revista agropecuária catarinense - nº32 dezembro 1995

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Revista RAC da EPAGRI sobre pesquisa agropecuária e extensão rural

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Page 1: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995
Page 2: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995

Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 1

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃO

S e ç õ e s

Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.8, n.4, p.1-64, dezembro 1995

A bovinocultura de leite é contemplada com doisartigos técnicos e também ilustra a capa desta edição.

As outras abordagens técnicas englobam tomate,maçã, mandioca, alho, ameixa, cultivo integrado decarpas e suínos, adubação, fundo de terras e umanovidade: pesquisa sobre a influência da minhoca nomanejo do solo em microbacias hidrográficas, assuntoque será apresentado em etapas, em três ediçõesconsecutivas.

Na parte de reportagens a pauta inclui agricul-turasustentável, adubação verde e a nova opção quesurge para os produtores catarinenses, o maracujá.

Em fase de expansão, a revista AgropecuáriaCatarinense está promovendo ofertas especiais deassinatura. Aproveite e seja você também um assinan-te.

As matérias e artigos assinados não expressamnecessariamente a opinião da revista e são de inteira

responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que

parcial, só será permitida mediante a citação da fontee dos autores.

Cartas ................................................................................................................................Flashes ..............................................................................................................................Registro ........................................................................................................................Pesquisa em Andamento ................................................................................................Reflorestar .......................................................................................................................Lançamentos Editoriais ..................................................................................................Novidades de Mercado ...................................................................................................Vida Rural - soluções caseiras ......................................................................................

34

7 e 82 32 45 05 76 4

R e p o r t a g e m

Conferência sobre agricultura sustentável destaca a pequena propriedadeReportagem de Paulo Sergio Tagliari e Ivan José Canci ........................................

Maracujá: novidade do Norte que faz sucesso no SulReportagem de Paulo Sergio Tagliari .......................................................................

Adubos verdes melhoram o solo e poupam dinheiro para o agricultorReportagem de Paulo Sergio Tagliari .......................................................................

12 a 14

28 a 34

54 a 56

O p i n i ã o

Soluções para o Oeste CatarinenseEditorial ..............................................................................................................................

Reflexo dos programas de ajuda internacionalArtigo de Sadi Sérgio Grimm ..............................................................................................

Do desenvolvimento agrícola ao desenvolvimento ruralArtigo de Luiz Carlos Mior .................................................................................................

2

6 2

6 3

Ângulo de inserção das folhas do alho x população de tripesArtigo de Ademar Pereira de Oliveira, Paulo Donato Castellane eSérgio Antonio de Bortoli ................................................................................................

Bacteriose em ameixeiraArtigo de Eliane Rute de Andrade e Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet ................

Avaliação do esterco de aves e da uréia como fontes de nitrogêniopara a cultura do milhoArtigo de Eloi Erhard Scherer .........................................................................................

Duração da lactação, intervalo de partos e produção de leite norebanho leiteiro do Leste de Santa CatarinaArtigo de Amaro Hillesheim e Henri Stuker .....................................................................

Resistência de porta-enxertos de macieira ao fungo Rosellinia necatrix

Prill no Meio Oeste CatarinenseArtigo de Frederico Denardi e Onofre Berton ................................................................

Cultivares de tomate para o Baixo Vale do ItajaíArtigo de Antônio Amaury Silva Júnior, Valmir José Vizzotto e Henry Stuker ................

Ações fundiárias em Santa CatarinaArtigo de Ademir Antonio Cazella ...................................................................................

Influência da minhoca no manejo de microbacias hidrográficas - 1 soloArtigo de Masato Kobiyama .............................................................................................

Efeito da densidade de plantio da mandioca na produção deraízes em solo AraranguáArtigo de Euclides Mondardo, Renato Cesar Dietrich e Mauro Luiz Lavina ................

Policultivo de carpas integrado à suinoculturaArtigo de Jorge de Matos Casaca e Osmar Tomazelli Júnior ........................................

Controle de podridão branca em porta-enxertos enraizados de macieiraArtigo de Onofre Berton e Frederico Denardi ................................................................

Unidade de Produção de Leite da Estação Experimental de Itajaí - catorze anosde atividadeArtigo de Amaro Hillesheim, João Lari Felix Cordeiro e Irceu Agostini ........................

T e c n o l o g i a

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2 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

Edi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia l

15 DE DEZEMBRO DE 1995

Impressão: EPAGRI CDD 630.5

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDI-ÇÃO: André Thaler Neto, Élio Wolff, Elmo Piazza Branco,Gosuke Sato, Honório Francisco Prando, José Itamar da SilvaBoneti, José Seno Regert, Lucas Miura, Marília HammelTassinari, Mauro Roczanski, Moacir Antonio Schiocchet,Onofre Berton, Richard Miller, Roger Delmar Flesh, RosalinoLuiz Büffon, Sérgio Winckler da Costa, Siegfried Mueller,Valdir Bonin, Vera Talita Machado Cardoso, YoshinoriKatsurayama, Zilmar da Silva Souza

JORNALISTA: Homero M. Franco (Mtb/SC 709)

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

DESENHISTAS: Jorge Luis Zettermann, Vilton Jorge de Sou-za, Mariza T. Martins, Dilson Ribeiro

CAPA: Equipe editorial RAC

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, Janice da SilvaAlves, Marilene Regina Oliveira, Marlete Maria da SilveiraSegalin, Rita de Cassia Philippi, Selma Rosângela Vieira,Vânia Maria Carpes

DOCUMENTAÇÃO: Selma Garcia Blaskiviski

ASSINATURAS/EXPEDIÇÃO: Luciane Santos Albino, RosaneChaves Furtado, Zulma Maria Vasco Amorim - GED/EPAGRI,C.P. 502, Fones (048) 234-1344 e 234-0066, Ramais 206 e243, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GED/EPAGRI - Fone (048)234-0066, Ramal 263 - Fax (048) 234-1024 - São Paulo, Riode Janeiro e Belo Horizonte: Agromídia - Fone (011) 259-8566 - Fax (011) 256-4786 - Porto Alegre: Agromídia - Fone(051) 221-0530, Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) -Florianópolis:

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -TrimestralEditada pela EPAGRI (1995- )1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa

Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC.II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão deTecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação daEPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e ExtensãoRural de Santa Catarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, Fones (048) 234-1344e 234-0066, Fax (048) 234-1024, Telex 482 242, 88034-901 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

EDITORAÇÃO: Editor-Chefe: Afonso Buss, Editor-Técnico:Vera Talita Machado Cardoso, Editores-Assistentes: MaríliaHammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari

COMITÊ DE PUBLICAÇÕES:PRESIDENTE: Afonso BussSECRETÁRIA: Vera Talita Machado CardosoMEMBROS: Airton Rodrigues Salerno, Celso AugustinhoDalagnol, Eduardo Rodrigues Hickel, Carlos Luiz Gandin,Roger Delmar Flesch

Soluções para o Oeste CatarinenseSoluções para o Oeste CatarinenseSoluções para o Oeste CatarinenseSoluções para o Oeste CatarinenseSoluções para o Oeste Catarinense

Um grupo de técnicos daEPAGRI, lotados no Centro dePesquisa para Pequenas Proprie-dades, de Chapecó, concluiu re-centemente um trabalho que porsua abrangência, por seus ob-jetivos e por sua importância pre-cisa ser amplamente divulgadoe conhecido, a bem das me-lhorias que todos esperam do fu-turo.

Realizado sob os auspícios doProjeto Microbacias/BIRD, o tra-balho, que se configura comouma proposta para discussão,tem por título “O desenvolvimentosustentável do Oeste Catarinen-se”.

Dentre os inúmeros dados eargumentos que justificam aspreocupações e as propostas dosautores, destaca-se o seguinte: dapopulação total do Oeste Catari-nense, de 1 milhão e 100 mil habi-tantes, meio milhão vivem no meiorural, e estima-se que cerca de250 mil pessoas, das quais 80 mileconomicamente ativas, podem serexcluídas da produção agrícolacomercial num horizonte de cincoa dez anos.

Esta tendência, que já se faziasentir aos estudiosos do tema, foiconstatada no diagnóstico voltadoaos aspectos sociais, econômicos eambientais da região Oeste e queintegra o documento.

Com base neste diagnóstico, queevidencia as causas da falência doatual modelo econômico da região, ena análise das perspectivas regio-nais em termos de infra-estrutura,recursos naturais e demografia, osautores apresentam um conjunto depropostas para ser debatido com acomunidade e visando ações dos se-tores público e privado.

Estas propostas incluem, além desistemas de produção agrícola, pro-posições referentes ao setor indus-trial e ao turismo, à organiza-çãodos produtores, às políticas de aces-so à terra e ao crédito, entre outras.

No contexto deste trabalho, des-de sua origem, concepção e realiza-ção, três pontos devem ser ressalta-dos.

O primeiro refere-se à preocupa-ção com a sustentabilidade do mode-lo, o grande desafio que se impõe auma sociedade que já chegou aolimite da finitude de seus recursos

naturais.O segundo ponto importante a

salientar é a necessidade de pre-servação do modelo de agriculturafamiliar, por seu alcance social epor sua adequação às condiçõesregionais. Afirmam os autores queo sistema diversificado, caracterís-tico da agricultura familiar, confe-re ao modelo um alto grau de flexi-bilidade, dinamismo e com-petitividade face aos mercadosglobalizados.

Por último, é necessário lem-brar a condição dos autores comointegrantes do corpo técnico deuma instituição que, a rigor e emprincípio, estaria encarregada deatividades de pesquisa agrícola eextensão rural. Este fato é de sumaimportância porque demonstra quea EPAGRI, por sua direção e fun-cionários, está inserida num pro-cesso muito amplo, que transcen-de as suas finalidades imediatas ecujas principais características sãoa abertura, a interativi-dade, aausência de preconceitos, a visãoglobalizada e o afã de conhe-cer emudar - para melhor - a realida-de.

REVISTA TRIMESTRAL

Page 4: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995

Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 3

CARTAS

A revista Agropecuária Catari-nense aceita, para publicação, artigostécnicos ligados à agropecuária, desdeque se enquadrem nas seguintes nor-mas:

1. Os artigos devem ser originais e en-caminhados com exclusividade àAgropecuária Catarinense.

2. A linguagem deve ser fluente, evi-tando-se expressões científicas e téc-nicas de difícil compreensão. Reco-menda-se adotar um estilo técnico--jornalístico na apresentação da ma-téria.

3. Quando o autor se utilizar de infor-mações, dados ou depoimentos deoutros autores, há necessidade deque estes autores sejam referen-ciados no final do artigo, fazendo-seamarração no texto através de núme-ros, em ordem crescente, colocadosentre parênteses logo após a infor-mação que ensejou este fato. Reco-menda-se ao autor que utilize nomáximo cinco citações.

4. Tabelas deverão vir acompanhadasde título objetivo e auto-ex-plicativo,bem como de informações sobre afonte, quando houver. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil manuseio ecompreensão. As tabelas deverão virnumeradas conforme a sua apresen-

tação no texto. Abreviaturas, quandoexistirem, deverão ser esclarecidas.

5. Gráficos e figuras devem ser acom-panhados de legendas claras e obje-tivas e conter todos os elementos quepermitam sua arte-finalização pordesenhistas e sua compreensão pe-los leitores. Serão preparados empapel vegetal ou similar, emnanquim, e devem obedecer às pro-porções do texto impresso. Dessemodo a sua largura será de 5,7 centí-metros (uma coluna), 12,3 centíme-tros (duas colunas), ou 18,7 centíme-tro (três colunas). Legendas claras eobjetivas deverão acompanhar osgráficos ou figuras.

6. Fotografias em preto e branco de-vem ser reveladas em papel brilhan-te liso. Para ilustrações em cores,enviar diapositivos (eslaides), acom-panhados das respectivas legendas.

7. Artigos técnicos devem ser redigidosem até seis laudas de texto corrido (alauda é formada por 30 li-nhas com70 toques por linha, em espaço dois).Cada artigo deverá vir em duas vias,acompanhado de material visualilustrativo, como tabelas, fotografi-as, gráficos ou figuras, num montan-te de até 25% do tamanho do artigo.Todas as folhas devem vir numera-das, inclusive aquelas que contenhamgráficos ou figuras.

8. O prazo para recebimento de arti-gos, para um determinado númeroda revista, expira 120 dias antes dadata de edição.

9. Os artigos técnicos terão autoria, cons-tituindo portanto matéria assinada.Informações sobre os autores, quedevem acompanhar os artigos, são:títulos acadêmicos, instituições detrabalho, número de registro no con-selho da classe profissional (CREA,CRMV, etc.) e endereço. Na impres-são da revista os nomes dos autoresserão colocados logo abaixo do títuloe as demais informações no final dotexto.

10.Todos os artigos serão submetidos àrevisão técnica por, pelo menos, doisrevisores. Com base no parecer dosrevisores, o artigo será ou não aceitopara publicação, pelo Comitê de Pu-blicações.

11.Dúvidas porventura existentes po-derão ser esclarecidas junto àEPAGRI, que também poderá forne-cer apoio para o preparo de desenhose fotos, quando necessário, bem comona redação.

12.Situações imprevistas serão resolvi-das pela equipe de editoração da re-vista ou pelo Comitê de Publica-ções.

Velho amigoFui um grande admirador da

velha EMPASC e aprecio muitoo trabalho da nova EPAGRI. De-pois de seis anos no projeto bra-sileiro-alemão da GTZ, em Ca-çador, e nove de convivênciaíntima com o Estado de SantaCatarina, fica um forte laço emo-cional/intelectual com esta lindaterra e seu povo trabalhador,humilde e dedicado.

Recebo a sua revista aqui naArgentina e espero ansiosamen-te cada próximo volume. Se des-taca por suas mensagens claras,práticas, atualizadas e equilibra-das com alta qualidade gráfica.

Felicito a todos que fazemparte da sua edição e desejo con-tinuidade, visão e perseverançaem be-nefício dos agricultorescatarinenses e uma melhor qua-lidade de vida.

Dr. R. MelzerArgentina

Junco e peixeJunco e peixeJunco e peixeJunco e peixeJunco e peixeApós leitura da Reportagem

“Raízes de junco para tratamen-to de esgoto”, publicada na últi-ma edição, me interessei peloassunto e solicitaria maiores in-formações sobre onde e comoobter mudas destes juncos e ain-da o esboço do projeto deste “fil-tro natural”.

Gostaria de parabenizar aequipe que compõe a revista,pois acabei de fazer a assinaturae já estou gostando da maneiracomo a revista e os assuntos sãocolo-cados aos leitores, claros eobjetivos.

Aproveito a oportunidadepara sugerir que seja feita umareportagem sobre criação de pei-xes em açudes, como o pacu,tambaqui e o tambacu, e aindaalguma receita para a carpa pra-teada e cabeça grande, já queestas têm a carne “magra” e omodo de preparo deve ser dife-

rente das demais (não sei se já háalguma reportagem sobre estesassuntos, se acaso já tenhamsido publicadas, peço o obséquiode me informar, para que possaadquirir as edições que aborda-ram estes assuntos).

Sendo o que tinha para omomento, agradeço a atenção.

Geonir José GiacomelliErval Velho, SC

PêraPêraPêraPêraPêraSou produtor rural em

Teresópolis, RJ, e gostaria deobter a publicação da EMPASCde título “Sistema de produção no

10 - Normas Técnicas para pêra”(maio de 1988). Tive conheci-mento desta publicação no IACem São Paulo, e acredito que meserá de grande utilidade, já queme dedico a culturas de climatemperado em minha proprie-dade e tenho alguns cultivares

de pêra em experimento.Desta forma gostaria de sa-

ber como proceder para obter apublicação.

Carlos Alfredo P. BaumannTeresópolis, RJ

CatálogoCatálogoCatálogoCatálogoCatálogoAcadêmico do curso de

Zootecnia da Faculdade de Agro-nomia e Zootecnia de Uberaba -FAZU, recorro a esta conceitua-da Empresa na expectativa dereceber o catálogo de suas publi-cações e respectivos preços, as-sim como a validade da tabela depreços.

Confiante na seriedade dosserviços prestados por esta enti-dade ao desenvolvimento da agro-pecuária nacional, antecipo agra-decimentos e aguardo resposta.

Atenciosamente

Dorismar David AlvesUberada, MG

Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense

Page 5: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995

4 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

FLASHES

ConstatadaConstatadaConstatadaConstatadaConstatadaCloroseCloroseCloroseCloroseClorose

VVVVVariegada dosariegada dosariegada dosariegada dosariegada dosCitros - CVC emCitros - CVC emCitros - CVC emCitros - CVC emCitros - CVC emSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta Catarina

Foi confirmada a presen-ça de Clorose Variegada dosCitros em pomares de SantaCatarina através de mate-riais de plantas de citros pro-venientes de pomares comer-ciais dos municípios dePinhalzinho e Saudades, noOeste do Estado. Essa doençaé conhecida no meio citrícolapor CVC ou “amarelinho”.

A identificação da doençafoi realizada pelos pesquisa-dores Giovanina FontanezziHuang, do Centro de Pesqui-sa para Pequenas Proprieda-des - CPPP/EPAGRI, e RuiPereira Leite Jr., do InstitutoAgronômico do Paraná -IAPAR. O diagnóstico da CVCfoi baseado em sinto-matologia, testes sorológicose isolamento da bactériaXylella fastidiosa, realizado acampo e no Laboratório deBacteriologia e Virologia doIAPAR.

A CVC foi constatada pelaprimeira vez no Brasil no mu-nicípio paulista deMacambal, em 1987, e atual-mente está presente em regi-ões citrícolas dos Estados deMinas Gerais, Rio de Janeiro,Goiás, Distrito Federal,Paraná e Rio Grande do Sul.

Os sintomas iniciam nor-malmente em um ramo ouparte da planta, espalhando--se posteriormente por todacopa. Os galhos apresen-tammuitos frutos e folhas miú-das, desfolha e secamento dosponteiros. Os frutos são pe-quenos, duros e amadurecemprecocemente. O crescimentoda planta fica reduzido.

O uso de materialpropagativo sadio, o plantiode mudas sadias e o plantioem áreas sem a doença sãoconsiderados como estraté-gias fundamentais para o

controle da CVC. No caso depomares afetados a soluçãoimediata para controlar aCVC é a eliminação das plan-tas doentes.

Poluir menos,Poluir menos,Poluir menos,Poluir menos,Poluir menos,produzir maisproduzir maisproduzir maisproduzir maisproduzir mais

A Conferência Interna-cional sobre Tecnologias e De-senvolvimento Sustentável,realizada no último mês desetembro, em Porto Alegre,RS, teve seu ponto alto nadecisão de prontamente in-fluir nas políticas públicas,de modo a priorizar os inves-timentos na agricultura fa-miliar, como a melhor formade viabilizar o desenvolvimen-to rural sustentável. Isto sóserá possível se houver uniãode esforços nos diferentes se-tores, desde o produtor até oconsumidor. Pensando nisto ealarmados com os altos índi-ces de contaminaçãoambiental e de degradação desolo, no Alto Vale do Itajaí,um grupo de técnicos, pesqui-sadores, professores,extensionistas e produtoresrurais de Santa Catarina de-cidiu unir forças e partir paraa luta em prol de uma agricul-tura mais saudável e equili-brada, tanto para o produtorcomo para o consumi-dor.

A Estação Experimentalde Ituporanga/EPAGRI, emparceria com o Centro deCiências Agrárias/UFSC, es-tão iniciando um convênio quevisa desenvolver pesquisasno contexto da agriculturasustentável . De início, o mai-or impacto será na cul-tura dacebola; porém o trabalho teráenfoque mais amplo, no sen-tido da sus-tentabilidade daatividade produtiva no meiorural e levando em conta ascon-dições edafoclimáticas doAlto Vale do Itajaí. Os tra-balhos se desenvolverão, ini-cialmente, na Estação Expe-

rimental de Ituporanga e empropriedades de agricultoresda região, num processoparticipativo, envolvendo,também, outras entidades deinteresse, como ONGs e pre-feituras.

O enfoque sistêmico dasatividades na propriedadeagrícola familiar, o manejoecológico do solo, a teoria datrofobiose, a biodiversidade,a segurança alimentar, asinterações biológicas positi-vas serão alguns dos princípi-os norteadores do novo traba-lho. A agroecologia, como basecientífica, nos projetos de ge-ração de tecnologia, deverá serassunto em constante deba-te. Este trabalho, inclusive,está dentro da linha de recu-peração do meio ambiente jáem andamento pelo Progra-ma de Microba-cias.

De pronto, vários agricul-tores já mostraram-se dispos-tos a interagir com um novomodelo de desenvol-vimentoagrícola, cujas as-piraçõesvão além do ga-nho econô-mico, o que vale dizer, ter umpatrimônio cultural em queos descenden-tes sentem-seorgulhosos e realizados porserem agricultores e poderemcontribuir para a evolução dahumanidade.

O termo poluir, referido notítulo, deve ter um sentidomais amplo, em que o opostosão as relações sociais har-monizadas, as forças políti-cas equilibradas e o meioambiente em condição de serfonte inesgotável de saúde.Produzir mais seria, portan-to, tornar cada vez menor amassa de seres humanos ex-cluídos.

Especialista profere palestra sobre oEspecialista profere palestra sobre oEspecialista profere palestra sobre oEspecialista profere palestra sobre oEspecialista profere palestra sobre oselo verde na agriculturaselo verde na agriculturaselo verde na agriculturaselo verde na agriculturaselo verde na agricultura

O grau de dificuldade parao homem ir à lua foi menor doque a difusão da técnica decultivo orgânico de alimentos.Esta afirmação partiu do en-genheiro agrônomo AlexandreHarkaly, do InstitutoBiodinâmico de Desenvolvi-mento Rural de São Paulo,que proferiu palestra a técni-cos, professores e estudantesno Centro de Ciências Agrári-as da UFSC, em Florianópo-lis, a respeito da Certi-ficaçãoOrgânica de Produtos. Segun-do o técnico, a ciência tradici-onal, principalmente nos paí-ses menos desenvolvidos, temdificultado o aparecimento denovos pa-radigmastecnológicos, em especial aprodução orgânica ou ecológi-ca, que na Europa e EstadosUnidos já está bem adianta-da.

O Instituto Biodinâmico

é, por enquanto, a única enti-dade no Brasil autorizada acertificar e fornecer um selo dequalidade a agricultores, em-presários rurais e entidadesque elaboram produtos da li-nha orgânica para exportação.Além da certificação, existeum acompanhamento e fisca-lização por técnicoscredenciados desde o proces-so de produção no campo até obeneficiamento e industriali-zação do produto. “O selo ver-de é a ISO 14000 na agricultu-ra”, ressalta AlexandreHarkaly, que veio a SantaCatarina buscar parceriascom a universidade eEPAGRI, visando uma coope-ração na divulgação e incenti-vo da produção orgânica, bemcomo em treinamento e cur-sos para técnicos e interessa-dos no assunto da certificaçãoorgânica.

Page 6: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995

Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 5

AlhoA lhoA lhoA lhoA lho

Ângulo de inserção das folhas doÂngulo de inserção das folhas doÂngulo de inserção das folhas doÂngulo de inserção das folhas doÂngulo de inserção das folhas doalho x população de tripesalho x população de tripesalho x população de tripesalho x população de tripesalho x população de tripes

a cebola, as cultivares diferemconsideravelmente em sua resis-

tência ao tripes, e essa resistência épossivelmente determinada por certoscaracteres morfológicos, que possibili-tam manter a população de inseto emum mínimo, e talvez por caracteresanatômicos e fisiológicos, que ajudam aplanta a resistir às injúrias. Entre osvários mecanismos da planta que estãoassociados à resistência ao tripes es-tão: forma das folhas, ângulo de diver-gências entre duas folhas íntimas edistância vertical entre folhas, na baseda coluna da bainha (1).

Variedades de cebola que possuemfolhas compactas na base têm sido refe-ridas como resistentes a tripes. Taiscasos relacionam-se com o comporta-mento do inseto, pois o tripes prefereas plantas cujas folhas apresentammaior ângulo de contato, o que favore-ce a praga em termos de abrigo (2).

Na cultura do alho nada se temestudado a respeito do ângulo de inser-ção das folhas e sua relação com apopulação de tripes. Portanto, o pre-sente trabalho foi realizado com o obje-tivo de se verificar a associação exis-tente entre o ângulo de inserção dasfolhas desta planta com o nível deinfestação do tripes.

Material e métodos

O trabalho foi realizado na Faculda-de de Ciências Agrárias e Veterináriasda UNESP, Campus de Jaboticabal,SP. Foi realizada uma descrição daarquitetura dos alhos ‘Cabaceiras’, ‘Cen-tenário’ e ‘Dourados’, considerando-seo ângulo de inserção das lâminas foliaresnas hastes das plantas, aos 85 dias apóso plantio. Esta etapa foi efetuada atra-vés de fotos de três plantas representa-tivas de cada alho. Cada planta repre-

sentou uma repetição. Em seguida asfotografias foram desenhadas em pa-pel vegetal, quando se calcularam osângulos de inserção das folhas de cadaalho e efetuaram-se novas fotos pelosistema de kodalite. Ao final, os valo-res dos ângulos foram submetidos àanálise de variância no delineamentointeiramente casualizado com três tra-tamentos e três repetições.

A população de tripes foi avaliadaem laborató-rio, atravésde cinco con-tagens quin-zenais a par-tir de 30 diasapós o plan-tio, fazendo--se contagemtotal de inse-tos (ninfas ea d u l t o s ) ,com auxíliode uma lupaao longo delâminas ebainhas detodas as fo-lhas de cincoplantas to-madas aoacaso por par-cela em cadaa v a l i a ç ã o ,indiferenteda posição daplanta emrelação aoc a n t e i r o .Para efeitode análiseestatística donúmero detripes, os da-dos foram

transformados em log (X + 1) e asmédias foram comparadas pelo Testede Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Na Figura 1 estão apresentados osângulos de inserção das folhas dosalhos ‘Dourados’, ‘Cabaceiras’ e ‘Cen-tenário’, enquanto na Tabela 1 encon-tram-se os valores médios dos ângu-

N

Ademar Pereira de Oliveira, Paulo Donato Castellanee Sérgio Antonio de Bortoli

Figura 1 - Ângulo de inserção das folhas dos alhos ‘Doura-dos’, ‘Cabaceiras’ e ‘Centenário’, aos 85 dias após o plantio.

Jaboticabal, SP, 1992

Page 7: Revista Agropecuária Catarinense - Nº32 DEZEMBRO 1995

6 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

AlhoA lhoA lhoA lhoA lho

Tabela 1 - Ângulos de inserção das folhas em relação ao pseudocaule aos85 dias após o plantio e número total de tripes por planta log (X + 1) dos alhos

‘Cabaceiras’, ‘Centenário’ e ‘Dourados’. Jaboticabal, SP, 1992

Tratamento Ângulos Número total de tripes(alhos) (graus) (log (X + 1))

Cabaceiras 23,08 a 4,09 bCentenário 25,70 a 4,19 bDourados 17,86 b 5,56 a

C.V.% 4,19 27,74

Nota: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukeyao nível de 5% de probabilidade.

Conclusão

A população de tripes relaciona-secom o ângulo de inserção das folhas doalho, pois quanto maior o ângulo deinserção das folhas de uma cultivar dealho menor foi a população de tripes.

Literatura citada1. JONES, H.A.; BAILEY, S.F.;

EMSWELLER, S.L. Thrips resistancein onion. Hilgardia, Berkeley, v.8, n.7,p.215-222, 1934.

2. LARA, F.M. Princípios de entomologia.Piracicaba: Livroceres, 1979. 304p.

3. KOGAN, M. Plant resistance in pestmanagemant. In: METCALF, R.L.;LUCKMANN, W.H. Introduction toinsect pest management. New York:John Wiley, 1975. p.103-146.

4. LARA, F.M. Princípios de resistência deplantas e insetos. 2.ed. Piracicaba:ICONE, 1991. 336p.

Ademar Pereira de Oliveira , eng. agr.,doutor em Agronomia, professor adjunto doCentro de Ciências Agrárias da UFPB, De-partamento de Fitotecnia - CCA/UFPB,Fone (083) 362-2300, ramal 55, 58397-000 -Areia, PB; Paulo Donato Castellane, eng.agr., doutor em Fitotecnia, professor adjuntoda Faculdade de Ciências Agrárias e Veteri-nária da UNESP, Campus de Jaboticabal,SP, Fone (0163) 23-2500, ramal 231 e SérgioAntônio de Bortoli, Ph.D. em Entomologia,professor titular da Faculdade de CiênciasAgrárias e Veterinária da UNESP, Campusde Jaboticabal, SP, Fone (0163) 23-2500, ra-mal 231.

Figura 2 - Número total de tripes por cinco plantas em diferentes alhos(dados não transformados). Jaboticabal, SP, 1992

los de inserção das folhas em relaçãoao pseudo-caule.

Os alhos ‘Cabaceiras’ e ‘Centená-rio’, que possuem os maiores ângu-los de inserção, apresentaram me-nores populações de tripes (Tabela1). Já o alho ‘Dourados’, que apre-sentou plantas com maior popu-lação de tripes (Tabela 1 e Figura 2),tem plantas cujas folhas apresentamângulos médios de inserção menores(Tabela 1).

Inúmeros são os fatores que afe-tam a resistência e/ou tolerância dasespécies vegetais às pragas. Entreestes fatores encontram-se o ângulode divergência entre as folhas e o eixovertical da planta (3). Assim, pode-seconsiderar, inicialmente, que a arqui-

tetura da planta, além de outros as-pectos relacionados com suas caracte-rísticas genéticas, é um importantefator atuando sobre a dinâmicapopulacional do tripes na cultura doalho. Possivelmente, o ângulo de in-serção menor das folhas do alho ‘Dou-rados’ oferece maior proteção aotripes contra algumas intempéries(chuvas, ventos e ação de raios sola-res). Na cebola os tripes também pre-ferem plantas cujas folhas apresen-tam menor ângulo de contato, o quefavorece o inseto em termos de abri-go. Variedades que possuem folhasredondas com maior espaço disponí-vel entre elas geralmente apresen-tam baixa população desse inseto(4).

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 7

REGISTRO

Suínos ao ar livre:Suínos ao ar livre:Suínos ao ar livre:Suínos ao ar livre:Suínos ao ar livre:mais produção,mais produção,mais produção,mais produção,mais produção,

menos agressão aomenos agressão aomenos agressão aomenos agressão aomenos agressão aoambienteambienteambienteambienteambiente

A crise na agropecuária nos últi-mos anos tem forçado os produtoresrurais a buscarem tecnologias alter-nativas, que diminuem os custos semperda de produtividade. A produçãointensiva de suínos ao ar livre é umadestas técnicas que vem obtendo re-sultados bastante satisfatórios emvárias regiões do mundo e que agoraestá se instalando no Brasil definiti-vamente. A EPAGRI, a EMBRAPA eo Centro de Ciências Agrárias daUniversidade Federal de SantaCatarina - CCA/UFSC - acabam deinstalar, em convênio, com o apoioda GTZ - Sociedade Alemã para Coo-peração Técnica - uma unidade didá-tica intensiva de suinocultura ao arlivre na Fazenda Ressacada em Flo-rianópolis, área pertencente à Uni-versidade Federal. Esta unidade visaservir de modelo para treinamentose cursos para técnicos, estudantes eagricultores e faz parte de uma redenacional de experimentação daEMBRAPA.

São ao todo 3ha, divididos em 7piquetes comportando 28 fêmeas e2 machos, com uma área de 600 a900m2 por animal. Inicialmente aprevisão é desmamar os leitões nes-ta unidade e levar para confinamentoe engorda no Centro de Treinamen-to da EPAGRI - CETRE no BairroItacorubi. Posteriormente, todos osestágios da criação, incluindo a en-gorda, serão conduzidos na unidadeda Ressacada. O responsável localpelo projeto é o técnico Luiz CarlosWollfer. A equipe técnica de profes-sores, pesquisadores e extensionistasé responsável pelas atividades depesquisa, ensino e pelos cursos. Éformada por profissionais das trêsinstituições envolvidas, ou seja, osprofessores Carlos Falkoski, AnaMaria Bridi, Andrea Wolff, AntonioC.M. da Rosa e o engenheiro agrôno-mo João Augusto Vieira de Oliveira,

a atividade. O projeto é acompanha-do com muito interesse e, na medidado possível, mediante cooperaçãoconcreta por parte do CEPAGRO,ONG que reúne diversas associa-ções de pequenos agricultores, o quefacilita a difusão do sistema.

Desenvolvimentosustentável

Vários estudos e pesquisas com-provam que a suinocultura ao arlivre empata em alguns pontos esupera em outros a suinocultura con-finada, tal como praticada nas condi-ções brasileiras. Os suínos ao arlivre tendem a ter mais partos porporca/ano, maior número de leitõespor porca, ganho maior de peso poranimal, menor incidência de doen-ças, etc.

A criação de suínos ao ar livre étambém uma atividade que agridemenos o ambiente, sendo, portanto,mais sustentável que o sistema tra-

além dos estudantes do cursode agronomia da UFSC. O pro-jeto prevê a comercialização,quando em pleno funcionamen-to, de 50 suínos ao mês, que, aopeso médio de 95kg e R$ 0,80/kg, resultará numa receita deR$ 3.800 mensais. “O objetivo princi-pal desta unidade didática não é só oaspecto financeiro, apesar deste itemser básico em qualquer empreendi-mento”, adianta o engenheiro agrôno-mo João Augusto de Oliveira, daEPAGRI e assessor técnico do Centrode Estudo e Promoção da Agriculturade Campo - CEPAGRO, e agrega “mastambém a questão da economia nasinstalações e medicamentos, o mane-jo descom-plicado, a menor agressãoaos animais e meio ambiente.”

João Augusto explica que asuinocultura ao ar livre, como diz onome, não exige instalações sofistica-das e caras que confinam o animal aquatro paredes, causando estresse aosuíno e, por conseguinte, tornando-omais vulnerável a doenças. No mane-jo a campo, o suíno está em situaçãobastante mais adequada de conforto, enão há aquele cheiro forte e desagra-dável, o que facilita também para aspessoas que trabalham e administram

Aspecto geral das instalações -piquete, cerca elétrica, comedouro

- e detalhe do abrigo

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8 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

Tabela 1 - Centros de treinamento da EPAGRI

Denominação Administração No No de Capaci- Capaci- No deLocalidade do CETRE, regional da de salas dade sala dade Unidades

telefone e fax EPAGRI leitos aula aula refeitório Didáticas

São Migueldo Oeste CETRESMO São Miguel 50 02 80 80 09

(0498) 22-0613 do Oeste

Chapecó CETREC Chapecó 67 03 140 120 12(0497) 22-2131

Videira CETREVI Caçador 57 04 120 75 10(0495) 33-0568

Agronômica CETRAG Rio do Sul 32 03 80 80 10(0478) 42-0141

São Joaquim CETREJO Lages 36 04 120 80 04(0492) 33-0211

Araranguá CETRAR Urussanga 64 04 120 80 12Fone (0485) 22-0894Fax (0485) 24-1677

Florianópolis CETRE Florianópolis 86 04 180 100 12(048) 234-0035

Concórdia CETREDIA Concórdia 15 01 25 20 04(0494) 44-1201

Canoinhas CETRECAN Canoinhas 30 02 40 40 01(0476) 22-1144

Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

dicional. Os dejetos dos suínos sãoreciclados no próprio local, e o soloassim adubado é ideal para realizarrotação com culturas anuais, dimi-nuindo a incidência de pragas e doen-ças e trazendo mais recursos ao pro-dutor.

Esta nova metodologia de criarsuínos não é uma volta ao passado,

como pode parecer a princípio, e simum aperfeiçoamento de várias técni-cas. Ela foi introduzida na Inglaterrae se disseminou pela Europa. Atual-mente mais de 50% das propriedadesinglesas que iniciam atividadesuinícola o fazem no sistema ao arlivre. Neste sistema a rentabilidadetende a ser maior e os riscos bem

menores. “É um sistema resistentea crises”, ressalta o professor CarlosFalkoski, do CCA/UFSC, e completaque “na época em que a criaçãotradicional enfrenta toda sortede problemas técnicos, econômicose sociais, esta maneira de conduzira suinocultura se mantém está-vel”.

Doces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultorDoces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultorDoces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultorDoces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultorDoces e conservas: uma alternativa de renda para o agricultorNo período de 23 a 26 de outubro

passado, esteve participando do cur-so Indústria Caseira - Frutas e Hor-taliças - mais um grupo de produto-ras e produtores rurais, no Centrode Treinamento da EPAGRI -CETRE, em Florianópolis. Este cur-so faz parte do ProgramaCatarinense de Profis-sionalizaçãode Produtores Rurais, desenvolvidopela EPAGRI, com o apoio da GTZ(Sociedade Alemã de Cooperação Téc-nica), cujo principal objetivo é tornara atividade agrícola mais atrativa,produtiva e rentável.

É interessante registrar o grandeinteresse das senhoras (maioria nogrupo) no aprendizado das receitas eno uso correto das técnicas, desde amanipulação, higiene e cuidados naescolha dos produtos, até o aprovei-tamento, conservação e comercia-lização das frutas e hortaliças produ-zidas na propriedade.

Entre as inúmeras receitas re-passadas no curso, todas executadaspelo grupo na cozinha experimentaldo CETRE, constam sucos, geléias,doces em pasta e de corte, compotas,conservas, picles, frutas secas e cris-talizadas, chucrute, massa de toma-te, licores, entre outros.

Segundo a instrutora da EPAGRI,Maria Salete Ranzi, as hortaliças efrutas, abundantes na propriedadeno período da safra, podem ser trans-formadas em conservas e doces paraserem consumidas pela família naentressafra e, havendo excedente,este pode ser comercializado.

Este ano, mais de 300 produtoresrurais participaram do curso indus-trialização caseira, podendo com issocontribuir no aumento da renda fa-miliar, com a venda destes produtos

artesanais.Além deste, a EPAGRI e a GTZ

oferecem outros cursos de capacitaçãoem tecnologia agropecuária, pesquei-ra e gerencial para agricultores, pes-cadores e suas famílias. Os nove cen-tros de treinamento da EPAGRI, dis-tribuídos pelo Estado, oferecem a infra-estrutura necessária para a realiza-ção dos cursos (Tabela 1).

As inscrições e informações so-bre estes cursos são obtidas nos Escri-tórios Municipais e Regionais daEPAGRI, nos Conselhos Municipaisde Desenvolvimento Rural das pre-feituras e nos sindicatos rurais. Osinteressados pagam 30% dos custosdiretos dos cursos e a SecretariaEstadual do Desenvolvimento Rurale da Agricultura subsidia o restante.

Nota: a) Serão conduzidos também cursos profissionalizantes para os produtores rurais nas estações experi-mentais da EPAGRI em Itajaí, Lages e Urussanga, na Fundação 25 de Julho, em Joinville, e no ParqueEcológico Cidade das Abelhas, em Florianópolis.

b) Outros cursos: Administração rural, Apicultura, Armazenagem, Arroz irrigado, Bananicultura, Con-servação do solo e da água, Cultivo protegido de hortaliças, Cultura de mexilhões, Fruticultura declima temperado, Fruticultura de clima tropical, Gado leiteiro, Indústria artesanal (frutas e horta-liças, lã de ovelha, leite, panificação, peixe, suínos), Manejo da irrigação, Mecanização (colheitadeira,motores marítimos, pulverizadores, trator 2 rodas, trator 4 rodas), Olericultura, Ovinocultura,Piscicultura de água doce, Saneamento ambiental, Suinocultura (ciclo completo, produtores deleitões, terminadores, ar livre), Silvicultura, Uvas e Viveiristas.

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 9

Eliane Rute de Andrade eJean-Pierre Henri Joseph Ducroquet

Fi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidade

A

Bacteriose em ameixeiraBacteriose em ameixeiraBacteriose em ameixeiraBacteriose em ameixeiraBacteriose em ameixeira

bacteriose da ameixeira, tambémconhecida por mancha bacte-

riana, é causada por Xanthomonas pruni(EFS) Dowson e ocorre em todos oslocais onde essa fruteira é cultiva-da.

Os primeiros registros descrevem-na como doença de folhas, ramos efrutos de ameixeiras japonesas (Prunussalicina) no Estado de Michigan, E.U.A.(1). Sua ocorrência no Estado de SantaCatarina foi relatada pela primeira vezem 1971 (2).

Esta doença é um dos fatoreslimitantes à expansão do cultivo daameixeira em Santa Catarina, princi-palmente nas regiões mais altas e friasdo Estado e causa também severosdanos na região do Alto Vale do Rio doPeixe, SC, maior região produtora doEstado.

O desfolhamento, no início do ve-rão, reduz a produção nos ciclos subse-qüentes e enfraquece a planta, que setorna suscetível ao ataque de brocas eoutros insetos.

Em cultivares de ameixas muitosensíveis ao cancro nos ramos provoca-dos por X. pruni, como por exemploPluma 7 e Reubennel e as cultivarescalifornianas que dominam as importa-ções brasileiras de ameixa, comoAngeleno, a doença prejudica conside-ravelmente o desenvolvimento dasplantas, podendo provocar até mesmoo secamento das mesmas. Na Tabela 1estão apresentadas as cultivares maisplantadas na região do Alto Vale do Riodo Peixe e seu comportamento emrelação a X. pruni.

As frutas infectadas pela doençaracham-se, podendo ser atacadas porfungos como Monilinia spp,Colletotrichum gloeosporioides eRhizopus spp, o que as tornaimprestáveis para o consumo ecomercialização; em algumas cultiva-res, como Harry Pickstone, plantadasem local inapropriado, a percentagem

Tabela 1 - Características das cultivares de ameixeira quanto à suscetibilidadea X. pruni, indicadas para o Meio Oeste Catarinense. Estação Experimental de

Videira-EPAGRI, SC. 1995

Sensibilidade a Xanthomonas pruni(A)

CultivarFruto Folha Cancro bacteriano/ramos

Amarelinha T S/T TFrontier R S/T S/THarry Pickstone S T SSanta Rosa T S TSimka R S/T TWade T S TReubennel S/T T SLetícia T R R

(A) R- Resistente; T - Tolerante; S - Sensível.

de frutos atacados pode atingir 80%.Atualmente a Estação Experimen-

tal de Videira - EPAGRI está desenvol-vendo alguns trabalhos de pesquisavisando encontrar algum produto quí-mico eficiente para o controle destadoença, bem como determinar o nívelde resistência de cultivares.

Sintomas

A doença ocorre em folhas, ramose frutos. Nas folhas, aparecem inicial-mente pequenas manchas angulares,as quais, mais tarde, tornam-se púr-puras ou pretas, com as bordas angu-lares e geralmente delimitadas porum halo verde-amarelo, o que permi-te sua identificação. Em seguida há aformação de uma camada de abscisãoe o tecido atacado se desprende, paramais tarde cair (Figura 1A). As folhasmuito atacadas caem prematuramen-te no início do verão, reduzindo aprodução nos próximos anos. Em casode ocorrência de escaldadura das fo-lhas, a bacteriose pode acelerar oprocesso de declínio da planta ataca-da.

Nos ramos, a infecção pelopatógeno pode resultar em dois tiposde cancro. As lesões que aparecemdurante o ano de infecção são chama-

das cancros de verão, e se localizam,geralmente, nos entrenós. As infec-ções que ocorrem no outono, mas sóvisíveis na primavera seguinte, sãodenominadas cancros de primavera, egeralmente são encontradas nas ge-mas ou nós (Figura 1B).

No fruto, a mancha bacteriana éinicialmente evidenciada como umamancha pequena, circular e parda nasuperfície (Figura 1C). À medida quea doença se desenvolve, as manchastornam-se levemente mais escuras ecom depressão, rachando a epiderme.Freqüentemente, pequenas rachadu-ras e um halo verde claro circundamas manchas (3).

Condições predisponentes

Vários são os fatores que contri-buem para o desenvolvimento da do-ença, e entre eles destacam-se a sen-sibilidade das cultivares mais planta-das e as condições ambientais propíci-as para a ocorrência e desenvolvi-mento do patógeno.

A queda das folhas no outono deixauma cicatriz, que pelo período de uma três dias permite a entrada de X.pruni no hospedeiro. A bactéria so-brevive ao inverno nos espaçosintracelulares do córtex, floema e

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Fi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidade

A B C

parênquima do xilema (4).Os cancros nos ramos são a princi-

pal fonte de inóculo da doença (5). Ainfecção pode ocorrer durante o perí-odo de crescimento vegetativo emtodas as partes suscetíveis (folha, ra-mos do ano e frutos) (5), dependendointeiramente das condições ambien-tais, como temperatura moderada comchuvas freqüentes, porém suaves,acompanhadas de ventos fortes e ne-blinas, que são as condições favorá-veis.

A disseminação a curta distânciaocorre através da água, que transpor-ta o inóculo na própria planta ou deuma planta para outra. A longa dis-tância, a disseminação se faz princi-palmente por mudas, borbulhas e fru-tos.

As bactérias penetram nas plantasprincipalmente por meio de ferimentosque são causados por insetos, máqui-nas, equipamentos e poda.

Controle

Medidas preventivas

O controle da doença com o uso debactericidas (à base de cobre e/ouantibiótico), que são produtos de con-tato, apenas reduz a severidade dosdanos e a dispersão do patógenopara frutos e folhas (6). Por isso ocontrole de X. pruni deve ser preven-tivo, através de adoção das seguintesmedidas:

• Evitar a instalação de pomar emlocais altos e sujeitos a ventos frios eneblina, com exposição sul ou sudoes-te.

• Proteger o pomar dos ventos,instalando quebra-ventos, como meiode evitar a disseminação do patógeno.

• Evitar o plantio de cultivares deameixeira suscetíveis (Tabela 1).

• Tratamento de outono com caldabordalesa na proporção de 2% (Tabela2), no período de queda natural dasfolhas.

• Podar e queimar os ramos comcancro logo após a constatação dossintomas.

• Manter a planta bem nutrida,vigorosa, porém sem excesso de ni-trogênio.

• Utilizar porta-enxertos e enxer-tos sadios, sem nenhum tipo de can-cro.

• Controlar insetos que causamferimentos nas plantas e frutos, prin-cipalmente a mariposa oriental e amosca das frutas.

Tabela 2 - Controle químico de Xanthomonas pruni em ameixeira. Estação Experimen-tal de Videira - EPAGRI, 1995

Produto comercial (p.c.) Dosagem de p.c.Recomendações

(i.a. em %) (g/100 l de água)

Calda bordalesa 2.000 Tratamento de inverno e duas pulveri-(cobre 25%) zações na queda de folhas: primeira com

25% de folhas caídas e segunda aplicaçãocom 75% das folhas caídas.

Sulfato de zinco 400 Pulverizações na primavera após a bro- (Zinco 38,46%) + cal + 400 tação, repetindo a intervalos de 20 dias

num total de três aplicações.

Cuprozeb 300 Duas aplicações na queda de folhas: pri- (cobre 17% + mancozeb 44%) meira com

25% de folhas caídas e segundaaplicação com 75% de folhas caídas.

Agrimicina 240 Três a quatro aplicações, quinzenalmen-(Oxitetraciclina 94%) te entre a queda das pétalas até 14 dias

antes da colheita.

Dithane M-45 200 Aplicações quinzenais desde a queda das(Mancozeb 80%) pétalas até 21 dias antes da colheita.

Figura 1 - Sintomas de Xanthomonaspruni em ameixeira - (A) Folha;

(B) Ramos; (C) Frutos

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Fi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidade

Controle químico

Nos experimentos realizados até omomento, nas cultivares Santa Rosa,Reubennel e Amarelinha, não foi pos-sível avaliar se há algum produtoquímico eficiente no controle àbacteriose, pois houve uma baixa inci-dência da doença nos pomares ondeforam realizados os trabalhos. Entre-tanto, os resultados mostraram quemuito dos sintomas foliares atribuí-dos à bacteriose na verdade eramsintomas de fitotoxidez, problema queestá bastante difundido na região pro-dutora do Alto Vale do Rio do Peixe,SC, provocada principalmente porprodutos químicos a base de cobre(sulfato de cobre, oxicloreto de cobre+ mancozeb (cuprozeb)), mesmo mis-turados com cal. Outros produtos,cuja eficiência contra a bacteriose emameixeira é citada na literatura, comoa mistura Dodine (Venturol) + Captan,também causaram fitotoxidez nas trêscultivares citadas acima. Pulveriza-ções com oxicloreto de cobre ehidróxido cuproso nas cultivaresGolden King e Red Gold, quinzenal-mente, a partir do final da queda depétalas até catorze dias antes da co-lheita permitiram de 30 a 70% decontrole de bacteriose em frutos efolhas destas cultivares (6). Contudo,fitotoxidez por cobre freqüentementeocorre em pomares comerciais deameixa na África do Sul e está regu-larmente associada a plantas expos-tas a alta umidade (6), o que tambémocorre na região produtora do AltoVale do Rio do Peixe. Portanto, estesprodutos não devem ser pulverizadosdurante o perío-do vegetativo da amei-xeira.

A pulverização de oxitetraciclina,mancozeb e sulfato de zinco + cal nãoprovocou fitotoxidez nas plantas deSanta Rosa, Reubennel e Amareli-nha. Em trabalhos realizados na Áfri-ca do Sul, observou-se que pulveriza-ções semanais com oxitetraciclinaapresentaram níveis de controle vari-ável, dependendo da cultivar (6). Osulfato de zinco + cal vem sendo usadohá vários anos na região deCuritibanos, SC, visando o controleda bacteriose da ameixeira (7), porémcom eficiência questionável.

Os danos provocados por fitotoxidez

nas folhas da ameixeira caracterizam--se por sintomas foliares que come-çam por várias manchas de coloraçãoamarelada no limbo foliar (8). Com opassar do tempo o centro dessas man-chas fica necrosado e cai. As folhasficam totalmente perfuradas e comum ama-relecimento acentuado, e porfim caem deixando as plantas comple-tamente desfolhadas (Figuras 2A, B eC).

Freqüentemente estes danos sãoconfundidos com os sintomas dabacteriose, porém as manchasprovocadas pela fitotoxidez são maiscirculares e maiores (6 e 9).

Com a identificação de produtosquímicos que, devido a sua fitotoxidezcausam uma queda antecipada e drás-tica das folhas em pomares de amei-xeira, o presente trabalho vem soluci-onando parte de problema. A conti-nuação das investigações deverá per-mitir avaliar melhor a eficiência dosprodutos remanescentes, nãofitotóxicos, no controle da bacteriose.

Literatura citada1. ANDERSON, W.H. Diseases of fruit crops.

New York: McGraw-Hill, 1956. 501p.

2. ROBBS, C.F.; ALVES, A.B.; KIMURA, O.Ocorrência da “Mancha bacteriana”Xanthomonas pruni E.F. Smith emPrunus sp no Estado de Santa Catarina.Revista da Sociedade Brasileira deFitopatologia, v.4, n.4, p.57-58, 1971.

3. FELICIANO, A.; FEHN, L.M. Calendáriode tratamentos fitossanitários para pes-segueiros. Pelotas: EMBRAPA/UEPAEde Cascata, 1980. 17p. (EMBRAPA-UEPAE de Cascata. Circular Técnica,3).

4. FELICIANO, A.; DAINES, R.H. Factorsinfluencing ingress of Xanthomonaspruni through peach leaf scars andsubsequent development of springcankers. Phytopathology, Saint Paul,v.60, n.12, p.1720-1726, 1970.

5. ADAM, A.V.; POWEL, D.; ANDERSON,H.W. Time of peach twig infection byXanthomonas pruni in relation tospring-canker incidence. Phytopa-thology, Saint Paul, v.45, p.285-287,1953.

6. DU PLESSIS, H.J. Control bacterialspot on plums by sprays of calcium

B

C

Figura 2 - Fitotoxidez por fungicida emfolha de ameixeira - (A) Sintoma inicial;

(B) Perfuração das folhas;(C) Desfolhamento

oxytetracycline and copper andinfusion with N-pyrrolidinomethyl tetracycline.Phytophylactica, Manual.Pretoria, v.19, p.227-229, 1987.

7. COOPERATIVA AGRÍCOLA DECOTIA (SP). São Paulo: s.d. n.p.(Mimeógrafo).

8. ANDRADE, E.R.; DUCROQUET, J.-P.H.J. Controle químico deXanthomonas pruni em ameixei-ra no Estado de Santa Catarina.In: CONGRESSO BRASILEIRODE FITOPATOLOGIA, 27., 1994.Itajaí, S.C. Resumos. Itajaí: Socie-dade Brasileira de Fitopatologia,1994. p.270.

9. DU PLESSIS, H.J. Bacterial spotdisease of stone fruits: Overviewof findings. Deciduous fruitGrower, Cape Town, v.38, n.4,p.128-133, Apr. 1988.

Eliane Rute de Andrade, enga. agra.,M.Sc., Cart. Prof. no 34.685-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental deVideira, C.P. 21, Fone (0495) 33-0054,Fax (0495) 33-0391, Telex 492 246, 89560-000 - Videira, SC e Jean-Pierre HenriJoseph Ducroquet, eng. agr., Dr., Cart.Prof. no 17.954-D, CREA-PR, EPAGRI/Estação Experimental de Videira, C.P.21, Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391, Telex 492 246, 89560-000 - Videira,SC.

A

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12 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Conferência sobre agricultura sustentável desta-Conferência sobre agricultura sustentável desta-Conferência sobre agricultura sustentável desta-Conferência sobre agricultura sustentável desta-Conferência sobre agricultura sustentável desta-ca a pequena propriedadeca a pequena propriedadeca a pequena propriedadeca a pequena propriedadeca a pequena propriedade

Paulo Sergio Tagliari e Ivan José Canci

Pequena propriedade é o foco das atenções de técnicos, pesquisadores,professores universitários e agricultores do Sul do Brasil

Conferência Internacional sobreTecnologia e Desenvolvimento

Sustentável, realizada em Porto Ale-gre, no último mês de setembro, trou-xe à tona algumas conclusões impor-tantes, entre as quais que o modelo dedesenvolvimento rural implantado noBrasil nos últimos 30 anos chegou aoesgotamento e, apesar dos avanços ebenefícios alcançados, infelizmentetem sido um modelo concentrador eexcludente. Ele foi baseado na produ-ção de grãos para exportação, namonocultura e num padrãotecnológico caro, que desempregapessoas e degrada o meio ambiente,descapitalizando os pequenos agricul-tores continuamente nos últimos anos.

Os conferencistas neste evento(participaram especialistas de váriospaíses - Estados Unidos, Espanha,Costa Rica, Uruguai, Paraguai e Bra-sil - além de pesquisadores, técnicos,professores, estudantes e agriculto-res dos três Estados da região Sul)revelaram que a agricultura constan-temente vem perdendo força mesmonos países mais adiantados e, princi-palmente nestes, onde a indústriaquímica e agroalimentar está coman-dando o sistema e ditando as regras. E

crescido ao longo dos anos, ao passoque os preços recebidos pelos agricul-tores diminuíram, e continuam cain-do até hoje e, se não fosse o subsídiogovernamental, os produtores ameri-canos e também europeus já estari-am quebrados. A realidade em todoo mundo parece ser uma só: cadavez o agricultor recebe menos, cadavez o consumidor paga mais. Outrainformação relevante foi a de que osEstados Unidos estão, neste segundosemestre de 1995, discutindo sua leiagrícola (estabelecida de cinco em cin-co anos) e, em função dos problemasenfrentados pelos produtores, menci-onados acima, os estadunidenses es-tão alocando agora recursos públicoscrescentes em pesquisa, ensino e ex-tensão em agricultura sustentável.

Nova visão de agricultura

Se a situação da agricultura ameri-cana não é das melhores, imagine-sea da brasileira. Para minorar os efei-tos negativos das políticas agrícolas edo modelo tradicional de desenvolvi-mento imposta aos agricultores, vári-as entidades governamentais e não-governamentais (EMBRAPA, univer-sidades, EMATER’s, cooperativas,ONGs, associações de agricultores)reuniram-se pela primeira vez na his-tória, na Conferência, em Porto Ale-gre, RS, para discutir formas de coo-peração, tendo como objetivos princi-pais:

• contribuir para tornar a agricul-tura sustentável uma real opçãotecnológica;

“Agricultura sustentáveldiminui riscos econômicos

e contaminação dos sereshumanos e animais”

o produtor rural, como fica nesta situ-ação?, perguntaram os palestrantes.Respondendo eles mesmos, exempli-ficaram que nos Estados Unidos, con-forme comprovam estatísticas, os pre-ços pagos pelos consumidores têm

A

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

• desenvolver metodologias de as-sistência técnica e extensão rural ela-boradas a partir de uma nova visão deagricultura, seja enquanto atividadeprodutiva, seja enquanto modo de vidadas populações rurais;

• afirmar, política e institucional-mente, a opção pela agricultura fami-liar, como a forma social de uso daterra que melhor corresponde à no-ção de sustentabilidade técnico-pro-dutiva e às necessidades do país;

• concretizar formas duradourasde cooperação entre organizações pú-blicas e não-governamentais, que ca-minhem na perspectiva da constru-ção de uma agricultura sustentável;

• elaborar uma agenda de políticaspúblicas capaz de orientar a ação doEstado no sentido dos “princípios-maio-res” do programa: um desenvol-vimento rural socialmente justo, eco-nomicamente eficiente, culturalmen-

Conferência é marco histórico para o desenvolvimento sustentável da agriculturabrasileira

doenças, minimiza os riscos econômi-cos e de contaminação das pessoasque trabalham na produção. E, alémde preservar o meio ambiente, estaspráticas permitem às pequenas pro-priedades produzir alimentos de qua-lidade (livres de contaminação quími-ca) e com baixo custo.

Vale lembrar também que, nos

meses anteriores à Conferência, fo-ram realizados quinze encontros pre-paratórios em várias cidades da re-gião Sul do Brasil e os “atores” envol-vidos no processo propiciaram aproxi-mações inéditas entre as diferentesorganizações que hoje atuam no espa-ço agrário do Sul do Brasil, além deelaborarem documentos com propos-

“Preços recebidos pelosagricultores caem, preços

pagos pelos consumidoressobem.”

te aceito e ambientalmente sustentá-vel.

A importância da pequena proprie-dade familiar também foi destacadano evento, sendo que historicamenteos minifúndios do Sul do Brasil, decolonização européia, principalmen-te, são reconhecidos pela sua eficiên-cia e produtividade. Ao contrário, agrande propriedade degrada mais oambiente, emprega menos mão-de-obra, produz poucos produtos, basica-mente para exportação, e tem maiorcusto de produção.

A sociedade demanda cada vez maisprodutos saudáveis e métodos de pro-dução agropecuária que preservem eaté regenerem os recursos naturais.A pequena ou média propriedade fami-liar, através da diversificação, da ro-tação de culturas e da reciclagem deenergia possibilita um melhor apro-veitamento e reposição de nutrien-tes, reduz a incidência de pragas e

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

tas importantes que foram trazidas aoevento em Porto Alegre.

Entidades públicasenvolvidas

As instituições públicas, tais comoEMBRAPA, EMATERs e universida-des, até agora céticas em relação àagricultura sustentável, começam arevisar seus métodos e filosofia detrabalho. O pesquisador LaércioNunes e Nunes, representante daEMBRAPA na Conferência, ponderouque a mudança para esta nova visãode agricultura vai ser difícil, o quadrode pesquisadores é grande e aindadirecionado à agricultura tradicional,porém o processo de mudança, mes-mo lento, deverá acontecer. O diretorda EMATER/RS, Jair Seidel, apresen-tou uma série de ações que aquelaentidade está desenvolvendo no RioGrande do Sul dentro do Programa deDesenvolvimento Rural Sustentável,entre outras a saber: direcionamentopara a agricultura familiar (90% dotrabalho); parcerias - estimular a for-mação; promover ações e programasque levem ao desenvolvimento ruralsustentável; contribuir para o aper-feiçoamento econômico e social dasformas associativas.

agricultura sustentável, revisar o sis-tema de impostos a fim de beneficiaros produtores ditos sustentáveis e depequena propriedade, e buscar umplanejamento participativo, em quetécnicos e agricultores conduzam pas-so a passo e lado a lado o processo.

Orildo Belegante, agricultor ecoló-gico do município de Água Santa, RS,e um dos vários pequenos produtoresparticipantes da Conferência, resumeassim o seu sentimento em relação aodesenvolvimento rural sustentável:“Não há sobrevivência da agriculturafamiliar fora do modelo tecnológicosustentável. A pesquisa, a extensão ea universidade precisam nos ajudar atrilhar este caminho. Com isto pode-mos construir uma sociedade maisjusta, tanto para o homem do campocomo para o habitante urbano que vaiconsumir nossos alimentos mais sau-dáveis”.

Não obstante a boa vontade e entu-siasmo de todos, reconheceu-se que otrabalho em agricultura sustentávelé mais complexo que o da agriculturapor pacotes tecnológicos. Para au-mentar a adesão dos agricultores etécnicos, concordou-se que o progra-ma de microbacias é uma ferramentaimportante para implantar o novoprocesso. Além disso, enumeraram-se, ainda, a formação de um banco dedados, a instalação de unidades deobservação pela pesquisa e extensão,estimular o intercâmbio inte-rinstitucional, promover pesquisas em

Finalizando, vale destacar que aofinal da Conferência aconteceu o mo-mento mais esperado e, inclusive, umfato histórico, nunca antes ocorrido.Pela primeira vez, entidades gover-namentais e não governamentais, coma presença de associações e movimen-

tos organizados de agricultores, assi-na-ram um documento, uma agendade compromisso, com vistas a desen-volver conjuntamente ações e proje-tos que buscam transformar o mundorural na direção do desenvolvimentosustentável.

“Pequena propriedade

degrada menos o ambientee produz mais emprego.”

“Entidades públicas,ONGs e agricultores

firmam convênio decooperação.”

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AdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubação

AAAAAvaliação do esterco de aves e da uréia comovaliação do esterco de aves e da uréia comovaliação do esterco de aves e da uréia comovaliação do esterco de aves e da uréia comovaliação do esterco de aves e da uréia comofontes de nitrogênio para a cultura do milhofontes de nitrogênio para a cultura do milhofontes de nitrogênio para a cultura do milhofontes de nitrogênio para a cultura do milhofontes de nitrogênio para a cultura do milho

Eloi Erhard Scherer

cama de aviário, de criações defrango de corte, é um dos adu-

bos orgânicos mais utilizados na re-gião Oeste Catarinense. A maior par-te desse adubo orgânico é utilizada nomilho, que é a cultura de maior ex-pressão e tradição de cultivo na re-gião, pois ocupa o primeiro lugar emrelação à área plantada e número deprodutores envolvidos.

Com a expansão da avicultura e dasuinocultura comercial e com a maiorutilização de rações concentradas àbase de milho, a demanda regionaldesse cereal aumentou muito nos úl-timos anos. Isso trouxe maior estímu-lo para seu cultivo e, principalmente,para adoção de novas tecnologias, vi-sando alcançar maior produção e pro-dutividade.

Uma das características maismarcantes nos últimos anos, no quediz respeito à tecnologia da adubação,foi o aproveitamento do esterco defrangos na adubação do milho, comreflexos altamente positivos na pro-dutividade.

As pesquisas com aproveitamentodo esterco de frangos na adubaçãoforam iniciadas em 1976, na antigaEstação Experimental de Chapecó,hoje Centro de Pesquisa para Peque-nas Propriedades. Inicialmente,objetivou--se avaliar a eficiência agro-nômica do esterco disponível, visandoa substituição da adubação química,dando maior ênfase aos trabalhos comadubo fosfatado com feijão e milho.

Os resultados obtidos mostrarama viabilidade técnica e econômica dautilização desse adubo orgânico emsubstituição ou suplementação à adu-bação fosfatada (1 e 2). No que serefere ao aproveitamento do estercode frangos para suprimento de nitro-gênio para a cultura do milho, muitopouco foi pesquisado, no que se relaci-ona a substituição ou complementação

A da adubação nitrogenada por estercode frangos.

O milho, por ser uma cultura queremove grandes quantidades de nitro-gênio do solo, requer adubaçãonitrogenada para complementar aquantidade suprida pelo solo, quandose deseja produtividade elevada. Porisso, um melhor entendimento dasinterações do esterco de frangos e donitrogênio do adubo com as caracte-rísticas do solo constitui fator impor-tante para a maximização do seu apro-veitamento pelas plantas e, por conse-guinte, para maior eficiência da adu-bação.

Neste trabalho são apresentadosos resultados de dois ensaios comesterco de frangos em combinaçãocom adubo nitrogenado, conduzidosna região de Chapecó, SC. O principalobjetivo da pesquisa foi avaliar o efei-to do esterco de frangos e sua interaçãocom a adubação nitrogenada no forne-cimento de nitrogênio para a culturado milho.

Condução da pesquisa

Os experimentos foram conduzi-dos a campo em dois solos representa-tivos da região Oeste Catarinense: emLatossolo e Cambissolo. Ambos ossolos vinham sendo cultivados anteri-ormente com milho e apresentaramum teor de matéria orgânica de baixo(2,5% no Cambissolo) a médio (4,0%

no Latossolo).Foram avaliadas doses de 0, 3, 6, 9

e 12t/ha de esterco de frango (baseseca), com cama de maravalha, emcombinação com 0, 40, 80 e 120kg/hade nitrogênio, na forma de uréia. Noexperimento instalado sobre umLatossolo as doses de esterco foramreaplicadas anualmente, com exce-ção da maior dose (12t/ha), enquantoque sobre o Cambissolo elas foramaplicadas somente antes do primeirocultivo. O adubo nitrogenado foi apli-cado anualmente, um terço na base edois terços em cobertura. Tanto oesterco como o adubo mineral foramdistribuídos a lanço e incorporadoscom grade de discos.

A semeadura da cultura foi feita nomesmo dia da incorporação dos adu-bos, nos meses de setembro ou outu-bro, usando-se o híbrido de milho deporte médio AG-64, com espaçamentode 1m entre linhas e uma densidadede 50 mil plantas por hectare.

A adubação de manutenção foi fei-ta de acordo com as Tabelas de Reco-mendação de Adubos e Corretivos (3),com aplicações anuais de 80kg/ha deP2O5 e 90kg/ha de K2O. As fontes denutrientes foram superfosfato triplo ecloreto de potássio.

A pesquisa foi conduzida por trêsanos no Latossolo e por dois anos noCambissolo.

Na Tabela 1 são apresentados osteores médios de nitrogênio, fósforo,

Tabela 1 - Teores de nitrogênio, fósforo, potássio e de matéria seca do esterco defrango, com cama de maravalha, utilizado nos experimentos

Experimento Esterco de MatériaN P2O5 K2O

(solo) frango seca

-----------------------------%----------------------------

Latossolo 4 lotes 3,0 4,5 3,0 66Cambissolo 2 lotes 2,6 3,9 2,2 72

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AdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubação

potássio e matéria seca do estercousado nos experimentos.

Após a colheita de cada cultivo,foram coletadas amostras de solo dacamada arável, para análise de roti-na, visando acompanhar as altera-ções nas propriedades do solo, emfunção dos tratamentos aplicados.

Resultados obtidos

Efeito na produção de grãos

Na Figura 1 estão representadasas produções médias de milho, deforma cumulativa, somatório dos trêsanos de cultivo, obtidas no Latossolo,em função dos tratamentos com es-terco de frango e uréia.

Em todos os anos o milho respon-deu positivamente à adubaçãonitrogenada e à adição de esterco defrangos. Maiores incrementos na pro-dução de grãos foram alcançados coma menor dose de uréia. Não foramdetectadas diferenças significativas norendimento de grãos entre doses denitrogênio em qualquer nível de es-terco ou mesmo na ausência desse.Dessa maneira, deixou-se de apresen-tar no gráfico as produções da maiordose de uréia (120kg N/ha).

No primeiro ano, a resposta dacultura à adubação com esterco foipositiva até a aplicação de 6t/ha. Do-ses superiores (9 e 12t/ha) não diferi-ram desta e nem entre si.

No tratamento com a menor dosede esterco (3t/ha), verificou-se umaresposta positiva à adubação nitroge-nada suplementar de 40kg/ha de ni-trogênio, porém sem vantagem naprodução de grãos sobre o tratamentocom aplicação de 40kg/ha de nitrogê-nio sem esterco.

Nos dois anos subseqüentes, a ten-dência de resposta da cultura, nostratamentos com reaplicação de es-terco, foi semelhante àquela do pri-meiro ano, ou seja, resposta positivaaté 6t/ha de esterco ou combinação de3t/ha de esterco com 40kg/ha de N,que por sua vez não diferiu estatisti-camente do tratamento com apenas40kg N/ha.

Quando o esterco não foi reaplicadoanualmente, isto é, foi aplicado so-mente no primeiro ano (tratamentocom 12t/ha de esterco), verificou-seuma resposta positiva do milho à apli-

cação de 40kg de nitrogênio, a partirdo segundo ano. Isto mostra que mes-mo uma aplicação maciça de 12t/ha deesterco não é capaz de suprir a deman-da de nitrogênio da cultura por duasou mais safras. Contudo, o efeito resi-dual do esterco existe, só que emmenor escala, como comprovam osaumentos na produção de 1,2t/ha dosegundo ano e 1,4t/ha do terceiro ano,respectivamente 47 e 32% em relaçãoao tratamento sem esterco e adubonitrogenado. Em produção, o efeitoresidual de 12t de esterco pode sercomparado a uma aplicação de 40kgde nitrogênio, na forma de uréia.

Quando a decisão é substituir aadubação nitrogenada por esterco, aaplicação anual de doses menores, até6t, parece ser a melhor alternativa.Outra alternativa seria a aplicação de6t/ha de esterco no primeiro ano efazer uma suplementação de 40kg/hade nitrogênio com uréia, nos anossubseqüentes.

As produções médias de milho, doexperimento conduzido no Cambisso-lo, indicam uma maior resposta dacultura à adubação com esterco enitrogênio nessa unidade de solo (Fi-gura 2).

No primeiro ano, os maiores tetosde produtividade foram alcançadoscom a aplicação de 80kg/ha de nitrogê-

nio, na ausência de esterco e de 120kg/ha quando combinado com 6t/ha es-terco. Essa maior resposta à aduba-ção nitrogenada, em combinação comesterco, nesse solo, bem como a dife-rença de comportamento entre os doissolos quanto à interação dos trata-mentos (esterco x adubo nitrogenado),pode estar relacionada mais ao tipo deesterco utilizado, do que propriamen-te à diferença nas características dossolos. A maior resposta da cultura àadubação nitrogenada no Cambissolopode ser atribuída ao menor teor dematéria orgânica desse e, principal-mente, ao tipo de esterco utilizado.Nesse solo foi usada cama de doislotes de frango, ou seja, com maismaravalha e menos dejetos, enquan-to que no experimento do Latossolo oesterco era de quatro lotes, mais ricoem nutrientes (Tabela 1) e, proporci-onalmente, com menor conteúdo demaravalha. Com isso, uma maior pro-porção do nitrogênio inorgânico podeter sido imobilizado com o aumentoda disponibilidade de materialenergético, adicionado com o esterco.Além disso, a cama de maravalha,rica em celulose e lignina, de difícildecomposição, pode ter contribuídopara uma imobilização mais prolon-gada do nitrogênio no solo. Nessecaso, estabelece-se uma competição

Figura 1 - Efeito do esterco de frangos e da adubação nitrogenada na produçãode milho no Latossolo (três anos)

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AdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubação

para as plantas.As análises de solo, realizadas du-

rante o período experimental, mos-traram que ocorreu um aumento dosteores de fósforo e potássio disponí-veis em ambos os solos, destacando-se, principalmente, o fósforo com ex-pressivos aumentos, na medida emque maiores doses de esterco foramincorporadas (Tabela 2). Um acúmulode fósforo caracteriza um aumento doefeito resi-dual do esterco no solo euma maior disponibilidade potencialdesse nu-triente para as plantas.

Em solos bem providos de fósforo,uma aplicação anual de 3t/ha de ester-co é suficiente para repor a quantida-de de fósforo extraída pela cultura domilho, mantendo ou inclusive aumen-tando, devido ao seu efeito residualcumulativo, a disponibilidade dessenutriente ao longo dos anos. Isso sig-nifica que solos que recebem aplica-ções anuais superiores a 3t/ha de es-terco tendem a apresentar altos teo-res de fósforo e potássio extraíveis.Nessas condições de lavoura, com al-tos teores de fósforo disponível, muitocomum em propriedades com aviário,uma adubação nitrogenada muitasvezes é suficiente para alcançar altasproduções de milho e reduzir os cus-tos de produção (5).

Por isso, o produtor deve dar pre-ferência a utilização do esterco emáreas carentes com fósforo e potássio.Caso todas suas áreas de terra estive-rem bem supridas desses nutrientes,o produtor poderá optar pela comprado adubo nitrogenado e venda do es-terco, já que seu preço de mercado é,

por nutrientes entre microorganis-mos e plantas e, quando o nível deN-inorgânico do solo for insuficientepara atender as necessidades de am-bos, as plantas são desfavorecidas,uma vez que, nestas circunstâncias,são fracas competidoras pelo nutrien-te (4). Em função disso, verificou-se,também, uma maior resposta da cul-tura à adubação nitrogenada noCambissolo no segundo ano, princi-palmente quando aplicada nos trata-mentos com esterco residual. Nestesfoi verificada uma resposta positivapara uma aplicação de 120kg/ha denitrogênio no nível resi-dual de 12t/ha de esterco.

Os dados de produção dos trata-mentos sem adubo nitrogenado con-firmam o baixo efeito residual do adu-bo esterco de frangos no fornecimen-to de nitrogênio, já constatado noLatossolo. Isso mostra que, depen-dendo da qualidade do esterco, princi-palmente no que se refere ao conteú-do de cama e relação C/N, umasuplementação com nitrogênio, atra-vés da adubação mineral, pode servantajosa. O benefício da aduba-çãonitrogenada pode ser mais significati-vo quando o esterco não for apli-cadoregularmente antes de cada cultivo.

Quando a decisão for substituir a

adubação nitrogenada por esterco, essedeverá ser de boa qualidade e aplicadoantes de cada cultivo. Uma aplicaçãoanual de 3t/ha de cama de aviário defrangos pode substituir uma adubaçãonitrogenada de 40kg/ha, aplicada comouréia.

Efeito nas característicasdo solo

O esterco de frango pode, da mes-ma forma como quase todo resíduoorgânico, alterar algumas caracterís-ticas químicas e físicas do solo, relaci-onadas ao suprimento de nutrientes

Figura 2 - Efeito do esterco de frangos e da adubação nitrogenada na produçãode milho no Cambissolo (1o Ano = efeito imediato do esterco e 2o Ano = efeito

residual do esterco)

Tabela 2 - Evolução dos teores de fósforo no Latossolo com a aplicação de esterco portrês anos consecutivos

Esterco de frango - t/haAno

0 3 6 9 12

-------------------------------------------ppm------------------------------------------

1 7,7 10,6 14,7 17,0 18,9

2 7,4 13,3 20,7 21,0 15,9(A)

3 8,2 18,2 25,6 32,6 15,3(A)

(A)Residual, sem reaplicação do esterco.

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AdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubaçãoAdubação

normalmente, altamente compen-sador.

A manutenção dos teores de fósfo-ro disponível, verificada na parcelatestemunha, pode ser explicada pelaadubação básica, que constava da apli-cação anual de 80kg/ha de P2O5 e90kg/ha de K2O, na forma desuperfosfato triplo e cloreto de potás-sio, respectivamente.

A aplicação inicial de esterco naquantidade de até 12t/ha, ou mesmo9t/ha, reaplicadas por três anos con-secutivos, não alterou os teores dematéria orgânica e valores de pH noLatossolo. Isto indica que maior partedos compostos orgânicos do estercoforam mineralizados imediatamentee muito poucos passaram para a for-ma de húmus estável no solo. Cabeesclarecer, entretanto, que grandeparte da maravalha, usada como cama,é de difícil decomposição no solo e, nasua grande parte, não é determinadapelo método da combustão húmida(3). Isso significa que a adição de es-terco, na quantidade necessária paraatender a demanda de nutrientes dasculturas, tem, normalmente, poucoefeito no nível de matéria orgânica dosolo; somente com o uso mais intensi-vo e com a aplicação de quantidadeselevadas por vários anos consecutivosé possível conseguir um aumentomensurável no conteúdo de matériaorgânica do solo (6).

O efeito do esterco sobre o pH desolos argilosos altamente tamponados,como são grande parte dos solos daregião Oeste, é insignificante, em fun-ção das pequenas quantidades de es-terco aplicadas. Logo após a aplicaçãodo esterco pode ocorrer, pela presen-ça de pequenas quantidades de óxidoou hidróxido de cálcio e amônia, umaelevação temporária no pH do solo.Porém, poucos dias ou semanas após,com a nitrificação do nitrogênioamoniacal, haverá liberação de íonsH+ e o pH do solo volta novamente aoseu valor ini-cial.

Considerações finais

De modo geral, o emprego de adu-bo nitrogenado e/ou esterco de frangoconstitui fator importante para a ob-tenção de altas produtividades de mi-lho nos solos da região.

Os resultados obtidos no presente

trabalho indicam que o esterco podesubstituir parcialmente ou totalmen-te a adubação nitrogenada mineral nacultura do milho, dependendo da quan-tidade aplicada.

Para uma mesma quantidade denitrogênio aplicada, o nutriente dauréia é mais eficientemente aprovei-tado pela cultura do que aquele conti-do no esterco, resultando em maiorprodução de grãos. Por outro lado, onitrogênio do esterco, devido amineralização gra-dual dos compos-tos orgânicos, apresenta maior efeitoresidual no solo.

Para um melhor aproveitamentodo nitrogênio do esterco de frango epara manter uma elevada produtivi-dade de milho, necessário se faz aaplicação de esterco antes de cadacultivo ou fazer uma adubação com-plementar com adubo nitrogenado, apartir do segundo ano.

Em solos com baixo ou médio po-tencial de resposta à adubaçãonitrogenada, uma aplicação anual de6t/ha de esterco mostrou ser suficien-te, para atender a demanda de nitro-gênio da cultura do milho. Solos commaior potencial de resposta necessi-tam, em geral, de adubação mineralcomplementar, variável com o teto deprodutividade esperado (3).

Podem ser considerados solos comalto potencial de resposta à adubaçãonitrogenada aqueles com acidezcorrigida, baixo teor de matéria orgâ-nica (<2,5%) e que, por muitos anos,vêm sendo continuamente cultivadoscom milho ou outros cereais. Soloscom baixa resposta esperada são aque-les com maior teor de matéria orgâni-ca ou nos quais houve cultivo intensode leguminosas de grãos ou de adubosverdes antes do milho, ou que recebe-ram calagem há pouco tempo.

Dependendo da qualidade do ester-co, da quantidade de cama presente eda relação C/N, a adubaçãonitrogenada suplementar com uréiapoderá ser benéfica, melhorando adisponibilidade de nitrogênio para asplantas (6). O esterco com cama deum ou dois lotes de frangos apresen-ta, em geral, uma maior proporçãode maravalha e uma maior relação C/N, resultando numa maior imobiliza-ção do nitrogênio adi-cionado ao solocom o adubo orgânico.

A consistência dos valores de fósfo-

ro e potássio no solo, encontradosapós cada nova aplicação de esterco,mostra o alto efeito residual desseadubo orgânico quanto à disponibili-dade desses elementos. Uma aplica-ção anual de 3t/ha de esterco mos-trou ser suficiente para manter osteores de fósforo e potássio no solo,sem necessidade de adubação mine-ral complementar.

Aplicações superiores a 3t/ha deesterco proporcionam o acúmulo defósforo e potássio no solo, aumentan-do seu efeito residual. Nessas condi-ções de lavoura, o problema maiscrítico para obtenção de maiores pro-dutividades passa a ser a utilizaçãoracional de adubo nitrogenado, sejaatravés de uma aplicação isolada deuréia ou em combinação com esterco.

Agradecimentos

O autor agradece aos engenheirosagrônomos Evandir Godoy deCastilhos e Ivo Jucksch, ex-pesquisa-dores do CPPP, que contribuíram nacondução dos experimentos e na rea-lização deste trabalho.

Literatura citada

1. SCHERER, E.E.; NADAL, R. de; CASTILHOS, E.G.de Utilização de esterco de aves e adubo fosfatadona cultura do milho. Florianópolis: EMPASC,1986. 32p. (EMPASC. Boletim Técnico, 35).

2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de; JUCKSCH,I.; DITTRICH, R.C. Efeito imediato e residualdo esterco de aves e do adubo fosfatado no ren-dimento de milho e feijão em sistema de cultivoassociado. In: CONGRESSO NACIONAL DEMILHO E SORGO, 15, 1984. Maceió, Al. Anais.Maceió: EMBRAPA, 1984. p. 89-92.

3. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.; TASSINARI,G.; ANGHINONI, I.; PATELLA, J.F.;TEDESCO, M.J.; MILAN, P.A.; ERNANI, P.R.Recomendações de adubação e calagem para osEstados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1987. 100p.

4. ALEXANDER, M. Introduction to soil microbiology.2.ed. New York: J. Wiley, 1977. 467p.

5. SCHERER, E.E.; DAGOSTINI, V.; WILDNER, L.P.;NADAL, R. de; SILVESTRO, M.L.;SORRENSON, W.J. Esterco de aves e nitrogê-nio em milho nas pequenas propriedades. Agro-pecuária Catarinense, Florianópolis, v.4, n.2, p.8-11, 1991.

6. REDDY, K.R.; KHALEEL, R.; OVERCASH, M.R.;WESTERMAN, P.W. A monpoint source modelfor land areas receiving animal wastes: I.Mineralization of organic nitrogen. Transactionsof the American Society of AgriculturalEngineering, Michigan, v.22, n.4, p.863-872, 1979.

Eloi Erhard Scherer, eng. agr., Ph.D., Cart. Prof. no

9.622-D, CREA-SC, EPAGRI-Centro de Pesquisa paraPequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497)22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.

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Gado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiro

Duração da lactação, intervalo de partos e produção deDuração da lactação, intervalo de partos e produção deDuração da lactação, intervalo de partos e produção deDuração da lactação, intervalo de partos e produção deDuração da lactação, intervalo de partos e produção deleite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarinaleite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarinaleite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarinaleite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarinaleite no rebanho leiteiro do Leste de Santa Catarina

Amaro Hillesheim e Henri Stuker

egundo o Instituto CEPA, SC, (1)com base no Censo Agropecuário

de 1985, o Estado de Santa Catarinatinha, naquele ano, em torno de 110.000estabelecimentos rurais com rebanhosleiteiros. Registra ainda que 90% dosprodutores de leite possuíam áreas in-feriores a 50ha e que 61% dos produto-res possuíam até 10 vacas, 26% entre10 e 20 vacas e 13% possuíam mais de20 vacas. Estes rebanhos apresenta-vam em média 9,3 cabeças, sendo 3,7vacas com uma produtividades médiaanual de 1.207 litros/vaca/ano.

O Instituto CEPA, SC, classifica osprodutores de leite do Estado em trêsníveis. Nível A: são os produtores quetêm na venda de reprodutores a princi-pal finalidade; Nível B: são os produto-res que têm a venda de leite como oprincipal objetivo; Nível C: são os ven-dedores eventuais de leite, sendo oautoconsumo a principal finalidade.

A produção de leite como atividadecomercial tem nos produtores do NívelB sua principal base. Por isso, o Institu-to CEPA, SC, ainda subdivide o Nível Bem dois subníveis: aqueles que têm noleite a principal fonte de renda, estima-dos em torno de 5.000 produtores noEstado, e aqueles que têm outra ativi-dade como principal fonte de renda,estimados em torno de 30.000 produto-res.

O primeiro subnível, quando se ob-servam os dados das indústrias, deveser constituído dos mesmos produtoresque fornecem mais de 20 litros/leite/dia.

Em Santa Catarina, as informaçõessobre a atividade leiteira se restringempraticamente às apresentadas anteri-ormente, ou pelo menos se si-tuam nomesmo nível, tendo, em regra, comobase os censos do IBGE ou informaçõesdas indústrias sob inspeção federal.Pouco se tem em detalhe sobre o realdesempenho dos diversos tipos de reba-

nhos nas diferentes regiões do Esta-do. Informações detalhadas sobre oprincipal nível de produtores de leitesão fundamentais para que se possapromover com maior eficiência suatec-nificação e melhorar seu desem-penho.

Diante deste panorama, o presen-te trabalho foi desenvolvido com oobjetivo de levantar informações, emnível de produtor, sobre os rebanhosdos produtores de leite que têm nestaatividade a sua principal fonte de ren-da, ou seja, produtores do Nível B noprimeiro subnível, localizados na re-gião Leste de Santa Catarina. Estasinformações foram estudadas com afinalidade de conhecer melhor atecnologia deste estrato de produto-res.

Material e métodos

Entre 1980 e 1990, os técnicos daex-EMPASC visitaram mensalmenteum grupo de produtores de leite naregião Leste do Estado. Os produtoresvisitados eram proprietários de áreasinfe-riores a 50ha, utilizavam mão-de-obra familiar, e o leite era a suaprincipal fonte de renda. Diversos pro-dutores utilizavam inseminação arti-ficial e faziam algum tipo de vacina-ção. A suplementação com volumososin natura picados era feita em pratica-mente todos os estabelecimentos, po-rém nem todos faziam silagem ouusavam ração com critérios técnicos.

Estes produtores estavam distri-buídos em quatro microrregiões geo-gráficas (MRG) dentro da região Les-te: MRG de Joinville, Blumenau, Riodo Sul e Tubarão. Também foi incluí-da a unidade de produção de leite daEstação Experimental de Itajaí/EMPASC, que foi mantida isolada parareferência.

No trabalho de acompanhamento

dos produtores, entre outras anota-ções, também se registravam os even-tos de reprodução animal e a produ-ção de leite. Até 1994 foram acompa-nhados três produtores, dasmicrorregiões de Blumenau e Itajaí.Porém de 1985 a 1989 o número deprodutores visitados se manteve en-tre 13 e 19, pois foram escolhidos doisprodutores com tecnologia mais avan-çada e dois produtores bem típicos damédia, em cada microrregião. Houvedesistências e trocas de produtoresacompanhados, tanto que em 1990 seencerrou o acompanhamento com cin-co produtores. Aproximadamente 15%das vacas poderiam ser classificadascomo PC Holandesas, 10% PC Jersey,30% Mestiças Holandesas, 20% Mes-tiças Jersey e 25% sem raça definidaou mestiças de outras raças. Apenasos registros que apresentavam doispartos seguidos com controle leiteiroda respectiva lactação foram aprovei-tados neste estudo. Desta forma, paracada registro, dispunha-se da duraçãoda lactação, intervalo de partos e aprodução de leite média por dia deintervalo de partos. Assim foram obti-das 675 observações, referentes a 327vacas de 25 produtores.

Procedeu-se a análise de variânciapelo método dos quadrados mínimossendo os fatores microrregião, produ-tor dentro da microrregião, mês, anoe ordem de parto para as três variá-veis já mencionadas.

Resultados e discussão

Na Tabela 1 constam as freqüênci-as com que os registros obtidos seenquadraram nas diversas classes.Assim, se observa que ocorreramlactações com duração de 137 até 624dias, porém 60% das lactações se con-centraram entre 259 e 350 dias, esomente 23% se situaram entre 290 e

S

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319 dias, que seria a banda ideal. Osintervalos entre partos variaram de260 a 746 dias, porém 64% dessesintervalos ocorreram entre 320 e 411dias e apenas 21% se situaram nabanda ideal, entre 350 e 380 dias.

A produção média diária, ou a pro-dução média por dia de intervalo departos, é obtida dividindo-se a produ-ção total de leite de uma lactação pelointervalo de partos, ou seja, a duraçãoda lactação mais o período seco. Porisso, é sem dúvida a variável maisimportante, pois sintetiza todo o de-sempenho produtivo e reprodutivo deuma vaca ou de um rebanho. Assim,neste estudo, a produção média pordia de intervalo de partos variou de1,51 litro/dia até 12,50 litros. A gran-de concentração (54%) se situou de4,51 a 7,50 litros/dia.

As médias gerais e o desempenhode cada microrregião constam na Ta-bela 2. A média da duração da lactaçãofoi de 310 dias, muito próxima dopadrão, que é de 305 dias de lactação.Como média, este resultado seria óti-mo, porém isto não significa generica-mente que os produtores atingiramsempre uma lactação com duraçãocorreta, pois um grande número apre-sentou lactações muito curtas e ou-tras lactações muito longas, o que,por coincidência, resultou numa mé-dia quase ideal.

A média do intervalo de partos foide 390 dias, o que foi, de certa forma,inesperado, pois são raros os traba-lhos ou levantamentos com interva-los de parto tão próximos do almeja-do, que é de 365 dias. Para ter-se umaidéia, constatou-se uma média de 416dias num estudo envolvendo 29 reba-nhos na evoluída bacia leiteira deCastrolanda, no Paraná (2). Em SantaCatarina, foi estimado que os produ-tores médios provavelmente teriamuma taxa de natalidade de 50% e asgranjas leiteiras evoluídas uma taxade 70% (3). Isto convertido paraintervalo de partos equivale a 24 e 17meses, res-pectivamente. Porém, amédia de 390 dias de intervalo departos não significa que tudo estejaindo muito bem, pois constataram-se36% de intervalos de parto muito cur-tos, inferiores a 350 dias, e também

Tabela 1 - Classes e freqüência das observações das variáveis duração da lactação (DL),intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP)

DL IP PL/IP

Classes Freqüência Classes Freqüência Classes Freqüência(dias) (no) (dias) (no) (litro/dia) (no)

1 137 - 167 5 260 - 289 7 1,51 - 2,50 172 168 - 197 7 290 - 319 58 2,51 - 3,50 433 198 - 228 33 320 - 350 179 3,51 - 4,50 564 229 - 258 87 351 - 380 145 4,51 - 5,50 1165 259 - 289 168 381 - 411 110 5,51 - 6,50 1386 290 - 319 154 412 - 441 54 6,51 - 7,50 1097 320 - 350 83 442 - 471 30 7,51 - 8,50 778 351 - 380 40 472 - 502 28 8,51 - 9,50 559 381 - 411 34 503 - 533 17 9,51 - 10,50 3910 412 - 441 29 534 - 563 14 10,51 - 11,50 1611 442 - 471 7 564 - 594 18 11,51 - 12,50 912 472 - 502 12 595 - 624 3 - -13 503 - 533 9 625 - 655 3 - -14 534 - 563 2 656 - 685 4 - -15 564 - 594 3 686 - 716 4 - -16 595 - 624 2 717 - 746 1 - -

Total - 675 - 675 - 675

Númerodeclasses

Tabela 2 - Número de observações, número de matrizes, médias da duração da lactação(DL), intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo as

microrregiões do Leste de Santa Catarina

Número NúmeroMicrorregião de obser- de

vações matrizes

Média geral 675 327 310 390 6,5Significância para microrregião ** ** **

Itajaí/EMPASC 110 37 301 373 7,4

Joinville 136 90 301 373 6,8Blumenau 159 72 330 404 6,4Rio do Sul 195 81 304 388 6,3Tubarão 75 47 314 420 5,0

Nota: ** (P < 0,01), pelo teste F.

DL(dias)

IP(dias)

PL/IP(kg/dia)

18% de intervalos demasiadamentelongos, supe-riores a 440 dias. Contu-do, tanto a média de 390 dias deintervalos de partos como o expressi-vo número de intervalos muito curtosou ainda infe-riores a 440 dias pare-cem sugerir que o produtor destaregião tem no desempenhoreprodutivo um forte critério de des-carte.

A duração da lactação registradaentre os produtores parece conseqü-ência do intervalo de partos, pois pa-rece ser tradição a secagem das vacasno sétimo mês de prenhez. Porém,uma certa percentagem de intervalosde parto muito longos, aliada a

lactações curtas, fez com que o perío-do seco médio atingisse 80 dias, o quenaturalmente não seria bem o ideal(2).

A produtividade média deste acom-panhamento de propriedades foi de6,5kg/vaca/dia. A produtividade mé-dia geral do Estado é de 3,3 litros/vaca/dia (4). Esta produtividade serefere a todas vacas do Estado, mes-mo daqueles proprietários que nãotêm no leite uma fonte de renda. Mas,quando se trata de produtores de leiteque têm nesta atividade a principalfonte de renda, estima-se uma produ-ção média de 4,0 a 11,0 litros/vaca/dia(1).

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Gado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiro

A produtividade média registradaem Castrolanda, no Paraná (2), foisuperior a 12,0kg/vaca/dia. Um reba-nho Holandês, tido como especializa-do, em Minas Gerais, registrou umamédia de 9,8kg/dia (5). Relatou-se umamédia de 6,5 kg/vaca/dia num reba-nho mestiço Holandês-Zebu (6).

Desta forma, se verificou que, noLeste Catarinense, se os rebanhosdos produtores que têm no leite suaprincipal fonte de renda possuem umaduração de lactação e intervalo departos quase ideais, ainda são fracosna produção de leite. Se, talvez, osprodutores são eficientes efetuandodescartes e selecionando animais emfunção de problemas reprodutivos, pro-vavelmente não atuam com a mesmaeficiência em relação à produção deleite. É certo que os produtores nãofazem o mínimo de controle individu-al das produções em seus rebanhos.Durante o acompanhamento destaspropriedades, em várias ocasiões, osprodutores mostraram-se muito sur-presos com algumas das produções desuas vacas. Daí se deduz que na mai-oria das vezes o produtor sequer temnoção correta das produções do seurebanho. Constatou--se ainda que ape-nas em casos extremos os produtoresfazem algum descarte em função debaixa produção.

Na análise da variância o fatormicrorregião foi altamente significa-tivo (P < 0,01) para todas as variáveis.

A produção na ex-EMPASC foi man-tida isolada como referência. Quantoàs microrregiões, observa-se que omelhor desempenho coube à mi-crorregião de Joinville, que teve umaduração de lactação e intervalo departos muito próximos do ideal e amelhor produção de leite entre asmicrorre-giões. A microrregião deBlumenau teve lactações exagera-damente longas com intervalo de par-tos também elevado no contexto des-te estudo. O intervalo de partos foi oresponsável direto pela menor produ-ção de leite por dia de intervalo departos na comparação com amicrorregião de Joinville. O desem-penho da microrregião de Rio do Sul,quanto à duração da lactação e inter-valo de partos, também está próximodo padrão de 305 dias e muito seme-lhante ao da microrregião de Joinville,porém, com produção de leite por dia

de intervalo de partos ainda maisbaixa, talvez pela maior presença devacas Jersey ou mestiças, ou devido afatores ambientais, como invernomais rigoroso, por exemplo. Amicrorregião de Tubarão, comparadacom as outras microrregiões, apre-sentou resultados que refletem umamenor tradição leiteira, com alta pre-sença de vacas mestiças.

A classificação dos produtores deacordo com a produção média diáriade leite, dentro de cada microrregião,consta na Tabela 3. Na análise davariância o fator rebanho dentro demicrorregião foi altamente significa-tivo (P < 0,01) para todas as variáveis.Por isso, observa-se que existe umavariação bem acentuada entre os pro-dutores, especialmente na produção

de leite.Observa-se que não ocorreu uma

relação clara entre a produção médiadiária e intervalo de partos. Mas, ob-serva-se que grande parte dos produ-tores têm em seus rebanhos umarelação muito estreita entre a dura-ção da lactação e o intervalo de partos,resultando, em média, em períodoseco ideal de 5 a 60 dias (2).

Entre os produtores com os maisbaixos índices, predominaram os quetinham animais da raça Holandesacom manejo deficiente e outras comanimais azebuados. Alguns rebanhoscom duração da lactação e intervalode parto longos, e com média ou baixaprodução diária, representam umaquantidade expressiva de produtorestradi-cionais, com certa resistência a

Tabela 3 - Número de observações, número de matrizes, médias da duração da lactação(DL), intervalo de partos (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo os

produtores acompanhados nas microrregiões do Leste de Santa Catarina

Produtor DL IP PL/IP(código) (dias) (dias) (kg/dia)

Média geral 675 327 310 390 6,5Significância paraprodutor (microrregião) ** ** **

Itajaí/EMPASC 201 110 37 301 373 7,4

Joinville 108 16 13 303 362 9,5107 16 12 307 388 7,2101 12 12 277 365 6,9102 20 11 293 359 6,9105 5 5 275 347 6,8103 21 12 294 364 6,6104 17 7 316 383 6,6106 18 11 318 383 6,4109 11 7 311 395 3,9

Blumenau 306 7 7 323 378 7,6303 47 16 326 402 7,2305 18 10 328 386 6,8302 40 16 295 376 6,4304 36 13 367 434 5,8307 11 10 364 473 4,1

Rio do Sul 405 61 24 320 384 7,5406 50 21 311 386 7,3407 9 7 305 364 5,5404 33 15 285 407 5,1408 42 14 288 388 4,3

Tubarão 703 19 11 278 367 6,5701 18 10 336 423 6,0704 23 13 348 479 4,4702 15 13 279 395 3,1

Nota: ** (P < 0,01), pelo teste F.

Númerode

observa-ções

Númerode

matrizesMicrorregião

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Gado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiro

inovações tecnológicas.Salienta-se que alguns produtores

eram destacados como de alto níveltecnológico e possuíam animais deelite quanto à genealogia e até mes-mo em produção. Porém, tambémpossuíam animais de baixa produção,ou defi-cientes na reprodução, e as-sim prejudicando a média do rebanho.

Observa-se que não houve reba-nhos com produção de leite muitoelevada, porém na maioria foram bonsos índices referentes a intervalo departos.

A Tabela 4 contém os resultadosreferentes ao mês do parto. Na análi-se de variância constatou-se que oefeito do mês de parto não se mostrousignificativo (P > 0,05) sobre as variá-veis estudadas. O mês de parição, àsvezes, apresenta efeito significativosobre a duração da lactação (2). Po-rém, o efeito do mês de parto sobre ointervalo de partos é poucas vezesconstatado (2 e 6). Já a produção deleite freqüentemente é afetada pelomês do parto, especialmente em regi-ões com inverno muito rigoroso ouestação seca (2 e 6).

No presente estudo, o fato de nãoter sido constatada influência do mêsdo parto sobre a duração da lactação,intervalo de partos e produção de leitepode ser explicado pelo fato de nãoocorrer estação seca definida ou in-verno rigoroso no Litoral Catarinense;

ou então os produtores acompanha-dos já dispõem de meios técnicos parasuperar a deficiência de pastagens noinverno. Isto não significa que emdeterminado mês do ano não ocorrammenores produções médias de leite,mas se isto acontecer, deve havertambém uma recuperação da produ-ção a tal ponto que nas comparaçõesda produção global de um intervalo departos, o mês em que ocorreu o partonão tenha influência nesta região doEstado.

Observa-se que ocorre uma con-centração de partos no período abril-julho e no mês de dezembro. A con-centração de abril a julho provavel-mente decorre do esforço para maiorprodução de leite no período de forma-ção de cota de leite junto às indústri-as, ou da melhor oferta de pastagensno período das respectivas coberturasdas vacas. Esta mesma concentraçãode partos de abril a julho provavel-mente seja também o maior respon-sável pelos menores volumes de leiterecebidos pelas indústrias no mesmoperíodo (1), pois é o período seco des-sas mesmas vacas. As vacas que pari-ram em dezembro tiveram a cobertu-ra fértil no mês de março. Esta con-centração pode ter ocorrido devido aoefeito do calor nas vacas sujeitas àcobertura nos meses de dezembro afevereiro. Estes são os meses de tem-peratura mais elevada do ano, quando

o calor é intenso, especialmente nasmicrorregiões de Joinville e Blume-nau. Há referências de que em perío-dos mui-to quentes a incidência dereabsorções embrionárias é maior,fato que explicaria aquela concentra-ção de partos.

Conclusões

• Nesta amostra, que se refere aosprodutores que têm no leite a suaprincipal fonte de renda, a duração dalactação e o intervalo de partos sãome-lhores que os índices encontradosna literatura em nível nacional e tam-bém sugeridos nas estatísticas esta-duais, porém a produção de leite pare-ce bem típica deste nível de produto-res.

• Entre os fatores estudados, ofator de maiores contrastes é o fator“produtor”, o que indica uma grandediversidade na tecnologia em uso. Istoindica um campo tecnológico propíciopara evoluir, pois bastaria que os pro-dutores menos evoluídos adotassem atecnologia já em uso pelos produtoresmais evoluídos para que a produtivi-dade aumentasse rapidamente.

• A influência climática, ao longodo ano, não é um fator tão problemá-tico, como normalmente se imaginaou, então, a tecnologia em uso superaas eventuais dificuldades.

Recomendações

Deve-se enfatizar junto aos produ-tores o período ideal de coberturas de45 a 90 dias, evitando coberturas pre-coces, especialmente no caso dos pro-dutores que utilizam touro, eincentivá-los a procurar assistênciaveterinária imediatamente após 90dias sem êxito na cobertura. Uma veza vaca coberta, deve ser feita a previ-são de parto e previsão de secagemcom 60 dias de antecedência. A gran-de ênfase que deve ser dada é naprodução de leite. O passo inicial éinduzir o produtor a fazer um controleleiteiro próprio para avaliar suas va-cas, pois é flagrante o disparate exis-tente entre as vacas do mesmo produ-tor, com o mesmo manejo, mesmaalimentação, etc. Ao mesmo tempo, oprodutor deve ser orientado para me-lhorar gradativamente a alimentaçãodo rebanho.

Tabela 4 - Número de observações, médias da duração da lactação (DL), intervalo departo (IP) e produção média diária de leite (PL/IP), segundo o mês do parto

Mês do Número de Distribuição DL IP PL/IPparto observações (%) (dias) (dias) (kg/dia)

Média geral 675 100 310 390 6,5Significânciapara mês de parto ns ns ns

Janeiro 49 7 299 370 6,7Fevereiro 47 7 318 394 6,6Março 43 6 293 373 6,6Abril 58 9 309 379 6,5Maio 65 10 301 383 6,4Junho 66 10 309 398 6,4Julho 78 12 315 395 6,5Agosto 47 7 311 380 7,0Setembro 50 7 326 403 6,2Outubro 49 7 336 428 5,7Novembro 55 8 310 396 6,5Dezembro 68 10 300 379 6,4

Nota: ns (P > 0,05), pelo teste F.

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 23

Literatura citada

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2. RIBAS, N.P. Fatores de meio e genéticos emcaracterísticas produtivas e reprodutivas derebanhos Holandeses da bacia deCastrolandia, Estado do Paraná. Viçosa:UFV, 1981. 141p. Tese Mestrado.

3. GRUMANN, A.; BUFFON, R.L.; SANTA CATA-RINA, W. Diagnóstico da bovinoculturacatarinense. Florianópolis: ACARESC,

1977. 203p.

4. INSTITUTO CEPA/SC. Síntese anual da agri-cultura de Santa Catarina 1990/91. Flori-anópolis: 1991. v.1.

5. MADALENA, F.E.; VALENTE, J.; TEODORO,R.L.; MONTEIRO, J.B.N. Produção de lei-te e intervalo entre partos de vacas HPB emestiços HPB:Gir num alto nível de mane-jo. Pesquisa Agropecuária Brasileira ,Brasília, v.18, n.2, p.195-200, 1983.

6. POLASTRE, R.; PONS, S.B.; BACCARIJÚNIOR, F. Avaliação do programa de

seleção e tendências ambientais de algu-mas características de produção e reprodu-ção em um rebanho mestiço holandês-zebu.Revista Sociedade Brasileira Zootecnia, Vi-çosa, v.19, n.1, p.31-38, 1990.

Amaro Hillesheim, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.no 1.783-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experi-mental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244,Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC eHenri Stuker , eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no

42.785-D, CREA-RS, EPAGRI/Estação Experi-mental de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244,Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.

Gado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiroGado leiteiro

PESQUISA EM

ANDAMENTO

Consórcio de aduboConsórcio de aduboConsórcio de aduboConsórcio de aduboConsórcio de aduboverde com milho: umaverde com milho: umaverde com milho: umaverde com milho: umaverde com milho: uma

boa tática para aumen-boa tática para aumen-boa tática para aumen-boa tática para aumen-boa tática para aumen-to da cobertura do soloto da cobertura do soloto da cobertura do soloto da cobertura do soloto da cobertura do solo

A cobertura do solo é a práticaconservacionista isolada que mais con-tribui para a redução da erosão. Váriosestudos têm mostrado que só a cobertu-ra pode diminuir de 60 a 95% da erosão.Não é, portanto, por mera casualidadeque o Projeto Microbacias/BIRD elegeu acobertura do solo como a principal estra-tégia para reduzir a erosão em SantaCatarina.

Para que tenhamos o máximo de co-bertura durante o ano todo é necessáriodesenvolver sistemas de produção queintegrem culturas em sucessão, rotaçãoe consorciação, e proporcionem cobertu-ra, em quantidade e qualidade.

Com o objetivo de buscar a máximaeficiência da cobertura do solo o CPPP/EPAGRI/Chapecó está desenvolvendoestudos sobre consórcio de milho comadubos verdes de verão. Estão sendotestadas quatro épocas de semeadurada mucuna cinza, guandu anão, feijão deporco e Crotalaria juncea no meio dasfileiras do milho. A primeira época ésemeada após a germinação; a segundaem torno dos 50 dias após a semeadura;a terceira, no florescimento; e a quarta,no grão leitoso do milho.

Os resultados obtidos até o momentomostram a possibilidade de consórcio dofeijão de porco, guandu e crotalária des-de a primeira época. No entanto, emsituações de lavoura muito inçada, quenecessite de aplicação de herbicida, asemeadura do adubo verde deverá seradiada para a segunda época.

A mucuna, no entanto, caso semeadana primeira época, poderá prejudicar aprodução de milho. Por isso a recomen-dação inicial é semeá-la da segunda épo-ca em diante. Quanto mais tardia a se-

mais produtivas de melancia para a re-gião, em diferentes épocas de plantio, foiinstalado um experimento no CampoExperimental de Jaguaruna no períodode 08/94 a 02/95 pelos pesquisadoresIdelson José de Miranda e AugustoCarlos Pola. O solo, Areias Quartzosas,é o de maior ocorrência no Litoral SulCatarinense. Estão sendo avaliadas seiscultivares: Crimson Sweet, Congo, Péro-la, Omaro Yamato, Charleston Gray eFairfax. Na primeira época de plantio,em 15 de agosto, a cultivar CrimsonSweet apresentou a maior produção, com30,5t/ha, seguida pelas cultivares Congo,com 22,0t/ha, e Fairfax, com 19,8t/ha. Acultivar Crimson Sweet também apre-sentou o maior número de frutos compeso acima de 6,0kg (aproximadamente50%). Na segunda época de plantio (15de setembro), a cultivar Congo foi a queapresentou a maior produção (42,6t/ha),seguida das cultivares Pérola (36,7t/ha)e Crimson Sweet (35,2t/ha). As cultiva-res Crimson Sweet, Congo e CharlestonGray apresentaram maior número defrutos com peso acima de 6,0kg, com 56,55 e 46%, respectivamente.

Na terceira época de plantio (15 deoutubro) as cultivares mais produtivasforam Crimson Sweet, Fairfax e OmaroYamato, com 23,1, 22,0 e 19,2t/ha, res-pectivamente. As cultivares Fairfax eOmaro Yamato apresentaram as maio-res produções de frutos com peso acimade 6,0kg, com 52 e 48%, respectiva-men-te. A cultivar Crimson Sweet, portanto,apresentou um bom comportamento, emtermos de produção, nas três épocas deplantio. A cultivar Congo se destacounas duas primeiras épocas de plantio.Estas duas cultivares possuem formatoredondo, sendo que a Crimson Sweetapresenta a casca verde clara com listas,e a Congo, coloração verde escura. Ambastem ótimo sabor, alto teor de açúcar e boaaceitação pelos consumidores.

meadura de qualquer espécie menor ocrescimento e produção de massa verde/massa seca dos adubos verdes.

O sistema de consórcio de milho comadubos verdes de verão, em especial coma mucuna e guandu anão, além de possibi-litar todas as vantagens da cobertura dosolo, pode também ser uma opção paraalimentação animal no período de outono,quando as pastagens de verão estão emdeclínio e as de inverno ainda não têmcondições de pastejo.

Este trabalho está sendo conduzidotambém nas Estações Experimentais daEPAGRI de Campos Novos - EECN, Lages- EEL, Ituporanga - EEIt e Urussanga -EEU, com recursos do componente Pes-quisa Agropecuária do Projeto Micro-ba-cias/BIRD.

Avaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresAvaliação de cultivaresde melancia em Areiasde melancia em Areiasde melancia em Areiasde melancia em Areiasde melancia em Areias

QuartzosasQuartzosasQuartzosasQuartzosasQuartzosas

A melancia é a quinta hortaliça maiscultivada no Estado de Santa Catarina,ficando abaixo de batata, cebola, alho etomate, sendo, entretanto, a segunda cul-tura quanto à rentabilidade por hectare.Ocupa uma área de aproximadamente2.400ha plantados anualmente, com ren-dimento médio de 25t/ha.

No Sul do Estado são plantadosatualmente 450ha, sendo os maioresprodutores os municípios de Braço do Nor-te, São Ludgero e Jaguaruna. A cultura,entretanto, está presente na maioria dosdemais municípios, com crescente expan-são da área cultivada.

Objetivando identificar as cultivares

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REFLORESTAR

Flora ilustradaFlora ilustradaFlora ilustradaFlora ilustradaFlora ilustradacatarinensecatarinensecatarinensecatarinensecatarinense

Angico-vermelho

O angico-vermelho é conhecido comoangico, angico verdadeiro, angico-ama-relo, angico-branco, angico-cedro, angico-rosa, angico-de-costume, angico--dos-montes, angico-sujo, paricá, angico--colorado, curupay-rá (Argentina),curupay-ná (Paraguai). Pertence a famí-lia das Mimosoideas e seu nome cientí-fico é Parapiptadenia rigida (Benthan)Brenan.

É uma árvore alta de 20 a 35m dealtura e 60 a 120cm de diâmetro naaltura do peito. O tronco é geralmentecilíndrico, um pouco tortuoso e tem fustevariável de 5 a 15m de comprimento. Acopa se parece com guarda-chuva, muitoparecida com a da canafístula. As folhassão alternas, compostas, bipenadas, comtrês a seis pares de pinos. A inflorescênciaé em forma de uma espiga cilíndrica,axilar. As flores são pequenas e branco-amareladas.

Os frutos são uma vagem plana,membranácea, coriácea, articulada, me-dindo de 12 a 15cm de comprimento por15 a 20mm de largura. Sementes sãopequenas, comprimidas emembranosas.

O angico-vermelho floresce em no-vembro a dezembro e frutifica em maio--agosto. Ocorre muito na região da matalatifoliada do rio Uruguai e seus afluen-tes, até altitude de 700 a 900m. Ocorretambém nas submatas dos pinhais, ondemais aparece a canela-lajeana. O angico--vermelho se dispersa desde o Ceará,Minas Gerais e Mato Grosso até o RioGrande do Sul. Bolívia, Paraguai e Ar-gentina também exploram esta madei-ra. É uma espécie que ocorre em solosúmidos e secos. É exigente quanto àluminosidade. Em capoeirões, com pou-ca luz, o angico ocorre como árvore adultabem desenvolvida, dominante, com co-pas altas no estrato superior da floresta.

O “habitat” do angico-vermelho é qua-se sempre lugares com abundante umi-dade, mas não excessiva. Prefere várze-as, margens de rios e matas de galeria,onde se impõe pela altura do-minante.Um velho ditado cabe a esta árvore:“quero umidade, mas quero estar com ospés enxutos”.

Representa, sem dúvida uma dasárvores mais comuns e conhecidas não sóno Oeste do Estado, como também emtoda a bacia do rio Paraná. É uma das

espécies mais agressivas da região, inva-dindo as submatas de pinhais em todas asfrentes de contato, preparando o ambien-te (sombreamento difuso) para o apareci-mento das outras espécies da matalatifoliada. Produz anualmente grandequantidade de frutos e sementes que facil-mente germinam não só nas capoeirinhas,como também nas roças abandonadas.Por estas características (crescimentorápido, heliófita, pouco exigente aos solos,produção abundante de sementes e fácilgerminação), o angico--vermelho é outraespécie com potencial para o refloresta-mento inclusive para plantios puros apleno sol.

Em função da abundância de luz emplantios puros, o angico-vermelho poderáter o fruto prejudicado pela ramificaçãoprecoce.

Por ser uma espécie que apresentauma raiz muito grande, recomenda-se re-picar as mudinhas de sementeira bemcedo (três a quatro folhas), pois do contrá-rio terão difícil pega no plantio definitivo.O plantio definitivo deverá ser feito nosmeses de inverno em locais que apresen-tam solos úmidos.

A madeira do angico-vermelho apre-senta um albuno pardo-rosado, cerne par-do-avermelhado, podendo revelar tonali-dade amarela, superfície pouco lustrosa elisa. Madeira muito pesada, elástica, durae bastante durável, mesmo quando expos-ta, sua aplicação se dá na construção na-val e carpintaria. Aceita bem o verniz. Émuito procurada para obras hidráulicas eexpostas, construção naval e civil, viga-mento e pontes, estacas, postes,barroteamento, dormentes, tonel de ca-chaça, armações de carroças e outros. Pelasua resistência é empregada na fabrica-ção de bola de bolão e tacos. A casca é ricaem tanino e aproveitada em curtumes. Amadeira é resistente a umidade e bichos.

SementesSementesSementesSementesSementes

O setor florestal desde muito tempovem denotando a carência de informaçõesbásicas sobre o manejo de sementes flo-restais. Os vários programas e projetos derecuperação de áreas degradadas, de con-servação ambiental e reflorestamentopressionam os técnicos da área a se orga-nizarem e atenderem a demanda surgida.Desde 1984 o Comitê Técnico de Semen-tes Florestais da Associação Brasileirade Tecnologia de Sementes (CTSF/ABRATES) vem atuando na formação etreinamento de pessoal e na condução detrabalhos técnicos. Neste contexto o CTSF,

com o apoio do Ministério do Meio Ambi-ente e do Instituto Florestal de São Pau-lo, realizou, de 23 a 27 de outubro de1995, o curso de Manejo de Sementes deEspécies Arbóreas. Os assuntos aborda-dos no curso foram: colheita, extração,secagem, benefi-ciamento, germinação,dormência e armazenamento de semen-tes de espé-cies florestais. No decorrerdo curso foram também realizadas prá-ticas de colheita, utilizando-se os se-guintes equipamentos: esporas, blocanteao tronco, alpinismo, escada e bicicleta.Os participantes do curso, pesquisado-res e técnicos da área de sementes, tive-ram a oportunidade de avaliar os dife-rentes métodos de colheita, com o objeti-vo de eleger os melhores equipamentos etécnicas quanto a sua eficiência, segu-rança e danos provocados às árvores ma-trizes. Participou nesse curso a enga.agra. Teresinha C.H. Schallenberger, doPrograma de Essências Florestais daEPAGRI - Itajaí, com o objetivo de apri-morar o trabalho de pesquisa e produçãode sementes de espécies florestais daEPAGRI e conseqüentemente do Estadode Santa Catarina.

CuriosidadesCuriosidadesCuriosidadesCuriosidadesCuriosidades

Você sabia...

Estudos feitos por pesquisadoresbrasileiros mostram que entre 40 e 50%da chuva que cai na Amazônia provém daágua transpirada pela própria floresta,enquanto que o resto (50 a 60%) provémda água evaporada do mar.

Na bacia do rio Mississipi, nos Esta-dos Unidos, 90% da chuva provém domar e apenas 10% provém da água trans-pirada pela vegetação terrestre. Isto querdizer que um desmatamento feito emgrande escala, na bacia do Mississipi,não teria um grande impacto sobre oclima da região, enquanto que na Ama-zônia a destruição de grandes superfíci-es de matas poderia modificar significa-tivamente o clima, tornando os períodossecos mais freqüentes ou mais longos.

Na região de Santa Cruz de La Sierra(Bolívia), depois de desmatamentos fei-tos em grande escala, observou-se queenquanto a quantidade anual de chuvaficava quase igual, o número anual dedias de chuva diminuiu consideravel-mente e, por conseguinte, a freqüência dechuvas torrenciais aumentou.

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Resistência de porta-enxertos de macieira ao fungoResistência de porta-enxertos de macieira ao fungoResistência de porta-enxertos de macieira ao fungoResistência de porta-enxertos de macieira ao fungoResistência de porta-enxertos de macieira ao fungoRosellinia necatrix Prill no Meio Oeste Catarinenseno Meio Oeste Catarinenseno Meio Oeste Catarinenseno Meio Oeste Catarinenseno Meio Oeste Catarinense

Frederico Denardi e Onofre Berton

onhecida em inglês como “whiteroot rot”, a podridão de raiz cau-

sada por Rosellinia necatrix Prill (esta-do imperfeito: Demathophora necatrixHartwig) é uma doença destrutiva demuitas plantas frutíferas, incluindomacieira e pereira, bem como de 170outras espécies de plantas distribuídasem 63 gêneros. O fungo está dissemi-nado em todas as regiões de climatemperado.

Na região do Vale do Rio do Peixe,SC, a cada ano muitos produtores subs-tituem um número significativo deplantas de seus pomares. Estudos rea-lizados anteriormente (1) mostraramque em grande número de pomares,não só nessa região, mas em toda aregião produtora de Santa Catarina, amorte de plantas por Rosellinia necatrixé muito freqüente. Na região deFraiburgo, algumas empresas chegama substituir milhares de plantas todosos anos, mortas pelo fungo. Em expe-rimento realizado em Fraiburgo, emárea infestada por Rosellinia necatrix,foram testados 18 diferentes produtosquímicos aplicados no colo das plantascom regador na tentativa de controlaro fungo a campo (2). Nenhum produtomostrou-se eficiente. As mudas plan-tadas nas covas previamente esterili-zadas com brometo de metila, e nasquais havia sido colocado Trichodermaviride, sobreviveram por dois a trêsanos. Na literatura mundial não háreferência sobre algum porta-enxertoque apresente resistência a Rosellinianecatrix.

Na tentativa de controlar o fungo acampo, alguns pesquisadores israelen-ses usaram brometo de metila parafumigação do solo (3). Em outras pes-quisas (4) utilizaram solarização. Con-trole biológico por meio do fungo anta-gonista Trichoderma harzianum (5) e

a solarização em tratamento pré-plan-tio, para desinfestação do solo, e comotratamento pós-plantio, curativo paradoenças de plantas de modo geral,também foram pesquisados (6).

Em Fraiburgo, SC, algumas em-presas utilizaram com sucesso a fumi-gação do solo por meio de brometo demetila e a posterior colonização com ofungo antagonista Trichoderma viride,conforme comunicação pessoal de O.Berton e R. Melzer, engenheiros agrô-nomos da E.E. de Caçador, em 1991. Aeficiência deste sistema depende dire-tamente do grau de infestação do soloe da profundidade em que se encontrao fungo. Sabe-se que o brometo demetila só atinge a camada superficialdo solo (15 a 30cm) e por isto podeocorrer reinfestação.

Sintomatologia

Os sintomas mostrados pelas plan-tas atacadas por podridões de raízessão muito semelhantes para os váriosfungos causadores. As plantas ataca-das por Rosellinia necatrix não fogemà regra, apresentando prematuramen-te coloração avermelhada nas folhas,paralisação do crescimento, folhas detamanho reduzido e ausência de emis-sões de novas brotações. Tambémpode ocorrer desfolhamento prema-turo das plantas. No sistema radicularocorre a morte de pequenas raízes, asquais ficam recobertas por micéliobranco, que em seguida irá invadir asraízes mais grossas. Mais tarde, omicélio que recobre as raízes torna-senegro, e ao raspar-se as raízes comuma lâmina tem-se a impressão deestar raspando carvão. Plantas ataca-das são facilmente removidas do solo.Um pedaço de raiz atacada colocadoem câmara úmida fica logo recoberto

com abundante micélio branco (Figu-ra 1). Infecções severas matam asplantas de forma muito rápida. Mudasinfectadas no viveiro e transplanta-das para o campo, ou mesmo mudassadias plantadas em uma áreainfectada, morrem dentro de um ano.

Nas condições catarinenses tem-se observado com muita freqüência oataque em pomares instalados emáreas recém desmatadas, principal-mente onde havia bracatinga (Mimo-sa escrabella). O fungo R. necatrixsobrevive por longo período em restosculturais, principalmente raízes quepermanecem no solo. O fungo se dis-semina de várias maneiras: da super-fície ou do interior de raízes de plan-tas infectadas para as raízes de plan-tas vizinhas; em pedaços de raízes;

C

Figura 1 - Aspecto de raiz coberta pormicélio branco

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em solo infestado e pela água. A podri-dão causada por R. necatrix éfavorecida pela alta umidade (próxi-mo da capacidade de campo), comtemperaturas de 20 a 25oC. É maiscomum em solos pesados e dissemi-na--se rapidamente em canais de irri-gação. O fungo pode sobreviver nosolo por vários anos, dependendo dotipo de solo.

Objetivo

Devido à importância que a podri-dão de raiz causada por Rosellinianecatrix apresenta, e a dificuldade emcontrolar a doença, desenvolveu-se opresente trabalho, nesta primeira fase,para identificar possíveis fontes deresistência no germoplasma deporta--enxertos de macieira existen-te na Estação Experimental de Caça-dor/EPAGRI.

Material e métodos

• Solo - as mudas testadas nesteestudo foram plantadas em uma trin-cheira de 4m x 2m x 0,5m de profun-didade, preenchida com solo infestadopor Rosellinia necatrix (Figura 2). Osolo foi coletado durante o inverno,em Fraiburgo, SC, num pomar ondeas plantas mortas pelo fungo haviamsido retiradas no ciclo anterior. O solofoi coletado somente nas covas deonde foram retiradas as plantas. Raízesatacadas pelo fungo encontradas noslocais de onde foi retirado o solo forampicotadas, o solo foi homogeneizadocom auxílio de uma betoneira e colo-cado na trincheira. Nesta trincheiraforam plantadas cinco estacas

• Cultivo - a trincheira foi manti-da naturalmente, sem cobertura, lo-calizada nas dependências da EstaçãoExperimental de Caçador/EPAGRI.Em períodos de estiagem, as plantasforam irrigadas uma vez por semana.Os inços foram controlados manual-mente e não houve necessidade decontrole de doenças foliares.

• Avaliações - foram efetuadascatorze avaliações quinzenais a partirde 10/11/92 até 27/05/93. Nas avalia-ções foram consideradas plantas nor-mais as que não apresentavam ne-nhum sintoma na parte aérea, no coloe/ou no sistema radicular. Com a pre-sença de sintomas de descoloraçãodas folhas e/ou necroses no colo dasplantas, estas foram arrancadas esubmetidas a diagnóstico no Labora-tório de Fitopatologia. Em todos oscasos analisados, foi encontrada a pre-sença de Rosellinia necatrix nas plan-tas mortas. Na última avaliação, rea-lizada em 27/05/93, todas as plantasremanescentes foram arrancadas eavaliadas.

Resultados e discussão

Na Tabela 1 são apresentados osresultados de sobrevivência de plan-tas no final do ciclo em 27/05/93.

Os principais problemas fitossani-tários do sistema radicular da maciei-ra no Sul do Brasil são a podridão docolo causada pelo fungo Phytophthoracactorum, o pulgão lanígero (Eriosomalanigerum) e a roseliniose causadapelo fungo Rosellinia necatrix. Paraos dois primeiros organismos existemboas fontes de resistência. Pode-secitar os porta-enxertos M-9, M-27 e

Figura 2 - Mudas em teste no local deexperimentação em Fraiburgo, SC

enraizadas de cada um dos principaisporta-enxertos comerciais e seleçõesnovas, distribuídas ao acaso, em li-nha, no espaçamento de 20cm entreplantas e 20cm entre linhas.

• Porta-enxertos testados - fo-ram submetidos ao teste os seguintesclones de porta-enxertos.

- Porta-enxertos comerciais - M-2;M-7; M-9; M-25; M-26; M-27; MM-104;MM-106; MM-111; MI-793 eMARUBAKAIDO.

- Seleções - SPe 12; SPe 262; SPe463; SEL.7; SEL. 12; SEL. 20; SEL.26; SEL. 44; SEL. 66; SEL. 69; SEL.81; 7603R5-757-32A3W58; 74R5M9-158-337W14; 74A01-022; KA 306

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Tabela 1 - Resultados de sobrevivência de estacas enraizadas de porta-enxertos demacieira submetidas à inoculação com Rosellinia necatrix em trincheira a campo,

na Estação Experimental de Caçador/EPAGRI, SC

No Plantas sobreviventesPorta-enxertos estacas

enraizadas 12/02/93 27/05/93

M-2 5 4 0M-7 5 5 0M-9 5 3 0M-25 5 5 0M-26 5 5 0M-27 5 2 0MM-104 5 3 0MM-106 5 5 0MM-111 5 5 0MI-793 5 5 0Marubakaido 5 4 0SPe 12 4 1 0SPe 262 5 3 2SPe 463 5 2 0SEL 7 5 1 0SEL 12 5 2 0SEL 20 5 0 0SEL 26 5 0 0SEL 44 5 2 0SEL 66 4 3 0SEL 69 5 4 4SEL 81 5 1 07603R5-757-32A3W58 4 1 074R5M9-158-337W14 5 4 0749A01-022 5 2 0KA-306 4 0 0

3. SZTEJNBERG, A.; OMARY, N.;PINKAS, J. Control of Rosellinianecatrix by deep placement and hottreatment with methyl bromide.EPPO Bulletin, Oxford, n.13, p.483-485, 1983.

4. SZTEJNBERG, A.; FREEMAN, S.;CHET, I.; KATAN, J. Control ofRosellinia necatrix in soil and in appleorchard by solarization andTrichoderma harzianum. PlantDisease, Beltsville, v.71, p.365-369,1987.

5. FREEMAN, S.; SZTEJNBERG, A.;CHET, I. Evaluation of Trichoder-ma as a biocontrol agent forRosellinia necatrix. Plant and Soil,The Hague, v.94, p.163-170, 1986.

6. FREEMAN, S.; SZTEJNBERG, E.;SHABI, E.; KATAN, J. Long-termeffect of soil solarization for thecontrol of Rosellinia necatrix in apple.Crop Protection, Surrey, v.9, p.312-316, 1990.

Frederico Denardi, eng. agr., M.Sc., Cart.Prof. no 3.182-C, CREA-SC, EPAGRI,Estação Experimental de Caçador, C.P.591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caça-dor, SC e Onofre Berton, eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. no 26.027, CREA-SC, EPAGRI,Estação Experimental de Caçador, C.P.591, Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330, 89500-000, Caça-dor, SC.Marubakaido (Maruba) como boas fon-

tes de resistência à podridão do colo,sendo que o Maruba também éresistente ao pulgão lanígero. O M-27é demasiadamente anão para plantiocomercial no Brasil; o M-9, emboraexcelente em precocidade defrutificação, produtividade e qualida-de dos frutos, também é bastanteanão e requer tutoramento. O Marubaé bastante vigoroso, recomendado so-mente para plantio em baixas densi-dades (menos de 700 plantas/ha).Exemplos de porta-enxertos resisten-tes ao pulgão lanígero são os da série“MM”, dentre os quais os únicos emplantio comercial são o MM-106 e oMM-111. O MM-106 é altamente sus-cetível à podridão do colo. O MI-793 éo único dos velhos porta-enxertosclonais que reúne boa resistência àpodridão do colo e ao pulgão lanígerosimultaneamente.

Todos os porta-enxertos testadosneste trabalho manifestaram elevada

suscetibilidade à R. necatrix. Muitoembora a literatura relate não teremsido ainda identificadas fontes de re-sistência a esta doença, duas seleções,a SPe 262 e a Sel 69, apresentaramplantas sobreviventes no final desteexperimento (Tabela 1).

Estudos complementares de resis-tência genética deverão ser conduzi-dos nos próximos anos em nível decampo nas principais regiões produto-ras de maçã do Sul do Brasil, envol-vendo estas duas seleções e outrosmateriais importados.

Literatura citada

1. BERTON, O.; MELZER, R. Podridõesradiculares em macieira: um desa-fio para os produtores e para a pes-quisa. Informativo SBF ,Jaboticabal, v.5, n.4, p.11-12, 1986.

2. BERTON, O. Pesquisa controla fungos.Toda Fruta, São Caetano do Sul, SP,v.4, n.37, p.15-17, 1989.

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Maracujá: novidade do Norte que fazMaracujá: novidade do Norte que fazMaracujá: novidade do Norte que fazMaracujá: novidade do Norte que fazMaracujá: novidade do Norte que fazsucesso no Sulsucesso no Sulsucesso no Sulsucesso no Sulsucesso no Sul

De raros hectares comerciais há algunspoucos anos atrás, o maracujá cresceu em área no Estado de Santa

Catarina e já ocupa, para surpresa de muitos, cerca de 1.000ha,concentrados ao longo do Litoral. Nesta reportagem, o leitor vai ficarconhecendo alguns segredos desta atraente fruta tropical e informa-

ções sobre plantio, manejo, comercialização, etc.

Maracujá atrai agricultores catarinenses e cultura se expande rapidamente

Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliari

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

agricultura tem sido um setorbastante penalizado no Plano

Real e, conforme mostram as estatís-ticas dos institutos oficiais, os preçosrecebidos pelos agricultores na vendade seus produtos, de maneira geral,não cobrem os custos de produção. Asaída, então, é buscar alternativasviáveis economicamente e que apro-veitem a mão-de-obra ociosa em de-terminados períodos do ano.

Uma cultura que está atraindo aatenção dos agricultores no Sul dopaís é o maracujá, planta que agrupaum grande número de espécies nati-vas e cultivadas, sob o gêneroPassiflora, palavra de origem tupi quesignifica “flor da paixão”. Pois, semdúvida, o maracujá está se tornandouma paixão dos agricultores em San-ta Catarina, tanto que conseguiu reu-nir recentemente cerca de 200 pesso-as em Turvo, SC para um treinamen-to técnico de um dia, fato meio raro deacontecer hoje em dia. O evento foiuma promoção conjunta da EPAGRI,da Coopersul, do Sindicato Rural e doSindicato dos Trabalhadores Ruraisde Turvo e, entre os principais assun-tos debatidos no treinamento, desta-caram-se: métodos de propagação,preparo do solo, sistemas de condu-ção, adubação e plantio, manejo(desbrota, poda, controle de doenças epragas, polinização), colheita ecomercialização.

O engenheiro agrônomo NeriSamuel Dalenogare, técnico daEPAGRI que ministrou o curso, infor-mou à reportagem da AgropecuáriaCatarinense que o cultivo do maracu-já em Santa Catarina está se expan-dindo, “mas temos que tomar cuidadopara equilibrar a oferta com a procu-ra”, adverte o técnico, preocupado umpouco com o entusiasmo dos agricul-tores em querer expandir demasiada-mente a área de plantio do maracujá.E não é para menos, pois há três anosna região Sul do Estado, que englobaos municípios de Sombrio, Turvo,Araranguá, Criciúma e adjacências,havia somente 3ha comerciais da fru-ta, e hoje estima--se, pela intenção deplantio dos agricultores, perto de300ha, só no Sul do Estado. E emSanta Catarina, no total, espera-se

Produtores ouvem atentos as orientações do técnico da EPAGRI

atingir 1.000ha ainda neste ano. NoLitoral Norte do Estado outros muni-cípios estão despontando, como são oscasos de Guaramirim, Barra Velha,São Francisco do Sul, Araquari eJoinville.

Para se ter uma idéia, a área totalplantada no Brasil, que é o maiorprodutor mundial, é de cerca de 32 milhectares, sendo que 40% disto está noNorte e Nordeste. Os Estados maio-res produtores e onde se concentramas indústrias são: Bahia, Sergipe,Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais,Rio de Janeiro e São Paulo. Quantomais perto do Equador, maior o com-primento do dia e mais insolação, daíporque no Pará se produz doze mesesao ano, na Bahia dez meses, descendopara oito e seis meses, respectiva-mente, em São Paulo e Santa Catarina.

Recomendações técnicas

Não é objetivo deste artigo apre-sentar dados técnicos completos so-bre o cultivo do maracujá, mas simalgumas informações básicas prelimi-nares ao leitor interessado ou curiosoque, caso decidir se aprofundar maisno assunto, deverá consultar livros,boletins ou técnicos com conhecimen-to no assunto.

Propagação e época deplantio

A multiplicação do maracujá ama-relo ácido (espécie mais cultivada) em

escala comercial é feita no Brasil,principalmente, por sementes. Tam-bém pode ser feita por enxertia eestaquia em alguns casos específicos,quando se quer preservar algumasvariedades ou multiplicar o maracujároxo. Deve-se reservar os frutos queapresentam as melhores característi-cas no pomar, maduros, livres de do-enças e pragas e que apresentam bomdesenvolvimento. Para preparar 1hasão necessários 25 frutos, tirando-se 1fruto por planta, para evitar parentes-co. A extração é realizada cortando-seo fruto e retirando-se as sementesjuntamente com a mucilagem. Po-dem ser lavadas sobre a peneira demalha fina, adicionando-se areia oucalcário para separar mais rapida-mente. Em seguida, as sementes sãocolocadas sob jornal para secar à som-bra. A armazenagem deve ser feitacolocando-se as sementes recém--se-cas dentro de um saco de papel e estedentro de um saco plástico, amarran-do-se de forma a deixar a menor quan-tidade de ar e guardar na geladeira.

A semeadura é feita em saquinhosplásticos com três a cinco sementespor saco contendo terra adubada (trêspartes) e esterco de curral curtido(uma parte). Quando a mudinha ger-minada alcançar 5cm, escolhe-se amelhor muda e as restantes são des-bastadas. Quando atingir 15 a 20cmde altura, o que ocorre entre 50 e 60dias após a germinação, transplanta-se ao local definitivo. A época detransplantio recomendado na região

A

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é de agosto a outubro, enquanto não émuito quente e há chuvas freqüentes.Para isso é preciso semear em abril amaio, ou junho, o mais tardar. Segun-do a tradição de muitos agricultores,é bom semear na lua minguante etransplantar também na minguante.

Sistemas de condução

Após o preparo da área (limpeza,gradagem, calagem e controle da ero-são por terraços ou curvas de nível,quando o terreno for declivoso), oagricultor vai iniciar a implantação deseu pomar de maracujá. O maracuja-zeiro necessita de um forte suportepara o seu desenvolvimento e susten-tação. O mais produtivo é o sistemaem latada, como nos parreirais deuva, porém o investimento inicial émuito grande. Outro sistema que estásendo bastante usado é o de espaldeira(ver Figura 1) normalmente com umfio de arame galvanizado a 1,80 e2,00m de altura. Os mourões devemser cortados com 2,30 a 2,50m decomprimento, enterran-do 50cm.Construir a espaldeira (cerca) colo-cando um mourão a cada 9m de dis-tância. No intervalo entre eles, usares-coras de bambu a cada 3m. Osmourões podem ser de madeira de lei,eucalipto imunizado, concreto arma-do, etc. Em caso de latada, nas extre-midades colocar os mourões mais re-forçados e a ca-da 2,5 ou 3m, os secun-dários que podem ser de diâmetroaproximado de 20cm.

Neri Samuel Dalenogare recomen-da o espaçamento em sistema deespaldeira de 2,20m entre linhas oufilas e 4,50m entre plantas, o queresultará em 1.010 plantas/ha. Outrarecomendação para os agricultores éque se pode fazer consorciações commaracujá no primeiro ano, aprovei-tando que a cultura ainda não sedesenvolveu. Pode--se utilizar cultu-ras anuais de porte baixo como amen-doim, feijão, hortaliças, etc.

Adubação

A adubação do maracujazeiro de-verá ser feita conforme indicar a aná-lise do solo e sempre orientada por

Figura 1 - Sistema de condução do maracujá em espaldeira com um fiode arame

um técnico. Existem algumas diferen-ças a serem observadas no plantio demorro ou na área plana. Antes doplantio, as covas onde serão plantadasas mudas deverão ser adubados comcalcário (de preferência dolomítico quepossui cálcio mais magnésio),superfosfato simples (que além do fós-foro tem cálcio e enxofre) e esterco degado curtido e/ou cama de aviário,curtida, que possuem, além de maté-ria orgânica, vários macro emicronutrientes. Deve-se ter cuidadona origem do esterco de gado, não seusando aquele de pastagens tratadascom herbicidas.

Nas adubações de cobertura, serãousados cloreto de potássio, sulfato de

Cultivo do maracujá exige muita mão-de-obra e cuidados constantes

amônia (que possui muito nitrogênioe enxofre, que o maracujá exige paraseu crescimento), além do superfosfatosimples e cama de aviário curtida. Asadubações de cobertura são realiza-das em três épocas no primeiro ano.No segundo ano e terceiro ano, deve-se fazer uma adubação após a poda,por volta de 15 de setembro, e repetiras adubações recomendadas para oprimeiro ano.

Condução e poda

A planta deve ser conduzida emhaste única até a altura do arame,eliminando-se todas as brotações la-terais. Deixar crescer os ramos até

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mento das plantas, deve-se fazer capi-nas químicas com herbicidas, pois asraízes são superficiais e tendem aalastrar-se por todo o terreno. Quemnão quiser utilizar agrotóxicos, pode-rá utilizar a roçadeira costal que cortao mato superficial acima do solo.

As principais pragas que atacam omaracujazeiro são lagartas, mosca dasfrutas, percevejos, formigas e brocas.Deve-se evitar ao máximo usar osinseticidas, mas quando não houvermais jeito, aplicar com alguns cuida-dos. Para se saber a época certa de seaplicar, evitando-se o desperdício,pode-se usar uma isca, normalmenteum vidro com água e açúcar que indi-ca a incidência dos insetos que sãoatraídos pelo líquido contido no vidro.A presença de certas borboletas indi-ca o aparecimento de lagartas quedestroem as folhas. Quando for feita apulverização para controle da moscadas frutas, de preferência com uminseticida de baixa toxicidade, pulve-riza-se 1m 2 da planta no lado nascentedo sol onde os insetos costumam es-tar. Na parte da tarde acontece aabertura das flores, e deve--se evitara pulverização nesta hora, por causada presença de insetos poli-nizadorescomo a mamangava, que é o principalpolinizador do maracujá.

Os frutos atacados pela mosca dasfrutas murcham e caem prematura-mente. É importante retirar estesfrutos e enterra-los. Principalmenteem pomares domésticos, pode-se uti-lizar água de fumo para combater osinsetos, produzida a partir de soluçãode fumo em corda na água.

Várias são as doenças que atacamo maracujá na região do Litoral deSanta Catarina, principalmente quan-do se planta em pomares comerciais.As principais, em nossa região, são averrugose, também chamada “pipo-quinha”, que ataca hastes, folhas, fru-tos e flores, e nos frutos o sintoma ésemelhante a pequenas verrugas; e aantracnose, que ataca os órgãos daparte aérea. As plantas ficamdesfolhadas e com ramos secos. Éuma doença de difícil controle.

O controle das doenças é feito compulverizações semanais nas épocaschuvosas e mensais quando não ocor-

O maracujazeiro produz de 20 a 25t/ha em nossa região

Figura 2 - Condução e poda do maracujazeiro

atingir a próxima planta, depois podá-los. A medida que os ramos secundá-rios se desenvolvem, conduzi-los parabaixo, evitando que se agarrem nosramos principais presos ao arame.Esta prática chama-se “pentear o ma-racujá”. Os ramos secundários bempenteados facilitam em muito a expo-sição ao sol a aplicação de agrotóxicos,melhoram o arejamento da planta efacilitam o trabalho das mamangavas,que realizam a polinização, e os frutosficam com melhor aspecto (ver Figura2).

À medida que a planta cresce, deve--se fazer amarrações ao tutor e aoarame com fita plástica, barbante gros-so ou retalhos de tecido. Pode-se tam-bém enrolar a haste principal ao ara-

me, evitando o amarrio.A melhor época de realizar a poda

é agosto ou quando não houver maisrisco de temperaturas muito baixas.Deve--se deixar um retângulo de ve-getação de 3,5m de comprimento apartir da haste única e 40cm de largu-ra a partir do fio de arame, ou três nós.Em cada nó deve nascer um ramonovo e novos frutos.

Controle de plantasdaninhas, pragas edoenças

Enquanto as plantas do maracujáestão pequenas, o controle das ervasdaninhas pode ser feito usando enxa-da ou motocultivador. Após o cresci-

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rem chuvas ou quando elas são fracas.O tratamento é feito com fungicidas àbase de zinco, cobre e manganês. Con-sultar sempre os técnicos para seorien-tar sobre o controle das doen-ças.

O produtor deve respeitar o prazode carência dos produtos (inseticidase fungicidas) quando fizer a colheitados frutos, ou seja, não aplicar produ-tos que ficam no fruto um tempo apósa colheita, o que poderá intoxicar osconsumidores.

Colheita ecomercialização

Normalmente a colheita é feitasob a forma de catação dos frutoscaídos no chão. Quando necessário,podem ser apanhados do pé os frutosmaduros. Nos meses mais quentes(janeiro a março), a colheita (catação)deve ser diária, para os frutos nãoperderem umidade, nem sofreremqueimadu-ras pela ação do sol;depois, guar-dá-los à sombra. Nosmeses mais amenos, a colheita podeser feita de dois a três vezes porsemana. No inverno, após a colheita,o fruto se conserva mais tempo, mas,para quem vende, o ideal é conservarno máximo quatro dias.

A produção do maracujá se dá emtrês anos seguidos, devendo o produ-tor plantar novas mudas no quartoano. Atualmente, está-se testando apossibilidade de poder deixar a plantamais um ano no pomar, perfazendoquatro períodos a campo.

A estimativa atual de colheita é de15 a 20t/ha no primeiro ano, 20 a 25tno segundo e 15t no terceiro ano.

O preço do fruto varia muito nacomercialização, dependendo da épo-ca e da oferta do produto. Normal-mente é vendido in natura em caixasde 15kg ou em quilo. Também a polpacongelada tem boa aceitação. Há trêsanos, quando a oferta era menor,vendia-se a caixa a R$ 25,00; no iníciodeste ano, entre R$ 9,00 e R$ 6,00,mas em janeiro estava a R$ 25,00,caindo nos meses seguintes.

Conforme explicou o engenheiroagrônomo Neri Samuel Dalenogare,o maracujá possui cinco classes de

A produção do maracujá em espaldeira é uma das mais utilizadas

Tabela 1 - Classificação dos frutos demaracujá

Classificação Números de frutos/caixa

Extra A A A até 75Extra A A de 76 a 90Extra A de 91 a 120Extra de 121 a 150Especial mais de 150

referidos meses.Em nível mundial, a tendência é

aumentar o consumo de frutos e su-cos tropicais. Os europeus são gran-des consumidores, seguidos dos Esta-dos Unidos. A Europa compra 90% detodo o suco de maracujá que o Brasilexporta. Para se produzir 1t de sucosão necessárias 700 caixas da fruta.

Agricultores apostam nomaracujá

O número de produtores no Sul deSanta Catarina está crescendo assus-tadoramente. Desde que AntonioCasagrande, de Jacinto Machado, ini-ciou o seu plantio pioneiro na região,já se somam dezenas de produtores,como é o caso de Adelino Fassin e ofilho, em sociedade com MoacirPossamai, que estão plantando umpouco mais de 0,5ha. Já Sergio Rosso,produtor em Sombrio, plantou 0,5haàs margens da BR 101. Na últimasafra produziu 1.400 caixas.

A reportagem da revista Agrope-cuária Catarinense visitou a proprie-dade de dois produtores. O primeiro,Nivaldo Mateus, na comunidade deSoares, no município de Araranguá,está iniciando este ano seu primeiro

frutos (ver Tabela 1) paracomercialização, passando do maisgraúdo (45 a 75 frutos/caixa), até omais miúdo (150 ou mais frutos/caixa,específico para industrialização). Oengenheiro agrônomo Carlos Zaneti,da empresa Flore-sul de Criciúma,que falou sobre aspectos decomercialização no treinamento, re-velou um dado interes-sante. Afruta, que era desconhecida no Sul dopaís alguns anos atrás, hoje já fazparte da mesa do gaúcho, catarinensee paranaense. Para exemplificar, otécnico mostrou que, em 1982, naCEASA de Porto Alegre, entraramsomente 10 e 31 caixas de maracujános meses de janeiro e março, respec-tivamente. Mas este número cresceusurpreendentemente e, em 1994, ven-deram-se 5.038 e 6.204 caixas nos

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siderando a produção de 60t de frutosnos três anos (pomar conduzido natécnica) e uma despesa total de R$6.407,90, resulta num custo por quilode fruto de R$ 0,11. Ora, se na épocado curso (final de abril de 95) o merca-do estava pagando R$ 0,80 o quilo,então a margem bruta é muito alta,concluiu Neri.

Outro dado mostrado pelo técnicofoi o dos superávits anuais e totais,mostrando que, ao longo dos três anos,entraram de receita R$ 24.400,00 e asdespesas somaram somente R$6.407,90, resultando num superávitou lucro de R$ 17.992,10.

Uma tabela ilustrou a lucratividadedo maracujá em relação a culturastradicionais e chamou a atenção dosagricultores, conforme registrado naTabela 2.

Por fim, o técnico da EPAGRI, apósapresentar uma série de informaçõespositivas sobre a cultura do maracujá,fez uma advertência a todos. Se a áreaplantada atingir realmente os 1.000haestimados para Santa Catarina, a pro-dução obtida poderá superar o consu-mo, diminuindo os preços recebidospelos agricultores. Considerando queas populações do Rio Grande do Sul eSanta Catarina perfazem aproxima-damente 14 milhões de pessoas, etendo em conta que a produção dosmil hectares de maracujá poderá atin-gir 20.000t (20t/ha em média), istoresultará num consumo por pessoa de1,43kg de maracujá, que é superior aoconsumo médio atual por pessoa. Istosem contar as frutas que chegam deSão Paulo e do Paraná. Portanto, oalerta está dado e muita cautela deveser tomada pelos técnicos e agriculto-res daqui para diante.

Agricultores estão entusiasmados, mas técnicos recomendam cautela

plantio em pouco mais de 0,5ha, loca-lizado ao lado de sua casa. “Assim ficamais fácil em cuidar do pomar, queexige muita mão-de-obra no primeiroano”, avisa o agricultor, que tambémplanta mandioca e cria algum gado.Ele plantou no sistema de latada em15 de agosto e espera colher emjaneiro sua primeira safra. O agricul-tor Maurício Mondo, que também égerente técnico da CooperativaAgropecuária de Jacinto Machado,está no segundo ano de plantio. Comoele também é produtor de arroz irri-gado, utiliza as cascas do arroz colhidopara forrar o chão do seu pomar,protegendo as frutas que caem.

Os números de Jacinto Machadoconfirmam o crescimento da culturana região. Na última safra, 46 produ-tores plantaram 50ha, e na próxima aperspectiva é de se plantar 300ha.

Sergio Silveira, técnico da EPAGRIno município de Turvo, resume assima situação e a expectativa dos técnicosem relação ao crescimento da cultura:“Não podemos querer dar um passomaior que a perna. Hoje o mercadoabsorve uma determinada produçãoque podemos atingir com os novospomares que estão sendo implanta-dos. Daqui para o futuro temos que ir

com cuidado”, adverte.

A lucratividade da fruta

Um dos assuntos mais esperadospelos agricultores presentes ao trei-namento em Turvo foi a análise eco-nômica da cultura. O técnico NeriSamuel Dalenogare, que está estu-dando intensamente o cultivo do ma-racujá, apresentou inicialmente oscustos de implantação de 1ha de po-mar e suas despesas ao longo das trêssafras (20t no primeiro ano, 25 nosegundo e 15 no terceiro ano). O pri-meiro ano tem mais despesas emfunção dos custos de implantação: lim-peza e preparo do terreno, trabalho demáquinas para aração e gradagem,materiais (fios, mourões, etc), repre-sentando 53,84% do total. Mas, con-

Tabela 2 - Comparação do maracujá com outras culturas (em real)

Renda bruta Custo Margemha/ano ha/ano bruta

Maracujá 8.133 2.136 5.997Arroz irrigado 1.200 633 567Banana 2.756 1.208 1.548Bovino de leite 1.554 693 861

Fonte: Equipe de socioeconomia da EPAGRI - E.E. Itajaí.

Cultura

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Curiosidades sobre omaracujá

O maracujazeiro é uma planta tro-pical, nativa do Brasil, mas que seencontra cultivada em diferentes par-tes do mundo - Austrália, Sri Lanka,Quênia, África do Sul, Havaí, Nigéria,Peru, Colômbia, etc. Pertencente àfamília das passifloráceas, que se sub-divide em catorze gêneros e mais de500 espécies, sendo 60 comestíveis.No Brasil duas espécies são as maiscultivadas, Passiflora edulis F.flavicarpa, conhecida como maracujáamarelo, e a espécie Passiflora edulisSIMS, vul-garmente conhecida comomaracujá roxo.

O maracujá amarelo é o mais cul-tivado e preferido pelos consumido-res, por apresentar um aroma maissuave que o do roxo. O seu tamanhotambém é maior, e resiste mais aFusarium oxysporum passiflore, queé a principal doença que ataca a plantaem qualquer estágio. O maracujáamarelo tem também mais produtivi-dade e é mais adaptado aos dias quen-tes. Onde não houver possibilidade deproduzir o amarelo, ou se o interessedo produtor recair sobre o roxo, reco-menda-se fazer o enxerto sobre o ca-valo do amarelo. Os frutos do maracu-já roxo, apesar de menores, possuemmaior teor de suco do que o ama-relo.

Sendo uma planta tropical, o ma-racujazeiro não se adapta em regiõessujeitas a geadas ou ventos frios. Vaimelhor em regiões com temperaturaentre 23 e 27oC, umidade relativabaixa e precipitações bem distribuí-das durante o ano. Chuvas muito in-tensas prejudicam a polinização e es-tiagens prolongadas retardam o cres-cimento e a floração.

A planta se desenvolve em quasetodos os tipos de solo, mas prefere osprofundos, bem drenados, leves, nãosujeitos à compactação, areno-argilo-sos, pH (índice de acidez) em torno de5,5, sem cascalhos e pedras. Devemser evitados solos sujeitos ao en-charcamento mesmo por curtos perí-odos.

A importância do maracujá está na

O maracujá é uma fruta muito nutritiva com altos teores de vitaminas A, B e C eminerais como cálcio, ferro e fósforo

No começo, esta produção foi sufi-ciente para atender às necessidadesda própria família e o pequeno merca-do regional. Com a formação de algu-mas indústrias de maior porte, come-çou a industrialização do maracujá.Nas pequenas parcelas das casas ru-rais, o maracujá estava em equilíbriobiológico, mas ao aumentar a área, aoiniciar os pomares comerciais, come-çaram a surgir doenças e pragas. En-quanto no exterior se chegava a pro-duzir 40t/ha/ano, aqui no Brasil nãose chegava a 10t. Por que isso? Aresposta foi fácil: faltou pesquisa nacultura em nível nacional, como tam-bém regional. Não bastava só produ-zir, só traduzir livros e trabalhos depesquisa do exterior, era necessárioinvestigar, adaptar resultados obti-dos longe, a milhares de quilômetros,à nossa realidade. Assim, após anosde pesquisa e com uma as-sistênciatécnica mais constante nos aspectosfitossanitários e fitotécni-cos, hoje jáse consegue, por exemplo, aqui noSul, em média, 20t/ha, o dobro por-tanto dos primeiros anos, e as pers-pectivas são de incrementar mais ain-da esta produtividade em futuro pró-ximo.

sua utilização na alimentação huma-na, já que na sua composição sãoencontrados elevados teores de açú-cares, vitaminas A, B e C e minerais,com destaque para cálcio, ferro e fós-foro. É também muito característica apresença do princípio ativomaracujina, utilizado para o trata-mento da insônia, ansiedade e excita-ções nervosas. O próprio suco do ma-racujá é um calmante natural.

Economicamente o maracujá atraia atenção pela produção e comer-cialização do suco, tanto natural comoconcentrado, ou ainda misturado comágua ou outros sucos, tipo abacaxi,laranja, etc. Utiliza-se ainda o suco nafabricação de sorvetes e cremes cris-talizados, entrando também na com-posição de bebidas alcóolicas (licores,vinhos e batidas), refresco em pó,iogurte, polpa congelada, proteína con-gelada (mistura com soja).

Como subproduto da industrializa-ção do suco de maracujá, temos acasca e as sementes, que podem serprocessadas para a fabricação de ra-ções, óleos comestíveis, adubos, etc.

Antes de 1960, no Brasil, o mara-cujá era cultivado no quintal, nãoexistindo plantios comerciais.

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TomateTomateTomateTomateTomate

Cultivares de tomate para o Baixo VCultivares de tomate para o Baixo VCultivares de tomate para o Baixo VCultivares de tomate para o Baixo VCultivares de tomate para o Baixo Vale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaí

manipulação e transporte e/ou na ob-tenção de produtos atípicos em rela-ção às preferências do consumidor (3).As variações que ocorrem no compor-tamento de cultivares de tomateintroduzidas a partir de outros Esta-dos do Brasil ou do exterior são atribu-ídas principalmente ao efeito ambien-tal, em especial às condiçõesedafoclimáticas distintas entre os lo-cais em que foi obtida e/ou seleciona-da a cultivar e aquele onde foi cultiva-da. Todas as demais tecnologias tor-nam--se ineficientes quando não seutiliza a cultivar adequada à região decultivo (4).

Anualmente são lançadas no mer-cado várias cultivares de tomate comcaracterísticas agronômicas superio-res, via de regra, às cultivaresantecessoras. Tendo em vista o gran-de número de cultivares disponíveisno mercado nacional e estrangeiro,desenvolveu-se um ensaio de intro-dução e avaliação de materiais maispromissores para o cultivo no Lito-ral Catarinense, visando a pro-dução de frutos para o consumo innatura.

Metodologia de pesquisa

O experimento foi instalado nomunicípio de Itajaí, na Estação Expe-rimental da EPAGRI, de fevereiro ajulho de 1992 e 1993, em soloCambissolo Distrófico álico (texturaargilosa), cuja análise química reve-lou os seguintes valores: pH 5,3; fósfo-ro 21ppm; potássio 102ppm; matériaorgânica 2% e cálcio + magnésio4,2me/100g de solo.

Utilizaram-se as cultivares ÂngelaGigante I-5.100 (Asgrow, Agroceres eTopseed), Roquesso Ag-591, JumboAg-592, Barão Vermelho, Paraopeba,Príncipe Gigante Ag-590, Olho Roxo,

ntre as 200 espécies de hortaliçasconhecidas na Terra e 70 no Bra-

sil, o tomate detém a vanguarda pelasua proeminente importância socioeco-nômica e alimentar. Uma das princi-pais peculiaridades da cultura é a suaprodutividade, a mais alta entre asplantas comestíveis, habilitando-a a umrestrito grupo de explorações de altadensidade econômica (1). Tal caracte-rística permite viabilizar economica-mente mesmo as menores áreas rurais(minifúndios). Além disso, a culturaexige um grande número de serviços,valorizando a mão-de-obra fami-liar emantendo um grande contingente detrabalhadores rurais no campo, redu-zindo assim o êxodo rural.

A expansão da tomaticultura e a suaconsolidação como uma atividade com-petitiva, mesmo diante de mercadosestrangeiros, mais exigentes, está inti-mamente vinculada ao grau de tecnolo-gia empregado no desenvolvimento decultivares e práticas culturais mais ade-quadas às regiões produtoras. Nos últi-mos 20 anos foram constatados incre-mentos da ordem de 206% na produção,80% na área de cultivo e 66% na produ-tividade do tomate catarinense, o quese traduz num aumento médio anualde 2.506t na produção, 47ha na áreacultivada e 916kg/ha na produtividademédia (2). Não obstante, a produtivida-de média do Estado é ainda baixa, secomparada a outros Estados da Federa-ção. Isto deve-se, entre outros fatores,à pouca adaptação das cultivares a de-terminadas condições edafoclimáticasde cultivo e ao próprio potencial gené-tico da cultivar.

O uso de cultivares pouco adaptadaspode resultar em perda de rendimentoe qualidade dos frutos, maiorsuscetibilidade às doenças e pragas,degenerescência, distúrbios fisiológi-cos, baixa capacidade de conservação,

Colorado Ag-05 (Agroceres), Cláudia,Débora, Akamaru Gigante (Agroflora),Neide (Cooperativa Agrícola Sul-Bra-sil), Campanar, Jackpot (Ferry Morse),Santa Clara (Agroflora, Topseed,Asgrow), Sunny, Pacific, Humaya(Asgrow), Monte Carlo, Cardeal, Duke(Topseed) e Iguaçu (Honjo). Adotou-se o delineamento de blocos ao acasocom quatro repetições. As parcelasapresentaram uma área útil de 5m2

(dez plantas).Os tomateiros foram conduzidos

de acordo com o “Sistemas de Produ-ção para Tomate para o Estado deSanta Catarina” (1), utilizando-se duasplantas por cova e uma haste porplanta, no espaçamento de 1,0 x 0,5m.Foram avaliados aspectos de cresci-mento da planta, produção e qualida-de dos frutos.

Resultados de pesquisa

As cultivares testadas apresenta-ram diferenças marcantes em seucomportamento fenológico e produti-vo, iniciando já a partir do tempodecorrido da emergência dasplântulas, que variou de cinco a onzedias (Tabela 1) à temperatura de 25 a28oC. A germinação das sementes detomate ocorre entre 4 a 25 dias após asemeadura e depende da temperatu-ra e umidade disponível no solo, idadee vigor da cultivar. Em geral, a se-mente germina de sete a nove diasapós o plantio à temperatura de 20 a25oC (5). Não se constatou correlaçãoentre os dias de emergência com otamanho da semente, tipo do fruto(plurilocular ou oligolocular) ou natu-reza do material semeado (híbrido oucultivar). Via de regra, a precocidadede germinação está diretamenterelacionada ao vigor ini-cial dasplântulas.

Antônio Amaury Silva Júnior, Valmir José Vizzottoe Henry Stuker

E

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TomateTomateTomateTomateTomate

Tabela 1 - Características de cultivares de tomate. Médias de dois anos. EPAGRI, Itajaí, 1992

Emer- Crescimento Unifor- FormatoCultivar Fornecedor gência midade de do

(no dias) Tipo(A) Porte frutificação(B) fruto(C)

Ângela Gigante Asgrow 5 I Alto Média Q ORoquesso Agroceres 5 I Alto Alta Q OSanta Clara Agroceres 5 I Médio Média Q OÂngela Gigante Agroceres 7 I Médio Média Q ONeide Sul-Brasil 7 I Médio Baixa QCampanar Ferry-Morse 7 I Médio Média RJackpot Ferry-Morse 7 D Baixo Média RSunny Asgrow 7 D Baixo Média R APacific Asgrow 7 D Baixo Média R AJumbo Agroceres 7 I Baixo Alta QIguaçu Honjo 7 I Alto Média Q OHumaya Asgrow 7 I Médio Excelente R ABarão Vermelho Agroceres 7 I Alto Excelente RParaopeba Agroceres 7 I Baixo Média QSanta Clara Asgrow 7 I Médio Média Q OPríncipe Gigante Agroceres 7 I Médio Média Q OColorado Agroceres 7 I Médio Excelente R AMonte Carlo Topseed 7 I Médio Alta R ADuke Topseed 7 D Baixo Média R AÂngela Gigante Topseed 9 I Médio Baixa Q OCardeal Topseed 9 I Médio Média Q OOlho Roxo Agroceres 11 I Médio Média QCláudia Agroflora 5 I Alto Alta Q ODébora Agroflora 5 I Alto Alta Q OAkamaru Gigante Agroflora 7 D Baixo Média R ASanta Clara Agroflora 5 I Médio Média Q O

(A)Tipo: indeterminado e determinado.(B)Grau de uniformidade de formato e tamanho do fruto.(C)Formato do grupo: QO - Quadrado oblongo; Q - quadrado; R - Redondo; A - Achatado.

baixo grau de adaptação das cultiva-res às baixas temperaturas (3 e 7) eestá estritamente vinculada aos dis-túrbios fisiológicos reprodutivos, emespecial aos abortamentos florais efrugais (Figura 3) e à partenocarpia(Figura 4). O abortamento floral tam-bém acontece quando ocorrem altastemperaturas durante o florescimento(acima de 35oC).

As cultivares Campanar, Jackpot,Sunny, Pacific, Humaya, Barão Ver-melho, Colorado, Monte Carlo, Dukee Akamaru Gigante pertencem aogrupo Salada ou Caqui (Figura 5), cujamaior peculiaridade dos frutos é a deserem pluriloculares. O formato dofruto varia de redondo a redondo-achatado. Caracterizam-se pelo mai-or peso médio dos frutos (mais de150g), maior suscetibilidade às doen-ças e pragas e sensibilidade ao trans-porte e ao manuseio. Em conseqüên-cia disto, os frutos alcançam, invaria-velmente, altos preços no mercado,atingindo restrito grupo de consumi-dores exigentes e/ou de maior poderaquisitivo. As demais cultivares estãoinseridas no grupo denominado “San-ta Cruz”, cujo formato varia de qua-drado a quadrado-oblongo (Tabela 1).O tipo “Santa Cruz” é, via de regra,uma peculiaridade brasileira e suamelhor característica é a firmeza defruto, conferida pela natureza bilocularou trilocular (Figura 6). Devido a estapeculiaridade, o tomate brasileiro podeser transportado ao longo de distânci-

Dos 26 materiais testados, quatroapresentaram crescimento determi-nado (Jackpot, Akamaru Gigante,Sunny, Pacific e Duke) (Tabela 1), ouseja, porte baixo e com emissão de umcacho floral a cada uma a duas folhasproduzidas (Figura 1). Estas caracte-rísticas permitem a condução do to-mateiro em estruturas maissimplificadas, favorecem uma melhorventilação e iluminação dos órgãosaéreos da planta (reduzindo os riscosde doenças e aumentando a eficiênciafotossintética) e permitem a obtençãode colheitas mais concentradas e uni-formes. Alie-se a isto a versatilidadedas cultivares de crescimento deter-minado, especialmente as híbridas,de poderem ser cultivadas em densi-dades populacionais mais altas, visan-do o aumento da produtividade (6).

A uniformidade de frutificação foimais evidente nas cultivares Colorado,Barão Vermelho e Humaya, do grupoplurilocular, seguidas por Jumbo, Dé-bora, Cláudia, Roquesso e Cardeal, do

grupo oligolocular (Tabela 1). Quantomaior a uniformidade de frutificação,mais uniformes e concentradas são ascolheitas. A ocorrência de frutos detamanhos e formas muito distintos,ou em número reduzido no cachofrutífero (Figura 2), é indicativo do

Figura 1 - Tomateiros de crescimentodeterminado. À esquerda inflorescência apical e à

direita planta com porte baixo

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 37

TomateTomateTomateTomateTomate

Figura 2 -Desuniformidadena frutificação docacho de tomate

Figura 3 -

Abortamento floral do tomateiro

Figura 4 -Frutos detomatepartenocárpicos

Figura 5 - Corte transversal de fruto de tomate do tipoplurilocular

Figura 6 - Frutos detomate bilocular (àesquerda) e trilocular (àdireita)

as continentais sem o risco de rompi-mento e esmagamento.

A ocorrência da brotação terminaldo rácimo, nas cultivares testadas, foirelativamente baixa, variando de 1,5a 3,8% nas cultivares Ângela, SantaClara, Iguaçu, Neide e Colorado, con-forme já verificado (3) para as cultiva-

res Ângela Hiper e Ângela Gigante. Abrotação terminal do rácimo (Figura7) manifesta-se como uma segregaçãode caracteres dos materiais progeni-tores do tipo plurilocular selvagem eapresenta alguns inconvenientes, en-tre eles a redução no tamanho dosfrutos ou a dificuldade de se proceder

a desbrota. Devido ao maior conteúdode fibras destas brotações, qualquertentativa de desbrota manual redun-da, invariavelmente, em laceraçãolongitudinal profunda no tecidopenduncular do rácimo, dificultando acicatrização tópica e favorecendo, con-seqüentemente, eventuais invasõesde microorganismos patogênicos (Al-ternaria sp, Erwinia sp, etc.). A opçãopor deixar as brotações nos rácimosfrutíferos age em detrimento da ar-quitetura da planta: as brotações de-senvolvem-se à guisa de uma hastecaulinar que, muitas vezes, prosta-sesobre o solo. O contato da folhagemcom o solo pode resultar em proble-mas de ordem fitossanitária, e a folha-gem pode sofrer eventuais pisoteios.O amarrio destas brotações ao tutorabrandaria o risco de distúrbios

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38 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

Tabela 2 - Produção comercial (t/ha), percentagem de frutos graúdos e peso médio dosfrutos de tomate (g) tipo Santa Cruz. Média de dois anos. EPAGRI, Itajaí

Frutos

Graúdos(A) Peso médio(%) (g)

Débora Agroflora 82,15a 87,4a 115bJumbo Agroceres 79,41a 88,8a 128aSanta Clara Agroflora 76,30ab 86,7a 123aCláudia Agroflora 75,66ab 86,4a 130aSanta Clara Asgrow 74,32ab 87,3a 121abSanta Clara Agroceres 72,58ab 85,9a 124aÂngela Gigante Topseed 69,94 b 73,7 b 95Ângela Gigante Asgrow 68,49 b 74,2 b 98Roquesso Agroceres 65,70 b 79,2ab 98Ângela Gigante Agroceres 64,48 75,4 b 101Cardeal Topseed 63,31 63,9 91Olho Roxo Agroceres 46,88 69,3 87Paraopeba Agroceres 45,49 65,4 92Iguaçu Honjo 42,22 70,4 87Príncipe Gigante Agroceres 40,36 63,8 75Neide Sul-Brasil 37,66 70,8 78

(A) Frutos graúdos: diâmetro transversal do fruto > 47mm.Nota: Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente pelo Teste

Duncan 5%.

TomateTomateTomateTomateTomate

fitossanitários, porém é poucoexeqüível, na prática. O grande incon-veniente em se deixar estas brotaçõesé a competição por nutrientes, cujoprejuízo maior é a redução no tama-nho dos frutos. Um procedimento maisadequado para a extirpação destesbrotos é o uso de uma tesoura ou facade gume afiado e desinfetado (paraevitar transmissão de viroses).

Quanto à produção comercial, ascultivares mais produtivas foram Dé-bora, Jumbo, Santa Clara e Cláudia,com rendimentos acima de 72t/ha emais alta percentagem de frutosgraúdos (Tabela 2). São todas de cres-cimento indeterminado e padrão defruto tipo Santa Cruz (bi e trilocular).Verificou-se uma maior uniformidadede produção de frutos graúdos no hí-brido Débora e na cultivar Jumbo,enquanto que para a cultivar SantaClara os maiores índices ocorreramentre a segunda e a quarta colheita(Figura 8). Dos quatro materiais quese destacaram, apenas Débora e Cláu-dia são híbridos. A grande vantagemda utilização de materiais híbridos é amaior estabilidade produtiva, mesmosobre condições adversas de cultivo(8). Embora tenha sido a cultivar maisprodutiva, para as condiçõesedafoclimáticas do Litoral de Itajaí, ohíbrido Débora apresentou um me-nor peso médio de fruto em relaçãoaos materiais mais promissores.

Dos materiais do tipo plurilocular(tomate tipo salada) destacaram-se oshíbridos Monte Carlo e Colorado, comrendimento médio de 64,43 e 53,21t/ha, respectivamente (Tabela 3). Comrelação ao tamanho do fruto, os mate-riais pluriloculares se destacarampelo maior índice de frutos graúdos,sendo que Colorado e Duke apresen-taram peso médio do fruto acima de270g (Tabela 3). Embora a produçãode frutos graúdos se concentre nasprimeiras colheitas, o híbrido Coloradoapresentou uma produção uniformeao longo de dez colheitas (Figura 9). Obom desempenho do híbrido Coloradonas condições edafoclimáticas de Itajaídeve-se, essencialmente, à resistên-cia múltipla às principais doenças dotomateiro, especialmente Alternariasolani, e ao próprio vigor híbrido. Este

mesmo material, testado nas condi-ções climáticas de Urubici, apresen-tou um péssimo desempenho agronô-mico (informações preliminares obti-das na Estação Experimental de SãoJoaquim).

Os resultados de produtividade etamanho de fruto obtidos neste traba-lho, quando comparados a outros en-

saios, nas mesmas condiçõesedafoclimáticas (3), demonstram terhavido uma evolução significativa nodesempenho das cultivares, sobretu-do das oligoloculares. Via de regra, oaumento da produtividade é resulta-do do aumento do peso médio dosfrutos e da incorporação de resistên-cia às doenças.

Figura 7 -Brotaçãoterminal dorácimo dotomateiro

ProduçãoCultivar Fornecedor comercial

(t/ha)

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TomateTomateTomateTomateTomate

Literatura citada

1. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Siste-mas de produção para tomate para oEstado de Santa Catarina. Florianópo-lis: 1991. 75p. (EMPASC/ACARESC.Sistemas de Produção, 18).

2. SILVA, A.C.F. da. A evolução das hortaliçasem Santa Catarina. Agropecuária Ca-tarinense, Florianópolis, v.5, n.3, p.14-18, 1992.

3. SILVA JÚNIOR, A.A.; PRANDO, H.F. Cul-tivares e épocas de semeadura de toma-te para o Litoral Catarinense. Agrope-cuária Catarinense. Florianópolis, v.2,n.3, p.48-50, 1989.

4. SILVA, A.C.F. da; MULLER, J.J.V.;YOKOYAMA, S. Comportamento decultivares de pepino para a indústria,no Baixo Vale do Itajaí, Estado deSanta Catarina. Florianópolis:EMPASC, 1979. 7p. (EMPASC. Comu-nicado Técnico, 27).

5. MINAMI, K.; HAAG, H.P. Fisiologia daprodução. In: MINANI, K.; HAAG, H.P.O tomateiro. 2.ed. São Paulo: FundaçãoCargill, 1989. p.19-88.

6. AUSTIN, M.E.; DUNTON JR., E.M.Fertilizer-plant population studies foronce-over tomato harvest. Journal ofAmerican Society for HorticulturalScience, Mount Vernon, v.95, p.645-649, 1970.

7. MELO, P.C.T. de. Tendências do melhora-mento genético do tomateiro visandomesa e indústria no Brasil. In: ENCON-TRO NACIONAL DE PRODUÇÃO EABASTECIMENTO DE TOMATE, 2.,1991, JABOTICABAL, SP. Anais .Jaboticabal: UNESP, 1991. p.35-46.

8. ORSETTI, P.T. How the use of hybrids hasinfluenced the processing tomatoindustry in California. ActaHorticulturae, n.100, p.375-377, 1980.

Antônio Amaury Silva Júnior, eng. agr.,M.Sc., Cart. Prof. no 3.161-D, CREA-SC,EPAGRI-Estação Experimental de Itajaí, C.P.277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255,88301-970 - Itajaí, SC, Valmir José Vizzotto,eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 777-D, CREA-SC, EPAGRI-Estação Experimental de Itajaí,C.P. 277, Fon e (0473) 46-5244, Fax (0473)46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC e HenriStuker, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 42.785-D, CREA-RS, EPAGRI-Estação Experimen-tal de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 46-5244,Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC.

Figura 8 -Percentual defrutos graúdos detomate ao longo dedez colheitas

Figura 9 -Híbrido detomateColorado

Tabela 3 - Produção comercial (t/ha), percentagem de frutos graúdos e peso médiodos frutos de tomate(g) tipo Salada. Médias de dois anos. EPAGRI, Itajaí

Frutos

Graúdos(A) Peso médio(%) (g)

Monte Carlo Topseed 64,43a 51,2 203 bColorado Agroceres 53,21 b 78,9a 286aPacific Asgrow 49,90 b 58,9 225 bCampanar Ferry-Morse 48,31 b 30,0 158Duke Topseed 46,63 b 70,2 b 274aSunny Asgrow 45,96 55,2 219 bBarão Vermelho Agroceres 44,64 48,5 195Humaya Asgrow 41,40 54,1 205 bJackpot Ferry-Morse 37,01 27,5 142

(A) Frutos graúdos: com peso médio superior a 250g.Nota: Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste Duncan 5%.

ProduçãoCultivar Fornecedor comercial

(t/ha)

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Fundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terras

Ações fundiárias em Santa CatarinaAções fundiárias em Santa CatarinaAções fundiárias em Santa CatarinaAções fundiárias em Santa CatarinaAções fundiárias em Santa Catarina

1. Para uma análise do PNRA, ver VEIGA (1).2. O Clube 4-S é a forma clássica de atuação dos órgãos oficiais de extensão com a juventude rural. O significado dos 4-S é saber, servir, sentir

e saúde. Para uma análise desse tema, ver MUSSOI (3).3. As Tabelas 2, 3 e 4 incluem, também, as famílias que transferiram o imóvel para outro mutuário.

Tabela 2 - Regime de trabalho anterior dosbeneficiados

Nú- Per-Item me- centa-

ro gem

Arrendatário 1.770 83Empregado rural 122 6Filho pequeno agricultor 109 5Jovens 4-S 113 5Outros 20 1Número de contratos 2.134 100

Fonte: SDA/DASF (jun. 1995).

Ademir Antonio Cazella

m Santa Catarina, as principaisações do Estado referentes à

questão agrária podem ser enquadra-das no âmbito do Plano Nacional deReforma Agrária - PNRA1 e do Pro-grama Fundo de Terras, políticas dosgovernos federal e estadual, respecti-vamente. Segundo dados da Diretoriade Assuntos Fundiários - DASF, daSecretaria de Estado do Desenvolvi-mento Rural e da Agricultura - SDA,a partir de 1985, o Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária -INCRA implantou 62 projetos de as-sentamento de agricultores em 29municípios de Santa Catarina,totalizando 44.723,42ha, benefician-do 2.525 famílias de agricultores semterra. O Programa Fundo de Terras,operacionalizado em 1984, apresentaum total de 1.866 famílias assentadas.Neste artigo pretendemos destacaras potencialidades político-sócio--eco-nômicas desse programa que, na mai-oria das vezes, são desconsideradas,tanto por entidades de assessoria, oude representação dos agricultores,como pelo próprio governo.

Análise do ProgramaFundo de Terras

O Programa Fundo de Terras foicriado e regulamentado em 1983, res-pectivamente, pela lei no 6.288, de 31de outubro e pelo decreto no 20.842, de16 de dezembro. Em 1992, foi incluídocomo um instrumento de política agrá-ria na Lei Agrícola de Santa Catarina(lei no 8.676, de 17 de junho). Seuobjetivo principal consiste na comprae venda de terras, para fins dereordenamento fundiário e de assen-tamento de agricultores. O artigo 32,parágrafo 1o, da Lei Agrícola, definecomo beneficiários do programa “osminifundiários, os trabalhadores ru-rais sem terra, os pescadoresartesanais e, ainda, suas associaçõesou cooperativas” (2).

A administração do programa édinamizada pelos comitês estadual emunicipais. O primeiro é compostopor nove membros, assim distribuí-dos: um da Federação dos Trabalha-dores na Agricultura do Estado deSanta Catarina - FETAESC; um daFederação da Agricultura do Estadode Santa Catarina - FAESC; um daOrganização das Cooperativas do Es-tado de Santa Catarina - OCESC; umda Federação das CooperativasAgropecuárias do Estado de SantaCatarina - FECOAGRO; um da Coor-denação Estadual do Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrária- INCRA; dois da Secretaria de Estadodo Desenvolvimento Rural e da Agri-cultura - Diretoria de AssuntosFundiários - SDA/DASF e dois dosClubes 4-S2. Os comitês municipaissão compostos por cinco entidades, asaber: Empresa de Pesquisa Agrope-cuária e Extensão Rural de SantaCatarina - EPAGRI; Sindicato dos Tra-balhadores Rurais - STR; SindicatoRural - SR; Cooperativa com área deatuação no município e representan-tes dos Clubes 4-S.

Em 1988, um levantamento feitopelos comitês municipais constatou aexistência de 10.600 agricultores ins-critos e uma estimativa de 43.000agricultores como sendo o públicopotencial do programa. Essa demandaaproxima-se do número de agriculto-res não proprietários existentes noEstado, conforme demonstra a Tabela1. Da mesma forma, podemos verifi-car, pela Tabela 2, que 83% dos agri-cultores beneficiados 3 pelo Fundo deTerras são ex-arrendatários.

Outro aspecto importante a seranalisado refere-se às principais ra-zões que justificam a venda de terraspelos antigos proprietários. As Tabe-las 3 e 4 demonstram que 29% possu-íam mais terras e 16% não eramagricultores. Além disso, 49% dosimóveis não eram explorados pelos

então proprietários.Esses dados podem suscitar inú-

meras discussões, dentre elas, e amais freqüente, de que o programaacaba tornando-se um mero veículode transferência de terras entre pe-quenos agricultores. Ou seja, ao be-neficiar um agricultor com o acesso àterra estaria desalojando outro e, con-seqüentemente, provocando o êxodorural. Vejamos a questão mais deperto.

O estudo da FAO/INCRA - Diretri-zes de Política Agrária e Desenvolvi-mento Sustentável (4), ao analisar asações do Estado no campo fundiário,sugere políticas complementares àreforma agrária. A atual conjunturaagrária do país revela uma demandapor terras superior à capacidade fiscale institucional da União em solucio-nar o problema.

“Tendo em vista, por outro lado,que a reforma agrária via desapro-

E

Tabela 1 - Condição do produtor catarinense

Categoria No de estabelecimentos

Proprietários 182.816Arrendatários 15.446Parceiros 16.128Ocupantes 20.583Total 234.973

Fonte: IBGE. Censo Agropecuário (1985).

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 41

Fundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terras

sa pela criação de Sociedade de Orde-namento Fundiário (SOF), em nívelmundial, ou regional, com direito depreempção (precedência na compradas terras ofertadas no mercadofundiário) e potencializadas com o re-passe de Títulos de Dívida Agrária -TDAs pela União.

O Programa Fundo de Terras en-caixa-se perfeitamente dentro dessapolítica e qualquer pessoa com vivênciade campo deve ter associado casos decomerciantes, profissionais liberais,etc, que, através da compra de peque-nas propriedades rurais ao longo dotempo, atualmente são proprietáriosde áreas maiores que as antigas co-munidades rurais. Esses casos, por sisó, justificam que se dê uma maioratenção para o ordenamentofundiário, se possível tornando SantaCatarina o Estado pioneiro eminstrumentalizar os Comitês Munici-pais do Programa Fundo de Terrascom o direito de preempção e comTDAs, condições necessárias para umprograma ágil e eficaz.

Outro aspecto polêmico refere-seàs desistências dos agricultores bene-ficiados por políticas fundiárias. Atéjunho de 1995, em quase doze anos deexistência do Fundo de Terras, 2.134famílias foram atendidas e 1.866 imó-veis foram adquiridos. Dessas, 263transferiram o imóvel para outro mu-tuário, 44 estavam em processo detransferência e cinco contratos foramcancelados por razões diversas. Seconsiderarmos esses casos como sen-do as desistências do programa, te-mos um percentual de, aproximada-mente, 17% de beneficiáriosdesistentes. Um estudo da FAO/

PNUD (5) apresenta as médias dedesistências dos projetos de reformaagrária do governo federal, em nívelde Brasil e região Sul, como sendo,respectivamente, 22% e menos de5%. No entanto, recentes contatoscom técnicos da SDA/DASF, do INCRAe com lideranças do Movimento dosSem--Terra - MST revelam opiniõesconsen-suais sobre um índice superi-or a 20% referente às desistências dosassentamentos rurais em Santa Cata-rina. Embora esse aspecto mereçauma análise precisa, essas estimati-vas são confirmadas pelo levantamen-to realizado em três assentamentoslocalizados nos municípios de PonteSerrada e Passos Maia (6), segundo oqual, no assentamento 25 de Maio, oíndice de desistência é de 56%, noassentamento Taborda é de 18% e noassentamento Sapateiro I é de 42%.Com isso, pode-se afirmar que o pro-grama encontra-se dentro deparâmetros aceitáveis no tocante àstrocas de mutuários.

Outro dado importante do Fundode Terras é a existência de catorzeprojetos de assentamentos, com cincoou mais famílias, totalizando 204 famí-lias beneficiadas (Tabela 5). Emborainexistam dados sobre os casos comdois a quatro mutuários é pertinentechamar a atenção para a importânciaorganizacional do assentamento con-tíguo de parentes, vizinhos e compa-dres4. A transferência de TDAs pelogoverno federal a programas dessanatureza favorece a aquisição de imó-veis para o assentamento conjunto defamílias, potencializando a coopera-ção agrícola e os serviços do Estadoentre e para as mesmas.

Tabela 4 - Situação anterior do imóvel

Nú- Per-Item me- centa-

ro gem

Explorado 531 25Inexplorado 1.050 49Arrendado 255 12Parcialmente explorado 295 14Outros 3 -Número de contratos 2.134 100

Fonte: SDA/DASF (jun. 1995).

Tabela 3 - Motivo de venda do lote peloantigo proprietário

Nú- Per-Item me- centa-

ro gem

Possui mais terras 619 29,0Não era agricultor 339 16,0Pessoas idosas 162 7,5Venda para arrendatário 120 5,5Mudança de local 186 9,0Transferência mutuários 263 12,0Compra área maior 44 2,0Saiu da agricultura 73 3,0Terras do Estado 80 4,0Outros 248 12,0Número de contratos 2.134 100

Fonte: SDA/DASF (jun. 1995).

priação não tem condições de atenderas necessidades de terra de um uni-verso maior de agricultores (2,5 mi-lhões), trata-se de complementar esteprograma com outros tipos de inter-venção, como o ordenamento agrário,o acesso indireto (arrendamento eparceria) e a tributação” (FAO/INCRA1994, p.12).

Com base nessa proposição, a polí-tica de ordenamento agrário visa aten-der jovens rurais e/ou agricultorescom terras, mas em quantidade insu-ficiente, ou em regime de posse inade-quado, tornando-os proprietários deunidades familiares de produção agrí-cola viáveis. Além disso, esse tipo deação objetiva, prioritariamente, evi-tar que as terras que se encontram nomercado fundiário por razões diver-sas - transferência do proprietáriopara outra região, abandono da ativi-dade, aposentadoria, etc. - acabemnas mãos de proprietários não agríco-las, ou de grandes fazendeiros.

Segundo a FAO/INCRA (4), aoperacionalização dessa política pas-

4. Para uma discussão sobre as relações de parentesco, vizinhança e compadrio entre os camponeses, ver, dentre outros, VIANNA (7).

Tabela 5 - Assentamentos com cinco ou mais famílias do Fundo de Terras

Projeto Município Data contrato

Sombrio Santa Rosa do Sul 645 65 1987Salto União Dionísio Cerqueira 441 45 1984Linha Figura São Domingos 105 16 1985Alto Rio Saltinho Ituporanga 143 14 1984Taipa Baixa Mondaí 122 12 1985Rio Bugio Matos Costa 73 05 1991Tambeiro Monte Castelo 122 09 1985Aratingaúba Imaruí 75 05 1985São Braz Barra Velha 74 05 1985Rio de Areia Urubici 100 07 1985Linha Califórnia São José do Cedro 56 05 1985Santa Inês São Lourenço do Oeste 60 05 1984Serra Grande Petrolândia 45 05 1984Serra Chata Matos Costa 72 06 1984Total - 2.133 204 -

Fonte: SDA/DASF (abr. 1995).

Área(ha)

Famílias(no)

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42 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

Fundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terrasFundo de terras

Por fim, chamamos a atenção paraa necessidade de a sociedade civilorganizada participar ativamente doprocesso de ordenamento agrário.Nesse sentido, cabe aos interessadose, sobretudo, às autoridades ligadasao assunto promoverem o debate e asreformulações nos instrumentos depolítica agrária. Por exemplo, a com-posição dos comitês estadual e muni-cipais do programa representa as for-ças políticas atuantes na questão agrá-ria do Estado relativas ao início dadécada passada. Atualmente, novosatores surgiram nesse cenário, comoo MST, que participa ativamente doConselho Estadual de Desenvolvimen-to Rural - CEDERURAL, em especial,na Câmara Setorial Fundiária, os agri-cultores assentados pelos governosfederal e estadual, as OrganizaçõesNão Governamentais - ONGs, a Fede-ração Catarinense de Associações dosMunicípios FECAM, além de outrosorganismos que, certamente, têm in-teresse em contribuir para a resolu-ção dos problemas agrários do Estado.

Literatura citada1. VEIGA, J.E. da. A reforma que virou suco:

uma introdução ao dilema agrário doBrasil. Petrópolis: Vozes, 1990, 157p.

2. SANTA CATARINA. Leis, decretos, etc. Anova lei agrícola de Santa Catarina .Florianópolis: 1993. 20p.

3. MUSSOI, E.M. Juventude rural: em buscade um trabalho sob nova dinâmica .Florianópolis: EPAGRI, 1993. 18p.(EPAGRI. Documentos, 142).

4. FAO. Diretrizes de política agrária e desen-volvimento sustentável . Brasília: 1994.24p.

5. FAO. Principais indicadores sócio-econô-micos dos assentamentos de reformaagrária. [S.1.]: 1992. 24p.

6. PHILIPPI, L. de M. As questões agrárias eos assentamentos em Santa Catarina .Florianópolis: UFSC/Centro de Ciênci-as Agrárias, 1995. 76p. (Relatório deEstágio).

7. VIANNA, A. Organização social e açãopolítica do campesinato: o caso da ‘in-vasão’ da Fazenda Annoni: Rio de Ja-neiro: UFRJ, 1989. (Comunicação, 15).

Ademir Antonio Cazella, eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. no 7.194-0, CREA-SC, Professor daUniversidade Federal de Santa Catarina,Centro de Ciências Agrárias - UFSC/CCA,C.P. 476, Fone (048) 234-2266/ramal 224,Fax (048) 234-2014, 88040-900 - Florianópolis,SC.

Nota dos editores

março e junho de 1996, abordando respec-tivamente a influência da minhoca sobreas plantas e a água no solo.

O artigo publicado a seguir é o primeirode uma série de três, devendo os doisseguintes ser veiculados nas edições de

minhoca é um dos organismosmais comuns no solo. Desde os

tempos antigos, os homens, principal-mente agricultores, valorizam as mi-nhocas. Elas são consideradas um dossímbolos de um solo de boa quali-dade.

Dentro das bacias hidrográficas,nos campos florestal e agrícola, a me-canização moderna e o uso inadequa-do de fertilizantes têm sido progressi-vamente difundidos e usados, a fim deaumentar a produtividade da terra.No entanto, essas atividades geral-mente provocam a degradação do solo(1).

Este trabalho é a primeira parte deuma série de três artigos, baseadosem experimento executado pelo autor(2). O objetivo desta série é demons-trar como as minhocas atuam sobrealgumas características dos solos echamar a atenção para a possibilidadeda sua utilização no manejo demicrobacias hidrográficas. Este pri-meiro artigo expõe a influência daminhoca sobre o solo.

Material e métodos

O ensaio foi realizado no campusdo Setor de Ciências Agrárias da Uni-versidade Federal do Paraná, Curitiba,PR, num Cambissolo. Os quatro trata-mentos consistiram na aplicação dasminhocas em dois experimentos, compopulação de 0, 30, 60 ou 90 indivíduospor metro quadrado. (Tratamento 00,

30, 60 e 90, respectivamente) comanálises das variáveis no solo e comquatro repetições para as observa-ções nas plantas.

As dimensões das parcelas paraobservação do solo eram de 1,0 x 1,5me para observação da planta, segundoexperimento, de 1,5 x 1,8m. Daqui emdiante, tendo em vista o tema doartigo, explicam-se os procedimentossomente em relação à observação dosolo.

Depois de eliminar todas as mi-nhocas nativas das parcelas com aaplicação de Formol, foram colocadasas minhocas do experimento em nú-mero correspondente a cada trata-mento. A minhoca utilizada foiAmynthas spp., comumente chamadade “minhoca louca” pelos agriculto-res. A limpeza das parcelas foi feitauma vez a cada duas semanas, quandoas plantas daninhas foram arranca-das manualmente e deixadas na mes-ma parcela.

Cerca de nove meses depois daaplicação das minhocas, em fevereirode 1994, amostras do solo foramcoletadas nas profundidades de 5, 15,25 e 35cm, sem perturbação do ambi-ente, com cilindros de metal com ca-pacidade de 100cm3 de volume e 4cmde altura. Essas amostras foram utili-zadas para fins de medição daporosidade do solo, através da curvacaracterística de retenção da água dosolo, e de medição da permeabili-dade.

Influência da minhoca no manejo deInfluência da minhoca no manejo deInfluência da minhoca no manejo deInfluência da minhoca no manejo deInfluência da minhoca no manejo demicrobacias hidrográficas - 1 solomicrobacias hidrográficas - 1 solomicrobacias hidrográficas - 1 solomicrobacias hidrográficas - 1 solomicrobacias hidrográficas - 1 solo

Masato Kobiyama

Manejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do solo

A

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 43

Resultados e discussão

A Figura 1 mostra as médias dosvalores obtidos de condutividade hi-dráulica saturada (CHS) e porosidadetotal (PT). A condutividade serve paradeterminar a permeabilidade do solo.

Existe uma tendência de que osvalores de CHS e PT aumentem bas-tante com o aumento da populaçãodas minhocas, até 25cm de profundi-dade. O aumento da condutividademelhora a drenagem do solo, e oaumento da porosidade, por melhorara estrutura do solo, aumenta tambéma capacidade de armazenamento deágua.

Além disso, em geral, há tendênciade maior influência das minhocas so-bre os parâmetros do solo, quantomenor a profundidade. Neste estudo,foi constatado que as minhocas nãoatingiram profundidades superiores a30cm.

Assume-se que os valores das pro-fundidades de 5, 15 e 25cm represen-tam as características médias das fai-xas de 0 a 10cm, 10 a 20cm e 20 a30cm, respectivamente. Daqui emdiante serão discutidos os resultadosaté 30cm de profundidade.

Outra propriedade importante dosolo é o fator de aeração (AE), que estáassociado ao crescimento das raízes,pois quanto maior a aeração melhor ocrescimento da raiz. Para calcular talfator, considerou-se que a porosidadelivre da água, semelhante a aeração,é a porosidade total menos a capacida-de de campo.

Os valores da AE de cada trata-mento são mostrados na Tabela 1. Osdados obtidos mostram que houvetendência de melhor aeração do solopara as plantas quanto maior foi apopulação de minhocas.

Na Tabela 2 são mostrados os valo-res da altura da água disponível paraas plantas, ou seja, como a umidade sedistribui em relação à profundidade.Este valor pode ser calculado como acapacidade de campo menos o pontode murcha permanente.

Ao se observar a Tabela 2, pode-seafirmar que os solos com as minhocasapresentam tendência para maior al-tura de água, água disponível, do queo solo sem as minhocas, embora adiferença seja pequena.

Manejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do solo

Tabela 1 - A aeração do solo em cm 3/cm3

Tratamento

T0 T30 T60 T90

0 a 10 0,186 0,250 0,304 0,29410 a 20 0,188 0,210 0,270 0,27920 a 30 0,190 0,221 0,243 0,257

Total (mm) 56,4 68,1 81,7 83,0

Média (cm3/cm3) 0,188 0,227 0,272 0,277

Nota: To = zero minhocas/m2; T 30 = 30 minhocas/m2; T60 = 60 minhocas/m 2; T 90 = 90 minho-cas/m2.

Camada(cm)

Figura 1 - Variação vertical dos valores médios : (A) porosidade total (PT), em quatrodiferentes tratamentos e (B) condutividade hidráulica saturada (CHS)

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A porosidade efetiva é definidacomo sendo os poros por onde a águase movimenta e pode ser calculadacomo a porosidade total menos o pon-to de murcha permanente.

A Tabela 3 mostra como o valor daporosidade efetiva é crescente em re-lação a uma população crescente deminhocas. Isso indica que as minho-cas facilitam a movimentação da água.

Conclusões

• As minhocas Amynthas spp. alte-raram as propriedades físicas do soloaté 30cm, sendo que sua influênciadiminui conforme aumenta a profun-didade.

• Normalmente, quanto maior apopulação de minhocas, maiores fo-ram os valores da condutividade hi-dráulica saturada, da porosidade to-tal, da aeração, da água disponível dosolo para as plantas e da porosidadeefetiva.

Recomendações

Normalmente considera-se que umsolo tem melhores característicasquando são maiores os valores daspropriedades discutidas anteriormen-te. Portanto, o presente estudo mos-tra que a atividade das minhocasAmynthas spp. influencia positivamen-te o solo, melhorando suas condiçõesfísicas e isso, provavelmente, podeser extrapolado para os trabalhos oraem desenvolvimento nas microbaciashidrográficas catari-nenses.

Manejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do soloManejo do solo

Tabela 2 - A água disponível para planta em mm

Tratamento

T0

T30

T60

T90

0 a 10 16,4 15,2 14,5 16,910 a 20 14,8 16,5 15,7 17,620 a 30 14,9 14,8 16,9 12,4

Total 46,1 46,5 47,1 46,9

Nota: To = zero minhocas/m2; T

30 = 30 minhocas/m2; T

60 = 60 minhocas/m 2; T

90 = 90 minho-

cas/m2.

Camada(cm)

Tabela 3 - A porosidade efetiva do solo em mm

Tratamento

T0

T30

T60

T90

0 a 10 35,0 40,2 44,9 46,310 a 20 33,6 37,5 42,7 45,520 a 30 33,9 36,9 41,2 38,1

Total 102,5 144,6 128,8 129,9

Nota: To = zero minhocas/m2; T

30 = 30 minhocas/m2; T

60 = 60 minhocas/m 2; T

90 = 90 minho-

cas/m2.

Camada(cm)

É importante ressaltar que estetrabalho considerou apenas um tipode minhoca, isto é, Amynthas spp.Cada tipo de minhoca apresenta ca-racterísticas ecológicas próprias (3 e4). Outras pesquisas deverão con-templar espé-cies distintas desta,avaliando também as influências dasminhocas sobre as propriedades quí-micas e biológicas dos solos.

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Honório Roberto dosSantos, UFMS, pelo ensino da impor-tância da minhoca no meio ambiente.

Literatura citada

1. KOBIYAMA, M.; USHIWATA, C.T.;BARCIK, C. Recuperação de áreas de-

gradadas - Conceito, um exemplo euma sugestão. Bio, Rio de Janeiro, v.2,n.6, p.95-102, 1993.

2. KOBIYAMA, M. Influência da minhocalouca (Amynthas spp. Rosa, 1891) so-bre o movimento da água do solo, rela-cionado ao crescimento da bracatinga(Mimosa scabrella Benth.) Curitiba:UFPR, 1994. 88p. Tese de Doutorado.

3. LEE, K.E. Earthworms: their ecology andrelationships with soils and land use.Sydney: Academic Press, 1985. 411p.

4. MUINICHI, A.C. As minhocas. Ponta Gros-sa: Cooperativa Central AgropecuáriaCampos Gerais, 1983. 124p.

Masato Kobiyama, Pesquisador, Doutordo Departamento de Engenharia Sanitária eAmbiental - Universidade Federal de SantaCatarina, C.P. 476, Fone (048) 231-9597,88070-910 - Florianópolis, SC.

Agropecuária Catarinense

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 45

MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandioca

Efeito da densidade de plantio da mandioca naEfeito da densidade de plantio da mandioca naEfeito da densidade de plantio da mandioca naEfeito da densidade de plantio da mandioca naEfeito da densidade de plantio da mandioca naprodução de raízes em solo Araranguáprodução de raízes em solo Araranguáprodução de raízes em solo Araranguáprodução de raízes em solo Araranguáprodução de raízes em solo Araranguá

Euclides Mondardo, Renato Cesar Dietriche Mauro Luiz Lavina

s Sistemas de produção para man-dioca (1), destinado aos produto-

res que plantam mandioca em soloAraranguá e suas variações, recomen-dava o espaçamento de 0,8 a 1,0mentre filas e 0,6 a 0,8m entre plantas,equivalente a uma população média de16.666 plantas/ha. O mesmo sistemade produção, revisado em 1979 (2),passou a recomendar o espaçamentode 1,2 a 0,6m entre filas e 0,8 a 0,5mentre plantas, correspondendo a umadensidade média de 17.708 plantas/ha.Em 1987, após o início deste trabalho,o mesmo sistema de produção foi sub-metido à 2a revisão (3), passando arecomendar o espaçamento de 0,6 a1,0m entre fi-las e 0,5 a 0,7m entreplantas, correspondendo a uma popu-lação média de 23.809 plantas/ha, alte-rando assim a densidade populacionalpara mais.

Segundo especialistas, existe umadensidade ótima de plantio e a mesmavaria com a cultivar, com o tipo de soloe com o clima (4). Em geral solospobres respondem ao incremento dapopulação e, à medida em que aumen-ta a população de plantas, o rendimen-to total também aumenta, porém onúmero de raízes por planta e o tama-nho das mesmas diminui; todavia me-lhora o controle de plantas daninhas(4).

O presente trabalho de pesquisavisa sobretudo melhorar a eficiênciado cultivo da mandioca, através deuma adequada densidade de plantio.

Material e métodos

O experimento foi conduzido du-rante três anos agrícolas (1985/86, 1986/87 e 1987/88) em áreas distintas, no

Campo Experimental de Jaguaruna,município de Jaguaruna, SC, em soloAraranguá (Areias QuartzosasDistróficas), cuja análise química ini-cial antes da instalação dos experi-mentos encontra--se na Tabela 1.

O delineamento experimental foiem blocos casualizados com cinco den-sidades de plantio em parcelas, trêscultivares de mandioca emsubparcelas, com repetições no pri-meiro cultivo e quatro repetições nosdemais, conforme especifica a Tabela2.

As cultivares usadas foram MandimBranca, de porte baixo com ramifica-ções na parte superior da planta, Mico,de porte médio com ramificações naparte inferior da planta, e Aipim Gi-gante, de porte alto sem ramificações

(5).O tamanho da maniva foi de 18cm

em cultivo de um ciclo (dez meses),com plantio em setembro e colheitaem julho do ano seguinte.

A adubação foi feita segundo o Sis-tema de produção, conforme constana Tabela 3 (2 e 3).

Não houve ataque de pragas e dedoenças, e a cultura foi mantida livrede concorrência de plantas daninhas.

Na colheita foram avaliados o pesoe o número de raízes, o peso da parteaérea e o teor de amido em %, atravésda balança hidrostática (6).

Resultados e discussão

Na média dos três cultivos, as trêscultivares tiveram comportamento re-

Tabela 3 - Doses e épocas de aplicação dosfertilizantes nos experimentos de densidade de

plantio, Jaguaruna, SC - EMPASC, 1989

Nutrientes e épocas de aplicaçãoAno

No plantio 45 DAP(A) 75 DAP(A)

1985/86 N10-P30-K40 N40 -1986/87 - N40-P30-K60 N401987/88 - N40-P30-K60 N40

(A) Dias após o plantio.

Tabela 2 - Densidade de plantio comos respectivos espaçamentos e número

de plantas/ha. Jaguaruna, SC -EMPASC, 1989

Densi- Espaçamento Plantas/hadade (m) (no)

D1 0,7 x 0,6 23.809D2 0,8 x 0,6 20.833D3 0,9 x 0,6 18.518D4 1,0 x 0,6 16.666D5 1,1 x 0,6 15.151

Tabela 1 - Análise química do solo nos três locais de experimentação, Jaguaruna,SC - EMPASC, 1989

pH Índice P K MO Ca+Mg AlAno Textura

(H2O) (SMP) (ppm) (ppm) (%) (me%) (me%)

1985/86 5,7 7,2 2,2 24 0,5 1,3 0,0 31986/87 5,1 6,8 8,9 33 0,7 1,9 0,1 31987/88 5,8 6,7 3,7 24 0,7 1,7 0,0 3

Média 5,5 6,9 4,9 27 0,6 1,6 0,0 -

O

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MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandioca

lativo quanto a produção de raízes, ouseja, quanto maior a densidade deplantio, maior a produção por unidadede área, embora com tetos diferentes,maior para a Mandim Branca, e pro-duções semelhantes para a Mico e aAipim Gigante, conforme se observana Figura 1.

Quanto à produção da parte aérea(rama+cepa), da mesma forma as trêscultivares tiveram a mesma tendên-cia, ou seja, quanto maior a densida-de, maior a produção (Figura 2).

Na Figura 3 observa-se o compor-tamento do teor de amido em %, ondepraticamente não houve influênciadas densidades de plantio, embora acultivar Aipim Gigante apresente-secom teores mais elevados.

No que se refere ao peso médio dasraízes em gramas (Figura 4), nas trêscultivares, à medida em que aumen-tou a densidade, diminuiu o pesomédio, sendo maiores para a MandimBranca e menores para a cultivarAipim Gigante.

Os dados do peso de raízes em quilopor hectare foram também submeti-dos a análise de variância conjunta.As principais hipóteses testadas emcada ano, e também na análise con-junta, foram o efeito de densidades eo efeito da interação cultivares x den-sidades. As demais hipóteses referen-tes a cultivares não são relevantesneste estudo, porque o comportamen-to das cultivares já era conhecido.

Nos três anos considerados, a

Figura 2 - Efeitoda densidade deplantio damandioca naprodução da parteaérea (rama +cepa)

Figura 3 - Efeitoda densidade deplantio damandioca no teorde amido

Figura 4 - Efeito da densidade de plantio da mandioca no pesomédio das raízes

Figura 1 - Efeito da densidade de plantio da mandiocana produção de raízes

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MandiocaMandiocaMandiocaMandiocaMandioca

interação cultivares x espaçamen-tosnão foi significativa e o efeito deespaçamentos foi somente signi-ficativono primeiro ano, isto é, em 1986/87.

Na análise conjunta dos três anos,houve apenas significância para os efei-tos de anos, de cultivares e deespaçamentos. Assim sendo, foi reali-zado um estudo de regressão conside-rando o peso de raízes como função dasdensidades, resultando na equação.

Yi = 14.130,02 + 0,28409Xi

onde: Yi = peso de raízes (kg/ha) eXi = densidades, resultandono resumo apresentado naTabela 4.

Pela equação de regressão, conside-rando um efeito geral nos três anos,para cada aumento de uma planta/ha, apartir de 15.151 até 23.809 plantas/ha,a produção de raízes de mandioca au-mentou 0,28409kg/ha ou 284,09g/ha.

Os resultados da análise de regres-são mostraram que houve um aumen-to na produção de raízes com o aumen-to das densidades, porém o peso médiode raízes diminuiu, isto é, quanto mai-or foi a produção por unidade de área,menor foi o peso médio de raízes em

gramas (Tabela 5), o que é um fator in-desejável para a indústria da mandio-ca.

Apesar de as maiores densidadesde plantas fornecerem os maiores ren-dimentos de raízes, a grande quanti-

Tabela 5 - Resultados obtidos em função das densidades de plantio.Média dos três anos de experimentação

Espaça- Peso mé- Rama+ Teor dementos dio raízes cepa amido

(m) (g) (kg/ha) (%)

23.809 0,70 x 0,60 20.817 162,7 10.091 29,69

20.833 0,80 x 0,60 20.380 175,3 9,599 30,0518.518 0,90 x 0,60 19.118 183,8 8.735 28,8116.666 1,00 x 0,60 18.621 187,3 7.878 29,16

15.151 1,10 x 0,60 18.700 189,5 8.623 29,52

Nota: Os dados contidos na área pontilhada referem-se à recomenda-ção.

Tabela 4 - Resumo do estudo de regressão para peso de raízesem kg/ha como função das densidades

Peso PesoDensida- de de Erro

Espaçamento des de raízes raízes de ajusta-plantas/ha observado estimado mento

(kg/ha) (kg/ha)

0,70 x 0,60 23.809 20.817 20.894 - 770,80 x 0,60 20.833 20.380 20.048 3310,90 x 0,60 18.518 19.118 19.391 -2731,00 x 0,60 16.666 18.621 18.865 -2441,10 x 0,60 15.151 18.699 18.434 265

dade de manivas necessárias para oplantio pode desaconselhar a reco-mendação da maior densidade, cujovalor líquido não difere da segundamaior densidade, como pode ser ob-servado na Tabela 6.

Tabela 6 - Custo de produção das raízes, em função das densidades de plantio da mandio-ca. Jaguaruna, SC - EPAGRI

Número de m3 de Custo Preparo Custo do Custo Valor da Valormanivas ramas da rama da maniva plantio total produção líquido

23.809 5,7 28,50 30,95 51,43 110,88 624,00 513,1220.833 5,0 25,00 27,08 45,00 97,08 612,00 514,9218.518 4,4 22,00 24,07 40,00 86,07 561,00 474,8316.666 4,0 20,00 21,67 36,00 77,67 558,00 480,3315.151 3,6 18,00 19,70 32,72 70,42 552,00 481,58

Notas: a) Preços em junho de 1995 em R$.b) 1m 3 de rama = R$ 5,00.c) Preparo de 1.000 manivas = 1,30.d) Custo de plantio/ha no espaçamento de 1,00x1,00m = R$ 36,00.e) Preço de 1t de raízes = R$ 30,00.

(custos em R$)

Conclusões erecomendações

• As cultivares apresentaram amesma tendência, ou seja, aumenta-ram a produção de raízes e da parteaérea com o aumento das densidades,

enquanto que opeso médio de ra-ízes diminuiu e oteor de amido empercentual não foiinfluenciado pelasdensidades (Tabe-la 5).

• Em funçãodos resultados ob-tidos e nas condi-ções em que foidesenvolvido otrabalho, reco-menda-se, inde-pendentementedas cultivares, asdensidades deplantio no inter-valo contendo20.833, 18.518 e16.666 plantas/ha,equivalentes aose s p a ç a m e n t o s0,80 x 0,60m, 0,90x 0,60m e 1,00 x0,60m, respecti-vamente.

Literatura citada

1. EMBRAPA/EMPASC. Sistemas de produção paramandioca (pacotes tecnológicos); regiões doVale do Itajaí e Litoral de Santa Catarina. Flo-rianópolis: 1976. 32p. (EMBRAPA. Circular,104).

2. EMBRATER/EMBRAPA. Sistemas de produção paramandioca (Revisão). Florianópolis: EMPASC/ACARESC, 1979. 51p. (EMBRAPA. Sistemasde Produção. Boletim, 161).

3. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Sistemas deprodução para mandioca; Santa Catarina (2a

Revisão). Florianópolis: 1987. 38p. (EMPASC/ACARESC. Sistemas de Produção, 9).

4. CASTRO, M.A.; COCK, J.H.; TORO, J.C. Efecto de ladensidad de siembra en el rendimiento de layuca. In: CURSO DE PRODUCCIÓN DE YUCA,1978, Cali, Colombia. Cali: CIAT, 1978. t.1,p.123-128.

5. EMPASC. Recomendação de cultivares para o Estadode Santa Catarina - 1985-1986. Florianópolis:1985. 82p. (EMPASC. Boletim Técnico, 31).

6. CROSSMAN, J.E.; FREITAS, A.C. de. Determina-ção do teor de matéria seca pelo método do pesoespecífico em raízes de mandioca. Revista Agro-nômica, Porto Alegre, v.14, p.75-80, 1950.

Euclides Mondardo, eng.agr., Cart. Prof. no 124-D,CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental de Urus-sanga, C.P. 49, Fone (048) 465-1209, Fax (048) 465-1460,88840-000 - Urussanga, SC; Renato Cesar Dietrich,eng. agr., Cart. Prof. no 18.072, CREA-SC, EPAGRI,C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Fax (048) 234-1024,88034-901 - Florianópolis, SC e Mauro Luiz Lavina,eng. agr., Cart. Prof. no 10.326, EPAGRI,Administração Regional do Vale do Rio Tuba-rão, Rua São José, no 45, Fone/Fax (048) 626-0577, 88701-260 - Tubarão, SC.

Raízes(kg/ha)

Densi-dade

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Suínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixes

Policultivo de carpas integrado à suinoculturaPolicultivo de carpas integrado à suinoculturaPolicultivo de carpas integrado à suinoculturaPolicultivo de carpas integrado à suinoculturaPolicultivo de carpas integrado à suinocultura

Jorge de Matos Casaca e Osmar Tomazelli Júnior

produção de pescado no OesteCatarinense tem se firmado

como atividade produtiva principal-mente devido às mudançasimplementadas no sistema de cultivoa partir de 1989. Até então a piscicul-tura era desenvolvida de formafomentista, com a única preocupaçãode distribuir alevinos, levando emconta unicamente a área superficialdos viveiros. As quantidades eraminadequadas para o sistema de produ-ção, uma vez que se usavam alevinosI, com peso médio de 0,5 a 1,0g, esomente de carpa comum. Desta for-ma, não se obtinham resultados espe-rados, pois a taxa de mortalidade va-riava de 10 a 90%. Durante muitosanos este era o sistema de cultivoadotado na região.

A partir de 1989, com a introduçãodas carpas chinesas e o desenvolvi-mento de um sistema de cultivo maisadequado às características da região,a piscicultura começou a dar os pri-meiros passos concretos como ativi-dade produtiva. O sistema de cultivoatual caracteriza-se pela utilização dealevinos II, com peso médio de 10 a50g, e diversas espécies e empolicultivo integrado. A recomenda-ção técnica da taxa de estocagem,além da área superficial, leva em con-sideração a produtividade natural dosviveiros, ou seja, a capacidade de pro-duzir quantidades de peixe de acordocom o tratamento utilizado, conside-ra também o tamanho comercial de-sejado para as espécies.

Atualmente, 90% da produção depescado na região Oeste é obtida emsistema de policultivo integrado àsuinocultura, tanto em modelos hori-zontais (baias construídas ao lado doviveiro) como em modelos verticais(baias construídas sobre os viveiros).Neste sentido, utilizam-se 50 a 60suínos/ha associados a uma popula-ção de 2.000 a 4.000 alevinos/ha, ca-

racterizando-se, portanto, umpolicultivo com baixa densidade deestocagem e aporte pequeno de maté-ria orgânica (35kg/ha/dia de matériaseca). Este sistema de cultivo, já im-plantado, é bem aceito pelo piscicul-tor. Contudo, o aumento da produtivi-dade deve ser incremen-tado. O vivei-ro de piscicultura tem condições deconsumir matéria orgânica numa taxade aplicação de 100kg de matéria seca/ha/dia, sendo um fator secundário deconsumo de oxigênio (1).

A produtividade do policultivo in-tegrado a resíduos de animais é dire-tamente proporcional à densidade deestocagem e ao aporte de matériaorgânica. A aplicação de adubo desuínos, reportada na literatura, é dadaem número de suínos/ha, variando de15 a 200 suínos. Essa ampla variação,acredita-se, é devida a diferenças nostamanhos dos suínos, ao tipo de aduboutilizado (fresco ou curtido), à densi-dade de estocagem, etc. (2). Em vivei-ros intensivamente adubados obtêm-se produtividades de 15 a 30kg/ha/diade peixe sem o aporte de alimentosuplementar. Com taxas de estocagemde até 9.300 peixes/ha obteve-se emmédia 0,75kg por peixe, e uma corre-lação linear entre a densidade deestocagem em poli-cultivo e a produ-ção de pescado em viveiros que sóreceberam fertilização (3).

Como a região Oeste é a maiorprodutora de suínos do Estado, con-centrando cerca de dois terços, comuma produção de aproximadamente18.000m3/dia de resíduos, reúne ca-racterísticas para o aumento da pro-dutividade aqüícola, com um manejobaseado em princípios ecológicos. Con-sidera-se ainda a capacidade de cresci-mento do peixe, através da alimenta-ção natural gerada pela fertilizaçãoorgânica.

Embora muitos trabalhos indiquemprodutividades bem maiores do que as

obtidas neste trabalho, muitas são assituações que podem ser adaptadas àregião Oeste.

O aumento da produtividade deveestar aliado à simplificação do manejoe da mão-de-obra do produtor, paraque não haja desestímulo da ativida-de, às exigências do mercado consu-midor e às condições de qualidade deágua para que ocorra um balanço en-tre a produção e o consumo de microor-ganismos, mantendo valores médiosadequados de oxigênio dissolvido.

O presente trabalho tem como ob-jetivo testar um maior aporte de ma-téria orgânica, com a estocagem dealevinos II em relação à produtivida-de, comparado com o sistema atual deprodução.

Como o trabalho foidesenvolvido

Neste trabalho foram utilizadostrês viveiros escavados em solo argi-loso com áreas de 0,06, 0,065 e 0,095ha,respectivamente viveiros 1, 2 e 3,localizados na propriedade do Sr. Fran-cisco Cedoski, Linha Alto da Serra,Chapecó, construídos em seqüência,com alimentação de água individualde um açude reservatório à montan-te. Os viveiros 2 e 3 receberam umavazão de água suficiente para com-pensar perdas por evaporação e infil-tração. O viveiro 1 teve renovação deágua pela existência de vertente nabacia de acumulação. Todos os vivei-ros foram povoados com duas espéci-es de peixes: carpa comum (Cyprinuscarpio), espécie com hábito de fundo,a carpa prateada (Hipophtalmithysmolitrix), espécie filtradora para apro-veitamento da produtividade primá-ria intensa em cultivos integrados àsuinocultura.

Os viveiros foram povoados em 1 o

de junho de 1993 com alevinos decarpa comum. Nestes viveiros já ha-

A

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 49

Suínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixes

via um povoamento de carpas pratea-das, que estavam então em seu se-gundo período de cultivo e com pesoaproximado de 1.000g. Em 26 de no-vembro de 1993 foi feita a despesca doviveiro 2; as despescas nos viveiros 1e 3 ocorreram em 10 de janeiro de1994. Nestas datas fez-se a contageme pesagem dos peixes (Tabela 1).

Com a taxa de estocagem mantida,ou seja, a mesma utilizada pelos pro-dutores da região, objetiva-se, alémdo aumento de produtividade, alcan-çar o tamanho comercial do peixe.

Os viveiros receberam esterco fres-co de suínos como único aporte dematéria orgânica, com as baiasconstruídas sobre os mesmos (modelovertical).

Foi utilizada uma carga orgânicacorrespondente a 133 suínos/ha comum aporte máximo de 80,0kg de sóli-dos totais/ha/dia, nos três viveiros.Esta carga representa 2,22 vezes maissuínos do que a utilizada na região, aqual atinge uma produtividade médiade 5,5kg/ha/dia de pescado. Os suínospermaneciam nas baias por um perí-odo de 90 dias, quando então eramretirados e substituídos por novo lote,obedecendo ao sistema de criação desuínos da região (Tabela 2).

Assim que o lote estava pronto eraretirado, e em seguida colocado ou-tro.

Resultados e discussão

De acordo com os dados apresenta-dos na Tabela 3, pode-se observar quea produtividade líquida média obtidafoi de 13,29kg/ha/dia. Isto significauma produtividade líquida 2,41 vezesmaior que a produtividade média daregião, que é de 5,5kg/ha/dia de peixe.

Provavelmente não só o aumentono aporte de matéria orgânica tenhasido responsável por este incremen-to, mas também o fato de terem sidoutilizados alevinos II, de 160g, naestocagem, e o aproveitamento dacarpa prateada para um segundo perí-odo de cultivo, práticas estas utiliza-das pelos produtores da região.

A carpa comum atingiu uma pro-dutividade 1,74 vezes maior que aobtida na região para esta espécie,que é de 4,0kg/ha/dia. O viveiro 2atingiu a maior produtividade líquidacom 175 dias de cultivo, com as duas

Tabela 1 - Características principais de povoamento de carpa comum e prateada realizadoem 1o de junho de 1993 nos viveiros 1, 2 e 3

Carpa comum Carpa prateada Total

Viveiro 1No de peixes 130 40 170Peso inicial (g) 160 1.000 1.160Quantidade (ha) 2.167 667 2.834Biomassa inicial (kg) 20,80 40,00 60,8Biomassa inicial (kg/ha) 346,66 666,66 1.013,32

Viveiro 2No de peixes 140 40 180Peso inicial (g) 160 1.000 1.160Quantidade (ha) 2.154 615 2.769Biomassa inicial (kg) 22,4 40 62,4Biomassa inicial (kg/ha) 344,61 615,38 959,99

Viveiro 3No de peixes 205 40 245Peso inicial (g) 160 1.000 1.160Quantidade (ha) 2.158 421 2.579Biomassa inicial (kg) 32,8 40,0 72,80Biomassa inicial (kg/ha) 345,26 421,00 766,26

Tabela 2 - Principais dados relativos ao manejo dos lotes de suínos mantidos nas baiassuspensas localizadas acima dos viveiros 1, 2 e 3

Viveiro 1 Viveiro 2 Viveiro 3

Data entrada lote I 06/06/93 20/06/93 20/06/93Data entrada lote II 16/09/93 16/09/93 16/09/93Data entrada lote III 26/12/93 - 28/12/93Peso inicial (kg/suíno) 30 30 30Peso final (kg/suíno) 90 90 90Quantidade de suínos (no) 8 9 12

Tabela 3 - Principais dados de produção de carpa comum e prateada durante a segundaetapa de cultivo, de 1o de junho de 1993 a 26 de novembro de 1993 para o viveiro 2 e até 10

de fevereiro de 1994 para os viveiros 1 e 3

Viveiro 1 Viveiro 2 Viveiro 3

Área (ha) 0,06 0,065 0,095

Carpa comumBiomassa final (kg) 128,5 136,0 307,5Peso Médio (kg) 0,99 0,97 1,5Crescimento (g/dia) 3,3 4,6 5,3Produtividade líquida (kg/ha/dia) 7,18 9,99 11,56

Carpa prateadaBiomassa final (kg) 79,0 99,0 120,0Peso médio (kg) 1,98 2,5 3,0Crescimento (g/dia) 3,9 8,5 8,0Produtividade líquida (kg/ha/dia) 2,6 5,18 3,36

Produtividade líquida total (kg/ha/dia) 9,78 15,17 14,93

espécies atingindo o peso padrão paramercado, reduzindo assim o períodode cultivo, que para a região é de 300dias. Para os viveiros 1 e 3 foram 250dias de cultivo. Notou-se a capacidade

de crescimento da carpa prateada emum segundo período de cultivo, atin-gindo peso bom para o mercado daregião, acima de 2,0kg (Tabela 3).Alguns exemplares atingiram um peso

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Suínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixesSuínos + peixes

de 5,0kg, sendo viável inclusive consi-derá-la como espécie principal em vi-veiros intensivamente adubados (4).

A carpa comum foi a maior respon-sável pela produtividade devido a suamaior taxa de estocagem.

O coeficiente de transformação, kgesterco/kg peixe variou de 20,5 a 29,49,com valores similares aos citados emliteratura, de 27kg de esterco de suí-nos para a obtenção de 1,0kg de peixe(5).

Durante todo o período não houvemortalidade, provavelmente devidoao tamanho de estocagem dosalevinos.

Por falta de condições não foramrealizadas análises físico-químicas daágua, mas não foi detectada nenhumaalteração no comportamento dos pei-xes que pudesse indicar más condi-ções de qualidade de água, principal-mente falta de oxigênio nas primeirashoras da manhã.

Conclusão

Com pequenas modificações no sis-

tema de cultivo há a possibilidade deaumentar a produtividade média daregião como a utilização de alevinos IIna estocagem e com um aporte equi-librado de matéria orgânica.

Os resultados obtidos neste traba-lho estimulam novos estudos quevenham a sugerir modificações noatual sistema de cultivo desenvolvido,garantindo ao produtor produtivida-des maiores que as atuais, trazendobenefícios socioeconômicos para a re-gião.

Agradecimento

Agradecemos ao produtor Sr. Fran-cisco Sedoski pela colaboração e utili-zação de sua propriedade.

Literatura citada

1. WOHLFARTH, G.W.; SCHROEDER, G.L.Use of manure in fish farming - Areview. Agricultural wastes, Essex, v.1,n.4, p.279-299, 1979.

2. BUCK, H.; MALECHA, S.R.; BAUR, R.J.Prawn fish production using different

types and loadings of swine manure.Journal Mariculture Society . v.14,p.531-532, 1983.

3. SCHROEDER, G. Autotrophic andheterotrophic production of microor-ganisms in intensely-manured fishponds, and related fish yields.Aquaculture, Amsterdam, v.14, p.303-325, 1978.

4. WOYNAROVICH, E. Utilization of piggerywastes in fish ponds. In: PULLIN, R.;SHEHADEH, Z. (ed.). Integratedagriculture; aquaculture farmingsystems. Manila: ICLARM-CLSV, 1980.p.125-128.

5. FANG, Y.; GUO, X.; WANG, J.; FANG, X.;LIU, Z. Effects of different animalmanures on fish farming. In: ASIANFISCHIERIES FORUM, 1., 1986,Manila. Manila, Philipinas: AsianFischeries Soc., 1986. p.26-31.

Jorge de Matos Casaca, méd. vet., especi-alista em aqüicultura, CRMV-2 no 0851,EPAGRI, Centro de Pesquisa para PequenasPropriedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SCe Osmar Tomazelli Júnior, oceanógrafo,especialista em aqüicultura, EPAGRI, Cen-tro de Pesquisa para Pequenas Propriedades,C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.

LANÇAMENTOS

EDITORIAIS

co, de autoria de Kurt EmilAggeler. Desde o planejamentoda cerca elétrica até o seu funci-onamento, manutenção e custossão tratados nesta publicação.

Aspectos práticos do manejode dejetos suínos. Livro. 106p.

Trabalho elaborado pelo Cen-tro Nacional de Pesquisa de Suí-nos e Aves/EMBRAPA e pelaEPAGRI, é composto de nove ca-pítulos: legislação ambiental vi-gente, moscas e seu controle inte-grado na suinocultura, manejo daágua - influência no volume dedejetos produzidos, armazenagemde dejetos suínos, aspectos cons-trutivos do armazenamento dedejetos líquidos, utilização dosdejetos suínos como fertilizantes,adubação orgânica, emprego dedejetos de suínos na alimentaçãoanimal e tecnologias para trans-porte e distribuição de dejetos.

Estas e outras publicações da EPAGRI podem ser adquiridas na Sede da Empresa em Florianópolis, ou mediante solicitação ao seguinte endereço: GED/EPAGRI,C.P. 502, Fone (0482) 34-0066, 88034-901 - Florianópolis, SC. Para maiores detalhes solicite também o Catálogo de Publicações da EPAGRI (gratuito).

Face aos pedidos de inúme-ros leitores, a EPAGRI estáreeditando este Boletim Técni-

Todos estes capítulos estão ori-entados pelo Programa deMelhoria Ambiental para as regi-ões produtoras de suínos no Esta-do de Santa Catarina e que prevêuma melhor utilização dos dejetossuínos.

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Os terraços e cordões vege-tais são práticas muito utiliza-das em Santa Catarina com ointuito de conservar os solos eevitar a erosão. Este Boletimensina, de maneira simples, aconstrução de terraços com uti-lização do pé-de--galinha e a for-mação dos cordões vegetais.

Cerca elétrica - manualde construção e manejo.Boletim Técnico no 17. 68p.3a edição.

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 51

Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Controle de podridão branca em porta-enxertosControle de podridão branca em porta-enxertosControle de podridão branca em porta-enxertosControle de podridão branca em porta-enxertosControle de podridão branca em porta-enxertosenraizados de macieiraenraizados de macieiraenraizados de macieiraenraizados de macieiraenraizados de macieira

Onofre Berton e Frederico Denardi

fungo Pellicularia rolfsii (Curzi)West., estado perfeito do

basidiomiceto Sclerotium rolfsii Sacc.é um patógeno polífago que causa amorte rápida da maioria dos seushospedeiros, dentre os quais desta-cam-se: beterraba, batata, feijão, len-tilha, aveia, soja, colza e plantas jo-vens de macieira. A doença na maciei-ra é conhecida como “Southern Blight”em inglês e podridão branca ou podri-dão de Sclerotium em português. Emsoja e colza o fungo causa murcha emorte das plantas adultas, formandoescleródios (formas de resistência) nointerior de suas hastes. Essas estru-turas de resistência podem sobrevi-ver no solo por até oito anos quandoenterradas a certa profundidade (alémda qual poderiam germinar facilmen-te), vindo a germinar e produzir umabasídia quando trazidas para a super-fície por alguma prática cultural comolavração, gradagem, etc. Ao germinarna presença de sementes dessas plan-tas, o fungo causa a morte dasplântulas antes mesmo de emergi-rem e, conseqüentemente, perdas con-sideráveis. Na macieira, o fungo apre-senta especial interesse em viveiros,podendo causar a morte de mudasapós os sintomas de ama-relecimentoe murcha. O ataque de P. rolfsii serestringe ao colo e ao sistemaradicular, onde forma um micéliobranco de aspecto fibroso, juntamen-te com esclerócios (corpos mais oumenos esféricos de 1 a 3mm de diâme-tro de coloração marrom, diferentesdos escleródios). Quando o fungo ata-ca um só lado da planta, as folhasdesse lado, durante o outono, adqui-rem coloração aver-melhada. O fungovai gradualmente circundando a co-roa e as folhas vão secando, ficandocoriáceas, marrons, permanecendopenduradas na planta após a morte

desta. O fungo pode penetrar direta-mente a casca não danificada dasraízes, mas ferimentos no sistemaradicular facilitam a entrada dopatógeno. Sclerotium rolfsii mata ascélulas pela produção de ácido oxálico(1). Mudas de macieira são mais sus-cetíveis ao fungo por produzirem pou-cos compostos fenólicos, os quais re-presentam mecanismos de resistên-cia da planta à entrada de patógenos.No viveiro, onde ocorre morte deplantas, a incidência da doença estádiretamente asso-ciada ao número deesclerócios no solo, junto ao tronco.Esclerócios localizados a mais de 3cmde uma raiz raramente vão produzirinfecções. A incidência tem sido maiorem viveiros onde se faz uso intenso deenxada e sacho (2). A in-cidência mai-or em certos locais e menos em outrosfica condicionada ao tipo de solo, umi-dade do solo, temperatura e culturaanterior (3, 4 e 5). Captafol e sulfato decobre usados isoladamente têm sidorelatados como eficientes no controledo fungo a campo (3). As plantas sãomais suscetíveis entre um e três anos.

A presença de S. rolfsii não estárelacionada a excesso de água (comono caso de Phytophthora spp) nem asolos pesados, mas, ao contrário, ocor-re em solos leves, arenosos, pois ofungo necessita de oxigênio abundan-te para o seu desenvolvimento. Ofator mais importante para a ocorrên-cia da doença é a temperatura do solocuja faixa ótima está entre 20 e 37oC.Com o aumento da temperatura, noverão, os esclerócios presentes nosolo junto ao sistema radicular dasplantas (no viveiro) iniciam sua ger-minação produzindo o micélio queavança para as raízes. Como esseprocesso necessita de algum tempo, operíodo de temperaturas favoráveis,no verão, em geral é insuficiente e por

isso morrem somente as plantas se-veramente atacadas, significando queao redor destas havia muitosesclerócios. Com a redução das tem-peraturas, o fungo entra paulatina-mente em repouso produzindo osesclerócios que permanecem inativosaté que a temperatura suba nova-mente. Em plantas adultas, durante operíodo favorável ao fungo, a doençanão chega a evoluir a ponto de causara morte das mesmas. Por isso asinfecções em plantas adultas não pros-peram e só podem causar uma levealteração no seu desenvolvimento,pois estas se recuperam enquanto ofungo permanece inativo. Matrizeirosinfectados por S. rolfsii têm sido en-contrados em Caçador, SC, Fraiburgo,SC e Palmas, PR, nos quais podia-seobservar a morte de mudas. Umaparcela muito significativa da produ-ção poderia ter sido salva se osviveiristas conhecessem melhor oproblema e sua solução. Nos locaisencontrados, os produtores condena-ram as áreas com perda total dasmudas e grande pre-juízo.

O presente trabalho foi realizadocom o objetivo de controlar o fungo S.rolfsii em porta-enxertos enraizadosde macieira.

Material e métodos

Um total de 420 mudas da cultivarGala, enxertadas sobre MM-106, fo-ram selecionadas em matrizeiro infec-tado por S. rolfsii, no qual havia plan-tas mortas pela doença. As mudasforam divididas em dois grupos: grupo1, com sintomas visíveis de dano nosistema radicular (com três ou maispontos necróticos visíveis) e grupo 2,sem sintomas visíveis de dano nosistema radicular. As mudas forampadronizadas por tamanho e cada gru-

O

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

po foi dividido em dois subgrupos A eB mostrado a seguir:

Grupo 1• Com sintomas nas raízesa) Com lavagem do sistema radi-

cularb) Sem lavagem do sistema

radicularGrupo 2• Sem sintomas nas raízesa) Com lavagem do sistema radi-

cularb) Sem lavagem do sistema

radicularA lavagem do sistema radicular foi

feita em água corrente, retirando-se osolo e o micélio superficial das raízes.

A seguir, as plantas de cada grupoforam novamente divididas para rece-berem tratamento com produtos quí-micos por imersão do sistemaradicular, antes de serem levadas aocampo em área livre do patógeno.Todas as plantas, com exceção dastestemunhas, receberam tratamentopor imersão com algum dos produtosquímicos. Os tratamentos, produtosquímicos e dosagens constam na Ta-bela 1.

Após receberem os tratamentos,as plantas foram levadas ao campo eplantadas no espaçamento de 1,20mentre filas e 0,25m entre plantas,dispostas em blocos ao acaso comquatro repetições e cinco plantas porrepetição. Foram formadas quatro fi-las de 26,5m de comprimento, com-preendendo uma área experimentalde 127,2m2.

As plantas permaneceram a cam-po por três anos, ao fim dos quaisforam arrancadas e seu sistemaradicular foi analisado.

Resultados e discussão

Em nenhum dos tratamentos com

Tabela 1 - Tratamentos, produtos químicos, formulação, ingredientes ativos e dosagensutilizadas para o controle de S. rolfsii em mudas de macieira

Tratamento e Tipo de Ingrediente Concentração Dosagem do p.c.marca comercial formulação ativo(A) g ou ml/litro por 100 litros

1 - Busan CE TCMTB 300 400ml2 - Plantvax PM Oxicarboxin 750 200g3 - Q-Boa CE Hipoclorito de 2,5% de cloro 30.000ml

sódio ativo4 - Brassicol PM PCNB 750 400g5 - Rodhiauran PM TMTD 700 500g6 - Testemunha - - - -

(A)Estes produtos não estão ainda registrados para a cultura da macieira.

produtos químicos ocorreu morte deplantas ou manifestação de sintomasvisíveis de murcha ou necrose naparte aérea (Figura 1).

As plantas testemunhas apresen-taram micélio do fungo no sistemaradicular, recobrindo a maioria dasraízes e, embora apresentassem pou-cos pontos necróticos após três anosno campo, é provável que as lesõescontinuassem aumentando, possibili-tando morte de plantas com o passardo tempo. As chances de isto ocorrersão em geral bem maiores até o ter-ceiro ano, diminuindo consideravel-mente os casos de plantas adultasserem mortas pelo fungo. Se isto ocor-rer, pode-se presumir que as mudassaíram do viveiro contaminadas. To-das as plantas que receberam trata-mento com qualquer dos produtosquímicos testados apresentaram o sis-tema radicular em condições normais,bem desenvolvido (Figura 2).

Nas condições de Santa Catarina,com verão relativamente curto e in-verno rigoroso, o fungo não tem boascondições de se desenvolver no po-mar. Entretanto, desenvolvimentomais rápido do fungo, com possibilida-

des de vir a causar danos em plantasmais fracas, pode acontecer se o po-mar for instalado em solo leve.

Deve-se ressaltar que o viveiroque apresentar ataque de S. rolfsiiprecisa ser vistoriado por técnico com-petente, certificando-se de que não háocorrência de outros patógenos cau-sadores de podridões de raízes, caso aintenção seja o aproveitamento departe da produção. Se até o terceiroano de pomar as plantas não apresen-tarem S. rolfsii no sistema radicular,será muito pouco provável que, nasnossas condições, o fungo possa ata-car plantas adultas causando a suamorte.

Conclusão

Mesmo provenientes de matrizei-ros e/ou viveiros infectados por S.rolfsii, mudas de macieira que apre-sentem boa qualidade para formarum pomar podem ser selecionadas eusadas normalmente, após recebe-rem tratamento químico com produtoeficiente, de acordo com orientaçãotécnica. Seguindo este procedimento,o produtor que eventualmente tenha

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Maciei raMaciei raMaciei raMaciei raMaciei ra

Figura 1 - Mudas sadias após três anos de tratamento

esse problema em seu viveiro, poderáprocurar auxílio de um engenheiroagrônomo especializado para orienta-ção sobre inspe-ção e se possível tra-tamento das mudas. Fazendo o trata-mento com critério, um viveirista daregião do Vale do Rio do Peixe poderáfazer o aproveitamento de parte signi-ficativa da sua produção.

Literatura citada

1. LAVEE, S.; SAMISH, R.M. Resistance ofapple rootstocks to Sclerotium rolfsii(Sacc) Ktavi. Quarterly Journal ofAgriculture Research Station , BetDagan, v.10, n.1, p.5-13, 1960.

2. BROWN, E.A.; HENDRIX, F.F. Distributionand control of Sclerotium rolfsii onapple. Plant Disease, Beltsville, v.64,p.205-206, 1980.

3. COOLEY, J.S. Sclerotium rolfsii as a disease

of nursery apple trees. Phytopathology,St. Paul, v.26, p.1081-1083, 1936.

4. SHAY, J.R. Southern blight on applenursery stock in Indiana. Plant DiseaseReporter, Beltsville, v.37, n.2, p.121,1953.

5. TOMASINO, S.F.; CONWAY, K.E. Spatialpattern, inoculum density-diseaseincidence relantionship, and populationdynamics of Sclerotium rolfsii on applerootstock. Plant Disease, Beltsville, v.71,p.719-723, 1987.

Onofre Berton , eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.no 26.027, CREA-SC, EPAGRI, Estação Expe-rimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496)62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330,89500-000, Caçador, SC e FredericoDenardi, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no

3.182-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Expe-rimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496)62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330,89500-000, Caçador, SC.

Figura 2 - Raízes de mudas sadias após três anos de tratamento

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54 Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Crotalária vem se destacando como ótimo adubo verde no Sul de Santa Catarina

Vem crescendo, no Suldo Brasil, a utilizaçãopelos agricultores da

adubação verde, que sãoplantas melhoradoras

das propriedadesquímicas, físicas e

biológicas dos solos, como mínimo de custos

adicionais. E, de quebra,os produtores rurais

aumentam aprodutividade de suas

lavouras, economizandodinheiro.

Plano Real trouxe a estabilizaçãodos preços dos alimentos para o

consumidor, porém o agricultor inega-velmente tem pago esta conta, já queos preços recebidos pelos seus produ-tos, com poucas exceções, mal e malcobrem os custos de produção. Enquan-to a maioria dos insumos-sementes,adubos, combustíveis, agrotóxicos, etc.- tiveram aumentos significativos, aprodução agrícola - milho, feijão, leite,carne de frango, suínos, bovinos, bata-ta e outros - manteve seus preços iguaisou até menores que há um ano atrás,conforme mostram as estatísticas dosinstitutos oficiais. Então, para tirar oagricultor desse aperto, ou o governoconcede mais recursos à agricultura,sem o arrocho dos juros altos, ou agalinha dos ovos de ouro do Plano Real

pode morrer. Uma outra saída é bus-car a redução dos custos de produção,utilizando menos insumos industriaise aproveitando técnicas mais econô-micas, que não agridem o meio ambi-ente e são mais sustentáveis.

Uma dessas técnicas, a qual vemsendo muito preconizada pelo Progra-ma de Microbacias, é a utilização deadubos verdes, que são plantas quemelhoram a qualidade dos solos, re-pondo e aumentando a sua fertilidade.Outra vantagem da adubação verde éa sua utilização no inverno ou entres-safra, período em que o solo fica empousio, não é trabalhado pelo agricul-tor. Assim, com o adubo verde, o solofica coberto o ano todo, evitando-se aerosão.

Mas não ficam por aí as boas carac-

terísticas dos adubos verdes. Estasplantas possibilitam a reciclagem denutrientes no solo e a captação denitrogênio diretamente do ar atravésde bactérias chamadas de rizóbios (nocaso das plantas leguminosas) que sefixam nas raízes dessas plantas. For-necem, também, matéria orgânica queincrementa a atividade microbiana emaior retenção de umidade no solo.Além disto, os adubos verdes contri-buem para diminuição da infestaçãode ervas daninhas pelo efeito de som-breamento e/ou alelopático, ou seja,substâncias expelidas pelas raízes daplanta que repelem outros vegetais.

Solo arenoso, ventos fortes

No Litoral Sul de Santa Catarina,

Adubos verdes melhoram o solo e poupam dinheiropara o agricultor

Paulo Sergio Tagliari

O

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 55

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

a Estação Experimental de Urussangavem há vários anos pesquisando osmelhores adubos verdes para a re-gião, adaptados às diversas condiçõesde solo e clima ocorrentes (Tabelas 1e 2). A reportagem da revistaAgropecuária Catarinense, a convitedo Escritório Municipal da EPAGRIde Araranguá representado pelo téc-nico Cergio Tibola e a extensionistaMarley W. Alborghetti, foi visitar umapropriedade agrícola neste municípioque já está adotando a adubação verdecom muito bom resultado, conformemostrado a seguir.

Localizada às margens da BR 101,o que chama logo a atenção nesta pro-priedade é a característica do sololocal, ou seja, bastante arenoso, o quese explica pela sua proximidade aomar. Aliás, é difícil imaginar, à pri-meira vista, que alguma coisa possaser produzida nesta areia, constante-mente assolada por fortes ventos. Noentanto, observando-se com maisatenção, verifica-se que, com algumcuidado, algumas culturas têm se adap-tado a este solo, com destaque para ofumo, que chega até produzir um tipode tabaco de alta qualidade. A mandi-oca é outra cultura bastante típicadesta zona, dada a sua rusticidade epouca exigência em nutrientes, e tam-bém feijão e milho são cultivados, efrutas, como o maracujá, estão des-

Tabela 1 - Sementes de adubos verdes de inverno produzidas através da EstaçãoExperimental de Campos Novos/EPAGRI

Densidade de Produção de Produção deEspécie semeadura(A) matéria seca semente

(kg/ha) (t/ha) (kg/ha)

Aveia preta 60 a 80 4 a 5 gramínea 1.200 120Espérgula (Gorga) 6 a 10 2 a 3 cariofilácea 400 80Ervilhaca 40 a 60 3 a 4 leguminosa 600 120Ervilha forrageira 80 a 100 3 a 4 leguminosa 1.000 100Xinxo 80 a 100 3 a 5 leguminosa 800 100

(A) Efetuar a semeadura de março a maio. Para produção de sementes aconselha-se a semeadura em linhas, demaio a julho para todas as espécies, utilizando-se a menor densidade.

(B) Inocular as sementes das leguminosas antes da semeadura.

Família Floraçãobotânica(B) (dias)

Tabela 2 - Sementes de adubos verdes de verão produzidas através da Estação Experimentalde Urussanga/EPAGRI

Densidade de Produção de Produção deEspécie semeadura(A) matéria seca semente

(kg/ha) (t/ha) (kg/ha)

Crotalaria mucronata 10 a 15 12 a 13 leguminosa 400 150Crotalaria spectabilis 20 a 25 11 a 12 leguminosa 500 85Mucuna cinza 50 a 60 8 a 10 leguminosa 1.000 130Mucuna preta 50 a 60 8 a 10 leguminosa 1.000 130Mucuna rajada 40 a 50 8 a 10 leguminosa 1.000 125Mucuna anã 40 a 50 4 a 5 leguminosa 1.200 76Feijão de porco 80 a 100 5 a 6 leguminosa 1.500 80Guandu EMPASC 303 8 a 10 8 a 9 leguminosa 500 160

Família Floraçãobotânica(B) (dias)

(A) Para produção de sementes aconselha-se a semeadura em linhas, de outubro a dezembro para todas asespécies.

(B) Inocular as sementes das leguminosas antes da semeadura.

Palhada da crotalária protege o solo arenoso da erosão e aduba a terra

pontando.O Sr. Olávio José Costa é proprie-

tário e divide as tarefas com seus trêsfilhos: Odilon, Homero e Nazareno. Aárea própria é de 40ha e tem mais 40arrendados, onde cultivam fumo

(15ha), mandioca (15ha), moranga(7ha) e este ano vão plantar 2ha demilho verde. Antes do fumo ou damandioca eles plantam o adubo verdecrotalária em cerca de 20ha no total emais 13ha com a espérgula, tambémconhecida por gorga, em outra área. Eantes de incorporarem o adubo verdeao solo, eles colhem a semente paracomercializar uma parte e a outrapara semear a próxima colheita.

Massa verde, raízesprofundas

“Já no primeiro ano de plantio doadubo verde sentimos a diferença devigor, tanto na cultura do fumo, comona da mandioca, que apresentaram asfolhas de um verde mais forte que onormal e as plantas mais viçosas”,comentou Odilon Costa referindo-seao efeito imediato do adubo verde, nocaso a crotalária, sobre as culturassucessoras. O extensionista daEPAGRI Cergio Tibola explicou que oagricultor semeou a crotalária, espé-cie da família das leguminosas (a mes-

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Já a gorga, que é adubo verde deinverno, foi semeada ao final de maioe colhida no final de setembro. Acrotalária produz uma massa verdena base de 45t/ha, enquanto que agorga ou espérgula dá um volume de25 a 30t. “Para nós não tem tratomelhor para o gado que a gorga”, falaentusiasmado o agricultor Odilon, queengorda o gado da família Costa empleno inverno e nas areias do Litoral,agora melhorada pela presença dosadubos verdes. Até a moranga, que écomprada no local por um comercian-

te da serra gaúcha, entrou noesquema da família Costa. A terraonde ela é cultivada também recebeua crotalária, e a produção da olerícolaaumentou sensivelmente.

O técnico Cergio Tibola esclarece,ainda, que os adubos verdes, em ge-ral, possuem raízes mais profundasque as culturas normalmente cultiva-das e que, por isso, conseguem buscarnutrientes que são lixiviados da su-perfície para o solo mais profundo, e,com isso, economizando adubo e pou-pando dinheiro para o agricultor.

ma do feijão e da soja), no final dedezembro para colher no início desetembro, e sobre a palhada plantou,em cultivo mínimo, as mudas de fumo.A família Costa fez uso de um macetepara impedir que a crotalária se de-senvolva muito e fique alta demais,dificultando o seu manejo e colheita.Em vez de semear no mês recomenda-do, que é outubro, eles largam a se-mente só em dezembro, o que fazatrasar o crescimento da leguminosa.

Os irmãos Odilon e Homero infor-maram que adubaram o fumo confor-me orientação da empresa fuma-geira, mas já estão pressentindo que oefeito da adubação verde, ao longo dosanos, poderá substituir, pelo menosparcialmente, a adubação química dotabaco.

A FamíliaCosta, além demelhorar osolo com oadubo verde,também colhea semente paracomercializaçãoAgricultores e

técnicos satisfeitos com o desempenho da espérgula

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Estimulante doEstimulante doEstimulante doEstimulante doEstimulante dosistemasistemasistemasistemasistema

imunológicoimunológicoimunológicoimunológicoimunológicoA Bayer está lançando no

Brasil o Baypamun R , produtoveterinário estimulante do sis-tema imunológico de cavalos,cães e gatos. Obtido por meio decultura celular, ele apresentaum novo conceito entre os me-dicamentos disponíveis para usoveterinário.

O organismo dos mamíferosapresenta um mecanismo ines-pecífico de defesa, que coloca emação o combate aos invasores. Éeste sistema que deve ser esti-mulado com Baypamun R, pro-cesso denominado “paraimuni-zação”.

A rápida ativação do sistemaeleva a capacidade de defesa doorganismo, independente doagressor e dos fatores ambien-tais. Este imunoestimulantepode ser aplicado no animalmesmo que o agente causadorda enfermidade não tenha sidoidentificado.

A paraimunização, associa-da à vacinação, confere prote-ção contra infecções até que aimunidade específica estejaestabelecida, além de potencia-lizar a sua resposta.

De modo geral, Baypamun Ré indicado em situações deestresse, nos casos de hospitali-zação, nas doenças de origemdesconhecida, como comple-mento do programa de vacina-ção, como suporte na geriatria epré-operatório e no tratamentode qualquer patologia dos ani-mais. Além disso, também ofe-rece proteção a animais sadiosquando expostos a um alto riscode infecção, limitando sua disse-minação.

O uso em cavalos inibe oaumento do cortisol gerado peloestresse decorrente de tornei-os, corridas, transporte, etc. evi-tando a imunossupressão. A uti-lização do medicamento em po-tros recém-nascidos ou desma-mados diminui, consideravel-mente, a incidência de infec-ções. Em gatos, sua aplicaçãoreduz as manifestações de do-enças e permite o desenvolvi-mento normal dos filhotes. Cães,animais com tonsilite, laringitee doenças do trato respiratório,quando tratados com o medica-mento, apresentam nítida dimi-nuição dos sintomas, até mesmoa cura completa. O produto tam-bém age na contenção de tumo-res e proporciona melhora doestado geral de pacientes gené-ticos.

Por se tratar de um produtotécnico, cujo entendimento do me-canismo de ação e uso depende domédico veterinário, sua distribui-ção é voltada para clínicas, hospi-tais, profissionais autônomos e“pet shops” que contam com a su-pervisão direta deste profissional.

Fonte: Assessoria de Comu-nicação Social da Bayer, Fone (011)525-5031/5030/5029.

GenéticaGenéticaGenéticaGenéticaGenéticasuinícolasuinícolasuinícolasuinícolasuinícola

Formada uma nova Joint--venture para o setor rural bra-sileiro. Trata-se da parceria en-tre a empresa britânica JSRHealthbroad e a Donald Foster,que deram origem a JSR Genéti-ca Suinícola Ltda, com sede emPorto Alegre, Fone (051) 225-6644. A JSR Healthbroad é lídermundial em trabalhos com gené-tica de suínos. Para dar suporte aoinício de suas atividades, a empre-sa trouxe da Inglaterra 500 matri-zes de bisavós. O evento ocorreudurante a última Expointer.

Arame paraArame paraArame paraArame paraArame parafruticulturafruticulturafruticulturafruticulturafruticultura

Belgo-Parreiral e Frutifio sãoos dois novos arames lançadospela Companhia Siderúrgica BelgoMineira para utilização na fruti-cultura. Desenvolvidos com açode alta resistência e comgalvanização pesada, o que ga-rante maior durabilidade, os pro-dutos atendem a uma importantefaixa de mercado.

O Belgo-Parreiral é apresen-tado em embalagens de 250 e500m, com bitola de 4mm, sendorecomendado para uso em lata-das de videiras e quivizeiros, paraamarração transversal deespaldadeiras em lira de videirase para rabichos de latadas e espal-dadeiras de videiras, quivizeiros emaracujazeiros. Por sua vez, oFrutifio, comercializado em em-balagens de 500 a 1.000m e bitolade 2,10mm, pode ser utilizado emmalha e fios simples de videiras equivizeiros e como fios deespaldadeiras de videiras e maci-eiras.

Junto com estes produtos, aBelgo Mineira oferece aos fruti-cultores o cordaço, o Belgo 22-800e o Sistema Gripple para emendase arremates.

Para maiores informações, oleitor da Agropecuária Catarinen-se pode entrar em contato com aBelgo Mineira pelos telefones(031) 219-1391 ou 219-1353.

Óleo do futuroÓleo do futuroÓleo do futuroÓleo do futuroÓleo do futuroA palma é a solução do futuro

para a indústria alimentícia, cadavez mais preocupada em diminuira química na fabricação dos seusprodutos. Segundo as empresasCRAI e Agropalma, maiores pro-dutoras do país, existe uma fortedemanda reprimida no Brasil, queas 90 mil toneladas a serem gera-das neste ano não conseguirãoatender. De acordo com estudosmundiais, a palma, ou dendê, comoé popularmente conhecida, levavantagem sobre as demais maté-rias-primas do gênero por dispen-sar a hidrogenação.

A hidrogenação é um proces-so que torna os óleos vegetaismais plásticos, ou seja, os trans-forma em estado sólido a fim de

NOVIDADES DE

MERCADO

serem utilizados na fabricaçãode vários produtos alimentícios.O problema desse sistema é areação química empregada, queacaba gerando elementos nega-tivos para o metabolismo huma-no. Há controvérsias, no meiocientífico, sobre a intensidadedos efeitos, mas os problemasmais apontados são arterioscle-rose, entupimento das veias ealguns tipos de câncer.

No caso da palma, esse pro-blema não existe, pois ela nãoprecisa passar pelahidrogenação, salvo raras exce-ções. O óleo gerado pelo fruto éfracionado (parte líquida sepa-rada da sólida) através deesfriamento. É um processo se-guro, isento de química e base-ado nas características naturaisdo produto.

e edemas pós-operatórios.No caso de bovinos, Tomanol

é recomendado pelos veteriná-rios, principalmente porque podeser utilizado em animais pre-nhes e pelo fato de não interferirna produção de leite. O produtooferece ainda a recuperação pós-parto, alivia dores pós-cirúrgi-cas e ajuda a controlar asmanquerias em geral e aspedodermites, além de agilizar acura das mamites agudas.

Em suínos, o produto desti-na-se ao tratamento da mastite,metrite e agalaxia (MMA) e,comprovadamente, reduz asperdas nos distúrbios de loco-moção, podendo também serutilizado em animais prenhes.

Quem tiver mais interesseem conhecer o produto, é sóligar para o telefone (011) 800-5982 e falar com Márcia Ferreira.A ligação é gratuita.

AntiinflamatórioAntiinflamatórioAntiinflamatórioAntiinflamatórioAntiinflamatórioO Laboratório Boehringer De

Angeli, Divisão Veterinária, estálançando, no mercado brasileiro,o produto Tomanol, um antiin-flamatório, analgésico e antitér-mico.

Trata-se de um produto queapresenta resultados superioresaos demais antiinflamatórios,pois, possui em sua composiçãoduas potentes substâncias: afenilbutazona e a isopirina. Estaúltima, além de prolongar a açãoda fenilbutazona, atenua algunsefeitos colaterais que podem ocor-rer quando a fenilbutazona é uti-lizada isoladamente.

Em eqüinos, Tomanol é indi-cado para os freqüentes proble-mas do aparelho locomotor decavalos de corridas, hípicas e deenduro. É indicado também parainflamações, dores e febres, co-muns em cavalos de trabalho, bemcomo para cólicas, traumatismos

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Sistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produção

Unidade de Produção de Leite da Estação Experi-Unidade de Produção de Leite da Estação Experi-Unidade de Produção de Leite da Estação Experi-Unidade de Produção de Leite da Estação Experi-Unidade de Produção de Leite da Estação Experi-mental de Itajaí - catorze anos de atividademental de Itajaí - catorze anos de atividademental de Itajaí - catorze anos de atividademental de Itajaí - catorze anos de atividademental de Itajaí - catorze anos de atividade

Amaro Hillesheim, João Lari Felix Cordeiroe Irceu Agostini

ma Unidade de Produção de Lei-te-UPL foi implantada junto à

Estação Experimental de Itajaí-EEIem 1979/80, com base em algumascaracterísticas dos produtores da re-gião do Vale do Itajaí e Litoral NorteCatarinense. Em função dessas carac-terísticas, a área da unidade era de12ha, com um rebanho inicial de dozevacas e com a mão-de-obra a cargo deum casal de produtores.

Um dos objetivos desta unidadeera testar tecnologias que são reco-mendadas aos produtores a fim deavaliá-las quanto à capacidade de con-tribuir para evolução da produtivida-de da atividade leiteira da região.

Tecnologia usada

Os catorze anos de atividade po-dem ser divididos em quatro períodoscaracterísticos, sendo o período 1,1981-84; período 2, 1985-87; período 3,1988-91; e período 4, 1992-94. A tecno-logia de cada período é sintetizada aseguir:

Período 1 - (1981-84): No iníciotodos os animais foram adquiridos naregião do Vale do Itajaí, e eram namaioria mestiços da raça Holandesa.Passou-se a fazer descarte por produ-ção, além de usar inseminação artifi-cial com touros melhoradores. O re-banho era dividido em um grupo deanimais jovens, fêmeas até seis me-ses de idade, e um grupo de animaisadultos, com as demais categorias queeram manejados em conjunto. As cri-as eram separadas das vacas ao nasce-rem e aleitadas no balde durante 60dias com 3 ou 4 litros de leite por dia.Recebiam concentrado até atingiremum consumo máximo de 2kg/dia, oque era mantido até seis meses. Nogrupo de adultos, os animais em cres-cimento não rece-biam concentrados,

bem como as vacas secas e as emlactação com produção in-ferior a 8litros/dia. A ração concentrada erafornecida exclusivamente às va-cascom produções superiores a 8 litros/dia na proporção de 1kg de concentra-do para 3kg de leite, considerandoapenas a produção superior a 8kg deleite.

A alimentação era baseada em pas-tagens utilizadas sob pastejo. As pas-tagens eram de capim-elefante(Pennisetum purpureum , Schum.),setária (Setaria sphacelata, Moos.) ca-pim-branco (Brachiaria mutica, Stapf.)e azevém (Lolium multiflorum, Lam.).Na época de inverno fazia-sesuplementação com cana-de-açúcar(Saccharum officinarum) ou rolão demilho (Zea mays).

A pastagem era adubada com fósfo-ro, potássio e metade do nitrogênio noinício da primavera e o restante donitrogênio no final do verão.

Foi adotado um calendário sanitá-rio que contemplava as vacinas deaftosa, carbúnculo sintomático, raiva,pneumoenterite; teste semestral debrucelose e anual de tuberculose; con-trole de endo e ectoparasitas, controlede mamite com ordenha higiênica,teste diário com caneca de fundo pretoe CMT quinzenalmente, e tratamentode umbigo de recém-nascidos.

Período 2 - (1985-87): No início de1985 descartaram-se vacas Holande-sas e se introduziram oito vacas Jersey,ficando o rebanho com aproximada-mente 50% de cada raça. Utilizaram-se capineiras em larga escala, preva-lecendo desta forma a alimentaçãovolumosa nos estábulos. Os volumo-sos mais usados foram capim-elefan-te, cana e guandu (Cajanus cajan ). Aspastagens de inverno, o arraçoamento,a divisão do rebanho e o esquemasanitário continuaram nos moldes do

período 1.Período 3 - (1988-91): Este período

caracterizou-se como uma fase de tran-sição para atingir um sistema intensi-vo de produção. Desta forma, foigradativamente desativado o uso dacana-de-açúcar picada como suplemen-to de abril a outubro, e passou-se autilizar silagem de sorgo em largaescala. Com isso abandonou-se a pas-tagem de inverno por deficiência deárea. Voltou-se com ênfase ao pastejodireto do capim-elefante, que teve suaárea ampliada. Pretendia-se utilizarum arraçoamento na proporção de 1:3(kg concentrado/kg de leite) sobre todaprodução. Além das vacas em lactação,todos animais em crescimento tam-bém deveriam receber 2kg de raçãoao dia. Porém, este critério raramen-te foi cumprido, especialmente paraas categorias em crescimento. A cria-ção de bezerras e o calendárioprofiláctico permaneceram inalte-rados. Em 1990/91 foram descartadas16 matrizes com leucose. O rebanhode animais adultos, em 1990, foi divi-dido em grupo de vacas em lactação egrupo de vacas secas+novilhas. Naspastagens foi introduzido o esquemade pastejo com dois lotes de animais,onde as vacas lactantes faziam opastejo de ponta e as vacassecas+novilhas o pastejo de repasse.As pastagens receberam adubaçãonitrogenada de 200 a 400kg de N/ha e150 a 300kg de K/ha, parcelada emcinco a oito aplicações durante o ano.

Período 4 - (1992-94): Neste perío-do se teve consolidada a tecnologiaintroduzida no período anterior, como critério de arraçoamento cumpridocom bastante regularidade. Porém,ainda se dispunha de um rebanhoincompleto para a capacidade de su-porte da unidade de produção de leite.Este rebanho ainda poderia ser apro-

U

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Agrop. catarinense, v.8, n.4, dez. 1995 59

Sistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produção

ximadamente 50% maior.

Resultado e discussão

A evolução técnica registrada naUnidade de Produção de Leite nestescatorze anos de atividade consta naTabela 1.

Em primeiro lugar deve-se obser-var a evolução da produção bruta deleite que registrou um incremento de180% no período. Observa-se que esteaumento foi quase constante. A se-qüência de aumento constante foiquebrado apenas em 1990/91/92, quan-do houve uma drástica redução nonúmero de vacas devido a descartesde 16 matrizes por apresentar reaçãopositiva ao teste de leucose enzoóticabovina.

A área produtiva foi praticamenteconstante, girando em torno de 9ha.

Quanto ao rebanho, observa-se umnúmero relativamente elevado de fê-meas com menos de um ano e tam-bém de um a dois anos. Isto se deve ao

fato de todas fêmeas serem criadaspara possibilitar uma forte pressão deseleção. Em geral, a categoria de “fê-mea > dois anos” foi reduzida, poisconseguiu--se baixar a idade ao pri-meiro parto logo no início (1983),embora houvesse uma eventual irre-gularidade em 94. Já a proporção dasvacas em lactação, em relação ao totalde vacas, esteve abaixo do desejadoem 1983 e 1985, estando em propor-ções ideais (83%) nos anos restantes.

A proporção de vacas no rebanho(% de cabeças) esteve em torno de 50a 55%, embora em duas oportunida-des baixasse a 43%. Considera-se queo ideal de um rebanho estabilizadoseja próximo a 60%.

Quanto aos eventos deve-se obser-var que também se registrou a ocor-rência de abortos e mortes, e isto emnúmero até maior que o esperado.Porém, ambos os casos foram úteispois auxiliaram a evidenciar falhas demanejo, problemas sanitários e atédoenças pouco comuns.

Observa-se que a proporção “co-berturas: partos” está dentro dos pa-drões de 2,2 a 2,5 : 1.

Quanto à idade ao primeiro parto,no início os valores foram elevadosporque os animais eram comprados,vindos de sistemas de criação maisdefi-cientes, além do estresse da mu-dança. A partir de 1983 os valores sesituaram em torno de 960 dias (32meses) até 1986. Nova redução deidade ao primeiro parto se registrouentre 1987 e 1990, atingindo níveismelhores (27 a 28 meses). Porém,verificou-se novamente um aumentonos anos seguintes, especialmente em1994, com o ingresso de animais com-prados. Parte dessa redução deve seratribuída ao ingresso do gado Jersey,normalmente mais precoce. De qual-quer forma, estes valores deveriamse reduzir com adoção de sistemas decriação mais apurados para que asnovilhas atinjam a fase reprodutivaao redor de 16 a 18 meses e com pesoscorretos para serem cobertas.

Tabela 1 - Resultados e índices obtidos na Unidade Demonstrativa de Produção de Leite no período de 1981-93, segundo o ano civil

Período

I II III IVItens

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Leite:produção bruta (litro/ano) 27.852 30.363 32.507 33.123 27.815 33.247 35.995 49.113 61.123 48.243 36.836 43.683 67.207 78983

Área produtiva (ha) 7,80 8,25 8,15 8,50 8,70 8,70 8,70 9,65 9,00 9,00 9,00 9,00 9,50 9,50

Rebanho:Fêmeas < 1 ano 6,6 3,5 7,7 4,6 6,7 7,1 7,3 3,4 6,7 5,9 6,1 7,1 6,8 8,5Fêmeas 1 a 2 anos 1,2 6,2 2,3 6,8 3,4 1,5 2,7 5,9 3,2 4,0 5,7 5,9 6,5 6,7Fêmeas > 2 anos 5,0 2,8 3,7 1,3 3,4 1,3 0,4 1,1 3,8 2,2 1,4 3,0 2,5 5,6Vacas lactantes 10,0 10,5 10,7 11,6 9,3 10,1 10,7 12,9 16,4 11,5 8,9 10,2 14,1 16,2Vacas - total 12,5 12,7 14,5 14,4 12,7 12,4 13,3 15,4 19,7 14,0 10,4 12,1 16,4 18,6Total de cabeças 25,3 25,2 28,2 27,1 26,2 22,3 23,7 25,8 33,4 26,1 23,6 28,1 32,2 39,4Total de UA 18,5 18,8 20,4 19,9 18,6 15,9 16,8 20,0 25,8 19,1 15,8 19,1 23,2 28,3

Eventos:Coberturas - unidade 34 28 25 26 34 22 29 32 44 26 31 27 37 54Abortos - unidade 0 0 0 1 1 1 0 4 4 2 1 0 3 0Partos - unidade 9 15 18 13 15 14 14 18 17 16 11 17 18 21Mortes de fêmeas - unidade 0 2 3 0 0 1 2 0 3 1 0 0 2 2Descarte de fêmeas - unidade 2 5 4 2 31 7 4 0 4 17 4 2 1 2

Idade ao 1 o parto (dias) 1.126 1.224 964 961 927 973 845 827 856 849 926 877 923 1.107

Pesos:Jersey vacas (kg) - - - - 275 317 318 326 322 329 332 333 338 359Holandesa vacas (kg) 395 404 403 410 411 399 430 442 453 455 468 482 485 500

Taxa natalidade matrizes (%) 51 97 99 83 93 102 102 109 72 99 93 113 95 87Carga animal - UA/ha 2,4 2,3 2,5 2,3 2,1 1,8 1,9 2,1 2,9 2,1 1,8 2,1 2,4 3,0

Produção/vaca/ano (kg) 2.228 2.391 2.311 2.300 2.190 2.681 2.706 3.189 3.103 3.446 3.542 3.610 4.098 4.246Produção/ha/ano (kg) 3.571 3.680 4.111 3.897 3.194 3.821 4.137 5.089 6.791 5.360 4.093 4.854 7.074 8.314

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Sistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produção

A evolução dos pesos médios dasvacas reflete a gradativa melhorianutricional do rebanho. Os pesosmédios iniciais (1981 - Holandesa e1985 - Jersey) traduzem os pesosmédios destes animais nos seus esta-belecimentos de origem. No caso dasvacas Jersey, o maior incremento depeso deu-se logo no início, ao passoque para as vacas Holandesas essespesos evoluíram especialmente a par-tir de 1987. Porém, o padrão da raçaHolandesa no início da vida útil (doise três anos) é de 500kg e quandoadulta (60 meses), 670kg. O padrãopara a vaca Jersey adulta é de 350 a400kg.

A taxa de natalidade das matrizes,que engloba as vacas e novilhas “>dois anos”, manteve-se dentro do ide-al com as oscilações típicas de peque-nos rebanhos, com duas exceções (1981e 1989).

As maiores cargas animais foramatingidas em 1983, 1989 e 1993. Até1987 se conduziu a unidade de talforma que a maior quantidade de ali-mentos era suprida pelas pastagens(volumosos), com reduzida alimenta-

ção concentrada. De 1988 a 1992 osconcentrados deveriam ter participa-do da dieta em grandes proporções,porém isto também não ocorreu por-que os escassos recursos da empresanão permitiram a compra de concen-trados em quantidade suficiente oucom a devida regularidade. Desta for-ma, a carga animal registrada até1991 foi alta, porém em 1992-94 estevalor deveria ter sido maior; contudo,houve falta de animais, pois consta-tou-se expressiva sobra de pastos.

Entre todos os índices, os maisimportantes são os que descrevem aprodutividade em relação à produçãode leite. Para a maioria dos técnicos,a produção por vaca/ano e para outrosa produção por ha/ano são os índicesque melhor descrevem a eficiênciaprodutiva de uma unidade de produ-ção de leite.

Em ambos os índices observa-seuma evolução expressiva e consisten-te durante catorze anos, registrandoum incremento de 91 e 133% respec-tivamente para produção por vaca/ano e por ha/ano.

Os valores de 4.246kg/vaca/ano e

8.314kg/ha/ano em 1994 são valoresde sistemas de produção bem evoluí-dos. A média brasileira de produçãopor vaca gira em torno de 700kg/ano.Os 30 produtores de leite visitados eacompanhados pelos técnicos da ex-EMPASC entre 1981 e 1991 foi de2.500kg/vaca/ano. A Nova Zelândiahoje registra 3.200kg/vaca/ano e7.700kg/ha/ano com lotação de 2,38vacas/ha. Porém, países como a Ale-manha têm médias superiores a5.000kg/vaca/ano.

O desempenho técnico é apenasuma parte dos resultados. Por isso, éapresentada, na Tabela 2, uma sínte-se do desempenho econômico em doisperíodos distintos, 1981 a 1984 e 1993/94.

Observa-se que tanto os gastoscomo as receitas estão intimamenteligados à tecnologia utilizada no perí-odo I e período IV. A diferença funda-mental entre estes dois períodos é ocritério de arraçoamento do rebanhoe o uso de silagem. Esta tecnologiaaumentou expressivamente o uso derações e de maquinário. Mas houveum equivalente aumento nas receitasfazendo com que a margem bruta,

(A) O demonstrativo principal foi feito com base nos preços médios, porém, na maioria dos itens é possível conseguir preços inferiores aos da média. Isto especialmente podeocorrer com rações e concentrados através de formulação própria da ração ou na barganha quando se adquirem quantidades maiores. Nisto pode-se obter uma reduçãode 25%. Da mesma forma, pode-se obter um preço melhor para o leite, através da higiene, resfriamento, produções mais elevadas, etc...

Tabela 2 - Avaliação sucinta do desempenho econômico da Unidade de Produção de Leite, atribuindo às receitas e às despesas preços médios praticados no Vale do Itajaí e LitoralNorte Catarinense (valores em US$)

Período I Período IVItem

1981 1982 1983 1984 1993 1994

Custos operacionais

Insumos agrícolas 973,73 1.086,25 1.141,05 1.078,14 1.691,57 987,19Rações e concentrados (preço médio)(A) 551,75 422,45 485,75 518,11 4.169,95 8.517,64

(preço menor)(A) (413,81) (316,84) (364,31) (388,58) (3.127,46) (6.388,23)Produtos veterinários 386,54 558,14 413,11 449,92 752,01 1.315,45Inseminação artificial 139,91 71,41 80,01 71,67 301,88 244,72Energia elétrica 116,40 109,61 154,16 148,84 345,99 346,00Higiene e limpeza 13,31 95,52 45,75 130,69 317,96 476,26Maquinário 922,30 910,19 781,83 521,50 1.978,10 2.451,50Ferramentas e utensílios 99,22 43,22 34,78 41,22 99,99 100,00

Total com preço médio 3.203,16 3.296,79 3.136,44 2.960,09 9.657,45 14.438,76Total com preço menor (3.065,22) (3.191,18) (3.015,00) (2.830,56) (8.614,96) (12.309,35)

Receitas

Leite (preço médio) 3.783,56 3.715,50 3.366,89 3.491,26 9.593,96 13.194,19(preço com incentivo 10%) (4.161,92) (4.087,05) (3.703,58) (3.840,39) (10.553,36) (14.513,61)

Com animais, venda e aumento rebanho 1.084,73 1.483,33 2.290,89 1.010,49 2.592,54 3.422,19Outros 799,24 282,35 197,64 - - -

Total com preço médio 5.667,53 5.481,18 5.855,42 4.501,75 12.186,50 16.616,38Total com preço incentivado (6.045,89) (5.852,73) (6.192,11) (4.850,88) (13.145,90) (17.935,80)

Margem Bruta (com preço médio) 2.464,37 2.184,39 2.718,98 1.541,66 2.529,05 2.177,62(com preço alternativo) (2.980,67) (2.661,55) (3.177,11) (2.020,32) (4.530,94) (5.626,45)

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Sistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produçãoSistema de produção

quando avaliada a preços médios, per-manecesse no mesmo patamar. Quan-do é possível barganhar preços comrações e obter incentivos com o leite,a margem bruta melhora significati-vamente no período IV.

Mesmo assim, a margem brutaobtida é modesta para uma atividadetão intensa como a produção de leite.Neste sentido, deve-se atentar paravários aspectos. Nesta unidade deprodução, bem como em qualquerpropriedade particular, quando seadota qualquer tecnologia que aumen-ta a produção, o aumento dos gastos éimediato, enquanto a produtividadee, em conse-qüência, as receitas vãoaumentando gradativamente. Porisso, nesta unidade em particular,com a mesma tecnologia e pratica-mente os mesmos gastos, deve-se ain-da obter um significativo aumento naprodução de leite (+40%), pois épossível trabalhar com 25 a 30 vacassem qualquer alteração nas instala-ções, área da propriedade ou tecnolo-gia.

Outro aspecto a considerar é que,se um maior número de produtoresaumentar expressivamente a produ-ção, há possibilidade de baixar o preçodo frete da coleta do leite, desde queeste benefício seja repassado ao pro-dutor. Com certeza, este é um aspectoque poderia gerar um significativoaumento no preço do leite para oprodutor.

Ainda deve ser mencionado queeste tipo de resultado econômico é omais comum encontrado na análisede sistemas de produção nas regiõesSudeste e Sul do Brasil, com leite tipoC. Historicamente os produtores deleite enfrentam altos preços deinsumos e geralmente baixos preçospara o leite. E, ainda, quando se ana-lisam propriedades com baixas produ-ções, os resultados financeiros sãoainda piores.

Frente a estas considerações, oresultado econômico desta Unidadede Produção de Leite está no contextoda nossa realidade, com possibilidadede ter uma evolução a curto prazocom perspectiva de oferecer ao produ-tor uma ocupação e condição de vidamais digna. Até hoje esta unidade émantida com mão-de-obra equivalen-te a de um casal de agricultores.

Conclusões

Em síntese, pode-se afirmar que

esta unidade de produção duplicou asua eficiência produtiva, fato que po-deria passar despercebido se não sedispusesse dos registros em mãos paraanálise. Daí se ressalta a fundamentalnecessidade de se manter pelo menosalguns registros que sirvam para ava-liar a atividade produtiva na qual seestá envolvido. Na presente Unidadede Produção de Leite deve-se enfatizarque o progresso registrado se deu emfunção de incorporação de tecnologiasde tal forma que, se fosse um estabe-lecimento particular, não teria havidonecessidade de recorrer a financia-mentos ou a grandes investimentos.

Portanto, o que aqui se quis mostraré que com constância e dedicação épossível incorporar tecnologia que alongo prazo produzirão os devidos re-sultados.Amaro Hillesheim, eng. agr., M.Sc., Cart.Prof. no 1.783-D, CREA-SC, EPAGRI/Esta-ção Experimental de Itajaí, C.P. 277, Fone(0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 - Itajaí, SC, João Lari Felix Cordeiro,méd. vet., M.Sc., CRMV-2 n o 0099, SDA/EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P.277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255,88301-970 - Itajaí, SC e Irceu Agostini, eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.361-D, CREA-SC,EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P.277, Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255,88301-970 - Itajaí, SC.

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CONJUNTURA

Reflexo dosReflexo dosReflexo dosReflexo dosReflexo dosprogramas de ajudaprogramas de ajudaprogramas de ajudaprogramas de ajudaprogramas de ajuda

internacionalinternacionalinternacionalinternacionalinternacional

Sadi Sérgio Grimm

s programas de ajuda interna-cional para o desenvolvimento

da agricultura nos países em desenvol-vimento vêm sofrendo cor-tes gradativos nos últimosdez anos. Embora tais cor-tes reduzam o crescimentoeconômico e o desenvolvi-mento social desses países,é preciso lembrar que os go-vernos dos países doadoresanalisam seus programas deajuda internacional não ape-nas como atividadesaltruísticas, mas como in-vestimentos políticos e eco-nômicos. Há um receio deque o desenvolvimento agrí-cola dos países receptorespoderá reduzir o mercado deexportação dos países ricos.Por outro lado, alguns eco-nomistas e planejadores ar-gumentam de que os inves-timentos no desenvolvimen-to agrícola perdem impor-tância a medida que cresce aindustrialização, visto que aparticipação da agriculturano PIB declina significativa-mente.

Recente relatório do InternationalFood Policy Research Institute -IFPRI, sediado em WashingtonD.C., contradiz essas suposições eindica que tais cortes prejudicarãoambos os lados. O estudo demonstraque ajuda internacional dirigida, es-pecialmente para a pesquisaagropecuária, não apenas gera umamplo crescimento econômico dospaíses receptores, como cria novosempregos nos países desenvolvidospelo aumento da demanda por produ-tos importados naqueles.

O estudo assume um retornoanual de 40%, em termos de aumento

na produção agrícola, para os investi-mentos em pesquisa agropecuária,ressaltando ser esta uma estimativaconservadora, segundo várias análi-ses. É interessante salientar que, em1986, a taxa interna de retorno dosinvestimentos na geração detecnologias foi estimado em 49,7%,no caso da ex--EMPASC.

O trabalho indica que, em média,para cada dólar de aumento na produ-ção agrícola resulta num crescimentode U$ 2,32 do PIB. Este dado é uma

incremento de 73 centavos, 17 cen-tavos corres-pondem a produtos agrí-colas. A principal explicação paraeste fato é de que os países ricos seconcentram nas regiões de climatemperado e produzem alguns pro-dutos agrícolas que não se desenvol-vem adequadamente em climas maisquentes, necessitando ser importa-dos. Um exemplo típico é o trigo.

O volume de exportações agríco-las destinadas aos países em desen-volvimento cresceu de 13% em 1970/71 para mais de 26% em 1992/93.

Enquanto as importações deprodutos agrícolas nos paí-ses desenvolvidos vem cain-do na base de 1% ao ano emtermos reais na década de90, essas importações porparte dos países subdesen-volvidos vêm crescendo ataxas anuais superiores a5%. Este fato está relaciona-do à prática de subsídios naagricultura dos países ricose à abertura da economiados países em desenvolvi-mento ao mercado externo.

Outro dado interessan-te desse relatório é de quepara cada bilhão de dólaresexportados pelos EstadosUnidos estima-se que cercade 20 mil empregos são ge-rados. Partindo deste racio-cínio, infere-se que as ex-portações anuais de 197 bi-lhões de dólares para os pa-íses em desenvolvimento as-seguram emprego para qua-se 4 milhões de americanos.Em 1993, os países desen-

volvidos exportaram para aquelesem desenvolvimento mais de 728bilhões de dólares, o que representamais de 14 milhões de empregosnaqueles países, assumindo que aestimativa dos EUA é válida para osdemais países ricos.

O estudo do IFPRI é um indicativode que os gastos em ajuda externapor parte dos países desenvolvidosrepresentam um bom negócio, tantopara os doadores como para os recep-tores.

Sadi Sérgio Grimm , eng. agr., Ph.D., Cart.Prof. no 346-D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502,Fone (048) 234-1344, Telex 482 242, Fax (048)234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.

O

evidência clara da repercussão que odesenvolvimento agrícola tem nos ou-tros setores da economia. O aumentoda renda rural promove um incre-mento na demanda não só de bens deconsumo, mas também de serviços esuprimentos agrícolas.

Tomando por base os países emdesenvolvimento, em média, 1 dólarde incremento na produção agrícolaresulta em um aumento de 73 centa-vos no valor das importações. Teori-camente, uma maior produção inter-na poderia provocar uma redução naimportação de produtos agrícolas. Con-tudo, os dados mostram que, desse

Ajuda internacional: bom negócio para quem dá e paraquem ganha

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OPINIÃO

las. Todavia, o desenvolvimento rural, alémde não ter sido alcançado, foi agravado, já queo padrão de produção agrícola adotadoimpactou negativamente as variáveisconformadoras do bem-estar no meio ruralcomo: perfil de distribuição de renda setoriale intersetorial2, democratização do acesso aterra; qualidade de vida3; conservação dosrecursos naturais; descapitalização e êxodorural. Logo, a opção pelo desenvolvimentoagrícola não levou ao desenvolvimento rurale sim ao agravamento dos problemas sociaise ambientais do setor.

Como não poderia deixar de ser estemodelo de desenvolvimento entrou em crise,associada à crise dos diversos paradigmas quelhe deram sustentação, como a do modelotecnológico e agrícola dito “produtivista”, pre-ocupado apenas com o aumento da produçãoe da produtividade frente a um mercadocrescente, resultado da intensa urbanizaçãodo período.

Todavia, a crise do modelo de desenvolvi-mento, das instituições que lhe deram supor-te e do padrão tecnológico ocorre de maneiraparalela ao surgimento de novos paradigmas,como o do desenvolvimento sustentável emsuas dimensões econômica, social, ambientale política. Embora ainda em fase inicial, estemodelo caminha para a ampliação da percep-ção da necessidade de atribuir novos papéispara a agricultura e o meio rural, onde pode-se destacar: gerar oportunidades de ocupaçãoprodutiva da mão-de-obra e renda em basessustentáveis para a maioria da população domeio rural, em especial para a agriculturafamiliar; reduzir migrações rurais-urbanas erurais-rurais; alcançar maiores níveis de se-gurança alimentar envolvendo aspectos quan-titativos e qualitativos da produção de alimen-tos; diminuir desigualdades regionais e soci-ais; gerar divisas; e, retomada do crescimentoeconômico. Neste contexto, as políticas públi-cas de desenvolvimento, pesquisa, assistên-cia técnica e extensão rural, treinamento eprofissionalização serão profundamente afe-tadas.

Nesta perspectiva de mudanças e partin-do de uma percepção holística e sistêmica e donovo quadro de valores aí emergentes, ga-nham outro significado o papel da ciência e datecnologia, da educação e da formação profis-sional, do técnico e do político, do econômicoe do social, do ético e do cultural. Já não se podemais pensar de forma segmentada em desen-volvimento, econômico ou social, agrícola,rural ou industrial, mas sim em desenvolvi-mento sustentável que leva em consideraçãoestas múltiplas dimensões do conceito dedesenvolvimento.

Dentro deste novo quadro de valores, odesenvolvimento agrícola deverá caminharno sentido de fortalecer o desenvolvimento domeio rural, diferentemente do que foi aténossos dias. Assim, as necessidades, deman-das e problemas do desenvolvimento ruralque se impõem são de natureza eminente-mente diferente das que originaram o modeloprodutivista e das instituições que oimplementaram. Qual será o papel das insti-tuições públicas de ensino, pesquisa e exten-

Do desenvolvimentoDo desenvolvimentoDo desenvolvimentoDo desenvolvimentoDo desenvolvimentoagrícola aoagrícola aoagrícola aoagrícola aoagrícola ao

desenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentoruralruralruralruralrural

Luiz Carlos Mior

que diferencia o desenvolvimento agrí-cola do rural? Será apenas uma ques-

tão formal ou, melhor dizendo, de semântica?Se for apenas isso não haveria razão paraaprofundarmos a discussão sobre o tema.Todavia, uma avaliação mais criteriosa tornapossível visualizar as várias nuances quecercam esta questão. Vamos às noçõesconceituais: Enquanto o desenvolvimentoagrícola envolve aspectos relacionados com ocrescimento da produção e produtividadeagrícola, o desenvolvimento rural refere-se,de um lado, a melhorias no nível e na distri-buição de renda setorial (o que inclui, emparticular, questões relativas a emprego, con-centração da terra e produtores sem terra, efontes de renda dentro e fora da unidadeprodutiva)1 e, de outro, aos aspectos relacio-nados com a qualidade de vida no meio ruralem suas múltiplas dimensões.

Historicamente a opção feita pelas socie-dades e pelos governos foi pelo desenvolvi-mento agrícola. Assim foi na modernização daagricultura dos países ditos desenvolvidos,em espe-cial EUA, União Européia, Japão eseu bloco asiático e, em menor grau, mas nãomenos importante, dos países em desenvolvi-mento, como é o caso do Brasil. O Estado deSanta Catarina também partilhou desta op-ção ao executar as políticas de desenvolvi-mento agrícola emanadas do governo fede-ral.

A opção brasileira foi tomada ainda nosanos 50, quando a indústria assumiu o co-mando da economia atribuindo ao setor agrí-cola certas “funções e papéis” a desempenharno processo de desenvolvimento econômico(interpretado como um passo intermediárionecessário para o desenvolvimento urbano/industrial). Entre outras funções destacam-se: liberação de mão-de-obra para o setorindustrial; fornecimento de alimentos e ma-térias-primas a custos constantes ou decres-centes; suprimento de capital para o financi-amento de investimentos industriais; supri-mento de divisas estrangeiras, através daexportação de produtos agrícolas e, criação domercado interno para os produtos secundári-os, quer para a própria indústria de insumose máquinas para a agricultura, quer para aindústria em geral. No final dos anos 70 foiagregado mais um papel, qual seja, o de gerarenergia em função da crise do petróleo.

Como era esperado, estes objetivos foramalcançados levando o Brasil a um patamarsurpreendente de desenvolvimento agrícola,medido pela ampliação da produção e da pro-dutividade de boa parte dos produtos agríco-

são? Fica evidente que este papel já não é omesmo do passado recente. O modelo dedesenvolvimento e o padrão tecnológicomudaram e a sociedade já atribui outrosvalores para a agricultura e o meio rural. Aagricultura e o sistema agroalimentar maisamplo deverão pressionar as instituições pú-blicas para este novo desafio: o de garantircompetitividade e eqüidade social e ambientalpara o meio rural e sua população.

No Estado de Santa Catarina, a mudançade nome da Secretaria da Agricultura doEstado, incorporando aspectos do desenvol-vimento rural, se, por um lado, indica o cami-nho, por outro, coloca desafios para as insti-tuições que se voltam para o rural. Assim,além da produção de alimentos e matérias-primas, o desenvolvimento rural requer no-vas opções produtivas de uso da terra, da mão-de-obra, enfim, dos fatores de produção. Pro-dução de matérias-primas não alimentares,plantas ornamentais, turismo, entre outrasatividades produtivas, deverão ser desenvol-vidas visando a geração de oportunidades deocupação de mão-de-obra e renda para asfamílias rurais.

Agregam-se a este os desafios do cresci-mento e da distribuição de renda no meiorural, da educação, saúde e segurança ali-mentar, da cultura e do lazer, da preservaçãodo meio ambiente, e da busca dacompetitividade, que implicam um esforçoconjunto de secretarias de Estado, ou melhor,do Estado como um todo (municipal, estaduale nacional). Para alavancar este desenvolvi-mento, as ações deverão ser interinsti-tucionais e interdisciplinares, já que a natu-reza dos problemas e necessidades extrapoladisciplinas e instituições. A melhoria da qua-lidade de vida no meio rural está, portanto, aexigir uma nova forma de intervenção e seráalcançada na medida em que este novoparadigma for colocado plenamente em ação.

Como pode-se ver, o desafio de construiro desenvolvimento do meio rural está apenascomeçando. A velocidade de construção domesmo, medida pela ação das instituiçõespúblicas, privadas e não governamentais, de-penderá da valoração que a sociedade atribuirao desenvolvimento sustentável do meio ru-ral.

Luiz Carlos Mior, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. n o 4.303-D, CREA-SC, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Telex 482 242, Fax (048) 234-1024, 88034-901 -Florianópolis, SC.

1. JANVRY, A. de. Why do governants do what they do?The case food price police. In: JOHNSON, D.G.;SHUCH, E. (ed.). The role of markets in the worldfood economy. Boulder, Colorado: WestviewPress, 1983. p.185-212.

2. HOFFMANN, R. Vinte anos de desigualdade e pobre-za na agricultura brasileira. Revista de Econo-mia e Sociologia Rural, Brasília, v.30, n.2, p.97-113, 1992.

3. KAGEYAMA, A.; REHDER, P. O bem-estar rural noBrasil na década de oitenta. Revista de Econo-mia e Sociologia Rural, Brasília, v.31, n.1, p.23-45, 1993.

O

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VIDA RURALSOLUÇÕES CASEIRAS

Medidor de ânguloMedidor de ânguloMedidor de ânguloMedidor de ânguloMedidor de ângulo

Se você precisa tirar medidas quenão exigem muita precisão e traçar odesenho de uma área da sua propri-edade, existe uma maneira muitosimples e rápida utilizando o medi-dor de ângulo.

Material necessário

• Uma tábua fina (pode ser comdimensões em torno de 36 x 25mm),um transferidor comum (de plásti-co), uma régua (fazer uma seta emuma das pontas), pregos, marcadorese cola (Figura 1).

Figura 1 - Régua com seta

Modo de construir omedidor de ângulo

• Traçar duas retas (no centro ede cada lado da tábua) e colar otransferidor, observando a coinci-dência dos graus 0 o, 90o, 180o e 270o

com o traçado das retas, conforme aFigura 2.

Figura 2 - Traçar as retas e colar otransferidor

• Colar dois marcadores salientes nas pontas e naparte de cima da régua conforme Figura 3.

Figura 3 - Marcadores de régua

• Pregar a régua no cruzamento das retas da tábua, demodo que a régua gire no prego livremente em cima dotransferidor (Figura 4).

• Colar outros dois marcadores salientes na tábua, emcima da reta mais comprida e fora das áreas da régua e dotransferidor (Figura 4).

Como mediro terreno

Serão neces-sárias duas pes-soas para a medi-da dos ângulosconforme a Figu-ra 5. Uma pessoa,num dos cantosda área e com aprancheta na al-tura dos olhos, lo-caliza uma baliza(pode ser uma pes-soa) colocada nocanto anterior daárea, seguindo alinha dosmarcadores datábua até a balizaanterior. A outrapessoa move a ré-gua do medidorde ângulo (tam-bém na altura dosolhos) até encon-trar outra balizalocalizada no can-to seguinte daárea. Então o ân-gulo será lido notransferidor. Re-petindo a opera-ção nos outroscantos e medindoos comprimentosdos lados comuma trena (ou pas-so aferido) é pos-sível traçar o de-senho do terrenoe calcular, de ma-neira expedita, aárea. Os ângulosmedidos deverãoser os internos doterreno.

Nota: Agradecemosa colaboraçãodo eng. agr.M u - r i l l oPundek.

Figura 4 - Medidor de ângulo

Figura 5 - Área a ser medida