ao longe,

as mãos de Maria João Pires, a sua fuga, a tensão, a ‘insustentável leveza’.”

20 edição n#3 • 2009

João

Page 21: Revista Zé - 03

edição n#1 • 2008 16921edição n#3 • 2009

Page 22: Revista Zé - 03

HJ – Como começou o seu interesse pela música?MJ – Eu tinha três anos. Eu nasci numa circunstân-

cia um pouco triste, um pouco difícil, porque meu pai morreu três semanas antes do meu nascimento. Foi muito difícil para minha mãe. Ela ficou com quatro filhos. Eu era a última. Minha mãe tinha tocado piano muitos anos antes, mas até o piano ela tinha vendido e quando eu nasci não havia mais piano em casa. Uns dois anos depois, de dois para três anos, minha irmã mais velha, que era bem mais velha que eu, pediu muito para a nossa mãe comprar um piano, porque ela queria estu-dar, queria tocar. Eu acho que a nossa mãe também, a gente não tinha festas em casa, havia aquele luto. Eu acho que minha mãe ficou toda a vida de luto, melhorou um pouco nos últimos anos. Mas era um luto sentido, não era um luto formal. Então, finalmente, ela comprou um piano. E minha irmã era um pouco preguiçosa, gostava de passar do piano para o violino, do violino para o teatro. Ela gostava de experimentar tudo, mas não gostava muito de trabalhar. Finalmente fui eu quem ficou com o piano. Ela recebia algumas aulas e eu ficava assistindo. Eu era criança e não tinha outras crianças para brincar, meus irmãos eram mais velhos. Eu ficava assistindo, ficava vendo, observando... E aí, quando as pessoas saíam da sala, eu ia para o piano e tentava tirar de ouvido as músicas. E assim eu comecei. Depois minha tia falou para a minha mãe: você devia levá-la para um professor. Porque eu não tinha professor, minha irmã que tinha. Minha mãe não queria, mas finalmente me levaram para um professor, que era um professor conhecido em Lisboa.

HJ – E você é de Lisboa mesmo?MJ – Eu nasci em Lisboa, mas tinha família em

outros lugaresHJ – Isso começou com quatro anos?MJ – Com quatro anos eu dei meu primeiro concer-

to. Minha mãe sempre ajudou muito, no sentido de que ela não me podou, com aquela exploração de menino prodígio, que é sempre aquele problema enorme. É um problema grave. Por isso, eu tenho muito interesse pela educação, pelo ensino. Na nossa época isso é um problema grave. Estimular os meninos jovens para a competição é algo que nas artes está um pouco errado. É fazer uma ligação muito íntima entre a carreira, no sentido material, e o sucesso. A arte é algo como uma pesquisa interior e que pertence à vida. Então eu luto um pouco com isso, porque eu acho que a carreira, no sentido do sucesso, não é algo que tenha que ser visto como um objetivo, porque muitas vezes é muito perigo-so para o próprio equilíbrio da pessoa

HJ – Quais as brincadeiras da sua infância?MJ – Eu brincava igual a rapaz. Porque eu tinha

duas irmãs, mas eram bem mais velhas e não queriam saber de brincar comigo, porque já eram adolescentes. Então eu brincava com meus primos, que eram rapazes e eram péssimos, só faziam besteira (risos). A gente su-

e n t r e v i s ta

22 edição n#3 • 2009

“Estimular os meninos jovens para a competição é algo que nas artes está um pouco errado. É fazer uma liga-ção muito íntima entre a carreira, no sentido material, e o sucesso. A arte é algo como uma pesquisa interior e que pertence à vida.“

Page 23: Revista Zé - 03

bia nas árvores, fazia cabanas, eu só gostava desse tipo de brincadeira. A gente passava muito tempo no campo porque minha tia tinha uma fazenda na região da Beira Alta, onde depois, mais tarde, eu fiz o centro Belgais.

HJ – Falando em Belgais, como anda o projeto que você pretende implementar em Sergipe?

MJ – A gente está avançando muito. Estamos pro-curando um lugar para ficar por aqui e estou tentando alugar minha casa lá em Lauro de Freitas (BA).

HJ – Você pretende morar em Aracaju?MJ – Sim, eu pretendo. A partir do início de dezem-

bro. HJ – Fale um pouco sobre esse trabalho. Tem algo a

ver com Belgais?MJ – Tem e não tem. Porque no fundo são reali-

dades culturais bem diferentes e não só culturais, mas socioeconômicas também. Em todos os sentidos é diferente. Não deve ser o projeto de uma pessoa. No início é a idéia de uma pessoa, mas deve ser um projeto para a sociedade e que vai se adaptando às neces-sidades locais. Eu estou estudando um pouco o que está acontecendo aqui. O centro do projeto é o social, o núcleo do projeto, e daí saem ramificações que têm

interesse para esse mesmo núcleo. O projeto social vai ser, no início, composto basicamente de um coral infan-til. A característica do coral é que é feito com métodos um pouquinho diferentes, que fazem com que, desde o início, tenha muita qualidade de afinação. Por isso, vai crescer já quase como um coral profissional. Não se pode falar profissional para criança, mas é, de certo modo, pois poderia cantar em qualquer lugar. E, com certeza, do primeiro coral vão sair outros para abranger um pouco mais o número de crianças. A gente faz, ao mesmo tempo, formação de professores, dentro desse método, para que possamos continuar formando corais em outros lugares do Estado.

HJ – Esse método tem alguma origem, alguma referência?

MJ – Fui eu quem criou. Claro que a gente nunca pode falar de criação total, porque a gente sempre é influenciada por outras pessoas e outros projetos. Nesse caso eu não fui assim tão influenciada, foi mais uma re-flexão da minha experiência com o problema nas artes, de desentelectualizar a arte, que é algo que realmente não é intelectual. Nós temos que estudar, mas o estudo da arte é algo que é feito antes ou depois, mas não é feito no momento.

HJ – Deixe-me ver se entendi: a arte é espontânea?MJ – É espontânea e é cultural. Se a gente estuda,

já estamos a analisar algo que já foi feito, ou que vai ser feito, mas não estamos a fazer. Muitas vezes o grande problema da escola de artes é a intelectualização do en-sino. A escola em geral, no mundo em geral, dissocia o ensino da arte e o corpo, no sentido de instrumento. O instrumento da arte é o corpo, a emoção e é tudo aquilo que é inspiração. Que não tem nada a ver com a análise daquilo que aconteceu, isto fica mais para o estudioso, para o professor que trabalha na parte teórica. A gente quer aprender e tem que estudar. Eu estudei muitos anos.

HJ – É o tal aprimoramento, se você já tem toda essa expressão...

MJ – Mas a criança não tem como aprender. É como uma criança que está aprendendo uma língua es-trangeira, de uma forma intelectual, ela vai sempre falar bem mal. Nunca vai falar como se fosse a sua língua materna. Se a criança aprende a língua estrangeira com uma pessoa, ouvindo a voz, o som, o visual da pessoa e liga isso à pessoa no seu todo, vai aprender a língua de

23edição n#3 • 2009

Foto

: Ale

xand

re R

ibas

Page 24: Revista Zé - 03

uma forma cultural, que é espontânea.HJ – Depois vai pra gramática, não é? (risos)MJ – A gramática vem depois (risos). Então, esses

métodos foram criados nesse sentido de conseguir no início um desenvolvimento que seja integral, que seja orgânico, da parte da criança, na aprendizagem.

HJ – É como jogar futebol.MJ – É, exatamente. Você não ensina a criança a jogar

futebol com seis, sete anos. Às vezes dou como exemplo, pois é parecido também, os nossos filhos: com um ano a gente quer ensiná-los a andar, pelo amor de Deus, botar umas talas, botar umas muletas, agora pra frente! (garga-lhadas). Qual a melhor forma para ensinarmos nossos fi-lhos a andar? É nós andarmos e eles observarem, que isso a gente não faz, isso acontece. A gente os chama com carinho, a gente chama e eles querem vir, não é? Para os nossos braços. Esse caminho é o nosso caso. É objetivo, afetivo, tem a ver com a vida.

HJ – Que outras características tem esse seu método?MJ – Eu uso muito a disciplina como algo que eu

aceito como importante, muito central em todo o projeto. Nas escolas modernas, na Europa, no início do século XX, e depois na América, mais tarde, houve uma grande revolução na educação e as escolas se tornaram escolas sem disciplina, escolas com muita liberdade. Mas eu penso que, na arte em geral, a disciplina é essencial. Eu acho que o ser humano não tem liberdade se não for dentro da disciplina interior. Da sua disciplina. Não é aquela que nos é imposta pela sociedade, pela vida. Mas é aquela que nós queremos para nós pró-prios. Nós só encontramos a nossa liberdade, na vida, dentro dos nossos limites. A gente nasceu, vai morrer... A gente tem limite do tempo, a gente tem limite daquilo que nos é imposto, a gente tem limite da educação, a gente tem limites éticos, então todos esses limites que nos são impostos, esses limites são a base onde a gen-te vai encontrar a nossa liberdade. E os limites são bons. Então eu trabalho muito com as crianças na disciplina.

HJ – Por que você fez opções por determinados compositores?

HJ – Como pianista?MJ – Isso, como pianista. Ah, eu como pianista fui

muito limitada, no sentido do repertório. Quando era estudante, trabalhei bastante música contemporânea, por obrigação. Tive na universidade que lidar com muito repertório que eu não sentia que era meu, não me assentava. Eu tomei a opção de não ficar preocupada com o que tinha que fazer, mas simplesmente escolher um repertório que era bom pra mim. Pra já, tenho uma mão muito pequena.

e n t r e v i s ta

24 edição n#3 • 2009

Recorte de jornal com relato da apresentação de Maria João, aos cinco anos de idade

Page 25: Revista Zé - 03
Page 26: Revista Zé - 03

HJ – Isso é uma coisa interessante. MJ – Isso me impede... Tem muitas obras que

eu gostaria de tocar, mas eu não toco porque nunca poderia tocá-las bem. Ficaria sempre um problema aqui, um problema ali. Eu preferi ter um repertório limitado e poder trabalhar bem. Agora, nos projetos que eu faço, aí não tem limite o repertório, né?

HJ – Você gosta de música popular?MJ – Adoro, eu amo música popular. HJ – Na música brasileira quais são as suas predile-

ções? Você tocou com Bethânia, não foi?MJ – Um dos grandes sonhos que eu tinha era

trabalhar com Bethânia. Fizemos algo muito pequeno (gravou Modinha, de Sérgio Bittencourt). Mas eu ado-raria fazer algo mais com Bethânia. Eu adoro todos os grandes artistas brasileiros.

HJ – Quando você veio de Portugal para o Brasil, por que escolheu o Nordeste?

Eu sempre pensei que um dia eu gostaria de morar aqui. Mas era uma sensação, não era algo de concreto, nem pensado, era só assim uma sensação. E eu não conhecia o Nordeste. Apesar de que eu tinha aquela ad-miração, aquele amor pelo Nordeste, donde vieram os grandes músicos e escritores. E eu tinha um colega, que foi meu aluno, bem mais novo que eu, Ricardo Castro, que depois a gente tocou junto vários anos.

HJ – Que é baiano.MJ – Isso. E a irmã dele tinha casa na Bahia, lá em

Lauro de Freitas. A irmã e os pais também. Éramos amigos havia mais de 20 anos. Eu o conheci quando

ele tinha apenas 18 anos, lá na Europa, num curso, uma oficina que eu dei para pianistas, e ele estava presente. Ele tinha um talento incrível e a gente ficou em conta-to. Depois, um dia, Ricardo falou: você está sempre sonhando com a Bahia, ou sonhando com o Brasil, por que você não vem passar umas férias na casa de minha irmã? Aí eu vim. E aí eu estava numa fase da minha vida em que eu estava querendo mudar, querendo sair de Portugal... Ainda duraram uns anos, porque eu ainda lutei um pouco por aquele projeto lá.

HJ – O Belgais?MJ – Ainda lutei bastante por aquilo. Mas depois

houve um dia em que eu decidi vir embora. Minhas filhas também estão todas na Suíça, morando, casadas...

HJ – São quantos filhos?MJ – Eu tenho quatro filhas e um filho, adotado. A

mais velha tem 43 e a mais jovem tem 33.HJ – Alguma seguiu a carreira musical?

Non ononono nonono nono ononononon ono nonono nono onon nononn onone n t r e v i s ta

26 edição n#3 • 2009

“Não podia vir para o Brasil e fazer uma pesquisa para ver onde eu ia trabalhar. Não tinha sentido. Até porque talvez eu nem fosse traba-lhar, talvez eu ficasse por aqui só para ter esse consolo de ter uma casa num lugar que eu amo (risos)“

Page 27: Revista Zé - 03

MJ – E tenho outro filho, com 14 anos, que está comigo. Todas tocaram um pouquinho, mas eu nunca insisti. Todas têm profissões mais ligadas à saúde. A mi-nha terceira filha tocou muito bem violoncelo, tem muito talento. Mas ela é psicóloga, faz musicoterapia, adora música, é muito sensível e aproveitou. Ela ainda toca um pouco, mas, assim, mais amador.

HJ – Vamos voltar a Bahia. Aí você... MJ – Aí eu vim para a Bahia. Eu pensei: vou me

instalar na Bahia, porque a gente tem que começar por algum lugar. Não podia vir para o Brasil e fazer uma pesquisa para ver onde eu ia trabalhar. Não tinha sentido. Até porque talvez eu nem fosse trabalhar, talvez eu ficasse por aqui só para ter esse consolo de ter uma casa num lugar que eu amo (risos). E, no fundo, foi bom porque eu fiquei esses anos, esses três anos na Bahia. Claro que foi um pouco difícil porque eu continuei tocando, dando concertos. Fica difícil passar o tempo indo à Europa, a viagem é longa e cara. E não foi assim tão fácil.

HJ – Por que você não desenvolveu o projeto na Bahia?

MJ – Eu não faria um projeto sem sentir que havia interesse do lado das pessoas da comunidade. Na Bahia não aconteceu, realmente não aconteceu. E eu estou muito feliz por ter deixado as coisas correrem, não

ter insistido com ninguém, não ter feito pressão com nada. Porque realmente eu acho que estou bem melhor aqui (em Sergipe). E a Bahia tem muitas coisas que são muito parecidas com Portugal (gargalhadas). É uma herança fortíssima. Talvez por ter sido capital, talvez por tido aqueles anos todos. Eu acho que é muito forte a presença.

HJ – Na literatura,de quem você gosta no Brasil, no Nordeste?

MJ – Eu conheço os escritores brasileiros da minha época. Agora, os contemporâneos... Mas é interessante você falar nos livros porque, no fundo, os livros que eu li do Brasil, fizeram eu me apaixonar pelo país sem estar aqui. Claro que Jorge Amado sempre é aquele que todo mundo lê. Quando era criança lia os livros de Vasconce-los (José Mauro de Vasconcelos, escritor potiguar).

HJ – Chorava, né? (gargalhadas)MJ – Chorava (risos altos). Era muito bonito. A

literatura brasileira tem uma força muito grande, enorme, mais do que os países europeus. Tem uma força, que é a força da terra, aquela energia incrível que fica dentro do nosso corpo.

HJ – E lazer, o que você gosta de fazer? Tem algum hobby?

MJ – Eu tenho um hobby. Eu adoro fazer coisas com têxteis, eu faço panos de parede, gosto de costura,

27edição n#3 • 2009

Foto

s: A

lexa

ndre

Rib

as

Page 28: Revista Zé - 03

além de ler, gosto de decoração. Mas feito assim, muito manual, muito artesanal, então eu adoro porque é ligado ao artesanato artístico. Não sou muito ligada ao artesanato tradicional, onde as coisas continuam sendo feitas do mesmo jeito. Eu acho que o artesanato devia ser visto como algo muito criativo, de arte pura e não ser tratado como coisa menos importante.

HJ – Se não fosse pianista, o que você queria ser?MJ – Eu acho que, pouco a pouco, eu vou deixar de

ser pianista profissional, é o meu objetivo. Nesse projeto que vou fazer em Sergipe, acho que vou realizar aquilo que eu gosto, que é trabalhar num projeto social, que tenha um futuro, que possa se sustentar, que possa continuar sem mim, que possa se desenvolver. Que tenha a idéia de diminuir as diferenças sociais, que é algo que me apaixona: deixar de haver aquele enorme fosso entre ricos e pobres; encontrar métodos para que

essa diferença se dilua não só de uma forma político-econômica, mas introduzindo as artes como uma forma de comunicação de sociedades que estão separadas, que não se comunicam.

HJ – Você tocou praticamente em todos os continentes e em muitos países, existem diferenças de públicos?

MJ – Existem muitas diferenças, mas eu acho que o ser humano é igual em todo lugar. A maior diferença é sempre que tipo de público de um país ou de uma cidade vai aos concertos. Se você pegar os países lati-nos - como França, Espanha e Itália - onde há uma alta sociedade que vai aos concertos, a música clássica é um patrimônio de uma elite. Aí você sente que o público não é tão bom. Nesse mesmo país você teria oportuni-dade de ter um público ótimo.

HJ – Quando você fala que o público não é tão bom, quer dizer o quê?

MJ – É um público menos motivado pelas boas razões. É mais motivado por um ato social, que é ir aos concertos. Isso acontece muito nos países latinos, no Sul da Europa. Aqui do Brasil eu não posso falar, ainda, porque tenho muito pouca experiência. Mais para o Norte da Europa o público é excepcional, em todo lugar: desde a Inglaterra, a Holanda, os países escandi-navos, a Alemanha, os países eslavos, em todos esses lugares se encontra um público excepcional. Deve ser um dos melhores públicos do mundo. A razão vem também de não haver essa posse de uma elite, mas sim de os concertos serem abertos a todo mundo, de haver muito mais democracia nesse sentido. O Japão desenvolveu um público incrível, muito bom.

HJ – Você teve muitos alunos?MJ – Não. Eu tive muitas pessoas com quem tra-

balhei esporadicamente. Então, durante alguns meses, eu convivi com pessoas que precisavam de uma ajuda, eu fiz muito, vamos dizer assim, emergência (risos), mas não para concursos. Nunca fiz emergência para concursos. Porque eu não apoio concursos. Fiz alguns trabalhos para as pessoas se reencontrarem, para as pessoas que estavam desmotivadas, com problemas. Eu gostava de fazer isso. Alunos regulares, nesse momento, eu só tenho esses dois meninos (os irmãos holandeses Arthur e Lucas Jussen).

HJ – Como você os descobriu?MJ – Normalmente os alunos vêm bater à sua

Algumas capas de CDsgravados por Maria João

e n t r e v i s ta

28 edição n#3 • 2009

Page 29: Revista Zé - 03

porta, encontram com você depois do concerto, ou os pais, ou eles próprios quando já são adultos. A gente não encontra os alunos, eles é que encontram a gente, normalmente é assim que funciona (risos). Agora, esses meninos eram muito talentosos. Também tem muitos talentos escondidos, sabe? Tem muito menino que vem procurar ajuda e as pessoas dizem: ah! Não vale a pena. E depois vai se descobrir que tem muito talento.

HJ – Quais são as orquestras com as quais você toca mais regularmente?

MJ – Com a Filarmônica de Berlim, a Filarmôni-ca de Viena e com a orquestra Concertgebow, de Amsterdam. São as grandes três européias, depois tem as americanas. Quanto a essas três européias, eu não concordo com a idéia de que são únicas. São muito boas, são excepcionais. Mas também depende de quem está à frente. Por que se a gente tem um trabalho, por exemplo, com Abbado (Cláudio Abbado, maestro italiano) dirigindo uma orquestra de jovens, eu me emociono mais do que quando toco com Abba-do com a Filarmônica de Berlim, ou de Viena. Com certos regentes as coisas acontecem sem ter aquele

instrumento perfeito (referindo-se à orquestra como um todo). A gente pode conseguir, em certos momentos, milagres. Com orquestras de jovens então é incrível. Veja o caso da Venezuela, aqueles meninos com doze, treze anos, como eles tocam. Não é sempre a grande orquestra o instrumento perfeito para fazer um grande concerto. Às vezes é, é claro. Porque, de fato, eles (os músicos) são realmente muito seguros.

HJ – E no Brasil, quais as suas impressões sobre experiências como, por exemplo, a Orquestra Sinfônica de Sergipe?

MJ – Eu acho que ela está tendo uma função muito boa. Se a gente fizer o projeto, eu gostaria muito que a Orquestra pertencesse ao projeto, que a gente fizesse algo de global, para não termos a Orquestra de um lado, o coral do outro, a escola do outro, fazer um pro-jeto único. Eu acho que Guilherme (Guilherme Mannis, diretor artístico e maestro titular da Orquestra Sinfônica de Sergipe) está fazendo um trabalho excelente, que está tendo uma boa evolução. Tem muito trabalho pra fazer, e eu acho que será feito. Acredito que nós, todos juntos, conseguiremos fazer de Sergipe, com esse projeto, um centro cultural e de influência social muito importante no Brasil. Se a gente trabalhar bem, a gente consegue.

HJ – Até pelo tamanho do Estado, facilita...MJ – Ajuda muito. É a primeira vez que consigo falar

com as pessoas diretamente, as pessoas que tomam as decisões e que estão interessadas. Isso é muito raro hoje em dia, política é complicado. As pessoas estão lá num lugar que ninguém vê, que ninguém sabe, que ninguém tem acesso (risos). Nem sabe o que a gente está fazendo. Ou só sabem nos momentos em que as coisas são mostradas em seu melhor lado. Não co-nhecem os problemas ou, se conhecem, só conhecem os problemas. Então, há um dispersar da realidade, na comunicação, que deixa de ser construtiva.

HJ – Quando você sentiu que poderia seguir a carreira musical?

HJ – Carreira em que sentido? Porque eu come-cei a tocar em público com cinco anos, depois, com sete, toquei com orquestra. Mesmo quando parei para estudar, na universidade, na Alemanha, sempre tocava uma vez por ano.

HJ – Ou seja, você é profissional desde os cinco anos?

29edição n#3 • 2009

Page 30: Revista Zé - 03

MJ – Estou farta (risos). Já não posso ver palco na minha frente (mais risos). Mas eu estou muito feliz agora, porque se eu ficar aqui, em Sergipe, eu vou, pouco a pouco, deixando o palco. Eu estou planejando, ficando aqui, ir à Europa só três meses no ano. Assim eu posso trabalhar nove meses seguidos e, nos três meses, deixo uma pessoa que trabalha comigo. Aí, eu faço alguns concertos nessa temporada, que vai ser muito curta, e pronto. Cada vez mais curta, e pronto. (risos)

HJ – Você também pretende deixar o piano? MJ – Eu não gostaria de deixar o piano, até porque

a gente vai ter aqui (em Aracaju) uma escola de piano. Eu queria que ficasse bem pequena, que não crescesse demasiado. Porque eu não queria ficar dedicada a uma escola de piano. Eu quero trabalhar num projeto social. A escola de piano é um pouco algo que vem para nos ajudar a agilizar, no lado internacional, o projeto social, para poder crescer bem, ter um estímulo, ter visibili-dade, e a possibilidade de ir pra fora, de sair. Também propicia o casamento entre os meninos que vêm estudar uma pós-graduação e os meninos que vêm dos bairros muito carentes. Que eles se encontrem de

uma forma saudável, que aprendam uns com os outros, e os pianistas, que vierem, vão ter aquele estímulo de trabalhar com as crianças carentes, que é algo que eles não têm como hábito. Eles pensam: a minha carreira, a minha carreira e terminam não sabendo a realidade da vida, não é?

HJ – Estamos falando em educação, e os seus filhos?

MJ – Eu tive muitas realizações com meus filhos. Eu tenho um sexto filho agora, que é baiano, mas ele não é adotado, eu acho que já é muito tarde, não tenho idade para adotar. Ele também já tem catorze anos. Mas é como um filho. Eu tive muitas realizações com os filhos. É um grande suporte da minha vida, uma grande ajuda da minha vida. Tenho orgulho também de eu ter conse-guido criar os filhos, trabalhando tanto. Tive a ajuda de minha mãe, enquanto minhas filhas eram crianças, mas nunca deixei de cuidar delas...

Os gêmeos holandeses Arthur e Lucas Jussen e o maestro Guilherme Mannis comemoram o aniversário da pianista, no Teatro Tobias Barreto, durante apresentação em Aracaju (SE)

e n t r e v i s ta

30 edição n#3 • 2009

Page 31: Revista Zé - 03

EDIÇÃO N#1 2008 169

BomFin.indd 5 06.05.09 16:21:53

Page 32: Revista Zé - 03

c o n e x ã o

32 edição n#3 • 2009

: Luis Reis: Luis Reis

FantásticaFantásticaFantásticaAventura

c o n e x ã o

A seção Conexão é sempre o olhar de alguém de

outra região sobre o Nordeste. Por isso, prontamente convidamos

o aventureiro paulista Lu Marini para tecer algumas impressões so-

bre sua passagem pela Bahia, registrada pelas lentes do fotógrafo

gaúcho Luis Reis. Fomos recebidos com festa! Não só pelo próprio

Lu Marini, como por toda a sua trupe (cerca de oito profi ssionais).

Page 33: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 33

Fantástica

Page 34: Revista Zé - 03

c o n e x ã o

Lu Marini é um aventureiro nato. Essa fome por

desafios e a necessidade de conhecer seus limites

fazem parte da sua vida desde a infância. À medida

que foi amadurecendo, passou a usar suas aventuras

como forma de autoconhecimento, testando até onde

poderia ir. E ele já foi muito longe. Em sua mais recente

empreitada, resolveu percorrer cerca de 4.000 km

da costa brasileira de Paramotor, decolando do Rio

Grande do Sul e pousando no Rio Grande do Norte,

passando por 12 estados, em aproximadamente 40

dias de uma Aventura Fantástica, como foi batizado o

projeto.

Além dos registros veiculados aos domingos no

programa Esporte Fantástico, da Rede Record, toda a

sua jornada pelo litoral brasileiro estará em um docu-

mentário, com lançamento previsto para o início de

novembro deste ano. Fora isto, dois livros também vêm

por aí: um registro do próprio Marini sobre o projeto

e, outro, com as fotografias de Luis Reis, produzidas

durante a aventura.

“Até chegar no litoral baiano, eu vinha sobrevoando uma paisagem diferente. Foi quando vislumbrei aquelas praias lindas, cheias de coqueiros, como a paradisíaca Itacaré”. (Lu Marini)

34 edição n#3 • 2009

Page 35: Revista Zé - 03

35edição n#3 • 2009

Page 36: Revista Zé - 03

c o n e x ã o

“Passei por situações difíceis aqui, no

Nordeste. Na região de Prado, na Bahia,

por exemplo, tive uma mudança de clima

muito ruim e fui obrigado a fazer um pouso

de emergência em uma ilha, em frente ao

município de Caravelas. Comecei a andar

para ver como eu sairia de lá e me deparei

com seu Grilo, uma figura famosa da região.

Ele começou a me contar algumas de suas

histórias, como a de um tubarão que ele

matou com uma facada na cabeça. Uma

figura!!”. (Lu Marini)

“Conheci o João do Facão, um

senhor de 88 anos, 26 filhos e cheio de his-

tórias. Eu estava voando quando vi aquele

senhor acenando com o facão. Pousei e

fui conhecê-lo. Nós conversamos e ele me

deu um chapéu que não tirava da cabeça

há anos”. (Lu Marini)

36 edição n#3 • 2009

Page 37: Revista Zé - 03

Av. João Ribeiro, 506 - Santo Antônio

Aracaju - SE - CEP: 49065-000

Fone: (79) 2107-5050www.motopop.com.brMOTO POP

Av. João Ribeiro, 506 - Santo Antônio

Aracaju - SE - CEP: 49065-000

Fone: (79) 2107-5050www.motopop.com.brMOTO POPMOTO POP

Concessionária Autorizada

Moto Pop Pajero Dakar.indd 37 11.09.09 02:47:02

Page 38: Revista Zé - 03

F i l h o s d a t e r r a

38 edição n#3 • 2009

RA

UL

SEIX

AS

Imagem que ilustra o CD Maluco Beleza, de 1990. A foto é assinada

por Paulo Vasconcellos

Page 39: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 39

cas, Deus e o Diabo. “Eu estava muito preocupado

com a filosofia sem o saber (isto é, eu não sabia que era filosofia aquilo que eu pensava). Tinha mania de pensar que eu era maluco e ninguém queria me dizer. Gostava de ficar sozinho. Pensando. Horas e horas. Meu mundo interior é, e sem-pre foi, muito rico e intenso. Por isso o mundo exterior naquela época não me interessava muito. Eu criava o meu.” Em 1954, Raul ganhou seu primeiro violão, presente dos

Maria Eugênia Pereira dos Santos era uma garotinha bonita quando conheceu Raul Varella Seixas. Ela tinha sete anos, e ele nove. O namoro, que durante anos ficou somente na troca de olhares e bilhetinhos, culminou no casa-mento dos dois, às 17:30h do dia 16 de setembro de 1944, na Igreja do Bonfim, em Salvador, na Bahia. Nove meses após a união de Raul e Maria Eugênia, nascia o primeiro filho do casal, Raul Santos Seixas, em 28 de junho de 1945.

“Nasci baiano mesmo, na av. 7 de setembro, número 108, que é a avenida principal de Salvador. Hoje estão comendo bacalhau”...brincaria Raul, mais tarde, referindo-se ao Restaurante Português, que funciona hoje, na casa em que nasceu.

A vasta biblioteca de seu pai era o brinquedo favorito. E foi daí que veio o gosto pela palavra e a miopia precoce. Vivia trancado no quarto devorando o Livro dos Porquês do “Tesouro da Juventude”. Inventava histórias fantásticas que, transfor-madas em gibis, e com desenhos do próprio Raul, eram vendidos ao irmão caçula, Plininho (Plínio Santos Seixas, três anos mais novo). Melô era o personagem central de suas histórias, um cientista louco que viajava no tempo com figuras históri-

Eu parti há20 anos

atrás : Sylvio Passos : Acervo Raul Rock Clube e Divulgação

Page 40: Revista Zé - 03

F i l h o s d a t e r r a

40 edição n#3 • 2009

pais, ao qual, a princípio, não deu muita importância. Porém, pouco a pouco, foi dedilhando e, sozinho, aprendeu a tocar algumas músicas, acabando por se apaixonar pela novidade.

Foi quando a família Seixas mudou-se para uma casa próxima ao Consulado Americano, onde ele conheceu garotos que lá moravam e que lhe emprestaram alguns dis-cos de Elvis Presley, Little Richard, Fats Domino, Chuck Berry etc. Era o primeiro contato com o Rock and Roll. “Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. Usava camisa vermelha, gola virada para cima. As mães não deixavam as filhinhas chegarem perto de mim porque eu era torto como o James Dean. Olhava de lado, com jeito de durão. Cada vez que eu cumprimentava uma pessoa dava três giros em torno do próprio corpo. Eu era o próprio rock. Eu era Elvis quando andava e penteava o topete. Eu era alvo de risos, graci-

nhas, claro. Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e agir que ninguém conhecia. Claro que eu não tinha consciência da mudança social que o rock implicava. Eu achava que os jovens iam dominar o mundo”.

Aos poucos, a escola foi ficando de lado. O bom era ficar na loja Cantinho da Música, curtindo rock and roll ou marcando ponto no Elvis Rock Club, fã-clube de Elvis Presley, fundado por Raulzito e o amigo Waldir Serrão. Corria o ano de 1962 e a necessidade de fazer rock levou Raul a fundar, ao lado dos irmãos Délcio e Thildo Gama, o grupo Os Relâmpagos do Rock. Chegaram a se apresentar na TV Itapoan, onde foram chamados de cantores de “música de cowboy”. “Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que eu sei, eu devo ao mundo, à rua, à vivência e, principal-mente, a mim mesmo. Repeti cinco vezes a 2ª série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la”.

O ano de 1964 foi importante para Raul Seixas. Os Relâmpagos do Rock, com nova formação, pas-sam a se chamar The Panthers. Foi também o ano da profissionalização definitiva e da descoberta dos Bea-tles. Ainda em 1964, The Panthers entra em estúdio para aquela que viria a ser a primeira gravação oficial: duas músicas para serem lançadas em um compacto (Nanny / Coração Partido) pela Astor, que acabaram ficando apenas no acetato, não sendo lançadas comercialmente. Somente em 1992, a música Nanny seria lançada, entre outras grava-ções raras, no álbum “O Baú do Raul”.

O grupo passou então a se cha-mar Raulzito e Os Panteras. Depois de comprar uma aparelhagem nova e melhor, passou a tocar em boates e em shows nos quais, muitas vezes, brilhavam astros da Jovem Guarda como Roberto Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani e Rosema-ry, entre outros. Seus maiores rivais eram os grupos de samba e bossa nova, aquartelados no Teatro Vila

Raul Seixas aos 7 meses

Com sua mãe Maria Eugênia

Família Seixas

Raul Seixas aos 7 meses

Page 41: Revista Zé - 03

Velha, de um lado, e do outro no Cinema Roma, que era o templo do rock and roll, organizado por Waldir Serrão, o Big Ben.

Em nome do namoro com a americana Edith Wisner, Raul resolve parar tudo e retomar os estudos e, em pouco tempo, prestar o vestibu-lar (para passar num dos primeiros lugares) para a faculdade de Direito. “Eu queria provar às pessoas, à minha família, como era fácil isso de estudar, passar em exames. Como não tinha a mínima importância.” Tão sem importância que, em 1967, decide ao mesmo tempo casar com Edith e retomar a carreira com Os Panteras.

Atendendo a um pedido de Jer-ry Adriani, Raul, Edith e Os Panteras partiram em viagem para o Rio, realizando um velho sonho. Conse-guiram gravar, para a Odeon, o LP “Raulzito e Os Panteras”. Lançado em 1968, o disco foi ignorado tanto pela crítica quanto pelo público. “Chegamos em fim de safra. Não entendíamos o que estava acon-tecendo. Agnaldo Timóteo de um

lado, Gil e Os Mutantes de outro. Tocávamos coisas complicadas, minhas letras falavam de agnosticis-mo, essas coisas, e complicamos demais. Não tínhamos idéia do que era comercial em matéria de música em português.”

Com o fracasso do disco, ficam algum tempo como banda de apoio de Jerry Adriani, até a dissolução do grupo. “Só sobrou eu. Os outros não aguentaram a barra e caíram fora.” Desiludido e psicologicamente abalado, Raul voltou para Salvador.

Em 1970, conheceu Evandro Ribeiro, diretor da CBS, hoje Sony Music. “Talvez eu tivesse trilhado o caminho da paranóia se não tivesse tido a chance que tive. Conheci o diretor da gravadora CBS lá mesmo, na Bahia, e foi ele mesmo quem me deu oportunidade de estar em contato com a arte outra vez”. E lá se foi Raul, com Edith, de volta para o Rio; desta vez, para trabalhar como produtor de discos na CBS. Durante um ano, Raul criaria músi-cas e discos de sucesso para Jerry Adriani, Trio Ternura, Renato e Seus

15.11.1955 - Primeira comunhão

1973 - No programa

do Silvio Santos

1965 - No Cine Roma, com Roberto Carlos

Com os irmãos Decio e Thildo Gama, “Relâmpagos do Rock”

1964 - The Panthers

Fazendo pose com seu amigo Waldir “Big Ban” Serrão

edição n#3 • 2009 41

15.11.1955 - Primeira comunhão

Page 42: Revista Zé - 03

Blue Caps, Tony e Frankie, Diana e Sérgio Sampaio. “Sérgio Sampaio foi o primeiro artista que eu realmen-te descobri. Acreditei muito nesse cara. Acreditei tanto que ele me incentivou a ser artista outra vez.” Em novembro daquele ano, nasceu Simone, sua primeira filha.

O incentivo de Sérgio Sampaio levou Raul a produzir e lançar, em ju-lho de 1971, aproveitando a viagem do presidente da CBS, o LP “So-ciedade da Grã-Ordem Kavernista – apresenta – Sessão das 10”, com participações do próprio Raul, com Sérgio Sampaio, Míriam Batucada e Edy Star. Isso lhe valeu a expulsão da CBS quando o presidente voltou. O disco então sumiu, “misteriosa-mente”, do mercado. “Neste disco cada um cantava suas músicas em faixas separadas, num trabalho que resumia o caos da época. Valeu a pena, apesar de ter vendido muito pouco. Nós nos divertimos muito. Foi também a primeira vez que eu fiz algo para ser consumido e do qual me senti paranoicamente orgulhoso e feliz. Como os Beatles, que apren-

deram no estúdio, eu aprendi tudo na CBS, os macetes todos. Aprendi a fazer música fácil, comercial, intui-tiva e bonitinha, que leva direitinho o que a gente quer dizer.”

Em setembro de 1972, no VII Festival Internacional da Canção, à frente de um público ávido por novidades, Raul, mais uma vez incentivado pelo amigo Sérgio Sam-paio, resolveu se tornar “popular”. Inscreveu no festival as canções Eu sou eu, Nicuri é o Diabo, defendida por Lena Rios e Os Lobos, e Let me Sing, Let me Sing, mistura de rock com baião, interpretada pelo próprio Raul, travestido de Elvis. Ambas foram classificadas. “Depois de sair da CBS, onde ganhava 4 mil cruzeiros por mês, decidi ser Raul Seixas. Então usei, este é o termo, aquele negócio de brilhantina, do rock, do casaco de couro, como trampolim, como uma maneira de ser conhecido. Porque eu só passei a existir depois daquela encenação, daquele teatro que eu fiz. Combinar rock com baião foi a fórmula certa para chamar a atenção. Mas foi só o começo.”

A classificação de Let me Sing, Let me Sing entre as finalistas, além da excelente repercussão que Raul Seixas provocou no público e na imprensa, garantiu a continuida-de de sua carreira como cantor e compositor da Philips. A consagra-ção ainda tardaria alguns meses, tempo durante os quais Raul atuaria ao velho estilo, como produtor (e, no caso, também como cantor, anônimo, sem crédito na capa) de um disco antológico de clássicos de rock and roll e da Jovem Guarda: “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock” (selo Polyfar, 1973). Em

1975, esse disco seria reeditado com algumas alterações, com o nome de Raul na capa, aproveitan-do a notoriedade dele, e um novo título, “20 Anos de Rock”. Mas o boom só viria mesmo com a explo-são do compacto ”Ouro de Tolo” (curiosidade: teve que ser prensado duas vezes em uma semana!). A música Ouro de Tolo tinha uma letra autobiográfica e ao mesmo tempo era uma bofetada na cara da classe média do país (que trocava a verdadeira realização pelo acesso às bugigangas comuns de consu-mo), naqueles tempos de Milagre Brasileiro.

“Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estra-gar os sulcos. O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas.”

F i l h o s d a t e r r a

42 edição n#3 • 2009

Raul, nos tempos da brilhantina e do casaco de couro

Plunct Plact Zumnão vai a lugar nenhum!!

Page 43: Revista Zé - 03

Contratado pela Philips - grava-dora onde brilhavam os medalhões da MPB, como Caetano, Gil, Gal, entre outros -, Raul Seixas partiu para o primeiro álbum solo, “KRIG-HA, BANDOLO!”. O título refere-se ao grito de guerra de Tarzan, que quer dizer: “cuidado, aí vem o inimigo”. Lançado em 1973, é considerado pela crítica como um dos seus melhores trabalhos. “O LP ‘KRIG-HA, BANDO-LO!’ foi feito todo de uma vez. A música Ouro de Tolo foi lançada antes, por causa de uma jogada comercial da Philips, que remexeu na ópera, que é o LP, e dela retirou a parte que achava mais interessante. Então, para mim, o valor e o gosto ficam por conta de todo o LP, porque ele é o todo de um trabalho, onde todas as músicas se interligam e de onde é quase impossível você só tirar e citar uma parte.”

Raul Seixas e Paulo Coelho lançam a Sociedade Alternativa em agosto do mesmo ano, e dedicam-se com afinco aos estudos esotéricos, mergulhando fundo na obra do mago inglês Aleister Cro-wley. Raul anunciava que era hora de mudar o mundo e distribuía nos shows um gibi/manifesto chamado “A Fundação de Krig-ha”, ilustrado por Adalgisa Rios (esposa de Paulo, na época). A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbra-do e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comu-nidade onde a lei única era “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.” A idéia da Sociedade Alternativa não agradou a muitos e Raul foi preso e torturado pelo DOPS, tendo

que deixar o país. Raul, Paulo, Edith e Adalgisa decidiram partir para os Estados Unidos, onde fizeram con-tato com algumas personalidades.

Enquanto isso, aqui no Brasil, a música Gita tocava de norte a sul do país. E foi graças a esse sucesso que Raul e Cia. voltaram para o Brasil. Foi nessa época que o casamento de Raul com Edith foi chegando ao fim, e ela decidiu voltar para os Estados Unidos, levando consigo a filha do casal. O sucesso de Gita deu a Raul Seixas o primeiro Disco de Ouro, com mais de 600

mil cópias vendidas. O mesmo não aconteceu com o disco seguinte: “Novo Aeon” (1975, Philips), que vendeu apenas 60 mil. “Foi a maior decepção, mas dei a volta por cima com ‘Há 10 Mil Anos Atrás’.”

Raul conheceu, então, outra americana, Glória Vaquer (“Spacey Glow”), irmã de seu guitarrista Gay Vaquer. Casou-se com Glória e, desta união, nasceu, no Rio de Janeiro, a segunda filha de Raul, Scarlet, em junho de 1976. Nesse mesmo ano lançou o álbum “Há 10 Mil Anos Atrás”, com ele maquiado

”Sérgio Sampaio foi o primeiro artista que eu realmente descobri. Acreditei muito nesse cara. Acreditei tanto que ele me incentivou a ser artista outra vez”

edição n#3 • 2009 43

Page 44: Revista Zé - 03

44 edição n#3 • 2009

shows pele interior e pela capital - onde nasceu, em 1981, a terceira e última filha dele, Vivian. Chegou a fazer uma temporada no Teatro Pixinguinha com sucesso absoluto.

Ainda em 81, Raul rescindiu o contrato com a CBS por pedirem que dedicasse o disco seguinte a Lady Diana - ela era ”o assunto do momento”. Nessa época, eu, com 18 anos, comuniquei a Raul Seixas que havia fundado o Raul Rock

“Em julho de 1971, apro-veitando a viagem do presidente da CBS, Raul produziu o LP “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista – apresenta - Sessão das 10”, com participações do próprio Raul e outros artis-tas. Isso lhe valeu a expul-são da gravadora, quando o presidente voltou..”

de bebidas alcoólicas, Raul Seixas resolveu passar alguns meses na fazenda dos pais em Dias D’Avilla, interior da Bahia. Voltou de lá mais gordo e com uma nova companhei-ra, Tânia Menna Barreto. Com ela dividiu parceria em seu novo álbum, “Mata Virgem” (1978, WEA). O disco trazia de volta Paulo Coelho , mas a má divulgação atrapalhou o LP e a crítica também não ajudou.

Em 1979 faz seu último álbum para a WEA, “Por Quem os Sinos Dobram”, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen. Raul saiu da gravadora levando sua secretária de imprensa, a carioca Ângela Costa, hoje mais conhecida como Kika Sei-xas. Raul assinou um novo contrato com uma velha conhecida sua, a CBS e, em 1980, lançou o álbum “Abre-te, Sésamo”. O disco vendeu razoavelmente, porém bem menos do que merecia.

Raul e Kika decidiram morar em São Paulo e, com a ajuda de Jair Rodrigues, conseguiram alugar uma casa no bairro do Brooklin. São Paulo o recebeu de braços abertos e ele iniciou, então, uma série de

na capa como um “sábio ancião”. Também chegou ao fim a parceria com Paulo Coelho, embora continu-assem amigos (ou inimigos íntimos).

Decidiu sair da Philips para outra gravadora, a recém-fundada WEA. Marcou esse período o rosto sem barba nem bigode (suas “marcas re-gistradas”) e a relação com um novo parceiro (e antigo vizinho dos tem-pos do Rio), Cláudio Roberto, pro-fessor de ginástica, poeta e cantor nas horas vagas. Juntos, realizaram o LP “O Dia em que a Terra Parou”, em 1977. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo “nível” dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com Maluco Bele-za, Sapato 36 e a faixa-título. Raul chegou a fazer alguns shows, mas sem muito sucesso, devido às críti-cas ao LP. Foi então que se separou de Glória, que, a exemplo de Edith, também voltou aos Estados Unidos com a filha Scarlet.

As mudanças em sua vida pessoal e profissional somadas a problemas de saúde, abalaram Raul. Para se recuperar da pan-creatite, agravada pelo consumo

1984 - Com o amigo Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club / Raul Seixas Oficial Fã-Clube

F i l h o s d a t e r r a

Page 45: Revista Zé - 03

Club. Ele ficou surpreso, e passou a participar ativamente do que denominaria de Raul Seixas Oficial Fã-Clube.

Sem gravadora, mas com um público enorme e fiel, apresentou-se para mais de 150 mil pessoas, em 13 de fevereiro de 1982, no Festival Música na Praia, em Santos, São Paulo. Mas, Raul andava insatisfeito e mergulhava cada vez mais na be-bida, o que levou ao cancelamento de shows e crises de hepatite. Em maio de 82, apresentou-se tão alco-olizado em Caieiras, interior de São Paulo, que acabou sendo tomado por impostor de si mesmo, sendo preso e ameaçado pelo delegado da cidade.

Deprimido, sem um contrato com uma gravadora e ainda com problemas de saúde, Raul, jun-tamente com Kika, desenvolveu o projeto da ópera-rock “Nuit” e saiu batendo de porta em porta, visitando todas as gravadoras. Nada aconteceu. Chegou ao cúmulo de ouvir de um diretor artístico a seguinte frase: “Já estou vacinado contra Raul Seixas”.

edição n#3 • 2009 45

Alguns flagrantes de Raul

Carteira de Protagonista do Raul Rock Club/Raul Seixas Oficial Fã Clube

Magoado, Raul voltou para o Rio e ficou alguns meses num apar-tamento em Copacabana. Até que João Lara Mesquita, jovem diretor do Estúdio Eldorado e fã incondicio-nal de Raul, resolveu realizar um an-tigo projeto e convidou o ídolo para gravar. Raul, Kika e a filha Vivian então retornaram para São Paulo, e, em abril de 1983, o músico lançou o álbum “Raul Seixas”. O disco trazia também uma faixa gravada ao vivo, durante um show realizado no Sociedade Esportiva Palmeiras, onde Raul Seixas contou, através das músicas, a história do rock and roll para mais de 10 mil pessoas.

Ainda em 1983, lançou o livro As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, dividido em três partes: a primeira, um diário escrito entre os sete e os quatorze anos, no qual nota-se um grande conhecimento de rock and roll; na segunda parte, uma série de contos feitos entre os doze e os vinte e um anos; e, finalmente, na terceira, uma história em quadrinhos, chamada A Lei dos Assassinos da Montanha que, segundo ele, era um bom exemplo de humor negro.

Com o sucesso do disco, do livro e da turnê pelo Brasil, Raul e Kika realizaram uma viagem aos Estados Unidos para acompanhar de perto o que estava acontecendo musicalmente por lá. Voltaram com a bagagem cheia e inspiradíssimos.

Raul em uma de suasmúltiplas facetas

Page 46: Revista Zé - 03

g e n t e

46 edição n#3 • 2009

Aos 16 anos, no Elvis Rock Club, sócio da Associação Atlética da Bahia (1963) e aluno do Colégio Ipiranga (1964)

Assinou, então, novo contrato, des-sa vez com a Som Livre e, em junho de 1984, lançou o álbum “Metrô Linha 743”.

O penúltimo casamento de Raul foi-se rompendo. A sua saúde também não andava boa. Mais uma vez ele decidiu voltar para Salvador, como fizera em 1978, para se recu-perar. Depois de curta permanência na cidade, voltou a São Paulo com nova companheira, Lena Coutinho.

Em São Paulo, junto com Lena, procurou uma nova gravadora, mas as portas do mundo artístico pareciam estar fechadas novamente para Raul. Enquanto isso, milhares de fãs e amigos permaneceram na expectativa de novidades. Na capital paulista, em 1985, o Raul Rock Club (o Fã-Clube Oficial) lança o álbum “Let me Sing my Rock and

Roll”, o primeiro disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube brasileiro - hoje disputado a peso de ouro por fãs e colecionadores.

Durante 1986, Raul e Lena continuaram à procura de uma gra-vadora e, finalmente, com a ajuda de amigos, assinaram contrato para dois álbuns com a Copacabana. Porém, os problemas com a saúde atrapalharam as sessões de grava-ção no estúdio e o LP, que todos esperavam para esse ano, acabou sendo lançado só no início de 1987. O disco trazia como título o grito de guerra de rock and roll: “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!”.

O disco tocou de norte a sul do país e, mais uma vez, Raul Seixas era notícia, ocupando lugar de destaque na mídia e, o melhor, sua

música estava na boca do povo. Contudo, continuava desaparecido dos palcos e da TV devido à sua saúde precária (em parte culpa do problema do abuso de bebidas alcoólicas).

A música Cowboy Fora-da-Lei estourou nas paradas de sucesso ganhando videoclipe no Fantástico e a sua inclusão na trilha sonora da novela das sete da Rede Globo. A música revelava uma “quase” pa-ranóia de Raul, onde diz: “Mamãe, não quero ser prefeito/ pode ser que eu seja eleito/ e alguém pode querer me assassinar”.

A convite do discípulo e amigo Marcelo Nova, então vocalista e letrista do grupo baiano Camisa de Vênus, Raul Seixas participou da gravação do álbum que o grupo preparava para lançar, dividindo vocais e parceria com o próprio Marcelo na música Muita Estrela, Pouca Constelação, referindo-se ao cenário pop brasileiro de maneira desdenhosa.

No ano seguinte,1988, mostrou que ainda estava “vivo”, lançando, em setembro, o álbum “A Pedra do Gênesis”, que falava da controverti-da Sociedade Alternativa. A música Não Quero Mais Andar na Contra-mão, provou que Raul não estava mais a fim de maluquices e que seu papo agora era paz e sossego, no

Raul e Paulo Coelho

F i l h o s d a t e r r a

Page 47: Revista Zé - 03

edição n#2 • 2009 47

eu já parei de fumarCansei de acordar pelo chão...

eu já estou calejadonão quero mais andar na contra-mão...

aconchego do lar... Sossego que vi-rou tédio. Marcelo Nova, para tirá-lo desse tédio, convidou-o para viajar a Salvador, onde iria se apresentar.

Raul, que estava afastado dos palcos há três anos (sua última apre-sentação, ao vivo, foi em dezembro de 1985, em São Caetano do Sul, São Paulo), aceitou o convite. Na capital baiana,iniciaram uma série de 50 shows, que visitou os quatro cantos do Brasil. Uma aventura que acabou resultando no disco “A Panela do Diabo”, lançado dois dias antes da morte de Raul.

Segunda-feira, 21 de agosto de 1989, nove horas da manhã. Dalva Borges da Silva, a empregada de Raul, chegou ao apartamento número 1003, do Edifício Aliança, Zona Central de São Paulo, e o encontrou morto em sua cama. Dalva imediatamente entrou em contato com o médico e a família do músico. A notícia se espalhou e logo as emissoras de rádio e TV divulgaram o fato. Fãs, jornalistas e amigos dirigiram-se ao prédio onde Raul morava. Raulzito havia falecido duas horas antes da chegada de Dalva ao prédio, de parada cardí-aca, causada pela pancreatite de que sofria há dez anos. O corpo foi levado para o Palácio das Conven-ções do Anhembi, Zona Norte de São Paulo, onde foi velado durante toda a noite e madrugada a dentro. Às oito horas da manhã do dia seguinte o corpo seguiu num jatinho para Salvador, onde foi sepultado às 17 horas no Cemitério Jardim da Saudade.

Passados vinte anos de sua grande viagem, Raul Seixas conti-nua mais vivo do que nunca e o nú-mero de pessoas interessadas em

sua vida e obra vem aumentando consideravelmente. São pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais que se organizam nos inúmeros fãs-clubes criados para homenageá-lo. Casas culturais, pra-ças, ruas, parques e viadutos rece-bem seu nome. Revistas, pôsteres e cerca de 20 livros, enfocando sua vida e obra, continuam no merca-do. Todos os títulos de sua imensa discografia já foram reeditados em CDs, e novos títulos são lançados constantemente. Programas de rádio e TV, romarias ao Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, passeatas, carreatas e inúmeros eventos acontecem anualmente em todo o Brasil nas datas de seu nascimento e morte, 28 de junho e 21 de agosto, respectivamente. É por esses e por inúmeros outros motivos que decididamente Raul Seixas está e continuará vivo.

Crédito das fotos: as fotos desta matéria foram cedidas por diversos fãs e fãs-clubes e, em especial pelo Raul Rock Club/Raul Seixas Oficial Fã-Clube (www.raulrockclub.com.br) que liberou todo o seu acervo.

“Passados vinte anos de sua grande viagem, Raul Seixas continua mais vivo do que nun-ca. Desde seu faleci-mento, o número de pessoas interessadas em sua vida e obra vem aumentando consideravelmente.”

edição n#3 • 2009 47

Page 48: Revista Zé - 03

C u lt u r a

Inquieto é a palavra que o cérebro encontra quando tenta, à primeira vista, definir Félix Farfan. Não que ele esteja errado, mas, com todo respeito, muitos outros adjetivos ainda serão necessários até que o artista plástico consiga ser (aproximadamente) compreendido.

Félix Farfan: um artista contraditório

: Diana Moura : Paulo Melo Júnior

48 edição n#3 • 2009

Liberado - Felix Farfan.indd 48 11.09.09 00:19:43

Page 49: Revista Zé - 03

Farfan é múltiplo como a sua história. Nas-ceu no Acre. É filho de um boliviano descendente de espanhóis e franceses, que por sua vez já descendiam de armênios; e de uma cearense filha de portugueses. Cedo ainda, aportou no Recife e escolheu a cidade como residência. Aos 49 anos, já vai ser avô. Há quase duas décadas, não promove uma exposição individual em galerias pernambucanas, mas vive de arte. Mostra seus trabalhos aqui e acolá, no Rio de Janeiro e em

São Paulo. Tem clientes fixos na Europa, principalmen-te em Portugal, Espanha e Alemanha, onde galeristas fiéis compram suas obras para colecionadores. Farfan também não é muito chegado a artistas que, em vez de dedicarem-se à arte, passam a vida fazendo projetos para concorrer aos programas das leis de incentivo à cultura. Entretanto, aceitou ser coordenador de Artes Plásticas da Fundação do Patrimônio Histórico e Artís-tico de Pernambuco (Fundarpe), instituição que, entre outras coisas, cuida também da verba de patrocínio e fomento cultural.

Contraditório? Esta é só mais uma palavra com a qual as pessoas vão se deparar para descrever Farfan. Mas ainda é pouco. Principalmente porque o artista se mantém fiel a uma série de princípios que talvez só ele consiga entender completamente. Autodidata, ele fez gravura na Oficina Guaianases e estudou pintura com José de Barros no curso de extensão da Universidade de Federal de Pernambuco - dois clássicos pernambu-canos. Além disso, brinca que cursou a “Universidade João Câmara de Artes Plásticas”, um intensivo de aulas individuais e exclusivas. Apesar de nunca conseguir ficar muito tempo parado numa coisa só, trabalhou por oito anos, de segunda a sexta, das nove às seis, como assistente de João Câmara, um dos pintores mais valori-zados e reconhecidos de Pernambuco – que, como ele, também é nascido em outro estado, a Paraíba, mas radicado entre Olinda e o Recife. “Com Câmara, eu aprendi muito do que sei hoje, como preparar a tela e prendê-la no chassi, como fixar desenhos e pinturas, combinar cores, escolher pigmentos, preparar tintas, como reage a tinta acrílica ou a óleo, e também a compreender o funcionamento do mercado de artes plásticas, que é uma coisa dificílima”, afirma.

“Tem gente que escolhe essa profissão porque está na moda. São uns meninos que poderiam ser vocalistas de banda de rock, ou qualquer coisa do gênero, que estão a fim só de tirar uma onda e

conseguir umas namoradas. Isso me irrita”

edição n#3 • 2009 49

Liberado - Felix Farfan.indd 49 11.09.09 00:19:54

Page 50: Revista Zé - 03

C u lt u r a

50 edição n#3 • 2009

Metódico? Às vezes, e em parte. Farfan escolheu a pintura como seu porto-seguro, embo-ra também faça alguns objetos e, mais recentemente, esteja se lançando no universo da fotografia. Cuidadoso, o rapaz que sempre faz várias coisas ao mesmo tempo – lê, pinta, vê televisão, escuta música, trabalha, rabisca seus cadernos de artista –, só produz uns três quadros por mês. Ele diz que é um adulto hiperativo, mas, na hora de lidar com seu próprio trabalho, é categórico: “Prefiro qualidade à quantidade”. Foi outra aula de João Câmara. Para ele, a arte ainda é algo ligado a uma espécie de vocação, a tal inspiração, se alguém preferir chamar assim. Isso não quer dizer que ele dispense a transpiração – para usar uma imagem recorrente –, apenas que não gosta de lidar com um número

Liberado - Felix Farfan.indd 50 11.09.09 00:20:02

Page 51: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 51

por seres estudadíssimos e frases de efeito por todos os lados. Claro que a espontaneidade também é a garantia de um estilo. É outra ma-neira de fazer pose. Mas tem seu preço. Dizer tudo o que pensa do jeito que lhe vem à cabeça, pode não ser a melhor forma de cultivar amigos num meio tão volátil quanto o do mercado de arte.

Polêmico? Sim, é verdade, mas com o coração brando. O artista já foi conhecido no Recife por dizer todas as coisas que ninguém queria ouvir. Certa vez, declarou que não tinha paciência para o mercado pernambucano porque qualquer dondoca, quando não tinha mais nada para fazer, resolvia pintar uns quadros e era tratada como artista pelas galerias locais. De novo, ele estava certo. Muita gente gostou do que disse, mas poucos foram lá aplaudir. Tudo

bem, ele não precisa mesmo de plateia. Hoje em dia, sempre que pode, prefere não se meter mais nesse tipo de debate. “Acho que é a maturidade, vou fazer 50 anos, em breve serei avô, eu fiquei mais calmo. Atualmente, eu continuo detestando gente burra ao meu re-dor, mas aprendi a evitá-las. É mais simples que lidar com elas. Só não pisem nos meus calos”, avisa.

Ranzinza? Não exatamente. Apesar de viver do seu próprio trabalho, de manter contatos com galerias europeias e de ter colecio-nadores cativos, Farfan ainda pos-sui a capacidade do encantamento. Recentemente, numa viagem a Cuba, para ver a Bienal de Havana, o artista saiu da ilha maravilhado. Primeiro, foi surpreendido pela grande quantidade de boas obras de arte que encontrou na mos-tra. Depois, ficou enamorado de

crescente de artistas plásticos que entraram nesse meio apenas para fazer parte da turma. “Tem gente que escolhe essa profissão porque está na moda. São uns meninos que poderiam ser vocalistas de banda de rock, ou qualquer coisa do gênero, que estão a fim só de tirar uma onda e conseguir umas namoradas. Isso me irrita”, dispara.

Conservador? De jeito nenhum. Félix Farfan tem tantas tatuagens quanto um álbum de figurinhas. E deve ter tido um número igual de namoradas. O pro-blema é que a arte, para ele, está acima dessas coisas. Esse acreano recifense não é um artista de catá-logo, cheio de discursos prontos, nem faz a linha “arrumadinho”, muito menos tatuou o próprio cor-po apenas para parecer moderno. Farfan é uma alma extremamente espontânea num universo cercado

Liberado - Felix Farfan.indd 51 11.09.09 00:20:08

Page 52: Revista Zé - 03

C u lt u r a

Havana. A cidade, que tem o poder de conquistar tantos brasileiros, o deixou maravilhado. De lá, trouxe mais de quatro mil fotografias, das quais escolheu apenas 41 para compor sua última exposição, Três Vezes Cuba, atualmente em cartaz no Recife. A mostra é um canto de amor ao lugar, seus carros antigos, prédios históricos e ruínas. Foram impressas com a simplicidade e as cores do povo cubano. Uma outra incursão pela fotografia vem sendo preparada. Farfan tem utilizado pequenos objetos para compor cenas e registrá-las digitalmente. Vai sair dessa coleção de imagens sua próxima mostra. “Este trabalho começa a ganhar forma, mas eu quero planejá-lo com cuidado”, diz. Aos poucos, ele deixa o conforto da pintura e se aventura com sua câmera fotográfica para criar novos mundos. Está surgindo aí um outro Farfan, o fotógrafo. Porque a quietude, como já foi dito, não é mesmo o seu forte.

52 edição n#3 • 2009

Liberado - Felix Farfan.indd 52 11.09.09 00:20:18

Page 53: Revista Zé - 03
Page 54: Revista Zé - 03

m o d e r n i d a d em o d e r n i d a d e

Uma aparelhagem

: Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação : Theo Alves : Divulgação

de sons e idéias

54 edição n#3 • 2009

Page 55: Revista Zé - 03

Propriá é um pequeno município de Sergipe, banhado pelo rio São Francisco. Fundada no início do século XVII, a cidade era conhecida como “Urubu de Baixo” e, por causa da sua privilegiada localização, teve um rápido progresso, chegando a ser considerada a segunda economia do Estado. Com aproximadamente 30 mil habitantes e uma área equivalente a 95 Km², na região encontram-se manifes-tações populares que fazem parte da memória cultural sergipana. De lá vêm grupos folclóricos como Guerreiro Treme Terra e Os Novos Lampiões. De lá também vem Helder Aragão, mais conhecido como DJ Dolores.

“A cidade em que nasci era bem pequena e me lembro das festas tradicionais, das quermesses da igreja onde se tocava e dançava coisas como maruja-da”, relembra o DJ radicado em Recife, Pernambuco.

Na verdade, a música esteve presente em sua vida desde muito cedo, talvez desde o berço. Seu pai, músico versátil, tocava vários instrumentos, o que não é o caso de Helder. Mas, mesmo sem muita habilida-de instrumental, ele quis arranjar um jeito de trabalhar com música. Segundo ele, um dos momentos que o incentivou a tornar-se DJ foi quando comprou, com o dinheiro da mesada que recebia, seu primeiro disco do The Clash. Daí em diante começou a perceber que existia alguma coisa além do som. Passou a enxergar um discurso, uma representação de identidade por trás das notas musicais. “Só comecei a produzir depois que comprei um PC 286, pois me permitia fazer música com programação, sem a necessidade de ‘tocar’”.

de sons e idéias

edição n#3 • 2009 55

Page 56: Revista Zé - 03

m o d e r n i d a d e

Com 43 anos de idade e há alguns morando em Recife, Helder Aragão passou a adotar o pseudônimo DJ Dolores depois de uma parceria em projetos audiovisuais com Hilton Lacerda, por volta de 1994, quando surgiu a dupla Dolores e Morales.

m o d e r n i d a d e

56 edição n#3 • 2009

Foto

: Mar

celo

Lyr

a

Page 57: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 57

Foto

: Mar

celo

Lyr

a

Page 58: Revista Zé - 03

m o d e r n i d a d e

Caso não tivesse se encantado pelos samplers e teclados, DJ Dolores seria cozinheiro, psicanalista, designer ou escritor. Como o genes musical falou mais alto, ele vem construindo um trajetória que vai além mar. Em seu currículo, apresentações nos principais festivais de música da Europa e remixes de clássicos do lendário Bob Marley. Além disso, já dividiu o palco com artistas como Bjork, Moby, Chemical Brothers, Elvis Costello e assinou a trilha sonora tanto do filme como da peça A Máquina, de João Falcão. Mesmo as-sim, sabe qual foi o ponto alto de sua carreira até hoje? Ele é enfático ao responder: “Tocar música eletrônica para os Yanomamis. E eles adoraram!”.

Saindo do tribalismo e partindo para a evolução tecnológica, Dolores diz não se incomodar com os tocadores de iPods e CDs que se auto-intitulam DJs. Para ele, que se inspira na sabedoria feminina em seu processo criativo, permanece apenas uma verdade: alguns profissionais têm talento e sensibilidade para segurar pistas em situações/públicos diversos, outros não. Independente do suporte que se use. Falando em público, o seu preferido é aquele que quer ouvir/dan-çar, estar com a mente aberta para deixar o DJ guiar

sua trip. E isso ele faz com maestria.O som do DJ Dolores trafega entre os mais diver-

sos estilos, indo dos ritmos regionais, herança da sua infância no interior sergipano, aos diversos segmentos da música eletrônica. Apesar de estar sempre conec-tado ao que é produzido na cena musical de outros países, ele continua atento ao que aparece em sua região. “Acho que tem muita coisa surgindo, mas sem o conhecimento da imprensa do sudeste. Lamentável, pois algo está para acontecer e esses jornalistas, como sempre, estão se deslumbrando com bobagens que os assessores de imprensa das majors lhes enviam”.

Atualmente, além das turnês em que participa por aí, o inquieto DJ de Própria está envolvido em muitos projetos: com Nana Vasconcelos, Siba, os Mestres da guitarrada e com sua banda. Fora isso, ainda tem que sobrar tempo para os textos que escreve sobre música e comportamento, um possível retorno ao desenho profissional e, é claro, para seus remixes. Já os projetos futuros ainda não passam de idéias, muitas idéias... “Espero que minha capacidade de realizá-las não seja limitada”. Nós também espera-mos, ansiosamente.

Mais informações sobre o DJ Dolores acesse www.djdolores.blogspot.com ou www.myspace.com/djdoloresaparelhagem.

58 edição n#3 • 2009

Page 59: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2008 169

g a l e r i a

A musa baiana Ivete Sangalo ilustra esta edição da Revista ZÉ. Nas fotos de Cacau Mangabeira, alguns registros da gravação do seu mais recente projeto, o DVD Pode Entrar. Enquanto a cantora não volta aos palcos, curta as imagens de uma das maiores artistas brasileiras. Fique à vontade, a casa é sua...

Ivete Sangalo: Cacau Mangabeira

edição n#3 • 2009 59

Page 60: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

g a l e r i a

60 edição n#3 • 2009

Page 61: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2008 169edição n#3 • 2009 61

Page 62: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

Page 63: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2008 169edição n#3 • 2009 63

Page 64: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

g a l e r i a

64 edição n#3 • 2009

Page 65: Revista Zé - 03
Page 66: Revista Zé - 03
Page 67: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2008 169edição n#3 • 2009 67

Page 68: Revista Zé - 03

m o d a

“Olê, Mulher Rendeira...”

: Da Redação : Divulgação

A estilista potiguar Helô Rocha é herdeira do grupo Guararapes, que há mais de 50 anos trabalha com confecções e atua no segmento do varejo com a cadeia de lojas Ria-chuelo. Deve vir daí a sua intimidade com a linha e a agulha, cujo resultado é um trabalho que mistura os elementos da ascendência nordes-tina e a identidade cosmopolita. Desde 2005, quando criou a marca Têca, Helô dedica-se ao universo feminino, imprimindo sua personalida-de a cada coleção produzida e estampando os próprios desejos em cada peça confeccionada. Tudo isso com a jovialidade e o bom humor que lhe são característicos.

Para produzirmos esta matéria, devido à agitada agenda da estilista fizemos a opção de entrevistá-la por e-mail, deixando que ela decidisse a melhor hora de nos atender. Com respostas claras, precisas, falou sobre a sua profissão e deixou explícita a tórrida relação de amor que mantêm com o Nordeste. Tanto que o seu trabalho é praticamente um carbono das suas experiências norte-rio-grandenses.

Imparcialidade? Na moda, assim como em qualquer outro processo de criação, não adianta separar os pontos dos is. Bom mesmo é misturar tudo e esperar para conferir o resultado final. “Gosto muito dos trabalhos manuais, dos bordados feitos à mão, da precisão e da dedi-cação das rendeiras. Não à toa, criamos a linha “Chic-Chic”, na qual exploro toda a delicadeza e tradição do Nordeste por meio de rendas e bordados. Busco também a sensação de leveza e frescor que me consome quando estou em Natal, o colorido e a vivacidade do Nordeste como um todo”.

68 edição n#3 • 2009

m o d a

Page 69: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 69

“...criamos a linha “Chic-Chic”, na qual exploro toda a delicadeza e tradição do Nordeste por meio de rendas e bordados. Busco também a sensação de leveza e frescor que me consome quando estou em Natal, o colorido e a vivacidade do Nordeste como um todo”

Page 70: Revista Zé - 03

70 edição n#3 • 2009

m o d a

Page 71: Revista Zé - 03

Helô cria para mulheres que vão do sushi à caranguejada, do rock londrino à deliciosa música de Roberta Sá, sua irmã e nosso próximo alvo. Suas referências vêm das viagens que faz, dos seus livros, filmes e discos pre-feridos. A partir daí, começa um criativo processo de colagens, uma brincadeira que resulta em belíssimas estampas ou em “ves-tidinhos incríveis”, como exempli-fica a própria estilista. “A mulher que veste Têca é feminina, sexy, moderna, sofisticada, indepen-dente, tem atitude. Acho que poderíamos citar como exemplos a Carol (Dieckman) e a Preta (Gil), amigas que servem como minhas ‘musas’ na hora que penso em uma nova coleção”.

Do Nordeste, além da inspi-ração para o trabalho, a estilista potiguar faz questão de citar outros colegas da área. Segun-do ela, pouco a pouco esses profissionais estão conquistando um lugar ao sol. “Nomes como Gustavo Silvestre, Walério Araújo, Weider Silveiro e Mark Greiner, vindos de Pernambuco e do Ce-ará, entre outros estados, já es-tão entre as principais marcas da Casa de Criadores, evento que acontece em São Paulo e tem o

edição n#3 • 2009 71

Page 72: Revista Zé - 03

72 edição n#3 • 2009

m o d a

lançamento de novos talentos em seu DNA. Vejo também o Dragão Fashion, em Fortaleza, que tem revelado nomes bacanas e atraído jornalistas de todo o país. Outro exemplo é o sergipano Diego Cattani, que estu-dou comigo na faculdade e tem no currículo parcerias com marcas como Cori, Ellus e Reserva, além da Têca, em nosso último desfile”.

Para o futuro, além de consolidar a imagem da Têca em todo o país, Helô Rocha pretende continuar des-filando no Fashion Rio, manter suas exportações para o Japão e - quem sabe? - ampliar os pontos de venda da sua marca no exterior. Projetos à parte, ela ainda reserva um tempinho para distribuir simpatia e conquistar novos admiradores. A ZÉ adorou e torce para ver o nome dessa nordes-tina ganhar novas bocas. Mais infor-mações acesse www.teca.com.br.

Page 73: Revista Zé - 03

Helô Rocha

“A mulher que veste Têca é feminina, sexy, moderna, sofisticada, independente, tem atitude. Acho que poderíamos citar como exemplos a Carol (Dieckman) e Preta (Gil), amigas que servem como minhas ‘musas’ na hora que penso em uma nova coleção.”

edição n#3 • 2009 73

Page 74: Revista Zé - 03

t e at r o

74 edição n#3 • 2009

t e at r o

: Theo Alves : Divulgação

FIT, 40 anos brindandoFestival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, em São Paulo,

comemora 40 anos de existência.

O Cantil

Page 75: Revista Zé - 03

FIT, 40 anos brindandoà subjetividade

edição n#3 • 2009 75

Page 76: Revista Zé - 03

t e at r o

Há quatro décadas, um grupo de artistas do município de São José do Rio Preto, em São Paulo, resolveu fazer uma espécie de maratona para celebrar o teatro. Na época, mais especificamente no final da década de 60, enquanto o homem chegava pela primeira à Lua, os então integrantes do grupo de Teatro Jovem da Casa de Cultura, embriagados pelo turbilhão de transformações que permeavam o Brasil, criaram despretensiosamente o que viria a ser uma das mais bem sucedidas manifestações culturais do país: o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT).

Depois de uma série de experimentações e uma interrupção forçada por oito anos (de 1973 a 1980 os organizadores não tiveram apoio político), o Festival foi se profissionalizando e tomando a forma que tem hoje. Apenas em 2001, já em sua 20ª edição, o evento tornou-se internacional. “Passamos por um período difícil e de muita luta desde a criação do Festival. Mas o que fez com que ele acontecesse foi a força de um pe-queno grupo de rio-pretenses, que continuou buscando apoio e recursos para sua realização”, conta Humberto Sinibaldi Neto, um dos idealizadores do FIT.

Em sua última edição, depois de 10 dias das mais diversas apresentações artísticas, percebeu-se que o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto faz jus a sua necessidade em existir, não só por aproximar a classe teatral do seu público, mas também pela excelência em mostrar cultura. Durante a 9ª edição do FIT, que aconteceu de 16 a 25 de julho, o município paulista recebeu 22 companhias nacionais, oito interna-cionais e dez rio-pretenses escolhidas brilhantemente por uma curadoria afinada, composta por Jorge Ver-melho, que também assina a direção geral do Festival, Francisco Medeiros e Sidnei Martins.

Instâncias da subjetividadeA receptividade do público foi o que definiu o

tema dessa edição do FIT. Em toda a programação do Festival, havia um explicito dialogo com a subjetividade. Segundo Jorge Vermelho, um mesmo espetáculo pode ser amado e odiado, dependendo do ponto de vista e do momento que cada um estava vivendo ao receber determinada obra. “Uma terceira leitura é necessária, não mais a do ator ou do diretor, mas sim a do espec-tador. E a gente procurou, dentro dessa programação, A Falecida Vapt Vupt

76 edição n#3 • 2009

Page 77: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 77

Page 78: Revista Zé - 03

t e at r o

colocar alguns trabalhos, primeiramente signifi-cativos para o teatro brasileiro contemporâneo, que também dialogassem com o tema proposto”, completa o diretor geral do FIT.

Em toda a grade de programação do Fes-tival, um dos espetáculos de maior destaque foi, sem dúvida, o carioca “In On It”. Com texto do dramaturgo Daniel MacIvor, a peça traz, em sua montagem original, Fernando Eiras (indicado ao prêmio Shell por este papel) e Emílio de Mello no elenco. Mas, por causa de um problema de saú-de, Eiras foi brilhantemente substituído durante o Festival pelo diretor/ator Enrique Diaz.

Valendo-se do tema do FIT, “In On It” também abre espaço à subjetividade. “Você pode entender tudo ou não, ou criar uma história na sua cabeça até certo ponto, mas acompanhar a peça. Tanto que tem gente que adora o espe-táculo e não entendeu uma informação que eu acho básica. Como a grande maioria ficou muito impactada e sensibilizada com o resultado, a gente vê pelos comentários de imprensa, de ami-gos ou através do nosso blog, mesmo com essa possível confusão o público tem gostado”, explica o diretor Enrique Diaz.

t e at r o

Enrique Diaz em In On It

Karine Alexandrino

78 edição n#3 • 2009

Page 79: Revista Zé - 03

Outro espetáculo que também mereceu destaque durante a 9ª edição do FIT foi “A Falecida Vapt Vupt”. Com texto de Nelson Rodrigues, a peça exige um certo esforço do público para assimilar a estética escolhida pelo diretor. “O Antunes Filho, nessa peça, faz uma brincadeira polifônica e espacial de sobre-posições. Tem o som da música, o som do jogo de futebol na mesa, das pessoas falando e tem o som dos atores. Então, no início, é um pouco complicado sim. Mas chega um determinado momento que a platéia começa a dividir, acho que o cérebro acaba fazendo esse trabalho. Você continua escutando o baru-lho total, mas já sabe que o foco está ali, naqueles atores que estão falando o texto”, diz Lee Thalor, ator do Grupo Macunaíma de Teatro (CPT/SESC) que vive o personagem Tuninho em “A Falecida Vapt Vupt”.

Simbólica participação nordestinaApesar de tímida, a participação do Nordeste na ultima

edição do Festival teve a sua representatividade. O premiado “Batata”, da companhia baiana Dimenti Produções Culturais, e “O Cantil”, do grupo Teatro Máquina, de Fortaleza/SE, foram selecionados para se apresentarem dentro da programação da Mostra Nacional do evento. Além disso, a “antidiva neotropi-calista” Karine Alexandrino, também de Fortaleza/CE, fez sua performance musical no Não-Lugar, uma espécie de bar que movimentava as noites rio-pretenses durante o FIT.

De acordo com Jorge Vermelho, é difícil fazer uma progra-

Batata

Foto

: Joã

o M

eire

les

edição n#3 • 2009 79

Page 80: Revista Zé - 03

t e at r o

mação com grupos do norte ou do nordeste para esse Festival. “A gente roda muito pra tentar achar grupos dessas regiões que discutem o teatro também numa estética contemporânea, e é bastante difícil encon-trar. Os grupos são muito voltados as suas tradições regionais, e ao Festival não interessa muito discutir essa postura artística. Nós queremos descobrir como o teatro contemporâneo, as encenações, as investigações de linguagem são discutidas também no âmbito do norte e do nordeste. Este ano, a gente conseguiu apontar caminhos”, fala o diretor geral do FIT.

A escolha dos grupos que participam do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto é feita de três maneiras: uma delas é o processo de seleção, que é aberto, onde a organização do evento recebe inscrições de espetáculos de todas as regiões do país. Outra maneira é inloco, quando representantes do FIT vão a outros eventos de teatro e assistem as produ-ções locais. Já a terceira maneira é através de outros curadores e diretores de festivais, os quais apontam determinados trabalhos que possam ser de interesse do Festival rio-pretense.

Este ano, cerca de 140 apresentações artísticas aconteceram em São José do Rio Preto, contabilizando um público de 130 mil pessoas durante os dez dias de Festival. Em sua 9ª edição, apresentado pela Petrobras, com realização da Prefeitura Municipal de Rio Preto e SESC São Paulo, o FIT contou ainda com o patrocínio da Caixa Econômica Federal e com as parcerias do Go-verno do Estado de São Paulo, Oficinas Culturais - As-saoc, Funarte – MINC, Faperp e Ministério do Turismo.

Na tentativa de descobrir os planos para a pró-xima edição do evento, Jorge Vermelho foi taxativo ao responder: “Nenhuma idéia sobre o tema do FIT em 2010. Nietzsche puro!”. Mesmo assim, pelo que foi visto este ano, pode-se esperar mais uma grande festividade cultural. Então, que venham outros 40 anos do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto.

A equipe de reportagem da Revista ZÉ viajou a convite do FIT

O surgimento – Momento de confraternização, em 1969

A performática cantora cearense Karine Alexandrino

Page 81: Revista Zé - 03
Page 82: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

e n s a i o

Um olhar à margem

82 edição n#3 • 2009

Page 83: Revista Zé - 03

Por Victor dantas

“...ressaltar a essência do dia a dia de trabalhadores humildes e moradores de rua, expondo várias situações do cotidiano...”

edição n#3 • 2009 83

Page 84: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

e n s a i o

84 edição n#3 • 2009

Page 85: Revista Zé - 03

Art. 7º - A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e

à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que

permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,

em condições dignas de existência.

(Capítulo I - Do Direito à Vida e à Saúde - Estatuto da Criança e do

Adolescente)

edição n#3 • 2009 85

Page 86: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 2009

e n s a i oe n s a i o

86 edição n#3 • 2009

Page 87: Revista Zé - 03

Art. 9º - É obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a

proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas

sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável

e em condições de dignidade.

(Capítulo I - Do Direito à Vida - Estatuto do Idoso)

edição n#3 • 2009 87

Page 88: Revista Zé - 03

36 edição n#3 • 200946 edição n#2 • 200946 edição n#2 • 2009

e n s a i o

Estudante de Jornalismo, Victor “Balde” Dantas descobriu a

paixão pela fotografia em 2007. De lá pra cá, o também body piercer percorreu diversas cidades do inte-rior sergipano, capturando através das suas lentes o que para muitos é insignificante. Surge então o projeto Vida Dura SE, buscando retratar a realidade daqueles que lutam para sobreviver.

“A meta primordial de todo o projeto baseia-se em ressaltar a es-sência do dia a dia de trabalhado-

res humildes e moradores de rua, expondo várias situações do coti-diano. São garotos vendendo pico-lé, mendigos, pessoas que sobrevi-vem com a incerteza diária de uma simples refeição. Humanos versos humanos”, explica o fotógrafo.

Para Vida Dura SE, Victor sepa-rou 22 fotografias 30x40, a maioria em preto e branco, de um acervo com mais de mil registros. Confira mais um pouco do trabalho desse jovem fotógrafo em www.victorbal-de.com

88 edição n#3 • 2009

Page 89: Revista Zé - 03

: Luiz Paulo Horta

m e m ó r i a

D. Helder Câmara

D. Helder Câmara foi, talvez, a figura mais carismá-tica do catolicismo brasileiro no século XX. Não havia quem chegasse perto dele que não fosse contagiado por aquela luz, por aquele entu-siasmo, pela soma de qualidades de quem era, ao mesmo tempo, um homem de ação e um verdadeiro homem de Deus.

Nós podemos falar, no caso de D. Helder, de um talento preco-ce. Em 1923, aos 14 anos, ele já estava no Seminário Diocesano de Fortaleza, onde estudou filosofia e teologia. Foi ordenado padre aos 22 anos, com autorização especial da Santa Sé, por ser muito moço. No mesmo ano, 1931, ele criou a Legião Cearense do Trabalho, e em 1933 fundou a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congre-gava as lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Não é o que se poderia chamar de uma coisa profética?

Muito cedo, ele estava envolvido com as políticas educacionais do estado do Ceará, onde chegou a dirigir o departamento de Educa-ção. Para aprofundar seus estudos nessa área, foi transferido em 1936 para o Rio de Janeiro, cidade que ele ia transformar em coisa tão sua. Foi nesse período que ele sentiu a atração do Integralismo, com seu lema Deus, Pátria, Família. Era uma coisa que estava no ar, a organiza-ção das massas, um projeto nacionalista - tudo o que Getúlio Vargas ia explorar logo em seguida. Alceu Amoroso Lima, Santiago Dantas,

Um homem de ação e oração

89edição n#3 • 2009

Page 90: Revista Zé - 03

m e m ó r i a

“Eu vi o seu trabalho. Eu tenho experiência em orga-nização de eventos. E eu lhe digo: por que você não põe todo esse talento de organizador a serviço dos pobres? Você sabe que o Rio de Janeiro é uma das cidades mais belas do mundo. Mas essas favelas são um insulto ao Criador...”

Segundo está relatado no livro “Les conversions d´un evêque”, de José de Broucker, D.Helder respon-deu: “Esse momento é uma virada na minha vida. O senhor verá que eu me consagrarei aos pobres. Não estou convencido da capacidade de organização de que o senhor fala. Mas garanto que todos os dons que o Pai me confiou, eu os porei a serviço dos pobres”.

Ele ia honrar essa palavra. Além do carisma de D.Helder, pode-se dizer que a contribuição que ele trouxe à Igreja brasileira foi fazer dela uma Igreja atenta aos pobres, comprometida com o drama da pobre-za. Em 1956 ele fundou a Cruzada de S. Sebastião, para abrigar os favelados que tinham sido removidos da Praia do Pinto. Outra de suas obras foi o Bando da Providência, que funcionava acoplado à Feira da Providência, um ajudando o outro. E, de novo, foi uma história de sucesso.

O compromisso social entrava, assim, na Igreja brasileira, de um modo que já anunciava o Concílio Vaticano II, as encíclicas sociais de João XXIII e Paulo VI, os encontros de Puebla e Medellin. D.Helder está

foram figuras ilustres que também sentiram essa atra-ção. Mas D.Helder acabou por se afastar, ao sentir as implicações partidárias e ideológicas de tudo aquilo.

Em 1952, aos 43 anos, D. Helder já era bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Ele vai entrar numa de suas fases mais ativas. Em 1950, já estivera em contato com o então subsecretário de Estado do Vaticano, Mons. Giovanni Battista Montini - o futuro papa Paulo VI - no sentido de organizar uma espécie de colegiado dos bispos brasileiros. Até então, as nossas dioceses tinham um caráter meio feudal, cada bispo manda-va na sua, e não havia muita conversa entre eles. Em 1952, surgia a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, de que D. Helder era o verdadeiro espírito organizador. Ele foi secretário geral da CNBB até 1964. O mesmo Mons. Montini aprovou a criação, em 1955, do Conselho Episcopal Latino-Americano - Celam -, outro espaço de atuação de D. Helder.

Uma das realizações mais conhecidas de D.Helder foi o Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, realizado em 1955 no Aterro do Flamengo, que ainda era, então, um vasto areal. Foi um sucesso de público e de crítica. E ali aconteceu um desses momentos que definem uma vida. Os prelados de fora viram o trabalho de D. Helder, souberam quem estava por trás daquela vasta organização. E o cardeal Gerlier, francês, acabou por se dirigir a ele, dizendo:

“Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.”

90 edição n#3 • 2009

Page 91: Revista Zé - 03

na origem dessa movimentação; e, não por acaso, ele desempenharia um papel de destaque no Concílio Vaticano II. Nós temos agora a narração do que foram aquelas movimentadas sessões do Concílio, inclusive porque D.Helder encarregou-se de escrever para os seus amigos uma espécie de diário do Concílio.

Na contramão do seu temperamento animado e otimista, ele sente angústias. Choca-se com a pompa romana, com o fato de que tudo se discute intramu-ros, entre os príncipes da Igreja. Tem visões aflitivas; imagina um diálogo com os que estão fora da Igreja. Aflige-se com a condição dos ateus, aos quais o católi-co tradicional pode afastar com as suas certezas, com o seu dogmatismo.

Ele não aparece em primeiro plano. Mas está sempre conversando, articulando. Uma das caracte-rísticas do “padrezinho”, como o chamavam alguns de seus amigos, era uma enorme vocação de político, como bom cearense que ele era, conterrâneo do padre Cícero. E os bem informados, no Concílio, sabiam que ele tinha parte em muitas resoluções. O padre Capo-rale, jesuíta americano, escreveu na ocasião: “Esse homenzinho afável e sorridente, que surpreende, por sua simplicidade, os observadores não prevenidos, foi um dos mais notáveis organizadores de todo o episco-pado católico”.

Ele mesmo dizia: “Para ajudar o Concílio, não é preciso fazer uso da palavra na basílica. O que mais me alegra é o fato de eu não aparecer naquilo que se faz no Concílio e na Igreja. Não falo nas plenárias, não pertenço a nenhuma comissão”. Esse é D.Helder, o

grande organizador, o grande aglutinador, agindo nos bastidores, de pessoa a pessoa. O conhecido padre Comblin comentou: “Ele sabia que sua influência seria muito maior se permanecesse oculto. Ele queria se esconder, e conseguia. Frequentemente, seus próprios colegas ignoravam de onde vinham as proposições que eles votavam.

E foi assim que, insatisfeito com o que se fez, que ele achava pouco, D.Helder participou do grande sopro de renovação que partiu do Concílio. Em vários aspectos ele viu mais longe, ou viu antes. Por exemplo, um dos problemas das hostes eclesiásticas era justa-mente não contar senão com sacerdotes. Falta-nos convocar leigos, ele dirá. Outra falha: raciocinar sem-pre, ou principalmente, de um ponto de vista europeu. Ele diz, sobre o padre Martimort, especialista em litur-gia: “É fácil verificar até que ponto um homem como ele é marcado pelo ocidentalismo”. Uma de suas idéias era estimular encontros internacionais de teólogos. E, em terceiro lugar, ele observava: “Como os teólogos, mesmos os maiores, permanecem nas nuvens! Como o contato com a realidade lhes faz falta!”

O sonho de D.Helder era que eles pudessem conhecer o Nordeste brasileiro. Ele teve parte no que se chamou de Pacto das Catacumbas, um documento assinado por cerca de 40 padres conciliares, no dia 16 de novembro de 1965, nas catacumbas romanas. Diz o texto: “Nós, bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, tendo aberto os olhos sobre as falhas de nossa vida de pobreza conforme o Evangelho, encorajados uns pelos outros, num encaminhamento no qual cada um de nós

“Quando dou comida aos pobres, chamam-me de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.”

edição n#3 • 2009 91

Page 92: Revista Zé - 03

m e m ó r i a

quer evitar a singularidade e a presunção, unidos a to-dos os irmãos no episcopado, contando principalmen-te com a graça de Deus e com a força de N.S.Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses, colocando-nos pelo pen-samento e pela oração diante da Santíssima Trindade, nos comprometemos com aquilo que segue ...”.

Mencionavam-se então sete compromissos: viver conforme o modo normal de nosso povo, renunciar às aparências de riqueza e à sua realidade, nada possuir em nosso próprio nome, confiar a leigos a gestão financeira de nossas dioceses, recusar todos os títulos que traduzem magnificência e poder, evitar em nossas relações sociais tudo o que possa significar privilégio, prioridade ou mesmo toda preferência concedida aos ricos e poderosos ...”

José de Broucker, no seu livro “D.Helder Câmara e o Concílio Vaticano II”, conta como isso aconteceu, e a parte de D. Helder em tudo isso. D.Helder subs-creveu o documento, naturalmente. Mas ele teve início num grupo de que faziam parte um padre franciscano chamado Paul Gauthier - seu principal inspirador -, o cardeal Lercaro, que era um prelado de grande desta-que, os bispos Mercier, Grlier, o arcebispo de Medellin, entre outros.

No início, D.Helder não aderiu ao grupo. Achava que ele corria o risco de limitar-se a uma concepção romântica da pobreza, desvinculada de todo com-promisso de erradicar a pobreza no mundo. Depois, ele aderiu. O programa apoiava-se em duas fórmulas. Uma delas, do padre Congar: “por uma Igreja servidora e pobre”. Outra, de Mons. Mercier: “pobreza, mal a combater e espírito a conquistar”. Elas dizem que, se é

preciso ajudar à Igreja a reencontrar o caminho da se-nhora Pobreza, é necessário também colocá-la numa posição que permita combater o mal da pobreza. Nesse contexto, imaginaram-se gestos simbólicos por parte dos padres conciliares. Sugeriu Mons. Mercier que eles deixassem em Roma seus crucifixos peitorais e voltassem para suas casas com cruzes de madeira. Havia naquilo tudo um certo espírito de complô, que D. Helder adorava.

Um mês depois, eles desistem do complô. Como escreve D.Helder: “seria fácil, muito fácil e tentador, um gesto espetacular de 300 bispos. Seríamos seguidos, com mais ou menos espontaneidade, por aproxima-damente outros mil; estaríamos sob os holofotes, nas passarelas. Nós, porém, deixaríamos na amargura nos-sos irmãos ainda não trabalhados pela graça do amor à pobreza; haveria em nós o sério risco do farisaísmo - “nós não somos como esses pobres burgueses”. Foi o que, sobretudo, me decidiu a advogar a paciên-cia - que não é sinônimo de passividade, garanto que não. É a impossibilidade na qual se encontra o Papa (mesmo o querido João XXIII) de se libertar da tiara, de romper com o Vaticano”. Isso é bem D.Helder, o velho político. E assim ele continuou a trabalhar, e esses documentos, que agora vêm a público, são a história fascinante de como ele conseguiu meter a sua colheri-nha em muita coisa que foi renovadora nos documen-tos finais do Concílio.

O Concílio acabado, D.Helder estava de volta a um Brasil em plena convulsão política. Depois da renúncia de Jânio Quadros, em 1961, veio o breve interregno janguista, que terminou com o movimento militar de 1964. Nessa mesma época, D.Helder era

“Aqui é Dom Helder. Está preso aí (na delegacia) o meu irmão” (um homem que estava sendo espancado). O policial levou um susto: “Seu irmão, Eminência?”. “É. Apesar da diferença de nomes, somos filhos do mesmo Pai...”

92 edição n#3 • 2009

Page 93: Revista Zé - 03

feito arcebispo de Olinda e Recife; e nesse posto, durante 20 anos, ele ia desenvolver uma complicada relação com os donos do poder.

No início, os choques não foram muito evidentes. D.Helder, por natureza, tinha uma infinita capacidade de convivência com o diferente, e até com o antagô-nico. Essa capacidade não só faltava do outro lado, como o esquema militar de 1964 ia aguçar sempre mais as suas arestas. Com o AI-5, vozes “dissonan-tes”, como a de D.Helder, não teriam mais nenhum espaço aberto para sua manifestação. A censura cai impiedosa sobre qualquer notícia que se referisse ao arcebispo de Recife, considerado perigoso e até subversivo.

D.Helder se dobra às circunstâncias internas. Mas não se considerava preso às mesmas limitações quando se tratava das viagens internacionais para as quais ele recebia constantes convites. Ele se torna uma personalidade mundialmente conhecida, e o que se sabe, hoje, é que ele foi um forte candidato ao prêmio Nobel da Paz, que teria fugido das suas mãos devido a articulações explícitas do Governo brasileiro.

No Brasil, o cerco se fechava cada vez mais. Ele não foi atingido diretamente - não haveria cora-gem para isso; mas um de seus assessores, o padre Henrique, foi brutalmente assassinado - crime cujo processo transcorreu sem que nada se definisse. No enterro do padre Henrique, acompanhado por uma multidão, D.Helder usou de todo o seu prestígio para evitar que incidentes maiores ocorressem. Só a força de sua personalidade fez com que a multidão, ao final da cerimônia, se dispersasse em silêncio, como ele mesmo pedira.

No plano internacional, houve o famoso discurso feito em Paris em 1970, em que ele não quis mais se calar quanto à existência da tortura no Brasil. Aquela famosa cena do Palácio dos Esportes teve muito de improviso. D.Helder levara para a viagem uma palestra

em que falava dos deveres da França face à trilogia da Revolução: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Mas, visitando o cardeal Marty, ele recebeu um apelo de pessoas que estavam em Paris, e que lhe pediam que não se calasse ante o que estava acontecendo no período mais duro da repressão. Ele, então, abando-nou o discurso escrito, e fez a denúncia que tinha de ser feita. Depois disso, o silêncio em torno dele se fez ainda mais espesso. E só começou a afrouxar com o início da distensão política.

Tudo isso ele carregou com a sua bonomia tradi-cional. Ele nunca se deixou vencer pela amargura. Mas a provação maior ainda estava por vir. Naquele difícil período que vai dos anos 60 a meados dos 80, vivia-se o auge dos conflitos ideológicos. Havia, de todos os lados, a tentação das soluções radicais. Isso coincide com o clímax do que se poderia chamar de ciclo mar-xista na cultura moderna.

O pensamento eclesiástico não ficou imune a essas tendências. Mesmo dentro da Igreja, houve quem achasse que uma aproximação entre marxismo e cristianismo era não só possível como desejável. O desejo de mudar o mundo, de acelerar as transfor-mações sociais, tornou para alguns atraente a visão marxista de uma luta de classes como caminho para essa transformação.

“Há criaturas como a cana: mesmo postas no moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”

edição n#3 • 2009 93

Page 94: Revista Zé - 03

m e m ó r i a

Desde 1978, estava no trono de são Pedro um papa que tinha vindo de um país comunista, e que não tinha ilusões quanto àquela suposta aproxima-ção. João Paulo II não fechou as portas à Teologia da Libertação nem ao progresso social. Mas não queria confusão com o marxismo.

Tendo D.Helder chegado à idade em que os bispos se aposentam, sua renúncia à Arquidiocese foi aceita pelo Vaticano; e, para o seu lugar, foi nomeado um prelado, D. José Cardoso Sobrinho, que recente-mente voltou a sair do anonimato por uma conduta, no mínimo imprudente, no episódio do estupro de uma menina por seu próprio pai.

Na jurisdição de D.Helder, a Teologia da Li-bertação tinha progredido sobretudo no âmbito das Comunidades Eclesiais de Base; e expoentes dessa teologia não faziam segredo da naturalidade com que viam a entrada de conceitos marxistas na pregação e na prática dos cristãos. D.José, no caso, agiu com a mesma sutileza agora evidenciada no caso da menina que abortou. Uma mão pesada caiu sobre toda a área de atuação de D.Helder como arcebispo de Recife e Olinda.

E é nesse momento, acho eu, que nós temos a verdadeira dimensão de D.Helder como homem de Igreja e como discípulo de Jesus Cristo. Isso está contado no livro admirável de Marcos de Castro, “D.Helder: misticismo e santidade”. Escreveu o famoso padre Comblin sobre os acontecimentos daquela épo-ca: “Ele (D.Helder) tinha a maior devoção pelo papa, a devoção do povo tradicional pela figura branca de pai universal, ou talvez de avô de toda a humanidade; aquela devoção de santa Catarina de Siena, indepen-dente da personalidade do papa”.

Nas visitas do papa ao Brasil, D.Helder encon-trou-se com ele, e foi tratado com uma deferência toda especial. Ficou célebre a expressão “irmão dos pobres, meu irmão”, que o papa pronunciou ao abraçar D.Helder em sua visita ao Recife, em 1980.

Mas o sofrimento foi grande. Que D.Helder vi-venciou no mais completo silêncio, na sua casinha mo-destíssima do Recife, onde foi encontrá-lo o repórter Marcos de Castro. Marcos, que tinha o maior respeito pelo homem de ação D.Helder, surpreendeu-se ao encontrar, naquele último D.Helder, a figura do místico, do homem de oração que acordava toda noite às duas

da madrugada para rezar. E é com um trecho do livro de Marcos de Castro que eu encerro:

“Fala D.Helder:- Uma coisa maravilhosa ocorre quando Cristo,

no Calvário, sofre aquelas injustiças tremendas. Porque pior do que matá-lo, foi a ignomínia de deixá-lo despi-do diante da multidão, cuspir no rosto do Cristo. Olhe que ter visto o Cristo deve ter sido uma coisa impres-sionante. Cada vez que a gente encontra, assim, um João XXIII, um Roger de Taizé, uma Teresa de Calcutá, a gente sente uma enorme responsabilidade por ter vivido alguns momentos ao lado de criaturas tão gran-diosas. Imagine ver o Cristo! Ouvir sermões pregados por ele, ouvir parábolas contadas por ele! Assistir a milagres, a prodígios, feitos por ele! Repito, pior do que matar foi deixarem o Cristo nu, cuspirem no seu rosto. Pois bem, quando a gente pensa que ao menos aqueles que o deixaram nu e cuspiram em seu rosto vão ser esmagados, é maravilhoso ouvir o Cristo dizer: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Então, cada vez mais me convenço de que no mundo, muito mais do que maldade, existe é fraqueza, pois Cristo só viu naqueles homens fraqueza. Assim deve ser com a gente, a cada vez que se tem oportunidade de conhe-cer de perto uma criatura que nos parece uma fera, um horror, um monstro. De perto e, tanto quanto possível, de dentro. Não digo que a gente justifique (também nós não somos juízes, não podemos julgar). Mas a gente entende a fraqueza humana”.

Não nos condenes a ser sós estando juntos. Permite-nos estar juntos estando sós.

Solidão e solidão Dom Hélder Câmara

Poema da noite

D. Helder Câmara 1909 - 1999

94 edição n#3 • 2009

Page 95: Revista Zé - 03
Page 96: Revista Zé - 03

t u r i s m ot u r i s m o

De Lampião ao Rendendê, com a bênção do Velho Chico

Piranhas : Da Redação : Alexandre Ribas

96 edição n#3 • 2009

Page 97: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 97

Page 98: Revista Zé - 03

t u r i s m o

A primeira impressão que se tem ao chegar em Piranhas, no oeste alagoano, é de que se trata de uma cidade cenográfica. Ao caminhar por suas ruas e ladeiras, cuidadosamente preservadas, percebe-se um quase inexistente fluxo de pessoas. Às margens do rio São Francisco, o tímido município dá uma verdadeira aula de história e civilidade. Prova disso é que, só em 2008, a região recebeu cerca de 75.000 visitantes. Todos em busca de uma única opção de lazer: sossego.

Com uma população em torno de 24 mil habi-tantes, Piranhas é dividida em quatro bairros: o Centro Histórico - desde 2003 tombado como Patrimônio Histórico Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)-, Xingó, que é formado pe-las Vilas Alagoas e Sergipe , Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora das Graças. A cidade ainda conta com diversos povoados, como o de Entremontes, onde foram rodadas algumas cenas do filme Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues.

Além das belíssimas paisagens, bastante ex-ploradas pelos amantes do ecoturismo – muito forte na região, Piranhas ficou nacionalmente conhecida pela história do Cangaço. Ou mais precisamente pelo seu desfecho: na madrugada de 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram exterminados na mítica Grota do Angico, na divisa com o município sergipano de Poço Redondo. Depois, suas cabeças foram exibidas como troféus em diversos esta-dos nordestinos.

Hoje, no município alagoano, parte da trajetória do lendário Rei do Cangaço pode ser revivida pelos visitantes. Além de desbravar a trilha que leva ao ponto exato onde Lampião e parte de seu bando morreram,

t u r i s m o

A beleza do rio São Francisco pode ser admirada de muitos pontos da cidade

As ruas de Piranhas são tão bem preservadas, queaté parece que estamos em uma cidade cenográfica

98 edição n#3 • 2009

Page 99: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 99

Page 100: Revista Zé - 03

t u r i s m o

100 edição n#3 • 2009

No Museu do Sertão é possível vislumbrar fotos do famoso cangaceiro Lampião e seu bando em plena caatinga. Vale ressaltar que Piranhas foi a primeira cidade a expor as cabeças dos cangaceiros, além de registrar este acontecimento em fotografia. Localiza-do no prédio da antiga Estação Ferroviária, construído em 1881, o Museu abriga em seu acervo, iniciado em 1983, peças da cultura e da história do município.

Museu do Sertão

t u r i s m o

Page 101: Revista Zé - 03

quem for a Piranhas pode ainda conhecer o Museu do Sertão, localizado no Complexo da Estação, onde também funcionam a Secretaria de Turismo e o Arquivo Público municipais. A visita ao lugar, por si só, já vale à pena: um prédio de arquitetura neoclássica, construído por Dom Pedro II, no final do século XIX, para abrigar uma estação ferroviária.

Assim como o Complexo da Estação, toda a cidade vem sendo restaurada. “É um processo contínuo que teve início em 2001, através de uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Piranhas com o apoio do Minis-tério da Integração Nacional. Nosso próximo passo é revitalizar parte da antiga estrada de ferro de Paulo Afon-so, apenas 14 metros dos 116 originais. A idéia é criar um acesso alagoano ao Cânion do São Francisco. Será um Maria Fumaça com capacidade para 40 pessoas”, explica Jairo Oliveira, diretor de Turismo de Piranhas.

É também no Centro Histórico da cidade que uma mostra do trabalho produzido por artesãos locais, da Bahia, Sergipe e de Pernambuco fica diariamente à disposição daqueles que visitam a cidade. Um enorme

edição n#3 • 2008 101

Uma mostra das inúmeras publicações existentes sobre o Cangaço e Lampião

O Museu do Sertão é aberto das 08h/12h – 13h/17h (se-gunda às quintas-feiras), das 08h/17h (sábados, domingos e feriados). Acervo com mais de 100 peças, representando a memória regional e o cotidiano do sertanejo;

Page 102: Revista Zé - 03

t u r i s m o

galpão, onde funcionava uma oficina de trens, hoje abriga o Centro de Artesanato do Município. Parte da estrutura original do lugar, fundado por volta de 1881, continua bem preservada.

Uma herançaSaindo de Piranhas e navegando pelo rio São

Francisco, pode-se conhecer o povoado de Entremon-tes. A região é um dos maiores pólos de exportação do rendendê do Brasil. Ao todo, cerca de 164 mulheres praticam o delicado ofício do bordado, que vem de gerações. Países como Argentina, França e Itália já co-nhecem e consomem o trabalho dessas rendeiras, que já venderam suas peças até para personalidades como Hillary Clinton e Athina Onassis.

Hoje, a comercialização da renda é basicamen-te o que movimenta a economia de Entremontes. No povoado, uma cooperativa, uma associação e duas pequenas lojas comercializam o produto que ficou nacionalmente conhecido através do projeto Artesanato Solidário. ”Aprendi com minha mãe. Lá me casa, são três mulheres, todas rendeiras”, diz Izabela Araújo, que aos 19 anos já faz parte da Associação Entre Artes, a primeira do povoado.

Para Maria Nogueira da Silva, que aprendeu a bordar com apenas oito anos de idade, o ofício de ren-deira também é um passatempo. Aos 66 anos e ainda na ativa, ela lembra que contou com a ajuda de uma tia para começar a bordar. “Não conheci minha mãe. Quando ela morreu, eu ainda era um bebê. Graças a Deus alguém me ensinou. Bordando eu ganho dinheiro

t u r i s m o

Igreja Nossa Senhora da Saúde

Centro de Artesanato, Artes e Cultura

102 edição n#3 • 2009

Page 103: Revista Zé - 03

e ainda me distraio”, comenta.Já Dona Amália, com 50 anos de idade,

diz que precisa da ajuda financeira das filhas para sobreviver: “Comecei a trabalhar com uns 10 anos e aprendi a bordar com minha mãe, como é de costume por aqui. Também ensinei a minhas filhas, que dividem o serviço comigo”.

Voltando à cidade de Piranhas, ainda no atra-cadouro, onde desembarcam as inúmeras lanchas e catamarãs, está outro patrimônio devidamente preservado pelo município alagoano: a Canoa de Tolda, o principal meio de transporte que navega-va pelas águas do rio São Francisco durante os séculos 18 e 19. Fora esse exemplar, só existem mais dois em todo o mundo: um no Museu do Mar, em Santa Catarina, e outro na cidade sergipana de Brejo Grande, este tombado pelo Patrimônio Histórico Mundial.

A pequena cidade do estado de Alagoas é exemplo para muitas outras em todo o Brasil. Pira-nhas vive da sua história. Seus personagens jamais serão esquecidos, assim como as suas tradições. Um município sinônimo de empreendedorismo, cercado por paisagens esculturais e cheio de vida. Descubra! Você não vai se arrepender...

Países como Argentina, França e Itália já conhecem e consomem o trabalho das rendeiras

edição n#3 • 2009 103

Page 104: Revista Zé - 03

d e c o r a ç ã o

Poltrona Costela

Poltrona assinada pelo arquiteto e cenógrafo argentino Martin Eisler (www.hettygoldberg.com.br)

Mesa de Centro

Mesa de Centro Spyro sem tecido com cristal giratório (www.waydesign.com.br)

Pufe Missoni

Pufe da linha Missoni Home (www.novoambiente.com.br)

104 edição n#3 • 2009

Page 105: Revista Zé - 03

Porquinhos

Cofre em formato de porquinho (www.mevolution.com.br)

Cadeira Tulipa

Cadeira Tulipa Pierre Paulin em couro ecológico (www.obravip.com)

Toy Art

Série de toy art, inspirada nos deuses hindus, assinada pelo designer Rique C. Pereira(www.henriquecpereira.blogspot.com)

edição n#3 • 2009 105

Page 106: Revista Zé - 03

d e c o r a ç ã o

106 edição n#3 • 2009

Caneca Soco Inglês

Caneca em cerâmica com um soco inglês de ouro 14 quilates (www.aplusrstore.com)

Icon Clock

O Icon Clock é um relógio de parede minimalista e original, que mede apenas 8.9 cm e é feito de

resina plástica (www.gnr8.biz)

Sapateira de parede

Arames simulando pés vão segurar seus sapatos, deixando-os mais arejados. Chama-se Footprint e é uma criação de Charlotte Tangye (www.charlottetangye.co.uk)

Page 107: Revista Zé - 03
Page 108: Revista Zé - 03

Cadeira Burst

Absolutamente genial! Criação do designer Oliver Tilbury (www.olivertilbury.com)

Happy Sacks

Dá vida e cor aos tradicionais sacos de lixo comuns. Disponíveis em caixas de

12 sacos, os “Happy Sacks” podem ser adquiridos online (www.suck.uk.com)

Yakuza Table

Mesa em madeira com tatuagens. A vantagem de possuir uma dessa é que não dói nada. Da Reddish Studio(http://reddishstudio.com)

108 edição n#3 • 2009

d e c o r a ç ã o

Page 109: Revista Zé - 03
Page 110: Revista Zé - 03

Summer Shop 110 11.09.09 14:45:44

Page 111: Revista Zé - 03

Summer Shop 111 11.09.09 14:45:54

Page 112: Revista Zé - 03

Banco do Brasil investindo em cultura

Há duas décadas, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) leva cultura e lazer a diversos públicos do país. Para comemorar vinte anos de investimentos nas artes brasileiras, a instituição fi-nanceira está realizando mais uma edição do projeto CCBB Itine-rante. A programação de 2009, que incluiu 18 cidades, começou em abril e se estende até novembro, com eventos sócio-culturais e atrações nas áreas de música, teatro, literatura, cinema, dança e artes plásticas. Durante o primeiro semestre, as cidades de Belo

112 edição n#3 • 2009

Num total de 95 dias de eventos, o

CCBB Itinerante passa por 18 capitais,

incluindo cinco da região Nordeste

O Caminho Para MecaO espetáculo é protagonizado por Cleyde Yáconis, a partir do texto de Athol Fugard, um dos mais importantes dramaturgos contemporâneos da língua inglesa. Inspirado em uma figura real, o texto fala de segregação racial, contando a história da sul africana Elizabeth Martins, uma autêntica outsider que encontra sua forma de expressão por meio da escultura, produzindo uma arte não convencional. Direção: Yara de Novaes

Egberto Gismonti

Cacá Amaral e Cleyde Yáconis

Foto

: Joã

o Ca

ldas

Page 113: Revista Zé - 03

Em janeiro deste ano, o Banco do Brasil anunciou o investimento de R$ 41 milhões na programação das unidades do CCBB em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, além do projeto CCBB Itinerante. O valor é 10% superior ao de 2008, que foi de R$ 37 milhões.

Exposição Serra da Canastra - De 25 a 30 de agosto: Mostra fotográfica do documentarista Adriano Gambarini ressalta a importância de conservação deste patrimônio natural, embasado nas mais recentes pesquisas sobre espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira, e a intrínseca relação com as atividades humanas e locais.

- De 10 a 18 de outubroRecife (PE)- De 15 a 25 de outubroPorto Alegre (RS)- De 20 a 25 de outubroGoiânia (GO)- De 22 de outubro a 1º de novembro

Curitiba (PR)

- De 27 de outubro a 1º de novembro

Vitória (ES)- De 10 a 15 de novembroNatal (RN)- De 24 a 29 de novembroCampo Grande (MS)- De 24 a 29 de novembroBelém (PA)

Programação

Shirley Valentine Dirigido por Guilherme Leme, o texto do britânico Willy Russel, traduzido por Euclydes Marinho, conta a história de uma dona de casa (Betty Faria), cujos filhos já saíram de casa e o marido pouco a percebe. Ao ser convidada por uma amiga para passar 15 dias na Grécia, ela vislumbra a chance de recuperar a vontade de viver e sair do vazio de sua rotina.

Horizonte, Uberlândia e Cuiabá foram visitadas pela caravana do CCBB. No Nordeste, Fortaleza foi a pri-meira capital a receber o CCBB Itinerante. De 06 a 16 de agosto, o público cearense pôde conferir mostra de cinema, show musical e espetáculos teatrais, como a peça Shirley Valentine, encenada pela atriz Betty Faria. Logo em segui-da, Salvador recebeu verdadeiros sucessos de bilheteria, a exemplo do aclamado Renato Russo, espe-táculo que conta a vida do líder da banda Legião Urbana. Depois do sucesso de público no Ceará e na Bahia, o CCBB Itineran-te seguiu para São Luís, no Mara-nhão. Lá, no período de 25 a 30 de agosto, os maranhenses puderam se deliciar com a belíssima perfor-mance de Cleyde Yáconis no espe-táculo O Caminho para Meca. De 09 a 18 de outubro, o projeto chega a Recife, em Pernambuco, e de 10 a 15 de novembro a Na-tal, no Rio Grande do Norte, onde Egberto Gismonti e o grupo Balé do Teatro Alberto Maranhão serão algumas das atrações. Além das capitais nordestinas, também estarão no roteiro do CCBB itinerante, durante os me-ses de outubro e novembro, Curi-tiba, Porto Alegre, Goiânia, Campo Grande, Vitória e Belém. Confira toda a programação do projeto, incluindo as atrações que se apre-sentarão em cada cidade, no site www.bb.com.br.

edição n#3 • 2009 113

Page 114: Revista Zé - 03

Desde o ano de 2007, a Orquestra Sin-fônica de Sergipe (ORSSE) vem realizando um exímio trabalho de qualificação dos seus mú-sicos. Com o empenho do Governo do Estado e a contratação do maestro paulista Guilherme Mannis, a ORSSE está se destacando não só no Nordeste, mas em todo o país. Prova disso foi o sucesso da Turnê Brasil, com um encerramento apoteótico na Sala São Paulo, na capital paulis-ta, considerada uma das seis mais importantes

114 edição n#3 • 2009Egberto Gismonti

Cacá Amaral e Cleyde Yáconis

Orquestra Sinfônica de Sergipe

Michel Legrand, Catherine Michel, Guilherme Mannis e a cantora Patty Ascher

Michel Legrand rege a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE)

Page 115: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 115

salas de concerto do mundo.Iniciada em 7 de maio, no Teatro Tobias Barreto (TTB), em Aracaju, a Turnê Brasil percorreu, no pri-meiro semestre deste ano, outras três cidades brasileiras antes de chegar a São Paulo: Curitiba (PR), no Teatro Guaíra; Rio de Janei-ro (RJ), na sala Cecília Meirelles; Brasília (DF), no Teatro Nacional Cláudio Santoro. Em todos os locais por onde passou, a Or-questra apresentou um repertó-rio vibrante, de difícil execução e técnica muito apurada.A pouca idade dos músicos da ORSSE chamou a atenção de Catherine Michel, esposa de Michel Legrand e considerada uma das melhores harpistas do mundo: “Estamos maravilhados e muito felizes, porque acho que esta é uma das primeiras vezes em que trabalhamos com uma orquestra tão jovem. O que eu amei foi ver o entusiasmo deles e a vontade de aprender e fazer o melhor. Não dá pra imaginar o quão maravilhoso é trabalhar com pessoas assim”.

Michel LegrandInserido da programação do Ano da França no Brasil, Sergipe foi o único estado da região Nordes-te a receber a apresentação do pianista e maestro francês Michel Legrand, em sua curta temporada pelo país. Ele se apresentou com a Orquestra Sinfônica de Sergipe no TTB, em Aracaju. “Por si só, a presença de Legrand em Aracaju já seria motivo de grande alegria para aqueles que admiram a sua música. Mas quando isso acon-tece no contexto das comemora-ções do ‘Ano da França no Brasil’ adquire um significado especial, pois revela a grande afinidade da cultura brasileira com a francesa e o débito que nós temos pela in-fluência francesa na formação da nossa cultura”, analisou o Gover-nador Marcelo Déda. Um dos compositores mais co-biçados do cinema, Legrand já trabalhou com Jean-Luc Godard, Richard Brooks, Claude Lelouch, Clint Eastwood e Robert Altman, entre outros diretores. Compôs mais de cem trilhas para filmes

Michel Legrand, Catherine Michel e o Governador de Sergipe Marcelo Déda

A harpista Catherine Michel

ao longo da carreira e recebeu três estatuetas do Oscar pelas canções dos filmes Crown, o Magnífico (1968), Houve uma vez um verão (1971) e Yentl (1984).Desde 1958, o pianista, arran-jador e compositor francês lide-rou bandas com nomes impor-tantíssimos do jazz como Miles Davis, John Coltrane, Bill Evans e Herbie Mann. Além disso, já trabalhou com Ray Charles, Per-ry Como, Neil Diamond, Ella Fit-zgerald, Aretha Franklin, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Diana Ross, Shirley Bassey, entre tan-tos outros.

Page 116: Revista Zé - 03

Maria João PiresOutra importante apresentação da Orquestra Sinfôni-ca de Sergipe contou com a participação da renoma-da pianista portuguesa Maria João Pires. Radicada em Salvador (BA), desde 2006, ela tem contrato com uma das maiores gravadoras de música clássica do mundo, a Deutsche Grammophon. Além disso, já se apresentou com grandes orquestras mundiais, incluindo a Filarmô-nica de Berlim, a Sinfônica de Boston e a Filarmônica de Viena. O concerto contou com a participação de dois convidados especiais de Maria João: seus alunos, os irmãos holandeses Arthur e Lucas Jussen, que encan-taram o público.

Maria João Pires é a entrevistada desta edição da ZÉ.

08 de outubroTeatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)28 de outubroTeatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)05 de novembroTeatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)19 de novembroTeatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)09 de dezembroTeatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)22 de dezembro Teatro Tobias Barreto - Aracaju (SE)

Confira a programação da ORSSE até dezembro/2009

Os gêmeos holandeses Arthur e Lucas Jussen

116 edição n#3 • 2009

A pianista Maria João Pires

Page 117: Revista Zé - 03
Page 118: Revista Zé - 03
Page 119: Revista Zé - 03

Memória da CanaEstá em Cartaz, no Espaço dos Fofos, em São Paulo, o espetáculo Memória da Cana, uma livre adap-tação de Álbum de Família, texto do escritor e drama-turgo Nelson Rodrigues. A direção é de Newton Mo-reno - autor de Agreste e As Centenárias. Na peça, a típica casa de engenho pernambucana, uma referência a obra do escritor Gilberto Freyre, serve como cenário para a história de uma conturbada família interiorana.“Encontramos com Gilberto Freyre desde Assombra-ções do Recife Velho. Gilberto foi o ponto inicial para essa pesquisa em torno da família patriarcal, da casa brasileira, das memórias. Lendo Álbum de Família, que era um texto que eu queria muito fazer, achei que po-

edição n#3 • 2009 119

Page 120: Revista Zé - 03

deríamos propor essa aproxima-ção, entre a família que Nelson e Gilberto investigam. Parecia que as coisas se complementavam: um na ficção e o outro no ensaio, os dois trabalharam com o tema da família brasileira; os dois são pernambucanos e em ambas as obras há um eco da estrutura pa-triarcal. E a terceira via da pesqui-sa trouxe para a cena os atores do grupo, nordestinos ou que vêm de família nordestina. Com a exceção da atriz Kátia Daher, que é justa-mente quem faz a tia solteirona, uma figura estrangeira dentro da casa”, explica Newton Moreno.Ao conceber Memória da Cana, o grupo resolveu, literalmente, viver a história dessa família rodriguiana. Seu galpão-sede foi transformado em uma verdadeira casa-gran-de, onde cada aposento tem um cheiro característico. Com isso, o público também se vê inserido na intimidade dos personagens, po-dendo sentir, bem de perto, como seria viver naquela atmosfera de-senhada pelo diretor.Para esta montagem, o grupo Os Fofos Encenam viajou para Recife, onde conversaram com estudiosos que pesquisaram Gilberto Freyre e a história de Pernambuco. O dire-tor relata que foram também ao interior: “Visitamos os engenhos da Zona da Mata Norte, na região de Vicência, onde fica a área mais canavieira, e fizemos algumas ce-nas lá, dentro dos engenhos, para ouvir o texto do Nelson no cenário do Gilberto”.Memória da Cana traz no elen-co os atores Carlos Ataíde, Ká-tia Daher, Luciana Lyra, Paulo de Pontes, Marcelo Andrade e Vivia-

ne Madureira. O espetáculo fica em cartaz até o dia dois de novembro no Espaço dos Fofos - Rua Adoniran Barbo-sa, 151, Bela Vista, São Paulo. Mais informações pelo telefo-ne (11) 3101 6640 ou acesse www.osfofosencenam.com.br

Foto

s: D

ivul

gaçã

o

120 edição n#3 • 2009

Page 121: Revista Zé - 03
Page 122: Revista Zé - 03

FINAL DE SEMANA VIP COCOON EM SALVADOR!

SEM SE PREOCUPAR COM A LEI SECA!

TODA SEXTA-FEIRA JANTAR COM J VELLOSO (MPB)

LOUNGE, DJ IBIZA STYLE E BARMAN ACROBÁTICODORMIR NO ÚNICO DESIGN HOTEL ASTRONAVE DO PLANETA

* VALORESFESTA + 1 DIÁRIA POR R$ 105,00 (Valor por pessoa em apartamento luxo dbl)FESTA + 2 DIÁRIA POR R$ 180,00 (Valor por pessoa

em apartamento luxo dbl)

* Os valores acima somente poderão ser aplicados a partir de apartamento duplo. Apartamento single, tarifa sob consulta. Validade da promoção conforme disponibilidade de apartamentos.

Rua Haeckel José de Almeida, 238 - Praia de Jaguaribe

Cocoon.indd 122 11.09.09 14:00:53

Page 123: Revista Zé - 03

Curta-SE A 9ª edição do Festival Ibero-Ame-ricano de Cinema de Sergipe (Curta-SE 9) traz quatro categorias para as mostras competitivas: curta-metragem em 35 mm, em vídeo (nacional, sergi-pano e de bolso) e longa-metragem. O evento realiza-se entre os dias 29 de setembro e 02 de outubro. Dos 32 filmes inscritos para a catego-ria longa-metragem, foram escolhidos Olho de Boi, de Hermano Penna; Cin-derelas, Lobos e um Príncipe Encan-tado, de Joel Zito Araújo; Praça Saens Peña, de Vinícius Reis; Se nada mais der certo, de José Eduardo Belmonte; e A Festa da Menina Morta, de Ma-theus Nasthergale.

Praça Saens Peña

Se nada mais der certo

edição n#3 • 2009 123

Page 124: Revista Zé - 03

“Escolher esses nomes não foi tarefa fácil, tendo em vista o grande número de inscritos que, inclusive, superou o total do ano passado e a qualidade técnica apresentada. Muitas dessas produções ganharam visibilidade em outros festivais, arrebatando prêmios, e nos sentimos muito honrados em tê-los na edição 2009 do Curta-SE”, afirma Rosângela Rocha, diretora executiva do Festival.A produção que conquistar o júri po-pular na categoria longa-metragem vai receber a quantia de R$ 10 mil do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), grande parceiro e apoiador do Cur-ta-SE 9. Mais informações, acesse: www.curtase.org.br

A Festa da Menina Morta

124 edição n#3 • 2009

Page 125: Revista Zé - 03
Page 126: Revista Zé - 03
Page 127: Revista Zé - 03

Nesta primeira vinda do Beirut ao Brasil, duas das quatro capitais onde o grupo se apresen-tou estão no Nordeste: Salvador e Recife. Nesta última, a banda, liderada pelo multiinstrumentista norte-americano Zach Condon, foi uma das atra-ções da edição 2009 do No Ar Coquetel Molotov. Em sua sexta edição, o Festival recebeu a chancela do Consulado Geral da França e do Ministério da Cultura, integrando a programação de eventos do Ano da França no Brasil. Artistas como Sebastien Tellier, Zombie Zombie e François Virot vieram a Recife como representantes da cena musical fran-cesa.

Zach Condon, Beirut

No Ar: Coquetel Molotov

O cantor/compositor/multi-instrumentista francês Sebastien Tellier

127EDIÇÃO N#3 • 2009

Liberado - De quem ze fala Coquetel Molotov.indd 127 11.09.09 21:15:27

Page 128: Revista Zé - 03

Parque dos Cajueiros Aracaju - Sergipe

Page 129: Revista Zé - 03

A Festa da Menina Morta

Além das atrações internacionais de peso, o No Ar Coquetel Molotov tam-bém promoveu belíssimas apresenta-ções de artistas nacionais, como os jovens e talentosos Thiago Pethit & Tiê, e os experientes Lô Borges e Milton Nascimento.Este ano, além do apoio da Fundarpe, o Festival também contou com o patro-cínio da Trident, Red Bull, Aeso e Se-brae. Mais informações, acesse: www.coquetelmolotov.com.br.

Tiê

François Virot Thiago Pethit

Milton Nascimento

Zombie Zombie

129edição n#3 • 2009

Liberado - De quem ze fala Coquetel Molotov.indd 129 11.09.09 21:17:06

Page 130: Revista Zé - 03

Um ilustre filho brasileiroO longa-metragem Lula - O filho do Brasil ainda nem estreou e já é considerado o mais caro desde a retomada do cinema nacional: seu orçamento já pas-sou dos R$ 17 milhões. Dirigido por Fábio Barreto, o filme narra a trajetória do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, desde seu nascimento em Garanhuns, no agreste pernam-bucano, até a morte de sua mãe, dona Lindu, interpretada pela atriz Glória Pires. Inspirado no livro homônimo da historiadora Denise Paraná, Lula – O filho do Brasil traz o ator Rui Ri-cardo Dias no papel do presiden-te. O elenco tem ainda Cléo Pires, que interpreta Lurdes - primeira mulher de Lula, que morreu grávi-da de sete meses, Juliana Baroni, Lucélia Santos e Milhem Cortaz. A previsão de estreia do longa é para o início de 2010.

130 edição n#3 • 2009

Rui Ricardo Dias, no papel de Lula

Dona Lindu, mãe de Lula, é interpretada por Glória Pires

Cléo Pires é Lurdes, a primeira mulher de Lula Dona Lindu e Lula

De quem ze fala Um Ilustre brasileiro.indd 130 11.09.09 15:27:34

Page 131: Revista Zé - 03

136 edição n#2 • 2009

Page 132: Revista Zé - 03

Água de Coco e Bloomingdale’s

A grife cearense Água de Coco, especializada em moda-praia, acaba de dar mais um grande passo: Liana Tho-maz, estilista e diretora da marca, fechou uma parceria com a loja de departamentos Bloomingdale’s. Lançada na temporada primavera-verão 2009/10 do São Paulo Fashion Week, a nova coleção da Água de Coco será ex-portada para Dubai, nos Emirados Árabes, onde está localizada a primeira filial da cé-lebre loja de departamentos americana.

132 edição n#3 • 2009

Page 133: Revista Zé - 03

A Festa da Menina Morta

edição n#3 • 2009 133

Quando a estilista Liana Thomaz criou a Água de Coco, em Fortaleza, seu atelier tinha apenas uma máquina, uma costureira e muita determinação. Desde 1985 no mercado, a grife de moda-praia cresceu e tornou-se uma das mais conceituadas do mundo.

Page 134: Revista Zé - 03

Recentemente, a banda sergipana Alapada participou do Programa do Jô, da Rede Globo. O grupo, liderado pelo músico Naná Escalabre, mostrou o seu trabalho no quadro Canja do Jô, um espaço do talk show reservado para divulgar “novos talentos”.Alapada surgiu em 2001. Desde então, a banda de rock-pop já gravou dois CDs e um DVD. Além do Programa do Jô, o grupo já se apresentou no programa Altas Horas, também da Rede Globo, na MTV e empla-cou a música Vida em Jogo como tema de abertura da novela teen Alta Estação da Rede Record.

134 edição n#3 • 2009

Alapada e o seu rock-pop

O Bem Amado Com direção de Guel Arra-es (Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro), o longa-metragem O Bem Amado estréia em dezembro nos cinemas brasileiros. A superpro-dução da Globo Filmes, em parce-ria com Paula Lavigne, foi rodada no município alagoano de Marechal Deodoro, com orçamento de R$ 9,8 milhões. O texto original de Dias Gomes foi adaptado por Arraes com a cola-boração de Cláudio Paiva (A gran-de família) e será protagonizado por Marco Nanini, que já viveu o prefeito Odorico Paraguaçu no teatro. Na

história, com ares de crítica política, o prefeito tem como seu principal projeto construir um cemitério na cidade, mas seus planos encontram um empecilho: ninguém morre em Sucupira.O Bem Amado traz ainda no elenco os atores José Wilker (Zeca diabo), Matheus Nasthergale (Dirceu Borbo-leta), Zezé Polessa (irmã Cajazeiras), Andréa Beltrão (irmã Cajazeiras), Dri-ca Moraes (irmã Cajazeiras), Maria Flor e Caio Blat. A TV Globo deve transformar o filme em uma micros-série com quatro capítulos, a ser exi-bida em 2010.

Page 135: Revista Zé - 03
Page 136: Revista Zé - 03

136 edição n#3 • 2009

Murilo Rosa em Orquestra dos Meninos

Área QQuixadá e Quixeramobim, cidades do Ceará conhecidas pela Ufologia, vão servir de cenário para o filme de ficção científica Área Q. Dirigido por Gerson Sanginitto e produzido por Halder Gomes (am-bos de Cadáveres 2), o longa-me-tragem será protagonizado por Mu-rilo Rosa (Orquestra dos Meninos) e Isaiah Washington, o doutor Burke do seriado Grey’s Anatomy.Área Q é sobre um grande repórter, Thomas Matthews, de uma revista conceituada dos Estados Unidos, que atravessa problemas pessoais. Em um certo momento, seu chefe o obriga a sumir e relaxar. Por sorte, aparece uma história no Ceará, de uma onda de aparições de Objetos

Voadores Não-Identificados, abdu-ções e curas milagrosas. Ele vem então ao Brasil entender se não é uma paranóia coletiva. Seu ceti-cismo entra em contato com esse lugar e a vida dele muda de forma inesperada.

Isaiah Washington

Seletiva de Kart Petrobras O circuito de Imperatriz, no Maranhão, foi escolhido para a penúltima etapa classificatória da Seletiva de Kart Petrobras, que aconteceu no início de setembro e contou com a participação de pilo-tos de todo o Brasil. Esta prova, em território maranhense, é disputada desde o ano 2000, perdendo em número de realizações apenas para São Paulo.A última etapa acontece na região metropolitana de Salvador (BA) e a final em Volta Redonda (RJ), nos dias 20 e 21 de outubro, com o prêmio de RS 100 mil para o ven-cedor.

10

De quem ze fala Seletiva Kart Area Q.indd 136 11.09.09 19:42:49

Page 137: Revista Zé - 03

136 edição n#2 • 2009

Page 138: Revista Zé - 03

138 edição n#3 • 2009 Non ononononno onnononononno onnonon

Lampião e Maria Bonita

ArrebatadorZéq’Oliver é dono de um vozeirão que tem surpreendido quem o ouve cantar. A cada apresentação, mostra que se trata de um ver-dadeiro artista. O músico sergipano traz con-sigo uma bagagem inflada por boas energias, histórias de amor e muita riqueza cultural. Nego, título do seu novo álbum, é um verdadei-ro espetáculo de sons. Os hits em seu trabalho evocam sensações únicas, como nas composi-ções Casa de Chica, Que Dor e Só Quero Ser Feliz. Vale muito a pena conferir!

O XL Energy Drink, bebida energética de origem polo-nesa, presente em mais de quarenta países, foi lançado no Nordeste durante a 29ª Convenção Anual do Atacadista e Distribuidor (Abad), em Recife (PE). O energético é importado pela Vitality Comércio Ex-terior, empresa do Grupo H. Freitas, que foi representada no evento pelo diretor Heverton Freitas e pelo gerente regional Norte-Nordeste Humberto Bevilaqua Filho.A Abad/2009 reuniu, em Recife, durante quatro dias, empresários e executivos da indústria, do varejo e dos atacadistas distribuidores de várias partes do Brasil e do exterior. O evento, que recebeu mais de 30 mil visitantes e 240 expositores, é o mais importante do setor e em 2010 realiza-se na cidade de Curitiba (PR). Carlos Eduardo Severini, presidente da Abad, considerou que foram atingidos os objetivos de gerar negócios, congregar e propiciar contatos entre os integrantes da cadeia de abastecimento nacional.

12 XL Energy Drink na Abad/2009 - Recife

De quem ze fala Zeq Oliver.indd 138 11.09.09 20:01:53

Page 139: Revista Zé - 03
Page 140: Revista Zé - 03

Poeta independente, o maranhense Weliton Carvalho acaba de lançar seu quinto livro. Intitulada Geometria do Lúdico, a obra, com mais de 600 pági-nas, reúne os poemas públicados nos livros anteriores do escritor. A qualidade do seu trabalho é indiscutível. Para conhecer mais sobre o poeta, acesse o endereço eletrônicowww.welitoncarvalho.com.br.

Geometria do Lúdico

140 edição n#3 • 2009

Água da VidaNo mar é possível encontrar cerca de 80 diferen-tes minerais, além de diversos nutrientes. Pensando nisso, a Água da Vida surge com um diferencial das outras exis-tentes no mercado: seu processamento, através de uma exclusiva tecnologia, conserva apenas a riqueza nutricio-nal vinda do mar.Criada em 1990 pela Processadora Industrial e Comercial de Águas Oceânicas, a Água da Vida é produzida sob um rigoroso padrão de qualidade, através de um processo único em todo o mundo. Mais informações sobre este produto através do endereço eletrônico www.averdadei-raaguadavida.com.br.

Page 141: Revista Zé - 03
Page 142: Revista Zé - 03

142 edição n#3 • 2009

Fachada do Mangai em Natal (RN)

Restaurante Mangai

O Mangai é um dos maiores exemplares do resgate das tradições do Nordeste brasileiro. Seja através da sua gastronomia, decoração ou até mesmo da vesti-menta dos garçons. Atualmente, o restaurante de comida tipicamente nordestina está em três capitais brasileiras:

Há 14 anos no mercado editorial ser-gipano, a revista Aracaju Magazine é sinônimo de inovação. Com um conteúdo dinâmico e in-formativo, a revista traz matérias sobre moda, cinema, economia, política e mais uma gama de temas, sempre em busca do interesse do leitor. Sem dúvida, a revista TOP de Sergipe.

Revista Aracaju Magazine

Brasília (DF), João Pessoa (PB) e Natal (RN). Logo na entrada, um carro de boi busca retratar a vinda do campo para a cidade. Em seu cardápio, o melhor da culinária nordestina: carne de sol na nata, macaxeira, buchada, arroz de queijo, arroz de leite, fei-jão verde suvado de cobra, gororoba, bode, paçoca, entre tantos outros.

Page 143: Revista Zé - 03
Page 144: Revista Zé - 03

A evolução do Salvador Shopping Com o esforço e compro-misso do empresário João Car-los Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM, o Salvador Shopping vem evoluindo consideravelmente. No dia 09 de setembro, o empre-endimento inaugurou uma nova ala, oferecendo ao público baiano um total de 201 novas lojas, cin-co âncoras, três megalojas e 193 satélites. O investimento, só nesta etapa, foi de R$ 150 milhões. O total de recursos alocados para o

144 edição n#3 • 2009

empreendimento, desde a primei-ra etapa, é de R$ 500 milhões. Gerando mais de 3.500 novos empregos, o novo mix de lojas vai fortalecer o Shopping ainda mais, prometendo atender aos gostos e às necessidades do consumidor em diversos segmentos. As obras de expansão ficaram a cargo da Construtora Andrade Mendonça e foram iniciadas em janeiro de 2008, apenas oito meses após a inauguração.

O projeto arquitetônico, totalmen-te desenvolvido dentro do concei-to ecologicamente correto, desde a fundação ao revestimento, foi assinado pelos arquitetos André Sá e Francisco Mota. São mais de duas mil novas vagas de estacio-namento, totalizando seis mil em todo o Shopping. “A inovação do mix continuou a ser nosso objeti-vo nesta segunda etapa e por isso os consumidores vão encontrar no Salvador Shopping, inclusive,

Page 145: Revista Zé - 03

edição n#3 • 2009 145

marcas do circuito internacional que não tinham presença no es-tado”, explica João Carlos Paes Mendonça.A expansão do Salvador Shop-ping traz grandes marcas para a capital baiana. As novas lojas ân-coras serão a Etna Home Store (a primeira loja em Salvador), Leader Magazine e a Livraria Cultura (tam-bém inéditas no Estado), as Lojas Americanas e Casas Bahia, todas ocupando um espaço superior a dois mil metros quadrados. Além disso, chega ao empreendimento marcas inéditas como Armani Ex-change, Billabong, Limit’s, MAC, Mandi & CO, Trousseau, Track & Field, Patachou, Uno & Due, Red Dog, Sony, Esposende, Samello, First Class, Xsite Fashion, Enjoy, Dummond, Maria Bonita, Capo-darte, Nike, Fascar, Vuarnet, Ove-rend, Shop 126, Oakley, Jogê, 2nd Floor, Planet Girls, Orchestra, Me-lissa e Adji.Entre as inovações do Shopping, é importante destacar o apro-

João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM

veitamento da água das chuvas, sistema de esgoto a vácuo, a não-utilização de formas de ma-deira na estrutura de construção, a redução do lixo gerado, o uso de lâmpadas especiais contra raios ultravioletas, o uso racional e o reaproveitamento de energia. Compromisso que fez com que o Salvador Shopping recebesse três prêmios internacionais con-cedidos pela International Council of Shopping Centers (ICSC) para shopping centers da América Lati-na: um na categoria ouro, no que-sito Projetos e Desenvolvimentos Inovadores; o outro como Projeto Sustentável, ficando em segundo lugar com o Certificado de Mérito na etapa mundial do prêmio.

Page 146: Revista Zé - 03

Ivete.indd 2 04.09.09 20:03:35

Page 147: Revista Zé - 03

Ivete.indd 3 04.09.09 20:03:47

Page 148: Revista Zé - 03

36 edição n#2 • 2009

m o d e r n i d a d e

36 edição n#2 • 2009

m o d e r n i d a d e