rev ciencias biologic as e da saude 2009 pdf

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Revista Quadrimestral do UNIPÊ Centro Universitário de João Pessoa ASSEMBLÉIA GERAL DO IPÊ Clemilde Torres Pereira da Silva Flávio Colaço Chaves José Loureiro Lopes José Trigueiro do Vale Manuel Batista de Medeiros Marcos Augusto Trindade REITOR José Loureiro Lopes P-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO Vera Lúcia Azevedo de Medeiros P-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO Maria do Céo Costa de Oliveira P-REITOR ADMINISTRATIVO Reginaldo Moura Brasil EDITOR José Octávio de Arruda Mello EDITOR ASSISTENTE Milton Tavares de Melo Júnior SECRETÁRIO E REVISOR DE LINGUAGEM Marcelo Amaro da Silva EDITOR IMPRESSOR Nelson Farias de Sousa EDITORAÇÃO ELETRÔNICA , DIAGRAMAÇÃO E CAPA Ermira Limeira Ferreira e Magna Coeli S. C. de Oliveira ASSISTENTES DA SECRETARIA Lucinete Freire de Queiroz Marília Loureiro Lopes Kátia Vânia Vasconcelos Souto Maior Magna Coeli Soares Cavalcante de Oliveira CONSELHO EDITORIAL José Loureiro Lopes - UNIPÊ/PB José Octávio de Arruda Mello - UEPB/UNIPÊ/PB Afonso Antônio - Universidade Campo do Rio Claro Dietmar Pfeiffer - Universidade de Münster/Alemanha Elisa Médici Pizão Yoshida - PUCCAMP Flamarion Tavares - UNIPÊ/PB Flávio Colaço Chaves – UNIPÊ/PB Geraldina Porto Witter – UMC/UNICASTELO-USP Haydée Fizsbein Wertzner - USP José Sebastião Witter - USP Maria Antônia Alonso de Andrade - UNIPÊ Maria do Céo Costa de Oliveira - UNIPÊ/PB Otávio Machado Lopes de Mendonça - UFPB Patrícia de Medeiros Loureiro Lopes – UNIPÊ/UFPB Paulo Andriola - UNIPÊ/PB Steniel Ferreira Patrício – UNIPÊ Tânia Martinez - UFESP Teófilo Otoni Torronteghy - UFSanta Maria Wolf Dietrich Heckendorff - UFPB/PB REDAÇÃO Marcelo Amaro da Silva Revista do UNIPÊ, Bloco B, 1º andar, Sala 208 BR 230 - Km 22 - Bairro Água Fria Cep.: 58053-000 / Caixa Postal: 318 João Pessoa - Paraíba - Brasil Email:. [email protected] Tiragem desta edição: 1.500 exemplares __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ REVISTA DO ISSN 1414-3194

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Revista Quadrimestral do UNIPÊCentro Universitário de João Pessoa

ASSEMBLÉIA GERAL DO IPÊClemilde Torres Pereira da SilvaFlávio Colaço ChavesJosé Loureiro LopesJosé Trigueiro do ValeManuel Batista de MedeirosMarcos Augusto TrindadeREITOR

José Loureiro LopesPRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

Vera Lúcia Azevedo de MedeirosPRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO

Maria do Céo Costa de OliveiraPRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO

Reginaldo Moura BrasilEDITOR

José Octávio de Arruda MelloEDITOR ASSISTENTE

Milton Tavares de Melo JúniorSECRETÁRIO E REVISOR DE LINGUAGEM

Marcelo Amaro da SilvaEDITOR IMPRESSOR

Nelson Farias de SousaEDITORAÇÃO ELETRÔNICA , DIAGRAMAÇÃO E CAPA

Ermira Limeira Ferreira e Magna Coeli S. C. de OliveiraASSISTENTES DA SECRETARIA

Lucinete Freire de QueirozMarília Loureiro LopesKátia Vânia Vasconcelos Souto MaiorMagna Coeli Soares Cavalcante de OliveiraCONSELHO EDITORIAL

José Loureiro Lopes - UNIPÊ/PBJosé Octávio de Arruda Mello - UEPB/UNIPÊ/PBAfonso Antônio - Universidade Campo do Rio ClaroDietmar Pfeiffer - Universidade de Münster/AlemanhaElisa Médici Pizão Yoshida - PUCCAMPFlamarion Tavares - UNIPÊ/PBFlávio Colaço Chaves – UNIPÊ/PBGeraldina Porto Witter – UMC/UNICASTELO-USPHaydée Fizsbein Wertzner - USPJosé Sebastião Witter - USPMaria Antônia Alonso de Andrade - UNIPÊMaria do Céo Costa de Oliveira - UNIPÊ/PBOtávio Machado Lopes de Mendonça - UFPBPatrícia de Medeiros Loureiro Lopes – UNIPÊ/UFPBPaulo Andriola - UNIPÊ/PBSteniel Ferreira Patrício – UNIPÊTânia Martinez - UFESPTeófilo Otoni Torronteghy - UFSanta MariaWolf Dietrich Heckendorff - UFPB/PB

REDAÇÃOMarcelo Amaro da SilvaRevista do UNIPÊ, Bloco B, 1º andar, Sala 208BR 230 - Km 22 - Bairro Água FriaCep.: 58053-000 / Caixa Postal: 318João Pessoa - Paraíba - BrasilEmail:. [email protected]

Tiragem desta edição: 1.500 exemplares

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REVISTA DO

ISSN 1414-3194

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do UNIPÊ

R454 REVISTA DO UNIPÊ, ano XIII, nº 2, 2009. p. 143 Quadrimestral ISSN 1414-3194 CDU 574(05) 61(05)

1. Ciênicas Biológicas 2. Ciências da Saúde I. Título

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SUMÁRIO

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EDITORIAL

TEMAS ESPECIAIS

A crise econômica mundial e os reflexosbrasileirosNelson Rosas RibeiroA crise financeira e o agronegócioJoaquim Osterne CarneiroObama e os Estados Unidos em face do mundoJosé Octávio de Arruda Mello

ARTIGOSAudiometria em trabalhadores do setorindustrialAna Cristina MontenegroArllene Dayana V. da SilvaAzuíla da Silva SousaDoriella Sobreira de C. GouveiaLuzia Kelly Formiga AraújoMariselma de Vasconcelos CavalcanteRachel Limeira de AlencarSimone Gomes de LimaProcedimentos pediátricos frente à hipótesediagnóstica de deficiência auditivaAdriana Ferreira PotiguaraCassandra Ribeiro DantasLyana Maria Fernandes SoaresManuella de Macedo CostaAvaliação do estresse postural atravésdo método RulaCamila Carolina B. da Costa QuerinoIsabelle Caroline V. de FariasMarisete de Lourdes V. C. SobrinhaJuliana da Costa SantosCondições ergonômicas em clínicascirúrgico-odontológicasAndréa Carla B. da Costa SantosCelso Luiz Pereira RodriguesBenefícios do tratamento fisioterapêutico nopós-operatório da revascularização domiocárdioMarcos Valério Rocha de OliveiraAna Cristina da N. M. TorresBertran Gonçalves CoutinhoEstresse: um breve panoramaJuan Carlos Viñas CortezMateus Bezerra LimaRafaela Guedes da Nóbrega

Perfil da clientela adolescente encaminhadaà Clínica Escola de Psicologia do UNIPÊMargarete Vicente MendesEdvânia Guedes AraújoTatiana de Cássia NakanoAnálise antropométrica e dispêndioenergético durante uma sessão decapoeiraJuliano Almeida Rocha do AmaralPedro Henrique Marques de LucenaLuciano Meireles de PontesProposta pedagógica problematizadoraâncora para a formação de agentes desaúdeKarla Fernandes de AlbuquerqueMaria do Socorro SilvaKátia Vânia V. Souto MaiorTaxa de infiltração d’água com aplicaçãode diferentes doses de nitrogênioFrancisco J. R. da PaixãoAntônio R. S. de AndradeCarlos A. V. de AzevedoTiciana L. CostaLuciana Façanha MarquesJosé Dantas NetoPsicomotricidade: um passo para venceras dificuldades de aprendizagemEliane Dutra FernandesA moda inscrita no corpo: estética camp eidentidades queersMargarete Almeida NepomucenoCultura de moda: imbricações entre omaterial e o imaterialGabriela Maroja Jales

RESENHASSanta Rita – Patrimônio histórico ecultural da ParaíbaMartha Falcão de Carvalho M. SantanaUm canal entre o cinema e a televisãoAlexandre Menezes Cavalcante Santos

INFORMAÇÕES- UNIPÊ e Linha D’água em Natal- Mostra estadual e homenagem- Erundina na Semana do Psicólogo- Cinquenta anos de teatro- UNIPÊ lidera movimento editorial- Homenagem a Conselheiros Fundadores

Normas para apresentação de trabalhos naRevista do UNIPÊ

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EDITORIAL

Uma revista acadêmica deve caracterizar-se não apenas pelo conteúdo, mas pelaatualidade.

Sem fugir à regra, Revista do UNIPÊ reserva os Temas Especiais da presente edição,situada no campo de Ciências Biológicas e da Saúde, ao principal acontecimento do mundonestes dias de 2009. Trata-se da crise do capitalismo que, originária dos Estados Unidos,repercute sobre todo mundo, inclusive o Brasil.

Dir-se-á que, em alguns países, o reflexo é mais profundo que em outros, mas todoso sentem. Esta a razão dos miniestudos que abrem a presente edição, a cargo do economistaNelson Rosas Ribeiro, agrônomo Joaquim Osterne Carneiro, e nosso editor, José Octáviode Arruda Mello.

Cada um desses situa-se na perspectiva de uma angulação. Enquanto Nelson Rosas,com a autoridade de especialista no tema, focaliza a crise econômica mundial, no sentidomais amplo, o executivo Joaquim Osterne, também historiador, dos quadros do IHGP, detém-se sobre reflexos da chamada “desaceleração sistêmica” no campo dos agronegócios. AJosé Octávio compete analisar a problemática mundial, do ponto de vista de seu principalator que são os Estados Unidos da presidência Barach Obama.

Situando-se no segmento de Biológicas e da Saúde, esta edição do Ano XIII, nº 02,2009, enfileira questões da maior relevância da área, como audiometria, deficiência auditiva,estresse, ergonomia em clínica cirúgico-odontológica e revascularização do miocárdio. Outrasproduções discutem a clínica de Psicologia do UNIPÊ, Análise Antropométrica e DispêndioEnergético durante uma sessão de Capoeira, formação dos agentes de saúde e infiltraçãod‘água.

Trata-se de temas mobilizados por importantes setores do UNIPÊ, como aCoordenação de Pesquisa, confiada à Dra. Maria Antonia Alonso de Andrade, eDepartamentos de Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Pedagogia e Psicologia, a cargodos respectivos coordenadores.

A estes acresçam-se oportuno insight da professora especialista Eliane DutraFernandes sobre psicomotricidade e dois artigos do curso de Design de Moda do UNIPÊ, acargo das professoras mestras Margarete Almeida Nepomuceno e Gabriela Maroja Jales.Versando sobre nova dimensão do corpo - o que se ajusta à moda - este número de CiênciasBiológicas assinala a estréia em Revista do UNIPÊ de um dos mais novos cursos do CentroUniversitário de João Pessoa.

Ao tempo em que as informações reafirmam o compromisso do conjunto dessainstituição com a cultura regional, a seção de resenhas valoriza-se com nomes da melhorcategoria – a historiadora Martha Falcão e o jovem cineasta Alexandre Menezes Santos.

Uma nova roupagem de capa e feição gráfica é o que singulariza mais esta realizaçãodo reitorado José Loureiro Lopes; também à disposição dos interessados pelo site:[email protected].

Flávio Colaço ChavesDiretor de Patrimônio e Finanças

TEMAS ESPECIAIS__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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9A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL E OS REFLEXOSBRASILEIROS

Nelson Rosas Ribeiro/UFPB-PROGEB

A divulgação das estatísticas do quarto trimestre de 2008 causou espanto geral nasautoridades do governo. Os dados são aterradores. O Produto Interno Bruto (PIB) do paíscaiu 3,6%, o que significa que, no quarto trimestre do ano passado o país produziu 3,6%menos do que no trimestre anterior. Esta queda foi a maior desde 1996. A produção industrialcaiu 7,4%. Só não foi pior porque a agropecuária só caiu 0,5%. Constata o IBGE que todosos setores tiveram uma redução da produção. Considere-se que nos três trimestres anterioresa economia vinha crescendo aceleradamente o que fez que a taxa anual, para todo o ano de2008, ficasse em 5,1%, apesar do tombo do final do ano.

Todos se mostraram surpreendidos. Onde está a blindagem dos países emdesenvolvimento? E os BRICs? Onde estão os sólidos fundamentos macroeconômicos e asreservas do país? Ninguém sabia que o desastre estava em marcha?

Eu sabia, juntamente com todos os leitores que acompanham as análises publicadasem nossa coluna de Contraponto. E não temos bola de cristal.

Há uma exceção. Desta vez o Presidente Lula sabia. O decrescimento “já era esperadopela equipe econômica”, disse ele. E por que não avisaram? E por que mentiram e enganarama população? Diante da dura realidade, quem falava em crescimento de 5% em 2009, agorabaixou a mira para “próximo de zero” e, mesmo assim, ainda contando vantagem: “Mesmoque ele (o PIB) seja próximo de zero o Brasil será um dos poucos países do mundo, dosemergentes e dos grandes, que não terá uma recessão”.

Por outro lado, a Ministra Dilma foi obrigada a reconhecer que “o impacto foi violento”e que o primeiro semestre de 2009 será difícil. O otimista Ministro Mantega finalmentereconheceu que está “difícil atingir a meta de 4%, mas acredita que o país crescerá mais de1,5%, como pensa o mercado e que o primeiro trimestre deste ano já será de recuperação.O Ministro Paulo Bernardo tem outra opinião e considera que o trimestre pode ainda sernegativo o que enquadraria o país na definição de “recessão técnica”, o famoso decreto deque já falamos em análises anteriores.

Mais otimista está o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),Marcio Porchman. Para ele, em 2009, não haverá recessão e mesmo, o primeiro trimestredo ano, dificilmente será negativo. Ele justifica sua posição alegando que o mau resultadoobservado foi conseqüência de “fatores pontuais” e do efeito retardado da alta taxa de jurose que estes fatores agora não existem mais. Bela teoria econômica a que inspira a declaraçãodo presidente do Ipea e que norteia a atividade de acessória econômica do Instituto. Empouco tempo ela será posta à prova.

Os dados que continuam a ser divulgados não apóiam estas conclusões otimistas.Em 5 meses, de outubro a fevereiro, a indústria de São Paulo demitiu 237 mil trabalhadores,o que nos coloca no nível de fevereiro de 2007. Só em fevereiro desapareceram 43 milempregos. O seguro-desemprego bateu recordes de requerimento em janeiro, e depagamentos, em fevereiro. Nos dois meses o volume de pagamentos foi 25% maior que nomesmo período do ano passado. O número de horas pagas, em janeiro, caiu 1,8%, em

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10 relação a dezembro. No mesmo período, a ocupação na indústria reduziu-se 1,3%, o piordesempenho desde o começo da série histórica. O faturamento da indústria caiu pelo terceiromês consecutivo. Em comparação com dezembro, a queda foi de 4,3%. Uma pesquisa feitapela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 80% dos empresários consideramque a situação pioraria no primeiro trimestre deste ano. Para todo o ano, o gerente-executivoda unidade de política econômica da CNI pensa que “A tendência é que o crescimento doPIB fique próximo de zero”.

No resto do mundo, a situação continua a se deteriorar. A Organização para aCooperação e o Desenvolvimento (OCDE) considera que todos os países, desenvolvidos eem desenvolvimento, estão sofrendo uma forte desaceleração e inclui o Brasil na lista. Odesemprego nos EUA atingiu 8,1%, o maior nível em 25 anos. Entre dezembro e fevereirodesapareceram, no país, 4,4 milhões de empregos. Estima-se que as famílias americanas jáperderam US$ 16,5 trilhões o que corresponde a um PIB dos EUA. Em 2009, o BancoMundial prevê que serão atirados no desemprego; na América Latina, 6 milhões de pessoas.

Continuamos em direção ao fundo do poço. Só não vê quem é cego ou charlatão.

Contato com o autor:Rua Helena Freire, 553 – Altiplano – João Pessoa/PBCep: 58046-190

A CRISE FINANCEIRA E O AGRONEGÓCIO

Joaquim Osterne Carneiro/ IHGP-ALAN

Analistas e economistas estão convencidos que a atual crise financeira mundial seoriginou do descaso do Federal Reserve e, porque não dizer, do Governo dos EstadosUnidos da América do Norte, como um todo, que se viu sem condições de frear a atuaçãodos grandes bancos, das empresas e das agencias hipotecárias daquele país. Nessas condições,as garantias imobiliárias foram superavaliadas pelos bancos credores, quando uma avaliaçãomais realista demonstra que as garantias oferecidas não cobrem 60% do total da carteiraamericana de créditos imobiliários, ou seja, o denominado subprime imobiliário. O resultadodessa situação teve um efeito dominó, contribuindo para a quebradeira de bancos, corretorase financeiras, determinando o surgimento da recessão econômica que alcançou todo o sistemafinanceiro mundial. De outra parte, a crise contou também com a participação dos países daComunidade Européia, da China e dos países árabes – detentores de grandes reservas emdólares que destinaram suas aplicações em depósitos remunerados a títulos do tesouroamericano – e gradativamente tende, agora, a se instalar no Brasil, influenciando negativamentenossa taxa de crescimento e pouco a pouco alcançando distintos setores da economia, inclusiveo agronegócio.

Falando sobre a agronegócio brasileiro, o Ministro da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, Reinhold Stephanes, em um trabalho intitulado “O Agronegócio em Tempode Crise” (Valor Econômico de 11/02/2009), lembrou inicialmente com muita propriedadeque, além de se sujeitar às intempéries climáticas que periodicamente acontecem, “a agriculturatem que driblar efeitos de crises financeiras. Foi assim ao longo das décadas de 1980 e 1990,

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11com o congelamento de preços, inflação e sucessivos planos econômicos. E agora não édiferente. Enquanto o país acumula recordes nas safras de grãos, surge a crise financeiramundial ameaçando o plantio e a comercialização. Apesar do quadro de dificuldades e deprevisões pessimistas de algumas autoridades e mesmo de especialistas, até o momento oagronegócio brasileiro tem reagido positivamente. Isso se deve ao dinamismo do setor, quesendo a base econômica de mais de quatro mil municípios, proporciona o superávit da balançacomercial e ainda financia o déficit dos demais setores da nossa economia”.

Ao mesmo tempo, informações da Agência CNA – Confederação de Agricultura ePecuária do Brasil - mostram que, em 2008, o nosso país colheu 143,8 milhões de toneladas,ou 9,2% a mais que a safra do ano anterior que igualmente já fora recorde; obteve umrecorde no faturamento bruto, cujo Valor Bruto da Agropecuária foi da ordem de R$ 298,6bilhões; ocorreu um recorde nos preços dos fertilizantes, que dispararam na dianteira doaumento dos custos de produção; as matérias primas destinadas à produção de fertilizantesaumentaram 136,6% em relação à safra anterior; e aconteceu um recorde no endividamento,que foi de R$ 75 bilhões. Convém lembrar que a produção rural responde por mais de 35%das exportações brasileiras.

Segundo o trabalho “2009 Traz Incertezas após um 2008 de Extremos” da AgênciaCNA, de 05/01/2009, “cabe lembrar, ainda, a disparada de preços dos alimentos, aumentoda renda, demanda aquecida e estoques em baixa conjugaram o verbo que todos os paísestemiam em suas economias: retorno da inflação. A pressão inflacionária latente trouxe devolta antigos debates econômicos, como vantagens comparativas na produção de alimentose energia, o neomalthusianismo frente à oferta de alimentos e crescimento da população,mas, principalmente, a cessão de terras para a produção de bioenergia. Para o produtorbrasileiro, somam-se ainda temas como a publicação do Decreto 6.514, de 2008, que tratados crimes ambientais e a escassez de credito púbico e privado. Esses talvez tenham sido ostemas que mais trouxeram preocupação ao produtor rural. Restrições ambientais para tomadade crédito, elevação dos custos financeiros, aumento do grau de risco das operações rurais eescassez de crédito para o financiamento da safra. O cenário agravou-se com a lentidão daresolução do passivo do setor e a pouca abrangência de um longo processo de renegociaçãoque resultou na maior medida provisória já publicada, a MP 432, convertida na Lei 11.775,de 2008. Frustrando parlamentares e produtores rurais, a Lei 11.775 foi incapaz de solucionaro elevado grau de endividamento de curto prazo nas regiões produtoras”.

O maior impacto da crise financeira atual diz respeito à queda generalizada de preçosno mercado das commodities agrícolas, em virtude da diminuição das compras futuras e oaumento verificado no custo de carregamento de estoques. Mesmo assim, a área plantadaem nosso país foi equivalente à do ano anterior, havendo uma estimativa de queda na produçãoda ordem de 8%, o que corresponde a retornar ao nível da penúltima safra, sendo necessáriodestacar que esse recuo é resultante da diminuição da utilização de fertilizantes e de tecnologia.

O problema para 2009 é sem dúvida preocupante e, segundo Reinhold Stephanes,no trabalho anteriormente citado, “O contexto que deixa apreensivos governo e setor rural,indica que o atual modelo de crédito agrícola está esgotado, sendo preciso adotar medidasque perpassem as crises e blindem a agricultura. Para isso, devemos rever as políticas degarantia de preços e do seguro agrícola. Vale lembrar que a ultima reestruturação das dividasdo setor ocorreu, em junho, sob perspectivas extremamente otimistas, com mercado e preçoaquecidos. E esse cenário não se concretizou. Regularizar a situação do produtor junto aoagente financeiro permite que ele volte a ser adimplente e consiga ter acesso ao crédito. A

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12 divida rural se acumula há mais de 20 anos com constantes renegociações. E esta dividasurgia normalmente por duas questões principais: climáticas e de mercado. No caso deproblemas como clima, a baixa cobertura do seguro nos últimos anos acabou endividando oprodutor. Já a questão de mercado ocorre quando o produtor planta com preço bom, masdepois o preço cai e ele não consegue cobrir o custo do plantio. Temos que encontrar umnovo caminho, um novo modelo. Um grupo de especialistas estuda o assunto, reunindo oMinistério da Agricultura, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federaçãodos Bancos, Banco do Brasil e Ministério da Fazenda”.

Diante do exposto, o governo e as lideranças da agropecuária brasileira terão de agiro mais rapidamente possível, levando em consideração que nos próximos 10 anos há umaprevisão de crescimento da demanda no mundo da ordem de 50%, e o Brasil dispõe detodas as condições – terras agricultáveis e tecnologia – para não só garantir o abastecimentointerno, como também ampliar ainda mais as exportações de produtos oriundos do agronegócio,que atualmente alcançam mais de 180 países.

Contato com o autor:Rua Profª. Maria Sales, 140 – apt. 701 – Residencial Atlântico – Tambaú - João Pessoa/PBCEP: 58039-130

OBAMA E OS ESTADOS UNIDOS EM FACE DO MUNDO

José Octávio de Arruda Mello / UNIPÊ-UEPB

Quando da crise brasileira de outubro de 1977, em que o presidente Geisel,neutralizando a ofensiva repressiva do ministro Sílvio Frota, nomeou o novo ministro doExército, General Fernando Bethlem, o comentarista Carlos Castelo Branco, do Jornal doBrasil, teve uma expressão lapidar: “sai o candidato e fica o sistema”.

Ocorre-me perguntar o mesmo, na transição norteamericana de George Bush paraBarack Obama. Temperando as esperanças semeadas pelo novo Chefe de Governonorteamericano, sobreveio dúvida que manifestei ao amigo Chico Pereira Júnior: terápermanecido o sistema?

“Não é o caso”, porém. Desde que, ainda na primeira metade do século XIX, oreformador presidente Andrew Jackson, general defensor de Nova Orleans, na SegundaGuerra da Independência dos Estados Unidos, introduziu o chamado “spoil system” (sistemade espólio), o presidencialismo norteamericano capacitou-se a mudança em profundidade,todas as vezes em que, no topo, a chefia de Governo se altera.

Ao contrário do Brasil, em que a radical mudança dos quadros governamentaisinviabiliza os primeiros anos da administração federal, estadual ou municipal, nos EE.UU. osescalões médios e da base, constituídos por funcionários de carreira, permanecem, mas “acúpula política e direcional é toda alterada”. Assim, abrindo-se a mudanças, “o sistema nãopermanece”.

Nisso uma diferença com a Inglaterra onde mudam apenas os ministros,“permanecendo a estrutura de comando”. Nas conferências de pós-guerra, posteriores aosencontros de Yalta e Potsdam, os soviéticos estranharam que, após a vitória trabalhista de

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13julho de 1945, a delegação britânica permanecesse a mesma, com a única mudança doministro das Relações Exteriores, agora Ernest Bevin.

Como resultado, a orientação anticomunista de Churchill, formalizada no famosodiscurso de Fulton, prevaleceu em toda linha, fomentando a Guerra Fria. Na Grã Bretanha,travado pelo antisovietismo do “Foreign Office”, o Labour Party não foi capaz de estenderao exterior as formulações do Wellfare State, internamente processadas, sob a liderança deAneurin Bevan.

Algo bem diverso processa-se nos “States”. Com Obama, “chegou equipe inteiramentenova”, a começar pelo Departamento de Estado, onde a pragmática Ellery Clinton esposa doex-presidente Bill Clinton, e candidata derrotada nas prévias do Partido Democrata, substituia empedernida Condolezza Rice. No nevrálgico setor de meio ambiente, a presença deambientalista, recrutado aos altos quadros universitários, indica a possibilidade de as fontesde energia limpa substituírem, progressivamente, a combustão de petróleo, gás e carvão que,no primeiro mandato, Bush pretendeu estender até o santuário do Alaska.

Dentro desse quadro, é fácil verificar que os democratas de Barach Obama não sãoa mesma coisa dos republicanos de George Bush. Apesar de autores como Pitrim A. Sorokin,em As Tendências Básicas de Nossa Época (1966) apontarem para convergência entrerepublicanos e democratas e até, no plano externo, para soviéticos e americanos,crescentemente aproximados, os dois grande partidos dos Estados Unidos têm-se distinguido,progressivamente.

***

Uma das expectativas favoráveis à possível renovação empreendida pelo presidentenorteamericano Barach Obama consiste em que, nas últimas décadas, republicanos edemocratas afastaram-se, em torno da montagem de diversificados sistemas de poder.

O final dos anos sessenta acentuou a dicotomia.Os republicanos apareceram com Nixon – cujo chefe de Departamento de Estado,

Henry Kiessinger, oficializou as ditaduras latinoamericanas do cone sul – Ronald Reagan –que chegou a invadir a ilha de Granada – e, enfim, George Bush.

A política deste consistiu em recorrer à força para, nas palavras do cientista políticofrancês Gilles Kepel, “coibir o desenvolvimento autônomo do mundo árabe, criar uma zonade segurança dos EUA e um ambiente regional favorável a Israel”. A desastrada invasão doIraque, alicerçada em premissas que se revelaram falsas, inseriu-se nesse contexto.

Desde John Kennedy, cujo assessor Walter Liepman buscou substituir, em face dossoviéticos, o qualificativo de “inimigos” por “adversários”, os democratas evoluíram noutradireção. Seu ponto mais alto sobreveio com Jimmy Carter cuja esposa, Rosalyn, veio aoBrasil, em 1978, exigir respeito aos direitos humanos pelo Governo militar do General Geisel.Embora comprometido pelo escândalo da assistente Monica Levinsky, a presidência BillClynton não se apartou dessa postura

Nesse início de ano de 2009, os Estados Unidos depararam-se com sérios problemasinternos e externos. Internamente, a atual crise do capitalismo terá de ser enfrentada por“economia de mercado, democrática, e socialmente regulada”. Tal significa, como entendidopelos economistas nordestinos Nelson-Elivan Rosas Ribeiro, “O regresso a Keynes”. Ora,

essa tradição, que chegou ao Brasil com a era Vargas, é democrata, por mergulhar raízes noNew Deal de Franklin Roosevelt, em 1932.

O problema externo é mais delicado, em razão das “repercussões internas”. Nesseparticular, Obama sabe que o peso econômico e eleitoral da comunidade judaica americanao impede afastar-se de Israel, no Oriente Médio. Mas isso não significa apoiar, irrestritamente,o judaísmo, em sua crescente agressividade.

A questão se complica ante a fraqueza da chamada Autoridade Palestina, remanescentedo antigo Fatah, e espremida entre os extremistas do Hamas e do Hesbolah. Obama contudo,já acenou para entendimentos com o Irã cuja presumível ameaça lastreia o militarismoisraelense.

O chamado “eixo do mal” torna-se, pois, coisa do passado, por corresponder à piortradição puritana da cultura norteamericana. O que é democrático, por ajustar-se à Históriada Suprema Corte, das presidências Marshall e Warren, é a questão dos prisioneiros deGuantánamo, objeto das primeiras iniciativas do novo Presidente.

Temos assim em Obama, como “negro de ascendência islâmica”, providências iniciaisque bem se encaixam. Em uma das melhores páginas do segundo tomo de Um EstudoCrítico de História (2001), Hélio Jaguaribe sustentou que a nova ordem mundial,necessariamente multipolar, “não pode e não deve” ser antiamericana, por respeitar os“legítimos interesses”, inclusive militares, dos EE.UU.

Essa combinação entre legitimidade interna e “pax universalis” é o que se espera dopresidente Barach Obama. Nesse contexto, a “pax” americana, imposta pelos tanques ecanhões, deve ser substituída por paz mundial, construída pela diplomacia. Nisso se incluidescompressão em face do regime comunista de Cuba que todos aplaudiremos quando chegar.

Contato com o autor:email: [email protected]

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17AUDIOMETRIA EM TRABALHADORES DO SETORINDUSTRIAL

Ana Cristina Montenegro/UNICAMP/UNIPÊ/UFPEArllene Dayana V. da Silva/UNIPÊAzuíla da Silva Sousa/UNIPÊDoriella Sobreira de C. Gouveia/UNIPÊLuiza Kelly Formiga Araújo/UNIPÊMariselma de Vasconcelos Cavalcante/UNIPÊRachel Limeira de Alencar/UNIPÊSimone Gomes de Lima/FIBRASA-PB

RESUMO

O objetivo deste estudo é demonstrar a importância da audiometria em trabalhadoresde uma indústria, antes de uma transferência de setor de trabalho. Para tal mensuração, foiutilizada uma amostra de 15 trabalhadores, que foram submetidos à aplicação de umquestionário e a uma nova audiometria, a fim de que os dados fossem comparados com assuas audiometrias de admissão na indústria. Através dos resultados obtidos, foi constatadoque, a maioria dos funcionários (53,3%) não apresenta nenhum problema de rebaixamentodo limiar auditivo, embora uma parcela dos funcionários (46,7%) apresente diminuição daacuidade auditiva, sendo a maior incidência no ouvido esquerdo, porém, a tendência é osurgimento de futuras perdas auditivas.Palavras-chave: Ruído ocupacional, perda auditiva, susceptividade individual.

AUDIOMETRY FINDINGS IN WORKERS OFINDUSTRIAL COMPANY

ABSTRACT

The aim of this study was to demonstrate the importance of audiometry in workers ofan industry, before the transference of a working section. A sample of 15 workers was usedin order to achieve such an analysis. The workers were submitted to the application of aquestionnaire and a new audiometry so that the results could be compared with their admissionaudiometries in the industry. Through the obtained results, it was verified that most of theemployees (53,3%) do not have any problem of lowering of the auditory threshold, althougha portion of the employees (46,7%) presents decrease of the auditory sharpness, being thelargest incidence in the left ear. Hence, there may occur the appearance of future auditorylosses.Key-words: Occupational noise, hearing loss, Occupational audiometry.

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18 Introdução

A audição é o sentido que põe os seres humanos em contato entre sí e com a natureza,pois é por meio dela que ocorre a percepção do som. A identificação precoce da perdaauditiva induzida por ruído (PAIR) em trabalhadores de indústrias é atualmente um novocampo da audiologia ocupacional, cuja vantagem principal é a conservação da integridadeauditiva desses trabalhadores.

O ruído é um dos agentes nocivos à saúde dos trabalhadores, constituindo a maiorcausa de perda auditiva ocupacional. A dose de exposição ao ruído pode ocasionar mudançastemporárias de limiar, que é a fadiga auditiva; o trauma acústico, que é uma perda auditivasúbita, ou uma mudança permanente de limiar, chamada de PAIR, alteração esta decorrentede exposição prolongada (por mais de oito horas diárias) a intensos níveis de ruído (maiorque 85dB), causando assim perda auditiva sensorioneural, irreversível, quase sempre bilateral,progressiva, atingindo no seu início freqüências agudas.

A PAIR advém do acúmulo de exposições a ruídos contínuos ou intermitentes, quesão repetidos constantemente, por um período de muitos anos e, em sua maioria, depende dasusceptibilidade individual.

Para evitar esta perda auditiva, os trabalhadores que ficam expostos a intensos níveisde pressão sonora diariamente devem fazer uso de equipamento de proteção individual (EPI).No caso, esse equipamento é o protetor auricular. Para a legislação trabalhista, o empregadoré obrigado a fornecer, instruir, treinar, fiscalizar e repor os EPI’s danificados, sendo deresponsabilidade do trabalhador usá-lo e conservá-lo.

No caso específico da FIBRASA, indústria que fabrica tapete e fibra de Sisal,localizada no município de Bayeux, Estado da Paraíba, os dois setores que não estão expostosa ruídos são: Revisão e Escritório. Os demais setores são: Mecânica, Fiação, Tecelagem(que contém espuladeiras e teares), Emborrachamento, Laboratório Químico, Armazém (ondefica a estiva e os operadores de empilhadeiras), Batimento e Caldeira. Na referida indústria,todos os funcionários, trabalhando ou não em setor com exposição de ruído, são obrigadosa passarem por uma avaliação audiológica, ou seja, audiometria de admissão.

Este trabalho enfoca o estabelecimento de uma perda auditiva em trabalhadores quesão transferidos de setor de trabalho sem, no entanto, submeterem-se a uma nova audiometria,pois se o novo setor for de maior ruído, o indivíduo corre o risco de adquirir perda em suaaudição (cada aumento de 3 dB na intensidade do ruído requer um tempo de exposiçãoreduzido pela metade). Será abordado com mais ênfase o ruído como o agente causador daperda, sendo considerado também outros fatores ocupacionais que podem contribuir nestaalteração.

Nos últimos anos, os empresários brasileiros vêm enfrentando problemas com oaumento progressivo de ações indenizatórias cíveis e trabalhistas causadas por perdas auditivasocupacionais. Portanto, com base nos resultados obtidos na pesquisa será traçado o perfilaudiológico dos trabalhadores da indústria que foram submetidos à mudança de setor detrabalho, sem realização de uma nova audiometria, verificando assim a presença de perdaauditiva, ou não, devido à mudança de setor. Evitando, desta forma, que o problema seagrave, melhorando a qualidade de vida e produtividade do trabalhador e diminuindo o riscode indenizações para o setor industrial.

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19A audição é definida como a percepção de certa classe de estímulos vibratórios quecaptados pelo ouvido, vão impressionar a área cerebral correspondente, tomando então oindivíduo consciência deles (SEBASTIAN, 1998, p.30).

A audição humana se processa graças à ação do chamado “aparelho auditivo”, ouseja, um conjunto de estruturas com funções diferentes e complementares que resultam nacapacidade de uma pessoa perceber e entender um som (MENEZES; PAULINO apudSALIBA, 2001, p.67).

Com o passar do tempo, a acuidade auditiva pode diminuir em decorrência dedoenças, exposição ao ruído, uso indiscriminado de medicamentos, estresse, predisposiçãogenética, além de fatores nutricionais, dando lugar às perdas auditivas induzidas por ruído econtribuindo para acelerar a presbiacusia em nossa sociedade, bombardeada pela poluiçãosonora (RUSSO apud LICHITIG; CARVALLO, 1997, p.41)

O ruído é o fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variaçõesde pressão (no caso ar) em função da frequência, isto é, para uma dada freqüência podemexistir, em forma aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões (SALIBA,2001, p.16).

Para o autor supracitado, o ruído pode ser ainda classificado em três tipos específicos:ruído contínuo, ruído intermitente e ruído de impacto ou impulsivo. Do ponto de vista técnico,ruído contínuo é aquele cujo NPS (nível de pressão sonora) varia 3dB durante um períodolongo (mais de 15 minutos) de observação, como por exemplo: o ruído dentro de umatecelagem. Já o ruído intermitente é aquele cujo NPS varia até 3dB em períodos curtos(menor que 15 minutos e superior a 0,2 segundos). A NR-15 ( Norma Regulamentadora 15,da portaria 3214 ) define ruído de impacto como picos de energia acústica de duraçãoinferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo.

A NR-15 estabeleceu que o Limite de Tolerância é a intensidade máxima ou mínimarelacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará danos àsaúde do trabalhador durante a sua vida laboral (SALIBA, 2001, p.35).

Saliba (2001) descreve que, para a ACGIH (American Conference ofGovernamental Industrial Higienists), os limites de exposição ao ruído referem-se aosníveis de pressão sonora e aos tempos de exposição que representam as condições sob asquais se acredita que a maioria dos trabalhadores possa estar exposta repetidamente, semsofrer efeitos adversos à sua capacidade de ouvir e de entender uma conversação normal. AACGIH estabelece ainda que o limite de tolerância para o ruído não protege todos ostrabalhadores dos efeitos adversos da exposição ao ruído.

A dose de ruído é uma variante do nível equivalente, com o tempo de medição em8h, que é (ou deveria ser) a jornada diária máxima de trabalho considerado para definiçãodos limites de tolerância (SANTOS; MATOS, 1997, p.12).

Para Santos e Okamoto (1997), os estudos referentes aos efeitos extra-auditivos daexposição a ruído auditivo possuem evidências crescentes de sua nocividade, especialmentena produção de alterações neuropsíquicas, tais como insônia, cefaléia e irritabilidade. Outrosdesses principais efeitos são: alterações cardiocirculatórias, alterações gastrointestinais, efeitosna habilidade e alterações na visão.

Segundo Saliba (2001), os efeitos auditivos podem ser divididos em traumas acústicos,efeitos transitórios e efeitos permanentes. A perda auditiva permanente tem sido conhecidapopularmente como “PAIR” (perda auditiva induzida por ruído).

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20 A PAIR é uma condição específica com sintomas estabelecidos e achados objetivos,e algumas de suas características principais são descritas a seguir:

- A perda auditiva é irreversível, neurossensorial e predominantemente coclear.- O portador deve ter história prolongada de exposição a níveis de ruído elevados(>85

dB (A)/8horas/ dia), suficientes para causar uma perda no nível e configuração observadosnos testes audiológicos.

- A perda auditiva deve ter se desenvolvido gradualmente num período de, geralmente,seis a 10 anos de exposição.

- A perda auditiva deve ter se iniciado nas altas freqüências audiométricas (ordemcaracterísticas de 6,4,8,3,2 ou 4,6,8,3,2 kHz) e ser equivalente nos dois ouvidos.

- Os resultados dos testes e reconhecimento de fala devem ser consistentes com osresultados da audiometria tonal.

- A perda auditiva deve estabilizar-se, quando a exposição a ruído for eliminada.(LEMASTERS; MORATA apud COSTA, et al. 2001, p.3).

A perda auditiva permanente devido ao ruído é descrita como ocorrendoprimeiramente entre 3.000 e 6.000 Hz (altas freqüências), sobretudo em 4.000 Hz, em funçãoda própria anatomia e da própria dinâmica de funcionamento do aparelho auditivo humano.(SALIBA, 2001,p.72).

A Lei orgânica da saúde nº 8.080, de setembro de 1990, no seu artigo 6º conceituaa saúde do trabalhador como

um conjunto de atividades que se destina, através das ações devigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção eproteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa arecuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidosaos riscos e agravos advindos das condições de trabalho e descreveo elenco a serem desenvolvidas. (BERNARDI, JUNIOR apudBERNARDI, 2003, p.17)

O Programa de Conservação Auditiva (PCA) é um conjunto de ações coordenadasque tem por objetivo prevenir ou estabilizar as perdas auditivas ocupacionais. Por se tratarde um conjunto de ações coordenadas, o PCA é um processo contínuo e dinâmico deimplantação de rotinas nas empresas. Portanto, enquanto existirem riscos para a audiçãopresentes nos processos produtivos, há a necessidade de se buscar sua redução ou eliminação.(BERNARDI, JUNIOR apud BERNARDI, 2003, p.49).

Para os autores supracitados, os principais objetivos do PCA são: melhorar a qualidadede vida do trabalhador, evitando a surdez e reduzindo os efeitos extra-auditivos causadospela exposição a níveis de pressão sonora elevados e outros agentes de risco para a audição;identificar empregados com patologias de orelhas e audição não relacionadas ao trabalho,encaminhado-os para tratamento adequado; diagnosticar precocemente os casos de PerdasAuditivas Ocupacionais, estabelecendo medidas eficazes, preservando a saúde dostrabalhadores; adequar à empresa às exigências legais.

Com relação ao controle do ruído, Okamoto e Santos (1999) dividiram a intervençãoem três níveis: intervenção na fonte sonora, intervenção sobre a propagação (trajetória) eintervenção sobre o trabalhador.

Segundo Saliba (2001), as medidas na fonte e na trajetória deverão ser prioritáriasquando viáveis tecnicamente. Não sendo possível, a controle do ruído na fonte e na trajetória,

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21deve-se, como último recurso, adotar medidas de controle no trabalhador como complementoàs medidas anteriores, ou quando não forem elas suficientes para corrigir o problema. Dentrodo controle no homem, está o uso do EPI (equipamento de proteção individual).

Devemos ressaltar que a simples utilização do EPI não implica a eliminação do riscode o trabalhador vir a sofrer diminuição da capacidade auditiva. Os protetores auriculares,para serem eficazes, deverão ser usados de forma correta e obedecer aos requisitos mínimosde qualidade representada pela capacidade de atenuação, que deverá ser devidamente testadapor órgão competente. O uso constante do protetor é importante para garantir a eficácia daproteção (SALIBA, 2001, p.83). O autor afirma ainda, que os protetores auriculares deverãoser capazes de reduzir a intensidade do ruído abaixo do limites de tolerância.

As atividades seguidas fazem parte do trabalho do fonoaudiólogo dentro da equipede saúde da empresa:

- organização dos exames para subsidiar o diagnóstico médico;- análise do panorama epidemiológico de perdas auditivas e estabelecimento deprioridades para projetos de melhorias ambientais;- a elaboração de tabelas de indicação de protetores;- controle de seu uso por parte dos trabalhadores;- elaboração de campanhas de saúde auditiva, palestras e treinamentos periódicospara a correta utilização dos protetores e sensibilização dos trabalhadores para aprevenção dos riscos para a audição.- veiculação constante de informações relacionadas às ações de prevenção das perdasauditivas por meio de todos os recursos de mídia disponíveis na empresa (boletinsperiódicos, jornais, cartazes, internet, etc.).- participação juntamente com a equipe de engenharia de segurança da elaboraçãode propostas e desenvolvimento de projetos de melhorias ambientais e medidasadministrativas para a redução da exposição.- Adequação do PCA da empresa a todas as exigências legais por meio dadocumentação e registro adequado de todas as ações realizadas. (BERNARDI;JUNIOR apud BERNARDI, 2003, p.25).A avaliação audiométrica dos trabalhadores ainda é a maneira mais efetiva de

determinar o sucesso de um Programa de Controle Auditivo (PCA) em relação à prevençãoda perda auditiva induzida por níveis de pressão elevados. Com a comparação anual dosresultados audiométricos pode-se detectar mudanças ou reforços nas intervenções propostaspelo PCA, pois, deste modo encontra-se as áreas em que a proteção auditiva (coletiva e/ ouindividual) tenha falhas. (SANTOS apud BERNARDI, 2003, p.99).

Segundo a autora acima citada, através da audiometria é possível determinar o limiarmínimo de audição, explorar o campo auditivo por meio de provas e identificar possíveisperdas auditivas. Sendo assim, a avaliação audiométrica deve ser realizada dentro de critériosrigorosos, para que os dados obtidos sejam confiáveis, e para que métodos adequados decomparação de resultados sejam aplicados.

Os audiogramas básicos são obtidos quando o PCA está sendo implantado noprocesso de admissão do trabalhador. O teste é realizado com 12 horas de repouso auditivo,para afastar as alterações temporárias de limiar. Por outro lado, os audiogramas demonitoramento devem ser obtidos pelo menos anualmente, e os testes são realizados no finaldo turno de trabalho, de maneira que as alterações temporárias na audição, devidas a controle

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22 insuficiente de ruídos ou uso inadequado de protetores auditivos, não passem despercebidos(SANTOS apud BERNARDI, 2003, p.99).

A autora supracitada afirma ainda: os resultados do audiograma de monitoramentodevem ser comparados imediatamente com o audiograma básico, para verificar algumaalteração. Segundo esta padronização para confirmação dos achados dos audiogramas demonitoramento, é sugerido que o exame seja repetido quando houver uma alteração de limiarde 15 dB ou mais nas frequências testadas em qualquer um dos ouvidos (audiograma detestes novos). Se a alteração de limiar persistir, o teste deve ser realizado novamente dentrode 30 dias e o trabalhador deverá estar em repouso auditivo de 12 horas. Este será, portanto,o audiograma de confirmação. Se no mesmo, houver indicação de alterações de limiarespermanentes, será solicitada uma revisão da etiologia da perda e serão tomados todos osprocedimentos adequados.

Material e método

O presente estudo foi realizado no segundo semestre de 2004, em uma indústria detapete e sisal (FIBRASA) localizada na cidade de Bayeux, no estado da Paraíba.

A população estudada constou de 15 funcionários, sendo 11 do sexo masculino e 04do sexo feminino, com a faixa etária variando de 20 a 40 anos.

Primeiramente, relacionaram-se os indivíduos que foram transferidos de um setorque não tinha ruído ou que a presença deste era mínima, para o setor de Tecelagem (maiorruído), onde a medição foi realizada com um decibelímetro, modelo MFL 1325 made inBrasil, fabricado pela Minipa, onde se constatou que o ruído presente neste setor variavaentre as intensidades de 85 e 100dB, sendo esta medição realizada pela engenheira desegurança do trabalho. Em seguida, foi realizado um questionário com o objetivo de coletarinformações sobre a história clínica dos funcionários. Posteriormente, foi realizada ameatoscopia (visualização do meato acústico externo). Após a anamnese e a meatoscopia, oindividuo era submetido à audiometria, cujas respostas foram registradas graficamente nafolha do audiograma. O exame foi realizado em cabine acústica com um audiômetro com adevida calibração acústica , realizada em 21 / 06 / 2004, da marca Midimate, modelo 622,fabricado pela Madsen Eletronics, encontrando-se dentro dos critérios de padronização doConselho Federal de Fonoaudiologia. A técnica empregada para o exame foi de Hood. Aclassificação adotada foi a de Davis e Silverman (1970): onde é considerada audição normal(0 – 25dB); grau leve (26 – 40dB); moderado (41 – 70dB); grau severo (71– 90dB); grauprofundo (91 ...).

No começo, foi realizado apenas audiometria por via aérea nas frequências de 500 a8.000Hz. Se fosse detectado qualquer comprometimento a partir de 30dB (entre 500 e4.000Hz) a audiometria seria, então, realizada por via óssea.

Quando era verificada uma perda auditiva, mesmo isolada em algumas frequências, oindividuo seria orientado a procurar um médico otorrinolaringologista para avaliaçãoaudiológica completa.

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SETOR n %

Preparação 3 20,0 Revisão 7 46,6 Embalagem 1 6,7 Tinturaria 1 6,7 Fiação 2 13,3 Limpeza 1 6,7

TOTAL 15 100,0

Tabela 2 – Distribuição de funcionários, de acordo com a quantidade de horas trabalhadasdiariamente nos três turnos na FIBRASA, João Pessoa, 2004.

QUANT. DE HORAS n % 0 - 4 - - 5 - 8 14 93,3

9 - 12 1 6,7 13 - 16 - - TOTAL 15 100,0

Tabela 3 - Distribuição de funcionários que utilizam o protetor auricular, segundo o tipo,João Pessoa, 2004.

n*

TIPO MUITAS VEZES

%

Plug 13 86,7 Concha 2 13,3 Conjugado - -

TOTAL 15 100,0

Resultados

Os resultados estão demonstrados nas tabelas 1,2,3 e 4, que estão de acordo comas respostas dos funcionários ao questionário aplicado. As tabelas 5,6 e7 estão relacionadasaos resultados dos audiogramas atuais de admissão.

Tabela 1- Distribuição de funcionários da indústria FIBRASA, segundo o setor de origem,João Pessoa, 2004.

* Não se obteve nenhuma resposta em relação às frequências de algumas vezes e poucas vezes.

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24 Tabela 4 - Distribuição de funcionários da FIBRASA, segundo queixas auditivas apresentadas,João Pessoa, 2004.

QUEIXA n* % Cefaléia 7 29,2 Tontura 1 4,2 Insônia 1 4,2 Otalgia 1 4,2 Zumbido 1 4,2 Irritabilidade 2 8,3 Diminuição de audição 2 8,3 Prurido 2 8,3 Nenhuma 7 29,2

TOTAL 24 100,0 * No questionário realizado, um trabalhador respondeu que tinha dois tipos de queixas (Cefaléia e

Prurido); outro respondeu que tinha Cefaléia e Irritabilidade, e um funcionário respondeu que possuiatodas as queixas já perguntadas.

Tabela 5 – Distribuição de funcionários, segundo o estado auditivo, João Pessoa, 2004.

ESTADO AUDITIVO*

n

%

OE normal e OD deficitário 1 6,6

OD normal e OE deficitário 4 26,7

Ambos os ouvidos normais 6 40,0

Ambos os ouvidos deficitários 4 26,7

TOTAL 15 100,0

* Considera-se OE como Ouvido Esquerdo e OD como Ouvido Direito.

Tabela 6 – Distribuição de funcionários, segundo a diminuição auditiva nas frequênciasrelacionadas à PAIR, na orelha esquerda, João Pessoa, 2004.

FREQUÊNCIA(KHz) N %

3 1 6,7

4 - -

6 2 13,3

3 e 4 - -

3 e 6 3 20,0

4 e 6 1 6,7

3, 4 e 6 - -

Nenhuma 8 53,3

TOTAL 15 100,0

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25OBS.: Com relação à orelha direita, apenas um funcionário apresentou déficit nasfreqüências de 3, 4 e 6 KHz.

Tabela 7 – Distribuição de funcionários, segundo o rebaixamento da intensidade em decibéisnas frequências da PAIR, no ouvido esquerdo, nos três turnos diários da FIBRASA, JoãoPessoa,2004.

REBAIXAMENTO(dB)*

5

10

15

TOTAL

FREQUÊNCIA

n % n % N % n %

3 1 16,7 - - 1 100 2 25

4 - - - - - - - -

6 2 33,3 1 100 - - 3 37,5

3 e 4 - - - - - - - -

3 e 6 2 33,3 - - - - 2 25

4 e 6 1 16,7 - - - - 1 12,5

3, 4 e 6 - - - - - - - -

TOTAL 6 100 1 100 1 100 8 100

* Um funcionário teve um rebaixamento de 15 dB na frequência de 3KHz e de 5dB na frequência de 6KHz.Seis funcionários não apresentaram rebaixamento nestas frequências da PAIR e os outros dois nãoapresentaram rebaixamento em nenhuma frequência no novo exame realizado.

Discussão dos resultados

Na tabela 1, observa-se que a maioria dos funcionários (46,7%) advinda do setor de“revisão” (setor com ausência de ruído) sendo estes, posteriormente, transferidos para osetor de “tecelagem”, que é um dos setores de maior ruído. Seria, portanto necessária arealização de uma nova audiometria com estes trabalhadores, antes da mudança efetiva desetor, conforme relata (SANTOS, apud BERNARDI 2003).

De acordo com a tabela 2, percebe-se que grande parte do percentual dos funcionários(93,3%) trabalha em um período de 5 a 8 horas diárias, estando assim, dentro dos padrõespermitidos de exposição ao ruído, o que está em consonância com Matos e Santos (1997).

Diante da tabela 3, constata-se que houve unanimidade quanto ao uso do protetorauricular durante toda a jornada de trabalho. Fator este importante para garantir a eficácia daproteção, segundo afirma (SALIBA, 2001).

Segundo a tabela 4, dos funcionários que apresentaram queixas auditivas, as de maiorincidência são cefaléia (29,2%) e irritabilidade (8,3%), sendo classificados por Okamoto eSantos (1997) como queixas extra auditivas. Constatou-se ainda uma relevante incidência(8,3%) de diminuição da audição.

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26 Na tabela 5, observa-se que 60% dos indivíduos entrevistados apresentam um déficitauditivo em um, ou ambos os ouvidos, embora todos façam uso do EPI, conforme a tabela 3,e estejam dentro do limite de tolerância citado por (SALIBA, 2001).

Verifica-se na tabela 6, que sete funcionários apresentam diminuição auditiva nasfrequências entre 3 e 6 KHz, na orelha esquerda, estando condizente com a afirmação deSaliba (2001) na qual o mesmo, descreve que as primeiras frequências auditivas atingidassão as mais altas (3, 4 e 6 KHz).

De acordo com a tabela 7, 37,5% dos funcionários possuem um rebaixamento de 5ou 10 dB na frequência de 6 KHz e 25% apresentam rebaixamento de 5 ou 15 dB apenas nafrequência de 3 KHz e 25% possuem rebaixamento de 5 dB na frequência de 3 e 6 KHz,embora todos façam uso de EPI (constatado na tabela 3). Tais índices de rebaixamentoauditivos são condizentes com a afirmação de (SALIBA, 2001).

Considerações finais

Diante de todas as informações apresentadas, observou-se que há a necessidade darealização de uma nova audiometria em trabalhadores que são submetidos à mudança desetor dentro de uma indústria, como na FIBRASA. Por exemplo, o uso do equipamento deproteção individual durante uma jornada de trabalho de 8 horas diárias não é totalmenteeficaz na prevenção de rebaixamentos auditivos ou de possíveis perdas auditivas induzidaspor ruído (PAIR). Portanto, o que justifica tal afirmativa é o fato de 60% dos funcionáriosavaliados possuírem déficits de audição; em pelo menos uma das orelhas.

Um percentual considerável dos trabalhadores transferidos para o setor mais ruidosoda FIBRASA (tecelagem), teve como setor de origem a revisão, setor este, que não possuiruído algum. Portanto, seria de extrema importância, a realização de uma nova audiometrianesses funcionários, para que se pudesse averiguar com precisão, se os mesmos estavamaptos a trabalhar em um setor com tão altos níveis de ruído.

Na realização de novas audiometrias na amostra pesquisada, pode-se verificarrebaixamento dos limiares auditivos, com características de PAIR(por atingir principalmenteas freqüências de 3, 4 e 6 kHz) em cerca de 46,7% dos trabalhadores. Através dos dadoscoletados, foi possível constatar também as principais queixas extra-auditivas, tais comocefaléia e irritabilidade, bem como as queixas auditivas, ambas relacionadas à exposição aoruído.

Esta pesquisa possibilitou perceber a importância do profissional fonoaudiólogo naparticipação da equipe multidisciplinar da referida indústria, uma vez que o mesmo realizaexames audiométricos periódicos que compõem um conjunto de ações preventivas em favorda saúde audiológica e qualidade de vida dos funcionários.

Referências

BERNARDI, Alice P. A. Audiologia ocupacional. São Paulo: Pulso, 2003.

CARVALLO, Renata M. M. LICHIIG, Ida. Audição: Abordagens atuais. São Paulo: Pró-Fono, 1997.

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27COSTA, Everaldo A.; et al. Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Rio de Janeiro: Revinter,2001, v. 2..

MATOS, Marcos P.; et al. A. Ruído, riscos e prevenção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

SALIBA, Tuffi M. Manual prático de avaliação e controle do ruído. 2. ed. São Paulo:LTR, 2001.

Recebido: 22.03.2005Avaliado: 10.09.2007

Contato com o autor:email: [email protected]

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28 PROCEDIMENTOS PEDIÁTRICOS FRENTE À HIPÓTESEDIAGNÓSTICA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Adriana Ferreira Potiguara/UNIPÊCassandra Ribeiro Dantas/UNIPÊLyana Maria Fernandes Soares/UNIPÊManuella de Macedo Costa/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi identificar e investigar os procedimentos clínicos adotadospelos médicos pediatras da cidade de João Pessoa, diante de sintomas auditivos e porconseguinte, aponta os procedimentos mais utilizados por estes especialistas. Foi utilizada ementrevista semi-estruturada com 10% dos pediatras atuantes na capital. Para se obter osresultados, os pediatras investigam a audição dos pacientes entre 0 e 6 meses, e depoisencaminharam para os especialistas quando a mãe queixa-se da audição do seu filho, criançaconsiderada de alto risco para audição e suspeitas durante a avaliação de rotina. Constatou-se que esse encaminhamento refere-se, na maioria dos casos, ao profissionalotorrinolaringologista (43,5%), estando o encaminhamento ao fonoaudiólogo em segundolugar, porém com uma porcentagem de 33,5%.Palavras-chave: Audição, pacientes, pediatras.

PEDIATRIC PROCEDURES BEFORE THE DIAGNOSTICALHYPOTHESIS OF HEARING HANDICAP

ABSTRACT

This research aimed at identifying and investigataing the clinical procedures adoptedby the pediatric physicians in the city of João Pessoa before hearing symptoms and as a result,to show the procedures mosly used by these experts. A semi-structured intérview wasaccomplished with 10% percent of the activist pediatricians of the city. In order to obtain theresult of zero to six-month-old babies, the pedriatricians assessed the patients´ hearing abilityand then they sent these assessments to experts when the mothers complained about theirbabies´ audition, particularly when the child was considered at high risk in terms of hearingduring assessment routine. It was observed that such an assessement was firstly carried outby 43% of the otorhinolaryngologist and then 33,5% of the phonoaudiologist.Key-words: Hearing, patients, pediatricians

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29Introdução

A audição desempenha um papel tão fundamental para a educação normal e odesenvolvimento global da criança, que sua falta pode ser devastadora. Ela é necessária paraa aquisição da linguagem e da fala, para o reconhecimento dos sons, para a identificação dosobjetos e eventos, e para a interiorização de conceitos.

Sendo o pediatra um dos primeiros profissionais a entrarem em contato com o neonato,é importante que o mesmo esteja ciente sobre o desenvolvimento da função auditiva e linguagemda criança. E, suspeitando de qualquer irregularidade no desenvolvimento dessas funções,encaminhe a criança para avaliação audiológica, pois a identificação e confirmação precoceda perda auditiva irão promover um melhor desenvolvimento da linguagem.

Devido à importância do pediatra e sua colaboração na intervenção precoce emcrianças com possíveis alterações auditivas, surgiu o interesse em realizar uma pesquisa sobreos procedimentos utilizados por estes especialistas diante destas alterações. O objetivo geralé investigar os procedimentos clínicos adotados pelos médicos pediatras da cidade de JoãoPessoa diante da hipótese diagnóstica da Deficiência Auditiva. Os objetivos específicos sãoidentificar os procedimentos pediátricos adotados diante de sintomas auditivos e apontarquais os procedimentos mais utilizados por estes médicos frente à hipótese diagnóstica dedeficiência auditiva.

Desenvolvimento do sistema auditivo

Segundo Northern e Downs (1989), a compreensão do desenvolvimento embriológicodo ouvido ajuda o médico em seu diagnóstico e o audiologista em seu plano de identificaçãoe tratamento precoces da perda auditiva. Portanto, quando se tem conhecimento do esquemade desenvolvimento pré-natal, tornam-se mais fáceis a suspeita de surdez, seu diagnóstico etratamento. As principais transformações no desenvolvimento do ouvido ocorrem no úteroda mãe, primeiramente como embrião e posteriormente como feto, entretanto odesenvolvimento da estrutura auditiva não cessa nem está totalmente completo na hora donascimento.

Intervenção precoce da deficiência auditiva

De acordo com Azevedo (1997), a integridade anatomofisiológica tanto na porçãoperiférica quanto central do Sistema Auditivo compõe um pré-requisito para a aquisição edesenvolvimento normal da linguagem. O período considerado crítico para o desenvolvimentodas habilidades auditiva e de linguagem são os primeiros anos de vida, pois é durante esteperíodo que ocorre o processo de maturação do sistema auditivo central e a estimulaçãoneste primeiro ano é decisivo para o desenvolvimento da linguagem.

A avaliação comportamental da audição no primeiro ano de vida pode proporcionarinformações importantes sobre o Sistema Auditivo tornando possível, concomitantemente àavaliação eletrofisiológica, o diagnóstico precoce dos distúrbios da audição, sendo estes,tanto de acuidade auditiva quanto de processamento auditivo central. Portanto, o diagnóstico

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30 realizado durante o primeiro ano de vida possibilita a intervenção médica e/ou fonoaudiológica,ainda no período crítico de maturação e plasticidade funcional do Sistema Nervoso Central,admitindo um prognóstico mais propício relacionado ao desenvolvimento global da criança.

Em relação ao período entre a suspeita da deficiência auditiva pelos familiares e odiagnóstico audiológico, Azevedo (1997) relata que este ainda permanece muito longo. Apesarda suspeita da perda auditiva ocorrer durante o primeiro ano de vida, na maioria das vezes odiagnóstico ocorre apenas entre o segundo e o terceiro ano de vida e a intervençãofonoaudiológica após o terceiro ano, perdendo-se assim o período crítico de estimulação.Logo, a implementação de programas de identificação precoce dos distúrbios a audiçãoatravés de avaliações subjetivas e acompanhamento audiológico, possibilita a identificaçãodas alterações auditivas e intervenção fonoaudiológico ainda no primeiro ano de vida.

Avaliação audiológica em crianças

Rabinovich (1997) afirma que a avaliação da audição na criança é um desafio aaudiologia clínica, devido às características próprias de cada criança. Assim sendo, muita dastécnicas empregadas na medida da audição em adultos não se aplicam às crianças,principalmente àquelas com atraso no desenvolvimento da linguagem e de fala.

De acordo com Russo e Santos (1994), é importante lembrar que cada criança vivee age individualmente, ou seja, crianças da mesma idade cronológica não necessariamentepossuem o mesmo nível de desenvolvimento cognitivo, motor e de linguagem. Portanto, ageneralização torna-se perigosa e deve ser evitada no processo de avaliação audiológica.Uma técnica pode funcionar para determinada criança e não para outra, embora ambastenham a mesma idade.

O papel do pediatra diante da deficiência auditiva

Segundo Lichtig (1997), os primeiros profissionais a entrarem em contato com orecém-nascido são os pediatras e neonatologistas e, através da identificação dos bebês dealto-risco para a deficiência auditiva, poderão, portanto, auxiliar na detecção precoce dasurdez.

É importante que o pediatra que vem acompanhando a criança durante os primeirosanos de vida, esteja informado e atento sobre o desenvolvimento de sua função auditiva, bemcomo a linguagem. Suspeitando de qualquer anormalidade no desenvolvimento dessas duasfunções, o pediatra deverá encaminhar a criança para uma avaliação audiológica, pois aidentificação da perda auditiva na população neonatal e a confirmação da perda auditiva nosprimeiros anos de vida levarão a intervenção precoce, propiciando o desenvolvimento dalinguagem e o encaminhamento médico nos casos de otite média.

Lichtig (1997) relata ainda que os pais em geral suspeitam que seus filhos têmproblemas na audição quando estes se tornam mais visíveis, por volta do 10º mês de vida.Northern & Downs (1989) referem que os pediatras dão pouca credibilidade aos pais diantedas suspeitas de problemas auditivos e enfatizam que esses especialistas deveriam encaminharà avaliação audiológica assim que possível, dando mais crédito às habilidades desses pais emdetectarem desordens auditivas nos seus filhos.

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31Materiais e métodos

Para este estudo foi aplicado um questionário semi-estruturado contendo seteperguntas a 10% da população dos pediatras atuantes na cidade de João Pessoa - PB,correspondendo a uma amostra de 21 sujeitos.

O questionário abordava sobre questões, tais como: idade em que o pediatra realizaa investigação auditiva das crianças; situação na qual encaminha uma criança para avaliaçãode audição com especialista; conduta do pediatra quando a mãe apresenta queixa quanto àaudição da criança ou atraso de fala; opinião em relação à idade que a criança deve serencaminhada para avaliação auditiva; fatores considerados de risco para audição; bem comodados biodemográficos.

A aplicação dos questionários foi feita individualmente nos consultórios. Antes deresponder as questões, os participantes assinavam um termo de consentimento livre eesclarecido, no qual informava sobre o caráter confidencial e sigiloso de suas respostas.

O método utilizado para a análise dos dados é o descritivo; pois, segundo Andrade(2001) os achados clínicos são observados, registrados, analisados, classificados einterpretados sem a intervenção do pesquisador.

Resultados

Os resultados expostos correspondem à analise descritiva das variáveis envolvidasna pesquisa, cujo objetivo final foi investigar os procedimentos adotados pelos médicospediatras diante da hipótese diagnóstica de Deficiência Auditiva.

Os dados biodemográficos analisados foram: sexo, idade e tempo de atuação. Emrelação ao “sexo”, os dados revelaram que 90,5% dos pediatras são do sexo feminino e9,5% do sexo masculino. Quanto ao tempo de atuação em pediatria , 14,2% têm 10 anos;9,5% têm 14 anos; 9,5% têm 15 anos; 4,7% têm 17 anos; 4,7 têm 19 anos; 19% têm 25anos; 14,2% têm 26 anos; 4,7% têm 28 anos ; 4,7% têm 30 anos; 4,7% têm 31 anos e 9,5%não responderam. Portanto, os dados mostram que são profissionais com experiência, já quetodos os especialistas têm mais de 10 anos de experiência.

Inicialmente foi questionado aos pediatras se os mesmos investigam a audição dospacientes e, em caso afirmativo, em que período avaliam. 100% das respostas foramafirmativas e, em relação à idade, a Tabela 1 expõe tais resultados.

Tabela 1 – Número de respostas dos pediatras referente à idade em que realizam a investigaçãoauditiva das crianças. João Pessoa, PB – 2004.

Idade (meses) n(*) % 0 – 6 20 74,0 6 – 12 4 14,8 12 – 24 1 3,7 24 – 36 1 3,7 Mais de 36 1 3,7 Total 27 100,0 FONTE: Direta

* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.

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32 Conforme é observado na Tabela 1, 74% dos pediatras entrevistados investigam aaudição dos seus pacientes entre 0 e 6 meses de nascido, 14,8% entre 6 e 12 meses e apenas11,1% para as demais idades.

Tabela 2 – Número de respostas dos pediatras referente à situação da qual encaminhamuma criança para avaliação de audição com especialista. João Pessoa, PB – 2004.

Situação em que encaminha n(*) % Quando a mãe vem com queixa 15 30,6 Quando a criança é de alto risco para audição 16 32,6 Quando suspeita de alguma alteração durante a avaliação de rotina

17

34,6

Não respondeu 1 2,0 Total 49 100,0

FONTE: Direta* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.

A Tabela 2 mostra que 34,6% dos especialistas encaminham quando suspeitam dealguma alteração durante avaliação de rotina, 32,6% quando a criança é de alto risco paraaudição e 30,6% quando a mãe vem com queixa. Conforme já mencionado, vale ressaltarque a maioria dos profissionais assinalou três alternativas.

Tabela 3 – Número de respostas dos pediatras referente à conduta quando a mãe apresentaqueixa quanto à audição da criança ou atraso de fala. João Pessoa, PB – 2004.

Conduta n(*) % Realiza algum teste 2 6,5 Encaminha para um fonoaudiólogo 9 30,0 Encaminha para exame audiológico 6 20,0 Encaminha para o otorrinolaringologista 13 43,5 Outros - - Total 30 100,0

FONTE: Direta* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.

De acordo com a Tabela 3, 43,5% dos pediatras encaminham seus pacientes aootorrinolaringologista”; 33,5% encaminham para o fonoaudiólogo; 16,5% encaminham paraexames audiológico e 6,5% realizam algum teste, como por exemplo: a emissão de sonsfortes e o comportamento auditivo da criança. Os exames audiológicos citados foram:Audiometria tonal, Audiometria de Tronco Encefálico (BERA), Emissões Otoacústicas eAudiometria comportamental.

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Conduta especial N % Sim 20 95,0 Não 1 5,0 Total 21 100,0

FONTE: Direta

Como mostra a Tabela 4, 95% dos pediatras adotam uma conduta especial para ascrianças que apresentam fatores de alto risco para audição.os pediatras adotam uma condutaespecial para as crianças que apresentam fatores de alto risco para audição.

Tabela 5 – Número de respostas dos pediatras referente à idade em que os pediatras adotamconduta especial com crianças de “alto risco” para audição.

Idade (meses) N % 0 – 6 19 95 6 – 12 1 5 12 – 24 - - 24 – 36 - - Mais de 36 - - Total 20 100,0

FONTE: Direta

Na Tabela 5, observa-se que os 95% dos pediatras que adotam conduta especialcom estas crianças, realizam-se em um período desde o nascimento até os 6 meses de idade.

Discussão

De acordo com os resultados desse estudo pode-se afirmar que a maioria dos pediatrasque participaram da pesquisa, investiga a audição da criança entre 0-6 meses de vida. Estesachados corroboram com os do Comitê Brasileiro Sobre Perdas Auditivas na Infância(CBPAI), descritos na resolução 01/99, que afirma que todas as crianças devem ser avaliadasno nascimento ou no máximo até os três meses de idade.

Em relação à situação em que o especialista encaminha a criança com suspeita dediminuição auditiva, os resultados obtidos coincidem com os de Barros et al (2002).Constatou-se, então, que 38% (maioria) dos profissionais de uma cidade do interior de SãoPaulo encaminham seus pacientes para especialistas na área da audição, nas seguintes situações:quando suspeitam de alguma alteração durante a avaliação de rotina, quando a criança possuifatores de alto risco para audição e/ou quando a mãe refere queixa da audição do seu filho.

No tocante à conduta tomada diante da queixa materna em relação à audição dacriança ou atraso de fala da mesma, pode-se afirmar que os dados deste estudo discordamcom os de Northern e Downs (1989), os quais afirmam que os pediatras dão poucaconfiabilidade aos pais diante de suspeitas de alterações auditivas e alegam que esses médicosdeveriam encaminhar à avaliação audiológica assim que possível.

Tabela 4 – Número de respostas dos pediatras referente à conduta especial com bebês de“alto risco” pra audição. João Pessoa - PB, 2004.

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34 Azevedo (1997) revela que crianças consideradas de risco para distúrbios auditivosdevem ser submetidas a uma avaliação no início da vida, como um acompanhamentoaudiológico. Esta afirmação concorda com os resultados observados na presente pesquisa.

Considerações Finais

Qualquer grau de privação do sentido da audição na infância poderá acarretar sériosprejuízos na aquisição da fala e da linguagem, afetando o aprendizado e o desenvolvimentosocial e emocional da criança. Portanto, por serem os primeiros profissionais a entrarem emcontato com as crianças, os pediatras possuem papel fundamental na detecção precoce dealterações auditivas.

Diante da pesquisa realizada, conclui-se que, atualmente os pediatras vêmdemonstrando a preocupação em avaliar a audição dos seus pacientes ainda no primeiro anode vida, assim como encaminhar as crianças que chegam ao seu consultório com queixasauditivas ou atraso de linguagem a profissionais especializados na área, contribuindo assim,para o diagnóstico precoce da deficiência auditiva. Portanto, a detecção e o tratamentoprecoces das perdas auditivas vêm se tornando, nos últimos anos, aspectos de grandeimportância da prática pediátrica.

Referências

ANDRADE, Margarida Maria de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 5ed. São Paulo: Atlas, 2001.

AZEVEDO, Marisa Frasson de. Avaliação Audiológica no Primeiro Ano de Vida. In:LOPES FILHO, Otacílio. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997.

BARROS, Ana Carolina Tasso et al. Conhecimento e conduta de pediatras frente àdeficiência auditiva. Departamento de Fonoaudiologia da Universidade do Oeste Paulista– UNOESTE. Presidente Pudente-SP, 2002.

CBPAI (Comitê Brasileio sobre Perdas Auditivas na Infância). Recomendação 01/99.Conselho Federal de Fonoaudiologia, mai/jun, 2000.

LICHTIG, Ida; CARVALLO, Renata Mota Mamede. Audição: Abordagens Atuais.Carapicuíba, SP: Pró-fono, 1997.

NORTHERN, Jerry L.; DOWNS, Marion P. Audição em Crianças. São Paulo: Manole,1989.

RABINOVICH, Kátia. Avaliação da Audição na Criança. In: LOPES FILHO, Otacílio.Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997.

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35RUSSO, Iêda C. Pacheco; SANTOS, Teresa M. Momensohn dos. Audiologia Infantil. 4ed. São Paulo: Cortez, 1994.

Recebido: 21.11.2007Avaliado: 14.04.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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36 AVALIAÇÃO DO ESTRESSE POSTURAL ATRAVÉS DOMÉTODO RULA

Camila Carolina B. da Costa Querino/UNIPÊIsabelle Caroline V. de Farias/UNIPÊMarisete de Lourdes V. C. Sobrinha/UNIPÊJuliana da Costa Santos/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste estudo é avaliar o estresse postural em acadêmicos de Fisioterapia,do Centro Universitário João Pessoa – UNIPÊ, levando em consideração que osfisioterapeutas, dentre os profissionais da área de saúde, apresentam uma grande probabilidadede desenvolver distúrbios posturais. Para realização desta pesquisa, foi feito um levantamentobibliográfico e entrevistas individuais. Também foi utilizada uma câmera fotográfica pararegistrar as posturas comprometedoras realizadas pelos estudantes pesquisados, sendoanalisadas através do método RULA. Mediante os resultados obtidos e analisados, foi possívelevidenciar que os pesquisados adotam posturas comprometedoras, destacando as sentadas,em pé e transferência, obtendo escore de 7/7, de acordo com RULA. Foram enunciadasrecomendações para uma melhor consciência corporal refletindo uma melhor postura duranteos atendimentos, uma vez que o estresse postural pode desencadear riscos à saúde.Palavras-chave: Ergonomia, riscos, recomendações.

EVALUATION OF INAPPROPRIATE BODY POSTURESTHROUGH THE RULA METHOD

ABSTRACT

This study aims at evaluating inappropriate postures of students of physiotherapy atthe Centro Universitário João Pessoa – UNIPÊ, considering that the Physiotherapists, amongstthe professionals, are mostly inclined to develop posture disorders. In order to accomplishthis research, a bibliographic survey and some individual interviews were necessary. A camerawas also used to record the compromising postures by the students and then they wereanalyzed by the RULA method. Based on the results it was possible to show that thestudents perform compromising postures, highlighting the seated, standing and transferencepostures, scoring 7/7, according to the RULA method. Hence, some recommendations havebeen made in order to improve awareness about the body during the treatment, once it maybe a risk to health.Key-words: Ergonomics, risks, recommendations.

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37Introdução

A postura é definida habitualmente como o arranjo relativo das partes do corpo.Para tanto, a boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege asestruturas de sustentação do corpo contra as lesões ou as deformidades progressivas,independentemente da atitude, nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando.Na postura precária, há uma relação defeituosa das várias partes do corpo que produzemuma maior sobrecarga nas estruturas de sustentação, na qual existe um equilíbrio menoseficiente do corpo sobre sua base de apoio (HALL, 2001).

Como se sabe, o fisioterapeuta possui como principal instrumento de trabalho ocorpo e que, para executar sua atividade, precisa realizar um grande esforço físico emdecorrência, muitas vezes, da incapacidade funcional do paciente.

Assim, o objetivo dessa investigação é avaliar o estresse postural dos acadêmicos defisioterapia durante o atendimento da disciplina “Fisioterapia aplicada a geriatria” através dométodo de evolução da carga física: RULA.

Referencial teórico sobre estresse postural

Segundo Azzolini (2006), toda atividade requer um esforço tanto físico como psíquico,com intensidades que variam segundo a pessoa e a tarefa a ser realizada. Em muitas ocasiões,o ser humano vai muito além de seus limites, principalmente durante a sua atividade laboral,mas quando os esforços ultrapassam a capacidade, surgem a sobrecarga, a fadiga e o desgastepessoal. Diante disto, pode-se dizer que o estresse postural é produzido por um esforçoexcessivo, pelas posturas estáticas e pelos movimentos repetitivos.

No que diz respeito à postura, Tribastone (2001) relata que existem três componentesestruturais da postura, a dizer: postura mecânica, neurofisiológica e psicomotora. O autorafirma que o principal fator da postura é o tônus muscular, que não é somente a base daacomodação postural, mas também a expressão das emoções e dos movimentos ou atitudes.

Magee (2002) diz que a o estresse postural pode ser o resultado do efeito acumulativode repetidos pequenos estresses anormais durante um curto período de tempo. Esses estressescrônicos podem resultar nos mesmos problemas que ocorrem quando um intenso estressesúbito (agudo) é aplicado ao corpo.

De acordo com Kisner e Colby (2005), os movimentos repetitivos amplos tambémrequerem que os músculos respondam para controlar a atividade. Se a sobrecarga biomecânicaexceder as capacidades de suporte dos tecidos, ocorrerá colapso, e assim desenvolvendosíndromes de uso excessivo com inflamação e dor que afetarão a função sem que haja lesãoaparente.

O esforço tende sempre a perturbar as conexões sinápticas e a destruir o equilíbrio,obrigando o indivíduo a atuar num equilíbrio mecanicamente mais cansativo, tornando-senecessário realizar uma avaliação do estresse postural num local de trabalho (TRIBASTONE,2001). Mas, apesar da rara ocorrência, principalmente devido ao tempo requerido para acontínua coletas de dados quantitativas posturais, têm sido desenvolvidos vários sistemas deanálise de posturas, entre eles o método RULA, que contribui na avaliação dos diversosfatores que interagem nas atividades do trabalho e causam estresse (HELFENSTEIN, 2006).

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38 Atividade do fisioterapeuta

A fisioterapia é uma atividade regulamentada pelo Decreto-Lei nº 938/69, de 13 deoutubro de 1969. O fisioterapeuta, em suas funções, realiza atividades de sobrecarga em seusistema músculo-esquelético, tais como: deambulação e transporte de pacientes dependentes,técnicas manuais que exigem força muscular, posicionamento inadequado e desconfortávelno atendimento a seus pacientes, movimentos repetitivos, e postura em pé ou sentado portempo prolongado. Os fatores pessoais no trabalho também influenciam na postura adotadapelo fisioterapeuta como trabalhar próximo ou no limite físico já com sinais de fadiga, darcontinuidade às atividades, mesmo com dor na musculatura postural e treinamento inadequadosobre a prevenção dos distúrbios posturais (PERES, 2002).

São poucas as referências sobre as consequências de má postura e movimentosantifisiológicos durante a atividade desses profissionais. Molumphy (1985) estudou quasequatrocentos fisioterapeutas norte-americanos e identificou a incidência de 29% de lombalgiarelacionada à atividade desenvolvida no trabalho, durante as idades de 21 e 30 anos e quecerca de 18% dos profissionais pesquisados mudaram de área de atuação. Isto foi atribuídoaos fatores de risco relacionados ao tipo de atividade profissional.

Método Rula

De acordo com McAtammey e Corlett (1993), RULA é um método de estudo parainvestigar lesões de membros superiores relacionadas com o trabalho, e foi desenvolvidopara ser usado em investigações ergonômicas de postos de trabalho onde existe a possibilidadede desenvolvimento de lesões por esforços repetitivos em membros superiores. Tem comoprincípio enquadrar as posturas de acordo com as angulações entre os membros e o corpo,obtendo-se escores que definem o nível de ação a ser seguido (MOSER et al, 2006).

Seu desenvolvimento ocorre em três fases: 1) método de gravação da postura detrabalho, 2) aplicação de um sistema de escore e 3) aplicação de uma escala de níveis deação. Cada fase é explicada a seguir, conforme (MCATAMMEY, CORLETT, 1993).

a) Método para gravação da postura de trabalho

O corpo foi dividido em dois grupos, A e B. O grupo A inclui os braços, antebra-ços, e punhos, enquanto o grupo B inclui o pescoço, tronco e pernas. Cada parte docorpo é dividida em seções e recebe número 1, se o risco de lesão for o menor possível, onúmero aumenta com o aumento do risco. Os níveis de postura de ambas as partes docorpo são avaliados através de escores, a partir da posição do membro observado.

b) Aplicação de um sistema de escore

O escore para uso dos músculos e força foi desenvolvido para incluir no estudocarregamentos adicionais no corpo causados por trabalho excessivamente estático, movimentosrepetidos, necessidade de força ou carregamentos externos durante o trabalho. Os escorespara uso dos músculos e escores de força são indicados a seguir.

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Quadro 1: Escores e indicações do método RULA

· 1 ou 2 - Esta postura é considerada aceitável se não for mantida ou repetida porlongos períodos;

· 3 ou 4 – postura de trabalhos que apresentam atividades repetitivas, carregamentoestático ou necessidade de uso de força;

· 5 ou 6 - postura de trabalho com movimentos repetitivos e/ou atividade muscularestática e necessita do uso de força;

· 7 - postura de trabalho ocorre próxima ou no fim de curso, com movimentosonde a repetitividade e a força são necessárias.

Metodologia

Este estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa de caráter descritivo eexploratório, que segundo Alvão e Monte (2003), o pesquisador procura conhecer e interpretara realidade, sem nela interferir para modificá-la. E quanto aos meios, esta pesquisa correspondea um estudo de caso.

O universo da pesquisa foi composto por 22 acadêmicos de fisioterapia, que atuamna Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ; Entretanto,

CATEGORIAS DE AÇÕES – RULA

ESCORE INDICAÇÕES 1 e 2 Postura aceitável, desde que não mantida por longos períodos. 3 e 4 Investigações mais profundas são necessárias e mudanças podem ser

requeridas 5 e 6 Investigações e mudanças requeridas logo

7 ou mais Investigações e mudanças requeridas imediatamente

Escore para atividade muscular dos grupos A e B:· 1 se a postura é predominantemente estática por mais de 1 min;· 1 se a postura se repete por mais de 4 vezes por min.Escore de força para os grupos A e B:· 0 se não existe resistência, ou carga inferior a 2 kgf, e intermitente;· se a carga está entre 2 a 10 kgf e é intermitente;· 2 se a carga está entre 2 a 10 kgf, e é estática ou repetitiva (4 vezes/min);· 3 se a carga é superior a 10 kgf, estático ou repetitivo;· 3 é choque ou força aplicada com rapidez.

c) Aplicação de uma escala de níveis de ação

Para se obter o escore final é necessário a união do resultado dos escores do primeironível com o do segundo nível de cada grupo. Exemplo: Escore A + uso dos músculos eescore de força para o grupo A = Escore C; Escore B + uso dos músculos e escore de forçapara o grupo B = Escore D. Neste passo o escore C e D são transformados no escore final,que mostra a magnitude das providências a serem tomadas e a prioridade para subsequentesinvestigações. O escore final vária de 1 a 7, e para cada escore final há um nível de ação.

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40 a amostra foi representada por 15 acadêmicos, caracterizando 68,2% do total da população.Quanto aos instrumentos da pesquisa, foram utilizadas para coleta de dados, uma câmerafotográfica para capturar posturas adotadas pelos pesquisados, assim como a aplicação deum questionário, através da técnica de entrevista, com questões objetivas e subjetivas sobreestresse postural e a atividade realizada.

Previamente a coleta de dados, foi obtida uma autorização, para realização do estudoatravés de um termo de consentimento livre e esclarecido, baseado na resolução 196/96.Essas informações foram coletadas no período de 03/05/06 à 05/05/06, no horário das 9:30às 12:00h, que corresponde ao horário de atendimento.

Referentes à análise dos dados obtidos, foram coletadas 55 fotos em relação àbiomecânica postural adotada pelos acadêmicos, mas a amostra foi composta por apenas 20fotografias. Estas fotografias foram avaliadas através do método RULA. Já as informaçõesobtidas no questionário foram analisadas de forma qualitativa e quantitativa, através de medidasdescritivas simples.

Resultados e discussão

Caracterização de Indivíduos

Os acadêmicos pesquisados (15) correspondem aos alunos do sétimo período defisioterapia do Unipê que foram entrevistados durante o atendimento da disciplina fisioterapiaaplicada à geriatria, que é realizado duas vezes por semana, das 9:30 as 12:00 horas. Estesalunos são divididos em duplas que atendem em média 2 a 3 pacientes, com um tempovariando entre 30 min e 1h e 20 min para cada paciente dependendo da patologia apresentada.

Verificou-se que a população dos acadêmicos entrevistados de fisioterapia, eracomposta por 14 mulheres e 1 homem, com a faixa etária entre 20 e 42 anos de idade.

Avaliação do estresse postural

As amostras selecionadas foram divididas em 4 grupos de postura: sentada, em pé,ajoelhada, e transferência. Na figura 1, foi observado que a postura mais utilizada pelosacadêmicos foi à sentada com a média de 55%.

Figura 1: Posturas dos acadêmicos de fisioterapia

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

1

Fre

quê

nci

a m

édia

Sentada

Em pé

Ajoelhada

Transferência

55%

25%

10% 10%

Fonte: Dados da pesquisa

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Figura 2: Escore referente à postura sentada

A postura sentada gera várias alterações nas estruturas músculo-esqueléticas da colunalombar. Caso o indivíduo sentado realize posturas incorretas por longo período, as alteraçõesserão potencializadas. Daí, a pressão intradiscal aumenta para mais de 70%. Este fato podepredispor o indivíduo a maiores índices de desconfortos gerais, tais como dor, sensação depeso e formigamento em diferentes partes do corpo e, principalmente, a processosdegenerativos, como a hérnia de disco (COURY, 1994).

Conforme mostra a figura 3, o escore da posição em pé mais frequente foi de 7/7.Mas, percebeu-se, também, que houve uma predominância dos escores 5/5 e 6/6. Nestesescores, a postura de trabalho está fora da zona de movimentos. O operador executamovimentos repetitivos e/ou atividade muscular estática e necessita do uso de força. Napostura em pé, as funções que mais comprometeram a saúde da amostra foram na preparaçãodo ambiente para o atendimento, utilizando-se técnicas manuais que necessitam força, nomanuseio de recursos terapêuticos e na feição da a pressão arterial.

Dul e Weerdmeester (2000) citam que, embora a posição sentada seja melhor que aem pé, deve-se evitar longos períodos sentados e que a posição sentada muitas vezes exigeum acompanhamento visual. A maioria dos alunos realizam tais posturas por temposprolongados e repetitivos tanto no trabalho como nas atividades de vida diária, com isso, nãopercebem que passam tempo demais em uma mesma posição e que precisam intercalar asatividades.

Como mostra a figura 2, na posição sentada, segundo o método RULA, o escoremais frequente foi de 7/7. Foi comprovado que as posturas adquiridas eram de alto riscopara se obter um estresse postural. Também foram analisados nesta postura as tarefas realizadasde forma mais inadequada pelos acadêmicos de fisioterapia, sendo elas: as orientações aospacientes, as atividades terapêuticas manuais que exigem força muscular, a atualização doprontuário.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

1

Freq

uên

cia

méd

ia

Escore 0/1

Escore1/2

Escore 6/6

Escore6/7

Escore7/6

Escore 7/7

9,1% 9,1% 9,1% 9,1% 9,1%

54,5%

Fonte: Dados da pesquisa

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Figura 3- Escore referente à postura em pé

Esta postura é altamente fatigante, pois exige grande trabalho estático da musculaturaenvolvida. A posição em pé provoca fadiga nas costas e pernas. Um estresse adicional podeaparecer quando a cabeça e o tronco ficam inclinados, provocando dores no pescoço e nascostas (DUL e WEERDMEESTER, 2000).

De acordo com a figura 4, os escores foram 6/6 e 6/7. Pode-se ainda constatar queo escore de 6/7 ressalta uma predominância da sobrecarga em um dos lados do corpo,sendo maior no lado esquerdo. Mas, para ambos os escores, devem ser realizadas orientaçõesquanto às posturas adequadas e evitar movimentos repetitivos. Nas tarefas aplicadas pelosacadêmicos na postura ajoelhada, verificou-se uma sobrecarga na coluna. Elas foram realizadasno tatame alto como: a aplicação de técnicas manuais que exigem força muscular.

Figura 4- Escore referente a postura ajoelhada

O joelho é muito propenso a lesões devido a sua mobilidade e a variedade de tensõesà qual é submetido.

Pode-se constatar na figura 5, que o escore foi de 7/7. Neste, a postura de trabalhoocorre próxima ou no fim de curso, com uso de movimentos repetitivos e de força.

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Figura 5: Escore referente à transferência

O processo de transferência de pacientes é um dos movimentos que mais impõemcargas na coluna vertebral, assim aumentando acentuadamente a pressão intra discal e exigindoesforço muscular excessivo. Portanto, essa postura diária prolongada pode ser um fatorincriminante na dor lombar.

De acordo com os dados obtidos pelo questionário, 80% da amostra sente dores nacoluna, principalmente na região lombar, com uma intensidade variando entre leve a moderada.Constatou-se também que a dor era desencadeada principalmente pelos movimentos deflexão de tronco, transferências de paciente, suporte de peso e agachamentos. E todos osentrevistado relataram que, após o atendimento, o cansaço muscular era de uma escala deregular a péssimo.

Estes dados corroboram com o que foi apresentado por Helfenstein e Feldman (2006),no qual afirma-se que a flexão do tronco e as inclinações laterais ou rotações da colunaaumentam o estresse mecânico na musculatura para-vertebral e nos discos intervertebrais; aflexão prolongada pode ocasionar níveis importantes de fadiga como também as posturasestáticas e demorada do tronco, como a inclinação anterior prolongada pode ocasionar orisco de dor lombar.

Os 20% restantes relataram que não sentem dores na coluna durante ou após oatendimento, mas não justificam que esta parte da população não tenha ou venha apresentardoenças relacionadas a postura, pois o limiar de dor para cada individuo é pessoal.

Considerações finais

Neste trabalho o registro comportamental das posturas assumidas permite avaliar asobrecarga imposta sobre os tecidos osteomioarticulares, através de movimentos e posturasassumidas durante o atendimento, que vão impor riscos à saúde, sendo comprovado pelométodo Rula.

Um dos fatores que leva a adoção de posturas inadequadas, está contido no seuposto de trabalho que não está ergonomicamente correto para realização das atividades. Umoutro fator seria a não preocupação do terapeuta quanto aos cuidados necessários pararealização de suas tarefas.

A necessidade de realizar este estudo partiu da observação das más posturas adotadaspelos fisioterapeutas durante as atividades de atendimento na clínica escola. Dessa maneira,visou-se estimulá-los à responsabilidade de adquirir uma consciência postural, e assim seprevenindo contra patologias.

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44 Referências

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DUL, J.; WEERDMEEESTER. B. Ergonomia Prática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,2004.

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PERES, Celeide Pinto Aguiar. Estudo das sobrecargas posturais em fisioterapeutas: umaabordagem biomecânica ocupacional. Florianópolis: 2002, 128 fs. Dissertação (Mestrado

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45em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção,Florianópolis, UFSC, 2002.

Reeducação Postural. Disponível em: http: www.santalucia.com.br/ortopedia/postural.p.htm.Acesso em: 22/05/2006.

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Recebido: 30.04.2007Avaliado: 14.03.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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46 CONDIÇÕES ERGONÔMICAS EM CLÍNICAS CIRÚRGICO-ODONTOLÓGICAS

Andréa Carla B. da Costa Santos/UNIPÊCelso Luiz Pereira Rodrigues/UFPB

RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise ergonômica das condições de trabalhodo cirurgião dentista, no setor de endodontia, na Universidade Federal da Paraíba, visandoverificar os problemas deste posto que possam causar danos ao trabalhador. Foi identificada,como problema principal, a disposição dos equipamentos, somada à inadequação da bandeja,o que levava o profissional a adotar posturas inadequadas com sobrecarga na coluna vertebral.Juntamente a estes fatores, as condições termoambientais insuficientes dificultavam odesenvolvimento das atividades destes profissionais. Desse modo, cogita-se a necessidadede tentar melhorar as condições de trabalho através de mudanças no layout, nas condiçõesambientais e no processo de atendimento.Palavras-chave: Ergonomia, segurança no trabalho, endodontia.

ERGONOMIC CONDITIONS OF SURGICAL DENTAL CLINICS

ABSTRACT

This work aims at analyzing the ergonomic conditions of the working place of a surgeondentist, working with endodentistry, at Universidade Federal da Paraíba so as to pinpoint theproblems that may cause demage to workers. The arrangement of equipment was identifiedas a main problem added to the inadequacy of trays, which used to lead the professional toinappropriate body posture, thus, stressing the spinal column. Moreover, inappropriate thermo-environmental conditions hindered the development of activities. Hence, the improvement ofthe working conditions through layout changes, is being observed in the environmentalconditions and in the working process.Key-words: Ergonomy, workplace safety, endodentistry.

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47Introdução

A ergonomia é um campo de aplicação interdisciplinar da ciência que tenta solucionarproblemas no relacionamento do homem e o trabalho, equipamento e/ou ambiente, utilizandoconhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia, garantindo a segurança, satisfação e obem-estar do trabalhador, podendo, com isto, melhorar a sua eficiência no trabalho (IIDA,1995).

A análise do trabalho proposta pela ergonomia contribuirá para trazer uma descriçãoda atividade de trabalho, uma visão sobre a situação de trabalho, que põe em relação aatividade, a produção e a saúde (GUÉRIN, 2001).

O enfoque ergonômico tende a desenvolver postos de trabalho que reduzam asexigências biomecânicas, procurando colocar o trabalhador em uma boa postura, fazer comque os objetos se situem dentro dos alcances dos movimentos corporais e que haja facilidadena percepção de informações (IIDA, 1995).

É necessário que, antes de projetar ou realizar melhorias num posto de trabalho, sejafeita uma análise detalhada da tarefa e do ambiente de trabalho para que certos parâmetrosdo sistema sejam definidos, sem que torne difícil ou oneroso introduzir modificações corretivas.

Dentre as diversas especializações do Cirurgião Dentista está a Endodontia, a quallida com o tratamento de canais dentários. Tal atividade pode ser considerada como de altorisco devido aos instrumentos odontológicos entrarem em contato direto com a correntesangüínea durante o tratamento. Além de aumentar o risco de contaminação do profissional,também existe a adoção de posturas inadequadas, principalmente a flexão anterior e rotaçãode tronco, que impõem sobrecarga ao sistema músculo esquelético podendo ser causa devárias patologias. Portanto, cabe ao profissional conhecer tais riscos e desta forma proteger-se desses riscos a fim de melhorar sua eficiência e produtividade.

Neste estudo, faz-se uma análise ergonômica do posto de trabalho de cirurgiõesdentistas, na Clínica de Endodontia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federalda Paraíba. Ali, os profissionais atendem em um único ambiente de trabalho, ressaltando quea inadequação de cada posto poderá influenciar na eficiência do atendimento da organizaçãocomo um todo.

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo ergonômicoda disposição do posto de trabalho do cirurgião dentista para verificar os principais problemasque influenciam a realização de suas atividades.

Caracterização da seção

Como já foi mencionado, a unidade odontológica escolhida para a realização da aanálise ergonômica foi a Clínica de Endodontia do Centro de Ciências da Saúde daUniversidade Federal da Paraíba. Essa clínica tem como serviço principal o tratamentoendodôntico de pacientes maiores de 12 anos, que ocorre atendendo através de marcaçãode consultas prévias.

O atendimento é realizado por 12 alunos formados em odontologia que ficam sob aorientação de quatro professores com pós-graduação na área. A realização ocorre apenasaos sábados, das 08:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas. A média de atendimentos porturno é de 12 pacientes, isto é um paciente para cada aluno.

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48 A sala aonde as atividades são desenvolvidas é composta por 16 equiposodontológicos da marca Dabi Atlante. Cada equipo odontológico consta dos seguintesequipamentos:

· Uma cadeira para o paciente, cujo encosto e altura da cadeira podem sercontrolados por meio de dispositivos elétricos. Embaixo do assento encontra-se um dispositivopara ativar os aparelhos de alta e baixa rotação. O estofamento do encosto e do assento éliso e na cor azul claro;

· Uma bandeja móvel para colocação dos materiais e instrumentais, com trêsarticulações fazendo-a ficar acima do paciente, e, que os materiais e instrumentais fiquemmais próximo do aluno. Também conta com encaixes para os instrumentos de alta e baixarotação, e para a seringa tríplice (dispositivo de ar/água);

· Um aparelho de iluminação com duas articulações e braço móvel. Cadaarticulação trabalha com duas lâmpadas de 40w A iluminação é direcionada apenas ao campode trabalho, que representa a boca do paciente;

· Uma unidade auxiliar, formada por uma cuspideira e um encaixe para o sugadorde fluidos, com dispositivos manuais para ligar e desligar;

· Um mocho com encosto para o aluno, cujo estofamento é de um material liso ena cor azul.

Esses equipos estão dispostos em dois grupos, cada um com oito componentes, aoredor de bancadas em cimento, como ilustra a figura 1.

Figura 1. Disposição dos equipos odontológicosFonte: Pesquisa de campo

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49Descrição da tarefa

O tratamento endodôntico geralmente envolve algumas etapas que se estendem desdeo diagnóstico, até o fechamento permanente do elemento dentário.

Na primeira etapa, é feito um diagnóstico, através de raios X, para comprovar anecessidade de realização do canal dentário;

Na segunda etapa, ocorre o acesso, o qual consiste na abertura do dente utilizando oaparelho de alta rotação, broca, para ter acesso ao canal dentário;

Na terceira etapa, que é o Isolamento do campo, promove-se um isolamento absolutodo campo operatório fazendo uso do arco de Yang, de um lençol de borracha e um grampoque é fixado ao dente, para evitar contaminação bacteriana do canal e prevenir que o pacienteengula algum material que esteja sendo utilizado durante o tratamento;

Na quarta etapa, Odontometria, toma-se conhecimento do tamanho das raízes doelemento dentário, através da utilização de uma lima. Nesta etapa também é feito um raio Xcom a mesma finalidade;

Na quinta etapa, Instrumentação, prepara-se o conduto. Nesta fase é removido otecido pulpar de dentro dos condutos e feito uma irrigação de hipoclorito de sódio a 1%;

Na sexta etapa, a Conometria, colocam-se cones na raiz principal do dente, sendorealizado um raio X para verificar se os cones que foram colocados estão na altura correta.Esses cones são introduzidos na raiz dentária com base na odontometria;

Na sétima etapa, a Obturação, veda-se o dente de forma hermética, sem nenhumespaço, utilizando uma forma de cimento – cianoprex. Após a vedação é realizado o quartoraio X, para verificar se está tudo correto.

Na oitava etapa, a Restauração, é feito o fechamento final do elemento dentárioatravés do uso de amalgama ou de resina fotopolimerizada.

Para a conclusão do canal são necessários, em média, duas a três sessões detratamento. Cada sessão pode durar mais de duas horas, dependendo do grau de dificuldadedo dente. Desta forma, o profissional pode precisar escutar o máximo possível o tempo deduração da sessão para o bem estar do paciente como do próprio profissional.

O profissional cirurgião dentista, durante as sessões de tratamento, permanece como corpo quase estático, com atenção fixa na boca do paciente e nos instrumentos que serãoutilizados para a execução das atividades.

Mesmo passando a maior parte do tempo sentado sobre o mocho, com as pernasapoiadas no solo, durante a realização do canal, o profissional necessita de adotar algumasposturas, tais como flexão anterior e rotação do tronco, membros superiores em posições decontração isométricas ao utilizar a broca, seringa, lima e outros utensílios que exijam movimentosfinos e precisos. Portanto, ressaltando assim, o profissional que está exposto a sobrecargafísica pode ser levado ao estresse e a problemas posturais, além da diminuição de suaprodutividade.

Metodologia

A avaliação ergonômica do posto de trabalho do cirurgião dentista foi realizadajuntamente com a identificação dos principais problemas que afetam a saúde e segurança dos

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50 profissionais. O processo de trabalho foi feito através de observações diretas, registrosfotográficos e entrevistas informais aos profissionais.

Fazendo uso da observação direta, pode-se compreender o desenvolvimento dasatividades do profissional em cada fase do tratamento e verificar as dificuldades durante oprocesso, constatadas pelas entrevistas informais. Os registros fotográficos serviram comorecursos visuais para ilustrar o arranjo físico do posto de trabalho.

Após a identificação dos problemas de layout, foi feita uma análise qualitativa dosmesmos, com base na literatura e queixas dos profissionais.

Análise do posto de trabalho

A análise do posto de trabalho do cirurgião dentista evidenciou alguns problemasdecorrentes do layout, pela disposição inadequada dos equipamentos que associadas às máscondições térmicas e adoções de posturas inadequadas prejudicam a realização das atividades.A seguir, serão descritos esses problemas e suas influências no processo de trabalho.

Os profissionais encontram-se dispostos em uma bancada auxiliara. Contudo,precisam de deslocamento tanto para recolher o material da sala de esterilização, realizartomadas radiográficas ou para revelar os filmes, e recolher outros materiais e as substânciasnecessárias de uso comum para o tratamento. A disposição dos equipos favorece a ocorrênciade acidentes e durante esse trajeto, o profissional, corre o risco de bater em outro profissionalque pode estar realizando uma atividade minuciosa e causar um acidente. Assim esse espaçoreduzido para a circulação, além, de precipitar um acidente pode causar demora no processodo tratamento, como ilustra a figura 2.

Figura 2. Área de circulação dos profissionais.

Fonte: Pesquisa de campo

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51O tamanho da bandeja para a quantidade de material necessário para o tratamento éinsuficiente, predispondo a ocorrência de acidentes; como queda de materiais e instrumental,contaminação por contato com agentes biológicos, cortes entre outros. A ocorrência deacidentes acertava-se devido bandeja situar-se por cima do paciente, e ter que ser movidapara o mesmo sair da cadeira, o qual precisa se deslocar várias vezes para realizar examesradiográficos.

A disposição inadequada do equipo limita os movimentos dos profissionais que têmde fazer rotações e flexão de troco e pescoço favorecendo o aparecimento de dores nacoluna que podem ser intensificadas pelo tempo prolongado da sessão de tratamento. Alémdas dores na coluna, foi relatado, pelos profissionais, dores nos membros superiores devidoa alguns movimentos realizados de forma estática e repetitiva, necessários para odesenvolvimento do tratamento. As condições térmicas do ambiente, também constituíramuma das queixas frequentes dos profissionais, os quais muitas das vezes não utilizavam osequipamentos de proteção individual, como máscaras, óculos, gorros devido ao calor.

A partir de visitas realizadas na Clínica de Endodontia, realizou-se um levantamentodos riscos a que os profissionais estão expostos, e verificou-se que as condições gerais detrabalho daquele ambiente apresentam características de não conformidade que comprometema eficiência dos serviços prestados e a saúde e segurança dos mesmos.

Os principais riscos encontrados, corroborando, com os achados de Sousa (2002),foram:

1. Biológicos – caracterizaram-se pelo contato constante com microorganismospresentes na saliva e no sangue. A contaminação do profissional pode ocorrer através dainalação dos aerossóis exalados durante o procedimento, do contato direto com materialcontaminado proveniente da pele e mucosas ou por meio de acidentes com material pérfuro-cortantes;

2. Físicos – presença de temperaturas desconfortáveis pela falta de um ambienteclimatizado; ruído provocado pelos equipamentos e pelas pessoas, alunos e pacientes quecirculam no mesmo ambiente de tratamento, levando a desconcentração do profissional equebra do ritmo de trabalho; exposição do profissional a radiação proveniente dos raios Xdevido a falta de dispositivo de proteção efetiva para a realização dos exames radiográficos;

3. Químicos - representados pelas substâncias germicidas que são utilizadas duranteo tratamento e podem levar a irritação da mucosa nasal e ocular. Existe ainda o risco decorrentedo manuseio da amalgama utilizada na etapa de restauração;

4. Mecânicos – pode ocorrer cortes pelo uso de material pérfuro-cortantes; colisãopelo espaço reduzido da sala de tratamento e disposição dos equipos;

5. Ergonômicos - adoção de posturas inadequadas como flexão anterior e rotaçãodo tronco para a execução das atividades. Esta situação pode ser agravada pela má disposiçãodos equipamentos, sendo necessário algumas vezes, o profissional se deslocar para fazer usode materiais ou equipamentos que estejam fora da sua área de alcance. Os movimentos depreensão fina, necessários na utilização dos materiais tais como pinças, lima, cones, juntamentecom posturas isométricas dos membros superiores, na utilização equipamentos, como oinstrumento de alta rotação, bastante utilizados no desenrolar da atividade, podem agravar asobrecarga imposta a esses profissionais.

Avaliando os fatores encontrados no posto de trabalho do cirurgião-dentista pode-se identificar que esses fatores não prejudicam apenas a saúde e segurança desses profissionais,mas que supõe-se que pode levar a uma queda na produtividade e na qualidade do atendimento.

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52 Discussão

Após a análise do posto de trabalho, pode-se observar que os principais problemasque afetam a saúde e segurança dos profissionais estavam relacionados com a disposiçãoinadequada dos equipamentos em especial a proximidade dos equipos, predispondo aacidentes de trabalho gerados por riscos mecânicos, e a não adequação da bandeja paraeste tipo de tratamento, podendo levar a acidentes tanto do profissional quanto do paciente.

Esses problemas podem ser agravados pelo tipo de tratamento, que exige doprofissional uma alta carga de trabalho impondo posturas inadequadas, mesmo na posiçãosentada; tensão excessiva devido a especificidade da atividade, na qual são desempenhadosmovimentos fino de alta precisão, e ritmo intenso da atividade onde o profissional se movimentabastante para a aquisição dos materiais e realização dos exames radiográficos.

Apesar do profissional trabalhar em sua maior parte na posição sentada, poder-se-iapensar que não haveria uma sobrecarga grande sobre a coluna vertebral. Entretanto, doponto de vista biomecânico, a postura sentada representa grandes agressões à coluna. Acarga no terceiro disco intervertebral lombar aumenta em torno de 145% na posição sentadacom o tronco ereto, sendo que se o tronco estiver com leve flexão essa carga sobe para,aproximadamente 190% (BARBOSA, 2002). Isso nos faz perceber que as posturas adotadasdurante as atividades do cirurgião dentista levam a uma sobrecarga da coluna precipitando oaparecimento de processos dolorosos

Além desses problemas, estão presentes também aqueles referentes às condiçõestérmicas inadequadas, onde, no local estudado, a ventilação natural não era suficiente paradeixar o ambiente agradável. Essa sensação térmica desagradável fez com que os profissionaisnão utilizassem os equipamentos de proteção individual favorecendo a ocorrência de acidentes,além de tornar a prestação de serviços menos eficiente.

A partir desta constatação deve-se tentar melhorar as condições de trabalho e/ou desegurança, através de mudanças no layout, nas condições ambientais e no processo deatendimento.

Referências

BARBOSA L G. Fisioterapia Preventiva nos Distúrbios Osteomusculares Relacionadosao Trabalho – DORTs. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

GUÉRIN F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo. São Paulo: ABDR, 2001.

IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 1995.

SOUSA, C.L.S. et al. Estudo ergonômico do posto de trabalho do cirurgião dentista:avaliação de um grupo de clínicas populares no Rio de Janeiro. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ERGONOMIA, 12, 2002, Recife. Anais...Pernambuco, 2002. 1 CD-ROM.

Recebido: 09.05.2007Avaliado: 03.02.2009Contato com o autoremail: [email protected]

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53BENEFÍCIOS DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NOPÓS-OPERATÓRIO DA REVASCULARIZAÇÃO DO

MIOCÁRDIO

Marcos Valério Rocha de Oliveira/UES-CG/PBAna Cristina da Nóbrega Marinho Torres/UES-CG/PBBertram Gonçalves Coutinho/UES-CG/PB

RESUMO

Este artigo tem como objetivo abordar a importância da fisioterapia no tratamento depacientes submetidos à cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio. Para tanto, foramutilizados livros, artigos, monografias e teses. Os resultados mostraram que a reabilitaçãocardíaca apresenta objetivos profiláticos e terapêuticos, visando reduzir o impacto físico epsicossocial das condições incapacitantes e limitantes que acomete o indivíduo, objetivando,assim restaurar e aumentar a sua capacidade funcional. Conclui-se que a Fisioterapia atua,reduzindo os efeitos deletérios decorrentes do evento cardíaco, prevenindo um subsequentereinfarto, reduzindo custos com a saúde e, acima de tudo, melhorando a qualidade de vidadestes pacientes.Palavras-chave: Infarto agudo, cirurgia, pacientes.

BENEFITS OF PHYSIOTHERAPY IN THE POSTOPERATIVEMYOCARDIAL REVASCULARIZATION

ABSTRACT

This article aims at approaching the importance of the physiotherapy in the treatmentof patients submitted to myocardial revascularization surgery. For so much, some books,articles, monographies end theses were used, serving as theorectical backgrounds. The resultsshown that the cardiac rehabil, tation presents prophylactic and therapeutical goals in ordertoreduce the physical and psychosocial impact of the disabling and limiting conditions in individualsand thus to restore and to increase its functional capacity. It is concluded that the Phisiotherapyreduces the decurrent deleterious effect of the cardiac by eventing, preventsg subsequentreinfarction, reduces costs with the health and, above all, improves the quality of life of thesepatients.Key-words: Stroke, surgery, patients.

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54 Introdução

As doenças cardiovasculares constituem um grave problema de saúde pública noBrasil. “Em 2000, ocorreram 260.555 mortes decorrentes de causas cardiovasculares, oque corresponde a mais de 31% do total ocorrido no ano. Entre estas, o Infarto Agudo doMiocárdio constitui um dos principais fatores etiológicos” (BOAS; PERONDINI et al., 2005).

Conforme estudos realizados pelo Instituto do Coração no ano de 2005, em cincocapitais do país, a mortalidade hospitalar por Infarto do Miocárdio diminuiu consideravelmente,situando-se ao redor de 8 a 10%. A redução de tais índices deve-se aos avanços tecnológicosque têm propiciado meios para a reabilitação cardiovascular através da correção cirúrgica(INCOR, 2005).

No final dos anos 60, realizou-se a Revascularização do Miocárdio (RM), utilizandoum segmento da veia safena interposta entre aorta ascendente e artéria coronária, cuja técnicafoi publicada em 1969. Em 1964, em Leningrado, foi realizada a primeira revascularizaçãomiocárdica por Koselov, na qual uma ponte de artéria mamária foi implantada para a artériacoronária descendente anterior (FAVALORO et al, 2002).

Com os avanços em cuidados pré-operatórios, das técnicas cirúrgicas, dos materiaise métodos de circulação extracorpórea (CEC), dos métodos de proteção miocárdica, daanestesia e dos cuidados intensivos pós-operatórios, houve diminuição da morbimortalidadeda Revasculação do Miocárdio, o que ocasionou a indicação cirúrgica em grupos de pacientescada vez mais complexos. Isso demonstra que a padronização da técnica e a melhora clínicaprecoce rapidamente contribuíram para que as intervenções cirúrgicas propiciassem o aumentoda expectativa de vida dos pacientes. Este fenômeno foi observado, tanto nos paísesindustrializados quanto nos países em desenvolvimento (VERRI, 2000; ALFIERI, 2002).

Contudo, mesmo com a modernização das técnicas, as complicações pós-operatóriascontinuaram retardando o processo de recuperação do paciente. Tais alterações surgemdevido à imobilização imposta pelo processo cirúrgico, anestesia, circulação extra-corpórea,entre outros, levando a uma diminuição da complacência pulmonar, aumento da resistênciadas vias aéreas, abolição dos suspiros e diminuição da mobilidade diafragmática - tudo issoresultando na redução da ventilação e da expansibilidade das áreas mais inferiores dos pulmões(BUFFOLO; GOMES, 2001).

Tentando minimizar os efeitos do pós-operatório, surge, somente nos últimos anos, aFisioterapia Cardiovascular, que passou a ser vista como peça indispensável no atendimentoao paciente cardiopata, aonde o fisioterapeuta vem agindo nas diversas etapas do tratamento.A Fisioterapia Cardiovascular ou Reabilitação Cardíaca (RC) pode ser definida como umasoma de intervenções que asseguram a melhora das condições físicas, psicológicas e sociaisdaqueles pacientes com doenças cardiovasculares pós-agudas e crônicas, podendo, porseus próprios esforços, preservar e recuperar suas funções na sociedade e, através de umcomportamento saudável, minimizar ou reverter a progressão da doença (RICARDO;ARAÚJO, 2006).

Centrado nestes estudos, o presente estudo pretende abordar a importância dafisioterapia no tratamento de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca de revascularização domiocárdio, os quais necessitam de acompanhamento fisioterapêutico tanto no pré, quanto nopós-operatório, visando uma melhor reabilitação do paciente (SONES; SHIREY, 2001).

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55A Fisioterapia no pós-operatório da revasculação do miocárdio

A Reabilitação Cardíaca (RC) pode ser definida como uma soma de intervençõesque asseguram a melhora das condições físicas, psicológicas e sociais daqueles pacientescom doenças cardiovasculares pós-agudas e crônicas, podendo, por seus próprios esforços,preservar e recuperar suas funções na sociedade e, através de um comportamento saudável,minimizar ou reverter a progressão da doença (RICARDO;ARAÚJO, 2006).

Os objetivos da RC são atenuar os efeitos deletérios decorrentes de um eventocardíaco, prevenir um subsequente reinfarto e rehospitalização, redução de custos com asaúde, atuar sobre os fatores de risco modificáveis associados às doenças cardiovasculares,melhorar a qualidade de vida destes pacientes e reduzir as taxas de mortalidade.

A RC é indicada para pacientes que receberam um diagnóstico de infarto agudo domiocárdio ou foram submetidos à revascularização miocárdica ou transplante cardíaco e,ainda, para aqueles com angina crônica estável e insuficiência cardíaca crônica (GUIMARÃES,2004).

Dentre as fases da Reabilitação Cardíaca, a fase I compreende a parte inicial doprograma; sendo, estão, a fase hospitalar aguda. O indivíduo internado que sofreu cirurgiacardiovascular, inicia a programação de reabilitação física tão logo seu quadro clínico sejaconsiderado estável, passando por estágios que evoluem de acordo com a sua recuperação,até a sua alta hospitalar. Esta fase tem como objetivos evitar os efeitos negativos do repousoprolongado no leito, como os fenômenos tromboembólicos, evitar posturas antálgicas, estimularo retorno mais breve às atividades físicas cotidianas, manter a capacidade funcional, desenvolvera confiança do paciente, diminuir o impacto psicológico (como ansiedade e depressão), evitarcomplicações pulmonares, maximizar a oportunidade da alta precoce e fornecer as bases deum programa domiciliar (AZEVEDO, 1999; GONÇALVES et al., 2005).

Alguns autores relatam que a atividade física permanente por meio da fisioterapia temgrande importância na terapêutica dos pacientes, devendo ser iniciada precocemente, sepossível, ainda na fase hospitalar, dando prosseguimento pós-alta hospitalar, o que propiciaretorno ao estilo de vida anterior melhor qualidade de vida (TANIGUCHI; PINHEIRO,2000).

Para Umeda (2005), os exercícios aeróbios melhoram a aptidão cardiovascular eaumentam a autoconfiança quando praticados por um período prolongado, promovendoadaptações morfológicas e funcionais no que diz respeito ao sistema cardiovascular e aosistema muscular.

Atualmente, diversos programas de reabilitação cardíaca vêm sendo desenvolvidoscom o propósito de propiciar aos pacientes um retorno mais precoce às atividades diárias ecom melhor qualidade de vida, objetivando a prática regular dos exercícios físicos comsegurança e baixos custos (BOTELHO, 2006).

O mecanismo básico das complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgiascardíacas está relacionado à diminuição insuflação pulmonar decorrente de uma respiraçãomais superficial, com diminuição da frequência e da amplitude dos suspiros inspiratórios;permanência prolongada em um mesmo decúbito; disfunção diafragmática temporária demagnitude variável; alterações do clearance mucocilliar e a insuficiência do mecanismo datosse que leva o paciente a complicações pulmonares mais graves tais como: atelectasias,pneumonias, derrame pleural, insuficiência respiratória, lesão do nervo frênico e mediastinite(AMIB, 2002).

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56 Nestes casos, a fisioterapia deverá aperfeiçoar a oxigenação, melhorar a ventilação ediminuir o trabalho respiratório. Tudo isso é associado a uma terapêutica medicamentosaadequada para que a congestão pulmonar e ansiedade diminuam, proporcionado assim, umamelhor reabilitação do paciente (BOTELHO, 2006).

A reabilitação cardíaca apresenta objetivos profiláticos e terapêuticos, visando reduziro impacto físico e psicossocial das condições incapacitantes e limitantes que acometem oindivíduo, objetivando, assim restaurar e aumentar a sua capacidade funcional, de modo quese obtenha considerável melhora na qualidade de vidas e do prognóstico. (BUCHLER et al,1996).

Moraes et al. (2005), afirma que o tratamento fisioterapêutico na fase hospitalarbaseia-se em procedimentos simples, como exercícios metabólicos de extremidades, paradiminuir o edema e aumentar a circulação; técnicas de tosse efetiva para eliminar obstruçõesrespiratórias e manter os pulmões limpos; exercícios ativos para manter a amplitude demovimento e elasticidade mecânica dos músculos envolvidos; treino de marcha em superfícieplana e com degraus, entre outras atividades, uma vez que a mobilização precoce dos pacientesapós cirurgia cardíaca demonstra reduzir os efeitos prejudiciais do repouso prolongado noleito, aumenta a autoconfiança do paciente e diminui o custo e a permanência hospitalar.

A fisioterapia motora tem grande significado para o desenvolvimento da capacidaderespiratória, procurando evitar atelectasias em áreas pulmonares inferiores e sendo importantena prevenção de processos vasculares venosos, particularmente tromboembolismo etromboflebites entre outros, sobretudo por alterações venosas no membro inferior (AMIB,2002).

Para Braunwald (1999), a mobilização precoce reduz os efeitos prejudiciais dorepouso no leito e maximiza a velocidade em que as atividades habituais podem serreassumidas. Atualmente, novas técnicas terapêuticas permitem que a maioria dos pacientestenha alta hospitalar precocemente após infarto e revascularização do miocárdio sem perdada capacidade funcional.

Foi realizado um estudo no Instituto do Coração (INCOR), onde os pacientessubmetidos a transplante cardíaco, iniciavam no programa de reabilitação até a alta hospitalar.Após isso, os pacientes foram orientados a realizar caminhada com duração de quarenta asessenta minutos, com freqüência de quatro a cinco vezes na semana. Após seis meses essespacientes foram submetidos à reavaliação, e assim encaminhados para um programa decondicionamento regular. Concluíram nesse estudo, que a atividade física regular tem papelimportante na terapêutica dos transplantados, devendo ser iniciada precocemente, se possível,ainda na fase hospitalar, dando prosseguimento após-alta hospitalar, para que possam retornara um estilo de vida normal, próximo do que tinham antes da doença, permitindo um convíviosocial satisfatório, com retorno a uma vida ativa e produtiva (GONÇALVES, 2006).

Araújo et al. (2004) relatam em seus arquivos que o crescente reconhecimento dopapel benéfico do exercício físico regular leva à maior demanda de programas de exercíciosupervisionado nas cidades brasileiras de grande e médio porte. No entanto, deve-se aumentara oferta de serviços especializados capazes de proporcionar um atendimento de qualidadeaos pacientes. A prescrição do exercício deve basear-se tanto em dados objetivos de umteste de esforço máximo limitado a sintomas, como em dados subjetivos relacionados comestado clínico, resposta ao exercício entre outros.

O trabalho aeróbio não apenas melhora a aptidão cardiovascular como tambémaumenta a autoconfiança e a sensação de bem-estar. Mesmo com o alívio dos sintomas, os

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57pacientes tornam-se inseguros com relação às suas limitações, e temerosos de que reapareçamos sintomas. Efeitos extremamente benéficos do exercício aeróbio, sob esse aspecto,representam a contribuição isolada mais importante da reabilitação nos pacientes submetidosà revascularização (BRAUNWALD, 1999).

Recursos Fisioterápicos no pós-operatório

Visando alcançar os objetivos citados acima, as seguintes técnicas fisioterápicaspodem ser aplicadas.

Terapia de higiene brônquica

- Drenagem postural: consiste no alinhamento dos brônquios segmentares com agravidade, para que a energia mecânica possa auxiliar as secreções acumuladas em umsegmento pulmonar periférico a moverem-se em direção a um brônquio central, podendo serentão removidas pela tosse ou aspiração (SCANLAN;MYSLINSKI, 2000).

- Tosse: No pós-operatório de RM, Jimenez (1992) ressalta que a tosse será parteimprescindível no tratamento, mesmo provocando movimentação do tórax e dor, no intuitode propiciar a liberação da via de acesso do fluxo aéreo, contando que a secreção já seencontre em zona tussígena.

- Huffing: consiste em uma expiração forçada com a glote aberta com o objetivo deauxiliar a eliminação de secreções com menor alteração da pressão pleural e menorprobabilidade de colapso bronquiolar; utilizado assim como uma alternativa em pacientesque apresentam tosse ineficaz. (REGAN et al, 1994; SCANLAN; MYSLINSKI, 2000).

- Inalação: pode-se associar com medicações que influenciam na depuração mucociliarpela estimulação da atividade ciliar, broncodilatação ou alteração da viscosidade do muco(TANIGUCHI; PINHEIRO, 2000).

Terapia de expansão

- Inspiração em tempos: consiste em inspiração nasal suave curta, interrompida porcurtos períodos de apnéia pós-inspiratória e programada para 2, 3, 4 ou 6 tempos repetitivose, em seguida, expirar suavemente por via oral até o nível de repouso (AZEVEDO, 1999).

- Sustentação Máxima Inspiratória (SMI): consiste em uma inspiração nasal suavee uniforme até atingir a capacidade inspiratória máxima, seguindo-se por um período deapnéia (3 a 10s). A expiração oral é lenta, contínua e sem esforço, até atingir o volume dereserva expiratório máximo (AZEVEDO, 1996).

- Pressão de Suporte (SP): é o fornecimento de níveis predeterminados de pressãopositiva apenas na fase inspiratória, de forma constante, na via aérea do paciente, associadoà pressão positiva expiratória final (PEEP). Pode ser usada em VM convencional ou comoventilação não-invasiva (BARBAS et al., 1994).

- Respiração por Pressão Positiva Intermitente (RPPI): é a manutenção da pressãopositiva dentro das vias aéreas durante toda a inspiração, de forma intermitente (TANIGUCHI

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58 e PINHEIRO, 2000). No pós-operatório é o acessório de escolha quando o paciente éincapaz de aumentar seu volume corrente adequadamente durante o tratamento e apresentandodificuldade em expectoração. Nesses pacientes o uso da RPPI pode ser associado commanobras de expansão pulmonar (WEBBER et al., 2002).

- Inspirometria de incentivo: A manobra básica de inspirometria de incentivo é ainspiração máxima sustentada (SMI) e podem ser utilizados dispositivos orientados pelovolume ou pelo fluxo. Os dispositivos a volume são mais fisiológicos e quantificam de formadireta o volume inspirado. Já os dispositivos a fluxo quantificam apenas indiretamente o volumeinspirando, podendo ainda gerar fluxo turbulento inicial, e quanto mais elevado for o fluxodurante a inspiração, maior a turbulência e, conseqüentemente, maior o trabalho respiratório(AZEVEDO, 1996; TANIGUCHI;PINHEIRO, 2000; WILKINS; SCANLAN, 2000).

- Manobra de pressão negativa (MPN): esta manobra facilita uma contração maisforte dos músculos da região alongada, provocando um maior esforço inspiratório. A eficáciadessas manobras exige excelente coordenação paciente-terapêuta. Deve-se fazer umacompressão para conscientizar o deslocamento do fluxo e uma rápida descompressão com amão, em concha, como que formando um “vácuo” (JIMENEZ, 1992; TANIGUCHI;PINHEIRO, 2000).

- Direcionamento de fluxo: O fisioterapeuta deve periodicamente bloquear umhemitórax (ou parte de um hemitórax) visando o aumento de fluxo contra lateral, desde quenão se produza um ciclo inspiratório mais rápido. O bloqueio é realizado com o objetivo deexpandir o pulmão contralateral. Esta técnica exige cautela no caso de uma esternotomiamediana para não provocar dor e desequilíbrio na incisão (JIMENEZ, 1992; TANIGUCHI;PINHEIRO, 2000).

Procedimentos fisioterapêuticos no pós-operatório

Paciente na Terapia Intensiva

Apesar da grande variedade de doenças cardíacas tratadas cirurgicamente, o pós-operatório, realizado na terapia intensiva, obedece a princípios comuns. O manejo inicialdesses pacientes no período pós-operatório prende-se mais à correção das anomaliasproduzidas pela anestesia, pela CEC e pela cirurgia propriamente dita do que às cardiopatiassubjacentes, tendo em vista a prevenção ou reversão das possíveis complicações do pós-operatório de cirurgia cardíaca (SENRA et al., 1998).

O fisioterapeuta, juntamente com o restante da equipe paramédica e o médicointensivista recebe o paciente vindo em pós-operatório imediato do centro cirúrgicofreqüentemente entubado, necessitando de ventilação mecânica (VM), em vista do comaanestésico. O fisioterapeuta ou outro membro da equipe devidamente qualificado regula osparâmetros da VM, tendo em vista os dados do paciente e de sua cirurgia. O paciente deveser a todo tempo bem monitorizado (SENRA et al., 1998).

Com técnicas respiratórias de higiene brônquica, pressão positiva nas vias aéreas,inspirometria de incentivo, manobras reexpansivas, o fisioterapeuta segue acompanhando opaciente na UTI, melhorando sua condição pulmonar e evitando ou revertendo possíveiscomplicações pulmonares.

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59Paciente na Unidade de Interação Hospitalar (UIH)

Saindo da UTI, o paciente segue para a unidade de interação, onde requer cuidadosde fisioterapia respiratória que visam continuar o tratamento iniciado na UTI. É importanteobservar as condições do paciente pós-alta da UTI na unidade de internação: estado geral,quadro respiratório e exames complementares (SENRA et al., 1998).

Várias condutas poderão ser realizadas na enfermaria, observando sempre ascondições do paciente. A intensidade dos exercícios varia de acordo com a quantidade deoxigênio consumida pelo miocárdio.

Considerações finais

Com as informações obtidas por meio desta revisão bibliográfica conclui-se que aRevascularização do Miocárdio (RM) é uma intervenção complexa que pode envolver diversasterapias, incluindo aconselhamento nutricional, acompanhamento psicológico, orientaçãoquanto aos fatores de risco e à administração de drogas. Contudo, grande parte do sucessodos programas de RM é devida à terapia baseada no exercício físico, sendo esta consideradaa estratégia central destes programas.

Diante do exposto, é necessário que continuem sendo desenvolvidas pesquisas nestaárea da fisioterapia, bem como o desenvolvimento de protocolos, de projetos e de programasde Reabilitação Cardíaca, para que assim possa-se melhorar ainda mais a recuperação físicae psicossocial do paciente.

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Recebido:22.07.2008Avaliado: 02.06.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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62 ESTRESSE: UM BREVE PANORAMA

Juan Carlos Viñas Cortez/UFPBMateus Bezerra Lima/UFPBRafaela Guedes da Nóbrega/UFPB

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é fornecer um panorama bastante breve sobre estressee que possa servir de entrada à compreensão do tema abordado. Atualmente o estresse éreconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem estar Psicossocial dos indivíduos.Transformações nos processos de produção e no estilo de vida da contemporaneidade,pautados na competitividade e demanda crescente por excelência, colocam os trabalhadoresem um estado de contínua tensão, que traz consequências negativas à sociedade como umtodo. Supõe-se que o estresse sempre esteve presente na sociedade, ao longo da história.Daí questiona-se então, o que de diferente pode ser notado na sociedade atual, na qual oestresse passou de função orgânica adaptativa à doença crônica. É notável a fragmentaçãodos materiais teóricos sobre o estresse, principalmente relacionados a seus diversos conceitose evolução histórica.Palavras-chave: Doença crônica, qualidade de vida, trabalho.

STRESS: A BRIEF OVERVIEW

ABSTRACT

The objective of this paper is to bring a brief overview about stress which may serveas a comprehensive device for the theme. As it is known, stress is recognized as one of themost serious threats to the individual´s psychological and social well being. Transformations inthe production processes and in the contemporary lifestyle are based in competition anddeveloping demand above all place the workers in a state of continuous tension, that bringsnegative consequences to society. The hypothesis that stress has always been present insociety is raised through history. The difference noticed in society is questioned in which stresschanged from organic adaptive function to chronic disease. The fragmentation of study materialsabout stress is evident and many of them are related to the diverse concepts and historicevolution.Key-words: Chronic disease, life quality, work.

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63Apresentação

A idéia de concepção do presente trabalho surgiu da necessidade de disponibilizarum material conciso, mas ao mesmo tempo abrangente, sobre a questão do estresse, tãodebatida tanto nos meios acadêmicos como na sociedade em geral nos dias de hoje.

Nota-se facilmente a fragmentação das informações apresentadas em grande partedos artigos científicos que tratam de tal temática, inclusive com informações algumas vezesbastante conflitantes.

Logo, tornou-se necessária a elaboração do presente material, que certamente estábastante longe de se constituir em um texto base, ou encerrar a discussão de um tema tão ricoe abrangente como o estudo do estresse. A meta é apresentar um texto claro, organizadocronológica e tematicamente e que possa servir de porta de entrada ao compreendimento dotema abordado.

Tem-se como base traçar uma linha que possa apresentar de uma maneira sistemáticae através de uma perspectiva integrativa, as diferentes visões e a evolução histórica dosestudos sobre o estresse.

Para isso, faca-se inicialmente em uma breve revisão histórica do termo, em seguidaexploram-se diferentes conceitos e modelos teóricos que subjazem o estudo de tal tema efinalmente contextualiza-se a situação do estresse atualmente, propondo sugestões que visemà melhoria da qualidade de vida dos indivíduos expostos cotidianamente a tal fator insalubre.

Introdução

É bastante plausível cogitar a possibilidade, levando-se em consideração a situaçãode vida do trabalhador típico da contemporaneidade, que o ambiente de trabalho,impulsionado pelos avanços vertiginosos das tecnologias de informação e a sempre crescentedemanda por excelência, tanto qualitativa, quanto quantitativamente, tenha acompanhadotais mudanças com mais velocidade do que a capacidade adaptativa dos trabalhadores.

Os profissionais encontram-se atualmente sob uma forma de tensão contínua, quenão se restringe apenas a seus ambientes de trabalho, mas expande-se à vida cotidiana emgeral, (BALLONE, 2002).

O stress é reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocialdo indivíduo. Conforme afirmam Bateman & Strasser (1983) Pellentier (1984), e que de 50a 80% de todas as doenças têm fundo psicossomático, ou estão relacionadas a altos níveisde estresse.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, os chamados transtornosmentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores e os transtornos mentais graves,cerca de 5 a 10%. No Brasil, segundo dados do INSS, referentes apenas aos trabalhadorescom registro formal, os transtornos mentais ocupam a 3ª posição entre as causas de concessãode benefício previdenciário como auxílio doença, afastamento do trabalho por mais de quinzedias e aposentadorias por invalidez, (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2001).

São notáveis as influências que os intensos processos de “modernização”, observadosnos dias de hoje, ocasionam nos ambientes laborais, repercutindo nos modos e condições detrabalho, relações de produção e capacidade de resistência e adaptação dos trabalhadores aessa nova carga de demandas. (COSTA, 2000).

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64 Alevato (2003) afirma que atualmente enfrentamos, nesses tempos de globalizaçãoimposta e crise - inclusive pela redefinição do binômio empregabilidade/sobrevivência - umaumento significativo da quantidade de pessoas padecendo de alguma forma de sofrimentopsíquico em decorrência de fatores estressores.

As mudanças ocorrem continuamente na vida e os organismos devem estar preparadospara se adaptar a elas o mais rapidamente possível a fim de garantir a sobrevivência. Oestresse funciona como um mecanismo de adaptação, necessário para estimular o organismoe melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas.

Em hipótese, o estresse sempre esteve presente na sociedade, ao longo da história.O ser humano sempre se defrontou com situações problemáticas que eram consideradascomo superiores à suas capacidades de resolução. Questiona-se, então, o que de diferentepode ser notado na sociedade atual, na qual o estresse passou de função orgânica adaptativaà doença crônica.

Histórico

O termo estresse tem origem da palavra latina stringere que significa provocar tensão,(PAVÓN, 2004). Pode-se dizer que a palavra estresse foi utilizada pela primeira vez comsentido técnico no século XIV, para referir-se à dificuldade, lutas, adversidades.

No início dos anos de 1900, a idéia de trabalhadores como pessoas portadoras denecessidades complexas, que necessitavam serem levadas em conta, para que tais indivíduospudessem ter um desempenho adequado e satisfatório no trabalho, não era evidente, (WOOD,1995).

Com o advento das revoluções burguesas e todo o contexto histórico que levou aprofundas modificações nos modelos de produção, culminando na sociedade industrial, é deextrema importância salientar o impacto de tais mudanças na vida dos trabalhadores, e arepercussão, vivenciada ainda hoje, de tal transformação.

A partir das pesquisas de Frederick Winslow Taylor, toda uma nova forma de pensaro processo de produção e sua organização se desenvolveu: o taylorismo. Sua obra “ThePrinciples of Scientific Management” é um marco no pensamento analítico do trabalho, visandouma completa reestruturação de tal processo, com o objetivo de alcançar produtividade semprecedentes. O conjunto de princípios de organização do trabalho desenvolvido por Taylormarca ainda hoje a gestão das empresas.

F. W. Taylor propôs um método de análise do trabalho que permitiu decompor astarefas em movimentos elementares e recompô-las, depois, de uma maneira mais adaptada.Taylor lançava aí os fundamentos da organização científica do trabalho, (SILVA,SACOMANO e MENEGUETTI, [s.d.]).

Henry Ford, baseado nos trabalhos de Taylor, também acrescentou diversas mudançasao sistema produtivo da época, conseguindo redução drástica de custos e do aumento daprodução e da qualidade final do produto. O conceito central da produção em massa estariana completa e consistente intercambiabilidade das peças e na simplicidade de montagem. Em1908, quando do lançamento do Ford modelo T, a montagem do automóvel demorava dozehoras e vinte minutos, já na década de 20 este tempo estava em uma hora e vinte minutos,(SILVA, SACOMANO e MENEGUETTI, [s.d.]).

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65Fixo em seu posto de trabalho, o trabalhador passou a constituir-se em apenas maisum componente das máquinas. Segundo Ford, suas ações deveriam ser feitas de formamecânica e automática, sem intervenção de sua mente, tornando-se assim, mais um elementoharmonioso do sistema de linha de montagem.

É evidente que tais revoluções trouxe diversos problemas de saúde relacionados aoestresse nas formas de organização do trabalho, exigindo do operário apenas sua força detrabalho muscular, em tarefas extremamente simples e repetitivas, sem nenhuma necessidadede reflexão ou participação ativa no processo de produção.

Foi nesse contexto produtivo que, em 1936, Hans Selye, fisiologista e pesquisadoraustríaco, que trabalhava em Montreal, no Canadá, empregou como terminologia médica,pela primeira vez, a palavra inglesa stress. Aqui tal termo é originado da física e utilizado paradefinir o desgaste de materiais submetidos a excessos de peso, calor ou radiação e paracaracterizar qualquer agente ou estímulo, nocivo ou benéfico, capaz de desencadear noorganismo mecanismos neuroendócrinos de adaptação, (JACQUES, 2003).

Em 1950, Selye publicou a obra na qual expôs de modo completo a síndrome geralde adaptação, sob o título: “Physiology and Pathology of Exposure to Stress, Montreal,1950”, (REZENDE, 2002).

O fisiologista Hans Selye descreveu a síndrome geral de adaptação (GAS) atravésda qual as observações iniciais sobre reações infecciosas conduziram à descoberta de que oestresse pode conduzir à infecção, à doença e à morte. Há, portanto, três estágios que foramdescobertos, a dizer: alarme, resistência e exaustão. (LORETE, 2006)

O estresse psicológico é uma aplicação do conceito para além da dimensão biológicae é definido por Lazarus e Folkman (1984) como uma relação entre a pessoa e o ambienteque é avaliado como prejudicial ao seu bem-estar. Os autores chamam a atenção para aimportância da avaliação cognitiva da situação (o fator estressor) que determina por que equando esta situação é estressora e para o esforço de enfrentamento, ou seja, a mudançacognitiva e comportamental diante do estressor.

Conceituação

Selye (1956) caracterizou o estresse, ou síndrome de adaptação geral, como umdesgaste devido à inadaptação prolongada do indivíduo às exigências do ambiente. Doisaspectos são importantes ao estresse: 1) ele pode ser provocado por vários fatores, causandomanifestações diversas; e 2) a dependência da capacidade de resposta e da percepção decada indivíduo, (MARQUES, MORAIS e COSTA, 2003).

De acordo com essa concepção, Selye (1956) fez uma diferenciação do estresse empositivo e negativo. O positivo, também chamado de eustresse, é caracterizado por umaresposta produtiva do organismo ao estimulo, é o estresse da realização, uma parte naturalda superação eficaz dos obstáculos da vida. O estresse negativo, também chamado dedistresse, é uma reposta negativa que pode causar danos ao organismo, (MARQUES et al,2003). Selye (1956) ordenou o distresse em fases e Lipp (1995) pesquisou os sintomascaracterísticos de casa fase e em determinados períodos de tempo, (NAKAYAMA eBITENCOURT, [s.d.]).

O conceito de estresse de Lazarus (1966) é um dos mais conhecidos na área deciências humanas. Este teórico propõe que o estresse deve ser tratado como um organismo

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66 de compreensão de amplo alcance e de grande importância para a adaptação humana eanimal. Com isso, o estresse pode ser compreendido não como uma variável, mas como umasíntese consistindo de muitas variáveis e processos. (NAKAYAMA e BITENCOURT, s.d.)

Nos anos 70, a literatura sobre o estresse foi marcada pela abordagem de estresseno trabalho e as repercussões sobre a saúde mental do indivíduo, com base somente nasdemandas das tarefas. As pesquisas sobre o estresse foram fortemente influenciadas pelospsicólogos clínicos que se fundamentaram no modelo proposto por Selye, no qual sugere-seque o estresse se constitui da relação demanda versus capacidades do indivíduo, (ARAÚJO,2003).

Cox (1978) definiu estresse ocupacional como a percepção do desequilíbrio entre asdemandas no trabalho e sua habilidade e/ou possibilidade para respondê-las. O fator maisimportante é a divergência entre a percepção dessas demandas, e a condição do trabalhadorpara enfrentá-las. Como consequência disto, o estresse é caracterizado pelas emoçõesnegativas, sensação de mal-estar e desconforto geral vivenciados. Esse tipo de estresse podeainda ser definido como um conjunto de perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico,ligado às experiências de trabalho (LAVILLE e TEIGER, 1975; DEJOURS, 1984, SMITHe STEPHENS, 1996, citados por NAKAYAMA e BITENCOURT, 2008).

Os fatores desencadeadores de estresse podem ser detectados como: medo defracassar, cansaço físico e emocional, viagens, prazos fatais etc. Ainda, por apoio inadequadodas pessoas que cercam os trabalhadores, sensação de ser mal interpretado ou não apreciado,orientação ou gerenciamento inadequado de seus superiores. Igualmente por ambientes detrabalho altamente competitivos, não reconhecimento do trabalho executado ou falta decompreensão clara de como conduzir-se no ambiente. (NAKAYAMA e BITENCOURT,[s.d.], p.4.

A OIT/OMS, através de um comitê composto por membros destas duas organizações,define que os fatores estressantes do trabalho compreendem aquelas interações entre otrabalho, seu meio ambiente, a administração e sistemas de produção, a satisfação no trabalhoe as condições da organização perante esta satisfação, as capacidades do empregado, suasnecessidades, sua cultura, as relações interpessoais e sua situação pessoal fora do ambientede trabalho. Todos estes fatores podem influenciar na saúde, no rendimento e na satisfaçãolaboral, (COSTA, [s.d.])

De acordo com Rocha (2005) é preciso que o trabalhador tenha controle sobre suascondições de saúde e para que isto ocorra, se faz necessário que ele tenha suas necessidadesbásicas, tanto no trabalho quanto no que este oferece na sua vida privada, atendidas. Comisto, o trabalho deve oferecer uma alimentação saudável, moradia adequada, meio detransporte, saúde e educação eficientes, diretos básicos à condição humana.

Para Sivieri, (1994) citado Rocha, (2005, p. 11), “A moderna organização capitalistado processo de trabalho iniciou a era das doenças provocadas pela grande exigência deadaptação do homem ao trabalho, um reflexo do esforço que o trabalhador emprega paraadaptar-se a esta situação anormal”.

As exigências no mundo capitalista comprometem o ritmo físico e psicológico dotrabalhador, causando doenças laborais, devido à cobrança excessiva, com o objetivo desuperar a capacidade de adaptação profissional.

A carga excessiva de trabalho, bem como a instabilidade no emprego e a acirradacompetição no ambiente produtivo, acarretam um aumento de estresse no trabalhador. ParaRocha (2005), a pressão a que o empregado é submetido com o objetivo de buscar lucro e

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67aumentar a competição no mercado e a eficácia e a manutenção do emprego, acabam porcausar um sofrimento psíquico no trabalhador que se sente apavorado com a possibilidadede fracasso, devido ao desgaste físico e mental.

Esse sofrimento é observado com clareza quando a atividade profissional não é maismotivo de prazer, bem estar, satisfação, de sentir-se útil. Estes sentimentos dão lugar à dor,sofrimento e cansaço. As condições de trabalho inadequadas, baixa remuneração, prejudicamo bem-estar e a satisfação no ambiente de trabalho. Os sintomas psíquicos estão relacionadosà diminuição da concentração, memória, confusão, ansiedade, depressão, frustração, medoe impaciência, (ROCHA, 2005).

É possível, assim, constatar que os fatores geradores de riscos à saúde e ao sofrimentopsíquico estão aumentando devido às exigências impostas aos profissionais. Outro fator quepode ser considerado estressante é a perda do emprego o que ocasiona dificuldades financeiras,e acaba refletindo a identidade social do individuo. Devido ao desemprego, sua identidadepessoal e auto-estima também são abaladas.

Segundo França e Rodrigues, (1997) citados por Rocha, (2005) os indivíduos queapresentam um grau elevado de ansiedade, se “acostumaram” a lidar com o estresse notrabalho usando este como meio de descarga e tensão. Esse tipo de trabalhador é chamadode workaholic, isto é, “viciado no trabalho”, e são muito valorizados no ambiente empresariale pela sociedade tecnológica, visto que são pessoas com alto rendimento profissional.

Goleman, (1997, p.98) afirma que o desgaste físico e emocional aos quais as pessoaspassam nas relações com o ambiente de trabalho são fatores muito significativos nadeterminação de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como é o caso dasdepressões, ansiedade, transtorno de pânico, fobias e doenças psicogênicas.

Segundo Santos, [s.d.], o manejo do estresse no ambiente de trabalho deve tercomo principal objetivo, a melhoria da qualidade de vida, e isso deve estar assegurado napolítica de qualidade e recursos humanos da empresa, e identificado em sua visão e missão.Um programa de gestão do estresse no trabalho deve ser sempre encarado com muitaresponsabilidade e comprometimento de todos os níveis de liderança da empresa.

De acordo com o exposto, pode-se perceber que é de suma importância o estudodo estresse no trabalho bem como dos seus eventos/estímulos desencadeadores para quehaja um modelo de intervenção frente a esse mal, com o objetivo de melhorar a qualidade devida e satisfação no trabalho e aumentar o desempenho do empregado, como também de suamotivação para exercer sua função.

Estresse e qualidade de vida no trabalho

Martins, [s.d.], p. 257, delimita o conceito de qualidade de vida no trabalho comosendo “o grau em que os membros duma organização são capazes de satisfazer as necessidadespessoais, através de suas experiências no contexto organizacional”.

Sendo assim, retoma-se a idéia dos trabalhadores exposta por Wood (1995), comosendo indivíduos portadores de necessidades pessoais complexas, que têm de ser levadasem conta pela organização, tendo por objetivo preenchê-las na medida do possível, para queassim seja efetivada a existência de uma satisfatória qualidade de vida no trabalho.

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Recebido: 01.03.2009Avaliado: 17.04.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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70 PERFIL DA CLIENTELA ADOLESCENTE ENCAMINHADA ÀCLÍNICA ESCOLA DE PSICOLOGIA DO UNIPÊ

Margarete Vicente Mendes/UNIPÊEdvânia Guedes Araújo/UNIPÊTatiana de Cássia Nakano/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste trabalho é identificar quais os principais motivos que levam oadolescente ao tratamento psicológico. Todas as fichas de triagens de adolescentes entre 10e 20 anos, durante o período de janeiro de 2005 a julho de 2006, foram analisadas, em umtotal de 89. Os resultados indicaram que a população adolescente era predominantementedo gênero feminino, concentrando-se na faixa dos 18 anos; escolaridade de EnsinoFundamental Incompleto, cujas queixas mais comuns eram relacionadas à característica depersonalidade não adequada. A principal fonte de encaminhamento proveio da própria família.Concluiu-se, então, que existe uma necessidade de trabalho multidisciplinar ao adolescente,uma vez que a adolescência é um momento de crise no qual o jovem está definindo a suaidentidade, surgindo a necessidade de um facilitador, podendo ser a terapia.Palavras-chave: Saúde mental, adolescência, tratamento psicológico.

PROFILE OF THE ADOLESCENT PATIENT SENT TO THECLÍNICA ESCOLA DE PSICOLOGIA DO UNIPÊ

ABSTRACT

This work aims at identifying the main reasons that have led the teenagers to apsychological treatment. All the files for selecting the adolescents with the ages between 10and 20 years, from January of 2005 to July of 2006, were analyzed by totalizing 89 informants.The results have predominantly indicated that all the adolescents consisted of females with anaverage age of eighteen, with incomplete basic education, and whose most common complaintswere related to an inadequate personality feature. The main source for guiding the psychologicalresearch emerged from the family. It was thus concluded that there was a necessity ofmultidisciplinary work for the adolescent; since the adolescence is a crisis moment, in whichthe young is defining its identity, appearing some times the necessity of a facility, being able tobe the therapy.Key-words: Mental health, adolescence, psychological treatment

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71Introdução

A modernização e o progresso alteram a experiência familiar e individual do ser humano.Nesta mudança encontra-se o adolescente em meio aos conflitos relacionados à própriaidentidade. É nesta fase que surgem os primeiros confrontos familiares; os desejos e expectativastornam-se mais claros, deixando o adolescente confuso, frente às escolhas que a vida lhesimpõe.

Acredita-se, porém, ser natural a busca por uma orientação psicológica. Nesteprocesso, o objetivo do terapeuta é auxiliar o adolescente a compreender sua situaçãoespecífica de vida, incluindos aspectos pessoais, familiares e sociais. Segundo Ferreira, Silva,Farias e Silvares (2002), a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera adolescente oindivíduo que se encontra na segunda década de vida, ou seja, dos dez aos vinte anosincompletos.

Ainda, segundo as autoras, estudos sobre adolescência destacam quatro mitos sobreesta etapa do desenvolvimento: que a adolescência seja um período de instabilidade emocional;que os problemas que aparecem sejam próprios da idade e resolvidos com o amadurecimento;que a necessidade dos jovens de separar-se de seus pais resulte em conflitos internos ehostilidades; e que exista invariável abismo entre gerações. Estes mitos permitem que osadultos expliquem comportamentos inconvenientes dos jovens. Tal pensamento dificulta arealização de um diagnóstico diferencial, sobre os verdadeiros sinais e sintomas da patologiaque podem estar sendo desenvolvidos na adolescência.

Para Granã (1994), o desenvolvimento e a psicoterapia do adolescente fluem emleito próprio, mas são mageados pela família durante um lento processo de transição. Ribeiro(1986) considera a psicoterapia, como um processo no qual o cliente vai descobrindo ummodo mais fecundo de lidar consigo, e com o mundo, revitalizando suas potencialidadesdesorganizadas e descobrindo os recursos próprios de sua personalidade.

De acordo com Cordioli (1998), o adolescente, nesta etapa da vida atravessaconstantes modificações de um corpo infantil para um corpo adulto, do auto-erotismo para aheterossexualidade, além de enfrentar identificações transitórias e um imenso trabalho doego. Todo este processo exige uma atenta compreensão no campo psicoterápico. Na opiniãode Knobel e Aberastury (1986), o adolescente, frente a tantas mudanças físicas e psíquicas,apresenta algumas dificuldades, entendendo como é anormal a ausência de inquietação ou dochamado “turbilhão” nesta fase.

De acordo com Contini, Koller e Barros (2002), a adolescência é um momentocrucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento.Para Osóri (1992), a adolescência é uma etapa na qual culmina todo o processo de maturaçãobiopsicossocial do indivíduo. Assim sendo, é de suma importância que se busque entender aadolescência; procurando abstrair-se de uma visão determinista, que trace um perfilestereotipado do adolescente.

Diante o exposto, o objetivo da presente pesquisa foi traçar um perfil dos adolescentesencaminhados à Clínica-Escola de Psicologia do UNIPÊ.

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72 Método / Participantes

A pesquisa, aqui realizada envolveu a coleta de informações constantes nas fichas detriagem dos pacientes adolescentes atendidos na Clínica Escola de Psicologia da UNIPÊ.

Por ser do tipo documental, esta pesquisa não envolve de forma direta os participantes.Assim, 89 adolescentes preencheram os requisitos e foram selecionados para compor aamostra, sendo 53 do sexo feminino e 36 do sexo masculino.

Instrumento

Com a finalidade de realizar um levantamento de dados constantes nas fichas detriagem dos adolescentes atendidos na Clinica Escola de Psicologia do UNIPÊ, principalmenteaqueles que se referem às queixas e o motivo do encaminhamento dos adolescentes até aclínica, foi desenvolvida uma ficha de coleta de dados. Este formulário apresentou um roteirodividido em duas partes: uma concernente aos dados sociodemográficos e a outra às queixastrazidas à entrevista psicológica e à forma do encaminhamento. Buscam-se também,informações sobre: sexo, idade, escolaridade, motivo da consulta e forma de encaminhamentoà instituição.

Procedimento

Antes da coleta dos dados, foi solicitada permissão à coordenação da Clínica dePsicologia do Centro Universitário de João Pessoa-UNIPÊ permissão para a realização dapesquisa de levantamento dos dados, a serem realizados a partir das fichas de triagem dospacientes. Após a obtenção da autorização, as pesquisadoras deram início à coleta de dados.

Todas as fichas de triagem, realizadas no período de janeiro de 2005 a julho de2006, foram visualizadas pelas pesquisadoras, de forma a separar aquelas que se referiamaos adolescentes com idade entre 10 e 20 anos (um dos critérios de inclusão propostos napesquisa). Dentro dessa população situaram-se aqueles que podem ter sido atendidos umaúnica vez ou terem sido acompanhados em atendimento psicoterápico ou psicopedagógico.

Os dados relativos ao sexo, idade, escolaridade e forma de encaminhamento àinstituiçã, foram analisados em relação à frequência e percentagem. Já os dados relativos aomotivo da consulta (queixa) foram analisados em função da análise de conteúdo a partir dacriação de categorias de análise. Tais categorias estão divididas em: Comportamentosindesejados (agressividade, uso de drogas, pegar objetos alheios, rebeldia, irritabilidade,tentativa de suicídio, automutilação, exibição, autoritarismo, negativismo, indisciplina, mentir);sintomas físicos (estresses, insônia, desmaios, falta de memória, obesidade); transtornospsicológicos (depressão, ansiedade, TOC, anorexia, complexo de inferioridade, síndromedo pânico, baixa auto-estima); dificuldade de relacionamentos (isolamento, separação dospais, problemas de relacionamento afetivo, familiar, habilidade social, anti-social); dificuldadesescolares (dificuldade de aprendizagem, desinteresse, queixa escolar); características depersonalidade (hiperatividade, dispersa, perturbação, tristeza, apatia, perfeccionismo, timidez,insegurança, nervosismo, curiosidade, afetividade, emotivo, medos, agitação, inibição); outros(rejeição da gravidez, verificação psicológica, conhecimento na área, paralisia cerebral); semrespostas.

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73Resultados

A presente investigação considerou a população inscrita para receber atendimentopsicológico durante o período de Janeiro de 2005 a Julho de 2006. O atendimento ocorreuem período integral, por alunos estagiários que colheram as informações básicas sobre opaciente e o motivo da consulta.

Após o levantamento dos dados, foi possível constatar um predomínio do sexo femininocom 59,56% dos adolescentes atendidos, enquanto que 40,44% eram do sexo masculino.

Com relação à faixa etária, houve maior concentração de adolescentes com idade de18 anos (13,49%), seguindo-se igualmente com a idade de 11 e 19 anos (12,36%) e a idadede 20 anos (11,24%). As faixas etárias descritas somam um percentual de 49,45%,caracterizando uma procura maior por atendimento a adolescentes na fase inicial daadolescência e no final desta; momento este em que o adolescente enfrenta problemas deordem emocional ou comportamental. A menor frequência foi de adolescentes de 12 anos(4,49%).

Os dados coletados revelam que a maior parte dos clientes possui Ensino FundamentalIncompleto (42,70%). Seguidos pelo nível de Ensino Superior Incompleto (23,60%), taisdados apontam para a grande busca por alunos do UNIPÊ. Pode-se supor que, por se tratarde uma população mais esclarecida, considere a qualidade desse serviço e o procure mais. Amenor frequência foi do Ensino Fundamental Completo (3,37%). As fichas sem este tipo deinformação representaram 7,86% da frequência.

Os próximos dados investigados referiam-se à forma de encaminhamento para terapia,apresentados na Tabela 1.

Tabela 1Distribuição de frequência conforme a origem do encaminhamento

Conforme podem ser visualizados, quanto à forma de encaminhamento, os dadosrevelam que a maior parte dos clientes foram encaminhados por familiares (23,65%); seguidospelas buscas espontâneas, denominadas de vontade própria, representando 16,13% doscasos. Os encaminhamentos de profissionais de saúde foram responsáveis por 18,28%(somados os realizados por médicos, psicólogos e pelas clínicas da própria instituição). Osencaminhamentos feitos por outras instituições, como escolas, foram de 9,68%, Conselho

Encaminhamento F % Família 22 23,65 Busca espontânea 15 16,13 Professor/Escola 9 9,68 Amigo 8 8,61 Médico 7 7,53 Psicólogo 7 7,53 Curso de Psicologia 5 5,38 Clínica de Fono - UNIPÊ 3 3,22 Conselho Tutelar 2 2,15 FUNAD 2 2,15 Sem resposta 13 13,97 Total 93 100

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74 Tutelar, 2,15% e Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência – FUNAD, 2,15%.Os não formais representamos 5,38% que relataram terem procurado a clínica por cursaremPsicologia e 8,38% encaminhados por amigos. As fichas que não possuíam dados sobre aforma de encaminhamento, somaram 13,79%. Quatro fichas apresentaram mais de uma formade encaminhamento; resultando assim, em um maior número de respostas em relação aonúmero de clientes.

O próximo dado investigado referiu-se ao motivo da consulta (queixa), que estáfornecido na Tabela 2.

Tabela 2Distribuição de frequência conforme o motivo da consulta (queixa)

Motivo da Consulta F % Caract. Personalidade 42 28,57 Comp. Indesejado 31 21,09 Transt. Psicológico 20 13,61 Dificuldades escolares 17 11,57 Dific. Relacionamento 15 10,20 Sintomas físicos 11 7,48 Outros 9 6,12 Sem resposta 2 1,36 Total 147 100

Quanto ao motivo da consulta, observou-se que a maior parte das queixas relacionou-se a alguma “Característica de Personalidade”, totalizando 28,57% das queixas. A segundaqueixa mais frequente relacionou-se à categoria “Comportamentos Indesejados”, somando21,09% dos casos. A terceira categoria de queixas apresentadas foi relativa aos TranstornosPsicológicos, somando 13,61% das queixas, seguido por: dificuldade escolar, com 11,57%.dificuldade de relacionamento, com 10,20%, sintomas físicos, com 7,48%, outros com 6,12%,e sem resposta 1,36%. Algumas fichas de triagem apresentaram mais de uma queixa, resultandonum maior número de respostas em relação ao número de clientes.

Discussão

O Perfil da clientela levantado ao final desta pesquisa revela que a Clínica Escola dePsicologia do UNIPÊ recebeu, no período de janeiro de 2005 a julho de 2006, um total de89 adolescentes que, em sua maioria, eram do sexo feminino (59,56%), dados que concordamcom os obtidos em pesquisa de Peres, Santos e Coelho (2004). De acordo com os referidosautores, pode-se pensar que tais achados refletem os condicionamentos socioculturaismoldados pelas relações de gênero, uma vez que, durante o processo de socialização, háuma construção de gênero, que modela as características psicológicas mais associadas acada sexo e determina que as mulheres devem externalizar suas emoções, ao passo que oshomens devem ocultar seus sentimentos e aflições psíquicas.

Quanto à idade de encaminhamento, observou-se uma prevalência para o início e ofinal da adolescência. No que tange o início da adolescência, tais dados corroboram com a

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75literatura, que afirma ser este o período em que há uma diminuição da auto-estima, aumentode conflitos familiares, problemas escolares, consequentemente, de maior necessidade deapoio psicológico segundo Ferreira et al (2002). Quanto ao final da adolescência, segundoPeres, Santos e Coelho (2004), pode ser que esse fenômeno em parte deva-se ao fato de sero período de transição entre o final da adolescência e o início da vida adulta, fase marcadapor incertezas e crises existenciais, que podem culminar com a eclosão e/ou aceitação deconflitos psicológicos.

Quanto à escolaridade, foi constatado que a maioria dos adolescentes tinha comonível de escolaridade o Ensino Fundamental Incompleto, nível baixo perante a média deidade dos informados. Tal fato faz pensar na necessidade de um trabalho em parceria, entrea clínica e as escolas, por ser esta um ambiente específico e propício para implementação deprogramas de ensino-aprendizagem.

O segundo índice mais frequente de escolaridade foi o Ensino Superior Incompleto.Poder-se especular que uma parcela considerável desses adolescentes refere-se a aluno daprópria instituição, que visualiza o serviço como um importante recurso auxiliar para formaçãoprofissional da área; sobretudo, para os interessados em atuar futuramente no âmbito clínico.

Com relação ao processo de encaminhamento e, segundo Ferreira et al (2002),diversos estudos identificam o médico como a principal fonte de encaminhamento aos serviçosde Psicologia. Conforme as investigações feitas, isso está em desacordo com esta pesquisa,em que o maior índice de encaminhamento foi realizado pela família. Tais dados podem serexplicados pelo fato dos pais perceberem a adolescência como o estágio mais difícil dapaternidade e da maternidade, em virtude da perda de controle sobre o adolescente e omedo em relação à sua segurança. Segundo Papalia e Olds (2000), os adolescentes sentem-se mais felizes, livres e motivados quando estão com os amigos, em contraste com a família,na qual a atmosfera tende a ser mais monótona e séria.

Os resultados deste trabalho concordam com os achados de Louzada (2003), nosquais observou-se um grande índice de procura espontânea; que em nossa pesquisa ocupouo segundo lugar (16,13% dos casos). Tal fato pode ser explicado, em virtude da quantidadeconsiderável de alunos de Psicologia entre os usuários da clínica-escola da UNIPÊ, quepossivelmente possuem uma visão menos preconceituosa acerca dos objetivos do processopsicoterapêutico, buscando-o com menos resistência e mais naturalidade do que osadolescentes de uma forma geral.

Característica de personalidade faz parte da ementa de queixas mais frequentes.Assim, deve-se considerar que o psicólogo é um profissional, com uma visão integral do serhumano, tem maior possibilidade de perceber comportamentos desviantes e atuarprecocemente, quando não preventivamente, servindo de ponte entre o cliente e outrosprofissionais.

A segunda queixa mais frequente refere-se aos comportamentos indesejados,concordando com estudos de Ferreira et al (2002), no qual esse tipo de queixa também semostrou presente. Segundo Sacareno, Asioli e Gianni (1994), para se alcançar oaperfeiçoamento dos serviços de saúde mental, conforme apontado pela Organização Mundialde Saúde (OMS), faz-se necessária uma atitude epidemiológica que não se limite a umaaplicasão meticulosa de técnicas, devendo, assim, ser considerada uma intervenção permanente.Os achados desta pesquisa revelaram a presença de transtornos psicológicos, indicando anecessidade de haver, no setor, um profissional com conhecimento sobre o assunto. As

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76 dificuldades escolares apareceram no quarto lugar, o que difere dos achados efetuado porFerreira, et al (2002) que aponta as dificuldades escolares como a principal queixa.

Considerações finais

Conclui-se que este tipo de pesquisa, pode auxiliar na elaboração de metas eadequação do serviço, para um atendimento mais eficiente. Uma perspectiva de trabalhospossíveis a partir dos resultados aqui apresentados, refere-se à elaboração e execução denovas propostas de atuação clínica, através da implantação de experiências práticas na Clínica-escola, que visem um atendimento adaptado às características de sua clientela adolescente,agora já melhor identificada.

O atendimento ao adolescente possui características específicas que não devem serignoradas, especialmente do ponto de vista psicológico. Daí a importância de haverprofissionais de psicologia atuando em equipes que atendem adolescentes. Visto que umtrabalho interdisciplinar constitui-se em um modelo eficiente para o seguimento da pessoa emdesenvolvimento, privilegia a prevenção e permite o diagnóstico precoce, proporcionandoum desenvolvimento harmônico.

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Recebido: 13.03.2009Avaliado: 14.04.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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78 ANÁLISE ANTROPOMÉTRICA E DISPÊNDIO ENERGÉTICODURANTE UMA SESSÃO DE CAPOEIRA

Juliano Almeida Rocha do Amaral/UNIPÊPedro Henrique Marques de Lucena/UNIPÊLuciano Meireles de Pontes/UNIPÊ/SANNY

RESUMO

O objetivo do estudo foi verificar o dispêndio energético durante uma sessão decapoeira com quatro sujeitos em fase de aquecimento e alongamerno dos membros superiorese inferiores. As variáveis analisadas foram: massa corporal, estatura, água corporal e percentualde gordura através de uma balança de bioimpedância modelo Tanita. A frequência cardíacafoi utilizada para a estimativa do gasto energético através de monitores digitais da marcaPOLAR A5. Para a análise dos dados, foi utilizado o SPSS 16.0. Os sujeitos iniciaram otreinamento com uma média de FC em repouso de 71,2±6,8bpm, massa corporal 60,7±8,1kge %G 16,1%±2,5%. Na parte principal do treinamento a FC média alcançou 176±23,5bpmestabelecendo-se em 158±11,3bpm durante toda a sessão. A avaliação pós-treinamentoapresentou as seguintes modificações: massa corporal=60,3±7,6kg, %G=15,7%±2,4% eperda de água corporal de 0,4±0,2L. O gasto energético estimado durante a sessão foi687±171,7kcal. Uma única sessão de capoeira apresentou um dispêndio energético compatívela uma atividade física com características moderadas e vigorosas, proporcionado uma perdacalórica satisfatória.Palavras-chave: Dança brasileira, gasto energético, condicionamento físico.

ANTHROPOMETRIC ANALYSIS OF ENERGY EXPENDITUREDURING A CAPOEIRA EVENT

ABSTRACT

This study ained at evaluating the energy expenditure during session of capoeira withfour subjects doing exercises for warming and stretching their limbs. The analyzed variableswere: body mass, height, body water and fat percentage by a bioimpedance scale of Tanitabrand. The heart rate was used to estimate the energy expenditure through digital monitors(POLAR A5 brand). The SPSS 16.0 was used for the analysis of data. They have revealedthat the subjects started the training with an average of HR at rest of 71.2±6.8 bpm, bodymass 60.7±8.1 kg and %F 16.1%±2.5%. The training in the main part of the HR averagereached 176±23.5 bpm, setting in 158±11.3 bpm during the entire session. The post-trainingevaluation showed the following changes: body mass=60.3±7.6 kg, %G=15.7%±2.4% andloss of body water of 0.4±0.2 L. The estimated energy expenditure during the session was687±171.7 kcal. It is thus concluded that the single session of capoeira showed energyexpenditure consistent to moderate and strong physical activity, and provided a satisfactorycaloric loss.Key-words: Brazilian dance, energy expenditure, physical condition.

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79Introdução

A capoeira é uma modalidade de característica dinâmica que reúne atividade físicaexigente junto com aspectos artísticos e musicais. Em sua essência, a capoeira alia movimentosde força, coordenação, destreza e equilíbrio dinâmico; Além de se caracterizar por um vigorosoexercício cardiovascular, já que ativa em sua predominância o metabolismo aeróbio.

O exercício da capoeira exige participação dos grandes músculos corporais, umaparticular coordenação motora com movimentos bem delineados e bastante rigorosos, comosaltos mortais para frente e para trás.

Com tantas vantagens, a capoeira tem tudo para realizar uma futura revolução nocampo da atividade física. Estudiosos como Cobra (2005) descrevem que somente a vigorosaatividade de desempenho cardiovascular seria o bastante para fazer desse esporte uma dasatividades físicas mais significativas. Por ter sido trazida pelos escravos africanos e ter assoladoprimeiramente a região nordeste, possui um lado cultural muito significativo (COBRA, 2005).

Analisando a literatura da área do esporte, observa-se que o desenvolvimentoda capoeira é complexo e vem em constante evolução. Na atualidade especula-se se aCapoeira é uma luta ou uma dança, por exemplo; pois, conforme alguns autores, esta atividadeabrange diversas áreas do desenvolvimento sócio-cultural. Gonçalves (1997) relata sobre acapoeira:

“...Se historicamente começou como uma luta de defesa, hoje deveser entendida como uma atividade esportiva e folclórica, em que ocaráter educativo deve predominar. Sendo assim recomenda-seinvestigações de caráter educativo sobre a capoeira, pois aindaexistem várias lacunas na discussão sobre tal temática”.

Sobre o perfil dos praticantes de capoeira, observa-se que qualquer indivíduo podepraticar esta atividade, por ser um esporte que pode ser praticado em qualquer idade, porqualquer pessoa, em qualquer situação; pois, pela sua própria forma de ser, acaba se encaixandono nível de intensidade e exigência tanto cardiovascular como muscular localizado, no nívelque lhe for possível, de acordo com suas condições especificas, independente do seu preparofísico, orgânico ou muscular.

Atualmente, muitas academias de exercício físico estão utilizando a capoeira em suasatividades esportivas. Em sua característica, esta modalidade apresenta-se como um exercíciode luta que possui um extrato filosófico muito importante na formação de crianças e jovenstornando-se, por si só, uma atividade extremamente educacional. Além disso, parece serrelevante pensar na capoeira como uma atividade física que propicia um melhorcondicionamento da aptidão física e um gasto energético compatível às outras atividadesfísicas com predominância aeróbicas e anaeróbicas e que são sugeridas para o emagrecimentodevido às altas demandas energéticas despendidas.

Alguns pesquisadores da ciência da avaliação física esclarecem que a demandaenergética equivalente ao trabalho muscular refere-se a toda participação energética relacionadaàs contrações musculares voluntárias, associadas, portanto, às atividades físicas, sendo acapoeira uma atividade que se enquadra nesta perspectiva como uma modalidade esportivade condicionamento físico.

Neste contexto, considerando que publicações que abordem sobre temas relacionadosà capoeira e sua prescrição, ainda são necessários devido à inexistência de artigos originais

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80 na literatura nacional. Por acreditar que a realização do treinamento de uma sessão de capoeira,sob orientação adequada, com ênfase em parâmetros científicos, terá relação consistentecom o aumento do gasto energético e, consequentemente, a longo prazo, na melhora docondicionamento físico e melhora da composição corporal, a questão norteadora que objetivoua produção desse estudo foi qual o dispêndio energético durante uma sessão de treinamentode capoeira. Desta forma, o presente estudo objetivou verificar o dispêndio energético duranteuma sessão de treinamento de capoeira.

Material e métodos

Caracterização do estudo

O presente estudo apresenta um modelo quase experimental; descritivo de caráterexploratório e abordagem quantitativa. Este tipo de ensaio delimita-se a uma pesquisa quaseexperimental, quando o delineamento experimental não é possível e caracteriza-se pelo estudode casos ou grupos de casos sem necessariamente um grupo controle, com a presença deuma variável ou fenômeno a ser estudado (THOMAS, NELSON e SILVERMAN, 2007).

Amostra

Participaram da amostra quatro voluntários com idades entre 13 e 32 anos (média de19,0±8,7anos), praticantes de capoeira. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser dosexo masculino, apresentar condições clínicas e físicas satisfatórias para a prática regular deatividade física diagnosticada por profissional da área médica, ter tempo mínimo de práticano esporte de seis meses.

Variáveis e instrumentos utilizados no estudo

As variáveis que foram observadas foram: massa corporal, estatura, porcentagem degordura, frequência cardíaca e gasto energético.

Idade: foi considerada a idade em anos completos auto referida pelos capoeiristas.

Massa Corporal e estatura: Para a medida da massa corporal, foi utilizada uma balançadigital modelo Tanita, com divisão de 100g e capacidade máxima de 150 kg. Os avaliadosposicionaram-se em pé, com afastamento lateral dos pés, ereto e com o olhar fixo à frente.Para a estatura, foi utilizado um estadiômetro da marca Sanny com precisão de 0,1cm ecampo de uso até 2,20m. A medida foi realizada com o cursor em ângulo de 90° em relaçãoà escala, sendo a estatura medida com o avaliado colocado na posição ortostática com ospés unidos, procurando por em contato com o instrumento de medida as superfícies posterioresdo calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital, ficando por alguns instantesem apnéia respiratória e com a cabeça em posição paralela ao solo.

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81Porcentagem de gordura e água corporal: a mensuração da gordura corpórea relativa àmassa e a água corporal foram estimadas pré e pós-treino através do método de balança dotipo bioimpedância bipolar modelo Tanita. Tendo em vista algumas peculiaridades destemétodo, alguns cuidados foram tomados visando minimizar algumas fontes de erros. Assim,os sujeitos foram previamente orientados a não comerem ou beberem por 4 horas antes dostestes.

Frequência cardíaca: para a monitorização da frequência cardíaca de repouso e frequênciacardíaca, durante toda a sessão de capoeira, foram utilizados monitores de frequência cardíacamodelo Polar A5. A frequência de repouso foi monitorada após os sujeitos terem relaxadoem decúbito dorsal sobre um colchonete durante 5 minutos.

Dispêndio energético: foi estimado através de monitores de frequência cardíaca modeloPolar A5. Para a estimativa do gasto calóricos (kcal), os dados referentes à massa corporal,estatura e data de nascimento dos capoeiristas foram cadastrados previamente nos monitores.

Equipamentos utilizados para a sessão de Capoeira: Foi utilizada uma sala com dimensõesapropriadas para atividades com capoeira, ginástica e dança, com temperatura ambientepróxima de 22 graus. Foram utilizados durante o treinamento colchonetes, bastão e aparelhode som com DVD, apropriados para uma sessão de capoeira.

Protocolo experimental

Após a autorização do responsável da academia de ginástica e musculação, ondeocorreu a realização do presente estudo e consentimento por escrito dos selecionadas paraparticipação na pesquisa, foi colocada em prática a coleta de dados que contou com avaliaçãoantropométrica e a participação em uma sessão experimental de treinamento de capoeira. Oprotocolo experimental desta pesquisa submeteu sujeitos à participação em uma única sessãode capoeira, com duração de 50 minutos e intensidade estipulada em aproximadamente 60 a85% da frequência cardíaca de reserva, sob a orientação de um Mestre de Capoeira graduandoem Licenciatura Plena em Educação Física. O treinamento foi ministrado no horário da noite,numa sala apropriada para a prática de esportes de luta, ginástica e dança. O treinamentoconsiderou os níveis atuais de aptidão física e o tempo de prática dos capoeiristas e caracterizou-se por atividades que tornassem o treino moderado/vigoroso visando atingir o maior gastoenergético possível dos pesquisados, e consistiu da seguinte metodologia: O protocolo detreinamento seguiu a estrutura proposta por Mestre Manoel dos Reis Machado “MestreBimba”, respeitando os princípios do treinamento desportivo preconizados pelo ColégioAmericano de Medicina do Esporte (ACSM, 2003).

Parte inicial: a sessão foi iniciada com o aquecimento, afim de elevar a temperatura corporal,facilitando a mobilidade e visando tornar as articulações mais resistentes à pressão e à força.Foram realizados movimentos na região das vértebras do pescoço (cervical) em seguida nosombros, cotovelos, punhos e quadril. Foram realizados movimentos circulares nos doissentidos, descendo para os joelhos e tornozelos. Na sequência foi iniciado um alongamento

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82 básico dos membros superiores, região lombar e membros inferiores para então começar umaquecimento em forma de corrida, com variações de direções e sentidos, sendo realizadauma corrida de costas em zig zag e com elevação dos joelhos e calcanhar atrás (calcanhar noglúteo). O tempo da parte inicial totalizou 10 minutos.

Parte principal do treinamento: Logo após o aquecimento, os sujeitos iniciaram uma “ginga”,em dupla e realizando movimentações típicas da capoeira. Dando continuidade ao treinamento,os capoeiristas executaram oito variações referentes à primeira sequência pedagógicadesenvolvida para a prática da capoeira proposta por “Mestre bimba” criador da capoeiraregional. Esta sequência foi fundamentada nos principais movimentos de ataque e defesa dacapoeira e suas nuances. As sequências foram sendo modificadas ao longo da sessão detreinamento, visando variar o treinamento e alterar a complexidade dos movimentos de formaevolutiva. Nesta fase do treino, ocorreram pausas entre as sequências para a realização deexercícios abdominais e flexão de braço, visando o fortalecimento muscular. Concluindo afase principal em duplas, os capoeiristas realizaram movimentos de ataque e defesa (esquivas)da capoeira com diversos contra-ataques como o “martelo” e a “vingativa” de forma bemdinâmica semelhante ao “jogo da capoeira” propriamente dito. O tempo da parte principaltotalizou 35 minutos

Parte final: Esta etapa caracterizou-se com a volta à calma, sendo realizada em círculo comos capoeiristas de frente para o interior do círculo e sentados. Foram feitos alongamentos demembros inferiores e região do tronco. O tempo da fase final totalizou 5 minutos.

Análise dos dados: Após serem tabulados, os dados foram analisados pelo método descritivopara valores de média, desvio padrão (DP) e percentuais (frequência), e método inferencialpor meio do “t” de Student para grupos dependentes para a verificação de diferençassignificativas pré e pós-teste. Para tanto, optou-se pelo uso do software Statistical Packagefor the Social Sciences (SPSS) versão 16.0 for Windows.

Resultados

Na Tabela 1, estão expostos em valores descritivos das variáveis: idade, tempo deprática da Capoeira, valores da FC nas diversas etapas da sessão de treinamento e o gastoenergético estimado nos atletas investigados. Observa-se que, em média, os capoeiristas sãojovens e apresentam-se experientes na prática da capoeira. A FC variou nas diversas fasesda sessão de capoeira com maior pico na fase principal do treinamento. Em relação à estimativado dispêndio de energia, foi observado um gasto calórico compatível a outras atividades

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Variáveis

n Média DP Mínimo Máximo

Idade (anos) 04 19 8,7 13 32 Tempo de prática da Capoeira (anos) 04 3,7 5,5 0,8 12

FC Max. (bpm) 04 201 8,7 188 207 FC repouso (bpm) 04 71,2 6,8 63 79

FC fase de aquecimento (bpm) 04 153 12,3 135 163 FC fase principal do treino (bpm) 04 176 23,5 153 201

FC média do treino (bpm) 04 158 11,3 146 172 Kcal / treino (gasto calórico) 04 687,0 171,7 452,0 864,0

Perda de peso corporal durante treino (kg) 04 0,625 0,22 0,400 0,900 Perda de água corporal durante o treino (L) 04 0,4 0,2 0,2 0,7

A Tabela 2 apresenta os valores pré e pós-teste das variáveis: massa corporal, estatura,%G e CAB. Estatisticamente não foram observadas diferenças significativas (p>0,05).

Tabela 2 – Variáveis analisadas durante o pré e pós-teste (n=04).

*Diferença (Dif.) = pré-teste – pós-teste;**p<0,05 (valor significativo).

Discussão

Conceitualmente, o treinamento desportivo refere-se um conjunto de atividadessistemáticas e controladas, visando o aperfeiçoamento do organismo, com o enriquecimentode um repertório de habilidades e o aumento da capacidade funcional. De acordo com asdiversas definições sobre a temática, o “treinamento está relacionado a um programa deexercícios físicos destinados a desenvolver um atleta ou um desportista para um determinadoevento ou condição física ou mental (VERJOSHANSKY, 1990). Desta forma, o aumento naperícia do desempenho e nas capacidades energéticas é igualmente importante”. O treinamentofísico consiste em atividades que buscam desenvolver o praticante tanto fisicamente comopsicologicamente, visando uma melhor eficiência e economia energética durante a prática.Como já foi dito anteriormente, o presente estudo teve o intuito de verificar o dispêndio

físicas moderadas e vigorosas (687,0 kcal). Também foram estimadas as perdas do pesocorporal total e água corporal.Tabela 1 – Distribuição dos valores de média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis.

Variáveis analisadas

Média ± DP

Teste “t”

Pré-teste Pós-teste Dif.* p** Massa corporal (kg) 60,7±8,1 60,3±7,6 0,4 0,92 Estatura (m) 1,67±0,05 – – – % de gordura (%) 16,1±2,5 15,7±2,4 0,4 0,72 CAB (cm) 75,5±0,04 74,8±0,05 0,7 0,75

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84 energético durante uma sessão de treinamento de capoeira. Em uma perspectiva maisabrangente, a proposta deste estudo foi investigar a capoeira como uma atividade física quepode proporcionar um dispêndio de energia satisfatório, melhorando o condicionamento físicoe a composição corporal; sendo, estão, mais uma atividade do enorme leque da Ciência doEsporte a ser sugerida para os indivíduos de diversas características, faixa etária e níveis deaptidão e, desta forma, adaptá-la a cada situação biológica e objetivos propostos. Aindafrisando a respeito do treinamento desportivo, foi planejado de acordo com as necessidadese objetivos buscados pelos praticantes e de acordo com a metodologia do treinador/instrutor,sendo a partir deste binômio, montada a estrutura e o conjunto de atividades que devem serexecutadas.

Poucos estudiosos já publicaram a respeito da capoeira e suas peculiaridades comomodalidade física e esportiva. Santos e Barros (1998) descreveram sobre a capoeira treinadanas academias e destacaram que esta prática tem como objetivo o treinamento físico parauma melhoria na performance durante o jogo de capoeira. De certa maneira, a presentepesquisa seguiu esta linha de pensamento, visando um contexto mais ampliado na tentativa depropor a capoeira como uma atividade que propicia uma melhora além performance do jogo,mas também potencializando o condicionamento físico relacionado à saúde.

Considerando as premissas básicas para a iniciação de qualquer atividade física,nesse estudo, foram respeitados os preceitos básicos do treinamento desportivo preconizadospelo ACSM (2003), sendo realizada uma sessão de capoeira característica; no caso desseestudo foi seguida a estrutura proposta por Mestre Manoel dos Reis Machado, conhecido“Mestre Bimba”.

Analisando os resultados referentes à variabilidade da frequência cardíaca, foiobservado que os capoeiristas iniciaram com uma frequência de repouso em média de71,2±6,8bpm condizente ao perfil jovem dos pesquisados, no final do aquecimento153±12,3bpm (76,1% da FC máx.) e no final da parte principal do treino onde atividades demoderada e alta intensidade foram realizadas e obtiveram 176±23,5bpm (87,0% da FCmáx). A FC média referente a toda a sessão de treinamento foi 158±11,2bpm (78,6% da FCmáx.) com um dos casos apresentando 172 bpm (85,5% da FC máx.). Conforme visto, otreinamento apresentou uma característica predominantemente moderada ao grupo decapoeiristas, o que provocou um gasto energético compatível a outras atividades físicas jáinvestigadas.

A relevância de se estudar o gasto energético no exercício está relacionado à clarificaçãodos diversos tipos de atividades já que estes perfis ainda precisam ser explorados e o potencialdas modalidades esportivas na queima calórica. Sobre isso, o ACSM (2001) pontua que aquantidade de energia despendida em diferentes atividades varia com a intensidade e com otipo de exercício. Entretanto, há variações individuais devido às diferenças no nível de atividade,idade, sexo, tamanho, massa corporal e composição corporal que justificam a existência devários métodos para a medição e a estimativa do gasto energético do exercício. Para amedição do gasto energético, utiliza-se normalmente a calorimetria indireta pela medida doconsumo de oxigênio, mas tal método depende de procedimentos dispendiosos que restringemsua utilização, quase que exclusivamente, a ambientes laboratoriais e situações de pesquisa.Nas situações de campo, em que é pouco viável a medição do gasto energético por métodosmais sofisticados, autores como Dutra et al. (2007), esclarecem que outros métodos podemser usados como, por exemplo, os monitores de frequência cardíaca, instrumento que foiutilizado nos capoeiristas aqui estudados. Neste caso, a medição da freqüência cardíaca tem

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85sido amplamente utilizada como meio para estimar o gasto energético da atividade física,devido a praticidade, principalmente com a popularização dos cardiofrequencímetros e devidoà forte correlação que tem com o gasto energético durante exercício dinâmico que envolvagrandes massas musculares (STRATH et al., 2000).

Em relação às perdas corporais de massa corporal e água corporal, foi possívelestimar tais variações a partir da utilização da balança de bioimpedância sendo subtraído osvalores mensurados antes da participação dos sujeitos na sessão de capoeira e após o esforçofísico (termino da sessão) que teve a duração total de 50 minutos. A composição corporal foimonitorada seguindo o mesmo procedimento. Os resultados estatísticos não foramconsiderados significantes haja vista os valores não terem sido inferiores a probabilidadeestabelecida (p<0,05). Entretanto, exaltam-se os valores encontrados do ponto de vistaexperimental, já que foi encontrada uma tendência satisfatória que corrobora com a questãoque norteou o estudo, que evidencia a capoeira como uma atividade física eficiente quandopraticada em uma intensidade moderada e intensa. Sobre o valor matemático, atribui-se oinsucesso da significância dos dados a única sessão que contemplou esta pesquisa, poisacredita-se que se o protocolo de estudo tivesse contemplado mais sessões de treinamentopor um período mais longo, certamente alterações na composição corporal poderiam tersido observadas. No entanto, o protocolo de uma única sessão foi viável para a produção dapesquisa e levantou evidência para a realização de novos estudos.

Apesar das limitações terem sido reconhecidas pelos autores como o método deestimação da composição corporal, as variáveis intervenientes podem ter causado vieses demedição. Acredita-se que a tentativa da realização deste estudo quase experimental é demuita importância, principalmente no que diz respeito ao levantamento da hipótese de queuma atividade física como a capoeira pode, a médio e longo prazo, servir de ferramenta paraindivíduos de diversas características no intuito de popularizar a prática da capoeira,desmistificando alguns mitos e conceitos rotulados à capoeira ao longo da história.

Conclusão

Uma única sessão de capoeira apresentou um dispêndio energético compatível auma atividade física com características moderadas e vigorosas, proporcionado uma perdacalórica satisfatória. Nesta perspectiva, sugere-se uma maior divulgação da capoeira comoprática esportiva visando a melhora do condicionamento físico, além das suas característicasjá conhecidas como de luta, dança e lazer.

De fato, existem algumas limitações metodológicas no presente estudo. Devido aonúmero reduzido da amostra que caracteriza a pesquisa como uma série de casos, a falta deum grupo controle sem a participação no protocolo quase experimental, além do estudo terenquadrado apenas uma única sessão de treinamento. Entretanto, sugere-se a produção denovos estudos, principalmente devido às tais limitações, além da complexidade e relevânciado fenômeno investigado.

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Recebido: 16.04.2009Avaliado: 26.06.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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87PROPOSTA PEDAGÓGICA PROBLEMATIZADORA ÂNCORAPARA A FORMAÇÃO DE AGENTES DE SAÚDE

Karla Fernandes de Albuquerque/UNIPÊMaria do Socorro Silva/UFPBKátia Vânia V. Souto Maior/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta educativa libertadora que sirvade respaldo na formação dos Agentes Comunitários de Saúde, privilegiando a integraçãoentre a teoria e a prática, assim como o entendimento do processo saúde/doença, orientadoa partir de uma abordagem metodológica: a problematização, levando-os a conhecer, analisar,refletir e superar as dificuldades em todo seu caminhar. Entende-se que a formação educacionalbem alicerçada é âncora para o exercício seguro da profissão dos que pretendem transformarrealidades. Nesse sentido, espera-se desenvolver uma consciência crítica/reflexiva nos órgãosformadores, no tocante a formação do ACS e este é argumento que justifica o caráterestratégico e decisivo no desenvolvimento e realização do SUS.Palavras-chave: Educação, abordagem metodológica, dificuldades .

A PROBLEMATIZING TEACHING PROPOSAL FOR THEFORMATION OF HEALTH AGENTS

ABSTRACT

This work aims at presenting a liberating teaching proposal to serve as a supportin the formation of the Community Health Agents by conceding integration between theoryand practice, as well as the understanding of the health/illness process, which is guided basedon the a methodological approach: the problematization, which takes them to know, analyze,contemplate and overcome the difficulties in their work. It is thus understood that theaccurate educational formation is an anchor for the safe performance of the profession ofthose who intend to transform realities. In that sense, a critical/reflexive conscience is hopedto grow in the formation organs, concerning the formation of the ACS, and this is a discussionthat justifies the strategic and decisive feature in the development and accomplishment ofSUS.Key-words: Education, methodological approach, difficulties.

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88 Introdução

Em meados dos anos 90, um trabalho foi realizado com um grupo de ACS (AgenteComunitário de Saúde) no município de Pombal, que contou com a experiência de enfermeirasdo PSF (Programa Saúde da Família) da cidade de João Pessoa proporcionando meios paraanalisar, por vários anos, o dia-a-dia do ACS, seu trabalho e atribuições. Na sua práxis,foram observados dificuldades e limitações em desempenhar algumas atividades, o que temsido preocupante, haja vista, que se tem acompanhado estes profissionais desde a implantaçãodo PACS (Programa de Agentes Comunitário de Saúde) em 1991 e do PSF em 1994.

Durante toda essa jornada de avaliação das atividades do ACS em campo, surgiuuma indagação: a formação destes profissionais teve embasamento metodológico e técnicocientífico para respaldá-los no cumprimento de tarefas que exigem conhecimentos específicos?A exemplo de: busca ativas de pacientes sintomáticos respiratórios: Programa de tuberculose,detecção e acompanhamento dos pacientes com doenças crônicas degenerativas: Hiperdia etantos outros que o Ministério da Saúde apresenta.

Diante desta problemática, pensou-se numa proposta educativa que contribuísse coma formação dos Agentes Comunitários de Saúde, visto que esse processo formativo pareceestar ancorado em fatores pedagógicos, assim como em suas respectivas metodologias emeios. Acredita-se que a partir daí, modificar-se-ão as atitudes, e definir-se-ão perfis para osprofissionais se adequarem a determinados contextos. Um projeto piloto, foi iniciado emequipe em 2006 em um PSF do município e João Pessoa. O referido projeto será objeto deestudo de estudos de pós graduação através da expansão do mesmo em outras unidades doPSF de João Pessoa com o sentido de endossar a proposta.

O objetivo é trabalhar a formação do ACS para uma melhor atuação junto ao usuário,família e comunidade, desenvolvendo habilidades e competência técnica, metódica,comunicativa, social, política e ética, contribuindo com o processo ensino-aprendizagem destesprofissionais em consonância com os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), cujosresultados devem ser observados através da potencialização das ações e de uma assistênciade qualidade individual e coletiva, através da utilização de uma abordagem metodológicaproblematizadora.

Freire (1997) diz que a metodologia problematizadora traz um modelo de processoensino aprendizagem que ocorre numa relação entre dois elementos: um sujeito que aprendee um objeto que é aprendido, levando-se em conta os padrões culturais dos elementosenvolvidos no processo. É preciso assumir a responsabilidade de educar para a vida, deentender que o educando não é mais visto como um objeto, mas considerado com a riquezade suas experiências, a partir de uma honesta abordagem de sua gênese, de sua origem, umavez que o trabalho como direito social, exige um pensar especifico e especializado, paraobtenção de resultados eficazes, que contemplem o atendimento das necessidades dosusuários.

Agente Comunitário de Saúde: dados gerais

Elo entre a comunidade e serviço de saúde, esteio da consolidação do SUS (SistemaÚnico de Saúde), passaram a fazer parte deste contexto por meio do PACS (Programa deAgente Comunitário de Saúde) implantado no Ceará, em 1987, com recursos próprios e

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89vinculados à Secretaria de Saúde do Estado. Tal experiência tem sido analisada em váriostrabalhos monográficos como o de MINAYO (1990) e SILVA (1997), que serviram demodelo ao Ministério da Saúde, que ampliou a iniciativa para os demais estados brasileiros,uma vez que o trabalho desenvolvido pelo ACS reduziu consideravelmente o índice demortalidade infantil, lhes valendo um prêmio do Fundo das Nações Unidas para a Infância –UNICEF, no ano de 1993.

Com o surgimento do Programa Saúde da Família PSF (1994) constituído por equipesmultiprofissionais, os ACSs foram inseridos como elo fundamental nas ações desenvolvidas ena interface com a assistência social, educação e meio ambiente tornando-se evidente o seupapel e sua valorização profissional.

Essa estratégia contribui para que as atribuições e as responsabilidades apontadaspara a atenção básica possam ser executadas e assumidas de uma forma inovadora, comefetiva mudança na organização dos serviços de saúde (BRASIL ,2000).

As equipes de Saúde da Família que trabalham tem como função promover o conceitode saúde como direito à cidadania, humanização do atendimento à saúde, consultas médicase de enfermagem, prevenir doenças e identificar fatores de riscos, visitas domiciliares e reuniõescom a comunidade (BRASIL ,1998).

A publicação do Decreto Federal nº. 3.189/99, foram fixadas as diretrizes para oexercício da atividade do ACS; posteriormente, foi elaborado o Projeto de Lei Federal n.10.507, de 10 de julho de 2002 que criou a “Profissão de Agente Comunitário de Saúde”(BRASIL,2002 ).

Desta forma, deve o agente comunitário de saúde inserir-se num processo contínuode profissionalização para melhorar a capacidade da população de cuidar da sua própriasaúde, transmitir informações e promover a ligação entre a comunidade e os serviços desaúde locais (BRASIL , 1994).

À possibilidade de um delineamento das práticas dos agentes comunitários e suasformas de interação com a comunidade é ímpar, visto que os agentes realizam ações básicas,incorporam mudanças e constroem condições de existência.

Ao realizar suas atividades, o agente passa a ser a extensão dos serviços de saúde àcomunidade e um agente polivalente das “necessidades comunitária”.

Pedagogia Problematizadora: Método do Arco

Esta abordagem fundamenta-se em bases epistemológicas, onde o homem conheceo mundo e interage com o seu meio, transformando-o reciprocamente.

A metodologia fundamenta-se no princípio de que a aprendizagem não é alcançadade forma instantânea e nem por domínio de informações técnicas, pelo contrário, requer umprocesso de aproximação necessário e cada vez mais amplo ao conhecimento.

A problematização encontra nas formulações de Paulo Freire um sentido de inserçãocrítica na realidade para dela retirar os elementos que conferirão significado e direção àsaprendizagens. No movimento ação-reflexão-ação, são elaborados os conhecimentos,considerando a rede de determinantes contextuais, as implicações pessoais e as interaçõesentre os diferentes sujeitos que aprendem e ensinam.

Com base nesta concepção educativa, decidiu-se pela “Pedagogia daProblematização” para nortear a formação do ACS. Essa pedagogia não separa a

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90 transformação individual da transformação social, pela qual ela deve desenvolver-se em situaçãogrupal.

O diagrama a seguir ajudará a representar a Pedagogia Problematizadora, cujo autorCharles Maguerez o chamou de Método do Arco, (fig 01), visto por Bordanave e Pereira(1991) como um esquema que corresponde a uma alternativa metodológica, fundamentadana pedagogia, compatível ao tema em estudo que serve para melhor discernimento evisualização das etapas sequenciais.

Fig.1. Método do Arco

Fonte: DIAZ-BORDANAVE. J. Alguns fatores pedagógicos. In: BRASIL. Ministério da Saúde. CoordenaçãoGeral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para SUS. Capacitação pedagógica para instrutor/

supervisor da área de saúde. Brasília, 1994.

Essa opção estratégica para formação do ACS surgiu para subsidiar nacompreensão de que a educação precisa ser uma prática mediadora de transformação capazde provocar a convergência entre a transformação individual e a transformação social,reconhecendo que é preciso instrumentalizar o ACS para ampliar sua capacidade de reflexãosobre sua prática cotidiana, e, sobre ela ser capaz de agir, transformando a realidade fato quetorna mais gratificante a utilização da pedagogia problematizadora nestas práticas educativas.

Público Alvo

Agentes Comunitários de Saúde que fazem parte do Programa Saúde da Família, naregião nordeste do Brasil, em particular, no estado da Paraíba tendo como projeto piloto umPSF localizado na cidade de João Pessoa – PB.

Período de Execução e Carga Horária

A proposta educativa foi desenvolvida inicialmente nos meses de Fevereiro e Março/2006, contando com uma carga horária de 40 horas semanais distribuídas em 5 dias, 8 horas

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91diurnas sendo 4 horas por turno. Vale salientar que, a cada dois meses, o grupo trabalhou umprograma do Ministério da Saúde e paralelamente discutiram-se questões éticas e legaisinerentes a um bom desempenho profissional.

As etapas estavam ancoradas no Método do Arco de Maguerez, citado porBordenave e Pereira (1991), conforme descrição a seguir:

Observação da realidade

Neste primeiro momento o grupo observou a realidade (área de abrangência daUSF), a partir daí os alunos revelam suas percepções pessoais, efetuando assim uma primeira“leitura sincrética” ou ingênua da realidade. Os participantes expressaram seus sentimentos,dúvidas, atitudes, inquietudes, com relação ao tema proposto, os quais foram colocados emlâminas e analisadas pelo grupo, relacionando-os sempre com as ações/práticas que o ACSdeve desenvolver no seu cotidiano.

Pontos chave

O facilitador fez uma análise do conhecimento que o grupo tem sobre as ações/atribuições do ACS preconizadas pelo Ministério da Saúde; estratégia de uma práticaresolutiva, elencando causas e determinantes contextuais que tem dificultado sua atuação.Para tanto, a discussão poderá ter como guia:

Estratégia Saúde da Família.

O Conceito Chave é o instrumento maior dos facilitadores. É ele que possibilita todoo desenvolvimento do trabalho educativo, pois é em sua direção que se conduz todo o processode caminhar do grupo de aprendizes.

Teorização

Nesta etapa, foi realizada uma exposição de forma sucinta de cada Programadesenvolvido no PSF, assim como as ações e atribuições do ACS nos respectivos programas,de maneira que as dúvidas e perguntas fossem direcionadas ao facilitador, aproveitando todasas formas de expressão dos participantes, de modo que o fio condutor da discussão estivessevoltado aos questionamentos e as respostas fossem simples, direta com a co-participação dogrupo.

Hipóteses

O papel dos facilitadores neste momento é de extrema importância, no sentido deconduzir os passos das discussões anteriores, já agora melhor elaborados. A riqueza dastrocas ocorridas nesta fase tende a proporcionar, tanto ao grupo como aos facilitadores, um

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92 momento de aprendizado mútuo ainda maior. Todos devem discutir a fim de formular conceitose opiniões e montar estratégias de ação para resolver as problemáticas pertinentes à atuaçãodo profissional.

Aplicação da Realidade

Almeja-se que os participantes após conclusão do curso, estejam preparados paraatuar nas equipes multiprofissionais do PACS/PSF estreitando as relações e criando vínculosentre as equipes, as famílias, e a comunidade atendendo as políticas do SUS, firmando-se,portanto como elo indissociável entre o PSF e a Comunidade.

Avaliação

A avaliação que se deseja para educação profissional na área de saúde temcompromisso com a educação democrática, que, segundo Bordenave e Pereira (1991), [...]parte da base que, em um mundo de mudanças rápidas, o importante não são os conhecimentosou as idéias, nem os comportamentos corretos e fáceis que se espera, mas sim o aumento dacapacidade do aluno – participante e agente da transformação social – para detectar osproblemas e buscar para eles soluções originais e criativas. Por esta razão, a capacidade quese deseja desenvolver é a de fazer perguntas relevantes em qualquer situação, para entendê-las e ser capaz de resolvê-las adequadamente [...].

Partindo deste pressuposto, a avaliação da referida proposta seguirá os princípiospreconizados pela tendência pedagógica ((BRASIL 2003 d), a qual consiste em: reflexão:deve ser uma ação investigativa e reflexiva; Cooperação: ato coletivo e consensual do qualparticipam os envolvidos direta e indiretamente, na ação educativa; continuidade: acompanhatoda a ação pedagógica, identificando o estágio em que se encontra a execução do plano;integração: é parte integrante da ação educativa, com a qual mantém uma relação dialética:ela é produto e fator da ação pedagógica; abrangência: atinge todos os componentes da açãopedagógica, além de estimar o desenvolvimento do aluno, inclui também, o ambiente, osmeios, o professor e sua prática pedagógica, o aluno e seu compromisso com a aprendizagem;versatilidade: deve se basear em inúmeras aferições, em vários tipos de dados, processando-se em diferentes momentos.

Associando aos princípios acima citados, utilizam-se três tipos de avaliação noprocesso educativo em pauta: a avaliação diagnóstica, avaliação formativa, a avaliação somativa,que representam o sumário, a globalização da avaliação formativa e os objetivos alcançadospelo facilitador.

Enfim, nesta proposta, a avaliação é contínua e permeia todas as fases do “arco”, oque possibilitará aos facilitadores efetuar modificações, permitindo assim, o desenvolvimentode atitudes de reflexão nos integrantes do grupo.

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93Considerações Finais

Quando se fala sobre Educação em Saúde, deve-se considerar que a função dosprofissionais da área é contribuir para desenvolver junto à população, a consciência danecessidade de melhoria da qualidade de vida, para que em conjunto, possam buscar soluçõesdentro de um amplo universo de ações.

O agente comunitário de saúde tem no cenário do sistema de saúde do país, umpapel privilegiado, pois é visto pelas autoridades sanitárias como uma espécie de “salvadorda pátria” uma vez que o seu cotidiano demonstra que ele é o trabalhador em saúde que maisconvive com os problemas sociais da comunidade a qual pertence.

Examinar os processos de formação dessa categoria no campo da saúde, é favorecera saúde e a coletividade como um todo, é criar um espaço de diálogo entre profissionais daárea da saúde contribuindo para a produção de novos conhecimentos, é analisar as políticaspúblicas que envolvem trabalho-educação-saúde em suas implicações teóricas para a formaçãode profissionais, problematizando os conceitos de cuidado, de integralidade, e dedemocratização da saúde. Desta forma, acredita-se, ser a problematização a opçãopedagógica mais viável frente às situações freqüentemente evidenciadas no que se refere àsdificuldades dos ACSs, quando são “colocados” no papel de educadores da comunidade,

A participação é uma necessidade fundamental do ser humano e através dela, osindivíduos podem desenvolver uma “consciência crítica”. Mas para que isto aconteça, é mistera aplicação de formas de abordagem facilitadoras, sendo este o fator que determinou estaproposta educativa,utilizando o Método do Arco que adequa-se de modo singular ao trabalhode Educação Profissional, particularmente para formação dos Agentes Comunitários de Saúde.

Referências

BORDANAVE, J. D; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino aprendizado. 20 ed.Petrópolis: Vozes, 1991.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.Políticas de Educação e Desenvolvimento para o SUS: Caminhos para EducaçãoPermanente em Saúde. Brasília, 1994.

BRASIL. Ministério da Saúde Normas Técnicas do SUS. Diário Oficial da RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, DF, Poder Executivo, 06 de novembro 1998.

BRASIL. Ministério da saúde. Formação Pedagógica em Educação Profissional:enfermagem: Núcleo Contextual: educação/trabalho/profissão. Módulo 4. NETO, J. S.L. do (Coord) et. al., 2. ed. rev e ampliada. Brasília: Ministério da Saúde. 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Formação Pedagógica em Educação Profissional:enfermagem: Núcleo Contextual: proposta pedagógica: avaliando a ação. Módulo 8.

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94 PROVENJANDO, M. E. (Coord.). MAULIN, N. M. 2. ed. rev ampliada. Brasília: Ministérioda Saúde, 2002.

CARNEIRO, Mª B. Programa Saúde da Família: modelo alternativo para saúdecoletiva. In: FRANÇA, I. S. X de. (Org.). Os ditos e não ditos em saúde coletiva. JoãoPessoa: Idéia, 2001.

DIAZ-BORDANAVE. J. Alguns fatores pedagógicos. In: BRASIL. Ministério da Saúde.Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para SUS. Capacitaçãopedagógica para Instrutor/supervisor da área de saúde. Brasília, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Riode Janeiro: Paz e Terra, 1977.

MINAYO, M. C.; D’ELIA, J. C.; SVITONE, E. Programa Agente de Saúde do Ceará.Estudo de Caso. Brasília: UNICEF, 1990. 60p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei no 10.507, de 10 de julho de 2002. Cria a profissão deagente comunitário de saúde e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde,2002._______. Normas e diretrizes do programa de agentes comunitários de saúde. PACS,Portaria no 1886/GM. Anexo um. Brasília: Ministério da Saúde, 1997.

Recebido: 27.12.2008Avaliado: 05.05.2009

Contato com o autor:email: [email protected]

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95TAXA DE INFILTRAÇÃO D’ÁGUA COM APLICAÇÃO DEDIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO

Francisco Jardel R. da Paixão/DEAg/CCT/UFCGAntônio R. S. de Andrade/DEAg/CCT/UFCGCarlos A. V. de Azevedo/DEAg/CCT/UFCGTiciana L. Costa/CENTC/FATECLuciana Façanha Marques/CENTC/FATECJosé Dantas Neto/DEAg/CCT/UFCG

RESUMO

O objetivo deste trabalho é avaliar as alterações na taxa de infiltração e a condutividadehidráulica de água no solo, submetido às doses de nitrogênio na presença de fontes de adubaçãoorgânica e verificar se as modificações nestas duas propriedades alcançaram níveisconsiderados críticos ao desenvolvimento das culturas. Para tanto, conduziu-se um experimentoem blocos casualizados, em um esquema fatorial adicional [(4 x 2) + 1] com 4 repetições. Ostratamentos constituíram de quatro doses de nitrogênio [D20, D40, D60 e D80 Kg N. ha-1],duas fontes de adubação orgânica (torta de mamona – T1 e torta de algodão – T2 t ha-1) euma testemunha (solo natural, sem adubo). As medições da taxas de infiltração e dacondutividade hidráulica saturada foram realizadas em campo através de infiltômetro de anelpara quatro profundidades. Os resultados mostraram que a aplicação dos tratamentos dosesde nitrogênio não proporcionaram efeitos significativos ao nível de 5% de probabilidade paraos valores da VIB. Os tratamentos com adubação orgânica testados revelaram diferençasignificativa, proporcionando à diminuição da VIB, indicando assim sensibilidade à adubaçãocom o tratamento torta de algodão (T2). Não houve diferenças significativas para as interaçõesdoses de nitrogênio e fontes de adubação orgânica. Porém, observa-se que houve diferençasignificativa entre os tratamentos e a testemunha.Palavras-chave: Solo, propriedades hidráulicas, irrigação.

WATER INFILTRATION RATE WITH THE APPLICATIONOF DIFFERENT NITROGEN DOSES

ABSTRACT

This work aims at assessing the alterations in the infiltration rate and in the hydraulicconductivity of water in the soil, submitted to the nitrogen doses in the presence of manuringorganic sources as well as at verifying whether the modifications in these two propertiesreached the levels considered as critical to the development of the cultures. For so much, anexperiment in random blocks was accomplished, in an additional factorial outline [(4 x 2) + 1]with 4 repetitions. The treatments consisted of four doses of nitrogen [D20, D40, D60 and

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96 D80 Kg N. have-1]; two sources of organic manuring (castor oil plant - T1 and cotton - T2t ha-1) and a witness (natural soil, without fertilizer). The measurements of the infiltration ratesand the saturated hydraulic conductivity were accomplished in field through ring infiltrometerfor four depths. The results showed that the application of the treatments doses of nitrogendid not provide significant effects at the level of 5% of probability for the values of VIB. Thetreatments with organic manuring tested revealed significant differences, providing decreasingof the VIB by indicating this sensibility to the manuring with the cotton treatment (T2). Therewere not significant differences for the interactions doses of nitrogen and sources of organicmanuring. Nevertheless, there has been significant difference between the treatments and thewitness.Key-word: Soil, hydraulic properties, irrigation.

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97Introdução

A matéria orgânica é um importante componente da fertilidade do solo e seus benefíciossobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo melhoram suas características eaumentam a produtividade das culturas. A matéria orgânica do solo é constituída basicamentepor restos vegetais e animais em distintos estados de decomposição e na forma de húmus,sendo o segundo, o resultado final da decomposição, sendo o humos o material efetivamentecapaz de modificar as características do solo. Embora seja importante, a matéria orgânica dosolo constitui-se em uma pequena fração sólida variando de menos de 1% nos solos arenosospobres em matéria orgânica à 20%, para solos orgânicos (MELLO et al., 1989).

A prática da adubação orgânica, além de fornecer nutrientes para as plantas,proporciona melhoria. Nas propriedades físicas e hídricas do solo: aumenta a porosidade,facilita a infiltração e melhora a capacidade de retenção de água, bem como na condutividadehidráulica próxima a saturação; diminui a suscetibilidade à erosão, melhora a drenagem edificulta as variações de temperatura, além de favorecer o controle biológico de pragas edoenças, devido à maior população microbiana (AYRS & WESTCOT, 1991).

A matéria orgânica é capaz de fornecer diversos nutrientes essenciais para ocrescimento e desenvolvimento das plantas, tais como: nitrogênio, fósforo, enxofre emicronutrientes. Tem com principal função o fornecimento desses nutrientes na correção detoxidez, melhorador e condicionador das características fisico-químicas e biológicas das plantas.A matéria orgânica também atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte deenergia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico.

O nitrogênio é um dos elementos mais importantes de todo ecossistema (SAINJU etal., 1999). O nitrogênio é essencial ao crescimento e à produção das plantas cultivado sendo,na maioria dos casos, o elemento que mais causa acentuados problemas de deficiêncianutricional.

Material e métodos

O experimento foi conduzido na área experimental da Empresa Estadual de PesquisasAgropecuárias – EMEPA, localizada no município de Lagoa Seca-PB. A área experimentalescolhida para o estudo, cultivada com gergelim com irrigação por aspersão, tem uma áreade 5.074 m2, sendo a unidade experimental com de 1.386 m2.

A unidade experimental foi dividia em nove parcelas por bloco, sendo que a área decada parcela representará os tratamentos (total de 9 tratamento por bloco), totalizando umaárea de 14m2 (4m x 3,5m). No centro de cada uma destas parcelas, foram aplicados ostratamentos e realizados as determinações da taxa de infiltração da condutividade hidráulicado solo saturado e demais propriedades físicas e hídricas do solo (figura 1).

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Figura 1: Croqui da área experimental (a) e Diagrama Esquemático da área experimental (b)

A taxa de infiltração de água no solo e a condutividade hidráulica do solo saturado(KS) na unidade experimental foram determinadas noventa dias após a colheita do gergelimque havia sido plantado na área através de medidas de infiltração de água no solo pelométodo do cilindro infiltrômetro, conforme a metodologia descrita por Libardi (1995), poispermitirá a computar a condutividade hidráulica investigando a velocidade final de infiltração(V

f) dos testes realizados na unidade experimental.

Foram utilizados quatro tratamentos de adubação nitrogenada (via adubação orgânica),dois tratamentos de matéria orgânica e uma testemunha para avaliar as alterações na taxa deinfiltração e a condutividade hidráulica de água no solo. Quanto à fonte de nitrogênio, foramos adubos orgânicos com os valores de 20 (D20), 40 (D40), 60 (D60) e 80(D80) equivalentesaos níveis de nitrogênio em Kg de N ha-1. Com relação às fontes de matéria orgânica, foramutilizados dois tratamentos compostos, a dizer: torta de mamona (T1) e torta de algodão(T2).

O experimento seguiu um delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial[(4 x 2) +1] mais um tratamento adicional com quatro repetições perfazendo um total denove parcelas por bloco.

Também foi incluída uma testemunha como tratamento, sem adubo. As combinaçõesdos tratamentos das doses e fontes de nitrogênio foram arranjadas considerando o tratamentotorta de mamona (T1) em combinação com 20 kg N ha-1, denominado de T1D20. As demaiscombinações seguiram o mesmo padrão.

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99Resultados e discussões

Pode-se observar que, no início do processo, a taxa de infiltração foi relativamenterápida para os tratamentos das quatro doses de nitrogênio [20 (D20), 40 (D40), 60 (D60) e80 (D80) Kg N. ha-1], duas fontes de adubação orgânica (torta de mamona – T1 e torta dealgodão – T2) e uma testemunha (solo natural, sem adubo) que decresce até um valoraproximadamente constante.

O comportamento da distribuição da taxa de infiltração após 180 min é semelhante.Observa-se que a aplicação dos tratamentos doses de nitrogênio (D) não proporcionaramdiferenças efetivamente significativas nos valores da VIB. Para os tratamentos testados comadubação orgânica (A), houve diferença estatística, proporcionando à diminuição da VIB,indicando assim sensibilidade à adubação com o tratamento torta de algodão (T2). Verifica-se também que não houve diferenças significativas para as interações D x A, indicando nãoexistir uma dependência entre os efeitos de pelo menos uns dos níveis dos fatores ‘doses denitrogênio’ e ‘fontes de adubação orgânica’. Porém, observa-se que houve diferençasignificativa entre os tratamentos e a testemunha (fator adicional).

Tabela 1 - Valores médios da velocidade de infiltração básica de água no solo (VIB), submetidoàs diferentes doses de nitrogênio e fontes de adubação orgânica

Velocidade de infiltração básica (VIB) – cm/h-1

Fontes de adubação orgânica (A) – t/há-1 Doses de nitrogênio (D) Kg/há-1 Torta de mamona

(T1) Torta de algodão

(T2) Médias

20 2,74 aA 2,16 bA 2,45 A 40 2,40 aA 2,60 aA 2,50 A 60 2,83 aA 1,43 bB 2,13 A 80 2,08 aA 1,73 bA 1,91 A Médias 2,51 A 1,98 A 2,24 Médias seguidas da mesma letra, minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem estatisticamente

entre si, pelo teste de tukey a 5% de probabilidade. D.M.S.: 1,02 p/ o fator A e 1,10 p/ o fator D, nasinterações.

Os resultados da análise comparativa das médias pelo teste Tukey, revelam que,para as diferentes doses de nitrogênio (D) dentro de cada tratamento com adubação (A),somente o tratamento de dose 40 Kg.ha-1 obtido na presença do tratamento T2 mostroudiferença significativa (p < 0,05) para os valores da VIB, sendo o menor valor 1,43 cm.h-1.Esses resultados da VIB, com aplicação da torta de algodão, podem está refletindo o fato deexistir um aumento de teor na matéria orgânica e, consequentemente, tem-se uma melhorcapacidade de retenção de água no solo e de infiltração, bem como na condutividade hidráulicasaturada pelo aumento da porosidade total e diminuição da densidade em solo arenoso(BARBOSA et al., 2002). Observa-se também que não houve diferenças estatísticas entreos valores da VIB submetidos ao tratamento T1 em relação a qualquer uma das doses denitrogênio em análise, tendo os maiores valores da VIB (2,74 e 2,83 cm.h-1) para as doses de20 e 60 Kg.ha-1, respectivamente.

Com base na Figura 2, observa-se que somente as combinações do fator torta dealgodão (T2) e dose 60 Kg.ha-1 (T2 D60) tiveram influência significativa na alteração da VIB

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100 em relação à testemunha. Apesar de não haver diferença significativa (p < 0,05) com asdemais combinações de tratamento, observa-se que o valor da VIB no solo diminuiu a partirda dose 60 Kgh-1, combinado com a torta de algodão.

Observou-se que os valores de VIB (Figura 2) tiveram altos coeficientes dedeterminação (R2) com o ajuste da equação de forma polinomial de 3o grau, com valoresaltos e baixos para os intervalos das doses entre 20 a 40 e 40 a 80Kg.h-1, respectivamente,na presença do tratamento T2 e a situação inversa ocorreu na presença do tratamento T2.Também, foi observado que os valores médios da VIB foram mais altos na presença dotratamento T1.

Considerações finais

Observou-se que as diferentes doses de nitrogênio (D) dentro de cada tratamento deadubação orgânica (A), somente o tratamento de dose 40 Kgha-1 na presença do tratamentoT2 apresentou diferença estatística ao nível de 5% de probabilidade para os valores médiosda VIB e que, para o tratamento T1, não houve influência significativa em relação aos valoresmédios da VIB na presença de qualquer uma das doses de nitrogênio em estudo. Não existedependência entre os efeitos de alguns desses fatores em estudo. Somente a combinação dofator torta de algodão (T2) e dose 60 Kg.ha-1 (T2D60) tiveram influência significativa naalteração da VIB em relação à testemunha

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101Referências

AYRS, R.S & WESTCOT, D.W. A qualidade da Água na Agricultura. Tradução: H, R,Gheyi e J. R, Medeiros. Campina Grande, PB. UFPB/PRAI/CCT. 218p. Tradução de WaterQuality for Agriculture. FAO, Rome, 1985, 1991.

BARBOSA, G. M. C.; TAVARES FILHO, J.; FONSECA, I. C. B. Condutividadehidráulica saturada e não Saturada de um latossolo vermelho eutrofico tratado comlodo de esgoto. Ver. Brás. de Ciências do solo, Viçosa, MG: p. 403-407, 2004.

LIBARDI, P.L. Dinâmica da Água no Solo. Piracicaba – ESALQ, 1995, 497p.

MELLO. F. A. F; et al. Fertilidade do Solo. 3. ed. Piracicaba-SP: Nobel, 1989. 400p.

SAINJU, U. M.et al. Soil nitratenitogen under tomato follwing tillage, cover cropping,and fertilization. Journal of Enviromental Quality, Madison, v.28, n.6, p. 1837-1844,1999.

Recebido: 05.06.2007Avaliado: 28.12.2008

Contato com o autor:email: [email protected]

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102 PSICOMOTRICIDADE: UM PASSO PARA VENCERAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Eliane Dutra Fernandes/FUNAD

RESUMO

Psicomotricidade e aprendizagem são um tema vasto, amplo e complexo, notadamentequando se adentra nas dificuldades de aprendizagem. Este trabalho enfoca a psicomotricidadedentro de uma ótica que a coloca como um passo para vencer as dificuldades de aprendizagem.Depois de dar algumas definições de Psicomotricidade, apontar seus elementos básicos, e,após repassar algumas definições de dificuldades de aprendizagem e outras noções inerentesa essas dificuldades, passa-se à descrição de alguns procedimentos e exercícios mediante osquais o educador pode favorecer a atuação da psicomotricidade no sentido de vencer asdificuldades de aprendizagem.Palavras-chave: Educação, linguagem, reeducação infantil.

PAYCOMOTRICIDADE: UM PAS GAGNER LES DIFFICULTÉSD’APPRENTISSAGE

RÉSUMÉ

Psycomotricité et apprentissage est um thèmme vaste et complexe, notoirement, quandse projecte dans les difficultés de l´apprentissage. Et celui-ci est l´objectif de notre travail, dedétacher la psycomotricité comme une perspective de vaincre les difficultés d´apprentissage.Ce travail c´est um travail de coin theorique et son importance se rencontre en réveiller dansles éducateurs stratégies de recevoir les enfants qui presentent quelque diffculté d´apprentissage.Mots-clef: Éducation d’enfant, langue, reeducation.

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103Introdução

O tema aqui tratado é de grande importância, uma vez que a maioria das criançasque têm dificuldades de aprendizagens na escola, tem dificuldades na percepção espacial, nalateralidade, na leitura, na escrita, na aritmética, e muitas apresentam letras irregulares e poucolegíveis, sendo isso uma preocupação freqüente de todo educador que se depara com criançasnessas condições.

Ao tratarmos da matéria, investigamos, sobretudo, quais contribuições apsicomotricidade como ciência oferece a essas crianças.

Por outro lado, para a criança que não possui dificuldades na aprendizagem, aeducação psicomotora em muito facilitará o seu desenvolvimento e aprendizagem, através daeducação física sistemática e ordenada, valendo salientar que a criança que tem problemasno seu desenvolvimento e aprendizagem necessita, muitas vezes, de uma reeducaçãopsicomotora, ou seja, um trabalho voltado à provocação, readaptação, substituição oucomplementação, tendo em vista possíveis funções prejudicadas.

Observe-se, ainda, que a psicomotricidade, muitas vezes, é interpretada de formaerrônea, pois muitos acreditam que o objeto de estudo da psicomotricidade seja apenas omovimento, cada vez mais perfeito, como um fim em si mesmo. Dentro dessa compreensãomuitos professores estimulam seus alunos a treinamentos intensivos, sem perceberem queestão desenvolvendo gestos automáticos e mecânicos. (OLIVEIRA,1996 p.176).

A criança, quando entra na escola, necessita ter um desenvolvimento neuro-psicomotorque envolva a independência do ombro, braços e dedos e as funções psicológicas na suaintegridade. Assim, a criança consegue fixar a atenção, ter domínio do próprio corpo, favorecidaportanto pela educação psicomotora.

Este trabalho tem um olhar psicopedagógico, no qual a preocupação maior é aaprendizagem humana, e a sua vinculação de um trabalho a uma outra área específica deconhecimento, qual seja, a psicomotricidade.

A Psicomotricidade frente às dificuldades de aprendizagem

Ao enfocar a questão da psicomotricidade frente às dificuldades de aprendizagem,não se pode deixar de enfatizar o processo de desenvolvimento e crescimento da criança,que pode ser global, integrado e interdependente.

Para que uma criança tenha uma aprendizagem satisfatória, é necessário que seudesenvolvimento psicomotor seja harmonioso, em que a motricidade apresente-se comoreação global e os fenômenos motores e os psicológicos se entrelacem.

Para Vigotsky (1995), o desenvolvimento do sujeito humano se dá a partir dasconstantes interações com o meio social em que vive e as formas psicológicas mais sofisticadasque emergem da vida social. Necessário e importante é que a criança tenha um ambienteadequado para o seu desenvolvimento.

A criança pequenina depende de outros para a sua sobrevivência, e, nesse período,já inicia uma relação muito intensa com a sua mãe. Segundo FONSECA (1995) a criança,nos seus primeiros anos de vida, quando ainda está pouco diferenciada nas diversas áreas deseu desenvolvimento, terá manifestações orgânicas e psicossomáticas diante de problemasenfrentados nas suas relações, especialmente com a mãe e em função de suas condições de

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104 vida. O autor afirma que a origem do problema de aprendizagem pode estar relacionada como modelo de relação vincular que cada criança estabelece e que foi desenvolvido e articuladocom a sua mãe, num determinado contexto familiar. Esse modelo tende a ser reproduzido naescola.

NASCIMENTO e MACHADO (1986) descrevem o processo de desenvolvimentoda criança, revelando que, aos doze meses, essa criança já usa de 4 a 5 palavras, já é capazde ficar de pé, locomover-se apoiado; aos dezoito meses, já empurra uma bola com o pé viraduas ou três páginas de um livro de cada vez tem marcha ligeira e corrida dura constrói torresde 3 cubos e domina cerca de trinta palavras. Aos 24 meses corre sem cair, sobe escadassozinha, usa o pronome possessivo meu, acompanhado de um substantivo, chuta a bola,emite círculos na escrita e faz frases de três palavras. Aos sessenta meses (5 anos), a criançajá se equilibra na ponta dos pés, arma quebra-cabeça, coloreia dentro do limite, escova osdentes, penteia-se e lava o rosto, saltita sem dificuldade. Aos setenta e dois meses (6 anos),a criança já é capaz de desenhar livremente com leve pressão sobre o lápis, escreve e reconheceletras de imprensa, às vezes inverte na cópia, e já domina de 1000 a 1200 palavras.

Geralmente quando a criança, em idade de estudar, entra para a escola, é que sepercebe se ela possui algum problema de ordem psicomotora ou de dificuldade deaprendizagem.

Segundo MEUR (1991), em uma criança cujo esquema corporal é mal constituído,nota-se que ela não coordena bem os movimentos. Percebe-se atraso ao se despir, tem letrafeia, a leitura expressiva não é harmoniosa ou não segue o ritmo da leitura ou então pára nomeio da palavra. Este comentário do autor leva à compreensão do quanto é importante odesenvolvimento psicomotor do individuo e sua relação com a aprendizagem.

Definições de Psicomotricidade

As definições de psicomotricidade seguem a um caminho de esperança, na questãoda pesquisa e de soluções a problemas nas crianças com dificuldades de aprendizagem, pelaforça com que se exprimem os seus defensores e pelas possibilidades que elas sugerem.Vejamos o que dizem.

Psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção.Como ciência da educação, procura educar o movimento, ao mesmo tempo em que desenvolveas funções da inteligência. (NASCIMENTO e MACHADO, 1986).

Entende-se que um acompanhamento a uma criança ou jovem em que prevaleçaessa concepção, haverá maior possibilidade de conhecê-la de uma forma integral. Assimsendo, diz-se que um trabalho, que nasce com clareza, possibilitará encará-lo com efeitospositivos.

“a psicomotricidade é uma ciência encruzilhada ou, maisexatamente, é uma técnica em que se cruzam múltiplos pontos devista, a qual utiliza as aquisições de numerosas ciências construídas(biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e lingüística)”. Ediz mais que a psicomotricidade é uma terapia que se dispõe adesenvolver as faculdades expressivas do indivíduo, aludindo àexpressão “terapia psicomotriz”. (COSTE, 1981, p. 9)

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105Como ciência, a psicomotricidade tem por estudo o homem, através do seu corpoem movimento, nas relações com seu mundo interno e externo.

Elementos básicos da Psicomotricidade

Nos currículos de educação infantil e nas séries iniciais da educação fundamentaldestacam-se componentes importantes da psicomotricidade, a dizer esquema corporal,lateralidade, estrutura espacial, orientação temporal e pré-escrita. Esses são os elementosbásicos da psicomotricidade, discutidos a seguir.

Esquema corporal - Para ALVES, “o esquema corporal não é um conceito inicialou uma entidade biológica ou física, mas o resultado e a condição da justa relação entre oindivíduo e o próprio ambiente. É um elemento básico indispensável à formação dapersonalidade da criança. É a representação global, científica e diferenciada que a criançatem de seu próprio corpo”.

Quando se diz “Esta criança está bem à vontade”, estende-se que ela domina bem oseu corpo e sabe como utilizá-lo. Isso ajuda no seu bem estar, facilitando também as suasrelações interpessoais.

Lateralidade - A dominância lateral é definida durante o crescimento da criança.Isto quer dizer que a dominância se dá pelo lado mais forte, mais ágil da pessoa, que pode sertanto o lado esquerdo como o direito.

Ao se falar em direita e esquerda, não se deve confundir com lateralidade. Enquantoa lateralidade é a dominância de um lado em relação ao outro em nível de força e de precisão,o conhecimento direita e esquerda decorre da noção de dominância lateral. Esse conhecimentotorna-se mais fácil de apreensão quando a lateralidade é mais acentuada e homogênea.(MEUR,1991)

Quando a lateralidade é homogênea a criança é destra ou canhota do olho, da mão edo pé. Quando tem a lateralidade cruzada, ela é destra da mão e do olho, e canhota do pé;sendo ambidestra, a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do lado direito.(MEUR, 1991).

Quando há contrariedade na dominância lateral, alguns problemas podem ocorrer,tais como: dificuldade no equilíbrio, em coordenar seus movimentos, dificuldade na grafia, naestruturação espacial, podendo ocasionar na criança, reações ou insucesso, oposição, defobia escolar, que afetam todo o afetivo da criança ocasionando dificuldades gerais naaprendizagem. ( ALVES, AVM, p.8 s/d).

Estruturação espacial - Para M. Tasset, (apud Meur, 1991. p. 13) a estruturaçãoespacial é “a orientação, a estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiro ao seureferencial e depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento”.

Isso explica que a criança deve se situar no espaço, saber onde está, onde estão osobjetos, uns em relação aos outros e em relação a ela própria, assim também como ela podese organizar no espaço que a ela é disponível.

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106 Problemas na criança, de estruturação espacial, podem levar a dificuldades nadiscriminação visual, na capacidade de orientar-se e, ainda, levar a confundir n e u, ou e on,b e p, 6 e 9, durante a sua aprendizagem escolar.

Através do conhecimento e domínio espacial a criança começa a entender e aprendercomandos como, ir para frente, ir para trás, para frente, para direita.

Orientação temporal - Segundo MEUR (1991), a estruturação temporal, apresenta-se como a capacidade que a pessoa tem de situar-se em função de sucessão deacontecimentos, como: antes, após, durante; e da duração dos intervalos, como: noções detempo longo, curto, de ritmo regular, irregular; noções de cadências rápidas e lentas (diferençaentre correr e andar); de renovação cíclica de certos períodos; dias da semana, os meses, asestações, do caráter irreversível do tempo; o que já passou e não pode mais reviver.

É importante que a criança, desde cedo, seja estimulada com atividades que a levema perceber o tempo. Na realidade a ação do homem está sempre vinculada ao tempo. O dia-a-dia mostra formas interessantes para a compreensão dessa relação, por exemplo: a horade ir para a escola, das refeições, os dias feriados. Essa relação ajuda a criança adquirir asnoções de duração e rapidez e aprender a organizar-se.

Pré-escrita - A estruturação espacial e orientação temporal, são pontos importantesque fundamentam a escrita, juntamente com o domínio do gesto. No exercício da escrita,precisa-se que se escreva horizontalmente da esquerda para a direita, e que se adquiram asnoções de cima para baixo. (MEUR,1991).

Importante que se trabalhe na criança exercícios que a levem ao preparo para aescrita, e que lhe sejam dadas oportunidades de realizar exercícios espontâneos, quepossibilitarão o domínio com o lápis.

Neste ponto, vistos os elementos básicos da psicomotricidade e já que a proposta éconsiderá-la como um passo para vencer as dificuldades foram dadas algumas de suasdefinições.

Sobre as dificuldades de aprendizagem

A literatura especializada mostra que são vários os conceitos em relação à dificuldadede aprendizagem. São utilizados termos como distúrbios de aprendizagem, distúrbiospsiconeurogênicos de aprendizagem, disfunção cerebral mínima, dislexia e outros, dificultandoem muito o entendimento na classificação e na avaliação de crianças com problemas naaprendizagem.

Dentre as muitas definições de dificuldades de aprendizagem a que reúne maiorconsenso por investigadores no assunto e relevantes instituições cientificas, é a do NationalJoint Committee of Learning Disabilities – NJCLD, 1988, que diz:

“Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se referea um grupo heterogêneo de desordens manifestadas pordificuldades significativas na aquisição e utilização dacompreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocíniomatemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo,presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema

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107nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemasna auto-regulação do comportamento e na percepção socialpodem existir com as DA. Apesar de as DA ocorrerem com outrasdeficiências (por exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental,distúrbios sócio-emocionais) ou com influências extrínsecas, (porexemplo, diferenças culturais, insuficiente ou inapropriadainstrução, etc.) elas não são resultado dessas condições.” (ApudFonseca, 1995, p.)

Kirk, (Illinois Test of Psycholinguistic Abilities), define dificuldade de aprendizagemconsiderando um atraso, uma desordem ou imaturidade em um ou mais processos, incluindoa linguagem falada, a leitura, a caligrafia ou a aritmética, como resultado possivelmente deuma disfunção cerebral e/ou distúrbios de comportamento, e não dependentes de umadeficiência mental, de uma privação cultural ou de um conjunto de fatores psicológicos (apudFonseca,1995, p. 194).

Myklebust, (Auditory Disorders,1964; Pyschology of Deafness,1972; Progress inLearning Disabilities, 1975, 1976, 1977, 1978) define-a como “desordens psiconeurológicasde aprendizagem reconhecendo os déficits na aprendizagem em qualquer idade e que sãodesvios no sistema nervoso central (SNC), essencialmente causados e não devidas ouprovocadas por privação sensorial, deficiência mental ou por fatores psicogenéticos” (ApudFonseca, 1995, p. 194).

Um relatótio da National Advisory Committee on Handicaped Children ( 1968) explica:

“Uma criança com DA é uma criança com aptidões mentais,adequados processos sensoriais, estabilidade emocional, que temum limitado número de deficiências específicas, nos processosperceptivos, integrativos ou expressivos que impedem a eficiênciade aprendizagem. Estão também incluídas crianças que tenhamdisfunções do sistema nervoso central, que são expressasfundamentalmente por uma privação na eficiência daaprendizagem” (apud Fonseca, 1995, p. 194)

Releva notar que as crianças com dificuldade de aprendizagem exibem igualmenteuma ou mais desordens nos processos psicológicos básicos e que estes, estão envolvidos nacompreensão e na utilização da linguagem escrita e falada.

As dificuldades podem ser manifestadas por desordens: na recepção da linguagem ecompreensão, no pensamento, na expressão oral, na leitura, na escrita, na ortografia ou naaritmética. Tais dificuldades incluem deficiências perceptivas (handicaps), lesões cerebrais,dislexia, afasia evolutiva, etc. Estas dificuldades não incluem problemas de aprendizagem quesão principalmente resultantes de deficiência visual, auditiva ou motora, debilidade mental,distúrbios emocionais ou desvantagens sócio-culturais (Report da National AdvasoryCommitee on Handicaped Children (1968) (Apud Fonseca, 1995).

Na maioria dos casos a dificuldade de aprendizagem normalmente envolve a questãoperceptivo-motora e outras como dificuldades de orientação espacial e sucessão temporal epsicomotora, que impedem a ligação entre os elementos constituintes da linguagem e as formasconcretas de expressão que as simbolizam. É vista, portanto, como sendo a dificuldade deaprendizagem uma irregularidade biopsicossocial do desenvolvimento global e dialético dacriança.

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108 Não obstante, o caráter rápido dessas considerações, faz-se importante introduzir adefinição de dislexia, denominada como dificuldades especificas de aprendizagem, segundoSELIKOWITZ (2001) por considerá-la importante na investigação da pessoa que apresentadificuldades na sua aprendizagem, especificamente na leitura. Define o autor como dificuldadeespecifica de aprendizagem:

“Uma condição inesperada e inexplicável, que ocorre em umacriança de inteligência média ou superior, caracterizada por umatraso significativo em uma ou mais áreas de aprendizagem.(Selikowitz, 2001, p.4)

SELIKOWITZ (2001) diz que esse termo “dificuldade específica de aprendizagem”,para que tenha algum significado, deve ser utilizado somente com crianças que tenhamconsideráveis dificuldades para aprender, que estejam fora da média. Ao falar em média, aquestão já passa a avaliação e diagnóstico da criança, sobre o que nesse trabalho não vamosnos deter.

Em relação às dificuldades especificas de aprendizagem, são várias as teoriasque as explicam, e que são bastantes relevantes para um estudo mais aprofundado, no casodislexia. São elas: teorias sobre causa subjacente, que englobam, fatores genéticos eambientais; teorias sobre lesão cerebral, malformação, disfunção e maturação,compreendendo as teorias da lesão cerebral indetectável, da malformação mínima, da disfunçãocerebral mínima e a teoria da lenta progressão maturacional; teoria da falha da dominânciacerebral e teoria do déficit no processamento de informações.

Algumas características de crianças com dificuldades de aprendizagem

Aqui, é imperioso consertar sobre o conhecimento de algumas características dacriança com dificuldades de aprendizagem. Tal criança caracteriza-se por uma inteligêncianormal, por adequada acuidade sensorial, tanto no campo auditivo, como no visual,percebendo-se nela ajustamento emocional e perfil motor adequado. Como diz Fonseca(1988 ou 1985?), não possui inferioridade intelectual global, deficiência visual, auditiva, eseus sistemas sensoriais encontram-se intactos. Não se evidenciam perturbações emocionaisseveras, nem apresenta motricidade disfuncional.

São citadas como principais características as dificuldades nos processos simbólicosentendidos como fala, leitura, escrita, aritmética etc. Também uma discrepância no seu potencialde aprendizagem e uma diversidade de comportamentos que podem ou não ser provocadospor disfunção psiconeurológica. Freqüentemente apresenta dificuldades no processo deinformação, tanto no nível receptivo como no integrativo e expressivo.

Não se pode deixar de citar os sintomas de uma criança disléxica, segundo IANHEZe NICO (2002), que dizem apresentar o disléxico: desempenho inconstante, demora naaquisição da leitura e escrita, lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais;dificuldade com os sons das palavras e concentração; escrita incorreta, com troca, omissões,junções e aglutinações de fonemas; dificuldade em associar o som ao símbolo, dificuldadecom rimas (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no inicio das palavras),discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo;dificuldade em associações, como associar os rótulos aos seus produtos, dificuldade para

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109organização seqüencial, as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada etc.; dificuldade emorganizar-se no tempo (hora), no espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda);dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar algumatarefa que sobrecarregue a memória imediata; dificuldade em organizar suas tarefas, dificuldadescom cálculos mentais, desconforto ao tomar notas e/ou escrever, persistência no mesmoerro, mesmo contando com ajuda profissional. Estas podem se manifestar de forma isoladaou combinada, conforme cada disléxico.

Dificuldades específicas de aprendizagem, para SELIKOWITZ 2001, devem,rigorosamente falando, ser denominadas de idiopáticas especificas de aprendizagem, o quequer dizer que sua causa é desconhecida.

Problemas Psicomotores - São inúmeros os trabalhos e estudos em torno dascrianças com dificuldades de aprendizagem, realizados, entre outros, por Ajurriaguerra,Kephort, Benton, Getman, Frosting, Luria.

A maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem, mesmo apresentandobom controle postural e boa coordenação de movimentos, apresenta um perfil psicomotordispráxico. É dito que nessas crianças os movimentos são exagerados (dismétricos), rígidose descontrolados (não seguem uma seqüência espaço-temporal organizada).

O tronco, em relação aos membros inferiores pode evidenciar da mesma forma umgrau de extensibilidade exíguo, o que compromete o controle postural e o desenvolvimentodas aquisições de locomoção.

Notam-se nas crianças com dificuldades de aprendizagem paratonias (dificuldadesde relaxamento voluntário), disdiadococinesias (dificuldades em realizar, subseqüentemente,movimentos alternados e opostos – bater com a mão esquerda e mexer com a mão direita),sincinesias (movimentos imitativos, parasitas e desnecessários da boca, língua e face ou demembros contralaterais).

A organização motora da criança com dificuldades de aprendizagem apresenta-secom algumas anomalias de base, que são a tonicidade, postura, equilibração e locomoção, oque afeta a organização psicomotora, representada por lateralização, imagem do corpo eestruturação espaço-temporal.

Percebe-se a necessidade, segundo Fonseca, de uma observação precoce doproblema motor e da psicomotricidade em crianças com dificuldades de aprendizagem, oque segundo ele, pode-se constituir um meio para identificar a tempo as dificuldades, estasque a escola tem holisticamente de compensar e enriquecer, o que oportunizará maximizar ospotenciais de aprendizagem dessas crianças.

Problemas cognitivos - As análises em relação aos processos cognitivos maiscomplexos constatam o envolvimento das aprendizagens simbólicas, como a leitura, a escritae o cálculo.

Uma das atividades cognitivas que necessita de significações de símbolos visuais é aleitura, ou seja, a conversão dos símbolos em significações. Isso só ocorre através daexperiência vivida e interiorizada pelo indivíduo. A interiorização de letras e palavras impressas,a partir de aquisições cognitivas básicas, em muitas crianças com dificuldades de aprendizagemse encontram fragilmente consolidadas e reestruturadas.

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110 Compreende a leitura uma dupla atividade simbólica, em que os símbolos escritos(grafemas) se transformam em equivalentes falados (fonemas) e que substanciam a linguagem,quando apreendidos anteriormente e fixados em experiências representativas.

A leitura, portanto, coloca em processo uma aprendizagem e igualmente um duplosistema simbólico, onde um variado número de aquisições cognitivas são ainda poucoconhecidas ou até mesmo ignoradas.

O primeiro sistema simbólico, a linguagem falada, onde armazenam-se as experiências,significações, informações, conhecimentos e outros, não é o que a leitura utiliza inicialmente.A leitura utiliza um sistema de um sistema (2º sistema simbólico) que possibilita traduzir umequivalente visual em um equivalente auditivo, com isso transfere a informação em processosensorial para outro, até que seja compreendida significativamente. Esse processo onde sedá a transferência, grafema-fonema, consta de uma operação complexa, vista como o segredodo acesso à significação através da leitura. Para que se tenha uma compreensão, a visãoserve-se inicialmente da experiência anterior auditiva, para adquirir significações, desenvolvidasestas no seu próprio sistema (intra sensorialmente). Daí a leitura surge como um sistemasimbólico secundário, segundo FONSECA (1995), alicerçado no primeiro sistema simbólicoque se refere a linguagem falada, (receptiva expressiva), que depende da linguagem anterior.

Existe a leitura oral como expressão verbal exata da linguagem escrita. Diferentementeda leitura silenciosa, em que a expressão verbal não tem envolvimento, a leitura oral tantoenvolve uma percepção e uma memória visual apropriadas, que, aparece no leitorexperimentado, a uma velocidade de centésimos de segundo; vista em uma relação sinal-som, inequívoca de grafético-fonemas, necessários à produção verbal, como também deuma relação fonema-monema, necessária para a fluência e produção oral.

A palavra escrita e sua relação com o sistema simbólico de significação, para Fonseca,é uma operação cognitiva que envolve processos neuropsicológicos específicos, entendidacomo: codificação e decodificação, percepção e memória, transdução e tradução de unssistemas em outros, etc.

Diferenciam-se, dentre esses processos cognitivos, os de conteúdo (nãoverbal e verbal) processos sensoriais (auditivo-visuais, tátil-quinestésicos, quer sejam intra-sensoriais, inter-sensoriais e integrativos) e processos de hierarquização da aprendizagem(percepção, imagem, simbolização e conceituação). (FONSECA, 1995, p. 272)

Contribuições da psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem

É comum verificar que enquanto alguns alunos se movimentam com muita destreza,participam de brincadeiras, correm e em sala de aula não apresentam qualquer problema deaprendizagem, outros mostram-se diferentes, embora tenham inteligência normal. Esses sãodesastrados, têm movimentos lentos, não conseguem pegar no lápis, possuem postura relaxada,falta de concentração, de entender ordem e de assimilar muitos conceitos. (OLIVEIRA,1996)

Ajuriaguerra (apud Oliveira, 1996) afirma ser um erro estudar a psicomotricidadeapenas por um prisma do plano motor, sem estar acompanhada de um mental:

“É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundodos objetos e é manipulando-os que ela descobre o mundo; porém

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111esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramentefrutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quandoela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto queela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simplesatividade corporal indiferenciada”. (apud Oliveira, 1996, p.177/178)

A contribuição dada pela psicomotricidade ao individuo, proporciona algumascondições de aprendizagem. Segundo OLIVEIRA (1996, p.176) “a psicomotricidade propõe-se permitir ao homem sentir-se bem na sua pele, permitir que assuma como realidade corporal,possibilitando-lhe a livre expressão do ser”.

Na obra de NASCIMENTO (1986, p. 1), encontramos que “sem o suportepsicomotor o pensamento não poderá ter acesso a símbolos e à abstração”. Complementamoscom o pensamento de Freire ao dizer “que o acesso a símbolos significa acesso à representaçãomental das ações. A criança imagina, reflete, raciocina, conferindo esta construção com umsaber fazer físico e mental”.

A ocorrência da adaptação da inteligência ao meio ambiente, requer do indivíduoprimeiramente uma manipulação adequada de objetos que estão ao seu redor (OLIVEIRA,1996 – p. 177).

A mesma autora, avança quando diz que quando uma criança percebe os estímulosdo meio, através de seus sentidos, de seus sentimentos e sensações, e age sobre o mundo esobre os objetos que o constituem, através do movimento corporal, ela está ampliando,experienciando e desenvolvendo suas funções intelectivas. Porém, afirma que para que apsicomotricidade se desenvolva, é preciso que a criança tenha uma inteligência suficientepara levá-la ao desejo de experienciar, comparar, classificar e distinguir os objetos.

Segundo OLIVEIRA (1996), a psicomotricidade, tem a preocupação com omovimento, porém como um meio, um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimentodo mundo. É através do seu corpo, do sentar, da manipulação dos materiais que estão a suavolta, que ela tem a oportunidade de descobrir-se.

A educação do movimento de que Le Boulch (apud Oliveira, 1996) fala, é entendidacomo um meio para o alcance de aprendizagens mais elaboradas.

Em relação a educação de movimento, Freire (apud Oliveira, 1996), consideranecessária sua aprendizagem na escola, através de uma educação sistemática e cada vezmais coordenada. Coloca que alguns professores têm a visão da psicomotricidade comouma educação para o movimento, entendendo que as habilidades motoras têm um fim em simesmas. Sendo assim, se deixa de analisar o movimento com todas as características o quea torna em relação às aprendizagens escolares desprovida de qualquer significação.

A organização do corpo é o ponto de partida para que a criança descubra as variadaspossibilidades de agir. Este agir da criança recebe influências dos aspectos psicológicos,psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais.

Sugestões de atividades como base para o atendimento psicomotor global, com vistaa uma boa aprendizagem

É necessário despertar nos educadores novas idéias para reformulação de suas práticaspedagógicas e, assim, trabalhar melhor com a diversidade. Partindo dessa premissa e de

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112 nossas experiências nos contatos com professores e outros profissionais da educação,introduzimos neste trabalho sugestões de atividades que de certo modo abrirão espaço nainvestigação de como se dá a aprendizagem nas crianças que apresentam dificuldades deaprendizagem, considerando o seu desenvolvimento psicomotor, o estilo de aprendizagemdessas crianças, e o que representarão exercícios desse estilo, na aprendizagem.

Dentre os itens selecionados, iniciaremos com a linguagem oral, pelo seu vínculo coma leitura e a escrita o que também, para os avaliadores, é um indício importante, que pode serevelar sob a forma de atraso. Para NASCIMENTO (1986), é de suma importância paraa linguagem o desenvolvimento harmonioso da psicomotricidade.

Apresentamos, de forma bastante suscinta, alguns exercícios, que podem ser aplicadospor qualquer educador, e que estão inseridos em forma de tópicos no livro Psicomotricidadee Aprendizagem de Lúcia Schueler e Terezinha do Nascimento Machado e que aqui, porprecariedade de espaço, não é possível apresentar de maneira descritiva.

Linguagem - Os exercícios voltados à linguagem podem ser iniciados com aexecução de ordens simples e ordens complexas. O educador primeiramente dá ordenspara a criança, mandando que ela abra a porta, apague a luz, apanhe os óculos e depois dáordens mais complexas envolvendo duas ações, a exemplo de: abra a porta e traga a chave.Um outro exercício que muito ajudará a criança é o de fazer com que ela nomeie as partes docorpo, os objetos e as pessoas que a cercam. Uma outra atividade é através de música comletra que fale das partes do corpo, incentivando a criança a acompanhá-la cantando. Tambémútil é a identificação das pessoas que estão na sala de aula, assim como a identificação dautilidade das coisas.

Esquema corporal - Sugerem-se exercícios que trabalhem a consciência e a educaçãoda respiração. Nossa experiência mostra que na medida em que o educador trabalha ocontrole respiratório, vai melhorando a concentração da criança, o controle de seus movimentose exercitando o relaxamento. Outro exercício proveitoso para o desenvolvimento do esquemacorporal é o de fazer bolhas de sabão soprando em um canudo. Igualmente útil é o exercíciode inspirar e expirar, inclusive com a emissão de sons.

O exercício do movimento do corpo ajuda a criança a ter consciência daspartes do corpo e o educador ou interventor pode proceder com vários exercícios, taiscomo, andar de joelhos, andar de joelhos para a frente e para trás, rolar livremente. Para daro conhecimento da cabeça, pescoço, tronco, dos membros superiores e inferiores, o educadorinicia pedindo para a criança sentar no chão, com as costas apoiadas na parede e dá ordenspara que ela vire a cabeça para um lado, para o outro, voltando em seguida a posição inicial.Um outro exercício é feito de pé. O educador neste momento pede para que a criança olhepara cima, para baixo e depois volte à posição inicial.

Relacões espaço–temporais - Já vimos que é através do movimento que a criançavai adquirindo a noção de espaço. A estruturação espaço-temporal, segundo COSTE (1981),é um indicador importante para uma boa adaptação do individuo. Ela possibilita ao individuomovimentar-se no espaço e reconhecer-se, como também concatenar e dar sequências aosseus gestos, localizar as partes do corpo e situá-las no espaço. Em relação ao tempo, ele ésimultaneamente, duração, ordem e sucessão, o que mostra a necessidade da integraçãodesses três níveis, como descreve COSTE (1981).

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113Os exercícios sugeridos envolvem o andar, o pular, o jogar e outros relacionados àquestão espacial e temporal. Alguns exercícios o educador realiza fazendo a criança utilizaro seu próprio corpo. Andar para frente, para trás e depois parar. Fazer também a criançaandar para trás, parar, andar para um lado e depois para o outro. Também, jogar a bola parafrente, para a direita, para cima, recebendo-a com as duas mãos.

Os exercícios direcionados às relações espaço-temporais, que não se esgotam nosque foram acima lembrados, devem-se voltar, variadamente, para os sentidos de ritmo,velocidade, duração, intervalo e distância.

Coordenação viso-motora - Os exercícios de coordenação viso–motora, sãotambém essenciais, visando à orientação da criança no espaço e tempo. Sugerem-se exercíciosde educação da vista, educação das mãos, educação do equilíbrio, exercícios de coordenaçãomotora com ritmo etc. Podem ser utilizados vários objetos, inclusive a música, no caso dacoordenação motora com ritmo.

Funções Intelectuais - Os exercícios destinados a essa área trabalharão, sobretudo,a atenção dirigida, o desenvolvimento da percepção útil, o alargamento da memória visual eo incremento à associação de idéias.

Relaxamento - Para favorecer o relaxamento da cabeça, pescoço, das mãos ededos, valem exercícios que façam a criança movimentar a cabeça, para frente e para trás,ora para a direita, ora para a esquerda, contrair e descontrair os ombros, contrair e descontrairo abdome; fazer exercícios com as mãos, utilizando uma bolinha, apertar a bolinha, soltando-a em seguida; flexionar os dedos, falange sobre falange, diversas vezes.

Preparação para a escrita, a leitura e o cálculo - Também as mãos e os dedospodem ser utilizados para oportunizar o melhor exercício da escrita. Exercícios preparatóriosda leitura podem estar associados ao desenvolvimento auditivo, com o uso dos olhos fechados,com utilização do silêncio, dramatização de histórias, emprego de cartões diversos contendopalavras com determinadas sílabas, assim como cartões que tenham, por exemplo, frutas devários tamanhos, cores diferentes, figuras escondidas etc. Para o desenvolvimento do cálculo,utilizar exercícios em que se faça uso de coleção de pedrinhas, folhas, chapinhas, botões.organizar conjuntos, pedindo que a criança aponte onde há mais ou menos elementos.

Conclusão

Ao nos referirmos às contribuições que a psicomotricidade oferece às crianças comdificuldades de aprendizagem, apresentamos alguns pontos altos que reforçam o assunto emfoco, a saber: ao falarmos em desenvolvimento marcamos fortemente a importância da criançadesde o seu nascimento, nos movimentos espontâneos que ela já produz. O domínio docorpo a criança vai adquirindo no seu dia a dia, partindo para a elaboração do seu esquemacorporal, elemento esse a que todos os outros princípios da psicomotricidade estão vinculadosintimamente.

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114 MEUR (1991) afirma que uma criança cujo esquema corporal é mal constituído nãocoordena bem os movimentos, pelo que nela se nota atraso no se despir, feiúra na sua grafiae dificuldades na leitura.

Entendemos que se a psicomotricidade tem influência no desenvolvimento dainteligência do individuo, naturalmente a reeducação, a estimulação e a atenção dada nessecampo psicomotor, em muito fortalecerão e trarão efeitos positivos no desempenho acadêmicoda criança.

Em relação ao que aqui estudamos, uma criança com dificuldades de aprendizageme na concepção a que aderimos, tem sua inteligência normal ou na média ou, até mesmo,superior, mas precisa de ajuda ou de um trabalho de mediação por parte dos educadores,assim como de uma avaliação no campo da psicomotricidade, mesmo não existindo problemasmotores.

Acreditamos que se esta criança for bastante estimulada, no que diz respeito aoconhecimento que terá dela mesma, na oportunidade de maior envolvimento com as pessoasque a cercam e o mundo que a rodeia, essa criança terá chances cada vez mais, de se sentirapta, segura e com capacidade de enfrentar certas dificuldades. Para isso a psicomotricidademostra espaço, através da construção pela criança do seu esquema corporal e outras noçõesnesse campo.

Concluímos, portanto, que as crianças com dificuldades de aprendizagem devem seravaliadas no seu campo psicomotor, para ver, por exemplo, como ela se define, considerandoa idade, no campo do esquema corporal, na lateralidade e espaço temporal.

Sabemos serem muitos os fatores que podem interferir nas dificuldades deaprendizagem da criança, principalmente no processo de leitura, englobando a escrita ecálculos. Dentre os vários fatores, os psicomotores que compreendem a maturidade global,o desenvolvimento psicológico, a organização cerebral da motricidade, a consciência daimagem do corpo, da estabilização; da lateralidade, da orientação no espaço e no tempo, ofuncionamento dos órgãos da linguagem, articulada à coordenação dos movimentos, à visãoe audição. São esses e outros, que dirão as possibilidades de aprendizagem dessa criança.

A nossa hipótese de que o aprofundamento de estudos na área da psicomotricidade,proporcionará entendimentos claros na forma de orientar pedagogicamente crianças comdificuldades de aprendizagem, é reforçada quando referenciais teóricos de estudiosos derenome explicam o desenvolvimento psicomotor e sua relação com o desenvolvimento geralda criança.

Referências

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Recebido: 22.09.2009Avaliado: 30.09.2009

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116 A MODA INSCRITA NO CORPO: ESTÉTICA CAMP EIDENTIDADES QUEERS

Margarete Almeida Nepomuceno/UNIPÊ

RESUMO

Este trabalho tem intenção de trazer à discussão os mecanismos de artifícios naconstrução da aparência dos que fazem o universo queer, utilizando a moda como dispositivosocial, meio de manipulação e materialização cultural de suas identidades. A performance degênero produz uma estética camp baseada na paródia, na afetação e deboche da própriaencenação dos corpos-identidades. A moda pode ser considerada então como agenciamentode gênero, que se metamorfoseia na multiplicidade do masculino e feminino, instaurandonovas conexões e sentidos na pele que se veste.Palavras-chave: Identidades culturais, gênero, sexualidade.

FASHION INSCRIBED IN THE BODY: CAMP AESTHETICAND THE QUEER IDENTITIES

ABSTRACT

The aim of this study is to introduce a discussion of the artificial construction mechanismsfor those who make the queer universe, by taking fashion as a social gadget, a manipulativetool and cultural materialization of their identities. The gender performance produces a campaesthetic based upon parodia, jeer ofs the own encenation of body-identities. Fashion can beconsidered thus as a gender agency that changes itself in male and female multiplicities, creatingnew links and meanings in the fashionable skin.Key-words: Cultural identities, gender, sexualities.

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117Introdução: quando o azul e o rosa escapam....

Este trabalho tem a intenção de discutir a performatização dos corpos na fabricaçãode gênero através do dispositivo social moda, experenciado nas identidades queers,conceituadas aqui como os estranhos raros ou esquisitos. Queers também são entendidoscomo os sujeitos de sexualidade desviantes e ambíguas - homossexuais, bissexuais, transexuais,travestis, drags ou ainda, identidades do universo múltiplo das experiências de margem reveladoem comportamentos transgressores, desestabilizando “verdades” sobre as políticasdeterminantes do corpo, do gênero e das subjetividades.

As incertezas e instabilidades, o fluxo e a descontinuidade são as forças compulsorasque darão gás para que a Teoria Queer, norteadora desse artigo, seja capaz de fornecerabstratos metodológicos de como pensar, refletir e abrir espaço para visibilizar territóriossinuosos dos que estão à margem das posições cristalizadas de gênero. O pensamentodicotômico não responde mais à explosão de identidades múltiplas, instáveis e multifacetadasem territórios das sexualidades e dos gêneros. Ser homo ou hetero, ser homem ou mulher, serfeminino ou masculino, ter pênis ou vagina, todos estes elementos que sedimentam a “verdade”biologizante do gênero, do desejo e do corpo, parecem não mais corresponder à mesmavelocidade com que escapam estas tentativas de conceituação e normatização do binarismode análise teórica de gênero.

Na nudez da criança que nasce, através do sexo que se carrega no corpo, é instauradauma determinação ou direção de nossa sexualidade e gênero. Quando se nomeia o recém-nascido como menino ou menina, se instaura ali uma invocação performativa que produz umadecisão social sobre o corpo e assim, todo um processo que o irá defini-lo como masculinoou feminino. Estas características físicas e biológicas serão marcadas pela diferença, produzindosignificados culturais estruturadas na performance que determina o gênero.

Roupas azuis para os meninos e rosas para as meninas são uma decisão cromáticaque até hoje, determina territórios sociais normalizadores de gênero. Florzinhas e bordadinhos,saias, laçarotes, brincos e vestidos são do enxoval feminino, enquanto os meninos ficamsempre as opções: calças, shorts, macacões, muitas estampas de carrinhos e bichinhos. Nestaescolha aparentemente inofensiva e repetida secularmente na história do vestuário, há todoum investimento discursivo e social que produz nesta segunda pele a determinação de que osexo biológico seja sempre considerado como dado imutável, a-histórico e binário,determinando o gênero masculino e feminino, assim como os padrões de comportamentossociais, gestuais e performáticos que estes corpos-identidades deverão seguir durante todasua vida. As mulheres à representação da delicadeza e o homem à virilidade, passividade eação, um jogo de dualidade que marca toda a trajetória de papéis sociais.

De acordo com Lipovetsky (1989), o surgimento da moda tem relação direta com odispositivo de controle dos corpos de homens e mulheres, reforçando o binarismo de gênero:

A moda no sentido estrito quase não aparece antes da metade doséculo XIV. Data que se impõe, em primeiro lugar, essencialmenteem razão do aparecimento de um tipo de vestuário radicalmentenovo, nitidamente diferenciado segundo os sexos: curto e ajustadopara o homem, longo e justo para a mulher. (LIPOVETSKY, 1989)

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118 A mesma moda que vai ser utilizada como dispositivo de controle também subverte-se e encontra linhas de fugas nas identidades voláteis. Na cartografia do tempo, sempreexistiram os que fogem as regras, os que brincam no jogo da ambigüidade dos gêneros, dafluidez dos corpos que os separam. Como no caso dos corpos-vestuários masculinos, quenem sempre foram pautados pela rigidez de suas vestes, como nos afirma Lima (2009):

A noção de masculino mais recente se pauta numa estéticaminimalista, que rejeita o frívolo ou desnecessário adicional dosacessórios, da maquiagem e das colorações diversas, embora nahistoricamente - em específico quando o vestuário emanava o poderde quem o utilizava, por exemplo, no século XVIII - a roupamasculina era tão ou mais pomposa que a feminina. Em muitosregistros da história podemos ver que se utilizava de artifícioscomo preenchimentos sob as meias para engrossar as pernas,acolchoados no tórax e ombro na época Gótica e no Renascimentoinglês a roupa para os homens era extremamente bem trabalhada.Oenxugamento da aparência masculina frente à feminina é algorecente, cujas origens – ao menos nas camadas mais privilegiadasda sociedade – têm relação com a mudança nas suas tarefas diárias,quando de fato o homem precisa sair para trabalhar. Uma vezfindados os privilégios da corte, a sua vestimenta se simplifica e seaproxima da estrutura de terno que conhecemos hoje.

Para Lipovestsky (1989), a moda de cem anos repousava na oposição acentuadados sexos, oposição do parecer duplicada por um sistema de produção onde a criação paraa mulher e para o homem não obedecia aos mesmos imperativos. Nem com a maturação damodernidade, as diferenças de gênero na moda permanecessem longe de umahomogeneização, mas de uma sutil e terrível diferença. Homens e mulheres estariam entãocondenados a desempenhar indefinitivamente no vestuário-identitário os papéis masculino efeminino. Prefiro, aqui, defender que as subjetividades queers são uma brecha na sólidapedra da modernidade. Na perspectiva deleuziana, a moda pode ser considerada entãocomo agenciamento, que se metamorfoseia, muda suas propriedades à medida que expandesuas conexões, uma dobra, múltipla, nômade, dialógica e socialmente construída. Homens desaiotes ou mulheres de gravatas pelas ruas descentradas de um vasto território que a todahora se re/constrói, com suas permanências modernas e seus fluxos pós-modernos.

Desenvolvimento: a estética da transgressão na performance de gêneros

A proposta aqui não é discutir uma moda andrógina, unissexo, mas antes, trazer àdiscussão os mecanismos de artifícios na construção da aparência dos que fazem o universoqueer, utilizando a moda como meio de manipulação e materialização cultural de suasidentidades, a exemplo dos travestis, transexuais, crossdress, drags e até mesmo elementosde tribos urbanas como as contemporâneos emos.

A performance de gênero dos ex-cêntricos queers fazem uso da segunda pele -instituída pelos vestuário e artifícios corporais - propondo uma estética camp, conceituadapelo uso da afetação, artifício, exagero, deboche, paródia de si , presentes na composição oumontagem destes corpos Paetês, brilhos, glitters, purpurinas, muita maquiagem, cores berrantes,

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119neons, silicones, perucas, saltos altos e adereços são compreendidos aqui como construtosocial e político de uma escolha, de um devir permanente de identidades que se exteriorizamna própria pele, des/construindo sentidos normalizadores dos corpos ditos como masculinose femininos.

É através da modelagem do corpo e da performance do vestuário, que estasidentidades interpretam as transgressões das fronteiras de gênero marcada não pelo desejode aparência (parecer ser o oposto do que não se quer ser), mas pela espetacularização daaparecência. (desejo de aparecer), desejo de evidência de uma corporalidade e de umgênero construído. As ruas estão cheias de personagens “montados” desafiando a ordemestruturante dos gêneros. A ambigüidade questiona as diferenças, incomoda as conhecidasmetanarrativas sobre o que é ser mulher ou homem, ao mesmo tempo em que provoca,fascina e seduz.

No cinema, uma poderosa janela do artefato cultural de nosso cotidiano, podemostambém conferir uma produção marcada pela estética camp, como na produção de filmescomo Priscilla, Rainha do Deserto; Transamérica, Café da Manhã em Plutão, entre outrosque se situam entre o kitsh e a cultura pop, numa clara referência de resistência a padronizaçãoque se impõe a diferença. Plumas, cores e muito brilho, a estética da alegria em contraposiçãoao ressentimento. Aqui não há já se encontram espaço para o queer que se normatiza, semtrejeitos, sem desmunhecação, higiênico em sua postura padronizada, a estética camp pedepassagem para a farsa, o travestismo que atravessa fronteiras:

A palavra camp é um termo que pode ser traduzido por “fechação”e significa uma aceitação - por parte dos gays - do universoestereotipado criado pela sociedade homofóbica, mas de maneirainvertida: buscando valorizar o jargão “homossexual”, os gaysdevolvem à camada bem comportada da sociedade umatransfiguração do grotesco, transformando o estigma do jargãohomofóbico em linguagem e ação libertárias. Se concordarmoscom Jung, para quem existem os “tipos psicológicos” (ou os“estados psicológicos”) “introvertidos e extrovertidos”, a estéticado grotesco, performatizada pelas drag queens, estariaevidenciando a porção extrovertida do temperamento homoerótico.Nessa direção, as piadas, as caricaturas, o exagero na gestualidadee as espetacularizada, teriam o objetivo de transformar a realidadedifícil de ser vivida numa simulação da vida como obra de arte.Por um lado, essa estratégia libera uma dimensão da vivênciahomoerótica que estivera recalcada historicamente, portanto,consiste numa ação afirmativa que contempla os gays, lésbicas,travestis e transsexuais como eles são, falam e agem em suasvivências diárias; por outro lado, ratifica os procedimentos deexclusão, porque retrata os gays sempre efeminados, fúteis,promíscuos, espalhafatosos. (PAIVA, 2009)

O Café da Manhã em Plutão, por exemplo, começa com o personagem Patrick“Kitten” Braden (Cillian Murphy) passeando pelas ruas e conduzindo um carrinho de bebê.Sua performance camp já revela o que veio, vestida em um grande casaco de peles, chapéurosa e saia em brilhante, sem sair do salto, responde ironicamente as provações dostrabalhadores de uma obra de construção: “inocentes peões, tesudos filhos da terra” , umprenúncio da sua história, que opta “pela via da teatralidade, quando, apesar da solidão, para

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120 além da dor maior da exclusão, da raiva e do ressentimento, se pode falar ainda em alegria,em felicidade” (LOPES, 2008). No país de Carmem Miranda, o camp é uma mentira que seatreve a dizer a verdade, como comenta Susan Sontag.

É como se através da “performance” dos queers fosse desnaturalizada a coerênciaentre sexo e gênero, ao mesmo tempo que é revelado “a farsa” de uma identidade primáriasobre a qual molda-se o que se entende por masculino e feminino. Este seria o sentido daparódia, que desconstrói o “natural” do “falso” através da ilusão que demonstra ter a aparência.O travesti, o transexual, os transformistas e as drags brincam com a distinção entre a anatomiado performista e o desejo do gênero que se deseja performatizar. Para Butler, a “verdadeinterna” do gênero não passa de um ato performático inscrito na superfície do corpo. “Então,parece que os gêneros não p ser nem verdadeiros nem falsos, mas somente produzidos comoefeitos da verdade de um discurso sobre a identidade primária estável”. (BUTLER, 2003, p.195)

Este “efeito de verdade” a qual propõe Butler nada mais é do que um investimento naestilística de si, na qual a moda é o dispositivo social que provoca o desejo destaperformatização. Ao mesmo tempo em que a moda normaliza valores e crenças e cristalizapadrões de gênero, ela própria é feita de uma matéria instável, volátil e perene, “caracterizadapor uma temporalidade particularmente breve, por reviravoltas mais ou menos fantasiosas,podendo, por isso, afetar esferas muito diversas da vida coletiva”. (LIPOVETSKY, 1989, p.24) De acordo com o sociólogo francês, a moda instaura a quebra da tradição e do mimetismocoletivo na ordem das aparências, o que acaba em resultar em uma lógica constitutiva douniverso das aparências, onde há a expressão da liberdade dos sujeitos e na individuação daestética.

A escolha estética do gênero vivenciada pelos queers instaura a moda comomaquinariado desejo. Esta transgressão do corpo e da performance, seja na feitura de seiose curvas, ou no vestuário do excesso, permite a potencialidade criadora, positiva, baseada naafirmação da diferença. Para Deleuze e Guatarri (1976) o desejo é ponto de afirmação,ultrapassando os conceitos de falta e negatividade, mas instaurador de uma vida que gera,que transforma, que produz instâncias autônomas e autoprodutoras.

A aparência dos queers nada mais é do que escolha devir de suas identidadesconstruídas, é na pele que se encontra o mais autêntico de si. Segundo afirma Garcia eMiranda :

[...] moda é o conjunto atualizável dos modos de visibilidade queseres humanos assumem em se vestir com o intuito de gerenciar aaparência, mantendo-a ou alterando-a de seus próprios corpos,dos adornos adicionados a eles e da atitude que integram ambospela gestualidade, de forma a produzir sentido e assim interagircom o outro. (GARCIA e MIRANDA, 2005, p. 18)

Um gênero ambíguo, onde feminino e masculino se descolocam, se misturam e seborram, rompendo fronteiras do normal e instituído, faz dos queers uma materialidade plástica,onde o corpo é uma matéria-prima possível de redefinição, de odem modelamento, um objetotransitório, manipulável, remanejável, onde se exibe uma identidade escolhida. Adaptando aidéia de Le Breton, antropólogo francês, analiso então a moda neste processo como umaprótese em busca de uma encenação provisória, garantindo um vestígio significativo de simesmo(BRETON, 2003, p. 29). De acordo com poeta francês Paul Valéry, “a pele é o mais

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121profundo”, sendo assim, a subjetividade destas identidades são o esforço constante de secolocar na exterioridade, a partir da montagem do seu vestuário performático, a superfícieque indicará a sua interioridade.

(in)Conclusão:

O desejo é antes de tudo um ato revolucionário, já dizia Gilles Deleuze. O desejomove corpos e gêneros a labirintos sinuosos de contemplação de si, criador da própria espécie.Natureza e maquinaria redesenham novos modelos para além das equações fixas edeterminantes do que é ser homem e mulher na sociedade ocidental capitalista. Consumimosantropofagicamente nossos sexos, nossas carnes, nossos silícios, chips de um admirável novomundo.

Com esta provocadora reflexão, não pretendo concluir pensamentos, mas gerar novosquestionamentos acerca do nosso corpo, do nosso gênero e do nosso desejo. Bem comotrazer luz e brilho a estes desenhos de corpos-identidades que se refazem através de umestética que performatiza o próprio espelho. A moda, este segunda pele, se faz tão primeiraquanto à nudez aparente. O grito da criança já foi dado: “o rei está nu!”, mesmo assim nos re/fazemos através de mantos simbólicos que nos re/cria e liberta para sermos fundição desentidos, ora nunca vistos, ora nunca vestidos.

Os queers reiventam a própria pele, bordam silicones, modelam os ossos, pontilhamnovos traçados para os gestos, cortam os sexos, costuram outros, colorem a fina plasticidade.Fazem gêneros, criam modas. E saem nas passarelas subvertendo a ordem da criação etornam-se criadores e criaturas de suas próprias vestes.

Referências

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DELEUZE, GUATARRI. Gilles e Félix. O Anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia. Traduçãode Joana Moraes Varela e Manuel Maria Carrilho. Lisboa; Assírio & Alvim, 1976, 430p.

GARCIA E MIRANDA Carol e Ana Paula de. Moda é comunicação: experiências, memóriase vínculos. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2005.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedadesmodernas. Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.294p.

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122 LIMA, Caroline Barreto. Aparência Travesti: redesenho, comportamento e vestimentaDisponível em www.degraf.ufpr.br/artigos_graphica/APARENCIA.pdf-Acesso em 22 junh.2009.

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Recebido: 22.09.2009Avaliado: 30.09.2009

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123CULTURA DE MODA: IMBRICAÇÕES ENTRE OMATERIAL E O IMATERIAL

Gabriela Maroja Jales/UNIPÊ/CNPQ

RESUMO

Este artigo pretende mostrar de forma sucinta, mas, reveladora os resultados de umapesquisa bibliográfica e etnográfica empreendida na cidade de João Pessoa, com o propósitode analisar a relação entre a cultura de consumo e a moda local. O trabalho consiste ementrevistas com consumidores, estilistas e designers locais, das quais foi feita uma análise dodiscurso dos atores sociais, utilizando como pano de fundo metodológico a teoria dasRepresentações Sociais.Palavras-chave: Estilistas, representações sociais, consumo.

CULTURE AND FASHION: IMBRICATIONS BETWEEN THE MATERIALAND THE IMMATERIAL

ABSTRACT

This article aims at explaining briefly, although revealing the results of a literature researchand ethnographic accomplished in the city of Joao Pessoa, in order to examine the relationshipbetween consumer culture and local fashion. The work consists ofinterviews with consumers,designers and local designers, from whick a discourse analysis of social actors, on the wasattained using methodological background the theory of Social Representations.Key-words: Designers, social representations, consumption.

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124 Cultura de Moda: imbricações entre o material e o imaterial

Nossa investigação em cultura de moda teve início com a observação e análise dealguns pressupostos que permeia nossa sociedade e influenciam os hábitos de consumo damoda criada e fabricada em nossa região. Partimos de uma dúvida, fruto de nossa observaçãosistemática: por que os consumidores, os estilistas e designers locais têm uma percepção senão negativa, pelo menos, menor sobre os produtos da moda regional? Em outras palavras:por que o produto local é desvalorizado em relação ao produto nacional?

Nosso problema nasceu de um primeiro pressuposto: os produtos da moda local nãogozam do mesmo prestígio dos produtos da moda nacional. Provavelmente as mesmas relaçõesde dependência econômica e política, que imperam entre as regiões brasileiras, repercutemna maneira como os habitantes de João Pessoa, sejam consumidores, sejam estilistas/ criadores,vêem a moda regional. Percebe-se certo grau de rejeição às produções locais, comparadasà aceitação de produtos ou marcas de grandes fabricantes ou de grande circulação na mídiatelevisiva e impressa, especialmente as revistas femininas. Significa dizer que nas relaçõescotidianas, o discurso das pessoas privilegia as marcas, as grifes das grandes empresas, osprodutores veiculados nos grandes meios de informação, especialmente a televisão e as revistasfemininas.

No entanto, se pressupomos que as pessoas têm essa visão, manifestada emcomportamentos, ações, falas sobre a moda regional, resta-nos uma pergunta: “como sechega a expressar essa visão”, ou de outra forma, “por que a moda local ocupa um lugarmenor no universo da moda nacional?”. É aqui que recorremos aos dois suportes teóricosque delinearam nossa pesquisa de campo: a Teoria das Representações Sociais, formuladapor Serge Moscovici e seguidores, e os conceitos de cultura formulados por autores comoMcCraken (2003), Lipovetsky (2004), Caldas (2006), Laraia (1989), Marcuse (2001),Castilho e Martins (2005), etc.

Resumindo, nossa investigação justifica-se por ser uma tentativa de compreender acultura da moda, numa cidade da região nordestina, lidando, portanto, com conceitos geraise conceitos particulares. Interessa-nos saber como consumidores e estilistas relacionam-secom a moda local; como a representam em relação à totalidade e como se comportam frentea eles. Trata-se de um trabalho que deseja contribuir, de alguma forma, para a compreensãode um fenômeno tão complexo (pois envolve Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia,História, Geografia) como a moda, dentro de um quadro de referência emoldurado pelaTeoria das Representações Sociais e por vários conceitos de cultura.

Nossa investigação, fundamentada na teoria das Representações Sociais e na Cultura,ambas aplicadas ao estudo da moda, e de caráter essencialmente qualitativo, temnecessariamente que trabalhar com a qualidade do discurso, com a subjetividade, pois nãoestávamos lidando com meras opiniões, nem com perguntas estereotipadas, mas com umdiscurso re/criador de uma realidade, que modifica e é modificado pelo grupo, que constróie é construído pela cultura. Nunca é demais ressaltar o caráter dinâmico de uma pesquisa nocampo das Representações Sociais, povoado de imagens, idéias, opiniões, sentimentos, desejose assim por diante. Por todas estas razões, entrevistamos por amostragem consumidores,estilistas e designers que se expressaram sobre a moda regional e de suas respostas, e captamoscomo se formam, como se constroem e como se articulam suas relações com esta moda.Tratando-se de uma investigação em Representações Sociais e de conceitos da cultura, apesquisa de campo com utilização de entrevistas assume um caráter de essencialidade. Como

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125nosso trabalho se insere no quadro teórico de um estudo qualitativo, a interação entre opesquisador-entrevistador e o sujeito-entrevistado comporta uma dimensão que talvez nãoesteja presente em outro tipo de pesquisa. No caso específico da nossa pesquisa, utilizamosa entrevista semi-estruturada para apreender como se formam, como se constroem asRepresentações Sociais de consumidores e estilistas/ designers de moda sobre a moda regionalde João Pessoa. Em pesquisas desta natureza é essencial trabalhar com o discurso eobservação, e para tanto, além da entrevista semi-estruturada, utilizamos a observaçãoparticipante e a posterior análise dos discursos dos autores da pesquisa.

Mas, porque utilizar a teoria das representações sociais, e qual a relação com acultura, especialmente a cultura de moda?

A teoria das Representações Sociais tem sido ao longo do século XX, especialmenteapós 1961 e até nossos dias, largamente utilizada como instrumento de análise nas áreas daPsicologia, da saúde, da Educação, da Economia, entre outras. Desde o estudo de SergeMoscovici (1978), sobre a representação social da Psicanálise no seio do público francês, ocorpus teórico deste paradigma mostrou ser uma interessante e útil ferramenta para seapreender como o conhecimento comum circula no interior dos grupos, e especialmentecomo o indivíduo é influenciado pelas verdades deste grupo ao mesmo tempo que o influenciada maneira constante. Deste modo fica evidenciado o caráter dinâmico, moderno, dasRepresentações Sociais, em contraponto à concepção estática das Representações SociaisColetivas de Durkheim (1989).

Estas representações sobre a moda regional são elaboradas dentro de um mundo dacultura, nunca fora dele, pois embora traduzam um modo particular de encarar as vestimentase acessórios elaborados por estilistas/ designers nordestinos, não podem ser compreendidosfora da totalidade da maneira como estes concebem a moda no país e é por esta razão que asrepresentações sociais são captadas por meio principalmente do discurso. Esta prática, istoé, apreender como as representações sociais são construídas deve-se ao fato de que acomunicação é um processo cultural e conseqüentemente social. Laraia explicita o que estamosafirmando: a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se ohomem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicaçãooral. (LARAIA, 1986:53)

No campo da cultura de moda, parece que a moda da roupa nordestina guarda asaudade da época colonial, da casa grande, da senzala, das mucamas e sinhazinhas (Freyre,2002). Não se deve inferir com isto que a região não se modernizou, não cresceueconomicamente, mas devemos compreender que isto se deu no conflito entre o moderno eo arcaico. Até hoje, o vestuário, as peças de roupa da moda nordestina aparecem aos olhosde outros brasileiros como profundamente ligadas ao folclore, ao exótico, ao bizarro. Emnenhuma área da vida o nordeste é tão intimamente ligado ao passado como nas artes, eespecialmente nas roupas.

A hegemonia da região sudeste sobre a região nordeste, quando se trata de modos emodas, é antiga e resulta ainda de nossa colonização, sobretudo, da chegada da CortePortuguesa ao Brasil, ocasião em que se instalaram no Rio de Janeiro. A Europa nessa épocavivia o processo de modernização das cidades e Paris e Inglaterra ditavam as modas, oscostumes, o consumo. Uma vez instalada aqui, as mulheres nobres portuguesas trazem consigotodos estes hábitos de consumo, que se espalhava pelo Brasil como pólvora. Por aqui eramvendidos esquis, lareiras, os mais caros veludos e rendas, botas de frio, casacos pesados,porcelanas “inglesas” (vindas da Índia), perfumes e cosméticos, enfim, tudo que não era

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126 adequado a nosso clima e nem a nossa economia, que via seus produtos locais desvalorizassem-se e serem exportados por verdadeiras bagatelas, sobretudo o Nordeste, produtor de grandesriquezas. É nesse aspecto que a historiadora Silvia Hunold Lara diz que “o gosto pelas modaseuropéias estava ligado à vontade de diferenciar-se e de guardar o selo europeu, da civilização,era a marca de um complexo de inferioridade inconfesso e inconfessável em relação aoeuropeu” (2007). Não é de espantar que grandes estilistas brasileiros do século XX comoClodovil, Denner, Guilherme Guimarães, Hugo Rocha, ícones da alta-costura brasileira, fossemmeros intérpretes da moda francesa. A única exceção, Zuzu Angel, iniciou sua carreira comoos demais, mas ao perceber o poder da moda e do “DNA” nacional, iniciou um movimentode brasilidade inédito até então, utilizando a chita, as rendas nordestinas, os bordados commateriais brasileiros e estampas com símbolos brasileiros em sua fase de moda tropicalista.

Atualmente, a indústria da moda brasileira movimenta anualmente milhões de reais,seja por meio da indústria têxtil (é o segundo maior fabricante de índigo e o terceiro de malhado mundo), das semanas de moda (SPFW, Fashion Rio e Minas Trend Preview), ou deinstituições de ensino (é o país que tem maior quantidade de escolas superiores de moda nomundo, em 2009 eram mais de 100). Porém, ressalte-se que o nordeste, de um modo geral,está excluído desta “rota” de crescimento. Alguns estados nordestinos conseguem, comdificuldades, fomentar a moda através de incentivos a parques fabris, concursos de novostalentos e semanas de moda, a exemplo do Ceará (o pólo de moda mais consolidado doNordeste), da Bahia e de Pernambuco. A Paraíba, Estado de riquezas incontáveis no que dizrespeito à produção de matéria-prima têxtil, ainda encontra-se em situação de atraso naorganização e sistematização da cadeia produtiva local quando o assunto é moda, e mesmoquando se trata da economia em geral, pois agrega poucas indústrias e o comércio encontra-se em atraso aos demais Estados. Os incentivos fiscais, os patrocínios das iniciativas privadas,enfim, as atrações para incremento da indústria e comércio ainda são poucas.

Por essas razões, o estudo do cenário de moda local é de suma importância. Analisara os costumes e hábitos de consumo que prevalecem hoje em nossa sociedade, ouvir ecaptar as representações dos consumidores e produtores sobre a moda e a cultura é o quenos levou a chegar a resultados concretos e que de alguma forma podem auxiliar na mudançados padrões de pensar e consumir a moda paraibana.

A análise dos resultados da pesquisa empreendida por nós, isto é, de todas as falasdos atores sociais, nos mostraram que não se pode separar moda da cultura de moda. Odiscurso dos respondentes é revelador. A moda não é somente um produto industrial, não ésomente um produto para ser comercializado, não está inserida em grandes redes produtoras,mas também pertence a outra esfera, ou seja, à esfera do simbólico. A roupa, o vestuário,não é um meio que se dispõe para proteger o corpo das intempéries, mas mostra que é acimade tudo um instrumento de inserção no grupo, um jeito de pertencimento ao social, ao clã,aos guetos, à família, à empresa, à instituição, às tribos. O vestuário não é apenas um sinal deluxo, do supérfluo, do efêmero, como bem analisa Lipovetsky (2005, 2006), mas situa-sedentro de um mundo que não se contenta apenas em resguardar o corpo, mas também,sobretudo, em exibi-lo, comunicar, transmitir uma mensagem. A aparência, nos ensina Garcia(2002), finca raízes no cultural, é um símbolo da própria cultura.

Com base nas análises do discurso dos atores de nossa investigação, chegamos àsseguintes conclusões: as representações sociais de estilistas/ designers e consumidores revelamque a moda está inserida num universo maior, chamado cultura, aceito como um jeito de vivermaterial e simbólico. Perguntados sobre a cultura de moda local (se existe), alguns respondem:

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127“Acho que de certa forma, sim... Eu acho que a música, a moda, o artesanato, o teatroe outras manifestações tão trazendo isso à tona”, “Cultura é relacionado muito ao queé produzido por um povo a nível de arte, de moda...”. Pode-se inferir também da pesquisa,que predomina (como esperávamos desde a observação participante) a admiração pela modanacional/internacional, de grife, mostrada pelos meios de comunicação, sobretudo revistasfemininas e televisão (novelas principalmente): “[...] A moda é aquela moda que elas vêemna novela, na revista, na Caras, na Cláudia”, “[...]Eles não têm uma Cultura de Modavoltada para a moda local. As pessoas gostam de usar, ou ter ou se vestir de forma queé disseminada nas revistas, nos meios de comunicação, ou que as grandes marcas lançamcomo tendência”. Podemos afirmar também que constantemente o consumidor confunde amoda local com o artesanato, e o designer/estilista com o artesão fabricante de matéria-prima e roupas artesanais, ou seja, reduzem o produto de moda local ao simples produtotêxtil (no caso rendas, crochês, batik...): “[...] na medida em que eu vejo o artesanatoparaibano, uma roupa da Celene que eu gosto, uma roupa da Lúcia que eu gosto, aí euconsumo, eu consumo porque eu gosto, não porque é paraibano ou deixa de serparaibano”, “[...] De artesanato local, uma vez eu comprei uma blusa de renascença.Eu fui lá em Paris e vi que renascença era caríssimo [risos], aí eu disse: Ôxe, isso é tãobarato lá em João Pessoa! Aí eu fui ao mercado de artesanato e comprei umablusinha[...]”. Os atores da pesquisa, isto é, consumidores e estilistas/ designers reclamamainda da pouca visibilidade e da ausência de marketing para mostrar a produção de modalocal, ou seja, falam de uma falta de união entre os produtores de moda da região e os órgãoscompetentes, refletindo na fraca comercialização de seus produtos: “A gente não tem umgrande evento, não tem ainda faculdade, acho que a faculdade será uma coisainteressante também... A gente não tem um banco de dados... As pessoas não estãoconectadas... Reunir as pessoas que fazem moda na Paraíba e a gente fazer um material,em forma de desfiles, fotos de moda”, “[...] as pessoas que moram aqui não conhecemos estilistas locais... a moda local não está sendo valorizada, nem está sendo divulgada”,“Eu acho que em 1º lugar, deveria haver um incentivo maior por parte de órgãos comoSEBRAE, da própria Prefeitura, Governo do Estado, que deveria haver umreconhecimento maior da produção de moda e de roupas, do artesanato local [...].”

As representações sociais dos entrevistados revelam uma forte presença das obrasde artistas e escritores nordestinos, que afirmam nossa predestinação de guardiões de nossacultura. Há um espaço de resistência da moda local em relação à moda nacional e hegemônica.Nada se passa de maneira mecânica e irreversível. Todos, sejam produtores ou consumidores,reconhecem que a moda local/ regional só pode se desenvolver dentro de uma rede organizadade produção e comercialização, e esta organização só é possível com força, união, marketinge principalmente, profissionalização.

Referências

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CASTILHO, Kátia; MARTINS, Marcelo M. Discursos da moda: semiótica, design ecorpo. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2005. (Coleção Moda & Comunicação).

CASTILHO, Kátia; GARCIA, Carol (orgs). Moda Brasil: fragmentos de um vestir tropical.São Paulo: Anhembi Morumbi, 2001.

DURKHEIM, Emile. Representações Coletivas e Representações Individuais. RevistaMetafísica e de Moral. Paris, 1989.

FREYRE, Gilberto. Modos de homem & modas de mulher. 4 ed. Rio de Janeiro: Record,2002.

GARCIA, Carol. Moda e Comunicação: o jogo da aparência como raiz cultural. RevistaNexus, São Paulo: Anhembi Morumbi, ano VI, n.9, p. 33-48, 2° semestre, 2002.

LARA, S. H. . Fragmentos setecentistas. Escravidão, cultura e poder na América Portuguesa.1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 4 ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 1989.

JODELET, Denise. Représentation Sociale: Phénomene, Concept et Théorie. In:MOSCOVICI, Serge (org). Psicologie Sociale. Paris: PUF, 1990.

LIPOVETSKY, Gilles; ROUX, Elyette. O luxo eterno: da idade do sagrado ao tempodas marcas. Trad. Maria Lúcia Machado. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

______. O império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. Trad.Maria Lúcia Machado. 9 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

MARCUSE, Herbert. Cultura e Psicanálise. Trad. Wolfgang Leo Maar, Robespierre deOliveira, Isabel Loureiro. São Paulo: Paz e Terra, 2001. (Coleção Leitura)

MCCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico dosbens e das atividades de consumo. Trad. Fernanda Eugênio. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

MOREIRA, Daniel Augusto. O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo: PioneiraThomson Learning, 2004.

MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Trad. Álvaro Cabral. Riode Janeiro: Jorge Zahar, 1978.

______. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho A.Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2003.

Recebido: 22.09.2009Avaliado: 30.09.2009

Contato com a autora:email: [email protected]

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131SANTA RITA – PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA PARAÍBA

Professor por vocação, legado geneticamente herdado do seu pai, o professor JoséFrancisco da Silva Filho, que por décadas educou gerações de santaritenses em seu saudosoInstituto São Francisco de Assis, no bairro Popular, Siéllyson Francisco da Silva, foi aplicadoaluno e pesquisador de Curso de Licencia-tura Plena em História, da Universidade Federal daParaíba - UFPB. No penúltimo período de Curso, escolheu como tema de sua monografiade conclusão: Santa Rita: Patrimônio e História, elaborada sob nossa orientação, recebendo daBanca Examinadora, Con-ceito A (Distinção), em 2003. Nesse mesmo ano, de 27 de julho a 1°.de agosto, João Pessoa sediou o XXII Simpósio Nacional de História, promovido pelaAsso-ciação Nacional de História, com a participação de quase dois mil inscritos do Brasile exterior, onde na sessão temática História, Memória e Patrimônio, o autor apresentoubrilhante comunicação sobre o traba-lho em elaboração, com o título: Santa Rita: Patrimônio eHistória. Utilizando-se de recursos audio-visuais e de diversificada pesquisa iconográfica,complemen-tada pelo revisionismo historiográfico dos clássicos do período colonial, aapresentação foi bastante aplau-dida e suscitou caloroso debate. Para o apresentador eautor, sua comunicação:

“ ...teve como objetivo, fazer a apresentação crítica dos mais importantes patrimônioshistóricos da cidade de Santa Rita, segundo núcleo de povoamento mais antigo da Paraíba,com destaque para o Engenho D’el Rey, ou Tibiri, de 1587, sua senzala apenas descrita no séculoXIX, a Capela de São Sebastião, a Capela de São Gonçalo, a de Gargaú, e a Matriz deSanta Rita de Cássia, ressaltando a omissão do poder pú-blico na preservação e conservaçãodesses patrimô-nios” (ANPUH, 2003, Caderno de Programação e Resumos, p. 297).

No ano de 2005, ao cursar a Especialização em História do Brasil, na FaculdadeIntegrada de Patos, Núcleo de João Pessoa, o trabalho foi enriquecido por maisaprofundada pesquisa, recebendo a denomi-nação de: Santa Rita: a Herança Cristã do Real aoCumbe, optando o autor, mais uma vez, pela História local.

Ao tecer considerações sobre a História local, ressaltando seu significado erelevância, o saudoso historiador José Honório Rodrigues conceituou-a como a História maispróxima do cidadão, por vincular-se mais afetivamente ao cidadão e às raízes culturais.Simultaneamente, lamentou a precariedade dos arqui-vos municipais e a ausência de uma políticade preser-vação do acervo e da memória dos municípios, de seu património histórico ecultural.

Ao prefaciar o primeiro livro da Coleção Materiais Didáticos - Uma História de Ingá, dalinha de pesquisa Educação e Sociedade, do Núcleo de Documentação e Informação Históricae Regional - NDHIR/UFPB, a professora e historiadora Rosa Maria Godoy Silveira, com precisasensibilidade, dividiu a história local em nossa historiografia em dois momentos distintos.

No primeiro momento, a Historiografia apareceu escrita por diletantes, geralmente bacharéisem direito ou por outros profissionais liberais, desprovidos de quaisquer instrumentos teórico-metodológicos, presos aos ditames positivistas, preocupados tão somente com os feitos dos grandes

SILVA, Siéllysson Francisco da. Santa Rita: A Herança Cristã do Real ao Cumbe. Idéia Editora, João Pessoa, 2007.

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132 personagens e de suas realizações administrativas. Por essa perspectiva, essas histórias locaissão: “factualistas, descritivas, localistas, histórias-crônicas de personagens ilustres da cidade...”

Felizmente para a nossa historiografia, num segundo momento, essas histórias locaisforam substi-tuídas por um outro “fazer histórico”, que se instaurou e passou a privilegiar estudosde tempos e espaços mais abrangentes, as estruturas mais profundas da sociedade, taiscomo relações de poder, relações de produção, movimentos sociais, e cotidiano da cidade, suamemória, seu patrimônio histórico e cultural, etc. São trabalhos produzidos não por diletantes, maspor alunos oriundos da graduação, especialização, do mestrado e até mesmo do doutorado.

O estudo de Siéllysson, agora em livro, alinha-se nesse segundo momento, pois é trabalhoacadêmico embasado em séria pesquisa e comprometido, pois, com o resgate da Memória, daHistória e da Cidadania. Es-truturado em três capítulos: 1. Século XVI: Santa Rita, Colonização eRuínas Históricas; 2. Século XVII: Santa Rita e a Invasão Holandesa; 3. Século XVIII: Santa Ritae sua Formação, a obra tem como marca registrada além da originalidade, e revisionismohistoriográfico, fundamentado em clássicos como Frei Vicente do Salvador, Elias Herckmans,Simão Travassos, Horácio de Almeida e Maximiano Machado, dentre outros.

Jacques Le Goff, notável mediavalista francês, da terceira geração da Escola dos Annales,ao apreender a simbiose entre Memória e História e seu desaguadouro na Cidadania, comointelectual comprometido com o seu tempo, com muita felicidade, assim se expressou:

“A memória, onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar opassado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletivasirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (HISTÓRIA e MEMÓRIA: 1989, p.641).

Ao denunciar o estado de abandono e ruína em que jaz o patrimônio histórico e culturalde nossa amada terra - Santa Rita, o autor não fez apenas um exercício acadêmico, mas umaação de cidadania. Cidadania, não na visão tradicional da literatura jurídica brasileira, na suamaioria vincada do viés positivista e legalista-normativista, que a conceitua como mera relaçãolegal que se estabelece entre o indivíduo e o país de sua nacionalidade. Por essaperspectiva, a expressão Cidadania identifica aquele que está na plenitude de seus direitospolíticos, cumprindo os deveres de cidadão.

A Cidadania ressaltada e abraçada neste estudo é a definida por Hannah Arendt,filósofa alemã, de origem judia e naturalizada norte-americana, em sua monumental obra ACondição Humana, para quem Cidadania, “é o direito a ter direitos”, nas mais diversas esferasda vida humana, dentre eles, os direitos culturais, assim assegurados, pelo menos teoricamente,pela nossa Constituição de 1988, em seu art. 215:

“O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontesda cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.”

Para nós historiadores “comprometidos com o nosso tempo”, uma política eficaze adequada de resgate e de preservação de nosso Patrimônio Histórico e Cultural, que possibiliteo exercício da Cidadania de nosso povo, deve ser efetivada pela ação do Poder Público e dasociedade civil como um todo, funda-mentada em três significativas áreas: na EducaçãoPatrimonial, na Pesquisa e Preservação (SANTANA, 2006, p. 17).

Em atendimento a uma Mo-ção do Lions Clube de Santa Rita, em Convenção reali-zadaem Mossoró-RN, em maio de 2004, Santa Rita deu o primeiro passo na busca de uma política depreservação de seu patri-mônio histórico e cultural, quando o poder público municipal criou oConselho do Patrimônio Histórico e Cultural. Porém a iniciativa ficou apenas no papel, pois esseConselho jamais foi instalado, e hoje, não temos sequer uma Secretaria de Cultura.

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133Esperamos e desejamos que, com criatividade, este livro seja bastante utilizado comomaterial didático em nossas escolas, nos cursos sobre Educação Patri-monial, para o professoradoe comunidade geral, bem como temática de simpósios, palestras, seminários e fóruns, envolvendoa nossa sociedade civil na cons-trução de uma sociedade cidadã.

E para concluir esta análise do estudo produzido por um aluno de ontem e colega dehoje, gostaria de deixar como reflexão e práxis, aos colegas da educação e para a comunidadesantaritense, sobretudo para os gestores públicos, a síntese da Resolução do Congresso realizadoem São Paulo em 1992, pela Secretaria de Cultura e Departamento do Patrimônio Histórico:

“Compreender o Direito à Memória como dimensão fundamental da Cidadania, implicareformular as relações entre a preservação e a educação formal (...) Cabe ao ensino e à educação,integrar em seus currí-culos e programas escolares, formas de incentivar ações concretasnesta área, incorporando atividades no campo da história oral, de contato com acervosarquivísticos ou museológicos, e com a paisagem urbana, a vivenciar uma relação democráticacom as diferenças do passado e do presente.”

Profª Martha Falcão de Carvalho M. Santana/UFPB/IHGP

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134 UM CANAL ENTRE O CINEMA E A TELEVISÃO

Uma instigante revisão crítica ao processo multimídia, a partir de análises das diversasnuanças da Linguagem e seus recursos tecnológicos audiovisuais, sobretudo da televisão edo cinema, é o que contempla o livro do advogado, jornalista e professor Alex Santos, daFAP e Asper/UNIP de S. Paulo, e Assessor de Comunicação & Marketing do CCENN/UFPB.

Comunicação e Linguagem - Cinema & televisão, uma relação antropofágica,título do mais recente trabalho do autor de Cinema & Revisionismo e Walfredo Rodrigueze a Cultura Paraibana, dentre outros, e também premiado nacionalmente pelo documentáriopara cinema “Parahyba”(o filme), é resultado de uma pesquisa para Tese de Mestradodefendida por Alex Santos, em 1999, na Universidade de Brasília, sob orientação do professore também cineasta Pedro Jorge de Castro, com quem realizou alguns trabalhos em O Romançodo Dinossauro, na parceria UFPB-UNB.

Segundo o autor, o livro defende os seguintes pontos: abertura de um canal(novo) depesquisa científica, na relação Cinema-Televisão, sob o enfoque amplo da linguagem,dandoênfase ao que preconiza de apropriação, pela TV, dos recursos linguísticos de dramaturgia,bem como de paradigmas/ícones já amplamente cristalizados pelo cinema.

Uma questão defendida também no livro diz respeito à tentativa de melhorcompreender o universo construtivo das comunicações audiovisuais, também, nas suas reaisimplicações com a imagem virtual do cinema e da TV. Tudo isso, sob um contexto de políticacultural latino-americana, enfatizando o panorama histórico brasileiro/paraibano, em suas tesesreformistas então vivenciadas nos anos 50/60, ainda relacionadas aos atuais meios de produçãode ambos os media.

Reafirma, igualmente, a preocupação em se tentar determinar com clareza, ao nívelda linguagem e do discurso imagético, o que é realmente cinema ou televisão, nas suasintrínsecas diferenças estruturais e informativas. E, conforme o autor, este tem sido um aspectoainda não muito bem elucidado pelos teóricos da comunicação, razão pela qual tentaaprofundar seu estudo na questão do que chama de “apropriação da arte pela arte”, buscandovertentes explicativas inclusive nos seus próprios conhecimentos jurídicos. Alex Santos defendecom veemência este ponto, alegando que considera altamente desconfortante e, de certamaneira, enganosa, a proposta de que o cinema foi substituído pela TV no plano da Dramaturgia,sobretudo, “quando entendemos não ser assim, pois a televisão sempre teve papel singular/realista, mediático, na forma de conduzir a informação dos fatos enquanto notícia; de certamaneira, diferentemente da reconstituição (representação) específica desses fatos, um atributomeramente cinematográfico e, não menos, teatral”, afirma.

Alexandre Menezes Cavalcante Santos/ASPER e FAP/UNIP

SANTOS, Alex. Cinema & Televisão: Uma Relação Antropofágica. João Pessoa: A União, 2002.

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137UNIPÊ E LINHA D’ÀGUA EM NATAL

Tendo como local o auditório daUniversidade Potiguar, no bairro de PontaNegra, em Natal, a Comissão Editorial doUNIPÊ e as Edições Linha D’Àguaprocederam, a 18 de junho de 2008,movimentada jornada cultural, constante depalestras e lançamento de livros.

Na presença do publicista EnélioPetrovich, procurador Francisco Nunes ehistoriadores Marlene Mariz e Luiz EduardoBrandão Suassuna (Coquinho), o InstitutoHistórico e Geográfico do Rio Grande doNorte, a Procuradoria Geral do Governo doRio Grande de Norte e a Universidade Federaldo vizinho Estado prestigiaram o evento quecontou com a participação do Procurador-Chefe José Adalberto Targino, ex-Secretáriode Estado, na Paraíba.

Na abertura dos trabalhos, e logo após o lançamento da Revista do UNIPÊ, anoXIII, nº 1, Série Ciências Humanas e Sociais, o jurista Paulo Lopo Saraiva teceuconsiderações acerca de seu estudo A Constituição da Casa Grande e da Senzala (ODireito Consuetudinário Brasileiro), editado em 2008, pela coleção Autônoma do UNIPÊ.Segundo Lopo Saraiva, as colocações de Gilberto Freyre, no famoso ensaio, demonstramque índios e negros tiveram vez no ordenamento jurídico brasileiro do período colonial.

Ao diretor presidente das Edições Linha D’Àgua, economista Heitor Cabral, coubeproceder a apresentação de títulos jurídicos da empresa, entre as quais quarta edição doconsagrado Introdução a Direito, de José Flóscolo da Nóbrega. De acordo com Heitor, aLinha D’Àgua, a partir daquele momento, colocava sua produção ao alcance daintelectualidade norteriograndense.

O pronunciamento mais arrebatado da sessão ficou por conta do publicista RobertoFurtado, apresentando História do Direito e da Política (2008), do historiador paraibanoJosé Octávio de A. Mello, editor de Revista do UNIPÊ. Advogado de presos políticos naterra potiguar, Furtado, a quem História do Direito é dedicado, recordou passagens doschamados “anos de chumbo”, da década de setenta.

No Encerramento dos trabalhos, o historiador Enélio Petrovich, presidente do InstitutoHistórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, e membro da Academia de Letras dessaunidade federada, reiterou as históricas ligações culturais entre R. G. do Norte e Paraíba.

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138 MOSTRA ESTADUAL E HOMENAGEM

Sob coordenação geral do teatrólogoTarcísio Pereira, o período compreendidoentre 22 e 30 de agosto de 2008, registrou,em João Pessoa, a XIV Mostra Estadual deTeatro e Dança.Apresentação de peçasteatrais, espetáculos de dança, debates,oficinas e workshops constituíramprogramação em que o público assistiu a,entre outros, os espetáculos teatrais AVerdadeira História de ChapeuzinhoVermelho, Uma Mulher e dois Maridos,Cordel do Amor Sem Fim, (In) Sônia,Doidivanas, Sentidos do Imaginário, O Diaem que a Morte Bateu as Botas, ABagaceira e Família é uma Desgraça. Asrespectivas encenações estiveram a cargo degrupos teatrais de João Pessoa, Cajazeiras,Campina Grande, João Pessoa, Cabedelo,Alagoa Grande, João Pessoa, Cabedelo eAreia, registrando-se, igualmente,intervenções de conjuntos de Lucena eVárzea Nova.

Os debates e oficinas e workshops versaram sobre “Discutindo Dança”, “Música eCorpo”, “Bailarinos”, “Estímulo e Consciência”, “Introdução à Cenografia”, “Gestão Cultural”e “A Importância de Assessoria de Imprensa”. No intervalo de dois desses, o Bar do TeatroSanta Rosa registrou o lançamento de dois romances de Tarcísio Pereira, intitulados OSacrifício dos Anjos e O Homem que Comprou a Rua, viabilizados com recursos do FIC.

Ainda na área teatral, com apoio do Grupo Bigorna e Ramalho Filmes Produção, oSESC Paraíba homenageou o teatrólogo Fernando Teixeira, com a seqüência FernandoTeixeira no Cinema. A manifestação constou de filmes interpretados pelo artista, a saber,Baixio das Bestas, Por 30 Dinheiros, Canta Maria e Árvore da Marcação. Todas asexibições ocorreram na sede do SESC, exceção de Por 30 Dinheiros, apresentado noauditório do Liceu Paraibano.

ERUNDINA NA SEMANA DO PSICÓLOGO

A presença da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina,representou o ponto culminante da Semana do Psicólogo do UNIPÊ, empreendido pelocurso de Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa, sob a coordenação geral daprofessora Iany Cavalcante de Barros, na derradeira semana de agosto de 2008.

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Em exposição a que procedeu, no Espaço Cultural do UNIPÊ, a antiga assistentesocial da Paróquia de Lourdes sustentou que “A escola não politiza. É preciso reformar oprojeto político-pedagógico atual e inserir a psicologia no ensino médio. A preocupaçãoconsiste em estimular e conscientizar politicamente o cidadão. Esse deve ser um movimentocoletivo e comunitário. Sem essa conscientização, vamos retardar o processo de transformaçãosocial do país”.

As colocações de Erundina foram amplamente debatidas pelos presentes entre osquais o Reitor do UNIPÊ, José Loureiro Lopes, que expressou a satisfação dos InstitutosParaibanos do IPÊ em recebê-la. Prestigiada por centenas de professores e estudantes, aSemana do Psicólogo do UNIPÊ assinalou o lançamento da publicação Resumos deMonografias de Psicologia – série monografias - 1, coordenada pela professora IanyCavalcante de Barros e editada pela Comissão Editorial do UNIPÊ, com a organização daassessora Kátia Vânia V. Souto Maior.

CINQUENTA ANOS DE TEATRO

Pela intensa atuação nos palcos teatrais e cinema, onde completou nada menosde cinqüenta anos, a atriz paraibana Zezita Matos foi objeto de inúmeras manifestaçõesem agosto de 2008.

A crítica especializada recordou na trajetória de Zezita os mais de trinta espetáculosde teatro, entre os quais a peça As Velhas, premiada, há alguns anos, no Festival de Teatrode Guaramiranga. Sua mais recente intervenção ocorreu com o espetáculo Quebra-Quilos,encenado a partir de 2007, em João Pessoa e cidades do interior, sob a direção do dramaturgopaulista Márcio Marciano.

Por iniciativa do assessor cultural Chico Noronha, o SESC de João Pessoaincorporou-se às homenagens, exibindo filmes que contaram com a publicação de ZezitaMatos, como Menino de Engenho (1965) de Walter Lima Júnior.

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140 Na qualidade de integrante do Núcleo de Apoio Pedagógico do UNIPÊ, a chamada“dama do teatro paraibano” fez sentir, durante as manifestações, que “a arte de educar e a derepresentar devem andar juntas, pois não se educa sem a arte”.

UNIPÊ LIDERA MOVIMENTO EDITORIAL

Reafirmando a liderança doUNIPÊ, no movimento editorialparaibano e até brasileiro, a profª.Patrícia Loureiro, coordenadoraadjunta do curso de Odontologia doUNIPÊ, inseriu dois substanciososcapítulos no livro Diagnóstico porImagem da Face, de autoria do dr.Marcelo Cavalcante, da Faculdade deOdontologia da Universidade de SãoPaulo (USP).

Intitulados Diagnóstico porImagem da Face da OdontologiaLegal e Diagnóstico por Imagem daFace na Ortodontia e OrtopediaFacial, os estudos da jovemespecialista em Radiologia eImaginologia Odontológica, dacomunidade paraibana, contribuirampara recomendação da coletânearesultante de colaboração dos colegasde Pós-Graduação da USP ondePatrícia concluiu doutorado.

A 21 de agosto de 2008, a geógrafa Janete Lins Rodriguez dissertou na AcademiaParaibana de Letras sobre o segmento geográfico da Revista do UNIPÊ Ano XII, nº 1 –2008, Série Ciências Humanas e Sociais, apresentada pelo Reitor José Loureiro Lopes.Essa seção da revista condensou abordagens acerca do geógrafo pernambucano ManuelCorreia de Andrade. Na mesma ocasião, o presidente da APL, economista Juarez Farias,coordenou mesa redonda sobre o estudo Telecomunicações na Paraíba – Resgatando aHistória da profª. Antônia Maria Monteiro e contido em idêntica publicação. Na seqüênciada exposição da autora e do empresário Aluisio Monteiro, pronunciaram-se os economistasJuarez Farias, Heitor Cabral e Antonio Cavalcante Filho.

Em João Pessoa e Campina Grande, o UNIPÊ contribuiu, decisivamente, para oprimeiro aniversário do falecimento do professor e escritor Amaury Vasconcelos que, nos últimosquarenta anos, se distinguiu como militante cultural dos quadros da APL, IHGP, CEC e GJHR.

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141O ponto alto das manifestações alusivas ao primeiro aniversário do passamento deAmaury Vasconcelos correu por conta da apresentação da coletânea Apologia do Amor –Sady e Àgaba (2008) de autoria de Antônio Bemvindo e coordenada pelo filho Amaury.

O Acontecimento ocorreu em doistempos, com o primeiro tendo lugar naLivraria Cultural, de Campina Grande, soba responsabilidade da Academia de Letraslocal. Ocorreram então pronunciamentosdo escritor Airton Elisiário, presidenteda ALCG e seu colega José MoraesLucas, também pertencente ao Grupo JoséHonório Rodrigues.

Em João Pessoa, a terceiraedição da novela de Antônio Bemvindomotivou, a 13 de outubro de 2008, painelna Fundação Casa de José Américo,ocasião em que intervieram os teatrólogosPaulo Vieira, Elpídio Navarro e AnunciadaFernandes, e o pesquisador Jean Patrício,do GJHR.

HOMENAGEM A CONSELHEIROS FUNDADORES

Dois conselheiros fundadores do Centro Universitário de João Pessoa-UNIPÊ, e,nessa condição, integrantes da Assembléia Geral do IPÊ, o monsenhor José Trigueiro doVale e o padre casado Manuel Batista de Medeiros, foram alvo de expressivas homenagensda comunidade paraibana, em novembro e dezembro de 2008.

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142 A 30 de novembro, o ex-Reitor José Trigueiro do Vale completou sessenta anos devida sacerdotal, em razão do que Arquidiocese da Paraíba e UNIPÊ se conjugaram parasérie de manifestações, nas Igrejas N. Sa. de Lourdes, de onde foi pároco, desde 1948, eCentro Social Dom Adauto, por ele também dirigido. Na missa concelebrada da Igreja deLourdes, a homilia foi procedida pelo Arcebispo Dom José Maria Pires, que se referiu àsaltas qualidades morais e religiosas do homenageado. O pronunciamento do ex-Arcebispoda Paraíba viu-se convertido em publicação pela coleção Autônoma da Comissão Editorialdo UNIPÊ. No chamado Rito da Prostração, o professor e cientista político Oswaldo Trigueirodo Valle – irmão de José – referiu-se a este como responsável por “trabalho estável eininterrupto que só tivera uma finalidade – esta paróquia”.

Reitor do UNIPÊ, durante dezoito anos, José Trigueiro recebeu seus convidadoscom recepção oferecida, em seguida à missa, no Centro Social Dom Adauto.

***Já o conselheiro e procurador Manuel Batista de Medeiros, também do UNIPÊ, viu-

se contemplado, a 09 de dezembro de 2008, pela Assembléia Legislativa da Paraíba, com amedalha Epitácio Pessoa, como a mais alta honraria do Poder Legislativo da Paraíba.

Resultante de propositura do deputado João Henrique de Sousa, a comenda teve emvista a intensa atuação profissional do homenageado como (ex) sacerdote, professor,advogado, escritor e jornalista profissional.

Primeiro Reitor do IPÊ, quando este ainda se denominava Universidade Autônoma,e presidente da Academia Paraibana de Letras, durante dois mandatos, o atual Chefe daProcuradoria Jurídica do UNIPÊ tornou-se, ao longo da trajetória profissional, titular emletras pela UFPB e metre em Educação pela Universidade Católica do Recife. Bem assimvigário de São Miguel de Taipu e outras paróquias, inclusive em João Pessoa. Professor doLiceu Paraibano, Seminário Arquidiocesano, UFPB e UNIPÊ, e ainda Procurador Jurídicodo Estado, onde se aposentou do serviço público.

Jornalista profissional e colaborador de inúmeros jornais paraibanos, dirigiu osemanário católico A Imprensa e o Rádio Arapuan de João Pessoa. Seu currículo tambémassinala o exercício da Secretaria do Interior e Justiça da Paraíba, a condição de RádioAmador PR7-BTG e a de colaborador emérito do Exército Nacional, a nível do IV Exército.

Aproveitando a comenda que lhe foi outorgada, o professor Manuel Batista procedeuo lançamento da coletânea de ensaios Semeando o Outono, preparada pela Editora doUNIPÊ. O Reitor deste, professor e doutor José Loureiro Lopes, prestigiou, juntamentecom dirigentes, professores, alunos, técnicos e funcionários da instituição, tanto a comendade Batista de Medeiros quanto o aniversário de ordenação sacerdotal do Monsenhor JoséTrigueiro.

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143NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS NA REVISTA DOUNIPÊ

1. O periódico trimestral Revista do UNIPÊ publica trabalhos inéditos nas áreasde Ciências Humanas e Sociais, Ciências Jurídicas e Ciências Biológicas e da Saúde, sobreque versarão seus sucessivos números.

2. Tais publicações, redigidas em português, inglês, francês, alemão, italiano ouespanhol, deverão encaixar-se em uma das seguintes categorias:

- Artigos – trabalhos originas teóricos de revisão de literatura e relatos de pesquisa(até 12 laudas).

- Comunicação de pesquisa – relatos originais sucintos de pesquisas realizadas(até 6 laudas).

- Artigos de Metaciência - Pesquisa de Produção (até 20 páginas).- Resenhas – apresentação e análise de livros publicados na área (até 4 laudas).- História – reimpressão ou impressão de trabalhos ou documentos de difícil acesso,

relevantes do temário da Revista – Ciências Humanas e Sociais e Biológicas e da Saúde (até2 laudas).

3. Para publicação, a matéria deverá ser aprovada por um dos integrantes do CorpoEditorial da Revista.

4. O trabalho poderá ser aceito sem restrições, com pequenas mudanças, com grandesalterações ou rejeitado, recebendo os autores cópias anônimas dos pareceres.

5. Os originais deverão ser enviados em três vias impressas em entrelinhamento duplo(2 espaços, fonte Times New Roman, corpo 12), incluindo figuras e tabelas (em arquivosseparados ou juntos), utilizando qualquer processador de texto conversível para o padrãoWord for Windows , sem utilizar recursos especiais de edição em CD ROM. Este deveráconter etiqueta com código de acesso ao(s) arquivo(s).

6. Na página de rosto, deverão constar título do artigo, nome(s) do(s) autor(es),vínculo institucional, titulação do(s) autor(es), endereço completo para correspondência,telefone, fax e e-mail.

7. Na segunda página, devem aparecer os resumos, primeiro em português e emseguida em inglês; na seqüência: título, resumo (abstract), com texto de até 120 vocábulos epalavras-chave (key-words) até 3.

8. A numeração das páginas do texto começa na página seguinte, com o nº 1.

9. As abreviações que não tenham sido previamente especificadas no texto nãodevem ser usadas, mesmo que de uso corrente.

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144 10. Rodapé só será permitido na primeira página, para agradecimentos e atribuiçõesde crédito.

11. O formato das referências deve seguir as últimas normas da ABNT.

12. Tabelas e figuras devem ser numeradas, seqüencialmente com números arábicos,seguidos dos títulos. Nas tabelas, o título aparece na parte superior, e nas figuras na parteinferior, devendo, em ambos os casos, ser bons descritores do conteúdo apresentado. Sempreque possível, não usar verticais para separar as colunas nas tabelas (usar tabelaspreferencialmente abertas). Indicar no corpo do trabalho ou inserir tabelas e figuras.

Tabela 1 ou Tabela 2

Apresentá-las ou não em arquivos separados do texto (neste caso, indicar ocódigo de acesso no texto) em CD ROM, assegurar-se da qualidade das figuras e tabelas(legibilidade, compreensão, não redundantes entre si e com o conteúdo do texto). Aconselha-se aos autores que sejam parcimoniosos no uso de figuras, e dêem preferência à apresentaçãoem tabelas.

Endereço da Revista do UNIPÊBloco B, Sala 208, 1º andar, BR 230, KM 22, Água Fria

Cx. Postal 318, CEP 58053-000 – João Pessoa/PBFone: (83) 2106-9266

email: [email protected]