revista colete encarnado 2015

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Vila Franca de Xira

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Page 1: Revista Colete Encarnado 2015

2015

X X V I S E M A N A D A C U L T U R A

T A U R O M Aacute Q U I C AV I L A F R A N C A D E X I R A

Cacircmara Municipal Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

Organizaccedilatildeo

sexta-feira dia 26 de junho21h00 rsaquo 7ordm Peddy Paper Taurino Iniciativa do Clube de Campismo ldquoAs Sentinelasrdquo Ruas da Cidade Concentraccedilatildeo 20h30 Largo da Cacircmara Municipal

saacutebado dia 27 de junho10h30 rsaquo Treino de Forcados Praccedila de Toiros Palha Blanco

18h30 rsaquoInauguraccedilatildeo da Exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo Celeiro da PatriarcalInclui atuaccedilatildeo do fadista Antoacutenio Pinto Basto (acompanhado agrave guitarra por Ricardo Rocha e agrave viola por Maacuterio Estorninho) e do cantor de flamenco Joaquiacuten Moreno (acompanhado agrave viola por Ramoacuten e a bailarina Marta Chasqueira)

22h00 rsaquo Novilhada Popular com a Escola de Toureio Joseacute Falcatildeo e a Escola de Toureio de Maacutelaga Praccedila de Toiros Palha Blanco

domingo dia 28 de junho09h00 |18h00 rsaquoTertuacutelias na Rua (animaccedilatildeo durante o dia) Jardim Municipal Constantino Palha

segunda-feira dia 29 de junho17h00 rsaquo Queres ser Forcado Iniciativa do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira para o puacuteblico infantil Largo da Cacircmara Municipal

21h30 rsaquo Coloacutequio ldquoMaacuterio Coelhordquo Celeiro da PatriarcalOradores Andreacutes Vaacutesquez (matador) rsaquo Rui Bento Vasques (matador) rsaquo Paulo Caetano (cavaleiro) Moderador Andrade Guerra (criacutetico taurino)

23h00 rsaquo Tertuacutelias FrancasTertuacutelia ldquoOs Foras e os BravosrdquoAbertura ao puacuteblicoR Dr Miguel Bombarda nordm 272 Vila Franca de Xira

terccedila-feira dia 30 de junho17h00 rsaquo Visita aos toiros das EsperasConcentraccedilatildeo junto ao Tribunal

21h30 rsaquoColoacutequio ldquoBandarilhasrdquo Celeiro da PatriarcalOradores Andreacutes Vaacutesquez (matador) rsaquo Maacuterio Coelho (matador) rsaquo Mauriacutecio do Vale (criacutetico taurino) rsaquoEnrique Piacuteriz (criacutetico taurino) Moderador Juan Miguel Nuntildees (jornalista)

23h00 rsaquoTertuacutelias FrancasTertuacutelia ldquoO Aficionadordquo Abertura ao puacuteblico Rua dos Varinos nordm 12 Vila Franca de Xira

quarta-feira dia 1 de julho10h00 |19h00) rsaquo Mostra de Artesanato Largo da Cacircmara Municipal

18h30 rsaquo Atuaccedilatildeo de Sevilhanas Largo da Cacircmara Municipal

21h30 rsaquo Coloacutequio ldquoGanadariasrdquo Celeiro da PatriarcalOradores Murteira Grave rsaquo Miura rsaquo Victorino Moderador Coronel Joseacute Henriques rsaquo Convidados Especiais Fernando Palha e Juacutelio Borba

23h00 rsaquo Tertuacutelias Francas Tertuacutelia ldquoA Ramboacuteiardquo Abertura ao puacuteblico R Dr Reynaldo dos Santos nordm 15 Vila Franca de Xira

quinta-feira dia 2 de julho20h00 rsaquo Jantar de Tertuacutelias com atuaccedilatildeo do grupoldquoFado Marialvardquo Praccedila de Toiros Palha Blanco

Nuacutemero de lugares limitados Inscriccedilotildees de 24 a 29 de junho para turismocm-vfxirapt ou no Posto de Turismo Municipal

Apoio

Escola de ToureioJoseacute Falcatildeo

Clube de Campismode Vila Franca de Xira

Grupo de ForcadosAmadoresde Vila Franca de Xira

Parceiros

sexta - feira 3 de julho18h00 bull Espera de Toiros seguida de Largada

19h45 bull Desfile de Tertuacutelias e Coletividades ateacute ao Lar-go Conde Ferreira para a Missa Rociera

20h30 bull Missa Rociera com o Coro Rociero Aromas del Camino Igreja Matriz de Vila Franca de Xira

Palco Av Pedro Victor

23h00bull AMOR ELECTRO01h00 bull UXU KALHUS03h00 bull ROD THA FUNK

saacutebado 4 de julho09h00 bull Feira de Velharias Colecionismo e Artesanato Urbano Jardim Municipal Constantino Palha

09h30 bull Homenagem - Atribuiccedilatildeo de topoacutenimo Travessa

Joseacute Canaacuterio (antiga Travessa do Forno)

10h00 bull Concentraccedilatildeo de Campinos e Deposiccedilatildeo de uma

coroa de flores no Monumento ao Campino

Av Pedro Victor

10h30 bull Corridas de campinos Largo 5 de Outubro

16h00 bull Homenagem ao Campino

Praccedila Afonso de Albuquerque (Largo da Cacircmara)

16h30 bull Desfile de campinos cavaleiros e amazonas pelas ruas da cidade

18h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

22h30 bull Noite da Sardinha Assada no posto puacuteblico

Rua 1ordm de Dezembro e nas tertuacutelias abertas ao puacuteblico

Palco Av Pedro Victor

22h30 bull DIABO NA CRUZ00h30 bull VOODOO MARMALADE

02h30 bull SONIDO ANDALUZ

02h00 bull Garraiada da Sardinha Assada

Praccedila de Toiros Palha Blanco

03h30 bull Distribuiccedilatildeo de Caldo Verde Rua 1ordm Dezembro

domingo 5 de julho10h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

14h00 bull Transmissatildeo televisiva do programa ldquoPortugal em Festardquo da SIC Jardim Municipal Constantino Palha

18h00 bull Corrida de Toiros Praccedila de Toiros Palha Blanco

22h00 bull ldquoARDEA PURPURArdquo e Fadistas de Vila Franca de Xira Palco da Av Pedro Victor

24h00 bull Fogo-de-artifiacutecio no Tejo | Encerramento

Consulte o programa integral

Encontramo-nos novamente para viver um dos momentos mais vibrantes do ano traduzido no encontro com as nossas raiacutezes identitaacuterias ligadas agrave tauromaquia

Ao todo entre ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo e ldquoColete Encarnadordquo satildeo perto de 10 dias em que exaltamos as nossas tradiccedilotildees a cultura a festa a amizade e o conviacutevio como soacute as gentes de Vila Franca de Xira sabem fazer

A ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo que teraacute lugar de 27 de junho a 2 de julho eacute por excelecircncia uma iniciativa que manteacutem de ano para ano o objetivo da defesa desta expressatildeo cultural marca inequiacutevoca desta regiatildeo Nesta ediccedilatildeo um dos principais destaques eacute a exposiccedilatildeo de homenagem ao matador de toiros vila-franquense de renome nacional e internacional Maacuterio Coelho por ocasiatildeo dos 60 anos do iniacutecio da sua carreira profissional

O ldquoColete Encarnadordquo que decorreraacute de 3 a 5 de julho constitui-se como uma das maiores festas do Ribatejo e um dos cartotildees-de-visita de Portugal no Mundo fazendo jus agrave aficioacuten popular e homenageando a figura iacutempar do campino tatildeo caracteriacutestica da nossa LeziacuteriaO Colete Encarnado eacute desde a sua criaccedilatildeo em 1932 a afirmaccedilatildeo duma regiatildeo atraveacutes dos seus princiacutepios e valores mais profundos Muitos foram e satildeo os que tecircm mantido ateacute aos dias de hoje o espiacuterito desta festa singular cumprindo o legado do seu criador Joseacute Van-Zeller Pereira Palha Nesta breve nota quero referir trecircs nomes desaparecidos do nosso conviacutevio que cada um agrave sua maneira sempre deram o seu melhor para a promoccedilatildeo desta nossa cultura Satildeo eles a Duquesa de Palmela Maria Teresa Palha Seacutergio Perilhatildeo e Joatildeo Mascarenhas Bem hajam por tudo o que fizeram

Nesta ediccedilatildeo fazemos pequenos ajustes agrave programaccedilatildeo com o intuito de enaltecer a arte ancestral de campinar Exemplo disso eacute a passagem da ldquoCorrida de Campinosrdquo para o Largo da Praccedila de Toiros (Largo 5 de Outubro) onde seraacute possiacutevel a mais pessoas desfrutar do garbo de uma montada ribatejana

Os motivos de interesse satildeo muitos e bons Bem-vindos a Vila Franca de Xira

O Presidente da Cacircmara Municipal Alberto Mesquita

COLETE ENCARNADODESTAQUES 2015

Seacutergio Perilhatildeo Pampilho de Honra 2015

O Aficionado o Amigo

dos Campinos

O Colete Encarnado em Vila Franca

de Xira representa desde 1932

uma forccedila viva de homenagem

ao Campino de exaltaccedilatildeo da Festa

Brava um guardiatildeo das tradiccedilotildees

tauromaacutequicas ribatejanas

Seacutergio Perilhatildeo o Pampilho de Honra

de 2015 era um entusiaacutestico promotor

da Festa Brava um profuso conhecedor

e defensor dos homens exclusivos

das Leziacuterias que do cimo da sua garupa

dominam a arte de conduzir

o gado os campinos

Filho de Casimiro Perilhatildeo um garboso e valente cam-pino o Pampilho de Honra do Colete Encarnado 2015 esteve desde o berccedilo relacionado com as gentes e costumes da planiacutecie cultura e festas tradicionais Ao longo da sua vida fez questatildeo de manter estes laccedilos aliaacutes procurou aprimorar o seu conhecimento sobre aqueles que dominavam a arte de manear o gado acabando por estreitar relaccedilotildees com o nuacutecleo duro dos anciatildeos Acompanhou tambeacutem o percurso daqueles que davam os primeiros passos na profissatildeo dando continuidade aos saberes ancestrais de um ofiacutecio duro difiacutecil de dominar e apenas transmitido atraveacutes de ge-raccedilotildees dos maiorais para os campinos e destes para os anojeiros Conhecia vaacuterias geraccedilotildees de campinos lidava com eles amiuacutede desenrolando-se as conversas como se de um par se tratasse dominava os meandros do ofiacutecio era um aceacuterrimo defensor destes singulares trabalhadores ribatejanos

Presenccedila assiacutedua nas festas tauromaacutequicas populares da Regiatildeo fez uso da sua experiecircncia em raacutedio para proporcionar aos aficionados relatos bem documenta-dos intensos contagiando o puacuteblico com a sua paixatildeo pela Festa Brava Conhecedor absoluto de todos os que constituem o mundo da tauromaquia e dominan-do os meandros dos espetaacuteculos taurinos fossem eles amadores populares ou profissionais Seacutergio Perilhatildeo foi ao longo da sua vida constituindo-se como um res-peitado e destacado aficionado natildeo soacute pelo gosto que nutria pela cultura tauromaacutequica mas tambeacutem por ter investigado e escrito sobre muitas das suas praacuteticas e tradiccedilotildees

Neste contexto esteve na deacutecada de 80 na fundaccedilatildeo da Raacutedio Iris onde realizou um programa de gran-de audiecircncia ldquoRibatejordquo dedicado agrave Festa Brava Foi tambeacutem durante cerca de 25 anos redator na revista especializada ldquoNovo Burladerordquo Era frequentador as-siacuteduo das Praccedilas de Touros de Portugal e Espanha onde vivia com intensidade a vida nos ruedos tendo sido um reputado criacutetico taurino

Natural de Samora Correia Seacutergio Perilhatildeo foi dirigen-te associativo em vaacuterias coletividades sediadas naque-la cidade mentor de vaacuterios projetos sociais culturais e recreativos tendo sido ainda um dos fundadores da Associaccedilatildeo Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) Foi tambeacutem vereador na Cacircmara Municipal

de Benavente e presidente da Assembleia de Fregue-sia de Samora Correia Ao niacutevel profissional era um gestor de carreira sendo que os conhecimentos que obteve ao longo da sua vida culminaram com a res-petiva licenciatura em Gestatildeo com cerca de 50 anos de idade Mas foi em Vila Franca de Xira com uma bolsa atribuiacuteda pelo municiacutepio que realizou todo o seu percurso escolar no antigo Coleacutegio Sousa Martins periacuteodo onde morou na casa dos seus tios

No ano em que a vida se despediu prematuramen-te de Seacutergio Perilhatildeo o Colete Encarnado presta-lhe o devido tributo A sua partida provocou um grande abalo no seio da sua famiacutelia e amigos mas tambeacutem nas outras vertentes da sua vida a que dedicou mui-to fulgor Abraccedilou muitos projetos associativos tendo sido jaacute devidamente distinguido por tal voluntarismo (Medalha de Meacuterito Municipal ndash Grau Prata Cacircma-ra Municipal de Benavente|2011 Preacutemio Carlos Gas-par Junta de Freguesia de Samora Correia|2014) A par esteve sempre arreigado a todas as tradiccedilotildees do

mundo tauromaacutequico Acompanhou-o sempre de per-to Contribuiu para a sua boa promoccedilatildeo e reconhe-cimento de todos Fecirc-lo sempre com uma arreigada alma Ribatejana Teve sempre um especial apreccedilo e reconhecimento pela periacutecia e sacrifiacutecio a que os cam-pinos satildeo sujeitos para vencer a sua arte Seacutergio Pe-rilhatildeo defendia vigorosamente que o seu trabalho era uma arte mais uma que contribuia para que o mundo tauromaacutequico portuguecircs fosse genuiacuteno

O Campino Homenageado desta ediccedilatildeo vai empu-nhar no saacutebado 4 de julho um Pampilho que teraacute gravado o nome de Seacutergio Perilhatildeo Um tributo em Honra de um grande aficionado mas tambeacutem um voto de pesar a um homem que natildeo envergando um colete encarnado no exerciacutecio da sua profissatildeo natildeo impediu agravequeles que o usam diariamente de o ele-ger unanimemente como um genuiacuteno e inesqueciacutevel amigo companheiro de vida

Texto Prazeres Tavares Fotografia Pedro Batalha

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 2: Revista Colete Encarnado 2015

X X V I S E M A N A D A C U L T U R A

T A U R O M Aacute Q U I C AV I L A F R A N C A D E X I R A

Cacircmara Municipal Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

Organizaccedilatildeo

sexta-feira dia 26 de junho21h00 rsaquo 7ordm Peddy Paper Taurino Iniciativa do Clube de Campismo ldquoAs Sentinelasrdquo Ruas da Cidade Concentraccedilatildeo 20h30 Largo da Cacircmara Municipal

saacutebado dia 27 de junho10h30 rsaquo Treino de Forcados Praccedila de Toiros Palha Blanco

18h30 rsaquoInauguraccedilatildeo da Exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo Celeiro da PatriarcalInclui atuaccedilatildeo do fadista Antoacutenio Pinto Basto (acompanhado agrave guitarra por Ricardo Rocha e agrave viola por Maacuterio Estorninho) e do cantor de flamenco Joaquiacuten Moreno (acompanhado agrave viola por Ramoacuten e a bailarina Marta Chasqueira)

22h00 rsaquo Novilhada Popular com a Escola de Toureio Joseacute Falcatildeo e a Escola de Toureio de Maacutelaga Praccedila de Toiros Palha Blanco

domingo dia 28 de junho09h00 |18h00 rsaquoTertuacutelias na Rua (animaccedilatildeo durante o dia) Jardim Municipal Constantino Palha

segunda-feira dia 29 de junho17h00 rsaquo Queres ser Forcado Iniciativa do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira para o puacuteblico infantil Largo da Cacircmara Municipal

21h30 rsaquo Coloacutequio ldquoMaacuterio Coelhordquo Celeiro da PatriarcalOradores Andreacutes Vaacutesquez (matador) rsaquo Rui Bento Vasques (matador) rsaquo Paulo Caetano (cavaleiro) Moderador Andrade Guerra (criacutetico taurino)

23h00 rsaquo Tertuacutelias FrancasTertuacutelia ldquoOs Foras e os BravosrdquoAbertura ao puacuteblicoR Dr Miguel Bombarda nordm 272 Vila Franca de Xira

terccedila-feira dia 30 de junho17h00 rsaquo Visita aos toiros das EsperasConcentraccedilatildeo junto ao Tribunal

21h30 rsaquoColoacutequio ldquoBandarilhasrdquo Celeiro da PatriarcalOradores Andreacutes Vaacutesquez (matador) rsaquo Maacuterio Coelho (matador) rsaquo Mauriacutecio do Vale (criacutetico taurino) rsaquoEnrique Piacuteriz (criacutetico taurino) Moderador Juan Miguel Nuntildees (jornalista)

23h00 rsaquoTertuacutelias FrancasTertuacutelia ldquoO Aficionadordquo Abertura ao puacuteblico Rua dos Varinos nordm 12 Vila Franca de Xira

quarta-feira dia 1 de julho10h00 |19h00) rsaquo Mostra de Artesanato Largo da Cacircmara Municipal

18h30 rsaquo Atuaccedilatildeo de Sevilhanas Largo da Cacircmara Municipal

21h30 rsaquo Coloacutequio ldquoGanadariasrdquo Celeiro da PatriarcalOradores Murteira Grave rsaquo Miura rsaquo Victorino Moderador Coronel Joseacute Henriques rsaquo Convidados Especiais Fernando Palha e Juacutelio Borba

23h00 rsaquo Tertuacutelias Francas Tertuacutelia ldquoA Ramboacuteiardquo Abertura ao puacuteblico R Dr Reynaldo dos Santos nordm 15 Vila Franca de Xira

quinta-feira dia 2 de julho20h00 rsaquo Jantar de Tertuacutelias com atuaccedilatildeo do grupoldquoFado Marialvardquo Praccedila de Toiros Palha Blanco

Nuacutemero de lugares limitados Inscriccedilotildees de 24 a 29 de junho para turismocm-vfxirapt ou no Posto de Turismo Municipal

Apoio

Escola de ToureioJoseacute Falcatildeo

Clube de Campismode Vila Franca de Xira

Grupo de ForcadosAmadoresde Vila Franca de Xira

Parceiros

sexta - feira 3 de julho18h00 bull Espera de Toiros seguida de Largada

19h45 bull Desfile de Tertuacutelias e Coletividades ateacute ao Lar-go Conde Ferreira para a Missa Rociera

20h30 bull Missa Rociera com o Coro Rociero Aromas del Camino Igreja Matriz de Vila Franca de Xira

Palco Av Pedro Victor

23h00bull AMOR ELECTRO01h00 bull UXU KALHUS03h00 bull ROD THA FUNK

saacutebado 4 de julho09h00 bull Feira de Velharias Colecionismo e Artesanato Urbano Jardim Municipal Constantino Palha

09h30 bull Homenagem - Atribuiccedilatildeo de topoacutenimo Travessa

Joseacute Canaacuterio (antiga Travessa do Forno)

10h00 bull Concentraccedilatildeo de Campinos e Deposiccedilatildeo de uma

coroa de flores no Monumento ao Campino

Av Pedro Victor

10h30 bull Corridas de campinos Largo 5 de Outubro

16h00 bull Homenagem ao Campino

Praccedila Afonso de Albuquerque (Largo da Cacircmara)

16h30 bull Desfile de campinos cavaleiros e amazonas pelas ruas da cidade

18h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

22h30 bull Noite da Sardinha Assada no posto puacuteblico

Rua 1ordm de Dezembro e nas tertuacutelias abertas ao puacuteblico

Palco Av Pedro Victor

22h30 bull DIABO NA CRUZ00h30 bull VOODOO MARMALADE

02h30 bull SONIDO ANDALUZ

02h00 bull Garraiada da Sardinha Assada

Praccedila de Toiros Palha Blanco

03h30 bull Distribuiccedilatildeo de Caldo Verde Rua 1ordm Dezembro

domingo 5 de julho10h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

14h00 bull Transmissatildeo televisiva do programa ldquoPortugal em Festardquo da SIC Jardim Municipal Constantino Palha

18h00 bull Corrida de Toiros Praccedila de Toiros Palha Blanco

22h00 bull ldquoARDEA PURPURArdquo e Fadistas de Vila Franca de Xira Palco da Av Pedro Victor

24h00 bull Fogo-de-artifiacutecio no Tejo | Encerramento

Consulte o programa integral

Encontramo-nos novamente para viver um dos momentos mais vibrantes do ano traduzido no encontro com as nossas raiacutezes identitaacuterias ligadas agrave tauromaquia

Ao todo entre ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo e ldquoColete Encarnadordquo satildeo perto de 10 dias em que exaltamos as nossas tradiccedilotildees a cultura a festa a amizade e o conviacutevio como soacute as gentes de Vila Franca de Xira sabem fazer

A ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo que teraacute lugar de 27 de junho a 2 de julho eacute por excelecircncia uma iniciativa que manteacutem de ano para ano o objetivo da defesa desta expressatildeo cultural marca inequiacutevoca desta regiatildeo Nesta ediccedilatildeo um dos principais destaques eacute a exposiccedilatildeo de homenagem ao matador de toiros vila-franquense de renome nacional e internacional Maacuterio Coelho por ocasiatildeo dos 60 anos do iniacutecio da sua carreira profissional

O ldquoColete Encarnadordquo que decorreraacute de 3 a 5 de julho constitui-se como uma das maiores festas do Ribatejo e um dos cartotildees-de-visita de Portugal no Mundo fazendo jus agrave aficioacuten popular e homenageando a figura iacutempar do campino tatildeo caracteriacutestica da nossa LeziacuteriaO Colete Encarnado eacute desde a sua criaccedilatildeo em 1932 a afirmaccedilatildeo duma regiatildeo atraveacutes dos seus princiacutepios e valores mais profundos Muitos foram e satildeo os que tecircm mantido ateacute aos dias de hoje o espiacuterito desta festa singular cumprindo o legado do seu criador Joseacute Van-Zeller Pereira Palha Nesta breve nota quero referir trecircs nomes desaparecidos do nosso conviacutevio que cada um agrave sua maneira sempre deram o seu melhor para a promoccedilatildeo desta nossa cultura Satildeo eles a Duquesa de Palmela Maria Teresa Palha Seacutergio Perilhatildeo e Joatildeo Mascarenhas Bem hajam por tudo o que fizeram

Nesta ediccedilatildeo fazemos pequenos ajustes agrave programaccedilatildeo com o intuito de enaltecer a arte ancestral de campinar Exemplo disso eacute a passagem da ldquoCorrida de Campinosrdquo para o Largo da Praccedila de Toiros (Largo 5 de Outubro) onde seraacute possiacutevel a mais pessoas desfrutar do garbo de uma montada ribatejana

Os motivos de interesse satildeo muitos e bons Bem-vindos a Vila Franca de Xira

O Presidente da Cacircmara Municipal Alberto Mesquita

COLETE ENCARNADODESTAQUES 2015

Seacutergio Perilhatildeo Pampilho de Honra 2015

O Aficionado o Amigo

dos Campinos

O Colete Encarnado em Vila Franca

de Xira representa desde 1932

uma forccedila viva de homenagem

ao Campino de exaltaccedilatildeo da Festa

Brava um guardiatildeo das tradiccedilotildees

tauromaacutequicas ribatejanas

Seacutergio Perilhatildeo o Pampilho de Honra

de 2015 era um entusiaacutestico promotor

da Festa Brava um profuso conhecedor

e defensor dos homens exclusivos

das Leziacuterias que do cimo da sua garupa

dominam a arte de conduzir

o gado os campinos

Filho de Casimiro Perilhatildeo um garboso e valente cam-pino o Pampilho de Honra do Colete Encarnado 2015 esteve desde o berccedilo relacionado com as gentes e costumes da planiacutecie cultura e festas tradicionais Ao longo da sua vida fez questatildeo de manter estes laccedilos aliaacutes procurou aprimorar o seu conhecimento sobre aqueles que dominavam a arte de manear o gado acabando por estreitar relaccedilotildees com o nuacutecleo duro dos anciatildeos Acompanhou tambeacutem o percurso daqueles que davam os primeiros passos na profissatildeo dando continuidade aos saberes ancestrais de um ofiacutecio duro difiacutecil de dominar e apenas transmitido atraveacutes de ge-raccedilotildees dos maiorais para os campinos e destes para os anojeiros Conhecia vaacuterias geraccedilotildees de campinos lidava com eles amiuacutede desenrolando-se as conversas como se de um par se tratasse dominava os meandros do ofiacutecio era um aceacuterrimo defensor destes singulares trabalhadores ribatejanos

Presenccedila assiacutedua nas festas tauromaacutequicas populares da Regiatildeo fez uso da sua experiecircncia em raacutedio para proporcionar aos aficionados relatos bem documenta-dos intensos contagiando o puacuteblico com a sua paixatildeo pela Festa Brava Conhecedor absoluto de todos os que constituem o mundo da tauromaquia e dominan-do os meandros dos espetaacuteculos taurinos fossem eles amadores populares ou profissionais Seacutergio Perilhatildeo foi ao longo da sua vida constituindo-se como um res-peitado e destacado aficionado natildeo soacute pelo gosto que nutria pela cultura tauromaacutequica mas tambeacutem por ter investigado e escrito sobre muitas das suas praacuteticas e tradiccedilotildees

Neste contexto esteve na deacutecada de 80 na fundaccedilatildeo da Raacutedio Iris onde realizou um programa de gran-de audiecircncia ldquoRibatejordquo dedicado agrave Festa Brava Foi tambeacutem durante cerca de 25 anos redator na revista especializada ldquoNovo Burladerordquo Era frequentador as-siacuteduo das Praccedilas de Touros de Portugal e Espanha onde vivia com intensidade a vida nos ruedos tendo sido um reputado criacutetico taurino

Natural de Samora Correia Seacutergio Perilhatildeo foi dirigen-te associativo em vaacuterias coletividades sediadas naque-la cidade mentor de vaacuterios projetos sociais culturais e recreativos tendo sido ainda um dos fundadores da Associaccedilatildeo Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) Foi tambeacutem vereador na Cacircmara Municipal

de Benavente e presidente da Assembleia de Fregue-sia de Samora Correia Ao niacutevel profissional era um gestor de carreira sendo que os conhecimentos que obteve ao longo da sua vida culminaram com a res-petiva licenciatura em Gestatildeo com cerca de 50 anos de idade Mas foi em Vila Franca de Xira com uma bolsa atribuiacuteda pelo municiacutepio que realizou todo o seu percurso escolar no antigo Coleacutegio Sousa Martins periacuteodo onde morou na casa dos seus tios

No ano em que a vida se despediu prematuramen-te de Seacutergio Perilhatildeo o Colete Encarnado presta-lhe o devido tributo A sua partida provocou um grande abalo no seio da sua famiacutelia e amigos mas tambeacutem nas outras vertentes da sua vida a que dedicou mui-to fulgor Abraccedilou muitos projetos associativos tendo sido jaacute devidamente distinguido por tal voluntarismo (Medalha de Meacuterito Municipal ndash Grau Prata Cacircma-ra Municipal de Benavente|2011 Preacutemio Carlos Gas-par Junta de Freguesia de Samora Correia|2014) A par esteve sempre arreigado a todas as tradiccedilotildees do

mundo tauromaacutequico Acompanhou-o sempre de per-to Contribuiu para a sua boa promoccedilatildeo e reconhe-cimento de todos Fecirc-lo sempre com uma arreigada alma Ribatejana Teve sempre um especial apreccedilo e reconhecimento pela periacutecia e sacrifiacutecio a que os cam-pinos satildeo sujeitos para vencer a sua arte Seacutergio Pe-rilhatildeo defendia vigorosamente que o seu trabalho era uma arte mais uma que contribuia para que o mundo tauromaacutequico portuguecircs fosse genuiacuteno

O Campino Homenageado desta ediccedilatildeo vai empu-nhar no saacutebado 4 de julho um Pampilho que teraacute gravado o nome de Seacutergio Perilhatildeo Um tributo em Honra de um grande aficionado mas tambeacutem um voto de pesar a um homem que natildeo envergando um colete encarnado no exerciacutecio da sua profissatildeo natildeo impediu agravequeles que o usam diariamente de o ele-ger unanimemente como um genuiacuteno e inesqueciacutevel amigo companheiro de vida

Texto Prazeres Tavares Fotografia Pedro Batalha

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 3: Revista Colete Encarnado 2015

sexta - feira 3 de julho18h00 bull Espera de Toiros seguida de Largada

19h45 bull Desfile de Tertuacutelias e Coletividades ateacute ao Lar-go Conde Ferreira para a Missa Rociera

20h30 bull Missa Rociera com o Coro Rociero Aromas del Camino Igreja Matriz de Vila Franca de Xira

Palco Av Pedro Victor

23h00bull AMOR ELECTRO01h00 bull UXU KALHUS03h00 bull ROD THA FUNK

saacutebado 4 de julho09h00 bull Feira de Velharias Colecionismo e Artesanato Urbano Jardim Municipal Constantino Palha

09h30 bull Homenagem - Atribuiccedilatildeo de topoacutenimo Travessa

Joseacute Canaacuterio (antiga Travessa do Forno)

10h00 bull Concentraccedilatildeo de Campinos e Deposiccedilatildeo de uma

coroa de flores no Monumento ao Campino

Av Pedro Victor

10h30 bull Corridas de campinos Largo 5 de Outubro

16h00 bull Homenagem ao Campino

Praccedila Afonso de Albuquerque (Largo da Cacircmara)

16h30 bull Desfile de campinos cavaleiros e amazonas pelas ruas da cidade

18h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

22h30 bull Noite da Sardinha Assada no posto puacuteblico

Rua 1ordm de Dezembro e nas tertuacutelias abertas ao puacuteblico

Palco Av Pedro Victor

22h30 bull DIABO NA CRUZ00h30 bull VOODOO MARMALADE

02h30 bull SONIDO ANDALUZ

02h00 bull Garraiada da Sardinha Assada

Praccedila de Toiros Palha Blanco

03h30 bull Distribuiccedilatildeo de Caldo Verde Rua 1ordm Dezembro

domingo 5 de julho10h30 bull Espera de Toiros seguida de Largada

14h00 bull Transmissatildeo televisiva do programa ldquoPortugal em Festardquo da SIC Jardim Municipal Constantino Palha

18h00 bull Corrida de Toiros Praccedila de Toiros Palha Blanco

22h00 bull ldquoARDEA PURPURArdquo e Fadistas de Vila Franca de Xira Palco da Av Pedro Victor

24h00 bull Fogo-de-artifiacutecio no Tejo | Encerramento

Consulte o programa integral

Encontramo-nos novamente para viver um dos momentos mais vibrantes do ano traduzido no encontro com as nossas raiacutezes identitaacuterias ligadas agrave tauromaquia

Ao todo entre ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo e ldquoColete Encarnadordquo satildeo perto de 10 dias em que exaltamos as nossas tradiccedilotildees a cultura a festa a amizade e o conviacutevio como soacute as gentes de Vila Franca de Xira sabem fazer

A ldquoSemana da Cultura Tauromaacutequicardquo que teraacute lugar de 27 de junho a 2 de julho eacute por excelecircncia uma iniciativa que manteacutem de ano para ano o objetivo da defesa desta expressatildeo cultural marca inequiacutevoca desta regiatildeo Nesta ediccedilatildeo um dos principais destaques eacute a exposiccedilatildeo de homenagem ao matador de toiros vila-franquense de renome nacional e internacional Maacuterio Coelho por ocasiatildeo dos 60 anos do iniacutecio da sua carreira profissional

O ldquoColete Encarnadordquo que decorreraacute de 3 a 5 de julho constitui-se como uma das maiores festas do Ribatejo e um dos cartotildees-de-visita de Portugal no Mundo fazendo jus agrave aficioacuten popular e homenageando a figura iacutempar do campino tatildeo caracteriacutestica da nossa LeziacuteriaO Colete Encarnado eacute desde a sua criaccedilatildeo em 1932 a afirmaccedilatildeo duma regiatildeo atraveacutes dos seus princiacutepios e valores mais profundos Muitos foram e satildeo os que tecircm mantido ateacute aos dias de hoje o espiacuterito desta festa singular cumprindo o legado do seu criador Joseacute Van-Zeller Pereira Palha Nesta breve nota quero referir trecircs nomes desaparecidos do nosso conviacutevio que cada um agrave sua maneira sempre deram o seu melhor para a promoccedilatildeo desta nossa cultura Satildeo eles a Duquesa de Palmela Maria Teresa Palha Seacutergio Perilhatildeo e Joatildeo Mascarenhas Bem hajam por tudo o que fizeram

Nesta ediccedilatildeo fazemos pequenos ajustes agrave programaccedilatildeo com o intuito de enaltecer a arte ancestral de campinar Exemplo disso eacute a passagem da ldquoCorrida de Campinosrdquo para o Largo da Praccedila de Toiros (Largo 5 de Outubro) onde seraacute possiacutevel a mais pessoas desfrutar do garbo de uma montada ribatejana

Os motivos de interesse satildeo muitos e bons Bem-vindos a Vila Franca de Xira

O Presidente da Cacircmara Municipal Alberto Mesquita

COLETE ENCARNADODESTAQUES 2015

Seacutergio Perilhatildeo Pampilho de Honra 2015

O Aficionado o Amigo

dos Campinos

O Colete Encarnado em Vila Franca

de Xira representa desde 1932

uma forccedila viva de homenagem

ao Campino de exaltaccedilatildeo da Festa

Brava um guardiatildeo das tradiccedilotildees

tauromaacutequicas ribatejanas

Seacutergio Perilhatildeo o Pampilho de Honra

de 2015 era um entusiaacutestico promotor

da Festa Brava um profuso conhecedor

e defensor dos homens exclusivos

das Leziacuterias que do cimo da sua garupa

dominam a arte de conduzir

o gado os campinos

Filho de Casimiro Perilhatildeo um garboso e valente cam-pino o Pampilho de Honra do Colete Encarnado 2015 esteve desde o berccedilo relacionado com as gentes e costumes da planiacutecie cultura e festas tradicionais Ao longo da sua vida fez questatildeo de manter estes laccedilos aliaacutes procurou aprimorar o seu conhecimento sobre aqueles que dominavam a arte de manear o gado acabando por estreitar relaccedilotildees com o nuacutecleo duro dos anciatildeos Acompanhou tambeacutem o percurso daqueles que davam os primeiros passos na profissatildeo dando continuidade aos saberes ancestrais de um ofiacutecio duro difiacutecil de dominar e apenas transmitido atraveacutes de ge-raccedilotildees dos maiorais para os campinos e destes para os anojeiros Conhecia vaacuterias geraccedilotildees de campinos lidava com eles amiuacutede desenrolando-se as conversas como se de um par se tratasse dominava os meandros do ofiacutecio era um aceacuterrimo defensor destes singulares trabalhadores ribatejanos

Presenccedila assiacutedua nas festas tauromaacutequicas populares da Regiatildeo fez uso da sua experiecircncia em raacutedio para proporcionar aos aficionados relatos bem documenta-dos intensos contagiando o puacuteblico com a sua paixatildeo pela Festa Brava Conhecedor absoluto de todos os que constituem o mundo da tauromaquia e dominan-do os meandros dos espetaacuteculos taurinos fossem eles amadores populares ou profissionais Seacutergio Perilhatildeo foi ao longo da sua vida constituindo-se como um res-peitado e destacado aficionado natildeo soacute pelo gosto que nutria pela cultura tauromaacutequica mas tambeacutem por ter investigado e escrito sobre muitas das suas praacuteticas e tradiccedilotildees

Neste contexto esteve na deacutecada de 80 na fundaccedilatildeo da Raacutedio Iris onde realizou um programa de gran-de audiecircncia ldquoRibatejordquo dedicado agrave Festa Brava Foi tambeacutem durante cerca de 25 anos redator na revista especializada ldquoNovo Burladerordquo Era frequentador as-siacuteduo das Praccedilas de Touros de Portugal e Espanha onde vivia com intensidade a vida nos ruedos tendo sido um reputado criacutetico taurino

Natural de Samora Correia Seacutergio Perilhatildeo foi dirigen-te associativo em vaacuterias coletividades sediadas naque-la cidade mentor de vaacuterios projetos sociais culturais e recreativos tendo sido ainda um dos fundadores da Associaccedilatildeo Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) Foi tambeacutem vereador na Cacircmara Municipal

de Benavente e presidente da Assembleia de Fregue-sia de Samora Correia Ao niacutevel profissional era um gestor de carreira sendo que os conhecimentos que obteve ao longo da sua vida culminaram com a res-petiva licenciatura em Gestatildeo com cerca de 50 anos de idade Mas foi em Vila Franca de Xira com uma bolsa atribuiacuteda pelo municiacutepio que realizou todo o seu percurso escolar no antigo Coleacutegio Sousa Martins periacuteodo onde morou na casa dos seus tios

No ano em que a vida se despediu prematuramen-te de Seacutergio Perilhatildeo o Colete Encarnado presta-lhe o devido tributo A sua partida provocou um grande abalo no seio da sua famiacutelia e amigos mas tambeacutem nas outras vertentes da sua vida a que dedicou mui-to fulgor Abraccedilou muitos projetos associativos tendo sido jaacute devidamente distinguido por tal voluntarismo (Medalha de Meacuterito Municipal ndash Grau Prata Cacircma-ra Municipal de Benavente|2011 Preacutemio Carlos Gas-par Junta de Freguesia de Samora Correia|2014) A par esteve sempre arreigado a todas as tradiccedilotildees do

mundo tauromaacutequico Acompanhou-o sempre de per-to Contribuiu para a sua boa promoccedilatildeo e reconhe-cimento de todos Fecirc-lo sempre com uma arreigada alma Ribatejana Teve sempre um especial apreccedilo e reconhecimento pela periacutecia e sacrifiacutecio a que os cam-pinos satildeo sujeitos para vencer a sua arte Seacutergio Pe-rilhatildeo defendia vigorosamente que o seu trabalho era uma arte mais uma que contribuia para que o mundo tauromaacutequico portuguecircs fosse genuiacuteno

O Campino Homenageado desta ediccedilatildeo vai empu-nhar no saacutebado 4 de julho um Pampilho que teraacute gravado o nome de Seacutergio Perilhatildeo Um tributo em Honra de um grande aficionado mas tambeacutem um voto de pesar a um homem que natildeo envergando um colete encarnado no exerciacutecio da sua profissatildeo natildeo impediu agravequeles que o usam diariamente de o ele-ger unanimemente como um genuiacuteno e inesqueciacutevel amigo companheiro de vida

Texto Prazeres Tavares Fotografia Pedro Batalha

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 4: Revista Colete Encarnado 2015

Seacutergio Perilhatildeo Pampilho de Honra 2015

O Aficionado o Amigo

dos Campinos

O Colete Encarnado em Vila Franca

de Xira representa desde 1932

uma forccedila viva de homenagem

ao Campino de exaltaccedilatildeo da Festa

Brava um guardiatildeo das tradiccedilotildees

tauromaacutequicas ribatejanas

Seacutergio Perilhatildeo o Pampilho de Honra

de 2015 era um entusiaacutestico promotor

da Festa Brava um profuso conhecedor

e defensor dos homens exclusivos

das Leziacuterias que do cimo da sua garupa

dominam a arte de conduzir

o gado os campinos

Filho de Casimiro Perilhatildeo um garboso e valente cam-pino o Pampilho de Honra do Colete Encarnado 2015 esteve desde o berccedilo relacionado com as gentes e costumes da planiacutecie cultura e festas tradicionais Ao longo da sua vida fez questatildeo de manter estes laccedilos aliaacutes procurou aprimorar o seu conhecimento sobre aqueles que dominavam a arte de manear o gado acabando por estreitar relaccedilotildees com o nuacutecleo duro dos anciatildeos Acompanhou tambeacutem o percurso daqueles que davam os primeiros passos na profissatildeo dando continuidade aos saberes ancestrais de um ofiacutecio duro difiacutecil de dominar e apenas transmitido atraveacutes de ge-raccedilotildees dos maiorais para os campinos e destes para os anojeiros Conhecia vaacuterias geraccedilotildees de campinos lidava com eles amiuacutede desenrolando-se as conversas como se de um par se tratasse dominava os meandros do ofiacutecio era um aceacuterrimo defensor destes singulares trabalhadores ribatejanos

Presenccedila assiacutedua nas festas tauromaacutequicas populares da Regiatildeo fez uso da sua experiecircncia em raacutedio para proporcionar aos aficionados relatos bem documenta-dos intensos contagiando o puacuteblico com a sua paixatildeo pela Festa Brava Conhecedor absoluto de todos os que constituem o mundo da tauromaquia e dominan-do os meandros dos espetaacuteculos taurinos fossem eles amadores populares ou profissionais Seacutergio Perilhatildeo foi ao longo da sua vida constituindo-se como um res-peitado e destacado aficionado natildeo soacute pelo gosto que nutria pela cultura tauromaacutequica mas tambeacutem por ter investigado e escrito sobre muitas das suas praacuteticas e tradiccedilotildees

Neste contexto esteve na deacutecada de 80 na fundaccedilatildeo da Raacutedio Iris onde realizou um programa de gran-de audiecircncia ldquoRibatejordquo dedicado agrave Festa Brava Foi tambeacutem durante cerca de 25 anos redator na revista especializada ldquoNovo Burladerordquo Era frequentador as-siacuteduo das Praccedilas de Touros de Portugal e Espanha onde vivia com intensidade a vida nos ruedos tendo sido um reputado criacutetico taurino

Natural de Samora Correia Seacutergio Perilhatildeo foi dirigen-te associativo em vaacuterias coletividades sediadas naque-la cidade mentor de vaacuterios projetos sociais culturais e recreativos tendo sido ainda um dos fundadores da Associaccedilatildeo Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) Foi tambeacutem vereador na Cacircmara Municipal

de Benavente e presidente da Assembleia de Fregue-sia de Samora Correia Ao niacutevel profissional era um gestor de carreira sendo que os conhecimentos que obteve ao longo da sua vida culminaram com a res-petiva licenciatura em Gestatildeo com cerca de 50 anos de idade Mas foi em Vila Franca de Xira com uma bolsa atribuiacuteda pelo municiacutepio que realizou todo o seu percurso escolar no antigo Coleacutegio Sousa Martins periacuteodo onde morou na casa dos seus tios

No ano em que a vida se despediu prematuramen-te de Seacutergio Perilhatildeo o Colete Encarnado presta-lhe o devido tributo A sua partida provocou um grande abalo no seio da sua famiacutelia e amigos mas tambeacutem nas outras vertentes da sua vida a que dedicou mui-to fulgor Abraccedilou muitos projetos associativos tendo sido jaacute devidamente distinguido por tal voluntarismo (Medalha de Meacuterito Municipal ndash Grau Prata Cacircma-ra Municipal de Benavente|2011 Preacutemio Carlos Gas-par Junta de Freguesia de Samora Correia|2014) A par esteve sempre arreigado a todas as tradiccedilotildees do

mundo tauromaacutequico Acompanhou-o sempre de per-to Contribuiu para a sua boa promoccedilatildeo e reconhe-cimento de todos Fecirc-lo sempre com uma arreigada alma Ribatejana Teve sempre um especial apreccedilo e reconhecimento pela periacutecia e sacrifiacutecio a que os cam-pinos satildeo sujeitos para vencer a sua arte Seacutergio Pe-rilhatildeo defendia vigorosamente que o seu trabalho era uma arte mais uma que contribuia para que o mundo tauromaacutequico portuguecircs fosse genuiacuteno

O Campino Homenageado desta ediccedilatildeo vai empu-nhar no saacutebado 4 de julho um Pampilho que teraacute gravado o nome de Seacutergio Perilhatildeo Um tributo em Honra de um grande aficionado mas tambeacutem um voto de pesar a um homem que natildeo envergando um colete encarnado no exerciacutecio da sua profissatildeo natildeo impediu agravequeles que o usam diariamente de o ele-ger unanimemente como um genuiacuteno e inesqueciacutevel amigo companheiro de vida

Texto Prazeres Tavares Fotografia Pedro Batalha

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 5: Revista Colete Encarnado 2015

de Benavente e presidente da Assembleia de Fregue-sia de Samora Correia Ao niacutevel profissional era um gestor de carreira sendo que os conhecimentos que obteve ao longo da sua vida culminaram com a res-petiva licenciatura em Gestatildeo com cerca de 50 anos de idade Mas foi em Vila Franca de Xira com uma bolsa atribuiacuteda pelo municiacutepio que realizou todo o seu percurso escolar no antigo Coleacutegio Sousa Martins periacuteodo onde morou na casa dos seus tios

No ano em que a vida se despediu prematuramen-te de Seacutergio Perilhatildeo o Colete Encarnado presta-lhe o devido tributo A sua partida provocou um grande abalo no seio da sua famiacutelia e amigos mas tambeacutem nas outras vertentes da sua vida a que dedicou mui-to fulgor Abraccedilou muitos projetos associativos tendo sido jaacute devidamente distinguido por tal voluntarismo (Medalha de Meacuterito Municipal ndash Grau Prata Cacircma-ra Municipal de Benavente|2011 Preacutemio Carlos Gas-par Junta de Freguesia de Samora Correia|2014) A par esteve sempre arreigado a todas as tradiccedilotildees do

mundo tauromaacutequico Acompanhou-o sempre de per-to Contribuiu para a sua boa promoccedilatildeo e reconhe-cimento de todos Fecirc-lo sempre com uma arreigada alma Ribatejana Teve sempre um especial apreccedilo e reconhecimento pela periacutecia e sacrifiacutecio a que os cam-pinos satildeo sujeitos para vencer a sua arte Seacutergio Pe-rilhatildeo defendia vigorosamente que o seu trabalho era uma arte mais uma que contribuia para que o mundo tauromaacutequico portuguecircs fosse genuiacuteno

O Campino Homenageado desta ediccedilatildeo vai empu-nhar no saacutebado 4 de julho um Pampilho que teraacute gravado o nome de Seacutergio Perilhatildeo Um tributo em Honra de um grande aficionado mas tambeacutem um voto de pesar a um homem que natildeo envergando um colete encarnado no exerciacutecio da sua profissatildeo natildeo impediu agravequeles que o usam diariamente de o ele-ger unanimemente como um genuiacuteno e inesqueciacutevel amigo companheiro de vida

Texto Prazeres Tavares Fotografia Pedro Batalha

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 6: Revista Colete Encarnado 2015

No passado dia 28 de marccedilo realizou-se em Vila Franca de Xira a entrega de preacutemios aos triunfadores da temporada tauromaacutequica 2014 pela sua prestaccedilatildeo na Palha Blanco O trofeacuteuldquoMelhor Ganadariardquo tinha nele inscrito ldquoDavid Ribeiro Tellesrdquo

Joatildeo Ribeiro Telles recordou-nos a geacutenese dos soberbos e imponentes toiros que a ganadaria da famiacutelia nos apresenta

Conta-se nas histoacuterias da criaccedilatildeo de gado bravo que esta ganadaria tem registos datados do final do seacuteculo XIX Re-ses marcadas com ferro JR Joaquim Ribeiro Telles avocirc pa-terno de Mestre David jaacute davam espetaacuteculo com casta por-tuguesa e dessa forma continuaram pela matildeo de Manoel Ribeiro Telles (pai do Mestre) Saiacuteram agrave praccedila na Chamusca (Distrito de Santareacutem) a 9 de maio de 1929 data de registo da sua antiguidade

Ao Serviccedilo da Festa BravaDavid Ribeiro Telles

a Ganadaria

Joatildeo Ribeiro Telles

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 7: Revista Colete Encarnado 2015

A seleccedilatildeo e o apuramento do encaste foram enceta-dos por Mestre David que nos finais da deacutecada de 40 tambeacutem nesta arte se aplicou Aleacutem da sua marca na histoacuteria do toureio a cavalo portuguecircs quer pela sua forma claacutessica de interpretar o toureio quer pela con-ceituada escola que criou para ensino daquele geacutene-ro Mestre David tornou-se num renomado ganadeiro A par do prestiacutegio igualmente alcanccedilado na criaccedilatildeo de cavalos tratou de incrementar aquele que consi-dera um elemento iacutempar na FestaIniciada com vacas Pinto Barreiros casta designa-da por ldquoa matildee de todas as ganadariasrdquo e semental Antoacutenio Silva esta ganadaria ganha aqui o seu ferro primitivo Mais tarde nos anos 80 eacute adquirido mais

um lote Pinto Barreiros e introduzido semental Joatildeo Moura A partir de 1994 satildeo agregados reprodutores de Santiago Domecq procedentes de Jandilla (gana-daria Andaluza de Caacutediz) e que ateacute aos dias de hoje definem as linhas morfoloacutegicas e de atitude da gana-daria sendo o encaste atual Parladeacute (Domecq)

ldquoToiros com um pouco de picanterdquo

Num percurso em tons terra escoltados pela mu-sicalidade proacutepria do campo pudemos ver os toiros da divisa vermelha e negra no seu habitat Entre azi-nheiras e charcas na Herdade do Codeccedilal na Igreji-nha (junto a Arraiolos) pasta um efetivo de 120 vacas

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 8: Revista Colete Encarnado 2015

e cinco sementais Aqui satildeo possiacuteveis de apreciar em toda a sua plenitude Em pontas atentos e desconfia-dos os toiros proporcionam ali um bonito cenaacuterio natildeo evitando contudo a quem os observa algum temor pela sua imprevisibilidade e fierezaO trabalho desenvolvido na ganadaria eacute marcado por uma procura constante de melhoria num processo de seleccedilatildeo levado a rigor nas tentas Com dois anos e meio satildeo apartadas as fecircmeas para que lhes seja avaliada a bravura e a nobreza que ateacute aiacute eacute uma incoacutegnita O objetivo eacute obviamente conseguir uma seleccedilatildeo de curros de qualidade toiros de excelente apresentaccedilatildeo que proporcionem bons espetaacuteculos taurinos Joatildeo Ribeiro Telles na sua perspetiva de criador caracteriza os toiros da ganadaria como ten-do ldquoum pouco de picante mais desejado pelo puacuteblico do que pelos toureiros Eacute mais veloz acomete umas investidas alegres e vibrantesrdquo Quanto ao porte des-tes animais explica-nos que o toiro genericamente tem sofrido uma evoluccedilatildeo A alimentaccedilatildeo dada agraves

matildees as melhores pastagens tecircm contribuiacutedo para a apresentaccedilatildeo na arena de reses superiores a 600 kg O cavaleiro eacute perentoacuterio quando diz que no que toca ao tratamento destes animais natildeo haacute dias de descan-so ldquonatildeo pode haverrdquo Existe um cuidado na sua pre-paraccedilatildeo fiacutesica fazem por exemplo questatildeo de deixar a alimentaccedilatildeo afastada do ponto de aacutegua para que se mexam Introduzir um bezerro de um ano junto aos toiros tambeacutem os acalma evitando uma ou outra morte como jaacute aconteceu Certo eacute que ldquoo toiro requer o miacutenimo contacto com o exteriorrdquo isto eacute no sentido da natureza o seu meio inerente ser a sua uacutenica vi-vecircncia explica Joatildeo Ribeiro Telles ldquoEstes toiros satildeo muito bons para lide a cavalo mas tambeacutem possuem boas carateriacutesticas para a lide a peacute Por diversas ve-zes as pessoas ainda se surpreendem quando se apercebem que os toiros satildeo nossos Associam-nos agrave figura de cavaleiro mas noacutes temos tambeacutem esta pai-xatildeordquo conta-nos entusiasta Na sequecircncia desta entre-ga proacutepria de quem possui sangue toureiro tambeacutem

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 9: Revista Colete Encarnado 2015

Um respeitoso patrimoacutenio

Esta dinastia que natildeo se esgota no tou-reio gostaria de se manter ao serviccedilo da Festa Brava por inteiro garantindo a continuaccedilatildeo de todas estas facetas que desenvolvem O cavaleiro explica que a conjuntura geral natildeo ajuda e eacute necessaacute-ria uma boa e atenta gestatildeo resguarda-da de uma boa margem para o investi-mento constantemente requerido Agrave data da nossa conversa estavam jaacute previstas participaccedilotildees da Ganadaria no Campo Pequeno nas praccedilas em Alter do Chatildeo Caldas da Rainha e Almeirim

Mais do que geraccedilotildees emblemaacuteticas o clatilde Ribeiro Telles encerra nele um ex-cecional conjunto de aptidotildees que im-prime em tudo aquilo a que se dedica Na base estaacute o patriarca que nascido haacute 87 anos jaacute no seio de famiacutelia ganadeira fez jus agraves suas raiacutezes e granjeou aquele que eacute hoje um inestimaacutevel patrimoacutenio no que agrave tradiccedilatildeo equestre e tauromaacute-quica diz respeito

Texto Ana Sofia Coelho Fotografia Heacutelder Dias

pela ganadaria a Famiacutelia acumula preacutemios Contabilizam-se pelo comprovado trapio dos toiros JR vaacuterios trofeacuteus ldquoEspiga de Oirordquo inuacutemeros Concursos de Ganadarias ganhos em Vila Franca de Xira Eacutevora Setuacutebal e quase se natildeo em todos os concelhos com tradiccedilatildeo tauromaacutequica Mas mais significativo que os preacutemios satildeo as imagens que ficam na memoacuteria como o orgulho ldquodaquela novilhada histoacuterica em Madrid em 1968 que deu a volta agrave praccedila o que poucas ou raras vezes acontecerdquo re-corda Joatildeo Ribeiro Telles ldquoSaiu o maioral em ombros com os trecircs toureiros pela porta grandehellip E aquele excelente toiro que abrilhantou a Corrida dos Seis Toirosrdquo Ao recordar tambeacutem o imponente curro apresentado na Corrida de Colete Encarnado do passado ano Joatildeo Ribeiro Telles natildeo hesita em dizer que nasceu num fim de semana de Colete Encarnado Volvidos 83 anos desta festa suscita-lhe a lembranccedila da sua assiduidade na Noite da Sardinha Assada ldquoem pequenos fomos habituados a ir agrave Festardquo Sobre a Festa Brava no Concelho Joatildeo Ribeiro Telles diz que gostaria de ver mais Vila-Franquenses nas Cor-ridas de Toiros uma praccedila recheada de puacuteblico vibrante com a emoccedilatildeo do espetaacuteculo

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 10: Revista Colete Encarnado 2015

A famiacutelia Afonso de Samora Cor-reia estaacute indubitavelmente ligada a um ofiacutecio ancestral exclusiva-mente Ribatejano O patriarca era exiacutemio na arte o filho o segundo da prole de nove irmatildeos abraccedilou a paixatildeo do pai O que se seguiu na linhagem manteve a tradiccedilatildeo Pancas tambeacutem foi um denomina-dor comum na histoacuteria desta famiacute-lia A herdade passa a ser a sede do efetivo Conde Cabral a partir de 1950 Ainda a deacutecada natildeo tinha terminado e o pequeno Antoacutenio entatildeo com dez anos ingressa ao serviccedilo do gado manso Era preci-sa mais uma matildeo na casa agriacutecola que prosperava no mundo tauro-maacutequico A ajuda no sustento da famiacutelia tambeacutem era bem-vinda e a escola natildeo despertou interesse no jovem Do lado oposto estava o ma-neio do gado bravo com o qual vi-brava A paixatildeo passou a profissatildeo o aprendiz passou a mestre Os 83

anos do Colete Encarnado satildeo de-dicados aos cerca de 50 anos de serviccedilo de Antoacutenio AfonsoPerante tal distinccedilatildeo mostrou--se parco na descriccedilatildeo dos seus sentimentos mas o que disse foi sobejamente revelador ldquoFico or-gulhoso eacute uma festa bonita uma festa que daacute almardquo Filho de cam-pino irmatildeo de outro (Afonso Ber-nardo o homenageado da anterior ediccedilatildeo do Colete Encarnado) pai e neto de outro Dedicou quase cin-co deacutecadas da sua vida a trabalhar em prol da arte que abraccedilou como profissatildeo apenas tendo interrom-pido o seu percurso por dolorosos e interminaacuteveis 27 meses de Ul-tramar Aos 21 anos depois de jaacute ter junto os ldquotrapinhosrdquo com uma jovem tambeacutem trabalhadora no campo veio a sentenccedila fatiacutedica os proacuteximos meses seriam passados ao serviccedilo do Exeacutercito Portuguecircs em Moccedilambique onde 365 dias

foram passados no ldquomatordquo como eacute referido na giacuteria o isolamento da civilizaccedilatildeo Neste momento o discurso de Antoacutenio Afonso torna--se mais pesaroso a voz treacutemula acusa sofrimento Foram tempos duros que lamentavelmente ainda se fazem presentes nas suas noi-tes condicionando ainda alguns do seus diasNo extremo oposto estatildeo os dias em que esteve ao serviccedilo da Herda-de Pancas a fazer o que realmen-te gostava A trabalhar no que lhe trouxe verdadeira felicidade Ainda hoje vai amiuacutede agrave terra onde viu nascer e crescer um infindaacutevel nuacute-mero de reses tendo muitas delas sido uma referecircncia na Festa Bra-va Foi por ali mesmo que se ini-ciou a montar a cavalo e a conduzir gado manso Poucos anos depois aos 15 anos passou ao gado bravo ldquoSaiacute da escola e fui guardar gado fui para ajuda dos bois de trabalho

Antoacutenio Afonso

Campino Homenageado

2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 11: Revista Colete Encarnado 2015

do meu padrinho Erecliacutedes e foi aiacute que comecei a andar a cavalo Era a osso natildeo tinha aparelho natildeo tinha arreio Comecei com uma corda chamada amarra atada ao pesco-ccedilo do cavalo Como era pequeno levava o cavalo ateacute uma vala para poder subir punha o peacute no joelho do animal e depois eacute que pulava para cima dele Depois era ir atraacutes dos bois mansosrdquo recordou Antoacute-nio Afonso saudoso

A ldquotareiardquo de um novilho aos 17 anos

Mais ou menos por aquela ida-de a memoacuteria destes episoacutedios da juventude jaacute natildeo eacute precisa foi promovido a maioral dos garraios mertolengos e logo depois iniciou--se no gado bravo ldquoTinha eu agrave vol-ta de uns 17 anos levei uma tareia

de um novilho com dois anos que natildeo esqueci O touro estava coxo e fui buscaacute-lo a peacute para ir agrave raccedilatildeo mas daquela vez ele natildeo quis vir e veio-se a mim Passei-lhe o peacute passei-lhe outro mas agrave terceira natildeo consegui e fiquei debaixo dele Deu-me tantas tantas tantashellip jaacute tinha os cornos a encaracolar e deu-me tudo com a cabeccedila Ateacute que dois indiviacuteduos estavam ao longe a ver e vieram com o trator para tirarem o novilho de cima de mim Ainda me lembro do Sr Ma-nuel Desterro a cavalo num animal chamado Ginja Meteram-me deva-garinho na sua garupa e fomos ateacute agrave minha casa Dali fui numa carro-ccedila do Sr Joaquim Mateus para o meacutedico em Alcochete A cada 100 metros tinham de parar porque eu natildeo suportava as dores Fui aus-cultado fui ligado e mandaram--me para casa Estive uns poucos de meses sem trabalhar Quando

regressei ao serviccedilo fui ter a cavalo com o toiro Depois foi a minha vez de o vencer Natildeo tive medo Nesta arte quanto mais porrada se leva mais rijo de fica Ele ficou com uma crenccedila comigo mas depois ficou tudo resolvido e eu continuei a tra-tar delerdquo contou Antoacutenio Afonso re-signado agrave dureza da sua profissatildeoOs episoacutedios que potildeem em pe-rigo a vida destes homens satildeo recorrentes e todos os recordam com uma memoacuteria fotograacutefica ldquoEra eu maioral dos toiros no Es-padanal e havia um touro que es-tava sempre a passar para as va-cas do Sr Nico Palha Ele dizia-me lsquoNatildeo quero as vacas (Mertolengas) cobertas pelo tourorsquo e ele tinha razatildeo Ele saltava os arames para ir agraves vacas Um belo dia o Sr Ma-nuel Torratildeo da Casa Palha curto de vista vinha da manga a cavalo O touro que estava no meio das va-cas comeccedilou a fugir e quando viu

O Colete Encarnado eacute uma Festa que daacute Alma

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 12: Revista Colete Encarnado 2015

o homem a cavalo ficou com crenccedila nele Comecei a esfarrapar atraacutes dele Jaacute era um touro com quatro anos O Sr Nico a gritar lsquoAntoacutenio O touro mata-me o homemrsquo O animal ia agrave minha frente e quando chego a 100 m do homem meto a vara ao touro jogo o barrete para cima da sua cabeccedila que se joga ao meu cavalo Meto o peacute da vara ao focinho e toma toma toma na cara Passei pelo homem a 3 m com o touro atraacutes de mim Ele soacute disse lsquoMas para que foi aquilorsquo Soacute percebeu o que tinha acontecido quando chegou ao peacute do patratildeo que lhe disse lsquoEra o Antoacutenio com um tourorsquo Fui dar a volta com ele agraves Portas Novas cansei-o e trouxe-o ateacute agrave manada Nesse ano foi cor-rido Ficou resolvido o assunto Na

altura o Sr Conde Cabral tinha uns toiros muito bons saiacuteam muito Era um touro bem apuradordquo afir-mou com um tom francamente or-gulhoso

O ensinamento do mestreA vida deste homem esteve sempre rodeada de sacrifiacutecios aliaacutes tal como acontece com todos os pares da sua profissatildeo Trabalha--se anos a fio sob condiccedilotildees climateacutericas desfavoraacuteveis com animais selvagens sobejamente conhecidos por serem ferozes O ldquoTochardquo (alcunha pelo qual eacute conhecido desde os tempos de escola) teve excelentes mestres e que faz questatildeo de natildeo esquecer Manuel Desterro Francisco Paulino Antoacutenio Santos e em especial Antoacutenio Custoacutedio ldquoFoi um grande camarada e amigo ensinou-me muito Disse-me uma coisa que ficou gravada dentro de mim lsquoAntoacutenio quando entramos com um toiro que estaacute embarbelado temos de pensar como vamos sairrsquo Ensinamento que nunca esqueceu e ao qual recorreu amiuacutede uma vez que o que mais gostava de fazer era desapartar toiros ldquoTinha receio deles quando vinham de laacute mandados porque sabemos bem que a primeira corrida eacute sempre do toiro Mas na segunda virada jaacute podiam vir de qualquer maneira que jaacute os esperavardquo ditou o ex- -maioral da Ganadaria de Conde Cabral Campino de matildeo cheia reconhece que na atualidade ldquohaacute muita rapaziada nas casas agriacutecolas que podem continuar a sua arterdquoTodo o saber que adquiriu ao longo dos anos de trabalho a sua dedicaccedilatildeo e empenho contribuiacuteram para engrandecer dignificar e dar continuidade agrave arte de campinar Camaradas e veteranos de profissatildeo decidiram assinalar publicamente o seu meacuterito O Colete Encarnando distingue-o saacutebado 4 de julho na cerimoacutenia de Homenagem ao Campino

Texto Prazeres Tavares Fotografia Vitor Cartaxo

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 13: Revista Colete Encarnado 2015

ldquoA maioria das vezes combinavam agraves quintas-feirasrdquo

Tudo comeccedilou em 20 de maio de 1971 Um grupo de pessoas ligadas ao comeacutercio e agrave in-duacutestria com um interesse comum pela Festa Brava que vinha regularmente a Vila Franca em trabalho combinava e por caacute almoccedilava a maioria das vezes agraves quintas-feiras relata Joatildeo Lopes antigo comerciante empregado e patratildeo que natildeo sendo dos fundadores estaacute no grupo desde 1972O registo desse primeiro encontro havia de ser feito vaacuterios anos mais tarde por Joseacute Fer-reira um dos percursores do grupo quando decide criar um livro de presenccedilas Eacute aiacute que escreve ldquofundado por um pequeno grupo de aficionados no restaurante Cabeccedila de Toiro faziam parte do grupo Quim da Susana (Joa-quim Vieira de Almeida) que durante muitos anos foi o seu presidente Joseacute Ferreira Cho-ni Joseacute Calccedilada Joatildeo Martins Antoacutenio Ama-ral Jorge Manuel Jorge (Valvulina) e Bravo DiasrdquoOs encontros dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo grupo a que se juntava cada vez mais gente tiveram conti-nuidade na Rua Joseacute Falcatildeo num edifiacutecio que pertencia agrave famiacutelia de Antoacutenio Batalha amigo do Quim da Susana que emprestou a casa Quatro ou cinco anos depois o grupo passa a ter poiso na Travessa dos Tanquinhos onde aluga um espaccedilo Por aqui se encontram du-rante alguns anos ateacute que deixam o espaccedilo e comeccedilam a encontrar-se em restaurantesEsse haacutebito tal como o de se encontrarem agraves quintas-feiras subsiste ateacute hoje Ateacute haacute cerca de dez anos todas as quintas-feiras do mecircs No entanto a crise fez com que come-ccedilasse a ser difiacutecil ter gente para os almoccedilos semanais e os conviacutevios comeccedilaram a ser mais espaccedilados Houve ateacute uma fase de dois ou trecircs anos que o grupo quase acabou Atu-almente encontram-se a cada terceira quin-ta-feira do mecircs

Solidariedade

ldquoJuntamo-nos em restaurantesrdquo diz Porfiacuterio Silva atual presidente dos Almoccedilaristas ldquoO almoccedilo tem um preccedilo fixo e todos os tertulia-nos pagam o mesmo Natildeo temos soacutecios nem quotasrdquo esclarece e ldquocom o dinheiro que sobra dos almoccedilos ajudamos quem precisardquo Entidades locais como o Ateneu Artiacutestico Vi-lafranquense os Bombeiros Voluntaacuterios ou a Liga dos Amigos do Hospital satildeo algumas das entidades jaacute agraciadas pelos Almoccedilaristas que jaacute acorreram tambeacutem a algumas neces-sidades de particulares

Porfiacuterio Silva e Joatildeo Lopes

Sem sede proacutepria fazem justiccedila ao nome e vatildeo-se encontrando em almoccedilaradas

sempre agrave terceira quinta-feira de cada mecircs

A Tertuacutelia do Grupo de Confraternizaccedilatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo existe haacute mais de quarenta anos e pelos

seus conviacutevios jaacute passaram nomes como Maacuterio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor

Mendes Gustavo Zenkl Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal

Euseacutebio ou Coluna

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

1|

2| 3| 4| 5|

A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 14: Revista Colete Encarnado 2015

Juventude precisa-se

ldquoA tertuacutelia encontra-se muito envelhecidardquo lamenta Porfiacuterio Silva ldquonos uacuteltimos anos natildeo tecircm entrado novos elementosrdquo ldquoO facto de nos encontrarmos agraves quintas-feiras altura em que a maior parte das pessoas mais jovens se encontra a trabalhar eacute um impeditivo para que se juntem ao grupo pessoas com menos idaderdquo reco-nhece O grupo vai assim diminuindo com muita pena de Joatildeo e Porfiacuterio que recordam outros tempos em que se organizavam anualmente festas Camperas com tentas conviacutevio petiscos e muita anima-ccedilatildeo Frequentes eram tambeacutem as deslocaccedilotildees em grupo a Espa-nha para assistir a corridas nas emblemaacuteticas Praccedilas de La Ma-estranza Sevilha ou Las Ventas em Madrid Mas o envelhecimento dos tertulianos natildeo eacute sinoacutenimo de falta de energia e de vontade de dar continuidade aos Almoccedilaristas natildeo sendo raros os que se deslocam religiosamente de Coimbra ou Lisboa para o conviacutevio num ritual que ao longo de 44 anos reu-niu inuacutemeras memoacuterias algumas das quais documentadas em fotografias e ldquopapeladardquo que pelo facto de natildeo existir sede proacute-pria se encontram dispersas na posse de elementos do grupo ou familiares

Anos 80 - Festa Campera na Quinta da Foz Benavente O convidado foi o cavaleiro Gustavo Zenkl (na foto) Estaacute tambeacutem um dos fundadores da Tertuacutelia Choni

ldquoTemos por haacutebito convidar uma pessoa ligada agrave tauromaquiardquo

Antigo eacute o haacutebito de convidar para os seus almoccedilos personalidades ligadas agrave Tauromaquia sobretudo cavaleiros e forcados para que possam partilhar histoacuterias e vivecircncias que mantecircm acesa a paixatildeo do grupo pela Festa Por estes conviacutevios passaram nomes como Maacute-rio Coelho Joseacute Juacutelio Vitor Mendes Rui Bento Vasquez Antoacutenio de Portugal ou Gustavo ZenklMas nem soacute de Toiros se conversa nos ldquoAlmoccedilaristasrdquo Natildeo querendo perder a sua vertente de tertuacutelia tauromaacutequica assumem em tom de brincadeira ldquoagraves vezes falamos mais de bola do que de toirosrdquo Euseacutebio cuja aficioacuten era bem conhecida foi um dos convidados do grupo tal como Maacuterio Coluna

Colete Encarnado eacute a Festa que tem mais brilho

O saacutebado de Colete Encarnado eacute pon-to de encontro para os Almoccedilaristas que natildeo perdem esta oportunidade de brindar agrave ldquoFesta com mais brilhordquo con-sideram Durante alguns anos este era o dia em que se juntavam agrave tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo a convite de Joseacute Amador que oferecia aos amigos ldquoAlmoccedilaristasrdquo o almoccedilo de saacutebado e a sardinhada da mesma noite Nesta ocasiatildeo ldquoOs Almoccedilaristasrdquo natildeo perdem oportunidade de se vestir a rigor envergando com orgulho as camisolas com o logoacutetipo da tertuacutelia onde como natildeo poderia deixar de ser para aleacutem do toiro natildeo faltam o copo faca e o garfo

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano

Tertuacutelia Os Almoccedilaristas

2009 - Almoccedilo anual dos ldquoAlmoccedilaristasrdquo na Feira de Outubro Tertuacutelia ldquoSol e Sombrardquo

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 15: Revista Colete Encarnado 2015

Vila-franquense de alma e coraccedilatildeo

Eacute de Vila Franca de Xira a famiacutelia de Francisco Rocha mas por um acaso da vida foi em Setuacutebal que nas-ceu o cineasta exatamente um ano antes da primeira ediccedilatildeo do Colete Encarnado Da infacircncia guarda a me-moacuteria do antigo cinema onde ldquode uma maneira ou de outra natildeo passava um filme que natildeo fosse verrdquoEm crianccedila improvisava sessotildees de cinema para os amigos nas escadas do preacutedio ldquo Eacute do Jornal O Mosquito que nasce a minha paixatildeo pelo cinemardquo confessa-nos ldquoRecortava os quadradinhos colava-os todos numa grande fita e ia fazendo uma bobine Depois convidava--os para virem ao cinema O argumento ia passando e eu contava a histoacuteriardquo relembra com ternura no olhar Sendo desde sempre um apaixonado pela Leziacuteria pelo Campino por Toiros e Cavalos e por toda a envolvecircn-cia da Festa cedo encontrou em Vila Franca de Xira a inspiraccedilatildeo para filmar e na atmosfera uacutenica e casticcedila da cidade um ldquodecor especialrdquo que ateacute hoje o fascina Orgulha-o por isso ser seu Cidadatildeo de Reconhecido Meacuterito

Da marinha de guerra a repoacuterter televisivo

Aos 16 anos Francisco Rocha ingressa na Marinha de Guerra ao serviccedilo da qual conheceu o mundo ndash Aacutefri-ca Iacutendia Japatildeo Timor Macau Paquistatildeo Ceilatildeo Aus-traacutelia Estados Unidos da Ameacuterica ou Singapura satildeo alguns dos siacutetios onde esteve e vivenciou aventuras proacuteprias da juventude e de quem eacute apaixonado por vi-ver e aprender Quatro anos depois eacute a bordo de um submarino que atraca no porto de Setuacutebal e conhece finalmente a cidade onde nasceu Mas se o mar eacute uma das suas grandes paixotildees eacute na televisatildeo enquanto repoacuterter televisivo que continua o seu percurso profissional Durante muitos anos cor-respondente da Raacutedio Televisatildeo Portuguesa foi con-vidado pela Televisatildeo Espanhola para trabalhar num programa sobre Tauromaquia passando depois para programas de iacutendole cultural e cientiacutefica Durante vaacute-rios anos acompanhado pelo seu grande amigo Joatildeo Mascarenhas que aiacute trabalhava como criacutetico taurino volta a percorrer mundo

Tem 83 anos As contingecircncias da vida ditaram que nascesse em Setuacutebal mas eacute vila-franquense que se sente O cineasta de Vila Franca tem uma vida repleta de histoacuterias e aventuras que muitos soacute imaginam Pertenceu agrave Marinha de Guerra fundou uma raacutedio correu mundo Francisco Rocha do menino que inventava peliacuteculas de filme com recortes de jornal ao homem vivido que continua a deslumbrar-se com a magia do cinema

Francisco RochaO cinema os toiros e o mar

no intenso percurso de um apaixonado pela vida

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A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 16: Revista Colete Encarnado 2015

A par da sua atividade profissional na televisatildeo con-tinua a dar largas agrave sua paixatildeo pelo cinema No iniacutecio dos anos 70 do seacuteculo passado Francisco Rocha eacute dis-tinguido com o primeiro preacutemio no Festival Mundial de Cinema Amador de Montepellier com o filme ldquoCampo em Festardquo Esta importante distinccedilatildeo valer-lhe-ia uma outra prestada pelo Governo Espanhol atraveacutes do en-tatildeo Ministro de Turismo e Informaccedilatildeo que ateacute hoje natildeo obstante as vaacuterias homenagens que lhe tecircm vindo a ser prestadas guarda com especial carinho

ldquoAteacute que um dia comprei uma maacutequinardquo

Autodidata a crianccedila que comeccedilou a brincar ao cinema com 78 anos e que ia para Lisboa em busca de montras onde pudesse encontrar coisas sobre a 7ordf Arte assu-me ldquotudo o que diz respeito ao cinema sempre me apai-xonourdquo Comeccedilou a filmar a seacuterio aos 17 anos numa al-tura em que a teacutecnica estava ainda nos seus primoacuterdios em Portugal e natildeo havia cinema a coresldquoUm dia comprei uma maacutequina um caixote da Kodak e comecei a filmar a famiacutelia Mas ao filmar a famiacutelia a maacutequina fugia-me sempre para as paisagensrdquo re-lembra divertido ldquoFui sempre cineasta de Vila Fran-ca Tenho quiloacutemetros de filme ndash de 16 mm peliacutecula cassetes DVDs blue ray ou ateacute 3D sobre a cidaderdquo A vontade de aprender coisas novas e acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia marca a conversa com Fran-cisco Rocha que impressiona pela vivacidade com que fala das mais recentes teacutecnicas a que entusiastica-mente jaacute aderiu ldquoUma das coisas que mais gosto eacute de tecnologia e sempre que aparece algo novo fico de imediato apaixonado por issordquoNuma cidade cuja identidade eacute indissociaacutevel da Festa eacute na Tauromaquia que desenvolve grande parte do seu trabalho como cineasta ou natildeo fosse esta mais outra das suas grandes paixotildees Da sua extensa filmografia quase um milhar de filmes destaca obras como ldquoSim-biose Taurinardquo ou ldquoA Catedralrdquo este uacuteltimo ldquoum docu-mento histoacuterico que retrata Alcameacute e Vila Francardquo e eacute com orgulho que nos diz ter um trabalho que relata 72 ediccedilotildees da Festa do Colete Encarnado ldquoO cinema eacute fotografia em movimento eacute contar histoacuterias sem falar que eacute o que mais gosto de fazerrdquo conta-nos ldquoE eacute isso que tenho feito servindo-me da Leziacuteria e do campino

tenho contado todo o tipo de histoacuteriasrdquo Cavalos cam-po ruas e vielas casticcedilas toureiros e campinos for-cados tradiccedilotildees Festa A histoacuteria e as vivecircncias riba-tejanas as nossas vivecircncias assumem protagonismo na filmografia de Francisco Rocha num importante legado histoacuterico para as geraccedilotildees vindouras

A raacutedio

Foi da editora Valentim de Carvalho onde esteve mui-tos anos que trouxe o bichinho da muacutesica Um dia so-nha criar uma raacutedio onde a muacutesica e os programas de animaccedilatildeo marquem a diferenccedila no Concelho um espaccedilo aberto agrave participaccedilatildeo a acolher pessoas de di-ferentes quadrantes poliacuteticos e assim nasceu a Raacutedio Leziacuteria As primeiras emissotildees fecirc-las completamente sozinho Comeccedilou depois a ter colaboradores e a raacute-dio transformou-se numa espeacutecie de escola de onde saiacuteram vaacuterios locutores profissionais Eacute com carinho que relembra o programa infantil ldquoFormidaacutevelrdquo que nos anos 80 mobilizava as crianccedilas da zona A ldquosuardquo raacutedio Leziacuteria desempenhava entatildeo um importante papel de intervenccedilatildeo a niacutevel poliacutetico cultural e de espetaacutecu-lo Haacute medida que considera se comeccedila a desvirtuar o papel das raacutedios locais vai-se desligando desse mundo

Viver aprender desfrutar

Tem um riquiacutessimo espoacutelio de corridas filmadas ao longo de todos estes anos Atualmente com recurso agraves mais recentes teacutecnicas dedica-se agrave conversatildeo da sua filmografia para suporte digital Continua a filmar e a aprender sempre Na sua histoacuteria de vida e por todas as aacutereas por onde jaacute passou haacute uma carateriacutesti-ca comum ndash a vontade de acompanhar a evoluccedilatildeo dos temposldquoPassei por este mundo e vivi desfrutando o mais possiacutevel Tambeacutem passei por alguns maus momentos mas esses vou procurando esquecerrdquo remata o cineasta de Vila Franca

Texto Carla Coquenim Fotografia Ricardo Caetano (6)

Francisco Rocha (espoacutelio)

1| Francisco Rocha filmando mais uma corrida2| Francisco Rocha agrave conversa em Espanha com o famoso picador que estava ao serviccedilo de Pedrito de Portugal3| Francisco Rocha com Joseacute Falcatildeo e Rogeacuterio Janeiro Matins4| Francisco Rocha com o ceacutelebre fotografo taurino espanhol Francisco Cano5| Francisco Rocha filmando o matador Ortega Cano6| Francisco Rocha 20157| Francisco Rocha numa visita ao Egito

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EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 17: Revista Colete Encarnado 2015

EXPOSICcedilAtildeO Maacuterio Coelho

Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureiro

Com inauguraccedilatildeo a 27 de junho a exposiccedilatildeo ldquoMaacuterio Coelho Da Prata ao Ouro A Vida de um Toureirordquo estaraacute patente no Celeiro da Patriarcal em Vila Franca de Xira ateacute ao proacuteximo dia 11 de outubro do corrente ano Esta iniciativa ocupa um lugar de destaque na 26ordf ediccedilatildeo da Semana da Cultura Tauromaacutequica ao trazer para o universo da Festa Brava importantes reflexotildees sobre este fenoacutemeno cultural nomeadamente atraveacutes da concretizaccedilatildeo de coloacutequios sem esquecer eacute certo o cerne da proacutepria exposiccedilatildeo um olhar biograacutefico sobre a vida e carreira do matador de toiros Vila-franquense Maacuterio Coelho no ano em que este completa 60 anos de profissionalizaccedilatildeo

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xirawwwcm-vfxirapt

2 a 11 outubro 2015

Vila Franca de Xira

FEIRA ANUAL

XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO

Page 18: Revista Colete Encarnado 2015

Foi no nordm 5 da Travessa do Alecrim em Vila Franca de Xira que no dia 25 de marccedilo de 1936 Maacuterio Coelho nasceu Menino sonhador e rebelde cedo se apaixo-nou pela arte que viria a constituir a ambiccedilatildeo da sua vida ser toureiro Caracterizado pelo forte caraacuteter que sempre o determinou estava traccedilado o caminho que ininterruptamente o nortearia Os primeiros passes de capote foram dados a toiros improvisados sempre sob o olhar atento de um puacuteblico imaginaacuterio puacuteblico esse que comeccedilou a tornar-se real quando Maacuterio Coelho se comeccedilou a salientar nas esperas e largadas da sua terra natal e restantes localidades onde corressem toiros pelas ruas

Mas foi no dia 3 de outubro de 1955 na Praccedila de Touros Palha Blanco que Maacuterio Coelho envergando um tra-je de ldquolucesrdquo jaacute velhinho que a habilidade de sua matildee ajudara a renascer prestou provas para bandarilheiro praticante colocando-se frente a frente com um toiro do Exmo Sr Juacutelio Borba e tendo tido como Padrinho Manuel Paveia Em 2015 assinala-se pois o princiacutepio de uma extensa e notaacutevel carreira enquanto toureiro profissional

A 25 de julho de 1967 em Badajoz tomou a sua al-ternativa como matador de toiros das matildeos de Juacutelio Apariacutecio tendo tido como testemunha ldquoEl Pireordquo Con-firmou-se na Monumental do Meacutexico a 15 de fevereiro de 1976 e depois na Monumental de Madrid a 14 de maio de 1980 Era a concretizaccedilatildeo de um sonho torna-do realidadeAo longo da sua carreira na qual chegou a ser consi-derado o melhor bandarilheiro do mundo Maacuterio Coe-lho pisou as mais importantes Praccedilas

Tendo lidado mais de 3000 touros o Maestro vila-fran-quense pelas matildeos do seu filho cortou a coleta a 20 de setembro de 1990 na Praccedila de Touros do Campo Pequeno dando a garantia aos aficionados que dele se despediram com lenccedilos e laacutegrimas que jamais vol-taria a vestir-se de ldquolucesrdquo o que cumpriu ateacute hoje

Tratando-se de um percurso iacutempar no domiacutenio da his-toacuteria da tauromaquia nacional e internacional natildeo pode deixar de visitar esta exposiccedilatildeo e tomar contacto com momentos que fazem parte da nossa identidade

CuradoresIdalina Mesquita

Joatildeo Ramalho

ESPETAacuteCULOSPALCO DA AV PEDRO VICTOR

4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

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4SAacuteBADO

A partir das 22h30

5DOMINGO

A partir das 22h00

ldquoArdea Purpuraldquoe Fadistas de Vila Franca de Xira

ldquoDIABO NA CRUZrdquo ldquoVOODOO MARMALADErdquo

ldquoSONIDO ANDALUZrdquo

3SEXTA-FEIRAA partir das 23h00

ldquoAMOR ELECTROrdquo ldquoUXU KALHUSrdquo ldquoROD THA FUNKrdquo

COLETE ENCARNADO REVISTAPropriedade Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira Direccedilatildeo Presidente da Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira ndash Alberto Mesquita Ediccedilatildeo Cacircmara Municipal de Vila Franca de Xira - Divisatildeo de Cultura Turismo Patrimoacutenio e Museus e Divisatildeo de Informaccedilatildeo Municipal e Relaccedilotildees Puacuteblicas Coordenaccedilatildeo Editorial Claacuteudio Lotra Redaccedilatildeo Ana Sofia Coelho Carla Coquenim Idalina Mesquita Joatildeo Ramalho e Prazeres Tavares Fotografia Heacutelder Dias Pedro Batalha Ricardo Caetano Viacutetor Cartaxo e fotografias gentilmente cedidas por Francisco Rocha Tertuacutelia ldquoOs Almoccedilaristas Maacuterio Coelho e ainda pela famiacutelia de Seacutergio Perilhatildeo Design e Paginaccedilatildeo Carla Feacutelix Impressatildeo Alextipo Lda Tiragem 3000 exemplares Distribuiccedilatildeo gratuita | junho de 2015

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XXXV SALAtildeO DE ARTESANATO