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Revista Inversos - Expressando ideias e sentimentos.
Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 2
Volume I - Número 1 - Agosto 2017
Periodicidade da publicação: trimestral
Idioma: Português (Brasil)
Editor-chefe: Maroel da Silva Bispo
Conselho Editorial: Maroel da Silva Bispo, Adauto Borges de Barros e Antonio Josman
Lima de Brito.
Colunistas: André Flores, Cathy Arouca e Valéria Pisauro.
Revisão: Os textos passaram por revisão feita pelos próprios autores.
Capa: Artista plástica Simone S. Rasslan - contato: [email protected]
Site da revista: http://revistainversos.blogspot.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/Revista-Literária-Inversos
Contato: e-mail: [email protected]
Autor Corporativo: Maroel da Silva Bispo - Divisão Cultural da Associação Batista de
Ação Social, situada à Rua “A”, nº 5, Conjunto Feira VI, bairro Campo Limpo, CEP 44034-
205, Feira de Santana-BA.
Distribuição: Distribuída online e no formato PDF, gratuitamente, no site da revista,
através da plataforma Issuu. A reprodução dos textos é permitida, desde que sejam
atribuídos os créditos aos respectivos autores, e que seja citada a fonte.
Revista Inversos - Expressando ideias e sentimentos.
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Olá querido (a) leitor (a), tudo bem?
É com imensa alegria que apresentamos a todos vocês, a primeira edição da Revista
Inversos. Costurada por várias mãos e composta por muitos daqueles que fazem das
letras o seu pão, da poesia seus lençóis e da Literatura em geral, os travesseiros onde
reclinam suas cabeças, essa revista surge para somar com aquelas que já estão postas,
na nobre missão de produzir, por intermédio da Internet, literatura de qualidade, de forma
simples e autoral.
A ideia de criar a Revista Inversos nasceu logo após termos feito uma Coletânea com os
selecionados do 1º Concurso de Poesias Poeta Adauto Borges, organizado em
maio/2016, pela Divisão Cultural da Associação Batista de Ação Social, sediada em Feira
de Santana-BA.
Esse Concurso, idealizado pelo poeta Maroel Bispo, presidente da ABAS, como forma de
fomentar a Literatura, dar visibilidade a novos poetas e homenagear em vida o grande
poeta, cordelista e escritor Adauto Borges, foi coroado de êxito, tendo alcançado 230
poetas, com mais de 400 textos, de vários estados do Brasil, como Rio Grande do Sul,
Ceará, Pernambuco, São Paulo e para nossa surpresa, 4 participantes do exterior, sendo
2 de Portugal, um do Japão e 1 dos Estados Unidos.
Publicação digital, online e no formato PDF, de caráter gratuito, a revista oportuniza o
espaço a todos os amantes das Letras, mas especialmente àqueles que não encontram
guarida nas grandes revistas tradicionais de Literatura. Agradecemos seu carinho e seu
incentivo nesse início de caminhada. Forte abraço a todos vocês e vamos juntos, nessa
viagem encantadora da leitura!
Maroel Bispo – Editor-chefe
Revista Inversos - Expressando ideias e sentimentos.
Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 4
Expediente 02 Editorial 03 Sumário 04 Quem sou nesse abandono – Josman Lima – Feira de Santana-BA 05 Laços – André Flores – Portão – RS 06 Delírio – Cathy Arouca – Feira de Santana – BA 08 Perdido o lenho – Valéria Pisauro – Campinas-SP 09 Plantonismo computadorizado 10 Abstraído de mim – Maroel Bispo – Feira de Santana-BA 11 Poema da apóstrofe – Adauto Borges – Feira de Santana-BA 12 Poesias selecionadas 13 À deriva – Rafael Duarte Caputo - Curitiba-PR 15 Após a chuva os pássaros cantam – Jessyca Santiago – Belford Roxo-RJ 16 Eu sou assim – Ronaldo Dória dos Santos – Sepetiba – RJ 17 Mexeu com uma, mexeu com todas – Anderson Mariano – Salvador-BA 18 Afecção - Lívia Maria Costa Sousa – Salvador-BA 19 Ponto final - Rodrigo Duhau - Brasília-DF 20 Acendam a luz do lampião - Marcelo Vinicius – Feira de Santana-BA 21 Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA 22 Trovas diversas a Jesus Cristo - Paulo Caruso - Rio de Janeiro-RJ 23 O sertão e o vaqueiro - Francisco Bandeira Lima Junior – Fortaleza-CE 24 Trovoadas de Lava Jato – Caroline Cristina Pinto Souza – Botucatu-SP 25 Primeiras Palavras – Samadhi Gil Carneiro Pimentel – Salvador-BA 26 Da ordem que me fere é preciso – Danielle C. Vilas Bôas – Poços de Caldas-MG 27
Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA 28 Perfeição - Erivania dos Santos Fernandes – Feira de Santana-BA 29 Com os olhos do meu pai - Rosana de Hollebem – Ponta Grossa-PR 31 Prece acional – Tiago Dalperio de Andrade – Volta Redonda-RJ 32 Boneco de palha - Natália Scavasse Pacheco Silva – Limeira-SP 33 Contos curtos 35 Moléstia - Ricardo Messias Marques – Ribeirão Preto-SP 37 O amor - Silvana Maria Rocha de Oliveira – Serra-ES 38 O dia das cores - Alberto Arecchi – Pavia – Itália 40 Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA 42 Os dez sem rima - Leandro Marçal Pereira - São Vicente-SP 43 O quarto livro – Redivaldo Ribeiro – Feira de Santana-BA 44 A escolha de Maria - Suramy Dos Santos Pedrosa Ribeiro Guedes – Niterói-RJ 46 Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA 48 Perderam-se - Helena Isabel da Cruz Durães – Lisboa – Portugal 49 Labirinto - Antonia Gilda Sena Gomes - Feira de Santana-BA 51 Paralisia - Leonardo Ribeiro Mendes 52 Minha amiga Jandira – Marcelo de Oliveira Souza - Salvador-BA 54 O comandante da revolução - Heráclito Júlio Carvalho dos Santos – Teresina-PI 55 Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA 56 Trágico amor – Francisco Renato da Silva Pires – Massapê-CE 57 Baixo calão – Diego da Silva Teles dos Santos – Ilhéus-BA 58 Perdas e danos - Edweine Loureiro da Silva – Saitama – Japão 59
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Quem sou eu nesse abandono?
(Josman Lima – Feira de Santana-BA)
De pés no chão. Desnudo
E o cabelo embaraçado.
Sob a sombra de galhos secos
Vivo sem futuro, sem passado.
Busco alimento na penca de banana
Seu leite corta minha língua.
O lábio já é cortado.
Abraçado ao gato, busco afeto,
Minha carência me impede de soltar.
Um homem grosseiro e pacato me dá teto.
Me acompanha dia-a-dia, mas carinho não sabe dar.
No fogão, a lenha com suas brasas acesas, ardentes...
No chão, a palha seca que me aquece,
Quando o gato me abandona,
Some... Me esquece...
Que contraste. Que mundo cão.
O perigo me ronda, sou ninguém...
E até sentado no chão.
Com o gato na mão!
Sem futuro, sem passado...
Apenas hoje, com o presente sendo roubado,
Queria viver. Ser alguém. Ser cidadão.
Militar da reserva, Graduado em
Produção e Multimídia
Digital, UNISUL, Santa
Catarina, Especialista em Gestão
de Pessoas e RH e Graduando em
Psicologia - FTC – Feira de
Santana-BA. Autor do Livro
Pintando a Vida (2011), narração
romanceada, Categoria
Devocional; Cúmplices do Amor,
Romance, Categoria
Relacionamento (2014), A turma
do Bolota e Quinzinho (2015),
Categoria Infantil - refletindo
sobre o Bullying. É Artista Plástico,
Fotógrafo, membro da Academia
de Cultura da Bahia (ACB), da
Academia de Letras e Artes de
Feira de Santana (ALAFS) e da
Academia Internacional de Letras,
Ciências e Artes da Argentina.
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Poesia Laços
(André Flores - Portão – RS)
Homenagem aos nossos irmãos portugueses
As caravelas atracaram no Porto Seguro
Trazendo consigo um povo gentil
Na bagagem veio à esperança
Traduzida nos versos de Camões.
De herança nos deixaram seus costumes
Uma língua de rara beleza
A poesia das naus delirantes de outrora
A arquitetura barroca estampada nas cidades.
Dos lindos fados as serestas
Madrugadas românticas
Onde os enamorados se beijavam
Sob a luz do luar.
De mata virgem transformou-se em nação
Monarquia virou república
Imperialismo dando lugar à democracia
Da escravidão a abolição.
Um País se faz pela sua história
Pelas suas raízes e laços
Pelo legado deixado ao seu povo
Como forma de dizer: estes somos nós.
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Muito do que carregamos na alma
Deve-se ao povo Lusitano
Homens e mulheres de valor
Com muita dor deixaram seu País
Para iniciar uma nova vida.
Hoje sabemos que:
Muito da nossa cultura
Dos nossos costumes
Da nossa literatura e poesia
Tem um pouco daqueles que um dia
Atravessaram o oceano
Em busca de uma nova vida.
André Flores tem 42 anos, natural de Novo Hamburgo–RS, residente da Cidade de
Portão–RS. Casado com Cristiane Kochenborger, tem uma filha que se chama Letícia
Kochenborger Flores. Filho de Antônio da Silva Flores e Teresinha Beatriz Flores.
Premiado em Concurso realizado pela Academia de Letras e Artes de Porto Alegre e
Expresso das Letras, em Agosto em 2011. Premiado em Concursos realizados no estado
do Rio de Janeiro (Oliveira Caruso) em: 2013, 2014, 2015 e 2016 assim como nos
concursos Artífices da Poesia, da Editora A.R Publisher em 2016, Ancguedes 2016,
Mérito Cultural da FECI, (Fundação Educacional do Sport Club Internacional), em 2016,
Concurso de Poesias Poeta Adauto Borges/ABAS, em Feira de Santana-BA
(Março/2017) entre outros. Atua ativamente em blogs e jornais literários (Cabeça Ativa –
RJ, Poemas do Brasil - SE e Recanto das Letras - SP). Participou de uma dezena de
antologias no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Sergipe, 08 e-books, onde em
três oportunidades escreveu o prefácio. Atualmente escreve para as revista literária de
Portugal (PORTAL CEN), como também para a (Logus da Fênix). É correspondente do
Estado do Rio Grande do Sul da revista e grupo literária eletrônica Poemas do Brasil,
colunista da Revista Literária Inversos, em Feira de Santana - BA. Participação em
antologias no estado de Sergipe (Poemas do Brasil); lançou o seu livro Aprendiz de
Poeta, Simplesmente uma História em Maio de 2017.
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Delírio
(Cathy Arouca – Feira de Santana-BA)
Inquieta,
suspiro.
Dizem que as vezes
eu piro.
Mal sabem que vivo
em constante cegueira,
tapo os olhos
por qualquer dita besteira.
Se foi o colírio,
chegaram as olheiras,
o olhar turva
e a menina sorrateira
sorri
mesmo perdida
na escuridão do amor,
Dizem que ele é cego
que foi por ele o prego
nas mãos de Jesus.
Não serei eu a carregar a cruz
de discordar,
mas se me permitem falar
o mal do amor
é nos fazer enxergar
onde só queremos ver,
viver.
Catharina Figueiredo da Silva Arouca, natural de Feira de Santana, nascida e criada no meio das letras. Acadêmica de jornalismo na UFRB, aspirante a poeta e missionária do amor. Dona da página @cathyaroucapoesia no instagram e facebook, além do blog www.cathyarouca.tumblr.com
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Perdido o lenho
(Valéria Pisauro – Campinas-SP)
Voa atento o tempo, perdido o lenho,
Longe das horas aos quatro ventos.
Tece ao longe o pensamento,
Penitente voraz, oriente do presente
Colheita de breves enganos,
Sem plano desafia a sorte,
Sem razão nem norte, desnuda a morte,
Em desvario com alma cativa
Arde ou treme de frio,
Afaga a vida com as mãos.
Mãos que tecem sonhos incertos
Sem causa, abarcam, apertam,
Podam desenganos e acariciam o irmão.
Mãos calejadas das enxadas,
Mãos que não dizem nada,
Mãos apertadas, outras vazias,
Cruzadas, perdidas, solitárias.
Mãos do anzol, da terra, do sol,
Mãos de cimentos, mãos aos ventos,
Outras que afagam o chão.
Mãos que querem parar o movimento,
Mãos que geram sentimentos,
Mãos que carregam uma arma,
Outras que oferecem um pão.
Mãos que criam, que guiam,
Que se erguem em prece ao céu
E imploram por salvação.
Mãos que aplaudem ao léu
E outras que tocam acordes
De uma canção!
Valéria Pisauro nasceu em
Campinas, SP. Possui vários trabalhos literários editados e poemas musicados, tendo a felicidade de compor (como letrista) e gravar com parceiros brilhantes, inspirados e renomados compositores de todo o país. Os requintes de suas letras bem elaboradas são fruto de pesquisas, onde a variação de estilos traduz a força e a leveza de um trabalho sofisticamente inovador. Membro efetivo da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Cadeira nº 62; Membro Nacional Vitalício da Academia de Letras do Brasil/ALB/Piracicaba-SP, Cadeira nº 31; do Portal do Poeta Brasileiro; do Clube Caiubi de Compositores e de grupos de estudos sobre a cultura nacional. Participa de certames culturais, de idôneas antologias poéticas e de reconhecidos festivais de música. Estas fantasias tomaram corpo em prosa, versos e rimas. Tornei-me professora de Literatura e História da Arte, Ativista Cultural, Poetisa, Contista, Cronista, Letrista Musical; hoje, traço minha travessia e sou feliz!
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 10
Platonismo computadorizado
(Sandro Penelú – Feira de Santana-BA)
Foi bom te reencontrar,
Nesse "platonismo computadorizado";
Nesse "namoro" desencontrado...
Foi angustiante e lindo...
Alucinado, rasguei os "portais" e me vi,
Estático, a contemplar teu sorriso perfeito,
Encravado no monitor e te acariciei,
Talvez até com mais carinho
Que quando nos tocávamos às pressas...
E, no teclado,
Despenquei dos meus próprios olhos,
Molhando uma letra...
Sandro Penelú é poeta, músico, jornalista e professor. Publicou seus primeiros trabalhos nos
jornais Informativo Cultural e Feira Hoje. Depois, chegou à publicação de sete livros de poesia:
"FAZENDO POEMAS" – seu primeiro livro, lançado no ano de 1989, no qual se utiliza da
metalinguagem, enfocando basicamente o seu próprio fazer poético. Há ainda, nesta obra, uma
pequena tendência para o romantismo, coisa que Sandro Penelú viria a abandonar
definitivamente no seu quinto livro, "ÊXODO DO PRETÉRITO". "ASTROS" - Publicado em 1990,
traz uma linha poética inusitada e inovadora, com o poeta buscando inspiração para a sua poesia
na vida afetiva e até sexual dos astros do Cosmos, uma forma ousada de fazer poesia, até então
nunca utilizada pelos poetas. É um livro em que a metáfora atinge o seu ponto mais alto na linha
poética de Sandro Penelú. "A POESIA ROMÂNTICA DE SANDRO PENELÚ" (1991) - Neste livro,
Penelú retoma o romantismo incontido, sem, contudo, deixar de ter sempre os pés firmemente
colados no chão. Os poemas seguem uma linha quase que autobiográfica, com o autor
trabalhando imagens reais, dentro do plano do imaginário. "OLHOS DO UNIVERSO" (1992) - O
Cosmos sempre trouxe grandes inspirações a este nosso poeta que, usando magistralmente a
metáfora nesta obra, fez com que o Universo tenha, aos olhos do leitor, uma vida até então nunca
imaginada. "ÊXODO DO PRETÉRITO" - Publicado nove anos depois, em 2001, traz o poeta
muito mais amadurecido e seguro. Êxodo do Pretérito é um livro que insiste em dialogar com o
leitor, que se irrita, emociona-se e até ri... Já na sua segunda edição, tem arrancado comentários
positivos por parte de acadêmicos e professores de Literatura.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 11
Abstraído de mim
(Maroel Bispo – Feira de Santana-BA)
Vestido de branco me fez vítima,
E atravessei a rua vazia, deserta.
Calado, sem palavras,
Envolto nos descaminhos.
Soneto da morte iniciado,
Mas nunca concluso.
Trágico encontro de almas,
Almas errantes.
Ela surgiu impaciente,
Abraço fatal: a morte.
Cadáver de mim, caído,
Gélido corpo abatido.
Morte cruel,
Versos compostos de ais.
Inundaram o corpo nú.
Acolhido na pedra lavrada,
Estava ele ali,
Abstraído de mim.
Maroel da Silva Bispo tem 52 anos de
idade, é poeta e escritor, nascido em
Feira de Santana-BA. Tem como paixão
ler e escrever poesias, sendo admirador
de Clarice Lispector. Bacharel em
Teologia pelo Seminário Teológico
Batista do Nordeste; licenciado em
Letras pela Faculdade de Tecnologia e
Ciência e atualmente cursa Psicologia
na Universidade Estadual de Feira de
Santana-BA. É coautor do livro A cidade
dos meus Sonhos. Obteve o 4º lugar no
1º Concurso Municipal de Poesias de
Feira de Santana-BA. Foi selecionado
para publicar seus textos poéticos em
várias coletâneas, sendo uma
organizada pela Prefeitura Municipal de
Feira de Santana, em 2015 e outra pela
Universidade Estadual de Feira de
Santana, em 2016. Teve seus textos
selecionados para diversas antologias
pelo Brasil afora, como Revista
Conciliação e Revista LiteraLivre. Foi
organizador do 1º Concurso de Poesias
Poeta Adauto Borges, de âmbito
nacional, com mais de 260 poetas
inscritos, realizado através da Divisão
Cultural da Associação Batista de Ação
Social, da qual é o presidente. É
também, o fundador e editor-chefe da
Revista Literária Inversos, periódico
digital voltado para a Literatura em geral.
Facebook:
https://www.facebook.com/maroelbispo
e-mail: [email protected]
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 12
O poema da apóstrofe
(Adauto Borges – Feira de Santana-BA)
Céu, ó céu, se souberes, me responde.
Onde está o meu amor, que foi embora?
Deus, ó Deus, eu preciso saber onde
É o caminho que me leva a ela agora!
Sol, ó sol, tú que brilha no infinito,
Dize-me onde eu posso ver meu bem.
Lua, ó lua, com teu brilho tão bonito,
Mostra-me onde ela se detém!
Estrelas, ó estrelas tão distantes,
Vós que mudais tanto de lugar,
Dizei, com vossos olhos cintilantes,
Onde o meu amor posso encontrar!
Apóstrofe é a ação de virar-se. Proveniente do grego apostrophé, é uma figura com a
qual é feita a invocação9 emotiva a pessoas ou coisas personificadas. Trata-se de uma
figura semelhante à prosopopeia, muito usada pelos poetas e dramaturgos.
Adauto Borges é um ilustre poeta de
72 anos, casado com Rita Borges e
pai de quatro filhos. Escritor,
compositor e cordelista, nascido na
Fazenda Engenho, no Recôncavo
baiano, onde, por influência do
também poeta e charadista Camerino
Borges de Barros, seu pai, começou a
escrever estrofes dedicadas às coisas
ligadas à vida rural. Autor de
aproximadamente 1.200 poemas e
3.300 músicas de gêneros variados, já
publicou 207 livros de cordel, entre os
quais a Gramática Cordelizada, que
conta com os volumes publicados
pela Editora Todolivro e registra ainda
12 revistas em quadrinhos publicados
pela Editora Pétala. Publicou em
25/03/2017 o Livro Figuras de estilo
em prosa e versos.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 13
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 14
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 15
À deriva
(Rafael Duarte – Curitiba-PR)
Sem o Norte que gostaria,
Mais ao Sul do que imaginara.
Um instante, um momento,
Uma saudade cor de rosa dos ventos.
Tempos perdidos em vários anseios.
Tudo abstrato, nada concreto:
Tesouro perdido, enterrado, incompleto.
Adição de incertezas, aflição de desejos.
Efêmera espera que me aborrece,
Me consome, me angustia, me enlouquece.
Do baú das lembranças esquecidas
Vasculho em vão Palavras de alento.
Dor e sofrer são alimentos da alma.
De tempero: tomilho e tormento.
Naufragado ao passado, ancorado no tempo.
Preciso fugir, navegar, correr, sair, escapar.
Nada me resta senão atracar. Mas aonde?
Estou fraco e abatido, cansado e iludido.
Sonhando com a utopia de uma esperança fúnebre.
Pulsos ilesos, pelo menos por enquanto.
E se o infinito do horizonte não for suficiente?
Navego há tempos num mar de dúvidas.
Os remos já deixei para trás.
À deriva me encontro:
Pálido, enjoado, sujo salgado de lágrimas.
Lamentando a boiar distante do cais
Com vaga esperança de terra firme.
Maldita pirata!
Rafael Duarte Caputo nasceu em 16
de junho de 1977, no Rio de Janeiro,
mas vive e trabalha em Curitiba,
Paraná. É professor de informática,
administração e demais disciplinas
preparatórias para concurso público.
Ocupa atualmente o cargo de
coordenador pedagógico em uma
instituição de ensino particular. Possui
alguns poemas e contos já escritos.
Tamanha paixão pelo universo literário
fez com que se tornasse, atualmente,
um acadêmico do curso de Letras.
Considera-se um autor em início de
carreira com a esperança de um dia
ainda viver pura e simplesmente deste
amor.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 16
Após a Chuva os Pássaros Cantam
(Jessyca Santiago – Belford Roxo-RJ)
Gota de orvalho
Escorre na folha
Recria o céu
Nada no mundo
Traduz o silêncio
De uma manhã de Inverno
Quando pequena, queria saber porque
Após a chuva os pássaros cantam…
Mas deixo a questão pra quem não sabe
Sentir.
Quero o branco do Inverno
O orvalho da madrugada
O canto dos pássaros
A força da chuva
O sol.
Quero eu também,
Após a tempestade,
Cantar.
Jessyca Santiago, Recife PE.
Graduada em Letras pela UERJ,
reside e trabalha como professora,
tradutora e monitora no Rio de
Janeiro. Ama Literatura e possui
textos publicados em antologias e
revistas literárias.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 17
Eu sou assim
(Ronaldo Dória – Sepetiba-Rio de Janeiro/RJ)
Sou como sou
Gosto da verdade
Sou confuso
Não sei se fico, não sei se vou
Gosto de todos e de tudo
Faço da vida meu caminho
Sou como o pássaro livre
Minha lida encaro com carinho
Sou como a chuva que chora e vive
Gosto de amar sem maldades
Sou dos que, quando ama, ama de verdade
Fui feito para lutar e vencer
Para sorrir, para chorar
Vivo com vontade de viver
Vivo para sentir e para amar
Eu sou a vida de duas vidas
Sou o sangue do meu sangue
Sou parte da minha mãe querida
Sou o fruto do amor de dois amantes
Nasci para viver bem seja com que for
Pois sou forte e cheio de encantos
Meu caminho é feito de amor
Meu nome é Ronaldo Dória dos Santos.
Ronaldo Dória é carioca, casado,
pai de três filhos. É professor de
Matemática há muitos anos, o que
não o impediu de se dedicar
também às Letras. Publicou um
poema na antologia do 4º Concurso
SFX de Literatura 2016.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 18
Mexeu com uma, mexeu com todos
(Anderson Mariano de Santana Santos – Salvador-BA)
Mexeu com uma, mexeu com todos
Com todos os homens conscientes
Que sabem que o lugar do machismo
É na lata do lixo
E apesar da mão estendida
Entendem perfeitamente
Que pra ser feminista
É necessário uma vagina
Mexeu com uma, mexeu com todos
Com todos os homens pensantes
Que nasceram de uma mãe
E lembram de como o útero
Era quentinho e aconchegante
Levam esse pensamento adiante
Não deixam a memória falhar
Mexeu com uma, mexeu com todos
Com todos os tais homens
Que querem falar
Querem ser ouvidos
Querem estender o ombro amigo
Professor de redação, poeta, escritor e comunicólogo, Anderson Shon vive a pensar em textos, versos, ideias. Tem um livro publicado, Um Poeta Crônico, e outro no forno, Outro Poeta Crônico. Começou a escrever bem jovem, mas só foi pensar em virar escritor quando não aguentava mais perceber que seus escritos morriam em seus cadernos. Já participou de várias coletâneas de contos e poesias e agora evita comer alface no almoço, pois a hortaliça o deixa com sono, o impedindo de escrever pela tarde.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 19
Afecção (Lívia Maria Costa Sousa – Salvador-BA) Após aquela “afecção”, ela era como árvores que crescem dentro da terra, Onde ramos, troncos e emoções reverberam nos seus subsolos... Dela, brotavam acordes, versos, dúvidas, excogitações, E estrelas a viam sempre insone e sem audíveis sons... Era árvore que vento não balançava, Solenemente silenciosa, incorruptível... Somente olhos não a veriam, eram preciso alma e coração... Ela não tinha o respaldo do porte, não ameaçava beijar o céu... Ela abraçava as entranhas da terra, no seu perene, mas emudecido, sentir... Quem silenciasse captaria seu insistente olhar, seu fascínio vestido em pétalas... Contidamente transbordava poesia no criptograma de seus semifeitos, embora sua covarde e indevassável discrição... A “afecção” frutesceu-se diante daquele grave encantamento que nunca, sequer, foi notado, sentido a sós... Robusteceu-se afetada pelo amor... sim, amor. Solo e subsolo não comportaram o arroubo daquela impetuosa emoção... A árvore então rompeu-se dilacerando a terra, alçando ousado voo para o céu, batizando-se garça, banhando-se em rio... Seu silêncio, por aquele instante, fissurou-se em catarse, e deu-se a Revelação, ecoaram-se as sílabas... Não importa, porém, o gigantismo da árvore, quando no ato de seu esplendor, no acume de sua coragem, no clímax dos vocábulos banhados de sentir, sejam devolvidos em retribuição substantivos gélidos, incólumes, impávidos... A árvore não precisa de ajuda no segredo da fotossíntese. É preciso afago, não consolo. Afeto, sem dor.
Lívia Maria Costa Sousa nasceu em Salvador (Bahia), em 24 de maio de 1992. É graduada em
Letras pela Universidade do Estado da Bahia e Mestre em Literatura e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia, cursos esses que revelam suas tão constantes afeições. Lívia
aprecia e escreve poesias desde a infância, quando decorava e imitava os poetas que mais lhe
tocavam o sentimento. Leitora fecunda e insistente, enlevou-se muito cedo ao ambiente da
literatura, o que instigou esses embriões líricos que ora se apresentam. A sensibilidade revelada
em suas poesias muito chamou atenção de professores, amigos e familiares, o que motivou a
sua participação nesta antologia.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 20
Ponto-final
(Rodrigo Duhau - Brasília-DF)
Histórias para sorrir Ou foi, é e será apenas um ensaio?
Para sentir Sua história é uma interrogação?
Histórias para amar Uma exclamação?
Para chorar Abra parênteses e me dê um sinal
Histórias para repousar Quero ouvir sua história
Para ir e vir Antes do ponto final.
E até para dormir
Histórias para se assustar
Para suar
Histórias para pensar
Histórias para se indignar l
Para nem ligar
Apenas para escutar
Histórias para se emocionar
Para repetir
Histórias para lá
Para aqui e ali
Histórias para ensinar, para aprender
Histórias para viver
Histórias para crer e descrer
Histórias para irritar
Ou simplesmente provocar
Histórias para acalmar
Qual é a sua história?
Um romance?
Um conto?
Uma poesia?
Uma estrofe?
Um verso?
Sou jornalista, historiador e assessor de
comunicação da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários há mais de dez
anos. Autor do livro Luz, câmera,
repressão, lançado em 2015.
Revista Inversos - Expressando ideias e sentimentos.
Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 21
Acendam a luz do lampião
(Marcelo Vinicius Miranda Barros)
No sertão ainda há luz do lampião
Que distante parece o cuspe do dragão
Queimando todo o sertão
Magoando a plantação
Chora o boi magro, o milho e o feijão
Nos jogos de azar, então
Plantam a sorte
Cruzando os dedos na produção
Este é o meu nordeste, meio norte...
E uma sub-região
Nas ruas secas, os vagalumes...
Fingindo serem postes de néon
Iluminando os pés rachados...
Que correm em busca do que é bom
Esse é o meu sertão...
Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Fez parte do Grupo de Estudos em Filosofia da Arte a respeito do filósofo Arthur Danto, na UEFS, com ênfase em filosofia da literatura, em especial nas obras literárias do escritor Dostoiévski. Foi bolsista de extensão PROBIC/UEFS do Projeto de Cinema: Subjetividade, Cultura e Poder, com plano de trabalho “os escritores Kafka e Dostoiévski: um olhar sócio, político e cultural do século XXI nas telas do cinema”. É autor do romance "Minha Querida Aline" (Editora Multifoco).
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Simone S. Rasslan, artista plástica, artesã e figurinista. Seus trabalhos artísticos têm como características as cores fortes, o sagrado feminino, a brasilidade, a natureza e o invisível que há entre nós e o invisível que há entre nós e o inexplicável. – contatos: [email protected]; celular: (75) 98122-8025; http://www.instagram.com/samaricaartes/ - Obs.: Nessa 1ª edição, constam ainda mais quatro trabalhos lindíssimos da artista.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 23
Trovas diversas a Jesus Cristo
(Paulo Roberto de Oliveira Caruso–Rio de Janeiro-RJ)
O teu guia é Jesus Cristo?
Coincidência! O meu também!
No nosso amor temos visto
ser derramado o Seu bem!
Nossa mais perfeita obra
foi deixada por Jesus.
Nem a peçonhenta cobra
conseguiu tirar-lhe a luz!
O teu guia é Jesus Cristo?
Coincidência! O meu também!
Preguemos o bem! Insisto!
Não temeremos o além!
Vivamos com humildade! –
Jesus Cristo nos falou.
A semente da bondade
foi a que Ele mais plantou.
Redentor é o nosso Cristo,
repleto de doce amor.
Pelos bons Ele é benquisto,
Em gratidão e em fervor.
Paulo Roberto de Oliveira Caruso é carioca nascido a 19 de julho de 1975. Sempre incentivado nos estudos por suas amadas mãe (Eunice) e irmã (Fabiana), depois de casado viu tal incentivo partir também de sua igualmente amada esposa Mônica. Servidor público do estado do Rio de Janeiro, administrador e advogado formado pela UFF (ambas as vezes), atualmente cursa Letras na mesma universidade. É o atual Presidente da Academia Brasileira de Trova e membro de outras casas literárias.
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O Sertão e o Vaqueiro
(Francisco Bandeira Lima Junior – Fortaleza - CE)
Paraíso sofrido e castigado,
Porém belo e divino, com certeza!
Mesmo o chão do riacho esturricado
Conseguimos ainda ver riqueza.
Quando chove é tão forte a correnteza
Que a barragem se rompe, lado a lado!
Juazeiro (um guerreiro esverdeado),
Nem a seca destrói sua beleza.
O Melão Caetano enfeita a cerca.
Para que o seu gado não se perca,
Um chocalho, o vaqueiro dependura,
Mas fugindo, também não tem problema,
Se esquivando de ponta de Jurema
Vai buscá-lo aboiando à toda altura!
Poeta Cordelista e Sonetista, membro do Clube da Viola (Fortaleza- CE) e do Grupo Cordel Improvisado (Olinda-PE),Finalista e mencionado honrosamente em vários concursos literários pelo Brasil. Autor de 15 cordéis e de mais de 300 sonetos.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 25
Trovoadas de Lava a Jato
(Caroline Cristina Pinto Souza – Botucatu-SP)
Vasto corrupto casulo
Retém corrosivos juízos
Em contraditórios pisos
Vertiginosa articulo:
"Fartos numos em abaúlo
E os cofres públicos lisos
Assaltam nossos sorrisos
Bilhões desviados", calculo.
Estádios - investimentos
Hospitais - só sofrimento
Berrante dicotomia.
Choque de prioridade,
Displicente humanidade,
Nimbosa paralisia!
Garota sedenta pela literatura, a paixão
magnética pelo mundo linguístico
contribuiu para ser gratificada em
instituições de ensino em diversas
categorias tais quais: IIIº pódio no XIIIº
CLICO (Concurso Literário Interno
do Colégio Objetivo) no qual engendrou
uma narrativa lidando com a
sustentabilidade do globo terrestre.
Ganhadora de Melhor Conto tratando
das transformações urbanas ocorridas
no início do século XX e Melhor Roteiro
de um curta - metragem vanguardista no
Liceu de Artes de Ofícios de São Paulo,
em seu último ano do colegial. Articula
bem com as metrificações e rimas,
sendo aclamada no ano de 2016 como
vencedora do 32º Festival Poético de
Cornélio Procópio e do 16º Concurso de
Poesias da CNEC Capivari, ambos
conquistados pela construção de
sonetos feministas. Em 2017, atingiu
outro patamar: se classificou no Prêmio
Poesia Livre e Sarau Brasil - ambos
promovidos pela Editora Vivara
Nacional, superando mais de 3000
concorrentes em cada um deles para
ter seus versos publicados nessas duas
Antologias Poéticas. Cursa o segundo
ano de Ciências Biomédicas na Unesp
Botucatu, reservando uma porção de
seu tempo livre para expor no papel
suas perspectivas futurísticas, opiniões
acerca da contemporaneidade e
devaneios semânticos.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 26
Primeiras Palavras
(Samadhi Gil – Salvador-BA) Para Ian Gil
Filho meu, perdoe-me por te retirar da eternidade azul de não ser,
Do mais plácido sossego, do universo de infinita paz, da mais inocente indiferença.
Agora venha comigo, de mãos dadas, diluir-se no pó do revolto e brilhante tempo.
Não tenha medo, consolarei cada átimo de inquietude do seu despertar.
Jamais hesitarei, pois suas lágrimas são lâminas que cortam minha alma,
Movem-me como gladiador em última batalha – a fim de superá-la, por você, filho meu.
E cada sorriso, cada sono doce, cada momento seguro e feliz será alimento, luz, elixir.
Venha comigo, venha ver, que aqui neste mundo também tem o azul,
O azul do mar, o azul do céu, o azul das possibilidades que se abrem a cada passo que
se dá, Vindo da sua concepção como rompante de alegria, a se renovar sempre a cada
Tristeza, Até a tristeza do esquecimento supremo, o sopro, o avesso, o espelho nublado
da vida. Esta coisa pujante, pulsante, vibrante, muito mais que azul, sua, multicolorida.
Samadhi Gil, o pai de Ian Gil, nasceu em Salvador e iniciou a juventude no bairro de Itapuã,
onde morou até se mudar para Feira de Santana. Em Feira, viveu uma década, militou nos
movimentos estudantil e social, formou-se bacharel e licenciado em Ciências Biológicas e
mestre em Ciências Ambientais na UEFS. Atualmente é doutorando em Ensino, Filosofia e
História das Ciências pela UFBA e UEFS, residindo novamente na capital. A maior parte de
seus escritos são acadêmicos. Os poemas, escreve de forma casual, descomprometida e
quase sempre espontânea. Resiste a publicá-los, tendo publicado apenas quatro até agora. Foi
um dos vencedores no I Concurso Municipal de Poesia de Feira de Santana.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 27
Da ordem que me fere e preciso (Danielle C. Vilas Bôas – Poços de Caldas-MG) Óh afiado punhal cravado em meu peito
Que há séculos fere-me e sangra-me no leito
Cobrando-me a ordem das coisas
O inadiável arranjo em mim
Eu, que de tão indócil carreguei tempestades
De tantos escândalos, fiz-me em verdades
Nuas e intrépidas verdades sem fim
Fui o berço da discórdia descabida
Em meu centro e tangências outras
Exausto da luta, deixei-me ferir
Ainda sinto o cheiro quente do sangue fresco e hodierno
Gravado neste gládio em meu peito enterrado
Lê-se com clareza: Equilíbrio e Disciplina
É que não curei-me da térrea loucura
Sou inquietação ainda mundana e pura
Ah... As paixões meramente profanas:
Sim eu as quero! Ainda que em agrura!
Por mais me fira a espada aguda
Que me corta e finca a cada nova flama
Deixa-a cravada ainda, enquanto sangro
Pois que ao lembrar-me do peso e efeito
Opõe-se ao impulso entorpecido no peito
À gélida lâmina
Nascida em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, no ano de 1984. Descobriu ainda na escola o gosto pela leitura e pela escrita, mas veio a dedicar-se a poesia recentemente, em meados de 2016, quando passou a integrar um grupo artístico. Iniciou sua participação em diversos concursos literários em 2017. Não possui ainda nenhum trabalho publicado.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 28
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Perfeição
(Erivania dos Santos Fernandes – Feira de Santana-BA)
Eu encontrei a perfeita melodia,
Apenas ouça e siga meu coração
Eu encontrei a doce canção da manhã,
Quando me despertei em seu olhar
O vento do amor,
Tornou a brisa da aurora
Mais harmoniosa
Eu não entendi
Até encontrar-me em ti
Meu anjo abraça-me
Até o calor aquecer o meu peito
Seu coração é tudo que tenho
Seus olhos são os faróis do meu amanhã
A melodia do amor guia nossos passos,
Há uma canção tocada pelos anjos,
Para nós esta noite
Ela ensina meus braços a bailar
E meu amanhã, a amar-te um pouco mais
Descalços sobre as aguas deste mar
Viajo ao porto do amor,
Navegando pelo cais.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 30
Do seu olhar, onde o meu coração
Fascinado atracou
Eu encontrei a flor
Mais forte deste jardim
O pássaro que me ensinou
A planar sobre os céus
Me ensinando um amor além dos sonhos,
Quando me deu um novo lar
Ao me entregar seu coração
Eu encontrei um amor,
Para carregar mais que as expectativas
Um amor que carrega perfeição
O relógio está batendo, estamos envelhecendo
Mas para o amor, ainda somos crianças apaixonadas
Me dê sua mão e sob a luz dos astros,
Vamos contemplar um futuro
Onde os sonhos não acabam
Onde o amor é eternidade
Nascida em Feira de Santana, em 17 de novembro de 1992, conhecida como Luna Mia. É uma poetisa ligada ao amor e a sentimentos da existência humana e seus desejos e aspirações (acreditando sempre que o amor é o fascínio da alma). Pensando no amor como a essência da simplicidade humana. A presentasse na maioria das vezes como “amante da arte de viver e sonhar como um todo”, onde o sonhar leva as linhas imaginárias de um universo, onde o sonhador é o astro e o realizar, o seu céu. É uma poeta de completa sensibilidade, quando o verbo é amar.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 31
Com os olhos de meu pai
(Rosana de Hollebem – Ponta Grossa-PR)
Os descampados
Verdes
Imensos
Solitários
De gente ou de bicho.
O homem
E seu pala
E sua bota
E seu lenço
Vermelho
Que voa ao vento sul.
O cavalo
Negro
E forte
Que serve de abrigo e consolo
Ao homem que enfrenta
A solidão
O frio
E o vento.
Homem e cavalo
invadem a paisagem,
cavalgam sobre o verde
e constroem a manhã.
Rosana de Hollebem é paranaense e
tem 54 anos. Publicitária, advogada e
poeta, tem várias obras premiadas
em concursos nacionais e
internacionais.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 32
Prece Acional
(Tiago Dalpério de Andrade – Volta Redonda-RJ)
Que eu te encontre em tudo
Que eu fale a tua língua nos atos
Que eu aja com o calor do acalanto que recebo de ti
Que eu transmita proporcionalmente
O que generosa tu me ofertas
Que seja de mim
Tudo para ti
Que eu consiga reparar os meus tão repetidos erros
Que te afastam do meu interior
Que eu nunca duvide
Da certeza de ser melhor contigo em tudo
Suplico que eu viva no seu Ser
E tu ó Paz
Ó Paz
Continue em mim
Sou um peregrino mineiro.
Nutricionista de 31 anos trabalha
com adolescentes infratores em
Barra Mansa e Volta Redonda e
penso que as letras e que os seus
bailados em poesia, são chaves
para a liberdade.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 33
Boneco de palha
(Natália Scavasse Pacheco Silva – Limeira-SP) Lá vem o boneco de palha
Se o mandar sorrir
Ele vai sorrir
Mas se o mandar chorar
Chorar ele não irá, lágrimas não tem
Lá vem o boneco de palha
Se o mandar falar
Ele vai falar
Mas se o mandar sentir
Sentir ele não irá, coração ele não tem
Lá vem o boneco de palha
Triste nunca foi
Feliz nunca será
Nunca amará
Nunca se machucará
Lá vai o boneco de palha
Sorrir sem saber sorrir
Andando sem saber andar
Vivendo sem saber viver
Humano nunca vai ser
Natália Scavasse Pacheco Silva, 21
anos, nascida no dia 30 de junho de
1996 em Limeira, onde reside
atualmente com seus pais e irmã.
Aos 13 anos escreveu seu primeiro
poema que veio a tornar-se um
caderno pessoal com mais de 200
poesias, participou e colaborou com
as atividades culturais da escola,
onde cursou parte do ensino
fundamental II e médio. Apresentou-
se nos eventos poético da instituição
declamando poesias de autores
renomados no qual, em sua última
participação e 12º Edição do evento,
recebeu o convite da professora e
coordenadora do evento para recitar
poemas de sua autoria em conjunto
com as obras de Vinicius de Morais
no teatro da cidade, única edição do
evento com obras de um autor não
publicado. Atualmente é aluna do 5º
Semestre de Letras Português na
Universidade Metodista de Piracicaba
– UNIMEP.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 34
Autopsicografia
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(fonte: http://www.citador.pt/poemas/autopsicografia-fernando-pessoa)
Fernando Pessoa (1888-1935) foi um
poeta português, um dos mais importantes poetas da língua portuguesa. "Mensagem" foi um dos poucos livros de poesias publicado em vida. Fernando Pessoa exerceu diversas profissões, foi editor, astrólogo, publicitário, jornalista, empresário, crítico literário e crítico político. Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Seu padastro era o comandante João Miguel Rosa, que foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhando a família na África, Fernando recebeu educação inglesa. Estudou em colégio de freiras e na Durban High School. Em 1901 escreveu seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 a família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a África do Sul, onde submeteu-se a uma seleção para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em 1905 de volta à Lisboa, matriculou-se na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia. Em 1907 abandonou o curso. Em 1912 estreou como crítico literário. Fernando António
Nogueira Pessoa morreu em Lisboa, Portugal, no dia 30 de novembro de 1935.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 35
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Moléstia
(Ricardo Messias Marques – Ribeirão Preto-SP)
Padecia de amor. Carecia de cuidados que os pais, a bem da verdade, nunca
deixaram de dar. O pai, gerente de uma metalúrgica famosa, afrouxava a gravata e
maldizia o namorado esquivo, jurava morte ao patife, mas jurava baixo, pra sua pequena
não ouvir. A filha, tratada como princesa desde o nascimento, mantinha com o rapaz um
relacionamento praticamente unilateral, mas seu comprometimento, de grande que era,
valia para os dois.
O rapaz, em longa viagem, aumentou involuntariamente sua indiferença e, com o
tempo, a moça foi caindo doente: não comia, e, por tabela e por escolha, em poucos dias
também já não saía da cama. Atenta, aprendera a reconhecer as palmas sonoras do
carteiro que, diariamente, trazia as correspondências e as lançava portão adentro.
Cambaleante, levantava da cama num pulo só, ralhava com a empregada,
tropeçava na mãe e chegava às cartas primeiro. No alpendre, caçava com os olhos os
telegramas que seriam do amado. Seriam, mas não eram.
Mais uma vez, voltava ao quarto, para encerrar-se numa escuridão consciente e
atenta. Às quinze horas de uma quarta-feira abafada e claustrofóbica, caíra sobre o negro
assoalho da desdita.
No dia seguinte, sob palmas desavisadas, o carteiro bradava por atenção. A carta
do amado enfim chegava, mas ninguém podia recebê-la, por ocasião do velório.
Ricardo Messias Marques tem 28 anos e é natural de Piumhi-MG. É graduado em
Administração de Empresas e Letras. Atualmente se dedica à pesquisa acadêmica e à
produção literária. É poeta, contista e cronista.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 38
O amor
(Silvana Maria Rocha de Oliveira – Serra-ES)
Um amor cura outro, diz o ditado popular. Na verdade, não existe cura para o mal de
amor; mas existe paliativo. Uma espécie de anestésico, que alivia a dor e te deixa vivo até
o próximo. Esse decantado elixir segue o princípio das vacinas, dos soros antiofídicos e
da homeopatia: doses diluídas do próprio veneno.
E foi assim que, sem conselho nem prescrição, eu tentei sobreviver a muitas paixões
letais. Apenas me guiando pela sabedoria instintiva da autopreservação. Cedia pequenos
cantos do coração a ocupantes provisórios, para dessa forma preservar intacto o
santuário do amor frustrado.
Mas cada um destes substitutos trouxe seus próprios e graves efeitos colaterais. Eu me
debatia na armadilha do amor como uma rês atolada num pântano, que cada vez afunda
mais. Era uma dor encadeada à outra, sem pausa nem atenuantes. Uma grande dor
continuada e sólida. Como me foi possível sobreviver a tanta dor?
Um dia entendi a grande falácia do amor romântico. Que eu havia erigido um ídolo de
barro para adorar. Que em cada um desses personagens eu havia buscado o que não
possuíam. Que havia confiado minha vida e minha segurança a mãos inimigas. Que eu
havia prostituído o coração por míseras fantasias.
O amor etéreo, puro e livre dos meus sonhos era uma armadilha traiçoeira. Minha
romântica receita de vida se revelara uma piada. Minha alma peregrinava andrajosa,
faminta e solitária. E eu era objeto de repulsa e escárnio do povaréu. O mundo não se
compadece dos ingênuos. O mundo não perdoa quem está sozinho.
Então eu me desprendi desses sonhos, como se arranca asas. Reconheci minha
estupidez, minha falta de amor próprio. Entendi que minha enorme carência de infância
fora o motivo da minha busca suicida. Que além de não solucioná-la, eu havia
aprofundado a tragédia da minha vida até ao paroxismo.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 39
Busquei conforto na solidão. Encaminhei-me com meus próprios pés para o deserto.
Haveria de descobrir sozinha o amor. Haveria de aprender a me amar, a me bastar, a me
respeitar. E foi então que eu encontrei Deus. Eu não o busquei, ele veio até mim. Um
Deus de feições humanas, do qual eu havia esquecido.
Jesus olhou pra mim. Não tinha rosto, era a face de todos os homens. Mas seu olhar, ah!
Nesse olhar eu vislumbrei um amor com o qual nunca havia sonhado. Amor em estado
bruto. Ao mesmo tempo profundo e epidérmico, imponderável mas acessível. Um amor
incondicional e inesgotável. Amor eterno, amor absoluto. O Amor. Ele disse apenas: Eu
vou te trazer de volta! Apenas isto. Não sei o que significa exatamente. Pode ser muita
coisa, ou nenhuma das coisas que eu já pensei. Só vou saber quando acontecer. Mas a
partir daí eu tive uma certeza inquebrantável: um dia eu verei de novo aqueles olhos, e
nunca mais vou estar longe deles.
Tenho 60 anos e sou cristã. Dois netos, duas filhas casadas. Uma delas é missionária da Jocum na China. Sou Orientadora Educacional aposentada da rede municipal de Vitória-ES. Trabalhei como assessora educacional no Departamento de Atenção ao Estudante da Universidade Federal do Espírito Santo. Sou especialista em Psicopedagogia, em Gerontologia Social, e estou concluindo uma especialização em Psicoterapia da Família. Estou começando a produzir alguma literatura, com meu tempo livre. Ensaios, ficção, poesia.
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O dia das cores
(Alberto Arecchi – Pavia – Itália)
Um dia, todo o mundo se transformou, tomando sua cor complementar. O céu estava
rosa-amarelo, as pessoas tinham a pele cianótica, o capim tinha virado vermelho.
Dois ratos se olhavam, com medo de se ver com a pele quase fluorescente. Uma abelha
voava louca, em listras brancas e roxas. A água no arrozal refletia a cor amarela do céu.
Um sapo, vermelho como fogo, viu um mosquito, branco como a neve. Instintivamente,
ele estendeu a língua e o capturou. O sabor do mosquito ainda era bom. Também o sapo
vermelho, no entanto, apareceu como uma boa presa ao corvo branco, que desceu para
devorá-lo.
Nádia acordou com um sobressalto. Ela acabara de pintar seu quarto de cor- de-rosa,
mas agora aparecia esverdeado, um pouco machucado, na luz da manhã. Esfregou os
olhos, mas o efeito não mudou. Foi até a cozinha para fazer café e descobriu que todas
as plantas tornaram-se vermelhas. A jarra de café era opaca, quase preta, enquanto o pó
de café aparecia azulado. O gato de casa saltava de uma peça de mobiliário para a outra,
em um ambiente estranho, como uma nave espacial. Em seguida, reconheceu o seu
próprio cheiro, em um canto do tapete, e se acalmou.
Começou a chover. As gotas eram como pequenos diamantes brilhantes, multifacetados.
Onde batiam, deixavam a marca. Quebravam as janelas, os guarda-chuvas e os topos
dos carros. Parecia o fim do mundo. Foi então que a agua do rio começou a colorir-se.
Depois de muitas décadas de opressão praticada contra suas águas, decidiu tomar uma
vingança. Alguns regatos tornaram-se amarelos, depois cor-de-rosa, depois vermelhos,
enquanto outros optaram pelas esfumaturas verdes. As águas borbulhantes celebravam
um carnaval de alegria e cores. Então, todos os córregos do rio mexeram-se concordando
uma única cor azul, como o tinteiro para as canetas. Os pescadores estavam espantados,
e ainda mais os peixes. O rio colorido foi bater contra as pilhas da ponte velha e todos
foram para vê-lo.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 41
Os arabescos de água traçavam marcos na areia, como a escrita ágil de uma mão
experiente. Os marcos formavam palavras. O rio esboçou mil, dez mil, cem mil vezes, as
mesmas palavras, ao longo de seu caminho: “Basta! Chega! Basta!” Basta com a
poluição? Com as guerras? As injustiças? Cada um interpretou a expressão como ele
bem entendesse. Todos tinham algo para dizer: “Basta!” E, portanto, todos concordavam
com o rio.
Só não se virou a cor da lixeira, nas margens da cidade. Maciço, inchado, com mau
cheiro, o aterro do lixo resistiu e não mudou de cor, mantendo-se escuro e sujo. Seu
cheiro levantava-se no ar sombrio. Aqui vão desenvolver-se as escavações arqueológicas
da posteridade, para reconstruir nossa civilização.
Alberto Arecchi é um arquiteto italiano, mora na cidade de Pavia. Tem uma longa
experiência em projetos de cooperação para o desenvolvimento em vários países
africanos (de 1975 a 1995), como professor e especialista em tecnologias apropriadas
para o planejamento de habitat. Arecchi é presidente da Associação Cultural Liutprand,
de Pavia, que edita estudos sobre a história local e as tradições, sem descurar as
relações interculturais (site: www.liutprand.it). Escreve contos e poemas em diferentes
línguas e tem participado a concursos literários, em italiano, português, espanhol e
francês, ganhando prêmios, com novelas e poemas.
Revista Inversos - Expressando ideias e sentimentos.
Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 42
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Os dez sem rima
(Leandro Marçal Pereira - São Vicente-SP)
Do lado de dentro daquele muro alto e intimidador, o sol é anêmico para Mazinho. Do alto
de seus pouco mais de 1,75m, sua voz já não ecoa como nas madrugadas na favela,
quando rimava perto da fogueira um projeto de rap coberto pelo barulho das risadas
paridas pelo queimar da maconha fumada e amada.
Seu olhar é oco como fora o coração dos que o abandonaram e se diziam sua família.
Família? Palavra desconhecida para quem se largou no mundo sem pai nem mãe. Agora
está sem chão nem pão. Seu andar pouco chama atenção naquele lugar que só chama
atenção dos que não dão atenção aos desvalidos e abandonados no caos se houver
aquela tensão que queima colchões, destrói vidas e corrói almas. Ele já ignora qualquer
sentido de alma, espírito, esperança. Já não sabe o que faz. Mazinho mal sabe o que fez.
Foi parar ali depois de fumar sua maconha diária com um amigo, como de hábito. Seu
hálito esquentava com a fumaça e ele se desesperou feito desgraça quando aqueles
mesmos homens fardados de sempre – pois todos os fardados são gêmeos – o levou
outra vez para aquele enorme castelo. Trancafiado, abandonado, ressabiado. Pouco
abalado, pois seu destino sempre foi esse antidestino.
Ele olha vazio, repensa o passado e não acredita em futuro. Os únicos contatos são os
daqueles que pedem mais uma rima, por celular, enquanto fumam do lado de fora a
mesma maconha que o prendeu na masmorra. E o diretor da cadeia de histórias e futuros
dissera, no dia anterior, que sua ficha criminal consta que ele é foragido da polícia.
Mesmo ali, presente fisicamente, Mazinho não sabe como provar que já cumpre sua
pena. Seu olhar oco é aprisionado há dez meses. Dez meses sem aquelas rimas. Dez
meses de um olhar cada vez mais vazio. Mazinho não rima com nada.
Jornalista pela Universidade Santa Cecília em 2013, com passagens pelo Diário Lance!
e Petrobras. Coautor da Pesquisa de Iniciação Científica “A cobertura da vida particular
dos atletas nos noticiários esportivos brasileiros” e do documentário “Perifemídia: o
som das ruas na TV”. Atua como freelance e é cronista semanal no portal Mais Santos
e na plataforma TRENDR, além de uma colunista quinzenal no Ludopédio. Colaborador
mensal na revista Subjetiva com a série "Imperceptível", com perfis de pessoas
anônimas. Em 2017, concorre ao Prêmio SESC de Literatura com o romance "No
caminho do nada".
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 45
O quarto livro
(Redivaldo Ribeiro – Feira de Santana-BA)
Houve um certo homem, que, durante sete anos, ingeriu um cálice amargo de angustias
e, como se não bastasse tamanha aflição, qual peregrino esquecido pelo tempo, deu asas
à loucura, tornando-se escravo das fábulas que inventou.
Numa terra estranha, em meio as voltas que o mundo dá, ele conheceu a dor e o
sofrimento e, por um instante apenas, a vida lhe pareceu um sonho e nada mais...
Então, subitamente tomou as armas que o destino lhe deu...e partiu. Na sua viagem ao
desconhecido, pensou:
- O que mais pode existir além da vã filosofia dos homens?
Quem somos nós? O que somos nós? Viajantes do tempo, passageiros do universo? Na
terra dos humanos, homens e máquinas confundem-se. Mas quem são os humanos deste
século das ciências e do concreto armado? Que figuras angelical e monstruosa são os
seres que se dizem humanos... não conhecem o ódio nem o amor...e tudo, tudo passa
ante os seus olhos como folhas secas levadas ao vento.
Na terra dos humanos, homens dilaceram homens por causa do poder!
Capitalismo invade a crença do cidadão. E a vida vira conflitos! Vida! De que vale a vida?
De que vale a vida?! Se tudo passa como nuvens? De que vale a vida, se nada é nosso e
nem mesmo as palavras nos pertence?!De que vale a vida se a cada segundo
caminhamos para o infinito?!
Aquele homem questionara-se com quem carregara os erros da raça humana. Cansado
de tudo e de todos, chorou amargamente os limites do seu ser, jugando-se ser ele, o pior
dos mortais. Mas, a pesar dos pesares, refletindo em desencanto continuou a sua jornada
em meio à multidão, vagando sobre às órbitas do pensar.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 46
- Sim! A vida vale... o preço que se paga pelo que se quer, pelo que se tem, pelo que se
deseja, pelo que se busca, pelo que se acredita. Sim! a vida é feita de interesses, pensou
profundamente.
Se a vida é feita de interesses, certamente, o que mais interessa a vida, é a razão do
próprio interesse, concluiu. Por haver versado tantas incógnitas no mar da imperfeição,
aquele homem encontrou o sentido da vida, quando decidira escutar a sua voz interior. E,
esta voz, em extremo retorno, lhe trouxera as respostas que há muito estivera a buscar
em outras fontes.
Naquela manha, ele caminhou entre as árvores, onde havia um lago tranquilo, deitou-se à
margem da alma calma, adormeceu, e quando acordou estava sobre as teclas de um
computador. Levantou os braços em direção do horizonte com a estranheza de quem
ouvira a voz cortante daquele que se oculta no silêncio do Cosmos. Em sua cabeça um
diadema. A frase que o despertou para a vida: O amor é a razão de todas as coisas.
Nascido em 13 de julho de 1964. Radicado em Feira de Santana há mais de três
décadas. Graduado em Pedagogia e pós-graduado em Arte e Educação. O educador e
ativista cultural Redivaldo Ribeiro é autor das obras literárias: Asas de Cristal (1988),
editora independente; Flor Paixão (1989), pela Fundação Cultural FSA e Natureza
fugaz (2000), pela Imprensa Gráfica Universitária. Tem obras traduzidas em mais de
um idioma. Como ilustrador, possui mais de vinte livros publicados. Dentre as suas
atuações estão exposições, conferências, palestras, musicais, filmes, documentários,
coletâneas, radiofonia e teledramaturgia. Também é incentivador da Fundação dos
Direitos sociais; líder do Grupo Teatral Renascer e outros. Tem em pauta o Projeto de
Educação, educação, leitura e desenvolvimento humano: “Saber Brasil”, que incluiu a
campanha “Abrace a Biblioteca”.
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A escolha de Maria
(Suramy Dos Santos Pedrosa Ribeiro Guedes – Niterói-RJ)
Maria estava em pé na cozinha. Olhava para a velha cômoda com seus puxadores em
metal, corroídos pelos anos de uso. Parecia com a da sua mãe. Mordia os lábios. Passou
a mão livre pela testa úmida. Respirou fundo. Fechou os olhos e franziu o cenho. Pôs o
copo com um resto de água sobre a pia e caminhou sobre a ardósia até a porta e a abriu.
“Oi Dona Laura!”, Maria cumprimentou a mulher que acabara de chegar. “Bom dia, Maria!
Tudo pronto? Vamos? Tem que chegar com antecedência. Está marcada para as nove e
já são sete da manhã”.
“Você pega a bolsa? Está ali”, pediu Maria apontando para a poltrona. “Claro”, respondeu-
lhe a outra. “Tá começando a doer muito. Não vejo a hora de me livrar disso”, afirmou a
jovem. “Calma! É assim mesmo. Tudo isso vai passar e você nem vai se lembrar. Apenas
pense que está realizando o sonho de uma família e que assim que tiver condições terá a
sua também. Você só tem 18 anos e a vida toda pela frente. O dinheiro vai te ajudar
muito”, argumentou a mulher.
Maria encostou-se na porta do banheiro. Seu peito subia e descia muito rápido. Olhou
para a sua barriga, enquanto suas mãos a acariciavam.
“Vamos logo ou esse bebê nascerá aqui mesmo. Não pode dar nada errado, ordenou a
mulher de meia idade. “Eu só quero o melhor para ele. Só o melhor”, disse a moça. “Eu
sei, meu bem. Agora vamos, anda!.” Laura segurou uma de suas mãos e a puxou.
Estavam por sair porta afora, quando Maria parou: “Esqueci de pegar a minha identidade.
Preciso levar, né?”. Laura a olhou com ar severo e disse: “com certeza. Onde está?”,
perguntou. “Ali, numa daquelas gavetas menores da cômoda. Vê se você acha pra mim,
por favor!”, pediu Maria.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 48
Laura virou-se de costas para ela e dirigiu-se em direção ao móvel. Abriu uma das
gavetas e começou a remexê-la sem cuidado. Enquanto o fazia, acusava a menina de
estar atrasando a partida e de colocar tudo em risco. Continuou a procurar o documento e
não percebeu quando Maria saiu do quarto. Só se deu conta quando ouviu a chave
girando na fechadura pelo lado de fora. Imóvel, com os olhos esbugalhados, ficou a olhar
para a porta fechada, enquanto ouvia os passos apressados que avançavam pelo
corredor.
A autora é casada, mãe de 03 filhas e funcionária pública federal. Amante da língua portuguesa e da literatura em geral. Formada em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula e em Direito pela Universidade Estácio de Sá, ambas situadas no Estado do Rio de Janeiro. Escreve textos poéticos desde criança. Autora de 02 livros infantis não publicados. Cursou alguns cursos de literatura oferecidos pela Universidade Federal Fluminense- UFF. Na atual fase da vida pretende dedicar-se à literatura por meio de trabalhos poéticos e literatura infantil.
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Perderam-se Um no Outro
(Helena Isabel da Cruz Durães – Lisboa – Portugal)
Os seus dedos passam de novo por ela, percorrendo a forma do seu corpo, como que a
relembrar o caminho que as suas mãos fizeram há algumas horas atrás. Lá fora a chuva
cai sem parar, porém, ali naquele quarto, é como se fosse um dia ensolarado onde o
tempo não passa, o qual nos diz que a perfeição neste mundo pode existir.
Ela suspira contra o seu peito e acaba por imitá-lo, passando a palma da sua mão pelo
seu tronco, sentido e percorrendo as marcas do seu corpo... O relevo da sua pele. Ela
sorri. Simplesmente, sorri, como se não quisesse mais nada do mundo. Nada mais era
necessário para que ela descobrisse onde pertenceria. Ela já o sabia. Ela pertencia, ali,
àquele lugar, àqueles braços.
Ele tem os olhos fechados. Na sua mente, apenas mora o olhar intenso e cheio de vida…
que lhe podia dar tudo aquilo que ele mais ansiava mas que, ao mesmo tempo, lhe podia
tirar toda a vontade própria.
Finalmente, ele decide abrir os olhos para voltar a admirar a imagem daquela mulher. Ele
beija-a na face, bebendo da textura daquele cabelo castanho que mais lhe parece seda.
- Perdemo-nos um no outro, uh?
- Ele é o primeiro a falar. No entanto, ela não lhe responde com palavras. Apenas acena
no seu peito. Ele volta a fechar os seus olhos e aperta o seu abraço.
- Mas ao mesmo tempo encontrámo-nos – ela, finalmente, responde de forma serena,
quase num suspiro.
Ele abre os olhos e sorri. Ele conseguiu. Ele conseguiu fazer com que ela falasse,
ouvindo, assim, de novo o seu tom de voz.
- Sim... Isso é certo. Tão certo como te sentir nos meus braços, agora... O que é isto? -
Ele quer saber... Ele quer tentar saber o que é que ele está a sentir. O que é que é este
sentimento de plenitude.
Ela sabe o que ele gostaria que ela lhe dissesse. Mas ela não pode. Ela não pode fazê-lo
assim, deliberadamente. A consciência... Essa que se calou no momento em que se
perderam um no outro, acaba de voltar.
A necessidade de obedecer a essa consciência assombra-a. E, por um breve momento,
ela pondera em sair daqueles braços. Porém, com uma força que desconhecia que tinha,
ela consegue combater a consciência e deixa-se estar mais um pouco.
Ele sente esta mudança repentina nela e sabe que a sua questão a fez pensar.
- Desculpa.
- Não tens de pedir desculpa...
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 51
As coisas são como são. Ele suspira e diz:
- Sim... Só temos de continuar a lidar com elas...
Ela volta a acenar contra o seu peito ao mesmo tempo que a voz da tal consciência
inunda toda a sua mente. Ela leva os seus lábios ao braço dele e move-se para a beira da
cama, levantando-se.
Ele admira, mais uma vez, aquele corpo nu que ainda há pouco tempo tinha sido seu.
Mas agora já não era. Ele volta a suspirar e também se levanta. Está na hora de sair e
voltar ao mundo de onde fugiram.
Vestem-se e em pouco tempo estão prontos para regressar lá fora. Olham um para o
outro ao mesmo tempo em que dizem:
- Vemo-nos numa outra vida...
Escrevo pequenos contos e crónicas no meu blog "Um Olhar Pessoal". Tenho três textos publicados em quatro publicações diferentes: Boca Escancarada (Agosto 2013),VII CLIPP (2013), na antologia de crónicas Big Time Editora (2013) e X CLIPP (2016).
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Labirinto
(Antonia Gilda Sena Gomes - Feira de Santana-BA)
Sem malicia. Aprendi a sonhar. Vivi bons momentos desfrutando o gosto dos sonhos que
sonhei. Eram só meus, e eu disposta a partilhar contigo.
Quantas vezes te incluir, mais que isto você foi protagonista dos meus sonhos. Principal
ator das melhores cenas. Como sonhei um sonho que era nosso. E você não se envolveu,
não entendeu, não viveu. Menosprezou; Enquanto corri pra te encontrar, você correu pra
se afastar sem perceber.
Cada vez que de fato se afastava formulava nova historia de amor no discurso incluindo
agente. Nunca conseguir achar a curva onde aconteceu a nossa separação...
É! Ela faltou, ate hoje você pensa que andamos na mesma direção. Que engano! O que
estamos vendo é a sombra. Apenas a sombra que ficou cravejada na parede de cor
branca, onde é fácil identificar o vulto. Só isso...
No discurso eu ainda sou seu grande amor, na realidade concreta uma sombra do que
restou.
Refletir sobre essas coisas e meditei no meu íntimo: que cadeia! Terrível prisão nos
acorrenta sem deixar saída.
Pior de tudo é saber que todos os portões estão sem cadeados, as portas encostadas.
Mas, do lado de dentro da prisão estou inerte, não consigo me mover. E você, vai e volta
sem sentir as algemas.
Como é cruel saber disso, quero sonhos pra sonhar, pra desfrutar, pra acreditar, pra lutar
a cada manhã. E correr em direção a saída, mas que saída?
Natural de Antonio Cardoso-BA, nascida em 1966; estudante do 4º semestre de Letras
Vernáculas (UEFS). Participei de alguns concursos de poesias e tenho 3 textos
editados. Ler é meu maior prazer; escrever um grande desafio.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 53
Paralisia
Leonardo Ribeiro Mendes
Saí de casa em direção ao ponto de ônibus, o sol já estava se pondo, mais um dia
acabando, mais uma noite começando, e mais uma vez o ônibus se atrasando. Chegou,
entrei, lotado. Indo para a minha aula, estudo a noite, em um campus que fica distante do
centro da cidade, e eu moro bem no centro da cidade. Com meus fones no ouvido
tentando ouvir música, mochila pesada nas costas, cheiro característico de quem
trabalhou o dia inteiro e ainda tem que encarar busão lotado, me sinto privilegiado, só o
uso para ir à aula.
No caminho vou pensando ser mais um dia comum em que minha empatia pela sardinha
aumenta, preso, apertado em uma lata que se move. Eu, diferente dela, escolhi isso,
irônico. Enquanto meus pensamentos vão devaneando, percebo que a música que saia
pelos meus fones parou, o ônibus parou, tudo parou, até a criança que tava lambendo
feliz um picolé, parou com a boca aberta e a língua a centímetro do sorvete.
Eu, também parei, meu fluxo de pensamentos continuo, mas eu tento me mexer e nada,
nós nunca sabemos como movemos nosso corpo até precisarmos fazer isso
conscientemente. Primeiro tento só mexê-los, dedos, mãos, pés, braços, pernas, cabeça
e nada, nada se move, apenas meus olhos. Olho para os outros passageiros do ônibus,
alguns, estão como eu, mexendo os olhos e procurando algum sentido naquilo, outros
nem isso, completamente imóveis, parecem mortos, será?
Enquanto penso em uma explicação para aquilo a porta do veículo se abre, fica aberta
alguns segundos até alguma coisa entrar, e o quê entra só pode ser definida assim, coisa.
Não tem movimentos definidos, mal tem forma definida, ao mesmo tempo que parece
humanoide, me lembra também as massinhas que brincava quando era pequeno, ela
flutua e anda, ao mesmo tempo, ás vezes nítido, as vezes com saltos no espaço
parecendo um vídeo mal editado.
Conforme ela avança pelo ônibus lotado, como ela faz isso é outro mistério, sinto algo
saindo do meu bolso, e percebo que os celulares e equipamentos eletrônicos de todas as
pessoas estão voando para fora do ônibus. Nada posso fazer meu corpo ainda não se
mexe.
Percebo também que a criatura se aproxima de algumas pessoas específicas, oh não, ela
está se aproximando das pessoas que estão ainda conscientes, fala em seus ouvidos e
em seguida elas adormecem, ainda estáticas.
Conforme ela faz isso, vai se aproximando do fim do ônibus, onde estou. Cada vez que se
aproxima meu coração acelera, cada pessoa que fecha o olho, meu suor caí, cada
segundo que passa minha espinha gela, até o momento que a criatura chega na minha
frente. Tento gritar, espernear, fugir, mas nada acontece, estou ali parado, estático e
indefeso na frente de algo que não consigo explicar.
Ela vai se aproximando do meu rosto, já defino nitidamente sua face, aboca gosmenta
cheia de dentes, o odor acre como se tivesse algo podre ali dentro, ela se aproxima do
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 54
meu ouvido, meu coração dispara, minha garganta tenta absorver ar mas falha e de
repente, tudo se apaga. Some criatura, ônibus, pessoas, e quando abro os olhos estou no
meu quarto, deitado na minha cama.
No meu colo o jornal do dia, a manchete principal, um aluno surtou dentro do ônibus, o
incendiou e matou todos ali dentro, o jornal diz não saber quem foi, mas acho que não
acreditaram na minha história.
Tenho a escrita como hobbie e uma forma de terapia, sou muito próxima da fantasia e
do terror e não tenho nada autoral publicado, na verdade essa é a primeira tentativa. E
espero que seja apenas a primeira.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 55
Minha Amiga Jandira
(Marcelo de Oliveira Souza, IWA - Salvador – BA)
Toda criança sempre sonha em ter uma bicicleta, pois é um tipo de veículo que as fascina
pela sensação de liberdade que ele proporciona.
Assim quando o meu irmão mais velho recebeu de presente uma, foi a maior alegria,
como eu ainda era muito pequeno, só cabia a mim sentar na “ponga” e aproveitar a
viagem, o que não era tão legal para ele, pois tinha que pedalar em dobro, e para
acompanhar os colegas ficava muito difícil, mas eu não o largava, só queria ir junto para
apreciar as aventuras pueris.
Quando passávamos o verão em Itaparica então, era uma "coqueluche", grupos e mais
grupos na “magrela” onde formavam-se turmas, paqueras e muita diversão à solta.
Numa dessas noites, meu irmão saiu escondido para encontrar a turma ficando eu,
desesperado por não ter ido, um tempo depois chega ele carregado, porque tinha subido
o meio fio, indo terminar no chão, numa dessas peripécias de criança.
Logo chegou a minha vez de ganhar uma, o que foi muito legal, contudo para aprender
deu uma mão de obra, meu pai segurava atrás para tentar me equilibrar, mas nada, o
tempo foi passando e aos poucos eu fui aprendendo, até que num determinado dia
consegui sair pedalando pelas ruas desta cidade-verão, mas não era fácil, porque sempre
havia algo para levar uma queda, os primeiros dias chegava a levar cinquenta quedas.
Teve uma vez que uma gorda me atropelou, isso mesmo! Porque quando estava
passando, me bati com ela, a dona ficando em pé e eu caí, sendo socorrido por esta
senhora que se chamava Jandira, que sempre lembra do fato, fazendo assim uma boa
amizade, sendo assim comecei a chamar minha bicicleta de Jandira, o que tornou um fato
até engraçado, pois foi uma homenagem que fiz à sua pessoa.
Assim eu já participava das turmas de bicicleta junto com meu irmão, andávamos a
cidade toda, sempre procurando novas aventuras.
Quando voltava para Salvador, Jandira vinha no porta-malas toda dobradinha, e sempre
que mencionava o nome da minha amiga, gerava uma confusão, ou pelo menos uma
curiosidade. Jandira envelheceu e terminou enferrujada no canto, pois os outros modelos
eram bem melhores, mas depois de grande só ficou na lembrança as duas Jandiras, pois
a nativa de Itaparica morreu e a minha, nem sei onde está hoje.
Natural do Rio de Janeiro, formado na Universidade Católica do Salvador. Pós-graduado pela Faculdade Visconde de Cairu com convênio com a APLB/UNEB; Embaixador da Poesia, nomeado pela Academia Virtual de Letras Artes e Cultura, MG;colunista do Jornal da Cidade, Debates Culturais, Usina de Letras, entre outros. Ganhador do Prêmio Personalidade Notável 2014 em Itabira MG; Membro da IWA International Weitters Artistis – EUA ; do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes , Lisboa; da Sociedade Ibero-americana de Escritores, Espanha; Organizador do Concurso Literário Anual POESIAS SEM FRONTEIRAS e Prêmio Literário Escritor Marcelo de Oliveira Souza,IWA.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 56
O comandante da revolução
(Heráclito Júlio Carvalho dos Santos – Teresina-PI)
Sete dias se passaram e nada de Deuzileuza chegar em casa. Teresina Amanhecia e eu
estava acordado, a espera de uma explicação. Os meninos dormiam no quarto mal
arejado com um ventilador velho espalhando vento quente das tardes de agosto.
De repente, Deuzileuza chega e eu começo a falar:
- Onde Estava?
- Fora! Ela respondeu seca e fria.
-Fora? Há horas te espero mulher.
- Estava com amigas.
- Como amigas? Obviamente não acreditei. Ela mentia para mim em todas as noites e
dias depois que nos casamos. Eram bebedeiras, farras, amigos meus me chamando de
corno na rua...
Gabriel acorda e vê a discussão. Ele já estava cansado de ver aquilo todos os dias. Eu
perder a paciência com Deuzileuza. Então tomou a iniciativa e saiu.
- Olha aqui, eu vou acordar a Ramiza e vamos embora, vocês nunca param de discutir.
- O quê? Retruquei aquela ousadia de Gabriel, dei um tapa em seu rosto e ele voltou.
Quando percebi Gabriel e Ramiza estavam arrumados com malas e saíram porta a fora
para nunca mais voltar. Ainda corri atrás deles para fazê-los voltar para casa.
- Gabriel e Ramiza, voltem! Ordenei.
Eles não responderam e sumiram rua empoeirada acima.
Heráclito Júlio Carvalho dos Santos nasceu em Teresina, Piauí em 1985. É escritor e
professor universitário, autor de três obras literárias. Também
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 57
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Trágico amor
(Francisco Renato da Silva Pires – Massapê-CE)
Desde que João foi embora, Maria vive triste. Vive acanhada pelos cantos. Perdida em
devaneios. É um vazio profundo, uma angústia no peito... Uma moleza; talvez uma dor,
uma dor que não conseguisse sentir. Uma dor insensível, mas pulsante...
Uma falta...
O mundo parecia não ter mais aquela maravilha de quando João estava ao seu lado, lhe
pegava pela cintura e a fazia esvoaçar no ar feito beija-flor. O vestido parecendo um
balão. Tempos de felicidade, beijos, abraços e desejos...
Agora, porém, é só tristeza. Quem vai à casa de Maria nota sua ausência.
Antes a casa era sempre bem arrumada, bem ornada, sempre bem feita, vivaz; agora é
angústia, sofrimento, silêncio e medo. Mas medo de quê? Nem Maria é capaz de saber...
Mas foi ontem, quando fui visitá-la, que notei sua profunda dor e inominável desespero...
A porta estava aberta. Ninguém na sala, que curiosamente estava mais uma vez
arrumada. Chamei-a. Não respondeu. Fui à cozinha. Nem sinal da mulher. Então me dirigi
ao quarto. E quando lá adentrei...
Maria estava caída ao lado da cama, com um vidro de remédios vazio. Morrera
envenenada. Não aguentava mais de saudade. Não aguentava mais àquela espera...
Morrera de amor!
Natural de Sítio Gavião/Padre Linhares, Massapê, Ceará. Nasceu no dia 31 de março
de 1996. Começou a escrever com 14 anos de idade. É leitor assíduo, sobretudo de
contos e poesias. Tem particular admiração pelos escritores Lygia Fagundes Telles,
Clarice Lispector e Machado de Assis, embora leia diversos outros autores. Também
gosta de cantar; e mais ainda de escrever. É acadêmico de Letras pela Universidade
Estadual Vale do Acaraú.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 59
Baixo calão
(Diego da Silva Teles dos Santos – Ilhéus-BA)
A discussão começou acerca de quem estaria melhor representado no Brasileirão da
séria A. Reunidos em Ágora - a mesa do boteco de uma esquina - os compadres foram se
exaltando, cada um defendendo energicamente o seus pontos de vistas. Pra lá de tantas
trucadas de palavras, foram desbravando os campos dos saberes, adentrando a teologia.
O negócio esquentou mesmo quando entrou política na pauta. Aí foi um senta, levanta.
Bate-bate na mesa. Um xinga daqui, outro de lá. Lá pelas tantas, um dos compadres
levantou abrindo os braços.
- Pera lá! Eu não vou aceitar ser agredido verbalmente com palavras de baixo escalão,
não.
- CALÃO! – uma voz rasgou de outra mesa.
- Foi o que eu disse “palavras de baixo calão”. – retrucou o compadre.
A discussão perdera o piquei. Eram cerca de cinco compadres se entreolhando. Após um
breve silêncio, outro compadre respondeu.
- Aê mermão, tá sabendo não?! Baixo calão é pleonassssmo.
- Plê o quê? – quase um coro no boteco.
- Pleonasssmo. Sabe quê isso não?! Procura no pai dos burros. O caso é o seguinte. Se
tu fala “palavras de baixo calão” o negócio fica repetitivo, porque “calão”, no pai dos
burros, significa um linguajar pobre, vulgar. – discursou as palavras decorada, o
compadre sabichão, tal qual um vereador em campanha. Imediatamente, todos muniram-
se dos respectivos smartphones para averiguar se o que lhes acabara de ser dito tinha
algum fundamento. Caso contrário, já teriam de onde recomeçar a discussão. Constando-
se verossimilhanças nas palavras ditas, o compadre que iniciou a conversa pôs-se a falar
novamente.
- Sim! E o que isso vai mudar em minha vida? O compadre sabichão pensou um pouco e
novamente respondeu.
- Pelo menos tu vai ficar com o português mais bem dizido, meu cumpadi. O interlocutor
coçou a cabeça, dizendo ao garçom que a saideira seria por sua conta.
Soteropolitano, nascido na cidade baixa da capital baiana, no dia 22 de setembro de 1989.
Filho de Carlos e Flor. Teve uma infância marcada pelas viagens, onde se divertia e
colecionava histórias no interior da cidade de Ilhéus. Durante sua adolescência, embora tivesse
uma facilidade no tato com as palavras, ainda não tinha despertado seu interesse pela arte da
escrita.
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 60
Perdas e danos
(Edweine Loureiro da Silva – Saitama – Japão)
Quando soube que a sogra sofrera um acidente com o carro que ele havia lhe
emprestado, ficou devastado: tinha acabado de comprar o veículo.
Nasceu em Manaus (AM) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor,
residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em
Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em
Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), estes
dois últimos vencedores, respectivamente, dos prêmios Orígenes Lessa e Vicente de
Carvalho, da União Brasileira de Escritores - RJ.
Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro
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Revista Inversos - Volume 1 - Número 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil 61