resumo paragrafo 29_a presença como disposição_ser e tempo

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Tamara Fracalanza A presença como disposição A disposição é onticamente o humor, o estar afinado num humor. As variações dos humores cotidianos passam, na maior parte das vezes, despercebidos pela presença. Na fenomenologia, os humores não são um nada passageiro e indiferente. A transformação do humor, do bem ao mal humorado humor, evidencia que a presença está sintonizada e afinada numa entonação. A falta de humor tampouco é um nada, mas uma revelação do modo de ser da presença. O humor conduz o ser para o seu pre e revela como alguém está e se torna. Na presença do humor, a presença já se abriu em sintonia com o humor como o ente a cuja responsabilidade a presença se entregou em seu ser e que, existindo, ela tem de ser. O humor revela o ter de ser da presença, o ter de se haver com ela. Esta abertura, ainda que fatual, não é conhecida como tal. O humor revela o que é, obscurecendo o de onde e para onde. O puro “que é e o comportar do ter de ser” revelado pelo humor, por ser ignorado ou esquivado pela presença é exatamente o que faz com que o pre se abra em seu ser. Um exemplo para isso é pensar que todas as vezes que não cedemos a um humor por qualquer razão, é que existirá uma ambigüidade para que possamos questionar a nossa própria existência. Em outras palavras, ao fazer algo contrário, diferente ao que a afinação do humor sugere significa ter de entrar em contato com uma situação ambígua, não fazer aquilo que se gostaria de fazer é o que leva ao desvelar das possibilidades. O “que é e [comporta um] ter de ser” é o que Heidegger chama de estar-lançado em seu pre, ou seja, o ser-no-mundo sempre será o seu pre e indica a facticidade da responsabilidade ontológica. Esse “que é” não pode ser tomado da mesma maneira como uma coisa simplesmente dada, mas sim como um modo de ser- no-mundo. Facticidade não é fatualidade, algo simplesmente dado, mas um caráter ontológico da presença assumido na existência, embora, desde o início, reprimido. Quando Freud sustenta a idéia de que os desejos humanos, as pulsões humanas são reprimidas – seria essa a mesma idéia? Porém, Freud afirma categoricamente que a repressão acontece pela instituição sociedade que tem

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Resumos e fichamentos de Ser e Tempo - Heidegger

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Tamara Fracalanza

A presena como disposioA disposio onticamente o humor, o estar afinado num humor. As variaes dos humores cotidianos passam, na maior parte das vezes, despercebidos pela presena. Na fenomenologia, os humores no so um nada passageiro e indiferente. A transformao do humor, do bem ao mal humorado humor, evidencia que a presena est sintonizada e afinada numa entonao. A falta de humor tampouco um nada, mas uma revelao do modo de ser da presena. O humor conduz o ser para o seu pre e revela como algum est e se torna. Na presena do humor, a presena j se abriu em sintonia com o humor como o ente a cuja responsabilidade a presena se entregou em seu ser e que, existindo, ela tem de ser. O humor revela o ter de ser da presena, o ter de se haver com ela. Esta abertura, ainda que fatual, no conhecida como tal. O humor revela o que , obscurecendo o de onde e para onde. O puro que e o comportar do ter de ser revelado pelo humor, por ser ignorado ou esquivado pela presena exatamente o que faz com que o pre se abra em seu ser. Um exemplo para isso pensar que todas as vezes que no cedemos a um humor por qualquer razo, que existir uma ambigidade para que possamos questionar a nossa prpria existncia. Em outras palavras, ao fazer algo contrrio, diferente ao que a afinao do humor sugere significa ter de entrar em contato com uma situao ambgua, no fazer aquilo que se gostaria de fazer o que leva ao desvelar das possibilidades.

O que e [comporta um] ter de ser o que Heidegger chama de estar-lanado em seu pre, ou seja, o ser-no-mundo sempre ser o seu pre e indica a facticidade da responsabilidade ontolgica. Esse que no pode ser tomado da mesma maneira como uma coisa simplesmente dada, mas sim como um modo de ser-no-mundo. Facticidade no fatualidade, algo simplesmente dado, mas um carter ontolgico da presena assumido na existncia, embora, desde o incio, reprimido. Quando Freud sustenta a idia de que os desejos humanos, as pulses humanas so reprimidas seria essa a mesma idia? Porm, Freud afirma categoricamente que a represso acontece pela instituio sociedade que tem valores que no correspondem a valores individuais seria o mesmo que dizer que o homem, individualmente, um ser de desejo que no cabe em uma sociedade, por isso, naturalmente deve ser tolhido, para que a sociedade possa existir. No caso de Heidgger, vejo mais como uma possibilidade, ou seja, a decadncia e a impessoalidade so to possveis quanto a preocupao ontolgica, so apenas modos de ser-no-mundo. Porm, a utilizao da palavra represso por Heidegger faz parecer que, de alguma maneira, o modo de ser impessoal seja imposto ou pelo menos, no revelado.

O ente que possui o carter da presena o seu pre, no sentido de dispor-se implcita ou explicitamente em seu estar-lanado. No pre a presena j se colocou diante de si mesma e j se encontrou, sempre, no como percepo, mas como um dispor-se numa afinao de humor. O encontro acontece no por ter de haver-se consigo prprio, mas sim mediado pela fuga de si prprio. A afinao do humor no a observao do estar-lanado e sim um enviar e desviar-se dele. O carter pesado da presena, do estar-lanado, da facticidade da responsabilidade revela o desviar como modo de disposio. Poder-se-ia colocar que, dado a responsabilidade do que a presena, no sentido ontolgico existencial, to pesado que se pode fazer pouco caso, no dar importncia a esta caracterstica, ignorando-a ou desviando-se, decaindo, tornando-se impessoal.

O que que se abre muitas vezes um desconhecido e no pode ser simultaneamente sabido, no sentido de que imediatamente reconhecido pelo conhecimento ou pela vontade quando a sua ocorrncia. No obstante, no seria possvel em termos fenomenolgicos afirmar que, por ser o que um enigma inexorvel, pode-se dizer que tem fontes irracionais (como diria a psicanlise ou a religio catlica, por exemplo). Tampouco que um dogma, uma certeza apoltica. Ainda que no possa ser demonstrado e comprovado com mtodos experimentais cientficos, ou ainda, que no faa parte de um universo desconhecido pela racionalidade, tornando-se objeto mstico ou irracional, a disposio no deveria ser desprezada como uma evidncia ontolgica. O humor no poderia ser negado como modo de ser originrio da presena. Neste modo de ser, na afinao do humor, a presena se abre para si mesma antes de qualquer conhecimento ou vontade, ainda que se possa, em algum momento, assenhorear-se do humor atravs do conhecimento e da vontade.

Heidegger descreve assim que: 1) ...primeiro carter ontolgico da disposio que: a disposio abre a presena em seu estar-lanado e, na maior parte das vezes e antes de tudo, segundo o modo de um desvio que se esquiva. (Desvio que se esquiva???? Entendo que o desviar-se da prpria presena acontece pela disposio do esquivar-se do carter pesado de si mesma esse um modo da disposio - o desvio que esquiva, que faz decair e, exatamente por isso, s se faz presente por causa da abertura o que faz fugir o que retorna a ela).

A disposio muito mais que um estado de alma e est bem longe disso. O humor o que abre o pre mais originrio e que tambm o fecha de maneira mais obsessiva do que qualquer no percepo devido ao carter pesado da existncia. O humor j abriu o ser-no-mundo em sua totalidade e s assim torna possvel um direcionar-se para. O mau-humor que faz a presena ser cega para si mesma, fazendo com que se lance na existncia de modo dedicado e abandonado sem reflexo. O mau-humor no vem de fora ou dentro, ele simplesmente emerge como um modo de ser-no-mundo. A disposio no algo psquico ou algo interior que se exterioriza, dando cor s pessoas. Assim, Heidgger descreve o segundo carter ontolgico da disposio: 2) ela um modo existencial bsico da abertura igualmente originria de mundo, de co-presena e existncia, pois tambm este modo em si mesmo ser-no-mundo.

O terceiro carter ontolgico da presena: 3) o mundo que j se abriu deixa e faz com que o ente intramundando venha ao encontro. Essa abertura prvia do mundo, que pertence ao ser-em, tambm se constitui de disposio. O deixar e fazer vir a circunviso, no simplesmente sensao ou observao.