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retratos da leitura n
o brasil 3
Zoara Failla | organizadora
retratos da leitura no brasil 3Zoara Faillaorganizadora
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Retratos da leitura no Brasil 3
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Zoara Faillaorganizadora
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Em princpio, s numa sociedade igualitria os produtos literrios podero circular sem barreiras, e neste domnio a situao parti-cularmente dramtica em pases como o Brasil, onde a maioria da populao analfabeta, ou quase, e vive em condies que no permitem a margem de lazer indispensvel leitura. [...] Pelo que sabemos, quando h um esforo real de igualitarizao h aumento sensvel do hbito de leitura, e portanto difuso crescente das obras.1
Antonio Candido
A pesquisa Retratos da leitura no Brasil, aplicada pela terceira vez, em 2011, em mbito nacional, nomeia este livro, que a Imprensa Ofi -cial do Estado de So Paulo tem a honra de coeditar. Esse levanta-mento vem sendo promovido pelo Instituto Pr-Livro, resultando em questionamentos que extrapolam os aspectos mercadolgicos. A ideia analisar indicadores que permitam orientar programas e projetos de incluso cultural da populao brasileira, alm de identifi car fatores que levem leitura e promovam o acesso ao livro em grande escala.
Leem mais aqueles que pertencem s classes sociais privilegiadas. Mas, por outro lado, polticas pblicas, como a distribuio gratuita de livros a escolas e o abastecimento de bibliotecas tm se mostrado insufi -cientes para incidir signifi cativamente sobre os nmeros dessas estatsticas.
sabido que a escola centro de formao de leitores, com o respaldo do professor, de sua atuao e mtodos de estmulo. Retra-tos da leitura no Brasil confi rma que a me que l para os fi lhos exer-ce infl uncia fundamental no futuro leitor. triste a constatao de que medida que deixam de ser alunos, o ndice de leitura diminui de maneira to drstica.
1 in Vrios escritos, p. 186-187, Duas Cidades | Ouro sobre azul, So Paulo/ Rio de Janeiro, 2004
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A tabulao dos dados traz tona mais perguntas do que respos-tas quando se examina o desempenho do leitor brasileiro. Qualquer decrscimo lamentvel se consideramos a leitura importante fer-ramenta civilizatria, de incluso social ou mesmo de humanizao, direito essencial do cidado, como concebe Antonio Candido.
Dentre as inmeras indagaes, vrias tm origem em problemas to evidentes que no requerem sequer sondagens para ser respon-didas, mas sua complexidade no parece indicar soluo imediata.
Implementar medidas como a matrcula de todas as crianas em idade escolar essencial, assim como alfabetizar adultos e adotar pol-ticas visando atividades nas quais os pais estejam includos. Seria uma maneira de se trabalhar simultaneamente com geraes distintas. Tam-bm tm se mostrado efi cazes os programas direcionados formao e reciclagem de professores, e aqueles de incentivo leitura nas salas de aula, estabelecendo-se um modelo permanente de aprendizagem.
Convm no negligenciar um aspecto ressaltado por Celso Furta-do, quando Ministro da Cultura: [...] a qualidade de vida nem sempre melhora com o avano da riqueza material de um povo. [...] a eleva-o do nvel material est longe de ser seguida automaticamente de melhoras nos padres de vida cultural. [...] a tendncia predominante para a reproduo da estratifi cao social herdada do passado.2
Visando corrigir distores como essa, este livro traz textos de especialistas empenhados na conquista do mais amplo acesso aos li-vros, para que um dia as estatsticas nesse campo mostrem que meros consumidores foram capazes de se transformar em leitores.
Marcos Antonio MonteiroDiretor-presidenteImprensa Ofi cial do Estado de So Paulo
2 Celso Furtado, Economia e cultura, in Ensaios sobre cultura e o Ministrio da Cultura, p. 109, Contraponto/Centro internacional Celso Furtado de polti-cas para o desenvolvimento, Rio de Janeiro, 2012
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Fazer do Brasil um pas de leitores o nosso desafi o
Karine Pansa
Vargas Llosa dizia que um pblico comprometido com a leitura crtico, rebelde, inquieto, pouco manipulvel e no cr em lemas que alguns fazem passar por ideias. O Brasil ainda no atingiu os nveis de leitura satisfatrios para que possamos afi rmar que temos um p-blico comprometido com a leitura.
Por muitos anos ouvimos que este o pas do futuro. Embora sejamos testemunhas de que esse futuro tem se tornado cada vez mais presente, mais real, sabemos que ainda h uma longa estrada a percorrer e grandes batalhas a vencer.
O leitor est prestes a conhecer a anlise de diversos especialis-tas a respeito da 3 edio da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pr-Livro e aplicada pelo Ibope Inteligncia, que ilustra os avanos obtidos at aqui e os desafi os que temos pela frente.
Segundo os dados obtidos, temos no Brasil 88,2 milhes de lei-tores, ou seja, 50% da populao 7,4 milhes a menos do que em 2007, quando 55% dos brasileiros se diziam leitores.
Ser o preo do livro o que lhes impede o acesso s obras? A pesquisa aponta que no. O preo fi ca em 13 lugar como razo para se ler menos do que se lia antes, com 2% dos entrevistados. A falta de interesse fi ca em primeiro lugar, com 78% e a falta de tempo em segundo, com 50%.
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Tambm foi apontado que o livro tem hoje uma srie de concor-rentes 85% das pessoas preferem assistir tev em seu tempo livre e 52%, ouvir msica ou rdio. A opo pela leitura aparece em 7 plano, com 28%.
A boa notcia que houve maior fi delizao dos leitores aos seus queridos companheiros, os livros: atualmente, 49% deles leem mais, ante os 40% de 2007, equivalendo a um acrscimo de cerca de 5 mi-lhes de leitores.
O ndice de leitura por prazer tambm subiu em 2011: de 75% contra 70% em 2007. A mdia de livros lidos em casa aumentou: de 25, em 2007, foi para 34, em 2011. Crescimento de 36%.
Convido o leitor a adentrar essas pginas, a mergulhar na pes-quisa e nas anlises feitas a partir dos ndices apontados. Agora o momento de nos aprofundarmos neste estudo e refl etirmos acerca das principais mudanas no comportamento e no perfi l dos leitores.
De posse desses dados, poderemos traar um histrico de indica-dores, relacionando resultados a investimentos, polticas de governo e aes da sociedade voltadas ao fomento leitura e o acesso ao livro em nvel nacional. Assim, conheceremos o impacto regional e local dessas polticas a fi m de trabalharmos na construo de caminhos que nos levem a melhores indicadores.
Este estudo nos possibilitar ainda avaliar os acertos e o que pode ser aperfeioado. Tambm nos dar diretrizes para o desenvolvimen-to de aes efetivas.
Os resultados at aqui obtidos revelam que ainda h mais per-guntas que respostas, por exemplo: Como despertar no jovem o gos-to pela leitura? Quais prticas so efetivas na mediao da leitura? Como formar professores-leitores? Como transformar municpios em municpios leitores? Qual o percurso para a construo de um pas de leitores? O que j alcanamos nesse sentido? O que falta construir?
Por outro lado, sabemos das precondies necessrias para a efe-tivao de aes de fomento leitura e para o acesso ao livro. Sabe-mos que no basta investir em bibliotecas, se o leitor no for cativado, e que no ser possvel cativar leitores se ele no compreende o que l. De nada valer a reduo do preo dos livros se a eles os jovens preferem celulares ou redes sociais.
Estimular a aplicao deste estudo, difundindo os resultados des-sa terceira edio o compromisso do IPL, empenhado em garantir a periodicidade de trs anos entre cada pesquisa. Esperamos, por
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fi m, contribuir para o aperfeioamento da metodologia proposta pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na Amrica Latina e o Ca-ribe Cerlalc e possibilitar a comparao efi caz com os indicadores de outros pases.
Por meio da educao e da leitura, acreditamos ser possvel in-verter diametralmente a classifi cao do Brasil em relao a outros pases, que apesar de estar classifi cado entre as dez maiores eco-nomias do mundo, fi gura entre os ltimos quanto educao e ao desenvolvimento humano.
Nenhum pas constri cidadania sem educao de qualidade e sem leitura.
Boa leitura!
Karine Pansa administradora de empresas e profi ssional atuante h quase 20 anos no mercado editorial. Empreendedora da Girassol Brasil Edies, tornou-se a segunda mulher presidente da Cmara Brasileira do Livro em 2011, depois de haver servido CBL na condio de diretora estatutria e ter sido responsvel por projetos como o Minha Biblioteca, que anualmente benefi cia 500 mil alunos da rede pblica da cidade de So Paulo. Teve parti-cipao relevante nas comisses internas da CBL, que discutem a melhoria de Bibliotecas, Pesquisa sobre o Mercado Editorial Brasileiro, Bienal Internacio-nal do Livro de So Paulo e Feiras Nacionais. Desde maro de 2011 tambm se tornou presidente do Instituto Pr-Livro, com a misso de contribuir para o desenvolvimento de aes voltadas a transformar o Brasil em um pas leitor.
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Abrelivros, CBL e SNEL se unem ao Instituto Pr-Livro na luta por um Brasil de leitores!
Srgio Quadros Karine Pansa Snia Jardim *
A terceira edio da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pr-Livro um marco, uma vez que a periodicidade des-se estudo torna possvel o acompanhamento da evoluo do hbito de leitura dos brasileiros, suas preferncias, motivaes e tambm os fato-res que difi cultam o acesso ao livro e leitura. Com base na pesquisa, o Pr-Livro apresenta um conjunto de estratgias e projetos destinados a promover a competncia leitora, especialmente voltados incluso cultural da populao brasileira. A pesquisa ainda uma diretriz para a formulao de polticas pblicas para melhorar esse ndice e enraizar a leitura no dia a dia dos brasileiros.
por essas razes que a Associao Brasileira de Editores de Livros Escolares, a Cmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros sentem-se honrados em apoiar essa iniciativa.
A unio das trs entidades, juntamente com as editoras, de funda-mental importncia para o fomento leitura e difuso do livro. O IPL atua como uma grande ferramenta para que tais objetivos sejam alcana-dos, pois se prope a desenvolver suas atividades por meio da execuo direta de projetos ou a apoiar programas e iniciativas selecionadas, desen-volvidas por outras organizaes sem fi ns lucrativos ou rgos pblicos.
Atravs desses incentivos possvel que o Instituto Pr-Livro continue trabalhando para fazer com que a leitura chegue aos mais diversos cantos do Brasil, cumprindo a misso de seus apoiadores e dando uma resposta ao compromisso assumido entre representantes do governo e as entidades do livro. Uma aliana que tem como prin-
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cipal estratgia orientar polticas pblicas e democratizar a leitura.A Abrelivros, criada para colaborar no desenvolvimento educa-
cional e cultural do pas, atravs de atividades destinadas a aperfeio-ar polticas referentes educao, cultura, formao do educador, ao incentivo leitura e ao aprimoramento da qualidade do livro, acredita que essa terceira edio da pesquisa convirja totalmente com sua misso e valores. Buscamos uma constante manuteno do di-logo e de um trabalho em parceria junto aos rgos governamentais, visando contnua melhoria da qualidade fsica e pedaggica das obras e da operacionalizao dos Programas Nacionais do Livro, co-menta Srgio Quadros, presidente da Abrelivros. A pesquisa Retratos da leitura no Brasil um instrumento de grande valia para auxiliar na formulao de polticas pblicas para o livro e na construo de estratgias para levar a leitura a todos os cantos do pas, completa.
A misso da Cmara Brasileira do Livro atender aos objetivos maio-res de seus associados e ampliar o mercado editorial por meio da de-mocratizao do acesso ao livro e da promoo de aes para difundir e estimular a leitura. Isso tudo se enquadra perfeitamente nesse trabalho realizado pelo Instituto Pr-Livro, com a Retratos da leitura no Brasil. Esse estudo foi muito feliz ao retratar o perfi l do brasileiro, no apenas do leitor, mas tambm do no-leitor, e a CBL est satisfeita em ver o crescimento de um projeto que chega sua terceira edio e passa a ser a principal referncia quando o assunto so os hbitos de leitura, afi rma Karine Pan-sa, presidente da CBL. No poupamos elogios a esse trabalho, pois um excelente caminho para criarmos uma cultura de leitores no pas.
O Sindicato Nacional dos Editores de Livros, por ter como objetivo a avaliao e a coordenao das atividades editoriais no Brasil, tambm v com satisfao a realizao dessa terceira edio. Estudos dessa natureza feitos com tanta qualidade e amplitude nos ajudam muito e a todo o mercado editorial a entender melhor o perfi l dos leitores e dos no-leitores, fornecendo subsdios tcnicos que orientem a anlise e o planejamento de melhores aes, afi rma Snia Jardim, presidente do SNEL. Estamos muito satisfeitos com o Instituto Pr-Livro, que mais uma vez conseguiu desempenhar um papel fundamental no futuro dos leitores e dos editores de livros do pas.
Ns das entidades do livro reiteramos a importncia dessa iniciativa.
* Srgio Quadros, Karine Pansa e Snia Jardim so presidentes respectivamente de: Abrelivros; CBL e IPL; SNEL.
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sumrio
IntroduoLeituras dos retratos O comportamento leitor do brasileiro 19Zoara Failla
PARTE I
Captulo 1Sangue nas veias 57Ana Maria Machado
Captulo 2 Alfabetizar para ler. Ler para conquistar a plena cidadania 63Srgio Leite
Captulo 3O acesso leitura no Brasil os recados dos Retratos da leitura 83Maria Antonieta Cunha
Captulo 4Esse Brasil que no l 93Tania Rosing
Captulo 5A escola e a formao de leitores 107Ezequiel Theodoro da Silva
Captulo 6Ler dever, livro prazer? 117Regina Zilberman
Captulo 7Retrospectiva O acesso ao livro e leitura pelos jovens no Brasil 123Isis Valeria Gomes
Captulo 8No existe almoo grtis ou como Carlos Slim ganha dinheiro 135Felipe Lindoso
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Captulo 9A cadeia produtiva do livro e a leitura 141Fabio S. Earp e G. Kornis
Captulo 10O rumo est certo. Agora, acelerar! 155Galeno Amorim
Captulo 11Livros, leitura e literatura em oito anotaes 163Marisa Lajolo
Captulo 12Retratos do comportamento leitor pelo Brasil o impacto de aes de fomento leitura 183Jos Castilho Marques Neto
Captulo 13 Comportamento do leitor e acesso ao livro em pases da Ibero-Amrica estudos pelo Cerlalc 191
Comportamento do leitor e hbitos de leitura: comparativo de resultados em alguns pases da Amrica Latina
Bernardo Jaramillo e Lenin Monak Salinas Cerlalc
Por uma leitura dos retratos desafi os para o desenvolvimento social da Amrica Latina 214
Fabiano dos Santos Piba Cerlalc
PARTE IIA pesquisa retratos da leitura no Brasil 2293a edio da pesquisa 235Consideraes sobre o ndice de leitura de 2011 segundo Ibope Inteligncia 238
Grfi cos e tabelasPesquisa Quantitativa 240
Perfi l demogrfi co da amostraPerfi l da amostra sexo e idade 243Perfi l da amostra regio e municpio 244 e 245Perfi l da amostra raa e religio 246Perfi l da amostra renda e classe social 247Perfi l da amostra escolaridade 248Perfi l da amostra rede de ensino em que estuda 249Rede de ensino em que estudou 250Outros cursos/ensino bsico (EJA; Alfabetizao, etc) 251
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Defi nio de leitor e no-leitorDefi nio de leitor e no-leitor 254
A leitura entre os brasileirosPenetrao da leitura comparao 2011 e 2007 257Perfi l: leitor e no-leitor sexo e idade 258Perfi l: leitor e no-leitor estudante e escolaridade 259Perfi l: leitor e no-leitor classe social e renda familiar 260Perfi l: leitor e no-leitor condio, porte e regio do municpio 261Mdia de livros lidos nos ltimos 3 meses (todos os entrevistados) 262Mdia de livros lidos nos ltimos 3 meses (leitores) 262Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses pas 263Penetrao da leitura e mdia de livros lidos nos ltimos 3 meses p/sexo 264Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses p/idade 265Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses p/escolaridade 266Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses p/classe social 267Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses estudante/no estudante 268Penetrao de leitores 2007-2011 - p/regio 269Penetrao e mdia de livros nos ltimos 3 meses p/regio 270Perfi l de idade e escolaridade p/regio 271Est/no est estudando p/regio 272
Barreiras leituraDifi culdades para ler 275Razo para no ter lido mais nos ltimos 3 meses 276
Leitura no imaginrio dos brasileirosO que a leitura signifi ca 279
Interesse e motivaes dos leitoresO que gostam de fazer em seu tempo livre 283Gosto pela leitura 284L mais por prazer ou por obrigao? 284Motivaes para ler um livro 285Fatores que mais infl uenciam na escolha de um livro 286
Preferncia dos leitoresMateriais lidos 289Gneros lidos frequentemente 290Escritor brasileiro mais admirado 291Livro mais marcante 292ltimo livro que leu ou est lendo 293
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Principais infl uenciadoresQuem mais infl uenciou os leitores a ler 297Frequncia com que veem/viam a me lendo 298Frequncia com que veem/viam o pai lendo 299Frequncia com que ganhou livros 300
Acesso aos livros Principais formas de acesso aos livros 303Costuma emprestar livros para outras pessoas? 304Livros comprados nos ltimos 3 meses 304Onde compra livros 305Motivos para escolher onde comprar livros 306Motivaes do consumidor para comprar um livro 307
BibliotecasLugares onde costuma ler livros 311Acesso a bibliotecas 312O que a biblioteca representa 313Frequncia com que costuma usar a biblioteca 314Penetrao do uso de biblioteca 315Perfi l do usurio de biblioteca sexo, idade, escolaridade e estudante ou no 316Perfi l do usurio de biblioteca classe social e regio 317O que o faria frequentar bibliotecas 318Avaliao da biblioteca que frequenta pblica ou escolar 319
Tendncias livro digital Frequncia de acesso a internet 323Uso que faz da internet 324E-books e livros digitais 325Penetrao da leitura de livros digitais 326Perfi l do leitor de livros digitais sexo, idade, escolaridade e estudante 327Perfi l do leitor de livros digitais regio e classe social 328Contato com e-books e livros digitais 329Contato com e-books e livros digitais 330Quem no leu livro digital 331Livros impressos/livros digitais 332
IndicadoresNmero de livros lidos por ano Entre todos os entrevistados sexo, regio e idade 335Nmero de livros lidos por ano entre todos os entrevistados escolaridade, renda familiar e estudante ou no 336Comparao 2000-2007-2011 337
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Leituras dos retratos o comportamento leitor do brasileiro
Zoara Failla
Por que ler livros?
Foi essa a indagao de um jornalista de 30 e poucos anos, feita a mim, ao buscar respostas para os resultados da 3 edio da pesquisa Retra-tos da leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pr-Livro. Confesso que necessitei de um minuto de silncio para encontrar argumentos. Ele no se referia substituio do livro impresso pelo digital, mas ao que os livros tm como signifi cado social e cultural enquanto suporte de contedos para a leitura. Tambm questionou por que na pesquisa no se considerou a leitura nas redes sociais, portais e e-mails, j que a leitura e a escrita nunca foram to frequentes como meio de comuni-cao entre as pessoas, mesmo que virtualmente.
A crena sobre a importncia do livro to inquestionvel para mim que quase f. fcil encontrar argumentos para quem tem as mesmas referncias das geraes que, como eu, somente por meio dos livros impressos, acessavam conhecimento e fi co. A gerao que aprendeu a linguagem virtual antes da alfabetizao e os que aderem facilmente a novas tecnologias (early adopter), provavelmente disporiam de argumentos que no foram fceis para mim.
Comecei pela importncia do acesso ao conhecimento produzido por toda a humanidade, j que o livro, desde que era lber (escrito
introduo
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em pergaminhos), o depositrio de tudo o que o homem j pensou; criou; investigou e produziu como cincia, histria e literatura.
Mas podemos acessar esse conhecimento pela internet, contra--argumentou o entrevistador.
Respondi o que temos respondido: que no podemos confi ar integralmente nas informaes que acessamos via sites e provedores de busca, pois qualquer um pode postar suas ideias como se fos-sem teses. E acrescentei: necessitamos considerar a diferena entre informao e conhecimento. A internet e as mdias em geral nos possibilitam acesso a uma leitura utilitria que nos informa sobre acontecimentos, nos atualiza e at nos prepara para algumas tarefas. Uma leitura crtica a que desperta diferentes vises de mundo e da realidade e possibilita criar novos conhecimentos. A informao pasteurizada leva a uma sociedade homognea, onde o pensar no cria, mas reproduz e copia. Leva ao empobrecimento do que nos hu-manizou. Leva alienao e massifi cao.
Creio que essa indagao me propiciou buscar, em meus pensa-mentos, ideias que li e guardei, porque me impactaram. Mas senti que deveria usar argumentos tambm que dissessem respeito importn-cia da literatura, enquanto arte. Mais uma vez, resgatei pensamentos de vrios autores e misturei com minhas refl exes.
A leitura de literatura, continuei, possibilita fantasias e desenvol-ve a imaginao. O livro, como nos ensinam vrios estudiosos, so-mente ganha vida quando aberto pelo leitor, e traz sempre uma his-tria incompleta, por mais detalhada que seja a narrativa. Nenhum cenrio est acabado, nenhuma emoo se transporta do autor para o leitor. Elas so suscitadas e cabe ao leitor, com sua subjetividade e referncias, recontar para ele mesmo a histria. nessa recriao que exercita sua imaginao e suas emoes. O leitor se encontra nos cantos da histria como um personagem observador. Torna-se ntimo do autor, coloca-se no seu lugar para descobrir o que no foi contado. Enquanto o autor tambm busca esse leitor ausente: Escrevo para quem? Onde ele est ou em que tempo estar lendo o que conto? O que pensa? Por que l?
Entusiasmada com tudo que encontrei em minha biblioteca in-terior, continuei: a criana desperta suas fantasias e sua imaginao na leitura de histrias infantis, que podem lev-las a gostar de ler, se quem promove essa leitura famlia ou escola possibilita que des-cubra a emoo dessa viagem.
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No meio dessa refl exo encontrei uma observao que preferi no expor: a de que na evoluo humana muitas habilidades deixa-ram de ser desenvolvidas com o surgimento de novas tecnologias. E continuei: Ns nos tornamos sujeitos daquilo que produzimos como conhecimento e nos humanizamos quando tomamos conscincia desse processo. A ausncia de uma leitura crtica, que nos d sentido e signifi cado vida e a nossa existncia e de leituras que desenvol-vam nossas fantasias e nosso imaginrio podem criar uma alienao de ns mesmos.
Empresto a seguir trecho de texto citado por Fabiano dos Santos Piba, pois sintetiza o que queria encontrar em meus arquivos de pensamentos:
Assim como no possvel haver equilbrio psquico sem o sonho durante o sono, talvez no haja equilbrio social sem a literatura. Deste modo, ela fator indispensvel de humanizao e, sendo assim, confi rma o homem na sua humanidade. (...) Antonio Can-dido O direito literatura.
Mas alm do despertar do imaginrio, o livro j signifi cou ameaa aos poderosos por seu poder libertador de conscincias. Foi queima-do em praas e proibido como instrumento revolucionrio. Tambm j representou instrumento de domnio e manipulao de massas, ao difundir crenas; ideologias ou f religiosa. Alguns trazem um signi-fi cado em si mesmo, como a Bblia, o Alcoro, a Tor. Mesmo em ambientes laicos, como em um jri, os acusados juram com a mo sobre a Bblia. Nas casas, ocupam lugares sagrados como se trouxesse proteo quele que traz esse livro para perto de si. Outros pregam uma ideologia e disciplinam o comportamento de uma sociedade, como o livro vermelho de Mao Tse-Tung.
Roger Chartier, citado por Jos Castilho, apresenta o poder revo-lucionrio dos livros na revoluo francesa, ao fazer paralelo com o Brasil, e analisa como a dessacralizao da leitura contribuiu para a ruptura e a transformao da sociedade francesa.
Adquirem tambm signifi cados pessoais como nosso livro de cabeceira; o primeiro que li; que transformou minha vida ou que gosto de folhear.
O livro sempre transportou um refl exo do seu tempo, ganhando signifi cados diferentes na histria da humanidade: dos manuscritos para as prensas simbolizou uma transformao tecnolgica e uma revoluo social ao ser levado para fora dos mosteiros.
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Apesar das transformaes, o livro continua transportando hist-
rias, informaes e ideias que se comunicam em diferentes tempos e
lugares, atravessando mares e sculos.
Essas caixas de ideias, que folheamos e degustamos, sem que o
seu autor saiba, nos leva a invadir intimidades, fantasias, sonhos e vi-
das. Esse objeto guardou e renovou por sculos essas possibilidades,
com uma capacidade incrvel de mutao, sem perder o signifi cado.
Mas, hoje, com as novas tecnologias j se questiona se o livro sobre-
viver. Seria somente uma mudana de embalagem sem perder seu
signifi cado e magia? Refi ro-me abordagem apresentada por Ana
Luiza Fonseca, em Alm da Biblioteca.A indagao do jornalista me levou a pensar nas mudanas de
paradigmas. Alguns defendem que talvez estejamos vivenciando uma
transformao que extrapola a mudana tecnolgica que apresenta o
livro em novo suporte, o digital.
Sem dvida no ser esse o objeto deste estudo, mas quero divi-
dir com o leitor tais inquietaes.
No podemos deixar de considerar a complexidade do momento
que vivemos. Se, por um lado, ainda nos deparamos com nmeros
expressivos de analfabetos absolutos ou funcionais no Brasil, e des-
cobrimos que 50% dos brasileiros no leram nenhum livro nos trs
meses anteriores pesquisa Retratos da leitura no Brasil; por outro,
encontramos jovens com nvel superior que no tm interesse em ler
livros por acreditarem que seja um objeto ultrapassado pela tecnolo-
gia da informao. E, pior, que se satisfazem em ter acesso a milhares
de informaes sem qualquer interesse em critic-las ou em refl etir
sobre seus signifi cados ou intenes de seus autores. Jovens a quem
no foi possibilitado sonhar com castelos; temer monstros ou acredi-
tar que o bem sempre vence o mal.
Pensar em polticas pblicas e aes efetivas em um cenrio
to complexo um grande desafi o e tarefa para toda a sociedade
governo, pesquisadores, entidades e cadeia produtiva e mediadora
do livro. Para quem compreende a leitura como uma habilidade
essencial para o acesso ao conhecimento, cultura e para uma for-
mao plena e humanizada, conhecer essa realidade, seus refl exos
sobre livro e leitura e o comportamento leitor da populao, em
especial das crianas e jovens, fundamental para avaliar e identi-
fi car novos caminhos.
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O desenvolvimento econmico de nossa sociedade e sua alme-jada importncia cenrio internacional no podem ser obtidos sem que nosso povo domine habilidades bsicas para seu crescimento pessoal.
O principal objetivo da pesquisa Retratos da leitura no Brasil e desta publicao contribuir para a refl exo de alguns dos principais gestores e especialistas na rea do livro e da leitura, a fi m de que possam buscar os melhores caminhos rumo ao desenvolvimento da populao.
A pesquisa
Retratos da Leitura tornou-se referncia quando o assunto com-portamento leitor do brasileiro, desde que foi lanada a primeira edi-o em 2001. a nica pesquisa sobre comportamento leitor realiza-da em mbito nacional.
Tem contribudo para a avaliao das polticas pblicas do livro e leitura no Brasil e para fomentar o debate entre especialistas. Seus resultados subsidiam estudos, decises de governo e so citados por especialistas e dirigentes da rea do livro e leitura. Orientaram pautas em artigos e entrevistas na mdia especializada, que vem ampliando espao para apresentar o tema sociedade brasileira, possibilitando que a leitura seja mais valorizada no imaginrio co-letivo. Os resultados da pesquisa orientaram tambm importantes projetos do Instituto Pr-Livro1.
A primeira edio, promovida pelas entidades do livro: Associa-o Brasileira de Livros Escolares Abrelivros, Cmara Brasileira do Livro CBL e Sindicato dos Editores de Livros SNEL, com apoio da Bracelpa, teve como principal objetivo conhecer o comportamento do leitor e do consumidor de livros. Com essa orientao defi niu-se
1. Os resultados da pesquisa orientaram importantes projetos do IPL, como o programa O Livro e a Leitura nos Estados e Municpios que desenvolveu em parceria com o Plano Nacional do Livro e Leitura PNLL; MinC e MEC; vol-tado a estimular e preparar estados e municpios para a adoo de Planos do Livro e Leitura entre outras aes em parceria com o PNLL. A campanha Me, L Pra Mim, inspirada nos resultados da 2 edio da pesquisa, teve grande repercusso na mdia e distribuiu kits com mais de 4 mil livros para mes em comunidades carentes. As instalaes infantis em bienais do livro de So Paulo (Biblioteca Viva; O Livro uma Viagem); Rio de Janeiro (Floresta de Livros) e Macei (Tnel de Livros).
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a amostra da pesquisa com a populao de 15 anos ou mais e com pelo menos trs anos de escolarizao.
Aps a criao do Instituto Pr-Livro IPL pelas trs entidades,
em 2006, a Retratos da Leitura passou a ser promovida e coordenada
pelo IPL, que contratou o Ibope Inteligncia para a aplicao da se-
gunda (2007) e da terceira (2011) edio. Afi nada com a misso do
instituto, que tem por objetivo o fomento leitura e a democratizao
do livro, a pesquisa ampliou seu foco e redefi niu seus objetivos para
possibilitar, principalmente, a avaliao e a formulao de polticas
pblicas do livro e leitura.
Com essa fi nalidade e orientada pela metodologia proposta
pelo Centro Regional de Fomento ao Livro na Amrica Latina e
no Caribe Cerlalc/Unesco, passou a considerar, na amostra, a
populao de mais de cinco anos de idade e sem limitao quanto
escolaridade.
Conhecer o comportamento leitor na faixa etria de cinco a
15 anos fundamental para a avaliao de polticas e aes diri-
gidas a crianas e jovens em idade escolar e, portanto, potenciais
leitores.
Um dos critrios para a pesquisa adotados pelo IPL foi a compo-
sio de um modelo de amostragem o qual se manteve um pouco
acima de 5 mil entrevistados que representasse a populao de
todos os estados da federao, ampliando o nmero de municpios
visitados para a aplicao da pesquisa (de 44, em 19 unidades da
federao, para 312, nas 27 unidades, incluindo todas as capitais e
grandes metrpoles). Com isso teramos uma avaliao de amplitude
nacional, o que nos possibilitaria conhecer e comparar o impacto
regional e local das polticas pblicas.
O instituto adotou a metodologia desenvolvida pelo Cerlalc
para possibilitar a comparao dos resultados do Brasil com o de
outros pases. Essa metodologia foi desenvolvida a partir de uma
demanda apresentada pelo pas, em 2005, no bojo dos preparativos
do Ano Ibero-Americano da Leitura, ou, Viva Leitura na verso brasileira.
Com o apoio da Organizao dos Estados Ibero-americanos
OEI foram realizados encontros na Colmbia, Mxico e Brasil,
para defi nir objetivos e traar uma estratgia para uma construo
conjunta. O Brasil ofereceu sua experincia baseada na primeira
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edio da Pesquisa Retratos no Brasil, aplicada em 2000, e em um
projeto piloto realizado em 2004, pela prefeitura de Ribeiro Preto,
no interior do Estado de So Paulo. Em 2005, foi formado um grupo
de trabalho, com especialistas do Brasil, Colmbia, Mxico e Vene-
zuela, para dar incio ao desenvolvimento de uma metodologia co-
mum. J em 2006, o Ibope Inteligncia testou a metodologia no Rio
Grande do Sul, em estudo fi nanciado pela Cmara Rio-grandense e
com apoio da OEI.
O Brasil foi o primeiro pas a por em prtica as recomenda-
es do Cerlalc, na segunda edio da pesquisa, aplicada em 2007.
O Instituto Pr-Livro contratou o consultor Galeno Amorim, que
comps o grupo de trabalho do Cerlalc, em 2005, para coordenar
a 2 edio da Retratos da Leitura e orientar a aplicao dessas
recomendaes.
O acompanhamento peridico das mudanas quanto a interes-
ses, representaes sobre leitura e livro, infl uenciadores, motivaes,
limitaes, preferncia por suporte digital ou impresso, entre outras
variveis; possibilita traar tendncias, segundo perfi l da populao e
identifi car polticas e aes que deram certo.
Conhecer o comportamento leitor do brasileiro e o perfi l daque-
les que leem ferramenta para se identifi car aes efetivas na forma-o de leitores.
A busca constante do aperfeioamento da metodologia as inovaes desta edio
O desafi o para se apresentar o que chamamos de comporta-mento leitor do brasileiro grande, pois a complexidade desse estudo no est somente no tamanho da amostra e amplitude da sua aplicao em todo o Brasil, mas principalmente na difi culdade em se defi nir e qualifi car o objeto dessa investigao. A opo pela metodologia; a defi nio da amostra; a preparao do instrumento para a entrevista (questionrio) e o treinamento de entrevistadores so tambm decises estratgicas para garantir a qualidade da in-vestigao.
O Instituto Pr-Livro, desde a segunda edio, tem procurado, com a assessoria de especialistas e do Ibope Inteligncia, oferecer um estudo que mostra o retrato mais fi el possvel sobre o comporta-
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mento leitor do brasileiro. Questes como: quem leitor?; qual leitura
interessa para esse estudo?; o que considerar como um livro lido?;
inquietaram a equipe de coordenao da pesquisa.
A confi abilidade nas respostas foi amplamente discutida para
buscar uma ferramenta de investigao que pudesse captar declara-
es mais fi is e objetivas possveis, sobre a realidade da leitura em
nosso pas.
Como pesquisa de opinio, enfrenta o dilema da defi nio do
objeto da investigao e de como conseguir respostas fi dedignas
sobre o nmero de livros lidos pelos brasileiros. No se aplica a
conferncia sobre as declaraes dos entrevistados, por exemplo,
se o declarante realmente leu o livro que informou ter lido recen-
temente. Mas, nessa ultima edio, buscou-se uma validao por
meio de perguntas sobre o ltimo livro lido, como: ttulo, autor e
se estaria no domiclio.
Para esse estudo, todas as respostas foram importantes, inclusive
quando o entrevistado disse que no sabe onde est o livro. Mais
importante do que nmeros exatos conhecer o que pensam sobre
a leitura esses representantes da populao brasileira. Quando cru-
zamos informaes, descobrimos fatos curiosos e que merecem mais
estudos. Essas indagaes so fundamentais.
Assim, o grande desafi o foi conseguir a maior objetividade poss-
vel na formulao das perguntas e na aplicao da pesquisa.
Isso levou a equipe a mudar a sequncia das questes, inician-
do pela pergunta fundamental quantos livros leu?, antes de qualquer
questo que abordasse a importncia da leitura e que pudesse induzir
para uma necessidade de informar que leu ou que leitor.
A busca de maior objetividade e preciso nas respostas sobre
livros lidos nos levou, tambm, aps avaliarmos as difi culdades en-
contradas na edio anterior, a outras defi nies importantes para
garantir o entendimento nico na formulao do instrumento e entre
entrevistadores e entrevistados.
Assim, foi defi nido o que deveria ser considerado como livro e se
o livro foi lido inteiro ou se foram lidas partes (trechos ou captulos)
do livro. Tambm se buscou identifi car, entre os livros indicados pela
escola, quantos eram de literatura e quantos didticos. Esta questo
foi introduzida para aqueles que responderam que leram pelo menos
um livro nos ltimos trs meses, mas no foi includa na investigao
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sobre os livros lidos nos ltimos 12 meses. Atendendo recomendao
do Ibope Inteligncia, buscou-se detalhar mais as questes sobre o
livro lido nos ltimos trs meses, pois, em teste, poucos conseguiram
lembrar exatamente o que leram nos ltimos 12 meses. De qualquer
forma, para viabilizar a construo de sries histricas e a compara-
o com outros pases, todas as questes, incluindo a identifi cao
quanto a livros lidos inteiros e em partes, mas com exceo dos livros
indicados pela escola2, foram mantidas, tambm, para os livros lidos
nos ltimos 12 meses.
Alguns pesquisadores preferem as pesquisas qualitativas pela
possibilidade de conferir, testar, checar, observar. Mas, ainda que se
tenha maior controle, nenhuma pesquisa isenta de respostas ou
interpretaes subjetivas ou idealizadas. O mrito de uma pesquisa
quantitativa sua abrangncia e a possibilidade de comparao dos
resultados entre o Brasil e outros pases e a construo de sries
histricas. Oferece um panorama, um primeiro diagnstico e, o mais
importante, fomenta o debate e a refl exo sobre seus resultados e traz
a inquietao pela busca de respostas que mostrem caminhos mais
efetivos, abrangendo toda a sociedade.
Marisa Lajolo prope uma refl exo sobre o que informam os en-
trevistados, nas ltimas edies da pesquisa, ao comparar respostas
sobre quais livros foram citados como o ltimo lido, o mais marcan-
te e o escritor brasileiro mais admirado. Suas contribuies devero
orientar a segunda fase deste estudo, a ser promovido pelo Instituto
Pr-Livro, para o aprofundamento da anlise sobre os resultados das
trs edies da pesquisa; com a criao de grupo de estudo, em
parceria com universidades, e a realizao de pesquisas qualitativas
orientadas por esse diagnstico.
O que dizem os nmeros
Os indicadores de leitura revelados pela pesquisa esto sendo amplamente divulgados pela mdia de todo o Brasil, e os ttulos da
2. Dado o perodo de aplicao da 3 edio, entre os meses de junho e julho de 2011, optou-se por no perguntar quais os livros indicados pela escola nos ltimos 12 meses, pois conteriam duas diferentes sries escolares, o que pode-ria difi cultar a identifi cao e a contagem .
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maioria dos artigos compem um retrato do comportamento leitor do brasileiro bastante pessimista, enfatizando a reduo no nmero de leitores.
Mas h informaes mais reveladoras e que dependem do apro-fundamento desse estudo, para, de fato, avaliarmos o que tem sido feito e buscarmos novos caminhos ou o aperfeioamento das aes que vem sendo adotadas pelos governos federal, estaduais e munici-pais, alm da sociedade civil.
Esta a principal proposta desta publicao. Possibilitar a anlise de especialistas renomados, de diferentes segmentos da rea do livro e leitura sobre os resultados da pesquisa. Com essa expectativa, fo-ram convidados pelo Instituto Pr-Livro estudiosos e dirigentes que atuam no governo, academias, entidades do livro e organizaes do terceiro setor para avaliar esses resultados e contribuir com proposi-es que possam orientar aes mais efetivas.
De qualquer forma, ser impossvel por meio desta publicao apresentarmos solues para todas as inmeras revelaes que a ter-ceira edio da pesquisa possibilita, quando nos aprofundamos na anlise e no cruzamento de dados por todas as categorias que defi ni-ram o perfi l do entrevistado.
Mas uma leitura mais atenta e a comparao dos principais resul-tados e indicadores evidenciam descobertas reveladoras.
Houve, afi nal, reduo no nmero de leitores no perodo de 2007 a 2011?
Essa ser, com certeza, a pergunta mais frequente a ser apresen-
tada ao IPL a partir do lanamento da terceira edio.
Nossa resposta ser sempre: no! A oscilao no foi to signi-
fi cativa, e pode no ter havido essa aparente oscilao negativa nos
indicadores de leitura.
Segundo anlise apresentada pelo Ibope Inteligncia, o aperfei-
oamento do questionrio que orientou as entrevistas em campo, mu-
dando a sequncia das questes, que iniciaram pelo nmero de livros
lidos e no mais pelo interesse e representaes sobre a leitura, pode
ter possibilitado uma resposta menos idealizada. Tambm a defi nio
para o entrevistado do que deveria considerar como livro lido, inteiro
ou parte, pode ter levado a uma resposta mais exata e confi vel.
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Outra explicao possvel sobre a reduo no nmero de leitores
em 2011 vem da composio demogrfi ca da amostra de entrevista-
dos. Outras pesquisas j informaram: estamos envelhecendo! Com 7,1
milhes de brasileiros a menos na faixa etria de 5 a 17 anos, temos
menos estudantes e, portanto, menos leitores. Essa reduo sensvel
nas regies brasileiras com mais habitantes nas faixas acima de 30
anos. Segundo dados do PNAD (2009), Quadro 1, esta faixa teve uma
ampliao de 4%, enquanto a faixa de 5 a 17 anos, uma reduo de
29% para 24%.
Maria Antonieta Cunha indaga se a mudana na data de reali-
zao da pesquisa de dezembro para junho, no poderia tambm
infl uir nesses resultados e talvez explicar a reduo nos indicadores
de leitura.
Assim, possvel que no estejamos assistindo a um retrocesso
com a reduo no nmero de leitores, mas, certamente, este indica-
dor mais preciso.
Comparao/distribuio por faixa etria amostra 2007 e 2011 (Base PNAD)
Faixa etria PNAD 2009 Amostra 2007 Amostra 2011
5 a 17 24 29 25
18 a 24 13 13 13
25 a 29 9 9 9
30 a 39 16 15 16
40 a 49 14 13 14
50 a 69 18 16 18
70 e + 5 5 5
Nota A amostra da pesquisa representou 93% da populao brasileira (PNAD de 2009) ou 178 milhes; destes, 50% (88.2 milhes) declararam-se leitores. Em relao a 2007, constatamos uma reduo de 7,4 milhes de leitores (eram 95,6 milhes ou 55% da populao estudada). Este nmero quase coincide com a reduo de 7,1 milhes de pessoas, na faixa de 5 a 17 anos, entre 2007 e 2011, passando de 29 % para 24% do total da amostra na 3 edio da pesquisa.
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Mesmo com todas as explicaes, no podemos deixar de con-cluir que no avanamos como deveramos e espervamos.
Os ndices de leitura: 4,7 (2008) ou 4 (2012) ao ano, incluindo os didticos ainda so muito baixos. Se compararmos esses indicado-res com os de outros pases ibero-americanos que desenvolveram a pesquisa seguindo a mesma metodologia proposta pelo Cerlalc percebemos que o Brasil, com 4 livros lidos/ano, est melhor do que o Mxico (2,9) e a Colmbia (2,2), mas l menos do que a Argentina (4,6); o Chile (5,4) e menos da metade do que se l em Portugal (8,5) e Espanha (10,3)3.
Por outro lado, no podemos deixar de enfatizar que, se olhar-mos para os nmeros a partir de 2000, a melhoria dos indicadores foi signifi cativa.
Quando comparamos a populao de mais de 15 anos (confor-me amostra da 1 edio), samos de 1,8 livros lidos/ano, em 2000, para 3,7 livros lidos/ano, em 2007, e 3,1 livros lidos/ano, em 2011. Esses resultados no podem ser desprezados. Eles no deixaram dvidas de que os investimentos orientados pelas polticas pblicas, se olharmos para os ltimos 12 anos, trouxeram bons resultados. Esse foi o caminho que trilhou Galeno Amorim, ao identifi car a importncia da pesquisa na avaliao das polticas e na orientao dos rumos e novos programas da Fundao Biblioteca Nacional Ministrio da Cultura; apesar de reconhecer que o ritmo sempre ser mais lento do que o pas necessita, pois transformar comportamen-tos exige tempo.
Apesar de comemorarmos o aumento no ndice de leitura quando comparados os resultados divulgados em 2001 e 2008, tnhamos a cla-reza de que os nmeros ainda no eram satisfatrios, pois a maioria dos leitores eram estudantes e, como sabemos, deixam de ler quando saem da escola.
O nmero de leitores estudantes que nas duas ltimas edies foi cerca de duas vezes maior do que o da populao fora da escola, o que nos possibilitou concluir que a distribuio de livros didticos
3. Comportamento do leitor e hbitos de leitura: comparativo de resultados em alguns pases da Amrica Latina, de Bernardo Jaramillo H., subdirector de Produo e Circulao do Livro da Cerlalc y Lenin G. Monak S., da Area de Estadisticas da Cerlalc, apresentado no II Seminrio Retratos da leitura no Brasil, maro de 2012.
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para estudantes de todo o ensino bsico, incluindo o ensino mdio a partir de 2005, contribuiu para que se leia mais quando se est na escola. Essa condio confi rmada aponta para um caminho que pode ser estratgico: identifi car aes efetivas para conquistar esses leito-res, que leem por obrigao enquanto esto na escola. Temos nesse cenrio a oportunidade de encontrar a chave que pode abrir a caixi-nha de solues para transformarmos leitores por obrigao em lei-tores por prazer; como nos apontam vrios autores desta publicao.
Se desta vez no vamos comemorar um aumento do nmero de leitores, talvez devssemos reconhecer que uma pausa importante para que surjam inquietaes e que estas provoquem novos estudos sobre a efetividade das aes que esto sendo desenvolvidas ou so-bre a necessidade de torn-las mais abrangentes para todo o Brasil. Mesmo que o caminho esteja certo preciso decidir como caminhar. As aes devem ser contnuas e sustentveis. O cenrio muda com muita rapidez. Essa pausa na curva ascendente deveria estimular a busca de novas estratgias, para no entrarmos, de fato, em uma curva descendente na prxima edio.
Assim, reformulamos o mesmo desafi o: como melhorar esses in-dicadores? Como formar e conquistar leitores em um cenrio cada vez mais complexo e ao mesmo tempo superar um atraso histrico? Como desvendar o desafi o que me foi proposto pelo jornalista Por que ler livros?.
E pelo Brasil, houve mudanas?
A reduo no nmero de leitores impactou todas as regies brasi-leiras, mas apresenta diferenas que possibilitam descobertas impor-tantes. Enquanto no Nordeste o nmero de leitores quase no mu-dou, passando de 4,2 para 4,3 livros lidos por ano e o Centro-Oeste de 4,5 para 4,3; o Sul sofreu uma reduo signifi cativa de 5,5 para 4,2 livros lidos, seguido pelo Norte, que variou de 3,9 para 2,7 e Sudeste de 4,9 para 4.
A primeira explicao encontramos, mais uma vez, na compo-sio demogrfi ca da populao estudada. No Sul e Sudeste houve uma reduo importante na populao de 5 a 17 anos, o que reduz o nmero de estudantes entrevistados. Sabemos que eles leem mais do que a populao fora da escola. Por outro lado, no Nordeste, temos mais estudantes. Essa hiptese confi rmada pelo nmero de leitores
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que l livros indicados pela escola e, em parte, no Nordeste: entre os dois livros lidos nos ltimos trs meses, 1,19 indicado pela esco-la. J no Sudeste, entre 1,4 livro lido, 1.19 foi por iniciativa prpria, enquanto no Sul, entre 1.68 livro lido, 0,94 foi por iniciativa prpria.
Portanto, se por um lado temos mais leitores estudantes no Nor-deste, por outro, temos mais leitores por iniciativa prpria, e que esto fora da escola, no Sul e Sudeste.
E quem so os leitores?
O perfi l do leitor aquele que leu pelo menos um livro nos l-timos trs meses da pesquisa revelado pela 3 edio, confi rma o perfi l do leitor aferido na segunda. Apesar das variaes nos ndices de leitura, o perfi l de quem l reitera as principais concluses sobre a importncia da escola e da escolaridade.
Entre os 88,2 milhes de leitores, correspondentes a 50% da po-pulao, 57% so do sexo feminino; 43% deles esto no Sudeste. E a grande maioria moradora das capitais e municpios com mais de 100 mil habitantes.
Se analisarmos por categorias, descobrimos que encontramos mais leitores entre os 56,6 milhes que estudam (74%); os que tm nvel superior (76% ); os que pertencem classe A (79%) e as crianas na faixa etria de 11 a 13 anos (84%), seguidas dos jovens que esto na faixa de 14 a 17 anos (71%).
Quem so os leitores de livros digitais? Os livros digitais podem conquistar novos leitores?
A avaliao de tendncias pode orientar aes dirigidas s novas geraes. Nesse sentido, no poderia ser deixado de fora desta edi-o da Retratos da leitura no Brasil, a investigao sobre o perfi l do leitor de livro digital.
Com 45% dos entrevistados informando que acessam a internet, e entre eles, 33% todos os dias ou algumas vezes na semana, conhecer o que pensam sobre o livro digital pode nos ajudar a desvendar se esse suporte poder alterar ou no o retrato da leitura e dos leitores, nos prximos anos.
Entre os usurios de internet, 7% informam que j baixaram ou leram livros pela internet. J ouviram falar de livros digitais, 18% dos entrevistados, entre eles, 17% informam que j leram algum livro no computador e 1% no celular.
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Sobre o perfi l desse leitor, a maioria est na faixa dos 18 aos 39
anos e 49% so estudantes.
E o acesso ao livro digital, como fi ca?
Uma questo que interessa diretamente cadeia produtiva que
est investindo em pesquisas para conhecer melhor esse mercado
e os recursos tecnolgicos que podem ajudar tanto na proteo ao
acesso quanto s novas formas de negcios a forma como esses
livros esto sendo acessados. As mudanas tecnolgicas, os livros vir-
tuais, por exemplo, trazem novidades nas relaes entre autor, produ-
tor e usurios. Alguns acreditam que estamos vivendo uma mudana
de paradigmas, mas ainda no possvel avaliar todas as implicaes
que tais inovaes podero promover. Nesse contexto ainda nebulo-
so, em que devem ser feitos novos arranjos, um debate importante
est aconte cendo entre defensores e opositores do livre acesso ao
contedo pela internet. Felipe Lindoso, em No Existe Almoo Gr-
tis, pondera acerca da questo do acesso ao contedo virtual dos
livros quem paga essa conta? Porm, no cabe nesta publicao
abrirmos espao para esse debate ou para apresentar as diferentes
posies sobre a questo. Estamos buscando conhecer o comporta-
mento leitor e no o comportamento da cadeia do livro frente a novas
tendncias ou tecnologias. Quem sabe, em um prximo estudo?!
Assim, a pesquisa buscou explorar possveis tendncias quanto
ao acesso aos livros digitais.
Para aqueles que j leram livros digitais, a grande maioria, 87%
baixaram gratuitamente o arquivo e 13% pagaram pelo download.
Entre os que baixaram gratuitamente, 38% no tiveram receio em
informar que eram piratas.
Essa a informao a ser considerada neste estudo. O nmero
dos que pagam bastante baixo, mas j esto disponveis downloads
de muitas obras em domnio pblico. possvel que o nmero de
cpias piratas seja maior, pois muitos dos entrevistados podem ter
fi cado receosos de informar que foi essa a forma de acesso s cpias.
uma pista a ser mais bem investigada, pois revela uma tendncia
que deve crescer com a multiplicao de tablets e de livros digitaliza-
dos, disponibilizados na internet e pelo interesse demonstrado pela
maioria daqueles que j acessaram ou tm interesse em conhecer.
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O livro digital pode substituir o livro impresso?
Apesar do nmero de leitores de livros digitais ainda ser muito pequeno (7% da populao estudada), as respostas positivas apontam tendncia ao crescimento desse nmero, pois, entre os que tiveram acesso, 54% responderam que gostaram muito e 40% que gostaram um pouco. Somente 6% deles dizem que no gostaram. Entre a po-pulao que nunca leu: 48% acham que podem vir a usar e 33% acre-ditam que nunca faro uso dessa tecnologia. Esses nmeros podem mudar, pois esto entre esses entrevistados aqueles que no conhe-cem o livro digital ou o tablet, o que difi culta uma avaliao mais acu-rada. Por outro lado, sabemos que essa tecnologia se renova dia a dia, e que a possibilidade de suportes mais funcionais e de contedos em novos formatos, como em hipertextos, podem levar os resistentes a reverem seu interesse pela novidade.
Sobre o fi m do livro impresso, a maioria respondeu que acredita na convivncia dos dois suportes por muito tempo (52%). Menos mal para a indstria editorial, que ter tempo para buscar novos modelos de negcios.
Uma questo fundamental o livro digital pode cativar novos leitores?
A resposta que temos oferecido, especialmente aos jornalistas que nos inquirem sobre essa possibilidade, que os leitores podem ser conquistados pelos contedos e pelas emoes que eles propi-ciam, e no pelo seu suporte. A pesquisa confi rma esse argumento. Aqueles que informam que foi a me quem despertou seu gosto pela leitura, certamente vivenciaram a leitura em relaes afetuosas e de troca, nas quais a me lia para eles, presenteava com livros, visitava livrarias ou feiras de livros, tinha livros em casa e dava o exemplo, mostrando a importncia da leitura, ao ler na frente desses futuros leitores por prazer. Tambm as prticas leitoras na escola, que so bem-sucedidas, apontam para um professor que fez a diferena como mediador e como algum que criou situaes impactantes e inesque-cveis para seus alunos, como argumenta Sergio Leite.
Enfi m, o suporte digital deve ser o preferido daqueles que gostam dessa ferramenta ou que aderem facilmente a novas tecnologias (ear-ly adopter). Ajuda no transporte de livros, pois fi sicamente os impres-
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sos ocupam mais espao e, assim, podem ser acessados de qualquer lugar. Mas tenho como hiptese que algum que no gosta de ler livros impressos difi cilmente passe a gostar de ler porque se trata de e-book. Porm, estamos falando de quem j passou pelo processo de letramento. Entendo que se deva investir em novas pesquisas para avaliar se crianas que iniciam prticas leitoras preferem os livros impressos ou digitais. Sem dvida, os hipertextos podero desper-tar mais interesse das crianas, especialmente se usados em histrias infantis. Mas so ainda especulaes.
Contudo, ser importante avaliar se os hipertextos no empobre-cem as fantasias e a imaginao, transformando o livro quase em um vdeo (DVD) e roubando o prazer de imaginar e sentir as emoes pelo autor.
A nova classe mdia comprou mais livros? Est lendo mais?
A melhoria na renda do brasileiro na ltima dcada, possibilitan-do a mobilidade social das classes mais baixas para a classe deno-minada mdia, conforme apresentado no perfi l da amostra das duas edies da pesquisa (fi gura 1, abaixo), possibilitou acesso a bens que antes no entravam nas listas de consumo.
Comparao perfi l da amostra 2007 e 2011 por classe social
Classe A - 2%Classe B - 12%Classe C - 39%Classe D/E - 47%
2
2351
24
Distribuio em 2011 (pizza) e 2007- A Classe A manteve-se em 2%, enquanto a Classe B passou de 12% para 23%; a Classe C, de 39% para 51%; e, as Classes D e E reduziram de 47% para 24%
2
51
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Sabemos que houve grande incremento no consumo de bens du-rveis, em especial automveis e eletrnicos, como TVs digitais, com-putadores e celulares, mas no percebemos ampliao no consumo de bens culturais, em especial, livros, quando analisamos as opes dessa classe social. A mudana no padro de consumo depende de mudanas culturais que so mais lentas e envolvem a valorizao e interesse desses consumidores.
Apesar de ter havido o crescimento na venda de livros, com a ampliao de lanamentos, conforme nos informa a pesquisa do setor (O Comportamento do Setor Editorial Brasileiro 2010 CBL/SNEL/Fipe), no identifi camos nos resultados da Retratos da leitura no Bra-sil um aumento nos ndices de leitura ou de compra de livros pela classe mdia. Quando comparamos os dados referentes a compras de livros pela classe A (46%) com os da classe considerada mdia, classe C (14%), conclu mos que a classe mdia comprou 1/3 dos livros com-prados pela classe A. (Quadro 2 e Quadro 4).
A ampliao das compras de livros deu-se provavelmente pelos mesmos consumidores de 2007, motivados pela queda de preos e diversidade de novos lanamentos. Enfi m, no so novos consumido-res dessa nova classe mdia, infelizmente, como analisam, tambm, Fabio S. Earp e G. Komis.
Mudar hbitos de consumo depende de estmulos para despertar novos interesses, e esse o desafi o da rea de publicidade e ma-rketing, tendo a mdia como principal veculo. Mas o despertar do interesse pelos bens culturais depende de um processo educativo mais complexo e abrange a formao cultural de novos leitores ou apreciadores de literatura, msicas clssicas, artes plsticas, dana, teatro e outras produes artsticas.
A pesquisa confi rma esta leitura ao compararmos os resultados de 2007 e 2011 (Quadro 4) quanto ocupao do tempo livre pe-los entrevistados: ler e escrever foram as atividades que sofreram maior queda; enquanto assistir TV e fi lmes, encontrar com amigos e navegar pela internet cresceram sensivelmente, mostrando que as atividades culturais como ler ou ir a cinema, teatro e exposies, apesar da melhoria na renda, no foram escolhidas para preencher o tempo livre.
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Penetrao e mdia de livros lidos nos ltimos 3 meses p/classe social
Leitura de Bblia% 16
milhes 28,8
10
16,3
6
5,3
Livros inteiros% 26
milhes 46,2
24
22,2
11
4,5
Livros em partes% 39
milhes 70,3
41
37,4
29
12,5
Livros indicadospela escola
% 21
milhes 37,7
21
19,5
17
7,1
Livros lidospor iniciativaprpria
% 38
milhes 67,5
39
35,2
22
9,3
Leitura em geral% 50
milhes 88,2
16
6,6
43
17,7
45
18,9
25
10,4
51
21,2
62
25,6
51
46,2
33
14,1
20
0,6
62
1,8
51
1,5
26
0,7
63
1,8
79
2,3
Penetrao de Leitura Unidade
TOTALCLASSE
A CLASSEB
CLASSEC
CLASSE D/E
Mdia de livros lidosnos ltimos 3 meses
Livros em geral
Livros inteiros
Livros em partes
Livros indicados pela escola
Livros lidos por iniciativa prpria
Bblia
1,85
0,82
1,03
0,81
1,05
0,17
TOTALCLASSE
A CLASSEB
CLASSEC
CLASSE D/E
2,75
1,46
1,29
1,05
1,71
0,17
1,79
0,76
1,03
0,80
0,99
0,19
0,99
0,26
0,73
0,57
0,42
3,60
2,01
1,59
1,06
2,64
0,22 0,9
Penetrao de compras de livros p/classe social
UnidadePENETRAO DA COMPRA DE LIVROS POR CLASSE
Classe A Classe B Classe C Classe D/E% 49 27 14 5
Milhes 1,4 11,4 12,4 2,2
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O que os brasileiros gostam de fazer em seu tempo livre comparao 2007-2011 (%)
Assistir televiso 85 77Escutar msica ou rdio 52 54
Descansar 51 50
Reunir com amigos ou famlia 44 31
Assistir vdeos/ filmes em DVD 38 29
Sair com amigos 34 33
Ler (jornais, revistas, livros, textos na internet)* 28 36
Navegar na internet 24 18
Praticar esporte 23 24
Fazer compras 23 24
Passear em parques e praas 19 19
Acessar redes sociais (Facebook/Twitter/Orkut) 18 -
Escrever 18 21
Ir a bares/restaurante 18 15
Jogar videogames 13 10
Viajar (campo/praia/cidade) 15 18
Desenhar/ pintar 10 -
Ir ao cinema/ao teatro/dana/concertos/museus/exposies
10 9
Fazer artesanato e trabalhos manuais 6 12
Mdia de atividades por entrevistado 5,3 4,8
2011 2007
Base: Populao brasileira com 5 anos ou mais 2007 (173 milhes) / 2011 (178 milhes)
* 2011: Destes, 58% leem frequentemente
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Quais os livros mais lembrados?
Sem dvida, a Bblia o mais lembrado. Foi citada por 42% dos leitores (aqueles que leram pelo menos um livro nos ltimos trs me-ses), como o ltimo livro que leram ou esto lendo, o que representa 41,1 milhes de brasileiros. (Quadro 6). H fortes suspeitas de que, para muitos, foi o nico livro lembrado. Provavelmente no quiseram confessar que no leram nenhum livro recentemente. Se essa hip-tese for verdadeira, passa a ser especialmente preocupante o fato de fi car em 5 lugar entre os livros mais citados por crianas e jovens entre cinco e 17 anos.
Ao avaliarmos as respostas de quem menciona ter lido a Bblia descobrimos que, na maioria dos estados do Norte e Nordeste, a frequncia bem maior, variando de 10% (AM) a 23% (ES). J em estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a Bblia menos citada, va-riando de 2% (GO) a 7% (SP), enquanto RN, PI e RJ fi caram na mdia, com 9% de citaes. Esses resultados fortalecem a hiptese de que a Bblia citada por aqueles que no lembram outro ttulo, j que nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste onde se l mais por gosto ou iniciativa prpria.
Por outro lado, se compararmos a relao de livros e autores ci-tados em 2007 e 2011, constatamos haver mais ttulos que esto nas prateleiras, um bom indicador de que, ao menos, os entrevistados em 2011 esto mais bem-informados sobre os livros que esto sendo lidos e vendidos. (Quadro 5)
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ltimo livro que leu ou est lendo comparao 2007 e 2011
Base: Leitor 2007(95,6 milhes)/2011(88,2 milhes)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
1
-
-
-
7
11
-
-
12
4
6
3
-
-
-
-
-
-
-
18
-
-
2011 2007
E este livro est aqui?
Onde ele est?
Base: O livro noest aqui (727)
69
31
Sim No
Bblia
gape
A cabana
Crepsculo
Violetas na janela
O caador pipas
O pequeno prncipe
Amanhecer
Dom Casmurro
Harry Potter
Chapeuzinho vermelho
O segredo
O alquimista
Eclipse
A escrava Isaura
Pais brilhantes,professores fascinantes
Lua nova
A bela e a fera
A menina que Roubava Livros
Iracema
Marley e eu
Memrias pstumasde Brs Cubas
51% no esto lendo nenhum ou no se lembram do ltimo livro que leram
59% Devolveu para a biblioteca
22% Emprestou 7% Em outro lugar 2% Perdeu 2% Deu de presente 8% No sabe
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Gne
ros
que
cost
uma
ler
p/f
aixa
et
ria
(%)
TOTA
LSE
XOID
ADE
Mas
.Fe
m.
5 a
1011
a 1
314
a 1
718
a 2
425
a 2
930
a 3
940
a 4
950
a 6
970
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Base
: Lei
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8,2)
(38,
3)(4
9,9)
(12,
5)(8
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(10,
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2,2)
(7,7
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3,8)
(10,
5)(1
0,5)
(2,3
)B
blia
4236
4624
1924
4045
5154
6573
Livr
os d
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icos
32
3430
4747
5535
2726
198
0
Rom
ance
31
2039
420
4144
4336
3428
28
Livr
os re
ligio
sos
3023
3611
1013
2931
4249
5048
Cont
os
2319
2627
3030
2521
2218
1615
Livr
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fant
is
2219
2566
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Poes
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2015
2415
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Arte
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36
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ens
56
42
65
56
65
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H pistas interessantes quanto aos infl uenciadores
A melhor atuao do professor como mediador de leitura em sala de aula pode estar sendo revelada pela posio que o professor conseguiu na terceira edio da pesquisa, como infl uenciador, subindo 12% em rela-o anterior (de 33% para 45%) e superando a me, a mais citada pelos que gostam de ler em 2007 (de 49% para 43%), conforme quadro 7.
Quem mais infl uenciou leitores a ler comparao 2007-2011 (%)
Base: Leitor que gosta de ler 2007/ 2011 (77,2 milhes)
45
43
17
14
12
6
2
4
5
17
33
49
30
14
8
5
2
0
3
14
Profeff ssor ou professora
Me (ou responsvel do sexofeminino)
Pai (ou responsvel do sexomasculino)
Outro parente
Amigo ou amigagg
Padre, Pastor ou algum ld erreligioso
Colegagg ou superior no trabalho
Marido/o Esposa/Companheiro(a)
Outra pessoa
Ningum 2011
2007
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Ao investigar os hbitos e a frequncia da leitura entre as crianas de 5 e 12 anos, que correspondem a 16,8 % da amostra, descobrimos que 45% delas leem sempre e sozinhas; 39% leem s vezes e 16% nunca leem.
Nessa faixa etria maior o nmero de crianas que responderam que outras pessoas leem para ela. um bom sinal. Entre os mais cita-dos, o professor tem lido mais do que a me, para as crianas at 12 anos, conforme revelam os nmeros: a me que sempre l foi citada por 17% das crianas e a que l s vezes por 43%. O professor que l sempre foi citado por 45% delas e para 41% l s vezes.
Esses nmeros confi rmam o que dizem os entrevistados de outras faixas etrias, na edio de 2011 (quadro 7).
Esse pode ser um dos resultados mais positivos da pesquisa, mes-mo que a memria daqueles que j saram da escola no seja to precisa. Os estudantes nessa faixa etria percebem o professor lendo mais para eles. Essas respostas do pistas de que os caminhos esto certos e que devem ser incrementados os programas voltados me-lhoria das bibliotecas escolares; formao de professores mediado-res e ao fomento das prticas leitoras em sala de aula.
O papel do professor como o principal agente na formao de leitores ou como mediador de leitura no processo de constituio do aluno como sujeito leitor reiterado pelos autores que abordaram esse resultado da pesquisa em seus artigos para esta publicao.4
Sem dvida, o investimento na formao do professor-leitor e o desenvolvimento de sua habilidade como mediador de leitura, alm do investimento em acervos com obras de fi co ou de consulta di-rigidas ao professor, esto surgindo como uma das mais importantes aes a serem implementadas pelos governos, devendo estar presen-tes na pauta das agendas e nas polticas pblicas.
O que dizem os nmeros por regio do Brasil sobre o papel do professor como infl uenciador
A importncia dessa revelao justifi ca uma melhor investigao dos resultados da pesquisa por estado, pois traz pistas interessantes sobre a presena do professor, o que, de certa forma, explicam os dados sobre a melhoria do indicador de leitura no Nordeste.
4. Todos os autores defendem a importncia do papel do professor como me-diador privilegiado na formao do leitor. Ezequiel Theodoro da Silva, Srgio Leite e Tania Rosing tratam diretamente do assunto baseados em seus estudos e experincia acadmica.
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Enquanto nessa regio cresceu 4% o nmero de leitores, quando comparados os resultados de 2007 e 2011, nas demais regies do Brasil houve queda nesse indicador, conforme Quadro 8 (abaixo).
Penetraco de leitores por regies do Brasil comparao 2007-2011
Norte 2007 2011
% do total de leitores 8 8
Penetrao (%) 55 47
Milhes leitores 7,5 6,6
Centro-Oeste 2007 2011
% do total de leitores 7 8
Penetrao (%) 59 53
Milhes leitores 7,1 6,8
Sul 2007 2011
% do total de leitores 14 13
Penetrao (%) 53 43
Milhes leitores 13,2 11,3
2007 2011
Penetrao (%) 55 50
Milhes leitores 95,6 88,2
Sudeste 2007 2011
% do total de leitores 45 43
Penetrao (%) 59 50
Milhes leitores 43,4 38,0
Nordeste 2007 2011
% do total de leitores 25 29
Penetrao (%) 50 51
Milhes leitores 24,4 25,4
Total Brasil
Esse melhor indicador de leitura no Nordeste e o maior nmero de estudantes na faixa de 5 a 17 anos, nessa regio, tambm tm relao com os resultados que o professor conseguiu por estados do Norte e Nordeste, quando perguntado aos leitores dessa faixa etria quem os infl uenciou a gostar de ler.
Essa anlise fi ca mais precisa quando priorizamos a primeira pes-soa indicada, que provavelmente a que mais o infl uenciou. (Ao entrevistado foi possibilitado indicar a primeira e a segunda pessoas que o infl uenciaram).5
Quando olhamos para esses nmeros separados e no somados (primeira e segunda opes), o professor foi citado por 28% daqueles
5. Maria Antonieta Cunha, j citada, defende que a primeira opo do entre-vistado a que deveria ser considerada para uma anlise mais precisa dos resultados da pesquisa.
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que gostam de ler e a me por 27%. Esses resultados fi caram muito prximos quando analisamos o Brasil.
Vale a pena analisar a primeira indicao do infl uenciador por estado:Os professores fi caram acima da mdia (28%), em 11 estados: RN
(51%); PA (48%) ; PB (39%); GO (38%); SC (34%); BA (33%); ES (33%); CE (31%); DF (30%); AM ( 29%); MG (29%).
Somente um estado do Sul (SC) fi cou acima da mdia. Rio de Ja-neiro e So Paulo fi caram de fora, na regio Sudeste. Por outro lado, o percentual no RN e PA est bem acima da mdia.
O que revelam esses nmeros?
Que as polticas de fomento leitura e de investimentos em bi-bliotecas nas regies Norte e Nordeste comeam a dar sinais positivos nas prticas leitoras em salas de aula? Tomara que sim!
Apesar de ter cado em relao posio do professor, a me consegue resultado muito prximo dos nmeros dos professores (27%), quando consideramos somente o primeiro citado. E em alguns estados passa frente: MT (47%); PI (46%); MA (43%); PE (40%); AM (35%); AL (33%); PA (32%)
Nenhum estado do Sudeste e somente SC, representando os es-tados do Sul, compe a relao dos estados com resultados acima da mdia, quando citam as mes.
Por que a me tem sido menos lembrada nos estados mais ricos e com melhor escolaridade do Brasil? Sabemos que as mulheres esto mais presentes no mercado de trabalho nesses estados, o que limita seu tempo com os fi lhos, pois permanecem por maior perodo nas es-colas. Pode ser uma explicao, mas o fato que estamos identifi can-do uma lacuna importante na formao leitora das crianas. O papel da famlia fundamental na formao de valores, idem os culturais.
Talvez esse pior desempenho dos professores e a maior ausncia da me tambm ajudem a explicar a reduo dos ndices de leitura no Sul e Sudeste, alm da reduo da populao na faixa de 5 a 17 anos.
O comportamento leitor dos educadores
No resisti em dar uma espiada no que responderam os 145 educadores, assim declarados na entrevista. Apesar de no ser uma amostra signifi cativa para representar a populao de educadores brasileiros, d pistas interessantes, e preocupantes, sobre seu com-
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portamento leitor. Entre os 145 entrevistados, 13 declaram que no gostam de ler; 38 gostam um pouco; e 94 gostam muito. Entretan-to, quando perguntados sobre o que fazem em seu tempo livre (1 opo): 78 preferem assistir televiso; 45 apreciam acessar redes sociais; e somente trs declaram que preferem ler.
Sobre a preferncia quanto leitura: 87 informam que leem jornal com frequncia; 31 leem livros; sete escutam audiolivros; trs leem revistas; e trs leem livros digitais.
Os livros e autores mais citados seguem a populao em geral. Entre os 145 educadores: 27 responderam que no lembram ou que no leram nenhum livro. Entre os 118 que indicaram algum ttulo, os mais citados foram: a Bblia (10); A Cabana (7) e gape (7 ). Os autores mais citados foram: Padre Marcelo (7); Augusto Cury (4); Zbia Gasparetto (3) e Jos de Alencar (2); revelando a preferncia por autoajuda. Mas o nmero de entrevistados que no conseguiu citar nenhum autor foi muito alto: 73.
Essas respostas confi rmam o que vrios autores desta publicao identifi cam como um dos principais problemas a serem superados para avanarmos na formao leitora de nossos jovens: a formao leitora dos professores. A grande maioria no l livros, ou porque prefere outras atividades ou porque l outros materiais, como jornal.
Como despertar o gosto pela leitura de seus alunos se seu reper-trio cultural e de literatura to escasso, e se ele mesmo desconhece esse prazer e aqui, menciono o prazer a que se refere Regina Zil-berman, em Leitura Ler Dever, Livro Prazer?
As difi culdades ao acesso explicam os baixos ndices de leitura ou de leitores?
Apesar da preocupao com o uso das bibliotecas, principal-mente para fi ns escolares, conforme revelado pela pesquisa, e o fato de 75% da populao no frequentar bibliotecas no pas, nos surpreende saber, baseados nos estudos do Cerlalc, que o Brasil o pas que apresenta o maior ndice de frequncia a bibliotecas, com 26%, enquanto na Argentina essa frequncia de 10% e no Chile 11%, conforme quadro abaixo que reproduzimos6.
6. Comportamento do leitor e hbitos de leitura: comparativo de resultados em alguns pases da Amrica Latina, Bernardo Jaramillo H., Subdirector de
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5%
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Brasil; 26%
Emprestados por bibliotecas e escolas
Mxico; 20%
Colmbia; 16%
Portugal; 15%
Chile; 11%
Argentina; 10%
Espanha; 5%
Fonte Cerlalc
Esse estudo cujas anlises nos foram apresentadas, em primei-ra mo, por Bernardo Jaramillo, subdiretor de Produo e Circulao do Livro do Cerlalc, em palestra que desenvolveu no II Seminrio Retratos da leitura no Brasil (maro de 2012; em Braslia), durante o lanamento da pesquisa O comportamento do leitor e o acesso ao livro nos pases da Ibero-Amrica Estudos e recomendaes pelo Cerlalc; e que podem ser conhecidas em O comportamento do leitor e o acesso ao livro nos pases da Ibero-Amrica Estudos e recomendaes pelo Cerlalc destaca, entre outras anlises sobre o perfi l dos leitores nesses pases, a importncia das polticas de compra de livros pelo governo brasileiro e sua oferta, sem custos, para explicar a melhor colocao do pas nessa classifi cao. Ber-nardo Jaramillo afi rma:
O acesso aos livros via bibliotecas tem maior peso no Brasil (26%) e no Mxico (20%). Os livros obtidos sem custo aparecem de maneira signifi cativa na pesquisa. S o Brasil diferencia-se a respeito dos livros entregues gratuitamente pela Unio. Futuras
Produao e Circulao do Livro da Cerlalc y Lenin G. Monak S., da Area de Estadisticas da Cerlalc, apresentado no II Seminrio Retratos da leitura no Brasil. Maro de 2012.
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pesquisas devem aprofundar estudos com maior interesse quanto ao acesso aos livros por programas de doao, muito usados em alguns pases da regio.
Por outro lado, a forma de acesso mais citada pelos entrevistados na terceira edio da Retratos da leitura no Brasil foi por meio de compra em livrarias, passando de 45% dos compradores de livros, em 2007, para 48%, em 2011, enquanto o emprstimo de livros em bibliotecas e escolas caiu de 34% para 26%.
Essa preferncia pelas livrarias semelhante aos resultados dos pases estudados pelo Cerlalc, conforme observaes de Bernardo:
As formas de acesso aos livros indicam que a compra predomina sobre outras formas 59% dos mexicanos indicaram adquirir livros mediante compras. Seguem os argentinos com (56%) e os brasi-leiros com 48% da populao leitora. O contrrio ocorre no Peru, onde somente 23% dos peruanos compram livros. Na Pennsula Ibrica, 57% dos espanhis adquirem livros mediante compras, idem 47% dos portugueses.
De qualquer forma, mesmo que no estejamos to mal quando com-parados aos pases da Ibero-Amrica, no podemos avaliar como positi-vos os resultados revelados pela pesquisa quanto ao uso das bibliotecas.
Apesar de bem avaliadas pelos usurios, dado que merece inves-tigao futura, o que preocupa o nmero de brasileiros que no usam esse equipamento (76%), principalmente porque entendem que a biblioteca seja destinada a quem estuda (71%), para desenvolver consultas, pesquisas ou leituras obrigatrias.
Com grandes problemas de distribuio de renda e difi culdades para a aquisio de livros, a relao que os brasileiros tm com esse equipamento necessita urgentemente mudar, especialmente porque o Ministrio da Cultura est anunciando que quase zerou o nmero de municpios brasileiros sem bibliotecas. Sabemos que muitas cidades tm nas bibliotecas o nico equipamento cultural de que dispem.
Pensar em solues para mudar esse quadro e para rever os mo-delos de bibliotecas , portanto, urgente!
So poucas as pistas oferecidas pelos entrevistados para rever esse modelo 20% dizem que frequentariam mais se houvesse livros novos; e 13%, livros mais interessantes; 11% se oferecessem atividades culturais; enquanto 33% dizem que nada os faria fre-quentar uma biblioteca.
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muito provvel que essa avaliao esteja relacionada bi-blioteca que conhecem e no devem conhecer outro modelo. Ape-sar de 33% citarem que as bibliotecas deveriam receber novos acervos, apenas a resposta sobre outras atividades culturais pode indicar um novo caminho.
Se a biblioteca vista como lugar para estudar, preciso mudar sua cara para mostrar que pode ser um equipamento cultural vol-tado para toda a comunidade. Isso somente ser possvel se ela for transformada de fato, passando a oferecer atividades convidativas populao local, como propem, principalmente, as autoras Isis Va-lria, Antonieta Cunha e Tania Rosing. Esse novo modelo exige no somente acervos, mas pessoas capacitadas para serem mediadoras de leitura e, tambm, abertas a identifi car e organizar eventos, expo-sies, narrao de histrias e outras atividades ligadas a autores e obras do seu acervo. Outra mudana fundamental: estar aberta em fi nais de semana e em horrios que possibilitem a visita de todos os moradores da comunidade.
Por que ler? Por que no ler? Nossa cultura valoriza o livro?
A valorizao da leitura e da literatura sempre ganha novos argu-mentos entre aqueles que acreditam no seu potencial transformador de vidas e de sociedades. Eu me deliciei com Sangue nas Veias, de Ana Maria Machado.
Temos que fazer um exerccio coletivo para buscar as principais razes para no ler. Elas no so to bem construdas, pois tradu-zem um perfi l que muda, segundo classe social, escolaridade, faixa etria, poca e contexto social, inovaes tecnolgicas e formao cultural da famlia, principalmente.
As ponderaes sobre o livro e a leitura podem explicar se uma determinada sociedade os valoriza. A pesquisa informa que a maioria diz que a leitura pode ter contribudo para algum subir na vida, mas ser que o livro hoje tem o mesmo valor simblico que teve h algu-mas dcadas? O livro, o estudo, a leitura eram vistos pela populao das classes menos favorecidas, especialmente em razo do baixo n-dice de escolaridade, como algo exclusivo de intelectuais ou pessoas letradas para doutores. A difi culdade de acesso criava barreiras e diferenciao. Com a reduo no nmero de analfabetos, a melhoria
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da escolaridade e do acesso educao bsica no Brasil, o livro e
a leitura saram desse patamar inacessvel, mas podem ter ganhado
outro valor simblico. So vistos pela maioria, assim como as biblio-
tecas, como objeto para estudo e para ser usado por estudantes. As
obras de fi co no ganharam um signifi cado para esses brasileiros,
tanto que 42% dos leitores conseguem citar somente a Bblia quando
perguntados sobre qual o ltimo livro q