revista ciência em jogo

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CIÊNCIA EM JOGO Revista Informativa número 1 - ano 2015 PESQUISA ALERTA viçosenses estão muito sedentários! Videogames hobby que virou alternativa ecaz contra a preguiça

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Revista feita como Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. O objetivo é divulgar pesquisas científicas feitas na área do esporte e prática de atividades físicas.

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Page 1: Revista Ciência em Jogo

CIÊNCIA EM JOGORevista Informativa número 1 - ano 2015

PESQUISA ALERTAviçosenses estão muito sedentários!

Videogameshobby que virou alternativa ecaz contra a preguiça

Page 2: Revista Ciência em Jogo

Projeto Experimental de Conclusão do curso de Comunicação Social-Jornalismo.

Departamento de Comunicação Social.

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Universidade Federal de Viçosa.

Produção, reportagem e edição: Fernanda Lopes e Lílian Moura

Orientação: Ernane Corrêa Rabelo

Diagramação e projeto gráfico: Camila Calixto

Fotos: Fernanda Lopes, Lilian Moura, Samuel Angelo, reproduções da internet

Gostamos muito de esportes e atividades físicas, e foi esse gosto que nos levou a pensar nessa revista. Buscando algo além das regras, das

modalidades, ou da prática em si, fomos conhecer um pouco da ciência que envolve todo esse universo. Ciência em Jogo é uma revista de

divulgação científica na área do esporte e da atividade física. Acreditamos que esses temas estão presentes no cotidiano das pessoas e a ligação deles com a ciência pode contribuir com o processo de

aprendizagem dos leitores. Aqui tratamos o conteúdo de maneira simples e usamos a linguagem mais informal, além de infográficos e fotografias

que ajudam na construção da informação. Ciência em Jogo apresenta alguns dos muitos estudos que são feitos pelos pesquisadores do

Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa. Queremos mostrar para vocês a relação entre a prática da atividade física e do esporte e áreas como a saúde, nutrição e até a tecnologia. Convidamos todos a lerem e descobrirem o tanto de coisa legal que

a gente encontrou durante a produção porque ciência e esporte têm tudo a ver

Carta ao leitor

Vem gente!Ótima leitura a todos.

Fernanda Lopes e Lílian Moura

Entrem em contato com a gente queremos saber suas opiniões e sugestões. [email protected]

[email protected]

Page 3: Revista Ciência em Jogo

Futebol

2

Saúde

11

Bem-estar

15

Tecnologia

20

Nutrição

25

É uma partida pesquisa de futebol (p. 3)

“Olho no lance” (p. 4)

Parece brincadeira, mas é ciência (p. 6)

FUT-SAT – a análise completa do jogo e dos jogadores de futebol (p. 8)

Exercícios físicos para ossos fortes (p. 14)

Pesquisa alerta: os viçosenses estão muito sedentários! (p. 12)

O esporte no caminho contra as drogas (p. 16)

Coloque o esporte na sua rotina e espante o risco de doenças (p. 17)

Esporte para todos (p. 18)

Enxergar o calor para prevenir lesões (p. 21)

Videogame contra o sedentarismo (p. 23)

Lanchar antes de se exercitar ou não? Eis a questão (p. 26)

O que está dentro da xícara de café? (p. 28)

Espaço do pesquisador

O que você quer saber?

índice

2932

Page 4: Revista Ciência em Jogo

Futebol

O esporte mais popular do país merece um espaço especial por aqui, não é? A primeira editoria da nossa revista vai te mostrar

pesquisas realizadas na UFV para estudar o desempenho dos jogadores e tentar melhorar o rendimento deles em campo.

Ainda tem uma matéria bem bacana sobre o Núcleo de Pesquisas e Estudos em Futebol.

2

Page 5: Revista Ciência em Jogo

É uma partida pesquisa de futebol

O fu tebo l es tá presente na v ida do brasileiro. Seja jogando uma partida no m

de semana, torcendo para o time do coração, assistindo aos campeonatos

pela televisão, ouvindo jogos pelas rádios, ou mesmo dizendo: “eu não gosto de futebol. Não sei nada sobre isso. Que coisa mais inútil um monte de gente correndo atrás de uma bola”.

Sendo assim, cada vez mais brasileiros têm estudado o futebol c i en t icamen te . Tem gen te querendo expl icar porque os

craques são craques, quais são os compor tamentos padrões dos

melhores atletas durante a partida, táticas de jogo e até gestão dos clubes. Na Universidade Federal de Viçosa o

Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol (Nupef) reúne, desde 2010, um monte de gente

que une a ciência ao futebol. O principal objetivo dos pesquisadores é contribuir para a construção de atletas

mais inteligentes e criativos para o jogo, além de formar prossionais capazes de atuar em todas as áreas do futebol, tendo sempre a ciência como aliada. Alunos de mais de 20 estados do Brasil e também dos Estados Unidos, Canadá e Colômbia já passaram por formações oferecidas pelo Núcleo

O time do Nupef é coordenado pelo professor Dr. Israel Teoldo da Costa, que foi quem idealizou o Núcleo. As pesquisas desenvolvidas seguem a linha da relação entre o futebol e a cognição. A cognição, de maneira simplicada, se refere à tomada de decisão. Coisa fundamental durante as partidas do futebol, não é mesmo?

Os laboratórios de estudos do Nupef são: de Cognição e Ação Esportiva; Laboratório de Psicologia do Esporte e Laboratório de Análise de Jogo.

Cada laboratório tem um equipamento especial que auxilia no desenvolvimento das pesquisas e os resultados já têm aparecido e sendo apresentados à dirigentes de clubes de todo o Brasil. No entanto, um dos pesquisadores do Nupef, Felippe Cardoso, arma ser necessário “criar ferramentas que possibilitem a entrada do meio cientico no meio prossional, ainda existe uma distancia muito grande aqui, porque o futebol é um esporte de certa forma amador no Brasil”.

O meio-campo e lugar dos craquesQue vao levando o time todo pro ataque

O centroavante, o mais importanteQue emocionante, e uma partida de futebol

O meu goleiro e um homem de elasticoOs dois zagueiros tem a chave do cadeado

Os laterais fecham a defesaMas que beleza e uma partida de futebol

««

Bola na trave nao altera o placarBola na area sem ninguem pra cabecear

Bola na rede pra fazer o golQuem nao sonhou em ser um jogador

de futebol?�

«

«

Futebol e ciência tem tudo a ver, o Nupef está provando isso e aqui na Ciência em Jogo você vai

conhecer um pouco do trabalho que esses craques têm realizado.

Curioso para saber mais sobre o Nupef? Visite o site www.nucleofutebol.ufv.br

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~

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3

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Page 6: Revista Ciência em Jogo

O seu time está perdendo a nal do

campeonato, mas um gol pode mudar tudo

e justicar as faixas de 'tricampeão' que

pelo menos metade dos torcedores carrega

no peito desde a abertura dos portões do

estádio. O jogo é em casa e você é mais

um na multidão que assiste tensa aos

últimos minutos do segundo tempo. Os

gritos de 'é campeão' da torcida adversária

soam cada vez mais fortes enquanto do

seu lado pode-se ouvir a respiração do

companheiro de aição e de camisa.

Os olhos, no entanto, não saem do cam-

po. O zagueiro rouba a bola e o seu time

arma um contra-ataque, a última chance

do jogo, e consegue fazer uma ligação

rápida com o centro avante que vê o ata-

cante livre já na grande área do adversá-

rio. Uma olhada rápida para os lados, um

drible e um lançamento perfeito. Bola nos

pés do atacante que em segundos percebe

a chegada dos marcadores, mas também

a presença do seu companheiro de time

que avançava pela esquerda. Um drible

para se livrar da marcação e um passe

rme para a esquerda. O outro atacante

ajeita e bate. Gol! A torcida enlouquece

gritos, lágrimas... Fim de jogo.

Nas arquibancadas a emoção fez a

diferença, no campo foram as decisões

que marcaram a partida. E essas tomadas

de decisões dos jogadores durante a parti-

da são o objeto de estudo cientíco do

Laboratório de Cognição e Ação do Nupef.

As pesquisas nesse laboratório buscam

desvendar como é o processo mental que

leva o jogador a tomar as melhores deci-

sões no jogo, e também pretendem mos-

trar quanto tempo essas decisões demo-

ram a serem tomadas pelos bons jogado-

res (aqueles que costumam ser tratados

como craques) e pelos outros.

Para fazer essas análises os pesquisa-

dores usam um equipamento chamado

EyeTracking. Esse aparelho é composto por

óculos com um par de câmeras. “Uma

câmera capta a imagem do ambiente e

outra joga um raio infravermelho que con-

segue captar o comportamento da córnea

e da pupila. Esses dados se cruzam em

um software ligado aos óculos e, assim, é

possível identicar exatamente o lugar

para onde o indivíduo está olhando”, expli-

ca o pesquisador Felippe Cardoso.

Saber para onde o jogador olha em

lances apresentados em vídeos tem gera-

do resultados importantes para o reconhe-

cimento de atletas que têm o perfil de

“craque”.

Durante o teste os atletas colocam os

óculos especiais e, sentados em uma

cadeira, assistem aproximadamente 15

vídeos de sequências ofensivas de uma

partida de futebol. Os lances são pausa-

dos em momentos estratégicos e o atleta

demonstra em um tablet o que faria na

continuação daquela jogada. Em outro

momento, ele assiste a mais vídeos, mas

a tarefa é diferente, dessa vez ele precisa

antecipar o movimento que o jogador faria.

Olho no LanceLance

4

!

4

Page 7: Revista Ciência em Jogo

Também são feitos testes em campo,

onde é avaliada a capacidade tática e o

raciocínio que leva a tomada de decisões.

Os resultados dessas análises permitem

saber quem tem os melhores comporta-

mentos táticos, quem tem os piores, e

estudando as estratégias de busca visual

dos atletas é possível relacionar os dois

tipos de testes. Já é observado um padrão

completamente diferente do jogador que é

bom e o que é ruim taticamente em rela-

ção à busca visual.

Jogadores bons taticamente conseguem

reconhecer padrões de jogo de uma mane-

ira muito mais fácil, eles gastam menos

tempo procurando informações alheias à

jogada; sabem para onde têm que olhar;

conseguem mapear o ambiente de jogo de

uma mane i ra mui to mais

rápida e precisa, depois focar

especificamente na cena de

onde vão tirar a melhor infor-

mação. Com tudo isso eles

consegues se antecipar. O

jogador com menor proficiên-

cia tática tende a olhar sem-

pre pra bola. Já o jogador de destaque olha

para bola, mas não deixa de acompanhar

a movimentação dos companheiros e dos

adversários, e, assim, consegue antecipar

a decisão e, mais do que isso, fazer a

melhor escolha para o momento.

Outra descoberta desse laboratório veio

do teste feito especificamente na pupila.

Trabalhos com a pupilometria indicam que

existe uma relação direta da carga cogniti-

va com o comportamento pupilar. Alguns

estudos revelam que à medida que você

vai demandando maior exigência do siste-

ma neural para a tomada de decisão, a

pupila tende a dilatar. Depois que essa

exigência vai diminuindo, ela volta ao

tamanho de repouso.

Para facilitar o entendimento Felippe dá

um exemplo: “é como se fosse um teste

simples de matemática. Você pergunta

quanto é 3x3, o menino pensa, a pupila

dilata, à medida que ele resolve mental-

mente a solução e começa a falar a res-

posta, quando ele para de falar a pupila

volta ao tamanho de repouso”.

A ideia é simples e na prática também

ajuda a reconhecer quem serão os jogado-

res capazes de fazer o seu time ganhar o

campeonato no fim da partida.

É possível identificar, de modo geral,

que os jogadores com melhor rendimento

tático no jogo têm um esforço cognitivo

muito menor do que os jogadores com

menor proficiência tática. Principalmente

nas fases perceptiva e de processamento

da informação que são as mais importan-

tes pra tomada de decisão.

Agora, imagina um jogo de futebol, (esse

mesmo do seu time na final) onde o joga-

dor tem pressão da torcida, do técnico,

dos próprios companheiros de time e pou-

quíssimo tempo. “Se ele perde tempo

pensando ou para processar a informação

do que deve ser feito, acaba perdendo a

bola, e quando vê o cara do outro time já

fez o gol”.

Há quem ache que no futebol só devem

ser considerados os aspectos físicos,

porque durante um jogo o atleta corre 10

km, tem uma perda hídrica considerável, e

emagrece em torno de 4 kg. Mas, é impor-

tante lembrar que durante uma partida, de

noventa minutos, (36 de bola rolando), o

atleta faz 2 mil escolhas. Acha pouco?

Pois saiba que em um dia, de 24 horas,

uma pessoa toma dez mil decisões.

“A carga cognitiva é tão alta quanto a

carga física e fisiológica, ela tem uma

importância muito grande. E quando se

identifica esse padrão de eficiência cogni-

tiva consegue-se dizer:

esse jogador é bom tatica-

mente, é inteligente, é o

cara que vai decidir o jogo

no final”, explica o pesqui-

sador.

Depois dos testes pron-

tos , os resu l tados são

apresentados aos treinadores dos atletas

avaliados. Sabendo quais jogadores do

time são melhores taticamente e quais

não têm tanta habilidade, o técnico pode

mudar o modo de trabalhar com cada um

deles. A partir daí é possível desenvolver

estratégicas para melhorar

E não há quem duvide que esse jogador

exista. Ainda mais se tiver vivido alguma

situação parecida como a do torcedor

apresentado no começo dessa conversa.

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Page 8: Revista Ciência em Jogo

Parece brincadeiramas é Ciência

foto

Terça-feira, oito de julho de 2014, Mineirão, Belo Horizonte, Brasil contra Alemanha, jogo válido pela seminal da Copa do Mundo. O placar todos sabem de cor: 7 a 1 para os europeus. Até hoje é difícil engolir a maior derrota da história da Seleção Brasileira. Ninguém sabe muito bem o que aconteceu, mas o fato é que a Alemanha foi destruidora e passou por nós como um rolo compressor.

Depois da brilhante campanha dos alemães na Copa o mundo inteiro queria saber o segredo por trás do sucesso. A explicação começa lá na década de 90, quando pesquisadores passaram a usar a ciência para beneciar o futebol. De acordo com Felippe Cardoso, membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol, o Nupef, hoje os alemães podem pegar uma criança de nove anos, por exemplo, submetê-la a alguns testes e descobrir se no futuro ela terá chances de jogar na Seleção.

Parte desses estudos é feita com o Mental Test and Training System, MTTS. Um equipamento austríaco que foi desenvolvido para ser usado em exames de psicotécnico (aqueles que as pessoas fazem quando vão tirar carteira de motorista). Mas aí veio um alemão e percebeu que os testes que eram feitos naquele

equipamento podiam ser aplicados no campo do esporte, especi-camente do futebol.

Muita gente pode ver o MTTS e achar familiar, porque ele se parece com um videogame e os testes parecem jogos. O equipa-mento é composto por um monitor, um teclado com botões de comando, um sensor, dois pedais (um para o pé direito outro para o esquerdo) e dois painéis com pequenas luzes. Há dois anos o Nupef adquiriu esse equipamento e nós da Ciência em Jogo pudemos acompanhar uma avaliação e vamos te contar como foi.

O jogador teve que realizar atividades como manter uma bolinha dentro de uma mira e ao mesmo tempo ir apertando o pedal toda vez que as luzes verdes dos painéis piscavam, em outra ele teve que relacionar as imagens que apareciam na tela apertando o botão de cor verde do teclado, que também tem botões vermelho, amarelo, azul e teclas numeradas de 0 a 9. Por m, fez um exercício parecido com aqueles que têm em revistinhas para seguir a ponta de uma corda e descobrir onde ela termina. Tudo isso pode parecer muito simples e corriqueiro, mas através dos resultados dessas “brincadeiras” é possível avaliar o tempo de reação, a atenção e até mesmo a inteligência de um jogador.

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Page 9: Revista Ciência em Jogo

Quando se ouve falar em treino de futebol já se imagina logo os jogadores em campo, ensaiando lances e cobranças de falta. Mas toda essa parte feita em laboratório com o MTTS também é considera-da treino. Tudo o que for realizado nesses momentos se reete depois quando o atleta estiver com a bola nos pés.

Mas o que o jogador quer mesmo é ir para dentro das quatro linhas, não é? O teste do MTTS tem uma parte importante realizada dentro de campo. Marcelo Andrade, estudante de mestrado na Universidade Federal de Viçosa, desenvolve pesquisas usando o equipamento e explicou que o objetivo é relacionar os dados da análise tática feita no campo com o que for obtido nos testes em laboratório. Os resultados podem dizer se o atleta tem algum problema de atenção, memória, percepção e mostram qualidades que podem ser melhoradas. Por exemplo, vamos supor que um lateral esquerdo se submeta ao teste de percepção periférica e nota-se que ele tem uma ampla visão também do lado direito e com isso tem maior facilidade em enxergar espaços vazios em diferentes locais do gramado.

Todos esses dados obtidos com os testes são avaliados e passados para o treinador ter consciência das diculdades do jogador e treinar para corrigir o que for possível. Essas atividades para trabalhar especicamente algum problema ou melhorar ainda mais uma qualidade cam a critério da comissão técnica responsável pelo treino do atleta. Os exercícios são elaborados especialmente para cada jogador.

Atualmente a equipe do MTTS está avaliando atletas das categorias sub 13 e sub 15 do Viçosa Esporte e Lazer, o VEL. Mas antes disso foram feitos testes no Fluminense.

Viu só como o futebol é muito mais do que correr atrás de bola? Enquanto comemoramos aquele gol de placa que o craque do nosso time do coração fez, os pesquisadores estão em busca de novidades para tornar o futebol um espetáculo cada vez melhor.

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Page 10: Revista Ciência em Jogo

Para descobrir isso, a Ciência em Jogo conversou com o Davi Correia, estudante de mestrado no Departamento de Educação Física da UFV e atualmente coordenador do Laboratório de Análise de Jogo.

A análise começa no campo de futebol. Durante o teste cada time tem quatro jogadores (três na linha e um goleiro) e eles jogam em metade do campo durante quatro minutos usando um GPS para

monitorar a movimentação durante a atividade. Os atletas realizam diversos movimentos de acordo com a referência, que é a bola, e só fazem um princípio, mas o mesmo princípio pode ser realizado por mais de um atleta. Embora o teste seja com um número reduzido de atletas, é possível aplicar os resultados quando o time estiver completo.

Tudo isso é lmado e depois o vídeo é colocado no Soccer Analyzer, software desenvolvido como suporte para o FUT-SAT. Nesse programa o campo é dividido em três corredores (esquerdo, central e direito) e quatro setores (defensivo, médio

defensivo, médio ofensivo e ofensivo), a partir daí são geradas doze zonas. O próximo passo da investigação acontece no estudo desses vídeos. Quando o vídeo é pausado em uma jogada é possível clicar em cima da bola e ver onde está o centro do jogo, ou seja, onde acontecem as principais ações. Durante a análise é observado a posição de cada jogador, qual princípio ele está realizando e o resultado da ação. No m, eles avaliam quem se comportou de maneira mais adequada ou não durante o jogo de acordo com os princípios táticos fundamentais em uma partida de futebol.

Levanta a mão quem não ca fazendo análise do jogo enquanto assiste a uma partida de futebol! Todo mundo que gosta desse esporte se acha um pouco técnico, não é? Dá palpite nas substituições que o treinador faz, grita quando o jogador

erra algum passe ou está mal posicionado, tudo isso sentado no sofá da sala, é claro. Mas tem uma galera que leva muito a sério essa história de analisar jogos. O Núcleo de Pesquisas e Estudos em Futebol, Nupef, por exemplo, tem um

laboratório inteiro dedicado a isso.

A análise completa do jogo e dos

jogadores de futebol

Para desenvolver as pesquisas, o Laboratório deAnálise de Jogo trabalha com o Sistema deAvaliação Tática no Futebol (FUT-SAT), método desenvolvido pelo professor Israel Teoldo Costa durante seu doutorado. As bases de avaliação são os princípios táticos fundamentais de um jogo de futebol. Os pesquisadores dividem esses tais princípios:

na defesa em

no ataque em

contenção, cobertura defensiva, equilíbrio e concentração

penetração, mobilidade, cobertura ofensiva e espaço

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Page 11: Revista Ciência em Jogo

Se aparecer na análise alguma falha na execução do princípio da penetração, que é o

avanço com bola no campo do adversário, o atleta pode passar por exercícios que melhorem isso. Nesse caso o técnico pode, por exemplo, fazer uma restrição de passes, onde o

jogador é impedido de tocar a bola para o companheiro. Esse tipo de limitação faz com que o atleta se acostume com vários contextos diferentes de jogadas e, com o tempo, ele vai

evoluindo e melhorando o princípio da penetração.

Imagine uma situação

Além de detectar deciências, os resultados do FUT-SAT também podem direcionar qual a melhor posição para um atleta. Por exemplo, se um jogador diz que é a tacante , mas duran te o t es te é observado que ele desenvolve muito melhor os princípios defensivos do que os ofensivos, o atleta pode ser deslocado para o setor onde ele mostrou melhor desempenho.

Os testes no FUT-SAT são de quatro minutos, mas o que acontece nesse tempo pode mudar de acordo com o objetivo da pesquisa feita. No mestrado do Davi, os garotos têm 18 segundos para nalizar uma j ogada em d i reção ao go l . Os resultados nais também dependem do que cada estudo pretende, mas é possível concluir uma análise básica em até 30 dias.

O método de análise de jogo começou a ser oferecido ao mercado em 2010, portanto, eles ainda estão na fase de divulgação do FUT-SAT. Mas mesmo assim ele já foi usado em grandes clubes brasilei-ros, como Sport e Fluminense. E espere ouvir falar muito sobre FUT-SAT, porque de acordo com Davi, “o objetivo é dominar o mundo”!

Esse sistema permite avaliar o comporta-mento tático, que é a eciência individual de cada atleta, e o desempenho tático, que é o resultado das ações da equipe toda. Com isso é possível descobrir as deciências e potencialidades dos jogadores.

Esses treinamentos são desenvolvidos

pelos próprios técnicos e a análise de jogo oferece a eles informações precisas sobre as deciências de cada atleta, o que facilita o trabalho de aperfeiçoamento do jogador. Porque sabe aqueles livros de mil e um exercícios para futebol? Então, o Davi Correia comentou que eles são ótimos...

quando cam fechados! Já que “cada jogador tem uma característica e uma necessidade diferente, então as atividades devem ser desenvolv idas de forma personalizada para cada um. Não dá para apl icar sempre a mesma fórmula e esperar resultados inovadores.”

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Page 12: Revista Ciência em Jogo

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Page 13: Revista Ciência em Jogo

SaúdeConsultar o médico regularmente é importante para ter certeza de que está tudo bem com a sua saúde. Mas ninguém

merece consultas indesejadas, aquelas que você sabe que poderia evitar apenas mudando alguns hábitos do dia a dia. Manter o corpo em movimento é um dos melhores jeitos de ter uma vida saudável. Nas próximas páginas você vai ler

sobre pesquisas que mostram como a atividade física pode fazer diferença na sua saúde

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Page 14: Revista Ciência em Jogo

!Pesquisa alertaos viçosenses estão muito sedentários

Você faz atividades físicas regularmen-te? Não? Então você está num grupo com aproximadamente 460 pessoas entre 20 e 39 que moram em Viçosa e também não se exerc i tam e vocês não estão de parabéns por isso.

Esse número veio de uma pesquisa feita pelo Grupo de Estudo sobre Saúde e Alimentação em Viçosa, (ESA), coordenado pela professora do Departamento de Nutrição da UFV, Giana Zarbato. O estudo foi realizado com 660 voluntários. O objetivo era identicar se os viçosenses têm se movimentado e se eles sabem a relação da falta de atividades físicas com o risco de desenvolver algumas doenças. 70% dos avaliados são inativos e apenas 29,7% são ativos sicamente.

Além de identicar quem se exercita ou não, a pesquisa também tinha o objetivo de saber se as pessoas conhecem os fatores de risco de doenças. E olha o resultado: 77% acertaram ao responder que o sedentarismo é um fator de risco para o diabetes e 87% sabiam que não se exerc i tar pode aumentar o r isco de

hipertensão. O estudo mostra que a população tem

consciência dos fatores de riscos de certas doenças e sabe da importância da atividade física na prevenção delas. Mas ainda assim nota-se que é grande o número de pessoas que não se exercitam. Além disso, 35% dos entrevistados estavam acima do peso, mais de 11% eram fumantes e 72% consomem álcool.

Para selecionar voluntários os pesquisa-dores zeram um sorteio baseado em dados do IBGE. Foram sorteados 30 setores censitários (o município tem 107, 97 são urbanos e 10 rurais). Wellington Segheto, estudante de doutorado do Departamento de Nutrição da UFV explicou que esse é um número que a literatura considera representativo para uma cidade do tamanho de Viçosa. Depois foram sorteadas as quadras que iam entrar no estudo e, por m, em quais pontos das quadras eles começariam.

O trabalho foi de formiguinha, a equipe bateu de casa em casa em busca de pessoas entre 20 e 59 anos que topassem

participar da pesquisa. Quem aceitava r e s p o n d i a a u m q u e s t i o n á r i o c o m perguntas como: sexo, idade, cor da pele, estado civil, escolaridade, e algumas mais especícas como: o conhecimento sobre doenças crônicas, hábitos alimentares, histórico de saúde, se praticava alguma atividade física e, se sim, quanto tempo dedicava aos exercícios. Foram aplicados mais de mil questionários.

A segunda etapa foi agendar a visita dos vo luntár ios ao laboratór io . Lá e les coletavam sangue e faziam medidas antropométricas (um exemplo é aquela avaliação física feitas em academias que mede perímetro da cintura, medida de dobra cutânea pra identicar percentual de gordura e massa corporal). Eles ainda respondiam mais dois questionários, um para avaliar o nível de atividade física e o Questionário de Frequência Alimentar, QFA . A pressão arterial também era aferida. Depois os voluntários eram encaminhados à Divisão de Saúde para fazer o exame de densitometria óssea.

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Page 15: Revista Ciência em Jogo

Mais de 900 pessoas foram avaliadas, mas aqui estão os resultados de 660 viçosenses. Esse número corresponde a parcela de voluntári-os entre 20 e 40 anos. A pesquisa avaliou apenas a atividade física no lazer, ou seja, a que é intencional, quando a pessoa sai de casa com o

propósito de se exercitar. Aquela caminhada até a escola, por exemplo, aqui não foi considerada, embora também seja muito importante. E outro detalhe: para ser considerada sicamente ativa, a pessoa tinha que atingir ao menos 150 minutos de atividades por semana.

Está na hora de colocar a prática de atividades físicas no seu dia a dia, não é? Se são necessários 150 minutos por semana, isso que dizer que uma caminhada de 30 minutos por dia, de segunda a sexta, já é o suciente para melhorar sua saúde e prevenir várias doenças como a

obesidade, hipertensão e diabetes.Os resultados obtidos deixaram Viçosa à frente do município de Montes Claros, do norte de Minas Gerais, por exemplo. Um estudo

semelhante foi realizado na cidade e mostrou que apenas 20,7% dos entrevistados praticavam alguma atividade física. Os números de Viçosa são próximos aos de Salvador, na Bahia, onde 27,5% são ativos. Mas Joaçaba, município de Santa Catarina, deixa Viçosa, Montes

Claros e Salvador no chinelo. 42,6% dos participantes da pesquisa eram praticantes de atividades físicas.

64,69%

35,31%

homens

75,59%

24,41%

mulheres

70,3%

29,7%

Total entre homens e mulheres

inativos fisicamente

ativos fisicamente

13

Número de viçosenses inativos e ativos fisicamentede acordo com o sexo

Page 16: Revista Ciência em Jogo

existe uma combinação de dois fatores: a diminuição da secreção

de insulina e um defeito na ação do hormônio, conhecido como

resistência à insulina. Geralmente, o diabetes tipo 2 pode ser tratado

com medicamentos orais ou injetáveis e com atividade física

regular

Exercícios físicos para ossos fortesSegundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, mais de 12 milhões de pessoas

têm a doença no país. Os médicos recomendam a prática regular de atividade física como parte do tratamento. Mas de que maneira o esporte

ajuda a amenizar os efeitos do diabetes no corpo?

U m a p e s q u i s a d e s e n v o l v i d a n o Departamento de Educação Física da UFV avaliou a relação entre a prática de exercício físico e o fortalecimento dos ossos de diabéticos, já que a falta de insulina provocada pelo excesso de açúcar no sangue prejudica a formação dos ossos. O diabetes pode levar a uma perda óssea precoce. Existe um equil íbrio entre a produção e a degradação óssea. A produção é fei ta por uma célula especíca e a degradação por outra. “Em casos de diabetes o mecanismo de degradação é acelerado porque vai menos sangue para os ossos, então os processos de formação de um novo osso e reabsorção óssea cam prejudicados e o osso ca frágil”, esclarece

a médica Tarcila Paoli. O professor e pesquisador Antônio Natali

ainda lembra que “os ossos são projetados para oferecer resistência contra cargas que podem ser externas a eles (como cami-nhar), forças internas criadas por tensão dos ligamentos ou contração muscular, e da força gerada no contato de um osso com outro.

Sabendo disso, e da recomendação para que diabéticos usem o exercício físico como parte do tratamento, os pesquisadores buscaram descobrir de que maneira a prática da atividade física agia no corpo desse paciente, principalmente, em relação aos ossos, nesse caso.

Para chegar aos resultados os pesquisa-

dores usaram três grupos de ratos. Um grupo não t inha diabetes t ipo 1 (era saudável); um com animais com diabetes tipo 1 medicados com insulina e que zeram natação; e o último grupo de ratos com diabetes que não receberam insulina, mas praticaram a natação.

As avaliações consideraram a resistência a fratura, para saber cargas que o osso pode suportar sem quebrar, e o volume ósseo. Os ratos que praticaram natação (tanto saudáveis quanto diabéticos) mostraram uma reação positiva quanto a diminuição da perda óssea.Nos doentes os resultados foram ainda melhores quando a natação foi combinada com o uso da insulina.

O professor Antônio José Natali explica que os resultados indicaram que a insulina é fundamental para o controle da perda de massa óssea e da saúde tanto da parte mineral quanto da parte orgânica do osso. Natali

também afirma que “o indivíduo que tem perda óssea, mesmo que não tenha diabetes ganha massa óssea quando pratica exercício, ou tem o processo de degradação desacelerado”. Isso mostra a importância da

prática do exercício aliada ao tratamento com remédios.

O corpo humano produz um hormônio responsável por levar

parte do açúcar que está no sangue para dentro das células onde é utilizado como fonte de

energia. Esse hormônio é a insulina.

O órgão responsável pela produção da insulina é o pâncreas e quando ele não é capaz de produzi-la em quantidade suciente, ou quando esse hormônio não é capaz de agir

de maneira adequada no corpo acontece o diabetes.

os anticorpos do doente atacam as células que produzem a insulina. E o pâncreas perde a

capacidade de produzir esse hormônio

21

Uma pessoa diabética tem mais açúcar no sangue do que deveria e existem dois tipos de diabetes: o 1 e o 2

leia mais em www.diabetes.org.br

14

Page 17: Revista Ciência em Jogo

Bem Estar

Além de melhorar a saúde, praticar esportes também nos ajuda a ter mais conança em nós mesmos e a manter a autoestima lá em cima. E as atividades físicas têm mais poder do que a gente pensa. Nessa editoria você vai saber como ela ajudou

no tratamento de dependentes químicos e no desenvolvimento de pessoas com necessidades especiais. E ainda vai ver o

impacto que ela pode ter na vida dos adolescentes15

Page 18: Revista Ciência em Jogo

O esporte no Caminho contra as drogas28.000.000. Assustador esse número

gigante, não é mesmo? O signicado espanta mais ainda. Esse é o tanto de pessoas no Brasil que têm algum familiar que é usuário abusivo de álcool e outras drogas. O Dado é do Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), lançado em 2013 pela Universidade Federal de São Paulo.

Em Viçosa os dependentes químicos podem se tratar na Casa de Promoção e Caminho Bezerra de Menezes, espaço que funciona com doações e trabalho voluntário. A p r o f e s s o r a E v e l i n e To r r e s , d o Departamento de Educação Física da UFV, fez parte da equipe da casa em 2007. Durante esse período ela percebeu que a atividade física seria uma excelente maneira de ajudar no tratamento dos recuperandos, entre as práticas estavam o alongamento e o futebol. As atividades também eram usadas no trabalho de prevenção que a Casa fazia com as crianças. Eveline acredita que a “atividade física atua no resgate da autoestima e ajuda a restabelecer a conexão com outras pessoas.”

A realização desse trabalho com os jovens era muito importante porque servia como alternativa. Ao invés de passarem o m de semana na rua, passavam na Casa fazendo um monte de atividades recreati-vas, como pique pega. Na pesquisa feita para avaliar o projeto, Eveline comenta que o esporte ajuda no autoconhecimento. Ajuda o jovem a responder questões como “quem sou eu? O que eu tenho condição de fazer? Quais as competências que eu tenho? Como

eu posso desenvolver isso?”. E de acordo com Andrea, esses resultados nos jovens eram mais fáceis de perceber, já que as crianças e adolescentes são xas na casa, ou seja, um menino que participou dessa atividade em 2009 quando tinha 10, por exemplo, hoje, com 16, ele pode estar frequentar o grupo da juventude.

O projeto terminou no início de 2013 e deixou muitos resultados positivos. Com essa pesquisa nós vimos que os benefícios que as atividades físicas proporcionam para o corpo e para a mente podem ajudar no tratamento e na prevenção da dependência química.

Mas se é tão bom, por que parar? Lembra quando eu disse que a Casa do Caminho depende da ajuda de voluntários? Então, no momento eles estão sem ninguém capacita-do para dirigir esse tipo de atividade, um educador físico, por exemplo. O que torna o processo um pouco mais difícil é que, segundo a professora Eveline, não é tão simples achar alguém habilitado para lidar com esse público, é necessário ter prepara-ção especial.

É preciso entender, principalmente, que a atividade física “precisa estar inserida em um contexto onde diferentes conhecimentos se juntam para produzir uma ação efetiva, onde cada prossional respeita o ponto de vista do outro e entende a atuação do outro e age em conjunto com o outro.” Ou seja, o exercício é apenas uma parte do bolo. Existem muitas outras coisas por trás do

tratamento da dependência química, a começar pela força de vontade do depen-dente.

A Casa do Caminho surgiu da iniciativa de um grupo de pessoas que observou a presença de muitos dependentes químicos em Viçosa, mas não tinha nenhum lugar que oferecesse tratamento para a doença. De acordo com a atual presidente, Andrea Carvalho, a Casa já atendeu quase mil pessoas. O espaço recebe apenas homens, eles cam 60 dias internados lá e não precisam pagar nada por isso. O espaço também oferece atividades para crianças, adolescentes e mulheres moradores do bairro Santa Clara, onde a sede está localizada. Para se manter aberta depende da ajuda de doações e conta com uma pequena colaboração da Prefeitura Municipal de Viçosa.

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Tem um provérbio chinês que aponta o possível segredo para uma vida longa e plena: “Comer a metade, andar o dobro, rir o triplo”. Começar a fazer isso desde pequeno pode ser um bom jeito de cultivar hábitos saudáveis.

Mas essa fórmula comer a metade + andar o dobro não é a realidade de grande parte das crianças e adolescentes brasileiros que já apresentam altos níveis de doenças relacionadas ao sedentarismo, como a obesidade.

O pesquisador Ricardo Faria relacionou a atividade física à Síndrome Metabólica em adolescentes de 14 a 18 anos, do sexo masculino, e descobriu que os fatores que causam esse conjunto de doenças tendem a ser menores nos meninos que praticam algum esporte.

Ele propôs um cronograma de atividades esportivas a estudantes do ensino médio, moradores do alojamento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais, Campus Rio Pomba. O local só oferece moradia para homens, por isso apenas meninos participaram da pesquisa.

O processo foi dividido em duas etapas. Na primeira participaram 92 alunos. Eles preencheram um questionário de classicação econômica, zeram avaliação antropométrica, coleta de amostras sanguíneas, mediram a pressão arterial e zeram avaliação do nível de atividade física. Dos 92 que se dispuseram a participar da pesquisa, 36 foram diagnosticados com pré ou síndrome metabólica. Ricardo disse que o número o deixou espantado, ele achou que não fossem aparecer tantos meninos nessa situação.

Esses 36 estudantes diagnosticados foram encaminhados para a segunda etapa do projeto. Nesse momento eles foram divididos em dois grupos: Grupo de Intervenção, com 20 membros que seguiriam um cronograma com práticas esportivas e Grupo de Controle, com 16 pessoas que foram orientadas a seguir a rotina normal.

Dentre os 36 jovens participantes da pesquisa os resultados mostraram que: 34 apresentaram variação positiva no HDL, que é o chamado colesterol bom; em 27 foi notada alteração nos trigliceríde-os, que é um tipo de gordura presente no sangue e em níveis altos

causa problemas cardiovasculares; e a pressão arterial de 9 deles cou fora do normal mesmo depois da prática dos esportes.

Além disso, a avaliação das condições físicas deles antes e depois do período de prática constante desses esportes mostrou que a frequência de uma hora de partida quatro vezes por semana garante 42% da recomendação diária de atividade física moderada ou vigorosa para o grupo avaliado. Um fato interessante sobre a pesquisa é que, segundo o pesquisador, foi possível observar melhora no condicionamento físico nos dois grupos durante o tempo de monitoramento, até mesmo no de controle, onde o objetivo era manter os mesmos hábitos do dia a dia.

A pesquisa funcionou assim: durante 14 semanas os estudantes do Grupo de Intervenção praticaram voleibol, basquete, futebol society e futsal de forma recreativa, por uma hora, quatro dias por semana. As modalidades foram escolhidas pelos próprios participan-tes. Enquanto praticavam, os alunos usavam um medidor de freqüência cardíaca com GPS, que oferecia ao pesquisador dados sobre a variação de freqüência cardíaca, o deslocamento e o gasto calórico de cada um dos meninos.

Também foi medido o nível de atividade ou sedentarismo deles no dia a dia, mesmo quando estavam foram das quadras fazendo tarefas comuns. Para isso, era usado o acelerômetro, um aparelho que faz contagens por minuto dos níveis de aceleração da gravidade. Se o estudante zesse movimentos mais rigorosos a contagem aumenta-va, se fossem movimentos mais leves, como quando está sentado estudando, a contagem era menor. Dependendo dos níveis registra-dos era possível saber a intensidade da atividade que foi realizada em determinado momento.

Para continuar a levar benefícios aos alunos do IFET de Rio Pomba, Ricardo tem planos de tornar a pesquisa um projeto de extensão. Os jovens participariam de atividades físicas monitoradas para que fosse feito um acompanhamento da saúde dos estudantes.

E mais uma vez o esporte aparece como forte aliado para a manutenção de uma vida saudável. E com saúde ca fácil rir o triplo.

A Síndrome Metabólica é o conjunto de alterações em

diversas funções do corpo que leva à obesidade

e problemas cardiovascularesa. Segundo os critérios

brasileiros, ela ocorre quando estão presentes

três dos cinco critérios:

1. Obesidade central;

2. Hipertensão Arterial;

3. Glicemia alterada (ou diagnóstico de Diabetes);

4. Triglicerídeos aumentados;

5. Valor reduzido de lipoproteína de alta densidade (HDL).

Coloque o esporte na sua rotina e o risco de doençasespante

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Page 20: Revista Ciência em Jogo

esporte

para

todos O Programa Segundo Tempo Esportes Adaptados não deixa ninguém de fora

Toda semana cerca de 100 pessoas participam das atividades do Programa Segundo Tempo (PST) Esportes Adaptados, oferecido pela Universidade Federal de Viçosa. Entre esses beneciados está Thiago Alves. O menino de 12 anos é autista e desde os oito anos participa das atividades na UFV.

Uma das principais características do autismo é a diculdade de interação com outras pessoas. De acordo com o psicólogo Felipe Lisboa, o diagnóstico do transtorno pode ser feito com mais facilidade a partir dos três anos. Quando começou as atividades na UFV, Thiago participou de um acompanhamento para perder alguns medos. Durante esse período fez exercícios para perder a fobia de água, ele entrava aos poucos em uma piscina com a ajuda de um monitor e os dois andavam na parte rasa da piscina. Thiago também tinha medo de altura, e para superá-lo caminhava em uma trave de madeira,

parecida com aquelas usadas na ginástica artística, só que mais baixa. Depois dessa etapa, começou a praticar atividades físicas.

Nós da Ciência em Jogo acompanhamos uma partida de futsal do Thiago no PST. Era o time azul contra o time amarelo, meninos e meninas brincando juntos, os dois monitores iam orientando as jogadas e incentivando a participação de todos. Nosso atleta não cou parado! Vestindo o colete do time azul, Thiago participou de vários lances. O jogo terminou empatado.

Cleonice Alves, a mãe do Thiago, disse que é fácil perceber a evolução do lho depois que ele começou a participar do PST Esportes Adaptados. Ela contou, por exemplo, que Thiago tem muita força nas mãos e sempre quebrava os lápis quando ia escrever ou colorir, agora ele consegue controlar melhor essa força.

foto

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Page 21: Revista Ciência em Jogo

Para Cleonice a principal mudança do lho foi na comunicação, porque as atividades esportivas são sempre em grupo. Na escola o menino ainda não se soltou tanto, mas, de acordo com Felipe, a participação de Thiago no PST pode continuar estimulando a interação dele em diferentes ambientes.

O PST surgiu em 2003 e é uma política pública que permite que diversas pessoas tenham acesso ao esporte. O projeto é feito em parceria com o Ministério do Esporte do Governo Federal. A variação com Esportes Adaptados do programa, criada em 2010, é importan-

te porque possibilita que pessoas com deciência, que geralmente são excluídas das práticas esportivas, possam ter a oportunidade de aprender diferentes modalidades.

Nessa abordagem, o esporte é trabalhado na perspectiva educacional. São dois dias de atividade durante a semana e a manhã de sábado também é reservada para o PST. As crianças e os adolescentes atendidos pelo projeto têm contato com diferentes práticas esportivas e participam de outros tipos de atividades, como orientações em relação à saúde e passeios.

Bem legal o Projeto Segundo Tempo Esportes Adaptados, não é? Se você cou interessado e quer saber como faz para participar é só entrar no blog do PST,

psteaufv.blogspot.com.br. Se preferir pode ligar no 3899-3344Leia mais: Avaliação do Programa Segundo Tempo Esportes Adaptados.

Saiba mais sobre o autismo em: autismoerealidade.org/

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Page 22: Revista Ciência em Jogo

Tecnologia

Tecnologia não é só computador, smartphone e videogame, não! Tem muita coisa sendo desenvolvidapara ser usada no esporte. Inovações que permitem a prevenção de uma lesão antes mesmo que elaaconteça, por exemplo. Preparamos uma reportagem especial sobre a Termograa. Tecnologia utilizada por clubes do futebol brasileiro. E tem matéria sobre videogame também. Isso mesmo, jogar videogame pode ser um aliado no combate ao sedentarismo

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Page 23: Revista Ciência em Jogo

Enxergar o calor para previnir lesõesa no esporte

Você já viu aquelas imagens do corpo humano com partes coloridas de azul, vermelho, verde e amarelo? Isso é uma termograa e ela é feita por uma câmera fotográca capaz de registrar a temperatura do corpo. Essa tecnologia tem sido usada no controle de inamações e prevenção de lesões graves em atletas.

No Cruzeiro Esporte Clube, por exemplo, a termograa é usada desde 2012 e todos os jogadores do time comparecem ao Departamento Médico do clube 48 horas depois dos jogos para, entre outros procedimentos, posarem para essa foto especial.

A fotograa revelada pela câmera termográca mostra pontos mais quentesno corpo do atleta (marcados pela cor vermelha). Quando o jogador tem alguma lesão muscular, a parte atingida apresenta uma atividade metabólica maior e o que aparece na termograa é o calor excessivo gerado por essa atividade metabólica.

O siologista do Cruzeiro, Eduardo Pimenta explica que a termograa, associada a outros testes, ajuda a avaliar o desgaste físico do atleta e, a partir disso, ajustar a carga de treino para cada um. Eduardo arma que o uso dessa tecnologia contribuiu para uma redução signicativa do grau da lesão e, principalmente, dos dias de afastamento de atletas dos treinos.

O uso da termograa no esporte começou nos anos 2000 no Departamento Médico do Real Madri. No Brasil, o uso desse recurso na prevenção de lesões começou a ser estudado pelo professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa, João Carlos Bouzas. Foi ele quem atuou na instalação dessa tecnologia no Departamento Médico do Cruzeiro e comenta sobre os benefícios práticos, inclusive nanceiros, que a termograa traz ao esporte.

“Imagina um atleta de futebol que ganha 500 mil reais por mês. Ele só é bom quando está jogando. Então se eu evito que esse jogador que parado no departamento médico eu evito um prejuízo que seria

absurdo para o clube. E se o jogador recebe tudo isso signica que ele é importante para a equipe, que faz gols, é decisivo, e a ausência dele gera um prejuízo incalculável”

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Page 24: Revista Ciência em Jogo

Hipócrates, considerado o pai da Medicina, desenvolveu uma técnica considerada a precursora da termograa. O lósofo e médico grego notou que quando uma parte do corpo era mais quente ou mais fria do que outras, alguma doença poderia estar se desenvolvendo. Para vericar a oscilação de temperatura, ele sentia o calor da pessoa com as mãos, esfregava argila sobre o local possivelmente enfermo e observava a parte que secava primeiro. Foi dessa forma que nasceu a termograa.

Já a técnica moderna usa imagens em infravermelho para observar a variação de temperatura corporal. Ela funciona a partir do princípio de que todo corpo sólido, a uma temperatura acima do zero absoluto (-273 graus Celsius), emite radiação infravermelha.

Essa tecnologia começou a avançar depois da Segunda Guerra Mundial, mas era restrita para uso militar. Até que em 1955, um médico canadense pediu acesso à tecnologia para possível aplicação médica experimental. Ele aplicou o equipamento em pesquisas sobe o câncer de mama e descobriu que na área em que a doença estava havia um aumento da temperatura cutânea. Na década de 60 a empresa sueca AGA desenvolveu o AGA Thermovison, aparelho que permitia a observação instantânea e reproduções simultâneas das variações de temperatura do corpo humano. Mas as termograas só ganharam as cores que atualmente facilitam na observação das diferenças de temperatura, na década de 70.

A história da Termografia

LEIA MAIS EM:A História da Termografia- Prof. Dr. Marcos Leal Brioschi

mundoestranho.abril.com.br/materia/como-funciona-a-visao-em-infravermelho

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Page 25: Revista Ciência em Jogo

Oito minutos jogando videogame e pronto! A criança ou adolescente gastou tanta energia quanto se tivesse feitou uma caminhada.

Isso é o que mostra uma pesquisa feita com meni-nos e meninas com idade entre 8 e 13 anos em Viçosa. A pesquisadora Karina Canabrava avaliou as respostas do corpo de cada voluntário durante a prática dos jogos de aventura, de dança e boxe do XBoX 360 Kinect. Considerando também o sexo, a idade e o índice de massa corporal de cada avaliado.

Os resultados indicam que comparados à situação de repouso e com uma caminhada da esteira nas velocidades de 3, 4 e 5 Km/h os jogos ativos de videogame, esses em que o jogador não ca só sentado na frente da tela, “elevam substancialmente o consumo de oxigênio, o gasto energético, os equiva-lentes metabólicos e a frequência cardíaca”.

De acordo com a aferição da frequência cardíaca todas as modalidades de jogos analisados correspon-dem à intensidade moderada ou vigorosa. O que segundo Karina “demostra o potencial dos jogos ativos para a promoção de atividade física em crian-ças e adolescentes”.

Karina também aplicou questionários em 19 escolas de Viçosa buscando outras respostas como quantas pessoas tinham vídeogame, quantos apare-lhos de quais modelos e o tempo de uso diário ou semanal desses jogos. 3626 escolares (1815 meninas, 1738 meninos, 73 não informado) respon-deram às perguntas e as respostas indicaram queKa-rina também aplicou questionários em 19 escolas de Viçosa buscando outras respostas como quantas pessoas tinham vídeogame, quantos aparelhos de quais modelos e o tempo de uso diário ou semanal

desses jogos. 3626 escolares (1815 meninas, 1738 meninos, 73 não informado) responderam às per-guntas e as respostas indicaram que:

2828 estudantes jogam videogame e 57,4% jogam todos os dias.

50,2%possuem pelo menos um vídeo

game em casa. 80,7% utilizam apenas os consoles consi-

derados sedentários 4,1% utilizam apenas os ativos, 12,5% utilizam ambos, e 2,7% não

informaram.

Mas a pesquisadora lembra que grande parte dos avaliados não usa videogames ativos e ressalta que é preciso incentivar a troca dos chamados jogos sedentários por jogos que possibilitem gasto energé-tico e atividade física de leve à moderada em crianças e adolescentes.

Karina ainda arma que “a participação nessas atividades virtuais não deve substituir, mas comple-mentar as atividades físicas habituais de crianças e adolescente, como jogos e brincadeiras no mundo real, preferencialmente permitindo uma maior interação social”

Os jogos utilizados durante o estudo foram:Kinect Adventure

Kinect Dance CentralKinect Sports

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Page 26: Revista Ciência em Jogo

19,4%

21,7%

24

Page 27: Revista Ciência em Jogo

Nutrição

A parceria entre boa alimentação

e atividade física é fundamental

para manter o corpo saudável.

Nessa editoria você fica

sabendo como os

alimentos influenciam

na prática de exercícios

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Page 28: Revista Ciência em Jogo

Quem nunca ouviu dizer que car muito tempo sem

comer faz mal? Pior ainda é praticar algum tipo de

exercício físico sem nada no estômago, não é mesmo?

Esse fato tem sido pesquisado há algum tempo e a

opinião dos médicos e nutricionistas varia. Mas anal,

pode ou não fazer atividade física em jejum?Pesquisadores da UFV, por exemplo, zeram um

estudo e o resultado mostrou que fazer até uma hora

de exercícios de baixa intensidade, como caminhar ou

andar de bicicleta, sem comer nada não causa hipo-

glicemia. As pessoas que participaram dos testes não

sentiram nenhuma alteração física durante o exercício

praticado. Mas é importante lembrar que o resultado

não se aplica a pessoas que vão passar mais de uma

hora se exercitando ou se a atividade praticada for

moderada ou pesada. Quer dizer, se a pessoa for fazer

musculação na academia ela deve sim tomar um café

da manhã.Ou seja, quem não se encaixa nas características do

grupo analisado tem que acordar mais cedo e fazer o

desjejum uma hora antes de começar o exercício.Para chegar a esse resultado a equipe avaliou 15

pessoas do sexo masculino, com idade entre 20 e 30

anos e não sedentários. Eles foram submetidos a um

teste de uma hora na bicicleta ergométrica, primeiro

em jejum, depois tendo ingerido um café da manhã e

por último depois de terem tomado 300 ml de bebida

carboidratada. Nas três situações não apareceram

sintomas de hipoglicemia e os pesquisadores concluí-

ram que não existe esse risco para o grupo da amos-

tra. Quando há hipoglicemia, podem aparecer alguns

sintomas como: confusão mental, tontura, palpita-

ções, tremores, ansiedade, suor frio, fome excessiva e

formigamento ao redor da boca. E nenhum desses

sintomas foi vericado nos indivíduos que participa-

ram da pesquisa.Como em alguns casos é preciso comer antes de se

exercitar, a nutricionista Sabrina Murayama preparou

quatro opções diferentes de desjejum para quem não

quer correr o risco de ter essa tal de hipoglicemia

Lanchar antes de se exercitar ou não? Eis a questão

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Page 29: Revista Ciência em Jogo

Descrição do alimento Medida caseira Medida em g/mL Kcal

Mamão Formosa

Café adoçado com leite integral

Pão Francês

Manteiga com Sal

1 fatia média

1 copo médio

1 unidade média

1 colher de chá rasa

100g

200 mL

50g

4g

48,00

99,37

143,87

29,88

Descrição do alimento Medida caseira Medida em g/mL Kcal

Iogurte Natural Integral

Banana

Açúcar Mascavo

Pão Integral

Patê de Ricota

1 potinho

1 unidade média

1 colher sobremesa

2 fatias médias

1 colher de chá cheia

120g

40g

12g

50g

8g

74,31

40,83

46,72

140,55

19,27

Descrição do alimento Medida caseira Medida em g/mL Kcal

Vitamina de frutas (mamão, maçã,

banana, leite e açúcar)

Torradas sem açúcar

Requeijão cremoso

1 copo duplo

3 unidades

1 colher de sopa rasa

240 mL

30g

15g

167,63

112,47

39,74

Descrição do alimento Medida caseira Medida em g/mL Kcal

Suco de Laranja com cenoura

(sem açúcar)

Tapioca

Queijo tipo Muçarela

1 copo duplo

1 unidade média

1 fatia fina

240mL

50g

14g

110,09

164,55

45,56

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Page 30: Revista Ciência em Jogo

Tomar quatro xícaras de café e ser pego no exame antidoping. Parece exagero, mas pode aconte-cer. Isso porque a cafeína, que também está presente nos refrige-rantes à base de extrato de cola e no chocolate, é uma substância incluída nos regulamentos de doping de todas as federações esportivas.

Para ser considerado doping a dose vericada no exame deve ser a partir de 12mg/ml. É só tomar quarto xícaras de café ou um super café expresso antes da competição para cometer essa infração. Mas essa substância tão comum, presente no dia a dia de grande par te da população mundial provoca que efeitos no corpo a

ponto de ser proibida antes dos jogos?

Segundo o professor e pesquisa-dor Antônio Natali, “a cafeína estimula o sistema nervoso, e aumenta a performance porque ela aumenta o linear de fadiga”. Isso quer dizer que o atleta demora mais tempo para alcançar o seu limite máximo de cansaço quando ingere cafeína, e na prática o seu desempenho aumenta, já que o corpo demora mais tempo para apresentar sinais de esgotamento. Mas o consumo da cafeína nesses níveis tem outras consequências ligadas à saúde do atleta e uma delas foi estudada por pesquisado-res da UFV.

Uma pesquisa feita com jogado-res de vôlei da Luve-UFV relacio-nou o uso da cafeína à baixa da

imunidade, causada pelo estresse gerado durante a

prát ica do exerc íc io. Antônio Natali arma que “é comum em períodos de muito t r e i n a m e n t o , o u mesmo em situação de jogo, os atletas “baixarem” o sistema imunológico. Então o

organismo ca mais exposto a alguma conta-

minação porque a defesa do corpo está baixa”.

Sobre o estresse repetitivo a médica Tarcila Paoli explica que de uma maneira geral, ele “pode alterar toda a siologia do corpo. Ataca o sistema cardiovascular, sistema digestivo, e o sistema imunológico também é muito afetado. Nessas situações o risco de infecções e doenças autoimu-nes aumenta”.

Na pesquisa em questão, os atletas foram submetidos a duas sessões de treino de voleibol, com 15 dias de intervalo entre elas. Na primeira sessão, cinco atletas foram escolhidos aleatoriamente para consumirem solução conten-do cafeína. Os outros atletas consumiram solução com cor, textura e sabor semelhantes, mas sem a cafeína. Os tratamentos foram invertidos na segunda sessão.

O professor e pesquisador Antônio Natali aponta que os resultados mostraram uma ten-dência à diminuição da produção de imunoglobulina no corpo dos atletas que consumiram a cafeína antes do treino e diz que a quanti-dade de cafeína ingerida (6 ml/kg de peso corporal) foi uma dosagem segura e ainda assim apresentou tendência de malefícios para o corpo dos atletas

O que está dentro da xícara de café

IMUNOGLOBULINA A É UM ANTICORPO QUE REPRESENTA DE 15 A 20% DAS IMUNOGLOBULINAS DO CORPO HUMANO. PREDOMINANTE

EM SECREÇÕES COMO SALIVA, LÁGRIMA, LEITE, MUCOSAS DO TRATO GASTROINTESTINAL, TRATO RESPIRATÓRIO E GENITOURINÁRIO

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Page 31: Revista Ciência em Jogo

espaço doPesquisadorAqui você fica sabendo um pouco sobre os desafios dos

pesquisadores, que área do esporte e/ou da educação física

eles estudam e como fazem essa tarefa. A gente pergunta e

eles respondem

Ciência em jogo: Como você avalia o

cenário das pesquisas cientícas na

área?

Mauro Betti: Há uma convenção mais

ou menos aceita de que a pesquisa

tem algumas áreas. Área biológica,

que inclui a subárea de siologia do

exercício, biomecânica e aprendiza-

gem motora. Tem uma área mais

voltada para a psicologia. Psicologia

do esporte, aprendizagem motora.

Tem a pesquisa na área sociocultural

que se liga às ciências humanas, em

interface com a antropologia, com a

história, sociologia e assim por dian-

te.

E tem a área pedagógica ligada a

educação física na escola. Embora o

tema pedagógico possa estar em

qualquer lugar onde há uma relação

entre um prossional de educação

física e um cliente como na acade-

mia, por exemplo. O foco da área

pedagógica tem sido de estudar a

educação física na escola.

Sempre gostei das aulas de Educação Física na escola. Na oitava série do antigo ginásio (atual nono ano do Ensino Fundamental), tive

um professor muito bom, o nome dele é Valter, que nos ensinou atletismo, ginástica olímpica, e até natação (a escola pública onde estudei no ginásio

tinha tradição em Educação Física e Esportes, tinha até piscina!). Ele também nos levava para acampar, para assistir jogos de basquetebol,

e tinha uma ótima relação com os alunos. Foi o exemplo do professor Valter que me levou a decidir também ser professor de educação física.

E foi o esporte que me encaminhou ao curso. Naquela época jogava basquete no time da escola e em um clube. Hoje faço hidroginástica,

gosto muito de água, me relaxa, me energiza.

«

«Esse é o depoimento de Mauro Betti, nosso entrevistado. Ele atualmente é professor e

pesquisador na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e falou sobre a realidade da sua linha de pesquisa no cenário nacional. Ele estuda a educação física enquanto pedagogia

(essa que a gente tem na escola) e também as questões socioculturais que envolvem o esporte.

Antes de começar a falar

ele deixou um recado: «valorizem as suas aulas de

Educação Física. Percebam como nelas vocês podem viver experiências que não

estão nas outras matérias/disciplinas, onde há diversão e esforço, alegria e seriedade, trabalho individual e trabalho em grupo,

cooperação e competição, autoconhecimento e relações interpessoais, tudo junto. Como já disse uma amiga: 'na sala de aula eu tive

muitas informações - sobre história, química, física, geograa etc., mas

foram nas aulas de educação física que eu aprendi a ser

cidadã»

Agora sim! Acompanhe a entrevista.

29

Page 32: Revista Ciência em Jogo

CJ: Quais as principais diferenças para quem pes-

quisa essas subáreas?

MB: A área biológica tem mais recurso nanceiro

por causa da importância política e econômica que é

dada ao esporte na nossa sociedade. Então se estuda

siologia e biomecânica porque essas pesquisas dão

suporte para o treinamento esportivo e acabam tendo

mais prestígio e dinheiro.

Essa área também desenvolve pesquisas que tem

relação com a saúde, como as chamadas “doenças

do sedentarismo”. Portanto, é uma área que acaba

sobrepondo as outras.

Não é diferente de dizer que no Brasil a medicina é

muito mais objeto de preocupação do que a educa-

ção. De preocupação talvez não, mas de ação sim.

Nossa educação escolar no Brasil é muito frágil, se

faz muito pouco por ela. Se debate muito mais, se

age muito mais, com os temas de saúde do que da

educação. Isso não quer dizer que a saúde vai bem

para a população como um todo, mas a gente nota

que ela é mais debatida.

CJ: Qual é a relevância das pesquisas da área peda-

gógica da educação física?

MB: Ela é fundamental porque é ela que caracteriza

a área. É só ver o nome: Educação Física. A educação

vem primeiro e a educação física é uma relação peda-

gógica.

Existem muitas pesquisas que comprovam a rela-

ção positiva entre exercício físico e saúde, mas

mesmo assim as pessoas continuam engordando e

aumentam as doenças decorrentes do sedentarismo,

mesmo em países desenvolvidos. Os Estados Unidos,

por exemplo, são campeões mundiais de produção de

pesquisas sobre esse tema, mas tem uma endemia

de obesidade.

O Brasil está indo para o mesmo caminho. Porque

não adianta as pessoas saberem que sedentarismo é

ruim, elas precisam ser convencidas, seduzidas a

praticar exercícios. É preciso uma pedagogia para que

as pessoas saiam da sua posição de sedentarismo

para uma prática de fato. E quem tem que fazer isso

é o professor de Educação Física.

CJ: E como os estudos pedagógicos podem ajudar a

mudar esse cenário?

MB: O que falta na Educação Física são pesquisas

pedagógicas que ajudem a elaborar e executar pro-

gramas que atraiam as pessoas para o exercício

físico e que façam com que elas permaneçam nos

programas.

Há pesquisas que mostram que na academia, por

exemplo, tem uma evasão enorme, 50, 60, 70% das

pessoas entram na academia pra fazer algum tipo de

exercício e desistem em até três meses. O que falta

aí? Não falta a pesquisa em siologia. Falta a pesqui-

sa em aspectos psicossociais, das condições de

envolvimento, da permanência no programa. E essa

sedução pela prática física e esportiva começa na

escola.

30

Page 33: Revista Ciência em Jogo

MB: No Brasil, nas décadas de 70, 80, a televi-

são começou a ditar certos padrões de entendi-

mento do que é esporte, do que é ser esportista.

Ela transformou a prática do esporte num espetá-

culo audiovisual. Então eu digo que o esporte na

televisão não está lá para incentivar as pessoas

a praticarem esportes, mas para que as pessoas

consumam a imagem.

E essa experiência de praticar esportes é des-

contextualizada, apenas algumas partes da expe-

riência estão na televisão, ela mostra a ponta do

iceberg, que são as competições esportivas, e

não mostra o processo de treinamento. A televi-

são gosta de gloricar os vencedores. Agora,

aqueles que se perderam pelo caminho, que

queriam ser jogadores, mas não conseguiram,

esses não aparecem da mesma maneira que os

jogadores prossionais bem sucedidos. Não

aparecem jogadores de 3ª, 4ª divisão.

E hoje você tem os outros meios de comunica-

ção, como a internet, que em termos de conteúdo

não fogem muito dessa visão fragmentada e

descontextualizada do esporte.

CJ: E você acha que essa exposição midiática

do esporte inuencia na maneira do ensino

escolar da educação física?

MB: Hoje as crianças assistem esporte na tele-

visão até antes de praticar, então elas já têm

uma expectativa sobre ele. Isso que não aconte-

cia quando eu era criança, por exemplo. Primeiro

eu joguei bola na rua, depois é que veio a televi-

são.

E o próprio professor, no geral, não tem uma

formação crítica e aí a tendência mesmo é repro-

duzir aquele esporte que está na televisão. Que

valoriza a hierarquia, a seleção dos melhores, a

exclusão dos piores, a especialização do esporte

para as crianças desde pequenas.

Mas é importante lembrar que o esporte tem

que estar na escola para servir às nalidades

educacionais, e não com a ideia de descobrir

atletas. O esporte é bom pra todo mundo, tem um

potencial educativo enorme, por isso que ele está

na escola.

Leia outros livros do Pesquisador:

Educação Física e Sociedade e Educação Física Escolar: ensino e pesquisa-ação

Sobre o esporte, Mauro considera

que a exposição midiática

influenciou e ainda hoje dita a

forma como os brasileiros tratam

o assunto. Ele escreveu o livro A

Janela de Vidro: esporte,

televisão e educação física, onde

problematiza seu ponto de vista.

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Page 34: Revista Ciência em Jogo

Um jogador de basquete treina a técnica mais eciente para que ele consiga saltar mais alto. Atletas também possuem treinos especícos de força muscular, deixando os músculos mais fortes contribuindo para que o eles saltem mais alto, desgastando-se menos.

Não há uma estatura mínima predenida dentro dos esportes. Há um grande trabalho realizado pela comissão técnica de uma equipe que gera dados estatísticos capazes de medir o nível de eciência de cada jogador em suas respectivas funções. Como por exemplo, Earl Boykins, com 1,65m de altura e jogou prossionalmente na NBA.

Seis estudantes da Escola Estadual Dr. Raimundo Alves Torres contaram pra Ciência em Jogo as

dúvidas que eles tinham em relação ao esporte e atividades físicas. O professor de Educação

Física, Samuel Angelo respondeu as perguntas dos estudantes. Olha só!

Como o jogador de basquete consegue saltar tão alto para alcançar a cesta?

Qual a preparação que um corredor faz antes de cada competição?

Higor

Nascimento

15 anos

Gislaine

Ferreira

15 anos

Um corredor deve ter o metabolismo aeróbico muito bem desenvolvido para que ele consiga percorrer longas distâncias. A forma adequada de se trabalhar o metabolismo aeróbico é realizar atividades em que a pessoa

seja capaz de se exercitar por um período de tempo longo, como por exemplo, correr, andar de bicicleta, nadar, caminhar.

Qual a estatura mínima para um jogador de basquete? Por quê? Teodora

Stoler

16 anos

Quanto tempo o jogador demora a se recuperar sicamente depois de uma partida de futebol? Adriel

Souza

15 anos

O tempo de recuperação é dependente da intensidade do jogo. Quanto mais rápido e intenso o jogo, mais tempo o atleta demora a obter recuperação completa de todos os estoques de energia. Esse período de

recuperação pode durar até 24 horas em jogos de baixa intensidade e até 48 horas em jogos mais intensos.

Qual a velocidade média da bola durante o saque no vôlei? Agna

Silva

17 anos

A velocidade do saque é dependente do tipo de saque adotado pelo atleta. Há saques que a bola atinge velocidades próximas a 35m/s.

Dalila

Cardoso

17 anos

As bebidas esportivas, conhecidas também como isotônicas ou bebidas carboidratadas, possuem em sua composição diferentes tipos de carboidratos de absorção rápida que suprem a demanda por energia e ajudam a

economizar as reservas energéticas do atleta.

O que possui na bebida esportiva que repõe energia durante o intervalo de uma partida de futebol?

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Page 35: Revista Ciência em Jogo

‘‘A Educação Física escolar é um assunto polêmico e extenso. Vários prossionais têm opiniões divergentes sobre a importância dela na escola,

sua função e utilizam de diferentes métodos de ensino.A metodologia que acredito ser a necessária no mundo que vivemos hoje é

a crítico-superadora, que tem como objetivo tornar os alunos críticos à realidade em que estão inseridos, ao invés de apenas absorver informa-ções, eles devem analisá-las e entender que tudo tem uma origem e um

porquê.’’

Você gosta das aulas de Educação Física da sua escola? Concorda com os métodos usados por seus

professores? Olha só a opinião de três educadoras físicas sobre o assunto

Laís Silveira -Professora de Educação Física

‘‘O esporte é sem dúvida um conteúdo muito importante da Educação Física escolar, tanto quanto os demais como a dança, capoeira, jogos e brincadeiras, ginástica, etc. Porém, muitos prossionais se esquecem de

considerar as diferenças individuais e experiências vividas pelos alunos ao aplicar o conteúdo do esporte em suas aulas, tornando-o seletivo e exclu-dente. Como professores, nós devemos adequar maneiras de se trabalhar

as práticas corporais do esporte e suas dimensões na sociedade, imprimin-do um caráter lúdico e solidário, onde todos possam praticar sem nenhum

tipo de exclusão.’’

Laura Diniz -Professora de Educação Física

‘‘A escola não tem função de formar atletas, mas ela pode oferecer aos alunos a vivência das modalidades esportivas de uma forma simples,

como por exemplo, ensinar as principais regras, a função de cada jogador, histórico, etc. Além de poder adaptar as regras de acordo com as possibili-dades da escola e com a bagagem que os alunos já trazem. E a questão

mais importante é que o esporte incentiva os alunos a trabalharem/ jogarem em equipe, cooperar uns com os outros.’’

Grazielle Lopes - Educadora Física

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Page 36: Revista Ciência em Jogo

‘‘Todo grande progresso da ciência resultou de uma

nova audácia da imaginação.’’

John Dewey

‘‘O esporte tem a força de mudar o mundo.’’

Nelson Mandela