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10 ABNB - A Bíblia no Brasil Capa Após quase 60 anos de sucesso entre os cristãos brasileiros, a tradu- ção Almeida Revista e Atualizada, com a anuência e participação da igreja cristã, prepara-se para receber uma revisão. Preferida por um número expressivo de cristãos bra- sileiros, a tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA) tem uma distribuição anual de milhões de exemplares. Publicada com exclusividade pela Sociedade Bíblica do Brasil, possui uma série de diferenciais, entre os quais se destacam sua fidelidade aos textos originais, sua lingua- gem atualizada sem abrir mão do vocabulário e sintaxe eruditos, sua riqueza de estilos literários, além de sua le- gibilidade e sonoridade. Sua primeira edição foi feita entre 1943 e 1959, em plena era do rádio. Assim, a equipe que conduziu esse processo teve uma grande preocupação com sua leitura em voz alta. Perto de completar seis décadas, a ARA, com a anuência das igrejas cristãs brasileiras, pre- para-se para receber uma atualização, com o objetivo de tornar o que já é excelente em algo ainda melhor. De acordo com Rudi Zimmer, diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), a ARA, também co- nhecida como a Bíblia do púlpito, tem uma série de pre- dicados que a tornam tão amada pelo público evangélico: “Em primeiro lugar, assim como o próprio João Ferreira de Almeida usou, em sua época, os me- lhores textos originais disponíveis, o mesmo ocorreu nas revisões de sua tradução, que resultaram na edição Revista e Atualizada. Em segundo lugar, foi a tradução que melhor incorporou o português erudito utilizado no Brasil. Em terceiro lugar, o vocabulário teológico da maioria das igrejas brasileiras se coaduna melhor com o vocabulário da edição Revista e Atualizada. Por fim, e isso é a culminância de tudo que disse até aqui, a edi- ção Revista e Atualizada, naturalmente, passou a ocu- par o espaço do culto, sendo a tradução que, no entender das igrejas, mais bem se afina com o uso litúrgico das Escrituras Sagradas”. Para Roberto Brasileiro, pastor presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, a ARA foi adotada pela Igreja por seu texto amigável, que contribui para o uso e compre- ensão da população. “Ela tem uma linguagem mais fácil. Isso possibilita que o povo tenha acesso a um português correto, claro para todos. Consequentemente, promove o crescimento de nossa Igreja”, avalia.

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Revisão da Tradução Bíblica RA

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Após quase 60 anos de sucesso entre os cristãos brasileiros, a tradu-

ção Almeida Revista e Atualizada, com a anuência e participação

da igreja cristã, prepara-se para receber uma revisão.

Preferida por um número expressivo de cristãos bra-sileiros, a tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA) tem uma distribuição anual de milhões de exemplares. Publicada com exclusividade pela Sociedade Bíblica do Brasil, possui uma série de diferenciais, entre os quais se destacam sua ' delidade aos textos originais, sua lingua-gem atualizada sem abrir mão do vocabulário e sintaxe eruditos, sua riqueza de estilos literários, além de sua le-gibilidade e sonoridade. Sua primeira edição foi feita entre 1943 e 1959, em plena era do rádio. Assim, a equipe que conduziu esse processo teve uma grande preocupação com sua leitura em voz alta. Perto de completar seis décadas, a ARA, com a anuência das igrejas cristãs brasileiras, pre-para-se para receber uma atualização, com o objetivo de tornar o que já é excelente em algo ainda melhor.

De acordo com Rudi Zimmer, diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), a ARA, também co-nhecida como a Bíblia do púlpito, tem uma série de pre-dicados que a tornam tão amada pelo público evangélico: “Em primeiro lugar, assim como o próprio João Ferreira de Almeida usou, em sua época, os me-

lhores textos originais disponíveis, o mesmo ocorreu nas revisões de sua tradução, que resultaram na edição Revista e Atualizada. Em segundo lugar, foi a tradução que melhor incorporou o português erudito utilizado no Brasil. Em terceiro lugar, o vocabulário teológico da maioria das igrejas brasileiras se coaduna melhor com o vocabulário da edição Revista e Atualizada. Por ' m, e isso é a culminância de tudo que disse até aqui, a edi-ção Revista e Atualizada, naturalmente, passou a ocu-par o espaço do culto, sendo a tradução que, no entender das igrejas, mais bem se a' na com o uso litúrgico das Escrituras Sagradas”.

Para Roberto Brasileiro, pastor presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, a ARA foi adotada pela Igreja por seu texto amigável, que contribui para o uso e compre-ensão da população. “Ela tem uma linguagem mais fácil. Isso possibilita que o povo tenha acesso a um português correto, claro para todos. Consequentemente, promove o crescimento de nossa Igreja”, avalia.

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Já Almir Marrone, pastor vice-pre-sidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia,

destaca a clareza e ' delidade ao texto original como di-ferenciais da tradução. “Cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus e que os ensinos e doutrinas precisam ser cons-truídos sobre um fundamento con' ável. Na pregação e no estudo doutrinários, preterimos as versões e preferimos a tradução do original. A Almeida Revista e Atualizada traz essa segurança e, ao mesmo tempo, tem uma lingua-gem acessível”, explica.

“Nosso diferencial chama-se Sociedade Bíblica do Brasil”, sentencia Paulo Roberto de Moura Pinheiro, pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira, comple-mentando que “o que a SBB faz encaramos como de pri-meira qualidade”.

Nesse sentido, vale ressaltar que a tradução de Almeida Revista e Atualizada é uma marca registrada da Sociedade Bíblica do Brasil e, portanto, foi desenvolvida totalmente pela organização. Assim, a ARA é encontrada com exclusividade apenas nas obras que levam o selo SBB.

Outro ponto observado por Adail Carvalho Sandoval, presidente da SBB e pastor jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, é a questão da a' nidade e intimidade com o texto da ARA. “Quem viveu mais um pouco e se acostumou com a primeira e segunda edições, decorando textos, lendo--a diariamente e pregando com base nesta versão, ' ca até difícil utilizar-se de qualquer outra”, comenta, destacando que sua linguagem poética, agradável ao ouvido, também é uma razão de ser a preferida entre os cristãos.

Para Egon Kopereck, pastor presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) esta é uma tradu-ção que se enraizou em sua Igreja e, por isso, é a tradução recomendada. “Podemos dizer que ela é a linguagem de amor da nossa Igreja”, sintetiza.

Também sobre a' nidade com o texto da ARA fala Ernesto Ferreira Junior, pastor da Igreja do Nazareno. “É o nosso principal texto bíblico, única utilizada no púlpi-to, inclusive já ' zemos edições personalizadas, para datas comemorativas. Nós pastores somos educados a partir da ARA e temos, portanto, uma relação mais estreita com ela”.

A tradução do Novo Testamento feita por João Ferreira de Almeida foi revisada antes de ser publicada

em 1681 e, quando o texto foi publicado, já necessitava de imediata revisão. Depois, em meados do século 18, ainda na ilha de Java, foi feita uma revisão do texto de toda a Bíblia. A segunda grande revisão, chamada de “revisão de Londres”, foi feita 100 anos mais tarde, en-tre 1689 e 1875. Vinte anos depois, em 1894, ainda em Londres, o mesmo texto foi corrigido quanto à orto-gra' a e alguns termos obsoletos foram substituídos. A edição de 1898, feita em Lisboa, viria a ser conhecida como Almeida Revista e Corrigida (ARC). Ao longo dos anos, essa edição vem sofrendo atualização grá' -ca e pequenos retoques no que diz respeito a termos arcaicos e palavras que mudaram de signi' cado: 2ª edição, em 1969, 3ª edição, em 1995. A mais recente dessas revisões foi feita em 2009 e contou como uma importante alteração, a palavra “caridade” foi substi-tuída por “amor”. Estima-se que o texto de Almeida tenha sido revisado oito vezes, antes da edição Revista e Atualizada.

Em 1943, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e a Sociedade Bíblica Americana, que atuavam no Brasil naquela época, decidiram preparar e publicar uma revisão da tradução de Almeida. Essa revisão, que a partir de 1948, passou aos cuidados da Sociedade Bíblica do Brasil, viria a ser conhecida como Almeida Revista e Atualizada. Dela participaram bi-blistas e vernaculistas de renome, membros das mais diversas denominações evangélicas presentes no Brasil naquela época. A revisão do Novo Testamento foi pu-blicada em 1952. A revisão do Antigo Testamento foi concluída em menos tempo, em 1956, porque uma pequena comissão se dedicou a essa tarefa em regi-me de tempo integral. A Bíblia toda só foi publicada em 1959. Uma segunda edição da Almeida Revista e Atualizada foi publicada no Brasil, em 1993.

Trata-se de uma tradução de equivalência for-mal, já que há um respeito à forma das línguas-fonte (hebraico e grego). Assim, é mantida a ordem das palavras que aparece no original, como pode ser observado em Gênesis 1.1: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. “A tendência aqui é traduzir verbos por verbos, substantivos por substantivos”, ensina Vilson Scholz, consultor de tradução da SBB.

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“A edição Revista e Corrigida traz um português que os ‘atualizadores’ do Brasil consideram ‘oriental’. Além disso, é uma tradução bem literária, mas arcaica quanto à linguagem”, explica Scholz, destacando que se trata de uma King James na língua de Camões. Uma das diferenças entre as edições Revista e Atualizada e Revista e Corrigida diz respeito ao texto grego adotado como base para a tradução do Novo Testamento. No século 17, Almeida dispunha somente do assim cha-mado “texto recebido” (textus receptus) – único dispo-nível naquele tempo –, que tem sua origem no Novo Testamento Grego, editado por Erasmo de Roterdã, em 1516, e baseado em alguns poucos manuscritos gre-gos copiados durante a Idade Média.

Durante os séculos 19 e 20, foram descobertos manuscritos gregos mais antigos, muitos deles copiados no quarto século d.C. e até mesmo antes disso. A partir desses manuscritos, que estão mais próximos do tempo dos evangelistas e apóstolos, passaram a ser publicadas edições do Novo Testamento chamadas de “edições críticas”.

“O termo ‘crítico’ indica que essas edições permitem que se faça a crítica textual, ou seja, a comparação entre o texto que se considera original e as variantes ou alternativas textuais – inclusive as do textus receptus –, que aparecem ao pé da página”, esclarece o consultor de Tradução.

Para a edição Revista e Atualizada, de-cidiu-se traduzir o melhor texto grego dispo-nível naquele momento, que era a 16ª edição do Novo Testamento Grego editado por Erwin Nestle. Esse Novo Testamento Grego foi sendo reimpresso sem alterações até o surgimento da 26ª edição, em 1979.

Além desta diferença quanto à base textual, a ARA se caracteriza pelas se-guintes modi' cações em relação à ARC: (1) Foram eliminados cerca de 2 mil tipos de cacófatos ou desagrados cacofônicos, como “tatu” (“volta tu também”, Rt 1.15), “alice” (“e todo o Israel ali se achou”, Ed 8.25) etc. Nessa mesma linha, para evitar um mal entendido, “a vós” pas-sou a ser, em certos contextos, a locução “a vós outros”;

(2) O nome de Deus (Javé), no Antigo Testamento, foi traduzido por Senhor e impresso em versalete, isto é, com letras maiúsculas; (3) A primeira letra da palavra que inicia um parágrafo foi impressa em negrito; e (4) Os textos poéticos como, por exemplo, Salmos, passaram a ser impressos em formato de poesia.

“De modo geral, a Almeida Revista e Atualizada difere de edições anteriores em aproximadamente 30% do texto e ainda preserva um amplo vocabulário, com mais de oito mil termos diferentes, sem contar os no-mes de pessoas e lugares”, contabiliza o consultor de Tradução da SBB.

Com o objetivo de eliminar a lingua-gem arcaica, a ARC sofreu algumas alte-rações em seu vocabulário, o que resultou na ARA. Entre elas, estão a substituição de “de Deus” por “por Deus” (2Co 1.4) e

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“redarguir” por “corrigir” (2Tm 3.16). Mas nem todas as modi' cações trouxeram ganhos para o texto. Por exemplo: em Mt 18.15 “repreender” foi substituído por “arguir”.

Neste ano, a tradução de Almeida Revista e Atualizada completa 57 anos de existência. Mas se fo-rem contabilizados os anos desde quando foram inicia-dos os trabalhos de tradução, em 1943, já se passaram 70 anos. De acordo com as diretrizes das Sociedades Bíblicas Unidas, a recomendação é de que, a cada 25 anos, seja feita uma revisão do texto. “Quanto mais se demora em fazer uma revisão, mais difícil ela se torna”, avalia Scholz. Para ele, uma tradução excelen-te pode ser melhorada, especialmente, para as novas

gerações.“Para se usar de metáfora, a ARA é uma es-

trada bem construída, mas que apresenta algumas saliências que poderiam

ser niveladas”,

sintetiza o consultor, destacando os seguintes pontos: as edições do texto original já são outras; quanto à lin-guagem, no século XX, Almeida foi trazida a Portugal, agora é preciso trazê-la para o Brasil.

Para Roberto Brasileiro, esta é uma tradução que deve ser melhorada sempre: “Até para manter seu con-ceito de Revista e Atualizada”, diz. Já Egon Kopereck destaca que, por adotar uma linguagem bastante an-tiga, muitos vocábulos e termos não são mais usados pelas pessoas normalmente. “Então, acho que muitas palavras podem ser trocadas, trazendo para a realidade do português utilizado no Brasil atualmente”, destaca.

Partidário da mesma opinião, Samuel Esperandio, pastor e diretor executivo da Convenção Batista Pioneira fala sobre a atualização da forma de escre-ver: “Seria interessante adequar a escrita ao estilo do português do Brasil, com sequência de sujeito, verbo e objeto, e a substituição do vós, que ninguém mais uti-liza no Brasil, por vocês, nos casos possíveis”, opina.

Adonias Pereira do Lago, bispo presidente da Igreja Metodista, observa que é preciso sim fazer mo-

di' cações na linguagem, mas sem perder a essência: “Obviamente, é necessário ter o cuidado de não per-verter o texto a partir do original e do que Deus de fato quis dizer a nós no momento em que foi escrito”.

Sob esse aspecto, Leopoldo Heimann, pastor lu-terano e 1º vice-presidente da SBB, enfatiza que “ao se fazer a revisão, é importante preservar o estilo de Almeida, zelando por ele. O que pode e deve ser me-lhorado é uma questão linguística, determinadas ter-minologias que caducaram e não são mais utilizadas”.

“Trata-se de um esforço louvável e necessário. Louvável porque revela que a SBB está atenta às expec-tativas manifestas pelos leitores. Necessário porque a vida e o tempo vão ensinando novas possibilidades”, ava-lia Romeu Ruben Martini, pastor e assessor Teológico da Presidência da Igreja Evangélica de Con' ssão Luterana no Brasil (IECLB).

A ideia é dar continuidade ao que foi feito em meados do século passado, apresentando à população brasileira um texto condizente ao original e à língua portuguesa atua-lizada, mas que conserve a expres-são de João Ferreira de Almeida.

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Entre os pontos a serem observados e avaliados em uma nova revisão, destacam-se os seguintes:

Além da base textual que mudou um pouco, há eventuais revisões exegéticas a serem feitas, como em Ap 1.3.Língua portuguesa atualizada implica, hoje, o português brasileiro.Certas expressões poderiam ser mais idiomáti-cas, como em Gn 23, “tua morta”, que poderia ser substituída, por exemplo, por “a falecida”.Quando comparada com a ARC, a ARA, em al-guns casos, tornou-se mais arcaica do que a ARC.Arcaísmos ou formas pouco encontradas na li-teratura, como “tas”, “to”, “outrem”, “baluarte”, “chasquear”, entre outros, podem ser objetos de revisão.

Para analisar a necessidade de uma revisão da ARA, a Sociedade Bíblica do Brasil convidou, em

15 de outubro de 2012, líderes de igrejas cristãs bra-sileiras para um encontro. Com a presença de cerca de 30 representantes de 11 diferentes denominações cristãs, a grande maioria considerou oportuno o início de uma revisão da tradução, desde que de forma mo-derada, preservando o estilo de Almeida.

Assim, para que isso aconteça, o próximo passo é formar uma equipe interdenominacional de trabalho, que passará a estudar o texto da ARA para propor modi' cações, no que virá a ser a 3ª edição da tradu-ção. “Dependendo do alcance da revisão e do ritmo de trabalho, deve ser possível concluir a revisão num período de três a cinco anos. Uma equipe de revisão não muito numerosa, bem focada, contando com os modernos recursos de informática, poderá realizar essa revisão num período bem menor do que o tempo que se levou no século passado (13 anos!)”, conclui Vilson Scholz.

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Representantes de diferentes denominações cristãs, presentes em encontro

organizado pela SBB, consideraram oportuno o início de uma revisão da ARA.

Foto 1 – Roberto Brasileiro, pastor presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil / Foto 2 – Egon Kopereck, pastor presidente da Igreja Evangélica

Luterana do Brasil (IELB) / Foto 3 – Adonias Pereira do Lago, bispo presidente da Igreja Metodista / Foto 4 – Samuel Esperandio, pastor e diretor

executivo da Convenção Batista Pioneira.

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João Ferreira Annes de Almeida nasceu por vol-ta de 1628, em Torre de Tavares, Portugal, e morreu em 1691, na cidade de Batávia – atual ilha de Java, Indonésia. O que se conhece da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de um de seus livros e nas atas dos presbité-rios de Igrejas Reformadas (calvinistas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradu-tor, durante a segunda metade do século 17.

Segundo registros da época, em 1642, aos 14 anos, Almeida teria deixado Portugal para viver em Málaca, Malásia. Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa daquele local. Dois anos mais tarde, começou a traduzir para o português uma parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento.

Em 1651, se transferiu para a Batávia e, em 1656, se ordenou pastor, sendo indicado para o Presbitério de

Ceilão, hoje Sri Lanka. A partir de 1663 – dos 35 anos de idade em diante –,

Almeida traba-lhou na congre-gação de fala portuguesa da Batávia, onde ' cou até o ' -

nal da vida. Nesta nova fase, teve intensa atividade como pastor. Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude.

Almeida publicou o primeiro Novo Testamento completo em língua portuguesa, há mais de 330 anos, em 1681. Na época, o português era a língua de contato, a língua internacional usada na rota de navegação para o Oriente. No entanto, acredita-se que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastan-te erudito e, portanto, de difícil compreensão para a maioria do povo.

Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a traduzir o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco. Iniciou-se então a revisão desse tex-to, e a situação que havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada – pelo menos desde 1670, segundo os registros – Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia se dedicado por toda a vida, tendo chegado até Ezequiel 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694, por Jacobus op

den Akker, pastor holandês. O texto do Antigo Testamento completo só viria a ser impresso em 1751 e a Bíblia completa, em um único vo-lume, em 1819.Ao que tudo indica, o texto da Bíblia de

Almeida chegou ao Brasil pela primeira vez em 1712, ainda que de forma acidental. Uma remessa de 150 exemplares do Evangelho de Mateus, im-pressas em Amsterdã e destinadas ao povo de fala portuguesa das Índias Ocidentais, acabou aportan-do no Brasil. Acontece que o navio foi intercep-tado pelos franceses e conduzido a um porto brasileiro, no Rio de Janeiro ou Salvador. Não se sabe quem ' cou com as cópias do Evangelho de Mateus. Posteriormente, a Bíblia de Almeida passou a ser dis-tribuída no Brasil pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.