revista fon-fon!: retratos da sociedade carioca moderna no ... · a revista fon-fon! e a sociedade...
TRANSCRIPT
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
1
REVISTA FON-FON!: RETRATOS DA SOCIEDADE CARIOCA
MODERNA NO INÍCIO DO SÉCULO XX
OLIVEIRA, Natália Cristina de (UEM)
COSTA, Célio Juvenal (Orientador/UEM)
Introdução
O início do século XX é marcado por profundas mudanças sociais, econômicas,
culturais e políticas. A sociedade foi movimentada com o impacto das mudanças nas
relações de e no trabalho, marcando a subjetividade e a sociabilidade humana. Todas as
transformações ocorridas nesse contexto eram tidas como sinal de progresso, criando o
modelo de como ‘ser civilizado’.
No processo de edificação da identidade nacional, na virada do século XIX para
o XX, a imprensa utiliza-se da belle époque para divulgar a nova civilização, atrelada
com a modernidade1. Tanto os jornais quanto os periódicos veiculados, contribuem para
a divulgação midiática da nova vida, em especial a vida carioca, a qual aposta no futuro
promissor e moderno, que divulga e apoia as grandes obras de embelezamento da
capital da República.
Entre 107 e 1945 circulou no Rio de Janeiro a revista Fon-fon!. O seu título
resulta de uma onomatopéia da buzina dos automóveis que, por sua vez, representava a
industrialização e o desenvolvimento econômico do país. A população passou a voltar
suas leituras com cada vez mais atenção ao periódico, impresso semanalmente, que
destacava questões modernas e parlamentares, o que, de modo especial, seria o grande
motor que impulsionava o progresso do país: a gênese da imprensa industrial. Sendo
1 Entende-se aqui, como modernidade, não tão somente o período dito como ‘moderno’, historicamente iniciado no século XVI perpassando os seguintes. Mas, a modernidade que diz respeito à emergente vida social no capitalismo industrial, apresentando rupturas com os antigos modelos de vida, marcando a reconstrução urbana em vários pontos do Ocidente. O desenvolvimento industrial tornou-se grande responsável por estas mudanças, já que o século XIX teve sua ascensão capitalista envolta na era industrial. Assim, compreendemos que aquele século marca decisivamente a noção de progresso vital e social.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
2
assim, o desafio do presente estudo é mostrar a forma como a revista em questão
retratava naquele período, a população e a concepção de sociedade.
A revista Fon-fon! parece ter agido no sentido de justificar uma sociedade que
passava a ter, nos confortos do mundo moderno, uma forma burguesa de ser, e, neste
sentido, ela se torna, também, um instrumento ideológico a par de outros movimentos
do período. Segundo o periódico, os brasileiros deveriam inserir-se na sociedade
burguesa traduzindo a idéia de que a educação era fator importante para o crescimento
pessoal e progresso nacional, porém, desde que estes fossem realizados nos padrões
divulgados e executados na Europa.
Desta forma, consideramos em breve análise, os discursos divulgados pelas
obras da revista Fon-fon! no início do século XX. Alcançamos respostas de como se
dava a sociedade frente às expectativas atuais naquele período, as influências da
modernidade quanto a este processo e o progresso frente ao modelo vital proposto na
época. Além do posicionamento do periódico em relação à população no que tange
respeito à liberdade de expressão e a consideração ao progresso dos então leitores na
quela modernidade, veiculada gráfica e figurativamente na sociedade burguesa.
A Revista Fon-fon! e a sociedade no início do século XX
A implantação da imprensa no Brasil (séc. XVIII) deu-se com a chegada da
família real ao País (1808). Porém, o surgimento de exemplares/revistas com caricaturas
e sátiras, foram aparecer somente na segunda metade do século XIX. A imprensa, por
sua vez, representava a possibilidade de que os cidadãos pudessem manter-se
atualizados e a par de todos os acontecimentos emergentes na época de uma forma
diversificada. A revista Fon-fon!, já no início do século XX, era considerada uma das
melhores produtoras de notícias impressas e ilustradas da época e se sobressaiu em prol
da veiculação da informação de qualidade na sociedade carioca, no que diz respeito a
divulgação de toda e qualquer forma de desenvolvimento. E, para que haja compreensão
do discurso veiculado por este periódico, é necessário também abordarmos a sociedade
carioca, neste período.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
3
A República tinha emergente necessidade em mostrar que o Brasil estava
inserido em novos tempos, um tempo moderno. Assim, passa a transformar-se num
cenário que mostrasse um governo que prezava o progresso do país, e priorizava a
necessidade de realizar reforma urbanística, afetando diretamente a população e seus
costumes.
O comando destas mudanças pertenceu ao governo de Rodrigues Alves (1903-
1907), o qual considerava como necessidade a reconstrução da capital federal, que além
de consistir em uma ascensão política, tornava-se viável por intermédio de empréstimos
adquiridos pelo governo de Campos Sales (1898-1902). A reforma tinha por meta,
‘urbanizar’ a capital, assegurando-a um progresso nacional, na principal cidade do País.
Needell (1993, 9. 48) explica que
(...) aceitava-se com naturalidade a precária adoção de tecnologias, costumes e capitais estrangeiros no Rio de Janeiro, reflexo das realidades neocoloniais. Na verdade, os habitantes das províncias pensavam no Rio como uma cidade magnífica, capaz de conferir prestígio urbano a quem a visitasse. Apenas os brasileiros que conheciam o estrangeiro vislumbravam a enorme distância que separava sua pátria da Civilização.
Mais tarde, quanto ao progresso da capital brasileira, outras significativas e
principais mudanças ocorridas tiveram como responsável o Prefeito Francisco Pereira
Passos (gestão 1902-1906), nomeado pelo ainda presidente Rodrigues Alves. Em
adaptação aos feitos de Haussmann (responsável pela reforma urbana de Paris), o
prefeito Pereira Passos, ao lado de Lauro Müller, Paulo de Frontin e Franscico Bicalho2
realizaram, em consonância, a grande reforma, tornando a então capital federal na
popular “cidade maravilhosa”, com ruas largas, utensílios requintados, retratando
2 Segundo Azevedo (2009), houve duas intervenções no Rio de Janeiro. A primeira conduzida pelo Governo Federal, projeto pelo ministro Lauro Müller e o engenheiro responsável Francisco Bicalho, e outra pela própria prefeitura com iniciativa de Pereira Passos. Ambas as reformas tinham como intuito melhorar a imagem da capital, facilitando, sobretudo a imigração de estrangeiros no Brasil, e auxiliando na crise de mão de obra (causada desde a abolição da escravidão). Vale ressaltar que o grupo de engenharia da grande reforma urbana de Rio de Janeiro foi liderado por Paulo de Frontin.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
4
fidedignamente os ares parisienses e confirmando que ali emergia definitivamente a
belle époque carioca3.
A partir de tais modificações da capital federal, encontra-se também a procura na
readaptação dos hábitos da população. Civilizar as festas, os carnavais e até mesmo os
passeios, tornou-se forma de colocar a população nos moldes venezianos.
Principalmente a elite passou a mudar suas vestimentas, bem como selecionar os lugares
onde frequentar e a forma como comportar-se em tal lugar. E quanto aos integrantes da
sociedade de camadas inferiores
A população mais pobre vivia pelas avenidas e em cortiços, que eram os antigos casarões deixados pela burguesia que abandonara o centro para as novas áreas de expansão da cidade. Diante dessa área considerada degradada pelas elites brasileira, feia, imunda, perigosa e caótica, a identidade urbana do Rio de Janeiro não poderia ser construída. A cidade deveria refletir a imagem do progresso: higiênica, linda e ordenada. (...) Cada vez ficava mais nítida a incompatibilidade da estrutura da velha cidade colonial com as novas formas de articulação urbana impostas pela nova ordem econômica, deixando aberto o caminho para a realização das grandes reformas urbanas que viriam a inserir a cidade e o país nos novos modelos de modernidade predominantes na Europa do século XIX. (MALLMANN, 2010, p. 105)
Fica claro, segundo esta análise, a necessidade de compreensão da sociedade, no
que tange a reconstrução da capital e a forma como deveria ser veiculada estas
transformações. Torna-se passível observar que os privilegiados a terem acesso a
qualquer tipo de informação realizada em prol deste progresso, seriam somente, em
especial, a elite burguesa dominante. Pessoas essas que, letradas, buscavam-se
informações que contribuísse nas formas de progresso e modernidade que efetivasse o
rompimento com o Império e as raízes patriotas criadas com a Proclamação da
República.
Notamos que, desde principalmente o final do século XIX e início do século XX,
a vida urbana, em desenvolvimento, vinha caminhando em busca de várias formas de
progresso. A agilidade com que os periódicos se difundem é imensa, trazendo 3 Mallmann (2010) afirma que Passos inicia, a partir de 1903, um enorme programa de obras nos moldes de Paris,que contemplava três aspectos: a modernização do porto, o saneamento da cidade e a reforma urbana.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
5
costumeiramente holofotes a tudo o que foca estilo, atividades políticas, posições
sociais. Parte – ainda que pequenas – de algumas ‘gazetas’ da época, situadas em Rio de
Janeiro e São Paulo, possuem circulação comercial até os dias atuais, demonstrando a
confiabilidade e significância de que determinadas empresas de informações impressas
persistem atualmente no cotidiano de nossa história.
O novo desenho municipal com as reformas então ocorridas alicerçava a vida
carioca no início do século XX, retratando socialmente os modelos elegidos pela
sociedade parisiense. Assim o periódico Fon-fon! trazia em suas páginas sobretudo
retratos da “vida mundana” social (ZANON, 2009), por meio de notas, charges, textos
ou qualquer forma de que tais notícias chegassem às casas. Ainda, para a autora:
A imitação dos modelos europeus chegava a ponto de serem reprimidas as festas tradicionais e os hábitos populares que congregavam gentes dos arrabaldes. Até mesmo o Carnaval deixava de ser o do entrudo, dos blocos, das máscaras e dos sambas populares, e passava a ser o dos corsos de carros abertos, das batalhas de flores e dos pierrôs e colombinas bem-comportados, típicos do Carnaval de Veneza, tal como era imitado em Paris. (ZANON, 2009, p .232)
Em épocas festivas carnavalescas, por exemplo, temos relatos nos periódicos
convidando/convocando os leitores a participarem de determinadas festas, onde ela se
realizaria “como deveria ser”.
Para Sodré (1966), a história da imprensa no Brasil dá também sentido ao
desenvolvimento interno do capitalismo, pois foi nítida a mola impulsionadora ao
capital, ao inovar os hábitos de toda uma sociedade. Para tanto, nas décadas analisadas
cumpre voltar à ótica para a Semana da Arte Moderna, ocorrida no ano de 1922, a qual
ainda que realizada na cidade de São Paulo, afetou o suficiente o país para que se
exigisse uma ruptura definitiva com os tempos antigos, e se iniciasse uma nova vida
com total compromisso com a dita modernidade. Sobre isso, afirma Zanon (2009, p.
231) que
Prova dessa modernização aspirada pela elite em ascensão é a transformação da capital do Rio de Janeiro em uma vitrine do regime republicano, onde os grupos populares e costumes tradicionais foram reprimidos, e a cidade assumiu ares europeizados, uma Paris tropical.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
6
Em breve diagnóstico da revista em estudo, a observamos levar seus leitores
para além de propostas a atos educativos familiares, advogando uma inserção
tecnológica para nortear os moldes pelos quais os homens deveriam enquadrar-se,
estabelecendo e propondo formas de alavancar o progresso social e cultural. A
evolução, nesse caso, configura-se proporcionando à sociedade contemplar vivências
benéficas e com sentido a seu favor, realizando o desenvolvimento, sobretudo da
civilização dos indivíduos
No que diz respeito ao âmbito educacional, o século XIX é marcado pela
necessidade de uniformizar o sistema escolar. Assim, foi necessário que várias
instituições educativas se organizassem como intuito de mudar o sistema de ensino a
fim de modernizá-lo, promovendo o progresso nacional. O periódico Fon-Fon! também
divulgava notas apoiando instituições ‘conceituadas’, ou seja, fazendo apontamentos de
colégios onde os métodos de ensino ofereciam uma educação como mandava os novos e
bons costumes.
Nesta perspectiva, da educação em seu sentido humano não somente de forma
institucional, podemos enfatizar que a modernidade na vida social dá-se com o início
dos tempos em que as mulheres poderiam relacionar-se e ter atitudes que não eram
‘normais’ em seu tempo. Embora nos impressos fossem notados muitos textos sobre
trabalhos femininos, as mulheres encontraram, também, de modo especial, inspiração a
inverter a lógica hierárquica familiar normal da época, e inserir-se no espaço público.
Com o incentivo capitalista e à tomada de liberdade do universo feminino no
mercado de trabalho, a sociedade – como nunca – passa a ser discutida, pois se a lógica
progressista incentiva o universo feminino à melhoria vital, a modernidade em questão,
de acordo com a concepção masculina, deveria ser revista. Assim, o periódico entra em
discursos contraditórios, pois na medida em que ditava as regras evolutivas a serem
seguidas pela mulher em pleno desenvolvimento, convidavam as mesmas a retornarem
seus afazeres, ocupando o antigo posto por elas nunca abandonado: o lar. O periódico
passa assim, a exultar materiais e variadas formas auxiliando na melhoria da
administração materna do domicílio.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
7
Revista Fon-fon!: breve análise de suas (re)produções
O século XX, assinala também, no Brasil, a transição da pequena à grande
imprensa. É fundamental abordar que os discursos midiáticos contribuíram
consideravelmente para auxiliar os cidadãos a formar uma concepção de modernidade
em ascensão. Essas informações eram então veiculadas para mencionar quais posições,
bem como, quais costumes a população deveria seguir, com relação ao governo do
início do século.
No título da Revista, “Semanário alegre, político, crítico e esfusiante, noticiário
avariado, telegraphia sem arame, chronica epidemica”, já se pode contemplar a gama de
fatores que pretendia atingir. Nahes (2007, p. 100) nos informa que os criadores da
revista “Mário Pederneiras, Gonzaga Duque e Lima Campos” queriam, “[...] cujo título
proclama, como marca de progresso, um ruído novo para a cidade [...]”. Assim,
interpretamos esse ruído como o barulho e as trombetas do mesmo carro representativo
da imagem que configura um olhar voltado ao progresso e dá sentido ao nome do
próprio periódico.
A revista trabalhava sempre com abordagens que tratassem de questões urbanas,
modernas e que fizessem sentido à noção de progresso em que a sociedade burguesa
havia se instaurado. Todo o teor dos escritos contornava o cotidiano, a vida política e
educacional que ocorriam na capital do país. Desta forma, podemos afirmar que
encontramos aqui uma revista constituída e propagada principalmente pela e para a elite
carioca.
Consideramos imprescindível, relacionar a sociedade com a imprensa para, desta
forma, compreendermos de melhor forma as influências da última na população carioca.
A revista Fon-fon!, parecia manter um profundo posicionamento com a elite carioca
retratando e reproduzindo as informações pertinentes à classe burguesa da época.
Buscamos juntar a História e a Comunicação enquanto fatores determinantes à
verificação e contribuição do mesmo no contexto correspondente àquela realidade. E,
ainda, selecionamos e organizamos as ideologias que alicerçavam a cultura presente
quanto aos temas em questão.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
8
A pesquisa enfatiza este periódico devido ao seu período de publicação, como
citado, 1907 a 1945. Marca ter sido uma veiculação midiática eficaz, com demasiada
popularidade, pois o jornal conseguiu se estabilizar quanto a vendas e repercussão.
Destacamos, assim, acontecimentos políticos, econômicos e sociais influentes, como
por exemplo: A Revolta Chibata (1910), O Pacto de Ouro Fino (1913), Greve Geral de
1917, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana (1922), Semana da Arte Moderna
(1922), Revolta Paulista de 1924, e tantos outros acontecimentos. Com a Semana da
Arte Moderna, podemos dizer que foram apresentados aqui princípios, os quais a
população deveria adentrar a fim de tornar-se ‘atual’.
Sendo o Rio de Janeiro a capital federal, os costumes necessitavam corresponder
aos novos tempos, reconfigurando a vida de acordo com as mudanças. Consideremos,
ainda, que o país se encontrava politicamente imerso nas reformas progressistas em
todos os quesitos políticos e socioeconômicos, já que o presente período exigia tais
determinações. Assim, afirmamos que nessa ocasião recebemos uma das influências
capitalistas mais elaboradas: a revista graficamente impressa.
Com o surgimento da imprensa escrita no século XIX, as revistas tornaram-se
moda, sobretudo na burguesia, sendo produzidas especificamente para determinados
grupos, perpassando todos os âmbitos da sociedade e veiculando as mais variadas
figuras de informação. Já no século XX, a fim de seguir a tendência da modernidade na
qual os brasileiros, com a Primeira República, haviam iniciado sua inserção, periódicos
como Fon-fon!, inspirados nos modelos de publicações europeus, passam a integrar
semanalmente a vida desses sujeitos, em prol de contribuição ao desenvolvimento
‘adequado’ do raciocínio das pessoas. Para Ribeiro e Santana (2011, p. 3),
Mesmo contribuindo para o desenvolvimento do pensamento moderno essa organização da imprensa não implicou, porém, numa independência do meio. Aliás, a grande contradição da República em relação ao Império foi justamente a repressão da liberdade de expressão dada à imprensa.
Sempre com aspectos irônicos e bem humorados, os periódicos constituíram
uma função que atendia o comércio, sobretudo os assuntos a serem expostos, embora
encontremos autores que defendem questões relatando quão esses periódicos
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
9
contribuiriam para a alienação da população. Sodré (1966) defende que algumas
veiculações favoreciam não só os processos gráficos, mas o predomínio do capitalismo
e auxiliava na discussão de assuntos como o feminismo, potencializando a imprensa.
O periódico impõe, além de suas informações citadas, a necessidade de
transformação progressista, em busca da modernidade e remodelação da então capital da
República. No que diz respeito aos ‘modelos’ impostos na sociedade do início do século
XX, Luca e Martins (2008) enfatizam a questão do modelo francês atribuído ao Brasil,
no que corresponde à representação dos recursos que até mesmo educavam e enfeitavam
a sociedade carioca. Revistas como a Fon-fon! assume o papel de formadora de opinião,
debatendo ideologias e valorizando, demasiadamente, ações governamentais.
As revistas correspondiam principalmente aos enfoques sociais da população.
Devido às suas publicações polêmicas e satíricas, suas opiniões tornavam-se, a cada dia,
mais interessantes a vários leitores da presente época. Devido a destaques em torno da
moda e novidades quanto a universo feminino, Macena (2010, p. 16) relata “[...] que
Fon-fon poderia ser uma revista feminina, mas seu discurso não era o das mulheres, era
o discurso da classe dominante da época”. As revistas alargavam, por sua vez, a
curiosidade com seus textos contagiantes, desenhos humorísticos e alguns apelos por
meio das imagens do mundo do consumo.
Assim, a modernidade vigora de acordo com a sociedade e o momento em que
se relaciona, impulsionando assim a e suas respectivas repercussões. Podemos dizer que
a Fon-fon!, em toda a sua estrutura, faz-se necessária à representação moderna, pois,
desde seu início, faz questão de que interpretemos nela esta análise. Desta forma,
justificamos contemplando a imagem do início do periódico.
Os impressos eram popularmente reconhecidos por levar notícias sempre com
humor atrelado à ironia, publicando temáticas pertinentes à área pública e informações
de cotidiano familiar. O slogan que a revista trazia era o de ‘trazer o novo de forma
nova’, e era essa forma de inovação que a sustentava popularmente na mídia impressa.
Exemplificamos como era tratada a política que, em outros jornais e revistasm eram
publicadas de forma sistemática com artigos de críticos, contextualizando-as com o
momento temporal; na revista Fon-fon! o assunto era tratado com humor por meio de
charges e textos indiretos.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
10
Com a evolução da tecnologia, sobretudo midiática, fazendo uso de ilustrações
nítidas, caricaturas bem elaboradas e fotografias, o público tinha acesso a notícias das
mais variadas conceituações; todas de forma muito relevantes e cuidadosas, como
mandava os exemplares, os quais inspirava os periódicos europeus. Desta forma, as
publicações levavam, também, às casas dos leitores, as mais atuais novidades de Paris,
tanto políticas e cotidianas, quanto femininas, proporcionando leituras interessantes e
agradáveis da cidade reconfigurada.
Porém, fazer parte da modernidade iria muito além de uma mudança na
disposição da cidade (ruas, casas, construções), pois deveriam ser mudados, também, as
vestimentas e, sobretudo, os costumes e a vida social. O progresso não se impulsionaria
repentinamente, sem modelos e padrões. Para tanto, o periódico Fon-fon! auxiliava na
incorporação dos costumes franceses, realizando, por um lado, um ‘reforço’ em como
ser moderno e, por outro, o que deveria permanecer tradicional, como, por exemplo, os
papéis familiares, a posição do homem de mantenedor familiar e o da mulher enquanto
mãe do lar. Assim, notamos apontamentos do sentindo que se dava a palavra
modernidade na presente época.
Considerações Finais
A civilização, a qual tanto se aspirava construir no Brasil no início do século
XX, mantinha relações diretas com a modernidade imposta, se materializando nas
formas de eliminar a cultura e costumes tradicionais, os quais se associavam aos tempos
coloniais. Para tanto, o poder político exercia sobre a população constantes tentativas de
coerção a fim de emilinar práticas cotidianas. A proibição de animais urbanos, festas
populares, demolição de cortiços e construções de grandes avenidas, teatros e cinemas,
ofereciam ares parisienses à capital, ainda que tal acesso fosse de privilégio somente da
alta burguesia.
A bélle époque carioca pode ser considerada uma das mais importantes fases na
história cultural brasileira. Podemos afirmar que a capital era uma República que
irradiava uma nova sociedade (im)posta e afirmava: o moderno era estar/morar no Rio
de Janeiro.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
11
O presente estudo procura demonstrar a importância de analisar a sociedade
também por meio de periódicos, já que podem servir como fonte, ou objeto
investigativo. Notamos como era a forte a corrente de formação de opinião pública
segundo a revista Fon-fon! Que, embora não fosse especialmente sobre educação,
contribuía fortemente com o estabelecimento da compreensão dos elos educacionais
brasileiros.
Num dado período histórico em que a capital estava ainda imersa à belle époque,
completamente influenciado pelos costumes parisienses, o que pode ter feito com que o
periódico analisado se destacasse demasiadamente, tenham sido as ilustrações e
alegorias trazidas de forma inovadora para as páginas impressas. As crônicas
sarcásticas, o humor das charges subentendidas e a forma como eram realizadas as
inovações européias na capital brasileira, fizeram da Fon-fon! uma revista de
entretenimento, mas que não deixava de ser interpretada de forma séria e política.
Definimos, então, o periódico como produtor e reprodutor social de opiniões e
costumes da sociedade. Entendemos, por isso, que a revista ainda com toda a censura
governamental e a repreensão quanto à liberdade de expressão, consistia em divulgar
seu trabalho de forma expansiva e contagiante, e os leitores correspondiam às
chamadas, mesmo sem saber se os ditames poderiam ser causa de libertação ou de
alienação. Já que, nada seria mais moderno e progressista que ser elegante, circular em
automóveis no centro do Rio de Janeiro, adotar a língua francesa como marca de
requinte e promover uma industrialização imediata, que fosse favorável à modernização
de um país repleto de novas metas republicanas.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, André Nunes de. A reforma Pereira Passos: uma tentativa de integração urbana. Revista Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, nº 10. p. 39-41, mai/agos – 2003. BIBLIOTECA NACIONAL: Acervo Digital/Periódico Fon-fon! Disponível em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon_anos.htm. Acesso em: 09/09/2012. LUCA, Tania Regina. MARTINS, Ana Luiza. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
12
MACENA, Fabiana Francisca. Madames, mademoiselles, melindrosas:: "feminino" e modernidade na revista Fon-fon. 2010. 130 f. Dissertação - Curso de Pós Graduação em História, Departamento de História, Universidade de Brasília, Brasília, 2010. Cap. 01. MALLMANN, Marcela Cockell. Pelos Becos e pela Avenida da BÉLLE ÉPOQUE Carioca. Soletras, São Gonçalo, Ano X , nº. 20, p.105-118, jul./dez. 2010. NAHES, Semiramis. Revista Fon-Fon: a imagem da mulher no Estado Novo (1937 – 1945). São Paulo: Arte e Ciência, 2007. NEEDELL, Jeffrey D. Bélle Époque tropical. São Paulo: Cia. Das Letras, 1993. RIBEIRO, Maria Regina Rodrigues. SANTANA, Aline. Política e modernidade: como a revista Fon Fon tratou a temática no período da República Velha. 8º Encontro Nacional de História da Mídia: UNICENTRO - Guarapuava, 28 a 30 de abril de 2011. SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1966. ZANON, Maria Cecilia. A sociedade carioca da belle époque nas páginas do on-fon! Patrimônio e Memória: UNESP, Assis - Sp, v. 2, n. , p.225-243, 06/2009.